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Sociedade das Ciências Antigas O Simbolismo Hermético E sua relação com A Alquimia e Franco Maçonaria por OSWALD WIRTH Traduzido do original Francês: “Le Symbolisme Hermétique” Coleção Philippe Nizier Volume N 17 São Paulo - Brasil 1999 PRÓLOGO

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Sociedade das Ciências Antigas

O Simbolismo HerméticoE sua relação com

A Alquimia e Franco Maçonaria

por

OSWALD WIRTH

Traduzido do original Francês:

“Le Symbolisme Hermétique”

Coleção Philippe NizierVolume N 17

São Paulo - Brasil1999

PRÓLOGO

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Desde 1894 tínhamos a intenção de publicar uma obra sobre Alquimia e Franco-Maçonaria, pois, é nossa opinião que um idêntico programa de iniciação é identificado tanto nasérie de operações da Grande Obra hermética, como na sucessão de provas à qual são submetidos osfranco-maçons. Enquanto prosseguíamos com nossos estudos, apresentou-se a ocasião decomunicarmos os resultados obtidos. Deste modo foram aparecendo, um atrás do outro, os artigospublicados até fins de 1909 na primeira edição deste livro.

Uma primeira tiragem de 500 exemplares foi tão bem recebida que nosso trabalho seesgotou rapidamente. Por que demoramos tanto para imprimir uma nova edição ? Temos estadoocupados em outras tarefas. O Livro do Aprendiz exigia ser completado com os manuais doCompanheiro e do Mestre. Depois, trabalhamos no Tarot dos Imaginários da Idade Média que,editado em 1927, ternos-ia permitido retornar ao Simbolismo hermético, mas, então, tivemos quededicar-nos aos Mistérios da Arte Real. Somente em 1930, ao final de vinte anos, foi possívelreiniciarmos um trabalho no qual nunca deixamos de pensar.

O começo da obra, feito em 1910, já não nos satisfazia e assim, propusemo-nos a adentrar àmatéria com uma precisão mais apurada, abstendo-nos de reescrever o livro em seu conjunto. Ascorreções referem-se aos detalhes. Tratam de esclarecer as passagens de difícil compreensão semmodificar entretanto o sentido original.

Pareceu-nos necessário acrescentar um capítulo novo, chamado noções elementares dehermetismo, que reproduz com leves alterações a segunda parte de uma obra publicada em 1897que só conserva o verdadeiro, e por seu intermédio a realização do bem. A iniciação é una, aindaque cada escola iniciática use símbolos próprios. Apreendamos comparando, transpondo de umsimbolismo a outro, e a luz far-se-á em nosso espírito.

Oswald Wirth

Paris, Agosto de 1930.

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A IDEOGRAFIA ALQUÍMICA

Os ensinamentos silenciosos

A ESCRITA primitiva baseia-se em sinais que evocam idéias, como nossas cifras, que sãolidas em qualquer idioma conservando sempre o mesmo significado. No Extremo Oriente, aideografia original desenvolveu-se através da adaptação de uma série de caracteres que sãovinculados individual e separadamente a um elemento do pensamento. Isto torna possível que osasiáticos instruídos possam compreender-se através da escrita, apesar de que, falando idiomasdiferentes, não possam entender-se através das palavras.

Uma escrita como esta não é prática na vida atual, mas é inegável que possui muitasvantagens, do ponto de vista filosófico, pois obriga a pensar fazendo abstração da palavra. Aspalavras permitem falar de forma simples, pronunciam-se sem necessidade de que o espíritorepresente aquilo que expressam os sons proferidos. Tem sido dito que a palavra foi dada ao homempara que pudesse dissimular seus pensamentos. Fixemos de forma adequada o fato de que o homemfala para evitar o pensamento. Falamos muito para não dizer nada.

Estes inconvenientes da palavra não tem sido preteridos pelos pensadores sérios, que sempreprocuraram não deixar-se aturdir pelo ruído das palavras. Persuadidos de que a meditação instrui ohomem nas coisas que mais lhe interessam, fundaram as Escolas do Silêncio. Nelas o discípulo nãoé ensinado, não recebe nenhuma preleção, é colocado em presença de si mesmo e dos purosacontecimentos da vida. É possível que as coisas, as imagens e os sinais nada lhe sugiram. Espíritopreguiçoso, não se sente estimulado a pensar. Neste caso, perde seu tempo na Escola da Sabedoria.Não tem vocação, e é melhor que se instrua com pedagogos que lhe dirão o que deve pensar.

Mas suponhamos que não seja este o caso, e que ao aspirante lhe ocorram idéias ante tudo oque vê. Isto será normal da parte de um espírito ativo, que tende a pensar por si próprio. Isto nosconduz pois, à meditação, que deve ser alimentada. No que deve meditar o aspirante ? Inicialmente,nos atos nos quais seus mestres o farão participar. Estes fá-lo-ão cumprir ritos significativos,estranhos e desconcertantes, justamente para incitá-lo à reflexão. Por que - perguntar-se-á - soulevado a desempenhar um papel enigmático com o pretexto de obter a iniciação ? No que estousendo iniciado ? Em formalidades que - eu o sei - são puramente simbólicas. Eis-me aqui frente asímbolos cujo significado devo descobrir.

Se tal cerimônia é realizada com um homem simples, que não descobre o outro lado dainiciação, a cerimônia é formal e inoperante do ponto de vista iniciático. Ninguém é iniciado pelofato de participar de um ritual, nem pela assimilação de determinadas doutrinas ignoradas pelovulgo. Cada um inicia-se a si mesmo, trabalhando espiritualmente para decifrar o grande enigmaque a objetividade nos projeta.

Aqueles que falam, comunicam-nos suas próprias idéias, interessantes de serem conhecidasdo ponto de vista profano, mas que mais vale ignorar a fim de nos colocarmos em condições debuscar independentemente a verdade.

Para descobrir a verdade, temos de descer ao nosso próprio interior, até o fundo do poçosimbólico aonde pudicamente se oculta, em sua nudez, a casta divindade do pensador. Mas orecolhimento em si mesmo não é mais do que um exercício transitório, não uma finalidade. Depoisde entrar em si próprio é necessário sair, é preciso elevar-se por sobre as coisas, a elas voltar e estardisposto a apreciá-las pelo seu devido valor. A realidade vulgar das aparências é o feixe de imagensque torna necessária a perspicácia do iniciado. Para ele tudo é hieroglífico. A vida o faz intervircomo ator do espetáculo que ela mesma prepara. O ator interessa-se pela representação e quer

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decifrar o seu significado. A iniciação nessa representação, para melhor atuar como um artista quecompreende as intenções do autor da obra, essa é a suprema regra de sabedoria para aquele queparticipa da divina comédia do mundo.

Mas nem todos os ritos são de iniciação. A atenção do neófito sente-se atraída por símbolos,que são objetos materiais tidos como sagrados, ou imagens veneradas, quando não, simples sinaisgráficos, figuras elementares de geometria ou sugestivos desenhos que são vinculados a idéiassignificativas à inteligência humana.

Por ora não nos preocuparemos com os ritos iniciáticos, estudo este que fizemos quandotratamos dos Mistérios da arte real. Da mesma forma deixaremos de tratar aqui dos objetos doculto, que são mostrados pelos hierofantes, ou das imagens propriamente ditas, das quais nada émais revelador do que as cartas do tarot. Nosso programa limita-se ao exame dos grafismos quefavorecem a formação do pensamento e deter-nos-emos, especialmente, na análise dos símbolosalquímicos, pois neles se expressa a chave do hermetismo, filosofia muito afastada das palavras ecuja compreensão está reservada aos verdadeiros iniciados.

A GEOMETRIA FILOSOFAL

Ninguém poderá aqui entrar se não conhecer a geometria. Esta era a advertência queafastava da escola de Platão aos simples ouvintes, não preparados a pensar por si próprios. Ageometria do genial filósofo não era com efeito, a de Euclides, ciência da medida e do espaço, comseus teoremas e suas demonstrações. Tratava-se de outra geometria, da mais sutil espiritualidade, deuma arte mais que de uma ciência, arte que consistia em vincular as idéias às formas e em ler ossímbolos compostos por linhas como as figuras dos geômetras.

É esforçando-se em dar um sentido às figuras mais simples, que o espírito pode se elevar àsconcepções fundamentais da inteligência humana. O espírito eleva-se assim com plenaindependância, e sem que nada lhe seja ditado, encontra por si mesmo o sentido de um traço ou deum grafismo simples. E aquilo que podemos descobrir sozinhos, em virtude do funcionamentoautônomo de nosso entendimento, adquire um caráter de verdade, pelo menos em relação a nósmesmos. O valor que atribuímos ao símbolo é verdadeiro para nós, e se lhe formos fiéis, atribuindooutros valores a outros símbolos, poderemos construir corretamente, como bons maçonsespeculativos.

A matéria prima da grande arte, isto é, a idéia pura, não falseada pela expressão verbal,deve ser extraída de sua origem, ou seja, de nós mesmos, do famoso poço no qual a verdade seoculta.

Os hermetistas da Idade Média falaram reticentemente dos procedimentos necessários àtransmutação do chumbo em ouro. Era prudente que o vulgo acreditasse, e principalmente que osinquisidores pensassem, que as receitas dos adeptos deviam ser seguidas ao pé da letra. Assim foique alguns ignorantes se arruinaram pretendendo realizar a Grande Obra, e que os charlatãesexploraram a avidez dos ingênuos. Deste modo, essas operações insensatas constituem a origem daquímica moderna, seja dito como elogio à Loucura, serva imprudente da Sabedoria. Sem dúvida,nem todos os alquimistas se enganavam com seus próprios símbolos. O chumbo significava paraeles a vulgaridade, a lentidão, a ignorância, a imperfeição, e o ouro, exatamente o contrário. Osiniciados não se interessavam pelos bens perecíveis, pelos metais ordinários que fascinam osprofanos. Vinculavam tudo ao homem, que é perfectível e no qual o chumbo pode transmutar-se emouro. Mas, naqueles tempos o homem era um bem da igreja e esta, no pináculo de seu poder, tinhaciúmes de suas prerrogativas e de seus privilégios, dai a discrição dos hermetistas.

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Estes tiveram seu próprio alfabeto secreto, formado por símbolos que possuiam os nomesdas diferentes substâncias. Mas as palavras só existiam para os profanos, enquanto que osimbolismo dos sinais informava aos iniciados sobre o sentido profundo dos termos utilizados.

Por outro lado, ao adepto não era revelada nenhuma ideografia iniciática, somente a intuiçãopersonificada por Isis, devia instruí-los. Em suma, algumas imagens podiam preparar-lhe o caminho(como por exemplo o pantáculo de rebis, redescoberto por Mylius e Valentin no século XVI).

Vemos, logo a seguir, um círculo no qual estão inscritos uma cruz, um triângulo e umquadrado. São estes exatamente os elementos básicos da ideografia hermética:

Estas figuras vinculam-se às noções pitagóricas da Unidade, do Binário, do Ternário e doQuaternário.

É necessário observar que três destas figuras circunscrevem superfícies, enquanto que aCruz simples + não designa na Alquimia uma substância, pois osímbolo do Vinagre (dissolvente), é uma Cruz com asextremidades alargadas . A Cruz simples + nunca é encontradaisolada, mas sim combinada com uma figura fechada:

Isto deve-se a que as figuras fechadascorrespondem a diferentes ordens de substâncias que podem mudarde estado ou de destino de acordo com a indicação da Cruz + que selhes adiciona. Mais à frente melhor explicaremos este assunto.

Aqui simplesmente comprovaremos que a Cruz com os braçosiguais, une-se facilmente ao círculo no qual ela se inscrevepara realizar uma conciliação ideal dos contrários. Por outro lado, existe um óbvio parentesco deforma entre a Cruz + e o Quadrado cujos dois lados formam o Esquadro e.

Há menos afinidade entre a Cruz + e o Triângulo . Somente a base horizontaldesta figura encontra-se na Cruz + , que é o grande elemento de conciliação, o símbolo religioso porexcelência, o que liga, pelo fato de que vivifica e transmite o movimento.

Mas não nos adiantaremos na explanação antes de examinar sucessivamente cada um dosfatores da tétrade hermética:

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O CÍRCULO

Para representar a Unidade o mais conveniente é traçar uma única linha cujos extremos seunem, desaparecendo. Uma linha comum não é nesse sentido tão significativa, porquereconhecemos nela uma linha interrompida, imagem do Ternário, tendo-se em conta seu corpo, ouseus dois extremos. É verdade, entretanto, que tal Ternário encontra-se praticamente em toda arepresentação, uma vez que o Círculo determina um limite que separa o conteúdo limitado doambiente infinito. Falando mais especificamente, a Unidade não pode ser representada. Concebe-se,mas não se vê em parte alguma. Seu mais perfeito símbolo é o ponto matemático, estritamenteimperceptível, que devemos situar de forma abstrata na intersecção de duas linhas ou no centro deum círculo. É este ponto materialmente inexistente que engendra a linha ao deslocar-se no espaço.Nascida do nada, a linha, ao avançar de frente ou ao girar sobre si mesma, faz-nos conceber asuperfície que por sua vez se eleva, desce, oscila sobre um de seus lados para dar-nos a idéia dosólido tridimensional. Esta geração é intelectual e o que o espírito humano assim abstrai do nada é ageometria.

A impossibilidade de formarmos uma idéia fiel da Unidade, obriga-nos a retornar ao círculo,emblema tradicional daquilo que não tem começo nem fim. Ante anecessidade de animar uma figura geométrica extremamenteesquemática, os alquimistas gregos viram no círculo, uma serpentemordendo a própria cauda, a Ouróboros.

A legenda EN TO PAN, Um o Todo, que acompanha osímbolo ofídico, afirma a fé na unidade global do que existe e pode serconcebido. Os gregos partiam desta unidade em suas especulações e aela sempre se referiam para apreciar, em sua relação, o valor dascoisas. Não se furtavam de afirmar que esse Todo equivale ao Nadapara o empírico que só considera real aquilo que objetivamente constata. Daí a idéia da matériaprima da Grande Obra, que os tolos não vêem em parte alguma e que os sábios adivinham em tudo.É o Todo-Nada, ou o Nada-Todo sobre os quais com palavras, somente se consegue divagar.

Entretanto, não convém dissertar em vão sobre o Zero , pois este vazio não pode ser oNada, uma vez que o Todo-Uno, nada deixa fora de si mesmo. Vazio e Nada são palavrasenganosas. Tudo está cheio de "alguma coisa". É verdade que esta coisa pode escapar aos nossossentidos, ainda que se imponha ao intelecto. Tem sido figurada como uma substância extremamentediluída, sem nenhuma outra qualidade que aquela de expandir-se indefinidamente. Os babilôniosnão deram nome a esta substância, ainda que a poetizassem em Tiamath, a esposa de Apsú, oabismo sem fundo, o deus negro primordial que dorme, se compraz em si mesmo, e recusa-se acriar qualquer coisa que seja. Este deus inativo da noite não pode ser representado a não ser por umdisco negro , porque é o deus das trevas incriadas que se supõem anteriores a todo o porvir.Para agradá-lo e a ele se unir, Tiamath, sua esposa, volatiliza-se. É como se então ela não fora, poisdesta forma, expandiu-se e se sutilizou. É neste estado, a Substância primordial, impalpável etransparente, uniforme e não diferenciada, exatamente o que representa o Alúmen dosalquimistas. Sal filosófico por excelência, princípio dos outros Sais, dos minerais e dos metais,conforme a definição de Antoine Joseph Pernety, em seu Dictionnaire mytho-hermétique.

Nenhuma propriedade do alúmen vulgar justificaria esta proeminência. Daria a impressão deque houvera um jogo de palavras, porque o Alúmen (Alun em francês) evoca o Uno, substânciafundamental, análoga ao Eter que constitui a essência íntima das coisas, sua trama sutil desprovidade qualidades diferenciadas. Dito de outra forma: o substrato, imaterial de certo modo, de toda amaterialidade.

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Nas cosmogonias é o Caos primitivo mergulhado na homogeneidade, no qual se confundetudo o que toma forma e qualidades que o distinguem. É Tiamath antes do furor que, porcondensação, turba bruscamente sua limpidez, e transforma à esposa de Apsú em água densa esalgada, de onde surgirá a criação.

A LUZ CRIADORA

Criar significa tirar do nada. Mas, para que os seres e as coisas possam ser tirados dessepretenso Nada, é necessário que esse Nada seja, até certo ponto substancial. Quando o espíritohumano evoca a imagem de um Abismo sem fundo, chamando-o Apsú, ou ainda melhor, o abismodo espaço infinito personificado por Urano, vê-se consequentemente obrigado a preencher o vazioque imaginou, com Tiamath ou com Rea, divinizações da substância etérica expandida peloinfinito.

Esta substância não é ainda algo, isto é, uma coisa propriamente dita, susceptível de serdistinguida. É a Coisa em si, anterior a toda particularização distintiva. Se imaginamos morta estasubstância caimos em erro, porque ela está essencialmente viva e, por isso, Tiamath foi sempreconsiderada a mãe de toda vida. Para preencher o Universo é necessário vibrar sem limites, sob aação do dinamismo infinito. As vibrações transmitem-se integralmente num meio homogêneo,como aquele que é atribuído à substância primordial. Nada detém as ondas do Oceano cósmico, quesegue uniformemente fluído, sem que coisa alguma seja formada em seu seio.

Qual é pois, o mistério da criação ? Como foi fecundada a esterilidade ? Graficamentea resposta é fácil, e é dada pelo ponto que marca o Circulo . Parece que este é o esquema dafecundação do óvulo, mas os alquimistas ignoravam a embriologia, e é o Sol quem é representado, aseus olhos, pelo novo símbolo. Um centro que emana ondas circulares, como uma pedra lançada naágua, é a imagem evocada. Assim tem imaginado os antigos sábios o movimento animador doCosmos. Imaginaram uma radiação que parte de um centro e se propaga interminavelmente emtodos os sentidos através do espaço, como a luz que emana de uma lâmpada luminosa. Mas o termoLuz foi escolhido por analogia, porque a Verdadeira Luz não é aquela que golpeia a retina. Oscabalistas entendem por Aor Ensoph, Luz infinita, o agente que desvenda o caos antes daspróprias luzes celestes, para nós simples centros de luz física.

É necessário representar esta radiação inicial como partindo simultaneamente de todas aspartes, não de um único centro, mas de centros luminosos de emanação, multiplicados até o infinito.Na pura realidade, porque a luz data do começo, mas as palavras burlam-se dos pensamentosfazendo surgir as discussões estéreis. O que é o começo, quando falamos de alguma coisa que nãotem princípio e nem fim ?

Filósofos prudentes e taciturnos, os hermetistas traçaram limites ao tratar da solução doproblema da origem das coisas. Ainda que referindo-se à Luz em si, preexistente aos objetosiluminados, não se detiveram neste fantasma subjetivo. Para eles, somente a Luz que ilumina édigna de atrair a atenção. Mas não confudamos: Luz que ilumina significa aqui, agente ativo. Mas,como representarmos uma ação efetiva, seja como ela for ? Convém distinguir, antes de mais nada,um centro do qual parte a ação (ponto central do círculo), depois, a própria ação em sua atividade(ondulação ou irradiação), e finalmente, o resultado da ação (circunferência do círculo).

Visto desta forma, o símbolo relaciona-se com o Grande Agente primordial, que se opõea si próprio para engendrar em primeiro lugar as formas e, posteriormente, as aparências compactas.

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Este agente é o criador de todas as coisas, mas, na ordem dos metais, realiza sua obra mestra aorefletir-se no Ouro, que tem o mesmo símbolo do Sol .

O SOL E A LUA

Em relação ao , que é masculino, ou são femininos. O agente fecundanteopõe-se ao paciente fecundado. É possível partir daqui para estabelecer, por analogia, uma relaçãoinesgotável de oposições, como Dia-Noite, Luz-Trevas, Cheio-Vazio, Lingham-Ioni, Positivo-Negativo, Espírito-Matéria, etc..

Os alquimistas são inclinados a comparar o Sol e a Lua, como uma dualidade indissolúvel,pois a seu modo de ver, a Lua torna-se a reveladora do verdadeiro Sol espiritual, cuja claridade nãoafeta diretamente nem aos sentidos nem ao entendimento. A Lua tem seu espelho que nostransmite a luz solar. Equivale a converter a Lua em Isis, mãe de toda objetividade, e ao Sol, ocultocomo Osiris, no pai da espiritualidade.

Considerada deste modo, a Lua é cheia , enquanto que na forma crescentecomo aparece na ideografia alquímica, representa a prata na ordem dos metais. Desta vez ossímbolos solares e lunares, opostos antagônicamente indicam as seguintes idéias:

Sol LuaOuro PrataLuz direta Claridade refletidaRazão ImaginaçãoDiscernir CrerInventar, descobrir Assimilar, compreenderFazer SentirDar ReceberMandar ObedecerFundar, criar Conservar, manterEngendrar ConceberFecundação GestaçãoJakim Booz

Outras distinções também surgem do binário Sol-Lua, mas convém não nos afastarmos docampo específico do hermetismo. Paramos em Jakin - Booz para não nos atermos à série deantagonismos que são vinculados às duas colunas do Discernimento Construtivo. Tomando estecaminho somos levados à tentação de estabelecer uma correspondência entre o Sol masculino como Agente, e a Lua feminina como Paciente. Ocorre porém, que os dois luminares são ativos,uma vez que iluminam, mas o Sol é o foco permanente de uma constante radiação, sempreidêntica a si mesma, fixa e imóvel como o brilho do ouro. Enquanto a Lua , reflete o que captaseu disco mutante, que não para de crescer. Daí a instabilidade das influências lunaresrepresentadas pelo caráter alterável da Prata, metal nobre que pode obscurecer-se.

Podem as pontas do Crescente estar à esquerda ou à direita isto não tem importânciaembora a imagem da Lua Crescente possa dizer respeito à juventude e a lua em seu últimominguante à velhice. Por outro lado, não é indiferente que as pontas do Crescente apontem para

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cima ou para baixo. As pontas para cima , como o símbolo do Sal Alcalino significam quedomina o éter caótico para forçá-lo a entrar na corrente da involução. As pontas dirigidas parabaixo designam pelo contrário, o Sal Gema um éterevoluído, coordenado dinamicamente, cuja influência é cristalizante,análoga à do cristal já formado, e que por simples ação e presença,determina a cristalização de uma solução salina que tenha alcançado ograu requerido de saturação. Deve-se observar, que o famoso Pó deProjeção age deste modo, enquanto a Pedra Filosofal, que é cúbica,lembra o Sal Gema, conglomerado cristalino de cubos.

A matéria prima dos sábios, com a qual trabalham, ésimbolizada pela Grande Serpente que já não forma um círculo paramorder a cauda (Ouroboros), mas, que abraça totalmente a Lua eparcialmente o Sol. Trata-se do agente fluídico , uno em suaessência, mas duplo em sua polarização, pelo qual o monstroapresenta duas cabeças que se opõem. Uma delas é o Leão terrestre,fixo em seu ardor condensador; a outra corresponde à Águia da volatilidade, que tende à dissoluçãodos corpos e à dispersão de sua substância no Eter . A energia condensadora da involução(Leão) mantêm-se em luta constante no seio do Grande Agente com a força expansiva (Águia).A Lua e o Sol desempenham o papel de bobinas de indução, estimuladoras da eterna corrente vital.

A CRUZ

Nenhum símbolo é tão espontâneo como o Tau arcaico dos fenícios ou + . O nomesemítico desta letra do alfabeto significa marca, selo, sinal gráfico por excelência. Somente hápouco mais de três mil anos é que adquiriu o significado de T e só foi identificado com uminstrumento de suplício no momento em que ocorreu a expansão do cristianismo. Atualmente evocauma idéia de morte, o que é absolutamente arbitrário e contradiz flagrantemente os fundamentosracionais da ideografia.

Em sua análise, convém distinguir o sinal aritmético da multiplicação do sinal da soma + .Fora estes usos convencionais, estranhos ao simbolismo hermético, a chamada Cruz de Santo André representa o encontro dos fatores similares, mas opostos em sua ação, um que se inclina à direitae o outro à esquerda. Ela faz pensar em duas espadas cruzadas, daí o sentido bélico que é atribuído àcruz oblíqua, a qual não analisaremos, pois é um símbolo que não era utilizado pelos alquimistas.

A importância da cruz vertical + é entretanto, muito significativa na doutrina hermética. Otraço horizontal (sinal de subtração na aritmética) é passivo, como o homem que dorme edescansa deitado no solo. Mas, ao contrário, o traço vertical é ativo, como um homem de pé,desperto, consciente. A atividade que atravessa a passividade , sugere uma idéia defecundação, e realmente a Cruz filosoficamente diz respeito à união sexual, sempre que se entendade forma nobre a noção vulgar de cohabitação. A idéia fecunda que a inteligência receptiva penetra.Deus une-se à Natureza para engendrar o que é.

Nossa energia casa-se com nosso organismo para que este trabalhe. Uma força somente valepela sua aplicação. Isto explica a Cruz + , sinal de ação e de trabalho efetivo.

Seja este trabalho alguma coisa a ser concretizada, ou algo já realizado, os alquimistasindicam tal estado, traçando a Cruz acima de um elemento gráfico , ou por baixo dessemesmo elemento . A estes sinais pode-se acrescentar o do mercúrio que é maiscomplexo, já que pode ser decomposto em . É exatamente ao analisar este símbolo em

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seus diferentes aspectos que chegamos a perceber a extensão e a sutileza das concepçõesalquímicas. como se houvessem pressentido as teorias mais avançadas da imaterialidade final da“matéria”, os hermetistas não viram nunca no Universo nada além de energia em ação. O GrandeAgente transmutador, fundamento de sua Arte, é um fluido sutil que preenche o Espaço e tudopenetra. O hieróglifo é revelador para quem sabe ler a linguagem muda dos símbolos.

Mas procedamos ordenadamente, analisando uma por uma as associações do Círculo, daCruz ou de seus elementos.

O SAL

Os derivados do Alumen substância primordial não diferenciada, são muito numerosos.Tomam o nome de Sais, mas o Sal, por excelência , aquele que é indispensável e o mais abrangente,é o Sal Marinho . Evitemos identificá-lo com o nosso vulgar Sal de cozinha. O Sal dosFilósofos provém do Oceano cósmico por desdobramento do Alumen . O diâmetro horizontaldivide o círculo e converte-se no firmamento separador das Águas superiores e das Águasinferiores. Já não estamos na presença pois, desse Caos indeterminado, de certo modo abstrato, aoqual não pode-se atribuir qualidade alguma. A barra horizontal que atravessa o Zero, dá-lhe o valorde uma sub-stância, ainda não sensível, mas inteligível. As palavras traduzem muito vagamente oque os símbolos convidam a conceber. Expressamo-nos com uma indolência repulsiva ao falar deuma trama, imaterial que proporcionaria às partes, o sub-stratum de sua aparente estabilidade.

O Sal , está na base de tudo o que toma forma. Tudo é engendrado por seu intermédiograças à ação combinada do Enxofre e do Mercúrio como explicaremos posteriormente.Contentemo-nos em aqui saber que ele é o princípio estabilizador dos corpos. Esta atividade erigeum monumento de sabedoria e de ponderação ao Sal, que provém do oceano da infinita sabedoria.Os homens devem aprender a extraí-lo das águas paradas dos pântanos salobres que o sol evapora.Uma vez cristalizada, sua substância converte-se no corpo da Pedra dos Sábios. A piedade dosfilósofos consagrou-o à Virgem Celestial, a Mãe Universal fecundada eternamente pelo espírito.

Para dizer a verdade, a parte superior do Sal corresponde ao ideal virginal que domina todadensificação e cuja imagem é-nos oferecida pela Imperatriz (arcano III) do Tarot. Mas, as águascelestiais são o resultado da evaporação do que foi condensado à custa da massa caótica primordial.Nesta concebe-se a intervenção de duas tendências opostas: a condensação concretizante e asublimação expansiva. Sob esta dupla influência, o cosmos nascente separa-se do Nada. Mas, nabase de sua construção, distinguem-se dois fatores construtivos, tradicionalmente representados porduas colunas que se erguem como menires ou obeliscos. Os construtores do Templo de Salomãocurvaram-se à tradição franqueando a entrada dos edifícios com duas colunas chamadas Jakim eBooz. Para os hermetistas, o Caos interrompe-se pela separação do sutil e do espesso, do qual surgea criação do Céu e da Terra, ato inicial da Gênese bíblica. Mas a unidade do plano criador persistesob a infinita variedade das coisas. Portanto, tudo o que existe tem seu céu e sua terra, como éindicado pelo símbolo do Sal

O NITRATO

À placidez construtiva do Sal , fundamento dos sedimentos geológicos e das rochasmais estáveis, opõe-se uma substância essencialmente instável que representa o Nitratochamado Sal Infernal a partir da invenção dos explosivos. Não é este o símbolo de uma sabedoriatranquila, mas o ideograma de todas as rebeliões, começando pela de Lúcifer. O Infinito-Nadaera forçosamente aprazível e não é facilmente compreensível que Parabrama tenha decididodiferenciar-se e perturbar o primitivo Nirvana. Por ilógica que for, uma rebelião celestial foi asolução que os poetas encontraram para explicar o problema cosmogônico. Ideograficamente, um

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simples traço vertical dá uma solução silenciosa ao mistério. Eis aqui uma ação que descende eascende, uma involução e uma evolução.

Isto nos conduz às duas colunas do simbolismo dos Construtores, pois uma corresponde aoSal e a outra ao Nitrato . Se duvidarmos, bastaria reportarmo-nos ao Nível e àPerpendicular ou Prumo dos franco-maçons. Estes instrumentos recomendam a calma, aintrospecção, o aplacamento das paixões, o equilíbrio plácido que deve ser realizadointelectualmente, depois o aprofundamento, a penetração até o íntimo das coisas e da mesma forma,a elevação acima de toda lhanura. Por um lado disciplina, submissão a tudo o que é admissível,docilidade, receptividade. Por outro lado, autonomia, crítica ao convencional, busca da verdade emsi mesma e sublimação constante do pensamento individual. Eis aqui as oposições realmenteconstrutivas de uma mentalidade filosófica.

Horizontal e vertical conciliam-se construtivamente no Esquadro, emblema da Sabedoriaprática aplicada às realidades da vida. Na Alquimia, como já vimos, é a Cruz + o símbolo de uniãoinseparável do ativo e do passivo, do fecundante e do fecundado. A Cruz forma-se no centro doCírculo pela superposição do Sal e do Nitrato ou seja, pelo seu enlace: .

Qual é o motivo de atribuir-se este novo símbolo ao Zinabre ? O que esta substânciasignifica? É provável que tenha-se escolhido o óxido de cobre por causa de sua cor, que é a davegetação, isto é, a cor da vida manifestada, pois o ideograma é do ponto de vista fisiológico,o plano do óvulo fecundado. De forma mais filosófica, os hermetistas viram nele o símbolo daSubstância cósmica vitalizada, tal como é encontrada ativa nos organismos vivos. Inscrita noCírculo e limitada por este, a Cruz alude à vida concreta e animadora dos indivíduos. Por si mesmaa Cruz, cujos braços podem prolongar-se ao infinito, refere-se à vida indefinida, não aplicada, istoé, abstrata.

O VITRÍOLO

A vitalização rigorosamente equilibrada, ativa e passiva em proporções iguais, caracteriza oreino vegetal, em relação com o qual os animais parecem desequilibrados a favor da atividade,enquanto os minerais estabilizam-se pelo predomínio de uma vitalidade passiva. Graficamente,estas três modalidades vitais traduzem-se desta forma:

Animal - Instabilidade por excesso de atividade;Vegetal - Equilíbrio;Mineral - Estabilidade pelo predomínio da passividade.

Os símbolos e não designam substância alguma do laboratório alquímico,mas e vinculam-se ao Vitríolo verde e azul. Não demoraremos na análise do sulfato decobre e do sulfato de ferro, pois a química operativa se afasta do hermetismo puramenteespeculativo. Os símbolos referem-se, unicamente, à sabedoria em seu aspecto oculto. O Vitríolomostra-nos a vitalidade animal sob seu duplo aspecto de fluido feminino e de fluidomasculino . Mesmer tomou da Alquimia sua concepção do magnetismo animal. Ele conhecia a fórmulaque se vincula à palavra VITRIOLUM, cujas letras originam as iniciais da famosa frase: Visitalnteriora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem, Veram Medicinam. - Visita asentranhas da terra é um convite ao descenso em si mesmo e ao aprofundamento da naturezahumana. Encerrados no laboratório secreto de nossa personalidade, em nosso Ovo filosóficohermeticamente fechado, retifiquemos, distilemos, separemos o sutil do espesso. Desta maneiraencontraremos a Pedra oculta na qual reside a Verdadeira Medicina.

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O segredo do Vitríolo converte o homem no objetivo da Grande Obra dos filósofos. Cadaum de nós esconde em si mesmo a Pedra dos Sábios, a Verdadeira Medicina, que possui o poderde curar todos os males. Nisto não há nada que possa ser classificado como absurdo, nem tambémingenuamente milagroso, mas, a afirmação de que tudo está no Homem, sempre que este consigaaprender a conhecer-se e aproveitar sabiamente os recursos inesgotáveis de sua própria natureza.

O ideograma do Mundo, diz respeito à vitalidade mineral que considera a mineralidadecomo suporte da vida ilimitada. O que aqui se esquematiza não é tanto o Universo objetivo, mas aAlma do Mundo, pois no hermetismo não existe muita preocupação com aquilo que é apreciávelatravés dos sentidos.

Por mineralidade não entendemos a síntese das propriedades aparentes dos minerais, quesob o conceito profano, são tidos como inertes. Os hermetistas lhes atribuem uma almadeterminada, que é exteriorizada por seus corpos. Os hermetistas adivinham muitas coisasespeculativamente e, sem conhecer as aplicações da eletricidade ou as teorias finais da constituiçãoda matéria. Pode-se dizer que seus espíritos gravitavam em torno das nebulosas ainda nãoconstituídas em conceitos puramente inteligíveis. O ideografismo suscitava-lhes problemas que sóalgebricamente podiam ser resolvidos, sem discernimento dos valores positivos que entranhavamsuas fórmulas.

O Globo terrestre coroado pela Cruz é o símbolo do poder imperial consideradoiniciaticamente, já que trata-se de um império exercido sobre a Alma do Mundo, isto é, sobre ofluido vital universal que anima os corpos siderais. A escola de Paracelso dá a este agente o nomede Luz Astral e o representa como uma irradiação invisível, que gera ao redor de nosso planetauma nuvem psiquicamente fosforescente. Aquele que sabe coagular este fluido, e depois dissolveras coagulações, domina a Alma do Mundo e possui o supremo poder mágico.

Pode-se alguém questionar sobre o significado dos símbolos e , não utilizados naAlquimia. Deve-se tratar de substâncias materialmente ativas, parecidas ao radium. Umainfluência destrutiva está implícita: não é a alma, e sim o corpo quem está em jogo, como porexemplo ocorre com os "sujeitos" que produzem fenômenos meta-psíquicos, que são traduzidos pordissociações anormais.

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Já nos deparamos com o símbolo , que designa o Vitríolo azul, ou seja a vitalidadeanimal polarizada passivamente, de modo feminino, em oposição ao Vitríolo verde, , que émasculino-agressivo. De um lado existe a atração centrípeta, que acumula, retém, economiza econdensa a energia vital, para utilizá-la serenamente. Por outro, está a veemência masculina,indicada pela flecha marciana , que projeta violentamente o fluido anímico prodigamenteconsumido.

A SUBSTÂNCIA ANIMADORA

Antes de analisarmos o símbolo que caracteriza o Mundo , teria sido mais lógicotratarmos do ideograma mais simples do Antimônio, , mas a simplicidade gráfica oculta aquio caráter complicado da concepção simbolizada. A substância primordial não-diferenciada apresenta-se como o Fundamento da vida infinita + . Trata-se de um fluido ultra-sutil, animado porum dinamismo ilimitado, por uma Água permanente e celestial, que limpa, purifica e lava o Ourofilosófico, como o antimônio comum purifica o ouro vulgar. Em seu Carro Triunfal doAntimônio, Basile Valentin afirma que, preparada espargiricamente, esta substância é um antídotocontra todos os venenos. Chama-a de o Grande Arcano, a Pedra de Fogo, e lhe atribui tantasvirtudes que nenhum homem é capaz de descobrir todas elas. A Pedra Filosofal, por outro lado, nãotem propriedades superiores nem para cura das enfermidades do corpo humano nem para atransmutação metálica.

Na realidade, trata-se daquilo que tende a elevar-nos e a espiritualizar-nos, livrando-nos daopacidade da matéria. É a Alma Celestial, fonte de inteligência e de nobres sentimentos. No Tarotfigura como o Triunfador do Carro (Arcano VII) e como a Força (Arcano XI), personificada poruma mulher que suavemente domina um leão bravio.

Para podermos melhor entender os ideogramas deixando que eles nos falem, e assimdiscernirmos seu alcance, convém compará-los, opondo-os uns aos outros. Portanto, é convenientemeditar sobre as seguintes noções:

Alma Celestial, intelectual e sentimental.Influência espiritualizante.Espírito que se separa da matéria que domina.Evolução. Redenção.

Alma vegetativa.Vitalidade física.Espírito encarnado, unido à matéria. Saúde, equilíbrio vital.

Alma instintivaAtração materializante. Sexualidade.Queda do Espírito na Matéria.Involução. Genesis.

Não temos nenhum motivo para voltar a abordar o Sulfato de Cobre , mas Vênus ou oCobre merece nossa atenção. A deusa outorga a voluptuosidade e atrai a alma ao corpo pelaperspectiva de uma existência lânguida, sensual e branda, isenta de esforços heróicos. Ensina aamar a vida por ela própria, gozando seus encantos, esquivando-se de suas durezas. Sedutora,

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tornaria inerte a vida, não fora ela a antagonista de alguém que lhe inspira amor, Marte que é odeus do Ferro dos alquimistas.

Este amante de Vênus corresponde à mobilidade, à necessidade de gastar a energiaacumulada, seja muscular, intelectual ou psíquica. Converte-se no espírito ativo dos corpos, nosquais a alma sensitiva mantém a vida. Esta, acumula as reservas postas à disposição de seuconsumidor. Sem Vênus, o ardor de Marte extinguir-se-ia por falta de alimento. E sem o estímulode Marte, Vênus vegetaria na inércia e na pletora. Os atributos dos dois gênios planetários emetálicos são os seguintes:

Marte VênusFerro CobreMotricidade SensibilidadeCólera DoçuraImpaciência PaciênciaVivacidade CalmaEnergia ativa Apatia, preguiçaVontade DocilidadeDomínio SeduçãoProjeção AtraçãoBrutalidade GraçaFerocidade, Destruição Ternura, ConservaçãoFogo anímico ou vital Água vital, fluido anímicoArdor sulfúrico Humidade radical

Os alquimistas gregos representavam o Cobre, dedicado a Vênus, pelo sinal , que deforma geral é o ideograma da mulher, encontrado na Ásia sob uma forma ligeiramentediferente . Acrescentando uma barra teremos , de onde provém nosso símbolo de Vênuse a cruz dos egípcios . Passando a Cartago, encontraremos a Tanith , cuja forma recorda adas virgens espanholas.

O símbolo de Marte é originalmente, um pequeno círculo atravessado por uma flechaoblíqua Uma ligeira simplificação torna-o .

Digamos de passagem, que nossos atuais símbolos de Júpiter-Estanho e de Saturno-Chumbo , encontram-se nos manuscritos gregos correspondentemente sob a forma de umafoice para o último e de um Z, inicial de Zeus, para o primeiro, com a adição de um traço

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fulgurante .

Estes dois símbolos foram assimilados nas combinações antagônicas da Cruz + e doCrescente .

JÚPITER E SATURNO

A coordenação ideográfica não foi preconcebida, houve evolução no terreno do simbolismoassim como em todos os outros. Incluindo os símbolos de Júpiter e de Saturno , àscombinações da Cruz + e do Crescente , adentramos à lógica construtiva de todo o ideografismohermético.

Opondo o Crescente , vinculado de um lado ao traço horizontal da Cruz e de outro aseu traço vertical , obteremos as interpretações que seguem. Isto feito em referência ao sentidoanteriormente atribuído ao Crescente e à Cruz, não deixando de observar que nos dois símbolos, oCrescente é aquele do primeiro quarto da Lua, isto é, aquele ao qual se atribui a interpretação decrescimento e evolução construtiva.

Júpiter Saturno

Cruz inferior do Crescente: Cruz que domina o crescente:Trabalho de transformação virtual. Trabalho transformador efetuado.Mudança provocada passivamente Mudança provocada ativamente, por ação sobre a a vitalidade plácida. por ação sobre vitalidade atuante.(Traço horizontal da Cruz) (Traço vertical da Cruz) Crescimento. Desagregação.Desenvolvimento. Detenção, declinação.Iniciativa corporizante. Desmaterialização.Encarnação. Desencarnação.Geração da vida material. Decrepitude.Animação. Transformação.Juventude, Presunção. Idade madura, Experiência.Vida. Morte.

Metal leve, o estanho jupiteriano corresponde ao Ar que dá vida, por oposição aoChumbo pesado , cuja lentidão leva à tumba. Mas a presteza de Júpiter torna-o frívolo, enquantoSaturno é o deus grave e sério por excelência. Ocorre que o Chumbo saturniano converte-se para oshermetistas no fundamento de sua arte. Este metal vil encerra o Ouro em potência. O Sábio põe-noem movimento, pois está maduro para a transmutação. É o que também ocorre com o anciãodisposto a obter o rejuvenescimento natural pela operação alquímica da dissolução do corpo,processo renovador este que não assusta ao Iniciado e que o faz auto-denominar-se Filho daPutrefação.

O MERCÚRIO

Nenhum símbolo alquímico possui uma importância igual à do mercúrio . De certa forma,toda a doutrina hermética nele está sintetizada. Quando conseguimos discernir aquilo que osFilósofos velaram neste símbolo tão frequentemente usado, chegamos muito próximos da posse dosegredo da Grande Arte.

O mistério, subtraído voluntariamente ao conhecimento do vulgo, esclarece-se de formanotável ao aplicarmos a análise metódica ao ideograma do mercúrio . Pode-se distinguir com

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efeito, o símbolo de Vênus ao qual é associado o Crescente ou o símbolo do Sal Alcalino ,com a união da cruz + na parte inferior.

No primeiro caso, Vênus indica uma substância que encerra, como num germe, asenergias vitais destinadas a desenvolver-se, e a superposição do Crescente indica que a evoluçãodeverá ocorrer no domínio sublunar, isto é, na esfera da materialidade submetida a perpétuasmudanças.

O Mercúrio apresenta-se como se fôra a essência fundamental da vida das coisas, como oprincípio pelo qual estas se produzem, se desenvolvem e se transformam. É o agente universal danatureza, o mensageiro dos deuses, isto é, o intermediário sempre indispensável das manifestaçõesda existência, ou o eterno mediador.

Se nos reportarmos agora àquilo que foi dito sobre o Sal Alcalino , compreenderemos emque sentido o símbolo se encontra modificado pela adição da Cruz +, que é aqui o indicador de umafecundação. A Matéria prima dos sábios, , apta virtualmente a submeter-se a todas asmetamorfoses, encontra-se animada, graças a este acontecimento gerador da vida, e pode realizartodas suas potencialidades por meio do ato.

Os filósofos herméticos empregaram numerosos termos para designar o mercúrio , masutilizaram principalmente a palavra Azoth, que segundo Planiscampi, deveria ser sempre escrita AZ

, a fim de cabalisticamente ser composta pela inicial comum a todos os alfabetos, A, seguida daúltima letra latina Z, grega , e hebraica. O Azoth representa, por sua vez, o princípio e o fim detodo corpo.

Quando o símbolo do Azoth está invertido , vincula-se ao esquema do Arcano III do Tarot,que representa a Imperatriz, a Rainha dos Céus, ou Virgem Alada do Apocalipse. Se analizarmos oideograma reconheceremos o Antimônio sobre o Crescente vencido (pureza soberana queescapa a todas as influências modificadoras e que sem dúvida, exerce um irresistível poderpurificador sobre tudo o que lhe é inferior). Por outro lado, podemos representar o Sal Gema

coroado pela Cruz + , isto é, espiritualizado, sublimado ou glorificado depois de ter adquiridoas virtudes mais elevadas.

Definitivamente, já não se trata da alma das coisas ou da vitalidade universalmentecorporizada , mas da alma celestial, que tende a desprender-nos da matéria, elevando eespiritualizando-nos . Mas é mister recordar aqui que estamos no terreno da universalidade, istoé, nas esferas mais altas do pensamento que domina o mundo. Encontramo-nos, efetivamente, empresença de Binah (Inteligência ou Compreensão), que corresponde ao terceiro termo do primeiroternário da árvore dos Sefiroth, ou números cabalísticos. A Mulher, celestial por motivo de suaascensão, identifica-se com a Vênus Urânia ou a Ishtar babilônica em sua condição de geradora dasformas ideais ou das idéias-arquétipo que ordenam a Criação. Reina nas regiões sublimes daintelectualidade pura, por cima do mundo mutável ou sublunar, que entretanto, está destinado a sera ela submetido.(2) Deve-se observar, que em sua condição de mediador universal, o mercúrio ,serve de vínculo entre os outros metais ou planetas sem manifestar qualquer afinidade particular,daí seu caráter neutro, ou mais exatamente andrógino, indicado pela posição central que ocupa nosetenário seguinte:

Isto significa que o Mercúrio , participa de todas as qualidades ou é o princípio sobre oqual elas se engendram em suas variedades e suas oposições. Isto ocorre especialmente naquilo que

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os hermetistas decidiram chamar azoth , ideograma formado pelo símbolo de Vênus (a Cruzdos egípcios coroada pela Meia Lua de Isis . .

Entretanto, a Meia Lua, que recorda os chifres da Vaca Sagrada ou do touro Zodiacal, àsvezes é substituída pelo signo de Áries , que é seu oposto, pois a Meia Lua ,, forma um vasoou recipiente aberto, é receptiva e, em consequência, passiva ou feminina. Diz respeito àfecundidade e às transformações que ela entranha. O símbolo do equinócio de primavera evoca,por contraste, a idéia de uma ponta de flecha que se crava na terra, ou inversamente, um brotovegetal que se expande ao sair do solo. De qualquer modo que ele for considerado, é um símbolo dopoder gerador masculino.

Nessas condições, o Mercúrio dos Sábios representa por excelência o estímulo de todavitalidade, o fluido universal que penetra todas as coisas e une a todos os seres com os laços de umasecreta simpatia. É por seu intermédio que se realizam as operações mágicas e mais especificamenteos milagres da medicina oculta.

O TRIÂNGULO

Na ordem das figuras fechadas o triângulo encontra-se situado entre o círculo O eo quadrado . Pode-se deduzir que representa uma entidade intermediária entre a substânciaabstrata, que poderia ser chamada espiritual O e a matéria perceptível através dos sentidos . Naprática o Triângulo é o símbolo dos elementos ocultos, a saber: fogo , água , ar e terra .Não são estes corpos simples, a não ser modalidades da substância única , que determinam no seiodesta, as particularidades corporizadoras. Os elementos herméticos são abstrações inteligíveis queescapam inteiramente a nossas percepções físicas. Não devemos confundi-los com as coisaselementares, que são os efeitos dos quais os elementos são a causa. Por outro lado, todamaterialidade não pode ser mais que a resultante de um equilíbrio realizado entre os elementos, quese opõe dois a dois como é demonstrado pelo esquema seguinte:

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É necessário entender aqui que o ar , leve e sutil, agiliza, contrabalanceando a ação daTerra , espessa pesada, que densifica. A água , fria e úmida, contrai, por outra parte, o que o fogo

, seco e quente dilata.

O símbolo do Fogo lembra a chama que ascende e termina em ponta. Portanto, alude a ummovimento ascendente, de crescimento ou dilatação, a uma ação centrífuga, invasora econquistadora. Por outra parte, o Fogo , em si mesmo tem as tendências impetuosas da energiamasculina. Incita à cólera e seria destruidor se não estivesse compensado pelos outros elementoscombinados.

A força ascendente do Fogo opõe-se, em primeiro lugar, a Água , que corre para baixo epreenche todo espaço vazio ou ôco. A Água aperta o que o Fogo distende. Portanto sua ação écentrípeta ou constritiva. Em vez de elevar-se verticalmente como o Fogo, alarga-sehorizontalmente. A Água tende assim ao repouso, à calma, o que permite estabelecer umaaproximação entre sua passividade e a suavidade feminina.

Se julgarmos por seu ideograma, o Ar não é mais que o Fogo detido em sua subida,sufocado, apagado pela linha horizontal que atravessa e decapita o triângulo ígneo. Nada mais restaa não ser fumo, vapor ou gás, uma substância que se dilui e se expande em todos os sentidos, àmaneira da Água .

Quanto à Terra , ela é uma Água densificada, que já não circula e realizou a inérciacompleta na solidez.

Sem nos extendermos aqui sobre a teoria do antagonismo conjugado dos Elementos,limitarnos-emos a resumir suas correspondências com ajuda do quadro analógico a seguir:

Ideograma Alquímico..............

Elementos............................... Terra Fogo Ar Água

Estações.................................. Primavera Verão Outono Inverno

AnimaisApocalípticos.............

Boi Leão Águia Anjo

Signos Zodiacais..................... Evangelistas............................ Lucas Marcos João Matheus

Cores...................................... Negro Vermelho Azul Verde

Planetas.................................. Saturno Marte Júpiter Vênus

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Símbolos Planetários............... Metais..................................... Chumbo Ferro Estanho Cobre

O ENXOFRE

Seja qual for o reino a que pertença, um indivíduo sempre procede de um centro interno deiniciativa e de ação expansiva. A existência individual toma efetivamente sua origem nesta rebeliãooriginal inspirada pelo egoísmo radical, que opõe a parte ao todo do qual pela sua vida, sem dúvidaparticipa.

Partindo desta vitalidade geral, devemos compreender que ela comunica por todos os ladossuas vibrações à substância ainda passiva, que a vida individual, despertará a seguir. É o querepresentamos, esquematicamente, do seguinte modo:

O círculo central representa uma substância salina , ou passiva ou emconsequência neutra oara a qual converge, na direção das flechas, um raio deluz e de calor vital que parte do próprio ambiente.

Suponhamos agora que depois de refratar-se no centro do glóbulo salino, a radiação vital decerta forma retorne contra si mesma. Assim teremos concebido a gênese daquilo que os alquimistaschamavam Enxofre .

Como é revelado pelo ideograma , designavam eles com este termo o Fogo realizadorencerrado no centro de cada ser. Este ardor vital, que é manifestado de dentro para fora pelosfenômenos do desenvolvimento e crescimento, é na realidade o princípio construtivo de todoorganismo. É o obreiro ao qual rendem homenagem os franco-maçons por intermédio do Deltaluminoso.

Com efeito, admitem eles que o Fogo lnterior, do qual depende a fixidez individual, nadamais é do que uma particularização da Luz criadora . O maçom pode assim considerar que elepróprio é uma emanação direta ou uma encarnação do Grande Arquiteto do Universo. Poroutro lado, não deve esquecer que na escala dos seres não ocupa um lugar privilegiado, pois, todaindividualidade microcósmica, na qual se manifesta um centro de vida autônoma, provém como ele,da única e idêntica essência luminosa, cuja tri-unidade é traduzida pelo ternário alquímico:Enxofre , Sal e Mercúrio .

Efetivamente, para o hermetismo tudo é luz. Isto compreende-se facilmente que se refereao enxofre e ao mercúrio, pois estes dois princípios representam a luz interior ou microcósmica,oposta à luz exterior ou macrocósmica . Agora, o Sal provém da interferência de duasradiações contrárias que se neutralizam numa zona relativamente estável da luz condensada ou

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corporificada. O Sal transforma-se assim no receptáculo substancial ampliado pela expansãosulfurosa interior , que resiste à compressão mercurial exterior .

Eis aqui, também a forma pela qual os três princípios alquímicos podem ser interpretados uns emrelação aos outros.

Enxofre Sal MercúrioArca Hyle AzothPrincípio Substância VerboEspírito Corpo AlmaInterior Meio ExteriorContido Continente AmbienteExpansão Neutralidade CompressãoMovimento Centrífugo Estab.Repouso Movimento CentrípetoSair Ficar Entrar

Se o símbolo do Enxofre é o de um Fogo construtor, encerrado no germe que vai sedesenvolver, ao invertê-lo, obteremos o ideograma de uma-Água que sofreu uma série completa dedistilações purificadoras, pelas quais suas qualidades específicas foram exaltadas. Do ponto de vistainiciático, trata-se de uma alma integralmente purificada, fortificada pelas provas da existência eque alcançou um estado de santidade que lhe permite operar milagres. Concebe-se nestas condições,que o símbolo de que tratamos tenha sido associado pelo hermetismo, à Consecução da GrandeObra . No Tarot é representado pela figura do Enforcado (Arcano XII) do mesmo modo que oImperador (Arcano IV) relaciona-se com o símbolo plutônico do Enxofre .

O QUADRADO

A matéria concreta, ou em outras palavras, aquilo que é perceptível através dos sentidos,tem por símbolo o retângulo, cujos lados correspondem ao quaternário dos Elementos.

Quando esta figura toma a forma de um Quadrado perfeito , representa a Pedra cúbica,isto é, o indivíduo perfeitamente equilibrado em plena posse de si mesmo, e cujo organismo adapta-se precisamente no todo às exigências do espírito. Este ideal deve ser realizado pelo artista na fasemais genial de sua produção, enquanto o vigor físico ainda nele está unido à delicadeza inicial desuas impressões. No programa iniciático da maçonaria, a condição de Companheiro corresponde aeste período, mais favorável que outro ao trabalho e a ação. E assim como Companheiro,transformar-se-á alegoricamente num cubo impecável, cujas arestas possuem uma longitudeabsolutamente idêntica, e suas superfícies formam entre elas os ângulos de uma retidão absoluta.

Estas exigências geométricas não podem deixar de adquirir um alto sentido moral ante osolhos dos Obreiros simbólicos, que são considerados por si mesmos como os materiais vivos doTemplo que constroem. Além disso, indicam o quanto é necessário trabalhar a matéria que servirá àGrande Obra. Nada arbitrário ou aproximativo pode susbsistir. Tudo deve ser regulado ecoordenado em proporções e números, de acordo com as leis desta Geometria filosofal, da qualfalamos no início do capítulo, que é o próprio Conhecimento fundamental (Gnose) dos Iniciados.

O ESQUADRO

Como já ressaltamos, a Cruz + e o Quadrado podem ser considerados como se fossemformados por esquadros de braços iguais, que se reuniram por seus vértices ou por seusextremos .

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Estas indicações bastam para dar uma idéia do papel construtivo que desempenha o ânguloreto nas combinações do simbolismo geométrico. Toda construção origina-se, com efeito, daassociação de dois contrários, representados pela vertical (energia, ação, força) e pela horizontal(extensão, inércia, resistência). O construtor é solicitado a por em movimento aquilo que pornatureza é imóvel. Reúne o que está disperso, afim a de constituir um todo estável e sólido, ecombina e forja seus materiais. Entretanto, para responder plenamente ao seu propósito, osconstrutores devem dar importância fundamental ao uso do Esquadro, que determina aconfiguração indispensável para que as pedras possam ajustar-se com precisão entre si. Sem esseinstrumento, os maçons consideram que não haveria maçonaria possível de ser realizada. OEsquadro foi transformado na jóia do Mestre que dirige os trabalhos, pois este tem por missãoessencial manter uma boa harmonia entre todos os seus colaboradores. Para cumprir esta finalidade,o Mestre deve ter habilidade para conciliar os antagonismos, conforme os ensinamentos queprovêm do Esquadro, combinação da horizontal e da vertical. Além disso, deve fazer observar adisciplina, base de toda associação. Aqui, o Esquadro é um emblema que fala, posto que fora dele,nenhuma coordenação é possível. Regra, lei, ordem, eqüidade, justiça, organização, tudo serelaciona efetivamente à alegoria construtiva da necessidade de retificar corretamente as pedrasdestinadas à união sem solução de continuidade, para que possa ser obtida uma construção perfeita.

A SUÁSTICA

O simbolismo do Esquadro, lança uma luz insuspeita sobre o mistério do mais antigosímbolo sagrado da raça indo-européia. Referimo-nos à Cruz Gamada , chamada Suástica naIndia e Fyrfos na antiga Escandinávia. Ela é formada por dois esquadros que parecem emanar deum centro comum para formar uma roda, a da Criação ou do Porvir, pois estamos frente a umemblema conhecido que representa o Fogo criador de todas as coisas. Nossos antepassados pré-históricos identificam esse fogo ao mesmo tempo animador e construtor, à sua suprema Divindade,que os franco-maçons viriam a honrar com o nome de Grande Arquiteto do Universo. Princípio deinteligência e de atividade fecunda, dá forma ao Caos original, conduzindo da potência ao ato, oquaternário dos Elementos. Estes, que são as emanações diretas da Causa produtora, correspondemaos esquadros da Suástica, cujo braço vertical engendra ao mesmo tempo o Ar e aTerra , enquanto do braço horizontal emanam o Fogo e a Água .

Estes dois últimos Elementos ocultos atuam, um no sentido ascendente e expansivoe o outro ao contrário por derramamento e constrição . Os dois aplicam-se à passividade(traço horizontal da Cruz), para determinar as alternativas do movimento vital.

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Os outros dois elementos (Ar e Terra ) são, pelo contrário, os resultados passivos deuma intervenção ativa. Um corresponde à volatilidade, à leveza que atingiu as alturas, onde semantém . O outro é engendrado pelo depósito de sedimentos pesados que, ao tornar-se maisdensos se solidificaram .

O TÁRTARO

A teoria dos Elementos, tal como a acabamos de apresentar, completa-se com as relaçõesque poderiam ser estabelecidas entre a Cruz +, a Suástica e o Quadrado .

A esta última figura está vinculado o retângulo alongado que com o nome de Quadradooblongo, representa para os franco-maçons o plano do recinto em que se realizam seus trabalhos. Éa imagem do espaço limitado, no seio do qual surgem as percepções. Extende-se do Oeste ao Lestee do Norte ao Sul. O universo infinito nele se reflete em pequena escala, reduzido às proporçõesartificiais do Mundo que nos é permitido conhecer. Quando o Iniciado partindo do Ocidente,aprende a marchar como se fora num retângulo, recebe uma lição de pura filosofia positiva. Paraavançar em direção à luz, deve ele abster-se de toda precipitação e permanecer prudentemente naestreita área das coisas que tem a capacidade de comprovar.

O retângulo mais largo do que alto, indica por outra parte um predomínio da passividade.Encontra-se no símbolo do Tártaro , matéria que os Filósofos sabem extrair de seu magistério.Na maçonaria, é a Pedra bruta, que os aprendizes devem polir. No exterior, apresenta-se em seuestado natural, rude e grosseira, mas possui uma textura compacta em seu interior, apreciada peloartista que deverá talhar o bloco informe, talhando-o para livrá-lo de suas asperezas, para poli-lo efinalmente transformá-lo numa Pedra Cúbica perfeita .

A PEDRA DOS SÁBIOS

O quadrado perfeito é a imagem do indivíduo realizando a perfeição de sua espécie,porque a harmonia reina para ele entre o espírito e a matéria, mesmo estando o obreiro espiritual emplena posse de seu instrumento físico.

Trata-se, sem dúvida, de um estado essencialmente efêmero de perfeição, porque nossadeclinação começa no momento em que chegamos ao apogeu da força de ação. Estritamentefalando, nossa vida divide-se num período inicial de crescimento ou de corporização gradual doespírito, seguido imediatamente pela fase contrária de decrepitude material, consecutiva àdesencarnação progressiva do princípio espiritual. Na verdade, distinguimos três fases na vida

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humana, mas a idade adulta compreende na realidade o fim do período de crescimento, que seextende cada vez mais, e o começo da decrepitude, mesmo que esta ainda não se tenha manifestadomuito claramente.

Na medida em que o espírito se liberta dos vínculos da carne, começa a desenvolver seuspróprios poderes. Os ascetas conhecem um estado de despreendimento favorável a todas as energiasdo pensamento e da vontade. O intelecto pode tornar se cada vez mais forte, em proporção àdebilidade do corpo. Já não foi dado ver, por acaso, velhos e especialmente moribundos que dãoprovas de uma lucidez de espírito extraordinária? As faculdades extraordinárias foramfrequentemente desenvolvidas através de um treinamento apropriado. Os indivíduos que conseguemadquirí-las operam maravilhas. Podem surpreender à multidão com fatos que se convencionoudenominar milagrosos. Não se trata evidentemente de Sábios, porque o verdadeiro Iniciado não sedirige às massas, cuja admiração jamais solicita. É em meio ao silêncio e ao recolhimento quetrabalha na preparação da Pedra Filosofal.

Esta possui como ideograma o Quadrado coroado pela Cruz , símbolo que indicaclaramente, além daquilo já anteriormente citado sobre o de Saturno, o do Antimônio e o daRealização da Grande Obra . O leitor poderá divisar o esquema da materialidade a tal pontosublimada, depurada e superada, que já não é mais do que o apoio estritamente indispensável àmanifestação do espírito, o qual, por este vínculo que ainda o retém ao plano físico, toma odefinitivo impulso para atingir o reino da emancipação absoluta.

Resumiremos como segue, as principais correspondências dos três aspectos da Pedra:

Pedra bruta Pedra cúbica Pedra filosofalAprendiz Companheiro MestreJ B MJuventude Virilidade VelhiceApreender Praticar EnsinarAdquirir Administrar RestituirChegar Atuar PartirNascer Viver MorrerBrahma Vishnu Shiva

A INICIAÇÃO HERMÉTICA

Não teremos a pretensão de dar aqui a chave de todas as interpretações possíveis nosimbolismo hermético. Um símbolo sempre pode ser considerado sob infinitos pontos de vista, etodo pensador está autorizado a descobrir-lhe um sentido de acordo com a lógica de suas própriasconcepções.

Os símbolos, com efeito, estão destinados a despertar as idéias adormecidas em nossoentendimento. Estimulam o pensamento por via da sugestão e fazem-nos descobrir assim asverdades enterradas nas profundezas de nosso espírito.

Por conseguinte, para que os símbolos possam falar, é indispensável que exista em nós ogerme das idéias que os símbolos tem como missão fazer surgir. Nenhum surgimento seria possívelse o espírito estivesse vazio, inerte ou estéril.

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Os símbolos dirigem-se a não importa quem. Desorientam, especialmente, a esses supostosespíritos positivos, que se acostumaram a basear seus raciocínios na rigidez das fórmulasdogmáticas ou científicas. Não discutimos a utilidade prática dessas fórmulas, que nos permitiramerigir, pedra por pedra, todo o edifício da ciência moderna. A elas devemos todas as comprovaçõesda experimentação científica e todas as descobertas maravilhosas que são a glória de nossa época.Mas do ponto de vista filosófico, as fórmulas precisas correspondem integralmente ao pensamentofixado, artificialmente delimitado, demorado, imobilizado, que aparece como morto frente aopensamento vivo, indefinido, complexo e móvel que se reflete nos símbolos.

Estes não foram evidentemente feitos para traduzir o que nós chamamos verdadescientíficas. Por sua natureza, devem ser elásticos, vagos e ambíguos, como as sentenças dosoráculos, cujo papel essencial consistia em revelar os mistérios, deixando ao espírito a sua totalliberdade.

Neste sentido, um abismo separa o símbolo do dogma. Este, presta-se ao doutrinamentotirânico, é o instrumento de uma disciplina intelectual rígida e absoluta, tal como é compreendidopelas igrejas, pelas escolas e seitas. O símbolo ao contrário, favorece à independência emdetrimento das ortodoxias despóticas. Portanto, não é estranho que todas as iniciações os tenhamutilizado, porque só os símbolos permitem escapar à escravidão das palavras e das fórmulas parachegar a uma liberação real do pensamento. E não poderia ser de outra forma se quisermos penetraros mistérios, isto é, as verdades rodeadas de obscuridades, que se transformam mui facilmente emmonstruosos erros, quando se procura expressá-las numa linguagem que não seja a das alegoriassimbólicas. Justifica-se assim o silêncio imposto aos iniciados. Os arcanos, efetivamente, requeremser concebidos por um esforço da inteligência. Esclarecem interiormente o espírito do verdadeiroiluminado, mas não poderiam servir de tema às dissertações de um professor. O conhecimentooculto não pode ser comunicado nem por discurso nem por escrito. Só pode ser conquistado nameditação. É necessário penetrar até o fundo de nós mesmos para descobrí-lo, e erram o caminhoaqueles que o buscam no exterior. É neste sentido como devemos entender o de Sócrates.

*

Estas considerações deveriam ser suficientes, sem dúvida, para esclarecer as coisas.Interpretando da forma mais racional que nos pareceu, os símbolos do Hermetismo, buscamosorientar os espíritos, mostrando como é possível fazer falar a uma série de figuras geométricas.Mas, longe de fazer-lhes dizer tudo o que são suscetíveis de nos revelar, só lhes temos solicitado asindicações mais indispensáveis, para podermos entender a linguagem gráfica que usavam em seumeio, os discípulos de Hermes.

É evidente que ao espírito de nossos leitores apresentaram-se outras interpretações e, sempreque elas foram construídas com lógica, justificam-se plenamente. O Sr.Limousin, ex-diretor darevista maçônica L'Acacia, fez observações muito interessantes a respeito do símbolo do Mercúrio,visto sob seus dois aspectos e . Nosso ilustre correspondente considera que os dois símbolossão andróginos. "Em resumo – escreve - a Imperatriz é uma lembrança da ectonolatria, dostempos em que era crença que a mulher que concebia por imanência; por uma virtude prolífica quenela estava: a capacidade de dar a luz por partenogênese. O Mercúrio simboliza a criaçãointelectual. O recipiente voltado para cima recebe as águas do céu que caem na cavidade geradoraou conceptiva, para realizar-se em abstrações e entidades (a cruz, símbolo da criação para o contatodos planos). A Imperatriz possui o recipiente voltado para baixo para receber o orvalho que flui daTerra. Esta passa à cavidade infernal e resolve-se em idéias por meio da cruz. Os dois símbolossintetizam-se na fórmula da Tábua da Esmeralda: "o que está em cima é como o que está embaixo".

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Observemos aqui que os símbolos alquímicos prestam-se à composição de pantáculos, istoé, de figuras evocadoras de concepções complexas.

Superpondo os símbolos a e a obtemos duas figuras, das quais uma é a inversãoda outra:

A primeira faz-nos pensar no Espírito divino conduzido sobre as águas, cuja influência éexercida desde cima sobre a alma. A segunda exalta o fogo ativo, o Enxofre purificado ,dominador do Sal Gema .

Por um lado, a Matéria prima se glorifica pela consecução da Grande Obra ; pelooutro, a Virgem celeste inspira a santa energia do amor supremo .

É mister que se medite sobre estas duas figuras hieroglíficas; a descida do Divino na almapurificada e a subida do Fogo infernal divinizado pelo cumprimento de sua obra de purificação.

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UM SIMBOLISMO INQUIETANTE

Investigação em torno de um quadro alquímico exposto por muito tempo numa igreja parainstrução dos crentes, e que mais adiante inspirou temores de ser uma obra perversa, feita pelosfranco-maçons.

O Courrier de la Champagne, era um jornal que atacava a franco-maçonaria da província,e a 26 de janeiro de 1907 recebeu a seguinte carta, que publicou a seguir:

“Senhor Diretor:

Considero-me no dever de chamar a atenção de seu colaborador, o padre Curiex, sobre umquadro que possui um grande interesse na comprovação da hipocrisia da franco-maçonaria e apersistência de seus propósitos anti-religiosos, sob a égide da religião mais fervorosa.

Há vários anos que ainda este quadro era exibido na igreja de Saint Maurice de Reims. Ocônego Cerf o descreveu no tomo III, pag. 85 do "Boletin de la Diocesis", fazendo grandes esforçospara descobrir nele uma inspiração cristã. Há pouco mais de dois anos, o abade X ... transmitiu àparóquia o resultado de seus longos estudos sobre esse mesmo quadro. Chegava ele à conclusão queaté os mais insignificantes detalhes do quadro eram símbolos franco-maçons. Sua explicação foi tãoplausível que, a partir desse momento, o quadro foi retirado da igreja e guardado na sacristia. OSr.Malhonme, fotógrafo, rua des-Moulins, publicou uma fotografia, creio.

Espero que estas indicações tenham alguma utilidade para documentar o seucorrespondente. Com a certeza de meus respeitos e consideração, despeço-me do senhor Diretor.

EMILE PECKCura de Fligny”

No dia seguinte, 27 de janeiro, o Sr.Henri Jadart, bibliotecário e conservador dos museus depintura e arqueologia da cidade de Reims, acreditou ser seu dever tomar a defesa do incriminado

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quadro, que lhe interessava especialmente por sua condição de antigo técnico da igreja de SãoMaurício.

Este quadro, afirmou, procedia dos jesuitas que deixaram a igreja em 1762. Atendendo-se àsua composição e à decoração de seus elementos remontava-se a princípios do século XVII. Umquadro do mesmo gênero, que pode ser visto no Museu leva a data de 1624, e esta deve ser também,aproximadamente, a data do quadro dos jesuitas.

"Esta proveniência e esta data servem para descartar absolutamente e a priori o pretendidocaráter maçônico, que também não é revelado face a um atento exame e sem idéias preconcebidasda obra em si mesma".

Esta obra, segundo M. Jadart, está puramente consagrada à glorificação da Virgem queconcebeu ao Cristo. É verdade que alguns atributos simbólicos continuam sendo enigmáticos, mas,isto se deve unicamente à “mística singular dos jesuitas”, cujas imaginações se comprazem às vezesdas mais estranhas complicações.

É sabido que sob a iniciativa do abade Nanquette, tratou-se do tema desta místicadesconcertante no Congresso científico de Reims em 1845, sem que se chegasse a precisar qualquerponto. Depois, M.Lacatte-Joltrois e o senhor abade Cerf deram algumas explicações, outras temsido recopiadas pelo Repertório arqueológico das paróquias de Reims (l889), mas, o sentidoexato do quadro não foi ainda revelado.

Para interpretar o simbolismo do quadro de São Maurício de Reims possivelmente fosseinteressante estudar simultâneamente outra pintura do mesmo feitio, da mesma época, e semdúvida, da mesma origem que a exposta na igreja de Sillery.

M.A.C. de la Rive, diretor de França Cristã, interveio no debate para declarar que ossímbolos do quadro de São Mauricio são os do Martinismo, e que o pintor quis representar oTriunfo de Isis, que concebeu Horus.

É evidente que este homem que combate diariamente a maçonaria, conhece-a muito bem.

M.Jadard explica que não é possível que se trate do Martinismo, já que o quadro suspeito émanifestamente anterior à época em que se fizeram conhecer Martinez de Pasqualis e Claude deSaint Martin, chamado o filósofo desconhecido.

Além disso, um arquivista, M.L. Demaison, testemunhou que o quadro da igreja de SãoMaurício possui para todo especialista, o caráter de uma obra de fins do reinado de Henrique IV, oudo tempo de Luiz XIII. crescenta que alguns artistas dessa época surpreenderam pelas sutis,refinadas e obscuras alegorias.

Entretanto, outro sacerdote que intervém igualmente no debate, pergunta se estamos anteuma pintura do século XVII, afirmando que a figura principal está inspirada na Virgem de SãoSuplício. Da mesma forma que um arqueólogo tão competente como M. Didron, este sacerdoteopina consequentemente que a obra pode ser do século XVIII, não vendo nenhuma impossibilidadede que seja maçônica.

Existe para ele um ponto que não é passível de discussão: a Virgem lá representada não é amãe do Cristo. O artista, de fato, a faz dizer: Concebi sendo virgem, tendo um filho não tenhopais. A segunda parte do verso grego presta-se à ambiguidade, mas parece afirmar que a virgemque concebeu carece de pais, o que não é o caso da mãe de Jesus, filha de São Joaquim e de Santa

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Ana. Portanto trata-se de Isis, personificação da Natureza eterna, nunca adorada pelos reverendospadres jesuítas. Daí a necessidade de atribuir a tela a um artista pagão, martinista e franco-maçom.

A polêmica sobre o caráter maçônico do quadro da igreja de São Maurício de Reims,inflamou-se e L'Acacia, em seu número 51 (1o volume, 1907, página 224) mostra-se surpreendidapelo fato de que os maçons não tivessem sido chamados a pronunciar-se sobre a questão.

M. de la Rive quis então recorrer à nossa experiência e fez chegar à direção de L'Acaciauma série de fotografias do conjunto e dos detalhes de tão discutido quadro. Juntou também ummanuscrito no qual procurava demonstrar que nessa composição, tida até então por uma pinturareligiosa, tudo era maçônico.

Estamos dispostos a informar de pronto a M. de la Rive que não se trata de um vulgarquadro piedoso. Estamos realmente ante uma pintura esotérica e até iniciática, mas a Franco-maçonaria não aparece em parte alguma.

O simbolismo em questão não é o nosso, e sim o da alquimia. É surpreendente que oseruditos que se ocuparam do quadro da igreja de São Maurício não se tenham imediatamente distoapercebido. Nenhum deles teve a curiosidade de folhear tratados da arte espargírica, ou de filosofiahermética, como as Doze Chaves de Basile Valentin, cujas edições multiplicaram-se exatamente nocurso do século XVII. É nesta literatura especial que devemos buscar a explicação de um quadroque os jesuítas poderiam facilmente aceitar, já que a Alquimia não foi nunca castigada com aexcomunhão.

Esta difícil filosofia que somente era ensinada sob o véu de um simbolismo extremamentecomplicado, contou entre seus adeptos, com um bom número de dignatários da igreja. É verdadeque isto não prova grande coisa, pois o mesmo pode ser dito da Franco-maçonaria do século XVIII.

Entretanto, uma coisa ainda é certa; o clero nem sempre foi aquilo que é atualmente. Emoutras épocas, havia sacerdotes providos de grande sabedoria que conheciam melhor do que oslaicos as ciências de sua época. Ocorre que no começo do século XVII os espíritos estavampreocupados com especulações que atualmente são para nós difíceis de imaginar. Um misticismoespecial, desenvolvido sob a influência da cabala e da alquimia criara um Cristianismo esotéricode excepcional interesse. A razão conciliava-se nele com a fé graças às interpretaçõestranscendentes que eram então atribuídas aos símbolos tradicionais e populares do catolicismo. Asinteligências excepcionais não se sentiam então chocadas pelas puerilidades do catecismo emantinham-se no seio da santa Igreja, cujas doutrinas parecias então racionais a muitos incrédulos ehereges. Nesse momento os jesuítas, embora pouco interessados pelas ciências secretas que nessaépoca estavam em moda, procuraram tirar partido do hermetismo para converter protestantes,judeus e muçulmanos.

A doutrina secreta esotérica, que atraiu alguns membros da Companhia de Jesus - não dosmenos ilustres - não era com certeza de uma ortodoxia muito rigorosa. Isso não fazia grandediferença, pois não era praticada publicamente (3). O esoterismo não podia ser dirigido àsmultidões, que exigem um alimento espiritual muito mais grosseiro. Mas, existe sempre umaaristocracia intelectual à qual é possível satisfazer, sem ceder em nada, graças aos admiráveisrecursos do simbolismo.

"Não falemos inutilmente, observemos o silêncio preferido pelos Iniciados e tracemos asfiguras que são enigmas propostos à sagacidade do observador". Este foi o método tradicional queos jesuítas decidiram utilizar.

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A rigor, o método serve para propagação das verdades transcendentes. Os que tem olhospara ver, conseguem percebê-las. Os outros as contemplam com credulidade sem nada entender.

Cada um percebe em realidade, de acordo com seu grau de iniciação. Esta é a pura iniciação,a iniciação isíaca ou natural, independente de toda organização concreta.

Esta iniciação está na própria natureza das coisas. Sempre existiu, por cima das igrejas e dasassociações iniciáticas, necessariamente incapazes de realizar o supremo ideal da iniciação.

Em outros tempos acreditava-se que - sobre o esoterismo e a liberdade de interpretaçãodevia assentar-se um dia a Igreja do Espírito Santo, vinculada a São João Evangelista, do mesmomodo que a Igreja de Jesus Cristo, conservadora do esoterismo e da disciplina dogmática, estáconstruída sobre o nome de São Pedro (4). Entretanto, alguns jesuítas, ao que parece, perceberam oaudaz projeto de colocar-se à testa de uma Igreja desenvolvida, uma Igreja que realizará ocatolicismo integral, isto é, aquele verdadeiramente universal.

Se fracassaram em sua intenção, é porque não souberam colocar-se nas condiçõesindispensáveis para trabalhar utilmente em prol da realização da Grande Obra. Deveriam então terpassa do o estandarte a outros, que talvez tivessem melhor sorte.

Examinemos agora o famoso quadro que o Sr. de la Rive se apressou a taxar de maçônico,empregando uma palavra pouco apropriada.

Com efeito, um símbolo não é necessariamente maçônico pelo fato de que os franco-maçons o tenham empregado. O que de outros tomamos, não se torna somente por isso propriedadenossa. Temos que procurar ser honestos e dar a cada um o que é seu.

Sob este ponto de vista, não contamos com um patrimônio muito grande. Inteiramentenossos tão somente temos os instrumentos dos construtores. As colunas J e B , a EstrelaFlamejante e é tudo. O Triângulo equilátero, com ou sem o olho, não nos pertence especialmente,do mesmo modo que a Acácia, nossa planta sagrada, é também a dos judeus do oriente.

Ocorre que entre todos os símbolos acumulados na tela da igreja de São Maurício, não háum só que seja maçônico no verdadeiro sentido da palavra. Em suma, poderia atribuir-se estecaráter ao pequeno templo que a Virgem suporta com a sua mão esquerda. De uma de suas janelassai uma longa haste horizontal, de cujo extremo pende um prumo. É pouco para excomungar porisso toda a composição.

Entretanto, o Sr. de la Rive encontrou quase todos os outros símbolos nos documentosmaçônicos. De acordo, mas, também teria podido encontrá-los em outro local, com um pouco maisde trabalho.

Esclarecido este ponto, ocupemo-nos do enigma gráfico que nos é proposto. Não temos apretensão de explicar tudo, e nossa ambição limita-se a preparar o terreno para os que vindo depoisde nós, poderão ir mais além com suas investigações.

Como acertadamente observa o Sr. de la Rive o pintor deve ter-se inspirado na IV égloga deVirgílio, que anuncia o próximo advento da Idade de Ouro, profetizada pela Sibila de Cumas. Opoeta possui a intuição de que o século de ferro vai terminar, graças à intervenção de uma nova raçaque descerá das alturas dos céus. Astrea, a Virgem, conceberá o Salvador, que por sua vezestabelecerá em todo o mundo o bendito reino de Saturno.

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Esse reino corresponde, segundo o Sr. de la Rive, ao Deus dos Cristãos, e a ele é feita alusãono adveniat regnum tuum do Pai Nosso.

Também os filósofos herméticos, em sua condição de iniciados, acreditaram napossibilidade de que, por meio da inteligência, da justiça e da virtude, reinasse a felicidade sobre aTerra. Sua Grande Obra não buscava outra coisa, pois, a transmutação do chumbo em ouro erapara eles um símbolo, que tão somente os ignorantes e os avarentos tomavam ao pé da letra.

Nestas condições, não é surpreendente que figure, no quadro de São Maurício de Reims, àdireita do espectador, o templo da Sibila de Cumas. Este edifício circular é o domínio de Saturno,como é indicado pela foice, atributo do deus, que sai de uma janelinha. Saturno ceifa o que já viveu,provoca a decomposição do que já não tem razão de ser, convertendo-se assim no grandetransformador.

A Sibila está no umbral do templo, com a mão direita colocada sobre uma harpa, enquantocom a esquerda segura um livro aberto marcado com o número 9.

Esse número também é o de Saturno, ao qual diz respeito o Arcano IX do Tarot (5), comotambém a nona sephirot, Yesod, o Fundamento (6).

Este é por excelência o número do mistério, que a nossa inteligência é chamada a penetrar.O livro da Sibila, por conseguinte, é o livro da ciência das coisas ocultas. É possível que sua arteadivinhatória esteja baseada na percepção da música das nove esferas celestes, da qual a harparecebe os acordes.

As moedas de ouro, que caem aos pés da Sibila, aludem aos oráculos que foram vendidos aTarquínio, o soberbo. Ou serão como no Arcano XII do Tarot, um símbolo de desinteresse ? Nãoesqueçamos que a condição indispensável para dedicar-se à adivinhação é saber despojar-se dasmaterias valiosas.

É surpreendente ver os tritões que sopram trombetas, na cúspide da cúpula que forma o tetodo templo sibilino. Como é possível que esses monstros aquáticos tenham buscado uma posição tãoaérea ? É mister admitir que são habitantes do Oceano formado pelas águas superiores dofirmamento, representado pelo teto do templo. A missão deles consiste em sussurrar às almassensíveis, a premonição daquilo que preparam para realizar. Por outro lado, essas trombetasdirigem-se a um navio que navega num mar agitado e cujas velas parecem estar enfunadas pelosopro dos tritões.

Tornaremos a nos ocupar desta nave e de sua carga, depois de indicar o significado da figuraprincipal do quadro que nos interessa.

Desta vez, o pintor deve ter-se inspirado no Apocalipse, que no CapítuloXII assim reza:

“E um grande sinal apareceu no céu; uma mulher vestida do sol e a luasob seus pés, e sobre a sua cabeça uma corôa com doze estrelas.”

"E estando grávida, clamava com as dores do parto e sofria o tormento dedar a luz."

Depois, fala de um grande dragão vermelho, cuja cauda varre a terçaparte das estrelas do céu e as atira na terra. Este monstro deteve-se diante da

mulher que devia dar a luz, com a intenção de devorar seu filho assim que o tivesse gerado.

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Mas, houve uma batalha no céu “e foi lançado fora aquele grande dragão, a serpente antiga,que é chamada Diabo ou Satanás, o qual engana todo mundo. Foi arremessadopor terra, e seus anjos foram atirados com ele. “E quando viu o dragão que elehavia sido atirado por terra, perseguiu a mulher que havia gerado ao filhovarão.

“E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que dapresença da serpente voasse ao deserto...”

Para os iniciados, esta mulher representa a substância sublimada naqual se encarna o pensamento divino.

Este emana de Deus Pai, visto como o ponto de partida eterno e onipotente de todaatividade e, em consequência, como o Princípio universal do pensamento.

Seu filho é a irradiação imediata de si mesmo, de onde sai seu Pensamento como ação, suaPalavra ou Verbo, que é a própria ação da divindade.

Do Pai e do Filho, procede simultâneamente o Espírito Santo, resultado direto dopensamento divino, ainda não expressado ou formulado, mas concebido espiritualmente pelamentalidade divina, se assim pode ser dito.

Este pensamento transcendente, inacessível em sua própria essência, só pode se manifestarcom a condição de tomar corpo num entendimento que se tornou receptivo em virtude de suaexcepcional pureza. Deste modo, explica-se a operação do Espírito Santo, que fecunda a Virgemimaculada do catolicismo.

Se esta Virgem apresenta esotericamente analogias com Isis e muitas outras divindadespagãs, o motivo é que, no fundo, existe um só esoterismo (7), que se manifesta de diversas maneirasde acordo com a fantasia dos poetas-filósofos, criadores dos primitivos mitos. Nessas condições, oscatólicos atuais carecem de sincretismo quando se negam a reconhecer a sua própria Virgem naRainha do Céu glorificada no quadro de São Maurício de Reims, pois é sem dúvida a Mãe doCristo que o artista quis representar. É verdade que o Cristo dos reverendos padres do século XVIInão coincidia talvez, com o Menino Jesus de nossas devotas, pois correspondia a uma concepçãoinfinitamente mais elevada.

Definitivamente, se a imagem suspeita peca de alguma forma sob o ponto de vista religioso,é exatamente por seu excesso de catolicismo, no próprio sentido da palavra. Pretendeu-se catolizarou universalizar muito além daquilo que pode admitir a fé pouco iluminada de um rebanho que nãofaz honras a seu divino pastor.

Para interpretar com alguma precisão o simbolismo iniciático da Idade Média e doRenascimento, nada pode servir-nos melhor que as vinte e duas chaves cabalísticas do Tarot.

Nelas é preciso distinguir o verdadeiro Alfabeto dos iniciados, mediante o qual um espíritosagaz pode aprender a decifrar determinados enigmas gráficos possuidores da missão de traduzirsegredos cuja difusão tornar-se-ia perigosa sem discernimento.

Assim, coloquemos ante nós, as figuras, deste misterioso tratado de alta filosofia, ebusquemos nele a Virgem do quadro de São Maurício.

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Reconhece-la-emos imediatamente na lmperatriz do Arcano III. Esta Rainha do Céu éapresentada como a Mãe Virginal de todas as coisas. Porta o cetro da fecundidade universal, e

relaciona-se assim à Vênus-Urânia e à Ishtar babilônica, considerada como ageradora das formas ideais ou arquétipos de acordo com os quais tudo se cria.Seu domínio é o oceano luminoso no qual se reflete o pensamento criador,cujas ondas correspondem às Águas superiores do Gênese, separadas pelofirmamento das águas inferiores. Possui também as asas que lhe foramatribuídas pelo vidente de Ptamos; doze estrelas que formam uma coroaresplandescente e seu pé descansa sobre uma meia-lua. Efetivamente, trata-sede um personagem etéreo, que reside nas regiões sublimes da puraintelectualidade, por cima do mundo mutável ou sublunar. Pouco a par dosrefinamentos simbólicos, a maior parte dos artistas permite-se colocar o pé daMadona na parte oca da meia-lua, com as pontas voltadas para cima.

Entretanto, encontram-se virgens que apoiam o pé na convexidade de uma meia lua com as pontaspara baixo.

Do ponto de vista hermético, isto é muito mais correto, pois o conjunto do Arcano III,simplificado na objetividade de um ideograma, é sintetizado no símbolo de Mercúrio com as pontaspara baixo .

O elemento central deste símbolo, o círculo vazio, representa a substância primordial,universal e necessariamente una. Conforme Pernety, é o Alumen, “princípio salino dos outros sais,dos minerais e dos metais.”

Conforme estiver a meia-lua situada por baixo ou por cima deste círculo, obtem-se o SalAlcalino ou o Sal Gema , que participam igualmente da substância caótica universal. Masa primeira é uma substância dominada pela lua, e portanto infinitamente mutável. É a matériaprima da Grande Obra, o terreno de todas as metamorfoses da natureza e da arte. Enquanto que asegunda, representa uma substância que se tornou imóvel, porque todo tipo de elaboração possívelnela foi realizado, no sentido de que escapa a todas as influências exteriores, tornando-se apta paraexercer uma poderosa ação modificadora sobre tudo o que está sujeito a alterações.

Mas, em que sentido é colocada a cruz junto a estes elementos tãosignificativos ? Longe de referir-se à morte, como poderia ser plausível deimaginar, esta é o símbolo da vida. Ela surge da interferência de doiscontrários: o Agente, representado pelo traço na vertical , e o Paciente, aoqual corresponde o traço horizontal . Não existe vida sem trabalho, semuma elaboração do passivo pelo ativo, da matéria inerte por uma forçainteligente.

Virgem da Sacristia da Igreja de Santo Tomás de Aquino, em Paris.Escultura em madeira do século XVII. O artista espanhol mostrou-seprudente na aplicação do simbolismo tradicional.

Da mesma forma que a meia-lua, a cruz pode ser desenhada tanto naparte de cima como na de baixo de um elemento do simbolismo alquímico.No primeiro caso, indica um trabalho realizado, uma pefeição adquiridadefinitivamente. No segundo, trata-se, ao contrário, de uma ação vital quese pretende exercer, e indica virtuosidades latentes, concretizadas como sefora num germe, à espera de desenvolvimento.

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O símbolo não pode relacionar-se a não ser a uma entidade sutil, que alcançou seusupremo grau de evolução, de pureza e de poder ativo. Os hermetistas atribuíram este símbolo aoseu Antimônio, que indica a Água permanente, a água celestial, por meio da qual o ouro filosóficoé purificado e torna-se limpo de toda impureza. Buscando este princípio em nossa personalidade,reconheceremos aquilo que os nossos pais chamavam a Alma Intelectual, que tende a nos separarda matéria (8), nos elevando e espiritualizando.

A este princípio desmaterializado de elevação, opõe-se Vênus , a Alma instintiva, quecontinuamente solicita ao espírito que desça à matéria para encarnar.

Em resumo, os símbolos e combinam-se em , ideograma da virgem celeste quepersonifica a espiritualidade mais elevada, a Inteligência (Binah) ou acompreensão (Gnose), em oposição à brutalidade, à ignorância, àincompreensão, ou à parvoice, representadas pela Besta do Apocalipse, pelaSerpente Piton ou o Dragão, cuja raiva cega resulta impotente contra aserenidade da Soberana do reino do espírito.

Este monstro é uma espécie de esfinge surgida dos quatro elementos. Aparte anterior de seu corpo é um leão que lança fogo pela boca (Terra e Fogo),mas tem asas (Ar) e o resto é de um animal aquático (Água). Representa amatéria elementar que deve ser vencida, dominada e domesticada pelaInteligência.

No Arcano XI do Tarot encontramos a mulher do Arcano III mantendo aberta e sem nenhumesforço a goela de um leão furioso. É a Força, não a energia física, mas, o poder irresistível dopensamento, que haverá de triunfar sobre toda brutalidade.

Esta mesma mulher encontra-se no Arcano VIII, sob o aspecto da Justiça (9). Aquipersonifica a lógica necessária, a razão irresistível que formula a lei universal segundo a qual tudose realiza na natureza. É o princípio diretor de toda a vida orgânica, pelo qual se esclarece o caosprimitivo, e do qual surge essa ordem admirável que dá a oitava sephira e o nome Hod, significandoEsplendor, Glória.

É possível questionar se esta sephira não estaria simbolizada pelas oito estrelas que noquadro de São Maurício, rodeiam a cabeça da Virgem.

Em contraste com essa coroação de pentagramas, vemos aos pés da Virgem, e no ânguloexato da figura, um globo alado, que um grande círculo divide lateralmente emdois hemisférios. Este detalhe tem sua importância, pois remete-nos de volta aoNitro , também chamado Cerbero, ou Sal Infernal, pelos alquimistas. Aeste respeito não esqueçamos que uma das mais misteriosas interpretações dasiniciais INRI: lgne Nitrium Roris Invenitur - Por intermédio do fogodescobre-se o nitro do orvalho - supõe que o orvalho é a água celestial que écondensada na superfície dos corpos. É o depósito universal da naturezaconcentrado no nitro, que se apresenta como uma substância essencialmente doespírito ativa, veículo das energias mais ativas. No ente humano, é o que poderiaser chamado de Alma Motriz, que estimula todos os impulsos irresistíveis.

O Nitro do Orvalho, é o Diabo que temos no corpo e que colocamos a serviço do idealismocelestial. É a ação impaciente que obedece à inspiração.

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A energia impulsiva manifesta-se especialmente sob o império de Vênus, a mulher que comum coração exaltado na mão, escapa por assim dizer, do globo alado. É a paixão que se exterioriza,dando nascimento ao Amor, isto é, a uma força cega - Cupido tem os olhos vendados - submetida aleis rigorosas. Esta sentimentalidade, de ordem mais fisiológica, está contida no domínio sub-lunarpor cima do qual se eleva a pura espiritualidade.

Esta tem por mensageiros dois anjos bochechudos cujas cabeças aparecem em âmbos oslados da Virgem. Eles sopram o vento do Espírito. O da direita possui uma asa vermelha, e o daesquerda uma asa branca. Estas cores correspondem respectivamente às colunas Jakin e Booz, poisa inspiração pode incitar aos atos (vermelho) ou iluminar o entendimento (branco).

O conjunto do quadro de São Maurício, por outro lado, leva em consideração esta dualidade.Tudo o que está à direita da Virgem vincula-se à prática da Grande Obra, à sua realização pelocaminho úmido ou místico, representado pelo navio que é movido pelas ondas do Oceanocósmico. A esquerda, pelo contrário, está reservada à teoria, à contemplação através da qual oAdepto conquista os segredos de uma Sabedoria que lhe basta por si mesma (10). Neste sentido, agede acordo com a via seca ou racional, sem abandonar a terra firme, cuja solidez oferece as bases deum positivismo transcendente.

Fiquemos, por enquanto, no terreno da Gnose ou da iluminação espiritual, cujo temploideal é apresentado pela Virgem.

Este edifício circular mostra quatro janelas no meio das quais estão os emblemas dos quatroelementos: a foice de Saturno (Terra), o tridente de Netuno (Água), o raio de Júpiter (Fogo) e ocaduceu de Mercúrio (Ar). Este quaternário está unificado pelo Galo, sobre a cúpula do santuário.Esta ave, dedicada a Mercúrio na sua condição de deus da sutileza e da inteligência, anuncia oamanhecer do dia que deve despontar nos espíritos. Faz alusão aqui à misteriosa Quintessênciasubtraída de toda percepção sensível e que só podemos conceber através de um aprofundamentocada vez maior. A necessidade de descer em si mesmo e de penetrar até o centro do qual surge a luzinterior, a que ilumina todo homem vindo a este mundo, está indicada pelo prumo suspenso de umabarra horizontal que sai de uma das nove janelas superiores do lado direito do templo, como se forao braço de uma forca.

Logo abaixo do templo e sob o prumo há um personagem vestido de vermelho, no qual édifícil reconhecer São Joaquim, o avô materno de Jesus. Por que razão haveria de ter um gorro dedoutor o marido de Santa Ana ? Por que figura o caduceu entre seus atributos ?

O Sr. de la Rive perguntou se não estaríamos à frente do arquiteto do Templo de Salomão,mas como nada confirma esta hipótese, o diretor de France Chretienne coloca um sacerdote de Isisno lugar de Hiram. Parece-nos que acertou neste particular, pois deve tratar-se de um Adepto,instruído na ciência de Hermes e armado dos poderes que lhe confere a alta iniciação. Osinstrumentos do personagem não deixam nenhuma dúvida a este respeito.

O mais notável é o caduceu, vareta de ouro ao redor da qual se enroscam duas serpentes querepresentam as correntes de polaridade contrária do grande agente mágico, conhecido pelosocultistas com o nome de Luz Astral. O iniciado tem de saber captar as forças a fim de aplicá-las(11) à produção de efeitos considerados como milagrosos pelo vulgo, que ignora a causa naturalainda que misteriosa.

Ele que é ao mesmo tempo filho e amante de Isis, em outras palavras, discípulo e confidenteda natureza, une ao caduceu a baqueta mágica e o anel de Hermes.

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A baqueta é a imagem do condutor sutil, que estabelece a relação com o mundo supra-sensível. Aquele que a possui está dotado de uma espécie de sexto sentido, guia indispensável àsoperações mágicas.

Quanto ao anel provido do Sêlo hermético, implica participação na aliança universal dosque conhecem os segredos da eterna tradição, ou Cabala.

A esses instrumentos reunidos na mão esquerda, lado passivo ou receptivo, juntam-se o livrofechado e a faca do sacrificador, que se encontram na mão direita, lado ativo.

O livro encerra a obra pessoal do iniciado, que neste consignou o resumo, a soma de sua fésecreta, as verdades que conseguiu discernir por seus próprios esforços de meditação.

A faca serve para dissolver, do mesmo modo que o caduceu permite coagular e fixar. Oadepto deve, com efeito, saber intervir a tempo para dispersar o acúmulo de energias inconscientescuja explosão provocaria as piores catástrofes.

A espada mágica desempenha um papel análogo afastando os fantasmas, pois ameaçaatravessar o envoltório que os rodeia, uma película semelhante a uma bolha de sabão. O gládioVerbo (Razão) é a arma do Sábio.

Se o adepto está representado com os pés descalços, é porque foi admitido no Santo dosSantos. Permite-se-lhe pisar o solo santificado, que é mortal para os profanos, mas com a condiçãode que se coloque em comunicação direta com a materialidade divinizada, com o que é divinotraduzido em imagens e símbolos.

O calçado torna-o insensível aquilo que emana das profundezas, do interior da (Terra) Isisinspiradora.

Diante do adepto existe uma cesta com uns instrumentos de escriba ou de gravador. Vê-seentre outras coisas, um feixe difícil de descrever, no qual o senhor de la Rive reconhece umasespigas de trigo. O pintor, que geralmente sabe caracterizar os objetos, deve aqui ter representadooutra coisa. Não acreditamos que exista referência à senha dos Companheiros (12). Provavelmentetrata-se de alguns lápis, uma régua, papéis e uma pena. As duas pedras que estão ao lado podem sermatéria da pedra filosofal, matéria ordinária e comum em aparência, que só o sábio sabe descobrir eapreciar.

À esquerda do adepto, vestido com uma espécie de hábito vermelho (atividade masculinaJakin) há uma mulher inteiramente vestida de branco (receptividade feminina, Booz). É asacerdotisa de Isis, companheira inseparável do adepto, posto que representa suas faculdadesintuitivas. A chama que brilha à altura do ombro esquerdo ilumina o espírito com sua luz filosofal,dirigindo-se mais ao sentimento do que à fria razão. Existem verdades, com efeito, que exigem sersentidas, pois se por um lado escapam ao controle da lógica, não é por isso que deixam de impor-seao coração com um irresistível poder. São as verdades que nos protegem do depticismo estéril,destruidor de toda convicção. Do lado esquerdo da sacerdotisa pende uma bolsa, alusão às esmolas,à caridade, ao sentimento de comiseração para com o próximo, sem o que os iniciados maisbrilhantes não seriam mais do que bronze ressonante e címbalos retumbantes.

A companheira do adepto possui ainda um espelho na mão direita, no qual se refletem asimagens da luz astral. Essas imagens são vivas, rondam as imaginações, provocam os sonhos,alimentam-se dos pensamentos que sugerem, dos desejos que excitam e das aspirações quefomentam. Renovam-se sem cessar através das idades, fantasmas mentais que servem de veículo a

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esta Tradição imperecedoura, independente da memória dos homens ou dos documentos materiais,que está escrita em caracteres etéreos no livro misterioso da grande Reveladora.

Os símbolos que restam a ser examinados são mais tipicamente alquímicos, como porexemplo, o vaso oval que a Virgem porta em sua mão direita. Este é o ovo dos filósofos, ou dito deoutra forma, o vaso da natureza no qual ocorrem as operações da Grande Obra, que conduzem aonascimento da Criança Filosófica, destinada a "enriquecer e aperfeiçoar a seus irmãos".

Este Ovo encerra o Sujeito da Obra, que é introduzido depois de ter sido cuidadosamenteescolhido e purificado de todo corpo estranho que acidentalmente pudesse ter aderido à suasuperfície. Trata-se, em outros termos, da escolha do prof .'. que é despojado de seus metais antesde ser encerrado na Camara de Reflexões.

A morte simbólica do recipiendário corresponde à putrefação da matéria, que tomou a cornegra (Prova da Terra).

A decomposição que putrefaz, fase indispensável de toda regeneração, tem por finalidadeseparar o sutil do espesso. O que é inerte e pesado, cai ao fundo e converte-se em presa do Corvo deSaturno, pássaro voraz, símbolo de uma energia ávida e constritiva, base do egoísmo individual. Emcontrapartida, os princípios etéreos desprendem-se para alcançar as alturas (Prova do Ar).

Este desdobramento não é definitivo, pois ao elevar-se, as partes evaporadas condensam-separa tornar a cair em forma de chuvas sucessivas que lavam progressivamente a matéria, fazendo-apassar do negro ao branco passando pelos matizes intermediários do cinzento (Prova da Água).

À matéria, que alcançou o grau de pureza que assinala uma brancura perfeita, só lhe faltaalcançar o vermelho por meio da exaltação do ardor sulfúrico (Prova do Fogo).

A obtenção desta cor indica ter-se completado a Obra Simples, que corresponde àmedicina de primeira ordem, ou à iniciação no grau de aprendiz.

O recipiente filosófico termina num tubo dilatado do qual saem alguns cravos que lembramcom suas cores as transformações ocorridas na matéria da Grande Obra. Os matizes em mutaçãoque são produzidos de forma efêmera entre o negro e o branco, estãocaracterizados pela cauda do pavão, que aberta, coroa o Ovo dos Sábios. Comosuporte, o Ovo possui quatro cabeças de águia em forma de Cruz, que indicam afixação quaternária, através da qual o mercúrio mais sublimado e integralmentepurificado, toma contato com a matéria elementar (Iluminação do Companheiro)que depois de ver a luz, para si a atrai saturando-se e transformando-se naEstrela Flamejante.

O Ovo está rodeado por uma espécie de esfera celeste e obliquamente atravessado por umafaixa horizontal, na qual só existem quatro signos que se sucedem em ordemanormal. Ao Câncer e ao Leão sucede, com efeito, a Balança e esta é seguidapor Peixes. As operações da Grande Obra que correspondem a estes signos são adissolução , a digestão , a sublimação , e a projeção . Por meio destaúltima realiza-se a suprema transmutação, objeto da medicina de terceira ordem(Mestrado). O centro do círculo zodiacal coincide com o do ovo filosófico e estecentro está marcado pelo símbolo do alúmen , como se desse a entender que

o ponto matemático central de cada ser confunde com o infinito . Um segundo círculo douradointerfere no primeiro e o domina. Esta é uma alusão ao resultado da sublimação de suapersonalidade.

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Nossa tarefa torna-se extremamente difícil quando tentamos esclarecer os mistérios do navioque navega à direita da Virgem. Este é o barco de Isis, que torna possível a travessia do Oceanovital. Suas velas enfunadas pelo sopro do Espírito Universal recolhem o entusiasmo propulsor queprovocou a queda do ciclope ao mar.

Este personagem, que deveria estar ocupando o mirante do mastro maisalto, perdeu o equilíbrio por influência da embriaguez astral. Do mesmo modoque o louco do Tarot, converte-se no instrumento passivo da força que dele seapodera. Não se controla e abandona-se quase sem reservas a seus impulsos,sem raciocinar. Seu único olho, com efeito, só lhe permite parcialmentedistinguir, mas aquilo que perde em clarividência ele o ganha em força bruta.Dispõe de um enorme poder meio cego, cujo símbolo é o bastão que porta emsua mão esquerda (Poder do Crente incapaz de duvidar). A flauta que carregapendurada ao pescoço, permite-lhe o desempenho do seu papel na orquestra dodeus Pan (aptidão do encantador de animais selvagens).

Este inquietante impulso deve ser atirado para fora do navio místico. Sua presença a bordotraz perigo para a travessia. Para que esta possa realizar-se em segurança, é mister que o vigia sejaum homem sensível e em plena posse de si mesmo. É o que ocorre com o homem que se encontrano segundo mastro, amarrado por uma corda que Mercúrio desata, enquanto segue com o olhar oCíclope que cai. Ele só poderá evitar para si mesmo idêntico destino, mediante um absolutodesinteresse. Entretanto, a tirania dos apetites instintivos opõe-se, como contra-peso necessário aototal esquecimento de si mesmo. Disso resulta um doloroso conflito, ao qual faz referência o corvoque fere o peito do iluminado para castigá-lo por ter imitado a Prometeu, roubando o fogo Celestial.

Este fogo, por outro lado, é o que provoca a precipitação do Ciclope do mesmo modo queprovoca no Tarot a catástrofe do Arcano XVI. A silhueta do Ciclope coincide também, com a do reique cai do alto da torre fulminada, a chamada Casa de Deus. No quadro de Reims o raio ésubstituído por uma espécie de cometa, que possui na cauda uma cornucópia surgida do centro deum círculo luminoso inscrito em um triângulo onde também está o símbolo alquímico do Fogo .O conjunto tem por objetivo lembrar-nos que a felicidade perfeita, a qual confere a riqueza supremae a verdadeira prosperidade, encontra sua origem no fogo celestial que incandesce as almas puras.lgne Natura Renovatur Integra (13).

Na popa do navio sagrado, junto a um terceiro mastro partido, encontra-se a Criançafilosófica, sentada sobre um coração irradiante. Este timoneiro é a Razão (Verboencarnado, o Filho de Deus dos cristãos, Buddhi dos teósofos), que se apóiasobre o sentimento e a luz que dele se desprendem para manifestar-se comoprincípio da consciência diretora das ações humanas.

O Globo do mundo, que o Redentor apóia sobre os joelhos, é o símboloda alma universal das coisas, cujo destino é evoluir para alcançar finalmente aperfeição. Esse é o sentido do símbolo alquímico no qual a cruz domina oideograma da mineralidade da Terra como ser animado.

A bordo do navio a responsabilidade do comando cabe ao Rei, representando a Vontadecujas ordens são determinantes. Por cima de sua coroa lê-se o número 1266, e entre seu cetro e oombro direito o número 1137.

Renunciamos a esclarecer o alcance destas duas cifras, novamente inscritas no globo aladoque se encontra aos pés da Virgem. Pode ser que possuam um valor convencional de contra-senhas;

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que o primeiro se refira ao ato que formula teoricamente as volições e o segundo à sua execuçãoprática. Estas hipóteses interpretativas carecem de base sólida. Comprovando que 1 + 2 + 6 + 6 = 15e que 1 + 1 + 3 + 7 = 12 não teremos avançado muito pois o enigma permanece.

À frente do Rei e do Menino-Timoneiro, um ancião vestido com uma espécie de túnicainclina-se sobre a borda. Na mão direita porta um ramo florido de aveleira e na esquerda duasavelãs verdes, que oferece sem dúvida ao dragão da vida elemental. É o Mestre da Vitalidade(Prana ou Jiva dos budistas) e, em tal condição, domina a Alma Corporal (Vênus ). Possui aarte de expandir a vida (ramo florido) ou de concentrá-la (frutos).

Na metade do barco posta-se outro ancião vestido de negro. Na sua mão esquerda porta umlivro aberto sobre o qual se eleva uma minúscula cabana. Estamos aqui ante esse nó dapersonalidade no qual tudo se apóia, chamado Corpo astral pelos ocultistas ocidentais e LingaSharira pelos budistas. Por outra parte, o personagem não é outro que o Ermitão do Tarot (ArcanoIX), que equivale a Twashtri, o Carpinteiro dos Vedas, a quem se atribui a tarefa de construir aforma astral, Fundamento do organismo material, (Yesod, 9a sephira).

Os dois mastros que sustentam as velas unem-se pela base, por trás de um guerreiro comcapacete e armadura, que porta na mão um bastão simples, e na esquerda apresenta-ao velho jácitado uma estátua de Minerva. Este é Marte, o entusiasmo ativo, que coloca sua energia a serviçode uma vontade sabiamente equilibrada.

Como último dos navegantes, citaremos ao jovem Hércules identificado por sua maça e apele de leão que lhe serve de toga. As patas dianteiras do animal cruzam-se sobre o peito doadolescente, que lembra assim ao Namorado do Tarot (Arcano VI), que permanece às ordens doBom Pastor. Por outro lado, como explicar, sem a ajuda desta figura, o Y invertido que se destacaclaramente na borda do navio, à frente do nosso personagem ? Esta letra indica a bifurcação da rota,ante a qual o Namorado se detém, perplexo, sem saber se deve tomar à esquerda ou a direita, já quese vê solicitado por duas mulheres igualmente belas que simbolizam, uma delas: Gozo,Complacência, Malícia, e a outra: Trabalho, Austeridade, Virtude. Hércules no começo de seustrabalhos, teve que escolher entre duas formas de ver a vida. Portanto, o jovem herói representa olivre arbítrio, e está situado apropriadamente, na parte dianteira do barco, sobre Marte, pois estesomente exerce sua energia por intermédio da determinação voluntária.

Esse barco representa o organismo que transporta o setenário da personalidade consciente,liberada de seus instintos primitivos (o Ciclope que cai ao mar). Na realidade há oito personagens abordo, e um deles é um rei coroado com o cetro na mão. É o capitão que comanda a tripulação istoé, o espírito individual, senhor do complexo pessoal. Está próximo ao timoneiro, que é aconsciência que se baseia no sentimento de piedade que a une ao Universal (religião no sentidomais elevado da palavra). Um ancião vestido de branco forma um triângulo com os dois primeirospersonagens. Inclina-se sobre o oceano, depósito da vida, e em direção ao dragão, condensador daenergia vital. Segura na mão um ramo florido e oferece frutos, como se quisesse manter a bordo avitalidade que floresce na castidade. O segundo ancião vestido de escuro é a experiênciaconstrutiva. Possui a tradição (o livro), que representa a proteção orgânica. Marte defende apersonalidade contra o inimigo exterior. É o executor das ordens do rei, que lhe transmite o livrearbítrio simbolizado pelo jovem Hércules na proa, sob o olhar da consciência timoneira. Resta ovigia, atado por Mercúrio à parte alta do grande mastro, com o qual forma unidade, a fim de ambosestarem atentos ao canto das sereias. É a intuição, que pressente e adivinha sob uma judiciosasutileza mercurial. As velas estufam com o intrépido sopro do Espírito.

Daquilo que já foi dito resulta que o quadro analisado revela um simbolismo que, se bemnão é o da mística cristã normal, não deixa entretanto de se religioso. É iniciático, mas inspira-se no

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hermetismo mais elevado, sem que possa entretanto ser diretamente relacionado às alegoriasmaçônicas. Encontramo-nos em presença de um exemplo de arte católica que não deveriaescandalizar aos fiéis.

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UM QUADRO ALQUÍMICO

Sob este título, o Vrijmetselaar (14) de fevereiro de 1908, trata de forma extensa de nossoestudo : “Um simbolismo inquietante”. (vide capítulo anterior).

Algumas de nossas interpretações determinaram comentários dos quais queremos fazer umarápida análise.

A atenção do crítico holandês dirige-se, antes de mais nada, ao templo de Saturno, situado àdireita do quadro da igreja de São Maurício de Reims.

A foice e o relógio de areia nem sempre foram atributos de Saturno, que os latinosrepresentavam primitivamente sem asas e com uma única serpente. Deus dos campos, Saturnoensinava a arte da jardinagem sem desdenhar a poda dos vinhedos e das árvores frutíferas. Comosempre, a mitologia popular servia de véu a um profundo esoterismo. Governar a seiva vital, sereconômico em seu uso, dirigi-la tão somente aos ramos que devem frutificar, é a missão do deus,que é implacável com a madeira morta e os brotos improdutivos. Já não é o destruidor cego queceifa sem discernimento, mas o agente do progresso por seleção, princípio regulador da produçãovital. Isto significa que a morte só serve para reforçar a vida fecunda e produtiva, que é a leiuniversal.

A Sibila é a sacerdotisa do Templo de Saturno, porque a adivinhação baseia-se nacompreensão das causas ocultas nas profundezas que são o domínio desse deus. A unidadefundamental das coisas, ser-nos-ia revelada se pudéssemos penetrar até a causa das causas, chave detodos os mistérios. Mas estes não poderiam ser revelados se as cordas da harpa na qual se apóia asibila, não se pusessem a vibrar.

Isto significa que não basta ao adivinho desenvolver sua penetração de espírito, suafaculdade de raciocinar e de compreender. Pois, onde estaria o adivinho se não tivesse essasensibilidade musical que percebe os acordes da sutil harmonia das coisas ? Para sermos maissensíveis, sejamos desinteressados como a Sibila, indiferentes às moedas de ouro que caem a seuspés; saibamos despojar-nos de nossos metais, como o exige o ritual maçônico. O egoísmo, o amoràs riquezas e a sede de honras paralizam a lucidez e erguem-se como um biombo ante nossa visãoespiritual. É a venda simbólica colocada sobre os olhos do profano que ainda não pôde conquistar aluz.

Os dois tritões que tocam a trombeta sobre a cúpula do templo de Saturno inspiraram nossosábio colega a fazer extensa dissertação sobre os Elementos, assimilados aos Quatro Ventos doEspírito. A esse respeito, nunca poder-se-á deplorar o suficiente as modificações que tem sido feitasnos antigos rituais maçônicos. Perdeu-se, diz nosso comentarista, aquilo que não se compreendia, e- algo mais desastroso ainda - aquilo que se acreditava compreender. Obstinando-se em confundiros Elementos dos antigos com os corpos simples da química moderna, não souberam atingir anoção do Quaternário elemental, agente de diferenciação da substância primordial una em suaessência. Terra, Água, Ar, Fogo, representam o que provoca o estado sólido, liquido, gasoso eetéreo. Além disso, tem-se estabelecido relações de analogia entre a Terra e o Corpo, a Água e aAlma, o Ar e o Espírito, o Fogo e o Princípio Motor universal.

Estas equivalências permitem examinar a prova da Água, na forma empregada em todas asiniciações, como a imagem da passagem da vida sensual à vida espiritual. O homem animal, imersonas correntes da objetividade, não consegue se libertar se não vencer sua animalidade. Emerge daÁgua ao estado de homem propriamente dito, isto é, de homem plenamente Homem. Ao atravessar

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os elementos, deixamo-lhes aquilo que a eles pertence, isto é, o que em nós existe de inferior.Sacrificando nosso egoísmo, deixamo-nos penetrar cada vez mais pelo divino que nos aproxima daUnidade. Um sentimento novo desenvolve-se então em nós, o do amor universal. Enquanto não oexperimentar-mos, não seremos mais que falsos iniciados, em que pese nossa sabedoria e nossostalentos adquiridos.

Inquirindo-nos agora sobre o tipo de água na qual nadam os tritões, mais aéreos queaquáticos, convém referirmo-nos à mitologia hindu. Esta mostra-nos Varuna, que já não é umsimples Netuno “senhor das águas”, como disse o Purana, mas o Rei primitivo de todas as coisas,cujo domínio, como o de Urano, é o da totalidade do mundo. É ele quem ao concretizar a substânciafluida universal - a Água simbólica - fez surgir do caos o Céu e a Terra.

Esta água, que é o elemento natural dos tritões, corresponde à matéria independente de todasas formas e de todos os aspectos que é capaz de revestir. Em si mesma encerra todas aspossibilidades de formação e de transformação, mas nenhuma arbitrariedade determina suas formasou as suas modificações. O futuro está encerrado nesta matéria, de forma tal que basta conhecer alei que a governa para possuir o dom da adivinhação e da profecia.

Ao sopro de Varuna corresponde o vento que vivifica o fogo do sol e o faz arder, do mesmomodo que provoca o brilho das estrelas, que sem ele extinguir-se-iam como carvão apagado. Estesopro governa até o menor ato das criaturas, pois nenhuma pode sem ele, nem sequer fechar osolhos uma única vez. Trata-se pois, do espírito que realiza na natureza a lei da manifestação divina,e por isto é dito que Varuna tudo conhece, o que foi e o que há de ser. Mas, o que foi, o que há deser, e o que é, tudo isso é uma única coisa, pois está compreendido dentro da unidade da próprianatureza.

Podemos agora compreender porque motivo os tritões, desde o seio da matéria, conferem opressentimento do porvir às almas fortes, que são capazes de não se distrair por aquilo que aNatureza quer lhes ensinar. Com efeito, a Natureza quer revelar seus segredos - inclusive os dofuturo a quem pela fiel busca procura a verdade. Aquele que quer escutar ouve sua voz e percebe asadvertências dos tritões.

O redator do Vrijmetselaar faz algumas observações interessantes sobre o prumo suspensodo bastão que emerge de uma das janelas do pequeno templo que a Virgem do quadro de Reimsergue com sua mão esquerda. Reconhece que nós fizemos uma interpretação até agora inédita desseprumo quando nos referimos à necessidade de descer em si mesmo para penetrar até o centro deonde surge a luz interior, a qual, segundo o Evangelho de São João, ilumina a todo o homem quevem a este mundo. Realmente, todos os autores que tratam do simbolismo maçônico, consideram oprumo somente em seu caráter de instrumento da arte de construir. Consideram-no, emconsequência, como um instrumento da construção na altura, sem perceber que serve igualmentepara o trabalho na profundidade. É o aprofundamento de um poço vertical, que atinge o fundo daTerra, à qual diz respeito o prumo da pintura alquímica. Está suspenso sobre a cabeça do adepto,que deve recolher-se em si mesmo para alcançar o centro de sua personalidade, onde descobrirá amisteriosa quintaessência, isto é a essência de seu eu real, livre de toda contingência da forma.“Conhece-te a ti mesmo” diz o prumo, pois aquele que socraticamente chega a conhecer-se a sipróprio aprende a discernir a Unidade fundamental na identidade do Todo. A custa doaprofundamento, o pensador consegue compreender mentalmente alguma coisa, e dela se apropriar,amando-a não só isoladamente, mas em relação à própria universalidade.

O Vrijmetselaar considera que a nossa interpretação do prumo merece ser adotada pelamaçonaria, pois possui a vantagem de explicar porque este instrumento é a joia do segundo

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vigilante, colocado na Coluna do Norte. Adaptando-se perfeitamente, esta interpretação é maisprofunda que aquela dada por Klein num estudo publicado na Ars Quator Coronaturum, vol. IX.

Nossa interpretação não contradiz aquela geralmente admitida, pois na maçonaria prática oprumo controla a verticalidade, seja ela referente a paredes, escavações ou mesmo uma torre. Parater solidez, um edifício não deve inclinar-se para lado algum.

Na maçonaria filosófica ou especulativa, o prumo é o símbolo de uma força centrípeta, deuma ação exterior, penetrante, como aquela que os alquimistas atribuem ao Mercúrio . Por outrolado, o nível, cuja forma lembra o ideograma do Enxofre , diz respeito ao princípio de expansãoindividual, que é traduzido por uma radiação que partindo do centro, propaga-se para o exterior.

Os maçons nunca duvidaram quanto à atribuição desses instrumentos móveis que são oEsquadro do Mestre, o Nível, jóia do Primeiro Vigilante e a Perpendicularidade vinculada aoSegundo Vigilante. Passar da Perpendicularidade ao Nível significa ser elevado do primeiro aosegundo dos graus. Os Aprendizes vinculam-se assim ao Segundo Vigilante e os Companheiros aoPrimeiro. Como os Aprendizes sentam-se no Norte e os Companheiros no Sul, a lógica requer queos Vigilantes sejam colocados de forma a observar, o Primeiro os Companheiros e o Segundo osAprendizes. Conforme os ritos, as exigências são satisfeitas de forma diferente. Fica estabelecidoque o Nível-Enxofre , iniciativa masculina ativa, corresponde ao Sol e a Perpendicular-Mercúrio , a receptividade feminina passiva, da Lua . Entretanto, o simbolismo maçônicopossui contradições que parece serem deliberadas. É assim, que o Nível, jóia do PrimeiroCompanheiro, corresponde à Aprendizagem e à Coluna Jakim, junto à qual os Aprendizes recebemseu salário. Estes passam pelas provas da antiga iniciação solar, masculina ou dórica.

Devem se concentrar em si mesmos, descer até o centro sulfúrico no qual arde seu fogointerior. Isolado cuidadosamente do exterior, este ardor individual deve ser exaltado de formaprogressiva. Subtraído a todas as influências externas, o Aprendiz dedica-se ao dorismo procurandoalcançar a posse de si mesmo. Filho de Apolo, combate as trevas que o rodeiam e acaba porconquistar a luz depois de uma série de vitórias sobre si mesmo, obtidas com sua própria energia.Quando obteve a vitória, exaltando o fogo solar que está nele, o Primeiro Vigilante recompensa-o eo admite no grupo dos Companheiros que estão sob a égide do Nível.

A perpendicular, que o segundo vigilante porta, convida o neófito a não depender a não serde si próprio, e de sua energia pessoal, e a penetrar em seu interior, atingindo os lugares infernaisaonde os heróis iniciam-se nos segredos da ação. Mas, o iniciado levanta-se depois de ter descido eao elevar-se descobre uma luz que já não é a do Enxofre , pois provém de todos os lados, doambiente infinito, domínio de Mercúrio . Na sua condição de Companheiro, cabe a Mercúrioconcentrar essa difusa claridade para condensá-la em torno de si, como atmosfera luminosa.Coagulando o Mercúrio , transforma se na Estrela Flamejante. Então, mesmo trabalhando sob adireção do Primeiro Vigilante, nem por isso deixa de ter dívidas com o Segundo Vigilante, quesempre guiará os seus passos. A atração do Mercúrio é uma operação feminina, o Companheirismoé jônico-lunar, e a Coluna Booz também o é, por oposição ao vermelho de Jakin.

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HERMETISMO E FRANCO-MAÇONARIA

Continuando nosso estudo sobre o quadro alquímico da igreja de São Maurício de Reims, éoportuno referirmo-nos aqui a um livro alemão, cujo autor, Wilhelm Hohler, trata de demonstrarque a franco-maçonaria se relaciona estreitamente com a alquimia, ou mais exatamente com afilosofia hermética. O trabalho ao qual nos referimos foi publicado por Weiss e Hameier, emLudwigshafen, em 1905, sob o título de Hermetische Philosophie und Freimaurerei. Narealidade não é mais do que uma seleção de textos cuidadosamente escolhidos entre os alquimistasmais conhecidos, como Basile Valentin, Michel Maier (Sendivogius), o abade Jean Tritheme,Raimundo Lúlio, Roger Bacon, Arnauld de Villeneuve, Jean d'Espagnet, Robert Fludd e outrosmenos conhecidos, como Benedictus Figulus, Egidius Gutmann, J. Stellatus, Alex von Suchten,Mylius, Janus Lacinius, Tanck, Leonhardt Thurneiser, etc. Estas citações tem-nos dado materialpara os capítulos seguintes. O Universo e o Homem - Astrologia - Teosofia - Magia - Cabala -Alquimia, este último dividido em sub-capítulos: Significado da palavra Alquimia - Os aspirantes -A tradição – Símbolos - A matéria - Os trabalhos - Cores, fogo, instrumentos - Ouro potável eChristus lapis.

O F .'. Hohler somente quis dirigir-se aos franco-maçons. Por isso deixa a seus leitores ocuidado de estabelecer as aproximações entre os textos alquímicos que ele reproduz e osensinamentos maçônicos que lhe devem ser familiares. Este método pode deixar perplexos aosespíritos preguiçosos que jamais se preocuparam em buscar o sentido de todos os enigmas que afranco-maçonaria propõe. Por outro lado, o método responde às exigências dos pensadores, que,não temendo o trabalho de reflexão, preferem que lhes sejam dados os elementos de um problema, enão uma solução formulada de forma mais ou menos dogmática. No domínio do simbolismo não énecessário detalhes muito grandes, uma vez que os símbolos iniciáticos correspondem a concepçõespouco compreensíveis por natureza, e que de modo algum podem ser reduzidos a simples definiçõesescolásticas.

Em última análise, estas não conduzem mais que às palavras, entidades inteiramentefalazes, com as quais sabem jogar os sofistas. A palavra é essencialmente o instrumento doparadoxo. Toda tese é defensável pela argumentação, que pode demonstrar o pró tão triunfalmentecomo o contra. Porque, longe de referir-se a realidades efetivas, concebidas em si mesmas, todadialética só coloca em discussão as imagens verbais, fantasmas de nosso espírito, que se deixadeslumbrar por esta falsa e vulgar moeda do pensamento.

Não é surpreendente, nestas condições, que dois filósofos de pensamentos opostos tenhamdividido a intelectualidade dos séculos passados. Um lado fundamentava seu ponto de partida nalógica de Aristóteles e pretendia atingir a verdade utilizando raciocínios rigorosos, baseados empremissas supostamente incontestáveis. Era a filosofia oficial, aquela que era ensinadapublicamente nas escolas, daí seu nome de Escolástica.

Antagonizando-a, existia uma filosofia que de modo geral foi sempre oculta, porque erarodeada de mistério e apresentava seus ensinamentos sob o véu dos enigmas, das alegorias ou dossímbolos. Através de Platão e de Pitágoras, pretendia relacionar-se aos hierofantes egípcios, e até opróprio fundador da ciência, Hermes Trismegistos, ou seja, Três vezes Grande, pelo qual a ciênciafoi chamada Hermética.

Esta segunda filosofia distinguia-se por pretender fazer abstrações das Palavras, porabsorver-se na contemplação das coisas, tomadas em si mesmas, em sua própria essência. Odiscípulo de Hermes era silencioso, não argumentava jamais e não buscava convencer ninguém.

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Encerrado em si mesmo, refletia profundamente e assim acabava por penetrar os segredos danatureza. Convertia-se então, no confidente de Isis e entrava em comunhão com os verdadeirosiniciados. A Gnose revelava-lhe os princípios das antigas ciências sagradas que, em consequência,tomaram corpo sob a forma da Astrologia, da Alquimia, da Magia e da Cabala.

Estas ciências, atualmente consideradas mortas, aplicam-se todas a um único objetivo: odiscernimento das leis ocultas que regem o universo. Diferenciam-se da Física, ciência oficial danatureza, por seu caráter misterioso e transcendente. Assim, em seu conjunto, todas elas constituemuma espécie de Hiper-Física, frequentemente denominada Filosofia Hermética.

O que, além disso, distingue esta filosofia é que não se contenta em ser puramenteespeculativa. Com efeito, sempre perseguiu um fim prático tendo em conta um resultado efetivo esua suprema ambição era o que foi denominado a realização da Grande Obra.

Aqui impõe-se uma comparação com a Franco-maçonaria, que parece ser umatransfiguração moderna do antigo Hermetismo. O simbolismo maçônico constitui com efeito, umaestranha mistura de tradições tomadas das antigas ciências iniciáticas. Leva em consideração ovalor cabalístico dos nomes sagrados e rege o cerimonial conforme os próprios princípios da Magia.Por outro lado, utiliza o Sol, a Lua e as Estrelas, tal como matéria da Astrologia. Mas é a Alquimiafilosófica tal como era concebida pelos Rosa-Cruzes do século XVII, a que apresenta as maissurpreendentes analogias com a Maçonaria. Existe, de uma e outra parte, identidade de esoterismo.Os próprios temas iniciáticos traduzem-se em alegorias extraídas uns da metalurgia, e outros da arteda construção. A Franco-maçonaria não é, deste ponto de vista, mais que uma transposição daAlquimia.

Um leitor prevenido encontrará numerosas provas nos textos citados por F .'. Hohler.Acreditamos, entretanto, que ele procedeu com exagerada discrição e, para dar um passo à frente noassunto, abordaremos francamente a questão, nas páginas que seguem.

Para restringir este estudo não trataremos a não ser da ritualística da Maçonaria clássica,chamada de São João, que não possui mais do que três graus. Isto permitir-nos-á, do ponto de vistaalquímico, fazer abstrações dos símbolos considerados em si mesmos, para dedicar-nosexclusivamente as operações sucessivas que conduzem a realização da Grande Obra.

Não se realizando nada com nada, o ponto de partida da obra filosófica é a descoberta e aescolha do sujeito. A matéria a considerar, di zem os alquimistas, é muito comum, podendoser encontrada em qualquer lugar. A única coisa necessária é saber distinguí-la e nisto reside toda adificuldade. Fazemos continuamente a experiência da maçonaria, pois, às vezes, empreendemosexperiências profanas que deveríamos ter previamente repelido, se tivéssemos sido bastanteperspicazes.

Nem toda a madeira é boa para fazer-se o Mercúrio. A Obra só pode ter êxito quandoconseguimos encontrar um sujeito conveniente. Por isto a Maçonaria multiplica as investigações

antes de admitir um candidato às provas.

Iniciam-se, em primeiro lugar, pela limpeza dos metais. A alquimiarecomenda, uma vez discernida a matéria propícia, uma vez minuciosamenteexaminada e reconhecida, limpá-la exteriormente para livrá-la de todo corpoextranho que possa acidentalmente aderir à sua superfície. Em resumo: amatéria deve ser reduzida a si mesma. E é de modo análogo que o recipiente é

chamado a despojar-se de tudo o que artificialmente possui; ele também deve permancerestritamente reduzido a si mesmo.

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Neste estado de inocência primitiva, de candidez filosófica reencontrada, o sujeito éencerrado num espaço reduzido, aonde nenhuma luz externa penetra. É a Câmara de Reflexões,que corresponde ao recinto do alquimista, a seu Ovo filosófico hermeticamente fechado. O profanoencontra ali a tumba tenebrosa, aonde voluntariamente deve morrer a sua existência passada.Decompondo os revestimentos que se opõe à livre expansão do germe da individualidade estamorte simbólica é o prelúdio do nascimento do novo ser, que será o Iniciado. Este, nasce daputrefação, representada pela cor negra dos alquimistas.

O ritual Maçônico estabelece que, entre os objetos encerrados na câmara de reflexões, deveexistir um par de recipientes contendo um o Sal e outro o Enxofre. Por que motivo ? Tornava-seimpossível responder sem basear-se na teoria dos três princípios alquímicos: Enxofre, Mercúrio eSal.

O Enxofre , corresponde com efeito, à energia expansiva que parte do centro de todo oser (coluna J .'. vermelha, iniciativa individual). Sua ação opõe-se à do Mercúrio que tudopenetra por sua influência provinda de fora (coluna B .'. branca, receptividade, sensibilidade). Estasduas forças antagônicas equilibram-se no Sal , princípio de cristalização, que representa a parteestável do ser. Aquela cuja condensação se efetua na zona onde as emanações sulfurosas escapam àcompreensão mercurial ambiente.

Por sumárias que estas indicações sejam, não menos justificam a prática ritualística no queconcerne ao Sal e ao Enxofre. A exclusão do Mercúrio impõe-se com efeito, porque oRecipiendário deve realizar o total isolamento. Para poder conhecer-se, segundo o princípiosocrático é necessário que faça abstração de tudo o que lhe é exterior, a fim de absorver-se em simesmo e de encontrar-se finalmente em presença do centro de sua individualidade.

Esta operação corresponde à prova da Terra, representada poeticamente por uma descidaaos infernos, à qual faz alusão a palavra VITRIOLO, cujas letras formam as iniciais de umafórmula muito considerada pelos alquimistas: VISITA INTERIORA TERRAERECTIFICANDO INVENIES OCCULTUM LAPIDEM. Visita o interior da Terra (as trevasinfernais, o Scheol dos judeus, o Aral dos caldeus) e, retificando (por meio de purificaçõesintegrais e reiteradas) encontrarás a pedra oculta.

Esta pedra é um símbolo essencialmente maçônico, e é provável que os alquimistas tenhamtomado este emblema dos Iniciados construtores. Com efeito, normalmente uma pedra não encontraseu lugar num simbolismo de metalurgistas, ao contrário é natural que seja submetida a umalimpeza e cuidadosamente talhada, para finalmente ser polida pelos maçons. Por outro lado, estespossuem menos mistérios em relação à sua Pedra que os hermetistas. Por isto, declaramabertamente que sua Pedra bruta é o próprio Iniciado, em sua primeira fase. Este, adestra-se

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enquanto Aprendiz, a fim de ter merecimentos para chegar a ser Companheiro, pelo simples fato desua transformação em Pedra cúbica. Rigorosamente esquadrejada, esta Pedra possui, ao menos emportência, todas as virtudes da famosa Pedra filosofal. Mas é mister, possuir integralmente a Arte,ser um obreiro perfeito ou um Mestre, para realizar as transmutações.

Naturalmente, estas não se aplicam à produção de tesouros de valor puramenteconvencional. Trata-se aqui de realizações muito mais preciosas que aquelas que possam vir atentar aos cobiçosos.

Abandonado a si próprio, privado de toda a ajuda, o sujeito encerrado no Ovo filosófico nãodemorará a cair nas garras da tristeza. Languidesce, suas forças o abandonam, e assim, inicia-se adecomposição. Sob a influência desta, o sutil desprende-se do espesso. É a primeira fase da provado ar. Depois de descer até o centro desse mundo, aonde estão as raízes de toda a individualidade,o espírito ascende, eleva-se, aliviado do caput mortuum que se encontra enegrecido no fundo dovaso hermético. Este resíduo está representado pelas vestimentas, das quais teve de se livrar orecipiendário para sair de seu in pace. Agora poderá abrir um caminho em meio à escuridão, semdeixar-se assustar pelos obstáculos que se multiplicam. As alturas atraem; fugindo do inferno elequer ganhar o céu e empenha-se em subir a encosta abrupta da montanha ideal, cujo cume deveresplandescer de luz.

Sua subida, vê-se interrompida por uma terrível tempestade que rebenta bruscamente. Estalao trovão e o torvelinho de um furacão envolve o temerário, que precipitado através dos ares, éarrastado para seu ponto de partida.

Esta é uma imagem da circulação que se estabelece no vaso fechado do alquimista,recipiente ao qual corresponde a Loja, geralmente coberta. O recipiente, submetido às provas,reproduz à sua maneira o desdobramento do sujeito alquímico cuja emanação volátil se desprende amedida que se eleva, até que o frio das alturas a condense. Daqui surge uma chuva que lava oresíduo putrefato, cuja ablução progressiva aparece na Alquimia sob o nome de purificação pelaágua, que ele mesmo realiza na maçonaria depois de abandonar a tumba funerária na qual deve termorrido simbolicamente. Se não pode ser evitada certa confusão a respeito, isto é devido a que asoperações da realização da Grande são executadas todas no mesmo e único vaso, enquanto que asdiferentes fases da iniciação maçônica são desenvolvidas numa série de locais especialmenteapropriados. Esta divergência é insignificante do ponto de vista esotérico, mas, é mister levá-la emconta quando são estabelecidas relações entre os símbolos usados por uns e por outros.

Alternativamente evaporada pela ação do fogo e depois condensada pelo frio, a Águaatravessa incessantemente a parte da terra do sujeito, ao qual as repetidas passagens pela águafazem -lhe passar insensivelmente do negro ao cinza e finalmente ao branco, não sem antes fazer-lhe adquirir num dado momento, toda a gama de brilhantes matizes da cauda do pavão real.

Quando atinge o branco, a matéria purificada é de grande valor. É o símbolo do sábio quesabe resistir a todos os impulsos. Mas, é muito importante não contentar-se unicamente com asvirtudes negativas; ainda resta por suportar a prova do Fogo.

Para os alquimistas trata-se da calcinação do sujeito, que fica exposto a um calor tão intensoque tudo nele se queima, apesar de que a destruição só atinge a parte dele que nele deve serdestruída. Do ponto de vista iniciático, esta parte está formada pelos germes das paixõesmesquinhas, os indícios do estreito esgoísmo, os resíduos da baixeza ou da corrupção. O Saltorna-se então completamente purificado: sua transparência é perfeita, pois já nenhuma substânciaestranha está misturada aos cristais. Enquanto o Recipiendário não atinge o estado correspondente,

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não é atingido pela luz maçônica. É necessário, pois, que seja concluído o ciclo de suas purificaçõespara que a venda simbólica caia dos seus olhos, pois a claridade não pode penetrar nele se não setornar receptivo à sua irradiação. Todas as provas do primeiro grau levam em consideração estapermeabilização dos invólucros terrestres ou salinos, que isolam o centro do fogo interior, fonte dacombustão sulfurosa ou individual. Liberar a luz interior, exaltá-la para romper a crosta que a ocultae tende a sufocá-la, tal é o programa da Obra Simples ou da Medicina de Primeira Ordem, ouseja, do grau de Aprendiz.

Este grau limita-se a fazer ver a Luz exterior ou universal. Coloca-nos simplesmente emrelação com esta fonte de iluminação na qual devemos como Companheiros, sermos inspiradosatravés da Gnose, com todas as prerrogativas iniciáticas. Trazendo-a para nós e nos saturando dessaLuz ambiente, que Paracelso chamou sideral ou astral, obteremos a cor vermelha da Obra, que é umsinal de realização da Pedra perfeita,que chamamos cúbica.

A Pedra filosofal é um Sal , perfeitamente purificado, que coagula o Mercúrio a fimde fixá-lo num Enxofre extremamente ativo.

Esta fórmula sintética resume a Grande Obra em três operações que são, a purificação doSal , a coagulação do Mercúrio e a fixação do Enxofre .

Indicamos aqui as fases da primeira das operações, que em maçonaria são vinculadas aograu de Aprendiz. Resta a demonstrar a forma na qual a Obra prepara para o grau de Companheiro,e como é concluída através da Mestria. Este último grau surge como a coroação da hierarquiainiciática, o que parece negar todo o valor dos chamados graus superiores, que muitas vezes foramrepresentados como anexos inúteis e perniciosos.

De passagem, convém a este respeito, colocar as coisas em seus devidos lugares.

A totalidade do esoterismo maçônico concentra-se nos três graus denominados de São João,se soubermos compreendê-los em toda a sua extensão. Por desgraça, estes graus são muitoprofundos, e portanto não estão ao alcance das inteligências medianas. Portanto, foi em atenção aosespíritos medíocres que os graus se multiplicaram durante o curso do século XVIII. Extraindo oconteúdo esotérico condensado nos três primeiros graus, houve um esforço para que secompreendesse, empregando novas formas e recorrendo às mais variadas alegorias, os fundamentosda doutrina, esquecendo as imagens que se referem propriamente a arte da construção. É assim quese pretendeu que os graus elevados fossem cavalheirescos, templários, alquímicos, cabalísticos, etc.,numa palavra, tudo menos maçônicos.

Se não fosse necessário considerar a maçonaria nada além do ponto de vista abstrato outeórico, estes críticos severos, que protestaram contra a “embriaguez dos altos cumes”, teriam muitarazão. Mas, é necessário levar em consideração as contingências, tornando-nos indulgentes comaquilo que em verdade trata de ajudar a debilidade humana. A maior parte dos adeptos da Arte Realcontenta-se em receber os graus simbólicos, mas, como não consegue assimilá-los, nunca os possuiefetivamente. Eles estão de posse de um tesouro, mas, ingnoram o seu valor e não lhe tiramproveito algum. Portanto, os graus elevados não tem outra missão além de fazer compreenderesotericamente os três graus fundamentais da franco-maçonaria. Não possuem a pretensão derevelar novos segredos, estranhos a maçonaria simbólica. Toda a sua ambição, limita-se pelocontrário, a bem compreendê-la, a valorizá-la no espírito de seus adeptos, e a convencê-los daimportância do Aprendizado, para que possam converter-se em Companheiros de verdade elegítimos aspirantes da verdadeira Mestria. Este último grau corresponde necessariamente a umideal que nos é proposto e ao qual devemos tender, ainda que sua realização não esteja ao nosso

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alcance. Nosso templo não se poderá nunca vir a concluir, e ninguém pode aspirar a que neleressucite plenamente o autêntico e eterno Hiram.

Retornemos agora às operações da Grande Obra.

Vimos que a purificação integral do Sal é realizada pelo maçon no curso de seuAprendizado. Terminada esta purificação, começa a Camaradagem. Manifesta-se então, a corvermelha, que é a que o ritual atribui às pinturas da câmara dos Companheiros. O adepto do 2o

grau, deve exteriorizar, efetivamente, seu ardor sulfuroso , seu Fogo interior, construtivo ourealizador, ao qual diz respeito a coluna J., ativa, vermelha e masculina. Como é lógico, o Aprendizrecebe seu salário junto a esta coluna, à qual chega depois de cumprir seu aprendizado. Para vencerem suas provas, teve que desenvolver uma atividade constante, a fim de rechaçar as influênciasexteriores que tendiam a dominá-lo. A prova do Fogo entranha a exaltação do Enxofre , cujoardor penetra no Recipiente a fim de nele constituir, finalmente, uma atmosfera ígnea. Nestascondições, o vermelho convém sem dúvida ao próprio Aprendiz, e ainda mais à coluna J., da qualdeve se aproximar para ser recebido como Companheiro. Mas a Loja do primeiro grau deve estarcoberta pelo azul, pois representa o Universo em sua imensidão ilimitada.

Quanto à Câmara do Companheiro, coberta de Vermelho, representa um domínio muitomais restrito: a esfera de ação de nossa individualidade medida pela extensão de nossa radiaçãosulfurosa.

Esta radiação engendra um meio refratário, que refrata a luz difusa ambiente para concentrá-la no centro espiritual do sujeito. Este é o mecanismo da iluminação, da qual se beneficiam aquelesque viram brilhar a Estrela Flamejante.

Todo ser porta consigo este astro misterioso, ainda que muitas vezes no estado de incipientefagulha, apenas perceptível. É o Menino filosófico, o Logos imanente ou o Cristo encarnado que alenda faz nascer obscuramente, em meio às imundícies de uma gruta que serve de estábulo.

A Iniciação converte-se na vestal deste Fogo interior, Princípio de toda individualidade.Sabe mantê-lo enquanto este jaz sob as cinzas, depois, aprende a alimentá-lo de forma apropriada, eo atiça finalmente para que vença os obstáculos que o rodeiam e que pretendem reduzí-lo aoisolamento. Com efeito, é importante que o Filho se coloque em relação com o Pai, que oInterior se comunique livremente com o Exterior , isto é, que o indivíduo entre emcomunhão com a Coletividade da qual provém.

Abandonados unicamente aos nossos próprios recursos pessoais, só poderemos agir sobrenós mesmos. É isto exatamente o que nos é pedido em nossa condição de Aprendizes. Mas, umavez que nossa Pedra bruta está desbastada, talhada e polida de acordo com as regras, já não temosque nos preocupar com a nossa personalidade, pois que do ponto de vista da purificação do Salela é aquilo que deve ser.

Mas uma vez aperfeiçoado o instrumento da ação, devemos atuar sobre aquilo que para nósé exterior e iniciar assim o trabalho propriamente dito, ao qual nos dedicamos como Obreiros ouCompanheiros. Mas, o que realizaríamos em tal condição seria insignificante. Devemos possuir osegredo de poder recorrer a forças que nos são exteriores. Aonde absorver estas forças misteriosas ?Não será na coluna B., cujo nome significa: Nele está a força ? Elevada ao Norte, à frente da lua,da qual reflete a brancura suave e feminina, esta coluna corresponde ao Mercúrio dos alquimistas, princípio dessa essência vivificante que penetra nos seres para animar contínuamente neles oardor central .

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Quando este calor se exterioriza com violência, como o exige a vermelhidão da matéria(prova do Fogo), surge no centro um vazio relativo que funcionando como um imã, exerce umaatração sobre o Aço dos Sábios . Esta substância, cujo ideograma combina o Enxofre com oAlumen , ou o Fogo com o Antimônio , corresponde ao manto flamejante que envolve oIniciado quando ele é purificado pelo Fogo. É a atmosfera etérea ou o nimbo ígneo, que serve dereceptáculo às virtudes superiores. Os adeptos viram nele, “a chave de toda obra filosófica, omilagre do, mundo, que Deus marcou com seu selo”. E acrescentam, que é a mina de ourofilosófica, um espírito primordialmente puro, um fogo infernal e secreto, muito volátil em seugênero, semelhante à quinta essência das coisas do Universo.

Este Fogo exteriorizado ou celestial é um dos dois aspectos atuais, ou efetivamente ativos daGrande Obra. O outro é o Fogo central, que se exalta até o ponto de ser atrativo para o primeiro,como um imã. Estabelece-se então, uma circulação pela qual os dois agentes reduzem-se a um só,que é o Fogo filosófico, do qual fala a Tábua de Esmeralda, quando ali lemos: “Ele (o agentehermético por excelência) sobe da Terra ao Céu e depois desce do Céu à Terra, e recebe a forçadas coisas de cima e de baixo. Terás assim a glória de todo o universo e deste modo, toda aescuridão te abandonará. Nisto reside a força bruta de toda força que haverá de vencer todasas coisas sutís e haverá de penetrar toda a coisa sólida”.

O Fogo filosófico é mantido pelo Enxofre vermelho dos sábios, cuja imagem é a Fênix querenasce continuamente de suas cinzas. Se este pássaro fabuloso, de plumagem vermelha, eraconsagrado ao Sol, é porque representava o princípio da fixidez individual.

Além disso, do ponto de vista iniciático, simboliza de forma especial, aimutabilidade adquirida pelo adepto, cuja iniciativa individual é exercida emperfeito acordo com a impulsão que todo o construtor recebe do poderregulador da construção universal, ou dito de outro modo, do GrandeArquiteto do Universo.

Para o Companheiro que possui a ambição de saber trabalhar, trata-sede se transformar na Fênix. Se não o conseguir, nunca será nada mais que um obreiro medíocre, e éjustamente por isto que dele será dito: “não é uma Fênix”.

Por outro lado, trabalhar não quer dizer agitar-se exageradamente, gastando brutalmente asforças, como os ciclopes, cuja falta de discernimento está simbolizada pelo olho único que lhes éatribuído pela mitologia. O Iniciado trabalha com inteligência, iluminado por essa compreensão quelhe permite assimilar a Gnose. Nisto não deverá ser sempre ativo (como o cíclope), pois paraentender é necessário tornar-se passivo ou receptivo do ponto de vista intelectual. A condiçãoindispensável de toda ação fecunda é a combinação acertada da atividade e da passividade. É poresta razão que o Companheiro deve possuir profundamente a teoria das duas colunas, enquanto queo Aprendiz só precisa conhecer uma só cujo nome penosamente soletra.

O Iniciado, que em certo sentido torna-se andrógino, porque nele se unem a energia virilcom a sensibilidade feminina, é representado pela Alquimia através do Rebis (de resbina, a coisadupla). Esta substância, ao mesmo tempo masculina e feminina, é um Mercúrio animado porseu Enxofre e transformado por ele em Azoth , isto é nessa Quintessência dos elementos(quintessência, simbolizada pela Estrela Flamejante. Convém observar que este astrosempre está colocado de tal forma que recebe a dupla irradiação do Sol masculino e da Luafeminina sua luz tem portanto uma natureza bissexuada, andrógina ou hermafrodita. Por outrolado, o Rebis corresponde à Matéria preparada para a Obra definitiva, ou seja, o Companheiro que

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se tornou digno de elevar-se à Mestria. Neste sentido, nada é maiscurioso que um pantáculo surgido em 1659-60, no tratado do Azothque continua às Doze Chaves de Filosofia do irmão BasilioValentin religioso da Ordem de São Benedito. Como se pode julgarpela cópia que aqui mostramos da gravura em madeira original, oAndrógino alquímico aparece como triunfador do dragão da vidaelemental, ou seja, como Iniciado de segundo grau, vencedor doquaternário dos elementos. Uma de suas cabeças está governadapelo Sol (Razão) e a outra pela Lua (Imaginação); entre elasmostra-se a estrela de Mercúrio (Inteligência, Compreensão,Gnose). Marte e Vênus (Ferro e Cobre, metais duros) exercemsua influência sobre o lado direito (atividade); o lado esquerdo(passividade) recebe influência de Júpiter e de Saturno (Estanho e Chumbo, metais moles).Marte (Energia, Movimento, Ação) está por outro lado em relação direta com o braço direito, quegolpeando, executa o ato decidido, enquanto que o braço esquerdo, que possui a missão de reterfirmemente o esquadro, e de mantê-lo moralmente, vincula-se a Júpiter (Consciência, Respeito asi mesmo). Em tudo isto não haveria mais que puro hermetismo não fosse que para sublinhar adualidade unificada do Rebis, sua personificação possui na mão direita um Compasso (Verdade,Razão, Intelectualidade) e na esquerda um Esquadro (Equidade, Sentimento, Moralidade).

Alguém pode se surpreender ao encontrar estes típicos emblemas da arte real num opúsculoque pretende ensinar “a maneira de produzir o ouro oculto dos filósofos” e cujo autor viveu numaépoca muito anterior ao renascimento da franco-maçonaria moderna.

O adepto não pode realizar o Rebis sem ter dominado as atrações elementais. Tudo o quenele existe de inferior, de brutal e de inferiormente instintivo, deve ser dominado antes de que lheseja permitido invocar o Fogo do Céu para assimilá-lo. Em outras palavras, trata-se de ultrapassar aanimalidade para colocar o Homem propriamente dito, na posse de si mesmo. Entretanto, oPentagrama, ou a Estrela Flamejante, são justamente os emblemas do Homem livre de tudo o quelhe impede de ser única e plenamente Homem.

Os cinco pontos desta figura, denominada também Estrela do Microcosmos, correspondemaos quatro membros e à cabeça do homem.

Da mesma maneira que os membros executam o que a cabeça ordena, o Pentagrama étambém, símbolo da vontade soberana, à qual nada pode resistir, sempre que for inquebrantável,justa e desinteressada.

Para que a estrela de cinco pontas conserve esse significado, é necessário que seja traçada demaneira que possa desenhar-se dentro dela uma figura humana em posição normal, com a cabeça noalto. Invertida, toma um sentido diametralmente oposto.

Já não é um Pentagrama luminoso ou Estrela dos Magos, emblema do gênio humano e daliberdade, mas sim, o escuro astro dos instintos grosseiros, dos desejos lúdicos que subjugam osanimais; vê-se nela o esquema de uma cabeça de bode.

Do ponto de vista iniciático, possuir o grau de Companheiro significa poder realizar o que ovulgo chama de milagres. Provido da Régua e da Alavanca, o Iniciado levanta o mundo, o mundomoral naturalmente, que é por outro lado o único que importa levantar.

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Que fará depois o Mestre ? Identificar-se-à com o Grande Arquiteto do Universo, para atuarn’Ele e por Ele.

Evidentemente trata-se da mística pura, estou de acordo. Mas isto tende a provar que amística religiosa concorda em suas finalidades com a alta iniciação. Procedendo pelos trêscaminhos sucessivos, chamados purificador, iluminador e unitário, a mística não é menos lógicaimpondo as suas modificações, que cumpririam a mesma finalidade que as provas iniciáticas, sefossem bem compreendidas. Mortificar-se - a palavra o diz - significa morrer para alguma coisa.Duas vezes a morte nos é imposta na Maçonaria, uma vez no início de nossa caminhada, na Câmarade Reflexões, depois, no momento da iniciação definitiva e completa na Câmara do Meio.

Esta segunda morte corresponde à realização da Grande Obra. Equivale ao sacrifício total desi mesmo, baseado na renúncia a todo desejo pessoal. É a extinção do Egoísmo radical, queprovoca a queda adâmica, exercendo sobre a espiritualidade a Atração Original, para determiná-laa se incorporar à matéria. O Eu restrito, mesquinho, desvanece-se frente ao Ser superior, impessoal,que simboliza Hiram. O pecado mítico do Adão universal é assim resgatado.

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Não há como errar. O Arquiteto do Templo é para o Grande Arquiteto do Universo, o que oVerbo encarnado, o Cristo, é para o Pai Eterno, na concepção cristã (15).

A fixação do Enxofre filosófico, chamado de outro modo, Matriz, está representada pelosuplício de Prometeu, acorrentado ao Cáucaso por ter roubado o Fogo do Céu, e também peloCristo Redentor, pendurado com três pregos ao quaternário da cruz.

O Tarot não é menos explícito neste sentido. Sua décima segunda chave oferece-nos, comefeito a imagem de um Enforcado que balança sorridente entre o céu e a terra. Está unido pelo péesquerdo a um travessão que é sustentado por duas árvores sem ramos, correspondendo àscolunas J.'. e B.'.. A Cabeça e os braços formam um triângulo invertido que se eleva sobre uma cruzformada pela perna direita dobrada por trás da esquerda, conjunto que forma assim, o sinal clássicoda realização da Grande Obra. Este estranho condenado porta duas bolsas, de onde escapam moedasde ouro e prata. São os tesouros de sua inteligência, porque esse sonhador que parece reduzido àimpotência, por estarem atadas as suas mãos, semeia as idéias fecundas das quais surgirá o porvir.

Este é também o papel do Mestre, que para utilmente dirigir o trabalho da construçãouniversal, deve entrar numa estreita comunhão de intenção e de vontade com o Grande Arquiteto. Éaqui chamado a realizar o ideal místico do Homem-Deus, que está investido de soberano poderespiritual, em razão de seu despreendimento em relação às coisas de baixo (16). Não mais sendoescravo de nada, converte-se em senhor de tudo, e sua vontade só é exercida em perfeito acordocom a vontade que rege o Universo.

Postado entre o Abstrato e o Concreto, entre a Inteligência criadora e a Criação objetiva, oHomem assim concebido aparece como o Mediador por excelência ou o verdadeiro Demiurgo dasescolas gnósticas.

Mas, neste sentido, não bastará levar a luz à sua fonte primordial, é-lhe necessário ainda,permanecer unido de forma estreita, aos obrei ros que deve formar edirigir. O vínculo indispensável é aqui o da simpatia. O mestre devefazer-se amar e não poderá ter êxito se não amando ele mesmo comuma generosidade que o conduza à devoção absoluta, até o própriosacrifício de si mesmo.

O Pelicano é desse ponto de vista o emblema dessa caridade,sem a qual, na iniciação tudo seria irremediavelmente vão. Os donsmais brilhantes da inteligência e da vontade não farão nunca do adeptoque não tenha cultivado as qualidades de seu coração, outra coisa anão ser um falso mago. Porém, a recompensa daquele que pelo sentimento se elevou, da mesmaforma que pela ciência, reside no Esquadro de Salomão.

Os dois triângulos entrelaçados formam a Estrela do Macrocosmos ou do Mundo emGeral. Simbolizam a união do Pai e da Mãe, de Deus e da Natureza, do Espírito único e da Almauniversal, do Fogo criador e da Água geradora.

É o pantáculo por excelência, o símbolo do poder ao qual nada resiste, e que poderemospossuir se alcançarmos efetivamente o grau de Mestre.

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ALGUNS ESCLARECIMENTOS SOBRE

A MEDICINA OCULTA

A Medicina Oculta baseia-se no conhecimento do homem, naquilo que este tem de invisívele de inexplorado pela ciência oficial de nossos dias. Esta medicina emprega meios que parecemirracionais àqueles que não são iniciados nas leis secretas que governam a natureza.

Estas leis tem sido analisadas pelos sábios intuitivos da mais remota antiguidade, no que serefere à sua aplicação prática. Mais para frente, inspiraram a ciência tradicional que é conhecidapelo nome de Magia.

Este é, com efeito, um conhecimento sério, profundo, árduo e difícil de assimilar, ainda quesomente em teoria, portanto, mais temerário para sê-lo praticado. Existem certas condições deordem intelectual, moral e física que devem ser cumpridas pelos que aspiram levantar o véu dosmistérios que a prudente natureza esconde aos olhos do comum dos mortais.

As Ciências Ocultas constituem um labirinto no qual perde-se o imprudente que se aventurasem uma preparação adequada. Põe em perigo sua razão, seu equilíbrio fisiológico, sua saúde, semfalar de sua fortuna ou da salvação de sua alma.

Isto não significa que a Iniciação não possa ser empreendida pelos espíritos valentes queaceitam seus riscos. Os que possuem vocação alcançarão a iluminação, mas terão que passar porárduas provas. Não pensamos aqui, nas cerimônias mais ou menos estranhas e aterradoras dasassociações iniciáticas, nem nos exames impostos aos candidatos das escolas profanas. É emespírito e em verdade que convém tornar-se iniciável; se nos limitarmos às aparências e às formasexteriores, o resultado não seria mais do que uma enganosa ilusão. Se tantas pessoas estraviadassucumbiram nos erros de uma falsa magia, é porque, satisfeitas de si mesmas, acreditaram quepoderiam evitar as provas de rigor. Impacientes por conhecer, não se tornaram refratárias ao falsoantes de atrair para elas mesmas o que consideravam verdadeiro. Daqui se deduz que erraram econstruíram muito rapidamente sobre um terreno ainda não preparado. Como não há pior erro que averdade mal entendida, o iniciado presunçoso e equivocado desonra a Iniciação. Pode inclusive cairna perversão corruptora das coisas mais elevadas, justificando a máxima: corruption optimipessima.

Temendo qualquer forma de profanação, os verdadeiros iniciados sempre se impuseram adisciplina do silêncio. Só falaram impondo-se uma prudente reserva e unicamente em presença dediscípulos provados. Entretanto, a verdade reconhecida devia ser colocada ao alcance daqueles queestão em condições de apreciá-la. É assim que as mitologias e os poemas mais antigos contémensinamentos misteriosos, encontrados nas tradições religiosas de todos os povos, nos emblemasusados pelos diferentes cultos e até nas fábulas ou contos de fadas das lendas populares.

“Aqueles que se parecem, unem-se entre si”: esta sempre foi uma afirmativa correta. Apartir do momento em que foram constituídas as sociedades humanas, sempre houve em seu seio,grupos particulares, reservados aos especialistas. Os taumaturgos primitivos possuiam dotes deadivinhação e curavam os enfermos. Associaram-se entre si para instruir-se reciprocamente etransmitir seus misteriosos poderes. Esta foi a origem de todas as associações iniciáticas, que eramformadas em determinadas condições, praticando ritos mais ou menos secretos.

Originárias da mesma base primitiva, estas diversas associações diferenciavam-se de acordocom a finalidade perseguida. Umas tinham por objetivo o desenvolvimento, o exercício e a

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transmissão dos poderes mágicos latentes na natureza humana. Outras pretendiam iniciar nossegredos dos deuses e dos mistérios do outro mundo e foram as criadoras das escolas sacerdotais. Aestes místicos, que desdenhavam o trabalho, opunham-se os trabalhadores, orgulhosos de suasiniciações profissionais às quais vinculavam-se as religiões de profissão que glorificavam esantificavam o trabalho. Depois vinham os filósofos que ansiavam descobrir verdades inacessíveisao vulgo. Também eles se organizavam em atenção às suas disciplinas e às suas buscas. Todoschamavam-se adeptos de uma arte superior, a arte de pensar, que se transformou na Grande Arte,aplicável à Grande Obra.

Esse Supremo Trabalho, com efeito, não é outro senão aquele que é eternamente realizadona criação divina, submetida à lei de evolução e de constante progresso. Para associar-se a essetrabalho, o Sábio esforça-se em realizar em si mesmo toda a perfeição da qual é suscetível anatureza humana. Não permanece em estado de Pedra bruta e talha-se a si mesmo formando umaPedra rigorosamente cúbica, ou em outras palavras, a Pedra filosofal.

Os símbolos que os antigos construtores usavam concordam, com efeito, com os dosalquimistas, ao menos naquilo que a Pedra diz respeito, que Eliphas Levi, o genial ocultista doséculo passado, representa “na ordem divina, a verdadeira religião; na ordem humana, a verdadeiraciência universal, quadrada em seu fundamento, sólida como o cubo, absoluta como a matemática;na ordem natural, a verdadeira física, a que torna possível para o homem a realeza e o sacerdócio danatureza, convertendo-o em rei e sacerdote da Luz que aperfeiçoa a alma e estabelece as formas,que transfere as bestas em homens, os espinhos em rosas e o chumbo em ouro”.

Os espíritos grosseiros nada recordam a não ser esta última atribuição. Pessoasincompreensivas entregaram-se pois a manipulações químicas, sem dar-se conta que a linguagemdos filósofos herméticos não deve ser tomada ao pé da letra. Entretanto, eles poderiam dizer que “osmetais dos filósofos não são os metais vulgares”, que seu Enxofre, seu Mercúrio e seu Sal nada temem comum com as substâncias geralmente assim designadas. Que seu Fogo, finalmente, não é o dascozinhas, das forjas ou das usinas.

Todo o simbolismo hermético, refere-se ao que está oculto, especialmente às forças que ossábios devem colocar em ação com um objetivo mais digno de suas preocupações e de seus afãs, doque a simples transmutação dos metais ordinários, coisa que os avarentos glorificaram.

É possível que o ouro maleável tenha realmente sido produzido, porque o dogma da fixaçãodos corpos simples perdeu autoridade científica. Mas o processo das transmutações situa-seprincipalmente junto ao desdém dedicado pelos verdadei ros filósofos a toda riqueza perecível. Parao Iniciado, o ouro é só um símbolo de perfeição, o meio de exercer uma ação benfeitora nos sereshumanos, esclarecendo-os para moralizá-los, fazendo com que possam evitar os males de quesofrem. Curar era o objetivo da Grande Obra, quando aplicada à Medicina Universal.

A panacéia que remediava todos os males intelectuais, morais e físicos residia na PedraFilosofal, preparação que não devemos buscar fora do homem. Porque a Pedra que a Pedra que étalhada por seus proprios meios, não é outra coisa que a individualidade humana. O aprendizmaçom trabalha em si mesmo quando, armado da Faca e da Rede, despoja sua Pedra bruta dasasperezas. Ao transformar-se em Pedra cúbica retangular e polida, chega a ser Companheiro.Depois, coroa sua carreira de iniciado com o Mestrado, que exige dele as mesmas virtudes que sãoatribuídas à Pedra filosofal. Portanto, esta representa um estado, uma maneira de ser do perfeitoSábio.

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Neste estado realizam-se maravilhas, porque nada no reino da realização do bem, éimpossível ao homem que conhece o mecanismo de todas as possibilidades. Indubitávelmente, ateoria é mais fácil de aprender, muito mais que a prática efetiva da Arte. Os princípios da Ciênciasão abordáveis e as regras a seguir formulam-se sem dificuldades.

Mas a aplicação de umas e de outras exige um raro talento, o único que conduz aoverdadeiro Magistério dos Sábios.

Não esqueçamos que trata-se de curar todas as enfermidades, tanto as do espírito como asda alma, e igualmente as do corpo, sejam enfermidades de indivíduos isolados ou mesmo decoletividades, porque o mal social corresponde à Medicina universal, da mesma forma que asenfermidades dos seres particulares também a elas se relacionam. Esta Arte é a dos sacerdotes edos reis, considerados como agentes de uma suprema harmonia que todo adepto deve realizar em simesmo, a fim de poder, depois, harmonizar a todos os demais.

Aquilo que comumente chamamos Medicina Oculta é a aplicação parcial da Grande artedos Iniciados. A terapêutica baseada na influência que um sistema nervoso exerce sobre outro, nadamais representa que um ramo isolado da prática operatória, familiar aos iniciados mais antigos.Nossos magnetizadores encontram colegas em toda tribo selvagem. Os efeitos da imaginaçãoigualmente tem sido explorados desde os tempos mais antigos por sugestionadores que apenaslevavam em consideração a teoria. Eram muito poderosos, porque eles estavam, em si mesmos,sugestionados em grande escala.

Mas, um empirismo grosseiro domina o passado que se debateu na penumbra das crenças,sem chegar à luz da ciência razoável. Os próprios Iniciados não possuíam nenhuma ilusão a respeitoda importância de seus conhecimentos. O discernimento instruía-os, principalmente de formanegativa, daí a confissão do verdadeiro Sábio, reconhecendo que nada sabe. Sem saber comprecisão, chega ao menos a adivinhar, a entrever e a suspeitar valiosas verdades, justificadas poruma longa experiência. Assim nasceu a Tradição, que continua sendo vaga, mas na qual se inspiratodo o investigador sério dos conhecimentos ocultos.

Esta Tradição Verdadeira, não foi jamais formulada em doutrina, não está consignada emnenhum livro, e ninguém pode recebê-la de boca a ouvido. O objetivamente transmissível nadamais é do que bruma e não luz.

A Luminosidade espiritual não se comunica como a chama da fogueira. Nosso espírito nãoé uma lâmpada que se ilumina artificialmente. É um lugar que por si mesmo deve vencer aescuridão para que, deixando de queimar sob as cinzas, possa arder e brilhar livremente.

Ensinar a conquistar a luz é o objetivo da Iniciação propriamente dita, que se eleva porcima das múltiplas iniciações em detalhe, sobre as aplicações dos procedimentos iniciáticos e sobreos ensinamentos de importância secundária. Desta ordem são as iniciações formalistas, queimpressionam utilmente, sem dúvida, dentro de seu reino restrito. Sua modéstia coloca-as sobre asiniciações ocultistas, que muitas vezes procedem de ambições mesquinhas, como o desejo de brilharatravés dos conhecimentos ignorados da massa e como a ambição de possuir poderes excepcionais.O verdadeiro Iniciado só aspira iluminar-se para poder atuar a serviço da realização de um grandebem. Não possui curiosidade por nada excepcional, só quer guardar silêncio sem se valorizarjamais, enquanto, recolhidamente, consagra-se à tarefa que lhe foi atribuída na realização da GrandeObra.

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Desde os mais remotos tempos, a conquista da Luz foi demonstrada através de imagens. Ospoemas babilônicos mais antigos a ela aludem (17) do mesmo modo que certos enigmas damitologia. Os Hermetistas da Idade Média codificaram de certo modo estes conhecimentosdispersos ao descrever as operações da Grande Obra. Retomando o programa da transmutação dochumbo profano em ouro iniciático, os Franco-maçons adotaram ritos de acordo com a mais puraTradição.

Misteriosamente criados por desconhecidos, estes ritos são extremamente sábios para quepossam ser apreciados por todos os adeptos de uma sociedade que conta com mais de quatromilhões de associados. Portanto, a Franco-maçonaria participa da própria sorte das religiões.Ensina, com a ajuda de símbolos, coisas que somente são compreendidas por um grupo escolhido.Tende ao progresso por meio da Regeneração, que se assemelha à Redenção de que falam oscristãos. O Redentor dos Maçons está representado pela Luz, que segundo o Evangelho, iluminatodo homem que vem a este mundo. Esta Luz interior, chamada Logos, isto é, Pensamento-Razão,corresponde ao Menino Filosófico dos discípulos de Hermes. Convém auxiliar o crescimento doDeus nascido fraco em nosso intelecto obscurecido, daí as operações alegóricas do Magistério dosSábios e as provas prescritas pelo ritual maçônico.

De qualquer forma, trata-se do Salvador do Gênero Humano que é mister criar em cadaum de nós, porque, segundo a convicção dos Sábios, o Pai celestial não intervém na terra, senão porintermédio de seu Filho, em nós encarnado. É porque temos em nós o germe da Razão divina quenos tornaremos razoáveis, bons e generosos, dedicados ao bem de todos.

Ouro espiritual, Pedra filosofal ou Panacéia Universal, representam a idéia de um mesmoremédio para todos os males de que sofre a humanidade.

Será que para curar basta por acaso ter confiança no medicamento ? Esta é a crença dos quepredicam as doutrinas da fé. Os Iniciados não se atem à terapêutica sugestiva. Acreditam que oindivíduo deve aprender a curar-se a si próprio por meio de purificações destinadas a livrá-lo detudo o que se opõe à sua saúde física, moral e intelectual. Quando está são, propagará a saúde aoseu redor, como se fora um contágio. Assim pois, nada de ruidosa prédica contra os vícios. O quedeve ser feito é matar em si mesmo tudo o que for vicioso. É inútil convencer a alguém dedeterminado ponto de vista. Basta conviver exemplarmente, deixando para cada um suas própriasopiniões. Fugir da discussão e agir bem, trabalhar sempre para o bem de todos.

Como duvidar de que aí estejam os princípios da Verdadeira Medicina, que é exercidapelos que possuem a Pedra dos Sábios ? Buscai essa Pedra em vós mesmos e a encontrareis;procurai a Luz na Sinceridade mais profunda de vosso coração e a obtereis. Batei finalmente à portado santuário da pura Tradição e a porta abrir-se vos-á.

Mas contai com vós mesmos, com vossos bons sentimentos, e não vos deixeis confundir porpontífices charlatães. Ora et labora.

NOÇÕES ELEMENTAIS DE HERMETISMO

OS TRÊS PRINCÍPIOS

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Numa tese apresentada na Faculdade de Medicina de Paris, o doutor Ch. de Vauréal, em1864, fez menção às teorias dos Alquimistas sobre os fermentos (18). Eis aqui como começavamestas explicações:

“Os Alquimistas fazem tudo derivar de um primeiro princípio: a Luz. A claridade e o calornada mais são que os acidentes deste princípio. É o que forma o Ar e a Água. Como a água é ocomposto por excelência, que pode unir o volátil ao fixo, eles a consideram, como Tales, oprincípio elemental de todas as substâncias que chamamos orgânicas e inorgânicas. A obra a que sepropõem é a própria obra da criação, que foi iniciada com o sopro de Deus sobre as águas e o Fiat-Lux. Mas não pretendem fazer alguma coisa do nada, somente se propõem a encontrar de novo amatéria prima ou elemental, que para eles não é a Terra, e sim o Enxofre. Obtido este Enxofre, elesquerem uní-lo ao volátil ou o Mercúrio mediante uma série de sublimações com a finalidade deformar uma matéria espiritual, isto é, extremamente ativa. Esta matéria é chamada a Pedra dosSábios.

“Procedem da seguinte forma: fazem seu paciente com uma substância que não especificame o tratam com um agente denominado fogo, mas que na realidade é uma água na qual acreditam tercondensado a luz astral. Este agente, segundo eles, possui um poder fermentativo, e medianteesforços contínuos, que eles denominam os Trabalhos de Hércules, confiam poder obter afermentação do paciente e sua separação em Enxofre e em Mercúrio.

Esta é a primeira operação que resulta na Putrefação, chamada pela sua cor, o negro ou asasas do cor. Mas não acreditam obter facilmente, de vez, seu Enxofre e seu Mercúrio. O primeiroestá unido a uma grande quantidade de escórias e o segundo oculta-se no Sal que foi formado.Somente através de sucessivas dissoluções, fermentações e sublimações é possível por fim à obra.

Estas operações, que se supõem concluídas, resultam no mercúrio branco ou água viva (19)e no Enxofre, que denominam Sangue da Terra ou Sangue do Dragão. A partir daí, apresenta-se umnovo trabalho que consiste em unir o Enxofre ao Mercúrio, ou o homem vermelho e a mulherbranca, e é desta união que provém a Medicina Universal dos filósofos herméticos”.

Como a Luz primordial é o agente criador não podemos concebê-la a não ser irradiando-sesimultâneamente por todos os lados. Emana de um centro que não está localizado em parte alguma,mas que cada ser pode encontrar em si mesmo. Existe unidade na multiplicidade e onipresença dafonte infinita de toda existência, de toda vida e de todo pensamento.

Em cada indivíduo, provenha do reino que provier, a Luz universal manifesta-se como sefora um centro de energia expansiva. Faz queimar, em nós, um fogo interno, mantido por aquilo queos Alquimistas chamam de Enxofre .

Este fogo vital, inerente a toda célula orgânica e também aos átomos minerais, propagaindefinidamente seus raios, de tal modo que de todos os seres individualizados desprende-se umaradiação luminosa difundida através do espaço. Este novo aspecto da Luz, una em sua essência,toma no Hermetismo, o nome de Mercúrio , porque da mesma maneira que esse metal se infiltraatravés dos poros e tende a penetrar até o próprio centro dos corpos orgânicos, é reconhecido à Luzambiental, como centrípeta e universalmente penetrante.

Mas, existe diferença entre os raios luminosos que se propagam de dentro ou de fora(Enxofre ) e aqueles que unicamente partindo de dentro, concentam-se em cada foco de emissão(Mercúrio ). Mas, como falar de dentro e de fora sem conceber um conteúdo intermediário, um

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limite aonde os raios opostos se equilibram e se condensam pela sua estabilização ? Destaconcepção nasce o Sal , terceiro aspecto da Luz que preenche o Universo, sem dar lugar àstrevas negativas, que correspondem a um inconcebível Nada.

Enxofre , Mercúrio e Sal são os três princípios que os Sábios distinguem comoabsolutamente necessários em tudo o que existe, porque nada pode ser imaginado que não possuasua própria substância limitativa (Sal ), submetida simultâneamente às influências internas(Enxofre ) e às externas (Mercúrio ).

Considerado em sua universalidade como o dinamismo etérico animador de todas as coisas,o Mercúrio atuante toma o nome de Azoth dos Sábios. Seu ideograma modifica-se então,ligeiramente. A meia lua passiva que o coroa dá lugar ao signo zodiacal do Carneiro . Somostentados a admitir que tudo originariamente reside nesse Azoth, começo e fim da criação. É o Soprodivino (Ruach Elohim) que por toda a eternidade flutua sobre as águas salinas . É ele quem seencarna no seio da substância virginal para dar nascimento a Luz redentora.

Mais valiosa do que todos os tesouros, esta Luz ilumina a consciência e guia a vontade.Nasce do Mercúrio (Sopro divino) que penetra até o Enxofre (Centro da iniciativa individual)através do envolvimento purificador do Sal (Personalidade anímica). As purificações iniciáticasatacam a capa opaca do centro sulfuroso; as abluções repetidas tornam transparentes as capassalinas gradualmente libertas do barro escurecedor. Cumprida esta operação, cai a venda dos olhosde quem se inicia, e que nesse preciso momento, vê a Luz.

Está subentendido que nenhuma cerimônia possui o poder de conferir efetivamente aVerdadeira Luz. Tudo aquilo que é realizado ritualisticamente é imagem e símbolo. Purifiquemo-nos em espírito e em verdade se quisermos conquistar a Luz real que, ao em nós penetrar, iluminar-nos-à iniciaticamente.

E, o que é em verdade esta iluminação, senão o casamento em nós do Enxofre e doMercúrio, do homem vermelho e da mulher branca, de que já falamos ? Por “homem vermelho”entendemos o desejo particular, e por “mulher branca” a vontade geral, a da Rainha do Céu,representada no Tarot pela Imperatriz. Se aprendemos a querer em perfeito acordo com o governodo Universo, realizamos o ideal alquímico do Sal purificado, câmara nupcial do Enxofre e doMercúrio.

Na natureza humana o Enxofre corresponde à masculinidade. Seu predomínio exalta ainiciativa individual, favorecendo o valor inquebrantável, o ardor perseverante, a energia orgulhosa,o gosto do mando. O Enxofre é inventivo pois ele cria, funda, estabelece (Coluna Jakin). Incita aomovimento, à ação exteriorizada, à conquista. Faz-nos tomar e dar, e não unicamente receberpassivamente. Intelectualmente, esta influência afasta a fé dócil e receptiva das idéias alheias, eexalta a independência de espírito que elabora as noções percebidas por nós mesmos.

A feminilidade de Mercúrio , inspira ao contrário, a doçura, a calma, a meditação retraídae o sonho, como ainda, a timidez prudente, a modéstia, a resignação e a obediência. Quando aimaginação foi desenvolvida de maneira que não deforma as imagens que se refletem em seuespelho, torna-se compreensivo e sensível a tudo o que é sutil, apto para a adivinhação e crédulocom lucidez.

Quanto ao Sal , simboliza realmente a Sabedoria, sempre que tenha sido assegurado oequilíbrio, a justa ponderação e a estabilidade. Deve ser obtida e mantida em sua limpidez, porque ésobre ela que descansa a Grande Obra.

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O QUATERNÁRIO DOS ELEMENTOS

Ao Sal , corresponde toda a esfera de nossa personalidade, na qual distingue-se um céufluido envolvendo um centro compacto. Este está figurado no ideograma do Sal pelosemicírculo inferior, que diz respeito ao reino heterogêneo submetido a ação dos Elementos.

Estes não são corpos, sujeitos passivos, mas, ao contrário, agentes cuja atividade constantemantém o equilíbrio instável da matéria elemental, substrato das coisas elementais que caem sobnossos sentidos.

Causa constante da lentidão de conglomeração e de relativa fixidez, a Terra escapa anossas percepções não menos que o Ar , agente volatilizador, e a Água , que contrai os corpos,enquanto o Fogo os dilata.

Os elementos distinguem-se por suas qualidades elementais, que são: o seco, o úmido, ofrio e o quente.

Fria e seca, a Terra tem por símbolo o Boi de São Lucas, ou o Touro zodiacal da primavera.É negra e pertence a Saturno.

No Ar, cálido e úmido, eleva-se a Águia de São João, que é também o pássaro de Júpiter,visível no firmamento entre as constelações outonais. A cor azul, cor da atmosfera, é atribuída aeste Elemento.

Fria e úmida, a Água, corre desde a ânfora do Aquário, signo do inverno, de quem o Anjode São Mateus toma de modo cristão o lugar. À Água convém a cor verde, que é a cor de Vênus.

O Fogo, no qual flameja o ardor de Marte, é cálido e seco. Parece soltar-se da juba vermelhado Leão de São Marcos, que assinala no zodíaco a metade do verão.

Os quatro elementos reencontram-se psicológicamente no homem, no qual a matériacorpórea corresponde à Terra. O Ar representa o sopro animador que mantêm a vida, tendo porveículo os líquidos orgânicos representados pela Água, enquanto que a energia vital, fonte de calore de movimento, é representada pelo Fogo.

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A Terra desempenha o papel de um recipiente poroso que contém o Fogo, o qual é avivadopelo Ar e alimentado pela Água, como se esta azeite fosse. É mister que estes dois últimoselementos possam penetrar até o Fogo central para que se estabeleça o circuito vital.

Estimulado pelo Ar exterior, o Fogo interno anima-se, consumindouma parte da Água que se evapora. O vapor abre caminho através dos porosda superfície terrestre e eleva-se na atmosfera. Mas o frio condensa,formam-se nuvens que se dissolvem em chuva. Esta cai sobre o solo que aabsorve infiltrando-se novamente até o centro, alimentado deste modo poruma Água que contém o Ar em dissolução.

Este é o mecanismo da circulação ininterrupta em que se apóia avida individual, cuja duração seria ilimitada se não ocorresse o endurecimento da superfícieterrestre e não se esgotassem as reservas líquidas.

Não se trata pois de um Elixir de vida que permitiria prolongar indefinidamente nossaexistência fisiológica. O Sábio sabe que deve morrer e não teme a morte, à qual se submetevoluntariamente. Sem atribuir pois, à vida material mais importância que a devida, dedica-se adirigí-la. Para economizar o líquido vital, evita todo o consumo excessivo ou supérfluo, isto é, todoexcesso. Administrando seu Fogo com discernimento, atende ao funcionamento normal de seuorganismo, que se desgasta assim, lenta mas fatalmente, pois, a regeneração de nossos tecidos estálimitada. Existe, sem dúvida, uma arte de envelhecer, de retardar a decrepitude, mantendo-se jovem,apesar dos anos. A fonte da Juventude reside na parte etérea do Sal , no céu de nossapersonalidade. Mantenhamo-nos jovens de alma e de espírito, sejamos serviçais de bom grado,amemos, pensemos nos demais, esqueçamo-nos de nós mesmos, não nos petrifiquemos. Nossahigiene moral assegurará assim, nossa manutenção.

Aquilo que o magnetizador denomina de “fluido” é a Água vital exteriorizada em forma devapor. Quando a atmosfera do enfermo é muito seca, a humidade do terapeuta restabelece ascondições normais e o paciente beneficia-se da nova vitalidade.

Por outro lado, é possível agir diretamente sobre o Fogo de outro, comunicando-lhe umardor insólito. Nesse caso, pode-se produzir efeitos extraordinários às vezes instantâneos.

A sensibilidade ao magnetismo depende da permeabilidade do córtice corporal. Os“sujeitos” são permeáveis, daí suas surpreendentes reações. Cada qual pode tratar de se fazeracessível às boas influências sem abandonar-se por isso, em momento algum, ao domínio do outro.É neste espírito que se formam os adeptos, tanto do Hermetismo como da Franco-Maçonaria.

A OBRA DOS SÁBIOS

A Pedra Filosofal é um Sal integralmente purificado, que coagula o Mercúrio volátil afim de fixá-lo, unindo-se a um Enxofre ardente que se tornou fortemente ativo.

Portanto, a Obra está composta por três fases:

Purificação do Sal,Coagulação do Mercúrio eFixação do Enxofre.

Como o Sal está contido na Matéria Filosófica, é este que convém obter em primeiro lugar.O Sal está em toda parte e nada custa, embora possua um incalculável valor. O importante é saber

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descobrí-lo, porque não é possível extrair um Mercúrio de uma substância qualquer, e a primeirarocha que vemos não possui a resistência que os Construtores exigem da pedra que vão empregar naObra. Existem certos vícios prévios que reprovam o profano antes mesmo de qualquer prova.

Suponhamos que as primeiras dificuldades tenham sido vencidas. O artista encontrou amatéria que serve a seus projetos. Em primeiro lugar limpa-a, a fim de que nenhum corpo estranhopossa aderir à sua superfície (polimento dos metais). Isto realizado, o sujeito fica encerrado no Ovofilosofal, hermeticamente fechado (Câmara de Reflexões). Assim alheio a toda excitação mercurial,o Fogo vital encerrado diminui, languidesce e acaba por extinguir-se (morte do Recipiendário).

Ao morrer, o sujeito desdobra-se. O etéreo que nele existe, despreende-se, abandona umresíduo “informe e vazio”, como a Terra antes de ser impregnada pelo Sopro divino (Gênese I, 2). Éo Caos filosófico, cuja cor negra é a mesma do Corvo de Saturno, pássaro que simboliza as trevasque se fizeram sobre a face do abismo.

Privado da vida, desaparecido na putrefação, o sujeito torna ao caos no seio do qual todosos elementos se confundem. Tudo terminaria se não fosse pelogerme que é semeado na matéria putrefata. A dissolução libera esseFilho da Putrefação, que nasce livre para se desenvolver. Seu inatocalor não tarda a secar a substância caótica mais próxima, a fim detornar-se um revestimento vital que marca seu papel em cadaelemento. Alternativamente exteriorizada, logo reabsorvida, a Águalava a nova Terra, que passa do negro ao cinza, depois ao branco,passando pelos tons que caracterizam a cauda do pavão.

A brancura está simbolizada pelo Cisne, do qual tomouJúpiter o aspecto, para unir-se a Leda. O pai dos deuses representaaqui o Espírito que fecunda a Matéria purificada pelas sucessivas abluções. É o Sopro aéreo quepenetra a Terra para engendrar o Menino filosófico.

Trata-se do Fogo individual, agente interno relacionado com sua fonte exterior de ação.Divinizado, este Fogo exalta-se e arde com fervor generoso, manifestado pela cor vermelha dosalquimistas. É a realização da Obra simples que resulta na posse da Medicina de primeira, ordem.Obtêm-se o Enxofre filosófico puro, pelo qual o adepto pode ser comparado à Fênix.

Consagrado ao Sol, que é fixo, este pássaro que possui uma plumagem escarlate, representaa fixidez do ser vivo em sua morte contínua, fonte de renascimentos simultâneos. O Sábio aspira auma fixidez de uma ordem mais elevada, fazendo coincidir a sua vontade particular com a vontadeque rege todas as coisas.

Se realiza este ideal, coagula o Mercúrio misturando o Fogo celeste com aquele existente emsua morada infernal de ação individual. Ao atingir esta altura, o adepto venceu o dragão dasatrações elementais. Possui a verdadeira liberdade, pois nele o espírito domina a matéria. Tendoalcançado a plena humanidade, venceu a animalidade. Purificado pela Terra, pelo Ar, pela Água epelo Fogo, passou pela Putrefação, da qual se liberou pela Sublimação, que leva à Ablução e àEspiritualização. Então os franco-maçons mostram-lhe a Estrela Flamejante, cujo emblemahermético é a Rosa de cinco pétalas, que sai da pedra mercurial pela influência do Espíritouniversal, considerando a figura de Nicola Flamel.

O MAGISTÉRIO DO SOL

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Quando o revestimento salirio individual purificado, se torna transparente, a Luz ambientalé percebida desde o interior. O homem vermelho (Enxofre ) enamora-se da mulher branca(Mercúrio ). Mas o casamento do Rei e da Rainha ainda não se efetuou. Terá de serrealizado pela atração do Mercúrio, que simpatizando com o Enxofre sublimado deixar-se-á captare por ele coagular. Como o Enxofre-Rei é aquilo que em nós manda, trata-se aqui de nosso desejo,liberado de toda mesquinharia e afirmando-se como verdadeiro Rei de seu domínio individual. EstaRealeza não é do mundo vulgar, é adquirida espiritualmente pelo verdadeiro adepto da Arte Régia,que se torna digno da Rainha, a Virgem celestial que é invocada pelos devotos de Nossa Senhora.

Os Artistas possuídos por um puro ideal não são místicos que perderam a cabeça. Tiveramde sacrificar seu eu ávido, renunciando a todo desejo pessoal. Indiferentes a tudo o que o escravoterrestre ambiciona, libertaram-se da tirania dos instintos egoístas. Vencedores do Egoísmo radical,escapam à marca hereditária do pecado original. Dotados de suficiente energia para morrervoluntariamente à vida comum inferior, nasceram para uma vida superior de liberdade, que lhesconfere realmente um caráter de soberanos. Como já não são escravos de nada, tendem a converter-se em amos de tudo. A sua vontade só se inspira nas mais elevadas intenções, nas intenções divinas.

Este é o matrimônio do espírito encarnado, obreiro terrestre, com a princesa divina, que emnós se faz quando nosso desejo se santifica, quando Filhos do Pai, adotamos a causa paterna,dedicando-nos à Grande Obra da criação. Pois a verdadeira Grande Obra é aquela realizada portoda a eternidade, é o Trabalho redentor do qual surgem, a evolução, o progresso, a coordenaçãodo caos e a construção de uma humanidade melhor.

Seu objetivo imediato é a preparação do Ouro filosofal, símbolo de perfeiçãoindividualmente realizável. Cada um de nós pode operar em si mesmo a transmutação do mal nobem, se após ter esclarecido a sua consciência, atua de acordo com aquilo que esta lhe ordena. Quenos foi pedido ? Que aprendamos a nos conhecer em meio à confusão mantida pela agitação pessoaldos indivíduos. Busquemos a calma e reconcentremo-nos. Se nos é oferecido um asilo,aproveitemo-lo. Deixemos o bulício e penetremos em nós mesmos. Submetamo-nos em seguida àsprovas iniciáticas e trabalhemos para esclarecer-nos integralmente.

Reconheceremos então, que incumbe-nos uma tarefa precisa: os acontecimentos e ascircunstâncias no-la ditam. Saibamos discerní-la e cumpramo-la religiosamente. Assimtrabalharemos corretamente, e por pequeno que possa parecer nosso resultado, será totalmente parteintegrante da Grande Obra. Sejamos bons e verdadeiramente exemplares em nossa pequena esfera,e produziremos então, o Ouro e nosso meio se beneficiará com as virtudes de nossa Pedra filosofal.Esta é simultâneamente, humana e divina.

É humana em sua substância, em seu Sal purificado, mas está divinizada pelo Espírito mercurial que a penetra, exaltando o Enxofre individual. Nela se realiza o Esquadro desalomão: a Água celestial casa-se com o Fogo infernal convertido, posto a serviço da GrandeObra, pura. O Matrimônio não pode realizar-se sem amor; é necessário que o enxofre sulfurosointerno seja amoroso para que o mercúrio celestial consinta em unir-se a ele. Um desejo egoístaseria inoperante, o amor deve ser completo, absoluto, deve expressar a doação completa de simesmo, sem reservas.

A personalidade ao atingir a iluminação da Estrela Flamejante brilha com esplendor edispõe do Pentagrama, emblema do poder posterior ao desenvolvimento da vontade do adepto.Mas, o mais deslumbrante dos Magos não é mais do que um simples taumaturgo junto ao Santoque se esquece de si mesmo e só atua em união com o divino. A obra do primeiro é a sua obra, e poradmirável que seja, é sempre particular. O segundo pode dar impressão de nada produzir quando em

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realidade dedica-se à realização da Grande Obra Universal. A Força maispoderosa de todas as forças procede do sentimento pelo qual o indivíduo,renuncia a si mesmo para guardar em si a Energia total, fusão das virtudes doalto e de baixo.

Para os rosacruzes, o Pelicano, que alimenta seus filhos com seupróprio sangue, ensina o amor mais que um sábio e mais que um corno queressoa ou um címbalo que retumba.

Sempre reconheceu-se que o Sábio mais perfeito será aquele que mais ame.

*****

O SETENÁRIO

O Enxofre , o Mercúrio e o Sal correspondem na personalidade humana àquilo quese convencionou chamar Espírito, Alma e Corpo. Pura atividade, o Espírito-Enxofre não atua sobrea passividade do Corpo-Sal a não ser por intermédio da Alma-Mercúrio, que é passiva em relaçãoao Espírito, ainda que ativa em relação ao Corpo.

Para que haja equilíbrio, e portanto, saúde e funcionamento normal, convém que os trêsprincípios se harmonizem no indivíduo. Se representarmos cada um dos princípios por um círculo,obteremos, pela penetração mútua destes três círculos, até encontrar seus centros, o esquema daconstituição setenária do homem.

As interferências dos três círculos engendram uma combinação do Espírito e da Alma quepodemos chamar Espírito anímico ou Alma espiritual. Penetrando no Corpo, o Espíritodesenvolve o Espírito Corporal, no qual a Alma que invade o Corpo, produz domo irmã, a Almacorporal. Fica no centro um espaço em que o Espírito, a Alma e o Corpo se fundem para constituiro Corpo Etérico ou astral, o Linga Sharira da Teosofia. É o nó da personalidade, sobre o qualtudo repercute.

Cumprindo o papel de intermediário, este nó fluídico central assemelha-se ao deusMercúrio da mitologia e entre os metais, atribui-se-lhe a Prata-viva. Os outros metais-planetasdistribuem-se como segue:

Espírito puro - Ouro incorruptível, Sol, Apolo, Atma; Alma etérea - Prata, Lua, Diana, Manas; Espírito anímico ou alma espiritual - Estanho, o mais leve dos metais, Júpiter unido a Juno,Buda; Espírito corporal - Ferro, Marte, Kama Rupa;

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Alma corporal - Cobre, Vênus, Prana ou Jiva; Corpo - Chumbo, Saturno, Rupa.

O Sol espiritual representa a Luz divina que esclarecesem desfalecer nossa personalidade, mais especialmente nossoEspírito anímico, ao qual se dirige nossa consciência jupiteriana. O que manda em cada um de nós, procede com efeito, doEspírito e da Alma, formadora de sentimentos e de imagensideais, graças aos quais pensamos e recordamos. Do Espíritocorporal nascem os impulsos veementes, às vezes ferozes, queestimulam a motricidade. Quanto à Alma material é ofundamento do edifício vital. Sem sua lentidão, não se poderiarealizar nenhum trabalho, o Espírito careceria de ponto de apoioe a Alma perder-se-ia no ilimitado.

Ao Setenário dos metais-planetas une-se o simbolismodas cores fundamentais: vermelho, azul, amarelo, e de seus derivados: violeta, verde e alaranjado. Overmelho é atribuído ao círculo do Espírito, o Azul ao da Alma e o amarelo ao do Corpo. Daí que ovioleta converte-se na cor do Espírito anímico, o verde no da Alma corporal e o alaranjado no doEspírito corporal. O branco sintético representa o Corpo etérico mercurial, enquanto o negro ficareservado ao Caos ambiente, que não foi luminosamente organizado.

A tradição ensina a distinguir sete tipos planetários segundo a influência que domina cadapersonalidade. É possível determinar graficamente sete tipos análogos deslocando um dos trêscírculos, que representam o Espírito, a Alma e o Corpo.

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O REALIZADOR

É assim que deslocando o círculo corporal até fazê-lo interferir com a área normal dosoutros dois, Mercúrio , Vênus e Marte são favorecidos às custas de Júpiter , de Saturno ,do Sol e da Lua .

Estamos aqui em presença de uma individualização muito acentuada graças a que o Corpoastral dispõe de uma abundante vitalidade , que explora uma impaciente impulsividade ativa .

Mover-se, atuar infatigavelmente para satisfazer a exigência das paixões,desenvolvendo grande inteligência prática, será a característica destasnaturezas impetuosas e movediças. A debilidade do Espírito anímico traduzir-se-á numa atenuação dos escrúpulos da consciência. Por outrolado, a diminuição da materialidade far-lhes-á carecer de positivismo ede solidez física. O organismo cansar-se-á rapidamemnte. Haverá maisenergia marcial que idealismo solar e mais sensualidade grosseiraque sentimento puro .

O SONHADOR

Ao tipo agitado e vivaz opõe-se o fleumático, cujo círculocorporal está em retrocesso. Daí resulta que Mercurio , Marte eVênus não possuem voz atuante, a personalidade apaga-se, osinstintos estão retidos e a vitalidade é lânguida. Por outro lado, oorganismo vasto funciona agradavelmente, sem a menor febre,adormece-se, mas, obedece à consciência cujo domínio se alarga emdetrimento da personalidade sintética . Um formoso idealismo e umaalma boa, sentimental e sonhadora unem-se a esse corpo espesso,relativamente inerte.

O PACÍFICO

Desloquemos agora o círculo da Alma em direção a Marte cujo terreno será assimnotavelmente sacrificado em benefício de Mercúrio , com vantagens paraJúpiter e Vênus em detrimento do Espírito e do corpo . Trata-sede uma personalidade forte em seu centro governada por uma consciênciailuminada racionalmente , dispondo de uma vitalidade generosa de fluidoaltruísta, mas tímida, temerosa, sem atrever-se a agir e carente de iniciativae de energia marciana . Não encontrando utilidade, o sentimentalismoconverte-se em piedade repleta de comiseração, mas e praticamente estéril.O Espírito perde lucidez enquanto o organismo torna-sedemasiadamente sensível e sente repugnância ante a fadiga.

O CONQUISTADOR

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A operação inversa, fazendo avançar Marte sobre Mercúrio ,faz perder a Júpiter e a Vênus o que ganha a Alma , o Espírito e o Corpo . Desta vez a atividade é evoradora , não atua cegamente,porque está esclarecida pela razão , que não paraliza nenhumescrúpulo de consciência. Está além disso auxiliada por um organismovigoroso sem excesso de sensibilidade. Ao contrário, a Alma entrega-se aos sonhos mais ambiciosos.

O EGOÍSTA

O círculo do Espírito rechaçando Vênus reforça o centro dapersonalidade , da mesma forma que o domínio de Júpiter e o deMarte . Mas, o Espírito , a Alma e o Corpo sofrem umadiminuição da influência que lhes corresponde. Assim, nosso personagemsente-se alguém. É inteligente para satisfazer sua ambição jupiteriana, mas,carece de sensibilidade ainda que bem utilize seu organismoparcimoniosamente vitalizado. Por outro lado, sua lucidez de julgamento é defeituosa, e seus sonhos estão perturbados por aspirações

ambiciosas.

O ALTRUÍSTA

O despreendimento do Espírito , assegura o predomínio deVênus , que ganha vantagem sobre Mercúrio , enquanto Júpiter eMarte cedem ante a Alma e o Corpo. A ternura, a boa vontade e oafeto, fazem esquecer o eu central . A ambição sentimentaliza-se e os impulsos atuantes moderam-se para vantagem do organismo. Os sonhos são desinteressados e a luz de um idealismo elevadorodeia a personalidade, resplandescente por sua generosidade.

O INDIVÍDUO ESTRITAMENTE NORMAL

Não são mais que seis tipos, mas, agrupam-se ao redor do sétimo, que corresponde aohomem idealmente equilibrado, ao Homem-modelo, adâmico, que realiza a perfeita associação doEspírito , da Alma e do Corpo , ou do Enxofre , do Mercúrio e do Sal .

Os indivíduos humanos podem aproximar-se a este tipo, cuja generalização seria nociva,porque convém que sejamos diferenciados e que nos especializemos segundo a tarefa que nos édestinada. Não nos afastemos nunca da norma humana, porque um excesso de diferenciação tornar-nos-ia desumanos. Para permanecer na nota exata evitemos todo exagero deformante, corrijamosnosso caráter tomando como modelo aqueles nossos próximos que se distingam por sua sabedoria,isto é, por seu feliz equilíbrio.

Não demos exagerada importância às determinações gráficas que acabamos de traçar.Podem dar lugar a outras interpretações, porque nada é absoluto neste campo. Entretanto, asconstruções deste gênero possuem a vantagem de ajudar o espírito a descobrir certas analogias e

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permitir às vezes ao médico chegar à raiz de certos desequilíbrios mórbidos. Nestes tempos depsicoanálise, estes sugestivos esquemas não são matéria desdenhável.

Mas o que logicamente pode ser deduzido de um grafismo convencional não poderiaadquirir uma importância comparável à dos clássicos tipos planetários. Não abordaremos aqui oexame desse setenário que corresponde mais especialmente ao Simbolismo Astrológico, ao qualconsagraremos uma obra especial, que dará sequência ao Simbolismo Hermético.

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SÉRIE

OBRAS DOS MESTRES DA TRADIÇÃO HERMÉTICAIV

Serões de São Petersburgo(excertos)

TRADUZIDO E RESUMIDO DAS“SOIRÉES DE SAINT PÉTERSBURG”

Joseph de Maistre

Gr .. STNSLS .. GT ..

Mte .. de Grihs ..

Setembro/l991

JOSEPH DE MAISTRE(l754/l821)

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Resoluto sustentáculo da tradição política e religiosa, conservador e católico, pensador“reacionário”, o conde Joseph de Maistre foi também homem de uma tradição mais secreta e maisprofunda. Seus cadernos de notas dão-nos informações sobre o caráter de suas leituras e permitem-nos confirmar seus estudos sobre místicos como Jacob Boehme, Madame Guyon, Eckartshausen,etc...

É fato notoriamente conhecido, que durante longos anos Joseph de Maistre foi FrancoMaçon. Ele iniciou suas atividades na maçonaria comum, na Loja “Trois-Mortiers”. Em 1782, emnotas ao Duque de Brunswick, ele atribui às Lojas uma seqüência de círculos de estudos, políticos,morais e religiosos. A partir desse momento travaria relações com a maçonaria Lyonesa deWillermoz, aonde chegaria a atingir seus mais altos graus.

Foi ordenado “Cavaleiro Professo da Ordem Benfeitora da Cidade Santa”, o que significaque teria atingido o ponto culminante de um dos centros ocultistas mais fervorosos da época.

As Lojas ae Willermoz possuiam até certo ponto alguma inclinação para o sonambulismo, oespiritualismo, as revelações do “agente secreto”, etc., mas, ao mesmo tempo conservavam osensinamentos de Martinez de Pasqually, através dos quais caminhava-se rumo à Teurgia. Lá,frequentemente, Joseph de Maistre participava de evocações e parece ter-se reencontrado com SaintMartin, o teósofo pelo qual nutria a mais viva admiração, lendo e relendo-o, copiando de própriopunho as suas obras e impregnando-se de seu pensamento.

Mesmo na Rússia, mais tarde, o interesse do Conde Joseph de Maistre pelo iluminismo emquase nada arrefeceria. As preocupações que nutria com o catolicismo leva-lo-iam, entretanto, amanifestar uma prudente reserva. Para ele, o ocultismo e o cristianismo não se opõe, muito pelocontrário. O ocultismo é, aos seus olhos, um meio de alcançar antecipadamente a terceira revelação,de ultrapassar os ensinamentos oficiais na busca de um Cristianismo Integral mais profundo e maisrico. Além disso, como poderia duvidar da legitimidade desse movimento se muito frequentementeele se apresenta como o único meio de comungar com as opiniões dos padres da Igreja e dosprimeiros e grandes filósofos cristãos ? O universo parece-lhe uma realidade sagradaconstantemente submetida ao governo divino, aonde a teocracia na sociedade e a piedade nocoração do homem não são mais que evidentes conseqüências desta primeira constatação. De umplano a outro, passa-se pelo exercício das correspondências e analogias. “O mundo físico nada maisé do que uma imagem, ou, se quisermos, uma repetição do mundo espiritual. Podemos estudá-losum no outro, alternativamente.”

Todo o esforço do pensador tende a evidenciar estas correspondências e avançar em suadireção estudando a História ou a Política, refletindo sobre os princípios das civilizações e oseventos do Cristianismo Transcendente. Algumas páginas das Soirées falam por si próprias.

BIBLIOGRAFIA

Dermenghen (Emile): Joseph de Maistre, mystique, Paris, rééd. 1947;Joseph de Maistre et la Tradition in Cahiers d'Hermès, I;

Maistre (Joseph de): La Franc-Maçonnerie, Paris, 1925;Viatte (Auguste): Les Sources occuites du Romantisme, Paris, 1928, tome II, pp. 64-95.

Robert Amadou

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SOIRÉES DE SAINT PÉTERSBURG(excertos)

Joseph de Maistre

DO ILUMINISMO

O SENADOR

Então meu caro amigo, decididamente tendes medo dos iluminados ! Não creio, entretanto,que me chamais de intransigente se humildemente vos solicitar que o termo seja melhor definido eque assim tenhais a suprema bondade de nos dizer o que vos parece ser um iluminado, pois,sabendo do que e de quem falamos, poderemos disto nos valer de forma mais objetiva em nossadiscussão.

Damos o nome de iluminados a esses homens culpados que em nossos dias ousam concebere até organizar na Alemanha, através da mais criminosa associação, o terrível projeto de destruir oCristianismo na Europa, e igualmente a própria autoridade.

Entretanto, damos também esse mesmo nome aos discípulos virtuosos de Saint Martin quenão somente professam o Cristianismo, mas que, igualmente, trabalham para poder elevar-se àsmais sublimes alturas desta Lei Divina.

Havereis de concordar, senhores, que não devemos permitir que os homens venham aenvolver-se nessa enorme confusão de idéias. Confesso-vos, com toda isenção de ânimos, que nãoconsigo compreender esses fantoches do mundo, homens ou mulheres, pela credibilidade quedemonstram em relação a tudo aquilo que diz respeito ao iluminismo e a qualquer pensamento quevenha a penetrar suas inteligências, com uma superficialidade e ignorância que conduz ao extremo amais desenvolvida paciência.

Mas vós, meu caro amigo Romano, vós, tão grande defensor do princípio da autoridade,dizei-me francamente: Sois capazes de ler as Santas Escrituras sem vos sentirdes obrigado a nelasreconhecer um grande número de passagens que oprimindo vossa inteligência vos convidam aototal abandono às tentativas de uma sábia exegêse ? Certamente não foi para vós, como não foi paratodos os outros, que foi dito: Prescrutai as Escrituras.

Dizei-me, eu vos peço, em sã consciência, compreendeis o primeiro capítulo do Gênese?Compreendeis o Apocalipse e o Cântico dos Cânticos ? O Eclesiastes não vos causa inquietação?Quando ledes no Gênese que no momento em que nossos primeiros pais se aperceberam de suanudez, Deus lhes deu coberturas de pele, entendeis isto ao pé da letra ? Acreditais que o TodoPoderoso teve de arrastar os animais, esfolá-los e tirar as suas peles, e depois, usando linha e agulhapassou a costurar essas novas túnicas ?

Acreditais que os homens revoltados de Babel, buscando adquirir o repouso espiritual,tenham-se dedicado a elevar uma torre na qual em seu topo o catavento tocaria a própria lua ? (e eunão citei tudo aquilo que poderia, como vedes !), e no momento em que as estrelas caírem sobre aterra, não vos sentireis impelidos às recolher ?

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Mas, uma vez que esta questão é somente entre o céu e a terra, o que tendes a dizer da formapela qual o termo céu é seguidamente empregado pelos escritores sagrados ? Quando ledes queDeus criou o céu e a terra e que o céu a Ele é destinado, mas que Ele doou a terra aos filhos doshomens; que o Salvador subiu ao céu e que desceu aos infernos etc., como entendeis estasexpressões ? E quando ledes então que o Filho está sentado à direita do Pai e que Saint Etiennemorrendo assim o viu, vosso espírito não experimenta uma certa inquietação e não sei que desejo deque outras palavras mais esclarecedoras tivessem sido proferidas pelo sagrado escritor ? Milexpressões desse gênero provar-vos-ão que, muito mais do que tudo isso realmente existe em Deus.Devemos permitir que o homem se expresse com desejar e em conformidade com as idéiasreinantes nesta ou naquela época ocultando sob a forma de aparência simples e geralmente grosseiraos altos mistérios que não são oferecidos a todos os olhos. Que mal existe em cruzarmos os abismosda graça e da bondade divina como se estivéssemos removendo a terra para extrair ouro e diamantes?

Mais do que nunca, senhores, devemos tomar extremo cuidado com essas amplasinvestigações, pois é preciso estarmos prontos para um grande evento na Ordem Divina, pelo qualcaminharemos com a vitalidade que deve caracterizar todos aqueles que observam a Lei. Hoje nãomais existe religião sobre a terra e o gênero humano não pode continuar vivendo nesse estado. Emtodas as partes os temíveis oráculos anunciam que os tempos chegaram...

...O espírito profético é natural no homem e não cessará de mover-se no mundo. O homem,durante todas as épocas e em todos os lugares, ensaiando penetrar o futuro, demonstra que não éfeito para o tempo, pois o tempo possui algo de impetuoso que não conduz a não ser à dissolução.Em nossos sonhos, nunca temos noção do tempo, por isso é que o estado de sono sempre foiconsiderado favorável às comunicações divinas...

...Lembrai-vos agora, senhor, do elogio que me dirigistes sobre minha erudição em relaçãoao número três. Esse número, com efeito, mostra-se em todos os lugares, seja no mundo moral, sejanas coisas divinas.

Deus falou aos homens pela primeira vez no Monte Sinai, e esta revelação, por razões queignoramos, foi restrita aos estreitos limites de um único povo e um só país. Depois de quinzeséculos, uma segunda revelação foi oferecida a todos os homens, sem distinção, e é nela que nosbaseamos, mas a universalidade de sua ação ainda estava infinitamente limitada às circunstânciasdo tempo e do espaço. Quinze séculos mais deviam escoar-se antes que a América visse a luz; suasvastas regiões receberam uma turba de hordas selvagens totalmente estranhas ao grande benfeitor, esomos levados a crer que elas foram naturalmente excluídas em virtude de algum anátema primitivoe inexplicável. Sozinho, o grande Lama possui mais seguidores espirituais do que o Papa. Bengalapossui sessenta milhões de habitantes, a China duzentos, o Japão vinte e cinco ou trinta. Contemplaiagora estes arquipélagos imensos do Grande Oceano, que formam hoje uma quinta parte do mundo.Vossos missionários fizeram sem dúvida, esforços maravilhosos para anunciar o Evangelho aoshabitantes daquelas longínquas regiões, mas, bem podeis ver com que sucesso. Quantas miríades dehomens nunca receberão a Boa Nova. A cimatarra dos filhos de Ismael não destruiu quase que porcompleto o Cristianismo na África e na Ásia ? E na nossa Europa então, que triste espetáculo seoferece à visão religiosa ! O Cristianismo está radicalmente destruído em todos os paísessubmetidos à insensata reforma do século XVI, e em vossos próprios países católicos nada pareceter subsistido a não ser o seu nome.

Não pretendo colocar minha Igreja acima da vossa; não estamos aqui para disputar seja oque for. Eu sei muito bem o que nos falta; mas eu vos peço, meus bons amigos, que tambémexamineis isto com sinceridade: quanto ódio não existe de um lado e de outro, que prodigiosaindiferença não há entre vós em relação à religião e a tudo o que ela diz respeito. Que

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desencadeamento de todos os poderes católicos não é dirigido contra o chefe de vossa religião ! Aque extremo a violação generalizada de vossos princípios reduziu entre vós a ordem sacerdotal ! Oespírito público que os inspira ou imita, voltou-se totalmente contra esta ordem. Isto é umaconspiração, uma espécie de violência, e, pessoalmente, não duvido que o Papa melhor prefira tratarde um assunto eclesiástico com a Inglaterra do que com este ou aquele gabinete católico que eumuito facilmente vos poderia citar. Qual será afinal o resultado desse trovão que neste momentocomeça a ribombar ?

Dez milhões de católicos passarão possivelmente pelo crivo tanto de vossa como de nossaheterodoxia. Se assim for, eu espero que estejais perfeitamente esclarecido para falar sobre aquiloque se chama tolerância, pois que vós bem sabeis que, de resto, o Catolicismo nunca foi tolerado nopróprio sentido da palavra.

Quando vos permitimos assistir à Missa sem que fuzilemos vossos padres, mesmo que nãoseja exatamente de vossa conta, chamamos a isso de tolerância. Examinai-vos vós mesmossilenciando vossos preconceitos e sentireis que o poder vos escapa. Não mais tendes consciência daforça que reside na pena de Homero, já que tomar-vos-ia sensíveis ao valor da coragem. Não tendesmais heróis. Não ousais mais nada e tudo ousa contra vós. Contemplai esta lúgubre mesa.Acrescentai a esperança dos homens escolhidos e vereis os iluminados, sem qualquer incentivo quepossa levá-los a prever como relativamente próxima, uma terceira explosão da toda poderosabondade em favor do gênero humano.

Eu não conseguiria concluir esta obra se tentasse juntar todas as provas possíveis de reunir,a fim de justificar esta grande expectativa. Digo-vos mais uma vez, não censureis as pessoas quecom isto se preocupam e que vêm, na revelação, as razões de prever o desvendar da própriarevelação.

Chamai, se quiserdes, estes homens de iluminados, eu somente estarei ao vosso ladocontanto que pronuncieis o seu nome com seriedade.

O CONDE

Em primeiro lugar, eu nunca disse que todo iluminado é um franco-maçon: disse tãosomente que todos os que conheci, especialmente na França, o eram. Seu dogma fundamental é queo Cristianismo, tal como hoje o conhecemos, nada mais é do que uma verdadeira loja azul feitapara o profano, mas que depende do próprio Homem de Desejo elevar-se de grau em grau até osconhecimentos sublimes, aqueles que os primeiros Cristãos possuiam, eles que eram verdadeirosiniciados. Isto é o que alguns alemães chamam de Cristianismo Transcendental. Esta doutrina éuma mescla de platonismo, de origenianismo e de filosofia hermética, sobre uma base cristã.

Os conhecimentos sobrenaturais são o grande alvo de seus trabalhos e de suas esperanças,eles não duvidam de forma alguma da possibilidade que o homem possui de entrar em comunicaçãocom o mundo espiritual, de relacionar-se com os espíritos e desta forma descobrir os maisintrincados mistérios.

Sua posição habitual é a de considerar extraordinárias as coisas mais simples, dando-lhesnomes consagrados: assim, um homem para eles é um menor, e seu nascimento é a emancipação.O pecado original é chamado o crime primordial; os atos da Potência Divina ou de seus agentesuniversais são chamados bençãos, e as penas aplicadas aos culpados, padecimentos. Eu mesmo

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frequentemente também os considero padecimentos, especialmente quando eles são sustentadospor coisas verídicas por eles ditas que nada mais representam do que a Doutrina encoberta porpalavras extravagantes.

Há mais de trinta anos tive ocasião de verificar, numa grande cidade francesa, que certacategoria de iluminados contava com iniciados admitidos às suas assembléias ordinárias, os quaispossuiam graus Superiores lncógnitos, tendo também um ritual próprio e até sacerdotes que por eleseram chamados pelo nome hebraico de Cohen.

Não é que não possa existir ou que, efetivamente, não existam em suas obras coisasverdadeiras, razoáveis e tocantes, o fato é que as coisas verdadeiras encontram-se embaralhadascom outras que são falsas e perigosas, principalmente pela aversão que eles possuem por todaautoridade e hierarquia sacerdotal. Esta característica é generalizada entre eles; jamais encontreiuma exceção perfeita entre os numerosos adeptos que conheci.

O mais instruído, o mais sábio e o mais elegante dos teósofos modernos, Saint Martin, cujasobras formaram o código dos homens dos quais falo, participa também desta característica geral.Ele morreu sem ter querido receber um sacerdote, e suas obras apresentam a mais clara prova deque ele não acreditava na legitimidade do sacerdócio cristão.

Embora jamais ele tenha duvidado da sinceridade de La Harpe (e que homem honesto delepoderia duvidar !) ele acrescenta que não lhe parece que este célebre literário tenha sidodirigido pelos verdadeiros princípios.

É necessário, por outro lado, ler principalmente o prefácio no frontispício de sua tradução dolivro dos Três Princípios, escrito em alemão por Jacob Boehme. É lá que após ter justificado atécerto ponto as injúrias dirigidas por esse intolerante religiosos contra os padres católicos, ele acusaa corporação de nosso sacerdócio de ter frustrado sua finalidade, o que, em outras palavras equivalea dizer que Deus não soube estabelecer em sua religião um sacerdócio tal com devia ser, parasatisfazer Suas vistas divinas.

Certamente isto causou um grande malefício, pois após este ensaio ter falhado, poucaesperança depois dele restou. Continuarei, entretanto, na minha própria marcha senhores,acreditando que o Todo Poderoso tenha sido bem sucedido. Enquanto os piedosos discípulos deSaint Martin, dirigidos segundo as doutrinas de seu mestre pelos verdadeiros princípios, ousam atravessia das ondas a nado, eu dormirei em paz neste barco que navega placidamente através dosrecifes e das tempestades após mil oitocentos e nove anos.

Espero, meu caro senador, que não me acuseis de falar dos iluminados sem connhecê-los.Eu os conheci muito, copiei seus escritos com meu próprio punho. Estes homens, entre os quaistenho muitos amigos, frequentemente me instruíram, muitas vezes me deleitaram e outras vezestambém... mas eu não vou me referir a certas coisas. Procurarei, muito pelo contrário, somente veras coisas que me parecem favoráveis. Já vos disse mais de uma vez que esta seita poderá vir a serútil aos países que se afastaram da Igreja, pois que ela preserva o sentimento religioso, habitua oespírito ao dogma, o subtrai à ação deletéria da reforma que não tem limites, e o prepara pararealizar uma nova união. Eu me recordo com a mais profunda satisfação, que entre os iluminadosprotestantes que conheci, aliás em grande número, nunca encontrei qualquer aspereza que fossedemonstrada por qualquer manifestação em particular. Ela não se assemelha a sentimentos destetipo, ao contrário, entre eles somente encontrei bondade, doçura e piedade, embora a seu própriomodo.

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Eu espero que não seja em vão que eles se preenchem do espírito de São Francisco de Sales,de Fénelon, de Santa Tereza. A própria madame Guyon que eles reconhecem pelo sentimento docoração, não lhes será inútil. Contudo, malgrado essas vantagens, ou melhor dizendo, malgradoessas compensações, o iluminismo não é menos perecível sob o domínio de nossa igreja e da vossatambém, uma vez que ele aniquila fundamentalmente a autoridade que é, sem dúvida, a base denosso sistema.

Eu vos confesso, senhores, não compreendo um sistema que não consegue crer em nada anão ser em milagres, e que exige que os sacerdotes os façam, sob pena de declará-losincompetentes. Blair pronunciou um discurso sobre as palavras muito conhecidas de São Paulo:“Nunca vemos as coisas a não ser como num espelho e através de imagens escuras”. Ele prova deforma muito clara que se tivéssemos conhecimento daquilo que ocorre no outro mundo, a ordemdas coisas deste seria profundamente perturbada e brevemente acabaria sendo destruída. O homem,instruído daquilo que o aguarda, não mais teria o desejo ou a força para agir. Meditai tão somentesobre a brevidade de nossa vida. Menos de trinta anos são concedidos para viver conscientementeem sociedade. Quem pode acreditar que um tal ser esteja destinado a dialogar com os anjos ? Se ossacerdotes foram destinados às comunicações, às revelações, às manifestações etc., então oextraordinário será exatamente nosso estado ordinário. Isto é um grande prodígio, mas aqueles quenão se preocupam com os milagres são justamente mestres em neles operar todos os dias. Osverdadeiros milagres são as boas ações que praticamos a despeito de nossa personalidade e denossas paixões. O jovenzinho que consegue comandar os seus olhares e os seus desejos empresença da formosura feminina é um taumaturgo maior que Moisés, e qual é o sacerdote que nãorecomenda esta sorte de prodígios ?

A simplicidade do Evangelho esconde frequentemente sua profundidade. Nele lemos: “Seeles vissem os milagres, eles não acreditariam.” Nada é mais profundamente verdadeiro. Aclareza de inteligência nada tem em comum com a retidão da vontade. Vós bem sabeis, meu velhoamigo, que se certos homens conseguissem encontrar o que procuram, poderiam muito bem tornar-se desprezíveis em vez de se aperfeiçoar. O que nos falta então hoje, se somos mestres em agirbem ? E o que falta aos sacerdotes, se eles receberam o poder de invocar a lei e perdoar astransgressões ?

COMENTÁRIOS FINAIS*

À época em que se presume ter sido escrita a obra Soírées de Saint Pétersburg de Joseph deMaistre, por volta do início do Século XIX e aproximadamente 30 anos após a realização doConvento Maçônico de Wilhemsbad, o mundo cristão encontrava-se envolvido em profundaspolêmicas e crescentes tensões com a evolução da corrente do iluminismo Cristão e a expansão doprotestantismo.

A religião católica lutava em sua heterodoxia e tradicionalismo contra as dissidências dosreformistas que procuravam novos caminhos rumo à evolução, escavada entre os escombros de umcristianismo desmoronado e afastado de seus verdadeiros princípios.

De um lado, os iluminados herméticos, ocultitas cultuadores de uma Doutrina Sagrada eTradicional, verdadeiros arqueólogos da Ciência Divina e arquitetos do Santuário da Luz e daVerdade, discípulos de Saint Martin, o teósofo de Amboise. Do outro lado, os iluminados alemãesfundamentados nos ensinamentos do maior sustentáculo do misticismo do século XVII, JacobBoehme. Estes últimos, utilizando a força de suas convicções desmedidas, tentavam em vão a cada

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passo manter-se próximos aos ensinamentos de seu grande mestre póstumo, desviando-se entretantoda pureza de ideais que originariamente por ele haviam sido estabelecidos.

Joseph de Maistre acreditava num caminho natural e ameno, realizado através da hierarquiasacerdotal existente no seio da própria Igreja, intocável em seus princípios dogmáticos.

Segundo palavras do mestre Papus: “Durante quarenta anos, pelo menos, Joseph de Maistreesteve entre os Mart.’. e outros místicos; penetrou seu espírito, suas teorias e seus projetos. Seujulgamento é, pois, de grande peso. Sem dúvida, ele os censura por odiarem a autoridade, porfiliarem-se às opiniões origenistas.1. mas teria protestado se esses místicos cristãos, que conhecia afundo, tivessem sido algumas vezes satanistas ou luciferianos. É muito deplorável que na Françatenham exístido laicos e mesmo padres tão ignorantes do Caráter do Mart.’. para confundí-lo com amonstruosidade absurda das seitas modernas.”

Fervoroso católico, contemporâneo dos hermetistas Saint Martin, Willermoz, Pasqually emuitos outros, De Maistre via nos ocultistas homens de boa índole em busca de um CristianismoTranscendental, igual àquele dos primeiros cristãos da humanidade. A sua simpatia para com elesir-se-ia paulatinamente aprofundando, passando a relacionar-se com os discípulos de Saint Martinnas Lojas de Willermoz tendo a oportunidade de conhecer a Senda da dor e do padecimentoinerente à conquista pessoal das Virtudes Divinas.

Certamente frustrações e desilusões deveriam marcar a sua vida antes de que pudessereformular pelo menos parcialmente, a confiança que depositava nos homens da Igreja, para podercompreender que a pureza dos ensinamentos místicos de Jacob Boehme e a lúcida realização dasobras de Saint Martin possuíam um vínculo único e universal, símbolo de perpetuação da TradiçãoOcidental Cristã no mundo da forma.

* NT

l Partidários da doutrina de Orígenes, nascido na Alexandria no Século II. Apologista queinterpretava a Bíblia pelo método alegórico. Sua doutrina foi condenada pela Igreja.

Sociedade das Ciências Antigas

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