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RUA 10 CENÁRIO I Nos idos de 1952 quando fui estudar arquitetura em Roma, o conjunto de disciplinas por mim cursadas na Escola Politécnica da UFBA, em Engenharia Civil e avaliadas pela Facoltà di Architettura dell´Università di Roma resultou, para a obtenção do título de arquiteto, em cursar 10 disciplinas relacionadas com História/Teoria/ Projeto de arquitetura e mais duas disciplinas optativas a escolher entre: Restauro dei Monumenti, Scenografia teatrale, Scenografia cinematografica e Arte dei giardini (paisagismo). Escolhi Restauro e Cenografia cinematográfica, lembrando que naquele período, Roma, em decorrência do sucesso do “neo- realismo” e dos baixos custos de produção, se havia transformado “Meca” do cinema mundial e, a referida disciplina de cenografia considerada um saber adequado à formação do arquiteto, e isso, por sua competência artística e técnica de projetar em diferentes escalas e variedade de temas no espaço físico. Cursei a disciplina cenografia cinematográfica no ano acadêmico 1953/54 tendo como professor o arquiteto Guido Fiorini, cenógrafo então famoso e responsável por dezenas de filmes, sendo o mais conhecido deles “Miracòlo a Milano”, cuja cenografia enfocava o submundo das favelas italianas no imediato pós-guerra. Na oportunidade visitamos inúmeras vezes Cinecittà com diferentes cenografias instaladas em “palchi” (galpões) com dimensões em média de 40x20X15m, cenografias essas projetadas utilizando o imprescindível “angolatore” (ângulo geométrico cujo vértice, para efeito de projeto, se situava no centro da objetiva da câmara, expediente utilizado tanto no sentido horizontal quanto vertical, visando, assim, delimitar as “tomadas” e evitar desperdício na confecção de cenários (paredes/painéis e tetos/forros) propostos por arquitetos e suas equipes. O tema do curso, a título de exercício, proposto pelo referido professor ‘La voce del silenzio”, filme então realizado pelo renomado diretor alemão Pabst e tendo como protagonista o ator francês Jean Marais. Entretanto, no exercício proposto, a cenografia, diferentemente do filme já realizado, deveria ser ambientada em Roma e expressar em cena a sensualidade barroca da arquitetura romana e a profusão de elementos do estilo eclético (início do século. XX) nas cenas previstas no espaço do Tribunal e nos demais ambientes complementares. Assim, o aluno deveria conviver com esses estilos e recriar nos galpões, as parciais e flexíveis arquiteturas dos diferentes espaços interiores previstos no “copione”, projetando painéis móveis ARQUITETURA ARQUITETURA ARQUITETURA ARQUITETURA ARQUITETURA, CINEMA , CINEMA , CINEMA , CINEMA , CINEMA, TECNOL TECNOL TECNOL TECNOL TECNOLOGIA E OGIA E OGIA E OGIA E OGIA E CENOGRAFIA VIRTUAL CENOGRAFIA VIRTUAL CENOGRAFIA VIRTUAL CENOGRAFIA VIRTUAL CENOGRAFIA VIRTUAL Pasqualino Romano Magnavita PERCURSOS E P PERCURSOS E P PERCURSOS E P PERCURSOS E P PERCURSOS E PAISA AISA AISA AISA AISAGENS GENS GENS GENS GENS Professor do PPG-AU Universidade Federal da Bahia [email protected]

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Cenografia virtual

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  • RUA 10

    CENRIO I

    Nos idos de 1952 quando fui estudararquitetura em Roma, o conjunto dedisciplinas por mim cursadas na EscolaPolitcnica da UFBA, em EngenhariaCivil e avaliadas pela Facolt diArchitettura dellUniversit di Romaresultou, para a obteno do ttulo dearquiteto, em cursar 10 disciplinasrelacionadas com Histria/Teoria/ Projetode arquitetura e mais duas disciplinasoptativas a escolher entre: Restauro deiMonumenti, Scenografia teatrale,Scenografia cinematografica e Arte deigiardini (paisagismo). Escolhi Restauroe Cenografia cinematogrfica, lembrandoque naquele perodo, Roma, emdecorrncia do sucesso do neo-realismo e dos baixos custos deproduo, se havia transformado Mecado cinema mundial e, a referida disciplinade cenografia considerada um saberadequado formao do arquiteto, e isso,por sua competncia artstica e tcnicade projetar em diferentes escalas evariedade de temas no espao fsico.

    Cursei a disciplina cenografiacinematogrfica no ano acadmico1953/54 tendo como professor oarquiteto Guido Fiorini, cengrafo entofamoso e responsvel por dezenas defilmes, sendo o mais conhecido deles

    Miraclo a Milano, cuja cenografiaenfocava o submundo das favelasitalianas no imediato ps-guerra. Naoportunidade visitamos inmeras vezesCinecitt com diferentes cenografiasinstaladas em palchi (galpes) comdimenses em mdia de 40x20X15m,cenografias essas projetadas utilizandoo imprescindvel angolatore (ngulogeomtrico cujo vrtice, para efeito deprojeto, se situava no centro da objetivada cmara, expediente utilizado tanto nosentido horizontal quanto vertical,visando, assim, delimitar as tomadase evitar desperdcio na confeco decenrios (paredes/painis e tetos/forros)propostos por arquitetos e suas equipes.

    O tema do curso, a ttulo deexerccio, proposto pelo referidoprofessor La voce del silenzio, filmeento realizado pelo renomado diretoralemo Pabst e tendo como protagonistao ator francs Jean Marais. Entretanto,no exerccio proposto, a cenografia,diferentemente do filme j realizado,deveria ser ambientada em Roma eexpressar em cena a sensualidadebarroca da arquitetura romana e aprofuso de elementos do estilo ecltico(incio do sculo. XX) nas cenasprevistas no espao do Tribunal e nosdemais ambientes complementares.Assim, o aluno deveria conviver comesses estilos e recriar nos galpes, asparciais e flexveis arquiteturas dosdiferentes espaos interiores previstosno copione, projetando painis mveis

    ARQUITETURAARQUITETURAARQUITETURAARQUITETURAARQUITETURA, CINEMA, CINEMA, CINEMA, CINEMA, CINEMA,,,,,

    TECNOLTECNOLTECNOLTECNOLTECNOLOGIA EOGIA EOGIA EOGIA EOGIA E

    CENOGRAFIA VIRTUALCENOGRAFIA VIRTUALCENOGRAFIA VIRTUALCENOGRAFIA VIRTUALCENOGRAFIA VIRTUAL

    Pasqualino Romano Magnavita

    P E R C U R S O S E PP E R C U R S O S E PP E R C U R S O S E PP E R C U R S O S E PP E R C U R S O S E P A I S AA I S AA I S AA I S AA I S A G E N SG E N SG E N SG E N SG E N S

    Professor do PPG-AUUniversidade Federal da Bahia

    [email protected]

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    que permitisse movimentos da cmara em diferentesenquadramentos. Portanto, um verdadeiro projetoarquitetural em planta, elevao e detalhes, centrado nacriatividade artstica/espacial, funcionalidade, exignciastcnicas, flexibilidade dos painis e economia dos meios.

    Muito importante ter lido o livro de Lucchino Viscontisobre a realizao do filme Le notte bianche e descrevendoem detalhe, a cenografia de um ambiente urbano, uma reaporturia, realizada num dos galpes de Cinecitt. Cenografiaesta simulando uma noite de densa neblina e cujas cenas dofilme se passavam beira de um cais e sobre uma ponte deum canal do pressuposto porto. Para tanto, foram utilizadosteles de vus brancos simulando uma atmosfera densa emida, iluminao contrastante de claros e escuros, reflexosdas guas, tudo contribuindo para a dramatizao realista dacenogrfica, e isso, suprendentemente, num espao internoto limitado como aquele de um galpo.

    Outra experincia cenogrfica que me impressionou erealizada em um dos palcos de Cinecitt, diz respeito areproduo arquitetnica da Capela Sistina para um filmesobre Michelangelo. Devido as dimenses dos galpesexistentes, mesmo utilizando o maior deles, o projetocenogrfico sofreu uma reduo sensvel de escala, emboras perceptvel para aqueles que, de fato, vivenciaram o espaooriginal da Capela. Independente da fiel reproduo dosdiferentes afrescos, uma das inovaes tecnolgicas utilizadas,relaciona-se com o emprego da fibra de vidro para a confecodo teto abobadado e de outros elementos (balaustras, plpito,altar, candelabros). Teto projetado em mdulos removveis, eisso, para facilitar as tomadas do alto para o piso, o qual,simulava o cromtico desenho da pavimentao marmrea,utilizou-se outro material, tambm, sinttico: placas de linleo.

    Valeria comentar, ainda, a poderosa cenografia doarquiteto Mrio Chiari, cengrafo preferido de Visconti(Gattopardo, Morte in Venezia, entre outros filmes) eque gentilmente me proporcionou visitar toda a preparaocenogrfica do filme A Bblia, particularmente, o projetodas diferentes simulaes, escalas e detalhes da Torre deBabel, com suas maquetas em diferentes escalas e cujaparte terminal teve como suporte um elevado pico demontanha no norte da frica com deslumbrante paisagem.

    Esse prembulo teve apenas a inteno de caracterizarque a cenografia cinematogrfica, particularmente nasdcadas seguintes ao trmino da Segunda Guerra, e atmesmo antes, era considerada consensualmente uma dasatribuies do arquiteto, pois, exigia uma formaoprofissional adequada. Importantes filmes, no perodo,revelaram extraordinrias criaes cenogrficas premiadas

    e assinadas por arquitetos. Todavia, hoje, essas criaes,face o advento das tecnologias computacionais, passarama integrar a categoria efeitos visuais e/ou efeitosespeciais nas premiaes hollywoodianas.

    Ao longo da histria do cinema, so memorveis osdiferentes e criativos expedientes, artifcios, truquescenogrficos e efeitos especiais de natureza analgica quevisavam surpreender o pblico, tanto no cinema mudo quantofalado, e isso, na composio de espaos internos e externos.Basta lembrar as monumentais reconstrues histricas, osimaginrios ambientes de doces e alegres fbulas, bem como,os dramticos ambientes de filmes de terror e as visescriativas relacionadas com enredos de fico cientfica entreoutras modalidades de situaes e problemas de naturezacenogrfica.

    CENRIO II

    Com o advento das novas tecnologias computacionais,o saber cenogrfico analgico vem sendo desconstrudoem suas fundamentais formulaes e prticas por umacenografia virtual. Acontecimento que no deve serentendido como destruio desse saber cenogrficotradicional, mas, perda de seu carter hegemnico, pois, elecontinua coexistindo com as novas tecnologia, limitando-se,porm a realizao trivial de cenografias de interiores,maquetas e, principalmente, a captao de espaosexteriores e paisagens. Emerge, portanto, um novo sabercenogrfico fazendo uso de uma cenografia produzidadigitalmente no universo da realidade virtual.

    A multiplicidade de recursos tcnicos proporcionadospelas novas tecnologias, particularmente aqueles dadesvinculao da relao figura/fundo, vem promovendosobreposies de imagens e figuras, eliminao oumultiplicao (clonagem) delas, permitindo, assim, esvaziarespaos, eliminar ou adicionar elementos, criando multidesvirtuais, tanto de pessoas quanto de animais, cidades ecenrios siderais, planetrios. E mais, o uso e manipulaescromticas, intensidades luminosas, efeitos especiais antesimpensveis, articulando figuras humanas ou robs que sedeslocam velozmente no espao enfrentando todo o tipo deartefactos, em nvel de pura fico (maquetas no espaocsmico, naves espaciais, paisagens extraterrenas, etc.) queadquirem, virtualmente, autonomia de vo e presena emdiferentes sobreposies, tais como: animados confrontosentre multides, batalhas, espetaculares lutas entre heris evilos, monstros e aliengenas, animais pr-histricos entreoutras composies delirantes.

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    A possibilidade de introduzir objetos virtuais em cena,criando a iluso que diferentes autores estejam interagindoe at mesmo circular entorno desses objetos e, ao mesmotempo, terem suas sombras projetadas como se tratasse deum espao real agilizado por movimentos de cmara tais como:zoom, pan e travelling, so recursos estes que ajudam aparecer real essa cenografia virtual auxiliada por computador.Hoje, no mbito dessa nova tecnologia criou-se um mercadoespecfico. Empresas especializadas comercializam softwaresdestinados criao de cenrios virtuais, permitindocomposies de atores com cenrios tridimensionais (3D)que acompanham de forma bastante realstica os movimentosda cmara, propiciando uma nova possibilidade criativa e,principalmente, para os produtores de filmes e programastelevisivos, a reduo de custos operacionais e a conseqenteseduo visual que essas produes cinematogrficas etelevisvas, em sua grande maioria. promovem e estimulamsob o efeito entorpecente da espetacularizao e deleite demultides, um desenfreado consumo.

    Sem dvida, essa realidade promovida pelas novastecnologias da computao, vem afetando as prticastradicionais de profissionais, sejam eles arquitetos ou no,envolvidos com o universo cenogrfico do cinema e tambmcom as difusas redes televisivas e seus programas comerciais.E mais, essas novas prticas computacionais vm afetando,tambm, a indstria cenogrfica no seu mago, fazendo comque, imensas oficinas de cenrios e armazenamentos(depsitos), espaos estes que antes privilegiavam a madeira,revestimentos, mveis, tecidos, tintas, instalaes eltricas,etc, agora, do lugar a pequenas salas informatizadas,reduzindo assim, no apenas os espaos fsicos das empresascinematogrficas, mas tambm, o conjunto de equipamentosnecessrios para a confeco de cenrios e, principalmente,o nmero de pessoas envolvidas, ou seja, a mo-de-obra quemuito incide nos custos da produo de filmes, principalmenteaqueles de natureza histrica que exigem extensas ocupaesespaciais.

    Esse novo contexto, portanto, que vem permitindo queoperadores de computao tomem o lugar de arquitetos evideo-designers, e reduzindo o trabalho de marceneiros,pintores, estucadores, eletricistas, aderecistas entreprofisses afins, promovendo assim, a emigrao dessa mo-de-obra para outros mercados que, tambm, se encontramsaturados e voltados para a realizao de shows, eventos,entretenimentos em geral. Ocorrncia que vem favorecendo,tambm, de alguma forma, o ndice de desemprego, realidadeessa to visvel na atual fase do capitalismo informacionalem seus diferentes nveis de produo.

    Nos encontramos, portanto, frente ao que Viriliodenominou esttica do desaparecimento (realidade virtual,digital), em relao ao mundo da representao, ou seja, esttica da aparncia (mundo da representao analgica).Todavia, do ponto de vista terico, portanto, conceitual, essapercepo viriliana, fenomenolgica e binria, tem limitaese no explica outras conotaes que se estabeleceram nastransformaes ocorridas com este saber especfico dacenografia cinematogrfica, agora sob a gide dos avanostecnolgicos. Acontecimento que merece, de fato, um novoentendimento , pois, trata-se de um novo saber o qual,anteriormente, na sociedade industrial, estava especificamenterelacionado com a formao bsica e profissional do arquitetoe de seu exerccio ou com profissionais de reas deconhecimento afins (trabalho interdisciplinar em que participamroteiristas, artistas plsticos, historiadores, engenheiros,designers, entre outras profisses), geralmente sob acoordenao de um arquiteto. Saber cenogrfico este que,em ltima instncia, quando traduzido em relaes demicropoderes, passa pelo crivo decisrio de diretores ou deprodutores de filmes, cujos custos na confeco de cenriospesam muito no oramento dessas produes.

    Aplicando os pressupostos foucaultianos especificamenteao saber cenogrfico, este, enquanto saber, no se encontradesvinculado de relaes de poderes (micropoderes), os quaiscoexistem com os processos de subjetivao de seuscriadores, e isso, enquanto construes individuais e coletivasorientadas, de regra, para o mercado cinematogrfico(inclusive, televisivo/publicitrio). Portanto, o problema quese coloca relaciona-se com uma formao profissionalespecfica e visa caracterizar que tipo de instituioacadmica, pblica ou privada (dispositivo disciplinar demicropoderes), ou mesmo, instituio empresarial, que seria,hoje, compatvel com a formao de cengrafos voltada paraas novas tecnologias da computao.

    Desconheo, na configurao ampla de quase duascentenas de escolas de Arquitetura e Urbanismo no pas, e atmesmo em nvel planetrio, o oferecimento de disciplina decenografia cinematogrfica, mesmo optativa, como nos idosda dcada de 50 na Faculdade de Arquitetura de Roma. Semdvida, existem instituies de ensino que oferecem cursosespecficos de cinema, comunicao visual, incluindo disciplinasespecficas de cenografia cinematogrfica. Entretanto, aquesto que hoje se formula relaciona-se especificamente coma formao do profissional, seja ele arquiteto ou no, emcenografia virtual, utilizando a instrumentalidade digital.

    Enfocando a questo, constata-se a falta de organismosestruturados, instituies especficas de ensino voltadas para

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    essa atual demanda. A essa ausncia se soma a carnciade publicaes especficas que torna esse novoconhecimento uma coisa rara, particularmente no nosso pas,onde, at mesmo a denominada Arquitetura Virtual e suaprtica demonstra-se, ainda, incipiente, pois, a utilizaoinstrumental do CAD, nas escolas de arquitetura e de design,tem limitaes extremas para competir com os softwaresmonopolizados por corporaes internacionais, empresas quedetm esses conhecimentos e os comercializam, inclusive,oferecendo prestao de servios atravs de equipesformadas e treinadas em seu seio e voltadas para a criaode cenrios virtuais em projetos destinados a produtores defilmes e programas televisivos.

    Constata-se, tambm, que empresas cinematogrficase televisivas, cada vez mais, utilizam a cenografiacomputacional, pois, elas se associam ou at mesmoincorporam empresas especializadas, caracterizando, assim,uma limitao mais rigorosa para o mercado profissionalnessa nova rea de saber/poder e em que, a construosubjetiva de seus criadores fica condicionada, de regra, tantoao apelo mercadolgico, quanto ao da espetacularizaovisando estimular o consumo de filmes (cinemas, DVDs,Internet) e de programas televisivos.

    Frente questo que naturalmente se formula e serelaciona com o perfil do profissional que estaria preparadopara desenvolver projetos de cenografia virtual, atividadeprofissional que deve incluir no apenas um novo saberartstico, mas tambm o domnio da tecnologia computacionalque se encontra, por sua vez, em permanente transformao.Entretanto, a questo no se esgota nessas duas exignciasde exterioridades, formas de expresso, o que se diz e formasde contedo, o que se v, mas, o que se pensa, e isso, nosentido de uma viso de mundo, ou seja, de uma tica.

    tica que deveria no apenas conter e expressar umanova percepo esttica guisa de uma obra de arte (umbloco de sensaes), e isso, atravs de novas percepes(perceptos) e afetos (no caso especfico da cenografia),mas, como incorporar, por sua vez, elementos tcnicos (novastecnologias) que entram nas sensaes, porm, no asdeterminam e, tambm, fazer transparecer, nela uma ticaenquanto viso de mundo, uma nova relao de poder,criando uma trilogia to expressiva no pensamento deGuattari: esttica/tica/poltica.

    Considerando que nos encontramos no mbito deSociedades de controle (Deleuze), momento este diferentedas Sociedades disciplinares estudadas por Foucault, pode-se constatar a multiplicidades de instituies que ainda coexisteme exercitam micropoderes disciplinares, embora no mais

    hegemnicos e que, de certa forma, vm contribuindo com anova hegemonia exercida pelos poderes que mais diretamenteafetam as nossas vidas. E isso, na forma de uma violncia noexplicitada, principalmente, por meio do exerccio difuso dediferentes mdias, pois, elas promovem e so responsveis pelaconstruo das nossas subjetividades individuais e coletivas, eisso, hoje, em dimenso planetria. Micropoderes estesamplamente difundidos atravs dos espaos de fluxos queconstituem complexas redes de informao e comunicaodirecionadas para o marketing. Fato que vem promovendoum desenfreado estmulo ao consumo e moldando umaespecfica e enganosa viso de mundo (tica), favorecendo,assim, o controle das prticas sociais atravs da comunicaovisual, principalmente, televisiva e cinematogrfica.

    CENRIO III

    Problematizar o saber cenogrfico no mbito de umasociedade ps-industrial sob a gide do desenvolvimentotecnolgico e demarcado por novos saberes, diferentesrelaes de poderes e de processos de subjetivao,constituiu o objetivo deste breve relato, o qual, todavia, ficaem aberto para outras indagaes, tais como: qual o perfildo profissional que estar preparado para desenvolverprojetos cenogrficos virtuais? Que especficas disciplinase tcnicas essa profisso deveria ter? Que conceitos eperceptos se enquadram nessa nova forma de representaodo espao tridimensional enquanto realidade virtual? Queviso de mundo (tica/esttica) propor? .

    Por fim, pergunta-se: esse novo saber da cenografiavirtual uma atribuio profissional especfica do arquiteto?Do video-designer? Do comunicador visual? Do artistaplstico? De todos eles juntos? Ou apenas atribuio degrandes empresas, poderosas corporaes que criamsoftwares e que educam e mantm os criadores dascenografias virtuais para filmes e programas televisivos sobum silencioso controle de um anonimato difuso?

    Eis uma questo que merece uma reflexo maisdetalhada e conseqente, e isso, no mnimo, caracterizandoe perguntando: que viso de mundo deve emergir em nossacontemporaneidade, relacionada com uma nova dimensopoltica no mbito de novos saberes estticos/ticos?Provavelmente: (...)uma poltica de uma tica dasingularidade, uma ruptura com os consensos, os lenitivosinfantis destilados pela subjetividade dominante (Guattari).

    Finalizando, nada como um apelativo The End,sugerindo aos interessados na questo, participarem e, quemsabe... brevemente... nos prximos cenrios... da RUA...