312 - A Educacao Esta Mudando Radicalmente Aula 2

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A educação está mudando radicalmente José Manuel Moran Especialista em mudanças na educação presencial e a distância Este texto meu foi publicado no livro A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, p.13-27 (com pequenas alterações) www.eca.usp.br/prof/moran De que educação estamos falando? A educação é como um caleidoscópio. Podemos enxergar nela muitas realidades; podemos escolher mais de uma perspectiva de análise e cada uma terá sua lógica, seu fundamento, sua defesa, porque projetamos na educação nosso olhar parcial, nossas escolhas, nossa experiência. Se queremos provar que a educação é um desastre e que a escola está atrasada, temos inúmeras estatísticas e experiências que o comprovam; basta acompanhar os resultados de alunos brasileiros em competições internacionais ou observar as diferenças entre as escolas de elite e as da periferia. Numa pesquisa realizada pelo Instituto de Cidadania [1] , foram ouvidos 3.501 brasileiros de 15 a 24 anos, de seis Estados e 198 municípios, e o que mais chama a atenção é a abstinência cultural do jovem brasileiro: 23% nunca leram um livro 39% nunca foram ao cinema 62% nunca foram ao teatro 59% nunca foram a um show musical 52% nunca estiveram numa biblioteca fora da escola Se queremos provar que a escola é burocrática, amarrada e engessada, encontraremos mil exemplos de lentidão de gestão, de um verdadeiro cipoal de normas, leis, portarias, decretos federais, estaduais e municipais; de quebra de continuidade de projetos com a entrada de novos governantes. A escola é uma das instituições mais resistentes à mudança, junto com as grandes igrejas tradicionais. Se, pelo contrário, quisermos mostrar que avançamos muito, que está havendo uma revolução silenciosa em escolas inovadoras, que há muitos grupos de profissionais competentes e de alunos realizando experiências fantásticas, que a escola está mudando com novos projetos e uso criativo de tecnologias, também encontramos bons exemplos para comprová-lo. Tudo está acontecendo ao mesmo tempo: o atraso, a burocracia e a inovação. Há atraso, há burocracia e há inovação. Considero importante ter uma visão realista, mas não desesperançada, niilista, destrutiva. Apostar mais na mudança, em novas possibilidades que se concretizam, do que no pessimismo desesperançador e corrosivo. A educação é um processo de toda a sociedade - não só da escola - que afeta a todas as pessoas, o tempo todo, em qualquer situação pessoal, social, profissional

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sobre as novas tecnologias que estão mudando os paradigmas do brasil

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  • A educao est mudando radicalmente

    Jos Manuel Moran

    Especialista em mudanas na educao presencial e a distncia

    Este texto meu foi publicado no livro A educao que desejamos: novos

    desafios e como chegar l, p.13-27 (com pequenas alteraes)

    www.eca.usp.br/prof/moran

    De que educao estamos falando?

    A educao como um caleidoscpio. Podemos enxergar nela muitas

    realidades; podemos escolher mais de uma perspectiva de anlise e cada uma ter

    sua lgica, seu fundamento, sua defesa, porque projetamos na educao nosso olhar

    parcial, nossas escolhas, nossa experincia.

    Se queremos provar que a educao um desastre e que a escola est

    atrasada, temos inmeras estatsticas e experincias que o comprovam; basta

    acompanhar os resultados de alunos brasileiros em competies internacionais ou

    observar as diferenas entre as escolas de elite e as da periferia.

    Numa pesquisa realizada pelo Instituto de Cidadania [1] , foram ouvidos

    3.501 brasileiros de 15 a 24 anos, de seis Estados e 198 municpios, e o que mais

    chama a ateno a abstinncia cultural do jovem brasileiro:

    23% nunca leram um livro

    39% nunca foram ao cinema

    62% nunca foram ao teatro

    59% nunca foram a um show musical

    52% nunca estiveram numa biblioteca fora da escola

    Se queremos provar que a escola burocrtica, amarrada e engessada,

    encontraremos mil exemplos de lentido de gesto, de um verdadeiro cipoal de

    normas, leis, portarias, decretos federais, estaduais e municipais; de quebra de

    continuidade de projetos com a entrada de novos governantes. A escola uma das

    instituies mais resistentes mudana, junto com as grandes igrejas tradicionais.

    Se, pelo contrrio, quisermos mostrar que avanamos muito, que est havendo

    uma revoluo silenciosa em escolas inovadoras, que h muitos grupos de

    profissionais competentes e de alunos realizando experincias fantsticas, que a

    escola est mudando com novos projetos e uso criativo de tecnologias, tambm

    encontramos bons exemplos para comprov-lo.

    Tudo est acontecendo ao mesmo tempo: o atraso, a burocracia e a inovao.

    H atraso, h burocracia e h inovao. Considero importante ter uma viso

    realista, mas no desesperanada, niilista, destrutiva. Apostar mais na mudana,

    em novas possibilidades que se concretizam, do que no pessimismo

    desesperanador e corrosivo.

    A educao um processo de toda a sociedade - no s da escola - que afeta

    a todas as pessoas, o tempo todo, em qualquer situao pessoal, social, profissional

  • e atravs de todas as formas possveis. Toda a sociedade educa quando transmite

    idias, valores, conhecimento e quando busca novas idias, valores, conhecimentos.

    Famlia, escola, meios de comunicao, amigos, igrejas, empresas, Internet, todos

    educam e, ao mesmo tempo, so educados, isto , aprendem, sofrem influncias, se

    adaptam a novas situaes. Aprendemos em todas as organizaes, grupos e

    pessoas aos quais nos vinculamos.

    Pela primeira vez na histria percebemos que a educao no acontece s

    durante um perodo determinado de tempo maior ou menor (educao bsica,

    superior...), mas ao longo da vida de todos os cidados.

    A educao no acontece s no espao oficial, na escola e na universidade.

    Todas as instituies e organizaes aprendem cada vez com maior intensidade e

    ininterruptamente. Essa percepo da urgncia da aprendizagem de todos, o tempo

    todo, nova.

    A educao olha para trs - buscando e transmitindo referncias slidas no

    passado. Olha para hoje ensinando os alunos a compreender-se a si mesmos e a sociedade em que vivem. Olha tambm para o amanh preparando os alunos para os desafios que viro.

    As sociedades sempre encontraram suas formas de educar. Quanto mais

    avanadas, mais complexos se tornam seus processos de ensinar. A sociedade

    explicita seus valores bsicos fundamentais em cada momento histrico e define os

    lugares, os contedos e procedimentos vlidos atravs de diretrizes polticas.

    As escolas e universidades so os espaos institucionais legitimados para a

    formao dos novos cidados. o que se denomina educao escolar formal. O

    legislativo define polticas junto com o executivo (Ministrio e secretarias de

    Educao). H processos especiais para situaes especiais: ex. Educao de jovens

    e adultos.

    Alm da educao formal, h hoje processos intensssimos de educao no

    formal, de educao informal. Grupos, Ongs, empresas desenvolvem processos

    complexos de capacitao, de treinamento, de atualizao, independentes ou

    integrados educao formal.

    Hoje, reconhecendo os avanos na universalizao da educao, esta adquire

    uma importncia dramtica na modernizao do pas. E h uma percepo crescente

    do descompasso entre os modelos tradicionais de ensino e as novas possibilidades

    que a sociedade j desenvolve informalmente e que as tecnologias atuais permitem.

    A educao a soma de todos os processos de transmisso do conhecido, do

    culturalmente adquirido e de aprendizagem de novas idias, procedimentos, solues

    realizados por pessoas, grupos, instituies, organizada ou espontaneamente, formal

    ou informalmente.

    A organizao escolar pesada e prudente. Prudente para no embarcar em

    qualquer aventura, porque precisa preservar o passado, olhar para o presente e

    preparar para o futuro. Prudente, porque tem que encontrar denominadores comuns

    mnimos compatveis com as diferenas e desigualdades nacionais e regionais.

    pesada, porque burocratizou tanto toda a gesto em todos os nveis que, mesmo

    aumentando as aes de capacitao, parece que quase nada muda. H uma

    sensao de desperdcio de recursos, de no sair do lugar, de experincias pontuais

    interessantes, mas de extrema lerdeza, lentido, de peso cultural imobilizador.

    Aprendemos desde sempre em muitas salas de aula parecidas, em dezenas de

  • milhares de aulas semelhantes, como alunos e como professores. E este modelo

    industrial est consolidado e, de alguma forma, deu conta das demandas (apesar das

    inmeras crticas). Por isso difcil super-lo, principalmente quando ainda no

    temos outros modelos bem aprovados, testados e universalizados.

    Vivemos o paradoxo de manter algo em que j no acreditamos plenamente,

    mas tambm no nos atrevemos a incorporar plenamente novas propostas

    pedaggicas e gerenciais mais adequadas sociedade da informao e do

    conhecimento, para onde estamos caminhando rapidamente.

    Mas os desafios sociais so to gigantescos, as mudanas acontecidas e em

    fase de implantao so to dramticas em todos os setores, que esto pressionando

    violentamente a educao escolar por novas solues em todos os nveis: nos

    valores, na organizao didtico-curricular, na gesto de processos. Estamos diante

    de uma tarefa gigantesca, histrica e que levar dcadas: propor, implementar e

    avaliar novas formas de organizar processos de ensino-aprendizagem que atendam

    s complexas necessidades de uma nova sociedade da informao e do

    conhecimento.

    Dialtica entre estabilidade e mudana

    Na educao, como na vida, h um processo dialtico constante entre

    estabilidade e mudana, entre preservar ou modificar. H perodos em que

    predomina a estabilidade, com determinadas normas ou modelos predominantes. Em

    outros perodos h efervescncia, inquietao, agitao, desconforto,

    experimentao (fim da dcada de sessenta, por exemplo). Estamos em transio,

    entre os modelos estveis, consolidados, e os novos, ainda em construo. Sentimo-

    nos inquietos, inseguros, sem saber o que por no lugar dos que j temos.

    Olhando esse caleidoscpio, esse conjunto diversificado de realidades, temos

    que fazer escolhas. Ou permanecemos focados no atraso e no burocrtico (para

    justificar que no vale a pena mudar) ou optamos pela mudana e pagamos o preo,

    durante determinados perodos, da incompreenso, de crticas ao idealismo, de estar

    fora da realidade, de escapismo. Se persistirmos, algumas das nossas idias se

    tornaro em determinado momento viveis ou mais prximas e aceitas por um

    nmero maior de pessoas. assim que as mudanas acontecem, porque pessoas,

    grupos e instituies vo preparando-as, testando-as, avaliando-as at que se

    tornam aceitas e reconhecidas legalmente.

    A recomea o eterno ciclo da mudana, porque o que aceito tende a tornar-

    se repetido, burocrtico, engessado e precisa ser repensado, atualizado, modificado.

    Mudar e organizar um processo dialtico constante em todas as situaes da vida;

    tambm na educao.

    Estamos, na educao, inquietos, agitados, tentando mudar, sendo cobrados

    por mudanas, mas ainda sem saber o que por no lugar do que temos. Fazemos

    algumas experincias, mas ainda so insuficientes para enxergar uma mudana de

    forma estrutural. Precisamos insistir em apontar novos cenrios, testar alguns deles

    e avali-los para ir implantando-os com mais segurana nestes prximos anos.

    Boa parte das escolas e universidades escolhe a previsibilidade, fazer pequenos

    ajustes. Quase todas fazem as mesmas coisas, da mesma forma, sem criatividade.

    Muitos profissionais se enquadram para sobreviver; viram tarefeiros, arriscam pouco para no incomodar [2] . Agrupam-se, bajulam, se freqentam. Criam grupos

  • de sobrevivncia em nome da colaborao e da participao. Num perodo de

    incertezas e de desemprego so compreensveis essas atitudes defensivas. Mas s

    sobreviver pouco, seja no nvel pessoal ou institucional. Isso alimenta a

    mediocridade e o desencanto. Felizmente h instituies e pessoas que se arriscam

    na busca de novas solues e trazem contribuies importantes para educao.

    Mudanas estruturais na educao

    Linderman, pesquisando as melhores formas de educar adultos, afirmava j em

    1926: "Nosso sistema acadmico se desenvolveu numa ordem inversa: assuntos e

    professores so os pontos de partida, e os alunos so secundrios. ... O aluno

    solicitado a se ajustar a um currculo pr-estabelecido. ... Grande parte do

    aprendizado consiste na transferncia passiva para o estudante da experincia e

    conhecimento de outrem ". Mais adiante oferece solues quando afirma que "ns

    aprendemos aquilo que ns fazemos. A experincia o livro-texto vivo do adulto

    aprendiz". Lana assim as bases para o aprendizado centrado no estudante, e do

    aprendizado tipo "aprender fazendo". Infelizmente sua percepo ficou esquecida

    durante muito tempo. [3]

    A educao como um todo precisa de mudanas estruturais. A inadequao

    de tal ordem que no bastam aperfeioamentos, ajustes, remendos. Um estudante

    que termina uma Faculdade dedica aprendizagem mais de 20.000 horas, desde que

    comeou a ir escola. incrvel que depois de tantos anos de aprendizado tantos

    alunos no saibam quase nada; que no gostem de ler, que tenham dificuldades em

    interpretar textos, que no consigam entender as mudanas do mundo em que

    vivem. Vinte mil horas com resultados to decepcionantes. Se cada estudante,

    hipoteticamente, trocasse o estudo pelas mesmas horas trabalhadas, ganhando dez

    reais a hora, no fim da Faculdade acumularia mais de 200 mil reais. O importante

    aqui no o possvel ganho econmico, mas a constatao da ineficincia da

    organizao escolar, que tem uma mquina gigantesca, para resultados, na sua

    maior parte, ridculos (mesmo com indicadores quantitativos melhores). Isso gera

    enorme frustrao dos resultados, frustrao pessoal e social, ao dar oportunidade

    s de forma aparente para milhes de brasileiros, cuja maior parte fica relegada ao

    desemprego ou subemprego.

    Mantemos estruturas pesadas, custosas, em todos os nveis de ensino, para

    conseguir resultados to medocres. O que estamos fazendo um grande engano.

    Milhes de alunos despreparados, candidatos ao desemprego, aprofundando a

    distncia que separa os que freqentam bons colgios dos que estudam em

    instituies medocres.

    Em um curso de graduao de quatro anos em Pedagogia de uma das melhores

    universidades paulistas, alguns alunos me confirmaram que mais da metade das

    aulas era de temas, autores e pesquisas repetidos. Havia superposio de contedo,

    de textos para leitura, de trabalhos a serem realizados pelos alunos. Dois anos seriam

    suficientes, na viso deles, para aprender o que o curso propunha.

    Bons professores so as peas-chave na mudana educacional. Os professores

    tm muito mais liberdade e opes do que parece. A educao no evolui com

    professores mal preparados. Muitos professores comeam a lecionar sem uma

    formao adequada, principalmente do ponto de vista pedaggico. Conhecem o

    contedo, mas no sabem como gerenciar uma classe, como motivar diferentes

    alunos, que dinmicas utilizar para facilitar a aprendizagem, como avaliar o processo

    de ensino-aprendizagem alm das tradicionais provas. Como costumam assumir, por

    necessidade, um nmero de aulas cada vez maior, tendem a reproduzir rotinas e

  • modelos; procuram poupar-se para no sucumbir, do o mnimo de atividades

    possveis para diminuir o tempo de correo. Preparam superficialmente as aulas e

    vo incorporando esses modelos como os possveis, que se tornam hbitos, cada vez

    mais enraizados.

    Hoje aproveitamos efetivamente, em mdia, menos da metade do tempo na

    sala de aula, pela percepo de que os cursos so muito longos e de que muitas das

    informaes que acontecem na sala de aula poderiam ser acessadas ou recuperadas

    em outro momento. Muitos alunos e professores esto desmotivados com o ensino

    uniforme, padronizado, que no se adapta ao ritmo de cada um. Criticam o

    confinamento do processo de ensino-aprendizagem sala de aula, sempre com as

    mesmas turmas, com a mesma programao, nos mesmos horrios. So

    complicados os deslocamentos dirios de professores e alunos de lugares distantes

    para poder estar todos juntos na mesma sala, ao mesmo tempo, principalmente no

    nvel superior.

    Muitos professores costumam culpar os alunos, a escola, o salrio, a jornada

    pela no mudana. Costumam conhecer superficialmente seus alunos, subestimando

    suas potencialidades.

    Mantm uma postura generalista: a mesma proposta de aula vale para todos.

    No avaliam de verdade. Do trabalhos em grupo, sabendo que sero feitos por um

    ou dois alunos, e fazem vista grossa, porque preferem o pacto da mediocridade, do

    faz-de-conta. Tem professores monocordes, unitemticos, previsveis. So professores de uma nota s. Sempre do aulas do mesmo jeito, o mesmo tipo de

    exerccios, de atividades, de avaliao. Filtram tudo em perspectivas dualistas,

    maniquestas, estereotipadas.

    Tem professores-mosaico, que fazem colagens. Atiram em todas as

    direes. Misturam sem critrio autores, tendncias, idias. No organizam,

    hierarquizam, sintetizam. Tudo para eles tem o mesmo peso, o mesmo valor, em

    geral, o que est na moda.

    Tem professores papagaios. Lem e repetem o que lem, reduzindo e simplificando o seu alcance, encurtando o sentido. Reduzem textos complexos a

    interpretaes empobrecedoras. Citam autores, atravs de resumos, interpretaes

    de terceiros, sem l-los nem conhec-los. Acomodam-se nas exigncias mnimas de

    cada instituio onde lecionam.

    A maior parte reproduz modelos, receitas, esquemas. Corre atrs de novidades,

    de frmulas. Precisa delas para sentir-se seguros ao ensinar. So professores-

    receita. Mesmo querendo mudar, buscam a receita do novo. No se renovam,

    inovam ou exploram as possibilidades. So repetidores, condensadores de textos,

    tarefeiros.

    Muitos tm dificuldade em saber relacionar, em criar conexes, em integrar o

    cotidiano com o contedo didtico, em fazer a ponte entre a experincia dos alunos

    e o tema da aula. Como podem ensinar se no sabem aprender?

    So muitos os professores que no gostam de ler, que lem s por obrigao.

    Que no se atualizam. Que no freqentam cinema, teatro, exposies, museus. Que

    no lem poesia, literatura. Que se alimentam dos programas da TV aberta, das

    telenovelas, dos bigbrothers, dos telejornais sensacionalistas.

    H professores desesperanadores. S vem o negativo: no contedo, nos

    alunos, nas condies de trabalho, na vida.

  • Ganham mal e, para compensar, multiplicam as atividades profissionais.

    Sentem-se pouco valorizados, incentivados, reconhecidos, motivados. Recebem

    muitos pacotes prontos, projetos decididos sem consulta. Todos conhecemos grupos

    esforados, motivados, interessados, mas que so minoria no conjunto dos

    profissionais.

    Os currculos so excessivamente rgidos, com disciplinas isoladas, sem

    interao. H pouca flexibilidade de espao, tempo, de organizao de matrias.

    Com a explosiva privatizao do ensino superior nos ltimos dez anos,

    aumentou exponencialmente o nmero de alunos que trabalha e estuda a noite e

    que tem pouco tempo para pesquisar. Muitos desses alunos acreditam que basta

    ouvir o que o professor fala durante as aulas para acompanhar um curso

    universitrio, com a conseqente deteriorao dos resultados. Constata-se uma

    falta de conhecimentos fundamentais para um universitrio: capacidade avanada

    de ler, de compreender, de trabalhar autonomamente, o que dificulta

    sobremaneira o avano das classes como um todo.

    A educao avana menos do que o esperado porque enfrenta uma mentalidade

    predominante individualista, materialista, que busca as solues isoladamente.

    difcil para a escola trabalhar com valores comunitrios diante dessa avalanche de

    propostas individuais que acontecem a todo momento em todos os espaos sociais.

    Os meios de comunicao so os porta-vozes mais diretos e eficientes dessa

    mentalidade individualista, principalmente atravs da publicidade. Ao mesmo tempo

    a educao cada vez mais se torna commoditie, um bem em mercadolgico, um

    negcio, sem dvida em expanso, mas com grandes interesses e investimentos,

    que buscam a lucratividade, a maior rentabilidade possvel, o que significa, na

    maioria das situaes de ensino privado, uma busca mais da eficincia do que da

    cidadania.

    As mudanas demoraro mais do que alguns pensam, porque nos encontramos

    em processos desiguais de aprendizagem e evoluo pessoal e social. No temos

    muitas instituies e pessoas que desenvolvam formas avanadas de compreenso

    e integrao, que possam servir como referncia. Predomina a mdia, a nfase no

    intelectual, a separao entre a teoria e a prtica.

    Temos grandes dificuldades no gerenciamento emocional, tanto no pessoal

    como no organizacional, o que dificulta o aprendizado rpido. So poucos os modelos

    vivos de aprendizagem integradora, que junta teoria e prtica, que aproxima o pensar do viver.

    A tica permanece contraditria entre a teoria e a prtica. Os meios de

    comunicao mostram com freqncia como alguns governantes, empresrios,

    polticos e outros grupos de elite agem impunemente. Muitos adultos falam uma coisa

    respeitar as leis - e praticam outra, deixando confusos os alunos e levando-os a imitar mais tarde esses modelos.

    O autoritarismo da maior parte das relaes humanas inter-pessoais, grupais e

    organizacionais espelha o estgio atrasado em que nos encontramos individual e

    coletivamente de desenvolvimento humano, de equilbrio pessoal, de

    amadurecimento social. E somente podemos educar para a autonomia, para a

    liberdade com processos fundamentalmente participativos, interativos, libertadores,

    que respeitem as diferenas, que incentivem, que apiem, orientados por pessoas e

    organizaes livres.

    H uma defasagem evidente entre o avano nos mtodos de gesto nas

    empresas e nas escolas. Os mtodos de organizao da aprendizagem precisam ser

    urgentemente repensados, modificados, com coragem e efetividade, porque sua

  • inadequao s possibilidades, tipos de alunos e necessidades torna-se cada vez mais

    dramtica. Os mtodos de racionalizao administrativa so precrios. H muito

    desperdcio, falta de profissionalismo nas decises econmicas. Umas instituies s

    pensam em marketing e lucros e banalizam a qualidade didtica. Outras mantm

    estruturas administrativas pesadas, caras e ineficientes.

    A escola e a universidade precisam reaprender a aprender, a serem mais teis,

    a prestar servios mais relevantes sociedade, a sarem do casulo em que se

    encontram. A maioria das escolas e universidades se distancia velozmente da

    sociedade, das demandas atuais. Sobrevivem porque so os espaos obrigatrios e

    legitimados pelo Estado. Mas, a maior parte do tempo, freqentamos as aulas porque

    somos obrigados, no por escolha real, por interesse, por motivao, por

    aproveitamento. As escolas conservadoras e deficientes atrasam o desenvolvimento

    da sociedade, retardam as mudanas.

    A gesto da inovao curricular

    Se o ideal de igualdade levado a srio, a educao democrtica deve enfatizar

    a participao dos educandos na elaborao de todas as decises sobre a vida em

    comunidade e o respeito que eles tm que observar em relao a estas regras, para

    que adquiram o sentido de responsabilidade.

    Alexander Sutherland Neill, fundador da escola inglesa Summerhill, observava

    que as crianas educadas sob o princpio da democracia se tornavam mais capazes

    de questionar o senso comum e de aceitar as mudanas e os novos pensamentos.

    Dizia Neill que elas tendem a no ser guiadas pela massa .

    A liberdade a capacidade e a possibilidade de a comunidade escolar criar suas

    regras. Da porque o projeto poltico-pedaggico dessa escola esteja sempre sujeito

    a muitas transformaes. A liberdade uma relao, por isso no se confunde com

    licena. Em nossa concepo de educao, educando e educador so sujeitos que

    aprendem e ensinam no mesmo passo. Assim, a liberdade vlida tanto para a

    gesto da escola como para sua epistemologia, o que supe uma comunidade escolar

    sempre aberta aos infinitos objetos, mtodos e teorias.

    Janusz Korczak percebeu ao longo dos trinta anos em que dirigiu o Lar das

    Crianas (1912-1942), que ao tratar a criana com a mesma dignidade e justia que

    se trata o adulto, sem oprimir sua vontade nem tentar forar-lhe uma opinio, ela

    reproduz este mesmo tratamento com as outras pessoas que a cercam e, quando

    adultas, tornam-se indivduos mais justos. [4]

    O princpio fundamental de Korczak de que o educador no deve se sobressair

    em relao ao educando, deve sempre levar a srio sua opinio, seu ponto de vista,

    porque a desfeita dolorosa para a criana, oprimiria sua personalidade e seu amor

    prprio. Ao invs de mandar na criana, preciso dar-lhe a oportunidade de se

    convencer, com base em suas experincias, numa atmosfera de confiana. O

    educador polons proclamava a criana como um ser racional, que compreende bem

    suas necessidades, dificuldades e fracassos. Isto significa que ordens despticas e

    leis dogmticas no so adequadas ao ambiente educativo, sendo prefervel a

    compreenso e a confiana.

    Os modelos fundamentalmente utilizados so os baseados na disciplinaridade,

    na transdisciplinaridade, na pluridisciplinaridade (estudo de um objeto por vrias

    disciplinas) ou interdisciplinaridade (transferncia de mtodos de uma disciplina para

    outra).

  • O modelo disciplinar est condenado ao fracasso a longo prazo. Dividir o

    conhecimento em fatias, sem interligao, favorece a organizao administrativa,

    no a aprendizagem, que vista cada vez como mais interdisciplinar.

    So muitas as tentativas de buscar sadas para a organizao tradicional,

    fragmentada, do ensino. Algumas mais importantes so: O mtodo de soluo de

    problemas, com inmeras variveis: Desde a organizao de todo um currculo em

    grandes problemas, onde h temas complementares, em paralelo, at comear um

    tema novo com um problema ou caso (case) para estudo por grupos.

    H outras instituies que, mesmo trabalhando por disciplinas, elaboram um

    projeto comum que lhes d foco e que organiza as atividades de cada semestre ou

    bimestre e faz com que os alunos e professores trabalhem de forma mais integrada

    e vejam a aprendizagem de forma mais significativa.

    O que est claro que, com a flexibilidade de organizao do ensino e

    aprendizagem que as tecnologias possibilitam, o currculo tambm pode ser muito

    mais adequado cada aluno. No podemos continuar impingindo a mesma seqncia

    de contedos, tempo e espao que predominou na sociedade industrial. Podemos

    oferecer alguns contedos comuns iniciais e depois personalizar o percurso. Dentro

    de cada semestre, podemos trabalhar a partir de temas baseados em problemas,

    desenvolvendo pesquisas que se transformam em projetos, que so desenvolvidos a

    maior parte do tempo virtualmente, atravs de interao entre grupos e superviso

    de professores e que so apresentados para todos presencialmente, ao final, e

    divulgados em pginas WEB.

    Novos modelos de gesto na educao

    A aprendizagem precisa cada vez mais incorporar o humano, a afetividade, a

    tica, mas tambm as tecnologias de pesquisa e comunicao em tempo real. Mesmo

    compreendendo as dificuldades brasileiras, a escola que hoje no tem acesso

    Internet est deixando de oferecer oportunidades importantes na preparao do

    aluno para o seu futuro e o do pas.

    A educao poder tornar-se cada vez mais participativa, democrtica, mediada

    por profissionais competentes. Teremos muitas instituies que optaro por uma

    postura mais conservadora, que mantero o sistema disciplinar, o foco no contedo;

    mas, mesmo nelas, o ensino-aprendizagem no se far somente na sala de aula.

    Haver maior flexibilidade de tempos, horrios e metodologias do que h atualmente.

    Outras e esperamos que muitas caminharo para tornar-se ou continuar sendo organizaes democrticas, centradas nos alunos; que desenvolvem situaes ricas

    de aprendizagem, sem asfixiar os alunos, incentivando-os; que desenvolvem valores

    de colaborao, de cidadania em todos os participantes.

    Caminhamos na direo da democratizao das organizaes escolares com

    apoio das tecnologias. As tecnologias so apoios fundamentais s formas de

    mudana, aos processos flexveis, abertos e diferenciados de ensino-aprendizagem.

    Uma boa escola comea com um bom gestor. Muitos excelentes

    professores so maus gestores, administradores. O bom gestor fundamental para

    dinamizar a escola, para buscar caminhos, para motivar todos os envolvidos no

    processo.

  • O exemplo de Gary Wilson, que recuperou sete escolas pblicas carentes,

    fundamental para enxergar os caminhos da nova gesto escolar. Em 2000, a Lochburn Middle School, escola do distrito de Clover Park, no estado de Washington,

    estava para fechar as portas: o rendimento de seus 800 alunos era muito inferior ao

    mnimo exigido pela avaliao externa feita periodicamente pelo governo. Em um dia

    normal, raramente a presena dos alunos chegava a 50%. Os professores, havia

    muito, tinham desistido de ensinar. Hoje essa unidade um modelo de escola bem-

    sucedida. O que aconteceu nesse perodo? A escola foi praticamente "adotada" pela

    comunidade: sindicatos, igrejas, estabelecimentos comerciais e entidades no

    governamentais comearam a participar do processo de ensino e aprendizagem

    entrando na sala de aula para ajudar estudantes que tinham dificuldades, assumindo

    a responsabilidade de orientar os jovens durante a sua trajetria escolar at a

    universidade. Grandes e pequenas empresas doam dinheiro e recursos materiais para

    que nada falte aos alunos [5] .

    O trabalho primeiro do gestor Gary Wilson motivar professores, funcionrios

    e alunos, valorizando-os, escutando-os e depois traando um plano de ao focando

    o que prioritrio. Depois envolve as lideranas do bairro, os meios de comunicao

    locais e o trabalho voluntrio de tutoria da comunidade. Se escolas condenadas se

    recuperaram, qualquer escola pode ser atuante, inovadora.

    Uma escola que se articula efetivamente com os pais (associao de pais), com

    a comunidade, que incorpora os saberes da comunidade, que presta servios e

    aprende com ela.

    Uma escola que prepara os professores para um ensino focado na aprendizagem

    viva, criativa, experimentadora, presencial-virtual, com professores menos

    falantes, mais orientadores, ajudando a aprender fazendo; com menos aulas informativas e mais atividades de pesquisa, experimentao, projetos; com

    professores que desenvolvem situaes instigantes, desafios, soluo de problemas,

    jogos.

    Uma escola que fomenta redes de aprendizagem, entre professores das

    mesmas reas, e, principalmente, entre alunos; que aprendem com os pares. O aluno

    aprende com o colega, o mais experiente ajuda ao que tem mais dificuldades. Como

    nos projetos aluno-monitor (da Microsoft).

    Uma escola com apoio de grandes bases de dados multimdia, de multi-textos

    de grande impacto (narrativas, jogos de grande poder de sensibilizao), com acesso

    a muitas formas de pesquisa, de desenvolvimento de projetos.

    Uma escola que privilegia a relao com os alunos, a afetividade, a motivao,

    a aceitao, o conhecimento das diferenas. Que envolve afetivamente os alunos, d

    suporte emocional, que leva a que os alunos acreditem em si mesmos.

    Que coloca pessoas cuidando dos que tm mais dificuldades emocionais, como

    faz o Colegio Peretz, SP, onde ex-alunos, agora universitrios acompanham alguns

    estudantes com algumas dificuldades (alunos tmidos...)

    O mais importante olhar para a possibilidade e no para a dificuldade. Rita de Cassia Rizzo, diretora de escola. [6]

    " difcil implantar uma mudana educacional porque as escolas tm

    pouqussimo tempo para se dedicarem a inovaes", justifica o socilogo Boudewijn

    van Velzen, coordenador de assuntos internacionais do APS (Centro Nacional pelo

    Aperfeioamento das Escolas). [7] O socilogo garante que decises tomadas nos

  • gabinetes no levam materiais didticos at os alunos nem aumentam a freqncia

    em bibliotecas e laboratrios. "Se, na escola, os diretores e professores no se

    mexerem, nada acontecer", afirma. "O resultado de uma grande reforma est no conjunto dos pequenos passos dados nas milhares de escolas de todo o Estado."

    De acordo com o APS, cada problema da escola deve ser atacado por meio de

    um plano de ao, elaborado a partir das seguintes questes: Que objetivo se

    pretende alcanar? O que ser feito? Quem ir participar de cada etapa da atividade?

    Como e quando elas sero realizadas? Quais os resultados previstos para cada fase

    do trabalho?. O plano deve ser especfico, mensurvel, atraente, realista e executado

    a tempo, ou seja, precisa ser smart (iniciais de specific, measurable, attractive, realistic e (on) time).

    Vale a pena destacar, entre muitos outros, os projetos de escolas inovadoras

    como a Escola da Ponte de Portugal [8] , a Escola Lumiar [9] (SP) e a Escola Municipal

    Amorim Lima, SP [10] .

    Responsveis pelas mudanas

    As mudanas na educao dependem, em primeiro lugar, de termos educadores

    maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas,

    que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato,

    porque dele samos enriquecidos.

    O educador autntico humilde e confiante. Mostra o que sabe e, ao mesmo

    tempo est atento ao que no sabe, ao novo. Mostra para o aluno a complexidade

    do aprender, a nossa ignorncia, as nossas dificuldades. Ensina, aprendendo a

    relativizar, a valorizar a diferena, a aceitar o provisrio. Aprender passar da

    incerteza a uma certeza provisria que d lugar a novas descobertas e a novas

    snteses.

    Os grandes educadores atraem no s pelas suas idias, mas pelo contato

    pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a ateno. H sempre algo surpreendente,

    diferente no que dizem, nas relaes que estabelecem, na sua forma de olhar, na

    forma de comunicar-se, de agir. So um poo inesgotvel de descobertas.

    Enquanto isso, boa parte dos professores previsvel, no nos surpreende;

    repete frmulas, snteses. So docentes papagaios, que repetem o que lem e ouvem, que se deixam levar pela ltima moda intelectual, sem question-la.

    importante termos educadores/pais com um amadurecimento intelectual,

    emocional, comunicacional e tico, que facilite todo o processo de organizar a

    aprendizagem. Pessoas abertas, sensveis, humanas, que valorizem mais a busca

    que o resultado pronto, o estmulo que a repreenso, o apoio que a crtica, capazes

    de estabelecer formas democrticas de pesquisa e de comunicao.

    As mudanas na educao dependem tambm de termos administradores,

    diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimenses que

    esto envolvidas no processo pedaggico, alm das empresariais ligadas ao lucro;

    que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial,

    tecnolgico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovao,

    intercmbio e comunicao.

    As mudanas na educao dependem tambm dos alunos. Alunos curiosos,

    motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do

    professor, tornam-se interlocutores lcidos e parceiros de caminhada do professor-

    educador.

  • Alunos motivados aprendem e ensinam, avanam mais, ajudam o professor a

    ajud-los melhor. Alunos que provm de famlias abertas, que apiam as mudanas,

    que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente

    ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas

    mais produtivas.

    Nosso desafio maior caminhar para um ensino e educao de qualidade, que

    integre todas as dimenses do ser humano. Para isso precisamos de pessoas que

    faam essa integrao em si mesmas do sensorial, intelectual, emocional, tico e

    tecnolgico, que transitem de forma fcil entre o pessoal e o social, que expressem

    nas suas palavras e aes que esto sempre evoluindo, mudando, avanando.

    Podemos modificar a forma de ensinar

    Cada organizao precisa encontrar sua identidade educacional, suas

    caractersticas especficas, o seu papel. Um projeto inovador facilita as mudanas

    organizacionais e pessoais, estimula a criatividade, propicia maiores transformaes.

    Um bom diretor ou administrador pode contribuir para modificar uma ou mais

    instituies educacionais. Uma parte das nossas dificuldades em ensinar se deve

    tambm a mantermos no nvel organizacional e inter-pessoal formas de

    gerenciamento autoritrio, pessoas que no esto acompanhando profundamente as

    mudanas na educao, que buscam o sucesso imediato, o lucro fcil, o marketing

    como estratgia principal.

    Equilibrar o planejamento institucional e o pessoal nas organizaes

    educacionais. Planejamento flexvel e criatividade sinrgica. Equilbrio entre a

    flexibilidade (que est ligada ao conceito de liberdade, de criatividade) e a

    organizao (onde h hierarquia, normas, maior rigidez). Nem planejamento

    fechado, nem criatividade desorganizada, que vira s improvisao.

    Avanaremos mais se soubermos adaptar os programas previstos s

    necessidades dos alunos, criando conexes com o cotidiano, com o inesperado, se

    transformarmos a sala de aula em uma comunidade de investigao.

    Avanaremos mais se aprendemos a equilibrar planejamento e a

    criatividade, a organizao e a adaptao a cada situao, a aceitar os imprevistos,

    a gerenciar o que podemos prever e a incorporar o novo, o inesperado. Planejamento

    aberto, que prev, que est pronto para mudanas, para sugestes, adaptaes.

    Criatividade, que envolve sinergia, pr as diversas habilidades em comunho,

    valorizar as contribuies de cada um, estimulando o clima de confiana, de apoio.

    Com a flexibilidade procuramos adaptar-nos s diferenas individuais, respeitar

    os diversos ritmos de aprendizagem, integrar as diferenas locais e os contextos

    culturais. Com a organizao, buscamos gerenciar as divergncias, os tempos, os

    contedos, os custos, estabelecemos os parmetros fundamentais.

    Traar linhas de ao pedaggica maiores (gerais) que norteiem as aes

    individuais, sem sufoc-las. Respeitar os estilos de dar aula que do certo. Respeitar

    as diferenas que contribuam para o mesmo objetivo. Personalizar os processos de

    ensino-aprendizagem, sem descuidar o coletivo. Encontrar o estilo pessoal de dar

    aula, onde nos sintamos confortveis e consigamos realizar melhor os objetivos.

    Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espao-temporal,

    pessoal e de grupo, menos contedos fixos e processos mais abertos de pesquisa e

    de comunicao. Uma das dificuldades atuais conciliar a extenso da informao,

    a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreenso, em

    espaos menos rgidos, menos engessados. Temos informaes demais e dificuldade

  • em escolher quais so significativas para ns e conseguir integr-las dentro da nossa

    mente e da nossa vida.

    A aquisio da informao, dos dados depender cada vez menos do professor.

    As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rpida e

    atraente. O papel do professor - o papel principal - ajudar o aluno a interpretar

    esses dados, a relacion-los, a contextualiz-los.

    Aprender depende tambm do aluno, de que ele esteja pronto, maduro, para

    incorporar a real significao que essa informao tem para ele, para incorpor-la

    vivencialmente, emocionalmente. Enquanto a informao no fizer parte do contexto

    pessoal - intelectual e emocional - no se tornar verdadeiramente significativa, no

    ser aprendida verdadeiramente.

    Avanaremos mais pela educao positiva do que pela repressiva. importante

    no comear pelos problemas, pelos erros, no comear pelo negativo, pelos limites.

    E sim comear pelo positivo, pelo incentivo, pela esperana, pelo apoio na nossa

    capacidade de aprender e de mudar.

    Ajudar o aluno a que acredite em si, que se sinta seguro, que se valorize

    como pessoa, que se aceite plenamente em todas as dimenses da sua vida. Se o

    aluno acredita em si, ser mais fcil trabalhar os limites, a disciplina, o equilbrio

    entre direitos e deveres, a dimenso grupal e social.

    [1] Pesquisa publicada na revista Isto Dinheiro, ed. 359, 21/07/2004. Seo A semana.

    [2] interessante a viso de gesto que uma coordenadora de cursos de especializao do Senac-SP manifesta nesta frase, que me dirigiu em 2004: Consegui enquadrar o teu colega, professor X. Ele agora est cumprindo direitinho os horrios programados, enquanto voc no se enquadrou. O importante no era a produtividade, a inovao, mas a presena fsica e o cumprimento de horrios.

    [3] Roberto de Albuquerque CAVALCANTI. Andragogia: A Aprendizagem nos Adultos. Revista de Clnica Cirrgica da Paraba N 6, Ano 4, (Julho de 1999).

    [4] KORCZAK, Janusz & DALLARI, Dalmo de Abreu. O direito da criana ao respeito. So Paulo: Summus Editorial. 1986

    [5] Paola GENTILE. GARY WILSON- Nenhuma criana pode ser deixada para trs. Revista Nova Escola. Edio 174, agosto 2004. Disponvel em: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0174/aberto/mt_72325.shtml

    [6] Quando o problema no o aluno, Paulo de Camargo. FSP, www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u723.shtml

    [7] Pequenos passos, grandes avanos. Revista Nova Escola, agosto 1997. Disponvel em: http://novaescola.abril.uol.com.br/ed/104_ago97/html/gestao.htm

    [8] http://www.eb1-ponte-n1.rcts.pt/

    [9] www.lumiar.org.br

    [10] A diretora da escola sem paredes, Revista Sinapse da Folha. In lwww1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u908.shtml