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    Psychology/Psicologia Reflexo e Crtica, 28(4), 744-752. DOI: 10.1590/1678-7153.201528412ISSN 1678-7153

    Bem-Estar Subjetivo eBurnoutem Cadetes Militares:O Papel Mediador da Autoeficcia

    Subjective Well-Being and Burnout in Military Cadets: The Mediating

    Role of Self-Efficacy

    Luciane Albuquerque S Souza,a, Ana Raquel Rosas Torresb, Genrio Alves Barbosac,Tiago Jess Souza de Limab& Luana Elayne Cunha de Souzad

    aInstituto de Educao Superior da Paraba, Cabedelo, PB, Brasil,bUniversidade Federal da Paraba, Joo Pessoa, PB, Brasil

    cFaculdade de Enfermagem e Medicina Nova Esperana, Joo Pessoa, PB, Brasil& d Universidade de Fortaleza, Fortaleza, CE, Brasil

    Resumo

    Este trabalho tem por objetivo testar a hiptese de que a autoeficcia atua como mediador entre o

    bem-estar subjetivo e o burnout. Participaram 228 cadetes, com idade mdia de 24 anos (DP= 0,85),sendo 148 policiais e 80 bombeiros. As anlises de regresso demonstram que as variveis do bem--estar subjetivo, principalmente a vitalidade subjetiva e os afetos negativos, predizem significativa-mente o burnoute suas subdimenses. As anlises de mediao feitas provm evidncias empricassatisfatrias para o papel mediador desempenhado pela autoeficcia. Esses resultados podero apoiaro planejamento de intervenes que visem o fortalecimento da autoeficcia em cadetes. A academiadeve fornecer aos cadetes no apenas as tcnicas e conhecimentos imprescindveis para a atuaoprofissional, mas tambm proporcionar o desenvolvimento de mecanismos de autorregulao quepossibilitem um senso maior de autoeficcia, alm de condies educacionais e laborais adequadas.Palavras-chave: Autoeficcia, burnout, bem-estar subjetivo.

    AbstractThis study aimed to test the hypothesis of the mediating role of self-efficacy between subjectivewell-being and burnout in military cadets. The participants were 228 cadets at a military academy,

    148 police offices and 80 firefighters, at a mean age of 24 years (SD = .85). Regression analysesshowed that the subjective well-being variables, mainly subjective vitality and negative affects,significantly predict burnout and its subdimensions. The analyses of mediation provide satisfactoryempirical evidence for the mediating role played by belief in self-efficacy. These results can supportthe planning of interventions aimed at strengthening self-efficacy in cadets. The academy shouldprovide cadets not only with the technical and essential knowledge for professional practice, but alsoprovide the development of self-regulation mechanisms that allow for a greater sense of self-efficacy,in addition to appropriate educational and working conditions.Keywords: Self-efficacy, burnout, subjective well-being.

    *Endereo para correspondncia: Instituto de Educao Superior daParaba, Curso de Administrao, BR 230, Km 14, Estrada de Cabedelo,Cabedelo, PB, Brasil 58310-000. E-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] e [email protected]

    Algumas atividades laborais possuem caractersticasprprias que acabam por expor os trabalhadores a eventos

    que podem acarretar maior sofrimento psquico e mentalquando comparadas com outras profisses. Este o caso,por exemplo, de policiais e bombeiros militares, queesto sujeitos a situaes que podem por em risco suasvidas, alm de terem que lidar com condies precrias detrabalho decorrentes de uma estrutura pblica por vezesdeficitria. De acordo com alguns estudos, estes profissio-

    nais so mais susceptveis a apresentar sintomatologia deestresse no trabalho, nveis elevados de sofrimento fsico

    e psquico e burnout(E. R. Souza, Franco, Meireles, Fer-reira, & Santos, 2007). Embora os fatores relacionados scondies laborais tenham grande peso no aparecimento desintomas e transtornos relacionados ao trabalho, algumascaractersticas individuais tambm podem ser relevantesno enfrentamento de situaes estressoras.

    O fato de um acontecimento provocar ou no uma rea-o de ansiedade pode depender, em parte, da forma pelaqual o indivduo interpreta essa situao e das habilidadesde enfrentamento que possui (Bandura, 1977; Dela-Coleta& Dela-Coleta, 2008). Um importante fator individual a crena que o indivduo possui acerca da sua eficcia emdesempenhar certos comportamentos em condies diver-

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    Souza, L. A. S., Torres, A. R. R., Barbosa, G. A., Lima, T. J. S. & Souza, L. E. C. (2015). Bem-Estar Subjetivo e Burnoutem CadetesMilitares: O Papel Mediador da Autoeficcia.

    sas (Bandura, 1997). Esta crena, denominada autoeficcia, fundamental para a aquisio e manuteno de padrescomportamentais adaptveis. Uma elevada autoeficciaest relacionada com comportamentos de proteo, coma promoo de comportamentos saudveis e, de modogeral, com melhores ndices de sade (Ashford, Edmun-ds, & French, 2010; Chariyeva et al., 2013). Enquanto

    que uma baixa autoefi

    ccia est relacionada com o usode estratgias de enfrentamento focadas nas emoes,como negao e autoculpa, e com sintomas de ansiedade,burnoute depresso (Cheung & Sun, 2000; Karademas &Kalantiz-Azizi, 2004).

    De especial interesse para este trabalho a relaoda autoeficcia com o burnout. Diversos estudos tmmostrado que um baixo senso de autoeficcia est direta-mente associado com os sintomas do burnout(Consiglio,Borgogni, Alessandri, & Schaufeli, 2013; Federici & Ska-alvik, 2012). Neste sentido, a autoeficcia comumenteempregada como um preditor do burnout. Procurandoentender esta relao de maneira mais ampla, propomos

    que a autoeficcia no apenas prediz o burnout, mas atuaprincipalmente como um mediador entre as avaliaescognitivas e afetivas feitas sobre o ambiente de trabalho e onvel de burnout. Ou seja, a autoeficcia melhor entendidacomo um processo intermedirio no qual a percepo queum indivduo tem sobre suas capacidades de desempenharsatisfatoriamente determinadas aes, regula o impacto dasavaliaes cognitivas e afetivas (sobre o seu trabalho) emseus nveis de burnout.

    Portanto, este trabalho tem por objetivo testar a hipte-se de que autoeficcia vai desempenhar um papel mediadorentre as avaliaes cognitivas e afetivas feitas sobre o

    ambiente (bem-estar subjetivo) e o burnout. Esta hipteseser testada em uma amostra de cadetes militares. Estes,alm da atividade estudantil, passam a exercer atividadesinternas e externas atreladas formao como, por exem-

    plo, o policiamento (Polcia), a defesa civil, a preveno ecombate a incndios, buscas e salvamentos (Bombeiros).O papel desempenhado pela autoeficcia neste contextode atuao, que por sua natureza imprevisvel, pareceser de especial importncia, pois ela ajuda o indivduo alidar de forma adaptativa com dificuldades, obstculos eimpedimentos que apaream.

    AutoeficciaA autoeficcia um dos aspectos centrais da Teoria

    Social Cognitiva (TSC; Bandura, 1977). Na TSC, o de-senvolvimento e a mudana no comportamento humanoso explicados a partir de um princpio bsico: a agnciaou ao. Segundo Bandura (2008), ser agente significainfluenciar o prprio funcionamento e as circunstncias devida de modo intencional. Segundo essa viso, as pessoasso proativas, autorreguladas e autorreflexivas. A TSC de-fende uma relao baseada em um modelo de reciprocidadetridica, onde as variveis pessoais, os fatores ambientais eo comportamento operam como determinantes interativos erecprocos, influenciando-se mutuamente (Bandura, 1997).

    Por meio dessa interao, percebe-se que o indivduo capaz de agir em seu entorno. De acordo com Bandura(1995), esse comportamento ativo se d por meio de ummecanismo-chave, conhecido como autoeficcia. Trata-sedas crenas que os indivduos tm sobre sua capacidadede organizar e desempenhar condutas necessrias paraalcanar suas metas e objetivos (Bandura, 1995).

    A autoefi

    ccia ajuda o indivduo a lidar com umarealidade social que implica confronto constante com difi-culdades e impedimentos (Bandura, 1994; Pacico, Ferraz,& Hutz, 2014). A autoeficcia influencia a forma comoas pessoas sentem, pensam, motivam-se e comportam-se,atuando como mediadoras em quatro diferentes nveis. Os

    processos cognitivos so considerados como o primeirotipo de funo mediadora da autoeficcia, pois atuam nodesempenho de um padro de comportamentos respons-veis pelo desenvolvimento de regras que: (a) predizem einfluenciam determinados eventos, (b) estabelecem metase estratgias, (c) antecipam a possibilidade de obtenode sucesso em tais metas e (d) determinam a eficincia

    na soluo de problemas. O segundo tipo a seleo deatividades e ambientes, pois, para Bandura (1997), as

    pessoas que pretendem desempenhar com sucesso umdeterminado padro de comportamento procuram evitar (demaneira tendenciosa) certas situaes que excedam suashabilidades e, desta forma, buscam realizar atividades eescolher ambientes em que acreditam poder desempenharo comportamento que do seu interesse.

    Os processos afetivos so o terceiro tipo de funomediadora, j que a autoeficcia determinar a forma e aintensidade das reaes afetivas queles eventos conside-rados de vital importncia para a pessoa, influenciando,

    desta forma, suas cognies e aes pretendidas (Bandura,1997, 1995). Por fim, a autoeficcia ainda est vinculadaaos processos motivacionais que influenciam a intenodo indivduo em desempenhar o comportamento proposto,o esforo que ser empregado para tal e a persistncia noenfrentamento de dificuldades que, por ventura, venhama acontecer.

    Bandura (1994) ressalta que um forte senso de autoefi-ccia aumenta a realizao humana e o bem-estar pessoalde muitas maneiras, estando relacionada com a formacomo as pessoas sentem, pensam e agem. Em termos desentimentos, uma percepo de baixa autoeficcia estassociada depresso, ansiedade e impotncia, comotambm baixa autoestima e sentimentos negativos sobresuas realizaes e desenvolvimento pessoal. Em termosde pensamento, um forte senso de competncia facilita os

    processos cognitivos e o desempenho acadmico.Pessoas que acreditam em suas capacidades aproxi-

    mam-se de tarefas difceis como desafios a serem domi-nados e no como ameaas a serem evitadas, estabelecemobjetivos desafiadores e mantm um compromisso forte

    para com eles. Uma vez que tenha sido tomada uma ao,investem mais esforo e persistem por mais tempo do queaqueles com baixa autoeficcia. Em contraste, as pessoasque duvidam das suas capacidades se inibem diante de

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    tarefas difceis, as quais so vistas por elas como ameaaspessoais. Esses indivduos tm aspiraes baixas e fracocompromisso com as metas que escolhem para prosseguir.

    No obstante, a autoeficcia no uma iluso positiva ouotimismo irrealista, j que tem por base a experincia eno leva tomada de decises irracionais (Bandura, 1994).

    A autoeficcia tem se apresentado como um dos mais

    importantes preditores de uma srie de comportamentosrelacionados sade em uma variada gama de estudos(Connor, George, Gullo, Kelly, & Young, 2011). A autoe-ficcia est diretamente relacionada com a mudana e pro-moo de comportamentos mais saudveis, a exemplo da

    preveno de comportamento sexual de risco (Chariyeva etal., 2013), prtica regular de exerccios fsicos (Ashford etal., 2010) e adequada nutrio e controle de peso (Glasoferet al., 2013). Por sua vez, a baixa autoeficcia est relacio-nada com o uso de estratgias de enfrentamento focadasnas emoes, como negao e autoculpa, bem como nossintomas de ansiedade, depresso, burnout, angstia esintomas psicossomticos (Bandura, 1997; Cheung & Sun,

    2000; Karademas & Kalantzi-Azizi, 2004).

    Bem-Estar Subjetivo, Autoeficcia e BurnoutA persistncia e intensidade dos agentes estressores,

    assim como as caractersticas e funes de cada pessoa,associadas aos vrios esforos e falhas de lidar adequada-mente com o estresse e suas consequncias, podem levaro trabalhador a desenvolver uma reao de esgotamentolaboral crnico (Formighieri, 2003). Neste sentido, casoo trabalhador no saiba lidar com os agentes estressores, inegvel que ele possa sofrer efeitos deletrios sobre suasade fsica e psicolgica, principalmente quando se trata

    da forma mais grave do estresse no trabalho, o burnout(Maslach, 2003; Maslach, Schaufeli, & Leiter, 2001). Oburnout uma reao tenso emocional crnica causada

    por se lidar excessivamente com pessoas. Para entend-lo,as experincias, os afetos e a avaliao da satisfao com otrabalho, so variveis relevantes. Os domnios supracita-dos fazem parte do que denominado bem-estar subjetivo(BES). O BES definido como uma avaliao cognitivae afetiva que as pessoas fazem de sua vida, englobandouma categoria ampla de fenmenos que inclui respostasemocionais, cognitivas (satisfaes em diferentes dom-nios como no trabalho e escola) e julgamentos globais desatisfao com a vida (Ryan & Deci, 2001).

    De acordo com Ryan e Deci (2001), possvel com-preender o BES como um funcionamento pleno e uma ex-perincia psicolgica adequada, no remetendo a simplesausncia de doena, mas sim a um estado de satisfaointerior, ou seja, consigo mesmo e com o meio ambienteque est a sua volta. O BES pode ser compreendido a partirde uma multiplicidade de medidas (tais como: desconforto

    psicolgico, fadiga, satisfao com a vida, vitalidade, afe-tos positivos e afetos negativos), e isto pode ser explicado(em parte) pela amplitude de sua prpria definio, assimcomo pelos mltiplos fatores que o determinam. Sendoum indicador relevante de sade mental e relativamente

    estvel ao longo do tempo, o BES apresenta influnciascumulativas sobre a sade geral e a longevidade, sendo,

    portanto, importante para a pesquisa em psicologia dasade (Diener & Chan, 2011). Uma reviso da literaturaconcluiu que nveis altos de BES predizem a sade futu-ra, como tambm a qualidade da vida social das pessoas(Lyubomirsky, Kind, & Diener, 2005).

    Embora estes fatores ligados a avaliao do trabalhotenham predominado na literatura acerca dos antecedentesdo burnout, estudos recentes, no entanto, tm sublinhadoo papel dos fatores de personalidade, tais como a autoefi-ccia, como potenciais antecedentes do burnout(Alarcon,Eschelman, & Bowling, 2009; Consiglio et al., 2013; Dickeet al., 2014). Aloe, Amo e Shanaham (2014), ao realizaremuma meta-anlise de 60 estudos que avaliaram a relaoentre a autoeficcia no gerenciamento da sala e o burnoutem professores, indicam que h uma relao significativa,sugerindo que professores com maior autoeficcia so me-nos propensos a experienciarem burnout. Outros estudostm demonstrado que a autoeficcia pode atuar tambm

    como mediador na relao entre o estresse no trabalho e oburnout(Yu, Wang, Zhai, Dai, & Yang, 2014).

    Logo, a partir de uma perspectiva psicossocial, asndrome de burnout entendida como um processo, noqual as avaliaes cognitivas e emocionais do contextode trabalho e as caractersticas intrapessoais (autoefic-cia) contribuem efetiva e significativamente para o seudesenvolvimento (Borges, Argolo, Pereira, Machado, &Silva, 2002). No obstante, a hiptese a ser testada nessetrabalho prope que a autoeficcia atua como um mediadorentre as avaliaes cognitivas e emocionais (aqui opera-cionalizada atravs dos fatores componentes do BES) e o

    burnout. Indivduos com maior autoeficcia, mesmo diantede avaliaes cognitivas e afetivas negativas, percebem ocontexto de trabalho adverso como um desafio e no comoum empecilho, o que, por sua vez, ajuda a reduzir o nvel deburnout. Por outro lado, aqueles indivduos com um menorsenso de autoeficcia, por no se sentirem capazes de lida-rem com possveis adversidades no seu cotidiano, tendema apresentar um maior nvel de burnout. Deste modo, a

    percepo que um indivduo tem sobre suas capacidadesde desempenhar satisfatoriamente determinados cursosde ao vai regular o impacto das avaliaes cognitivas eafetivas no burnout.

    Mtodo

    ParticipantesParticiparam deste estudo 228 estudantes/cadetes, de

    um total de 233, matriculados em uma academia militar.A maioria dos participantes so homens (79%), comidades variando entre 17 e 35 anos, como idade mdia de24 anos (DP= 0,85), e solteiros (74%). Deste total, 65%frequentavam o curso de formao de oficiais da PolciaMilitar (PM) e 35% o de Bombeiro Militar (BM), sendoque 42% j frequentavam o curso h um ano, 30% h doisanos e 28% h trs anos.

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    Souza, L. A. S., Torres, A. R. R., Barbosa, G. A., Lima, T. J. S. & Souza, L. E. C. (2015). Bem-Estar Subjetivo e Burnoutem CadetesMilitares: O Papel Mediador da Autoeficcia.

    InstrumentosOs participantes receberam um livreto contendo os

    instrumentos abaixo descritos e as seguintes perguntassociodemogrficas: sexo, idade, tipo do curso (Polcia ouBombeiro Militar) e o tempo que est realizando o curso.

    Inventrio de Burnout de Maslach Verso paraEstudantes(IBM; Schaufeli, Martinez, Pinto, Salanova,

    & Bakker, 2002). Foi validada no Brasil por Carlotto eCmara (2006), composta por 15 questes que se sub-dividem em trs subescalas: exausto emocional (5 itens),descrena (4 itens) e ineficcia profissional (6 itens). To-dos os itens so avaliados em escala Likert variando de 1(nunca) a 5 (sempre).

    Escala de Crena na Autoeficcia Geral Percebida(Schwarzer & Jerusalem, 1995). Validada para o Brasil

    por I. Souza e Souza (2004), esta escala composta por10 itens que referem ao alcance de metas e insinua umaatribuio interna estvel de sucesso. respondida emuma escala de 5 pontos, que varia de 1 =No verdade aomeu respeitoa 5 = totalmente verdade ao meu respeito.

    Escala de Afetos Positivos e Negativos (Watson, Clark,& Tellegen, 1988).A verso aqui utilizada foi validada

    por Chaves (2003), sendo composta por dez adjetivos, queindicam estados afetivos, sendo cinco positivos e cinconegativos. O instrumento avalia quanto o participante temexperimentado cada uma destes afetos nos ltimos dias,empregando-se uma escala de resposta de sete pontos,variando de 1 =Nada a 7 =Extremamente.

    Escala de Vitalidade Subjetiva (Ryan & Frederick,1997). Esta escala foi validada por Oliveira (2008) eavalia como o participante sente-se, nos ltimos dias, emtermos de vigor fsico, mental e alerta. composta por

    sete itens respondidos de acordo com uma escala de setepontos, variando de 1 =Nada Verdadeiroa 7 = TotalmenteVerdadeiro.

    Escala de Satisfao com a Vida (Diener, Emmons,Larsen, & Griffin, 1985). Validada por Oliveira (2008),esta medida se compe de cinco itens que avaliam a satis-fao com aspectos gerais da vida. As respostas so dadasde acordo com uma escala Likert, variando de 1 =Discordototalmentea 7 = Concordo totalmente.

    ProcedimentoAps o consentimento e autorizao do Centro de

    Educao da Polcia Militar da Paraba, procedeu-se acoleta dos dados. A amostragem foi por convenincia, oscadetes eram solicitados a participar voluntariamente emuma pesquisa acerca dos fatores relacionados sua sadegeral, e aqueles que aceitavam respondiam ao questionrio.Foram assegurados a confidencialidade e o anonimatodas respostas. A aplicao se deu individualmente, emambiente coletivo de sala de aula. Em mdia, 20 minutosforam suficientes para concluir cada participao.

    Anlise de DadosInicialmente foi realizada uma regresso hierrquica,

    mtodoEnter, para avaliar o papel de variveis sociode-

    mogrficas e do BES no nvel de burnoutdos cadetes.Posteriormente, realizaram-se regresses simples commtodoEnter, para testar o efeito mediador da autoeficciaentre as variveis supracitadas.

    Uma varivel mediadora se ela tem a capacidade deexplicar toda ou parte da relao entre uma varivel inde-

    pendente e uma dependente. Em uma mediao, o efeito

    causal da VI sobre a VD particionado em dois caminhos,um efeito direto (c), e um indireto (d) que controladopelo mediador (M). Para se avaliar uma mediao socomputados ainda os efeitos da VI no mediador (a) e domediador na VD (b). A fim de testar a hiptese de mediaousualmente se segue o mtodo popularizado por Barone Kenny (1986), conhecido como causal steps strategy.

    Neste mtodo, os caminhos anteriormente apresentados soestimados por meio de regresses, tendo como base algunscritrios para que se configure uma mediao. Inicialmente,as relaes entre VI e M (a), entre o M e VD (b) e entre VI eVD (c) devem ser significativas. Posteriormente, ao inseriro mediador na relao, o poder preditivo da VI, quando

    controlado por M, deve ser nulo ou menor do que o seuefeito direto na VD. Tendo em conta essas relaes, pode--se avaliar qual tipo de mediao est presente no modelo.

    Quando o efeito direto (c) maior do que o indireto (d),e ambos so diretamente relacionados (isto , apresentamigualmente sinais positivos ou negativos), sendo o caminhoc significativo e o d no, tem-se uma mediao completa,

    pois ao se inserir M na relao, o poder preditivo da VIsobre a VD passa a ser no significativo, ou seja, a relaoentre ambas completamente explicada pelo mediador.Em uma mediao parcial, os caminhos c e dso ambossignificativos e diretamente relacionados (mesmo sinal),

    sendo que ao se introduzir M, a relao entre VI e VDdiminui, mas continua significativa (Little, Card, Boivard,Preacher, & Crandall, 2007). Baron e Kenny (1986) in-dicam que so necessrios procedimentos adicionais paraexaminar a magnitude do efeito de mediao e sua signi-ficncia estatstica. O teste de Sobel (1986) considera os

    produtos dos termos abdividido pelos seus erros padrespara se obter uma estatsticaZ, que pode ser avaliada paraa significncia estatstica, usando uma distribuio de pro-

    babilidade correspondente a distribuio normal padro.Entretanto, o produto de duas variveis normalmentedistribudas no segue necessariamente uma distribuionormal. Neste sentido, o produto dos caminhos abtendea apresenta forte assimetria e curtose (Sobel, 1986), e otesteZcorrespondente no tem poder estatstico suficiente

    para corrigir essa assimetria.Adicionalmente, o mtodoBootstrappingtem sido co-

    mumente recomendado na literatura como uma alternativaque no impe a suposio de normalidade da distribuio.O bootstrapping um mtodo computacional que envolverepetidas amostragens extradas do conjunto de dados, es-timando o efeito indireto (caminhoab) em cada uma delas,criando assim uma aproximao emprica da distribuiode ab, que por sua vez utilizada para construir intervalosde confiana para o efeito indireto. Como os intervalos de

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    confiana so importantes para se compreender os efeitos,os intervalos criados no bootstrappingso recomendadose preferveis comparativamente ao teste de Sobel (Ma-cKinnon, Lockwood, & Williams, 2010). A hiptese damediao aceita se os intervalos de confiana obtidos nocontenham o valor zero, ou seja, o efeito indireto teria umvalor diferente de zero. No presente estudo, as anlises de

    mediao foram realizadas utilizando-se a sintaxe e macropara SPSS desenvolvida por Hayes (2013). Foram com-putadas 1000 amostras de bootstrappinge os intervalosde confiana dos efeitos indiretos foram calculados pelomtodo bias corrected and accelerated(BCa).

    Resultados

    As escalas obtiveram os seguintes alfas de Cronbach(): afetos positivos (= 0,87), afetos negativos (= 0,83),vitalidade subjetiva (= 0,93), satisfao com a vida (=0,78). A escala de burnoutapresentou = 0,92, j para asdimenses exausto emocional, ineficcia profissional e

    descrena, os alfas foram de, respectivamente, 0,87, 0,80,0,87. Os participantes obtiveram uma pontuao mdia deburnoutde 2,84 (DP = 0,73), sendo que para as dimensesas mdias foram as seguintes: exausto emocional (M =3,34;DP = 0,86), ineficcia profissional (M =2,85;DP= 1,07) e descrena (M =2,41;DP = 0,64).

    Inicialmente, procurou-se testar quais as variveis doBES e sociodemogrficas predizem o burnout. Para tanto,foram realizadas anlises de regresso hierrquica, commtodo Enter, tendo como VD o burnout. No primeiro

    bloco foram includas as variveis sexo, tipo de corporaoe tempo na corporao. No segundo bloco foram includas

    as variveis do BES (afetos positivos, afetos negativos,vitalidade subjetiva e satisfao com a vida), controlandoassim o efeito das variveis sociodemogrficas.

    Na primeira equao as variveis sociodemogrficasapresentaram uma capacidade preditiva significativa sobreo burnout,R= 0,191;F(3, 219) = 17,21,p< 0,001, sendoque apenas as variveis tipo de corporao (= -0,18;p