25 de Abril
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LiberdadeSérgio GodinhoCanções de Sérgio Godinho
Assírio e Alvim Viemos com o peso do passado e da sementeesperar tantos anos torna tudo mais urgentee a sede de uma espera só se ataca na torrentee a sede de uma espera só se ataca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela caladasó se pode querer tudo quanto não se teve nadasó se quer a vida cheia quem teve vida paradasó se quer a vida cheia quem teve vida parada
Só há liberdade a sério quando houvera paz o pãohabitaçãosaúde educaçãosó há liberdade a sério quando houverliberdade de mudar e decidirquando pertencer ao povo o que o povo produzir.
ABRIL DE ABRILManuel Alegre30 Anos de Poesia
Publicações Dom Quixote
Era um Abril de amigo Abril de trigoAbril de trevo e trégua e vinho e húmusAbril de novos ritmos novos rumos.
Era um Abril comigo Abril contigoainda só ardor e sem ardilAbril sem adjectivo Abril de Abril.
Era um Abril na praça Abril de massasera um Abril na rua Abril a rodosAbril de sol que nasce para todos.
Abril de vinho e sonho em nossas taçasera um Abril de clava Abril em actoem mil novecentos e setenta e quatro.
Era um Abril viril Abril tão bravoAbril de boca a abrir-se Abril palavraesse Abril em que Abril se libertava.
Era um Abril de clava Abril de cravoAbril de mão na mão e sem fantasmasesse Abril em que Abril floriu nas armas.
GRÂNDOLA VILA MORENAJosé Afonso(LP, Cantigas do Maio, Orfeu, 1971)
Grândola, vila morenaTerra da fraternidadeO povo é quem mais ordenaDentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidadeO povo é quem mais ordena
Terra da fraternidadeGrândola, vila morena
Em cada esquina um amigoEm cada rosto igualdadeGrândola, vila morenaTerra da fraternidade
Terra da fraternidadeGrândola, vila morenaEm cada rosto igualdadeO povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheiraQue já não sabia a idadeJurei ter por companheiraGrândola a tua vontade.
CANTATA DA PAZSophia de Mello Breyner Andresen(CD Canções Com Aroma de Abril, Strauss, 1994)
Vemos, ouvimos e lemosNão podemos ignorarVemos, ouvimos e lemos Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemosRelatórios da fomeO caminho da injustiçaA linguagem do terror
A bomba de HiroshimaVergonha de nós todosReduziu a cinzasA carne das crianças
D'África e VietnameSobe a lamentaçãoDos povos destruídosDos povos destroçados
Nada pode apagarO concerto dos gritosO nosso tempo éPecado organizado
QUEIXA DAS ALMAS JOVENS CENSURADASNatália Correia(Album "Mudam-se os tempos mudam-se as vontades" (1971 - J.M.Branco)
Dão-nos um lírio e um caniveteE uma alma para ir à escolaMais um letreiro que prometeRaízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginárioQue tem a forma de uma cidadeMais um relógio e um calendárioOnde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequimPara dar corda à nossa ausência.Dão-nos um prémio de ser assimSem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéuPara tirarmos o retratoDão-nos bilhetes para o céuLevado à cena num teatro
Penteiam-nos os crâneos ermosCom as cabeleiras das avósPara jamais nos parecermosConnosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a históriaDa nossa historia sem enredoE não nos soa na memóriaOutra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educadosQue adormecemos no seu ombroSomos vazios despovoadosDe personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelhoE um pacote de tabacoDão-nos um pente e um espelhoPra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeçaE uma cabeça presa à cinturaPara que o corpo não pareçaA forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferroCom embutidos de diamantePara organizar já o enterroDo nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornalUm avião e um violinoMas não nos dão o animalQue espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelãoCom carimbo no passaportePor isso a nossa dimensãoNão é a vida, nem é a morte
Eu Sou Português Aqui
Eu sou portuguêsaquiem terra e fome talhadofeito de barro e carvãorasgado pelo vento norteamante certo da morteno silêncio da agressão.
Eu sou portuguêsaquimas nascido deste ladodo lado de cá da vidado lado do sofrimentoda miséria repetidado pé descalçodo vento.
Nascideste lado da cidadenesta margemno meio da tempestadedurante o reino do medo.Sempre a apostar na viagemquando os frutos amargavame o luar sabia a azedo.
Eu sou portuguêsaquino teatro mentirosomas afinal verdadeirona finta fácilno gozono sorriso dolorosono gingar dum marinheiro.
Nascideste lado da ternurado coração esfarrapadoeu sou filho da aventurada anedotado acasocampeão do improviso,trago as mão sujas do sangueque empapa a terra que piso.
Eu sou portuguêsaquina brilhantina em que embrulho,do alto da minha esquinaa conversa e a borrascaeu sou filho do sarilhodo gesto desmesuradonos cordéis do desenrasca.
Nasciaquino mês de Abrilquando esqueci toda a saudadee comecei a inventarem cada gestoa liberdade.
Nasciaquiao pé do marduma garganta magoada no cantar.Eu sou a festainacabadaquase ausente
eu sou a brigaa luta antigarenovadaainda urgente.
Eu sou portuguêsaquio português sem mestremas com jeito.Eu sou portuguêsaquie trago o mês de Abrila voardentro do peito.
Eu sou português aquiObras de José Fanha
«O Futuro« José Carlos Ary dos Santos Isto vai meus amigos isto vaium passo atrás são sempre dois em frentee um povo verdadeiro não se trainão quer gente mais gente que outra gente Isto vai meus amigos isto vaio que é preciso é ter sempre presenteque o presente é um tempo que se vaie o futuro é o tempo resistenteDepois da tempestade há a bonançaque é verde como a cor que tem a esperançaquando a água de Abril sobre nós cai.O que é preciso é termos confiançase fizermos de maio a nossa lançaisto vai meus amigos isto vai.
Somos Livres Ermelinda Duarte Ontem apenasfomos a voz sufocadadum povo a dizer não quero;fomos os bobos-do-reimastigando desespero.Ontem apenasfomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,ultrajaram e venderamesta terra, hoje nossa. Uma gaivota voava, voava,assas de vento,coração de mar. Como ela, somos livres,somos livres de voar. Uma papoila crescia, crescia,grito vermelhonum campo cualquer. Como ela somos livres,somos livres de crescer. Uma criança dizia, dizia"quando for grandenão vou combater". Como ela, somos livres,somos livres de dizer. Somos um povo que cerra fileiras,parte à conquistado pão e da paz. Somos livres, somos livres,não voltaremos atrás.
Tanto Mar (Versão I) Chico Buarque Sei que estás em festa, páFico contenteE enquanto estou ausenteGuarda um cravo pra mim Eu queria estar na festa, páCom a tua genteE colher pessoalmenteUma flor do teu jardim Sei que há léguas a nos separarTanto mar, tanto marSei também que é preciso, páNavegar, navegar Lá faz primavera, páCá estou doenteManda urgentementeAlgum cheirinho de alecrim
Abril de sim, Abril de Não Manuel Alegre Eu vi Abril por fora e Abril por dentrovi o Abril que foi e Abril de agoraeu vi Abril em festa e Abril lamentoAbril como quem ri como quem chora.Eu vi chorar Abril e Abril partirvi o Abril de sim e Abril de nãoAbril que já não é Abril por vire como tudo o mais contradição.Vi o Abril que ganha e Abril que perdeAbril que foi Abril e o que não foieu vi Abril de ser e de não ser.
Abril de Abril vestido (Abril tão verde)Abril de Abril despido (Abril que dói)Abril já feito. E ainda por fazer.