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26 de Janeiro de 2014 Confira a entrevista de Paulo Rony para o Jornal A Gazeta O Coordenador - Geral do Sindipetro - ES, Paulo Rony, deu entrevista ao Jornal A Gazeta deste úlmo domingo. O tema abordado foi a repercussão da crise na Petrobras nos postos de trabalho, o fim da indicação políca para os cargos de gestão e a ameaça de demissão em massa para este ano. Confira: Unidos Somos Mais Fortes! Avante. Unidos Somos Fortes ! 48ECONOMIA DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 A GAZETA REPUTAÇÃO MANCHADA Profissionais da estatal revelam como está o clima diante dos escândalos, mostram indignação e defendem punição aos envolvidos ESCÂNDALO NA PETROBRAS BEATRIZ SEIXAS [email protected] Há pelo menos 10 meses a Petrobras não sai do foco da sociedade, da mídia e dos órgãos que investigam um dos maiores escânda- los de corrupção da histó- ria do país. De protagonista da maior campanha explo- ratória de petróleo dos úl- timos anos no mundo, com o pré-sal, a estatal passa por um momento em que corrupção, obras superfa- turadas, pagamento de propina e desvios de con- duta estão entre as pala- vras mais usadas para se re- ferir à companhia que, há apenas cinco anos, chegou a ser a 12ª maior do plane- ta. Atualmente ocupa so- mente o 120º posto, segun- do levantamento do Finan- cial Times. Afundada em denúncias e dívidas, a Petrobras é alvo das apurações da operação Lava Jato – deflagrada em março do ano passado –, que indicam que o esquema de corrupção e de lavagem de dinheiro teria movimen- tação quantias da ordem de R$ 10 bilhões entre funcio- nários da petrolífera, em- preiteiras e políticos. Mas, se os fatos e as no- tícias que, diariamente, são divulgados estarre- cem o cidadão, a indigna- ção é ainda maior entre empregados da estatal, que veem o escândalo co- mo algo inaceitável e ca- paz de minar e manchar a imagem e credibilidade de um trabalho construído com muito esforço e dedi- cação. Para saber como o assun- to vem sendo tratado nos corredores da Petrobras e entender como os petrolei- rostêmvistotodooepisódio, A GAZETA ouviu emprega- dos da estatal de diferentes níveis hierárquicos, mas que têm em comum o sentimen- to de revolta e da necessida- de de que os envolvidos se- jam duramente punidos. CLIMA Uma fonte que trabalha na empresa há quase 10 anos, que preferiu não se identificar, relatou que o clima interno mudou signi- ficativamente depois que os envolvidos – entre eles o ex-diretor de abastecimen- to da Petrobras, Paulo Ro- berto Costa – fizeram o acordo de delação premia- da e colocaram no jogo no- vos nomes que se benefi- ciaram com o esquema. “Desde o ano passado, as- suntostípicosdoscorredores e cafezinhos, como futebol, f érias e família, deram lugar aos escândalos e denúncias de corrupção. A gente fica especulando quem será o próximo a ser citado, se vai ter alguém que conhecemos ou trabalhe conosco e o que pode acontecer daqui para frente, contou. Esse mesmo trabalhador lembrou que, aqui no Esta- do,oaugedoburburinhofoi quando profissionais liga- dos à Unidade de Explora- ção e Produção do Espírito Santo (UO-ES) foram cita- dos em depoimentos e no relatório da CPI Mista no Congresso Federal. “Aí, foi realmente uma situação 1 OPERAÇÃO A Operação Lava Jato, deflagrada em março de 2014, investiga um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos. No total, R$ 10 bilhões é quanto o esquema teria movimentado. 2 PRISÕES As primeiras prisões foram a do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Eles firmaram acordos de delação premiada para explicar detalhes do esquema. 3 EMPREITEIRAS As investigações apontaram envolvimento de empreiteiras, que têm contratos de R$ 59 bilhões com a Petrobras. Foram suspensos negócios com 23 fornecedoras citadas na Lava Jato. PETROBRAS CORRUPÇÃO QUE MINA O TRABALHO ECONOMIA 49 DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 A GAZETA Trabalhadores querem o fim da indicação política Na avaliação dos funcionários da estatal, apadrinhamento favorece a corrupção A nuvem de denúncias e suspeitas envolvendo cor- rupção que paira sobre a Pe- trobras seria evitada ou pelo menos minimizada se os al- toscargosdegestãodacom- panhia não fossem fruto de indicações políticas. Essa é a avaliação de funcionários da estatal e do Sindicato dos Petroleiros do Espírito San- to (Sindipetro-ES). Para os trabalhadores, o apadrinhamento cria brechas para a realização de atos ilícitos e dá auto- nomia demais a pessoas que, em função da nomea- ção, ficam com uma espé- cie de dívida com determi- nados políticos. Embora muitos dos pro- fissionais que estão envolvi- dos no esquema de desvio dedinheirosejamfuncioná- rios de carreira, o presiden- te do Sindipetro-ES, Paulo Rony, analisa que esses car- gos de confiança deveriam ser preenchidos após uma rigorosa análise técnica e comportamental dos candi- datos. Uma espécie de pro- cesso seletivo, e não limi- tando a escolha pelos inte- resses de partidos. “A política não é uma coisa ruim, mas como ela está sendo aplicada. Você pode fazer política para o social, para o meio am- biente, por exemplo. Po- rém, no caso da Petrobras, essa indicação me parece mais um apadrinhamen- to, uma troca favor.” Um funcionário que ocupa um cargo de con- fiança na Petrobras tem opinião semelhante a do representante do sindicato. “Há uma extrema politiza- ção partidária nas organi- zações. É como um câncer, uma vergonha. A gente faz campanhas e cobra diretri- zes e valores na compa- nhia, mas isso tem que che- gar aos políticos. Infeliz- mente a gente só vai endi- reitar esse país quando co- meçar a prender político”. Na visão de Rony, quan- do há indicações, os 2.400 trabalhadores diretos da Petrobras no Estado e os 85 mil no país acabam fi- cando expostos a escânda- los como os revelados pela operação Lava Jato. Funcionário desde 2006 da Transpetro – subsidiária da Petrobras – e diretor de Comunicação do Sindipe- tro-ES, Ewerton Souza An- drade, também é um críti- co ferrenho do modelo de indicações. “Quando uma empresa coloca pessoas no cargo por apadrinhamen- to, ela está se sujeitando a ter muitos problemas.” DESCONFIANÇA Alguns desses problemas estão sendo confirmados com as descobertas de con- tratos irregulares feitos com muitas empreiteiras que participavam do esquema. O coordenador do sindicato não vê com surpresa as reve- lações feitas pela Polícia Fe- deral. “Havia uma descon- fiança porque eram sempre asmesmasempresasquega- nhavam as licitações. Mas, embora houvesse a sensa- ção de ter algo errado, não tínhamos provas disso.” Já em relação à descon- fiança dos envolvidos no es- quema, uma pessoa que trabalhou com o ex-diretor de Abastecimento Paulo RobertaCosta,comoex-ge- rente executivo de Enge- nharia Pedro Barusco e com o ex-diretor de Serviços Re- nato Duque, revelou que ja- mais eles demonstraram qualquer comportamento que levantasse suspeitas. “Nunca imaginei isso na minha vida. Os caras esta- vam do meu lado. A gente se sente indignado.” TRANSPARÊNCIA O coordenador-geral do sindicato frisa que a ex- pectativa dos trabalhado- res é que os escândalos sir- vam para dar mais trans- parência aos processos in- ternos da empresa e tam- bém às contratações de prestadores de serviços. “Acredito que esse mo- mento vai funcionar como um divisor de águas. Dian- te de tantos problemas, a Petrobras vai ser obrigada a mudar. A companhia sempre primou pela trans- parência, mas isso fugiu do controle. Por isso, acho que é preciso retornar com mais pulso e rigor para a Petrobras voltar a ter cre- dibilidade e a proteger seus funcionários, que es- tão sendo alvo de chacotas por conta de uma meia dú- zia de pessoas que come- teram irregularidades.” Rony complementa que a angústia dos trabalhado- res só irá acabar quando os envolvidos forem punidos e o dinheiro desviado re- tornar para a companhia. EDSON CHAGAS “A política não é uma coisa ruim, mas como ela está sendo aplicada. No caso da Petrobras, essa indicação me parece um apadrinhamento, uma troca favor” PAULO RONY COORDENADOR-GERAL DO SINDIPETRO-ES 100 mil podem perder seus empregos em 2015 Além de arranhar a ima- gem da Petrobras junto ao mercado nacional e inter- nacional, as denúncias con- tra a companhia também respingam diretamente na criação de empregos e no desenvolvimento da cadeia produtiva do petróleo. O coordenador do Sindi- cato dos Petroleiros do Espí- rito Santo (Sindipetro-ES), Paulo Rony, acredita que os postos de trabalho diretos estão garantidos, mas que os empregos indiretos aca- bam sendo ameaçados em função da redução das ati- vidades na cadeia. “Podemos ter proble- mas de empregabilidade. E o nosso medo é que isso também abra uma brecha para empresas estrangei- ras. A gente não quer isso, afinal, queremos que a Pe- trobras crie empregos para trabalhadores brasileiros.” A preocupação do sindi- calista não é em vão. Além da possibilidade da Petro- bras adiar alguns projetos e, portanto, postergar a con- trataçãodeterceirizadas,no final de dezembro a estatal anunciou a suspensão de negócios com 23 fornece- doras citadas na Lava Jato. Com a paralisação dos contratos, quase 10 mil já foram demitidos e o merca- do estima que até meados deste ano 100 mil trabalha- dores possam perder o em- prego devido às dificulda- des econômicas que essas empresas vão enfrentar. Para Rony, o momento é delicado, mas o comporta- mentoqueopetroleirosem- pre teve, “de vestir a camisa da empresa”, deve conti- nuar. “Estamos tentando resgatar esse orgulho, que tem andado um pouco feri- do. Nunca vamos ser coni- ventes com essas coisas er- radas e esperamos vencer essa fase e voltar a ser uma grande empresa da nação.” muito chata e constrange- dora. Alguns colegas rece- beram e-mails e mensagens deapoio,mastiveramaque- les que não sabiam nem co- mo lidar com a situação.” Para um veterano da UO-ES, os escândalos pega- ramtodosdesurpresaeapa- garam o brilho dos bons re- sultados que a unidade ca- pixaba vem apresentando. “Estamos vivendo uma fase fantástica, e aí a gente se depara com isso. O pior é que chegamos num mo- mento com nome de vários colegas indo para a mídia. Aí, os 332 mil barris diários produzidos em 2015, a al- ta eficiência operacional, o crescimento de injeção de vapor em terra, os recor- des que estamos batendo na produção de GLP (gás de cozinha), tudo isso fica em segundo plano e o tra- balho forte que estamos realizando parece perder valor”, desabafou. REUNIÕES Uma outra fonte que transita entre gerentes e coordenadores da UO-ES revela que para dar mais transparência ao processo e acabar com dúvidas de um suposto envolvimento de colegas em irregulari- dades, foram realizadas reuniões com a apresenta- ção de documentos e pla- nilhas comprovando a idoneidade nas atividades realizadas. “A ideia foi reunir a tur- ma toda e explicar o que es- tá acontecendo. Há uma re- volta interna pela exposi- ção dos profissionais e da forma como, em alguns ca- sos, eles foram citados de maneira leviana. O objetivo foi dar transparência”, assi- nalou o interlocutor. De acordo com o mes- mo funcionário, a reação das pessoas relacionadas a supostas irregularidades foi da fúria a um princípio de depressão. “Teveumge- rente que ficou muito ner- voso. Outro queria abrir processo por informações que foram divulgadas equi- vocadamente. Fora quem ficou muito triste e enver- gonhado, mesmo não ten- do culpa na história.” 4 OBRAS Vários empreendimentos da Petrobras estão sob suspeita, entre eles: as refinarias de Abreu e Lima (PE) e de Pasadena (EUA); um trecho do Gasene, gasoduto que passa pelo Espírito Santo; o Terminal de Barra do Riacho, em Aracruz. 5 CPI Indícios de irregularidades também foram encontrados nos contratos da Petrobras com a SBM em relação a plataformas, sendo três que operam no Estado (P-57, Cidade de Anchieta e Capixaba). O tema foi abordado na CPIM da Petrobras no Congresso, que chegou a citar nomes de gerentes e funcionários que atuam ou atuaram no Espírito Santo.

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26 de Janeiro de 2014

Confira a entrevista de Paulo Ronypara o Jornal A Gazeta

O Coordenador - Geral do Sindipetro - ES, Paulo Rony, deu entrevista ao Jornal A Gazeta deste último domingo. O tema abordado foi a repercussão da crise na Petrobras nos postos de trabalho, o fim da indicação política para os cargos de gestão e a ameaça de demissão em massa para este ano. Confira:

Unidos Somos Mais Fortes!Avante. Unidos Somos Fortes !

48ECONOMIADOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 A GAZETA

REPUTAÇÃO MANCHADA

Profissionais da estatal revelam como está o clima diante dosescândalos, mostram indignação e defendem punição aos envolvidos

ESCÂNDALONA PETROBRAS

BEATRIZ [email protected]

Há pelomenos 10meses aPetrobras não sai do focoda sociedade, da mídia edos órgãos que investigamum dos maiores escânda-los de corrupção da histó-riadopaís.Deprotagonistadamaiorcampanhaexplo-ratória de petróleo dos úl-timosanosnomundo,como pré-sal, a estatal passapor um momento em quecorrupção, obras superfa-turadas, pagamento depropina e desvios de con-

duta estão entre as pala-vrasmaisusadasparasere-ferir à companhia que, háapenas cinco anos, chegoua ser a 12ªmaior do plane-ta. Atualmente ocupa so-menteo120ºposto,segun-dolevantamentodoFinan-cial Times.Afundada em denúncias

e dívidas, a Petrobras é alvodas apurações da operaçãoLava Jato – deflagrada emmarço do ano passado –,queindicamqueoesquemade corrupção e de lavagemdedinheiro teriamovimen-

taçãoquantiasdaordemdeR$ 10 bilhões entre funcio-nários da petrolífera, em-preiteiras e políticos.Mas, se os fatos e as no-

tícias que, diariamente,são divulgados estarre-cem o cidadão, a indigna-ção é ainda maior entreempregados da estatal,que veem o escândalo co-mo algo inaceitável e ca-paz deminar e manchar aimagemecredibilidadedeum trabalho construídocommuito esforço e dedi-cação.

Para sabercomooassun-to vem sendo tratado noscorredores da Petrobras eentender como os petrolei-rostêmvistotodooepisódio,A GAZETA ouviu emprega-dos da estatal de diferentesníveishierárquicos,masquetêmemcomumosentimen-tode revoltaedanecessida-de de que os envolvidos se-jamduramente punidos.

CLIMAUma fonte que trabalha

na empresa há quase 10anos, que preferiu não se

identificar, relatou que oclimainternomudousigni-ficativamente depois queosenvolvidos–entreelesoex-diretordeabastecimen-to da Petrobras, Paulo Ro-berto Costa – fizeram oacordodedelaçãopremia-daecolocaramno jogono-vos nomes que se benefi-ciaram como esquema.“Desdeoanopassado,as-

suntostípicosdoscorredorese cafezinhos, como futebol,férias e família, deram lugaraos escândalos e denúnciasde corrupção. A gente fica

especulando quem será opróximo a ser citado, se vaiteralguémqueconhecemosou trabalhe conosco e o quepode acontecer daqui parafrente”, contou.Essemesmo trabalhador

lembrou que, aqui no Esta-do,oaugedoburburinhofoiquando profissionais liga-dos à Unidade de Explora-ção e Produção do EspíritoSanto (UO-ES) foram cita-dos em depoimentos e norelatório da CPI Mista noCongresso Federal. “Aí, foirealmente uma situação

1 OPERAÇÃOA Operação Lava Jato, deflagradaem março de 2014, investiga umgrande esquema de lavagem edesvio de dinheiro envolvendo aPetrobras, grandes empreiteirasdo país e políticos. No total,R$ 10 bilhões é quanto oesquema teria movimentado.

2 PRISÕESAs primeiras prisões foram ado doleiro Alberto Youssef edo ex-diretor deAbastecimento da PetrobrasPaulo Roberto Costa. Elesfirmaram acordos de delaçãopremiada para explicardetalhes do esquema.

3 EMPREITEIRASAs investigaçõesapontaram envolvimentode empreiteiras, que têmcontratos de R$ 59 bilhõescom a Petrobras. Foramsuspensos negócios com23 fornecedoras citadas naLava Jato.

PETROBRASCORRUPÇÃO QUEMINA O TRABALHO

ECONOMIA49DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 A GAZETA

Trabalhadoresqueremofimda indicaçãopolíticaNaavaliaçãodosfuncionáriosdaestatal,apadrinhamentofavorece a corrupção

A nuvem de denúncias esuspeitas envolvendo cor-rupçãoquepairasobreaPe-trobrasseriaevitadaoupelomenosminimizada seosal-toscargosdegestãodacom-panhia não fossem fruto deindicaçõespolíticas.Essaéaavaliação de funcionáriosdaestataledoSindicatodosPetroleiros do Espírito San-to (Sindipetro-ES).Para os trabalhadores,

o apadrinhamento criabrechas para a realizaçãode atos ilícitos e dá auto-nomia demais a pessoasque,emfunçãodanomea-ção, ficam com uma espé-ciededívidacomdetermi-nados políticos.Embora muitos dos pro-

fissionaisqueestãoenvolvi-dos no esquema de desviodedinheirosejamfuncioná-rios de carreira, o presiden-te do Sindipetro-ES, PauloRony, analisa que esses car-gos de confiança deveriamser preenchidos após umarigorosa análise técnica ecomportamentaldoscandi-datos. Uma espécie de pro-cesso seletivo, e não limi-tando a escolha pelos inte-resses de partidos.“A política não é uma

coisa ruim, mas como elaestá sendo aplicada. Você

pode fazer política para osocial, para o meio am-biente, por exemplo. Po-rém,no casodaPetrobras,essa indicação me parecemais um apadrinhamen-to, uma troca favor.”Um funcionário que

ocupa um cargo de con-fiança na Petrobras temopinião semelhante a dorepresentantedosindicato.“Há uma extrema politiza-ção partidária nas organi-zações. É como um câncer,uma vergonha. A gente fazcampanhas e cobra diretri-zes e valores na compa-nhia,mas isso temqueche-gar aos políticos. Infeliz-mente a gente só vai endi-reitar esse país quando co-meçar a prender político”.

NavisãodeRony,quan-dohá indicações, os 2.400trabalhadores diretos daPetrobras no Estado e os85 mil no país acabam fi-candoexpostosaescânda-loscomoosreveladospelaoperação Lava Jato.Funcionáriodesde2006

daTranspetro–subsidiáriada Petrobras – e diretor deComunicação do Sindipe-tro-ES,EwertonSouzaAn-drade, também é um críti-co ferrenho do modelo deindicações. “Quando umaempresa colocapessoasnocargo por apadrinhamen-to, ela está se sujeitando atermuitos problemas.”

DESCONFIANÇAAlguns desses problemas

estão sendo confirmadoscom as descobertas de con-tratos irregulares feitos commuitas empreiteiras queparticipavam do esquema.O coordenador do sindicatonãovêcomsurpresaasreve-lações feitas pela Polícia Fe-deral. “Havia uma descon-fiança porque eram sempreasmesmasempresasquega-nhavam as licitações. Mas,embora houvesse a sensa-ção de ter algo errado, nãotínhamosprovas disso.”Já em relação à descon-

fiançadosenvolvidosnoes-quema, uma pessoa quetrabalhou com o ex-diretorde Abastecimento PauloRobertaCosta,comoex-ge-rente executivo de Enge-nhariaPedroBaruscoecom

oex-diretordeServiçosRe-natoDuque,revelouqueja-mais eles demonstraramqualquer comportamentoque levantasse suspeitas.“Nunca imaginei isso naminha vida. Os caras esta-vam do meu lado. A gentese sente indignado.”

TRANSPARÊNCIAO coordenador-geral

do sindicato frisaqueaex-pectativa dos trabalhado-reséqueosescândalossir-vam para dar mais trans-parência aos processos in-ternos da empresa e tam-bém às contratações deprestadores de serviços.“Acredito que esse mo-

mentovai funcionar comoumdivisordeáguas.Dian-te de tantos problemas, aPetrobras vai ser obrigadaa mudar. A companhiasempreprimoupelatrans-parência, mas isso fugiudo controle. Por isso, achoqueéprecisoretornarcommais pulso e rigor para aPetrobras voltar a ter cre-dibilidade e a protegerseus funcionários, que es-tãosendoalvodechacotasporcontadeumameiadú-zia de pessoas que come-teram irregularidades.”Ronycomplementaque

aangústiadostrabalhado-ressó iráacabarquandoosenvolvidos forempunidose o dinheiro desviado re-tornar para a companhia.

EDSON CHAGAS

“A política nãoé uma coisaruim, mascomo ela estásendo aplicada.No caso daPetrobras, essaindicação meparece umapadrinhamento,uma trocafavor”

—PAULO RONY

COORDENADOR-GERAL

DO SINDIPETRO-ES

100mil podem perder seus empregos em 2015Além de arranhar a ima-

gem da Petrobras junto aomercado nacional e inter-nacional,asdenúnciascon-tra a companhia tambémrespingam diretamente nacriação de empregos e nodesenvolvimentodacadeiaprodutiva do petróleo.OcoordenadordoSindi-

catodosPetroleirosdoEspí-rito Santo (Sindipetro-ES),

PauloRony, acredita que ospostos de trabalho diretosestão garantidos, mas queos empregos indiretos aca-bam sendo ameaçados emfunção da redução das ati-vidades na cadeia.“Podemos ter proble-

masdeempregabilidade.Eo nosso medo é que issotambém abra uma brechapara empresas estrangei-

ras. A gente não quer isso,afinal, queremos que a Pe-trobrascrieempregosparatrabalhadores brasileiros.”A preocupação do sindi-

calista não é em vão. Alémda possibilidade da Petro-brasadiaralgunsprojetose,portanto, postergar a con-trataçãodeterceirizadas,nofinal de dezembro a estatalanunciou a suspensão de

negócios com 23 fornece-doras citadas na Lava Jato.Com a paralisação dos

contratos, quase 10 mil jáforamdemitidoseomerca-do estima que até meadosdesteano100miltrabalha-dorespossamperderoem-prego devido às dificulda-des econômicas que essasempresas vão enfrentar.Para Rony, omomento é

delicado, mas o comporta-mentoqueopetroleirosem-pre teve, “devestir a camisada empresa”, deve conti-nuar. “Estamos tentandoresgatar esse orgulho, quetemandadoumpouco feri-do. Nunca vamos ser coni-ventes com essas coisas er-radas e esperamos venceressa fase e voltar a ser umagrande empresa danação.”

muito chata e constrange-dora. Alguns colegas rece-berame-mailsemensagensdeapoio,mastiveramaque-les quenão sabiamnemco-mo lidar coma situação.”Para um veterano da

UO-ES,osescândalospega-ramtodosdesurpresaeapa-garamobrilho dos bons re-sultados que a unidade ca-pixaba vemapresentando.“Estamos vivendo uma

fase fantástica, eaí agentese depara com isso. O pioré que chegamos num mo-mentocomnomedevárioscolegas indo para amídia.Aí,os332milbarrisdiáriosproduzidos em 2015, a al-taeficiênciaoperacional,ocrescimento de injeção devapor em terra, os recor-des que estamos batendona produção de GLP (gásde cozinha), tudo isso ficaem segundo plano e o tra-balho forte que estamosrealizando parece perdervalor”, desabafou.

REUNIÕESUma outra fonte que

transita entre gerentes ecoordenadores da UO-ESrevela que para dar maistransparência ao processoe acabar com dúvidas deum suposto envolvimentode colegas em irregulari-dades, foram realizadasreuniões comaapresenta-ção de documentos e pla-nilhas comprovando aidoneidadenasatividadesrealizadas.“A ideia foi reunir a tur-

matodaeexplicaroquees-táacontecendo.Háumare-volta interna pela exposi-ção dos profissionais e daformacomo, emalguns ca-sos, eles foram citados demaneiraleviana.Oobjetivofoidar transparência”,assi-nalou o interlocutor.De acordo com o mes-

mo funcionário, a reaçãodaspessoasrelacionadasasupostas irregularidadesfoi da fúria a um princípiodedepressão.“Teveumge-rente que ficou muito ner-voso. Outro queria abrirprocesso por informaçõesqueforamdivulgadasequi-vocadamente. Fora quemficou muito triste e enver-gonhado, mesmo não ten-do culpa na história.”

4 OBRAS

Vários empreendimentos daPetrobras estão sob suspeita,entre eles: as refinarias de Abreue Lima (PE) e de Pasadena (EUA);um trecho do Gasene, gasodutoque passa pelo Espírito Santo; oTerminal de Barra do Riacho, emAracruz.

5 CPI

Indícios de irregularidades também foramencontrados nos contratos da Petrobras com aSBM em relação a plataformas, sendo três queoperam no Estado (P-57, Cidade de Anchieta eCapixaba). O tema foi abordado na CPIM daPetrobras no Congresso, que chegou a citarnomes de gerentes e funcionários que atuamou atuaram no Espírito Santo.