3. Educação não formal em Gloria Gohn

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Educao no formal em Gloria Gohn

Educao no formala educao no-formal era vista como o conjunto de processos delineados para alcanar a participao de indivduos e de grupos em reas denominadas extenso rural, animao comunitria, treinamento vocacional ou tcnico, educao bsica, planejamento familiar, entre outras.

Nassif (1980: 277) define a educao informal como "o processo contnuo de aquisio de conhecimentos e competncias que no se localizam em nenhum quadro institucional", acrescentando ainda seu carter no-intencional.

A educao no-formal designa um processo com quatro campos ou dimenses, que correspondem a suas reas de abrangncia. O primeiro envolve a aprendizagem poltica dos direitos dos indivduos enquanto cidados, isto , o processo que gera a conscientizao dos indivduos para a compreenso de seus interesses e do meio social e da natureza que o cerca. O segundo, a capacitao dos indivduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades a, por meio da participao em atividades grupais.

O terceiro,a aprendizagem e exerccio de prticas que capacitam os indivduos a se organizarem com objetivos comunitrios, voltadas para a soluo de problemas coletivos cotidianos [...]O quarto, e no menos importante, a aprendizagem dos contedos da escolarizao formal, escolar, em formas e espaos diferenciados. Aqui, o ato de ensinar se realiza de forma mais espontnea, e as foras sociais organizadas de uma comunidade tm o poder de interferir na delimitao do contedo didtico ministrado bem como estabelecer as finalidades a que se destinam quelas prticas. O quinto a educao desenvolvida na e pela rndia, em especial a eletrnica.

o campo da educao para a vida ou para a arte de bem viverOs educadores no tm dado muita ateno a esta modalidade

O que diferencia a educao no-formal da informal que na primeira existe a intencionalidade de dados sujeitos em criar ou buscar determinadas qualidades e/ou objetivos.

A educao informal decorre de processos espontneos ou naturais, ainda que seja carregada de valores e representaes,como o caso da educao familiar.

Conforme Afonso (1992), a educao informal ocorre nos espaos de possibilidades educativas no decurso da vida dos indivduos, como a famlia, tendo, portanto, carter permanente.

Mas o termo informal no abrange as possibilidades da educao no-formal que estamos aqui destacando, ou seja, as aes e prticas coletivas organizadas em movimentos, organizaes e associaes sociais.Alguns autores teimam em denominar o aprendizado de contedos no-escolares, em espaos associativos, movimentos sociais, ONGs etc. como sendo educao informal.

Achamos que essa terminologia e classificao incorreta,pois trabalha-se com um paradigma bipolar onde existe apenas dois tipos de aprendizagem: o escolar e o no-escolar. Tudo o que ocorre fora dos muros das escolas pensado como aprendizagem no-escolar e perde seu carter de educao propriamente dita (GOHN, 2005, p. 100).

Usualmente se define a educao noformal por uma ausncia, em comparao ao que h na escola (algo que seria nointencional, no-planejado, noestruturado), tomando como nico paradigma a educao formal. Conclumos que os dois nicos elementos diferenciadores que tm sido assinalados pelos pesquisadores so relativos organizao e estrutura do processo de aprendizado.

Os espaos onde se desenvolvem ou se exercitam as atividades da educao noformal so mltiplos, a saber: no bairroassociao, nas organizaes que estruturam e coordenam os movimentos sociais, nas igrejas, nos sindicatos e nos partidos polticos, nas ONGs,nos espaos culturais, e nas prprias escolas, nos espaos interativos dessas com a comunidade educativa..

As categorias de espao e tempo tambm tm novos elementos na educao noformal porque usualmente o tempo da aprendizagem no fixado a priori e so respeitadas as diferenas existentes para a absoro e reelaborao dos contedos, implcitos ou explcitos,no processo ensinoaprendizagem.

Como existe a flexibilidade no estabelecimento dos contedos, segundo os objetivos do grupo, a forma de operacionalizar estes contedos tambm tem diferentes dimenses em termos de sua operacionalizao. Assim, o espao tambm algo criado e recriado segundo os modos de ao previstos nos objetivos maiores que do sentido ao fato de determinado grupo social estar se reunindo.

Campos e problemas da educao no formal segundo seus objetivos: o primeiro, destinado a alfabetizar ou transmitir conhecimentos que historicamente tm sido sistematizados pelos homens e mulheres, planejados para as clientelas sujeitos das aes educativas, com uma estrutura e uma organizao distinta das organizaes escolares, abrangendo a rea que se convencionou chamar de educao popular (conforme uso corrente nos anos 70/80) e educao de jovens e adultos (nos anos 90). O segundo, abrange a educao gerada no processo de participao social, em aes coletivas no voltadas para o aprendizado de contedos da educao formal.

Em relao primeira modalidade, destinada aprendizagem da escrita e da leitura por procedimentos e mtodos no oficiais, existe a preocupao de se transmitir os mesmos contedos da escola formal, de se repassar o acervo de conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade. [..] Entretanto, esse repasse desenvolvido em espaos alternativos e com metodologias e seqncias cronolgicas diferenciadas,com contedos curriculares flexveis, adaptados segundo a realidade da clientela a ser atendida.

Outra diferena fundamental dada pelos objetivos das aes. Na educao no-formal a cidadania o objetivo principal, e ela pensada em termos coletivos. Organizam-se processos de acesso escrita e leitura- por meio de mtodos de alfabetizao para coletivos especficos,a saber: grupos de trabalhadores,grupos de jovens, adultos etc. ou organizam-se processos de reciclagem ou formao, segundo determinadas demandas sociais.

Como se aprende na educao no formalUm dos supostos bsicos da educao noformal o de que a aprendizagem se d por meio da prtica social. a experincia das pessoas em trabalhos coletivos que gera um aprendizado. A produo de conhecimentos ocorre no pela absoro de contedos previamente sistematizados,objetivando ser apreendidos, mas o conhecimento gerado por meio da vivncia de certas situaes-problema.

As aes interativas entre os indivduos so fundamentais para a aquisio de novos saberes, e essas aes ocorrem fundamentalmente no plano da 'comunicao verbal, oral, carregadas de todo o conjunto de representaes e tradies culturais que as expresses orais contm.

a educao no-formal tem sempre um carter coletivo, passa por um processo de ao grupal, vivida como prxis concreta de um grupo, ainda que o resultado do que se aprende seja absorvido individualmente O processo ocorre a partir de relaes sociais, mediadas por agentes assessores, e profundamente marcado por elementos de intersubjetividade medida que os mediadores desempenham o papel de comunicadores

Tipos de aprendizagemEscolasApresentam um carter compulsrio voluntrio

AssociaesApresentam um carter voluntrio

Do nfase apenas instruoFavorecem o individualismo e a competio Preocupam-se essencialmente com a reproduo cultural e social So hierarquizadas e fortemente formalizadas Dificultam a participao Utilizam mtodos centrados no professor-instrutor Subordinam-se a um poder centralizado

Promovem sobretudo a socializaoPromovem a solidariedade Preocupam-se essencialmente com a mudana social So pouco formalizadas e pouco ou incipientemente hierarquizadas Favorecem a participao Proporcionam a investigao-ao e projeto de desenvolvimento So por natureza formas de participao descentralizada.

A maior importncia da educao no-formal est na possibilidade de criao de novos conhecimentos, ou seja, a criatividade humana passa pela educao no-formal

Ao estudarmos a educao noformal desenvolvida junto a grupos sociais organizados ou movimentos sociais devemos atentar para as questes das metodologias e modos de funcionamento, por serem um dos aspectos mais relevante do processo de aprendizagem. H necessidade de estudos aprofundados sobre as metodologias de trabalho utilizadas na rea da educao no-formal

Os procedimentos metodolgicos utilizados nos processos da educao no-formal esto pouco codificados na palavra escrita e bastante organizados ao redor da fala A voz ou vozes, que entoam ou ecoam de seus participantes so carregadas de emoes, pensamentos, desejos etc. So falas que estiveram caladas e passaram a se expressar por algum motivo impulsionador (carncia socioeconmica, direito individual ou coletivo usurpado ou negado, projeto de mudana, demanda no atendida).

Ao se expressar, os atores/sujeitos dos processos de aprendizagem articulam o universo de saberes disponveis, passados e presente, no esforo de pensar/elaborar/reelaborar sobre a realidade em que vivem. Os cdigos culturais so acionados, e afIoram as emoes contidas na subjetividade de cada um.

Sistematizar a metodologia contida nos processos de interao/aprendizagem depender de nossa capacidade, enquanto educadores, de entender os sujeitos pensantes/falantes no interior dos processos sociais em movimento, nas organizaes etc. Para tanto, muito importante que saibamos escutar no apenas as falas, mas tambm os silncios que acompanham ou interrompem aquelas falas.

Ou seja, devemos desenvolver capacidades e habilidades no campo da lingstica e buscar captar os contedos motivacionais, ideolgicos, bem como emocionais/cognitivos. Mergulharmos no universo da cultura torna-se tarefa to importante como entendermos o contexto socioeconmico dos grupos em estudo.

O lugar da educao no-formal na "Escola da Liberdade e Criatividade A escola da liberdade e criatividade pressupe alteraes na forma e no contedo dos currculos escolares, assim como no processo de formao dos docentes, que no pode se resumir aquisio de conhecimentos em domnios exclusivamente acadmicos, mas devese adentrar no mundo das comunicaes.