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ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE VIGAS MISTAS COM PERFIL DE ALMA SENOIDAL Alexander Galvão Martins

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  • ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE VIGAS MISTAS COM PERFIL DE ALMA SENOIDAL

    Alexander Galvo Martins

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENGENHARIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

    "ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE VIGAS MISTAS COM PERFIL DE ALMA SENOIDAL "

    Alexander Galvo Martins

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de "Doutor em Engenharia de Estruturas".

    Comisso Examinadora:

    ____________________________________ Prof. Dr. Ricardo Hallal Fakury DEES-UFMG - (Orientador)

    ____________________________________ Prof. Dr. Gilson Queiroz DEES - UFMG

    ____________________________________ Prof. Dr. Francisco Carlos Rodrigues DEES - UFMG

    ____________________________________ Prof. Dr. Maximiliano Malite USP

    ____________________________________ Prof. Dr. Pedro Colmar Gonalves da Silva Vellasco UERJ

    Belo Horizonte, 29 de setembro de 2009

  • minha amada esposa, Vivi,

    minha querida me, Camila, exemplo de vida e determinao,

    e aos meus irmos, Rodrigo e Allan,

    dedico este trabalho.

  • AGRADECIMENTOS

    Deus, pelo dom da vida, e por ter me concedido a graa de concluir mais uma etapa em

    minha vida profissional.

    Ao professor Ricardo Hallal Fakury, pelos ensinamentos transmitidos desde o mestrado, pela

    amizade, orientao, confiana e apoio no desenvolvimento deste trabalho.

    Aos professores do Departamento de Engenharia de Estruturas, em especial ao professor

    Glson Queiroz, meu orientador no mestrado e a quem tenho uma profunda admirao e

    carinho, e ao professor Francisco Carlos Rodrigues, parceiro nas atividades acadmicas e

    profissionais, que colaboraram significativamente na realizao desta pesquisa. uma grande

    honra e satisfao ter sido aluno de profissionais to competentes e respeitados.

    Aos funcionrios do DEES e LAEES e, em especial, Ins.

    Ao eng. Roberval Jos Pimenta pelos constantes ensinamentos, por acreditar em minha

    capacidade, e convidar-me para fazer parte do grupo de estudos do perfil de alma senoidal.

    Pela co-orientao, amizade e incentivo nos momentos difceis, fundamentais para a

    concluso desta pesquisa dentro do prazo estabelecido.

    Aos colegas do grupo de estudos do perfil de alma senoidal: Daniel Gordilho Souza,

    Adenilcia Fernanda Grobrio Calenzani, Lourdiane Gontijo das Mercs Gonzaga e, em

    especial, Eduardo Loureno Pinto, que me auxiliou durante a realizao dos ensaios

    experimentais.

    CODEME ENGENHARIA S.A. pela confiana em meu trabalho e pela oportunidade

    concedida para dedicar-me ao doutorado em um perodo da semana. Ao eng. Wagner Plais,

    que colaborou no desenvolvimento do programa GeraAnsys, fundamental para agilidade do

    estudo paramtrico.

    minha amada esposa, Viviane, pelo amor, carinho, compreenso e pacincia ao longo

    destes trs anos e meio de privaes.

  • NDICE

    SUMRIO

    RESUMO....................................................................................................................................i

    ABSTRACT...............................................................................................................................ii

    NOTAES.............................................................................................................................iii

    1. INTRODUO..................................................................................................................1

    1.1. Generalidades.................................................................................................................1

    1.2. Histrico.........................................................................................................................3

    1.3. Dimenses dos perfis de alma corrugada.......................................................................6

    1.4. Processo de Fabricao..................................................................................................9

    1.5. Ligao entre as mesas e a alma..................................................................................13

    1.6. Objetivos......................................................................................................................14

    1.6.1. Geral....................................................................................................................14

    1.6.2. Especficos...........................................................................................................14

    1.7. Metodologia.................................................................................................................15

    1.8. Contexto do trabalho e justificativa.............................................................................16

    1.9. Escopo do trabalho.......................................................................................................17

    2. ESTADO DA ARTE.........................................................................................................19

    2.1. Consideraes iniciais..................................................................................................19

    2.2. Vigas mistas biapoiadas com perfil de alma senoidal.................................................20

    2.3. Aspectos gerais das ligaes mistas com perfil de alma plana....................................26

    2.4. Comportamento dos componentes bsicos das ligaes mistas..................................29

    2.4.1. Largura efetiva da laje na regio de momento fletor negativo............................29

    2.4.2. Barras de armadura tracionadas...........................................................................30

    2.4.2.1. Rigidez inicial........................................................................................30

  • NDICE

    2.4.2.2. Fora de trao resistente nominal........................................................30

    2.4.2.3. Capacidade de deformao....................................................................30

    2.4.3. Conectores de cisalhamento................................................................................34

    2.4.3.1 Rigidez inicial........................................................................................34

    2.4.3.2 Fora resistente nominal........................................................................34

    2.4.3.3 Capacidade de deformao....................................................................35

    2.4.4. Chapa de topo......................................................................................................36

    2.4.4.1 Rigidez inicial da ligao da mesa inferior............................................36

    2.4.4.2 Rigidez rotacional para as ligaes com perfis de alma plana..............36

    2.4.4.3 Fora resistente nominal trao da linha de parafusos na ligao de

    chapa de topo com perfis de alma plana.................................................................37

    2.4.4.4 Rigidez rotacional e fora resistente da linha de parafusos para as

    ligaes de chapa de topo com perfis de alma senoidal..........................................40

    2.5. Propriedades fundamentais da ligao mista completa com perfis de alma

    plana.............................................................................................................................45

    2.5.1. Rigidez inicial......................................................................................................45

    2.5.2. Momento resistente nominal...............................................................................47

    2.5.3. Capacidade de rotao.........................................................................................48

    2.6. Capacidade de rotao necessria de vigas semicontnuas com perfis de alma

    plana.............................................................................................................................48

    2.7. Flambagem local da mesa comprimida........................................................................52

    2.8. Flambagem lateral com distoro................................................................................56

    2.8.1. Em perfis de alma plana......................................................................................56

    2.8.2. Em perfis de alma senoidal..................................................................................58

  • NDICE

    2.9. Anlise da confiabilidade estrutural do estado limite ltimo de plastificao da viga

    mista com perfil de alma senoidal...............................................................................64

    3. ANLISE EXPERIMENTAL.........................................................................................68

    3.1. Descrio dos prottipos..............................................................................................68

    3.2. Instrumentao.............................................................................................................72

    3.3. Descrio dos ensaios..................................................................................................74

    3.4. Resultados obtidos.......................................................................................................81

    4. ANLISE NUMRICA...................................................................................................96

    4.1. Introduo....................................................................................................................96

    4.2. Vigas mistas biapoiadas ensaios de Motak e Machacek...........................................97

    4.2.1. Tipos de elementos utilizados..............................................................................97

    4.2.2. Definio da malha de elementos finitos e vinculaes nodais...........................98

    4.2.3. Relaes constitutivas utilizadas.......................................................................102

    4.2.4. Consideraes sobre a aplicao do carregamento............................................104

    4.2.5. Aspectos da anlise no-linear..........................................................................105

    4.2.6. Comparao dos resultados das anlises numrica e experimental...................106

    4.3. Ligaes mistas com perfil de alma senoidal............................................................110

    4.3.1. Tipos de elementos utilizados............................................................................110

    4.3.2. Definio da malha de elementos finitos e vinculaes nodais.........................110

    4.3.3. Relaes constitutivas utilizadas.......................................................................113

    4.3.4. Consideraes sobre a aplicao do carregamento............................................116

    4.3.5. Anlise dos resultados do modelo numrico e comparao com os resultados dos

    ensaios...............................................................................................................117

    5. ESTUDO PARAMTRICO..........................................................................................125

    5.1. Introduo..................................................................................................................125

  • NDICE

    5.2. Vigas mistas biapoiadas com perfil de alma senoidal...............................................126

    5.3. Ligao mista com perfil de alma senoidal................................................................131

    6. PROPOSIO DE MTODOS DE CLCULO........................................................136

    6.1. Introduo..................................................................................................................136

    6.2. Plastificao da viga mista.........................................................................................137

    6.3. Ligao mista.............................................................................................................139

    6.3.1. Resistncia da ligao mista..............................................................................139

    6.3.2. Modelo mecnico para o mecanismo de falha...................................................142

    6.3.3. Capacidade de rotao.......................................................................................145

    6.3.4. Rigidez inicial....................................................................................................152

    6.3.5. Algumas consideraes qualitativas sobre as construes escoradas e no-

    escoradas............................................................................................................153

    7. CONSIDERAES FINAIS.........................................................................................155

    7.1. Concluses.................................................................................................................155

    7.2. Sugestes para trabalhos posteriores.........................................................................158

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.........................................................................160

    ANEXOS

    Anexo A Laudo tcnico dos ensaios mecnicos.............................................................167

    Anexo B Determinao da curva momento versus rotao da ligao mista.................182

    Anexo C Dados auxiliares para a determinao da capacidade de rotao necessria da

    ligao mista.......................................................................................................................184

    Anexo D E-mail enviado pelo Prof. Josef Machacek.....................................................189

  • RESUMO i

    RESUMO

    Os perfis de alma corrugada tm sido empregados na construo de galpes comerciais,

    edifcios industriais e passarelas de pedestres. Esse fato fez com que grande parte das

    pesquisas se concentrassem no comportamento do perfil de ao isolado, sendo encontradas

    poucas referncias sobre o comportamento de estruturas mistas com perfil de alma corrugada,

    em especial de geometria senoidal. Mesmo a norma brasileira ABNT NBR 8800: 2008 e as

    normas internacionais no prevem procedimentos para clculo e projeto de elementos de ao

    de alma corrugada, que tratem de todos os fenmenos envolvidos em seu comportamento

    estrutural. Diante desse quadro, este trabalho tem por objetivo a proposio de procedimentos

    de clculo para vigas mistas constitudas por um perfil de ao de alma senoidal sobreposto por

    laje de concreto macia ou com frma de ao incorporada, nas regies de momento fletor

    positivo e negativo. A fim de que fosse alcanado esse objetivo, realizaram-se trs ensaios de

    ligaes mistas com perfil de alma senoidal no Laboratrio de Anlise Experimental de

    Estruturas (LAEES) da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Com

    os resultados desses ensaios e dos ensaios de vigas mistas com perfil de alma senoidal

    realizados por MOTAK & MACHACEK na Universidade Tcnica Tcheca em Praga, calibraram-

    se modelos numricos via mtodo dos elementos finitos, que foram utilizados em estudos

    paramtricos para a obteno do momento fletor resistente e de propriedades fundamentais da

    ligao mista, na regio de momento fletor negativo, e do momento fletor resistente de vigas

    mistas na regio de momento fletor positivo.

  • ABSTRACT ii

    ABSTRACT

    The corrugated web profiles have been employed in the construction of commercial

    warehouses, industrial buildings and footbridges as well. Hence, researches have focused on

    insulated steel profiles behavior, while few references are found about composite structures

    with corrugated web profile, in particular the sinusoidal geometry. Neither Brazilian standard

    ABNT NBR 8800: 2008 nor international standards provide procedures for calculation and

    design of corrugated web steel elements covering all the phenomena involved on its structural

    behavior. Therefore, the aim of this work is to propose procedures for calculating composite

    beams formed by sinusoidal web steel profile overlapped by massive concrete slab or by

    decks concreted over steel sheeting, in the regions of sagging and hogging bending moment.

    In order to achieve that, three tests of composite connections on sinusoidal web profile were

    performed in the Laboratory of Experimental Analysis of Structures (LAEES), at the School of

    Engineering, Federal University of Minas Gerais. Data obtained from these tests and also

    from composite beams with sinusoidal web profiles tests performed by MOTAK &

    MACHACEK at Czech Technical University in Prague were used to validate finite element

    numerical models. Finally, these models were used for parametric studies to obtain the

    bending moment resistance and composite connection fundamental properties as well as in the

    hogging bending moment region, and bending moment resistance of composite beams in the

    sagging bending moment region.

  • NOTAES iii

    NOTAES

    Letras romanas maisculas

    Aa rea da seo do perfil de ao

    As! rea da seo transversal da armadura

    Afi rea da mesa inferior do perfil de ao

    Dn valor nominal da ao permanente

    DFB distncia do centro do furo borda

    DEF distncia vertical entre centro dos furos

    E modulo de elasticidade do ao

    Eaf mdulo de elasticidade do ao das mesas

    Eaw mdulo de elasticidade do ao da alma

    Ec mdulo de elasticidade do concreto

    Eci mdulo de elasticidade inicial do concreto

    Es mdulo de elasticidade do ao da armadura

    (EI)2 rigidez flexo da seo mista homogeneizada da laje por unidade de

    comprimento da viga

    FcRk fora resistente nominal dos conectores de cisalhamento na regio de momento

    fletor negativo

    FsRk fora de trao resistente nominal das barras de armadura

    Fe fora mxima aplicada experimental

    Fb resistncia da linha superior de parafusos

    Fn fora mxima aplicada numrica

    FT,Rk fora de trao resistente nominal de uma linha de parafusos

    G mdulo de elasticidade transversal do ao

    Geq mdulo de elasticidade transversal equivalente do ao da alma senoidal

    GAB distncia horizontal entre centro de furos

    Ia momento de inrcia da seo transversal do perfil de ao

    Iv+ momento de inrcia da viga mista na regio de momento fletor positivo

    Leq comprimento equivalente da charneira plstica

    Ln valor nominal da ao varivel

  • NOTAES iv

    Ll- comprimento da viga, adjacente ao n, na regio de momento negativo

    M momento fletor; momento aplicado

    Mp momento fletor de plastificao

    MRk momento fletor resistente nominal

    MRd momento fletor resistente de clculo

    Mu momento fletor ltimo aplicado

    Mue momento fletor ltimo experimental

    Mun momento fletor ltimo numrico

    M+ momento resistente da viga mista na regio de momento positivo

    QRk fora resistente nominal de um conector

    P fora concentrada

    Pu carga ltima aplicada

    R resistncia

    Rn resistncia nominal

    Rc resistncia da mesa comprimida

    Rp resistncia da primeira linha de parafusos

    Rs resistncia da armadura ao escoamento

    Rs resistncia da armadura ruptura

    S solicitao

    Si rigidez inicial da ligao

    Sn solicitao ou efeito das aes nominais

    Letras romanas minsculas

    a altura do concreto da laje comprimida; distncia entre vigas;

    bc largura efetiva da laje de concreto

    bch largura da chapa de topo

    bf largura da mesa

    bp largura da chapa de topo

    bw altura da onda senoidal (duas vezes a amplitude)

    d altura total do perfil metlico

    db dimetro dos parafusos

    ds distncia do centro geomtrico do perfil metlico ao centro geomtrico da

    armadura

  • NOTAES v

    dpch distncia da primeira linha de parafusos ao centro geomtrico da mesa inferior

    dt altura total da viga mista incluindo a espessura da laje

    d1 distncia do centro geomtrico do perfil metlico at a face superior desse

    perfil

    ex distncia do furo borda

    ey distncia da linha superior de parafusos face interna da mesa superior do

    perfil

    f flecha

    fc resistncia a compresso do concreto

    fck resistncia caracterstica do concreto compresso

    fctm resistncia mdia do concreto trao

    fu resistncia ltima nominal

    fy resistncia nominal ao escoamento

    fyd resistncia de clculo ao escoamento

    fyp resistncia nominal ao escoamento do ao da chapa de topo

    fys resistncia ao escoamento do ao da armadura

    h altura da alma

    hF altura da frma da laje

    h0 altura entre eixos das mesas

    kc coeficiente que leva em conta o equilbrio e a distribuio de tenses na laje de

    concreto imediatamente antes da ocorrncia das fissuras.

    kcs rigidez inicial dos conectores de cisalhamento na regio de momento fletor

    negativo

    ki rigidez inicial da ligao da mesa inferior

    kr rigidez de um conector

    ks rigidez inicial das barras de armadura

    k1 rigidez flexo da laje por unidade de comprimento da viga

    k2 rigidez flexo da alma por unidade de comprimento da viga

    k3 rigidez da conexo de cisalhamento por unidade de comprimento da viga

    ! comprimento destravado da viga; vo da viga; comprimento da barra

    !eff comprimento efetivo da linha de escoamento da chapa para os modos 1 e 2

    m distncia do furo ao centro da alma

    n distncia do centro do furo borda

  • NOTAES vi

    q relao entre a ao varivel de referncia ou nominal e a ao permanente

    nominal

    s comprimento desenvolvido de uma corrugao; desenvolvimento de w

    s(B) capacidade de deformao dos conectores

    tc espessura da laje de concreto acima da frma

    tch espessura da chapa de topo

    tf espessura da mesa

    tfi espessura da mesa inferior

    tfs espessura da mesa superior

    tp espessura da chapa de topo

    tw espessura da alma

    w comprimento da onda senoidal

    y distncia entre a face superior da mesa superior e o eixo das barras de armadura

    yc distncia do centro geomtrico da parte comprimida do perfil metlico at a

    face superior desse perfil

    yt distncia do centro geomtrico da parte tracionada do perfil metlico at a face

    inferior desse perfil

    y0 distncia entre os centros geomtricos da laje de concreto e da seo mista

    homogeneizada na regio de momento fletor negativo

    z distncia entre centros geomtricos da rea comprimida e do parafuso

    Letras gregas

    !us capacidade de deformao da armadura

    !ui capacidade de deformao da mesa inferior

    " relao entre os momentos resistentes da ligao mista e da viga mista

    #vm fator de reduo do momento fletor positivo resistente

    #t parmetro para clculo da deformao da armadura

    $ coeficiente de reduo da resistncia

    % deslocamento

    %s taxa de armadura (relao As /Ac)

    %0 parmetro para clculo da deformao da armadura

    &smu deformao da armadura envolvida pelo concreto

  • NOTAES vii

    &sy deformao correspondente resistncia ao escoamento da armadura

    &su deformao correspondente resistncia ruptura da armadura

    &! taxa de deformao

    ' coeficiente de ponderao da resistncia da norma estadunidense

    (a coeficiente de ponderao da resistncia do ao

    (c coeficiente de ponderao da resistncia do concreto

    (D coeficiente de ponderao da ao permanente

    (L coeficiente de ponderao da ao acidental

    (m coeficiente de ponderao da resistncia da norma brasileira

    !s coeficiente de ponderao da resistncia do ao da armadura

    )i nvel de interao da viga mista

    * ndice de esbeltez

    + taxa de rigidez

    , coeficiente de Poisson

    -u capacidade ltima de rotao

    .c massa especfica do concreto

    /srl tenso na armadura em que ocorrem as primeiras fissuras

  • INTRODUO 1

    11INTRODUO

    1.1 - Generalidades

    Para se vencer grandes vos, faz-se necessria a utilizao de vigas de maior altura para que

    no sejam violados os estados limites ltimos e de utilizao. Com a elevao da altura das

    vigas, para evitar a flambagem local da alma por fora cortante, normalmente torna-se

    necessrio o aumento da espessura da alma ou a utilizao de enrijecedores transversais, o que

    causa o crescimento do consumo de ao da estrutura. A fim de se solucionar esse problema,

    imaginou-se um enrijecimento prprio da alma por meio de corrugaes ao longo do

    comprimento da viga, conforme se v na FIG.1.1. Essas corrugaes tm por objetivo

    aumentar a capacidade resistente da alma flambagem local por cisalhamento, o que

    possibilita a utilizao de menores espessuras de chapa sem o emprego de enrijecedores.

  • INTRODUO 2

    FIGURA 1.1 - Perfil de alma corrugada [PLAIS (2005)]

    As almas dos perfis podem ser corrugadas segundo diversas formas, algumas das quais so

    mostradas na FIG.1.2. As diferenas entre as formas de corrugao envolvem, alm da

    geometria, o comportamento mecnico e o custo de fabricao.

    FIGURA 1.2 - Formas de corrugao da alma [PLAIS (2005)]

    De acordo com DE HOOP (2003), no se tm muitas informaes sobre a maioria das formas

    de corrugao. A alma trapezoidal a forma mais conhecida e a que possui um nmero maior

    de estudos e obras realizadas. Em seguida, tem-se a alma senoidal, cuja utilizao vem

    crescendo nos ltimos anos. Cada uma delas possui caractersticas peculiares:

    ! a alma trapezoidal apresenta maior momento fletor resistente em relao ao

    eixo de menor inrcia do perfil, pois os trechos planos da alma esto distantes

    do eixo de simetria. Porm, a alma trapezoidal est sujeita ocorrncia de

    flambagem local por fora cortante nos trechos planos;

    ! a alma senoidal, dependendo do comprimento e da profundidade da onda, pode

    no estar sujeita flambagem local por fora cortante e, devido sua

    (a) senoidal (c) rolled stiffeners

    (b) trapezoidal (d) clulas

  • INTRODUO 3

    geometria, a mais indicada para as situaes onde a fadiga deve ser

    considerada (DE HOOP, 2003).

    1.2 - Histrico

    A primeira viga de alma corrugada foi fabricada em 1966 na Sucia, com o objetivo de

    reduzir o peso da estrutura e os custos de fabricao, especialmente em pontes. No entanto

    somente em 1986, na Frana, foi construda a primeira ponte com perfil de alma trapezoidal, a

    ponte Cognac, mostrada na FIG.1.3, pela empresa Campenon Bernard.

    FIGURA 1.3 - Ponte Cognac [PLAIS (2005)]

    A seo transversal da ponte Cognac constituda por duas mesas de concreto protendido

    ligadas por chapas de ao corrugadas na forma trapezoidal, conforme se v na FIG.1.4. Uma

    das principais vantagens desse sistema construtivo foi a diminuio da perda de protenso do

    concreto devido pequena rigidez longitudinal da chapa corrugada (DE HOOP, 2003).

    FIGURA 1.4 - Seo transversal da ponte Cognac [SAYED-AHMED (2001)]

    no meio do vo sobre os apoios

    alma trapezoidal espessura de 8,0 mm

  • INTRODUO 4

    Seguindo o sucesso da ponte Cognac, vrias pontes em perfil de alma trapezoidal foram

    construdas na Europa e na sia. Podem-se citar como exemplos o viaduto Maupr (1987) e a

    ponte Dole (1995) na Frana (FIG.1.5 e FIG.1.6, respectivamente), a ponte Shinkai (1993) e a

    ponte Hondani (1997) no Japo (FIG.1.7).

    FIGURA 1.5 - Viaduto Maupr [PLAIS (2005)]

    FIGURA 1.6 - Ponte Dole [PLAIS (2005)]

  • INTRODUO 5

    FIGURA 1.7 - Ponte Hondani [PLAIS (2005)]

    Atualmente, devido ao excelente comportamento mecnico e elevada eficincia estrutural,

    principalmente quando a solicitao flexo predominante sobre a solicitao fora axial,

    os perfis de alma corrugada esto sendo empregados na construo de galpes comerciais

    (FIG.1.8), edifcios industriais (FIG.1.9) e passarelas de pedestres (FIG.1.10).

    FIGURA 1.8 - Galpo comercial em alma corrugada [PLAIS (2005)]

  • INTRODUO 6

    FIGURA 1.9 - Galpo industrial em alma corrugada [PLAIS (2005)]

    FIGURA 1.10 - Passarela em alma corrugada [PLAIS (2005)]

    1.3 - Dimenses dos perfis de alma corrugada

    Duas referncias europias em fabricao de perfis de alma trapezoidal so a empresa

    holandesa GLP Corrugated Plate Industry e a sueca Ranabalken. A FIG.1.11 mostra algumas

    das formas de alma trapezoidal fabricadas pela GLP Corrugated Plate Industry, com

    variaes tanto na profundidade quanto no comprimento dos trechos planos que compem os

    trapzios. A espessura da alma varia de 1,5 mm a 12,0 mm e a mxima profundidade do

    trapzio de 240 mm. Segundo informaes da empresa (http://www.cpi-glp.com), acessado

    em maio de 2006, a economia de matria-prima na fabricao de vigas de alma corrugada

  • INTRODUO 7

    varia de 10% a 30% se comparado aos perfis soldados de alma plana e mais de 30% para os

    perfis laminados.

    A empresa autraca Zeman & Co tem fabricado perfis em alma senoidal, praticamente sem

    diferenas na forma da corrugao da onda senoidal, conforme se v na FIG.1.12. A espessura

    da alma pode ser de 2,0 mm, 2,5 mm e 3,0 mm, enquanto a altura total da corrugao de

    40 mm para a espessura de 2,0 mm e 43 mm para as demais.

    FIGURA 1.11 - Formas de alma trapezoidal fabricadas pela GLP Corrugated Plate Industry

    FIGURA 1.12 - Forma da alma senoidal fabricada pela Zeman & Co [SIOKOLA (1999)]

    No Brasil, a empresa Codeme Engenharia S.A., vem projetando, fabricando e montando

    galpes comerciais e edifcios industriais em perfis de alma senoidal desde 2003. A FIG.1.13

    mostra um galpo comercial construdo por essa empresa.

  • INTRODUO 8

    FIGURA 1.13 - Galpo comercial construdo pela Codeme [PLAIS (2005)]

    O equipamento utilizado pela Codeme Engenharia S.A. para a fabricao dos perfis foi

    adquirido junto empresa Zeman & Co e algumas modificaes nos padres de dimenses

    dos perfis foram feitas para adequao s necessidades brasileiras. A TAB.1.1 apresenta as

    dimenses e as propriedades dos materiais empregados por cada um dos fabricantes e a

    FIG.1.14 indica as dimenses mencionadas na referida tabela.

    preciso salientar que a geometria da alma senoidal a mesma para ambos os fabricantes.

    Analisando a TAB.1.1 constata-se que o perfil de alma senoidal um elemento hbrido, pois o

    processo de fabricao e as propriedades dos aos que compem as mesas e a alma do perfil

    so diferentes.

    TABELA 1.1 Dimenses e propriedades dos perfis de alma senoidal segundo os fabricantes

    Codeme Engenharia (PLAIS, 2005)

    Zeman & Co (SIOKOLA, 1999)

    Altura (h)(mm)

    400, 500, 600, 800, 1000 e 1200

    500, 625, 750, 1000, 1250 e 1500

    Espessura (tw)(mm)

    2,0 e 3,0 2,0, 2,5 e 3,0

    Alm

    a

    Tipo de Ao CIVIL300

    fy = 300 MPa fu = 410 MPa

    St 37-2G fy = 215 MPa

    fu = 360-510 MPa Largura (bf)

    (mm) 125 " bf " 350 200 " bf " 430

    Espessura (tfs, tfi)(mm)

    4,75 " tfs " 19,0 4,75 " tfi " 19,0

    10,0 " tfs " 30,0 10,0 " tfi " 30,0 M

    esa

    Tipo de Ao CIVIL350

    fy = 350 MPa fu = 460 MPa

    S235JRG2fy = 235 MPa

    fu = 360-510 MPa

  • INTRODUO 9

    FIGURA 1.14 - Seo transversal do perfil de alma senoidal [PLAIS (2005)]

    1.4 - Processo de fabricao

    O processo de fabricao do perfil de alma senoidal completamente automatizado e permite

    a produo de vrias alturas de vigas a partir de uma mesma bobina. Inicialmente, as chapas

    das almas so alimentadas por um desbobinador hidrulico (FIG.1.15), sendo em seguida

    aplanadas e transportadas pelos retificadores, que garantem a centralizao das mesmas na

    linha de produo (FIG.1.16).

    FIGURA 1.15 - Desbobinador [PLAIS (2005)]

  • INTRODUO 10

    FIGURA 1.16 - Retificador [PLAIS (2005)]

    Aps o aplanamento, as chapas so cortadas de acordo com as dimenses especificadas em

    projeto (FIG.1.17) e encaminhadas ao corrugador para a conformao senoidal, conforme se

    v na FIG.1.18.

    FIGURA 1.17 - Estao de corte [PLAIS (2005)]

  • INTRODUO 11

    FIGURA 1.18 - Estao de conformao [PLAIS (2005)]

    Concluda essa etapa, a chapa da alma levada estao de montagem juntamente com as

    chapas das mesas j preparadas e armazenadas nas laterais da linha de produo (FIG.1.19).

    Garras hidrulicas conduzem e pressionam as mesas contra as bordas da alma senoidal para o

    incio do processo de soldagem, conforme se v na FIG.1.20.

    FIGURA 1.19 - Estao de montagem [PLAIS (2005)]

  • INTRODUO 12

    FIGURA 1.20 - Estao de soldagem [PLAIS (2005)]

    As soldas so executadas automaticamente por dois robs, um em cada mesa do perfil. Para

    que se possa garantir a execuo das soldas com a qualidade exigida, uma vez que no se tem

    uma superfcie horizontal, o sistema utiliza o processo de soldagem MAG de alto desempenho

    denominado T.I.M.E. Process da Fronius. O processo de soldagem MAG semi ou

    totalmente automtico, no qual um arco eltrico aberto entre o eletrodo e a pea protegida

    por uma cortina de gases. O T.I.M.E. Process possui as seguintes vantagens:

    ! assegura alta penetrao com constante verificao do perfil da solda;

    ! minimiza distores provocadas pelo processo de soldagem;

    ! permite todas as posies e um menor ngulo de soldagem;

    ! aumenta consideravelmente a resistncia ao teste de charpy.

    A determinao da linha de soldagem entre a alma e as mesas obtida pela medio a laser e

    do registro do percurso a ser seguido pelos robs. Para tanto, eles se movimentam de uma

    extremidade a outra, em ambos os lados da viga. Com os percursos registrados, os robs

    executam a soldagem de ambos os lados simultaneamente em uma velocidade superior a um

    metro por minuto.

    Ao final do processo os robs retornam s suas posies originais para a realizao da

    autoverificao e da autolimpeza dos bicos de soldagem. As garras hidrulicas liberam a pea,

    que transportada estao de sada, conforme se v na FIG.1.21.

  • INTRODUO 13

    FIGURA 1.21 - Transportadores [PLAIS (2005)]

    1.5 - Ligao entre as mesas e a alma

    Nas peas de alma plana, a aplicao de foras localizadas nas mesas pode originar momentos

    transversais que devem ser transferidos alma e vice-versa. Para que isso ocorra, esses

    elementos devem ser ligados por meio de filetes contnuos de solda em ambos os lados da

    alma, conforme apresentado na FIG.1.22(b). Nesse caso, o momento M = P# produzido na

    ligao entre esses elementos resistido pelo binrio F$1. Caso se utilize um nico filete de

    solda, como ilustra a FIG.1.22(a), o momento M deve ser absorvido pela ligao, gerando

    tenses extremamente elevadas na interface entre os elementos.

    No caso de perfis com alma corrugada possvel a ligao da alma s mesas por meio

    de um nico filete contnuo de solda, pois a dimenso das corrugaes permite o surgimento

    do binrio F$2 pelo qual o momento transversal na alma transferido s mesas e vice-versa

    (FIG.1.22(c)). Alm disso, as tenses produzidas na ligao so, em geral, inferiores s

    resultantes nas almas planas, pois o brao de alavanca $2 superior ao brao de alavanca $1.

    HAMILTON (1993) realizou 42 testes em 21 vigas nas quais a alma corrugada

    trapezoidal foi conectada s mesas por meio de um filete contnuo de solda em apenas um dos

    lados da alma. Em todos os testes o colapso deu-se por flambagem local da alma por fora

    cortante, no tendo havido quaisquer sinais de ruptura nas soldas ou em regies prximas a

    essas. A partir desse resultado, a solda contnua em apenas um dos lados tornou-se a ligao

    padro entre mesas e alma dos perfis de alma corrugada.

  • INTRODUO 14

    FIGURA 1.22 - Soldas de composio no perfil de alma plana e no perfil de alma corrugada

    [PLAIS (2005)]

    1.6 Objetivos

    1.6.1 - Geral

    O objetivo geral deste trabalho a proposio de procedimentos de clculo para vigas mistas

    constitudas por um perfil de ao de alma senoidal sobreposto por laje de concreto macia ou

    com frma de ao incorporada, nas regies de momentos fletores positivo e negativo.

    1.6.2 - Especficos

    Os objetivos especficos so os seguintes:

    - na regio de momento positivo:

    ! determinar o momento fletor resistente nominal e propor um modelo de clculo

    para a sua obteno;

    - na regio de momento negativo:

    ! determinar o momento fletor resistente nominal da ligao mista e avaliar os

    principais fatores que influenciam seu comportamento;

    ! propor um modelo mecnico para a ligao mista;

    ! determinar as capacidades de rotao necessria e disponvel da ligao mista;

    ! determinar a rigidez inicial da ligao mista.

    F F

    Alma

    MesaF F

    M P

    (a) (b) (c)

    PP

    Mesa Mesa

    Alma Alma Senoidal

    $% $&

    # # #''

  • INTRODUO 15

    1.7 Metodologia

    Para estudar o comportamento das vigas mistas com perfil de alma senoidal na regio de

    momento fletor positivo foram utilizados resultados de ensaios realizados por MOTAK &

    MACHACEK (2004) na Universidade Tcnica Tcheca em Praga. Os resultados desses ensaios

    foram reproduzidos por meio de modelos numricos via MEF, na concepo dos quais

    procurou-se dar uma ateno especial ao perfil de alma senoidal, que o novo elemento

    estrutural utilizado. O comportamento estrutural das lajes mistas, dos conectores de

    cisalhamento e das barras de armadura j amplamente conhecido pela comunidade cientfica

    e por esse motivo optou-se por simplificar o seu modelamento sem comprometer a qualidade

    dos resultados obtidos, conforme ser visto nos captulos posteriores. Uma vez calibrados os

    modelos numricos com os resultados dos ensaios, fizeram-se estudos paramtricos utilizando

    os perfis de alma senoidal fabricados atualmente no Brasil. Finalmente, de posse dos

    resultados das anlises paramtricas, determinaram-se procedimentos de clculo para a

    obteno do momento fletor resistente de vigas mistas com perfil de alma senoidal.

    Para estudar o comportamento das ligaes mistas foram realizados trs ensaios no

    Laboratrio de Anlise Experimental de Estruturas (LAEES) da Escola de Engenharia da

    Universidade Federal de Minas Gerais. Com os resultados desses ensaios, calibrou-se um

    modelo numrico via MEF e, por meio de um estudo paramtrico, determinaram-se

    procedimentos de clculo para a obteno do momento fletor resistente de ligaes mistas

    com perfil de alma senoidal e de suas propriedades fundamentais. Pelo fato de a alma senoidal

    no colaborar para a capacidade resistente ao momento fletor da viga mista e devido a seu

    comportamento estrutural observado nos ensaios, determinaram-se tambm as capacidades de

    rotao disponvel e necessria das ligaes mistas.

    Devido falta de trabalhos publicados relacionados a esses assuntos, tomaram-se como ponto

    de partida os procedimentos de clculo apresentados na norma brasileira ABNT NBR 8800:

    2008 para perfis de alma plana.

  • INTRODUO 16

    1.8 Contexto do trabalho e justificativa

    A norma brasileira ABNT NBR 8800: 2008 no aborda perfis de alma corrugada. Mesmo as

    normas internacionais no prevem procedimentos para clculo e projeto de estruturas com

    perfil de alma corrugada, em especial a de geometria senoidal, que tratem de todos os

    fenmenos envolvidos em seu comportamento estrutural. necessrio, portanto, desenvolver

    recomendaes para clculo e projeto que possam representar de maneira adequada o

    comportamento de perfis de alma senoidal sob os diversos modos de falha.

    O Departamento de Engenharia de Estruturas da Universidade Federal de Minas Gerais,

    juntamente com a empresa Codeme Engenharia S.A., vem realizando uma srie de pesquisas

    relacionadas ao assunto, que esto resultando em artigos, dissertaes de mestrado e teses de

    doutorado. Essas pesquisas abrangem desde o comportamento do perfil de ao isolado at o

    comportamento de elementos mistos de ao e concreto para construes prediais.

    Apresentam-se, a seguir, os temas que foram ou que esto sendo tratados at o presente

    momento:

    - flambagem local de mesa de perfis I com alma senoidal via anlise no-linear pelo

    mtodo dos elementos finitos [SOUZA (2006)];

    - flambagem lateral com toro de vigas de ao de alma senoidal [HACKBART JUNIOR

    (2006)];

    - proposio de mtodos de clculo e anlise da confiabilidade estrutural de perfis de

    alma senoidal [PIMENTA (2008)];

    - determinao da rigidez rotacional de vigas mistas de alma senoidal no estado-limite

    de flambagem lateral com distoro [CALENZANI (2008)];

    - anlise numrico-experimental de flambagem lateral com toro e de ligaes em

    vigas com perfis de alma corrugada senoidal [GONZAGA (2008)];

    - anlise numrico-experimental da flambagem local de mesas de perfis com alma

    senoidal [PINTO (2008)].

    Vigas e lajes mistas de ao e concreto so consideradas o sistema estrutural mais eficiente

    para suportar as aes gravitacionais das edificaes, devido principalmente facilidade de

    construo e reduo de peso, que pode chegar, em sistemas bem dimensionados, a 40%. As

    vigas mistas com perfil de alma senoidal podem trazer redues ainda mais significativas no

  • INTRODUO 17

    consumo de ao da estrutura, o que tornaria as construes prediais em ao mais competitivas

    em relao s construes prediais em concreto pr-moldado ou moldado in loco.

    Neste trabalho, a regio de momento fletor positivo ser estudada a partir de vigas mistas

    biapoiadas e, na regio de momento fletor negativo, ser estudado o comportamento da

    ligao mista, uma vez que outros modos de colapso existentes nessa regio, como a

    flambagem lateral com distoro e a flambagem local da mesa, foram tratados em outros

    trabalhos.

    Conforme ser visto nos captulos posteriores, o comportamento das vigas mistas de ao e

    concreto com perfil de alma senoidal foi pouco estudado, o que confere ao presente trabalho

    uma grande relevncia e principalmente inovao, no que tange ao estudo do comportamento

    da ligao mista com perfil de alma senoidal.

    1.9 Escopo deste trabalho

    Este trabalho composto de oito captulos e quatro anexos. No Captulo 2 apresentado o

    estado da arte, em que se apresentam as publicaes realizadas at o presente momento

    relacionadas ao assunto em questo e, no anexo D, o e-mail com as informaes do prof. Josef

    Machacek referentes curva fora versus deslizamento do conector Stripcon, obtida por meio

    de ensaios push test.

    No Captulo 3 apresentada a anlise experimental da ligao mista com perfil de alma

    senoidal, onde so descritos os modelos ensaiados, os procedimentos utilizados durante a

    realizao dos ensaios e os resultados obtidos. Encontram-se no anexo A os laudos tcnicos

    dos ensaios mecnicos dos corpos de prova retirados dos prottipos e, no anexo B, o

    procedimento utilizado para a obteno da curva momento versus rotao da ligao mista.

    No Captulo 4 apresentada a anlise numrica via mtodo dos elementos finitos, procurando

    reproduzir o comportamento dos prottipos de ligao mista e dos prottipos de vigas mistas

    biapoiadas ensaiados. So descritos os tipos de elementos utilizados no modelo de elementos

    finitos, as condies de contorno utilizadas, a lei constitutiva dos materiais, os recursos

  • INTRODUO 18

    utilizados no processamento da anlise no-linear e os resultados da anlise numrica so

    comparados com os resultados da anlise experimental.

    Uma vez calibrado o modelo numrico com os resultados dos ensaios, apresentado no

    Captulo 5 um estudo paramtrico das vigas mistas biapoiadas e da ligao mista com perfil

    de alma senoidal procurando abranger as situaes em que esses materiais sero mais

    utilizados na prtica.

    Com os resultados do estudo paramtrico, so propostos no Captulo 6 mtodos de clculo e

    projeto de vigas mistas biapoiadas e ligao mista com perfil de alma senoidal. Tm-se, no

    anexo C, o momento de inrcia e o momento fletor resistente de vrias configuraes de vigas

    mistas com perfil de alma senoidal que foram utilizados para a determinao de parmetros

    empregados no clculo da capacidade de rotao necessria da ligao mista.

    No Captulo 7 so apresentadas as concluses e sugestes para trabalhos futuros e, finalmente,

    no Captulo 8 so indicadas as referncias bibliogrficas utilizadas no decorrer deste trabalho.

  • ESTADO DA ARTE 19

    22ESTADO DA ARTE

    2.1 Consideraes iniciais

    Para utilizao de perfis de ao de alma senoidal em construes prediais necessrio

    conhecer o seu comportamento estrutural antes e depois do endurecimento do concreto da

    laje. Como esses perfis vm sendo empregados na construo de galpes, as pesquisas

    realizadas at o momento tratam principalmente do comportamento do perfil de ao isolado,

    especialmente da determinao da capacidade resistente da alma ao cisalhamento, flambagem

    lateral com toro, efeito de cargas concentradas, flambagem local da mesa e fadiga. J o

    comportamento da estrutura mista foi pouco estudado, sendo encontrados somente dois

    artigos sobre vigas mistas biapoiadas e uma tese de doutorado sobre a flambagem lateral com

    distoro, acompanhada de algumas publicaes relacionadas mesma.

    Uma vez que a flambagem local da mesa comprimida e a flambagem lateral com distoro

    foram tratados em outros trabalhos, estudar-se- a ligao mista com perfil de alma senoidal

    na regio de momento fletor negativo. Como no foram encontradas referncias sobre esse

    assunto, apresentar-se- neste captulo um resumo sobre o comportamento das ligaes mistas

    com perfis de alma plana, abordando os principais conceitos que sero utilizados ao longo

    deste trabalho. Sero apresentados tambm os recentes estudos sobre o comportamento da

    ligao metlica com chapa de topo em perfis de alma senoidal e os ndices de confiabilidade

  • ESTADO DA ARTE 20

    estrutural do estado-limite ltimo de plastificao da viga mista. Comentar-se-o tambm os

    estudos j realizados e em curso do estado-limite ltimo de flambagem local da mesa

    comprimida e flambagem lateral com distoro, que so possveis modos de colapso de vigas

    contnuas e semicontnuas na regio de momento fletor negativo.

    2.2 Vigas mistas biapoiadas com perfil de alma senoidal

    MOTAK & MACHACEK (2004) realizaram dois ensaios em escala real de vigas mistas

    biapoiadas com perfil de alma senoidal fabricados pela empresa Zeman+Co GmbH (Wien),

    empresa fabricante da mquina para fabricao de perfis de alma senoidal para a Codeme

    Engenharia S.A. no Brasil. Foi utilizado o perfil 520x200x10,0x3,0 para o prottipo 1 e

    520x200x10,0x2,5 para o prottipo 2. A laje de concreto com frma de ao incorporada

    possua uma largura de 1500 mm e uma altura total de 120 mm, sendo a altura da frma de

    ao igual a 60 mm (Vikam TR60/235-0,75). A TAB.2.1 apresenta os valores mdios das

    propriedades mecnicas dos materiais utilizados e as FIG. 2.1 e FIG.2.2 apresentam um

    esquema e uma vista dos prottipos ensaiados, respectivamente.

    TABELA 2.1 Propriedades mecnicas dos materiais [MOTAK & MACHACEK (2004)]

    Concreto Perfil Metlico

    fc,cube Ec fy,f / fy,w Eaf / Ea,w

    [MPa] [GPa] [MPa] [GPa]

    Prottipo 1 25,6 31,2 296,2 / 314,5 210 / 208,3

    Prottipo 2 25,4 23,0 296,2 / 314,5 210 / 208,3

    FIGURA 2.1 Esquema dos prottipos ensaiados [MOTAK & MACHACEK (2004)]

    apoio mvel

    enrijecedor

    Laje mista

  • ESTADO DA ARTE 21

    FIGURA 2.2 Vista de um ensaio [MOTAK & MACHACEK (2004)]

    Para a transmisso de esforo entre a laje mista e o perfil metlico foram utilizados conectores

    chamados de Stripcon ou Ribcon fabricados pela HILTI CORPORATION (FIG.2.3), adequados

    para vigas secundrias onde a frma de ao est posicionada perpendicularmente ao eixo

    longitudinal destas. O conector constitudo por uma tira de chapa conformada a frio, cuja

    resistncia ao escoamento pode variar entre 300 e 400 MPa, com largura de 80 mm e forma

    trapezoidal possuindo um comprimento de onda equivalente frma de ao da laje, porm

    com uma altura maior. Aberturas so feitas na chapa para permitir que o concreto da laje a

    atravesse, aumentando com isso a transmisso de esforos entre os materiais. Quatro

    fixadores, com resistncia nominal ao cisalhamento de 18,4 kN, so posicionados nas ondas

    baixas do conector para proporcionar a sua ligao com o perfil metlico. A determinao da

    interao completa ou parcial da viga mista se d por meio do nmero de fixadores utilizados.

    O prottipo 1 foi dimensionado para interao completa (117%) enquanto o prottipo 2 para

    interao parcial de 44%.

    FIGURA 2.3 Conector Stripcon ou Ribcon [MOTAK & MACHACEK (2004)]

  • ESTADO DA ARTE 22

    A TAB.2.2 apresenta uma comparao entre os resultados obtidos por meio dos ensaios e os

    resultados tericos calculados da seguinte maneira: utilizaram-se os procedimentos

    estabelecidos pelo EN 1994-1-1: 2004 para o clculo do momento fletor resistente da viga

    mista, desprezando-se porm a contribuio da alma senoidal; para o clculo da fora cortante

    resistente nominal utilizou-se a seguinte equao desenvolvida por PASTERNAK & BRANKA

    (1998), vlida para essa geometria de corrugao:

    w

    yw

    Rk htf

    kV3

    !" (2.1)

    onde k! o coeficiente de flambagem, considerado para essas vigas igual a 1,0, fyw a

    resistncia ao escoamento do ao da alma e h e tw so a altura e a espessura da alma,

    respectivamente.

    Para a determinao da flecha mxima da viga, utilizou-se anlise elstica considerando a

    deformao por cisalhamento, importante em decorrncia do comportamento da alma

    senoidal. O mdulo de elasticidade transversal do ao da alma foi determinado conforme

    JOHNSON & CAFFOLA (1997):

    s

    wGGeq " (2.2)

    onde G o mdulo de elasticidade transversal do ao, w o comprimento em projeo da

    onda senoidal, igual a 155 mm, e s o desenvolvimento de um comprimento de onda, igual a

    179,6 mm.

    TABELA 2.2 Resultados tericos e experimentais dos ensaios [MOTAK &

    MACHACEK (2004)]

    TERICO ENSAIO

    Fpl,R FR Fel,R #R Fel #$ Fmax #max N / Nf

    (grau de

    interao) [kN] [kN] [kN] [mm] [kN] [mm] [kN] [mm]

    Prottipo1 1,17 189,6 --- 158,6 20,2 139,5 18,5 190,3 173,5

    Prottipo2 0,44 --- 160,9 157,2 26,6 149,8 36-41,8 154,0 100,3

    Fpl,R a fora necessria para atingir o momento fletor plstico resistente da seo, FR a fora necessria

    para atingir a fora cortante resistente da ligao entre a laje e o perfil metlico, Fel,R e Fel so as foras

    terica e experimental, respectivamente, necessrias para se atingir a resistncia ao escoamento da fibra

    inferior da viga metlica, Fmax a fora mxima aplicada no ensaio, #max o deslocamento mximo obtido

    no ensaio, #R e # so os deslocamentos terico e experimental, respectivamente, no meio do vo da viga

    mista no momento do escoamento da fibra inferior do perfil.

  • ESTADO DA ARTE 23

    O ensaio do prottipo 1 foi interrompido aps se atingir o momento fletor resistente nominal

    da viga mista, enquanto o ensaio do prottipo 2 foi interrompido por causa do deslocamento

    vertical excessivo da viga devida ligao parcial entre a laje e o perfil metlico atingir

    valores muito prximos da capacidade resistente ao cisalhamento. Em nenhum dos prottipos

    ocorreu a flambagem da alma por fora cortante, pois a fora cortante resistente nominal

    bem superior fora cortante total decorrente dos ensaios. As FIG. 2.4 e FIG.2.5 apresentam

    os grficos correspondentes relao entre a fora total aplicada e a flecha no meio da vo e o

    deslizamento entre a laje e o perfil metlico, para os prottipos 1 e 2 respectivamente.

    FIGURA 2.4 Relao entre a fora aplicada e a flecha no meio do vo (esquerda) e o

    deslizamento entre a laje e o perfil (direita) para o prottipo 1

    [MOTAK & MACHACEK (2004)]

    FIGURA 2.5 Relao entre a fora aplicada e a flecha no meio do vo (esquerda) e o

    deslizamento entre a laje e o perfil (direita) para o prottipo 2

    [MOTAK & MACHACEK (2004)]

    PROTTIPO 1

    [deslocamento no meio do vo (mm)] [deslizamento (mm)]

    PROTTIPO 2

    [deslocamento no meio do vo (mm)] [deslizamento (mm)]

  • ESTADO DA ARTE 24

    MOTAK & MACHACEK (2004) constataram que:

    % o prottipo 1 apresentou uma boa correlao entre a fora terica de colapso e a fora

    aplicada. Entretanto, a fora correspondente ao incio do escoamento (139,5 kN) foi

    inferior fora terica (158,6 kN); aps esse valor observou-se um comportamento

    no-linear da viga mista;

    % o prottipo 2 atingiu cerca de 95% da fora de colapso prevista e, como era esperado,

    a fora cortante solicitante nos conectores foi a responsvel pelo colapso da viga;

    % ao se aproximar da fora cortante resistente dos conectores do prottipo 2, ocorreu um

    grande deslizamento entre a laje e o perfil (com a ruptura de um dos conectores de

    cisalhamento) acompanhado de um grande deslocamento vertical da viga;

    % os grandes deslocamentos obtidos nos ensaios se devem grande flexibilidade dos

    conectores Stripcon.

    MACHACEK & MOTAK (2006) realizaram um terceiro ensaio com o objetivo de observar a

    interao entre a flambagem local da alma do perfil e a interao parcial de 66% da viga

    mista. Para se atingir esse objetivo, o vo da viga mista e a largura da laje foram reduzidos

    para 4500 mm e 1200 mm, respectivamente, sendo que o perfil metlico adotado foi o mesmo

    do prottipo 2 (520x200x10x2,5). A TAB.2.3 apresenta as propriedades mecnicas dos

    materiais utilizados.

    TABELA 2.3 Propriedades mecnicas dos materiais [MACHACEK & MOTAK (2006)]

    Concreto Perfil Metlico

    fc,cube(1)

    Ec fy,f / fy,w Eaf / Ea,w

    [MPa] [GPa] [MPa] [GPa]

    Prottipo 3 24,6 28,0 296,2 / 310,3 210 / 208,3 (1) valor obtido por meio do ensaio do corpo de prova cbico do concreto

    O ensaio do prottipo 3 foi encerrado devido flambagem da alma senoidal e a flecha

    excessiva da viga no meio do vo, com uma fora total aplicada de 495,7 kN. O deslocamento

    vertical do prottipo mais uma vez segue o comportamento elstico at 89% da mxima fora

    terica calculada, atingindo o triplo do deslocamento calculado no final do ensaio. A TAB.2.4

    apresenta uma comparao entre os resultados obtidos por meio dos ensaios e os resultados

    tericos, enquanto as FIG.2.6 e FIG.2.7 apresentam os grficos da relao entre a fora

  • ESTADO DA ARTE 25

    aplicada e a flecha no meio do vo e a relao entre a fora aplicada e o deslizamento entre a

    laje de concreto e o perfil metlico, respectivamente. MACHACEK & MOTAK (2006) fizeram

    ainda uma anlise numrica via MEF dos trs ensaios realizados, tendo encontrado uma boa

    correlao entre os resultados experimentais e numricos. Porm devido s simplificaes

    adotados em seu modelo numrico no conseguiram captar a flambagem local da alma

    senoidal por fora cortante ocorrida no ensaio do prottipo 3.

    TABELA 2.4 Comparao entre os resultados tericos e experimentais [MACHACEK &

    MOTAK (2006)]

    TERICO ENSAIO

    Fpl,R FR Fel,R #R Fel #$ Fmax #max N / Nf

    (grau de

    interao) [kN] [kN] [kN] [mm] [kN] [mm] [kN] [mm]

    Prottipo3 0,66 --- 456,8 473,4 12,3 419,7 12,1 495,7 109,0

    FIGURA 2.6 Relao entre a fora aplicada e o deslocamento no meio do vo da viga do

    prottipo 3 [MACHACEK & MOTAK (2006)]

    FIGURA 2.7 Relao entre a fora aplicada e o deslizamento entre a laje de concreto e o

    perfil metlico [MACHACEK & MOTAK (2006)]

    FOR

    A

    [kN

    ]

    [DESLOCAMENTO NO MEIO DO VO (mm)]

    ensaio

    teoria

    MEF

    FO

    R

    A [

    kN]

    [DESLIZAMENTO (mm)]

  • ESTADO DA ARTE 26

    2.3 Aspectos gerais das ligaes mistas com perfil de alma plana

    De acordo com a norma brasileira ABNT NBR 8800: 2008, uma ligao denominada mista

    quando a laje de concreto participa da transmisso de momento fletor de uma viga mista para

    um pilar ou para outra viga mista no vo adjacente. As ligaes mistas so usadas em vigas

    mistas contnuas e semicontnuas. Nas vigas mistas contnuas, a ligao deve assegurar

    continuidade total do componente metlico e da laje de concreto nos apoios. Nas vigas mistas

    semicontnuas, a ligao mista obtida a partir de uma ligao metlica flexvel ou semi-

    rgida, aumentando substancialmente sua rigidez e sua capacidade resistente a momento

    fletor.

    A utilizao das vigas semicontnuas apresenta algumas vantagens em relao s vigas

    biapoiadas, como a reduo da altura e do peso das vigas, a diminuio das flechas das vigas e

    de problemas de vibrao. Esses fatores melhoram a competitividade da estrutura de ao em

    relao a outros materiais, como o concreto armado, alm de causar menores interferncias

    com projetos de ar condicionado, tubulaes hidrulicas, etc.

    As ligaes mistas de vigas mistas semicontnuas podem participar ou no do sistema de

    estabilidade lateral da edificao [MATA (2003)], porm o presente trabalho tratar apenas dos

    sistemas indeslocveis onde no h transmisso de momento fletor para o pilar (momentos

    auto-equilibrados em duas vigas adjacentes ao suporte), que representa a situao mais

    comum na prtica.

    A ligao mista, de maneira geral, uma ligao de resistncia parcial, pois apesar de ter uma

    grande rigidez inicial, no tem a mesma resistncia flexo da viga mista suportada por ela.

    Segundo QUEIROZ [QUEIROZ et al. (2001)], a resistncia da ligao mista da ordem de 30 a

    50% da resistncia da viga mista na regio de momento positivo e de 60 a 90% da resistncia

    da viga mista a momento negativo. A ligao mista deve, portanto, ter capacidade de rotao

    suficiente para no sofrer colapso antes que a viga atinja um estado-limite ltimo, que pode

    ser a formao de rtulas plsticas nas ligaes mistas e o desenvolvimento de momento

    prximo ao de plastificao total no vo da viga mista.

  • ESTADO DA ARTE 27

    De acordo com a ABNT NBR 8800: 2008, as vigas mistas de ao e concreto de alma cheia

    contnuas e semicontnuas devem possuir ligao mista e ter, no caso de anlise rgido-

    plstica, a relao entre duas vezes a altura da parte comprimida da alma menos duas vezes o

    raio de concordncia entre a mesa e a alma nos perfis laminados e a espessura desse elemento

    inferior ou igual a yf

    E76,3 , com a posio da linha neutra plstica determinada para a seo

    mista sujeita a momento negativo, e relao entre a metade da largura da mesa inferior e a

    espessura desse elemento inferior ou igual a yf

    E38,0 , onde E o mdulo de elasticidade e fy

    a resistncia ao escoamento do ao.

    As FIG.2.8 a FIG.2.10 apresentam alguns tipos de ligaes mistas utilizadas usualmente nas

    construes prediais. A ligao mista com a cantoneira na alma da viga (FIG.2.8) muito

    utilizada nos Estados Unidos e no Brasil, enquanto a ligao com chapa de topo (FIG.2.10)

    mais utilizada nos pases europeus.

    FIGURA 2.8 Ligaes mistas com cantoneiras parafusadas na alma e na mesa inferior da

    viga [MATA (2003)]

  • ESTADO DA ARTE 28

    FIGURA 2.9 Ligaes mistas com cantoneira de assento parafusada na mesa inferior da

    viga [MATA (2003)]

    FIGURA 2.10 Ligaes mistas com chapa de topo (flush endplate) [MATA (2003)]

    A utilizao de cantoneiras laminadas na alma da viga torna-se, por questes construtivas,

    invivel para o perfil de alma senoidal, restringindo-se estas vigas portanto aos tipos de

    ligao indicados nas FIG.2.9 e FIG 2.10. A utilizao da chapa de topo na extremidade da

    viga interessante, uma vez que a resistncia da ligao metlica pode ser levada em

    considerao tambm na fase de construo, antes do endurecimento do concreto.

  • ESTADO DA ARTE 29

    As caractersticas da relao momento-rotao de uma ligao mista podem ser determinadas

    pelo mtodo dos componentes, adotado pelo EN 1993-1-8: 2005, que consiste em dividir a

    ligao em seus componentes bsicos (armaduras, conectores de cisalhamento e ligao

    metlica) e atribuir-lhes uma mola translacional ou rotacional conforme sua resposta

    solicitao (trao, compresso, flexo e cisalhamento). As propriedades estruturais de cada

    um dos componentes (como a resistncia ltima, a rigidez inicial e a capacidade de

    deformao) so determinadas por meio de curvas fora-deslocamento derivadas de modelos

    mecnicos de diferentes nveis de sofisticao, validados por resultados de ensaios e

    simulaes numricas. As propriedades dos componentes so combinadas para a

    determinao das caractersticas da ligao como um todo, por meio de associao em srie

    ou paralelo, das molas representativas de cada componente ou grupo de componentes,

    levando-se em conta o equilbrio e a compatibilidade de deslocamentos.

    2.4 Comportamento dos componentes bsicos das ligaes mistas

    Conforme comentado anteriormente, a ligao mista pode ser dividida em seus componentes

    bsicos, que so: as barras de armadura tracionada, os conectores de cisalhamento e a ligao

    metlica. Neste trabalho, ser considerada apenas a ligao metlica com chapa de topo, uma

    vez que essa ligao tem uma srie de vantagens sobre a ligao com cantoneira de assento,

    como resistncia flexo, uma maior resistncia fora cortante e uma maior estabilidade

    durante a montagem da estrutura. No caso da armadura, apenas as barras situadas na largura

    efetiva da laje de concreto na regio de momento negativo participam da ligao mista.

    2.4.1 Largura efetiva da laje na regio de momento fletor negativo

    Conforme a ABNT NBR 8800: 2008, a largura efetiva da mesa de concreto pode ser adotada,

    simplificadamente, igual a da soma dos vos adjacentes das vigas que participam da

    ligao. Alm de respeitar a largura efetiva, quando o suporte for um pilar, as barras de

    armadura longitudinal devem estar situadas de cada lado da linha de centro de pilar a uma

    distncia mxima de 2,5bc dessa linha, sendo bc a largura do pilar na direo transversal s

    vigas. Adicionalmente, deve-se prever uma armadura transversal ao eixo das vigas, situada de

    cada lado do pilar, tambm a uma distncia mxima de 2,5bc, com rea mnima de 50% da

    rea da armadura longitudinal.

  • ESTADO DA ARTE 30

    2.4.2 Barras de armadura tracionadas

    A ABNT NBR 8800: 2008 estabelece que o dimetro mnimo para as barras de armadura que

    compem a ligao mista 12,5 mm, enquanto COUCHMAN & WAY (1998) estabelecem um

    dimetro mnimo de 16,0 mm. A utilizao desses dimetros tem objetivo de assegurar a

    ductilidade da armadura, que favorece o comportamento da ligao mista.

    2.4.2.1 Rigidez inicial

    A rigidez inicial das barras de armadura, conforme ABNT NBR 8800: 2008, dada por:

    2a

    sss h

    EAk !"

    (2.3)

    onde As! e a rea da seo transversal da armadura longitudinal dentro da largura efetiva da

    mesa de concreto, ha a largura do elemento de apoio, paralelamente armadura, e Es o

    mdulo de elasticidade do ao da armadura.

    2.4.2.2 Fora de trao resistente nominal

    A fora de trao resistente nominal das barras de armadura, conforme a ABNT

    NBR 8800: 2008, dada por:

    !syssRk AfF " (2.4)

    onde fys a resistncia ao escoamento do ao da armadura.

    2.4.2.3 Capacidade de deformao

    Ao se avaliar a capacidade de deformao das barras de armadura, deve-se considerar a

    influncia do concreto que as envolve, pois conforme se v na FIG. 2.11 h uma alterao no

    comportamento da barra tracionada, caracterizado por um aumento da sua rigidez. Essa

    alterao do comportamento da barra de armadura envolvida pelo concreto conhecida como

    tension stiffening.

  • ESTADO DA ARTE 31

    FIGURA 2.11 Diagrama do comportamento idealizado da armadura tracionada envolvida

    pelo concreto [MATA (2003)]

    Ao se submeter uma barra a uma fora de trao, mobiliza-se por aderncia o concreto que a

    envolve; como a tenso no concreto ainda inferior sua resistncia trao, tem-se o

    comportamento de uma seo no-fissurada onde as deformaes e as tenses podem ser

    calculadas pela teoria elstica linear (trecho A da FIG. 2.11). Atingindo-se a resistncia

    trao do concreto, tem-se o surgimento das primeiras fissuras, o que conduz a uma

    deformao &'sr na barra sob tenso constante (trecho B da FIG. 2.11). O valor de &'sr

    influenciado pela disperso da resistncia trao do concreto, pela taxa de armadura e pelo

    comportamento de aderncia entre a armadura e o concreto. Na seo da fissura, ocorre a

    perda de aderncia entre os materiais e, com isso, tm-se diferentes deformaes entre a barra

    de armadura e o concreto; essa diferena vai diminuindo ao longo do comprimento de

    introduo (Lt) com a retomada da aderncia entre os materiais, conforme se v na FIG.2.12.

    Com o trmino do surgimento das fissuras, inicia-se um novo estgio (trecho C da FIG. 2.11)

    com o aumento na abertura das fissuras e o crescimento da tenso na barra em regime

    elstico, onde a curva (-' da barra envolvida pelo concreto paralela curva da barra isolada.

    Novas fissuras podem ocorrer somente se a capacidade de aderncia for suficiente para

    introduzir foras no concreto que alcancem a resistncia trao do concreto entre as fissuras.

    A partir do escoamento do ao da barra (trecho D da FIG. 2.11), o comportamento do

  • ESTADO DA ARTE 32

    conjunto barra-concreto influenciado pelo alongamento da barra de armadura, pela razo

    entre a resistncia trao do concreto e a resistncia ao escoamento da barra e pela falta de

    aderncia entre os materiais na seo das fissuras. Apesar da perda de aderncia, a

    contribuio do concreto representativa porque a rigidez da barra de armadura

    praticamente nula.

    FIGURA 2.12 Distribuio da deformao na armadura e no concreto fissurado

    [ BODE et al. (1997)]

    A capacidade de deformao das barras de armadura, que devem ser de ao CA 50, conforme

    a ABNT NBR 8800: 2008, dada por:

    smuus L'"& (2.5)

    onde L o comprimento de referncia para levar em conta o efeito do concreto que envolve a

    armadura, podendo ser tomado igual a 200 mm, sendo que as distncias do primeiro conector

    at face e at ao centro do elemento de apoio no podem ser inferiores a 100 mm e 200 mm,

    respectivamente, e 'smu a deformao da armadura envolvida pelo concreto, correspondente

    ao limite de resistncia, igual a:

    ) *sysuys

    srosrtsysmu

    f''

    (#'+'' ,-

    -.

    /001

    2,3&," !1 (2.6)

    Nessa ltima expresso:

    'sy e 'su so as deformaes correspondentes resistncia ao escoamento e resistncia

    ruptura da armadura isolada, respectivamente;

    +t = 0,4 para cargas de curta durao; este coeficiente considera o aparecimento e o aumento

    da abertura das fissuras, reduzindo o efeito do tension stiffening;

    #o = 0,8 para barras de alta dutilidade;

  • ESTADO DA ARTE 33

    ss

    cctmsr

    E

    kf

    #' "& (2.7)

    --.

    /001

    23"

    c

    ss

    s

    cctmsr

    E

    Ekf ##

    ( 1! (2.8)

    fctm a resistncia mdia do concreto trao, dada por:

    45

    678

    9-.

    /01

    23"

    24007,03,03,0 3 2 cckctm ff

    :(2.9)

    :c a massa especfica do concreto, em quilograma por metro cbico, no devendo ser tomada

    maior que 2400 kg/m3;

    Ec o mdulo de elasticidade secante do concreto;

    #s a taxa de armadura, igual a relao As!/Ac;

    Ac a rea da mesa de concreto, descontando-se a rea da armadura longitudinal;

    kc um coeficiente que leva em conta o equilbrio e a distribuio das tenses na laje de

    concreto imediatamente antes da ocorrncia das fissuras. Esse coeficiente pode, de forma

    conservadora, ser tomado como 1,0 ou ser obtido de forma mais precisa usando-se a seguinte

    expresso:

    0,13,0

    21

    1;3

    3"

    o

    c

    c

    y

    tk

    (2.10)

    tc a altura da laje de concreto (no caso de laje com frma de ao incorporada, considerar a

    altura acima do topo da frma e, no caso de laje com pr-laje de concreto pr-moldada, a

    altura acima da pr-laje);

    yo a distncia entre os centros geomtricos da laje de concreto e da seo mista

    homogeneizada na regio de momento negativo, porm considerando o concreto no-

    fissurado, sem armadura, e sem levar em conta os efeitos de longa durao, conforme se v na

    FIG.2.14.

    (a) Viga mista com frma de ao incorporada laje (b) Viga mista com laje macia

    FIGURA 2.14 Definio dos termos para clculo de kc [MATA (2003)]

  • ESTADO DA ARTE 34

    2.4.3 Conectores de cisalhamento

    2.4.3.1 Rigidez inicial

    A rigidez inicial proporcionada pelos conectores de cisalhamento na regio de momento

    negativo, conforme a ABNT NBR 8800: 2008, dada por:

    > (2.14)

    onde d a altura do perfil metlico, y a distncia entre a barra de armadura e o perfil

    metlico, Ea o mdulo de elasticidade do ao, Ll o comprimento da viga adjacente ao n,

    na regio de momento negativo, podendo ser tomado com 15% do comprimento do vo; ds a

    distncia do centro geomtrico do perfil metlico ao centro geomtrico da armadura e Ia o

    momento de inrcia da seo transversal do perfil de ao.

    2.4.3.2 Fora resistente nominal

    Conforme a ABNT NBR 8800: 2008, a fora resistente nominal dos conectores de cisalhamento

    na regio de momento fletor negativo deve ser igual ou superior da armadura, logo:

    ) *? "@" yssBskRkcRk fAFQF ! (2.15)

    onde !QRk o somatrio das foras resistentes nominais de todos os conectores.

  • ESTADO DA ARTE 35

    2.4.3.3 Capacidade de deformao

    A FIG.2.15 apresenta a curva momento versus rotao para uma ligao mista, considerando-

    se um comportamento trilinear dos conectores representados pelos segmentos de reta OA, AB

    e BD.

    FIGURA 2.15 Curva aproximada dos conectores de cisalhamento para uma ligao mista

    [MATA (2003)]

    Na FIG. 2.15, o ponto A corresponde ao incio do escoamento do conector de cisalhamento

    mais solicitado, sendo que o trecho elstico da origem at este ponto considerado vlido at

    um valor mximo da fora no conector mais solicitado, igual a 0,7QRk. Assim o

    escorregamento no ponto A entre a extremidade da laje e a extremidade da viga dado por:

    ) *

    r

    RkA

    k

    Qs

    7,0" (2.16)

    Logo, a capacidade de deformao dos conectores de cisalhamento na regio de momento

    fletor negativo, devido ao seu comportamento elastoplstico entre os pontos A e B da

    FIG.2.15 pode ser considerado igual a:

    )(

    )()()( 2

    A

    s

    B

    sAB

    F

    Fss " (2.17)

    )()( Acs

    A

    s skF " (2.18)

    yss

    B

    s fAF !")( (2.19)

  • ESTADO DA ARTE 36

    2.4.4 Chapa de topo

    2.4.4.1 Rigidez inicial da ligao da mesa inferior

    Segundo a ABNT NBR 8800: 2008, a rigidez inicial da ligao da mesa inferior com solda de

    penetrao total, ou com filete duplo de resistncia de clculo pelo menos 20% superior da

    mesa ao escoamento, infinita:

    A"ik (2.20)

    Logo, considera-se que a capacidade de deformao da ligao nessa regio nula:

    0"&ui (2.21)

    Caso a ligao seja feita com a mesa de um pilar metlico, a ABNT NBR8800: 2008 considera

    que h um par de enrijecedores na alma do pilar prxima mesa comprimida da viga, para

    que a rigidez da ligao da mesa inferior possa ser considerada como infinitamente rgida.

    2.4.4.2 Rigidez rotacional para as ligaes com perfis de alma plana

    A ABNT NBR 8800: 2008 no apresenta procedimentos para a determinao da rigidez e da

    resistncia para ligaes com chapa de topo, portanto sero comentados a seguir os

    procedimentos estabelecidos pelo EN 1993-1-8: 2005.

    De acordo com o EN 1993-1-8: 2005, a rigidez rotacional de uma ligao com chapa de topo

    sujeita flexo dada por:

    ?"

    i

    aj

    k

    zES

    1

    2

    B (2.22)

    onde z a distncia entre os centros geomtricos da rea comprimida e do parafuso e B a

    taxa de rigidez que pode ser determinada da seguinte maneira:

    % se MSd " 2/3 MRd

    B = 1 (2.23a)

    % se 2/3 MRd < MSd " MRdC

    B --.

    /001

    2"

    Rd

    Sd

    M

    M5,1(2.23b)

  • ESTADO DA ARTE 37

    o coeficinte$C igual a 2,7 para a ligao de extremidade com chapa de topo parafusada e ki

    o coeficiente de rigidez dos componentes bsicos da ligao. Para a situao onde a chapa de

    topo encontra-se ligada alma de uma viga ou pilar (FIG. 2.3(b)), os componentes da ligao

    so a chapa de topo e os parafusos tracionados; para a situao onde a chapa de topo encontra-

    se ligada mesa de uma coluna devem ser considerados, alm dos componentes citados

    anteriormente, a mesa e a alma da coluna na regio tracionada da ligao.

    Maiores informaes sobre a determinao do coeficiente de rigidez dos componentes bsicos

    da ligao com chapa de topo para perfis de alma plana podem ser encontradas em EN 1993-

    1-8: 2005.

    2.4.4.3 Fora resistente nominal trao da linha de parafusos na ligao de chapa de

    topo com perfis de alma plana

    De acordo com o EN 1993-1-8: 2005 a fora resistente nominal trao de uma linha de

    parafusos a menor resistncia obtida entre trs modos possveis de falha da ligao:

    % modo 1 escoamento da chapa (FIG.2.16);

    % modo 2 ruptura do parafuso com escoamento da chapa (FIG.2.17);

    % modo 3 ruptura do parafuso (FIG.2.18).

    FIGURA 2.16 Modo 1: escoamento da chapa [COUCHMAN & WAY (1998)]

  • ESTADO DA ARTE 38

    FIGURA 2.17 Modo 2: ruptura do parafuso com escoamento da chapa

    [COUCHMAN & WAY (1998)]

    FIGURA 2.18 Modo 3: ruptura do parafuso [COUCHMAN & WAY (1998)]

    Quando a resistncia da linha de parafusos dada pelo modo 1 tem-se sempre um

    comportamento dctil da ligao, enquanto o modo 3 apresenta sempre um comportamento

    frgil; para o modo 2 a ductilidade da ligao deve ser comprovada por meio de ensaios. Caso

    se queira desconsiderar a influncia da ligao com chapa de topo no comportamento da

    ligao semi-rgida, necessrio que o modo 1 prevalea sobre os demais modos na

    determinao da resistncia da linha de parafusos; esta condio visa garantir a ductilidade da

    ligao. A fora de trao resistente nominal de uma linha de parafusos pode ser determinada

    por meio das seguintes equaes:

    % modo 1

    m

    MF

    Rkpl

    RkT

    ,1,,1,

    4" (2.24a)

    ?" ycheffRkpl ftM 21,,1, 25,0 ! (2.24b)

  • ESTADO DA ARTE 39

    % modo 2

    nm

    FnMF

    RktRkpl

    RkT 3

    3" ? ,,2,,2,

    2(2.25a)

    ?" ycheffRkpl ftM 22,,2, 25,0 ! (2.25b)% modo 3

    ?" RktRkT FF ,,3, (2.26)

    onde D!eff,1 e D!eff,2 so os somatrios dos comprimentos efetivos das linhas de escoamento da

    chapa para os modos 1 e 2, respectivamente, conforme item 6.2.6 do EN 1993-1-8: 2005, tch

    a espessura da chapa, fy a resistncia ao escoamento do ao da chapa, m e n so as distncias

    indicadas na FIG.2.17, sendo n ; 1,25m e DFt,Rk o somatrio da resistncia nominal trao

    dos parafusos de uma linha.

    importante salientar que no caso dos parafusos estarem sujeitos ao de fora cortante,

    deve-se avaliar uma possvel reduo da resistncia nominal trao dos mesmos.

    As Eqs.2.24 a 2.26 so apropriadas quando as deformaes na regio tracionada da ligao

    so suficientes para que ocorra a plastificao da chapa nas regies adjacentes aos parafusos.

    De acordo com COUCHMAN & WAY (1998), para que se atinjam nveis de deformao

    satisfatrios na linha de parafusos, esta deve estar posicionada no mnimo 200 mm acima da

    linha neutra plstica da ligao; as linhas de parafusos localizadas a uma distncia inferior a

    200 mm devem ter sua fora resistente minorada segundo uma distribuio triangular de

    esforos, conforme se v na FIG.2.19. O limite de 200 mm foi determinado por meio dos

    resultados de ensaios experimentais.

  • ESTADO DA ARTE 40

    FIGURA 2.19 Distribuio triangular de fora nos parafusos [COUCHMAN &

    WAY (1998)]

    2.4.4.4 Rigidez rotacional e fora resistente da linha de parafusos para as ligaes de

    chapa de topo com perfis de alma senoidal

    GONZAGA (2008) realizou dois ensaios no Laboratrio de Anlise Experimental de Estruturas

    (LAEES), da Escola de Engenharia da UFMG, com o objetivo de estudar o comportamento de

    ligaes com chapa de topo em perfis de alma senoidal. Os prottipos foram constitudos por

    duas vigas PSS 600x150x12,5x2,0 com uma chapa de topo CH 9,5x170x640 soldada em uma

    extremidade e parafusada a um perfil laminado W310x23,8 (305x101x6,7x5,6), conforme

    esquema apresentado nas FIG. 2.20 e FIG.2.21. Salienta-se que esses prottipos so similares

    aos que foram utilizados nos ensaios de ligao mista, diferenciando-se apenas pela existncia

    da laje mista, conectores de cisalhamento e barras de armadura. O ao utilizado nas mesas do

    perfil e na chapa de topo o CIVIL 350 e na alma senoidal o CIVIL 300, produzidos pela

    USIMINAS Usinas Siderrgicas de Minas Gerais, cujas propriedades mecnicas, obtidas dos

    ensaios de caracterizao, so apresentadas na TAB.2.5. Foram utilizados parafusos de alta

    resistncia ASTM A325 com dimetro nominal de . A FIG.2.22 apresenta uma viso do

    prottipo ensaiado.

    deslocamento representa o deslizamento na interface ao/concreto

    deformao necessria para produzir a mxima fora no parafuso

    linha neutra

  • ESTADO DA ARTE 41

    FIGURA 2.20 Esquema de montagem para os ensaios [GONZAGA (2008)]

    TABELA 2.5 Propriedades mecnicas dos materiais [GONZAGA (2008)]

    Elemento Resistncia mdia ao

    escoamento do ao (fy)Resistncia mdia ruptura do ao (fu)

    Chapa da alma 368 MPa 513 MPa

    Chapas das mesas 420 MPa 574 MPa

    Chapa de topo 413 MPa 560 MPa

  • ESTADO DA ARTE 42

    FIGURA 2.21 Detalhe da ligao com chapa de topo [GONZAGA (2008)]

    FIGURA 2.22 Viso do prottipo [GONZAGA (2008)]

    Durante a realizao dos ensaios, GONZAGA constatou a formao das charneiras plsticas na

    chapa de topo, por meio das linhas de LDER em torno dos parafusos mais prximos mesa

    tracionada, conforme se v na FIG.2.23. GONZAGA relata tambm deformaes na alma

  • ESTADO DA ARTE 43

    senoidal prximas chapa de topo, como se houvesse uma tentativa de planificao da chapa

    nessa regio (FIG.2.24). O fim do ensaio ocorreu com a estabilizao da fora aplicada no

    prottipo, porm constatou-se posteriormente com a anlise numrica que no se atingiu

    nenhum estado-limite ltimo para os elementos que compem a ligao.

    FIGURA 2.23 Formao das linhas de Lder na chapa de topo [GONZAGA (2008)].

    FIGURA 2.24 Deformao da alma prxima chapa de topo [GONZAGA (2008)].

    As FIG.2.25 e FIG.2.26 apresentam a relao entre o momento fletor resistente e a rotao da

    ligao metlica.

  • ESTADO DA ARTE 44

    FIGURA 2.25 Curva momento fletor resistente versus rotao da ligao metlica do

    prottipo 1 [GONZAGA (2008)]

    FIGURA 2.26 Curva momento fletor resistente versus rotao da ligao metlica do

    prottipo 2 [GONZAGA (2008)]

    Os resultados obtidos da anlise experimental foram utilizados por GONZAGA para calibrar um

    modelo nmerico via MEF a fim de se fazer um estudo paramtrico da ligao metlica com

    chapa de topo para perfis de alma senoidal. GONZAGA observou com o modelo numrico que

    a medida que a onda senoidal se planificava, se tornava mais efetiva para a formao das

    charneiras plsticas e com isso tinha-se um aumento da fora atuante na linha de parafusos.

    GONZAGA concluiu que somente a linha de parafusos mais prxima mesa tracionada

    responsvel pela resistncia da ligao.

  • ESTADO DA ARTE 45

    De posse dos resultados da anlise paramtrica, GONZAGA propos funes padro para a

    determinao do momento fletor resistente ltimo (Mu) e da rigidez de servio da ligao

    (M/E), conforme Eq.2.27 e Eq.2.32, respectivamente.

    hftbM vfychchu1'2 ," !

  • ESTADO DA ARTE 46

    parafusos na chapa de topo, enquanto a FIG.2.28 apresenta o deslocamento de cada um dos

    componentes da ligao para a situao de servio.

    FIGURA 2.27 Modelo para a rigidez do conjunto da ligao mista

    FIGURA 2.28 Deslocamento de cada um dos componentes da ligao mista

    A ABNT NBR 8800: 2008 despreza a contribuio da ligao da alma e admite que as

    extremidades da viga e da laje sofram a mesma rotao E, logo:

    ) *

    icss kkk

    ydMC

    111

    2

    33

    3""

    E (2.34)

    ANDERSON & NAJAFI (1994) realizaram cinco ensaios de ligao mista, por meio dos quais

    criaram um modelo para a determinao da rigidez da ligao como um todo. Nesse modelo,

    eles no consideram o paralelismo entre as sees extrema da laje e da viga e no desprezam a

    FsRk

    FsRk

    FTRk

    FsRk +FTRk

    d

    y

  • ESTADO DA ARTE 47

    contribuio da ligao da alma. Assim, assumindo uma rotao em torno da mesa inferior,

    determinaram as seguintes equaes de equilbrio e compatibilidade da ligao:

    ) * pchTRksRk dFydFM 33" (2.35)

    ) *

    pch

    uch

    B

    us

    dd

    s &"

    3&"E (2.36)

    onde &us, s(B), d, &uch e dpch esto indicados na FIG.2.28.

    Considerando que FsRk = ks$&us, FTRk = Sj$&uch, FcRk = kcs(B), FsRk = FcRk e utilizando a Eq.2.36,

    pode-se retrabalhar a Eq.2.35 para eliminar FsRk e FTRk e se obter a rigidez inicial da ligao.

    Logo:

    ) * 2pch

    dSkk

    dydkkMC j

    cs

    cs 33

    3""

    E(2.37)

    Segundo ANDERSON & NAJAFI (1994), os resultados obtidos por meio da Eq.2.37 mostraram

    uma boa correlao com os resultados dos ensaios realizados, sendo apropriados para uso em

    projeto.

    2.5.2 Momento resistente nominal

    Estabelecendo-se que a soma das foras resistentes dos conectores de cisalhamento na regio

    de momento negativo so superiores das barras de armadura, tem-se o valor do momento

    resistente nominal da ligao:

    pchTRksysRk dFydAfM 33" )(! (2.38)

    O momento que causa a flambagem lateral com distoro, ver CALENZANI (2008), deve ser

    superior ao momento resistente nominal da ligao mista.

    Caso no se queira considerar a resistncia da chapa de topo na resistncia da ligao mista,

    como o caso da ABNT NBR 8800: 2008, deve-se garantir que o conjunto composto pelos

    parafusos e chapa de topo seja dctil o suficiente para no comprometer a capacidade de

    rotao da ligao.

  • ESTADO DA ARTE 48

    2.5.3 Capacidade de rotao

    Segundo a ABNT NBR 8800: 2008, a capacidade de rotao da ligao determinada

    atribuindo-se aos deslocamentos dos componentes seus valores limites:

    ) *

    yd

    s Buiusu 3

    3&3&"E (2.39)

    onde &us, &ui e s(B) so as capacidades de deformao da armadura, da ligao inferior e dos

    conectores, respectivamente, j definidas anteriormente.

    2.6 Capacidade de rotao necessria de vigas semicontnuas com perfis

    de alma plana

    De acordo com a ABNT NBR 8800: 2008, a resistncia ltima da ligao mista sempre menor

    do que o momento plstico negativo da viga mista e, sendo assim, a prpria ligao tem que

    garantir a rotao necessria para o desenvolvimento do mximo momento fletor positivo da

    viga (inferior ao momento plstico), quando se faz anlise plstica. As TAB.2.6 a TAB.2.8

    apresentam as rotaes necessrias em miliradianos para construes no-escoradas,

    considerando os coeficientes +vm para determinao do momento fletor positivo resistente de

    clculo MRd, iguais a 0,95, 0,90 e 0,85 respectivamente. O coeficiente +vm um fator de

    reduo do momento fletor positivo resistente devido impossibilidade de plastificar

    totalmente a seo, o que exigiria deformao infinita. Para que as tabelas sejam aplicveis

    necessrio que:

    a) o momento fletor resistente de clculo da ligao seja igual ou superior a 30% do

    momento fletor resistente de clculo da viga;

    b) cada tramo da viga tenha ligaes mistas em ambas as extremidades ou tenha uma

    extremidade perfeitamente rotulada e outra com ligao mista.

    Nas TAB.2.6 a TAB2.8:

    L/dt a relao entre o comprimento do tramo e a altura total da viga mista;

    DL significa carga uniformemente distribuda;

    1CL significa uma carga concentrada no centro da viga;

    2CL significa duas cargas concentradas nos teros do vo da viga.

  • ESTADO DA ARTE 49

    Pode-se interpolar linearmente na tabela para aos com fy entre 275 e 350 MPa; para aos com

    fy de 250 MPa podem ser usados, do lado da segurana, os valores indicados para fy igual a

    275 MPa.

    TABELA 2.6 Capacidade de Rotao Necessria em miliradianos - +vm = 0,95 (ABNT NBR

    8800: 2008)

    fy = 350 MPa fy = 275 MPa L/dt

    DL e 1 CL 2 CL DL e 1 CL 2 CL

    15 29 43 28 39

    20 46 64 38 52

    25 57 80 46 63

    30 67 95 54 74

    TABELA 2.7 Capacidade de Rotao Necessria em miliradianos - +vm = 0,90 (ABNT NBR

    8800: 2008)

    fy = 350 MPa fy = 275 MPa L/dt

    DL e 1 CL 2 CL DL e 1 CL 2 CL

    15 22 32 21 29

    20 35 48 29 39

    25 43 60 35 47

    30 50 71 41 56

    TABELA 2.8 Capacidade de Rotao Necessria em miliradianos - +vm = 0,85 (ABNT NBR

    8800: 2008)

    fy = 350 MPa fy = 275 MPa L/dt

    DL e 1 CL 2 CL DL e 1 CL 2 CL

    15 15 22 14 20

    20 23 32 19 26

    25 29 40 23 32

    30 34 48 27 37

    Conforme comentado anteriormente, as TAB.2.6 a TAB.2.8 apresentam a capacidade de

    rotao necessria para constr