22 livros que são diamantes para o cérebro - Revista Bula

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Livros, bons livros, são verdadeiros diamantes para o cérebro ou, se se quiser, para a alma. Aliás, até maus livros, se bem lidos, se tornam pelo menos uma vistosa bijuteria. Nesta lista, idiossincrática como qualquer outra, menciono livros que, em geral, foram editados no Brasil há alguns anos. Mas poucos estão fora de catálogo. Os que estão podem ser encontrados em sebos — caso da obra-prima “Paradiso”, romance do Lezama Lima. Quando Fidel Castro for um rodapé na história de Cuba, daqui a 55 anos, Lezama Lima permanecerá sendo lido. Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe O livro de Johann Wolfgang von Goethe “criou”, segundo Marcus Vinicius Mazzari, “o gênero que mais tarde foi chamado de ‘romance de formação’ (Bildungsroman), a mais importante contribuição alemã à história do romance ocidental. () Goethe empreendeu a primeira grande tentativa de retratar e discutir a sociedade de seu tempo de maneira global, colocando no centro do romance a questão da formação do indivíduo, do desenvolvimento de suas potencialidades sob condições históricas concretas”. (Editora 34, tradução de Nicolino Simone Neto.) A Consciência de Zeno, de Italo Svevo Svevo às vezes é mais citado como “o” amigo italiano de James Joyce. O irlandês foi seu professor de inglês. Poucas vezes um burguês foi retratado com tanta felicidade quanto neste romance. Zeno, um fumante inveterado — nada politicamente correto —, submete-se à psicanálise e, em seguida, desiste, porque deixa de acreditar na “ciência” de Freud. O livro é de 1923. Zeno, grande personagem, faz um mergulho poderoso na sua própria vida. Otto Maria Carpeaux qualificou o romance de “genial”. (Tradução de Ivo Barroso. Editora Nova Fronteira.) 22 livros que são diamantes para o cérebro - Revista Bula http://www.revistabula.com/1752-22-livros-que-sao-diamantes-para-o... 1 de 10 29/12/2013 16:47

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Livros, bons livros, são verdadeiros diamantes para o cérebro ou, se

se quiser, para a alma. Aliás, até maus livros, se bem lidos, se

tornam pelo menos uma vistosa bijuteria. Nesta lista,

idiossincrática como qualquer outra, menciono livros que, em geral,foram editados no Brasil há alguns anos. Mas poucos estão fora de

catálogo. Os que estão podem ser encontrados em sebos — caso

da obra-prima “Paradiso”, romance do Lezama Lima. Quando Fidel

Castro for um rodapé na história de Cuba, daqui a 55 anos, Lezama

Lima permanecerá sendo lido.

Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister,de Goethe

O livro de Johann Wolfgang von Goethe “criou”,segundo Marcus Vinicius Mazzari, “o gênero que

mais tarde foi chamado de ‘romance de

formação’ (Bildungsroman), a mais importante

contribuição alemã à história do romance

ocidental. (…) Goethe empreendeu a primeira

grande tentativa de retratar e discutir a

sociedade de seu tempo de maneira global,colocando no centro do romance a questão da

formação do indivíduo, do desenvolvimento de

suas potencialidades sob condições históricas

concretas”. (Editora 34, tradução de Nicolino

Simone Neto.)

A Consciência de Zeno, de Italo Svevo

Svevo às vezes é mais citado como “o” amigo

italiano de James Joyce. O irlandês foi seu

professor de inglês. Poucas vezes um burguês foi

retratado com tanta felicidade quanto neste

romance. Zeno, um fumante inveterado — nada

politicamente correto —, submete-se àpsicanálise e, em seguida, desiste, porque deixa

de acreditar na “ciência” de Freud. O livro é de

1923. Zeno, grande personagem, faz um

mergulho poderoso na sua própria vida. Otto

Maria Carpeaux qualificou o romance de “genial”.

(Tradução de Ivo Barroso. Editora Nova

Fronteira.)

Folhas de Relva, de Walt Whitman

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Folhas de Relva, de Walt Whitman

Walt Whitman não é “um” e sim “o” poeta norte-

americano. Segundo Otto Maria Carpeaux, é um

“poeta para poetas”. Dado o uso intensivo do

verso livre, que ele “criou” como um método —então novo e rebelde em relação à poesia

metrificada —, o poema longo de Whitman

deveria ser de fácil acesso. Se fosse russo, seria

cantado nas ruas, como se faz com Púchkin. A

dificuldade teria a ver mais com o poema longo

do que com o poema em si? Pode ser. O que apoesia de Whitman exige é um leitor atento.

Harold Bloom o apresenta como “fundador” da

poesia americana. “O” poeta. Há algumas

traduções no Brasil. As mais citadas são as de

Bruno Gambarotto (Hedra), Rodrigo Garcia Lopes

(Iluminuras) e Geir Campos (Civilização

Brasileira). Há uma da Editora Martin Claret.

A Montanha Mágica, de Thomas Mann

É o segundo grande romance de formação

alemão. O livro conta a história do jovem Hans

Castorp, que, ao visitar uma clínica para

tuberculosos na Suíça, amadurece, participa de

debates filosóficos. Enfim, vive e cresce. Mann

escreveu: “E que outra coisa seria de fato oromance de formação alemão, a cujo tipo

pertencem tanto o ‘Wilhelm Meister’ como ‘A

Montanha Mágica’, senão uma sublimação e

espiritualização do romance de aventuras?”

(Nova Fronteira, tradução de Herbert Caro.)

A Lebre Com Olhos de Âmbar, de Edmund de Waal

O romance de Wall parece, à primeira vista, umtrabalho de arqueologia literária escrito por uma

sensibilidade do século 19. Há, aqui e ali, uma

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O romance de Wall parece, à primeira vista, umtrabalho de arqueologia literária escrito por uma

sensibilidade do século 19. Há, aqui e ali, uma

percepção meio proustiana da vida. Porém, a

obra é de 2010. O belíssimo livro, escrito por

alguém que tem a percepção de que Deus às

vezes está nos detalhes, ganhou elogios de pesospesados. “De maneira inesperada, combina a

micro arte das miniaturas com a macro história,

em um efeito grandioso”, disse Julian Barnes.

“Uma busca, descrita com perfeição, de uma

família e de um tempo perdidos. A partir do

momento em que você abre o livro, já está numa

velha Europa inteiramente recriada”, afirma ColmTóibín. (Tradução de Alexandre Barbosa de Souza.

Editora Intrínseca.)

Guerra e Paz, de Liev Tolstói

Se tivesse lido cuidadosamente o romance

“Guerra e Paz” — literatura e história —, Adolf

Hitler não teria invadido a União Soviética, em

1941, ou seja, 129 anos depois, mas com os

mesmos resultados funestos das tropas deNapoleão Bonaparte. Liev Tolstói examinou a

história cuidadosamente e escreveu um romance

poderoso a respeito da invasão napoleônica de

1812. Seu trabalho literário rivaliza-se com as

melhores histórias sobre o assunto. Detalhe:

além da guerra, ele examina minuciosamente avida civil do período. Como complemento, o

leitor pode consultar “1812 — A Marcha Fatal de

Napoleão Rumo a Moscou”, de Adam Zamoyski.

(Tradução de Rubens Figueiredo, a única feita a

partir do russo. Editora Cosac Naify.)

Paradiso, de Lezama Lima

Trata-se do mais importante romance escrito por

um cubano. Lezama Lima é o James Joyce ou o

Guimarães Rosa de Cuba. Sua prosa barroca é

densa, às vezes de difícil apreensão, mas uma

leitura cuidadosa, observando-se seus vieses,leva o leitor ao paraíso. Julio Cortázar escreveu

sobre o livro: “‘Paradiso’ é como o mar…Surpreendido em um começo, compreendo o

gesto de minha mão quando toma o grosso

volume para olhá-lo uma vez mais; este não é um

livro para ler como se leem os livros, é um objeto

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Surpreendido em um começo, compreendo o

gesto de minha mão quando toma o grosso

volume para olhá-lo uma vez mais; este não é um

livro para ler como se leem os livros, é um objeto

com verso e reverso, peso e densidade, odor egosto, um centro de vibração que não se deixa

alcançar em seu canto mais entranhado se não

se vai a ele com algo que participe do tato, que

busque o ingresso por osmose e magia

simpática”. (Brasiliense, com tradução de Josely

Vianna Baptista. A poeta refez a tradução, masum imbróglio jurídico a impede de publicá-la.)

Enquanto Agonizo, de William Faulkner

“O Som e a Fúria”, de William Faulkner, é o

“Ulysses” norte-americano. Mas o escritor queresgatou a história do sul profundo dos Estados

Unidos por meio da literatura tem um romance

menor (em tamanho) e de alta qualidade —

“Enquanto Agonizo”. Neste livro, todos os

personagens têm vozes, apresentadas em

igualdade de condições. As vozes parecem um

coro e as pessoas estão carregando um caixão,com o corpo da matriarca da família, mas é

como se não saíssem do lugar. (Tradução de

Wladir Dupont, L&PM.)

Aquela Confusão Louca da Via Merulana, de Carlo Emilio Gadda

James Joyce “inventou” clones em alguns países:

William Faulkner, nos Estados Unidos, e

Guimarães Rosa, no Brasil, são, quem sabe, os

mais conhecidos. Chamá-los de clones contém

um certo desrespeito, mas, sem Joyce,Guimarães Rosa certamente teria sido um José

Lins do Rego melhorado. Assim como Faulkner

seria um Mark Twain mais denso. Mas pode-se

falar num Joyce italiano? É possível. Carlo Emilio

Gadda, autor de “Aquela Confusão Louca da Via

Merulana” (Record, tradução de AuroraBernardini e Homero de Freitas Andrade), é uma

espécie de Joyce que “canibalizou” Rabelais. É

visto como intraduzível. Acima de tudo, é um

belíssimo escritor, autor de histórias fortes

contadas de modo inventivo e de uma maneira

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espécie de Joyce que “canibalizou” Rabelais. É

visto como intraduzível. Acima de tudo, é um

belíssimo escritor, autor de histórias fortes

contadas de modo inventivo e de uma maneira

às vezes frenética.

Três Tristes Tigres, de Guillermo Cabrera Infante

O livro é uma orgia linguística e, por isso, às

vezes assusta o leitor desavisado. Mas, se passar

da página 50, o leitor não vai mais parar a leituradeste livro de arquitetura perfeita, que não se

revela assim, dada sua fragmentação. Cabrera

Infante diverte o leitor, em cada página, ao

resgatar, com precisão, a oralidade e a vida

comum e a vida cultural de Cuba. Logo no início,

no qual há mistura de línguas, Carmen Miranda eJoe Carioca são citados. Oswald de Andrade

veria, neste belíssimo romance, a antropofagia

trabalhada com mestria. (Luís Carlos Cabral

traduziu o romance com rigor, decifrando ao

máximo suas muitas dificuldades linguísticas e

culturais. José Olympio Editora.)

A Branca Voz da Solidão, Emily Dickinson

Esclareça-se: a poeta norte-americana Emily

Dickinson não publicou nenhum livro. Seus

quase 2 mil poemas foram publicados depois de

sua morte, em 1886. Ela tem sido bem traduzida

no Brasil, desde Manuel Bandeira até Augusto deCampos e Aíla de Oliveira Gomes. Mas ninguém

fez tanto pela poesia de Emily Dickinson no Brasil

quanto José Lira, tradutor desta coletânea. Lira

não introduziu sua poesia no país, mas pode-se

dizer que a consolidou — tanto com as traduções

inventivas quanto com a crítica refinada. Outrolivro traduzido por ele: “Emily Dickinson: Alguns

Poemas”. (Editora Iluminuras.)

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Vida Querida, de Alice Munro

Alice Munro é uma das maiores escritoras

canadenses. É considerada como a Tchekhov daAmérica, embora seja menos ousada do que o

russo. Seus contos são romances em miniatura,

amplamente desenvolvidos e, às vezes, sutis.

Neste livro, além dos contos, há narrativas

autobiográficas — um artifício inteligente no qual

se usa a ficção para iluminar pedaços sempreescuros da vida dos indivíduos. (Tradução de

Caetano W. Galindo, Companhia das Letras)

Sagarana, de Guimarães Rosa

Todos sabem: a obra-prima de Guimarães Rosa é

“Grande Sertão: Veredas”, o romance brasileiro

que mais dialoga com a literatura internacional

— e sem submissão. Nos contos não há amesma invenção, aquela linguagem rodopiante,

que às vezes deixa o leitor tonto. Ainda assim, os

contos de “Sagarana” merecem uma leitura

atenta, alguns são “Pequenos Sertões: Veredas”.

Alguém é capaz de ler e esquecer, por exemplo,

“A hora e a vez de Augusto Matraga” e “CorpoFechado”? (Editora Nova Fronteira)

Memorial de Aires, de Machado de Assis

Se der ouvidos a certa crítica, o leitor patropipassará a acreditar que Machado de Assis só

escreveu três romances: “Dom Casmurro”,

“Quincas Borba” e “Memórias Póstumas de Brás

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Se der ouvidos a certa crítica, o leitor patropipassará a acreditar que Machado de Assis só

escreveu três romances: “Dom Casmurro”,

“Quincas Borba” e “Memórias Póstumas de Brás

Cubas”. O mago dos contos raramente é citado,

exceto por alguns especialistas, como o inglês

John Gledson. Mas há um “romancinho” deMachado de Assis que é maravilhoso. “Memorial

de Aires” é muito bem escrito. É de uma sutileza

rara no panorama cultural brasileiro. E, claro, é

divertido, talvez porque menos “pretensioso” (a

grande arte é sempre pretensiosa) do que as

obras-primas “Dom Casmurro” e “Memórias

Póstumas de Brás Cubas”.

Reparação, de Ian McEwan

Pense em Ian McEwan como uma espécie de

Henry James modernizado, pós-jazz e pós-rock. Oautor, talvez o mais refinado escritor inglês vivo

— acima de pares como Martin Amis e Julian

Barnes (este, às vezes subestimado, ao menos

no Brasil) —, aparentemente mistura, aqui e ali,

tanto Virginia Woolf quanto Henry James em

suas histórias. Mas sua dicção para mostrar aambivalência dos indivíduos é moderna, não é do

século 19, quando James, o Henry, se formou.

McEwan conta, em “Reparação”, uma história

extraordinária, mas o modo como a relata, com

personagens “manipulados” pelo meio e pelas

próprias personagens, ou por uma delas, é que

torna o romance interessante. Fica-se com aimpressão de que há duas histórias — uma

dominante e uma alternativa. O que é e o que

poderia ter sido.

Ulysses, de James Joyce

É o romance dos romances. Não é à toa que o

idiossincrático Harold Bloom — que avalia que

Shakespeare é Deus, e não apenas da literatura,pois teria inventado o homem que se tem hoje

nas ruas — considere James Joyce como um par

do autor de “Hamlet” e “Rei Lear”. “Ulysses”

reinventa o romance moderno, tornando os

posteriores espécies de sombras, não raro

pálidas. Mesmo quem não o segue, rumando

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do autor de “Hamlet” e “Rei Lear”. “Ulysses”

reinventa o romance moderno, tornando os

posteriores espécies de sombras, não raro

pálidas. Mesmo quem não o segue, rumandopara outra estética, acaba se tornando tributário.

As três traduções são de Antônio Houaiss

(Civilização Brasileira), Bernardina Pinheiro

(Objetiva) e Caetano W. Galindo (Companhia das

Letras).

São Bernardo, de Graciliano Ramos

O romance mais importante de GracilianoRamos é “Vidas Secas? Sem dúvida. Mas, num

tempo de hegemonia dos estudos de gênero —

que matam a literatura em nome de uma

ideologia primária —, nada mais significante do

que indicar “São Bernardo”. Este livro, se as

feministas atuais lessem — as que leem sãoexceções —, se tornaria uma bíblia. Mas uma

bíblia sem concessões moralistas. Poucos

autores patropis, mesmo entre as mulheres,

construíram tão bem um homem autoritário, até

totalitário, quanto o Velho Graça. (Editora Record)

Retrato de uma Senhora, de Henry James

Mestre da ambiguidade, Henry James construiu

romances de alta voltagem sobre grandes

mulheres, americanas ou inglesas. Pode-se dizer,

até, que suas mulheres, sempre mais sutis, são

mais bem construídas do que as personagens

masculinas. Neste romance, há uma grandepersonagem, Isabel Archer. O leitor poderá

sugerir: “Mas ela é enganada por um homem”.

Por certo, é. Mas permanece como uma grande

personagem. Este livro — ao lado de “As Asas da

Pomba” — deveria ser lido por todos os leitores,

sobretudo pelas mulheres. Os homens deveriam

amarrá-las para que lessem esta obra-prima?Nem tanto. É crime. A Lei Maria da Penha é um

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Pomba” — deveria ser lido por todos os leitores,

sobretudo pelas mulheres. Os homens deveriamamarrá-las para que lessem esta obra-prima?

Nem tanto. É crime. A Lei Maria da Penha é um

perigo. (Companhia das Letras, tradução de Gilda

Stuart.)

Conversa no Catedral, de Mario Vargas Llosa

O percurso literário de Vargas Llosa é curioso.

Começou como um autor inventivo, na linhagem

de Faulkner, e se tornou, nos romances mais

recentes, um escritor mais tradicional, tão

límpido quanto, digamos, Flaubert. Tornou-se umgrande narrador clássico, mais acessível. Seu

romance mais experimental é “Conversa no

Catedral”, no qual diálogos de personagens

diferentes são misturados, numa bela orgia

linguística. É como se o Nobel de Literatura nos

dissesse que a Linguagem é uma personagem

tão ou mais importante do que Santiago eAmbrosio. (Alfaguara, tradução de Ari Roitman e

Paulina Wacht.)

Poesia 1930-1962, de Carlos Drummond de Andrade

O poeta Carlos Drummond de Andrade talveztenha apenas dois rivais em língua portuguesa —

Camões e Fernando Pessoa. No Brasil, quem

mais se aproximou, a uma distância de 10 mil

quilômetros, foi João Cabral de Melo Neto.

Ninguém mais. “Poesia 1930-1962 — Edição

Crítica” contém o que há de melhor do escritormineiro. É, digamos, sua bíblia. Aí está o

Drummond, modernista total, de corpo e alma.

Como presente de Natal, o preço é salgado, 179

reais, mas a edição, caprichada, vale a pena. O

preço será esquecido, mas o presenteador e o

livro decerto jamais serão olvidados. (Editora

Cosac Naify)

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O Deserto dos Tártaros, de Dino Buzatti

O maior crítico brasileiro Antonio Candido

aponta o romance do escritor italiano como um

dos mais importantes da história da literatura.Fica-se com a impressão de que a história não

anda, ou que anda para trás, ou melhor, que a

personagem central, o tenente Giovanni Drogo,

espera tanto que insinua-se paralisada, como se

a história estivesse estancada. De permeio, a

linguagem refinada de Dino Buzatti. (Editora

Nova Fronteira, tradução de Aurora FornoniBernardini e Homero de Freitas Andrade.)

Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust

Harold Bloom percebe Marcel Proust como o

maior escritor francês, acima de Flaubert, o

“santo” de devoção de Mario Vargas Llosa. Proust

não sabia avaliar se “Em Busca do TempoPerdido” era um romance, ou algo mais. Talvez

seja muito mais do que um romance. Quiçá uma

bíblia da civilização humana, mais do que da

francesa. Ciúme, memória-tempo, amizade,

sexualidade — eis alguns dos temas candentes

do escritor. Duas editoras se encarregaram detraduzir a obra-prima, a Globo e a Ediouro. No

time de tradutores da Globo estão Mario

Quintana, Manuel Bandeira, Carlos Drummond

de Andrade, entre outros. Fernando Py enfrentou

solitariamente as centenas de páginas de um

autor de prosa densa (quem só defende

literatura concisa não sabe a delícia que éProust). Mario Sergio Conti prepara a terceira

tradução para a Companhia das Letras.

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