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Revista Gestão.Org – 7 (2):150-169 – Mai/Ago 2009 PRO PA D/UFPE Produção Científica sobre o Ensino em Administração: uma Avaliação Envolvendo o Enfoque do Paradigma da Complexidade Scientific Production Regarding Education in Business Administration: an Evaluation under the Complexity Paradigm Perspective Lisiane Quadrado Closs 1 Juliane Viégas Aramburu 2 Elaine Di Diego Antunes 3 Resumo A compreensão de questões cada vez mais complexas exige um novo tipo de educação, que enfoque as várias dimensões do ser humano e da sociedade requeridas para enfrentar os desafios deste início de século XXI. Sob essa ótica, o artigo visa analisar a produção científica sobre o ensino na área de Administração e o alinhamento desta com os princípios desenvolvidos por Morin para a educação do futuro, baseando-se no paradigma da complexidade. Foram analisados 103 artigos apresentados no Encontro Nacional de Pós- Graduação em Administração, na área de ensino e pesquisa, nos anos de 2002 a 2005. Verificou-se que vários deles não contemplam nenhum dos sete saberes necessários à educação do futuro, propostos por Morin (2003). A maioria ainda enfoca questões relacionadas ao ensino sob uma linha estritamente positivista, fragmentada, não contemplando as diversas dimensões dos seres humanos e suas inter-relações. Alguns artigos tratam de temáticas presentes no pensamento complexo de forma superficial e poucos adotam a perspectiva da complexidade como embasamento para seus estudos. Através das indagações e reflexões feitas, buscou-se favorecer a ampliação do conhecimento na área e a formação profissional consciente e pertinente à complexidade da nova sociedade do conhecimento. Palavras-chave: Ensino em Administração, Paradigma da Complexidade. Artigo recebido em . .2007, aprovado em 06.04.2009 1 Doutora em Administração. Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Endereço: Rua Washington Luis, 855 – Porto Alegre/RS – CEP:90010-460, E-mail:[email protected] 2 Doutoranda em Administração pela UFRGS, Mestre em Administração. E-mail: [email protected] 3 Doutora em Administração. Professora e Pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E- mail:[email protected]

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Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 P R O P A D / U F P E Produo Cientfica sobre o Ensino em Administrao:uma Avaliao Envolvendo o Enfoque do Paradigma da Complexidade Scientific Production Regarding Education in Business Administration: an Evaluation under the Complexity Paradigm Perspective Lisiane Quadrado Closs1 Juliane Vigas Aramburu2 Elaine Di Diego Antunes3 Resumo Acompreensodequestescadavezmaiscomplexasexigeumnovotipodeeducao,queenfoqueas vrias dimenses do ser humano e da sociedade requeridas para enfrentar os desafios deste incio de sculo XXI. Sob essa tica, o artigo visa analisar a produo cientfica sobre o ensino na rea de Administrao e o alinhamentodestacomosprincpiosdesenvolvidosporMorinparaaeducaodofuturo,baseando-seno paradigmadacomplexidade.Foramanalisados103artigosapresentadosnoEncontroNacionaldePs-GraduaoemAdministrao,nareadeensinoepesquisa,nosanosde2002a2005.Verificou-seque vriosdelesnocontemplamnenhumdossetesaberesnecessrioseducaodofuturo,propostospor Morin(2003).Amaioriaaindaenfocaquestesrelacionadasaoensinosobumalinhaestritamente positivista, fragmentada, no contemplando as diversas dimenses dos seres humanos e suas inter-relaes. Algunsartigostratamdetemticaspresentesnopensamentocomplexodeformasuperficialepoucos adotamaperspectivadacomplexidadecomoembasamentoparaseusestudos.Atravsdasindagaese reflexesfeitas,buscou-sefavoreceraampliaodoconhecimentonareaeaformaoprofissional consciente e pertinente complexidade da nova sociedade do conhecimento. Palavras-chave: Ensino em Administrao, Paradigma da Complexidade.

Artigo recebido em . .2007, aprovado em 06.04.2009 1DoutoraemAdministrao.ProfessoradaUniversidadeFederaldoRioGrande do Sul. Endereo: Rua Washington Luis, 855 Porto Alegre/RS CEP:90010-460, E-mail:[email protected] 2 Doutoranda em Administrao pela UFRGS, Mestre em Administrao. E-mail: [email protected] 3DoutoraemAdministrao.ProfessoraePesquisadoradaUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul.E-mail:[email protected] 150 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 Abstract In order to understand problems that get increasingly more complex, a new perspective for education seems toberequired,focusingonthemultipledimensionsofhumanbeings.Underthisassumption,thisarticle analysesthescientificproductionregardingeducationinthefieldofBusinessAdministrationandits alignmentwithMorinsprinciplesforfutureeducation,basedoncomplexityparadigm.Forsuchaim,103 articlespresentedbetween2002and2005attheEncontroNacionaldePs-GraduaoemAdministrao havebeenanalysed.Findingsshowthatmostofthepapersfocuseducationunder a positivist, fragmented perspective,notcontemplatinganyofMorinssevenproposalsforfutureeducation.Afewintegratethe complexity paradigm perspective. One expects that reflexions developed will benefit the knowledge growing ofthefield,aswellasaconsciousprofessionaldevelopment,adequatetothecomplexityrequiredbythe present society.Keywords: Business Administration education, complexity paradigm. 1 Introduo Percebe-se,nomundocontemporneo,insuficinciadeexplicaescientficasemtodososcampos doconhecimento.Ummodelocartesianodepensar,pautadoporvisessimplificadoras,reducionistas, fragmentadaspareceserincapazdefundamentardebatesquetratemdequestesdaatualidade.Anteo novocontexto,EdgarMorindesenvolveargumentos,premissasefundamentosparaaconstruodeum novo paradigma que busca alimentar uma reforma do pensamento visando rejuntar, religar, bricolar, fazer dialogarasreasedisciplinasfragmentadaspelacinciaepelopensamentosimplificador/disjuntor (ALMEIDA, 2002). Facenecessidadedecompreensodequestescadavezmaiscomplexas;deadaptao velocidadeeimprevisibilidadedasmudanassociais,econmicas,polticasetecnolgicas;frente saturaodeinformaes;emfunodeummercadodetrabalhomutante,imprevisvel,comfreqentes avanostecnolgicosqueobrigamconstanteaprendizagemimpe-se,compremncia,aformaoea reciclagemprofissionaispermanentes.Asociedadedoconhecimentoigeraalgumasdemandasde aprendizagemquenopodemsercomparadassdepocasanteriores,nememqualidadenemem quantidade (POZO, 2002). Paramelhorcompreenderoconceitodesociedadedoconhecimento,hqueseanalisaremos processosdetransformaoqueocorremnaeconomia,napolticaenacultura(BORGES,1995).Na sociedadeps-moderna,orecursoeconmicobsicooconhecimento.Ostrabalhadoresdoconhecimento constituem os principais grupos sociais desta sociedade e, entre eles, esto os executivos que sabem como alocar conhecimento para usos produtivos (DRUCKER, 1997).Todas estas mudanas exigem formao diferenciada do profissional de administrao, que tem que dar conta de novas competncias, de novos conhecimentos. Neste contexto, pretende-se refletir sobre sobre o ensino e a formao de administradores.151 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 Esteartigoestrutura-seemsetesees.Naseo1feitaaintroduoaopresenteestudo.Na seo2,apresenta-sebrevehistricodoensinoemAdministraonoBrasil.Naseo3,sosintetizadas propostasparaaeducaodofuturo,sobaticadateoriadacomplexidade.Naseo4explicita-seo mtodoutilizadonapesquisa.Naseo5analisam-seostpicoscentraispresentesnapesquisasobreo ensino em administrao no Brasil. Na seo 6, se estabelecem relaes entre os setes saberes necessrios paraaeducaodofuturoeoensinoemAdministraonoBrasil.Naseo7,apresentam-seas consideraes finais do estudo. 2 O Ensino em Administrao no Brasil SegundoNicolini(2004),oensinodaadministraosurgiunoBrasilem1902,emduasescolas particulares:aAcademiadeComrcio,noRiodeJaneiro,eaEscolalvaresPenteado, em SoPaulo. Sua regulamentao s ocorreu, no entanto, em 1931, com a criao do Ministrio da Educao. DevidosmudanasocorridasapartirdaRevoluode1930,aocrescimentoeconmico,ao desenvolvimento de infra-estrutura de transportes, energia e comunicaes, tornou-se necessrio o preparo derecursoshumanos(tcnicosetecnlogosdevriasespecializaes)eaadoodemtodosdetrabalho maissofisticados(KEINERT,1996apud NICOLINI,2001, 2004). Barros et al. (2000) relatam que, tambm nesta poca, o ensino de Administrao Pblica no Brasil comeou a se destacar, a partir da necessidade de atuaomaiseficienteeracionaldosrgosgovernamentais.Osautoresdesignamcomoumamedida estratgicaacriaodeumcorpodeadministradoresorientadospeloparadigmadaracionalidade instrumental.Em 1931, foi fundado, em So Paulo, o Instituto de Organizao Racional do Trabalho (IDORT), com aintenodepropagarmtodosmaissofisticadosnascinciasadministrativas(NICOLINI,2004).Como objetivodeaperfeioarodesempenhogerencialdosprofissionaisesolucionarproblemasrelacionados racionalizaodaadministraodasempresas,eradivulgadoopensamentodostericosdaadministrao cientficae clssica, bem comoseus mtodos (CFE, 1993,p.289 apud Nicolini, 2004).Em 1938, criou-se o Departamento de Administrao do Setor Pblico (DASP) e, em 1944, instituiu-se a Fundao Getlio Vargas (FGV), com o objetivo de preparar pessoal especializado para a administrao pblica e privada. ConformeBarrosetal.(2000),oensinodeAdministraonoBrasilganhouimpulsonogovernode Juscelino Kubistchek em funo do ideal desenvolvimentista. Havia demanda por profissionais para trabalhar nas organizaes que surgiam e prosperavam (NICOLINI, 2004).Nicolini(2004)dizqueoensinoemAdministraomarcadoporfaseseasclassifica.Aprimeira fasefoiumprocessodehabitualizao,emqueadifusosedpelaimitaodosconhecimentosbsicos (ensinamentostayloristas,fordistaseweberianos).Acrenaeradequetaisconhecimentoscontribuiriam para a formao de gestores capazes de gerir organizaes burocrticas.Nasegundafase,houveinflunciadomodeloamericano,aplicadointensamentetantona estruturao das organizaes brasileiras quanto no ensino de Administrao. Tal influncia, salienta Nicolini (2004),tornou-semaisforte,em1948,ocasioemquerepresentantesdaFGVvisitaramcursosde AdministraoPblicadeuniversidadesamericanas.Estabeleceu-se,apsofimdaSegundaGuerra,um acordodecooperaotcnicaBrasil-EstadosUnidos.Frutodestesencontros,nasceu,em1952,aEscola BrasileiradeAdministraoPblica(EBAP),noRiodeJaneiro,destinadaformaodeprofissionais 152 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 especialistasparaaadministraopblica.Doisanosdepois,aFGVcriouaEscoladeAdministraode Empresas de So Paulo (CEEAD, 1997, p.23 apud Nicolini, 2004).O convnio entre o governo brasileiro e o americano enfatizou a necessidade de formar professores para o ensino de Administrao Pblica e de Empresas, visando dotar o governo e a rea privada de tcnicos competentesparapromoveremodesenvolvimentoeconmicoesocial(NICOLINI,2004).ConformeFischer (2001),oprojetocriouescolasdeadministraotambmnaUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul (UFRGS)enaUniversidadeFederal da Bahia (UFBA) e houve uma misso de professores norte-americanos no Brasil, s encerrada em 1965. Esses professores foram responsveis pela implementao dos programas deensinonareadeadministrao,oquecaracterizaatransfernciadatecnologiadesenvolvidanos Estados Unidos.Aterceirafasedoensinofoimarcadapelaregulamentaodaprofisso,perodoemqueforam institudosacategoriadetcnicoemadministrao,em1965,eoensinodeAdministrao,em1966, conforme dados do Conselho Federal de Administrao.Com isto, abriu-se a oportunidade para a expanso do ensino de Administrao no pas.Aquartafasedoensinoemadministrao,conforme Nicolini(2004), foimarcada pela tentativa de sua atualizao, j que a legislao deensino, nesta rea, permaneceu inalterada porvinte e seteanos. O ensinohavia,portanto,setornadodesconectadodasmudanasqueocorriamnomundoequeafetavama realidade das organizaes. A reformulao curricular, segundo o autor, levou uma dcada para se realizar, apesardetersidoformado,em1982,umgrupoparaelaborarumaproposta,estasveioaserdiscutida somenteem1991esomenteem1993foiapresentadoumnovocurrculomnimo,fixadopeloConselho FederaldeEducao.Emconseqnciadestenovocurrculo,asfaculdadesnomaisconseguiamfazer outras propostas de ensino, pois 70% das disciplinas havia se tornado obrigatrio. Aquintafase,aindaconformeNicolini(2004),estrelacionadasLeisdeDiretrizeseBases.Em 2004,asnovasdiretrizescurricularesnoestabeleceramumcurrculomnimo.Entretanto,parecequea maioria das escolas de administrao do pas, segundo Martins (1997 apud Nicolini, 2001) no tm inovado muito suas propostas. O autor destaca que prtica comum reproduzir o currculo mnimo recomendado pelo ConselhoFederaldeEducao,quandosetratadebacharelado.Destemodo,oensinotorna-se despersonalizadoeasescolasdeadministraotornam-separecidasafbricas.Nicolini(2001)fazuma analogiaentreasfbricaseaescoladeadministrao:asescolasrecebemoaluno(matria-prima)eo transformam,apartirdocurrculopleno(aolongodalinhademontagem),emadministrador (produto). O autorrevelaqueaformaodoadministradorsegue,athoje,algicadepensadoresclssicos,como Frederick Taylor, Henri Fayol e Henry Ford. RefletindosobreohistricodoensinoemAdministrao,Fischer(2001,p.125)questiona:oque mudou nos cinqenta anos de institucionalizao do ensino de administrao?Apresentam-se no Quadro 1 a seguir dez mudanas observadas. Quadro 1 Mudanas no histrico do ensino em Administrao O que mudou 1A quantidade de escolas: 1.500 cursos reconhecidos pelo Conselho Nacional de Educao em 2000; expanso de oferta e demanda de ensino, presencial e distncia graduao e ps-graduao 2Maiorreconhecimentodeoutrascontribuies,comoaproduoeuropia(nomaisexclusivamentea americanizao dos currculos e programas). Maior articulao com escolas do mundo hispnico e latino-americano; 153 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 mais redes de pesquisadores brasileiros com grupos britnicos, franceses, canadenses, alemes, norte-americanos. 3Introduo dedisciplinas com contedo contestatrio: ocorrida na dcada de 80, convive com as disciplinas tradicionais 4Areflexodepesquisadores brasileiros sobre organizaes brasileiraseoestado da arte no Brasil, em um processo de desconstruo/reconstruo com contribuies do movimento ps-moderno. 5Maiorvolumedeinformaesdisponibilizadasnasformastradicionais:cincorevistasdeadministrao; produoeditorialdeautores nacionais e traduesquaseem tempo real; bancos de dados digitais; comunicao mais intensa da comunidade de aprendizagem. 6TemasestudadosmaisadaptadosrealidadedoBrasil,taiscomo:identidades,culturaslocais,poderes locais, organizaes tpicas do contexto brasileiro. 7Internacionalizao dos programas brasileiros: efeito da globalizao e de interesses de escolas estrangeiras de se relacionarem com o Brasil e vice-versa. 8Diversificao dos programas de ps-graduao e de formatos. Programas: doutorado, mestrado acadmico,mestradosprofissionalizanteseespecializao.Novosformatos:cursosemtempointegral/parcial,delonga/curta durao, em escolas ou in company, presenciais e distncia.9Avaliaoecertificaoimpostasdeforaparadentroededentroparafora.Osistemadeavaliao nacional - CAPES, passa a conviver com outros sistemas (ex.: ISO 9000) importados do mundo empresarial ou por iniciativas de associaes de escolas como a Associao Nacional de Ps-Graduao em Administrao (ANPAD). 10Revoluo no ensino. Propostas de mudanas na graduao e ps-graduao como reflexo das novas relaes da sociedade. Elaborado pelas autoras. 3 A Educao do Futuro sob a tica da Teoria da Complexidade Asmudanasemumambienteorganizacionalquecontemplacomplexidade,paradoxoseincerteza, inserido em um contexto global permeado por constantes inovaes tecnolgicas, com profundas influncias deproblemasticos,polticos,ambientaiseeconmicos,demandamaampliaodeperspectivasno processodeformaodegestores.Asinstituiesdeensino,sobretudoaquelasvoltadasaoestudode Administrao,entretanto,tendemareproduziromodelomecanicistadasorganizaesdomundo industrializado,demonstrandolimitaesparatratardosdesafiosquehojeseapresentam(AXLEY; MCMAHON, 2006; NICOLINI, 2001).A presente seo visa explorar as propostas de Morin para a educao do amanh, apresentadas no livroOsSeteSaberesnecessriosEducaodoFuturo,queabremcaminhosparasepensarsobreuma educaointegraldoserhumano,dirigidaasuatotalidadeenoapenasaumdeseuscomponentes. As propostas fundamentam-se no paradigma da complexidade, centrado nos seguintes princpios:- substituio da viso das relaes entre sujeito e objeto para uma viso de sistema: defende que o todo,simultaneamente,maisdoqueasomadaspartesemenosdoqueasomadaspartes(MORIN, 2003a);-crculoretroativo:sugereumacausalidadecircular,emqueoprprioefeitovoltacausa, referindo-seaocarterretroativodosistemaemoposioidialinearquetodaacausatemumefeito (MORIN, 2001); - crculo recursivo: traz a noo de looping autoprodutivo, no qual os produtos e os efeitos so eles prprios produtores e causadores daquilo que os produz (MORIN, 2001); -impossibilidadededissociaodopesquisadoredeseuobjetodepesquisa:enfocao estabelecimento de uma comunicao entre eles. O saber transforma o objeto de estudo e, transformando-o, por ele tambm transformado (MORIN, 2003a);154 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 -hologramtico:defendequenoapenasaparteestdentrodotodo,masqueotodoestno interior das partes (MORIN, 2002, p. 15); -dialgicadeordemedesordem:postulaqueestasnoescontraditriastornam-seirredutveis, sendo preciso enfrent-las para desenvolver o verdadeiro pensamento (MORIN, 1996); - ecolgico da ao: expressa que a ao escapa vontade do ator poltico para entrar no jogo das inter-retroaes, retroaes recprocas do conjunto da sociedade (MORIN, 1996, p. 284), destacando que a estratgia seria a arte de atuar na incerteza.Apresenta-seaseguir,sucintamente,aspropostasparaaeducaoconcebidasporMorin, formuladascombasenosprincpiosdateoriadacomplexidade,conformejexposto,eemtornodesete saberes.Estaspropostassointroduzidas,afimdecontriburemparaodebatesobrealternativaspara enfrentar as fragilidades presentes no ensino em Administrao. Osaberintituladoascegueirasdoconhecimento:oerro e a iluso destaca que osconhecimentos esto ameaados pelo erro e pela iluso, j que as percepes so tradues e reconstrues individuais da realidade codificada pelos sentidos e, portanto, sujeitas ao erro. A subjetividade e a emoo multiplicam os riscosdeerro,entretanto,odesenvolvimentodaintelignciainseparveldomundoafetivo.O egocentrismo,anecessidadedeautojustificar-seeprojetarsobreooutroascausasdosmalesinduzemos sujeitos,segundoMorin(2003b),mentirainconscienteparasiprprios.Emestudosrealizadoscom consultoresdeempresas,Argyris(2000)apontouqueestaatitudedeeliminarofocodeatenodesi mesmo,dirigindo-oparaoutros,atravsdemecanismosdedefesa,constituiumadasgrandesarmadilhas para o aprendizado.Osaberosprincpiosdoconhecimentopertinenterevelaqueaeducaodeveevidenciar,deum lado,ainadequaoentreossaberescompartimentadose,deoutro,problemasmultidisciplinares, transversais,multidimensionais,transnacionais,globais,tornandonecessriaacontextualizaode informaes/dadosparaqueadquiramsentido.Estesaber,aoevidenciarainadequaoentreossaberes compartimentados, vai ao encontro das preocupaes emergentes na rea de ensino em administrao, que tm sido foco de ateno dos pesquisadores da rea, tais como Nicolini (2001, 2004), Fischer (2001), entre outros. Pozo (2002) salienta que uma informao aprendida com significado, como parte de uma organizao deconhecimentos,lembradamelhordoquedadosaprendidosisoladamente.Odesenvolvimentode aptidesgeraisdamenteampliaacapacidadededesenvolvimentodascompetnciasespecializadas;a compreensodosdadosparticularesrequeraativaodaintelignciageral,assim,aeducaodeve favorecerousodaintelignciageral,exercitandoolivredesempenhodacuriosidade,muitasvezesextinta pela instruo (MORIN, 2003b).Nosaberensinaracondiohumana,apreende-sequeoserhumano,simultaneamente,fsico, biolgico, psquico, cultural, social e histrico. Por isso, a educao deve evidenciar a multidimensionalidade e a complexidade humana, integrando a contribuio de humanidades como a filosofia, a histria, as artes, a literaturaeapoesia.Asinteraesentreindivduosproduzemasociedade,quecriacultura,queretroage pela cultura sobre os indivduos; cada um desses termos , ao mesmo tempo, meio e fim.Nestesentido,oensinoemadministraotemprocuradoultrapassarumabarreira,ada americanizaodoscurrculoseprogramas,jquereconheceramoutraspossibilidades,taiscomoa 155 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 produo europia entre outras. Segundo Fischer (2001), intensificou-se a articulao com escolas do mundo hispnico e latino-americano e houve aumento das redes de pesquisadores, articulando brasileiros a grupos britnicos, franceses, canadenses, alemes, norte-americanos. Alm disso, os estudos tm abordado temas mais compatveis com a cultura brasileira. Anecessidadedecompreendertantoacondiohumananomundo,comoacondiodomundo humano levantada no saber ensinar a identidade terrena. De acordo com Morin (2003b, p. 69), concebido unicamente de modo tcnico-econmico, o desenvolvimento chega a um ponto insustentvel... necessria umanoomaisricaecomplexadodesenvolvimento,quesejanosomentematerial,mastambm intelectual, afetiva, moral....A imprevisibilidade do futuro retratada no saber denominado enfrentar as incertezas. A histria no constituiumaevoluolinear,elaumcomplexodeordem,desordemeorganizao,possuindosempre duasfacesopostas:civilizaoebarbrie,criaoedestruio,gneseemorte.precisoaprendera conviver com a incerteza, nesta era de valores ambivalentes, em que tudo est entrelaado. Seria necessrio o ensino de princpios que permitissem o enfrentamento dos imprevistos, do inesperado e da incerteza.Nosaberensinaracompreenso,identifica-sequeaincompreensohumanasegueavanandoe queamissoespiritualdaeducaoseriaensinaracompreensoentreaspessoascomogarantiada solidariedade intelectual e moral da humanidade (MORIN, 2003b, p.93). O autor conclui que, quanto mais complexidade houver [...] mais os indivduos, entregues solido, ao isolamento, carncia, necessidade, precisam para viver de dar e receber amor (MORIN, 2001, p. 487).Ematicadognerohumano,Morin(2003b)defendequeindivduo/sociedade/espcieso indissociveis,co-produtoresunsdosoutros,simultaneamentemeioefim;nestatradecomplexaque emergeaconscinciaenelaaticahumanadevese fundamentar.Gmez-GraneleVila(2003),alinhados comestepensamento,pregamqueosdesafioscontemporneosdevemenvolvertoda a sociedade. Para os autores,ensinareaprender a conviverrequer programas envolvendo prticas participativas e encontros de gruposdiferentesquepermitamapercepodaheterogeneidade,eliminandopreconceitoseesteretipos, estimulandoosindivduosaassumiremresponsabilidadescidads,incutindoasolidariedadeeodesejode participao. Apresentadosalgunsprincpioscentraisdoparadigmadacomplexidade,algunsdadossobreo histrico do ensino em Administrao no Brasil e os sete saberes propostos para a educao sob esta tica, descrevem-se, a seguir, os procedimentos metodolgicos utilizados para a realizao do presente estudo. 4 Mtodo Efetuou-seumapesquisabibliogrficanosartigospertencentesseodeensinoepesquisaem administraoecontabilidadedoEncontroNacionaldePs-GraduaoemAdministrao(ENANPAD) publicados entre os anos de 2002 e 2005. Entende-se que a fonte de consulta escolhida apropriada, j que osartigospublicadosnasprincipaisrevistasbrasileirasdeadministrao,normalmentesoapresentados, avaliados e debatidos de forma preliminar nos Encontros da ANPAD.Atriagemdosartigosfoiorientadaprimeiroparaaseleodeartigosenvolvendoatemticado ensinoemAdministrao,excluindo-se,parafinsdeinvestigao,osartigosqueenfocavamproblemticas 156 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 voltadas pesquisa, bem como aqueles referentes rea de contabilidade.Conforme a Tabela 1, percebe-se a predominncia de artigos voltados ao ensino.Foram,pois,selecionadosparaavaliaodezoitoartigosdoanode2002;vinteetrs,doanode 2003;trinta e oito, do ano de 2004; vinte e quatro, do ano de 2005, perfazendo centro e trs artigos, que correspondema67%dototaldeartigospublicadosnesteperodo(osrestantesreferem-sequestoda pesquisa em administrao e a estudos sobre a rea de contabilidade). Tabela 1: Percentual de artigos analisados ANOARTIGOS PUBLICADOS NA REA DE ENSINO E PESQUISA EM ADMININSTRAO E CONTABILIDADE- ENANPAD TOTAL DE PUBLICAES (ensino, pesquisa e contabilidade) N. total de artigos sobre ensino% de artigos sobre ensino 2002281864,28 2003352365,71 200452 3873,07 200538 2463,15 TOTAL 15310367,32 Elaborado pelas autoras. Realizou-seaanlisedocontedodosartigosparaaidentificaodeeixostemticoscomuns.Isto permitiu a categorizao de tpicos centrais presentes nos estudos, evidenciando os principais interesses de pesquisa na rea neste perodo. Segundo Bardin (1977), anlise de contedo um conjunto de instrumentos metodolgicos(queestoemconstanteaperfeioamento),queseaplicamacontedosemumesforode interpretao.Aautoraconceituaanlisedecontedocomoumconjuntodetcnicasdeanlisede comunicaes (BARDIN, 1977, p. 31). Assim, compreende-se criticamente o sentido das comunicaes, seu contedo e suas significaes tanto explcitas quanto ocultas. Os procedimentos para conseguir interpretar o significadodacomunicaopodemseradecomposiodotextoemunidadeslxicasouemcategorias (CHIZZOTI, 2001). Buscou-setambmidentificarapresenaou no dos aspectos apontados por Morin (2003b) para a Educao do Futuro nos estudos avaliados e debat-los. 5 Anlise dos tpicos centrais presentes na pesquisa sobre o ensino em administrao no Brasil Apresenteseotrazumasntesedasprincipaistemticas,questes,crticas,consideraes, reflexes e propostas presentes nos artigos analisados. O primeiro eixo temtico identificado destaca novas concepesepropostasrelativasaoprocessodeformaodoadministradorprofissional.Esse item engloba a crescente importncia datransversalidade dos contedos disciplinares,j que os problemas atuaisnoexigemintervenodeapenasumaespecialidadeeaparecemdeformacomplexaeintegrada, demandandomobilizaotransdisciplinar.Taispreocupaesvoaoencontrodosaberosprincpiosdo conhecimento pertinente, exposto por Morin (2003b) e evidenciado neste trabalho.Osartigosrelacionadosaestetpicorevelamtambmanecessidadedereformularprojetos pedaggicosdoscursosdeadministrao,tantoemsuasestruturascurricularesdeformaoprofissional, comonaadoodeprticasdidtico-pedaggicasinovadoraseefetivasnasuperaodedificuldades relacionadas fragmentao disciplinar do ensino. De acordo com alguns dos autores, no entanto, no basta 157 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 apenasmaiorinteraoentreasdisciplinas,necessriamaiorsintoniaentreestaseocenriosocial externoqueosalunosvivenciamouvisualizam(LOPES,2002;MIRANDA;SOUZA;BARBOSAJR,2002).O ensino em administrao seguiu um padro desde o princpio do curso e, at 1993, houve poucas mudanas na estrutura curricular. Vriosdosartigosanalisadosdebatemocurrculoescolar.SegundoBarroseLaquis(2002),este deveproporcionarlastrodeconhecimentosevivnciasquecontribuamparaainserodoestudantena histria como sujeito ativo do processo de produo e socializao do conhecimento. Por meio da aquisio do conhecimento, o sujeito conhece e v o mundo, se autoconhece, se v como parte do mundo e seleciona parasiumcomportamentodiantedoquev,tornando-sepensante,reflexivo,capazdeagirporvontade prpria.Comosujeitos,estoreunidosalunos,professores,comunidade,sociedadeesuasinstituies.O currculo transversal, medida que envolve pessoas, suas crenas e sua cultura, cria relaes com o exterior decadaum,orelacionandocomomundo.Areflexosobreaestruturacurricularnecessitaenvolver tendncias,novasvisesdomundo,ideologiasdiversas,novosmodelosdepensamentoeculturaea compreenso dos paradigmas cientficos e da histria de transformao da sociedade. Integrao curricular e interdisciplinaridadeaparecemcomoumapreocupaoatual,sendoumaquestoabordadanasmais diferentes reas da administrao. Arajo e Lacerda (2002) sugerem que os projetos pedaggicos sejam repensados para incorporar as dimensesvaloreseatitudes.Discutiraformaoacadmicapensarsobrequaisconhecimentos, habilidades, valores e atitudes os alunos devem adquirir para enfrentar as exigncias da vida social como a profisso,oexercciodacidadania,acriaoeousufrutodaculturaedaarte,aproduodenovos conhecimentos,aslutaspelasmelhoriasdascondiesdevidaedetrabalho.Acomplexidadedoprocesso formativoexigeumconstanterepensardaprticapedaggicaeumnovopapelparaasinstituies formadoras. Neste sentido, este estudo vai ao encontro do que Morin (2003b) trata como o saber ensinar a identidade terrena, em que revela a necessidade de compreender tanto a condio humana no mundo, como acondiodomundohumano.ParaAntonelloeDutra(2005),faz-senecessriaaconstanteavaliao curricular para melhor adapt-lo realidade social e, para tanto, precisa-se de novos mtodos de avaliao para mensurar viso de conjunto e identificar deficincias atuais e futuras.Umaeducaoquebusqueaimersodasconscinciasesuainserocrticanasociedade, incorporandoasdimensestica,scio-econmica,poltica,culturalehistricanoprocesso de ensino e de aprendizagem proposta por Mello e Oliveira (2002). As diretrizes curriculares devem partir do princpio da complexidadedaformaoindividual,reunindoosespaosformadoresqueso,emprincpio,afamlia,a escola e o trabalho. A educao problematizadora, reflexiva torna obrigatria a existncia de comunicao e irreversvelaconstnciadodebate.Elasetraduznadialogicidade do processo de aprendizadoe permite a superao constante. O conhecimento um ato de participao e so aqueles que o produzem e o usam no dia-a-dia que o deveriam gerir.Foram ainda tnicas dos artigos que trataram do processo de formao do administrador profissional: a reformulao de projetos pedaggicos; a integrao de teoria prtica em sala de aula; a interao entre Universidadeecomunidade;ainter-relaoentreuniversidades,cidados,empresasegovernosparauma educaoambiental;pautaroensinodeacordocomascondiese estgios locaise reais de cada cidade, 158 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 regiooupas;autilizaodemetodologiasdeensinomaiscentradasnosalunoseemsuasdiferenas individuais, contemplando as necessidades do mercado atual. A crtica sobre a formao profissional de administradores foi a segunda temtica identificada, presente em muitos dos artigos avaliados. Uma das questes apontadas que, na segmentao de saberes em disciplinas, o corpo docente forma-se como equipe desintegrada que se concentra em sua especialidade e acredita que, fazendo bem a sua parte, o conjunto fique bem feito. Esta fragmentao do ensino e do saber tambmincidenafragmentaodasconscinciasenainterpretaoisoladadoseventos,inibindoaviso geraldeorganizao/empresa(LOPES,2002;MIRANDA;SOUZA;BARBOSAJR,2002;SILVA;TEIXEIRA; MAGALHES, 2005). Tal fragmentao no contribui para o ensino, porm, ao identificar estudos que fazem crtica compartimentao, caminha-se para uma educao que considera o saber intitulado os princpios do conhecimento pertinente, evidenciado por Morin. Meneghetti(2004) destaca o papel e a responsabilidade dosintelectuais em fazer da Administrao umacinciaparaaemancipao.Oautorbaseia-senascontribuiestericasdofilsofofrankfurtiano Theodor W. Adorno, o qual defende a educao para a emancipao, livre de qualquer forma de dominao do homem pelo homem ou de instrumentalizao da razo. Outracrticapresentenosartigosrefere-seaoprocessodeformaodeeducandoscomomeros arquivadoresdeconhecimentosecontedos,desprovidosdasuacapacidadedebuscarointer-relacionamentoentreteoriaeprtica,devivenciaroconhecimento,resultandonatransformaodo estudante em um profissional pouco pensante (NICOLINI, 2002). Nesse caso, a capacidade de se expressar e de se comunicar, nos processos de negociao e comunicao interpessoal e intergrupal, s ser adquirida, deformaemprica,duranteavidaprofissional.Iniciativa,criatividade,vontadedeaprender,aberturas mudanas, conscincia da qualidade e das implicaes ticas de seu trabalho parecem objetivos ambiciosos, quandooestudantenoconvidadoounotemliberdadeparaassumiraco-autoriadeseuprocessode aprendizado.Percebeu-se,entretanto,preocupaoporpartedealgunsdocentes-pesquisadoresemincluir diferentesrecursosdidticos(filmes,simuladores,jogos,teatro)comoobjetivodeestimularoalunoa desenvolver competncias essenciais para exercer a profisso. Ruas (2004), por exemplo, destaca que o uso doteatroemsaladeaulacontribuiparadesenvolveracapacidadede improvisao e de inovao frente a imprevistos,semdescuidardaestratgia,almdefavorecerapercepodeoportunidadeseameaasem cenrios futuros. Tais recursos so usados para revitalizar a relao entre ensino e aprendizagem e servem comoformadeinspirao,deconhecimento,deinterpretao,deexpressoedecomunicao,segundo Davel et al. (2004).Permeia, no entanto, a noo de que ainda excessiva a nfase do ensino nas tcnicas, geralmente orientadasparaaplicaoemgrandesorganizaes,talcomoafirmaNicolini(2002).Estavisoparece embriagarosformuladoreseexecutoresdosprogramasdeformao,prejudicandoodesenvolvimentode competnciascomocapacidadecriativaecrtica,culturageral,graudeconscinciaederesponsabilidade, mais perenes do que tcnicas fugazes. Esta perspectiva contribui para o descaso em relao s pessoas nas organizaes,gerandoinsensibilidadecomrelaoavaloressociaisehumanosepreocupao com o curto prazo e com a carreira. A adequao do conhecimento realidade local tambm questionada, sendo feitas objees aos pressupostos culturais presentes nos ensinamentos importados dos EUA. 159 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 EmumestudodosplanosdeensinodedisciplinasligadassTeoriasdaAdministrao,foram observadasalgumasomissesdeitensimportantesdosprogramas,como:faltadepadronizao,alguns casosdedesatualizaodocontedo,excessodeitensdecontedoeconfusonaelaboraodeementas, podendo-se questionar se estas falhas no estariam presentes de modo geral em outras disciplinas (GODOY; MOREIRA; TAKEY, 2002).Foi apontada ainda a quase inexistncia de ensino individualizado por meio de recursos tecnolgicos eumaobsessoporexamesfinaisemquesepetodooempenhodealunoseprofessoresna preparao de ou para provas e exames. Nascimento, Putvinskis e Takei (2002) realizaram um estudo com docentes para verificar como eles exploram os instrumentos utilizados para avaliar os alunos e constataram queamaioriaadotaaprovacomoprincipalmeiodeavaliao,oquenopermiteavaliarhabilidades, competnciaseatividadesdosalunosnemacompanharseuprocessodedesenvolvimento.Osautores partemdopressupostoqueaavaliaodeveriaserconstrudacomoumaprticapedaggicaaserviodas aprendizagens.Esteartigodestacaquealteraesdidticaseautilizaodenovastecnologiasnoso suficientes, se o mtodo de avaliao resumir-se prova, j que a avaliao deve ser um processo contnuo. Os docentes estudados declararam que atribuem maior peso s provas por fatores culturais. Desta forma, se reproduzaformatradicionaldeensino,muitasvezesporfaltadeformaopedaggicadosprofessoresde Administrao ou por exigncia das Instituies de Ensino Superior (IES). Miranda, Souza e Barbosa Jr. (2002) ressaltam que, ao longo dos anos, as mentes dos alunos foram formadasparaencarar cada avaliao como uma etapa a ser vencidapara receber o diploma ou passar de ano, o que torna a interdisciplinaridade mais uma barreira para chegar prxima etapa; uma viso pela qual avidaacadmicanoestnoprocesso,masnoobjetivo.Osautoresquestionam-secomoagregar conhecimento para chegar ao objetivo, se o processo no vivenciado.ParaasIESatenderemaosrequisitosimpostospelanovalegislaoepelasociedade,restou promoverreformasestruturais,tantonoaspectofsicoquantonoquadrodeprofessores,dandonfase adoo de diversos mecanismos que visam o aprimoramento contnuo do processo de ensino-aprendizagem. Identifica-se que, para muitas instituies, a avaliao utilizada para verificar a didtica da disciplina e do professor,oscontedoseasatisfaodosestudantes.Aavaliaodedisciplinasusadainclusivepara verificar o conhecimento do professor. De modo geral, as instituies esto preocupadas com a qualidade do ensino, vendo os alunos como clientes. De certa forma, a academia parece aceitar a idia de aluno-cliente, jqueaprovouartigoscomestaabordagemnosanosde2002,2004e2005.Osestudosavaliarama satisfaodoalunocomocliente,semrelacionarasatisfaocomaqualidadedoensino.Taispesquisas fortalecem a idia que diversas IES tm acompanhado a lgica das empresas.AbasedoensinodaAdministrao comparada por Lacombe (2002)ao modelo fabril taylorista, o qualapresentaumaconcepofragmentadadaadministraoemdisciplinasdissociadasumasdasoutras, queformamalunosespecializadosemreasespecficaserestritas,treinadosparareceber,aceitare memorizarocontedoministrado,nemsempreadequadoaocontextobrasileiro.Semoestmulo capacidadedereflexoecrtica,osalunosestariaminadequadamentepreparadosparaenfrentaras demandas do mercado de trabalho e para uma gesto mais focada nas pessoas.Segundoosestudosavaliados,osprogramasdeformaoconvencionaisestodistantesda perspectiva de desenvolvimento de competncias, existindo distanciamento entre programas de educao de 160 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 gestores e realidade organizacional, em funo da complexidade do atual ambiente de negcios. Em funo destarealidade,GarayeDuh(2004)analisaramoprogramadedesenvolvimentodecompetnciascom basenaavaliaodoperfildoalunoeseuacompanhamentoaolongodocurso,comfoconaquestodo empreendedorismoesucesso.Osautoresdemonstraramqueocursovoltadoaoempreendedorismo, desenvolvidosobprincpioseducacionaisconstrutivistas,estimulouacapacidadecrticaecontribuiuparaa aprendizagem.Reflexes crticas sobre o ensino de outra gesto na Administrao, envolvendo o campo do Terceiro Setor e a economia solidria, bem como a busca de parmetros e conceitos para a formao de profissionais voltados atuao,neste setor, estiveram presentes em artigos do ano de 2005. Isto evidencia a crescente importnciadestecampoeaconseqentenecessidadededesenvolverprogramasadequadosparaatender esta demanda emergente. Destaca-se, em 2002, a quantidade de artigos, doze, abordando crticas sobre questes envolvendo o ensino-aprendizagem. Estes foram motivados, possivelmente, pelas novas Diretrizes Curriculares, aprovadas peloConselhoNacionaldeEducaonestemesmoano,impulsionandoumasriededebatese questionamentos sobre o sistema de ensino em Administrao. Percebe-se,portanto,grandeinflunciadogoverno/legislaonoensino,sobretudonaanlise das novas Diretrizes Curriculares nos artigos aprovados no ano de 2002, seis, somente neste ano. Na viso deBarroseLaquis(2002),asdiretrizesnopretendemtransformarocurrculoemuminstrumentoque permitatornaroindivduoemumagentedoprocessohistrico-social.Aocontrrio,demonstram direcionamentoaumprocessopragmticoetecnicistadeformaoprofissional,retirandodocurrculoa finalidade educadora e transformadora do indivduo. Nas formulaes de temas considerados emergentes, descartadaaprioridadedequestescomocidadania,solidariedade,produodoconhecimento,excluso social, entre outros temas importantes para a composio do senso crtico. NaticadeAraujoeLacerda(2002),asnovasdiretrizescurricularessinalizamumaformao acadmicanosentidodeoalunodesenvolvertodasassuaspotencialidadesedimenseshumanas; reconheceratransitoriedadedosconhecimentos;sertico,crtico,autnomo,criativo,cooperativo,lder, pesquisador,cidadocapazdeparticipardosgrupossociaisemqueestinserido.Nicolini(2002)enfatiza queasdiretrizesassegurammaiorflexibilidadeediversidadenaorganizaodecursosecarreiras, atendendocrescenteheterogeneidade,tantodaformaoprviacomodasexpectativaseinteressesdos alunos,equeseusprincpiosgarantemanecessriaflexibilidadecurricularealiberdadedeconstruode projetospedaggicos.Nicolinidefendeaindaqueoconceitodepermanentepreparaoprofissionalest presentenasdiretrizes,garantindoaoformandoaautonomiaintelectualnecessriaparaaproduode conhecimentoseaadaptaoaofuturoessuasincertezas,havendoinvestimentonaformaode competncias que cria condies para que se forme um administrador adaptvel a novas situaes, capaz de responder s transformaes do mercado de trabalho e da sociedade. Em 2002, sete artigos destacaram temticas relacionadas influncia da legislao nacional sobre o ensino.Em2003e2004,estatemticapraticamentenofoidiscutida.Em2003,porexemplo,shum artigoqueabordaasmudanasnoensinodemestradoemfunodaregulamentaoqueintroduza modalidadeprofissionalnoBrasil.Em2005,trsartigossalientaramaimportnciadestefatorsobreo ensino-aprendizagem.161 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 Outrapreocupaoconstantenosartigosacompreensodopapeldoadministrador/gestore do contexto atual. Permeia a viso de que a sobrevivncia e o progresso das organizaes esto vinculados capacidade de seus executivos pensarem como filsofos, uma administrao com enfoque nas idias. Lima (2002)ressaltaanecessidadedacompreensodacomplexidadedinmicaparaenfrentartomadasde decisoemquevariveiseconmicas,polticas,psicolgicas,sociaisefinanceiras,entreoutras,seinter-relacionam,exigindodoadministradornoapenasacapacidadedeconceberestratgias,mastambmde identificaralternativas,resolverproblemasedecidirsobresituaescomplexas.precisoconectarfatores crticos,analisaroscontextosdosproblemas,avaliaraspossveisconseqnciasdeumadeciso,projetar cenrios futuros, estimular o desenvolvimento de outras pessoas, preparar-se para reformular sua estratgia rapidamente a partir de novas informaes, de percepes de erros ou desvios, alm de enfrentar situaes envolvendoaspectosticos,conciliandointeressesorganizacionaisaosdasociedade.Nestesentido,alguns artigos(LIMA,2002;MACHADOetal.,2005)destacammtodosdeensinodirecionadosparaaproximar estudantes da realidade do mercado.Astransformaesnagestovmressaltaraimportnciadedesenvolverhabilidadescomo: autodirecionamento; aprendizadocontnuo; postura aberta inovao; reflexividade; iniciativa prpria para resoluo de conflitos; criatividade; flexibilidade, alm de capacidade analtica, de julgamento, de deciso, de liderana,deenfrentarriscoseincertezas.Acaractersticaempreendedoraapontadacomovitalpara funcionrios,empresriose,principalmente,parapessoasquequeremabrirumnovonegcio,paraque sejam capazes de enfrentar esses novos desafios, com coragem e determinao (MELLO; OLIVEIRA, 2002). As principais limitaes dos formados em cursos de Administrao referem-se a serem eles excessivamente tericosenopossuremvisogeralearticuladadaempresa.Nestesentido,foirealizadoumestudoque verifica se os cursos de Administrao tm cumprido a misso de formar empreendedores, por ser este um dosmaioresdesafiosnoqueconcernepreparaodosestudantesparaatuaremnomercadoatual (ANTONELLO; DUTRA, 2005). O conceito de competncias adquire importncia como alternativa de formao e desenvolvimento para responder s novas demandas das pessoas, das organizaes e da sociedade, contemplando as noes de incidente, o que ocorrede forma imprevista, e de comunicao, que implica compreender o outro e a si mesmo. Os processos observados para seu desenvolvimento, entretanto, ainda esto em fase de construo, necessitando-serefletirsobreaformaointegraldoindivduoesobrecomoproverascompetnciasde gestonecessriasaoexerccioprofissionaldoadministradornessecontextoderelaessistmicas complexas, incertezas e descontinuidades.Aoperceberemoaprofundamentododebatesobrecompetncias,NuneseBarbosa(2003) realizaramumapesquisaemduasuniversidadesparaobterinformaessobreoprocessodealterao curricular dos cursos e a insero do conceito de competncia nos currculos. Ainda em 2003, um dos artigos discutiu a questo da necessidade do desenvolvimento de novas competncias por parte dos professores. Em 2004, outros trabalhos tambm trataram da questo das competncias nos cursos de Administrao. Garay e Duh(2004),porexemplo,realizaramumestudoapartirdaanlisedoperfilindividualdosalunosedas turmasdocursodeempreendedorismoesucessoedaquelesqueprocuramocursoafimdediscutiro programadedesenvolvimentodecompetncias.Destaforma,buscava-seorientarmelhorosfuturos empreendedores,acompanharogrupoerealizarajustesnocurrculodocurso.AntonelloeDutra(2005) 162 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 apresentam,nessesentido,umapropostaparaodesenvolvimentodeumprojetopedaggicocomfocono desenvolvimento de competncias dos alunos.Astemticasenvolvendopercepesdosalunosidentificam,navisodeparticipantesdeum estudo conduzido por Ferreira (2002), o reconhecimento de habilidades pessoais como as mais importantes para o futuro profissional. Entre os fatores apontados para a obteno de uma boa posio no mercado, no houvepraticamentenenhumamenoespontneaformaoeducacionalouaodesenvolvimentode competncias tcnicas.Foi levantada a hiptese de que os alunos tendiam a considerar o diploma como um trunfo,masnopropriamenteocontedoaqueelesereferia.Emestudorealizadocomdoutorandos (PEREIRAetal.,2002),aparecemcomoprincipaismotivaesoaprimoramentodacarreiradocenteede pesquisador.Noentanto,ascontribuiesdocursomenosdestacadaspelosentrevistadosforamdomnios epistemolgicosemetodolgicos,fundamentaisparaumaampliaodaconscinciaedareflexosobreo papel do ensino e dos professores para a formao alunos. possvel transformar/adequar o ensino s novas necessidades, se o processo educacional no enfatizado em um curso de doutorado que visa formao de professores?Em 2004, trs artigos revelam a preocupao com relao percepo do aluno sobre a instituio qualestvinculado,asatisfaocomoensino,ainfra-estrutura,osprofessores.Percebe-se,em2005,aumentodointeresseporpartedospesquisadorespeloentendimentosobreoquosalunosvalorizamem umcursodeAdministrao;quaisascompetnciasdesenvolvidaspelocurso;qualopapelqueoestgio efetivamente desempenha na formao dos alunos, entre outros aspectos. Estes pontos foram retratados em novedosvinteequatroartigosapresentados.Surgetambm,em2005,ointeressepelapercepode professoresepelatentativadecompreensodesuasperspectivasetrajetrias,aspectoquaseinexplorado nos anos anteriores.A questo das novas tecnologias de comunicao e informao tambm retratada, no sentido deenriquecermetodologiasdeensino.Aintegraodeinterfaceshipertextuaisaestudosdecasos,por exemplo,possibilitaumaformainovadoraderepresentarmltiplasperspectivasdeanlisedassituaes-problematpicasdedomniosdeconhecimentopoucoestruturados(LIMA,2002).AEducaoDistncia (EaD)tambmabordada.EmartigorealizadoporTestaeFreitas(2002),osfatoresimportantesemsua gestoeosprincipaisproblemasqueocorrememsuaimplementaoegestosotrazidos sob a tica de especialistas no Brasil. Umatemticaimportanteaindatratadapelosartigosavaliadosadeestgioseatividades complementaresnoensinodeAdministrao.Trevisan(2002)salientaquearealizaodeestgios extracurricularesfavoreceavivnciadarealidadeempresarial,contribuindoparaaformaoprofissional, especialmente em habilidades humanas: desenvolvimento de postura tica e crtica; relacionamento pessoal egrupal;capacidadedecomunicaoedesentir-seamadurecido.NascimentoeTeodsio(2005)buscam avaliar,emumcursodegraduao com uma proposta didtico-pedaggica modernizadora, a percepo de alunos e supervisores sobre o desenvolvimento de competncias, a partir da atividade de estgio. Apresentou-se uma viso panormica das principais problemticas abordadas pela produo cientfica brasileira sobre o ensino em Administrao, refletindo os interesses de pesquisadores brasileiros no perodo contempladopelaanlise.Busca-seidentificar,naseoseguinte,apresena,nosartigosavaliados,dos sete saberes propostos por Morin (2003b) para a educao . 163 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 6 Os sete saberes necessrios educao do futuro e o ensino em administrao Nota-sequeasidiasconcebidasporMorin(2003b)aparecememestudospontuais,nosendo representativasnosestudosanalisados.Debate-se,assim,algumascontribuiestrazidasporautores brasileirosalinhadascomaspropostasdossetesaberes.Destaca-secomolimitaodopresenteestudoa impossibilidadedecitartodasasfontesdosartigosanalisados,umavezquearestriodenmerode caracteres do artigo inviabiliza a citao de todos os autores dos trabalhos avaliados. Percebeu-sequepoucosartigostratamdosabercegueirasdoconhecimento.Nestetpico,oautor revela a importncia do conhecimento humano para que no se recaia em erro e iluso, devendo-se atentar paraasubjetividade,jqueelapode induzir ao erro. Apontou-se anteriormenteque o desenvolvimento da intelignciainseparveldomundoafetivo.Nestesentido,destacam-sealgumascontribuiesdosartigos analisados. A primeira revela que o aprendizado causa angstia, a qual puramente subjetiva. Tal angstia surgedadiferenaentreosdesejosinconscienteseascondiesparaasuarealizao,mostrandoquea influnciadarealidadedependedemecanismossubjetivoscomoapercepoeoprincpioderealidade. Outra contribuio a evidncia detectada por um estudo de que a competncia interpessoal, nos cursos de administrao,privilegiadaemdetrimentodaintrapessoal.Algunsalunosrevelamquemaisfcil responderaosdesejos,smotivaesdeoutraspessoasdoqueexpressarseusprpriossentimentos.No entanto,eliminarofocodeatenodesimesmopodeacabarsendoumaarmadilhaparaoaprendizado. Questesrelativascompreensodoparadigmavigente,assimcomodacultura,queagemdeforma invisvel,inconsciente,determinandoformasdeagiredepensar,sotambmabordadasemalgunsdos artigos analisados. Um trabalho que trata da utilizao de jogos de empresa como ferramenta pedaggica e de avaliao da aprendizagem dos participantes destaca que esta ferramenta proporciona maior realismo e integrao, na medidaemquecadaestudanteassumepapisaseremdesenvolvidos,emquedeverotomardecisese apresentardeterminadoscomportamentos,habilidadeseatitudes,almdeenvolversentimentoscomo cooperao,competio,insegurana,entreoutros.Estaferramentapedaggicapermitequeosalunos simulem a realidade, considerando o colega e a ele prprio como um ser complexo, que inclui seu modo de pensar e agir, conforme a cultura na qual est inserido. Artigos que trataram do ensino distncia tambm revelamaexistnciadestesaber,assinalandoquehumaaprendizagemcoletivadocente,poisofocoque anteseranocontedoenoprofessordevepassarasernoaluno,aumentandosuacapacidadereflexivae destacando a necessidade de mudana cultural e atitudinal discente e docente.Diversosartigosapontaramparapreocupaesrelacionadasaosaberprincpiodoconhecimento pertinente,cujafinalidadeacompreensodomundoatual,sendorelatadosaquialgunsexemplos.Este saberdestacaquesedeveprocurarcontextualizardadoseinformaesparaqueadquiramsentido.Um artigotratadaformaodosgruposemumadisciplinaintituladaDinmicadeGrupo,cujopropsito facilitaroautoconhecimentodosparticipanteseacompreensodavivnciadetenseseansiedadesem situao grupal. Defende-se a adoo de formao de grupos para fugir do ensino superior em administrao tradicional,querepetitivo,padronizado,seguindomodelosetcnicasimportadas.ParaBetioleGaleo-Silva(2004),aformadeensinoburocrticaafastaoalunodapossibilidadedecrticaecriatividadeem relaoaoconhecimentodarea.Percebe-sequeapreocupaodestespesquisadoresescapardaforma 164 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 tradicional de ensinar, padronizada, importadora de tcnicas, a qual reflete o histrico do ensino na rea de administrao. Tcnicasdesimulaesejogosqueapresentamautilizaodemtodosdecaso,comomtodos didticos,permitemapresentaraosalunosarelaoentreteoriaeprtica,conectandoconhecimentos fragmentados em diversas disciplinas e permitindo uma viso mais ampla e sistmica de uma situao. Na utilizaodejogos,osalunossocolocadosdiantedecasosreaisouhipotticosbaseadosemfatosreais, paraqueponderem,analisemetomemsuasdecises, facilitandoacompreensodomundoreal.Osjogos permitem,segundoStahleLopes(2004),atravsdecenriosfictcioscomaltograuderealismo,a compreensoporpartedosalunosdafunodosagentesambientaisdentrodaspolticaseestratgias empresariais.Artigosquetratamdoempreendedorismorevelamsuaconcepoemprincpioseducacionais construtivistas, implicando uma viso diferenciada da relao ensino-aprendizagem. Estes, em geral, buscam privilegiarainterdisciplinaridadenaorganizaocurricularerelacionaraaprendizagemcomouniversode conhecimentos e vivncias do aluno. Quantoaoensinaracondiohumana,algunsartigosrevelamtalpreocupaonoensinode administrao. Este saber aponta que cabe educao evidenciar a complexidade humana, compreendendo oserhumanoquefsico,biolgico,psquico,cultural,socialehistrico.Paratanto,aeducaodeve integrar a contribuio da filosofia, das artes, da literatura, da histria, entre outros. Tal postura parece estar sendoadotadaporalgunseducadoresdareadeadministrao.Pelomenostrsartigosapresentadosde 2004salientamaimportnciadeutilizarrecursosestticos(filme,msica,dana,teatro,fotografia,artes plsticas, literatura, entre outros) para contribuir na revitalizao da relao entre ensino e aprendizagem na rea. Especificamente dois artigos tratam da adoo do teatro para a formao gerencial. Umartigo,aoestudarasatisfaodealunosdagraduao,tambmevidenciaestesaber,ao enfatizaraquestodocrescimentocomoindivduosecomoprofissionais,apartirdoqueaprenderamno curso.Artigosquetratamsobreocursodeempreendedorismotambmabordamestesaber,propondoo desenvolvimentointegraldoseremsuasdimenseshumanas,tcnicasesociais,indissociveisemsua essncia (GARAY; DUH, 2004). O saber ensinar a identidade terrena igualmente retratado, ainda que em menor proporo do que os anteriores. Percebe-se o fortalecimento da idia que o aluno deve saber qual o seu papel na sociedade e que,aotrabalharemgrupo,precisasaberqueresponsvelporaquiloqueestproduzindo.Nota-sea questodaticaedaresponsabilidadesocialsendotrabalhadaemsaladeaula,talcomosugereMorin (2003b). Artigos que abordaram a questo do trabalho em grupo e os que estudaram a satisfao do aluno com o curso, so exemplos que retratam a questo deste saber. A questo apresentada no saber enfrentar as incertezas esteve presente em vrios artigos, j que o gestorprecisaconvivereaprenderalidarcomelas.Algunsestudossugeremquesedeixeapedagogia tradicional do saber, centrada no professor, para que se obtenha uma a construo coletiva do saber. Assim, o saber e o no saber esto em relao dialtica constante: professor e aluno interagem e, a cada momento, advidaeseuoposto,acerteza,emergemnogrupoemobilizamosparticipantes.Atravsdopensarem conjunto,dasansiedadesedvidas,ogrupovaiseconhecendo.Emmtodostaiscomoosqueempregam estudosdecasosemambienteshipertextuais,jogosetcnicasteatrais,entreoutras,estapreocupao tambm contemplada. 165 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 Outrosaber,poucopresentenaanlise,foioensinaracompreenso.Parecequeosalunosainda colocam os docentes em uma situao de onipotncia e que estes devem dar todas as respostas ao grupo, o qual fica dependente dos professores. Segundo Morin (2003b), necessita-se de uma reforma na mentalidade (tanto de docentes como de discentes). Algumas iniciativas pedaggicas, no entanto de forma isolada, esto buscandoeestimulandoestacompreenso,comoocasodeadoodedisciplinasdedinmicadegrupos citado anteriormente. Osaberaticadognerohumanoconcebequeindivduo,sociedadeeespciesoindissociveis. Destaca-seaproblemticadaresponsabilidadesocialrelacionadaaestesaber.Algunsdocentestm procurado,apartirdeexercciosemsaladeaula,estimularotrabalhoemgruposparaqueosalunos aprendam a respeitar as diferenas entre os integrantes e consigam atingir seus objetivos. A experincia da disciplinadedinmicadegruposervenovamentecomoexemplo.Elavisainserirosalunosempapis diferenciados;abreespaoparadiscusso,contribuiparaoprocessodaconstruodoconhecimentoentre alunos e professores; desenvolve uma viso crtica dos grupos, dos papis sociais e das instituies (BETIOL; GALEO-SILVA, 2004). A prpria adoo da temtica responsabilidade social como disciplina e como prtica das instituies deensino superior, determinada pelasnovas diretrizescurriculares, tem contribudo para a formao dos alunos de Administrao, tema enfocado em alguns estudos da rea de ensino e pesquisa.Ao analisar os artigos, verificou-se que vrios no contemplam nenhum dos sete saberes necessrios educaodofuturo,segundoMorin(2003b).Muitosenfocamquestesrelacionadasaoensinosobuma linha estritamente tradicional, fragmentada, no contemplando as diversas dimenses do ser humano e suas inter-relaes.Algunstratamdetemticaspresentesnopensamentocomplexodeformasuperficialeuma minoriaadotaaperspectivadacomplexidadecomoembasamentoparaseusestudos.Emnenhumartigo foramencontradostodosossetesaberes.Observou-se,entretanto,que,deummodoou de outro, os sete saberesforamabordadosemvriosdoscentoetrsartigosanalisados,indicandoqueosprincpios norteadoresdo pensamento complexo voltados para a educao, formulados por Morin (2003b), encontram eco entre alguns pesquisadores da rea de ensino em Administrao. 7 Consideraes Finais Os processos de formao de gestores, segundo Ruas (2005), encontram dificuldades na gerao de uma aprendizagem que leve atuao eficaz no contexto de negcios atual. Assim, educar profissionais para administrarorganizaesimplicapossivelmenteabuscadenovosmodeloseprocessosdeensinoque provoquem a transformao do pensamento e possibilitem o tratamento das dimenses tica, poltica, social e ambiental envolvidas em um desenvolvimento efetivamente sustentvel, capacitando-os para enfrentar as responsabilidades e os desafios que o contexto atual requer. AoavaliaraproduonareadeensinoemadministraodoEnANPAD,percebeu-seaumentono volume de estudos tericos que alertam igualmente para a necessidade de reviso do ensino-aprendizagem naformaogerencial,apartirde2002.Evidencia-se,assim,apreocupaodospesquisadoresembuscar alternativaspararealizarmudanasemaspectosrelacionadosaoensino,visandocompatibiliz-locomas demandas presentes. No entanto, os estudos analisados apontam que poucas mudanas tm, efetivamente, se verificado nas prticas de ensino. 166 Revista Gesto.Org 7 (2):150-169 Mai/Ago 2009 Ao sintetizar as contribuies trazidas pelos autores brasileiros, visualiza-se: necessidade de maior integraocurriculareinterdisciplinaridade;carnciadeumaeducaoproblematizadora,decarter reflexivo,voltadaparaainserocrticadosindivduosnasociedade;nfaseexcessivaemtcnicase ausnciadepreocupaocomvaloreseatitudes;visodaavaliaocomoprocessocontnuo,aservioda aprendizagem; possibilidades trazidas pelo uso de novas tecnologias de comunicao e informao.A partir das anlises dos trabalhos, surgem algumas questes: O desafio da universidade no seria o de ensinar o aluno a pensar, a buscar, a criar, a compreender por que hoje se faz assim, quais os limites e dificuldades desse fazer, seus pressupostos e implicaes? A viso de aluno-cliente, no entanto, permite que a universidade exera este papel? Esta viso exige reflexes, uma vez que possvel questionar se alunos, no papel de clientes, tm uma formao que os faa capazes de avaliar por si contedos e professores. Ser queopapeldoeducadornoseriajustamenteodeabrirosolhosdosalunosparanovaspossibilidades desconhecidas por ele, atravs de uma relao que oportunize o dilogo, relacionandonovos contedos com os interesses destes estudantes?EmboraosprincpiostrazidosporMorinparaaeducaodofuturonotenhamsidodiretamente exploradospelosestudiososdareadeensinoemAdministrao,percebe-seseupotencial de contribuio paraampliarperspectivassobreosistemadeensinonestecampoterico.Aspectoscomovalorizaoda subjetividade; contextualizao de informaes para que tragam sentido; resgate da importncia da filosofia edahistria,entreoutrashumanidades;reflexessobreresponsabilidadesocialedesenvolvimento sustentvel;constnciadaincerteza;solidariedade,nosentidodegerarpossibilidadesdesobrevivncia; tica so temas que ganham importncia na formao de administradores que atuam no contexto presente. ConformeMorin(2003a,p.35),oquevitalhojeemdianoapenasaprender,noapenas reaprender, no apenas desaprender, mas reorganizar nosso sistema mental para reaprender a aprender. Neste sentido, busca-se, atravs das anlises e reflexes realizadas neste estudo, ampliar o debate sobre o ensinoemAdministrao,afimdequeestepossatransformar-separaatendercrescentedemandapor aprendizagenssignificativas,quepossibilitemumaatuaoprofissionalconscienteeadequadafrentes complexidades encontradas pelos gestores neste contexto.Alguns passos iniciais j foram dados por autores do campo da administrao citados neste trabalho, atravsdabuscademtodosquecontempleminter-relaescomplexas,daprocurapelacontextualizao dosconhecimentos,daintegraodecontribuiesdashumanidades,doensinoprevendoasincertezas, entreoutros.Trata-se,noentanto,deumestudoinicial,buscandoarticularproposiesoriundasdo paradigmadacomplexidadeparaosestudosorganizacionais,visandocontribuirparaosdebatessobreo tema.Sugere-seanecessidadedenovosestudos,leituras,anlises,reinterpretaesereflexespara aprofundar esta questo, a fim de que este debate possa, no futuro, traduzir-se em propostas concretas para o desenvolvimento do ensino em Administrao. 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