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FACULDADE DE ODONTOLOGIA ASSOCIAÇÃO ENTRE O USO DE BISFOSFONATOS E OSTEONECROSE DOS MAXILARES: ESTUDO EM RATOS MARCIA ANGELICA PETER MAAHS 2008

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FACULDADE DE ODONTOLOGIA

ASSOCIAÇÃO ENTRE O USO DE BISFOSFONATOS E

OSTEONECROSE DOS MAXILARES:

ESTUDO EM RATOS

MARCIA ANGELICA PETER MAAHS

2008

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE ODONTOLOGIA

MARCIA ANGELICA PETER MAAHS

ASSOCIAÇÃO ENTRE O USO DE BISFOSFONATOS E OSTEONECROSE DOS

MAXILARES: ESTUDO EM RATOS

PORTO ALEGRE

2008

MARCIA ANGELICA PETER MAAHS

ASSOCIAÇÃO ENTRE O USO DE BISFOSFONATOS E OSTEONECROSE DOS

MAXILARES: ESTUDO EM RATOS

Tese apresentada como requisito para obtenção do título de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Área de Concentração em Estomatologia Clínica, Faculdade de Odontologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Orientador(a): Dra. Karen Cherubini

Consultor: Dr. Alan Arrieira Azambuja

PORTO ALEGRE

2008

DEDICATÓRIA

Dedico esta tese aos meus pais, Darci e Clarinha, por serem

muito importantes em minha vida. Ao meu esposo Gerson que,

através do nosso amor, é meu grande companheiro e sempre

apóia minhas decisões. Aos meus filhos Gerhard e Thomas,

meus grandes amigos, por fazerem a vida valer muito a pena. À

minha irmã Débora, por sempre me incentivar, e aos demais

familiares, pelo convívio motivador.

AGRADECIMENTOS

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha orientadora, professora Dra. Karen Cherubini que de forma

serena, séria e responsável objetivou e se fez presente em todas as etapas desta tese, e por ser

um grande exemplo de caráter.

Ao médico oncologista Dr. Alan Arrieira Azambuja que, por meio de seus

conhecimentos e empenho, muito colaborou com o trabalho.

Aos professores deste Curso de Doutorado, que atuaram de forma profissional, séria e

estimulante com o objetivo de ensinar. Em especial, à professora Dra. Liliane Soares Yurgel,

que se fez presente em muitos momentos durante a pesquisa.

Aos professores de Ortodontia da UFRGS Drs. Eduardo Silveira Ferreira, José

Renato Prietsch e Karina Santos Mundstock, por serem meus exemplos profissionais. Em

especial, ao professor Enio Barcellos Ferreira que, até hoje, possibilita-me desfrutar de seus

conhecimentos, ao professor Telmo Bandeira Berthold por estar presente desde o princípio

em minha formação profissional e ao professor Carlos Alberto Mundstock, pelas

oportunidades científicas.

Aos meus colegas do Curso de Doutorado Elaini Hosni, Sérgio Miguens e Tissiana

Rossi, pela troca de experiências durante as disciplinas cursadas.

Ao laboratório farmacêutico Novartis, por fornecer o zoledronato.

À Faculdade de Farmácia da PUCRS, por disponibilizar o local para realização do

experimento. Em especial, às professoras Fernanda Morroni e Maria Martha Campos,

pela permissão e assessoramento técnico respectivamente.

À patologista Dra. Ana Geyer, pelo auxílio por meio de seus conhecimentos.

Ao professor Dr. Vinícius Duval da Silva, do Laboratório de Anatomia Patológica do

Hospital São Lucas da PUCRS, por disponibilizar o equipamento para o processo de captura e

análise das imagens histológicas.

Ao professor Dr. Jefferson Braga Silva e ao técnico de laboratório Gilmar Pontes

Moreira, do Laboratório da Faculdade de Medicina - Técnica Operatória, Anatomia

Patológica e Microcirurgia da PUCRS, pelo apoio técnico na fase inicial.

À minha colega e amiga Dra. Cínthia Cense Corrêa, por ter auxiliado no início desta

pesquisa.

A Deus, pela vida e saúde!

EPÍGRAFE

Uma pessoa permanece jovem na medida em que

ainda é capaz de aprender, adquirir novos hábitos

e tolerar contradições.

Marie von Ebner- Eschenbach (1830-1916)

RESUMO

RESUMO

A presente pesquisa teve por objetivo investigar se a terapia com bisfosfonato

nitrogenado é fator suficiente à ocorrência de osteonecrose maxilar em indivíduos submetidos

a exodontias, bem como avaliar os eventos macro e microscópicos que caracterizam a área

submetida a exodontias nesses indivíduos. Trinta e um ratos fêmeas (Rattus norvegicus,

Wistar) foram distribuídos em 3 grupos submetidos a exodontias: (1)11 animais tratados com

alendronato por via oral; (2)10 animais tratados com zoledronato por via parenteral e (3)10

animais que não receberam bisfosfonato. Aos 45 dias do início da terapia, os grupos foram

submetidos a exodontias e, concluído o prazo de 145 dias, os animais foram mortos. Após

avaliação macroscópica, que investigou a presença de solução de continuidade da mucosa,

cortes histológicos da área das exodontias foram corados por hematoxilina e eosina (HE) e

submetidos a processamento imunoistoquímico empregando-se o anticorpo monoclonal anti-

VEGF (VG1). As lâminas coradas por HE foram submetidas à avaliação das variáveis

osteonecrose, infiltrado celular inflamatório, colônias microbianas, tecido epitelial, tecido

conjuntivo fibroso, resto radicular e osso vital. A expressão imunoistoquímica do VEGF em

campo de tecido ósseo vital também foi avaliada. As variáveis foram quantificadas aplicando-

se o método da contagem manual de pontos por meio do software Image Pro Plus 6.0. Na

avaliação macroscópica, verificou-se que o grupo zoledronato está associado à presença de

solução de continuidade da mucosa (qui-quadrado, análise de resíduos ajustados, P<0,001).

Nas variáveis osteonecrose, infiltrado celular inflamatório e colônias microbianas, o grupo

zoledronato exibiu percentuais significativamente maiores do que os demais grupos. Nas

variáveis tecido epitelial, tecido conjuntivo fibroso, resto radicular, osso vital (Kruskal-

Wallis, teste de comparações múltiplas, α=0,05) e marcação positiva para VEGF (ANOVA,

P=0,860) não houve diferença significativa entre os grupos avaliados. Os resultados permitem

concluir que (1) a administração de bisfosfonato nitrogenado por via parenteral está associada

à osteonecrose dos maxilares e é condição suficiente para que esta ocorra em indivíduos

submetidos a exodontias; (2) o bisfosfonato nitrogenado administrado por via oral não

constitui condição suficiente para a ocorrência de osteonecrose maxilar em indivíduos

submetidos a exodontias; (3) a administração de bisfosfonato nitrogenado, por via oral ou

parenteral, não está associada à diminuição da expressão imunoistoquímica do VEGF em

tecido ósseo vital na área das exodontias.

Palavras-chave: Bisfosfonatos. Osteonecrose dos Maxilares. Angiogênese. Zoledronato.

Alendronato.

SUMMARY

SUMMARY

The aim of this work was to investigate if nitrogen bisphosphonate therapy is a

sufficient condition to determine the occurrence of maxillary osteonecrosis in individuals

undergoing tooth extraction, as well to assess the macro- and microscopic features at the site

of tooth extraction in this population. Thirty-one female rats (Rattus norvegicus, Wistar) were

allocated into 3 groups: (1)11 rats treated with oral alendronate; (2)10 rats treated with

parenteral zoledronate, and (3)10 rats without bisphosphonate treatment. At the 45th day of

drug administration, all groups were submitted to tooth extractions and, as completed 145-day

period, the animals were euthanized. After a macroscopic evaluation for the presence of oral

mucosal lesion, histological slices of the site of tooth extraction were processed for

hematoxilin/eosin staining and immunohistochemistry with anti-VEGF monoclonal antibody

(VG1). Osteonecrosis, inflammatory cell infiltrate, microorganism colonies, epithelial tissue,

connective tissue, root fragment and vital bone were determined with HE staining. The tooth

extraction site was also analyzed for VEGF immunohistochemical expression of vital bone

tissue. Variables were quantified by the manual point counting method using the software

Image Pro Plus 6.0. Macroscopic analysis showed that the zoledronate group was associated

with the occurrence of oral mucosal lesion (chi-square, residual adjusted analysis, P<0.001).

The zoledronate group also showed significant higher incidences of osteonecrosis,

inflammatory cell infiltrate and microorganism colonies in comparison to the other groups.

There was no significant difference for incidence of epithelial tissue, connective tissue, root

fragment, vital bone (Kruskal-Wallis, multiple comparison test, α=0.05) and positive staining

for VEGF (ANOVA, P=0.860) among the groups analyzed. According to the results, (1)

parenteral therapy with nitrogen bisphosphonate is associated with maxillary osteonecrosis

and represents sufficient condition for the occurrence of osteonecrosis in individuals

submitted to tooth extraction; (2) oral therapy with nitrogen bisphosphonate is not a sufficient

condition for the occurrence of maxillary osteonecrosis in individuals submitted to tooth

extraction; (3) neither oral or parenteral nitrogen bisphosphonate therapy is associated with

lower immunohistochemical VEGF expression of vital bone tissue at the tooth extraction site.

Key words: Bisphosphonates. Osteonecrosis of the Jaws. Angiogenesis. Zoledronate.

Alendronate.

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE FIGURAS

Figura 1– Estrutura química dos bisfosfonatos ........................................................................26

Figura 2 – Administração dos fármacos: (A) pesagem dos animais; (B) administração do

alendronato, técnica de gavagem oral; (C) administração intraperitoneal do zoledronato .....42

Figura 3 – Avaliação clínica.....................................................................................................42

Figura 4 – Etapas das Exodontias: (A) anestesia; (B) posicionamento do animal e instrumental

empregado; (C) procedimento cirúrgico; (D) molares superiores extraídos ............................44

Figura 5 – Exame macroscópico: (A) sondagem com sonda clínica n˚ 5 evidencia solução de

continuidade da mucosa; (B) espécime sem solução de continuidade da mucosa ...................45

Figura 6 – Desenho esquemático do preparo do espécime para processamento histológico ...46

Figura 7 – Preparo do espécime para processamento histológico ............................................46

Figura 8 – Área das exodontias (lado direito) e área oposta (com dentes) contempladas tanto no

espécime macroscópico (A) quanto no corte histológico (B, C). HE, aumento aproximado:

100X ............................................................................................................................................... 48

Figura 9 – Imagens capturadas no sítio das exodontias. HE, objetiva 5X ...............................49

Figura 10 – Quantificação das variáveis histológicas (HE) pelo método de contagem manual

de pontos...................................................................................................................................49

Figura 11 – Quantificação da expressão imunoistoquímica do VEGF pelo método de

contagem manual de pontos .....................................................................................................50

Figura 12 – Distribuição da amostra segundo a presença das variáveis histológicas avaliadas,

Porto Alegre, 2008....................................................................................................................54

Figura 13 – Mediana das variáveis histológicas nos grupos zoledronato, alendronato e

controle, Porto Alegre, 2008.....................................................................................................56

Figura 14 – Osteonecrose: osso não-vital e colônias microbianas. HE, aumento aproximado:

200X .........................................................................................................................................57

Figura 15 – Osso não-vital (A) contíguo ao osso vital (B). HE, aumento aproximado:100X.58

Figura 16 – Colônias microbianas compatíveis com Actinomyces sp. e infiltrado inflamatório.

HE, aumento aproximado: 400X..............................................................................................58

Figura 17 – Osteonecrose, colônias microbianas e infiltrado inflamatório. HE, aumento

aproximado: 200X ....................................................................................................................59

Figura 18 – Infiltrado inflamatório (áreas próximas aos restos radiculares): linfócitos,

plasmócitos e células gigantes multinucleadas (seta). HE, aumento aproximado: 400X.........59

Figura 19 – Reparo cicatricial: osso vital, tecido conjuntivo fibroso e revestimento por epitélio

pavimentoso estratificado ceratinizado. HE, aumento aproximado: 100X ..............................60

LISTA DE TABELAS

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição da amostra segundo presença/ausência de solução de continuidade na

mucosa oral ao exame macroscópico (área das exodontias), Porto Alegre, 2008....................52

Tabela 2 – Distribuição da amostra de acordo com presença/ausência das variáveis

histológicas avaliadas na área das exodontias, Porto Alegre, 2008..........................................54

Tabela 3 – Quantificação das variáveis histológicas (HE) na área das exodontias nos grupos

zoledronato, alendronato e controle, Porto Alegre, 2008.........................................................55

Tabela 4 – Expressão imunoistoquímica do VEGF em área de osso vital nos grupos

zoledronato, alendronato e controle, Porto Alegre, 2008.........................................................57

SUMÁRIO

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................22

2 REVISÃO DA LITERATURA ..........................................................................................25

2.1 BISFOSFONATOS ............................................................................................................25

2.1.1 Estrutura Química.........................................................................................................25

2.1.2 Farmacocinética.............................................................................................................26

2.1.3 Mecanismo de Ação .......................................................................................................27

2.1.4 Indicações .......................................................................................................................29

2.1.5 Efeitos Adversos.............................................................................................................31

2.1.5.1 Osteonecrose.................................................................................................................32

3 PROPOSIÇÃO ....................................................................................................................38

3.1 HIPÓTESE .........................................................................................................................38

3.2 OBJETIVOS.......................................................................................................................38

3.2.1 Objetivo Geral ...............................................................................................................38

3.2.2 Objetivos Específicos .....................................................................................................38

4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................40

4.1 DELINEAMENTO.............................................................................................................40

4.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ............................................................................40

4.3 PROCEDIMENTOS...........................................................................................................40

4.3.1 Manutenção dos Animais ..............................................................................................40

4.3.2 Administração dos Fármacos .......................................................................................41

4.3.3 Avaliação Clínica ...........................................................................................................42

4.3.4 Exodontias ......................................................................................................................43

4.3.5 Eutanásia, Avaliação Macroscópica e Preparo dos Espécimes .................................44

4.3.6 Confecção das Lâminas Histológicas ...........................................................................47

4.4 ANÁLISE HISTOLÓGICA ...............................................................................................47

4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA.................................................................................................50

5 RESULTADOS ....................................................................................................................52

5.1 AVALIAÇÃO CLÍNICA ...................................................................................................52

5.2 AVALIAÇÃO MACROSCÓPICA....................................................................................52

5.3 AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA ........................................................................................53

5.3.1 Distribuição da Amostra de Acordo com as Variáveis Histológicas (HE) ...............53

5.3.2 Quantificação das Variáveis Histológicas na Área das Exodontias (HE) ................55

5.3.3 Quantificação da Expressão Imunoistoquímica do VEGF em Área de Osso Vital.56

5.3.4 Análise Descritiva (HE).................................................................................................57

5.3.4.1 Osteonecrose.................................................................................................................57

5.3.4.2 Colônias Microbianas ...................................................................................................58

5.3.4.3 Infiltrado Inflamatório ..................................................................................................59

5.3.4.4 Reparo Cicatricial .........................................................................................................60

6 DISCUSSÃO ........................................................................................................................62

7 CONCLUSÕES....................................................................................................................70

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................72

ANEXOS .................................................................................................................................86

INTRODUÇÃO

22

1 INTRODUÇÃO

A primeira síntese dos bisfosfonatos ocorreu na metade do século XIX, em 1865 na

Alemanha, para aplicação na indústria. Em seres humanos, o uso iniciou há cerca de 40 anos

(FLEISCH, 1998). Esses compostos têm, em sua estrutura química, uma ligação P-C-P e

agem como eficazes inibidores da reabsorção óssea mediada pelos osteoclastos. Tal

propriedade lhes confere indicação no manejo de desordens do cálcio e do metabolismo ósseo

(FLEISCH, 1987) caracterizadas por aumento da reabsorção óssea, como a doença de Paget,

hipercalcemia, metástases ósseas de neoplasias malignas, hiperparatireoidismo primário e

secundário e osteoporose (VASIKARAN, 2001).

Desde 2003, a literatura tem relatado casos de osteonecrose dos maxilares em

pacientes submetidos à terapia com bisfosfonatos, principalmente após exodontias (CARTER

et al., 2005; MARX, 2003; MORTENSEN et al., 2007; RUGGIERO et al., 2004; ZUAZAGA

et al., 2006). Fatos intrigantes e ainda não esclarecidos como a restrição da lesão ao

complexo maxilomandibular sem acometer outros sítios do esqueleto (MARX et al., 2005) e o

desafio que representa à abordagem terapêutica têm despertado a atenção da comunidade

científica (MARX, 2003; MIGLIORATI, 2003; MIGLIORATI et al., 2005; PURCELL;

BOYD, 2005).

Há relatos de que o uso oral dos bisfosfonatos compreende menor risco à

osteonecrose, enquanto a administração intravenosa representa risco elevado (FARRUGIA et

al., 2006; PURCELL; BOYD, 2005). Uso de corticosteróides, quimioterapia (SCHWARTZ,

1982; TARASSOFF; CSERMAK, 2003), radioterapia, presença de anemia, coagulopatias,

infecções, doenças orais pré-existentes (NOVARTIS ONCOLOGY MEDICAL AFFAIRS &

SERVICES, 2004), história familiar, estilo de vida, uso de álcool e tabaco (MIGLIORATI et

al., 2005), entre outros, são apontados como fatores de risco. Entretanto, a real necessidade de

sua participação no desenvolvimento das lesões ainda é assunto controverso.

Seria o uso do bisfosfonato fator suficiente para o desenvolvimento de osteonecrose

em pacientes submetidos a trauma do tecido ósseo do complexo maxilomandibular? O papel

dos fatores de risco é fator indispensável à ocorrência das lesões? Existe efetiva diferença de

risco à osteonecrose a depender da via de administração do bisfosfonato? As informações de

que se dispõe até o momento são, em sua maioria, resultado de pesquisas clínicas que avaliam

pacientes portadores da condição. A presente pesquisa teve por objetivo investigar em

modelos animais se a terapia com bisfosfonato, pelas vias oral e parenteral, é fator suficiente à

23

ocorrência de osteonecrose maxilar em indivíduos submetidos a exodontias, bem como

avaliar os eventos macro e microscópicos que caracterizam a área submetida a exodontias

nesses indivíduos.

REVISÃO DA LITERATURA

25

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 BISFOSFONATOS

2.1.1 Estrutura Química

Os bisfosfonatos compõem uma classe de substâncias químicas que exibem a ligação

P-C-P em sua estrutura. São análogos químicos do ácido pirofosfórico (Figura 1) que, no

organismo humano, ocorre como pirofosfato, um inibidor natural da reabsorção óssea. O

pirofosfato não pode ser empregado como agente terapêutico no tratamento de doenças

ósseas, pois sofre rápida hidrólise enzimática. Os bisfosfonatos, por sua vez, são seus

análogos sintéticos, em que o átomo central de oxigênio é substituído por um átomo de

carbono. Essa modificação faz com que sejam mais resistentes à degradação enzimática e

tenham meia-vida biológica maior, o suficiente para influenciar o metabolismo ósseo

(LICATA, 1997). Diferentes substituintes nos radicais R1 e R2, ligados ao carbono central,

conferem características únicas para cada fármaco (Figura 1). O grupo R1 confere aos

bisfosfonatos afinidade pelos cristais ósseos, enquanto o grupo R2 é responsável pela potência

e atividade farmacológica (FLEISCH, 1989). A presença do grupamento hidroxila (OH) em

R1 confere maior fixação ao osso e é característica dos fármacos alendronato, etidronato,

ibandronato, pamidronato, risedronato e zoledronato. Por outro lado, a presença de cloro (Cl)

em R1, como acontece com o clodronato, significa fixação reduzida (RESZKA, 2004).

26

Figura 1- Estrutura química dos bisfosfonatos Fonte: Modificado de Reszka (2004)

Existem três gerações de bisfosfonatos. A primeira é composta pelos não-

nitrogenados, que inclui os análogos do trifosfato de adenosina (ATP) etidronato, clodronato

(LEHENKARI et al., 2002; RESZKA, 2004) e o tiludronato (CARTER et al., 2005), que

possui potência anti-reabsortiva similar à do clodronato (ROGERS et al., 2000). A segunda e

a terceira gerações são compostas pelos nitrogenados. Os da segunda geração, alendronato,

pamidronato (TENENBAUM et al., 2002) e ibandronato (PONTE FERNÁNDEZ et al.,

2006), são de 10 a 1000 vezes mais potentes que os da primeira (LIN, 1996). Os da terceira

geração contêm uma cadeia cíclica (ROGERS et al., 2000), sendo seus representantes o

risedronato e o zoledronato (TENENBAUM et al., 2002). Este último, cuja potência é 100 a

850 vezes superior à do pamidronato, é o mais potente entre os já submetidos a testes in vitro

e in vivo (BODY, 1997).

2.1.2 Farmacocinética

Os bisfosfonatos administrados por via oral são pouco absorvidos pelo organismo

(FARIAS, 2005; GERTZ et al., 1991; LIN et al., 1991), com taxa de absorção igual ou

27

inferior a 1% da dose administrada. A absorção é quase totalmente prevenida com o uso de

alimentos que contenham cálcio ou outros íons divalentes que façam o quelamento do

fármaco (GERTZ et al., 1991; LIN et al., 1991). Se administrados por infusão intravenosa,

são rapidamente removidos do plasma e exibem taxa de excreção renal de 40% nas primeiras

24 horas. Não ocorre metabolização pelo tecido ósseo (KHAN et al., 1997), a excreção renal é

a única rota de eliminação. Por outro lado, uma vez ligados ao tecido ósseo, só são liberados

quando este sofre reabsorção (LIN, 1996). São resistentes à degradação enzimática, e a meia-

vida no esqueleto pode ser superior a um ano (LICATA, 1997). A droga tem efeito

cumulativo no tecido ósseo, e dados sugerem que nem toda a fração acumulada seja ativa,

apenas aquela que está na superfície óssea, por isso a necessidade de reposição (SATO et al.,

1991). Os bisfosfonatos sofrem baixa absorção intestinal em humanos, com

biodisponibilidade de cerca de 0,7% para o alendronato, por exemplo (LIN, 1996).

2.1.3 Mecanismo de Ação

A estrutura química dos bisfosfonatos determina, além da fixação ao osso e de sua

potência, efeitos intracelulares (LEHENKARI et al., 2002). Os dois efeitos biológicos

fundamentais são: inibição da calcificação (normal e ectópica), quando administrados em

altas doses, e inibição da reabsorção óssea (FLEISCH, 1998). O mecanismo de ação baseia-se

na alta afinidade ao cálcio esqueletal e na prevenção da dissolução dos cristais ósseos

(LICATA, 1997). Como não são metabolizados, mantêm-se em altas concentrações no osso

por muito tempo (RODAN; FLEISCH, 1996), unidos fortemente aos cristais de hidroxiapatita

(BARRIOS GONZÁLEZ; GARCÍA NIETO, 2005; LICATA, 1997). Durante a reabsorção,

são internalizados pelos osteoclastos (BARRIOS GONZÁLEZ; GARCÍA NIETO, 2005;

LICATA, 1997), o que leva, posteriormente, à perturbação desse processo (RODAN;

FLEISCH, 1996).

Os diferentes grupos de bisfosfonatos podem atuar por mecanismos distintos, porém

seu efeito final é a diminuição do desempenho dos osteoclastos, bem como a indução dos

mesmos à apoptose. A droga causa redução precoce da reabsorção seguida por redução tardia

da formação óssea. Também in vitro, inibem a reabsorção óssea por parte dos osteoclastos,

que é estimulada por uma variedade de agentes osteotrópicos, como o hormônio da

paratireóide (PTH), o calcitriol, as prostaglandinas e as citocinas. A redução da reabsorção

28

induz à redução do nível sérico de cálcio, o que leva ao aumento do PTH (VASIKARAN,

2001).

Pesquisas com marcadores bioquímicos demonstraram que os bisfosfonatos inibem a

reabsorção e diminuem o turnover ósseo (McCLUNG et al., 2005; OYAJOBI; MUNDY,

2004). O efeito sobre os osteoclastos ocorre em vários níveis: inibição do recrutamento

(HUGHES et al., 1989; FLEISCH, 1993), diminuição do tempo de vida (HUGHES et al.,

1995), inibição da atividade do osteoclasto na superfície óssea (MURAKAMI et al., 1995) e

ativação da apoptose (FLEISCH, 1993; IGARASHI et al., 1996).

Também tem sido postulado que os bisfosfonatos induzem os osteoblastos, que

controlam o recrutamento e a atividade dos osteoclastos em condições fisiológicas e

patológicas (COLLIN et al., 1992), a secretar um inibidor da reabsorção osteoclástica (VITTÉ

et al., 1996), a osteoprotegerina (VIERECK et al., 2002). Reinholz et al. (2000), ao

empregarem osteoblastos fetais humanos, demonstraram que estes sofrem ação tanto do

pamidronato quanto do zoledronato, o que aumenta a formação óssea.

Os bisfosfonatos exibem distintos mecanismos de ação, conforme sejam nitrogenados

ou não-nitrogenados. Evidências sugerem que os nitrogenados, que incluem o zoledronato e o

alendronato, possuem mecanismo de ação e propriedades farmacológicas sobre a atividade de

osteoclastos e células tumorais (SUZUKI et al., 2006), por meio da inibição de uma enzima-

chave na via do mevalonato, a farnesil pirofosfato sintase (FPP-sintase), que bloqueia uma via

colateral responsável pelo controle da prenilação e ativação das proteínas de sinalização

intracelular (SUZUKI et al., 2006; RESZKA, 2004; VASCONCELLOS et al., 2004). Tais

eventos conduzem à inativação de GTPases e interferência na transmissão de sinais de

algumas citocinas, o que leva à apoptose dos osteoclastos e inibição de sua atividade

(RESZKA, 2004; VASCONCELLOS et al., 2004). GTPases como a Ras e a Rho suprimem a

reabsorção óssea, levando a mudanças na morfologia e motilidade dos osteoclastos

(RESZKA, 2004) e são importantes na organização do citoesqueleto (RESZKA, 2004;

VASCONCELOS et al., 2004).

Os bisfosfonatos não-nitrogenados são metabolizados em análogos citotóxicos de

ATP, responsáveis pela inibição da função mitocondrial dos osteoclastos, o que resulta em

apoptose (ROGERS et al., 2000). A ativação das proteases chamadas caspases tem

importância na indução da apoptose. As caspases 3, 8 e 9 podem ser ativadas nos osteoclastos,

o que determina a hidrólise de diversas proteínas ao nível da seqüência de aminoácidos

DEVD (RESZKA, 2004).

29

Embora o mecanismo de ação dos bisfosfonatos ainda seja pobremente compreendido

(BAGAN et al., 2005; RUGGIERO et al., 2004), há relatos sobre seu efeito antiangiogênico

(FOURNIER et al., 2002; KAPITOLA et al., 2000; WOOD et al., 2002). A angiogênese

constitui resposta ao aumento da massa tecidual, ou a alterações na tensão de oxigênio, ou

ambas, sendo que o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) aumenta com a hipóxia.

Em adultos sob condições fisiológicas, a angiogênese só ocorre em situações específicas

como a consolidação de fraturas. Na artrite reumatóide, bem como em doenças malignas e

cardiovasculares, a mesma é patológica e pode ser excessiva ou insuficiente (SIVAKUMAR

et al., 2004). Diminuição da proliferação e aumento da apoptose de células endoteliais foram

observados em ratos sob ação dos bisfosfonatos, o que sugere que estes inibam a angiogênese

(FOURNIER et al., 2002). O efeito antiangiogênico do zoledronato foi comprovado em ratos,

propriedade que respalda seu emprego no tratamento de doenças ósseas malignas e também

de outras enfermidades ósseas com componente angiogênico (WOOD et al., 2002). O

pamidronato diminui significativamente o suprimento sangüíneo ósseo em ratos (KAPITOLA

et al., 2000), bem como os níveis séricos de VEGF em pacientes portadores de neoplasia

maligna (SANTINI et al., 2002).

2.1.4 Indicações

Os bisfosfonatos são empregados no tratamento de enfermidades com repercussão no

metabolismo ósseo. A prescrição da droga a crianças limita-se a casos de osteoporose

localizada ou generalizada (osteogênese imperfeita, osteoporose idiopática juvenil,

osteoporose secundária a corticosteróides, hiper e hipofosfatasia), enfermidades metabólicas

ósseas (displasia fibrosa poliostótica, miosite ossificante), calcificações de tecidos moles e

condições de hipercalcemia, como hipercalcemias próprias de enfermidades malignas,

hipercalcemias da imobilização (crianças com dano cerebral que desenvolvem calcificações

heterotópicas em algumas articulações) e hiperparatireoidismo primário (BARRIOS

GONZÁLEZ; GARCÍA NIETO, 2005). Também são empregados no tratamento da

fibrodisplasia e no alívio dos sintomas da osteogênese imperfeita (VASCONCELLOS et al.,

2004), já que diminuem o tempo de vida dos osteoclastos (VEINSTEIN et al., 2002). Em

adultos, os bisfosfonatos são empregados no manejo de alterações do cálcio e do metabolismo

ósseo (FLEISCH, 1987) em que ocorre excessiva atividade dos osteoclastos, tais como

30

hiperparatireoidismo primário e secundário e osteoporose, entre outras (FLEICSH, 1998).

Atualmente, com o aumento da expectativa de vida da população, a osteoporose tornou-se um

importante problema de saúde pública (FERNANDES et al., 2005), o que acarretou o

incremento do uso dos bisfosfonatos em sua prevenção, com o objetivo de reduzir a

incidência de fraturas (VASIKARAN, 2001).

Os bisfosfonatos são indicados no tratamento da hipercalcemia moderada a severa

associada ao câncer e de lesões osteolíticas metastáticas associadas ao câncer de mama e ao

mieloma múltiplo, juntamente a agentes quimioterápicos (HILLNER et al., 2000;

BERENSON et al., 2002), sendo os intravenosos mais eficazes para este fim (BROWN;

COLEMAN, 2002; FARIAS, 2005; PAPAPOULOS et al., 2000). Também são empregados

no tratamento da doença de Paget e para metástases ósseas de câncer de pulmão (COLEMAN,

2000) e de próstata (PAPAPOULOS et al., 2000). O zoledronato tem sido o tratamento de

eleição para hipercalcemia e dor óssea associadas a neoplasias malignas (BROWN;

COLEMAN, 2002) e no tratamento de metástases ósseas do câncer de próstata (GOFFINET

et al., 2006). Os bisfosfonatos de administração oral são mais indicados para o tratamento da

osteoporose, pois não são tão eficazes no tratamento de lesões osteolíticas malignas

(RUGGIERO et al., 2004).

Até 2001, os bisfosfonatos empregados na clínica eram: etidronato, clodronato,

pamidronato, alendronato, risedronato, ibandronato e tiludronato (VASIKARAN, 2001). Já

em 2002, o zoledronato passa a ser o mais potente (MACERATA, 2002). Segundo Altundal e

Gursoy (2005), o alendronato estimula a formação óssea em enxertos autógenos de ratos,

pode ser empregado como opção terapêutica para estimular neoformação tecidual em

diferentes casos de remodelação óssea. Ainda, tem sido pesquisado na redução da reabsorção

dentária e de enxertos, bem como na perda óssea alveolar (LEVIN et al., 2001; SCHENK et

al., 1986).

Os bisfosfonatos também foram testados para reforço de ancoragem e contenção

dentária, no sentido de minimizarem-se recidivas em pacientes submetidos a tratamento

ortodôntico. Um estudo em ratos demonstrou que tanto a reabsorção óssea, quanto a radicular

foram significativamente inibidas durante a movimentação ortodôntica no grupo experimental

com administração sistêmica diária de bisfosfonato (IGARASHI et al., 1994). Liu et al.

(2004) injetaram clodronato no subperiósteo adjacente ao primeiro molar superior em ratos

Wistar submetidos à movimentação ortodôntica. Os autores verificaram redução da

movimentação, que foi dose-dependente, diminuição da reabsorção radicular e, ao exame

histológico, diminuição significativa do número de osteoclastos.

31

O zoledronato pode ter efeito antitumoral direto em linhagens hematopoéticas. A

droga induz apoptose em linfócitos malignos de origem B independentemente de o paciente já

ter ou não recebido algum tipo de quimioterápico e exibir ou não o fenótipo funcional da

resistência múltipla a drogas. Assim, o zoledronato tem papel complementar importante na

terapia dessas neoplasias (MAIA; VASCONCELLOS, 2004).

Outras aplicações relevantes dos bisfosfonatos têm sido relatadas. Esses fármacos têm-

se mostrado ativos sobre o metabolismo de vários protozoários, podendo ser empregados no

tratamento da doença de Chagas, da leishmaniose visceral, da malária e da toxoplasmose,

doenças que acometem milhões de indivíduos em todo o mundo (FERNANDES et al., 2005).

2.1.5 Efeitos Adversos

Os bisfosfonatos são medicamentos bem tolerados tanto por via oral como

intravenosa, mas possuem alguns efeitos adversos. Por via oral, os efeitos adversos mais

freqüentes são: cefaléia, dispepsia, diarréia e constipação intestinal. Embora rara, esofagite

corrosiva também pode ocorrer, o que contra-indica o uso por via oral. Os efeitos adversos

mais freqüentes da administração intravenosa são elevação da temperatura e síndrome gripal,

facilmente contornadas com analgésicos e antipiréticos. Podem ocorrer hipocalcemia e

hipofosfatemia transitórias, geralmente sem repercussão clínica (BARRIOS GONZÁLEZ;

GARCÍA NIETO, 2005). Úlcera gástrica e estenose do esôfago também foram relatadas

(PONTE FERNÁNDEZ et al., 2006). Também podem inibir a mineralização óssea, levando a

um quadro clínico e histológico de osteomalácia (ADAMSON et al., 1993). Entre os efeitos

adversos orais, foram relatadas ulceração do assoalho bucal após uso de alendronato (PONTE

FERNÁNDEZ et al., 2006; SCHMUTZ et al., 2005), e osteonecrose dos maxilares (BROOKS

et al., 2007; CAPSONI et al., 2006; CARTER et al., 2005; ESTEFANIA FRESCO et al.,

2006; GEGLER et al., 2006; GIBBS et al., 2005; MARX, 2003; McCLUNG, 2006; MELO et

al., 2005; MORTENSEN et al., 2007; NASE; SUZUKI, 2006; OLSON et al., 2005;

RUGGIERO et al., 2004; SANNA et al., 2006; WYNGAERT et al., 2006; WOO et al., 2006;

ZUAZAGA et al., 2006).

32

2.1.5.1 Osteonecrose

A osteonecrose é definida como uma necrose avascular do osso (ASTRAND;

ASPENBERG, 2002), que ocorre em pacientes portadores de câncer submetidos a

radioterapia, quimioterapia e uso de medicamentos como esteróides (MIRZAI et al., 1999;

SCHWARTZ, 1982). É resultante da perda temporária ou permanente do suprimento

sangüíneo, sem o qual o osso necrosa e pode entrar em colapso (NASE; SUZUKI, 2006).

Usuários de bisfosfonatos podem desenvolver necrose do osso alveolar. A maioria dos casos

de osteonecrose relacionados ao uso de bisfosfonatos tem sido conseqüente à administração

intravenosa do medicamento, mas também podem decorrer da administração por via oral

(FARRUGIA et al., 2006; PURCELL; BOYD, 2005), e muitos desses pacientes têm história

de exodontia recente (MIGLIORATI et al., 2005).

A osteonecrose avascular induzida por bisfosfonatos é caracterizada pela destruição do

complexo vascular dos maxilares e infecção secundária da matriz óssea (MARX, 2003). Sua

definição inclui o critério de que os pacientes com a lesão não tenham sido submetidos à

radioterapia de cabeça e pescoço (RUGGIERO et al., 2004). A terminologia proposta

inicialmente foi avascular necrosis of the jaws (MARX, 2003). Posteriormente, outros termos

foram surgindo como oral cavity avascular bone necrosis (MIGLIORATI, 2003),

osteonecrosis of the jaw (ONJ) (RUGGIERO et al., 2004), bisphosphonate-associated

osteonecrosis (BON) (MIGLIORATI et al., 2005), bisphosphonate associated osteonecrosis

of the jaws (BONJ) (MALDEN; PAI, 2007), bisphosphonate-related osteonecrosis of the jaws

(BRONJ) (HEWITT; FARAH, 2007).

Ao exame físico, observa-se osso necrótico e infectado exposto ao meio bucal

(MIGLIORATI, 2003), bem como eritema e edema do tecido mole circundante (BERTÈ et

al., 2006). A área é dolorida, o que compromete a alimentação, a fala e a higiene oral do

paciente. A ocorrência de ulceração da mucosa é freqüente, e o osso necrótico exposto

apresenta coloração branco-amarelada. O tecido mole circundante geralmente está inflamado

em função de infecção secundária, a sondagem do osso é assintomática e não ocorre

sangramento. No primeiro estágio, o osso exposto é liso e, com a progressão da lesão, torna-se

irregular e sujeito a fraturas durante a mastigação. A dor parece resultar de infecção

secundária dos tecidos moles ou de trauma causado pelas irregularidades ósseas aos tecidos

adjacentes. A necrose óssea é progressiva e envolve os dentes adjacentes, o que compromete a

higiene, facilita a infecção local e leva ao aumento da necrose, com subseqüente mobilidade e

33

perda dentária (MIGLIORATI et al., 2005). Também pode ocorrer comunicação buco-

sinusal, fístula cutânea com supuração (MORTENSEN et al., 2007), inflamação crônica e

odor fétido da lesão (FARRUGIA et al., 2006).

A área posterior da mandíbula, na região de molares, é a mais acometida (MARX et

al., 2005; PONTE FERNÁNDEZ et al., 2006), seguida da região posterior da maxila (MARX

et al., 2005), principalmente em casos em que são realizadas exodontias. Porém, mesmo sem

história de procedimento dento-alveolar recente, pode haver sinais de osteólise (RUGGIERO

et al., 2004) e ocorrer necrose avascular dos maxilares com exposição óssea espontânea

(MARX, 2003; MIGLIORATI, 2003). Os casos espontâneos podem ser atribuídos a

características anatômicas e fisiológicas, pois geralmente ocorrem na região posterior da

mandíbula, que apresenta mucosa de espessura fina (MARX, 1983). Também existem relatos

de casos em que a prótese parcial removível, ao traumatizar a mucosa, foi considerada fator

desencadeante da osteonecrose em pacientes usuários dos bisfosfonatos (BROOKS et al.,

2007; GEGLER et al., 2006). Além disso, os casos espontâneos na mandíbula podem resultar

das peculiaridades da vascularização nesse osso, cujas artérias são terminais. Esse é um dos

motivos por que a quimioterapia também está associada a casos de osteonecrose (BAGAN et

al., 2005).

A supressão dos osteoclastos altera a qualidade do osso e favorece a ocorrência da

osteonecrose (NASE; SUZUKI, 2006), juntamente a outros fatores como trauma local que

não cicatriza, o que propicia infecção pela microbiota comensal (BAGAN et al., 2005;

WYNGAERT et al., 2006). O tratamento ortodôntico também pode aumentar o potencial para

osteonecrose em pacientes que fazem uso de bisfosfonatos (IGARASHI et al., 1994), pois

estes levam à diminuição significativa do número de osteoclastos (LIU et al., 2004), o que

torna o tratamento ortodôntico mais longo (IGARASHI et al., 1994). É necessário cautela na

avaliação ortodôntica de tais pacientes, pois, em seus tratamentos, devem ser evitadas terapia

invasiva com laser, ancoragem com miniimplantes e exodontias (GRAHAM, 2006).

Embora exodontias e cirurgias orais sejam consideradas fatores desencadeantes,

existem evidências de que o osso alveolar pode estar envolvido previamente. Como fator de

risco, em pacientes com câncer, a quimioterapia e a corticoterapia concomitante

(SCHWARTZ, 1982; TARASSOFF; CSERMAK, 2003) podem resultar em imunossupressão

e predispor à ocorrência de infecção após traumas orais menores (PURCELL; BOYD, 2005).

A radioterapia também é fator de risco, e existem condições de co-morbidade como anemia,

coagulopatias, infecções, doenças orais pré-existentes (NOVARTIS ONCOLOGY MEDICAL

AFFAIRS & SERVICES, 2004), história familiar, estilo de vida, bem como uso de álcool e

34

tabaco (MIGLIORATI et al., 2005). Com base na história, características clínicas, resposta à

cirurgia e aos antibióticos que pacientes portadores de osteonecrose sob terapia com

bisfosfonatos desenvolveram, parece que a patogênese da enfermidade está associada à

insuficiência vascular local. Uma vez comprometido o suprimento vascular por radioterapia

ou drogas, necrose e osteomielite podem ocorrer (RUGGIERO et al., 2004).

A osteonecrose associada aos bisfosfonatos parece restringir-se ao complexo

maxilomandibular. Não há na literatura relato de lesão em outros ossos do corpo decorrente

do uso dessas drogas. A explicação para tal fato seria a presença dos dentes (MARX et al.,

2005), pois os maxilares são os únicos ossos do corpo expostos ao meio externo via dentes

(MARX, 2003; RUGGIERO et al., 2004). Além disso, essas estruturas apresentam,

freqüentemente, doença periodontal, abscessos, lesões endodônticas e outras lesões (MARX

et al., 2005), o que requer metabolismo ósseo e suprimento sangüíneo adequados para manter

o equilíbrio. Assim, o turnover ósseo alterado pela inibição da reabsorção osteoclástica e

insuficiência vascular é incapaz de responder adequadamente às exigências metabólicas, o

que resulta em necrose óssea avascular (RUGGIERO et al., 2004). Ainda, os ossos maxilares

estão constantemente submetidos a forças de impacto e conseqüente alta taxa de remodelação

óssea (MIGLIORATI et al., 2005). Os bisfosfonatos, por sua vez, ao inibirem tal

remodelação, a despeito da maior demanda necessária à manutenção da vitalidade,

predispõem o tecido à osteonecrose (McMAHON et al., 2004).

Em estudo de revisão de 119 casos de osteonecrose dos maxilares induzida por

bisfosfonatos, foi verificado que 45 casos (37,8%) ocorreram após exodontia, em 34 (28,6%),

havia doença periodontal evidente; em cinco (11,2%), havia sido realizada cirurgia

periodontal; em quatro (3,4%), implante dentário; e, em um (8%), apicectomia. Porém, 30

casos (25,2%) tiveram osteonecrose espontânea, a despeito da ausência de problemas

dentários aparentes ou de traumas (MARX et al., 2005). A avaliação de pacientes por um

período de seis anos verificou que, em cada 100 indivíduos portadores de câncer que

utilizaram bisfosfonatos, ocorreram 5,48 eventos nos maxilares e, em cada 100 pacientes com

câncer que não utilizaram bisfosfonatos, apenas 0,30 eventos ocorreram (WILKINSON et al.,

2007).

As características histológicas da osteonecrose maxilar incluem osso necrótico com

colônias bacterianas e tecido de granulação (MORTENSEN et al., 2007), bem como

diminuição da vascularização e do número de osteoblastos (MIGLIORATI et al., 2005).

Segundo Bertè et al. (2006), espécimes biopsiados da lesão exibem colônias fúngicas e

bacterianas. Em pacientes neoplásicos, tais lesões ocorrem independentemente da existência

35

de metástases nos maxilares (FARRUGIA et al., 2006; MIGLIORATI et al., 2005;

MORTENSEN et al., 2007).

Embora, ao exame físico, a osteonecrose associada aos bisfosfonatos seja semelhante à

osteorradionecrose, ao exame histológico ambas constituem condições distintas. Na

osteorradionecrose, as lesões exibem áreas homogêneas extensas de osso completamente

necrótico, enquanto nas lesões associadas aos bisfosfonatos o osso necrótico ocorre junto a

áreas de osso vital residual. Colônias de Actinomyces sp. e infiltrado inflamatório estão

presentes tanto nos casos de osterradionecrose, quanto nos de osteonecrose por bisfosfonatos

(HANSEN et al., 2006).

Por meio de exames de cultura, Mortensen et al. (2007) verificaram que os pacientes

com osteonecrose por uso de bisfosfonatos apresentavam microbiota oral normal. Badros et

al. (2006) investigaram casos de osteonecrose mandibular em pacientes portadores de

mieloma múltiplo. Ao exame histológico, foram observadas inflamação similar à osteomielite

e áreas de osso necrótico acelular. O exame microbiológico exibiu Actinomyces sp. em sete

dos 20 pacientes da amostra. Outras espécies como Peptostreptococcus sp., Streptococcus sp.,

Eikenella sp, Prevotella sp., Porphyromonas sp. e Fusobacterium sp. foram observadas em

nove pacientes, porém sua contribuição à infecção de tecidos moles e osteomielite é

desconhecida.

Nase e Suzuki (2006) relatam o caso de uma paciente que fazia uso de alendronato, via

oral, havia cinco anos e apresentou osteonecrose do osso alveolar. A mesma havia sido

submetida a procedimento periodontal de aumento de coroa clínica. Brooks et al. (2007)

relatam dois casos associados ao risedronato, um em toro mandibular com uso de prótese

parcial removível e outro após enxerto e implante dentário em região posterior da maxila. Ao

revisarem 22 artigos, Wyngaert et al. (2006) verificaram 225 casos de osteonecrose dos

maxilares associada ao uso de bisfosfonatos, o que correspondeu à prevalência de 1,5%. Os

bisfosfonatos nitrogenados envolvidos eram pamidronato, zoledronato, alendronato e

risedronato. Embora a dor tivesse sido o sintoma predominante (81,7%), 12,2% dos casos

eram assintomáticos. Em 69,3% dos casos havia sido realizada exodontia prévia. No momento

do diagnóstico, 74,5% dos pacientes relatavam quimioterapia e 38,2%, uso de

corticosteróides. Embora vários tratamentos conservadores e cirúrgicos tivessem sido

tentados, em 72,5% dos casos persistiram sítios residuais de osteonecrose.

O diagnóstico precoce das lesões ósseas em pacientes sob terapia com bisfosfonatos é

essencial à prevenção e redução da morbidade resultante de lesões destrutivas avançadas do

osso maxilar (RUGGIERO et al., 2004). A interrupção do uso do medicamento previamente

36

às exodontias não garante a prevenção da osteonecrose, uma vez que o fármaco persiste no

tecido ósseo (MARX et al., 2005; PURCELL; BOYD, 2005), e as lesões costumam aumentar

de tamanho a despeito das tentativas de tratamento (BERTÈ et al., 2006; MIGLIORATI,

2003). A remoção do osso adjacente à lesão está contra-indicada, pois pode causar exposição

óssea ainda maior. A remoção de dentes alivia a dor momentaneamente, mas pode levar a

maior exposição óssea e dor. O recobrimento do osso com retalhos não é eficaz, pois estes

podem fistulizar e intensificar a exposição óssea (MARX, 2003). Inúmeras abordagens

terapêuticas já foram propostas, como uso de colutórios (PURCELL; BOYD, 2005),

antibióticos sistêmicos, oxigênio hiperbárico e cirurgia, mas nenhuma se mostrou efetiva

(MIGLIORATI et al., 2005; PURCELL; BOYD, 2005). Os pacientes têm baixa qualidade de

vida em função da complicação oral, mesmo que a neoplasia maligna esteja estabilizada

(MIGLIORATI, 2003).

A prevenção das lesões requer avaliação e adequação bucal dos pacientes (PURCELL;

BOYD, 2005). Exame clínico-radiográfico da cavidade oral bem como qualquer intervenção

invasiva que se faça necessária precisam ser realizados previamente à instituição da terapia

com bisfosfonato. Se o paciente for submetido a procedimento oral invasivo, preconiza-se

aguardar um mês para completa cicatrização antes de iniciar a terapia. Exame clínico da

cavidade oral deve ser realizado a cada quatro meses, com recomendação de controle de placa

e medidas efetivas de higiene oral. Por ocasião das avaliações, o cirurgião-dentista tem o

dever de examinar cuidadosamente a cavidade oral no intuito de investigar exposição de

tecido ósseo. Exame radiográfico completo para avaliar sinais de osteólise, osteoesclerose,

espessamentos do espaço periodontal e lesão de furca deve ser requerido. Se houver

necessidade de prótese, a mesma deverá ser, preferentemente, fixa e bem aliviada, a fim de

evitarem-se úlceras traumáticas (PONTE FERNÁNDEZ et al., 2006). O número crescente de

pacientes portadores de osteonecrose dos maxilares, a pobre resposta da condição ao

tratamento cirúrgico e o envolvimento de fatores dentários exigem cuidados odontológicos

profiláticos em pacientes de alto risco (WALTER et al., 2007), uma vez que o melhor

caminho é a prevenção (DIEGO et al., 2007; HEWITT; FARAH, 2007).

PROPOSIÇÃO

38

3 PROPOSIÇÃO

3.1 HIPÓTESE

A administração de bisfosfonatos nitrogenados, por via oral ou parenteral, está

associada ao desenvolvimento de osteonecrose maxilar em indivíduos submetidos a

exodontias.

3.2 OBJETIVOS

3.2.1 Objetivo Geral

Verificar se o uso de bisfosfonatos nitrogenados é condição suficiente para o

desenvolvimento de osteonecrose dos maxilares em indivíduos submetidos a exodontias.

3.2.2 Objetivos Específicos

a) Verificar os eventos macro e microscópicos da região submetida a exodontias

em ratos sob terapia com bisfosfonatos nitrogenados;

b) Verificar se o uso de bisfosfonatos nitrogenados está associado à diminuição

da angiogênese.

MATERIAL E MÉTODOS

40

4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 DELINEAMENTO

O presente estudo classifica-se como experimental verdadeiro, sob o paradigma

quantitativo (CAMPBELL; STANLEY, 1979).

4.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A amostra foi constituída por 31 ratos (fêmeas, Rattus norvegicus, linhagem Wistar)

provenientes do Biotério da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL, RS) com idade média

de 140 dias e peso médio de 240,66g.

Os animais foram distribuídos, aleatoriamente, em três grupos:

a) grupo alendronato: 11 animais aos quais foi administrado bisfosfonato

nitrogenado por via oral (alendronato) e que foram submetidos a exodontias;

b) grupo zoledronato: 10 animais aos quais foi administrado bisfosfonato

nitrogenado por via parenteral (zoledronato) e que foram submetidos a exodontias;

c) grupo-controle: 10 animais que foram submetidos a exodontias sem fazerem

uso de bisfosfonato.

4.3 PROCEDIMENTOS

4.3.1 Manutenção dos Animais

O projeto do presente estudo foi aprovado pela Comissão Científica e de Ética da

Faculdade de Odontologia da PUCRS e pelo Comitê de Ética em Pesquisa- PUCRS (Anexos

41

A e B). Os critérios empregados para manipulação dos animais no laboratório basearam-se

em Lopes (1992) e Paiva et al. (2005).

Os animais foram identificados com números nas caudas, mantidos em caixas

plásticas apropriadas, dispostas em estante ventilada (Alesco, Monte Mor, SP, Brasil), com

temperatura controlada (22 oC) e ciclo claro-escuro de 12 h (luzes acesas às 07h00min; luzes

apagadas às 19h00min). A maravalha foi trocada três vezes por semana e ração (Nuvilab,

Colombo, PR, Brasil) e água filtrada foram disponiblizadas ad libitum. Nenhum procedimento

experimental foi realizado no espaço destinado à manutenção dos animais, a fim de evitar-se

qualquer tipo de estresse comportamental. Os tratamentos e procedimentos cirúrgicos foram

conduzidos no Laboratório de Farmacologia Aplicada da Faculdade de Farmácia – PUCRS.

4.3.2 Administração dos Fármacos

Os bisfosfonatos empregados foram o alendronato de sódio (Galena Química e

Farmacêutica, Campinas, SP, Brasil) e o zoledronato (Zometa®, Novartis, São Paulo, SP,

Brasil). Para administração dos fármacos, o animal foi contido colocando-se a mão sobre o

dorso e a caixa torácica, e a cabeça foi segurada com o polegar e o indicador, imediatamente

atrás da mandíbula. A primeira administração de ambos os fármacos foi realizada ao início do

experimento, após identificação e pesagem dos animais. Posteriormente, a administração do

alendronato foi realizada a cada 7 dias, na dosagem de 0,05mg/kg, pela técnica de gavagem

oral (HUANG et al., 2005; LEHMAN JUNIOR et al., 2004), por 23 semanas. Aos animais do

grupo zoledronato foram administradas 5 doses de 0,6mg/kg, por via intraperitoneal com

seringa de insulina, a intervalos de 28 dias (MACERATA, 2002). A pesagem dos animais

para cálculo das dosagens foi realizada a cada 28 dias em todos os grupos (Figura 2).

42

Figura 2 – Administração dos fármacos: (A) pesagem dos animais; (B) administração do alendronato, técnica de gavagem oral; (C) administração intraperitoneal do zoledronato

4.3.3 Avaliação Clínica

Foi realizada oroscopia após a anestesia prévia às exodontias com o objetivo de avaliar

presença/ausência de lesão oral (Figura 3).

Figura 3 – Avaliação clínica

43

4.3.4 Exodontias

As exodontias foram realizadas 45 dias após o início do experimento, sob anestesia

profunda com mistura de quetamina (100 mg/kg) e xilazina (10 mg/kg), administrada por via

intraperitoneal (GRATTON et al., 1995; WAYNFORTH; FLECKNELL, 1994). A anestesia

ocorre entre 2 e 5 minutos após a injeção da mistura anestésica e dura aproximadamente 40

minutos. Essa mistura anestésica é também indutora de profunda analgesia. A recuperação

total acontece em cerca de 2 horas e não deixa seqüelas.

O animal foi posicionado em decúbito dorsal, mantendo-se abertura de boca com

elásticos (tipo atilho) ancorados nos incisivos superiores e inferiores, distendidos e fixados à

mesa operatória por meio de alfinetes. O dispositivo proporcionou imobilização da maxila e

adequado acesso ao campo operatório durante as exodontias. Foram extraídos os 3 molares

superiores do lado direito empregando-se movimento de alavanca com espátula 3s (SSWhite,

Duflex, Rio de Janeiro, RJ, Brasil) adaptada para luxação e fórceps (Edlo, Canoas, RS, Brasil)

cuja porção ativa foi adaptada ao tamanho dos dentes. Durante o procedimento cirúrgico, foi

realizada irrigação com soro fisiológico. Não houve necessidade de sutura pós-operatória em

função da pequena exposição óssea provocada (Figura 4). Os animais fizeram uso de

paracetamol gotas para analgesia (10 gotas em 20 ml de água) em sua própria mamadeira e à

vontade, durante 4 dias.

44

Figura 4 – Etapas das exodontias: (A) anestesia; (B) posicionamento do animal e instrumental empregado; (C) procedimento cirúrgico; (D) molares superiores extraídos

4.3.5 Eutanásia, Avaliação Macroscópica e Preparo dos Espécimes

A eutanásia foi realizada por anestesia profunda com isoflurano (Cristália, Porto

Alegre, RS, Brasil) como postulado por Close et al. (1996, 1997) e Waynforth e Flecknell

(1994), decorridos 106 dias das exodontias no grupo-controle, 113 dias no grupo zoledronato

e 119 dias no grupo alendronato. Após a eutanásia, os animais foram decapitados para

facilitar a dissecção da maxila. As maxilas foram dissecadas e submetidas à avaliação

macroscópica que teve por objetivo verificar presença/ausência de solução de continuidade da

mucosa oral na área das exodontias, por meio de sondagem com sonda clínica número 5

(SSWhite, Duflex, Rio de Janeiro, RJ, Brasil) (Figura 5). Os espécimes (maxilas) foram,

então, fixados durante 24 horas em solução de formalina a 10% tamponada constituída por

formaldeído a 37% (2 L, TopGlass, Porto Alegre, RS, Brasil), água destilada (18 L, TopGlass,

45

Porto Alegre, RS, Brasil), fosfato de sódio monobásico (80g, Cromoline, Diadema, SP,

Brasil) e fosfato de sódio bibásico (130g, Synth, Diadema, SP, Brasil).

Figura 5 – Exame macroscópico: (A) sondagem com sonda clínica n˚ 5 evidencia solução de continuidade da mucosa; (B) espécime sem solução de continuidade da mucosa

Após a fixação, as maxilas foram seccionadas em sentido látero-lateral, obtendo-se

uma secção transversal que contemplava tanto a área das exodontias quanto a área oposta, em

que os molares foram preservados. O objetivo de tal procedimento consistiu em obter-se um

espécime de tamanho adequado e com parâmetros suficientes para a identificação dos sítios e

reparos anatômicos por ocasião da inclusão em parafina, bem como ao exame histológico. O

espécime foi, então, dividido em dois fragmentos (A e B) em sentido látero-lateral (Figuras 6

e 7), com auxílio de disco de lixa de aço em baixa rotação. Neste momento, foi realizado um

ponto de sutura na porção externa de cada um dos fragmentos a fim de que, durante a

inclusão, fosse identificada a superfície interna como superfície de corte, o que garantiu a

contemplação da área das exodontias nos cortes histológicos.

Subseqüentemente, procedeu-se à descalcificação em solução de ácido fórmico

durante 24 horas. Essa solução foi constituída por 780 ml de citrato de sódio tribásico P.A. a

10% (Cromoline, Diadema, SP, Brasil) e 220 ml de ácido fórmico P.A. a 85% (Synth,

Diadema, SP, Brasil). Concluída a descalcificação, os espécimes foram processados pela

técnica da parafina.

46

Figura 6 – Desenho esquemático do preparo do espécime para processamento histológico

Figura 7 – Preparo do espécime para processamento histológico

47

4.3.6 Confecção das Lâminas Histológicas

Os espécimes foram incluídos em parafina de modo que a superfície interna do

fragmento constituísse a superfície de corte, sendo a porção externa identificada por meio do

ponto de sutura. A partir dos 31 animais, foram confeccionados 62 blocos, 31 deles com

fragmentos A e 31, com fragmentos B. De cada bloco foram obtidos dois cortes, cada um

deles com 4 µm de espessura e confeccionadas as respectivas lâminas histológicas. Uma das

lâminas foi submetida à coloração por hematoxilina e eosina e a outra, a processamento

imunoistoquímico. Neste, as lâminas foram submetidas à recuperação antigênica em banho-

maria por 30 minutos a 99ºC, utilizando tampão Tris/EDTA, pH 9 (20 mM Tris/0,65 mM

EDTA). O bloqueio da peroxidase endógena foi feito com solução de peridrol a 3% (H2O2 em

álcool metílico) por 30 minutos. As secções foram incubadas com anticorpo monoclonal de

rato anti-VEGF (clone VG1, ZymedR Laboratories, South San Francisco, CA, USA) na

diluição de 1:300. O sistema de detecção utilizado foi o Kit Dako LSAB (Dako, Carpinteria,

CA, USA). Os cortes foram revelados por meio de cromógeno 3,3`- diaminoazobenzidina

(DAB) e tampão PBS em solução de peróxido de hidrogênio a 0,002% e contracorados com

hematoxilina, sendo desidratados, clarificados e montados com lamínula. Como controle

positivo foram empregados cortes histológicos de carcinoma de cólon, e como controle

negativo, alguns cortes da amostra foram processados na ausência do anticorpo.

4.4 ANÁLISE HISTOLÓGICA

A captura das imagens foi realizada por meio de microscópio óptico Zeiss Axioskop

40 (Zeiss, Oberkohen, Alemanha), conectado por videocâmera Roper Scientific (Media

Cybernetics, Silver Spring, USA) a um microcomputador Pentium IV 2.2 GHz com 512 MB

de memória RAM, disco rígido de 160 GB e placa de captura Image Pro Capture Kit (Media

Cybernetics, Silver Spring, USA). Para a análise das imagens, foi empregado o programa

Image Pro Plus versão 6.0. O programa permite a captura da imagem digital com

possibilidade de inserção de grade de correção, marcação e contagem das áreas de interesse.

As imagens foram capturadas em objetiva de 5x e armazenadas no formato TIFF (True Image

Format File). A análise histológica foi realizada por um observador calibrado e cegado. A

48

calibração consistiu na avaliação de uma série de 20 imagens histológicas em dois momentos

distintos. Os resultados da avaliação foram submetidos ao teste t pareado e ao teste de

correlação de Pearson que evidenciaram, respectivamente, ausência de diferença significativa

entre as análises (P=1) e forte correlação (r=0,999).

Nas lâminas coradas por hematoxilina e eosina foi realizada a análise quantitativa

(proporção) das variáveis osteonecrose, infiltrado inflamatório, colônias microbianas, tecido

epitelial, tecido conjuntivo fibroso, resto radicular e osso vital no sítio das exodontias. Em

cada lâmina, foram selecionados 4 campos, de forma padronizada, de modo que

contemplassem a área da exodontia (Figuras 8 e 9). Da mesma forma, foi realizada a análise

quantitativa da expressão imunoistoquímica do VEGF em campo de tecido ósseo vital, na

área da exodontia, que foi selecionado de forma padronizada em todas as imagens. A leitura

foi realizada pelo programa Image Pro Plus 6.0, aplicando-se uma grade de 798 pontos sobre

cada campo selecionado e mensurando-se cada uma das variáveis histológicas por meio da

técnica de contagem manual de pontos (Figuras 10 e 11).

Figura 8 – Área das exodontias (lado direito) e área oposta (com dentes) contempladas tanto no espécime macroscópico (A) quanto no corte histológico (B, C). HE, aumento aproximado: 100X

49

Figura 9 – Imagens capturadas no sítio das exodontias. HE, objetiva 5X

Figura 10 – Quantificação das variáveis histológicas (HE) pelo método de contagem manual de pontos

50

Figura 11 – Quantificação da expressão imunoistoquímica do VEGF pelo método de contagem manual de pontos

4.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os resultados foram analisados por meio de estatística descritiva e dos testes Kruskal-

Wallis, ANOVA e qui-quadrado, ao nível de significância de 5%. Por meio dos testes, a

ocorrência das variáveis solução de continuidade da mucosa, osteonecrose, osso vital,

infiltrado inflamatório, colônias microbianas, tecido conjuntivo fibroso, tecido epitelial, resto

radicular e expressão do VEGF foram comparadas entre os grupos alendronato, zoledronato e

controle. Os testes qui-quadrado e Kruskall-Wallis foram complementados, respectivamente,

pela análise de resíduos ajustados e pelo teste de comparações múltiplas.

RESULTADOS

52

5 RESULTADOS

5.1 AVALIAÇÃO CLÍNICA

À oroscopia, realizada previamente às exodontias, nenhum animal, nos três grupos

avaliados, exibiu lesão da mucosa oral.

5.2 AVALIAÇÃO MACROSCÓPICA

A avaliação macroscópica, realizada após a eutanásia, evidenciou que 10 animais

(100%) do grupo zoledronato exibiram solução de continuidade da mucosa, enquanto para os

grupos alendronato e controle essa freqüência foi, respectivamente, de 8 (72,7%) e 1 (10%).

Por meio do teste do qui-quadrado (χ2), complementado pela análise de resíduos ajustados, ao

nível de significância de 5%, verificou-se que o grupo zoledronato está associado à presença

de solução de continuidade, e o grupo-controle à ausência (P<0,001, Tabela 1).

Tabela 1 – Distribuição da amostra segundo presença/ausência de solução de continuidade na mucosa oral ao exame macroscópico (área das exodontias), Porto Alegre, 2008

Solução de Continuidade da Mucosa

Presente Ausente Grupo

n % n %

Zoledronato 10* 100,0 0 0,0

Alendronato 8 72,7 3 27,3

Controle 1 10,0 9* 90,0

χ2=18,01; P<0,001

* Análise de Resíduos Ajustados: P<0,05

53

5.3 AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA

5.3.1 Distribuição da Amostra de Acordo com as Variáveis Histológicas (HE)

A tabela 2 e a figura 12 exibem os resultados de freqüência (presença/ausência) das

variáveis histológicas nos grupos avaliados. No grupo zoledronato, 8 animais (80%) tiveram

osteonecrose, enquanto nos grupos alendronato e controle não foi observada ocorrência dessa

variável. Infiltrado inflamatório foi observado em todos os animais tanto do grupo

zoledronato quanto do grupo-controle e em 7 (63,6%) do grupo alendronato. Para colônias

microbianas, a freqüência verificada foi de 10 (100%) no grupo zoledronato, de 4 (36,4%) no

grupo alendronato e 5 (50%) no grupo-controle. Restos radiculares estavam presentes em 6

animais (60%) do grupo zoledronato, em 6 (54,5%) do alendronato e em 10 (100%) do grupo-

controle. As variáveis tecido conjuntivo fibroso, tecido epitelial e osso vital estiveram

presentes em todos os animais dos grupos avaliados.

Por meio do teste χ2 complementado pela análise de resíduos ajustados, ao nível de

significância de 5%, verificou-se que: (1) o grupo zoledronato está associado à presença, e os

grupos alendronato e controle à ausência de osteonecrose (P<0,001); (2) o grupo alendronato

está associado à ausência de infiltrado inflamatório (P=0,015); (3) o grupo zoledronato está

associado à presença, e o grupo alendronato, à ausência de colônias microbianas (P=0,008).

54

Tabela 2 – Distribuição da amostra de acordo com presença/ausência das variáveis histológicas avaliadas na área das exodontias, Porto Alegre, 2008

Grupo

Zoledronato (n=10) Alendronato (n=11) Controle (n=10)

Presente Ausente Presente Ausente Presente Ausente

P Variáveis

histológicas

n % n % n % n % n % n %

Osteonecrose 8* 80 2 20 0 0 111* 100 0 0 10* 100 <0,001

Infiltrado

inflamatório 10 100 0 0 7 63,6 4* 36,4 10 100 0 0 0,015

Colônias

microbianas 10* 100 0 0 4 36,4 7* 63,6 5 50 5 50 0,008

Resto radicular 6 60 4 40 6 54,5 5 45,5 10* 100 0 0 0,047

Tecido conjuntivo

fibroso 10 100 0 0 11 100 0 0 10 100 0 0 -

Tecido epitelial 10 100 0 0 11 100 0 0 10 100 0 0 -

Osso vital 10 100 0 0 11 100 0 0 10 100 0 0 -

P= nível mínimo de significância do Teste χ2 * Análise de Resíduos Ajustados: P<0,05

Figura 12 – Distribuição da amostra segundo a presença das variáveis histológicas avaliadas, Porto Alegre, 2008

55

5.3.2 Quantificação das Variáveis Histológicas na Área das Exodontias (HE)

A tabela 3 e a figura 13 exibem os resultados da quantificação das variáveis

histológicas na área das exodontias nos três grupos pesquisados. Por meio do teste não-

paramétrico de Kruskal-Wallis complementado por seu teste de comparações múltiplas, ao

nível de significância de 5%, verificou-se que, nas variáveis osteonecrose, infiltrado

inflamatório e colônias microbianas, o grupo zoledronato exibiu percentuais

significativamente maiores do que os demais grupos. Nas variáveis tecido epitelial, tecido

conjuntivo fibroso, resto radicular e osso vital, não houve diferença significativa entre os

grupos avaliados.

Tabela 3 – Quantificação das variáveis histológicas (HE) na área das exodontias nos grupos zoledronato, alendronato e controle, Porto Alegre, 2008 Zoledronato (%) Alendronato (%) Controle (%) Variáveis histológicas Média DP Mediana Média DP Mediana Média DP Mediana

Osteonecrose

10,96

11,47

7,8*

0

0

0

0

0

0

Infiltrado inflamatório

4,34

4,12

2,5*

1,27

2,11

0,7

1,18

1,78

0,6

Colônias microbianas

4,82

7,60

1,4*

0,28

0,75

0

0,26

0,54

0

Tecido epitelial

13,07

5,01

11,3

16,88

6,05

15,3

15,30

6,32

13,2

Tecido conjuntivo fibroso

30,77

5,90

31

37,68

9,36

37,9

36,70

7,67

36,3

Resto radicular

4,33

7,10

3,4

3,43

5,48

3,1

4,72

6,42

4,6

Osso vital

31,68

16,41

36,8

40,42

13,12

41,2

41,81

11,30

42,9

DP=Desvio-padrão * Kruskal-Wallis complementado por seu teste de comparações múltiplas, P<0,05

56

7,8

2,51,4

31

3,4

0 0,7 00 0,6 0,1

4,6

11,3

36,8

15,3

37,9

41,2

3,1

13,2

36,3

42,9

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Osteonecrose Infiltrado

inflamatório

Colônias

microbianas

Tecido epitelial Tecido

conjuntivo

fibroso

Resto radicular Osso vital

Med

ian

a

Zoledronato

Alendronato

Controle

Figura 13 – Mediana das variáveis histológicas nos grupos zoledronato, alendronato e controle, Porto Alegre, 2008

5.3.3 Quantificação da Expressão Imunoistoquímica do VEGF em Área de Osso Vital

A tabela 4 exibe a proporção de expressão imunoistoquímica do VEGF em área de

osso vital nos grupos zoledronato, alendronato e controle. Por meio do teste da Análise de

Variância, verificou-se não haver diferença significativa da média do percentual de marcação

positiva para VEGF nos diferentes grupos (P=0,860).

57

Tabela 4 – Expressão imunoistoquímica do VEGF em área de osso vital nos grupos zoledronato, alendronato e controle, Porto Alegre, 2008

Expressão imunoistoquímica do VEGF (%) Grupo n

Média Desvio-padrão Mínimo Máximo

Zoledronato 10 21,79 5,84 11,59 29,90

Alendronato 11 22,36 6,27 9,83 34,60

Controle 10 23,28 6,22 15,84 32,99

ANOVA, P=0,860

5.3.4 Análise Descritiva (HE)

5.3.4.1 Osteonecrose

As áreas de osteonecrose identificadas ao exame histológico contemplavam

fragmentos de osso não-vital, cujos osteoplastos estavam vazios, bem como colônias

microbianas na periferia, nos espaços medulares e em áreas adjacentes (Figura 14). A porção

de osso não-vital era contígua ao osso vital subjacente (Figura 15).

Figura 14 – Osteonecrose: osso não-vital e colônias microbianas. HE, aumento aproximado: 200X

58

Figura 15 – Osso não-vital (A) contíguo ao osso vital (B). HE aumento aproximado: 100X

5.3.4.2 Colônias Microbianas

As imagens microscópicas de colônias microbianas eram, em sua maioria,

morfologicamente compatíveis com Actinomyces sp. (Figura 16).

Figura 16 – Colônias microbianas compatíveis com Actinomyces sp. e infiltrado inflamatório. HE, aumento aproximado: 400X

59

5.3.4.3 Infiltrado Inflamatório

Nas áreas de osteonecrose, além de linfócitos e plasmócitos, houve intenso infiltrado de

polimorfonucleares neutrófilos próximos às colônias microbianas (Figura 17). Nas áreas

próximas aos restos radiculares, que foram observados em todos os grupos pesquisados, o

infiltrado inflamatório foi composto por linfócitos, plasmócitos, polimorfonucleares neutrófilos

e, em alguns espécimes, células gigantes multinucleadas e formação de granuloma (Figura 18).

Figura 17 – Osteonecrose, colônias microbianas e infiltrado inflamatório. HE, aumento aproximado: 200X

Figura 18 – Infiltrado inflamatório (áreas próximas aos restos radiculares): linfócitos, plasmócitos e células gigantes multinucleadas (seta). HE, aumento aproximado: 400X

60

5.3.4.4 Reparo Cicatricial

Nos espécimes em que se observou reparo cicatricial da ferida exodôntica sem

ocorrência de osteonecrose, o mesmo ocorreu às expensas de tecido conjuntivo fibroso e osso

vital. A mucosa de revestimento suprajacente exibia epitélio pavimentoso estratificado

ceratinizado (Figura 19).

Figura 19 – Reparo cicatricial: osso vital, tecido conjuntivo fibroso e revestimento por epitélio pavimentoso estratificado ceratinizado. HE, aumento aproximado: 100X

DISCUSSÃO

62

6 DISCUSSÃO

A verificação de que nenhum animal nos três grupos avaliados, zoledronato,

alendronato e controle, exibiu lesão de mucosa oral previamente às exodontias respalda a

idéia de que as lesões detectadas posteriormente estejam, de fato, associadas ao procedimento

cirúrgico e ao uso dos bisfosfonatos, e não a outros fatores locais ou sistêmicos. A

macroscopia após a eutanásia, por sua vez, revelou que todos os animais do grupo zoledronato

exibiam solução de continuidade da mucosa, enquanto, nos grupos alendronato e controle,

essa freqüência foi, respectivamente, oito e um. Ao considerar-se que no grupo zoledronato

oito animais exibiram osteonecrose ao exame histológico, justifica-se a presença da solução

de continuidade, já que, nas áreas de osteonecrose, a mucosa é incapaz de epitelizar e coaptar

as margens da ferida (LANDESBERG et al., 2008). O questionamento seria: qual a causa da

solução de continuidade ao exame macroscópico em dois animais do grupo zoledronato que

não exibiram osteonecrose ao exame microscópico? Talvez a osteonecrose estivesse presente,

mas não foi contemplada pelo corte histológico. Talvez, de fato, os animais não tivessem

osteonecrose, mas a cicatrização dos tecidos moles, da mesma forma, foi comprometida, já

que, ao exame microscópico, colônias microbianas estavam presentes em todos os animais do

grupo em questão, bem como restos radiculares fraturados durante a exodontia. Isso parece

plausível, uma vez que o fato repetiu-se no grupo alendronato, em que, embora nenhum

animal tivesse exibido osteonecrose à microscopia, oito tiveram solução de continuidade da

mucosa à macroscopia. É preciso acrescer a essa conjectura o achado de que, no grupo-

controle, um animal exibiu solução de continuidade da mucosa, enquanto todos eles tiveram

restos radiculares e cinco tiveram colônias microbianas. Ou seja, mesmo exibindo as variáveis

resto radicular e colônias microbianas em freqüência semelhante aos grupos zoledronato e

alendronato, o grupo-controle não teve a mesma freqüência de solução de continuidade da

mucosa. Haveria algum efeito, direto ou indireto, sobre os tecidos moles exercido pelos

bisfosfonatos que pudesse justificar esse achado?

Efeitos adversos incomuns como aumento dos níveis séricos de creatinina, fadiga,

artralgia, náusea, complicações gastrintestinais e hipocalcemia são relatados (DIEGO et al.,

2007; DIMITRAKOPOULOS et al., 2006; MIGLIORATI et al., 2005). Ainda, os

bisfosfonatos nitrogenados causam dano à mucosa gástrica, como infiltração de neutrófilos

independentemente da ação sobre a microvasculatura, efeito associado ao uso tópico que

sugere propriedades irritantes da droga (WALLACE et al., 1999). Entretanto, o aspecto mais

63

importante a ser considerado é o fato de existirem indícios de que esses compostos inibem os

ceratinócitos envolvidos na cicatrização da mucosa oral, retardando-a, o que pode ter papel

significativo na iniciação da osteonecrose dos maxilares, pois não está bem claro se esta lesão

inicia na mucosa oral ou deriva do osso subjacente. Dosagens de pamidronato similares às

dosagens terapêuticas empregadas na rotina clínica são tóxicas às células epiteliais in vitro. A

droga induz as células à perda de adesividade, evento que sugere a possibilidade de indução

de necrose (LANDESBERG et al., 2008). Tais fatos permitem sugerir o uso do bisfosfonato

como possível fator responsável pela elevada prevalência de solução de continuidade da

mucosa oral no grupo alendronato.

A osteonecrose foi o foco do presente estudo e foi verificada, ao exame microscópico,

em 80% dos animais do grupo zoledronato e em nenhum animal dos grupos alendronato e

controle. Tal achado confirma a associação entre osteonecrose e o uso do zoledronato já

verificada em estudos clínicos (MARX, 2003; MIGLIORATI, 2003; MIGLIORATI et al.,

2005; PURCELL; BOYD, 2005; RUGGIERO et al., 2004). Ainda, torna evidente que o uso

do fármaco associado ao trauma provocado pela exodontia constitui condição suficiente para

a ocorrência da osteonecrose, sem que esta dependa de fatores de risco ou de co-morbidades

como já sugerido em alguns estudos (MARX et al., 2005; PURCELL; BOYD, 2005;

SCHWARTZ, 1982).

No grupo alendronato, nenhum animal exibiu osteonecrose, a despeito da presença de

restos radiculares, processo inflamatório, colônias microbianas e solução de continuidade da

mucosa. Tal achado excluiria a possibilidade de este fármaco estar associado à osteonecrose?

É preciso considerar alguns fatores importantes, já que há relatos na literatura de pacientes

que desenvolveram osteonecrose dos ossos maxilares com o uso de alendronato (MARX

2003; MIGLIORATI, 2003; MIGLIORATI et al., 2005; NASE; SUZUKI, 2006; PURCELL;

BOYD, 2005; RUGGIERO et al., 2004). A menor absorção da droga por via oral (FARIAS,

2005; GERTZ et al., 1991; LIN et al., 1991) pode ser apontada como uma justificativa para tal

fato. Além disso, a presença, em sua estrutura química, de dois átomos de nitrogênio em um

anel heterocíclico, torna o zoledronato mais potente que o alendronato (RESZKA, 2004). O

zoledronato exibe potência aproximadamente 20 vezes superior à do alendronato

(FERNANDES et al., 2005; FERREIRA JUNIOR et al., 2007; NEVES et al., 2003). Assim,

exerce efeitos sobre o tecido ósseo e sobre a angiogênese mais precocemente que o

alendronato podendo, inclusive, afetar a angiogênese de tecidos não mineralizados (WOOD et

al., 2002). Os bisfosfonatos nitrogenados de administração intravenosa, portanto, representam

64

risco maior de osteonecrose do que os de administração oral, como já relatado por outros

pesquisadores (FARRUGIA et al., 2006; PURCELL; BOYD, 2005).

Os fatores tempo de uso e dosagem do alendronato podem estar associados ao fato de

nenhum animal ter desenvolvido osteonecrose neste grupo. Há relatos de que períodos de até

três anos de uso desse fármaco estão isentos de associação com lesão e que, somente depois

de decorrido tal prazo, o alendronato passaria a representar risco para o desenvolvimento de

osteonecrose (AMERICAN ASSOCIATION OF ORAL AND MAXILLOFACIAL

SURGEONS, 2007; MARX et al., 2005). Ou seja, a manutenção dos animais sob terapia com

alendronato durante tempo superior ao que foi estabelecido na presente pesquisa poderia

resultar em achados diferentes. Por outro lado, segundo Araújo (2007), cerca de 25 meses de

vida do rato correspondem a 70 anos de vida em humanos. Ao considerar-se essa proporção, o

prazo de três anos em humanos para que o alendronato passe a representar risco de

osteonecrose corresponderia a 30 dias no rato. No presente estudo, as exodontias foram

realizadas 45 dias após o início da administração do fármaco, e os animais foram mantidos

sob terapia durante cinco meses, o que representaria aproximadamente 15 anos em humanos.

Sendo assim, do ponto de vista teórico, o tempo de administração do alendronato aos animais

estaria adequado. Entretanto, é preciso considerar que esse é um cálculo aproximado, bem

como o fato de que fatores metabólicos específicos do indivíduo interferem na resposta às

drogas. Talvez, um período mais prolongado de administração do alendronato previamente às

exodontias fosse capaz de surtir resultados diferentes. Por outro lado, há evidência de que

estudos em modelos animais com até um mês de duração identificam 90% dos efeitos tóxicos

(GREAVES et al., 2004), o que respalda a idéia de que o tempo de tratamento empregado na

presente pesquisa estaria adequado.

Outro aspecto a considerar é a dosagem de alendronato empregada na presente

pesquisa. Foram administrados 0,05mg/kg, uma vez por semana para cada animal por 23

semanas. A dosagem foi estabelecida considerando-se DL/DE (dose letal/dose equivalente)

que seria 5 µg/kg/dia, o que equivale a 0,035 mg/kg/semana (HUANG et al., 2005). Embora

esse cálculo já tivesse considerado o fato de que a eliminação da droga é mais rápida em ratos

do que em humanos (MORRIS, 1999), optou-se por elevá-la a 0,05mg/kg/semana, uma vez

que algumas pesquisas aplicaram dosagens superiores de alendronato por via oral (LEHMAN

JUNIOR et al., 2004; PINTO et al., 2006). É possível que dosagens ainda maiores tivessem

sido capazes de induzir lesões, tanto osteonecrose quanto lesões de outra natureza, ou até

mesmo a morte dos animais. Entretanto, optou-se pela dosagem de 0,05mg/kg/semana, com o

objetivo de reproduzir nos modelos animais a situação clínica vivenciada pelos pacientes. Ou

65

seja, a dosagem ideal a ser empregada para os animais seria aquela equivalente a 1

mg/kg/semana por via oral, que é a dosagem terapêutica empregada em humanos (HUANG et

al., 2005). Pesquisas que investiguem o efeito de diferentes dosagens de alendronato no

reparo de feridas exodônticas, incluindo dosagens superiores às empregadas no presente

estudo, poderiam gerar informações mais elucidativas sobre esse tópico.

Há suspeitas de que fumo (AMERICAN ASSOCIATION OF ORAL AND

MAXILLOFACIAL SURGEONS, 2007), uso crônico de álcool (AGARWALA et al., 2002;

AMERICAN ASSOCIATION OF ORAL AND MAXILLOFACIAL SURGEONS, 2007),

diabetes mellitus (MIGLIORATI et al., 2005), hipoproteinemia (CARTER et al., 2005),

corticoterapia, quimioterapia (HELLSTEIN; MAREK, 2005; PURCELL; BOYD, 2005;

RUGGIERO et al., 2004; SCHWARTZ, 1982; TARASSOFF; CSERMAK, 2003;

WYNGAERT et al., 2006), terapia imunossupressora (AGARWALA et al., 2002; PURCELL;

BOYD, 2005), lesões endodônticas, doença periodontal, abscessos (MARX et al., 2005),

higiene oral deficiente (AMERICAN ASSOCIATION OF ORAL AND MAXILLOFACIAL

SURGEONS, 2007) e insuficiência renal seriam co-fatores no desenvolvimento da

osteonecrose por bisfosfonatos (NASE; SUZUKI, 2006). É preciso considerar, portanto, que,

no caso do alendronato, sendo este menos potente que o zoledronato, os co-fatores poderiam

exercer papel fundamental no desenvolvimento da osteonecrose. Estudos que investiguem

essa possibilidade tornam-se pertinentes, já que a monitorização de co-fatores passíveis de

serem controlados (fumo, álcool, diabete, uso de corticosteróides, saúde bucal precária) seria

uma forma de prevenir a lesão, ou mesmo, esses co-fatores constituiriam contra-indicação ao

uso dos bisfosfonatos.

O fato de animais nos grupos controle e alendronato também terem exibido restos

radiculares e não terem desenvolvido osteonecrose reafirma a associação entre esta e o

zoledronato. Além disso, tal achado corrobora os relatos de que os bisfosfonatos de

administração intravenosa representam risco maior de osteonecrose do que os de

administração oral (FARRUGIA et al., 2006; PURCELL; BOYD, 2005).

A alta freqüência de microrganismos no grupo zoledronato resultou dos eventos de

osteonecrose que acometeram esse grupo. O grupo alendronato não exibiu casos de

osteonecrose, mas teve a ocorrência de fatores predisponentes ao processo infeccioso como

solução de continuidade na mucosa e restos radiculares. Entretanto, a despeito desses fatores,

o grupo exibiu freqüência de colônias microbianas significativamente menor que a verificada

para o grupo zoledronato e também menor que a do grupo-controle. Muitos aspectos do

mecanismo de ação dessas drogas ainda estão por ser esclarecidos (BAGAN et al., 2005;

66

RUGGIERO et al., 2004). Há relatos de sua atividade sobre o metabolismo de vários

protozoários e, por isso, poderiam ser empregados no tratamento da doença de Chagas,

leishmaniose visceral, malária e toxoplasmose. Nessas situações, o mecanismo de ação dos

bisfosfonatos consistiria na inibição da formação de proteínas de importância vital para esses

parasitas (FERNANDES et al., 2005). O pamidronato e o risedronato inibem a TcHPRT

(enzima transferase de purinas de Trypanosoma cruzi) (FERNÁNDEZ, 2003). Também foi

verificado que alguns bisfosfonatos bloqueiam enzimas usadas pelas bactérias para trocar

genes e adquirir ou propagar a sua resistência a antibióticos, efeito que já foi demonstrado em

Escherichia coli (LEON et al., 2006).

Na presente pesquisa, não foi verificada diferença significativa da expressão

imunoistoquímica do VEGF entre os grupos zoledronato, alendronato e controle. A ausência

de diferença significativa para expressão de VEGF entre o grupo-controle e ambos os grupos-

teste sugere que as drogas avaliadas não induzam inibição da angiogênese e que não seria este

o fator associado à osteonecrose observada nos animais do grupo zoledronato. Tal achado não

parece estar em consonância com os relatos da literatura de que um dos efeitos dos

bisfosfonatos seja a inibição da angiogênese.

Embora o mecanismo de ação dos bisfosfonatos ainda seja pobremente conhecido

(BAGAN et al., 2005; RUGGIERO et al., 2004), algumas pesquisas demonstram seu efeito

sobre a angiogênese (FOURNIER et al., 2002; KAPITOLA et al., 2000; WOOD et al., 2002).

O zoledronato é capaz de inibir, in vitro, a proliferação de células endoteliais humanas

estimuladas com soro fetal bovino, fator de crescimento fibroblástico básico (bFGF) e VEGF

(WOOD et al., 2002), bem como reduzir a proliferação, induzir apoptose e diminuir a

formação de tubos capilares, in vitro, quando empregados no tratamento de células endoteliais

(FOURNIER et al., 2002). O alendronato reduz a neoangiogênese intratumoral, mas não

altera a expressão imunoistoquímica do VEGF, efeito que resulta, em parte, da ação

antiangiogênica diretamente nas células endoteliais intratumorais por inibição da

geranilgeranilação do Rho (HASHIMOTO, 2007), GTPase importante na manutenção da

integridade do citoesqueleto e tráfego de vesículas nas células (VANCONCELLOS et al.,

2004) . Tal relato poderia justificar a ausência de diferença de expressão imunoistoquímica do

VEGF entre os grupos alendronato e controle. Entretanto, não explica esse mesmo achado

para o grupo zoledronato.

O campo eleito para avaliação imunoistoquímica correspondeu ao osso vital presente

na região das exodontias, a despeito de o espécime exibir ou não osteonecrose. Tal escolha foi

embasada no fato de que os bisfosfonatos têm afinidade pelo tecido ósseo em sítios de

67

metabolismo ativo, onde atingem concentrações terapêuticas (FLEISCH, 2002). Além disso, o

VEGF aumenta com a hipóxia, e a angiogênese ocorre em situações fisiológicas específicas,

como a consolidação de fraturas (SIVAKUMAR et al., 2004). O reparo cicatricial da ferida

exodôntica também constitui processo de maior atividade metabólica (CALIXTO et al., 2001;

ZIED et al., 2005), o que faz pensar que requeira aumento da angiogênese. No rato, é comum

o processo de cicatrização, em sua fase final, decorridas seis semanas após exodontias,

apresentar aumento progressivo de trabéculas ósseas maduras e diminuição do volume de

tecido conjuntivo (CALIXTO et al., 2001; ZIED et al., 2005). Entretanto, em alguns animais

do presente estudo, o reparo cicatricial formou mais tecido conjuntivo fibroso do que osso.

Teria o osso avaliado a mesma exigência metabólica que o tecido conjuntivo presente na área

das exodontias? Estaria mais indicado avaliar-se a expressão do VEGF no tecido conjuntivo

ou mesmo no soro desses animais, como realizado em outros estudos (SANTINI et al., 2002,

2003)? Seriam esses os aspectos que explicariam a ausência de diferença significativa da

expressão imunoistoquímica do VEGF em osso vital entre os três grupos? Ainda, sabendo-se

que a maior exigência metabólica ocorre na fase inicial do processo cicatricial (CALIXTO et

al., 2001; ZIED et al., 2005), é preciso considerar se a avaliação do VEGF não deveria ter

ocorrido em um período mais precoce, logo após as exodontias.

Por outro lado, há autores que defendem a idéia de que a inibição da angionêse in vivo

por parte dos bisfosfonatos não está definitivamente comprovada, uma vez que a maioria dos

relatos do efeito antiangiogênico provêm de estudos in vitro ou com modelos animais

transgênicos (LANDESBERG et al., 2008; SANTINI et al., 2002; WOOD et al., 2002). O

presente estudo foi realizado em ratos Wistar e presume-se que a resposta por parte desses

modelos animais, salvo restrições inerentes às pecualiaridades da espécie, simule a situação

em humanos. No modelo animal empregado, não foi observada diferença de expressão

imunoistoquímica do VEGF em osso vital entre os grupos alendronato, zoledronato e

controle. Ou seja, o resultado está em consonância com Landesberg et al. (2008) que

argumentam que o efeito antiangiogênico dos bisfosfonatos in vivo não é comprovado. Pampu

et al. (2008), por sua vez, observaram, em estudo histomorfométrico por HE, aumento, e não

diminuição, de vasos sangüíneos no tecido ósseo de coelhos tratados com zoledronato.

O termo angiogênese foi empregado por John Hunter em 1787 para nomear o

crescimento de novos vasos (GUPTA; ZHANG, 2005). Existem cerca de 40 indutores e

inibidores endógenos da angiogênese (POON et al., 2003), porém o VEGF é o fator pró-

angiogênico predominante (SHWEIKI et al., 1992). Estudos têm demonstrado que a

expressão do VEGF é fortemente dependente de células endoteliais de vasos neoformados,

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mas não de vasos pré-existentes em tumores (BENJAMIN et al., 1999). Os anticorpos anti-

CD31, anti-CD34, anti-CD105 e anti-FVIII (anti-fator VIII) são os mais empregados para

marcação de vasos em imunoistoquímica (VERMEULEN et al., 2002), mas o VEGF também

é bastante aplicado (GLEICH et al., 1997). O anti-FVIII tem a capacidade de identificar vasos

maduros e imaturos (LAITAKARI et al., 2004). O anti-CD105 parece ser um marcador

promissor, porém poucos estudos utilizam-no (VERMEULEN et al., 2002). Uma vez que os

bisfosfonatos são apontados como inibidores da angiogênese, a expressão do VEGF estaria

bem indicada no presente estudo. Por outro lado, diante das especificidades e indicações de

cada um desses anticorpos, também se faz necessário analisar a pertinência de testes que

comparem a expressão de distintos marcadores de angiogênese, inclusive por meio de outros

métodos além da imunoistoquímica, principalmente ao avaliar-se o alendronato.

O critério imunoistoquímico de positividade para o VEGF corresponde a grânulos

marrons em células endoteliais vasculares (VOLM et al., 1997), entretanto, a expressão

também pode ocorrer em citoplasma de fibroblastos (FREITAS et al., 2005). Considerando

este possível viés, no presente estudo a avaliação da expressão do VEGF empregou como

critério de positividade não apenas a marcação de cor marrom, mas também a morfologia da

estrutura histológica marcada. Ainda, a padronização dos mesmos critérios de positividade

aplicados aos três grupos estudados subsidia a confiabilidade das avaliações.

O advento dos bisfosfonatos ao cenário da área biomédica tem configurado um

paradoxo. Ao mesmo tempo em que representaria a solução para condições patológicas cuja

característica principal é a reabsorção óssea, esse grupo de drogas também traz consigo um

novo problema a resolver, que é a osteonecrose, bem como outros possíveis efeitos

indesejáveis ainda desconhecidos. O risco da osteonecrose maxilar de fato existe, e o uso

racional desses fármacos requer a ponderação entre gravidade da doença, condições clínicas

do paciente, potência do fármaco e adequação do uso. A intensificação das pesquisas na busca

de respostas a tantos aspectos ainda obscuros viabilizará a racionalização do uso da droga.

Nesse ínterim, cautela parece ser o caminho mais adequado, e a adequação bucal prévia ao

início da terapia torna-se indispensável.

CONCLUSÕES

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7 CONCLUSÕES

Os resultados da presente pesquisa permitem estabelecer as seguintes conclusões:

a) A administração do bisfosfonato nitrogenado zoledronato por via parenteral

está associada à osteonecrose dos maxilares e é condição suficiente para que

esta ocorra em indivíduos submetidos a exodontias.

b) O bisfosfonato nitrogenado alendronato administrado por via oral não constitui

condição suficiente para a ocorrência de osteonecrose maxilar em indivíduos

submetidos a exodontias.

c) A administração de bisfosfonato nitrogenado por via oral (alendronato) ou

parenteral (zoledronato) não está associada à diminuição da expressão

imunoistoquímica do VEGF em tecido ósseo vital na área das exodontias.

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ANEXOS

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