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UM ESTUDO SOBRE A METONMIA COMO UMPROCESSSO COGNITIVO
Ione Aires Santos*
Resumo: Procurando desvendar a metonmia bem como entend-la, apresenta-se um estudo acerca da linguagem figurada sob um olhar qualitativo, desde a Retrica at se chegar ao percurso investigativo acerca dos pressupostos tericos da Lingustica Cognitiva. Para isso, a linguagem figurada foi observada na retrica aristotlica e nas gramticas tradicionais. Fez-se uma comparao entre a metfora e a metonmia sob o enfoque tradicional. Verificou-se ainda, como se deu a taxonomia da metonmia, como ela apresentada nos livros didticos e quais as consequncias da abordagem taxonmica tradicional. Conhecidas as implicaes do estudo tradicional sobre a metonmia, apresentou-se a Lingustica Cognitiva, uma disciplina que trouxe um novo olhar epistemolgico sobre o modo como as coisas so experienciadas e categorizadas. Apresentaram-se a metfora e a metonmia sob a tica da cognio e, por fim, fez-se o estudo da metonmia com relevncia para a sua natureza inferencial. A anlise constituiu-se de um estudo de caso com vistas a observar a face inferencial da metonmia conceptual e como se constitui o processo de construo de um determinado conceito via processo metonmico. Os resultados demonstraram que a metonmia conceptual tem um alcance sociocultural. Palavras-chave: Semntica Cognitiva. Metonmia. Referncia. Inferncia.
Abstract: Trying to understand and unravel the metonymy , this work is presented a study on the figurative language in a quality look, from rhetoric to get to the investigative course on the theoretical assumptions of Cognitive Linguistics. For this, the imagery was observed in Aristotelian rhetoric and in traditional grammars. A comparasion was made between metaphor and metonymy in the traditional approach, and verify how the taxonomy of metonymy, as it is presented in textbooks and what the consequences of traditional taxonomic approach. Yet been verified the implications of the study on traditional metonymy, presents the cognitive linguistics, a discipline that has brought a new perspective on the epistemological way things are experienced and categorized. the metaphor and metonymy were presented from the viewpoint of cognition and, finally was held study of metonymy with relevance to its nature inferential. The analysis consisted of a case study in order to observe the inferential face of the conceptual metonymy as is the process of building a particular concept through metonymic process. The results showed that conceptual metonymy has a range of socio-cultural.Keywords: Cognitive Semantics. Metonymy. Reference. Inference.
Introduo
**Mestre em Estudos Lingusticos pelo Programa de Ps-Graduao em Lingustica da Universidade Federal do Esprito Santo (UFES), Vitria ES, Brasil, letrasione @ gmail . com .
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Apoiando-se na perspectiva terica da Lingustica Cognitiva, defende-se a metonmia
como um fenmeno conceptual. Para Lakoff & Johnson (2002, p.93) a metonmia no um
mero recurso referencial. Ela tambm tem a funo de propiciar o entendimento.
Nessa direo, este artigo associa-se a estudos que expandiram a funo da metonmia
para alm do seu conceito tradicional enquanto figura de linguagem. Adota-se aqui a
concepo de metonmia conforme apresentada por Panther & Thornburg (1999) que
denominam as metonmias de esquemas naturais de inferncia, considerando-as como
associaes entre conceitos, facilmente ativveis, que podem ser usados para finalidades
inferenciais. Supe-se, ento, que a metonmia muito mais que um processo de
deslocamento de referncia. nessa possibilidade de diferenciao de tratamento que se apoia
este trabalho.
A linguagem figurada na retrica aristotlica: a superioridade da metfora em relao
metonmia
A Retrica tem em Aristteles seu maior representante, no que diz respeito aos
postulados relativos linguagem figurada. Considerada a linguagem da emoo e das paixes,
a linguagem figurada ocupa um papel de destaque, tanto na poesia, quanto no discurso, e os
retricos defendem que essa linguagem possui dupla funo, pois exerce o papel, tanto de
artifcio de embelezamento, quanto de artifcio de persuaso.
Embora a expresso ornada caracterize o discurso bem elaborado, apreciado por
poetas e retricos, houve o reconhecimento de que o uso das figuras tambm encontrado na
linguagem cotidiana. Aristteles ([199-], p.176) declara que no h ningum que na
significao corrente no se sirva de metforas, dos termos prprios e dos vocbulos usuais.
Essa uma afirmativa bastante singular, considerando-se a longa tradio de estudos
posteriores que sediar a metfora no interior da linguagem literria, restringindo-a a tal lugar.
Mas, se a metfora exerce uma grande atrao em diversos pesquisadores, no se pode
afirmar o mesmo sobre a metonmia que, geralmente, aparece como pano de fundo de
declaraes relacionadas metfora, como se pode observar em Ullmann (1970) que
apresenta a metonmia, como recurso estilstico, dispondo ela de um interesse limitado para o
estudioso do estilo uma vez que ela surge apenas entre as palavras alm de no revelar
relaes novas entre os termos. Imbudo desse posicionamento, Filipak (1983, p.135) declara
que o emissor e o receptor facilmente percebem a metfora como um desvio lingstico. A
metonmia, por sua vez, mais sorrateira, dissimulada e passa despercebida, detectvel
apenas pela anlise lingustica ou estilstica.
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Esse carter sub-reptcio da metonmia talvez seja a justificativa para sua aparncia de
sombra em relao ao fulgor da metfora e, mais ainda, talvez seja devido a tal caracterstica
o fato de a metonmia ter sido sempre muito menos estudada. Assim como foi observado na
abordagem tradicional, a escassez dos estudos relacionados metonmia, tambm notada na
abordagem da Lingustica Cognitiva.
Abraho (2008) compreende a metonmia sob a perspectiva da Produo de Sentido
em destaque para a importncia dos processos histrico-sociais e culturais que sustentam a
significao da metonmia para alm de uma questo de estilo. Pe-se em relevo tambm a
influncia da experincia fsica na representao de processos de significao fomentados
pela metonmia. A autora exemplifica isso por meio das metonmias Suor, sangue e
lgrimas., proferidas em 1939, por Wiston Churchill populao inglesa, em reao
situao de domnio e opresso. Para a autora as metonmias suor, sangue e lgrimas,
expressam a situao de um modo bem realista provocando no povo o efeito de sentido de
busca de resistncia.
Os estudos de Jakobson tambm sustentaram a importncia da metonmia e da
metfora na constituio da linguagem. Jakobson (1973) ressaltou a relao da metfora e da
metonmia com os processos de seleo e de combinao e exps que ambos os tropos
opostos, metfora e metonmia, oferecem a expresso mais condensada de dois modos bsicos
de relao: a relao interna de similaridade (e contraste) serve de base metfora enquanto
que a relao externa de contiguidade (e afastamento) determina a metonmia. Dessa forma,
concordamos com Niemeier (2003), que, citando Dirven (apud NIEMEIER, 2003, p.196),
afirma ter Jakobson desde sempre percebido a condio da metonmia em seu efeito de
conceptualizao, pois a linguagem apresenta-se com um duplo carter que pode ser
explicado por duas formas de arranjo: a cominao e a seleo. Ao comentar os distrbios da
afasia na linguagem, Jakobson (1970), tambm ressaltou o carter cognitivo da metonmia.
Soma-se a isso o pensamento de Radden (2005), que aponta o fato de a retrica tradicional j
ter lidado com aspectos conceptuais na medida em se referia a noes tais como a parte todo,
causa efeito, continer continente etc.
Embora a metfora seja apresentada numa posio de destaque, percebe-se que ela tem
com a metonmia mais afinidades do que discrepncias. A metfora e a metonmia atuam no
estudo estilstico e em mudanas semnticas na histria das lnguas. Ullmann (1970, p. 455)
declarou que [...] uma lngua sem metfora e sem metonmia inconcebvel: estas duas
foras so inerentes estrutura bsica da fala humana.
Nos estudos em Semntica Cognitiva, a metfora e a metonmia trabalham no mesmo
nvel cognitivo, por isso no h superioridade de uma em relao outra. Em seguida, o
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prximo item aborda brevemente o tratamento dispensado metonmia ainda sob uma
abordagem tradicional.
Metonmia e tradio
Etimologicamente, o termo metonmia, em grego (metonyma), significa
mudana ( - meta) de nome ( - noma) e, em latim denominao (denominatio),
conforme registrado por Massaud Moiss (2004). Lausberg (apud MOISS, 2004, p.290-
291), declara que a delimitao da metonmia esfera dos nomes equivocada, isto , a
metonmia no uma mera relao entre nomes. Em outras palavras, a definio de
metonmia, considerada apenas como o uso do nome de uma coisa por outra com a qual est
associada, oferece apenas uma viso geral de sua essncia.
Nota-se, contudo, em gramticas tradicionais uma viso restrita acerca das
caractersticas da metonmia, pois essa viso no ultrapassa a substituio de palavras entre si.
Barros (1985, p. 361), por exemplo, registra que a metonmia consiste na troca de palavras,
isto , emprega-se uma palavra por outra, e a primeira lembra a segunda, que fora omitida.
Segundo o autor, a metonmia revela ntima relao entre o significado que se deseja
transmitir e o significante usado para express-lo. Para Cegalla (2008), na metonmia uma
palavra evoca a outra. Rocha Lima (1974) tambm havia considerado que a metonmia
origina-se das ideias evocadas por outra com a qual apresentam certa interdependncia.
Para Cmara Jnior (1968, p.239) a metonmia um processo sincrnico pelo qual se
multiplicam as ocasies de emprego de uma palavra, alm do seu campo semntico
especfico. A metonmia coloca uma palavra num campo semntico que no o seu, na base
de agrupamentos onomasiolgicos das coisas extralingusticas que no coincidem com os
agrupamentos semnticos das formas lingusticas.
Guern (1973) alertou para o fato de a relao metonmica apresentar-se como uma
relao entre objetos, num deslize de sentido (ou apenas deslize de referncia) entre dois
objetos ligados por uma relao extralingustica. O autor sustenta que:
A metonmia no cria uma relao completamente nova entre os dois termos que associa, visto que os objectos que estes termos designam no seu sentido prprio esto j em relao com a realidade exterior, mesmo antes de serem nomeados, e independentemente da maneira como so nomeados (GUERN, 1973, p.136-137).
A citao acima permite afirmar que tais consideraes acerca da metonmia esto
condizentes com a concepo de que, para cada nome, h um correspondente no mundo e que,
quando esse mesmo nome usado para indicar outro referente, h consequentemente um
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desvio de referncia (GUERN, 1973, p.154), uma translao de sentido (BECHARA,
1977, p.341), a colocao de uma palavra num campo semntico que no o seu
(CMARA JNIOR, 1968, p.239). Dessa forma, a possibilidade de se fazer uso de uma
palavra para se referir a outra, perpassa pela observncia das duas entidades envolvidas, que
precisam, necessariamente, ter alguma relao de contiguidade, externa linguagem. Esse
quesito remete ao que Filipak (1983) defendeu ao declarar que a metonmia se resolve nas
realidades ontolgicas do mundo exterior, em consonncia com a crena de que a realidade
est discretizada independentemente das experincias corpreas e sociais.
Nos termos postos, esses posicionamentos pautam-se nas seguintes caractersticas
atribudas metonmia: ela no depende exclusivamente do sujeito, tida como um deslize de
referncia e baseia-se numa relao objetiva entre objetos. A funo referencial da linguagem
se mostra extremamente produtiva em relao substituio de um termo pelo outro,
sobretudo em relao ao processo de transferncia de referncia entre objetos. Por isso os
estudos tradicionais tm sua compatibilidade a essa viso de linguagem e de referncia.
Contudo, se h, neste trabalho, o reconhecimento do longo e do produtivo trabalho da tradio
na caracterizao da metonmia, reconhece-se tambm, aqui, que a concepo que vigorou at
o momento no foi suficiente para abranger as ilimitadas possibilidades de ocorrncias desse
fenmeno que apresenta as filigranas de seus sentidos para alm da substituio de palavras.
Faraco (2003, p.85) em sua gramtica, ainda que no faa meno a Lakoff & Johnson,
aparentemente, baseia-se nesses autores para explicar que a metonmia nasce de um
mecanismo cognitivo. O autor lana mo de termos como percepo e implicatura,
conceitos caros compreenso do modo metonmico de se fazer linguagem. Embora Faraco
talvez reconhea a emergncia da Semntica Cognitiva no estudo da metonmia, ele ainda
mantm uma listagem tradicional como mecanismo de explicao do fenmeno.
Por uma taxonomia da metonmia
Fontanier (apud GUERN, 1968, p.30) j havia situado a metonmia no campo da
relao de correspondncia que foi compreendida pela relao que aproxima dois objetos dois
quais cada um forma um todo absolutamente parte. Por correspondncia, o retrico
oitocentista entende algo bem diferente da contiguidade qual a posterioridade reduziria o
funcionamento da metonmia. Genette (1972) e Filipak (1983) fornecem a seguinte
classificao da metonmia aos moldes da classificao defendida pelo retrico oitocentista:
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(A) METONMIA DE CAUSA. (1) De causa suprema e divina: Os antigos empregavam o nome de Jpiter, pelo ar; de Baco, pelo vinho; de Marte, pela guerra; de Netuno, pelo mar. (2) De causa ativa, inteligente e moral: Ocorre esta metonmia quando dizemos que vamos ler Cames, Castro Alves, Dalton Trevisan, em lugar de suas obras. (3) De causa instrumental e passiva: Esse tipo de metonmia ocorre quando empregamos uma pena de ouro, uma pena brilhante ao aludirmos a um escritor de nomeada; um pincel de mestre, um pincel delicado ao evocarmos um pintor de renome. (4) De causa fsica e natural: Ocorre quando algum diz que no gosta do sol e do inverno, quando na realidade ele no gosta do calor e do frio. Dizemos: ter bons olhos, ter olho clnico, por ter bom gosto; ter ouvido fino, por gostar de msica; ter bom paladar, por gostar de comer; ter bom faro, pela acuidade em perceber odores. (5) De causa abstrata e metafsica: Esta ocorre quando se diz as bondades, as ternuras, as injustias, as amizades pelos atos ou traos que partem da bondade, da amizade, da injustia.(B) METONMIA DE INSTRUMENTO. O pincel do pintor, a pena do escritor origina as metonmias: ele um grande pincel, ele um excelente pena.(C) METONMIA DE EFEITO. Ocorre em os filhos de Marte, em lugar de guerreiros; os filhos do exlio, em lugar de desterrados; os filhos de Eva, em lugar de homens.(D) METONMIA DE CONTINENTE. Empregam-se os lexemas o vaso, o copo, o clice pelo lquido contido nos mesmos, como: clice de vinho. Emprega-se o nome do pas, da cidade, da vila, da terra, ou lugar pelos seus habitantes. Ex.: A Argentina (os argentinos) vende trigo ao Brasil (aos brasileiros). O Vaticano (o Papa) condena o aborto. A Casa Branca (o governo americano). Emprega-se tambm cu e inferno em lugar de Deus e o Diabo (o cu luta contra o inferno). (E) METONMIA DE LUGAR. Emprega-se o nome do lugar onde a coisa se fabrica ou produz pelo produto ou artefato. Assim se diz: fumar um Havana, tomar um Porto, tomar um morreteana (aguardente de Morretes). (F) METONMIA DO SIGNO PELA COISA SIGNIFICADA. Emprega-se o trono pelo poder real; o altar pela dignidade sacerdotal; a tiara pelo papado, a toga pela magistratura; a espada pelas armas; a guia branca pela Polnia; a cruz pelo cristianismo, a bandeira pela Ptria, o verde-amarelo pelo Brasil.(G) METONMIA DO FSICO. Designam-se afetos, sentimentos, hbitos, qualidades morais pelas partes fsicas do corpo. Ex.: ter corao (ter sentimentos, piedade e amor ao prximo); ter cabea (ser inteligente, prudente, sagaz e esperto); ter ouvidos (ter compaixo, piedade de algum); ter muque (ter fora, nimo e coragem); ter raa (ter fora, resistncia e coragem).(H) METONMIA DA COISA. Designa-se o sexo das pessoas pelas coisas que so prprias do seu uso. Assim, nos banheiros de reparties pblicas pinta-se um chapu, uma cartola, uma bengala, um charuto para designar o reservado dos homens. Pinta-se batom, bolsas, luvas, sombrinha ou sapato de salto para denotar o banheiro de senhoras (FILIPAK, 1983, p.144).
Segundo Filipak (1983, p.142), a atividade referencial da metonmia foi antevista por
Fontanier. Nesse sentido, Ricoeur (2003) notou que a relao de correspondncia aos moldes
de Fontanier liga objetos antes de idias, e que o deslocamento das designaes de nomes
regula-se sobre a relao objetiva. Aparentemente simplificada, a classificao da metonmia
por Fontanier serviu, no entanto, de base para a apresentao da metonmia em gramticas
tradicionais e livros didticos. A diviso da metonmia, expressa na forma de imensa lista de
ocorrncias, refletiu-se nos manuais de ensino. Conforme Genette (1972, p. 208), essa uma
diviso lgica, baseada em fatos lgicos, o que, de certa forma, no se pode negar. No
entanto, aquela listagem retrica, reflete tambm, como j o disse Radden (2005), operaes
com noes conceptuais e no meramente lgicas.
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Consequncias da tradio no ensino moderno
Embora esta pesquisa no esteja voltada especialmente ao ensino, pertinente
observar como a metonmia apresentada em manuais didticos, pois isso se reflete na
maneira como o alunado se orienta em relao ao fenmeno.
A metonmia descrita por Rodella et al. (2005, p.91), como uma forma de incluso
entre as palavras, com base na explicao de que o conceito que uma palavra exprime est
includo no conceito que outra palavra representa. Nesses termos, substituir o autor pela
obra, o continente pelo contedo, a causa pelo efeito e vice-versa, a matria pelo objeto, a
marca pelo produto, o concreto pelo abstrato e vice-versa, o singular pelo plural e vice-versa,
so, conforme Rodella et al. (2005), formas comuns de uso da metonmia.
Nessa mesma via, Griffi (2007, p.312), analisa a metonmia como uma figura de
linguagem que se usa quando uma palavra substitui outra que tem com ela uma relao de
incluso, considerando-se que [...] na metonmia existe uma relao real entre o que se quer
dizer e o que efetivamente se diz. No um simples uso arbitrrio, como na metfora. Nesse
livro didtico, no so listadas as taxonomias.
Mediante o exposto, na maioria dos livros didticos h apenas o enfoque da
substituio de palavras, o que culmina numa viso redutora. O prprio Fontanier (e outros j
citados) j havia deixado transparecer que a metonmia ultrapassa o mbito da substituio.
Entretanto, a apresentao da metonmia em gramticas e livros didticos se expressa em
forma de listas prontas que geralmente induzem o estudante a decorar as relaes, e
meramente identific-las em expresses lingusticas, que em sua maioria so retiradas de
textos literrios.
As relaes de contiguidade acerca da metonmia, que foram incansavelmente listadas
e reproduzidas por manuais tradicionais, so compreendidas pela Semntica Cognitiva como
fruto de uma sistematicidade concernente ao nosso modo de pensar e de agir. Por meio de
esquemas de imagem e de motivaes pragmticas, as pessoas fazem distino conceptual
entre as entidades envolvidas. Trata-se de uma manifestao de um tipo de raciocnio
(raciocnio inferencial, ou metonmico, ou metonmico inferencial) quando se produz ou se
compreende uma expresso ou termo lingustico que propaga uma metonmia.
Vale destacar que diversos livros didticos silenciam sobre a metonmia. Os livros
didticos de Cereja & Magalhes (2003); Infante (2001); Landeira & Bittencourt (2004) no
trazem contedos referentes ao estudo da metonmia. Da mesma forma o fazem as gramticas
de Cunha & Cintra (2001) e de Melo (1970). Isso se explica pela proposta prpria desses
autores que focam suas abordagens nos aspectos descritivos e formais da lngua. Entretanto, a
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importncia da metonmia liga-se tanto a sua natureza referencial e inferencial, sendo esta
ltima importantssima para a leitura e compreenso do texto quanto aos aspectos da tessitura
textual no que concerne coeso.
Metonmia e Coeso Textual
Num contexto em que a maioria dos concursos seletivos utiliza a redao como um
dos requisitos para aprovao do candidato, este precisa ter competncia textual para
expressar opinies e posicionar-se, por meio da escrita, diante dos temas transversais que lhe
sero apresentados no apenas nos concursos, mas ao longo da vida. Atualmente, a escrita
recebe uma avaliao social bastante saliente e sua relevncia na sociedade contempornea
indiscutvel (MARCUSCHI & HOFFNAGEL, 2007, p.85). Entretanto, h um descompasso
entre o que ensinado na escola e o que pedido nos concursos. Geralmente, o aluno pouca
presencia a prtica do exerccio da leitura e da escrita no ensino mdio, e, quando se depara
com a redao, sente-se impotente e com pouca competncia discursiva para escrever o que se
pede, atribuindo redao o mito de ser um monstro de sete cabeas.
Diferentemente dessa concepo, o uso do texto uma forma de se valorizar a leitura e
a escrita. Mas, qual o segredo para a construo do texto? [...] A construo de um texto
exige a realizao de atividades cognitivo-discursivas que vo dot-lo de certos elementos,
propriedades ou marcas, os quais, em seu inter-relacionamento, sero responsveis pela
produo de sentidos (KOCH, 2008, p.7).
assim que a metonmia considerada um recurso fino de coeso...
Obama retirou as tropas do Iraque. A Casa Branca, no entanto, mantm a carnificina no Afeganisto.
na medida em que capaz de ligar conceptualmente conceitos em torno de um domnio
cognitivo, como o domnio de Governo Americano, no exemplo acima.
A metonmia como um processo cognitivo
O hbito de percepo que se tem na escolha de partes mais representativas para
significar um todo perpassa pelos conceitos metonmicos que organizam o pensamento e as
aes, permitindo a conceptualizao de uma coisa por sua relao com outra. Ou seja,
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atribui-se ao uso da metonmia a possibilidade de se colocar em evidncia certas
caractersticas da entidade a que se faz referncia. Desse modo, a metonmia:
[...] tem, pelo menos em parte, o mesmo uso que a metfora, mas ela permite-nos focalizar mais especificamente certos aspectos da entidade a que estamos nos referindo. Assemelha-se tambm metfora no sentido de que no somente um recurso potico ou retrico, nem somente uma questo de linguagem. Conceitos metonmicos (como PARTE PELO TODO) fazem parte da maneira como agimos, pensamos, e falamos no dia-a-dia (LAKOFF & JOHNSON, 2002, p.93).
Para se entender a metonmia como um processo cognitivo, preciso pens-la no
como uma entidade no lugar de outra, mas entender que as entidades inter-relacionadas
constituem sentido por meio de processos complexos que vo explicitar no o mero resultado
de relao das partes, mas da possibilidade de insuflar o surgimento de uma forma nova,
resultante de um processo de pensamento.
Modelos Cognitivos Idealizados
Para Lakoff (1987) uma importante habilidade que o ser humano tem a capacidade
geral de formar modelos cognitivos idealizados, doravante MCIs que so compreendidos
como estruturadores da experincia humana. Eles so construdos socialmente e esto
disponveis na cultura. Dessa forma, uma estrutura conceptual se fundamenta na experincia
fsica e cultural e somente pode ser descrita por meio de MCIs e no por meio de valores de
verdade como utilizados na lgica proposicional. E isso vale para a metonmia por ser
considerada a relao entre entidades conceptuais presentes no sistema de conceptualizao
por meio dos MCIs, ela um mecanismo no-proposicional, o que a caracteriza para alm do
seu uso referencial.
Os MCIs subdividem-se, de acordo com Lakoff (1987, p.113-114), em quatro tipos
bsicos de modelos cognitivos: (i) modelos cognitivos de esquema de Imagem, (ii) modelos
cognitivos proposicionais, (iv) modelos cognitivos metafricos e (v) modelos cognitivos
metonmicos.
Os modelos cognitivos metonmicos apresentam fontes metonmicas de efeitos
prototpicos que se caracterizam pelos esteretipos sociais, pelos exemplos tpicos, pelos
ideais, pelos padres, pelos geradores, pelos submodelos e pelos exemplos salientes. Os
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modelos cognitivos metonmicos representam uma estrutura parte-todo1, podendo haver,
assim, uma funo de uma parte que esteja representando uma totalidade.
No sistema conceptual humano, existem vrios modelos metonmicos, que so fontes
de efeitos prototpicos. Conforme Lakoff (1987), modelos metonmicos tm um status
cognitivo, porque fazem parte do raciocnio para os mais variados propsitos, como aqueles
em que um membro ou subcategoria pode representar metonimicamente uma categoria
inteira, para fazer inferncias, clculos, aproximaes, planos, comparaes e julgamentos,
que so prticas recorrentes do cotidiano. Por isso, conforme o autor, as fontes metonmicas
de efeitos prototpicos esto em desacordo com a viso objetivista de mundo. Diversos casos
de fenmenos prototpicos simplesmente no so usados para uma mera identificao de
coisas.
Mapeamentos metonmicos
A metonmia um acontecimento bsico no processamento das lnguas naturais. Isso
porque, cognitivamente, a metonmia um mecanismo pelo qual um domnio de experincia
entendido parcialmente em termos de um mesmo domnio. A metonmia, tanto quanto a
metfora, um processo conceptual que relaciona entidades. Nesse mesmo sentido, Radden &
Kovecses (1999, p.21, traduo nossa) descrevem a metonmia como um processo cognitivo
no qual uma entidade conceptual, o veculo, fornece acesso mental outra entidade
conceptual, o alvo, dentro do mesmo modelo cognitivo idealizado. Langacker (1987)
descreve o mapeamento metonmico pela noo de Ponto de Referncia (PR) e de Zona Ativa
(ZA), que assim podem ser representados:
Figura 01 Mapeamento metonmico
1 No h necessidade de se fazer distino entre metonmia e sindoque. [...] Estamos incluindo como um caso especial de metonmia o que retricos tradicionais chamaram de sindoque, em que a parte representa o todo [...] (LAKOFF & JOHNSON, 2002, p. 92).
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As entidades que se ligam nos esquemas so entidades conceptuais. Na representao
da figura 01, identifica-se a metonmia como um fenmeno de ponto de referncia em que
uma entidade conceptual (veculo / ponto de referncia / fonte) permite o acesso mental a
outra entidade conceptual (zona ativa/ alvo). O ponto de referncia visto com um veculo
capaz de acessar um alvo.
Barcelona (2003) explica que, dentro de um mesmo domnio funcional, h vrios
subdomnios (alvos), entretanto, apenas um deles ser ativado conforme o contexto. Assim, o
enunciado apresentado por Barcelona (2003, p. 215): (Ex. 21a) Washington insensvel
necessidade das pessoas, pode ser esquematizado da seguinte forma:
Figura 02 - Ativao de um alvo especfico
Segundo o mesmo autor, dentro do domnio (fonte) de Washington, capital dos
Estados Unidos, h vrios subdomnios: a cidade como uma localizao; as instituies
polticas sediadas ali, as pessoas que tomam decises naquelas instituies polticas (o
Presidente, o departamento de secretrios senadores e congressistas, etc.).
Constata-se que as pessoas fazem inferncias por meio de processos metonmicos.
Graas a eles que so ativadas bases de conhecimentos. Portanto, natural fazer-se aluso a
certos aspectos de um evento por meio de uma parte dele, em relao totalidade do evento.
O pensamento metonmico to abrangente que se acha, segundo Lakoff & Johnson
(2002), em reas tais como no simbolismo cultural, nos gestos humanos, e na iconicidade, de
um modo geral. De acordo com Radden (2005, p. 26) as metonmias aparecem tambm em
representaes visuais, de modo semelhante e como acontecem na linguagem. H ainda
representaes metonmicas de nossos sentidos olfativos e gustativos, por meio de evocaes
de cheiros e de sabores.
A abrangncia da metonmia tambm perpassa pelos contos de fada. A temtica de
mistrio e magia presentes nos contos explorada por Rocha (2005) ao defender que a
metonmia, enquanto, processo mental, est subjacente ao passe de mgica: O encantamento
no aleatrio. No produto de uma mente suprema e distinta das demais. Ns s o
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entendemos ou o admitimos porque somos dotados de processos metonmicos que auxiliam
na conceptualizao de nossas experincias, declara o autor.
Um Estudo de caso
O texto analisado aqui se trata do excerto de uma reportagem publicada em revista
sobre uma fraude ocorrida no cenrio futebolstico no ano de 2005. Pretende-se observar a
face inferencial da metonmia conceptual e como se constitui o processo de construo de um
determinado conceito via processo metonmico.
Abaixo a transcrio da reportagem:
PEGAMOS O JUIZ LADRO [...] No era folclore. O juiz ladro de carteirinha que por muito tempo ocupou o panteo consagrado a personagens do imaginrio popular, como a mula sem-cabea e o saci perer revelou-se, no Brasil, de carne e osso. Uma reportagem publicada por Veja em setembro deste ano mostrou como os rbitros Edilson Pereira de Carvalho e Paulo Jos Danelon se associaram a uma quadrilha de apostadores de loterias eletrnicas para fraudar resultados de jogos com o objetivo de lucrar com as apostas. A descoberta da mfia do apito ganhou manchetes de jornais do mundo inteiro e resultou no banimento dos rbitros, na anulao de onze partidas disputadas no Campeonato Brasileiro e no surgimento de uma metonmia: virou moda gritar: Edilson na arquibancada toda vez que o juiz apita mal. O escndalo serviu para escancarar o amadorismo com que administrado o futebol pentacampeo mundial [...] (FONTENELLE, 2005, p.92-93).
Num pas em que grande parte da populao apaixonada por futebol, os campeonatos
promovidos pelo esporte renem multides nos estdios o que torna uma partida de futebol
um evento especial para as torcidas de cada time participante. No Brasil, a figura do rbitro de
futebol, mais conhecido por juiz, tem grande importncia no imaginrio popular associando-o,
muitas vezes, deciso dos resultados [...] uma actividade de grande responsabilidade,
seguida atentamente pelos meios de comunicao social e por todos quantos acompanham o
futebol (Liga Portuguesa de futebol, 2010).
As torcidas, observadoras da atuao dos rbitros quanto aplicao de impedimentos
de gol, ou de penalidades como faltas, cartes, expulses, geralmente manifestam da
arquibancada seu descontentamento por meio de vocativos direcionados ao juiz em servio.
Essa prtica, comum s torcidas brasileiras no cenrio futebolstico, aconteceu com o rbitro
Edilson de Carvalho que fora chamado de ladro em vrias partidas da qual foi juiz.
Em 2005, ficou comprovado que Edilson participou diretamente da manipulao de
resultados de jogos dos Campeonatos Paulista e Brasileiro daquele ano. O referido rbitro
recebia propina para alterar os resultados das partidas de futebol. A comprovao da fraude
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repercutiu, principalmente, em anulao de jogos, alterao na contagem de pontos dos times
envolvidos, etc.
O escndalo, que na poca, tornou-se pblico em mbito nacional e internacional,
contribuiu para que algumas torcidas brasileiras passassem a chamar de Edilson os demais
juzes que no apresentassem um bom desempenho no andamento das partidas e no placar dos
jogos. Independentemente do nome do profissional e do no-vnculo a condutas ilcitas, a
insatisfao das torcidas passou a ser manifestada dessa forma, ao lado da j conhecida forma
de xingamento, ladro.
Por fatores ticos e morais, dirigir-se a uma pessoa com xingamentos em seu exerccio
profissional, no considerada uma forma respeitvel de tratamento. Entretanto, no contexto
do futebol (no Brasil), isso aceitvel em certa medida, embora a relao entre torcidas e
juzes no seja plenamente cordial.
Por fatores culturais, est embutido na mente da maioria da pessoas que todo juiz de
futebol ladro, como se o fato de ser ladro fosse prprio dessa profisso, o que pode ser
confirmado pelo excerto a seguir [...] No era folclore. O juiz ladro de carteirinha que
por muito tempo ocupou o panteo consagrado a personagens do imaginrio popular, como a
mula sem-cabea e o saci perer revelou-se, no Brasil, de carne e osso [...]
(FONTENELLE, 2005, p.92).
O texto acima traduz bem como um MCI se constitui: [...] os elementos que
compem os arquivos permanentes so acessados e ativados, tal qual a um arquivo de
computador, por formas gramaticais ou inferncias, conforme posto por Salomo.
Por inferncia, o que estava presente na memria e intuio das pessoas se materializa
e se corporifica prototipicamente na pessoa de Edilson, com base no modelo cognitivo
metonmico esteretipo social (de sentido negativo), presente no sistema conceptual das
pessoas. Pode-se entender que a categoria rbitro de futebol funda-se nos mais diversos
conceitos, dentre os quais (aquele que arbitra; autoridade suprema, sem parcialidade; que
destacado; que tem preparo fsico; que foi aprovado pela FIFA, etc). Por meio de valores e
crenas, em torno do conceito juiz de futebol, emerge o conceito Edilson e tudo o que ele
implica.
Nesse contexto, o signo Edilson ressignificado passando a integrar o MCI de rbitro
de futebol, por extenso do conceito ladro. As torcidas, j no se a restringiam a gritar
ladro... ladro... ladro..., mas criativamente: Edilson..., Edilson..., Edilson.... Dentre os
membros que formam a categoria rbitro de futebol, o conceito Edilson tido como um dos
membros mais prototpicos para a designao do profissional em questo. Embora existam
juzes honestos que, nas partidas de futebol, cometam equvocos naturalmente, um
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determinado rbitro de futebol (parte) representa e caracteriza o conceito rbitro de futebol
(todo) na inteno de se inferir e julgar o comportamento de um juiz no cenrio futebolstico.
H um delicado processo de construo de sentidos por meio de inferncia
metonmica: aquele que deveria fazer justia, rouba. O texto de anlise demonstra e
corrobora a ideia de que a metonmia no se constitui pela noo de condies de verdade ou
por mera substituio de termos, mas envolve refinado processo cognitivo conduzindo
inferncias tal como demonstrou Barcelona.
Abaixo, verifica-se o MCI de rbitro de futebol:
MCI de rbitro de futebolque arbitra
autoridade suprema, imparcialdestacado em campo
tem preparo fsicoaprovado pela FIFA
que rouba, ladro (Edilson)Figura 03 MCI de rbitro de futebol
Por meio da fonte metonmica esteretipo social, o juiz prototpico aquele que
rouba, sintetizado pela figura do rbitro Edilson.
Constata-se, ainda, no texto, outra metonmia interessante: A descoberta da mfia do
apito ganhou manchetes de jornais do mundo inteiro (FONTENELLE, 2005, p.92), em que
apito, enquanto instrumento de trabalho, tido como ponto de referncia cognitivo usado para
fazer referncia classe de rbitro de futebol. Verifica-se por meio do texto, uma relao
conceptual de base metonmica, que se configura por objeto usado pelo usurio.
Pode-se de fato saber que o conhecimento do mundo leva as pessoas a fazerem
inferncias e a formar expectativas. Tm-se vrios esquemas e conceitos que funcionam como
histrias na memria das pessoas permitindo que elas compreendam as complexas relaes
que acontecem em suas experincias do dia-a-dia. Na verdade, so muitas histrias como a do
juiz que por metonmia, representa a totalidade de uma categoria, a da me dona de casa
considerada o membro mais representativo da categoria me. Todas essas histrias se ligam
(fator da memria em ao). Verifica-se, assim, a prova circunstanciada do alcance scio-
cultural da metonmia conceptual.
Concluso
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A tradio de estudos sobre o sentido formou base slida por sobre a noo de
referncia estendida funo referencial da linguagem e expressa por intermdio de
proposies lingusticas. A tradio lingustica, que no nascedouro foi comparativista,
amadureceu valorizando a referncia no sentido proposicional.
Na histria dos estudos da metonmia consta, antes de tudo, a viso de que a
linguagem corresponde a uma relao direta entre os objetos e as coisas. Viso que est
presente nas abordagens tradicionais acerca da metonmia e dos processos figurativos, em
geral. A substituio de um nome por outro, por exemplo, enquadra-se nas consideraes que
defendem a linguagem enquanto um espelho da realidade, como se a significao fosse
restrita a uma troca de palavras.
Entretanto, constatou-se que temos um sistema conceptual metafrico e metonmico
complexo que est subjacente ao nosso modo de categorizao e que perpassa pelas nossas
experincias corpreas, pela nossa racionalidade imaginativa. A metonmia afasta-se,
portanto, do referencialismo da linguagem para se aproximar do modo como se pensa o
mundo, tendo como base a prpria experincia humana. Admite-se, assim, que a metonmia
tem base referencial, mas ela , sobretudo, de natureza inferencial. Ao se mudar a concepo,
muda-se a considerao sobre o objeto: a linguagem considerada um processo, e a
metonmia, base de pensamento.
Consequentemente, o foco sai da funo referencial da linguagem e recai na
possibilidade inferencial, demonstrando que a metonmia um fato de
compreenso/entendimento da linguagem/ cognio humana em seu aspecto inferencial.
Sendo assim, a funo referencial da linguagem suficiente para explicar a metonmia
considerada sob os moldes tradicionais cuja abordagem se limita relao entre termos
produzindo um quadro taxonmico de tais realizaes. No entanto, a relao entre linguagem
e referncia insuficiente para as nuances do processo metonmico em sua rica abrangncia.
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