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MARCUS VINICIUS MARIANO DE SOUZA NOVAS CENTRALIDADES NAS CIDADES MÉDIAS: ANÁLISE DO SUBCENTRO DO BAIRRO SANTA MÔNICA, UBERLÂNDIA (MG) Uberlândia 2008

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MARCUS VINICIUS MARIANO DE SOUZA

NOVAS CENTRALIDADES NAS CIDADES MÉDIAS: ANÁLISE DO SUBCENTRO DO BAIRRO SANTA

MÔNICA, UBERLÂNDIA (MG)

Uberlândia

2008

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Marcus Vinicius Mariano de Souza

NOVAS CENTRALIDADES NAS CIDADES MÉDIAS: análise do subcentro do bairro Santa Mônica, Uberlândia

(MG)

Monografia apresentada ao Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia como requisito à obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Orientador: Profa.Dra. Beatriz Ribeiro Soares (UFU).

Uberlândia

2008

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Marcus Vinicius Mariano de Souza

NOVAS CENTRALIDADES NAS CIDADES MÉDIAS: ANÁLISE DO SUBCENTRO DO BAIRRO SANTA MÔNICA, UBERLÂNDIA

(MG)

Profa.Dra. Beatriz Ribeiro Soares (Orientadora)

Prof. Msc. José Fernando Camacho (Faculdade Católica)

Prof. Dr. Vitor Ribeiro Filho (UFU-IG)

Data: 31/01/2008

Resultado: Aprovado (100,00)

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Aos meus pais, Carlinhos e Regina, pelo apoio incondicional.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por sempre iluminar meus caminhos e por todas as graças

concedidas para que eu pudesse alcançar meus objetivos;

Aos meus pais, Carlinhos e Regina, pilares de minha vida, por todos os sacrifícios que

fizeram para que eu me formasse no ensino superior, pelo amor e pelos ensinamentos,

que fazem parte do meu caráter. Amo muito vocês;

À minha irmã Thais e toda minha família, que sempre estiveram do meu lado em todos

os momentos, bons e ruins;

À Universidade Federal de Uberlândia, pela formação que recebi, não só acadêmica,

mas também de lições para a vida;

À minha orientadora, professora Beatriz Ribeiro Soares, minha mãe científica, por todos

os ensinamentos, pela liberdade dada para a elaboração desta monografia, pelos

conselhos e por ser mais do que uma professora. Boa parte de minha trajetória

acadêmica eu devo a você. Muito obrigado;

Ao PET-Geografia e aos amigos petianos, por tudo que aprendi durante 3 anos de

participação neste grupo, pelos conhecimentos, pelas amizades, brigas, festas, tudo que

faz parte de uma convivência em grupo. Se hoje sou um geógrafo, devo muito a este

grupo. Obrigado André, Artur, Camila, Cíntia Godói, Cíntia Queiróz, Dayane, Felipe,

Flávia, Francis, Getúlio, Hélio, Lorenna, Ludimila, Mariana, Matteus, Miriã, Nádia,

Naiara, Patrícia, Silvio Barbosa, Thais, Thalita;

Aos grandes amigos que fiz nesta caminhada e que com certeza permanecerão por toda

a vida: Alécio, Baltazar, Cíntia Godói, Clarice, Flávia, Francis, Getúlio, Hélio, Lorenna,

Ludimila, Mariana, Matteus, Naiara, Patrícia, Priscilla Alves, Silvio Barbosa, Thalita.

Ao professor Vitor Ribeiro Filho, pelas inúmeras contribuições que deu a este trabalho e

pela amizade;

Aos professores do Instituto de Geografia, principalmente, Roberto Rosa e Adriano

Rodrigues Santos, pelos ensinamentos e pela amizade;

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Ao pessoal do LAPUR (Laboratório de Planejamento Urbano e Regional), que me

recebeu neste ano, companheiros do dia-a-dia de trabalho: Prof. Júlio, Kelly Bessa,

Lidiane, Michelly, Kássia, Fernando.

Ao amigo George Silva (Garrafinha), pela enorme contribuição que deu na confecção

dos mapas desta monografia;

À Mizmar, por sempre ser prestativa e nos ajudar na hora do sufoco;

Aos amigos da república, por conseguirem me aturar durante tanto tempo e por tudo que

aprendi com vocês: Lucão, Vinícius (Jajá), Vinícius (Mano Quietinho), Éverton (Zé

Minhoca), Robson, Wagner, Alison (Tio Ális), Felipe (Véia), Guilherme (Frango),

Rômulo, Rangel (Bodão ou Tio Ted), Jean e Nouredine (franceses malucos);

À 47ª Turma de Geografia;

E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que este sonho se realizasse.

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Não sei de que modo o mundo me vê; mas a mim mesmo pareço ter sido apenas um menino brincando na praia, entretendo-me com encontrar de quando em quando um seixo mais liso ou uma concha mais bela do que o ordinário enquanto todo o vasto oceano da verdade jazia inexplorado diante de mim.

ISAAC NEWTON, 1727

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo compreender o processo de descentralização das atividades terciárias nas cidades médias e a formação de novas centralidades, a partir da análise do subcentro do bairro Santa Mônica, na cidade de Uberlândia (MG). Para isto, foram realizados mapeamentos da atividade terciária no bairro Santa Mônica, análises de dados estatísticos sobre a população de Uberlândia e análises de bibliografias sobre os temas espaço urbano, cidades médias, descentralização, centralização, ente outros. O trabalho está estruturado em três capítulos, sendo que o primeiro aborda as teorias sobre o espaço urbano e os processos que ocorrem neste espaço; o segundo capítulo fala sobre a expansão urbana de Uberlândia no século XX e as modificações intra-urbanas e o terceiro capitulo analisa a formação do subcentro comercial do bairro Santa Mônica, chegando à conclusão que este é um subcentro descontínuo, com as atividades terciárias concentradas em algumas avenidas do bairro.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Expansão urbana de Uberlândia segundo Moura (2003)...........................46

FIGURA 2 – Fotografia aérea do Campus Santa Mônica...............................................59

FIGURA 3 – Fotografia aérea, destacando o Center Shopping, Centro Administrativo e

Campus Santa Mônica ....................................................................................................61

FIGURA 4 – Avenida Belarmino Cotta Pacheco, importante via comercial do bairro

Santa Mônica ..................................................................................................................67

FIGURA 5 – Avenida Segismundo Pereira, principal via comercial do bairro .............68

FIGURA 6 – Vazios Urbanos no bairro Santa Mônica ..................................................69

FIGURA 7 – Avenida João Naves de Ávila – Serviços Automotivos ...........................71

FIGURA 8 – Avenida João Naves de Ávila – Casas de materiais para construção .......71

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LISTA DE MAPAS

MAPA 1 – Mapa de Localização do bairro Santa Mônica..............................................53

MAPA 2 – Uberlândia (MG): Principais Avenidas do Bairro Santa Mônica.................55

MAPA 3 – Uberlândia (MG): Divisão do Bairro Santa Mônica em Setores..................64

MAPA 4 – Uberlândia (MG): Estabelecimentos de Comércio e Serviços no Bairro

Santa Mônica ..................................................................................................................65

MAPA 5 – Uberlândia (MG): Estabelecimentos de Comércio e Serviços no Bairro

Santa Mônica – Setor 1....................................................................................................72

MAPA 6 – Uberlândia (MG): Estabelecimentos de Comércio e Serviços no Bairro

Santa Mônica – Setor 2...................................................................................................73

MAPA 7 – Uberlândia (MG): Estabelecimentos de Comércio e Serviços no Bairro

Santa Mônica – Setor 3...................................................................................................74

MAPA 8 – Uberlândia (MG): Lotes Vagos e Vazios Urbanos do Bairro Santa Mônica

(2004 e 2007)..................................................................................................................75

MAPA 9 – Uberlândia (MG): Materiais de Construção e Serviços

Automotivos...................................................................................................................78

MAPA 10 – Uberlândia (MG): Estabelecimentos Comerciais da Avenida João Naves de

Ávila...............................................................................................................................79

MAPA 11 – Uberlândia: Delimitação do subcentro do bairro Santa Mônica (2007).....80

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Uberlândia: Linhas do Transporte Coletivo que passam pelo Bairro Santa Mônica (2007).................................................................................................................52

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Classificações demográficas das cidades médias ....................................16

TABELA 2 – Brasil: Evolução da população urbana, rural e total (1940-2000) ...........21

TABELA 3 – Uberlândia: Evolução Populacional (1950-2000) ...................................39

TABELA 4 – Uberlândia: Taxas de crescimento populacional (1960-2000) ................40

TABELA 5 – Uberlândia: Tipos de estabelecimentos nas principais avenidas do bairro Santa Mônica (2007) ......................................................................................................63

TABELA 6 – Uberlândia: Tipos de estabelecimentos por setores do bairro Santa Mônica – 2007 ................................................................................................................68

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais

BNH – Banco Nacional de Habitação

CEF – Caixa Econômica Federal

CEPAL – Comissão Econômica para América Latina e Caribe

DAFU - Direction de l´Aménagement Foncier e de l´Urbanisme

DATAR - Délégacion à l´Aménagement du Territorie et à l´Action Régionale

DIT – Divisão Internacional do Trabalho

FAFIU – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Uberlândia

FCP – Fundação Casa Popular

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FUNDAG – Fundo Especial de Desenvolvimento Agrícola

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

MEC – Ministério da Educação

ONU – Organização das Nações Unidas

PADAP – Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba

PAIH – Plano de Ação Imediata para Habitação

PIB – Produto Interno Bruto

PCI – Programa de Crédito Integrado

PMU – Prefeitura Municipal de Uberlândia

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

PNDU – Política Nacional de Desenvolvimento Urbano

POLOCENTRO – Programa de Desenvolvimento dos Cerrados

PRODECER – Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados

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PUC – Pontifícia Universidade Católica

RECIME – Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias

UFU – Universidade Federal de Uberlândia

UIA – União Internacional dos Arquitetos

UNESP – Universidade Estadual Paulista

UnU – Universidade de Uberlândia

SFH – Sistema Financeiro de Habitação

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1

1 - O ESPAÇO URBANO: o processo de urbanização no Brasil, o desenvolvimento das cidades médias e as transformações no espaço intra-urbano......................................................................................................10

1.1 - As discussões sobre o conceito de cidade média..........................14

1.2 - O espaço urbano e a organização interna da cidade.....................21

1.3 - Centro, Centralidade, Descentralização: os processos

transformadores do espaço intra-urbano................................................24

2 - AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO URBANO DE UBERLÂNDIA NO SÉCULO XX .....................................................................................................33

2.1 - O processo de interiorização do Brasil: a “Marcha para o Oeste”, a construção de Brasília e a ascensão de Uberlândia a centro regional...................................................................................................33

2.2 - A expansão urbana de Uberlândia no século XX...........................41

 

3 – NOVAS CENTRALIDADES NAS CIDADES MÉDIAS: estudo do subcentro do Bairro Santa Mônica, Uberlândia (MG...................................................................................................................52

3.1) O Bairro Integrado Santa Mônica na atualidade.............................52

3.2) As origens do Bairro Santa Mônica.................................................56

3.3) Caracterização do subcentro Santa Mônica....................................62

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................82

REFERÊNCIAS.................................................................................................85

ANEXOS............................................................................................................90

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INTRODUÇÃO

O século XX marca o período de fortalecimento da urbanização da sociedade

brasileira e mundial. Durante três séculos o Brasil foi uma colônia de exploração de

Portugal, abastecendo a metrópole com as riquezas desta terra tupiniquim. Vários ciclos

passaram-se na economia colonial, como o do pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro, café,

todos eles ligados a uma economia baseada em produtos primários, já que era este o

papel que cabia às colônias na Divisão Internacional do Trabalho (DIT).

As significativas mudanças na urbanização brasileira estão intimamente ligadas

ao desenvolvimento da industrialização no país, principalmente após a década de 1950.

Algumas indústrias já existiam no país, mas é a partir do mandato presidencial de

Juscelino Kubitschek, com seu Plano de Metas e o objetivo de desenvolver o Brasil “50

anos em 5” é que a industrialização ganha força.

À medida que o processo de industrialização ganhava corpo, a população urbana

do país ia crescendo, visto que as indústrias instalaram-se nas cidades, abrindo

oportunidades de emprego no setor secundário e também no terciário. O Brasil não

deixava de ser um país agrário-exportador, mas passava a ocupar novos papéis na DIT

e, conseqüentemente, trazia modificações para seu território.

Entre as modificações está o fortalecimento das cidades como local de

desenvolvimento da vida da sociedade. Na década de 1970 a população urbana já era

maior do que a rural no Brasil. Houve um aumento considerável na migração rural-

urbana, pois as cidades ofereciam melhores oportunidades de trabalho. Neste sentido, as

grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, que concentravam as

indústrias do país, receberam grandes contingentes populacionais.

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As grandes cidades não estavam preparadas para receber grandes levas de

migrantes. A infra-estrutura urbana era inadequada para garantir uma boa qualidade de

vida a todos os moradores dos grandes centros urbanos. Assim, começam a crescer as

periferias nos grandes centros, ocupando áreas ilegais como morros e várzeas, sem

nenhum planejamento, desprovidas de saneamento básico, de sistemas de transportes,

telecomunicações, energia, dificultando a vida de seus moradores, o que acabaria por

gerar vários problemas sociais, entre eles a violência.

É chegado um momento em que as áreas metropolitanas, principalmente do

Centro-Sul, atingem um inchaço urbano, não sendo mais capazes de receber grandes

levas de migrantes. Era preciso barrar esta migração, evitando que ela chegasse às

metrópoles. Para isso, era preciso dinamizar outros centros urbanos, para que fossem

capazes de receber estes migrantes e oferecer uma qualidade de vida melhor do que nas

metrópoles. Assim, as cidades médias surgem como alternativa para o equilíbrio do

sistema urbano brasileiro.

A partir da década de 1970 a urbanização brasileira começa a seguir uma nova

etapa, com o crescimento das cidades médias. Políticas governamentais são formuladas

para estimular o fortalecimento das cidades de porte médio, entre estas medidas está a

Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU), presente no II Plano Nacional

de Desenvolvimento (PND), de 1974. Um dos objetivos da PNDU era o

desenvolvimento de pólos secundários e centros periféricos de médio porte em todas as

regiões do país.

Ainda na década de 1970 importantes programas governamentais levaram à

modernização da agricultura e a ampliação da fronteira agrícola do país. Algumas

cidades médias passaram a ser importantes centros de ligação da produção do campo

com os circuitos do capitalismo global. A partir da década de 1980 o Brasil passa por

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um processo de desconcentração industrial. As indústrias saem das áreas metropolitanas

e vão se localizar em centros dotados de infra-estrutura, capazes de dinamizarem a

produção. Assim, as cidades médias vão ampliando seus papéis perante a rede urbana

brasileira, tornando-se alvo de investimentos, inovações e propagação de idéias.

Estas mudanças ocasionadas pelas cidades médias no sistema urbano brasileiro e

as constantes redefinições de seus papéis na rede urbana têm sido alvo de inúmeros

estudos por parte de pesquisadores brasileiros, o que levou à recente criação da Rede de

Pesquisadores sobre Cidades Médias (RECIME), que está criando uma metodologia de

estudo para as cidades médias, visando compreender estas redefinições de seus papéis e

entender como se configuram as estas cidades no atual momento. Destacamos

pesquisadores como Maria Encarnação Beltrão Sposito (UNESP-Presidente Prudente),

Oswaldo Bueno Amorim Filho (PUC-MG), Beatriz Ribeiro Soares (UFU), que têm

trabalhado com a temática das cidades médias há alguns anos, contribuindo para

enriquecimento da pesquisa neste campo da Geografia Urbana.

Além das modificações que as cidades médias tiveram perante a rede urbana,

também ocorreram mudanças significativas no espaço intra-urbano. Tradicionalmente,

as cidades possuíam um centro único, polarizador das atividades de comércio, serviços e

do consumo no interior das cidades. Com o crescimento populacional das cidades, os

novos habitantes passam a ocupar novas áreas, expandindo o tecido urbano e criando a

necessidade de outras áreas comerciais, para atender esta população. Além disso, o

desenvolvimento dos transportes públicos e a “invasão” do automóvel na sociedade

moderna contribuem para a acessibilidade dos habitantes às novas áreas da cidade.

Assim, as áreas centrais passam por um processo de descentralização das atividades

terciárias, ocasionando o surgimento de “novas centralidades” na malha urbana. Este é

um fenômeno que, inicialmente, ocorreu nas grandes metrópoles, mas que hoje já se faz

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presente nas cidades médias. Entre estas novas centralidades estão os shoppings centers,

os eixos comerciais, áreas especializadas e os subcentros.

Diante do pressuposto de que as cidades médias estão passando, assim como as

metrópoles, por um processo de descentralização e de surgimento de novas

centralidades, a presente pesquisa tem como objetivo geral compreender o processo de

descentralização das atividades terciárias nas cidades médias e a formação de novas

centralidades, a partir da análise do subcentro do bairro Santa Mônica, na cidade de

Uberlândia (MG). Além disso, também existem os objetivos específicos de analisar o

conceito de cidades médias, buscando relacioná-lo com o processo de descentralização e

centralização; avaliar as transformações ocorridas no espaço urbano de Uberlândia no

século XX, que levou à criação de novas centralidades na cidade; entender os processos

que levaram à formação de um subcentro no bairro Santa Mônica bem como a

configuração atual deste subcentro; propor a delimitação do subcentro comercial do

Santa Mônica.

O Plano Diretor de Uberlândia de 2006 traz como uma de suas diretrizes a

consolidação e diversificação dos subcentros. Porém, este plano não indica o que o

poder público municipal considera como subcentro, além de não delimitar aqueles que

ele diz existir. O Bairro Santa Mônica aparece no Plano Diretor como sendo uma das

áreas onde existe subcentro. Por isso, é necessário realizar estudos para compreender

como se configura e quais as características destes subcentros, para que as políticas

implementadas pelo poder público sejam baseadas em fatos concretos, evitando o

desperdiço dos recursos públicos. A escolha do subcentro do bairro Santa Mônica deve-

se ao vínculo afetivo do graduando com este bairro. Além disso, faz partes de

perspectivas de desenvolver futuramente um estudo mais abrangente sobre as novas

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centralidades na cidade de Uberlândia, por fazer parte do grupo de pesquisadores da

Recime, que está estudando esta cidade.

Uberlândia (MG) possui 608.369 habitantes de acordo com estimativa da

Contagem Populacional de 2007, realizada pelo IBGE. É a terceira maior cidade do

estado, atrás apenas de Belo Horizonte e Contagem. O município apresenta o terceiro

maior Produto Interno Bruto (PIB) do estado, atrás novamente de Belo Horizonte e

Contagem. O PIB per capita do município é maior do que o do estado de Minas Gerais e

do Brasil. Para o ano de 2003, a participação do setor de serviços no PIB municipal era

de 46,48%, sendo o mais importante. O setor industrial vem logo em seguida, com

38,70% (UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA-UFU, 2006).

O crescimento de Uberlândia esteve bastante ligado com a implantação de infra-

estruturas na cidade, com destaque principalmente para as rodovias, o que possibilitou a

cidade tornar-se o maior pólo atacadista da América Latina. Além disso, podemos citar

outros fatores importantes, como a construção de Brasília, a modernização da

agricultura, a atuação das elites junto ao poder público e a instalação da UFU. Estes

fizeram de Uberlândia uma cidade atrativa para vários migrantes, o que fez com que a

população da cidade crescesse 301,91% entre 1970-2000.

Este elevado crescimento populacional em período de tempo relativamente

pequeno provocou profundas alterações no espaço urbano desta cidade, levando à

descentralização das atividades terciárias, criando novas centralidades no interior da

cidade. Entre estas novas centralidades está o subcentro do bairro Santa Mônica. Tal

bairro, localizado no Setor Leste da cidade, é o maior em tamanho populacional e em

extensão territorial. A formação de um subcentro no Santa Mônica está relacionada com

instalação da UFU neste bairro (Campus Santa Mônica), com a chegada do novo Centro

Administrativo, na década de 1990 e com a acessibilidade que o bairro possui.

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Para a realização deste estudo, a pesquisa foi estruturada em três etapas. A

primeira delas constituiu-se de uma ampla revisão bibliográfica sobre os temas

abordados na pesquisa: urbanização brasileira, cidades médias, espaço urbano,

centralização, descentralização, novas centralidades, a fim de amparar as construções

realizadas durante a pesquisa em uma base teórica consistente. Também foi realizada

uma pesquisa bibliográfica a respeito da expansão urbana de Uberlândia, a fim de

compreender como esta poderia levar à formação de novas centralidades na cidade,

principal objeto da pesquisa.

Foram analisados dados secundários, produzidos pelo IBGE, Prefeitura

Municipal, UFU. Enfatizou-se a questão dos dados sobre as mudanças demográficas

ocorridas na cidade, o que foi importante para compreender todo o processo que levou à

descentralização das atividades terciárias. Estes dados estão organizados em quadros e

tabelas.

A segunda etapa foi a realização de trabalhos de campo no bairro Santa Mônica,

a fim de delimitar seu subcentro e realizar o mapeamento da atividade comercial e de

serviços. Foi adotado o Bairro Integrado Santa Mônica como área de estudo, criado pela

Lei Municipal 5900, de 1993. Os trabalhos de campo foram realizados com auxílio de

uma base cartográfica do bairro, elaborada pela Prefeitura Municipal de Uberlândia.

Também foram utilizadas ortofotos do bairro, do ano de 2004, para identificar os vazios

urbanos. Antes dos trabalhos de campo que visavam o mapeamento do bairro foi

realizado um trabalho de campo preparatório, em outubro de 2007, para avaliar as áreas

que deveriam ser representadas nos mapeamentos. Neste trabalho de campo

preparatório foi possível perceber que a atividade comercial do Santa Mônica está

concentrada nas principais avenidas, que cortam o bairro no sentido oeste-leste. As ruas

que cortam o bairro no sentido norte-sul têm uso preferencialmente residencial, com

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atividades terciárias praticamente inexistentes. Por isso, estas ruas não foram incluídas

nos mapeamentos. Além disso, no mapeamento da Avenida João Naves de Ávila foi

considerado apenas um dos seus lados, por ser o único a fazer parte do bairro integrado

Santa Mônica.

Para a realização dos trabalhos de campo foi elaborada uma tabela que agrupou a

atividade terciária em 20 categorias para serem representadas nos mapas. Inicialmente, a

idéia era fazer o mapeamento por lotes, já que havia uma base cartográfica com a

divisão do bairro em lotes. Porém, no trabalho de campo preparatório percebeu-se ser

incompatível o uso desta base, já que o que se apresentava na realidade era diferente do

que estava na base cartográfica. Por exemplo, foram encontrados lotes com mais de um

tipo de uso, o que impossibilitava o mapeamento por lotes. Para contornar tal problema

foi elaborada uma matriz de mapeamento, a partir da qual foram catalogados todos os

usos do solo apresentados, independentemente dos lotes. Os trabalhos de campo foram

realizados no mês de novembro de 2007, no período diurno, em horário comercial, já

que o principal objetivo era o mapeamento do comércio e dos serviços no bairro.

Após os trabalhos de campo e a confecção dos mapas foi realizada a terceira

etapa da pesquisa, a análise dos mapeamentos e a redação final do trabalho

Esta monografia está estruturada em três capítulos. O primeiro deles aborda o

processo de urbanização do Brasil, principalmente no século XX. O processo de

industrialização serviu para integrar o mercado interno brasileiro, antes fragmentado em

‘ilhas’ de produção, além de influenciar no processo de urbanização. Ocorreram

importantes mudanças no padrão de distribuição da população brasileira, que vai

tornando-se mais urbana do que rural ao longo do século.

O crescimento da população urbana torna-se acentuado nos grandes centros

urbanos, o que vai gerar um desequilíbrio do sistema urbano e econômico do país, até

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atingir um estágio de inchaço urbano. Era preciso desenvolver outros centros urbanos,

para equilibrar este sistema; então são aplicadas políticas governamentais para o

desenvolvimento das cidades médias. Diversos são os critérios adotados no Brasil e no

mundo para se ter uma noção do que são as cidades médias. Mas elas foram importantes

na reestruturação do sistema urbano brasileiro e passaram/passam por redefinições nos

seus papéis na rede urbana e, conseqüentemente, no seu espaço intra-urbano.

Neste capítulo também é realizado um estudo a respeito das teorias do espaço

urbano e também da organização interna da cidade, além dos processos que provocam

modificações no interior da cidade, como a centralização, descentralização e as novas

centralidades.

Já o segundo capítulo trata da expansão urbana de Uberlândia ao longo do século

XX. A instalação da ferrovia ligando o Triângulo Mineiro ao estado de São Paulo foi

fundamental para o desenvolvimento da região. Para Uberlândia foi importante o

desenvolvimento das rodovias, que garantia a articulação desta cidade com outras da

região, o que a fez crescer como centro atacadista. Outros fatores importantes no

desenvolvimento econômico de Uberlândia foram a construção de Brasília e as políticas

governamentais voltadas para a modernização da agricultura. Assim, a cidade torna-se

atrativa para investimentos e para migrantes de várias partes do país. A isto, associa-se

um grande crescimento populacional e espacial de Uberlândia, em que foram

importantes vários agentes, entre eles o Estado e o Poder Público Municipal.

No terceiro capitulo está a relação de como a expansão urbana de Uberlândia

levou à criação de novas centralidades na cidade, analisando a formação do subcentro

do bairro Santa Mônica. Percebeu-se que este subcentro tem uma configuração

diferenciada, apresentando algumas áreas específicas para a comercialização de certos

produtos, o que levou a proposição de classificá-lo como subcentro descontínuo.

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Por fim, nas considerações finais são avaliadas as relações entre a pesquisa

teórica e a pesquisa empírica, além de serem levantados alguns apontamentos que

podem nortear futuras pesquisas tanto no bairro Santa Mônica quanto em relação às

novas centralidades nas cidades médias.

1 – O ESPAÇO URBANO: o processo de urbanização no Brasil, o desenvolvimento das cidades médias e as transformações no espaço intra-urbano.

A sociedade capitalista, ao longo do tempo, passou por diversas transformações,

nas mais diferentes esferas de sua vida. Muitas destas transformações estão ligadas à

mudança na base material da sociedade, ou seja, à mudança no padrão tecnológico. A

Revolução Industrial ocorrida nos séculos XVIII e XIX imprimiu profundas alterações

na sociedade humana, dentre elas a mudança de sua base econômica, de uma economia

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agrícola para uma industrial, que intensificou, entre outras conseqüências, a urbanização

da sociedade.

Esta mudança da base econômico-tecnológica deu maior importância às cidades,

que passaram a ser o principal local de concentração da população, gerando um

crescimento urbano que, segundo Clark (1982), é uma característica do

desenvolvimento das economias mais avançadas, tornando as cidades foco de estímulos

sociais, culturais e intelectuais.

No Brasil, este processo não foi diferente. Durante séculos ele foi um país

essencialmente agrícola, com a grande maioria da população concentrada na zona rural.

As cidades existentes no Brasil eram apenas mecanismos da metrópole portuguesa

marcar presença na sua colônia (SANTOS, 1994). A urbanização no Brasil começa a

ganhar importância ainda no século XVIII, segundo Santos (1994), com a ida dos

senhores de engenho para suas casas nas cidades. No século XIX, esta urbanização

atinge uma maturidade e no século XX adquire as características que conhecemos hoje.

Outro fator que colaborou para o crescimento da importância das cidades foi o

fim da estrutura de arquipélago1 existente no Brasil, em que havia diversas “ilhas” com

produções específicas e voltadas ao mercado externo, inexistindo articulações entre

estas ilhas. O fim desta estrutura foi possível graças à expansão da cafeicultura em São

Paulo, baseada no trabalho assalariado, que gerou algumas demandas, fazendo com que

fosse possível a troca de mercadorias entre as “ilhas”, iniciando aí uma articulação

regional no Brasil (BECKER; EGLER, 1998). As cidades passam a ser os locais onde

estes produtos são encontrados, o que provoca o crescimento do consumo e de sua

importância estratégica para o fortalecimento desta integração, já que estas se tornam

locais de armazenamento, transporte e comercialização dos produtos (SINGER, 1977).

                                                            1 Cf. BECKER & EGLER (1998)

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A constituição deste mercado interno de produtos, além dos mercados de capital e mão-

de-obra, aliados ao desenvolvimento do sistema de transportes (sobretudo ferroviário)

contribuíram para o processo de industrialização (primeiramente com mais intensidade

em São Paulo), modificando o padrão econômico do país e ativando um processo de

urbanização, a partir da segunda metade do século XX.

Ao comparar a população brasileira nas décadas de 1940 e 1980 Milton Santos

(1994) chega à conclusão de que neste período a população total triplicou e população

urbana cresceu sete vezes e meia. A explicação para isto é dada, segundo autor, pela

afirmação do meio técnico-científico-informacional, que pode ser definido como:

Esse meio técnico-científico (melhor será chamado de meio técnico-científico-informacional) é marcado pela presença da ciência e da técnica nos processos de remodelação do território essenciais às produções hegemônicas, que necessitam desse novo meio geográfico para a sua realização. A informação, em todas as suas formas, é o motor fundamental do processo social e o território é, também, equipado para facilitar a sua circulação. (SANTOS, 1994. p. 35).

Assim, as cidades começam a ganhar mais importância, à medida que passa a

concentrar população e também se torna locus das trocas entre os produtos do campo e

o consumidor, regulando, segundo Santos (1994), o que é produzido na zona rural.

Até a década de 1970, a população urbana brasileira estava localizada junto aos

grandes centros. Neste momento, a rede urbana do país era composta por duas

metrópoles nacionais (Rio de Janeiro e São Paulo), além de algumas metrópoles

regionais (como Belém, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre) e uma vasta rede de

pequenas cidades sem funções complementares às metrópoles regionais, servindo

apenas de ligação entre o urbano e o rural (ANDRADE; LODDER, 1979). Isso fazia

com que as metrópoles além de concentrarem as funções políticas também

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centralizavam as atividades econômicas, ampliando as desigualdades econômicas entre

as cidades.

Esta concentração de pessoas nas cidades não ocorreu apenas nas grandes

metrópoles, mas cidades dos mais variados tamanhos tiveram um considerável aumento

em suas populações. Por exemplo, nas cidades com mais de 20 mil habitantes este

aumento foi de 4,58 vezes entre 1950 e 1980. Estes pequenos núcleos urbanos tiveram

crescimento da população urbana maior do que a população total e a população urbana

do país. Além destas, sobe de 33 para 85 o número de cidades com população entre

200.000 e 500.000, no período de 1970 e 1991 (SANTOS, 1994).

Porém, o crescimento populacional das cidades supracitadas está ligado, entre

outros fatores, a políticas de ordenamento territorial que visavam ‘desafogar’ as

metrópoles, que eram áreas de forte atração para movimentos migratórios.

Esta centralização de poder político-econômico fazia com que as metrópoles fossem áreas de atração de fluxos migratórios. Isto levava à concentração de população nestas áreas, causando o inchaço urbano além de outros problemas como desemprego, violência. As cidades médias, então, foram vistas como uma ferramenta capaz de interromper os fluxos migratórios para as metrópoles. (SOUZA; RIBEIRO FILHO, 2007, p.3).

O desenvolvimento das cidades médias foi visto, então, como uma forma de

frear o deslocamento de migrantes para as áreas metropolitanas, já saturadas. Em 1974,

o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), através da Política Nacional de

Desenvolvimento Urbano, tinha, entre outros objetivos, estruturar o sistema urbano

brasileiro e isso passava pela definição de pólos secundários.

Para Amorim Filho e Serra (2001, p.19) era necessário investir nas cidades

médias, para melhor equilibrar o sistema urbano brasileiro.

[...] a cidade média era cada vez mais necessária porque representava uma das alternativas de manutenção do sistema socioeconômico

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vigente. O mau funcionamento (medido em termos de custos sociais), gerado pela concentração exagerada de homens, de atividades e de capitais, tinha de ser corrigido de algum modo, porque o mercado não conseguiu alocar os fatores produtivos de forma espacialmente equilibrada: nesse caso, as cidades médias representam válvulas de desconcentração que conseguem diminuir o mau funcionamento do sistema capitalista.

Em todo o país as cidades médias foram alvo de políticas que visavam dar este

equilíbrio no sistema urbano brasileiro. Na Região Sudeste era preciso haver uma

desconcentração de atividades e populacional do Rio de Janeiro e São Paulo para

centros periféricos de médio porte; na Região Sul as cidades com mais de 50 mil

habitantes receberiam as maiores atenções; no Nordeste era preciso melhorar a infra-

estrutura de pólos secundários regionais; para o Norte e Centro-Oeste fazia-se

necessário dinamizar as capitais e outras cidades estrategicamente localizadas

(STEINBERGER; BRUNA, 2001).

Estas ações governamentais explicam, em parte, o crescimento populacional de

cidades de menor porte e o aumento do número de cidades médias, como foi

anteriormente citado. Porém, quando se fala em cidades médias ainda fica a dúvida do

que realmente seriam estas cidades. Afinal, existe um conceito de cidades médias? Há

uma classificação, um limiar, para definirmos quais são estas cidades? Estas são

dúvidas que se pretende responder a seguir.

1.1) As discussões sobre o conceito de cidade média

Quando a expressão ‘cidade média’ é empregada, seja no cotidiano ou na

academia, traz implícita a idéia de classificação de cidades, pois já que existe a cidade

média, também deve haver a pequena e a grande, além de ser possível uma mudança de

classes, como uma cidade pequena passando para cidade média. Mas esta definição não

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é tão simples como no exemplo supracitado. Apesar do uso do termo ser corrente na

Geografia Urbana desde a década de 1970, quando as cidades médias tiveram

importante papel nas políticas de ordenamento territorial (no Brasil e em outros países,

como a França), ainda não há um consenso definitivo sobre esta categoria de cidade.

Esta idéia simplista de classificação de cidades ao se mencionar o termo cidade

média está associada a uma classificação das cidades pelo seu tamanho populacional.

Eis aí uma das primeiras dificuldades para se elaborar um conceito definitivo, já que os

limiares demográficos mudam bastante, de um país para outro, dentro de um mesmo

país ou com o passar dos anos.

Em 1996, na Conferência Habitat II, realizada em Istambul, Turquia, a ONU

(Organização das Nações Unidas) apresentou como cidades médias aquelas

compreendidas no intervalo de 100.000 e 3.000.000 de habitantes. Já na França,

diferentes órgãos governamentais produziram diferentes classificações: para o DATAR

(Délégacion à l´Aménagement du Territorie et à l´Action Régionale) as cidades médias

são aquelas com população entre 30.000 e 200.000 habitantes; já para o DAFU

(Direction de l´Aménagement Foncier e de l´Urbanisme) estas cidades são aquelas cujo

número de habitantes está entre 20.000 e 100.000 habitantes (MARQUES DA COSTA,

2002). No Brasil da década de 1970 as cidades médias eram aquelas com população

entre 50.000 e 250.000 habitantes. Hoje, pra o IBGE, são aquelas cuja população está

entre 100.000 e 500.000 pessoas. A TABELA 1 apresenta os critérios demográficos

utilizados em alguns países e por algumas instituições para a definição do que são

cidades médias.

Mas o tamanho demográfico também pode fornecer importantes informações a

respeito de uma cidade. Quanto maior a população de uma cidade, maior o seu espaço

intra-urbano, maiores serão as distâncias entre centro e periferias, mais complexa será

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esta organização intra-urbana, com uma maior divisão social do espaço, que pode

implicar na diversidade de funções urbanas exercidas pela cidade (CORREA, 2007).

Além disso, os critérios demográficos servem para dar uma rápida noção de

quais cidades poderiam ser encaixadas nessa definição. Castello Branco (2007) diz que

as linhas de abordagem para a investigação das cidades médias são o tamanho

populacional e a estruturação urbana. Para ela, o tamanho populacional permite

apreender o papel que o centro urbano exerce na sua rede urbana, quando não existem

informações mais específicas. Por isso a autora considera como não recomendável o uso

de uma única faixa populacional para os estudos de cidades médias, pois isso pode

aglutinar cidades com diferentes papéis na rede urbana. Desta maneira, Castello Branco

(2007) utiliza a centralidade interurbana, através da dinâmica de fluxos, para buscar

uma definição de cidades médias no Brasil.

TABELA 1 – CLASSIFICAÇÕES DEMOGRÁFICAS DAS CIDADES MÉDIAS

PAÍSES / INSTITUIÇÕES

TAMANHO DEMOGRÁFICO DAS CIDADES MÉDIAS (mil

habitantes) Alemanha 150.000 - 600.000 Argentina 50.000 - 1.000.000

Banco Mundial até 1.000.000 Brasil 50.000 - 250.000 e 100.000 - 500.000

Dinamarca < 100.000 Espanha 30.000 - 130.000

EUA 200.000 - 500.000 França 20.000 - 100.000 Grécia 50.000 - 100.000 e 10.000 - 50.000 Itália 50.000 - 200.000 e 100.000 - 300.000 ONU 100.000 - 3.000.000

Paquistão 20.000 - 100.000 Portugal 20.000 - 100.000 Irlanda 50.000 - 100.000

Reino Unido 150.000 - 600.000

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Suécia 50.000 - 200.000 União Européia 20.000 - 500.000

Fonte: MARQUES DA COSTA, 2002 BELLET; LLOP, 2003

As cidades médias constituem nós da rede urbana e servem a sua área de influência como pontos de prestação de serviços em escala regional. Seu tamanho populacional e a área de atuação variam segundo características geográficas das regiões onde estão inseridas (CASTELLO BRANCO, 2007, p. 90).

A questão sobre o tamanho populacional é que ele terá diferentes significados de

acordo com o sistema urbano em que a cidade está inserida. Cidades de diferentes

tamanhos populacionais podem exercer papéis semelhantes na rede urbana, dependendo

de sua localização.

Uma cidade média localizada numa região despovoada não teria o mesmo papel que outra localizada numa região densamente povoada. Ou seja, uma cidade com cerca de 20.000 habitantes localizada numa região despovoada, pelas funções que desempenha, poderá ser considerada uma cidade média e, pelo contrário, uma cidade com três vezes mais essa população, se inserida numa região fortemente urbanizada, pode desempenhar menos funções que cidades de dimensão inferior inseridas em contextos regionais, demográficos e econômicos desfavorecidos (MARQUES DA COSTA, 2002. p. 113).

Além do tamanho demográfico, a temporalidade e a escala também podem ser

apontadas como entraves à elaboração do conceito de cidades médias. Com relação à

temporalidade, se pensarmos no caso brasileiro, as funções que uma cidade de 100.000

habitantes exercia na década de 1940, em que o país era essencialmente rural, são

completamente diferentes das funções realizadas para uma cidade do mesmo tamanho

populacional hoje. Com relação à escala, usamos o exemplo de Corrêa (2007) para

Aracajú, capital de Sergipe, que para a escala brasileira pode ser considerada uma

cidade média, mas para a escala estadual ela representa um exemplo de macrocefalia

urbana.

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Tais dificuldades apontam outros caminhos para se chegar a uma definição do

conceito de cidade média. Assim, a funcionalidade tem-se apresentado como um

caminho para se chegar a esta definição. A intermediação, a articulação das cidades

pequenas e áreas rurais com o consumo de bens e serviços mais sofisticados,

disponíveis em espaços mais desenvolvidos, é que deve caracterizar a cidade média.

Para Sposito (2001) o que condiciona a cidade média são as relações espaciais que ela

estabelece com os espaços mais próximos e com os mais distantes. É preciso, pois,

observar as relações que estas cidades mantêm com sua área de entorno, conforme

analisa Bellet e Llop (2003, p.14):

La ciudad intermedia no puede definirse tan solo por el número de población que esta acoge. Tan o más importante es el papel y la función que a ciudad juega en su territorio más o menos inmediato, la influencia y relación que ejerce y mantiene en éste y los flujos y relaciones que genera hacia el exterior.

Isto levou alguns estudiosos, como Amorim Filho e Serra (2001), Bellet e Llop

(2003) a definirem condições para que uma cidade possa ser considerada cidade média.

Entre estes requisitos estão o de interagir com aglomerações urbanas de diferentes

hierarquias, seja superior ou inferior; ser um centro provedor de bens e serviços para os

habitantes de sua hinterlândia, inclusive das áreas rurais; promover a interação social,

econômica e cultural; descentralizar estruturas administrativas do governo, ente outras

características.

Estas referências à intermediação exercida pelas cidades médias levaram à

formulação de outro conceito/noção, o de cidades intermediárias. Freqüentemente estas

duas noções são tratadas como similares, mas alguns autores frisam diferenças entre as

cidades médias e as intermediárias.

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Alguns estudiosos, como os ligados à UIA (União Internacional dos Arquitetos)

ou a CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), não fazem distinção

entre cidades médias e intermediárias. Porém, outros pesquisadores como Gaspar

(2000), Marques da Costa (2002), Bolay et al (2003) defendem que existem diferenças

entre os dois conceitos em questão. Para estes autores as cidades médias são definidas

apenas pelo seu tamanho demográfico; por outro lado, as cidades intermediárias são

aquelas que fazem a articulação entre os diferentes níveis hierárquicos do sistema

urbano, sendo que esta articulação ou intermediação se dá no caráter demográfico,

econômico, político, social e cultural.

[...] algunos autores utilizan las nociones de ciudad mediana, intermedia o secundaria como sinónimos, se trata en realidad de conceptos diferentes. La intermediación se define basicamente a partir de las funciones cumplidas por la ciudad en diferentes escalas y/o sectores. La ciudad intermedia no debe confundirse con la ciudad mediana, definida esta última en función de su tamaño (superfície) y su nivel demográfico (cantidad de población). En la noción de ciudad intermedia en cambio, no estamos hablando de la ciudad en si, de sus características internas exclusivamente, sino de la ciudad en relación con su entorno (regional, nacional, internacional)”. (BOLAY et al, 2003. p.2) .(Grifos dos autores).

A dificuldade de se chegar a um consenso sobre o conceito de cidades médias

também está ligada ao fato que estas cidades têm sofrido redefinições nos seus papéis

dentro da rede urbana, a partir das modificações da divisão territorial do trabalho. As

cidades médias ainda possuem relação direta com a área sobre a qual ela é capaz de

exercer influência. Entre os processos que têm provocado essa redefinição na rede

urbana estão, segundo Sposito et al (2007), a concentração e centralização econômica,

que leva à concentração e centralização espacial. A saída dos parques industriais das

áreas metropolitanas e sua expansão para as cidades médias é uma conseqüência deste

processo. O capital fixo vai para as cidades médias, aumentando seus papéis no sistema

urbano, enquanto que as metrópoles centralizam o poder de decisão.

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Além destes fatores, a melhoria e diversificação do sistema de transportes e

comunicação contribuíram para estas redefinições. Isto leva a uma diminuição nos

custos de produção e dos produtos finais, aumentando a oferta de produtos nas cidades

médias, além de diminuir os gastos com deslocamentos, o que possibilita um aumento

do poder de consumo das pequenas cidades, podendo se deslocar até as cidades médias

para esta tarefa (SPOSITO et al, 2007).

Também são importantes nas redefinições dos papéis das cidades médias na rede

urbana as novas formas de organização espacial das atividades econômicas ligadas ao

comércio de bens e serviços e o consumo de bens e serviços ligados à modernização da

agropecuária (SPOSITO et al, 2007).

A definição das cidades médias pela via da funcionalidade está muito ligada à

definição dos seus papéis regionais e às suas articulações. Elas então são definidas pelo

mercado regional e pela sua teia de relações com espaços urbanos de mesma ou maior

importância (SPOSITO et al, 2007).

As relações entre a cidade média e seu espaço rural e regional deixam de ser suficientes para compreender o contexto em que ela se insere. Ampliaram-se suas relações hierárquicas com as cidades maiores da mesma rede, sobretudo com as metrópoles que a articulam com a escala internacional; estabeleceram-se relações de complementaridade com outras cidades de importância semelhante; alteraram-se suas relações com as cidades pequenas, pois esse processo veio acompanhado de modernização da agricultura que gerou movimentos migratórios do campo para as cidades e das cidades pequenas para as cidades médias e grandes (SPOSITO, 2007a, p.236-237).

Tal desenvolvimento das cidades médias e sua importância perante sua

hinterlândia regional, leva à diversificação e concentração de atividades comerciais e de

serviços, atraindo os consumidores das áreas rurais e também das cidades no entorno.

Isso faz que existam diferenciações no espaço urbano, capazes de atender à demanda

interna e externa em busca do consumo e dos serviços oferecidos pelas cidades médias.

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Essas diferenciações ocorridas no espaço urbano estão ligadas aos vários agentes

produtores do espaço urbano, que iremos analisar em seguida.

1.2) O espaço urbano e a organização interna da cidade

A urbanização da sociedade é um processo que vem sendo cada vez mais

ampliado no planeta. Hoje, pela primeira vez na história da humanidade, a população

urbana mundial é maior que a população rural. Porém este fenômeno já acontece, em

alguns países, há mais tempo. No caso específico do Brasil, desde a década de 1970 a

população urbana brasileira é maior que a rural, sendo que hoje a taxa de urbanização

no país é maior que 80 %, segundo o IBGE (ver TABELA 2).

TABELA 2 – BRASIL: EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA, RURAL E

TOTAL (1940-2000)

População Urbana População Rural População TotalCenso Nº % Nº % (habitantes) 1940 12.880.182 31,2 28.356.133 68,8 41.236.315 1950 18.782.891 36,2 33.161.506 63,8 51.944.397 1960 32.004.817 45,1 38.987.526 54,9 70.992.343 1970 52.904.744 56,0 41.603.839 44,0 94.508.583 1980 82.013.375 67,7 39.137.198 32,3 121.150.573 1991 110.875.826 75,5 36.041.633 24,5 146.917.459 1996 123.082.167 78,4 33.997.406 21,6 157.079.573 2000 137.755.550 81,2 31.835.145 18,8 169.590.693

Fonte: MONTEIRO, 2004. Org. SOUZA, M.V.M. (2007).

Juntamente com o crescimento das populações urbanas existe um reflexo deste

sobre o espaço, que se apresenta pela expansão das cidades. Por isso, vários foram os

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estudiosos que se debruçaram sobre as teorias da produção do espaço urbano. Entre

estes, se destacam os estruturalistas da Escola de Chicago, que pensavam a cidade como

um organismo vivo, por isso a corrente de pensamento deles também é chamada de

‘ecologia urbana’. Assim, apresentam-se aqui as teorias de alguns destes estudiosos, de

acordo com Lima Filho (1975):

Hurd: teoria do crescimento axial. A cidade cresce do centro para a periferia,

acompanhando o caminho das vias de transporte, configurando um sistema estelar,

semelhante aos tentáculos de um polvo. Com o tempo as áreas situadas entre os

eixos vão sendo ocupadas;

Burgess: teoria das zonas concêntricas. Para ele, a cidade é formada em padrões de

múltiplos círculos; em cada um ocorre uma atividade especializada. São 5 zonas

concêntricas: zona central (núcleo comercial); zona de transição (unidades

residenciais deterioradas, indústrias); zona residencial de classe baixa ou de

trabalhadores independentes; zona de melhores residências ou área de classe média

e zona de residência da classe alta;

Hoyt: teoria setorial. A cidade cresce por setores, ao longo dos principais eixos de

transporte e estes setores possuem certo grau de homogeneidade no uso do solo ao

longo destes eixos;

Harris e Ullman: teoria dos múltiplos núcleos. Cidade polinucleada, com

distribuição do comércio varejista por estes núcleos, onde a acessibilidade é maior.

Por vezes, algumas destas teorias não deram maior importância a um elemento

essencial na estruturação urbana: o homem. Os estruturalistas tentaram explicar a forma

do espaço urbano, estabelecendo modelos em que pensavam o centro como algo fixo e

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desconsideravam os fluxos. Não há teoria do espaço sem uma teoria social geral

(CASTELLS, 2000).

O espaço é um produto material em relação com outros elementos materiais – entre outros, os homens, que entram também em relações sociais determinadas, que dão ao espaço (bem como aos outros elementos da combinação) uma forma, uma função, uma significação social. Portanto, ele não é uma pura ocasião de desdobramento da estrutura social, mas é a expressão concreta de cada conjunto histórico, no qual uma sociedade se especifica (CASTELLS, 2000, p. 181-182, grifos do autor).

Desta maneira, Corrêa (1989) definiu o espaço urbano com as seguintes

características: fragmentado, articulado, reflexo da sociedade, condicionante social,

simbólico e campo de lutas. Ele é fragmentado e articulado porque cada uma das partes

em que ele é dividido mantém relações espaciais umas com as outras, através dos fluxos

de pessoas e veículos. Como é um reflexo da sociedade, ele também é desigual, além de

ser mutável, já que a sociedade é dinâmica. Além disso, as formas espaciais interferem

na reprodução das condições de produção e nas relações de produção, por isso o espaço

urbano também é condicionante social. É simbólico porque possui representatividade

no imaginário social, é dotado de subjetividades, além de ser palco para as

manifestações sociais, por isso é campo de lutas.

A cidade, então, passou e passa por várias modificações na sua forma espacial,

mas também nas suas relações de produção, principalmente após a consolidação do

modo capitalista de produção, que visa sempre à acumulação de capital. Entre estas

modificações está a descentralização e a (re)centralização das atividades de comércio e

serviços.

[...] a cidade pode ser considerada como espaço de produção, circulação e consumo, portanto, inserida na lógica capitalista, que suscita a necessidade de concentrar equipamentos, atividades e serviços de modo que as relações econômicas e sociais possam conquistar maior dinamicidade (SILVA, 2003, p.23).

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Adiante, segue abordagem sobre o centro, descentralização e centralidades, para

melhor compreender a organização do espaço intra-urbano.

1.3) Centro, Centralidade, Descentralização: os processos

transformadores do espaço intra-urbano.

Tradicionalmente, as atividades de comércio e serviços em uma cidade

estiveram localizadas em uma área chamada de ‘centro’. Esta localização deve-se à

concentração, em muitos casos, do aparelho do Estado neste centro, o que provoca o

deslocamento de pessoas para a referida localidade. Como afirma Villaça (2001),

nenhuma área é centro, torna-se ou deixa-se de ser centro.

Para Villaça (2001) o homem tem uma grande necessidade de aglomerar-se,

visando poupar desgaste físico e mental no seu trabalho. Um dos fatores que contribuem

para este desgaste é o deslocamento espacial. Como nem todos podem aglomerar-se no

mesmo ponto, alguém, então, tem de se afastar. Neste processo de aglomerar e ao

mesmo tempo afastar (tendo por base um ponto em que todos gostariam de estar) surge

o centro da aglomeração. Villaça (2001, p. 239) afirma que:

O centro surge então a partir da necessidade de afastamentos indesejados mas obrigatórios. Ele, como todas as localizações da aglomeração, surge em função de uma disputa: a disputa pelo controle (não necessariamente minimização) do tempo e energia gastos com os deslocamentos humanos.

Para Corrêa (2005) a emergência da área central está ligada à conexão das

cidades com o mundo exterior, principalmente após a Revolução Industrial. Esta área

tornou-se o foco dos transportes, inter e intra-urbanos, o que lhe garantiu maior

acessibilidade no espaço urbano. Com isto, houve um aumento do valor da terra urbana

da área central, fazendo com que apenas atividades que conseguissem transformar

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acessibilidade em lucros pudessem se manter nesta área. Entre as atividades capazes de

conseguir este feito está o comércio varejista. Segundo Beaujeu-Garnier (1997, p. 215)

é necessário admitir que a localização do comércio em meio urbano obedece a certo número de regras. Os lugares de convergência dos meios de comunicação e os eixos de grande circulação são especialmente favorecidos.

O comércio procura esta posição mais central para beneficiar-se desta infra-

estrutura existente. Porém esta organização não é definitiva, ela está à mercê das

mudanças ocorridas pelo desenvolvimento do capitalismo nas cidades, pois segundo

Sposito (1991, p.4)

a cidade vai ser redefinida, ela não é mais apenas a paisagem construída, que cresce rapidamente e precisa ser reordenada, planejada, utilizada racionalmente, mas deve ser entendida no contexto da dinâmica do processo de desenvolvimento do modo capitalista de produção, e nesta perspectiva entendida como espaço de produção, consumo e reprodução da força de trabalho.

O modo capitalista de produção impõe uma dinamicidade à sociedade e como o

espaço urbano também é um reflexo da sociedade, ele também se torna dinâmico. Desta

maneira, a área central vai sofrer algumas transformações, ficando, muitas vezes,

saturada de atividades e obrigando a saída de certos estabelecimentos para outras áreas

da cidade. O centro tornou-se local para o desenvolvimento de atividades de gestão, de

escritórios especializados, ao passo que o comércio varejista vai procurar outras áreas

dispersas pela cidade para se desenvolver (CORRÊA, 1989). A este processo Corrêa

(2005) denomina de descentralização.

Entre os fatores que contribuem para a saída de atividades da Área Central está o

aumento nos preços de impostos, aluguéis e valor da terra; os congestionamentos e altos

custos nos transportes e comunicação; a falta de espaço para expansão; restrições legais

e a perda de amenidades. Além destes, existem fatores que, ao contrário, atraem

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atividades para novas áreas fora do centro, como terras não-ocupadas a baixos preços e

impostos; infra-estrutura implantada; facilidade de transportes; qualidades do sítio,

como a topografia e drenagem; amenidades físicas e sociais (CORRÊA, 2005).

A descentralização está associada ao crescimento da cidade, tanto populacional

quanto espacial. O desenvolvimento dos transportes, como automóveis, caminhões e

ônibus também contribuíram para este processo, pois aumentam a acessibilidade a estas

novas áreas.

A descentralização aparece como um processo espacial associado às deseconomias de aglomeração da Área Central, ao crescimento demográfico e espacial da cidade, inserindo-se no processo de acumulação de capital. De certa forma repete o fenômeno da centralização tornando a organização espacial da cidade mais complexa, com o aparecimento de subcentros comerciais e áreas industriais não-centrais (CORRÊA, 2005, p.129).

Tal processo faz com que o a área central deixe de monopolizar a localização

das atividades terciárias, dividindo-as com as demais áreas descentralizadas. Além

disso, ela torna o espaço urbano mais complexo, gera economias de transporte e tempo

para os consumidores, que podem reverter estas economias para o consumo. Assim,

surgem novas áreas atrativas para o desenvolvimento do comércio varejista e dos

serviços, áreas estas que passam a exercer um papel de centralidade no espaço urbano.

No processo de expansão do espaço urbano, a população em crescimento tende a localizar-se cada vez mais distante da Área Central da cidade. A população assim distribuída em uma área bastante extensa tem necessidade de uma série de serviços, o que resulta numa redistribuição do equipamento terciário (DUARTE, 1974, p.55).

Os estudos clássicos a respeito da centralidade focaram principalmente a escala

inter-urbana, como nos trabalhos de Walter Christaller, sobre a teoria dos lugares

centrais. Os lugares centrais são dotados de infra-estruturas dos mais variados tipos,

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fazendo com que a população ao redor desta área busque as benesses oferecidas por ela

(ABLAS, 1982). Mas a centralidade também pode ser analisada a partir da escala intra-

urbana, como é o caso deste presente estudo. A centralidade interurbana articula as

diferentes esferas do capitalismo, em que prevalecem as relações verticais, com as

ordens partindo dos centros mais importantes dentro de uma hierarquia. Já na

centralidade intra-urbana prevalecem as relações horizontais, de cooperação capitalista

no plano interno da cidade.

Até meados da década de 1970, na maioria das cidades brasileiras existia apenas

um centro, concentrador das atividades de comércio e serviços. Com o crescimento

populacional, houve uma expansão das áreas centrais, afastando a população para outras

áreas da cidade. Assim, surgem novas áreas de comércio e serviços na cidade, já que há

um aumento das distâncias ao centro principal (SPOSITO, 1991). Atividades centrais

passam a ocupar espaço fora dos centros principais, criando novas centralidades na

cidade.

Os consumidores que precisam visitar o mercado preferem uma localização que permita um mínimo de deslocamento e, se uma gama de localização alternativa está disponível, ele irá preferir aquela que minimize o seu esforço. Compras menos freqüentes podem ser adiadas a fim de ser aproveitada uma única viagem para uma gama maior delas (ABLAS, 1982, p.97).

A centralidade está relacionada à acessibilidade do consumidor a áreas de

concentração de das atividades terciárias. Assim, é importante considerar que a

centralidade não é apenas uma questão de localização, de estruturas fixas, mas também

se configura a partir dos fluxos e das articulações entre as localizações do espaço

urbano. E como a cidade é dinâmica, essa centralidades podem mudar no decorrer do

tempo, na medida em que os fluxos passam a interligar outros fixos. Essas centralidades

são expressas de diferentes formas espaciais, como subcentros, eixos comerciais,

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shopping centers. Para Tourinho (2006) não existem novas centralidades e sim novas

áreas de centralidade.

Não deveriam chamar-se de ‘novas centralidades’, uma vez que não há ‘velhas centralidades’. Por tratar-se da centralidade de uma noção existente sobre um fato físico, o correto seria realmente chamar de novo ou velho ao fato propriamente dito e não a noção que sobre ele se tem. O que existem são, assim, ‘novas áreas’ de centralidade e novos sistemas de produzir centralidade perante uma sistemática tradicional de produção de centralidade associada a uma determinada forma física de cidade que era depositária dessa centralidade, o Centro da Cidade (TOURINHO, 2006, p. 287).

Porém, é válido o uso do termo ‘novas centralidades’ já que são diferentes os

papéis exercidos pelo centro e pelas novas áreas de comércio e serviços. No centro, a

centralidade é superlativa, pois apresenta tudo aquilo que o inconsciente coletivo de

uma sociedade considera como central (TOURINHO, 2006). Hoje, os centros das

cidades grandes têm se tornado áreas para o comércio popular, com muitos ambulantes,

mas também local de concentração dos serviços de gestão e negócios, ao passo que nas

‘novas centralidades’ por vezes concentram-se atividades especializadas para uma

determinada classe, não apenas reproduzindo o que é oferecido pela área central, por

isso podem ser chamadas de novas centralidades.

O aparecimento de novas centralidades está relacionado, também, aos interesses

dos incorporadores imobiliários e proprietários fundiários. A construção de grandes

equipamentos, como shopping centers, aumenta os fluxos para outras áreas da cidade,

valorizando-as, o que vai otimizar o preço de novas localizações produzidas (SPOSITO,

1999).

Entre as novas centralidades, o subcentro é considerado uma réplica do centro

principal, já que atende apenas a uma parte da cidade, ao passo que o centro atende à

cidade toda (VILLAÇA, 2001). O surgimento dos subcentros está ligado ao crescimento

de núcleos urbanos fora das áreas centrais, com alta densidade habitacional e que

Page 42: 272 Marcus Vinicius Mariano de Souza

passaram a ser áreas de convergência do transporte coletivo. Também chamados de

centros funcionais por Duarte (1974), os subcentros caracterizam-se pela presença de

estabelecimentos terciários que exercem algum poder de atração, o que está ligado ao

tipo de consumo realizado.

O conceito de centro funcional implica na presença de determinados tipos de atividades terciárias que, reunidas em um local, exerçam forte poder de atração. Existem bens e serviços dos quais a população necessita cotidianamente e que provêem apenas o próprio local, sendo pois de alcance limitado. Estes bens e serviços, embora estejam, também, presentes nos centros funcionais, não servem, por si mesmo, para caracterizá-los. São os que comumente denominamos de comércio de bairros: venda de produtos alimentícios, armarinhos, lojas de ferragens e outros (DUARTE, 1974, p.59).

Com relação ao tipo consumo realizado no comércio, Duarte (1974) define

quatro tipos: comércio de consumo cotidiano; comércio de consumo freqüente;

comércio de consumo pouco freqüente e comércio de consumo raro. O comércio de

consumo cotidiano define aquilo que a autora classifica como comércio de bairro, já que

ele está distribuído por toda a malha urbana, pois é baseado em estabelecimentos cujos

produtos a população tem necessidade diária de consumo, como padarias, açougues,

mercearias e outros. Já o comércio de consumo raro tende a aparecer em áreas

especializadas, em que a população vai se deslocar para consumir, visto que não é

sempre e nem todos que precisam destes produtos, como por exemplo, máquinas

agrícolas, material cirúrgico, instrumentos musicais, entre outros.

Para a autora, o que caracteriza os subcentros é a presença de lojas

especializadas na venda de produtos de consumo freqüente e pouco freqüente, o que

garante poder de atração ao subcentro. Mas as lojas de consumo cotidiano e raro

também pode aparecer no subcentro.

Page 43: 272 Marcus Vinicius Mariano de Souza

Além desta relação com o tipo de consumo, Duarte (1974) enumera alguns

elementos que devem coexistir em um mesmo local para que ele possa ser considerado

subcentro (ou centro funcional). São eles:

1) Atividade comercial múltipla e especializada;

2) Serviços financeiros; como bancos, agências de financiamentos e investimentos;

3) Serviços profissionais superiores; como consultórios médicos, escritórios de

advocacia, contabilidade;

4) Serviço cultural e recreativo;

5) Transporte e comunicação, o que garante facilidade de acesso.

A simples aglomeração de estabelecimentos comerciais em um determinado

ponto da cidade não implica na existência de um subcentro. É necessário que haja essa

diversificação de atividades, com um conjunto de funções integradas, permitindo a

realização de vários tipos de negócios sem necessidade de grandes deslocamentos, o que

vai aumentar cada vez mais o poder de atração do subcentro perante o espaço urbano

em que se encontra.

Os eixos comerciais começaram a aparecer na década de 1970 nas áreas

metropolitanas e na década de 1980 nas cidades médias. Vias de grande circulação de

veículos passaram a receber atividades centrais, criando uma nova centralidade. Sposito

(1991) chama este processo de ‘desdobramento da área central2’, por estes eixos não

serem contínuos aos centros ou subcentros, apresentando especialização de atividades e

de público alvo. Há um “desdobramento da centralidade [...] como se o centro se

                                                            2 Cf. CORDEIRO, Helena Kohn (1980).

Page 44: 272 Marcus Vinicius Mariano de Souza

multiplicasse, desdobrando-se especializadamente em outros eixos da estrutura urbana”

(SPOSITO, 1991, p. 11).

Outra forma de localização de atividades tradicionalmente centrais são os

Shooping Centers. No Brasil, o primeiro shopping center inaugurado foi o Iguatemi, de

São Paulo, em 1966. Mas o boom destes estabelecimentos no Brasil foi na década de

1980. Por definição, o shopping center é um “empreendimento imobiliário de iniciativa

privada que reúne, em um ou mais edifícios contíguos, lojas alugadas para comércio

varejista ou serviços” (PINTAUDI, 1992, p. 15-16). Para Sposito (1991) estes

estabelecimentos criam novas centralidades por reunirem lojas voltadas ao comércio e

serviços, assim como o centro. Além disto, para a autora, a instalação de um shopping

center atrai outras atividades comerciais e de serviços para suas adjacências, podendo

até levar à criação de um subcentro.

Mas a diferença entre os subcentros e as empresas localizadas nos shoppings

reside no fato de no primeiro ser o próprio comerciante que toma as decisões relativas

ao empreendimento. Já no segundo as decisões estão a cabo do promotor imobiliário,

desde a localização do estabelecimento ao horário de funcionamento das lojas

(VILLAÇA, 2001). Como afirma Villaça (2001, p.304) “o shopping representa pois a

penetração do capital imobiliário na esfera do capital mercantil e a sujeição do comércio

varejista e dos serviços ao capital imobiliário e – através deste – ao financeiro”.

A seguir, segue a análise das transformações ocorridas no espaço urbano de

Uberlândia, sobretudo ao longo do século XX e de como estas mudanças influenciaram

na configuração de novas centralidades no interior desta cidade.

Page 45: 272 Marcus Vinicius Mariano de Souza

2 - As transformações do espaço urbano de Uberlândia no século XX 2.1) O processo de interiorização do Brasil: a “Marcha para o Oeste”, a construção de Brasília e a ascensão de Uberlândia a centro regional.

Para pensarmos as transformações ocorridas no espaço urbano de Uberlândia ao

longo do século XX é necessário retrocedermos ao século XVIII, quando é iniciada a

ocupação do interior brasileiro, com a ascensão e decadência de vários ciclos

econômicos e a posterior aplicação, já no século XX, de políticas governamentais que

estimularam a ocupação do “Oeste”. Por oeste entende-se, de acordo com Guimarães e

Leme (1997), a região que compreende os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso

do Sul, o Distrito Federal, Tocantins, Rondônia e também a região do Triângulo

Mineiro, fundamental na conexão do Centro-Oeste com o Sudeste-Sul.

A primeira atividade que levou a uma ocupação deste interior brasileiro foi a

mineração, porém numa proporção menor do que atividade que ocorria em Minas

Gerais (entende-se aqui por Minas Gerais como a região de tradicional exploração

aurífera, nos arredores de Ouro Preto). Esta atividade espalhou-se por Mato Grosso e

Goiás, criando diversos núcleos populacionais, desarticulados (GUIMARÃES; LEME,

1997).

Posteriormente, o processo de ocupação pela mineração foi expandido graças à

associação com a pecuária, que fixou o povoamento. Segundo Guimarães e Leme

(1997, p.29) “a mineração promoveu o surgimento dos primeiros povoamentos, vilas e

cidades, impulsionados pelos próprios requerimentos da atividade mineradora, enquanto

a pecuária foi um auxiliar na fixação desta população”. Isto se deve ao fato de haver

diferenças nos tipos de povoamento ocasionados pela mineração e pela pecuária, pois

Page 46: 272 Marcus Vinicius Mariano de Souza

as áreas mineradoras geralmente se desenvolvem sem contigüidade com outras já povoadas, pois fatores geológicos determinam a localização dos novos núcleos. As áreas de pecuária, ao contrário, vão se espraiando por contigüidade a partir dos núcleos irradiadores, com uma atividade econômica complementar, mantendo continuidade geográfica com eles. (LOURENÇO, 2005, p.113).

Porém, já no final do século XVIII, a mineração na região entrou em decadência,

empobrecendo a população e obrigando esta a procurar oportunidades em outras

localidades, o que diminuiu o número dos aglomerados urbanos. Aqueles que se

mantiveram na região passaram a praticar a lavoura de subsistência e a pecuária

extensiva, que não exigia grandes contingentes de mão-de-obra. Fato semelhante e com

maior intensidade ocorreu a partir de 1760 em Minas Gerais, pela fuga dos “geralistas”,

que buscavam terras cultiváveis no oeste mineiro, já que estas não mais existiam no

entorno de Vila Rica (posteriormente Ouro Preto).

Passado este período de crise, Goiás tentava articular-se com a economia do

Sudeste e para isto tinha de submeter-se à intermediação do Triângulo Mineiro (que já

contava com alguns povoados importantes, como Uberaba e Desemboque3, que se

ligavam aos mercados do sudeste). A ligação da Cidade de Goiás (Goiás Velho), capital

do estado até então, com o mercado do Sudeste, acontecia pela rota salineira, que tinha

como um dos pontos de passagem o Triângulo Mineiro, que funcionava como

entreposto comercial, o que encarecia os produtos que iam à direção de Goiás. Este

papel de intermediário assumido pelo Triângulo Mineiro cumpriu mais destaque sobre

as adjacências goianas após a instalação da infra-estrutura de transporte, como as

ferrovias e rodovias, que trataremos a seguir.

Com o café, pôs-se fim a antiga estrutura desarticulada do mercado interno

brasileiro. Esta cultura necessitava de uma ampla disponibilidade de terras, por isso foi

incorporando novas áreas, sobretudo pela expansão da ferrovia, que alcançou, inclusive,

                                                            3 Um dos primeiros povoamentos do Triângulo Mineiro (1760), hoje distrito de Sacramento – MG.

Page 47: 272 Marcus Vinicius Mariano de Souza

o Triângulo Mineiro, em 1889 (Companhia Mogiana, com terminais em Uberaba e

Araguari).

Este foi um fator de grande importância na dinamização da economia

triangulina, que passou a exercer maior influência sobre Goiás, principalmente no sul

deste estado, conforme afirmam Guimarães e Leme (1997, p.33):

ao mesmo tempo em que influenciou significativamente o desenvolvimento de fluxos inter-regionais, a ferrovia acentuou o predomínio do Triângulo sobre a economia goiana. Seja pela própria existência do terminal ferroviário, por si só um fator de extrema relevância, seja pelo aparato de beneficiamento de produtos agrícolas, como o arroz, uma atividade na qual o Triângulo tornou-se importante, seja ainda pelo papel de financiador da produção agropecuária, a cujos empréstimos recorriam os produtos goianos, o fato é que o capital industrial, financeiro e mercantil sediado nas cidades do Triângulo subordinaram a atividade econômica de Goiás.

A chegada da ferrovia e a conseqüente intermediação de produtos realizada no

Triângulo Mineiro deram uma nova dinâmica às cidades desta região, principalmente

para Uberaba e Araguari. Nestas cidades desenvolveram-se, graças à chegada dos

terminais da ferrovia, serviços ligados à comercialização, armazenagem e distribuição

dos produtos que transitavam pelos trilhos da ferrovia. Porém, após a expansão dos

trilhos para o sul de Goiás (a partir de 1913), estas cidades, principalmente Araguari,

começam a sofrer um processo de estagnação. Uberabinha4, que até então não havia

experimentado o mesmo ritmo de crescimento de Uberaba e Araguari, passa à condição

de importante atacadista na região com o advento da implantação de outra infra-

estrutura importante: as rodovias.

O desenvolvimento das rodovias na região teve como primeiro impulso a

construção da Ponte Afonso Pena, em 1909, localizada sobre o Rio Paranaíba entre os

municípios de Itumbiara (GO) e Centralina (MG). A construção das rodovias vem

substituir os antigos caminhos dos mascates e boiadeiros (CAMACHO, 2004).

                                                            4 Passou a chamar-se Uberlândia a partir de 19 de Outubro de 1929.

Page 48: 272 Marcus Vinicius Mariano de Souza

A entrada de Uberlândia neste cenário de desenvolvimento rodoviário dá-se,

efetivamente, com a criação da Companhia Mineira de Auto-Viação Intermunicipal, em

1912. De acordo com Camacho (2004, p.50) “esse empreendimento foi gradualmente

consolidando um capital comercial que, através da rodovia, estabelecia um tripé

ferrovia-rodovia-ponte, transformando a cidade no terceiro centro de comércio da

região”.

Neste contexto, uma figura que tem papel fundamental na articulação de

Uberlândia com outras cidades, pela rodovia, é o motorista ou chauffer. Ele é o

responsável pelo intercâmbio regional de produtos, sendo o intermediário entre os

atacadistas e os povoados da região, tanto para a venda dos produtos quanto para o

pagamento destes. Podemos comprovar isto na afirmação de Camacho (2004, p. 51):

a confiança entre os atacadistas e os “chauffers” permitiu que estes estabelecessem uma rede de fluxos financeiros que convergem com os lucros auferidos ao núcleo urbano. Além de ampliarem a atividade do capital comercial, estes “chauffers” ainda abasteciam a cidade de matérias-primas elementares que dinamizavam atividades industriais diversas.

Esta crescente articulação com as cidades e povoados da região faz com que o

agente atacadista assuma o papel principal na divisão territorial do trabalho na região

(CAMACHO, 2004). O crescimento da importância do comércio em Uberlândia

também deve-se ao fato da industrialização não ter conseguido desenvolver-se com

eficácia na cidade, atuando basicamente no setor de beneficiamento de matérias-primas,

como o arroz. Algumas causas para o não-desenvolvimento da indústria neste momento

é a deterioração da malha viária, fruto do fim do apoio governamental à Companhia de

Auto Viação, o que dificulta as ligações com outras regiões, além da insuficiência na

produção de energia.

Outros fatores contribuíram para o aceleramento do processo de ocupação do

interior brasileiro, entre eles a construção de Brasília e os projetos de modernização da

Page 49: 272 Marcus Vinicius Mariano de Souza

agropecuária. Estes fatores também contribuíram para crescimento do comércio

atacadista em Uberlândia e, conseqüentemente, para sua consolidação como centro

regional.

A idéia de transferir a capital do país para o Planalto Central já vigorava desde o

século XIX e passou a fazer parte da Constituição de 1891. Entre as principais razões

para esta mudança está a segurança da capital nacional, já que os militares defendiam

que a localização da capital no interior lhe traria mais segurança. Também se associa a

construção de Brasília a uma ênfase no desenvolvimento do Brasil Central, em que ela

desempenharia um papel de irradiação do progresso (VESENTINI, 1986). A

necessidade de se interiorizar a capital ocorria pelos seguintes fatores:

a integração mais efetiva do espaço nacional; a ocupação do interior do país mediante uma ‘marcha para Oeste’; o estabelecimento de uma divisão territorial (administrativa) ‘mais racional’ do País; a construção de uma rede de transportes densa e eficaz, para facilitar a interiorização da economia e da população; a preocupação com as fronteiras do País; e, o grande tema, que praticamente incorpora e norteia os demais, o de se estabelecer metodicamente um conceito de ‘segurança nacional’. (VESENTINI, 1986, p.70).

Assim, com a construção de Brasília, o novo surto de ampliação da malha

rodoviária e a necessidade de se interligar o centro econômico-industrial brasileiro (São

Paulo) ao novo centro político foram fatores que colaboraram para a consolidação de

Uberlândia como “nó geo-político-econômico entre o centro de concentração industrial

do sudeste e suas periferias” (CAMACHO, 2004.p. 58). O Triângulo Mineiro foi

beneficiado com esta grande obra na medida em que foi dotado de infra-estruturas,

como no caso da energia e dos transportes. Também merece destaque a instalação em

Uberlândia, no ano de 1960, do serviço de microondas, que intermediava o sistema Rio-

Brasília, dinamizando os serviços de telecomunicações da cidade. Outra importante obra

foi a modernização dos aeroportos de Uberlândia e Uberaba, que foram equipados para

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receberem aviões de grande porte, integrando-se às grandes cidades e à nova capital

(GUIMARÃES, 1990).

Além da construção da nova capital, os programas de modernização da

agropecuária também deram sua importante contribuição no processo de ocupação do

interior brasileiro, como foi supracitado. As áreas de cerrado foram incorporadas ao

processo produtivo e isto também trouxe conseqüências no crescimento da importância

do papel de Uberlândia na dinâmica regional.

Este processo de modernização agropecuária tem início no pós-Segunda Guerra

Mundial, com a chamada Revolução Verde, que visava aumentar a produção e a

produtividade agrícola mundial, pela aplicação de desenvolvimento tecnológico,

melhoramento genético e outros. No Brasil estes efeitos passaram a ser sentidos,

sobretudo, após a década de 1960, devido às idéias de modernização do país durante o

governo Juscelino Kubitscheck (1955-1960).

Neste sentido o papel do Estado é de fundamental importância para a ampliação

das áreas incorporadas ao processo produtivo. Com o esgotamento das terras produtivas

nas regiões Sul e Sudeste era necessário incorporar novas áreas ao processo produtivo

da agropecuária e a alternativa encontrada para tal problema foi a criação de uma

fronteira de expansão rumo ao Norte, passando pelas áreas de cerrado. O cerrado, até

então pouco aproveitado economicamente, passa a ser alvo da expansão da fronteira

agrícola, através da aplicação de programas incentivaram a ocupação de terras nestas

áreas. Entre estes programas podemos citar o PCI (Programa de Crédito Integrado e

Incorporação dos Cerrados), PADAP (Programa de Assentamento Dirigido do Alto

Paranaíba), POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento dos Cerrados) e o

PRODECER (Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos

Cerrados).

Page 51: 272 Marcus Vinicius Mariano de Souza

Tais programas contribuíram para a capitalização da agricultura do cerrado,

incrementando a produção, aumentando a produtividade e colocando os produtos desta

área no mercado consumidor, com maior competitividade (GOBBI, 2004). É importante

saber que estes programas atenderam principalmente às grandes e médias propriedades,

aumentando a desigual distribuição de renda no setor agrícola e não deixando as

pequenas propriedades em iguais condições de competição no mercado consumidor, o

que levou a saída de pessoas do campo.

Antes disso, é necessário colocar que este processo de modernização passa a ser

sentido em Uberlândia após 1960, principalmente através da mecanização, com o

aumento do número de tratores no município, além do crescimento do consumo de

fertilizantes, indicando um processo de passagem da agricultura tradicional para a

moderna (PESSOA, 1982). Aqui mais uma vez vê-se a mão do Estado, incentivando o

uso de insumos modernos através de programas como o FUNDAG (Fundo Especial de

Desenvolvimento Agrícola).

Com a implantação de novas técnicas e tecnologias no campo começa haver uma

redução do pessoal ocupado nas atividades primárias e migração de pessoas do campo

para a cidade. De acordo com Pessoa (1982, p.89) no período de 1950-1975 há uma

“aceleração do processo da migração campo-cidade, face à urbanização e início da

industrialização em Uberlândia. Conseqüentemente, o número de habitantes da zona

rural diminui muito”. Na tabela a seguir podemos ver a evolução quantitativa da

população de Uberlândia.

TABELA 3 – UBERLÂNDIA: EVOLUÇÃO POPULACIONAL (1950-2000)

Censos População

Total População

Urbana População

Rural 1950 54.984 35.799 19.185 1960 87.678 71.113 16.565 1970 124.706 111.480 13.226

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1980 240.967 231.583 9.384 1991 367.061 358.165 8.896 2000 501.214 488.982 12.232

Fonte: IBGE; PESSOA (1982). Org. SOUZA, M.V.M. (2007).

TABELA 4 – UBERLÂNDIA: TAXAS DE CRESCIMENTO POPULACIONAL

(1960-2000)

População Total População Urbana População Rural Anos Habitantes % Habitantes % Habitantes % 1960 32.964 59,46 35.314 98,64 -2.620 -13,65 1970 37.028 42,23 40.367 56,76 -3.339 -20,15 1980 116.264 93,22 120.103 107,73 -3.942 -29,80 1991 126.094 52,32 126.582 54,65 -488 -5,20 2000 134.153 36,54 130.817 36,52 3.336 37,5

Fonte: IBGE; PESSOA (1982). Org. SOUZA, M.V.M. (2007).

Observando as Tabelas 3 e 4 percebe-se que a população total de Uberlândia

passou por um crescimento absoluto e relativo de 1950 a 2000. O período entre 1970-

1980 destaca-se por ser período com o maior crescimento relativo da população, da

ordem de 93,22%. Nesta mesma década, ocorre o maior crescimento relativo da

população urbana (107,73%) e também é o período de maior decréscimo relativo na

população rural (-29,80%). Isso acontece justamente pelo fato da modernização da

agricultura, que estava se consolidando e à industrialização e urbanização de

Uberlândia, atraindo migrantes das zonas rurais.

Em Uberlândia, na década de 1980, segundo Juliano e Leme (2002), a taxa de

crescimento da população urbana de Uberlândia foi de 7,47%, enquanto a da população

rural foi de -3,54%. Assim, Uberlândia passa a receber outros investimentos e a ocupar

uma posição de centralidade na rede urbana regional, como afirma Oliveira et al (2006,

p.8):

Desta maneira, Uberlândia é beneficiada não só por este processo de modernização do campo, mas também pela implementação de infra-estruturas, tais como as rodovias, que aumentaram a articulação

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interna na rede urbana do Triângulo Mineiro e possibilitaram a conectividade com outras regiões do país. Graças a estes e outros fatores Uberlândia passa a apresentar um intenso movimento agro-exportador, consolidando sua posição de centralidade na rede urbana.

A centralidade de Uberlândia na rede urbana ocasionou também o crescimento

do setor de serviços na cidade. Juliano e Leme (2002), analisando os dados do IPEA

(Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), concluem que o PIB (Produto Interno

Bruto) de Uberlândia cresceu 404,3% e o PIB do sub-setor serviços cresceu 664,4%, no

período de 1970 a 1996. No setor de serviços podemos destacar o crescimento da

educação superior.

Com este aumento do êxodo rural e o conseqüente crescimento da população urbana é

necessário que haja uma expansão espacial na cidade de Uberlândia para que ela seja

capaz de absorver este contingente populacional que está chegando, vindo não somente

da área rural do município como também de outros municípios da região, de outras

regiões de Minas Gerais e de outros estados. Esta expansão espacial será tratada a

seguir.

2.2) A expansão urbana de Uberlândia no século XX

As alterações ocorridas na estrutura populacional de Uberlândia, com o grande

crescimento desta, surtiram efeitos também na configuração urbana desta cidade, já que

este crescimento populacional deu-se, sobretudo, na área urbana, conforme observamos

na Tabela 2. Por conseguinte, também houve uma expansão desta área urbana, já que

era preciso criar locais onde este novo contingente populacional pudesse habitar.

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Assim, analisar-se-á aqui a expansão urbana de Uberlândia no século XX, em virtude

dos diversos fatores que propiciaram este acontecimento, relatados no item anterior.

Primeiramente, remete-se à idéia de Milton Santos (1979) de que o espaço é uma

acumulação desigual de tempos, ou seja, que o espaço vivenciado no presente é um

mosaico formado por elementos do passado e do presente (e do futuro, por que não?),

com funções adaptadas à realidade momentânea. Pensando sobre esta perspectiva

Corrêa (1989, p. 11) afirma que “o espaço urbano capitalista é um produto social

resultado de ações acumuladas através do tempo e engendradas por agentes que

produzem e consomem o espaço”. Para este autor, os agentes produtores do espaço são:

a) os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais; b) os

proprietários fundiários; c) os promotores imobiliários; d) o Estado; e) os grupos sociais

excluídos. Veremos que durante a expansão urbana de Uberlândia no século XX todos

estes agentes tiveram papel importante neste processo, com alguns se destacando mais

que os outros em determinados períodos. Porém, destaca-se a importância de um destes

agentes, como será visto adiante: o Estado.

As primeiras modificações na estrutura urbana uberlandense iniciaram-se a partir

da década de 1920. Os principais agentes responsáveis por este crescimento foram os

grandes industriais e os proprietários fundiários. Já existiam algumas indústrias na

cidade, que foram expandindo e aumentando o número de funcionários. Estas

indústrias, entre elas a Companhia Mogiana e a Fábrica de Tecidos passaram a construir

casas para seus funcionários. Desta forma, graças às “vilas operárias”, áreas agrícolas

foram incorporadas ao tecido urbano, ampliando-o. De acordo com Soares (1988, p. 39)

“com o crescimento da cidade, as chácaras, localizadas na zona rural, foram sendo

incorporadas ao espaço urbano, formando-se novos bairros”. Assim surgiram a Vila

Martins, a Vila Osvaldo e a Vila Carneiro.

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A partir daí, outro agente passa a ter importância fundamental na produção do

espaço urbano em Uberlândia: os promotores imobiliários. Surge aí a figura de Tubal

Vilela, proprietário da Empresa Uberlandense de Imóveis, que, “em 16 anos, a partir de

1936, ela vendeu mais de 30.000 lotes e construiu aproximadamente 1000 casas

residenciais, aumentando consideravelmente a área suburbana da cidade” (SOARES,

1988, p. 39). Porém, a empresa imobiliária não atua sozinha, ela está em parceria com o

Poder Público Municipal e com o Estado. Esta atuação conjunta de empresários e

Estado fez com que algumas áreas fossem privilegiadas perante outras, além de

privilegiar também as classes capazes de consumir este espaço produzido, já que estes

agentes “também seriam os principais causadores da segregação espacial urbana, visto

que dotariam o solo urbano de novos valores, os quais nem toda população teria

condições de pagar” (MOURA, 2003, p. 73).

Nesta relação, a empresa imobiliária tem o papel de abrir novos lotes, vendendo-

os a prestação, tanto para a elite quanto para os trabalhadores e realizando a especulação

imobiliária, em função da valorização de algumas áreas. O Estado (e o Poder Público

Municipal) é responsável por dotar estas áreas de equipamentos públicos e serviços.

Para um bom entendimento do papel do Poder Público Municipal frente aos privilégios

gerados a partir das relações com as empresas imobiliárias é importante verificar-se a

afirmação a seguir:

Ao Poder Público coube, desde a fundação do arraial, o papel de gerar condições para a expansão da cidade. Sua atuação, entretanto, privilegiou a classe dominante, seja por doações de terreno, por provimento de infra-estrutura, ou por isenção de impostos para cada novo investimento. Este comportamento resultou na produção de um espaço urbano multifacetado, com áreas urbanizadas entremeadas de espaços vazios, facilitando o processo de estratificação social e incentivando a especulação imobiliária. (SOARES, 1988, p. 43).

Já a partir da década de 1940 o espaço urbano de Uberlândia passa por novas

transformações, geradas pela expansão da industrialização; a diversificação do comércio

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e dos serviços; a intensificação do capitalismo no campo; o início da construção de

Brasília; o fortalecimento da malha rodoviária, entre outros fatores (SOARES, 1988;

MOURA, 2003). Neste período há um crescimento do número de bairros e vilas sem

um planejamento adequado e inicia-se também em Uberlândia o processo de

verticalização.

Porém é a partir da década de 1950 que a ação efetiva do Estado começa a ter

importância em Uberlândia, através da Fundação Casa Popular (FCP). Esta fundação,

criada em 1946, construiu 130 casas em Uberlândia na década de 1950. O primeiro

conjunto habitacional construído pela FCP nesta cidade foi entregue em 1954, onde hoje

se localiza o bairro Patrimônio. A área era distante do centro de Uberlândia, mas foi

construída com o objetivo de expandir o tecido urbano, reservando áreas não ocupadas

para a especulação imobiliária.

Ainda em 1950, também ocorreram algumas modificações na área central da

cidade, com a pavimentação das ruas e melhorias de infra-estrutura. Além disso, as

empresas imobiliárias continuavam a atuar, com a construção dos seguintes bairros, de

acordo com Moura (2003): Dona Zulmira (1954), Pampulha (1953), parte do Saraiva

(1953) e Bom Jesus (1953).

Esta expansão trazia uma preocupação para as elites e para o Poder Público, pois

estes queriam passar a imagem de que Uberlândia era uma cidade limpa, higiênica,

próspera, com o objetivo de atrair capital e investimentos para a implantação de um

parque industrial, que levaria ao fortalecimento do comércio (SOARES, 1988). Gerusa

Moura (2003, p. 51) traduziu bem esta vontade que Uberlândia tinha de crescer, ao dizer

que

Uberlândia sonhou em ser grande e importante! Em destacar-se como centro comercial na região do Triangulo Mineiro e, também, em ser uma cidade com significativa importância nacional. Ela sonhou em

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impor-se a Minas Gerais e também ao Brasil, com seu nome glorioso de uma cidade grande, bela e majestosa.

A concretização do objetivo de construir um parque industrial na cidade começa

a acontecer no início da década de 1960. Como o governo estadual, naquele momento,

era contrário à criação de um parque industrial em Uberlândia, a acumulação das

riquezas provenientes das atividades agropecuárias e comerciais da cidade permitiu a

implantação de tal parque, que foi denominado Cidade Industrial (SOARES, 1988).

Desta maneira, Uberlândia criava mais um atrativo para a migração de pessoas

oriundas das cidades vizinhas, aumentando a sua população urbana, já que também a

população rural da região começava a diminuir devido ao início da mecanização do

campo. Assim, com maior número de pessoas morando na cidade, é preciso criar

condições para abrigar estes novos habitantes.

A pressão criada por novas moradias levou ao surgimento de favelas em

Uberlândia Os trabalhadores rurais que deixaram suas terras para viverem na cidade

comumente não têm condições financeiras para a aquisição da terra urbana, o que leva à

ocupação ilegal de terras. De acordo com Bessa e Soares (1988, p. 97),

a favela significa a espacialização da inacessibilidade, por parte de uma fração considerável da população urbana, à moradia a ao espaço urbano e, ao mesmo tempo, expressa a afirmação da necessidade inquestionável de morar.

Nesta década já eram conhecidas em Uberlândia a Favela das Tabocas e a Favela

do Contorno, próximas ao bairro Bom Jesus e entre a antiga ferrovia da Fepasa e a BR-

050. (BESSA; SOARES, 1998). Nas décadas posteriores (1970 e 1980) as favelas

continuaram a surgir em Uberlândia, até que começassem a serem erradicadas por

programas municipais de habitação, no final da década de 1980.

Contudo, as imobiliárias tentaram aproveitar-se da demanda sedenta por moradia

e passou a lotear várias áreas da cidade, de forma desordenada e com o mínimo de infra-

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estrutura. Entre os loteamentos criados pelas imobiliárias estão os bairros Pacaembu

(1966), Jardim Brasília (1966), Maravilha (1966), Santa Mônica5 (1964), Roosevelt

(1969), Jaraguá (1964), Jardim Califórnia (1966), Marta Helena (1967). Além destes,

também os bairros Lídice e Vigilato Pereira, que foram destinados às camadas de alta

renda, devido à sua proximidade ao centro. Esta evolução pode ser acompanhada na

FIGURA 1, elaborada por Moura (2003).

                                                            5 Será mais bem detalhado no capitulo seguinte.

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A cidade expandia-se de forma rápida e desordenada, pois não havia uma política de estruturação do espaço urbano, os loteamentos eram implementados de acordo com os interesses das empresas imobiliárias. Assim, vários loteamentos foram abertos em locais distantes, aumentando, cada vez mais, as áreas periféricas, que devido à distância da central, não eram dotadas de infra-estrutura básica, como transporte, serviços e equipamentos públicos, o que dificultava ainda mais a vida da população, que já passava por tantas privações (MOURA, 2003, p. 86).

O Estado também continuou colaborando para a expansão urbana de Uberlândia.

Em 1964 são criados o Banco Nacional de Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro de

Habitação (SFH), com o intuito de organizar a política habitacional, facilitando a

aquisição de moradias para as populações de baixa renda. Através do BNH foram

construídos quatro conjuntos habitacionais em Uberlândia, o que não resolveu o déficit

habitacional do município. A Caixa Econômica Federal (CEF) também contribuiu neste

sentido, com financiamentos para aquisição da casa própria, porém construídas pelo

sistema de mutirão.

A década de 1970 é marcada por um período de grande desenvolvimento em

Uberlândia, sobretudo graças ao governador do estado, Rondon Pacheco, originário da

própria cidade. Entre as mudanças ocorridas, está o impulso dado à industrialização

com a instalação, em 1971, do Distrito Industrial de Uberlândia, através da Companhia

de Distritos Industriais. Com esta implantação, diversos estímulos e incentivos fiscais

foram oferecidos com o intuito de atrair mais empresas para a cidade. Entre estes

incentivos estão a isenção de impostos municipais por 10 anos, terraplanagem inicial

gratuita, assessoria econômica e técnica, financiamentos a longo prazo pelo Banco de

Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), entre outros (SOARES, 1988). Assim,

várias empresas nacionais e internacionais foram atraídas, gerando um maior número de

empregos e, conseqüentemente, uma maior migração para a cidade, afetando a estrutura

urbana.

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Mas também a década de 1970 é marcada pela acentuada migração rural-urbana,

graças a modernização do campo, que já foi detalhada neste capítulo. Entre as décadas

de 1970 e 1980 a população urbana de Uberlândia cresceu de 111.480 habitantes para

231.538, o que representa um crescimento de 107,73% no período mencionado. Já a

população rural passou por um decréscimo neste mesmo período, saindo de 13.226

habitantes na década de 1970 para 9.384 na de 1980, o que representa um crescimento

de -29,80%. Este decréscimo na população rural não explica, por si só, o grande

crescimento da população urbana. Para tal, deve-se também considerar a migração

urbana - urbana, influenciada, sobretudo, pela criação da Universidade Federal de

Uberlândia.

Outro fato, não menos importante para o entendimento do movimento migratório urbano – urbano ocorrido em Uberlândia, foi a criação da Universidade Federal, na década de 70 que, com seus 29 cursos, atende toda a região, além de parte de São Paulo, Mato Grosso e Goiás. Este fato produziu em grande fluxo populacional para a cidade com significativas mudanças culturais nos seus hábitos. (SOARES, 1988, p. 76-77).

Com a criação da Universidade, significativas mudanças ocorreram na estrutura

urbana uberlandense, principalmente nos bairros em que se instalaram os campi desta,

Santa Mônica e Umuarama, cujos campi são homônimos aos bairros. Tais bairros foram

sendo dotados de serviços e equipamentos públicos para atender à demanda de

estudantes vindos de outras cidades, principalmente com relação à moradia, já que estes

preferiam morar próximos à universidade (MOURA, 2003). Esta questão será analisada

no terceiro capítulo deste estudo, enfocando apenas na área de entorno do Campus Santa

Mônica. Segundo Moura (2003) outros bairros no entorno dos campi também se

beneficiaram com a instalação da UFU, entre eles o Saraiva e Tibery – no entorno do

campus Santa Mônica.

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Com relação à construção de moradias e criação de outros bairros, continuou

presente nesta década a figura do BNH / SFH. A atuação destes órgãos foi importante

na expansão da periferia, com a construção dos bairros Luizote de Freitas, Segismundo

Pereira e Santa Luzia.

A década seguinte, 1980, entrou para a história brasileira como a “Década

Perdida”, graças à grande crise econômica enfrentada pelo país neste momento.

Inicialmente, Uberlândia apresentou um crescimento econômico, beneficiada pelo

processo de desconcentração industrial, marca deste período. Grandes indústrias

instalaram-se na cidade, destacando-se a Souza Cruz, que construiu na cidade uma das

maiores fábricas da empresa. De acordo com Soares (1988), em 1986 existiam quase

1000 empresas industriais na cidade.

Mas os efeitos da Década Perdida começaram a afetar a política habitacional,

com a extinção do BNH em 1986. A CEF passa então a financiar a abertura de novos

loteamentos na cidade, porém a construção ficava a cargo dos futuros moradores, no

sistema de autoconstrução. Por este sistema surgiram os bairros Laranjeiras, Canaã,

Tocantins, Nossa Senhora das Graças, Maravilha e Santo Inácio (MOURA, 2003).

Já na década de 1990, a situação da política habitacional brasileira era de crise.

Após anos de ditadura um presidente era eleito pelo voto popular, Fernando Collor de

Melo. O novo presidente criou um plano emergencial para tentar solucionar a crise

habitacional vivida no país. Tal programa era o PAIH (Plano de Ação Imediata para a

Habitação). O objetivo deste programa era construir cerca de 245 mil moradias num

prazo de 180 dias, com recursos provenientes do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo

de Serviço). Em Uberlândia foram construídos pelo PAIH os conjuntos habitacionais

Santa Mônica II (atual Morumbi), Parque Granada, São Jorge, Guarani, Mansour,

Paineiras, Aurora, Seringueiras e Laranjeiras, sendo que o Parque Granada foi o

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primeiro conjunto habitacional brasileiro a ser entregue pelo presidente Collor. Os

governos seguintes ainda lançaram outros programas habitacionais, como o Habitar

Brasil e o Morar Município, no governo de Itamar Franco.

Mas o Estado não era o único agente a contribuir na expansão do espaço urbano

de Uberlândia. O Poder Público Municipal também teve o seu papel, com a instituição

de seus programas habitacionais, como o Casa Fácil e o Pró-Lar. Porém, o problema

habitacional ainda não foi resolvido na cidade, em vista do surgimento de conjuntos

habitacionais por meio de invasões, como é o caso dos bairros Prosperidade, Joana

D´Arc, São Francisco, Celebridade.

Todavia, a década de 1990 também foi marcada pelo surgimento de novas

formas de morar em Uberlândia: os condomínios horizontais fechados. As populações

que habitam estes condomínios o fazem por buscarem maior segurança e qualidade de

vida, já que os condomínios oferecem, supostamente, estas benesses. Este é um

fenômeno que se estendeu para a década de 2000, com a construção de vários

condomínios fechados, como o Gávea Hill, Jardins Barcelona, Jardins Roma e outros.

Enfim, percebemos que as transformações ocorridas no espaço urbano

uberlandense no século XX foram muito significativas, com a construção de vários

conjuntos habitacionais, tendo o Estado como grande agente propulsor desta

urbanização de Uberlândia, mas que também contou e, ainda conta, com outros agentes

participativos neste processo, como os promotores imobiliários, o Poder Público

Municipal, os proprietários de terra, já que este é um processo que não se findou com a

virada do século, mas que continua a acontecer, diversificando cada vez mais a

composição do espaço urbano desta cidade.

Entre as modificações ocorridas neste espaço urbano estão as novas formas de

organização espacial das atividades de comércio de bens e serviços. Com as mudanças

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na divisão territorial do trabalho e os novos papéis assumidos pelas cidades médias nas

redes urbanas, o espaço intra-urbano acaba sendo afetado, principalmente na localização

das atividades de consumo. Assim, será abordada no próximo capítulo a constituição de

uma nova centralidade na cidade de Uberlândia, com a formação do subcentro do bairro

Santa Mônica.

3 – NOVAS CENTRALIDADES NAS CIDADES MÉDIAS: estudo do subcentro do Bairro Santa Mônica, Uberlândia (MG) 3.1) O Bairro Integrado Santa Mônica na atualidade

O bairro Santa Mônica está localizado no setor Leste da cidade de Uberlândia,

possuindo limites físicos com os bairros Tibery, Saraiva, Lagoinha, Carajás, Pampulha,

e Segismundo Pereira. (MAPA 1). Ele é o maior bairro da cidade, com uma área de

5.734.732 metros quadrados. O bairro está distante aproximadamente 6 quilômetros da

área central, possuindo um sistema viário que o articula facilmente à área central.

Transitam pelas vias do bairro 9 (nove) linhas do transporte público coletivo, como

pode ser visto no quadro 01. As principais vias do bairro são as avenidas João Naves de

Ávila, que liga o centro da cidade à saída para a BR-050 (Uberlândia - São Paulo) e a

Avenida Segismundo Pereira, que corta o bairro no sentido oeste-leste, sendo a

principal saída para a BR-365, que liga Uberlândia ao Norte de Minas Gerais.

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QUADRO 1 – UBERLÂNDIA: LINHAS DO TRANPORTE COLETIVO QUE PASSAM PELO BAIRRO SANTA MÔNICA (2007)

Linha Origem Destino A-105 Terminal Central Bairro Santa Mônica A-116 Terminal Central Bairro Santa Mônica B-910 Centro Bairro Santa Mônica I-231 Terminal Umuarama Terminal Santa Luzia I-232 Terminal Umuarama Terminal Santa Luzia T-101 Terminal Central Bairro Morumbi T-103 Terminal Central Bairro Morumbi T-131 Terminal Central Terminal Santa Luzia T-132 Terminal Central Terminal Santa Luzia

Fonte: Pesquisa Direta/out./ 2007. Org. SOUZA, M.V.M.

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Por outro lado, destacam-se também outras avenidas que cruzam o bairro no

sentido oeste-leste, onde está concentrado o comércio e os serviços do Santa Mônica,

com a formação do subcentro estudado neste trabalho. São as Avenidas Ubiratan

Honório de Castro, Salomão Abrahão, Ortízio Borges, Belarmino Cotta Pacheco, Ana

Godoy de Souza e Dr. Laerte Gonçalves. (MAPA 2).

Além de ser o maior bairro em extensão territorial, o Santa Mônica também é o

maior em tamanho populacional, com 27.824 habitantes, o que corresponde a

aproximadamente 5,55% da população de Uberlândia no ano 2000, segundo o Censo

Demográfico do IBGE. Desse total, 48,61% são homens e 51,39% são mulheres. A

população de crianças e jovens do bairro (0 a 19 anos) corresponde a 34,43% do total,

enquanto que os adultos (acima de 20 anos) são 65,57% da população do Santa Mônica.

Ainda segundo o IBGE, o Santa Mônica possui 8.215 domicílios, sendo que destes,

6.974 são casas, que abrigam 88,6% dos moradores; 1.202 são apartamentos, que

abrigam 11,17% da população e 39 são cômodos, com apenas 0,23% dos moradores do

bairro. Os domicílios com quatro moradores são os mais freqüentes, com 27,44% do

total. Além disso, 60,02% dos domicílios são próprios, 31,93% são alugados e 7,96%

são cedidos.

Com relação à infra-estrutura, o Santa Mônica possui 99,91% de seus domicílios

com abastecimento de água pela rede geral. A rede de esgotamento sanitário atende

98,75% dos domicílios e a coleta de lixo ocorre em 99,98% destes.

Para entender a atual configuração do bairro Santa Mônica e a formação do seu

subcentro é necessário retornar no tempo para verificar as origens deste bairro, os

equipamentos nele instalados que possibilitaram a formação de um subcentro comercial.

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3.2) As origens do Bairro Santa Mônica

As origens do bairro Santa Mônica estão intimamente ligadas à história da

criação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A cidade de Uberlândia

experimentou um grande crescimento populacional e espacial no decorrer do século

XX, graças aos interesses da elite local em colocar a cidade em evidência no cenário

nacional. Com os ideais positivistas de ‘ordem e progresso’ a cidade consegue destacar-

se no âmbito regional, catalisando toda a produção de mercadorias da região, inserindo-

se no mercado nacional pela acumulação e reprodução do capital nela instalado

(MACHADO, 2003). Porém, além de ser o destaque na economia regional, Uberlândia

queria ser um centro cultural e, para tal, era necessária, entre outras coisas, a criação de

universidades.

Mais uma vez a elite empreendedora local vai ter papel fundamental na

“modernização” de Uberlândia, com a criação de faculdades isoladas.

As faculdades isoladas foram gestadas dentro de um projeto desenvolvimentista das classes dominantes locais, compostos por pequenos grupos detentores de grande poder político e econômico na cidade (GOMES, 2003, p. 17).

Em 1957 é inaugurada a primeira escola de ensino superior em Uberlândia, o

Conservatório Musical, com a Faculdade de Artes. Posteriormente, foi criada a

Faculdade de Direito (1959), com o primeiro curso reconhecido pelo Ministério da

Educação (MEC); a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Uberlândia (FAFIU),

em 1959, com vários cursos6; em 1961 foi inaugurada a Faculdade Federal de

Engenharia e em 1963 a Faculdade de Ciências Econômicas. Em 1969, através do

Decreto-Lei número 762, foi criada a Universidade de Uberlândia (UnU), que integrava                                                             6 Pedagogia, Letras, História, Geografia, Estudos Sociais, Matemática, Ciências Biológicas, Química e Psicologia.

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as faculdades acima mencionadas. Outras faculdades também foram criadas em

Uberlândia, como a de Medicina (1968), Odontologia (1970), Medicina Veterinária

(1971) e Educação Física (1972), que mais tarde foram integradas à UnU.

Desde seu nascimento, a UnU já pensava na federalização. Aliás, era interesse

do governo militar criar universidades no interior do país, para não concentrar

estudantes nos grandes centros, evitando revoltas. Então, em 1978 é criada a

Universidade Federal de Uberlândia7, pela integração das faculdades isoladas.

Já que a UFU estava criada oficialmente era preciso criá-la fisicamente, ou seja,

integrar as faculdades isoladas em um espaço reconhecido como sendo a UFU. A

doação de terrenos foi fundamental neste aspecto, o que explica o fato de hoje esta

universidade estar fragmentada em três campi, em diferentes áreas da cidade.

Em 1963, a Urbanizadora Segismundo Pereira, de propriedade de Raul Pereira

de Rezende, prefeito de Uberlândia na década de 1960, começa a lotear, em pleno

cerrado, o bairro Santa Mônica, com 12.000 lotes aprovados pela prefeitura

(OLIVEIRA, 1999). A Faculdade Federal de Engenharia instalou-se no bairro, após

realizar uma troca de terreno com a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, conseguindo

um prédio onde funcionaria o Colégio dos Padres Salesianos. Este prédio é o atual

Bloco 1Q do Campus Santa Mônica, antigamente conhecido como Mineirão.

A participação dos proprietários de terra foi fundamental na formação da

universidade. O governo federal havia declarado que cabia ao povo uberlandense a

doação de terras para a construção da universidade. Essa “boa ação” ficou por conta das

imobiliárias, que concederam lotes para a construção dos campi. A Urbanizadora

Segismundo Pereira doou terras na área do Santa Mônica e a Imobiliária Bom Jardim no

bairro Umuarama. Os proprietários imobiliários tinham claros interesses em trazer a

                                                            7 Para saber mais sobre a criação da UFU, consulte CAETANO; DIB (1988).

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universidade para próximo de seus terrenos, pois isso valorizaria suas propriedades e

atrairia futuros moradores (PRIETO, 2005). O depoimento de Antonio Prada Prieto, ex-

secretário municipal, deixa claro as intenções dos proprietários imobiliários na

construção da universidade:

Se analisarmos a história de Uberlândia, o seu crescimento foi sempre em função do interesse imobiliário. Por que a Engenharia está na Santa Mônica? Tecnicamente seria o melhor lugar? Não, inclusive houve estudos, na época, não tenho como fazer referência, mas eu tenho notícia de que houve estudos de uma comissão técnica, por exemplo, do MEC que dizia o seguinte: que todo campus universitário teria que ser no sentido oposto ao crescimento geográfico da cidade. Então, pelo estudo da época, o ideal para a Universidade seria, por exemplo, a Tubalina, Caraíba, qualquer coisa assim. A cidade crescia para o lado oposto. Mas não vamos julgar a validade disso. O fato é que na época precisava-se instalar uma Faculdade de Engenharia. Então os donos do loteamento aqui no Santa Mônica naturalmente viram a oportunidade de fazer em crescimento populacional, o assentamento demográfico da sua área de loteamento. E assim deve ter sido o raciocínio que precedeu a doação (CAETANO; DIB, 1988, p. 332).

Em 1971, a Universidade recebe da Prefeitura Municipal a doação das glebas do

Lagoinha (onde hoje está o Camaru) e do Glória (Fazenda Experimental do Glória). Era

intenção da Universidade construir a ‘cidade universitária’ no Glória, mas não havia

recursos para tal. A Prefeitura havia declarado que os terrenos do Santa Mônica

contíguos à Faculdade Federal de Engenharia eram de utilidade pública e poderiam ser

desapropriados mediante pagamento. Como não havia recursos, nem do Governo

Federal, para construir o Campus do Glória, em 1976 o Conselho Universitário decidiu

criar dois pré-campi, um na área da Escola de Medicina (Umuarama) e outro na área da

Faculdade Federal de Engenharia (Santa Mônica). Em 1979, o Conselho Universitário

decide como política de espaço físico consolidar os campi Santa Mônica e Umuarama.

Com a consolidação do campus Santa Mônica, o bairro acaba sendo valorizado e

torna-se atrativo para a expansão urbana. Hoje, o campus está completamente inserindo

no bairro, ocupando uma área de 280.119,89 metros quadrados (FIGURA 1). Em 21 de

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dezembro de 1993 é aprovada a Lei Municipal 5900 que cria o Bairro Integrado Santa

Mônica. Este bairro passou a integrar os seguintes loteamentos: Fábio Felice (de 1953),

Santa Mônica Setor A (1963), Setor B e C (1966), Santos Dumont (1964), Jardim

Finotti (1970), Progresso (1972), Jardim Parque do Sábia (1979) e Conjunto

Universitário (1983).

Figura 1 – Fotografia aérea do Campus Santa Mônica Fonte: PMU, 2004. Na década de 1990, o bairro Santa Mônica já estava bastante ocupado, com os

moradores atraídos, sobretudo, pela presença da UFU. Porém outros dois

empreendimentos tiveram grande importância na consolidação deste bairro e,

consequentemente, na formação do seu subcentro: a construção do Center Shopping e

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do Centro Administrativo, com este abrigando toda a máquina administrativa municipal

(FIGURA 2).

[...] o bairro Santa Mônica é o próprio reflexo das dimensões do poder político e da reprodução do capital, porque ocorre a revalorização do espaço que concentra um campus da Universidade Federal de Uberlândia, o Hipermercado Carrefour, o Center Shopping (na verdade o aglomerado Center Shopping-Carrefour) e o novo Centro Administrativo de Uberlândia (MARQUEZ, 1993, p.27).

O Center Shopping foi inaugurado em 27 de Abril de 1992, com uma área

construída de 23.000 m² e 80 lojas. Hoje, após duas ampliações, ele possui uma área

total de 79.000 m² e 217 lojas. Fazem parte do Complexo do Center Shopping, além do

shopping propriamente dito, um centro de convenções (Center Convention), com

capacidade para receber 4.000 visitantes e 15 eventos simultâneos e um hotel (Plaza

Shopping). O número de empregos gerados, diretos e indiretos, é de aproximadamente

5.000. Todo este complexo fez Uberlândia tornar-se referência no ramo de turismo de

negócios, sendo que ela é a 9ª cidade que mais sedia eventos internacionais no Brasil.

Toda esta pujança faz com que o Center Shopping esteja entre as 20 maiores empresas

do setor de comércio no Estado de Minas Gerais. Já está prevista para 2008 a terceira

expansão do complexo, aumentando em 50% sua área (CORREIO DE UBERLÂNDIA,

2007).

No ano posterior à inauguração do Center Shopping, em 31 de Agosto de 1993 é

inaugurado o novo Centro Administrativo Municipal, ocupando uma área de 27.000 m²,

justamente localizado entre o Center Shopping e o bairro Santa Mônica. Este complexo

administrativo abriga a Câmara Municipal, a Prefeitura Municipal e os Órgãos da

Administração Direta, transferindo toda a máquina administrativa que anteriormente

estava localizada no centro da cidade, na Praça Clarimundo Carneiro.

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Figura 2 – Fotografia aérea, destacando o Center Shopping, Centro Administrativo e Campus Santa Mônica. Fonte: PMU, 2004.

Assim, após os anos iniciais da década de 1990, o bairro Santa Mônica começa a

apresentar uma nova dinâmica, graças aos equipamentos nele instalados ou nos seus

arredores: UFU, Center Shopping e Centro Administrativo. O bairro, até então

essencialmente residencial, começa a ter uma diversificação no seu comércio, já que

passa a ser destino de toda a cidade (por causa da máquina administrativa) e também da

região (graças ao shopping), sem falar na influência da UFU em ambos os casos.

Shoppings e grandes empreendimentos são favoráveis à formação de subcentros, o que

acabou acontecendo no bairro Santa Mônica.

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Os subcentros caracterizam-se, então, pela presença de empreendimentos que motivam os investimentos dos setores público e privado, definindo diferentes usos de solo e atraindo fluxos de pessoas para o consumo. Dos empreendimentos que originam subcentros, podem-se destacar a criação de shopping centers, os novos loteamentos, os hospitais as universidades ou faculdades e os postos de saúde, entre outros (FRANÇA, 2007, p. 152).

A seguir, segue a análise da configuração do subcentro do bairro Santa Mônica,

a partir da elaboração de mapas, quadros e tabelas, resultantes dos trabalhos de campo

desenvolvidos durante a pesquisa.

3.3) Caracterização do subcentro Santa Mônica

Para a análise do subcentro Santa Mônica foi necessária a elaboração de alguns

mapas da distribuição dos estabelecimentos de comércio e serviços no bairro. Como ele

é o maior bairro de Uberlândia, com mais de cinco milhões de metros quadrados, foi

necessário dividi-lo em três setores, para que o mapa fosse compatível com a escala

adotada, de 1:6.000. Essa divisão levou em consideração a distribuição e concentração

dos estabelecimentos de atividades terciárias. Assim, o Santa Mônica ficou dividido

em: Baixo Santa Mônica (Setor 1), área próxima à UFU e ao Centro Administrativo;

Médio Santa Mônica (Setor 2), área intermediária do bairro e Alto Santa Mônica (Setor

3), área mais periférica do bairro, próximas às saídas para as rodovias, já citadas

anteriormente. A denominação Baixo, Médio e Alto é compatível com as cotas

altimétricas do bairro (MAPA 3).

A classificação da estrutura comercial do Santa Mônica como um subcentro é

compatível com as características necessárias a este tipo de centralidade, segundo a

proposição de Duarte (1974). Para a autora, para uma área ser considerada subcentro

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comercial é necessária a coexistência de atividade comercial múltipla e especializada,

serviços financeiros, profissionais superiores, culturais, recreativos, transporte e

comunicação. A pesquisa de campo mostrou que o bairro Santa Mônica apresenta todos

estes requisitos, por isso considera-se que ele seja um subcentro comercial na cidade de

Uberlândia, evidência do processo de descentralização das atividades terciárias. No

Mapa 4 é possível observar a distribuição dos estabelecimentos terciários pelo bairro.

Conforme foi explicado na introdução, foram mapeadas apenas as principais

avenidas do bairro, visto que os trabalhos de campo realizados mostraram que os

estabelecimentos do setor terciário estavam preferencialmente nelas localizados.

Existem diferenciações entre estas avenidas, com algumas com uso comercial bastante

acentuado, conforme pode ser observado na Tabela 5.

TABELA 5 – TIPOS DE ESTABELECIMENTOS NAS PRINCIPAIS AVENIDAS DO BAIRRO SANTA MÔNICA – 2007

Residências Comércio e

Serviços Lotes Vagos Avenida nº % nº % nº % Total

Ana Godoy de Souza 171 65,76 52 20,00 37 14,23 260 Belarmino Cotta Pacheco 143 33,17 263 61,02 25 5,80 431 César Finotti 97 75,78 15 10,94 17 13,28 128 Dr. Laerte Vieira Gonçalves 135 50,94 99 37,35 31 11,69 265 Dr. Misael Rodrigues de Castro 103 67,76 18 11,84 31 20,40 152 Francisco Ribeiro 77 55,00 29 20,71 34 24,29 140 Francisco Vicente Ferreira 23 56,09 13 31,70 5 12,21 41 João Naves de Ávila 17 18,68 45 49,45 29 31,86 91 Ortízio Borges 185 54,09 126 36,84 31 9,06 342 Salomão Abrahão 161 52,61 112 36,60 33 10,79 306 Segismundo Pereira 56 23,14 168 69,42 18 7,43 242 Ubiratan Honório de Castro 21 36,20 22 37,93 15 25,84 58

Fonte: Pesquisa de Campo/out./2007 Org: SOUZA,M.V.M.

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A tabela anterior mostra a distribuição dos tipos de uso das avenidas, dividido

em três usos: residencial, comércio e serviços, lotes vagos. No tipo comércio e serviços

estão incluídas todas as categorias de estabelecimentos presentes na Tabela de

Categorias, que serviu de base para os mapeamentos (ver Anexo I). Pela tabela acima é

possível perceber que as avenidas Belarmino Cotta Pacheco (FIGURA 3) e Segismundo

Pereira (FIGURA 4) se destacam no uso comercial, pois nelas os estabelecimentos de

comércio e serviços correspondem, respectivamente, a 61,02% e 69,42% do total.

Merece destaque também a Avenida João Naves de Ávila, visto que nela os

estabelecimentos comerciais também predominam, com 49,45% do total da avenida. Já

a Avenida César Finotti é aquela entre as pesquisadas que apresenta o menor percentual

de estabelecimentos comerciais, apenas 10,94% das unidades nela presentes.

Figura 3: Avenida Belarmino Cotta Pacheco, importante via comercial do bairro Santa Mônica. Autor: SOUZA, M.V.M., dez/2007.

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Figura 4 - Avenida Segismundo Pereira, principal via comercial do bairro. Autor: SOUZA, M.V.M., dez/2007.

É interessante também realizar esta análise pela distribuição dos

estabelecimentos comerciais nos setores, conforme consta na Tabela 6.

TABELA 6 – UBERLÂNDIA: TIPOS DE ESTABELECIMENTOS POR SETORES DO BAIRRO SANTA MÔNICA – 2007.

Residências Comércio e

Serviços Lotes Vagos Setor nº % nº % nº %

Baixo Santa Mônica (S.1) 393 49,13 335 41,87 72 9,00 Médio Santa Mônica (S.2) 446 48,68 379 41,37 91 9,93 Alto Santa

Mônica (S.3) 350 47,24 248 33,46 143 19,30 Fonte: Pesquisa de Campo/out./2007 Org: SOUZA,M.V.M.

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Analisando por setores percebe-se que o uso residencial prevalece em todos eles,

porém nunca ultrapassa os 50%. Os estabelecimentos de comércio e serviços estão

presentes em maior número nos setores 1 e 2, com 41,87% e 41,37% respectivamente.

O setor 3 apresenta o menor número de estabelecimentos comerciais, com 33,46% no

setor. Por outro lado, é aquele que apresenta o maior número de lotes vagos (FIGURA

5), com 19,30% das unidades mapeadas. Nos mapas 5, 6 e 7 é possível perceber a

distribuição dos estabelecimentos comerciais e de serviços em cada setor.

Figura 5: Vazios Urbanos no Bairro Santa Mônica Autor: SOUZA, M.V.M., dez/2007.

No MAPA 8 percebe-se que os vazios urbanos estão mais concentrados no setor

3. A especulação imobiliária é um processo que ocorre com muita freqüência em

Uberlândia. Segundo Soares (1988), na década de 1960 havia em Uberlândia três lotes

vagos para cada lote ocupado. No setor 3 tem surgido alguns equipamentos importantes,

que estão valorizando os terrenos desta área, como o Centro de Desenvolvimento de

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Negócios (CDN), o Supermercado Bretas e o Hospital Maternidade Madrecor. A

presença desses vazios urbanos explica o fato dos estabelecimentos comerciais não

estarem presentes com tanta força neste setor. Tais equipamentos e as áreas não-

ocupadas fazem com que esta seja uma área que ainda pode desenvolver um setor

comercial mais forte.

Também merece destaque a Avenida João Naves de Ávila. Ela é um eixo

comercial, sendo uma das principais vias de tráfego de Uberlândia, interligando o centro

da cidade à saída para a BR-050. Um dos lados desta avenida faz parte do bairro Santa

Mônica, sendo que o uso comercial é o que mais prevalece, com 49,45%. De todas as

avenidas pesquisadas ela é aquela que apresenta o menor uso residencial, com apenas

18,68% das suas unidades, o que se deve ao fato de ela ser um eixo comercial.

Como nos mapa a representação é pontual, pode parecer que o comércio é

pouco expressivo nesta avenida, mas acontece que os estabelecimentos nela presentes

são de grandes proporções, muitas vezes com uma quadra toda sendo ocupado por um

único estabelecimento. Nesta avenida foi possível analisar que há uma concentração em

dois tipos de estabelecimentos comerciais, especialmente nos setores 1 e 2: serviços

automotivos (FIGURA 6) e casas de materiais para construção (FIGURA 7), como pode

ser observado no MAPA 10, o que a configura como uma via especializada nestes tipos

de atividades. Por outro lado, ela é a avenida que possui o maior índice de lotes vagos

ente as pesquisadas, com 31,86% das unidades da avenida. Estes lotes vagos estão

concentrados no setor 3, em que várias quadras inteiras que margeiam a João Naves

estão desprovidas de qualquer tipo de uso (ver MAPA 7).

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Figura 6: Avenida João Naves de Ávila – Serviços Automotivos Autor: SOUZA, M.V.M., dez/2007.

Figura 7: Avenida João Naves de Ávila – Casas de Materiais para Construção Autor: SOUZA, M.V.M., dez/2007

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Os Serviços Automotivos e de Materiais de Construção são destaque no bairro

como um todo. No setor 1 há uma concentração de Serviços Automotivos na Avenida

Belarmino Cotta Pacheco e de casas de Materiais para Construção na Avenida Ortízio

Borges. No setor 2, estes dois tipos de estabelecimentos aparecem em destaque na

Avenida Segismundo Pereira. Já no setor 3 eles estão mais dispersos, mas há uma

ligeira concentração dos Serviços Automotivos na Avenida Segismundo Pereira.

(MAPA 9).

Os estabelecimentos da categoria Serviços Alimentícios aparecem em grande

número em todo o bairro. Porém, enquadram-se como comércio de consumo cotidiano,

o que não exerce atratividade para pessoas de outros bairros, diferentemente dos

Serviços Automotivos e Materiais de Construção, que são mais especializados.

Desta maneira, este trabalho decidiu propor a delimitação do subcentro do bairro

Santa Mônica. Para isto, foram utilizados os conceitos de atividades centrais e não-

centrais propostos por Murphy e Vance (1954) e também os tipos de consumo propostos

por Duarte (1974), já discutidos no primeiro capítulo. De acordo com Murphy e Vance

(1954) as atividades centrais são: comércio varejista e prestação de serviços para o

consumidor final, escritórios e sede de empresas, órgão públicos, entidades sociais. Já

as não-centrais seriam as residências, lotes vagos, comércio e serviços presentes no

âmbito de todo o espaço urbano (supermercados, panificadoras, lanchonetes, salão de

beleza, postos de gasolinas, escolas).

Estas atividades não-centrais localizam-se por todo o espaço urbano, além de

serem alvo de um consumo cotidiano, o que não faz com que elas exerçam atratividade

a outros espaços da cidade a não ser sua vizinhança. Assim, a proposta de delimitação

do subcentro do bairro Santa Mônica levou em consideração a concentração de

atividades centrais, excluindo áreas em que havia predomínio das atividades não-

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centrais. A proposta da delimitação do subcentro do bairro Santa Mônica encontra-se no

MAPA 11.

A partir desta delimitação é possível fazer algumas análises. O núcleo comercial

do bairro, caracterizado por seu subcentro, encontra-se distribuído pelos setores 1 e 2,

conforme divisão bairro proposta neste trabalho. Percebe-se que este subcentro está

concentrado principalmente em quatro avenidas destes dois setores: Segismundo

Pereira, Belarmino Cotta Pacheco, Ortízio Borges e Salomão Abrahão. Um pequeno

trecho da avenida Dr. Misael de Castro foi incluído neste subcentro, pela concentração

de atividades terciárias ao redor do prédio do Ministério do Trabalho, importante

atividade central localizada nesta avenida.

Por estas características apresentadas o autor decidiu chamar o subcentro do

bairro Santa Mônica de subcentro descontínuo. Isto se deve ao fato das atividades

terciárias estarem concentradas ao longo das avenidas e por haver um hiato de

residências entre elas, já que nas ruas praticamente não existe comércio, como já foi

anteriormente explicado. Nestas avenidas há uma grande movimentação de pessoas,

devido à busca dos serviços oferecidos nestes grandes equipamentos. Assim, não há

uma continuidade física do comércio entre uma avenida e outra, por isso o nome

descontínuo.

O bairro Santa Mônica, cuja origem está bastante ligada à criação da

Universidade Federal de Uberlândia, hoje se encontra bem estruturado, com ótima infra-

estrutura e com um comércio bastante diversificado. A chegada do Centro

Administrativo na década de 1990 fez com que este bairro passasse a ser freqüentado

por toda a cidade, crescendo sua importância perante o espaço urbano. Universidade e

Prefeitura contribuíram muito na diversificação das atividades comerciais, já que o

núcleo comercial do bairro se inicia no espaço entre estas duas instituições. O bairro

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ainda passa por um processo de crescimento, com a instalação de outros importantes

equipamentos, como o Hospital Madrecor, na década de 2000, o que pode levar a um

desenvolvimento maior da estrutura comercial do bairro, já que ainda existem grandes

áreas de vazios urbanos, que podem vir a ser ocupadas por residências, aumentando a

população do bairro e com a necessidade de consumir, levando à expansão da estrutura

comercial varejista no bairro Santa Mônica.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A organização do espaço urbano é bastante complexa, pois integra ao mesmo

tempo elementos do passado, presente e futuro, já que o espaço é uma acumulação

desigual dos tempos, como dizia Milton Santos. A urbanização brasileira ganhou força

ao longo do século XX e esteve bastante associada às mudanças na cadeia produtiva

brasileira, com o início da industrialização.

Durante o século XX ocorreram várias mudanças na estrutura demográfica

brasileira, que tiveram grandes conseqüências no espaço urbano. O crescimento

populacional acentuado no início do século, migrações internas, êxodo rural, levaram a

um aumento da população das cidades e crescimento dos grandes centros urbanos. O

inchaço destes grandes centros acarretou na formulação de políticas que visassem o

crescimento de centros intermediários.

Analisando o conceito de cidades médias verificou-se que ainda não existe um

consenso sobre esta definição, com vários fatores sendo levados em consideração e com

diferentes metodologias espalhadas pelo mundo. Mas estas cidades tiveram importância

fundamental na busca de um equilíbrio ao sistema urbano brasileiro e passaram pelas

transformações ocorridas nas metrópoles, claro em escalas diferentes. Processos como a

centralização, descentralização e surgimento de novas centralidades também ocorreram

nas cidades médias, aumentando a complexidade do espaço urbano. As novas

centralidades nas cidades médias mostram a importância destas perante o sistema

urbano em que se inserem, com uma especialização cada vez maior do espaço urbano.

Nas cidades pequenas, ao contrário, o centro ainda é o coração da cidade e o surgimento

de novas centralidades ainda é praticamente inexistente, pois incompatível com a pouca

complexidade que estas possuem perante a rede urbana.

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Em Uberlândia, muitos fatores propiciaram a ocorrência destes processos no seu

espaço urbano. A cidade, com posição estratégica privilegiada, foi pioneira na expansão

do rodoviarismo no Brasil Central, tornando-se importante centro de distribuição

atacadista. A modernização da agricultura nas áreas de cerrado, a construção de Brasília

também foram importantes para o crescimento da cidade. O aumento populacional de

Uberlândia no século XX foi bastante acentuado e levou, conseqüentemente, a uma

expansão da malha urbana.

Vários foram os agentes responsáveis pela expansão urbana de Uberlândia, entre

eles o Poder Público Municipal e Federal e os incorporadores imobiliários. O aumento

populacional de Uberlândia, aliado ao seu crescimento espacial levou à necessidade de

criar áreas comerciais próximas à população, que passava a se localizar cada vez mais

distante do centro. Assim, ocorreu o processo de descentralização das atividades

terciárias pelo espaço urbano, criando novas centralidades.

O bairro Santa Mônica foi bastante beneficiado com este processo, atraindo para

si uma importante infra-estrutura comercial, graças à presença de equipamentos como a

Universidade Federal de Uberlândia e o Centro Administrativo Municipal. Assim,

formou-se um subcentro comercial no bairro, caracterizado como descontínuo, por

concentrar o comércio ao longo das principais vias, sem haver uma integração do

comércio entre elas.

Ainda é possível haver a expansão deste subcentro comercial, pois o bairro

continua recebendo importantes equipamentos e por haver uma área de expansão

bastante expressiva, já que os vazios urbanos, fruto da especulação imobiliária, ainda

são bastantes presentes na paisagem do Santa Mônica. A delimitação do subcentro

comercial do Santa Mônica se faz importante para ajudar nas diretrizes do Plano Diretor

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Municipal, que visa dinamizar os subcentros comerciais, entre eles o do Santa Mônica,

mas que ainda não foram definidos espacialmente pelo Poder Público Municipal.

Outros estudos importantes podem ser realizados a partir das análises levantadas

sobre o subcentro Santa Mônica. Qual a área influência deste subcentro? De onde vem

os seus consumidores, apenas de Uberlândia? Quais os agentes responsáveis pela

especulação imobiliária no bairro? Quais as perspectivas de ocupação dos vazios

urbanos?

Estas são questões que ficam deste trabalho e que poderão ser respondidas por

estudos posteriores, por aqueles que se interessam pelos processos de transformação do

espaço urbano.

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ANEXOS

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NOME DA AVENIDA

1 R R R

12

1 9 8 12 15

2

13

3

14

4

15

5

16

6

17

7

18

8

19

9

20

 

1 a 20 – Número da quadra, de acordo, definido pelo autor. 

Quadrículas: correspondem ao uso (residência, comércio, lote vago), em ambos os lados da rua. 

Anexo 1 – Matriz de Mapeamento 

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Anexo 2 – Tabela de Categorias 

CÓDIGO  CATEGORIA  TIPO DE ESTABELECIMENTO 

1  Setor Alimentício  Bares, restaurantes, supermercados, mercearias, padarias, açougues, sorveterias, sacolão, etc. 

2  Empresas de Materiais para Construção 

Tintas, madeiras, pisos e azulejos, ferragista, pedras, marmoraria, etc. 

3  Serviços Automotivos  Oficinas mecânicas, auto‐elétricas, lava jato, auto‐peças, som automotivos, alarmes, motos, concessionária,etc. 

4  Transportes  Transportadoras 

5  Distribuidoras e Atacadistas 

Distribuidoras em geral: água, gás, alimentos, bebidas; comércio atacadista. 

6  Serviços Financeiros  Bancos, seguradoras, lotéricas. 

7  Instituições Públicas e Equipamentos 

Urbanos 

Escola, Igreja, Órgãos da Prefeitura, Associação, Governo Federal e Estadual, Correios, etc. 

8  Serviços de Saúde e Estética 

Clínicas médicas, odontológicas, drogarias, salão de beleza, cabeleireiro, óticas, etc. 

9  Serviços Gráficos  Gráficas, Copiadoras, Papelarias, Fotografias. 

10  Consultoria  Advogados, engenheiros, escritórios de contabilidade, consultoria empresarial, etc. 

11  Roupas, Calçados e Acessórios. 

Lojas de roupas, calçados, bijuterias, etc. 

12  Lazer e Diversão  Lan‐house, games, quadras esportivas, etc. 

13 

 

Serviços voltados à Educação 

Escolas de Línguas, de Informática, Auto‐Escola, etc. 

14  Produtos Agrícolas e Veterinários 

Pet‐Shop, Máquinas e Implementos agrícolas 

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15  Incorporadoras Imobiliárias 

Imobiliárias 

16  Serviços de Informática 

Peças, Revenda, Cartuchos, consertos,etc. 

17  Lotes Vagos   

18  Prédios Vagos  Prédios comerciais para aluguel ou em construção 

19  Outros estabelecimentos 

Lojas de móveis, assistência técnica, 1,99, etc. 

20  Hotéis  Hotéis 

R  Residências