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UNIDERP UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIO DO PANTANAL UFRGS - PROPAR UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PS-GRADUAO

ARQUITETURA COM BAMBU

Mestrando: Arq. RUBENS CARDOSO JUNIOR Orientador: PROF. Dr. JUAN LUIS MASCAR

Dissertao apresentada em Agosto/2000, no convnio UNIDERP - UFRGS/ PROPAR, como parte dos requisitos para obteno do Ttulo de MESTRE em ARQUITETURA.

UNIDERP UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIO DO PANTANAL

UFRGS - PROPAR UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PS-GRADUAO

ARQUITETURA COM BAMBU

Mestrando: Arq. RUBENS CARDOSO JUNIOR Orientador: PROF. Dr. JUAN LUIS MASCAR

BANCA EXAMINADORA:Profa. Dra. Lucia Mascar - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Prof. Dr. K. Ghavami - Pontifcia Universidade Catlica - PUC-RIO. Prof. L. Doc. J. L. M. Ripper - Pontifcia Universidade Catlica - PUC-RIO.

AGRADECIMENTOS:No poderia deixar de agradecer, o desenvolvimento deste trabalho, o suar junto, para algumas pessoas e entidades:

A UNIDERP, na pessoa de seu Reitor, Prof. Pedro Chaves dos Santos Filho, que teve viso para manter e disparar o gatilho desta pesquisa; Ao Prof. Dr. K. Ghavami, pela sua pacincia, dedicao e vontade de ensinar; Ao Prof. L. Doc. J. L. M. Ripper, que junto com seus alunos, os meninos do desenho Industrial da PUC-RIO, sempre nos encentivaram; Ao Prof. A. Salgado, quem nos deu o primeiro empurro, e sempre nos atendeu de maneira gentil, e sorrindo, tinha uma palavra para nos dar; Aos meninos do Desenho Industrial, da PUC-RIO, em especial: Marcelo (Cebola), Marcelinho, Pedro, Bruno, e Tomas, nossos companheiros de infortnio na ndia; Ao Prof. Eng. Civil EDSON DE MELLO SARTORI, sempre companheiro, em todos os passos dados por ns, sempre ombro a ombro; Aos Prof. Drs. Lucia e Juan Mascar, nossos orientadores, que sempre mantiveram a cabea fria, podendo nos levar ao mais alto degrau nesta escada ngreme; A nossa famlia, minha esposa, minhas filhas e minha me, com seu apoio, nas noites sem dormir, empurrando sempre, puxando e no deixando esmorecer; A todos aqueles, que de maneira direta ou indireta, e no citados neste trabalho, no por esquecimento, mas por falta de espao e tempo, sem vocs nada teria sido possvel; A DEUS, o Grande Arquiteto do Universo, que nos deu o direito de pensar e, poder expremir este pensar.

meu muito obrigado.

RUBENS CARDOSO JUNIOR

UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAO PARA OBTENO DO TTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA - IV

RELAO DAS FIGURAS E TABELASFIGURA 01 - ARMAZENAMENTO ------------------------------------------------------------------------- 20 FIGURA 02 - SECAGEM AO FOGO ----------------------------------------------------------------------- 20 FIGURA 03 - CURA NA MATA --------------------------------------------------------------------------- 23 FIGURA 04 - TRATAMENTO PELO MTODO BOUCHERI -------------------------------------------------- 24 FIGURA 05 - SEQUNCIA DE ESMAGAMENTO E CORREO DE LIGAO ---------------------------------- 29 FIGURA 06 - LIGAO VELEZ ------------------------------------------------------------------------ 30 FIGURA 07 - PEA EM NGULO COM FERRAGEM -------------------------------------------------------- 30 FIGURA 08 - TIPOS DE LIGAO UTILIZANDO BAMBU ROLIO -------------------------------------------- 39 FIGURA 09 - SEQUNCIA DE ABERTURA DE ESTERILHAS ------------------------------------------------- 40 FIGURA 10 - SEQUNCIA DE ABERTURA DE ESTERILHAS ------------------------------------------------- 40 FIGURA 11 - SEQUNCIA DE CORTE DO BAMBU EM TIRAS COM FACA DE MLTIPLO CORTE ----------------- 40 FIGURA 12 - COBERTURA COM TELHA DE BAMBU ------------------------------------------------------- 41 FIGURA 13 - SEQUNCIA DE CORTE DAS RIPAS DE BAMBU ----------------------------------------------- 42 FIGURA 14 - COBERTURA COM RIPAS DE BAMBU -------------------------------------------------------- 42 FIGURA 15 - COBERTURA COM ESTERILHAS ------------------------------------------------------------- 43 FIGURA 16 - COBERTURA COM BAMBU ROLIO --------------------------------------------------------- 43 FIGURA 17 - PAREDE DE BAHAREQUE ------------------------------------------------------------------ 44 FIGURA 18 - PAREDE DE BAHAREQUE ------------------------------------------------------------------ 44 FIGURA 19 - PAREDE DE ESTERILHA -------------------------------------------------------------------- 45 FIGURA 20 - SEQUNCIA DE MONTAGEM DE UMA CASA COM PAINIS DE CANA BRAVA -------------------- 45 FIGURA 21 - CASA COM PAINIS DE TIRA DE BAMBU REBOCADO COM BARRO ---------------------------- 46 FIGURA 22 - DETALHE DE PAREDE COM PAINIS DE TIRA DE BAMBU REBOCADO COM BARRO -------------- 46 FIGURA 23 - PAINIS COM QUINCHA - TIRAS HORIZONTAIS --------------------------------------------- 46 FIGURA 24 - PAINIS COM QUINCHA - TIRAS VERTICAIS ------------------------------------------------ 46 FIGURA 25 - MEMORIAL DA CULTURA INDGENA - FACHADA -------------------------------------------- 78 FIGURA 26 - MEMORIAL DA CULTURA INDGENA - VISTA NOTURNA -------------------------------------- 79 FIGURA 27 - CONCRETAGEM DA BROCA ---------------------------------------------------------------- 80ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - RELAO DAS FIGURAS E TABELAS

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FIGURA 28 - SAPATA EM CONCRETO APARENTE --------------------------------------------------------- 80 FIGURA 29 - DETALHE DA TENTATIVA DE FORMAR OS ARCOS -------------------------------------------- 80 FIGURA 30 - LUVA DE UNIO E INCLINAO DA CALOTA ------------------------------------------------- 81 FIGURA 31 - CALOTA (OCA MENOR) -------------------------------------------------------------------- 81 FIGURA 32 - LUVA METLICA EM FORMA DE CACHIMBO ------------------------------------------------ 82 FIGURA 33 - ANEL METLICO -------------------------------------------------------------------------- 82 FIGURA 34 - ANEL METLICO --------------------------------------------------------------------------- 82 FIGURA 35 - ANEL METLICO, J COM A FIXAO DAS VARAS DE BAMBU (ESTRUTURA) ----------------- 82 FIGURA 36 - ANEL METLICO, J COM A FIXAO DAS VARAS DE BAMBU (ESTRUTURA) ----------------- 82 FIGURA 37 - COLOCAO DOS PARAFUSOS ------------------------------------------------------------ 82 FIGURA 38 - FLAUTAS DE SUSTENTAO DAS VIGAS ------------------------------------------------- 83 FIGURA 39 - VIGAS DE SUSTENTAO DA LAJE --------------------------------------------------------- 83 FIGURA 40 - DESENHOS FEITOS COM CLARABIAS DE BAMBU ------------------------------------------- 83 FIGURA 41 - TRATAMENTO E SECAGEM A BASE DE CHAMA, COM MAARICO GAS ---------------------- 83 FIGURA 42 - COLOCAO E CORTE DAS FOLHAS DE BACURI ------------------------------------------- 84 FIGURA 43 - COLOCAO E CORTE DAS FOLHAS DE BACURI ------------------------------------------- 84 FIGURA 44 - COLOCAO E CORTE DAS FOLHAS DE BACURI ------------------------------------------- 84 FIGURA 45 - MONTAGEM DE FOTOS DO MEMORIAL DA CULTURA INDGENA ----------------------------- 85 FIGURA 46 - MONTAGEM DE FOTOS DE OUTRAS APLICAES -------------------------------------------- 87 TABELA 1 ---------------------------------------------------------------------------------------------- 75 TABELA 2 ---------------------------------------------------------------------------------------------- 76

ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - RELAO DAS FIGURAS E TABELAS

SUMRIO

UNIDERP/UFRGS - PROPAR - DISSERTAO PARA OBTENO DO TTULO DE MESTRE EM ARQUITETURA- VII

SUMRIOAGRADECIMENTOS ------------------------------------------------------------------------------------------ II RELAO DAS FIGURAS ------------------------------------------------------------------------------------ IV SUMRIO --------------------------------------------------------------------------------------------------- VII RESUMO --------------------------------------------------------------------------------------------------- 10ABSTRAC ---------------------------------------------------------------------------------------------------

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CAPTULO I - INTRODUO ---------------------------------------------------------------------------- 14 1.1 OBJETO ----------------------------------------------------------------------------------------------- 14 1.2 CONTEXTUALIZAO ---------------------------------------------------------------------------------- 14 1.3 PRESSUPOSTOS --------------------------------------------------------------------------------------- 15 1.4 OBJETIVOS DA PESQUISA ----------------------------------------------------------------------------- 15 1.5 RELEVNCIA DA PESQUISA ---------------------------------------------------------------------------- 15 1.6 ESTRUTURA DA DISSERTAO ------------------------------------------------------------------------ 16 CAPTULO II - BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUO CIVIL -------------------------------------- 18 2.1 VARIAO DIMENSIONAL EM FUNO UMIDADE/PROC. SECAGEM ----------------------------------------- 18 2.2 SUSCEPTIBILIDADE AO ATAQUE DE INSETOS - CURA E TRATAMENTO -------------------------------------- 21 2.2.1 PROCESSOS DE CURA ------------------------------------------------------------------------------- 21 2.2.2 PROCESSOS DE TRATAMENTO ----------------------------------------------------------------------- 22 2.3 BAIXA ADERNCIA DO BAMBU EM ASSOCIAO COM OUTROS MATERIAIS -------------------------------- 26 2.4 LIGAES EM PEAS DE BAMBU ------------------------------------------------------------------------ 28 2.4.1 RECOMENDAES FUNDAMENTAIS PARA AS LIGAES ESTRUTURAIS ---------------------------------- 29 2.4.2 TIPOLOGIA DAS LIGAES --------------------------------------------------------------------------- 29 2.4.3 CONSIDERAES SOBRE LIGAES DO BAMBU ------------------------------------------------------- 31 2.5 TECNOLOGIA DO BAMBU ------------------------------------------------------------------------------- 32 2.5.1 ETAPAS DE PRODUO ------------------------------------------------------------------------------ 32 2.5.2 CORTE ---------------------------------------------------------------------------------------------- 34 2.5.3 CURA ----------------------------------------------------------------------------------------------- 34 2.5.4 SECAGEM ------------------------------------------------------------------------------------------- 35 2.5.5 TRATAMENTO ---------------------------------------------------------------------------------------- 36ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - SUMRIO

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2.5.6 USINAGEM ------------------------------------------------------------------------------------------ 37 2.6 FORMAS DE UTILIZAO DO BAMBU -------------------------------------------------------------------- 38 2.6.1 BAMBU ROLIO ------------------------------------------------------------------------------------- 38 2.6.2 ESTERILHAS ---------------------------------------------------------------------------------------- 38 2.6.3 BAMBU EM TIRAS ----------------------------------------------------------------------------------- 38 2.6.4 TRANADO ----------------------------------------------------------------------------------------- 39 2.6.5 CHAPAS DE BAMBU --------------------------------------------------------------------------------- 39 2.7 COMPONENTES PARA CONSTRUO DE BAMBU --------------------------------------------------------- 39 2.7.1 COBERTURA ---------------------------------------------------------------------------------------- 40 2.7.2 PAINIS DE FECHAMENTO ---------------------------------------------------------------------------- 41 CAPTULO III - OBRAS EXISTENTES -------------------------------------------------------------------- 48 3.1 ESCOLA ECOLGICA DO EQUADOR - UNICEF ------------------------------------------------------ 48 3.2 EXPERINCIA HABITACIONAL - HOTEL ECOLGICO ALNDALUZ ----------------------------------------- 50 3.3 PROJETO NACIONAL DO BAMBU - COSTA RICA ------------------------------------------------------ 53 3.4 PROJETO MIHRAS-PERU ------------------------------------------------------------------------- 58 3.5 EXPERINCIA HABITACIONAL EM CALDAS -------------------------------------------------------------- 61 3.6 EXPERINCIA HABITACIONAL EM MANIZALES ----------------------------------------------------------- 67 3.7 ESTRUTURA ESPACIAL PARA ESCOLA ------------------------------------------------------------------ 67 3.8 PROJETO PINDORAMA --------------------------------------------------------------------------------- 69 3.9 CONSTRUO DE UM PROTTIPO EM SO CARLOS ---------------------------------------------------- 71 3.10 PESQUISAS DE UTILIZAO DO BAMBU --------------------------------------------------------------- 74 TABELA 1 PESQUISAS DESENVOLVIDAS FORA DO BRASIL -------------------------------------------------- 75 TABELA 2 PESQUISAS DESENVOLVIDAS NO BRASIL -------------------------------------------------------- 76 CAPTULO IV - MEMORIAL DA CULTURA INDGENA ---------------------------------------------------- 78 4.1 DADOS TCNICOS DA OBRA --------------------------------------------------------------------------- 78 4.2 HISTRICO -------------------------------------------------------------------------------------------- 78 4.3 EXECUO DA OBRA ---------------------------------------------------------------------------------- 80 4.3.1 FUNDAO E ESTRUTURA --------------------------------------------------------------------------- 80 4.3.2 VIGAS ---------------------------------------------------------------------------------------------- 83ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - SUMRIO

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4.3.3 FECHAMENTO E ABERTURAS ------------------------------------------------------------------------- 83 4.3.4 TRATAMENTO DO BAMBU ---------------------------------------------------------------------------- 83 4.3.5 COBERTURA ---------------------------------------------------------------------------------------- 84 4.4 FINALMENTE... ----------------------------------------------------------------------------------------- 84 CAPTULO V - OUTRAS APLICAES ----------------------------------------------------------------- 87 CAPTULO VI - CONCLUSES ------------------------------------------------------------------------- 89 REFERNCIA BIBLIOGRAFICA -------------------------------------------------------------------------------- 94 BIBLIOGRAFIA -------------------------------------------------------------------------------------------- 102

ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - SUMRIO

RESUMO e ABSTRACT

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RESUMOEste trabalho tem a modesta inteno de esclarecer alguns pontos obscuros na arte de construo com bambu. Queremos com isto, vencer pr-conceitos, especialmente no nosso estado (Mato Grosso do Sul), onde a informao demora um pouco mais para chegar, pela sua localizao geogrfica e falta de pesquisadores. Abordamos pontos de interesse, sem com isto, dizer que estes so os mais importantes, mas buscamos o mais significativo, sem mesosprezar aqueles no abordados. Procurarmos estabelecer uma linha de pensamento, dividida da seguinte forma: ETAPAS DE PRODUO; PONTOS DE INFLUNCIA NO DESEMPENHO DO BAMBU COMO MATERIAL DE ENGENHARIA; FORMAS DE UTILIZAO DO BAMBU; LIGAES COM PEAS DE BAMBU; APLICAES DO BAMBU; OBRAS EXISTENTES e PESQUISAS REALIZADAS. Tambm apresentamos uma obra desenvolvida e construda por ns, sem com isto, menosprezar trabalhos de outros autores.

Palavras Chave: Bambu; Pesquisa; Construo Civil.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - RESUMO E ABSTRACT - PGS. 11 A 12

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ABSTRACT

This work has the modest intention to show some dark spots in the art of bamboo construction. We want with, this work to beat preconceived concepts, specially in our state (MS), where information takes long time to get, because of its location and for its defaul of researchers. We approach points of interest, without telling that there are the most important ones, but reaching the most meaningful one, without underrate the not approachead points. We want to draw a line of thinking, divided in the following way: Production stages; Influential spots on bamboos performance as an engeneering material; Ways of how to use bamboo; League with bamboo parts; Bamboo usage; Existing works; Realized searchs. We also present a developed work and built by us, without taking less care with others authors work.

Key words:

Bamboo; Research; Civil Architecture.

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CAPTULO I

INTRODUO

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1. INTRODUOA habitao de baixo custo , atualmente, uma constante problemtica em vrios pases em desenvolvimento. A habitao para qualquer ser humano uma condio bsica para sobrevivncia, relacionando-se diretamente ao quadro de sade de uma populao. Os grandes centros urbanos crescem e se modernizam, porm os problemas habitacionais tornam-se cada vez mais agravantes. Como uma alternativa a mais para minimizar o problema habitacional, e dentro de uma politica habitacional adequada, o uso do bambu pode ainda representar uma resposta, dentre as vrias, que possibilita o melhor aproveitamento dos recursos locais, atravs de solues ecologicamente corretas. O uso do bambu permite ainda, uma reduo considervel dos custos de produo, possibilitando a capacitao de profissionais e da prpria comunidade atravs da participao da populao nas construes.

1.1. Objeto.Na sistematizao das informaes existentes sobre a utilizao do bambu como material para construo, algumas lacunas foram encontradas, auxiliando no direcionamento da pesquisa. O objetivo foi delimitado a partir da existncia de uma deficincia no sentido de explicitar as possibilidades tcnicas para aplicao do bambu como material para construo em habitao, em especial de interesse social.

1.2. ContextualizaoEm relao ao objeto de estudo, na maior parte das pesquisas encontradas so enfocadas questes relativas a estudos sobre espcies, corte e secagem; comportamentos fsicos e mecnicos; estudos das tcnicas de preservao e tipos de preservativos, mas poucos definem recomendaes para utilizao do bambu na construo de habitao, apesar de seu grande potencial para este fim. Um outro problema enfrentado no desenvolvimento da pesquisa, pelo fato do bambu no ser tradicional como material para construo no Brasil, cultural. Pelo desconhecimento, e pelo uso indevido, muitas vezes o bambu visto como obsoleto e retrgrado, com cara feia. Porm, quando analisadas suas propriedades, comprovada sua alta resistncia mecnica, assim como satisfatria durabilidade, se submetidos a tratamentos adequados e obedecidas as recomendaes corretas de manejo e uso do material. Um dos grandes problemas a serem resolvidos tambm para proporcionar um desempenho adequado em sua aplicao, principalmente como elemento estrutural, o estudo das ligaes estruturais, representando um dos temas mais frequentes nas pesquisas sobre aplicao do bambu na construo. Em relao ao processo de produo, encontra-se tambm uma problemtiARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - INTRODUO - PGS. 13 A 16

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ca, no sentido da necessidade de aprimoramento da tcnica construtiva para a produo em srie, devido ao alarmante dficit habitacional enfrentado atualmente no pais.

1.3. PressupostosApesar do Brasil no possuir tradio construtiva na utilizao do bambu, a espcie mais propcia para construo, Guadua angustlfolia nativa na nossa regio (pantanal e regiies prximas: Bonito, Miranda, Aquidauana), foi exportada para Costa Rica onde iniciou-se o cultivo em larga escala, para sua utilizao em construes de baixa renda. Atualmente Costa Rica considerado o pais mais desenvolvido na produo de habitao em Bambu, atendendo a todos os pr-requisitos exigidos pela ONU na produo de habitao de baixo custo. (Folha de So Paulo, 1996). A pesquisa partir ainda, de pressupostos baseados em estudos realizados sobre comportamentos fisicos e mecnicos (obtidas na literatura), alm de estudos sobre a durabilidade do material aps aplicao de preservativos.

1.4. Objetivos da PesquisaO objetivo geral da pesquisa sistematizar as solues tnicas adotadas, atravs da compilao dos exemplos construtivos mais significativos, para a utilizao do bambu como material para construo, com vistas a sua aplicao na construo civil.

1.5. Relevncia da PesquisaAtravs desta pesquisa, pretende-se mostrar a viabilidade de aplicao deste material aos profissionais da rea, permitindo tambm, o acesso s informaes tcnico-construtivas pelas comunidades, na construo de suas prprias habitaes, principalmente nas zonas rurais (pantaneira) e de transio entre o centros urbanos e o campo, atravs de uma politica habitacional adequada. Uma vez que essa tcnica construtiva com o bambu facilmente assimilada pela populao, possivel o trabalho em mutiro e autoconstruo BAMBUSETUM (1994) e MORAN (1991), tendo em vista a lastimvel realidade da produo de moradia no pais, onde ainda encontra-se uma parcela significativamente grande da populao que depende da produo autnoma e informal de habitao. A possibilidade de reduo dos custos totais, poder reforar a utilizao do bambu em programas habitacionais, representando uma alternativa a mais para a resoluo dos problemas habitacionais. Permitir ainda, o uso de um material ecologicamente correto, que possibilita a diminuio considervel de gastos com energia na fabricao de componentes para construo. Alm disto, o bambu possibilita, com o plantio em reas degradadas, a recuperao do solo, a conteno da eroso e o aumento da umidade relativa do ar na regio, dando suporte ao crescimento de espcies arbreas nativas.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - INTRODUO - PGS. 13 A 16

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1.6 Estrutura da DissertaoA estrutura da dissertao foi dividida em 6 captulos. O contedo reunido em cada um dos captulos tem por finalidade descrever assuntos especficos para o desenvolvimento da pesquisa. CAPTULO I: INTRODUO Tem como meta a delimitao do objeto de estudo, contextualizar e definir os objetos da pesquisa. CAPTULO II: BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUO CIVIL Apontam as premissas bsicas para pesquisa, configurando a Reviso Bibliogrfica. Discorrem sobre consideraes a respeito de espcies mais adequadas para o uso na construo; cultivo, produtividade. Abordam ainda aspectos que influenciam no desempenho do bambu como material para construo. Descrevem-se as etapas de processamento do bambu, desde o corte usinagem. As formas de utilizao do bambu, relacionando-as na aplicao como componentes de edificao. CAPTULO III: OBRAS EXISTENTES Sero analisados os aspectos tcnico-construtivos de cada um dos projetos selecionados. Sero abordados dados sobre as tcnicas utilizadas em cada etapa construtiva. CAPTULO IV: MEMORIAL DA CULTURA INDGENA Demonstra em rpidas palavras e fotos, a primeira obra pblica do pas, executada em bambu. CAPTULO V: OUTRAS APLICAES Fotos de objetos e utilidades no mundo do bambu, apenas para exemplificar quase tudo aquilo que se pode fazer com o bambu. CAPTULO VI: CONCLUSES Um breve resumos dos pontos mais importantes abordados no escopo do trabalho, e traa diretrizes de trabalho com bambu.

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CAPTULO II

BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUO CIVIL.

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2. BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUO CIVILApesar do bambu possuir altos valores de resistncia mecnica, principalmente trao e compresso, h muitos aspectos que na prtica so dificilmente resolvidos, devendo ser estudados, e normatizados, para possibilitar sua aplicao. Neste item, sero abordados alguns aspectos que influenciam diretamente na utilizao do bambu na construo de habitaes, so eles: 2.1. Variao dimensional em funo do teor de umidade / processos de secagem; 2.2. Susceptibilidade ao ataque de insetos - cura e tratamento; 2.3. Aderncia do bambu em composio com outros materiais; 2.4. Ligaes entre peas de bambu; Estes aspectos so apontados, por vrios pesquisadores, como os mais frequentes e significantes, sendo descritos de acordo com as pesquisas desenvolvidas, apontando algumas solues e recomendaes necessrias para minimiz-los, afim de atingir melhor desempenho do material. Porm, pode-se encontrar outros pontos crticos, como: - problemas de padronizao da conicidade dos colmos; - grande heterogeneidade dimensional, grandes deflexes das peas e alta variabilidade nas propriedades fsicas e mecnicas encontradas entre as espcies.

2.1. Variao dimensional em funo da umidade / processos de secagemUm dos principais fatores de maior preocupao em relao grande variao dimensional, em funo da umidade, a dificuldade de mecanizao para o processamento do bambu, portanto, a racionalizao da construo com este material encontra algumas dificuldades inerentes por ser um material natural. Os problemas podem ser observados na utilizao do bambu, principalmente em composies com o concreto e em ligaes estruturais. Durante o processo de usinagem do bambu tambm so frequentes os defeitos de secagem (devido s diferenas entre retrao axial, radial e tangencial). Segundo BERALDO (1987), o bambu imaturo, ao ser envolvido pelo concreto, comea a amadurecer e sofrer contraes, eliminando gua e perdendo aderncia com o concreto. No caso de se utilizar bambu seco, deve-se coloc-lo em gua dois ou trs dias antes da concretagem, para evitar a absoro de gua do concreto. Em peas de grande responsabilidade estrutural devem ser empregados somenteARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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colmos maduros, e sempre, impermeabilizados. Em regies sujeitas aos esforos de flexo, devem ser utilizados bambus que tenham secado por 3 ou 4 semanas. A impermeabilizao dos bambus podem ser feita com piche, tintas, vernizes, nos quais se espalha areia seca, no intuito de propiciar uma superfcie mais rugosa. Apesar de no comprovado cientificamente, acredita-se que haja grande influncia da lua no corte do bambu. Segundo MARTINEZ & GONZLEZ (1992) se o bambu no for cortado na poca certa, na lua minguante e na poca da seca, o teor de umidade pode ser muito alto provocando alguns defeitos na secagem, como: fissuras, rachaduras e deformaes. As fissuras ocorrem s nos entrens, e so menores que as rachaduras que podem inutilizar a pea toda. J as deformaes so as torceduras do bambu no sentido longitudinal da pea. Uma das solues mais empregadas para se evitar problemas devido a variao dimensional a impermeabilizao do bambu para evitar a absoro de gua, podendo ser ainda associados aos cuidados de corte e de secagem adequados ao bambu. GREGOIRE (1974) aponta algumas vantagens de secagem do bambu: reduz problemas causados pelas contraes e dilataes; - diminui o peso; - abaixo de 15% de umidade, elimina-se os organismos que causam o mofo e a podrido; - aumenta a resistncia mecnica e - facilita os trabalhos de acabamento. GALVO (1967) concluiu que o perodo de tempo necessrio secagem de colmos de bambu at um teor de umidade de equilbrio com o ambiente, foi de 51 dias para peas rolias. As estacas rachadas requerem 14 dias, em lugar abrigado e em poca seca para atingir a umidade de equilbrio. De acordo com o GREGOIRE (1974), a secagem pode ser feita atravs de 3 processos : a) Secagem ao ar livre De acordo com NAES UNIDAS (1972), o perodo de secagem do bambu ao ar livre de 6 a 12 semanas para se atingir maior resistncia e evitar fissuras. Os bambus armazenados devem estar cobertos e isolados do solo em plataformas elevadas de aproximadamente 30 cm. O terreno deve ser desinfetado, se houver a presena de restos de madeira atacadas por insetos e fungos. Pode-se ainda armazenar os bambus na vertical, isolados do solo, dispostos lado a lado, permitindo-se inspecionar com facilidade o material armazenado.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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Deve-se dispor os bambus em camadas superpostas, isolando uma camada da outra com bambus tambm na horizontal, dispostos perpendicularmente e com um dimetro de 1,5 vezes, em relao ao bambu colocado para secar. O espao entre os bambus, em uma mesma camada, deve ser de meio dimetro. As peas armazenadas devem ficar isoladas do solo em 30 cm e devidamente protegidas das intempries (FIGURA 1). A secagem pode durar em mdia 2 meses, podendo variar segundo as condies de temperatura; ventilao e umidade relativa do ar. b) Secagem ao fogo Modo muito utilizado para FIGURA 1 - ARMAZENAMENTO endireitar peas tortuosas, o calor utiliFONTE: HIDALGO (1981) zado deve ser controlado, para se evitar a secagem muito rpida, pois com uma contrao excessiva, o bambu poder apresentar alguns defeitos (FIGURA 2). Os bambus devem ser movimentados para uma secagem mais uniforme. Aconselha-se tambm que antes dos bambus serem submetidos a este processo de secagem, a umidade das peas de bambu sejam reduzidas em 50%. Os defeitos mais comuns para este tipo de secagem so: - fissuras superficiais - extremidades; - fendilhamento generalizado; - deformaes eFIGURA 2 - SECAGEM AO FOGO FONTE: HIDALGO (1981)

- mudana de colorao. Este processo pode ser usado tambm como forma de tratamento. De acordo com OHKE (1989), os bambus dispostos sobre a brasa, eliminam lentamente a gua e outros produtos indesejveis atravs da superfcie externa. Estas substncias que vo sendo eliminadas devem ser removidas com um pano. O bambu, em seguida deve ser submetido a raios infravermelhos, ficando com uma superfcie brilhante, sem a perda da flexibilidade das fibras. c) Secagem em estufa Neste processo so utilizadas estufas convencionais semelhantes s empregadas para secagem de madeira. Este sistema mais rpido e eficiente para seARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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obter teores de umidades desejadas, porm envolve custos mais elevados. recomendado para secagem em larga escala. Este processo de secagem pode ser feito em 2 ou 3 semanas, porm h maiores possibilidades de ocorrerem rachaduras nas peas devido velocidade de secagem.

2.2. Susceptibilidade ao ataque de insetos - cura e tratamentoUm dos problemas que impede a difuso da utilizao do bambu na construo o fato de serem altamente susceptveis deteriorao por ataque de insetos e fungos. Nota-se uma grande variao de durabilidade entre as espcies, principalmente em relao concentrao de amido. Segundo relatos de vrios pesquisadores, o Bambu Brasil ou Bambu Imperial, Bambusa vulgaris var. vittata, possui alta concentrao de amido, sendo um dos mais susceptveis ao ataque de insetos. Por outro lado, um dos bambus mais resistentes ao ataque de insetos e fungos o Bambusa angustifolia, cuja concentrao de amido uma das mais baixas. Segundo TARGA & BALLARIN (1990), tem sido observado que algumas madeiras utilizadas em conjunto com esta espcie de bambu, tiveram que ser substitudas anteriormente, por causa do ataque de insetos, enquanto o bambu ainda permanecia intacto. Segundo publicaes das NAES UNIDAS (1972), para se reduzir ao mnimo os ataques de insetos deve-se efetuar o corte dos bambus, com nveis mais baixos de concentrao de amido, fase correspondente a primeira parte da temporada de inverno (poca da seca). Na ndia, este perodo corresponde aos meses compreendidos entre outubro a fevereiro. No Japo se considera o melhor perodo para o corte outubro e novembro. Relata-se que a vulnerabilidade ao ataque de fungos tambm tem certa relao com o perodo de corte, apesar destes aspectos no terem sido suficientemente investigado na maioria das espcies. Observou-se ainda que as partes mdias e superiores so menos resistentes ao ataque de insetos.

2.2.1. Processo de curaPara tornar mais eficiente o tratamento das peas de bambu, importante a etapa de cura do bambu, ou seja, processo muito utilizado para tornar o material recm cortado menos propenso ao ataque de insetos, com a eliminao de grande parte da seiva, reduzindo a concentrao de amido pela transpirao das folhas. Dois procedimentos so citados por HIDALGO (198l): a) cura na mata ou b) imerso. A cura feita na mata apresenta resultados mais adequados, pois o bambu conserva sua cor natural, evitando manchas de fungos e rachaduras nas peas. A cura por imerso em gua pode tornar o bambu mais leve e quebradio. De acordo com publicaes das NAES UNIDAS (1972), o processo de cura tem como objetivo diminuir o teor de umidade das peas e a concentrao de amido, evitando o ataque de insetos. No processo de cura na mata aplicava-se umaARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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soluo extremamente txico de 5% de DDT em p mineral, no extremo inferior do talo recm cortado, sem cortar as folhas e ramas do bambu. As peas devem ficar isoladas do solo por uma pedra (FIGURA 3). Segundo HIDALGO (1981), os bambus curados na mata foram 91,60% menos atacados que os no curados.

2.2.2. Processo do tratamentoDe acordo com vrios estudos sobre processos de tratamento de bambu, trs processos (em itlico), foram considerados os mais adequados para o tratamento de bambu:

FIGURA 3 - CURA NA MATA FONTE: HIDALGO (1981)

- a) por transpirao das folhas ou substituio de seiva; - b) mtodo tampo; - c) tratamento sob presso (Boucherie); - d) mtodo de impregnao por imerso; - e) banho a quente e; - f) tratamento em autoclave. De acordo com CAMBONERO et al (1991), a resistncia ao ataque de fungos e insetos podem ser incrementados significativamente seguindo uma combinao de procedimentos, como: - uma adequada manipulao do material, desde o momento em que se cortam os colmos no campo, at a montagem no local do edifcio; - um desenho arquitetnico adequado que propicie que o bambu se encontre resguardado dos elementos naturais que o degradem, criando barreiras para a proliferao de fungos e insetos. TARGA & BALLARIN (1990) concluem que, em geral, a durabilidade do bambu curta, sem tratamento. Chegaram aos seguintes valores: - 6 a 24 meses, quando enterrados no solo; - 22 a 41 meses, quando em contato direto com o solo; - 2 a 7 anos, sob cobertura e sem contato com o solo.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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Para TAMOLANG et al (1980a), a durabilidade natural do bambu de aproximadamente: - 6 meses, quando exposto a condies agressivas em regies prximas ao mar; - 1 a 3 anos, quando usado em ambientes externos; - 4 a 7 anos, quando usado em ambientes internos e; - 10 a 15 anos, quando expostos ao fogo e ao calor (utenslios domsticos). De acordo com OHKE (1989), especialista em tratamento de bambu para utilizao do material em construo, h trs pontos vulnerveis que comprometem o desempenho do bambu: o apodrecimento por fungos; o ataque de insetos e as rachaduras. O mesmo autor indica trs procedimentos de tratamento: processo de retirada de leo (a seco e a mido) e em autoclave. A seguir, de acordo com vrios autores sero apresentados alguns mtodos de tratamento do bambu, como: a) Tratamento por transpirao das folhas ou substituio de seiva. Este tratamento aplica-se logo aps o corte das peas de bambu na floresta. Os mesmos devem ser deixados o mais vertical possvel, isolados do solo, sem retirar os galhos e folhas. Aps se verificar que o excesso de seiva parou de sair pela parte inferior, os bambus devem ser mergulhados num recipiente com produto qumico solvel em gua. Inicia-se assim, o processo de substituio da seiva por produto qumico, atravs da transpirao das folhas. Segundo publicaes das NAES UNIDAS (1972), para se conseguir uma penetrao adequada necessitam-se de 1 ou 2 semanas. O recipiente com soluo preservante deve ter uma profundidade de 30 a 60 cm. b) Tratamento por presso hidrosttica Tambm deve ser aplicado em bambus recm cortados. A seiva ser substituda, neste processo, por presso hidrosttica que passar do recipiente posicionado em um nvel mais alto do que o bambu e eliminado pela outra extremidade. Os dados relativos a este tratamento ainda so escassos. A durao do tratamento pode variar de 5 a 6 dias conforme as dimenses do colmo. c) Tratamento sob presso (Boucherie) Trata-se de uma melhoria do tipo anterior, aumentando-se a presso do liquido, e reduzindo o tempo de tratamento. A presso aplicada no reservatrio de produto qumico pode atingir de 10 a 15 libras. O tratamento possui uma durao de 2 a 3ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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minutos. O liquido que sai na extremidade inferior pode ser reutilizado, desde que se aumente sua concentrao (FIGURA 4). Todavia, com o aumento da idade dos bambus, diminui a quantidade de seiva nos colmos, aumentando a resistncia passagem do liquido de tratamento. Neste casos, as peas devem ser tratadas por outros mtodos, como o tratamento por impregnao por banho quente e frio, indicado para bambus secos. Devido s mudanas dimensionais ocasionadas pela secagem, a vari- FIGURA 4 - TRATAMENTO PELO MTODO BOUCHERIE FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. (COSTA RICA) ao do teor de umidade influi de modo significativo no tratamento com substncias preservantes. O bambu recm cortado com elevado teor de umidade facilita a substituio da seiva pelo mtodo Boucherie, em comparao com bambus secos. Outros mtodos de tratamento so citados pelas NAES UNIDAS (1972), como: d) Mtodo do impregnao por imerso Trata-se de um dos tratamentos mais baratos. Os bambus preferivelmente verdes devem ficar submersos em uma soluo preservante por um perodo de 5 semanas ou mais. Se a pea for projetada para ter longa permanncia em contato direto com o solo, a mesma deve ficar por um perodo maior na soluo. Com este mtodo de tratamento pode-se obter uma taxa de impregnao adequada. Em bambus partidos pode-se reduzir o tempo do tratamento de 33 a 50% e a penetrao do preservativo pode chegar a 100%. Rompendo-se a pelcula externa, atravs de alta temperatura, pode-se acelerar a penetrao. Segundo GALVO (1967), a absoro de preservativos em banho frio em soluo de pentaclorofenol a 5% de concentrao em peso base de leo diesel ou leo queimado, variaram de 9,30 a 35,80 kg/m3 de bambu, durante 7 a 8 dias. O autor concluiu, ainda, ser um tratamento vivel economicamente, porm sendo altamente txico, atualmente proibido sua utilizao (pentaclorofenol). SALGADO (1985) utilizou o tratamento a frio para eliminao de insetos, com soluo de leo diesel (aproximadamente 1,6 kg/l de leo) e inseticida DDT a 50% ou BHC a 12% (ou Aldrin) em tambor aberto. Cabe sinalizar que estes produtos tambm no devem ser utilizados devido a elevada toxidade. c) Banho a quente De acordo com publicaes das NAES UNIDAS (1972), no processo de banho quente, os bambus secos ao ar so imersos em tanques abertos (processo similar ao tratamento de madeira) com soluo de substncias preservantes, elevanARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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do a temperatura a 90 C, aproximadamente durante o tempo desejado e depois deixando esfriar, utilizando-se tambores abertos sobre o fogo. Neste mtodo registrou-se uma absoro de creosoto de 70,40 kg/m3. No caso da utilizao de substncias preservantes que no suportam altas temperaturas, os bambus devem ser aquecidos anteriormente e logo aps submergidos na soluo qumica. BOURNE (1978) utilizou bambu tratado com enxofre aquecido a 112o C, envolvendo-o logo aps com arame farpado e areia grossa, para ser aplicado dentro do concreto. Concluiu que o tratamento de baixo custo. Segundo AZZINI & SALGADO (1992b), o tratamento do bambu pode ser realizado em banho a quente com gua, uma vez que o amido, principal elemento de atrao de insetos, tem um aumento da solubilidade em gua aquecida, com temperatura superior a 65o C. Desta maneira, os grnulos de amido podem ser decompostos termicamente e eliminados. Este processo multo utilizado na fabricao de papel de bambu. Segundo OHKE (1989), o bambu pode ser submerso em gua quente com soda custica. A saturao durante este processo muito rpida, podendo provocar defeitos nas peas, causando ainda atravs deste processo a perda parcial de flexibilidade. De acordo com OHKE (1989), este processo adequado para bambus secos, com teor de umidade abaixo de 20%. Os bambus quando rolios podem romper-se sob presso, portanto para evitar rachaduras pode-se perfurar os ns. A absoro foi a mesma que no processo de impregnao, com um perodo de durao de uma semana, porm prolongando-se para 5 semanas, obteve-se absoro de 1,5 a 2 vezes mais que a atingida na autoclave. Os engenheiro Plinio de Souza Fernandes e Clvis Ribas (1995), iniciaram experimentos de tratamento de bambu em autoclave, com a espcie Dendrocalamus giganteus, Bambu Gigante, no Instituto Florestal de So Paulo (Manduri), afim de avaliar os ndices de impregnao, durabilidade e viabilidade econmica. TAMOLANG et al (1980a) em experincias com tratamento em auto-clave, afirmaram que o mesmo alm de ser anti-econmico, apresenta problemas de ruptura dos colmos. Para atingir impregnao satisfatria, necessrio eliminar os vazios das paredes do bambu, com vcuo. Em geral, os bambus rolios se rompem, especialmente se possurem paredes finas. Somente as espcies de bambus de paredes espessas suportam o tratamento sob presso. FANG & MEHTA (1978) comprovaram que, em geral, a variao da resistncia do bambu em peas tratadas e sem tratar, foram sempre da ordem de 3:1, isto , que a resistncia nas peas tratadas trs vezes maior que nas no tratadas. CAMBONERO et al. (1991) recomendaram, como melhor preservante, produtos a base de boro, por suas caractersticas de difuso, atingindo-se boa reteno e baixa toxicidade para humanos. Para se aumentar a reteno do liquido preservativo necessrio excluir a maior quantidade de ar das paredes do bambu, pois o ar bloqueia os dutos por onde o lquido flui.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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A impregnao do bambu com preservantes base de boro, se faz atravs do processo Boucherie Modificado, sob presso hidrosttica (80 a 120 KPa), atingindo uma impregnao de 0,83 a 1,24 MPa em bambus de 3m de comprimento. Como soluo preservativa utilizou-se octoborato disdico tetrahidratado a 5%, 10% e 15% em gua. A seiva foi substituda em um tempo de 5 a 35 minutos. Os resultados apresentados pelos mesmos autores, ao final de 15 meses em campo de prova das peas de bambu, foram: - as peas no tratadas foram praticamente destruidas pelos insetos; - as peas tratadas foram levemente atacadas na parte superior do bambu, mas nenhuma foi destruida. Aps a anlise qumica, pde-se notar que a parte superior das peas no recebeu quantidade adequada de preservativos, e foi somente nessa regio que os insetos perfuraram os bambus. Depois de 6 meses os colmos foram abertos longitudinalmente encontrando-se todos os insetos mortos em seu interior. Concluiu-se que para se obter melhores resultados, os bambus devem ser maduros, sem evidncias de ataques de insetos e recm cortados. Se recomenda estabelecer um sistema de normatizao e seleo do material antes de um tratamento preservativo, Quando no for possvel tratar o material, logo aps o corte, pode-se optar pelo armazenamento temporrio em gua para a extrao parcial do amido. Em geral, os preservativos utilizados no tratamento das peas de bambu so muito semelhantes aos produtos aplicados nas madeiras. Vrios processos de tratamento foram experimentados, obtendo-se resultados compatveis para viabilizar a utilizao do bambu na produo de habitao de baixa renda.

2.3. Baixa aderncia do bambu em associao com outros materiaisAlguns experimentos foram realizados para aumentar a aderncia do bambu, quando aplicado em composio com outros materiais, impermeabilizando-o, de tal modo a evitar grandes variaes dimensionais, pela absoro dgua, principalmente em contato com argamassa de revestimento (muito utilizado no reboco dos painis de bambu). De acordo com KURIAN & KALAM (1977), quando utilizado em composio com o concreto, o bambu sofre dilatao pela facilidade de absoro de gua do concreto, causando fissuras no mesmo. Logo aps, sofre retrao com a eliminao de gua, destruindo a aderncia com o concreto. BERALDO (1987) conclui ainda que: - quando se utilizam bambus imaturos, em geral surgem fissuras no concreto antes que se desenvolva a aderncia; - os colmos tratados quimicamente desenvolvem uma maior aderncia do que os no tratados;ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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- no bambucreto, utilizando-se bambus maduros e tratado com emulso asfltica, desde que no seja em excesso, apresenta maior resistncia do que o bambu no tratado ou imaturo. BAUMANN apud BARMAK (1938) constata que no possivel obter um conjunto solidrio entre bambu e o concreto, pois no h nenhuma aderncia entre os mesmos. O mesmo autor conclui que o bambu antes de ser utilizado com concreto deve ser impermeabilizado. O impermeabilizante dever satisfazer as sequintes exigncias: - que a impermeabilizao se faa por meio de untamento ou revestimentos; - o produto impermeabilizante no deve produzir reaes quimicas prejudiciais, nem ao bambu, nem ao concreto; - deve ser insolvel e inaltervel na gua; - deve secar o mais rpido possivel e; - quando a impermeabilizao se fizer por meio de revestimento, deve aderir fortemente ao bambu. Atravs de alguns experimentos, KURIAN & KALAM (1977) concluem que uma das maneiras mais eficientes para se impermeabilizar o bambu a aplicao de 3 camadas de uma soluo de 40% de resina solvel em lcool, seguindo de uma demo de zarco (xido de chumbo), resultando na absoro de apenas 1% de gua em 24 horas. Aplicando-se o dobro da camada foi possivel diminuir para 0,3% a absoro de gua. LIMA et al (1996) utilizaram produtos base de petrleo, Negrolim e arame. Aps a aplicado do petrleo ou Negrolim, o bambu foi envolvido em uma camada de areia grossa. Em ambos os casos, produtos base de petrleo foram desaconselhados para a regio nordestina, pois devido elevada temperatura, no houve total solidificao do produto, ocasionando o deslizamento da superfcie de contato do concreto com bambu. Segundo GHAVAMI & HOMBEECK (1981), os melhores resultados obtidos em experincias para impermeabilizao do bambu, foram com cera e resina (Epoxi), porm ainda no foram considerados apropriados pelo alto custo e baixa aderncia com concreto. Resultados satisfatrios foram obtidos com a aplicao de enxofre e areia, mas apesar de ter sido indicado por FANG & MEHTA (1978) que seu uso provoca algumas trincas, aps o terceiro dia submerso na soluo. Segundo BARMAK (1938) necessrio o uso de impermeabilizantes para evitar problemas de destacamento do bambu, devido a absoro de gua do concreto, uma vez que a pelcula externa do bambu no totalmente impermevel. De acordo comARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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o mesmo autor, o impermeabilizante que apresentou melhor resultado, a baixo custo, foi a massa Mayorits, produto base de alvaiade adicionada 10% de verniz, em duas camadas. Segundo BARMAK (1938), em testes de arrancamento de tiras de bambu, constatou-se que a aderncia entre o bambu e o concreto atingiu, sem os ns, uma SI mdia de 0,35 MPa. Com a presena de ns, a aderncia foi to grande, no ponto de ao de carga a resistncia compresso, que o bambu atingiu 82,5 MPa. Aps o rompimento do corpo-de-prova ficou constatado que o bambu permanecia no concreto. O concreto alcanou uma resistncia de 20 MPa. Os problemas de absoro de gua e mudanas de volume dos colmos de bambus, em vrios paises da sia, foram solucionados por CHEMBI & NIMITYONGSKUL (1989) com a utilizao de uma mistura de resina produzida na prpria regio, derivada do ltex de seringueiras e cal virgem, como material enrijecedor. A mistura foi utilizada, no Asian Institute of Technology, na impermeabilizao da parede de bambus para a produo de tanques. Nota-se que houveram vrios estudos sobre a viabilidade da aplicao do bambu em conjunto com concreto, apontando vrias solues principalmente no sentido de aumentar a aderncia e problemas de fissuras. A seguir, ser apresentada outra forma de aplicao do bambu, em sua forma natural, o bambu rolio, apresentando novos pontos crticos, em especial problemas de ligaes estruturais e algumas solues adotadas por diversos pesquisadores.

2.4. Ligaes em peas de bambuO objetivo deste tpico consiste em sistematizar as diversas tnicas de ligaes utilizadas em elementos estruturais pr-fabricados em bambu para habitao. As ligaes, um dos aspectos de maior interesse para viabilizar a utilizao deste material para fins estruturais, em particular destinadas habitao, tem sido tema para recentes pesquisas. Algumas recomendaes e procedimentos construtivos fundamentais sero abordados para garantir a estabilidade das ligaes e, consequentemente, de toda a estrutura do sistema construtivo. Sero analisados aspectos, como: desempenho dos materiais utilizados na composio das ligaes; desenho de usinagem das peas de bambu e posicionamento destas entre si. O resultado deste levantamento de solues tnicas sobre ligaes estruturais demonstra que existem tcnicas j experimentadas e em uso. Sero apresentado ainda um quadro de recomendaes fundamentais, assim como, uma descrio das tipologias das ligaes e algumas concluses, fornecendo subsdios aos projetistas na utilizao deste material como proposta alternativa para soluo habitacional.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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2.4.1 Recomendaes fundamentais para as ligaes estruturaisDe acordo com DUNKELBERR & HIDALGO (1974), o bambu tem baixa resistncia ao cisalhamento, fato que deve ser considerado no desenho das juntas. A presena dos ns nas ligaes aumenta em 50% a resistncia ao cisalhamento ao longo das fibras, atingindo um valor mdio de 1,67 MPa. Outra observao importante a fazer, que em cada um dos extremos das peas envolvidos nas ligaes deve-se coincidir a existncia de um n, caso contrrio, as cargas verticais transmitidas neste apoio podem causar um esmagamento das peas, comprometendo as ligaes (FIGURA 5). Porm, no sendo possivel a coincidncia dos ns em cada extremidade das peas, pode-se optar pela utilizao de um segmento de madeira ou mesmo um n de bambu, de mesmo dimetro em seu interior. Segundo HIDALGO (1974), em nenhuma hiptese deve-se fazer cavas nas vigas, pois devido predominncia de fibras verticais no bambu, estas vigas facilmente

FIGURA 5 - SEQUENCIA DE ESMAGAMENTO E CORREO DE LIGAES. FONTE: HIDALGO (1981)

se romperiam; os encaixes devem ser realizados apenas em peas verticais.

2.4.2. Tipologia das Ligagesa) Peas Parafusadas 0 bambu no resiste s pregaes, devido sua constituio ser basicamente composta por fibras paralelas muito longas, com densidade especifica muito alta, principalmente nas paredes externas, com grande tendncia ao fendilhamento. As ligaes mais indicadas, por proporcionar maior estabilidade, so as parafusadas, pois h um corte das fibras, sem o afastamento entre elas, evitando assim as fissuras. A grande vantagem das ligaes parafusadas permitir ajustes de acordo com a trabalhabilidade do material em relao s variaes da umidade relativa do ar, ou ainda, do trmino do processo de secagem de peas utilizadas, no devidamente secas. Na maior parte das ligaes observadas, utilizam-se peas cilndricas de madeira no interior do bambu. Porm, esta soluo no satisfatria no sentido de impedir uma produo padronizada e industrializada, devido variao do dimetro interno das peas. A difuso da utilizao do bambu na construo de grandes estruturas na Colmbia, foi impulsionada pelo arquiteto Simn Velez, cuja proposta de ligao soluARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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cionada por injeo de concreto nos entrens que fazem parte das ligaes, ou seja, somente nos segmentos que sero parafusados. Segundo HIDALGO (1974), a ligao consiste na abertura de um orifcio na parte superior do colmo de bambu parafusado, onde aps o trmino do travamento, de toda a estrutura injetado o concreto. Esta ligao citada em vrias bibliograflas como Ligao Velez, a qual tem atribuido excelente desempenho na aplicao estrutural do bambu (FIGURA 6). Outros materiais foram experimentados na tentativa de resolver problemas de aderncia do concreto ao bambu, devido alta capacidade de absoro dgua pelas paredes internas muito porosas do bambu, provocando destacamento do concreto no interior dos colmos. Como soluo para este problema, GHAVAMI & HOMBEECK (1981) experimentaram algumas resinas, no em sua forma pura, pois tornam-se inviveis economicamente, mas associadas a outros elementos. Desta maneira optou-se, por trs compostos: Resina Epox Sikadur 52 com FIGURA 6 - LIGAO VELEZ FONTE: VILLEGAS (1989) p-de-serra; Resina de PVC com p-de-serra e Resina Epox Sikadur 52 com areia no peneirada compactada. Os autores concluiram que somente no ltimo caso, o resultado se apresentou satisfatrio, sendo que a ruptura ocorreu no pelo desprendimento do agregado, mais pelo escoamento do parafuso. Portanto, a utilizao do bambu associada a areia permitiu considervel aumento, da resistente a esforos mecnicos trao, pois elevou a aderncia das paredes internas do bambu. GONZALEZ (1996), atravs da utilizao de ligaes Tipo Vlez, afirma que o destacamento do concreto no interior dos colmos do bambu, pela falta de aderncia entre os mesmos, no acarreta problemas na estabilidade estrutural da construo. O concreto, atua na ligao apenas para aumentar a superfcie de contato do parafuso e as paredes do bambu, evitando fissuras, esmagamento e desgaste na superfcie externa do bambu . Outro problema encontrado a dificuldade de ajustar o ngulo das peas em estruturas que utilizam peas inclinadas. Segundo modelos propostos por POZO (1982) em estruturas espaciais, para se obter rigidez nos ns utiliza-se placas de ferro, unindo todas as peas no centro por um tubo metlico com aproximadamente o mesmo dimetro do bambu, resultando um maior ajuste da conexo variao dos ngulos (FIGURA 7).

b) Peas Amaradas Pouco eficiente, porm muito utilizada, as ligaes realizadas apenas com cordas e arames no possuem rigidez satisfatria para a utilizao como estruturas, pois o bambu possui alto ndice de retratibilidade.

FIGURA 7 - PEAS EM NGULO COM FERRAGEM. FONTE: POZO (1982)

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Desta maneira, para aumentar a rigidez nas ligaes amarradas, recomenda-se a utilizao simultnea de cavilhas de madeira, parafusos ou conexes metlicas para distribuir as foras aplicadas e evitar a toro na ligao. A tcnica utilizada para se obter maior ajuste nas amarraes consiste no umedecimento das tiras de bambu, cordas de coco ou sisal antes de serem amarradas. Pode-se encontrar ainda amarras com outros tipos de materiais que garantam a estabiiidade da pea, como por exemplo, a estrutura desenvolvida por MORADO (1994), onde foram utilizados fios de ao retorcido, associados borracha de silicone. c) Peas Encaixadas Dotado de uma resina natural protetora, o bambu possu uma superfcie extremamente deslizante, o que dificulta o travamento das ligaes. Desta maneira, vrias formas de usinagem foram adotadas para evitar a movimentao das peas. A maneira mais simples de ligar segmentos de bambu pela sobreposiao de colmos usinados de forma cncava, permitindo a fixao das peas que permanecem em sua forma rolia. Os cortes devem ser feitos sempre o mais prximo a um n possivel, aumentando assim, a resistncia da pea e evitando fissuras. Os entalhes devem ser feitos somente nas peas verticais para evitar a ruptura por cisalhamento

2.4.3. Consideraes sobre ligaes do bambuUm dos problemas mais frequentes nas ligaes a variao do dimetro interno das peas de bambu. Ocorrem grandes dificuldades na execuo de ligaes que utilizam segmentos de madeira, pois a usinagem dessas peas rolias de pequenas dimenses proporcionaria uma tcnica muito artesanal, no sendo compatvel com a inteno de produo em larga escala, portanto prfabricada e racionalizada. De acordo com os autores analisados [Hidalgo (1981), Morado (1994) entre outros], as ligaes parafusadas enrijecidas com aglomerados, apresentaram melhor desempenho estrutural e facilidade de montagem. Deve-se evitar a utilizao de ligaes basicamente encaixadas, pois h grande dificuldade na compatibilizao do dimetro entre as peas. Pode-se observar que quando a pea entalhada, apresentada de forma cncava, possui o dimetro excessivamente maior que a pea rolia, a ligao torna-se instvel pela tendncia de rotao entre elas. Por outro lado, quando a pea cncava possui um dimetro consideravelmente menor do que a rolia, a extremidade da pea entalhada poder sofrer fissuras, dependendo da carga aplicada sobre a mesma. Mas, apesar das dificuldades na compatibilizao do dimetro entre as peas, torna-se necessrio a utilizao de encaixes entre os bambus em qualquer tipo de ligao, seja parafusada ou amarrada. Outro fator que requer certo cuidado na montagem de estruturas de bambu a possibilidade de esmagamento das peas horizontais. Deve-se evitar a ocorrncia deste fato, procurando utilizar os segmentos horizontais com ns na regio onde ocorra o descarregamento das cargas verticais. Porm, no sendo possvel a coincidncia dosARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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ns nas ligaes, os segmentos horizontais devem ser enrijecidos com uma pea de madeira, concreto ou alguma resina com resistncia adequada ao esforo solicitado. Apresentando elevados ndices de variao dimensionais de retrao e inchamento, no recomendvel a utilizao de ligaes apenas amarradas, pois no atingem a estabilidade solicitada para estruturas em geral. As peas de bambu quando retraem tornam as amarraes frouxas e a estrutura perde sua estabilidade. O uso de resinas para o endurecimento das ligaes apresentou alguns problemas de desempenho em relao aderncia com as paredes internas do bambu. Entre os resultados obtidos o mais adequado foi com o uso de resina Sikadur e areia experimentado por GHAVAMI & HOMBEECK (1981). Na utilizao de peas metlicas obtiveram-se resultados muito satisfatrios, principalmente em relado facilidade de montagem, porm se faz necessria uma anlise da finalidade do uso desta estrutura para verificar a viabilidade econmica de sua aplicao.

2.5. Tecnologia do bambu.Aqui elaboramos um quadro panormico do Estado da Arte, das tnicas existentes nos sistemas construtivos de bambu para habitao no Brasil e no Exterior. Sero abordados aspectos sobre as formas de utilizao do bambu, assim como os principais componentes utilizados em habitaes - elementos de cobertura e de fechamento dos painis. Ser ainda apresentado um quadro das pesquisas em desenvolvimento e algumas das principais produes cientficas sobre o emprego do bambu em construes de habitaes

2.5.1. Etapas de produoA seguir sero apresentadas as etapas principais para o manejo do bambu visando sua aplicao em construes Para cada etapa sero apresentadas as respectivas tcnicas e suas variaes, sistematizadas a partir da coleta de dados obtidos de vrios autores e dos projetos analisados.

CORTE; CURA:- NA MATA; - POR IMERSO;ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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SECAGEM:- SECO AO AR LIVRE; - EM ESTUFA; - SECO AO FOGO;

TRATAMENTO:- SUBSTITUIO DA SEIVA; - MTODO TAMPO; - POR PRESSO (BOUCHERIE); - POR IMPREGNAO/IMERSO; - AUTOCLAVE;

USINAGEM:- BAMBU ROLIO; - ESTERILHA; - BAMBU EM TIRAS; - CHAPAS DE BAMBU;

PRODUO DE COMPONENTES: COMPONENTES ESTRUTURAIS:- PRTICOS DE BAMBUS ROLIOS; - PAINIS AUTO-PORTANTES.

COMPONENTES DE FECHAMENTO:- BAHAREQUE; - PAINEL COM ESTERILHA DE BAMBU; - PAINEL DE BAMBU ROLIO OU CANA-BRAVA;ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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- PAINEL COM TIRAS DE BAMBU; - PAINEL DE QUINCHA PR-FABRICADA.

COMPONENTES DE COBERTURA:- TELHAS DE BAMBU; - COM ESTERILHAS; - ESTRUTURA DE BAMBU ROLIO.

2.5.2. Corte Retirada do bambu da Mata.O corte deve ser feito de 15 a 30 cm de distncia do solo e imediatamente aps um n, evitando assim o acmulo de gua no interior da parte do colmo que permanece na mata. No se deve utilizar no corte do bambu machado ou faco, pois provocam rachaduras na peas. Deve se utilizar apenas serrotes ou moto-serra. O acmulo dgua na parte basal que permanece na mata pode provocar o apodrecimento do rizoma comprometendo a produo de material.

2.5.3. CuraA cura utilizada para tornar o material menos propenso ao ataque de insetos, pois ocorre nesta etapa a expulso da seiva, reduzindo a concentrao de amido pela transpirao das folhas. Na literatura apresentam-se dois tipos de cura: a) Cura na mata. Consiste em colocar os talos cortados, verticalmente, sem remover as ramas e as folhas, ficando devidamente isolados do solo, sobre pedras ou suporte. Representa o processo mais adequado de cura, pois conserva a cor natural do bambu, evitando manchas de fungos e rachaduras nas peas. Os bambus curados na mata foram 91,60% menos atacados que os no curados (HIDALGO, 1981). A etapa de cura na mata de 4 a 8 semanas. b) Cura por imerso. Consiste em submergir os talos na gua, retirando a seiva do interior das paredes do bambu. A cura por imerso tem uma durao mnima de 4 semanas. O bamARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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bu submerso por um perodo maior que 6 semanas torna-se mais leve e quebradio (HIDALGO, 1981). Por outro lado, quanto maior o tempo submerso, menor o ataque de insetos.

2.5.4. Secagem o processo de reduo do teor de umidade das peas de bambu, para aproximadamente 10 a 15%. Com um adequado processo de secagem pode-se reduzir os defeitos pelas mudanas dimensionais do material, evitando problemas causados pela retrao excessiva das paredes, o que acarretar fissuras e rachaduras nas peas. Permite ainda aumentar a resistncia mecnica do material. Com a secagem das peas h uma diminuio do peso, reduzindo portanto, o custo de transporte. A secagem permite ainda melhor acabamento do bambu, maior facilidade de execuo e maior aderncia entre peas coladas devido a maior penetrao de adesivos. Sero descritos a seguir diversas tcnicas de secagem com as respectivas observaes. a) Seco ao ar livre. O processo de secagem por entabicamento das peas na horizontal. Estas devem estar protegidas de sol e da chuva, mas permitindo uma ventilao adequada e ficando isoladas do solo. O tempo de secagem depende diretamente da ventilao no local do galpo de secagem, variando em torno de 4 semanas (tempo necessrio para a seiva escorrer de dentro dos colmos). b) Seco ao fogo. Este processo de secagem feito com a colocao das peas sobre brasas, controlando-se o calor para evitar uma secagem muito rpida, pois quanto mais devagar, menor o risco de o colmo arrebentar com o calor (presso interna). Com uma secagem rpida as peas podem apresentar diversos defeitos. As pes antes de serem colocadas ao fogo devem ter o teor de umidade reduzido 50% (cincoenta por cento). As peas devem serem movimentadas uniformemente para se evitar manchas. c) Seco em estufa. O processo de secagem em estufa semelhante ao da madeira. Pode-se controlar a velocidade de secagem atravs da temperatura, e velocidade adequadas do ar.

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2.5.5. TratamentoConsiste na aplicao de produtos quimicos preservativos para proteger o bambu do ataque de fungos ou insetos. Foram encontradas na literatura diversas tcnicas de tratamento descritas a sequir: a) Substituio da seiva Neste processo as peas devem ser colocadas na vertical dentro de um recipiente contendo preservativo, que ser absorvido por transpirao das folhas.

No se deve cortar as folhas e as ramas dos bambus. O processo de substituio da seiva, deve-se iniciar aps a eliminao do excesso de seiva pelo extremo inferior do bambu. b) Tampo. Neste processo a seiva ser substituda por presso hidrosttica atravs do posicionamento em desnvel de um recipente com preservativo. A presso deve ser aplicada nas peas de bambu recm cortadas. c) Boucherie. Consiste em aplicar no extremo superior dos talos de bambu, atravs de um tubo de borracha, sulfato de cobre, por exemplo, por presso hidrosttica. Aplica-se aos bambus recm cortados, cuja seiva ainda esteja em movimento. As folhas e ramas devem ser cortadas. d) Mtodo de impregnao por imerso. Consiste em submergir total ou parcialmente as peAS de bambu num depsito com preservativo. A eficincia deste tratamento depende do maior tempo que este possa permanecer submerso. e) Banho quente. O banho a quente permite que a pelicula externa do bambu se dissolva, permitindo maior penetrao do produto pelas paredes, alm de provocar a decomposio e eliminao de grande parte de amido. Deve-se aquecer o bambu para submergi-lo na soluo preservante, quando este no suportar altas temperaturas. Em temperatura acima de 65o C, os grnulos de amido so descompostos e eliminados, diminundo portanto o ataque de insetos.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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f) Autoclave. Processo adequado para bambus secos, com teor de umidade a baixo de 20%. Peas rolias podem apresentar ruptura. De acordo com vrios autores, este processo apesar de eficiente, apresenta resultados antieconmicos e problemas de rachaduras dos colmos.

2.5.6. UsinagemA usinagem consiste no processamento do bambu para sua utilizao em diversas formas, desde o bambu rolio at em forma de fibras para a produo de chapas. A seguir, esto reunidas estas formas mais utilizadas do bambu: a) Bambu rolio. Forma de utilizao do bambu em seu estado natural, sendo utilizado principalmente como elemento estrutural. A maior preocupao em estruturas rolias so as ligaes. Deve-se evitar entalhes com ngulos especficos, pois essas ligaes dificultam a produo em srie. Recomenda-se que os cortes das conexes sejam efetuados o mais prximo possvel de um n. b) Esterilhas . Esterilhas so pranchas de bambu obtidas atravs da remoo dos ns e da abertura dos colmos em forma de tbuas. a forma mais utilizada para a produo de painis de bambu, podendo ser rebocados com uma argamassa de revestimento. c) Bambu em tiras. a abertura de bambu longitudinalmente atravs de uma ferramenta metlica que divide o bambu em 1/2, 1/4, ou mais partes no sentido radial do bambu. As tiras so utilizadas principalmente como painis de cobertura ou de vedao da habitao. Permitem ainda um reboco com argamassa de revestimento.O bambu pode ser apenas pregado nos montantes do painel ou tranado entre a estrutura principal. d) Chapas. So produzidas atravs de bambu picado em pequenas dimenses, prensados e colados com resinas.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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Em alguns paises as chapas de bambus so utilizadas na construo de casas, abrigos provisrios e em construes rurais, geralmente em locais onde no ocorra solicitao estrutural.

2.6. Formas de utilizao do bambuDe acordo com o levantamento realizado sobre construes com bambu, observa-se que h vrias formas para se utilizar o material, desde rolio, em sua forma original, at em formas de fibras, ou seja, chapas prensadas. As formas mais encontradas so: em tiras; esterilhas (placas de bambu aberto); bambu partido; em chapas prensadas e tranado.

2.6.1. Bambu rolioO bambu em seu estado natural, ou seja rolio, uma das formas mais utilizadas, uma vez que no necessrio a utilizao de nenhum equipamento mais sofisticado, barateando o custo de produo da construo. Porm, uma das dificuldades encontradas para se utilizar peas rolias muitas vezes, a presena de curvaturas, o que causa irregularidades na superfcie das paredes e impreciso nas dimenses dos componentes. Outro fator de grande influncia a necessidade de um estudo detalhado das ligaes, que se tornam mais complexas devido ao deslizamento entre as superfcies externas em contato, necessitando muitas vezes de encaixes mais elaborados para o enrijecimento das ligaes. Na FIGURA 8, esto apresentados alguns exemplos de usinagem das peas para permitir as ligaes entre bambus.

2.6.2. EsterilhasSo obtidas com a abertura do bambu longitudinalmente, retirando-se os ns e martelando-se a pea para formar uma tbua de bambu. As esterilhas so utilizadas como elemento de vedao e de cobertura como forro ou como elemento de sustentao. Na produo das esterilhas, a parte branca interior deve ser removida para evitar que o bambu seja atacado por insetos - maior porcentagem de parenquima (FIGURA 9 e 10). A remoo desta camada interna pode tambm ser realizada com o uso de um maarico (Projeto UNICEF - 5.1).

2.6.3. Bambu em tirasA denominao bambu em tiras atribuida s peas de bambus abertos longitudinalmente, dividindo-os em tiras de 1/2; 1/4 ou mais do dimetro do bambu. Em geral, na sua produo so utilizadas ferramentas apropriadas (ver FIGURA 11) que permitem dividir o bambu em diversas partes. De acordo com NAES UNIDAS (1972), esta designao consiste na diviso radial das peas de bambu com uma ferramenta metlica. As tiras so utilizadasARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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para. compor os pains de cobertura e de vedao, sejam aparentes ou rebocados com argamassa de revestimento.

2.6.4 TranadoUtilizam-se tiras para se tranar o bambu formando painis principalmente como elementos de vedao e cobertura. H uma enorme variedade de tipos de tranado. Em geral, so feitos mo tornando-se pouco viveis economicamente. Mas, segundo NAES UNIDAS (1972), painis tranados podem ser feitos com mquinas que, j em 1972, indicavam possibilidades de produo em srie, aplicando resinas a quente em mdia 140o

C e sob presso de aproximadamente 30 kgf/cm2, com

fenol-formaldeido e melamina-formaldeido, contendo 15% de resina. Tambm utilizam-se colas de caseina e ureia-formaldeido. Este processo fornece ao bambu uma considervel resistncia a insetos e s intempries.

2.6.5. Chapas de bambuSegundo NAES UNIDAS (1972), o uso de chapas de bambu encontrado na URSS, Romnia, ndia, China e outros pases. So utilizadas na construo de casas, abrigos provisrios e construes rurais, geralmente em locais onde no ser solicitado estruturalmente, como elemento de vedao e cobertura. Na URSS as fibras de bambu so prensadas e armadas com arame. Em 1965, existiam 70 empresas produzindo anualmente aproximadamente 20 milhes de m2 de chapas de bambu com diversas dimenses e caracteristicas mecnicas.FIGURA 8 - TIPOS DE LIGAES UTILIZANDO BAMBU ROLIO. FONTE: HIDALGO (1981)

2.7. Componentes para construo de bambuDe acordo com o levantamento realizado sobre os projetos selecionados, podem-se identificar alguns componentes, produzidos utilizando-se o bambu, como: elementos estruturais, paineis de fechamento, cobertura, portas e janelas, tubules de gua e esgoto. Na sequncia sero destacado apenas 2 componentes de maior importncia para aplicao em habitaes de interesse social de bambu, fazendo referncia aos locais de origem da tcnica. So eles: sistemas de cobertura e painis de fechamento.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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2.7.1. Cobertura

FIGURA 9 - SEQUNCIA DE ABERTURA DE ESTERILHA FONTE: HIDALGO (1981)

a) Cobertura com telhas do 1/2 bambu Os bambus utilizados na forma de telhas so divididos longitudinalmente ao meio (FIGURA 12), retirando-se, a sequir, os diafragmas. A estrutura formada por bambus com dimetros superiores a 7 cm. Na primeira camada colocam-se os bambus dispostos lado a lado com a face cncava para cima, fixas nas ripas. A se-

FIGURA 11 - SEQUNCIA DE CORTE DO BAMBU EM TIRAS COM FACA DE MULTIPLO CORTE FONTE: HIDALGO (1981)

gunda camada sobreposta sobre a primeira, com o lado cncavo para baixo encaixando de forma similar s telhas romanas. A declividade mnima da cobertura deve ser de 30o . Esta cobertura apesar de ser leve, pode ser completamente impermevel a gua. b) Cobertura com ripas de bambu As ripas so feitas com talos maduros e recm cortados. So segmentos obtidos abrindo-se o bambu longitudinalmente, secos a sombra e de comprimento igual distncia entre os ns. No extremo das pequenas peas forma-se uma lasca que se prende s ripas de bambu, j fixas na estrutura do telhado (FIGURA 13). Devem ser utilizados bambus de dimetro superior a 7cm e as ripas com no mnimo 4cm de largura. Na FIGURA 14, esto apresentados a colocao das ripas sobre as travessas que se distanciam entre si de 15cm, sendo que, por m2 de telhado, so necessrios aproximadamente 200 ripas. A inclinao dever ser maior do que 30o.

FIGURA 10 - SEQUNCIA DE ABERTURA DE ESTERILHA FONTE: ARQ. RUBENS C. JR.

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c) Cobertura com esterilhas ou tiras de bambu Neste tipo de cobertura utiliza-se o bambu como forro, em forma de tiras ou esterilha. Pode-se utilizar como cobertura qualquer tipo de palha dependendo do tipo de vegetado da regio (FIGURA 15), ou uma camada de argamassa de revestimento. A estrutura pode ser feita tambm de colmos de bambu com 4cm de dimetro colocados a uma distncia de 30cm, podendo variar de acordo com o comprimento da palha utilizada. Podem-se utilizar tiras de bambu para fixar as folhas. Como preveno contra incndios e ao ataque de insetos, GONZALEZ (1996), utiliza um forro interno de esterilha de bambu e uma camada de cimento e cal antes de fixar a palha (Projeto Alndaluz). KATAYAMA (1989), no Nepal, utiliza bambus em fitas tranadas, para executar coberturas de abrigo de nibus, rebocadas com argamassa de revestimento. De acordo com publicaes das NAES UNIDAS (1972), as esterilhas de bambu sem uma cobertura como proteo, necessitam de um acabamento com cimento e uma camada de material betuminoso impermevel. Devido sua superfcie rugosa, o bambu admite facilmente o reboco, que pode ser tanto de argamassa (1:6) como a cal (1:3), com aproximadamente 20mm de espessura. Tem-se como exemplo de aplicao desta tcnica os projetos Mihras, Alndaluz e Unicef. d) Cobertura com estrutura de bambu rolio Em alguns casos, na cobertura, o bambu utilizado somente como elemento estrutural. Na Costa Rica o sistema estrutural da cobertura prfabricado na usina e depois transportado para o canteiro de obras. O tipo de telha utilizada pode ser a de barro, que permite melhor conforto trmico (Projeto Costa Rica e Mihras-Peru - 5.3. e 5.4). Na regido de Kyoto, no Japo, pode-se encontrar estruturas mistas de bambu e madeira (FIGURA 16). De acordo com UCHIMURA (1989) encontram-se coberturas de palhas com espessura de 60cm sob estrutura de bambu rolio do sculo XVII, do inicio da Era Edo.TELHAS DE BAMBU CUMEEIRA TIRAS AMARADAS AO CABRO

2.7.2. Painis de fechamentoa) Bahareque Segundo NAES UNIDAS (1972), esta uma tcnica muito utilizada na Amrica Latina. As paredes de bahareque so formadas por tiras ou esterilhas de bambus entrelaados ou amarrados a bambus rolios de pequenas dimenses, posicionados na vertical ouCORTES DE PROFUNDIDADE E LARGURA IGUAIS CABRO INFERIOR CABRO INTERMEDIRIO

ARAME GALVANIZADO

TIRA DE BAMBU

ARAME GALVANIZADO TIRA DE BAMBU

FIGURA 12 - COBERTURA COM TELHA DE BAMBU FONTE: HIDALGO (1981)

TIRA DE BAMBU FIXADA NO CABRO PARA EVITAR QUE O VENTO LEVANTE AS TELHAS

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na horizontal. Os montantes estruturais so de madeira e, somente em alguns casos so utilizados bambus como elementos estruturais. O espao entre as fibras so preenchidas com barro ou com barro e pedra, portanto esta construo se torna relativamente macia, no sendo muito recomendada para regies susceptveis a abalos ssmicos (FIGURA 17). Aps o tranado de bambu, as tiras so rebocadas com barro. Devido baixa resistncia da terra s intempries necessrio uma constante manuteno das faces externas dos pains. Na FIGURA 18, apresentada a estrutura das paredes de bahareque, formada por bambus de aproximadamente 10 cm de dimetro. Os montantes verticais so colocados de 30 a 40cm de distncia um do outro, pregados soleira

FIGURA 13 - SEQUNCIA DE CORTE DAS RIPAS DE BAMBU PARA FABRICAR AS TELHAS DE BAMBU FONTE: HIDALGO (1981)

de madeira. A sequir, so pregadas esterilhas de bambu, na face externa e interna, onde os pregos se distanciam entre si de 8cm (FIGURA 18). O reboco utilizado aplicado em duas camadas de cimento e areia no trao de 1:5. b) Painis de esterilha de bambu Segundo publicaes das NAES UNIDAS (1972), esta tcnica FIGURA 14 - COBERTURA COM RIPAS DE BAMBU muito utilizada na Indonsia, FONTE: HIDALGO (1981) Colmbia, Equador e ndia. As esterilhas so fixadas na horizontal s peas rolias de bambus e encaixadas nos montantes verticais de madeira. (FIGURA 19). Os painis para serem protegidos das intempries so rebocados interiormente e exteriormente. Em algumas regies uma das faces do painel permanece aparente (Projeto UNICEF - 5. l.). c) Painis de bambu rolio ou cana-brava Em construes de habitao de alto padro, no Japo, ainda se utiliza o sistema tradicional japons, taipa de mo, composto basicamente de bambus em tiras eARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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rolios de pequenas dimenses; com ossatura principal em madeira. A interface da taipa com estrutura de madeira executada com o auxilio de um tecido de juta fixado atravs de um baguete de madeira para se evitar fissuras entre a madeira e o barro. J na Costa Rica (FIGURA 20), de acordo com boletim do Projeto Nacional do bambu BAMBUSETUM(1992a), pela falta de matria-prima, foram utilizados bambus de menores dimenses, como a Cana-brava (3cm de dimetro) para a produdo de painis, pois para a fabricao da esterilha h a necessidade de utilizar espcies de bambu de maior dimetro (Projeto Costa Rica - 5.1).FIGURA 15 COBERTURA COM ESTERILHA FONTE: HIDALGO (1978)

d) Painis de tiras de bambu Segundo boletim do Projeto Nacional do bambu BAMBUSETUM (1992a), buscando a soluo para o problema da falta de bambus de grandes dimetro para a produo de esterilhas, tambm utilizou o bambu em tiras de aproximadamente 5 cm de largura. Pode-se encontrar ainda na Taipa-de-mo japonesa, a predominncia de bambu em tiras tranadas e rebocadas com barro (FIGURA 20 e 21). De acordo com as publicaes das NAES UNIDAS (1972), o uso de tiras de bambu para a produo de painis uma das tcnicas mais utilizada nas habitaes populares da Indonsia. Podem-se utilizar de 3 tipos: a) um tranado fino de bambu pregado em ambos os lados nos montantes de madeira;ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46 FIGURA 16 - COBERTURA COM BAMBU ROLIO FONTE: VILLEGAS (1989)

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b) tranado grosso de bambu tambm fixos nos montantes de madeira e; c) tranado de tiras horizontais em arames dispostos verticalmente. O tranado logo aps rebocado com barro, areia, cal e cimento com ou sem fibras. Tambm pode-se encontrar paredes sem reboque.

e) Painis de quincha Segundo NAES UNIDAS (1972), no Peru e

FIGURA 17 - PAREDE DE BAHAREQUE FONTE: HIDALGO (1981)

no Chile, a tcnica chamada de quincha utiliza tramados de bambus, como base, para aplicao de reboco de barro. Os rebocos podem ser de argila e fibras orgnicas, acrescentando-se ainda 16 litros por m3 de uma emulso a 5% de dieldrina, como prote-

FIGURA 18 - PAREDE DE BAHAREQUE FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. (COSTA RICA)

o contra os insetos. O acabamento final pode ser feito com cimento, areia e cal. Segundo DIAZ (1993), os componentes bsicos para a construo dos painis de quincha prfabricada so montantes verticais e travessas horizontais de madeira de 1 1/2" x 3 e bambu em tiras tranadas e rebocadas por diversos materiais, desde terra e palha, at cimento, cal e areia.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO II - PGS. 17 A 46

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FIGURA 19 - PAREDE DE ESTERILHA FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. (CAMPO GRANDE)

S e g u n d o HIDALGO (1981), este sistema de construo permite obter painis delgados e resistentes e que os bambus rolios permaneam na horizontal e fixos a seguir, em colunas de bambus de maiores dimenses separadas uniformemente entre 50 a 70cm (FIGURA 22). J na FIGURA 23, as tiras so fixadas horizontalmente. O posicionamento das tiras tranadas na vertical possibilita melhor rendimento e durabilidade, pois permite a secagem mais rpida do painel aps ser atingido por uma chuva.FIGURA 20 - SEQUNCIA DE MONTAGEM DE UMA CASA COM PAINIS DE CANA BRAVA - (45 MINUTOS). FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. (FUNBAMBU - COSTA RICA).

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f) Painis de bambu estrutural com caizo De acordo com LUISIONE et al (1989), as paredes das unidades habitacionais do projeto Mihras-Peru foram feitas com estrutura de bambu e caizo, recobertos com barro (taipa), recebendo maior proteo nas bases, com fundao em adobe estabilizado ou concreto (ver Projeto Mihras-Peru 5.4).

FIGURA 21 - CASA COM PAINIS DE TIRA DE BAMBU, REBOCADA COM BARRO. FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. (NDIA)

FIGURA 22 - DETALHE DE PAREDE COM PAINIS DE TIRA DE BAMBU, REBOCADA COM BARRO. FONTE: ARQ. RUBENS CARDOSO JR. (NDIA)

FIGURA 24 - PAINIS COM QUINCHA - TIRAS VERTICAIS. FONTE: HIDALGO (1981)

FIGURA 23 - PAINIS COM QUINCHA - TIRAS HORIZONTAIS. FONTE: HIDALGO (1981)

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CAPTULO III

OBRAS EXISTENTES E PESQUISAS DESENVOLVIDAS

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3. OBRAS EXISTENTES:Na sequncia, uma amostra das obras existem, selecionadas por seu grau de importncia ao desenvolvimento de pesquisas para utilizao do bambu, como elemento na construo civil. Infelizmente, no possuo material fotogrfico para anexar, pois so coletneas recolhidas em congressos por mim participados.

3.1. Escola Ecolgica do Equador - UNICEFLOCAL: PROVNCIA DE ESMERALDAS - PAROQUIA GALERA, QUITO - EQUADOR INSTITUIO: UNICEF, PRONADES MINISTRIO DE BIENESTAR SOCIAL, TECNO HABITAT (TECNOLOGIA APROPRIADA P/ HABITAT), PROGRAMA NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDARIA AUTORES: ARQ. JORGE MORAN UBIDIA, JACKIE FABRE T., RODRIGO VALLE G. DATA: AGO/1991 FONTE: PUBLICAO UNICEF (1991)

IntroduoO sistema composto por painis auto-portantes longos de ossatura interna de madeira e fechamento com esterilhas de bambu (placas de bambu - Bambusa angustifolio), revestidas de argamassa de cimento e areia. O tipo de fundao utilizada sapata corrida onde so assentadas duas fiadas de bloco de concreto para receber os painis. As ligaes entre as peas de madeiras e as esterilhas de bambu so executadas atravs de pregaes. A estrutura da cobertura composta por peas de madeira serradas e forradas de esterilhas de bambu. Na cobertura utilizaram-se fibras vegetais por representar um material leve, de baixo custo e abundante na regio. O processo de produo foi considerado pr-fabricado artesarialmente, havendo participao intensiva da comunidade na montagem dos componentes, principalmente na confeco dos painis sendo um material leve e de fcil montagem,

Organizao Espacialrea construda: 45 m2 N pavimentos: 01 A localizao da escola foi definida com a participao da comunidade respeitando-se princpios lgicos de insolao, ventos, chuvas e espaos de possvel expanso dos outros blocos escolares. As etapas de locao, escavao e compactao do terreno, que requer grande esforo fsico, foram realizadas exclusivamente pelos homens da comunidade e acompanhados por uma mo de-obra especializada.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO III - PGS. 47 A 76

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AlicerceFoi executada uma sapata corrida aps a compactao do terreno, onde assentou-se uma fileira de blocos no permetro da construo, exceto no local da entrada principal. No interior do furo dos blocos foram concretados segmentos de ferro de 6 mm, para a fixao dos painis, sobre os blocos j concretados, aplicou-se uma camada de manta asfltica para evitar, por capilaridade, a asceno da umidade do solo aos painis. No interior executou-se um piso de cimento queimado.

Sistema EstruturalA estrutura dos painis auto-portantes composta por madeira serrada. As peas so unidas de topo com pregos de 3 e 4" e, definem as espessuras das paredes e batentes das esquadrias.

Sistema FechamentoUtilizaram-se 10 painis: 6 retangulares de 3.00x2.30 m e 4 trapezoidais de 2.50 m de largura por 2.30 m e 3.30 m de altura. Um dos painis possue a abertura de acesso principal. Os painis trapezoidais que recebem uma soleira superior de 5x10 cm. Sobre esta colocam-se peas (sobras de madeira) para servir de apoio s vigas da cobertura. Na elaborao dos painis participaram mulheres e crianas. Os painis foram pr-fabricados artesanalmente no canteiro de obras.

CoberturaA estrutura do telhado foi feita com madeira serrada com seo de 10x5 cm e comprimento varivel. Os tirantes foram executados com madeira de espessura de 2 cm dispostas em pares. Os tirantes foram fixados com pinos de ferro de 12 mm.

Detalhes ConstrutivosO revestimento feito com massa de cimento e areia (11:4). A seguir as etapas de execuo do revestimento dos painis: 1 . Colocam-se sarrafos de bambu para definir as juntas de dilatao; 2. Umedecem-se as paredes 2 horas antes do revestimento; 3. Aplicao 1 a camada de revestimento; 4. Umedecimento peridico por 8 dias; 5. Aplicao 2a camada de revestimento; 6. Cura da argamassa e pintura. As janelas foram feitas com quadro retangular de madeira serrada de seo 4.0 x1.5 cm.ARQUITETURA COM BAMBU - ARQ. RUBENS CARDOSO JR. - CAPTULO III - PGS. 47 A 76

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Optou-se por deixar o bambu aparente em algumas faces internas da construo, apenas invernizando a superficie das esterilhas. Nota-se que desta forma, a esterilha deve ser fixada com sua face brilhante para fora, ao contrrio das paredes rebocadas, pois a face interna do bambu permite maior aderncia argamassa.

ObservaesSegundo o relato, em relao ao custo total da obra, conclui-se que o valor de uma edificao feita atravs de um sistema construtivo convencional equivale a 4 construes de mesmas dimenses utilizando bambu. O processo de produo bastante simples permte uma construo rpida e com participao