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PEREIRA et al (2010) HOLOS, Ano 26, Vol 2 3 OBRAS DE REABILITAÇÃO DAS ESTRUTURAS DOS EDIFÍCIOS DAS ANTIGAS ESCOLAS DE ARTES E OFÍCIOS E DA CASA DO ESTUDANTE DE NATAL - RN Alcio da Costa Pereira Engenheiro Civil, Professor Substituto da DIETCON/CNAT/IFRN Diretor Técnico da PS Construções e Serviços de Engenharia Ltda. E-mail: [email protected] Manoel Pereira da Silva Engenheiro Civil, Professor Adjunto Aposentado pela UFRN Consultor na Área de Concreto Armado, Análise Estrutural e Patologia das Construções E-mail: [email protected] Edilberto Vitorino de Borja Engenheiro Civil, M.Sc. - Professor da DIETCON/CNAT/IFRN. E-mail: [email protected] Alexandre da Costa Pereira Engenheiro Civil, D.Sc. - Professor da DIETCON/CNAT/IFRN. E-mail: [email protected] Marcos Alyssandro Soares dos Anjos Engenheiro Civil, D.Sc. - Professor da DIETCON/CNAT/IFRN. E-mail: [email protected] RESUMO O artigo tem por objetivo a apresentação de estudos de casos de obras para recuperação de construções históricas. As obras estudadas correspondem às antigas Casa do Estudante de Natal e Escola de Artes e Oficios de Natal, esta recém recuperada para integrar Campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (Brasil). Comenta-se no trabalho sobre o emprego de materiais e técnicas, tradicionais e modernas, de intervenção para a recuperação da capacidade portante dos componentes estruturais das obras e para a recuperação dos aspectos funcionais dos sistemas construtivos das mesmas. A integridade estrutural associada à manutenção das características arquitetônicas originais das obras, foram consideradas como fatores fundamentais para a seleção de materiais e técnicas adequadas para a solução dos problemas identificados nos diagnósticos de manifestações patológicas, associados à ocorrência de danos em diversos componentes construtivos das obras em estudo. Os materiais e técnicas empregadas foram estudados em função da capacidade de restabelecer a adequada resistência aos elementos estruturais das construções históricas sem comprometer as características arquitetônicas originais das obras, mantendo-se intactos os atributos históricos das mesmas. PALAVRAS-CHAVE: Técnicas de Reabilitação, Construções Históricas, Recuperação de Estruturas, Manutenção.

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    HOLOS, Ano 26, Vol 2 3

    OBRAS DE REABILITAO DAS ESTRUTURAS DOS EDIFCIOS DAS

    ANTIGAS ESCOLAS DE ARTES E OFCIOS E DA CASA DO ESTUDANTE DE NATAL - RN

    Alcio da Costa Pereira

    Engenheiro Civil, Professor Substituto da DIETCON/CNAT/IFRN Diretor Tcnico da PS Construes e Servios de Engenharia Ltda.

    E-mail: [email protected] Manoel Pereira da Silva

    Engenheiro Civil, Professor Adjunto Aposentado pela UFRN Consultor na rea de Concreto Armado, Anlise Estrutural e Patologia das Construes

    E-mail: [email protected] Edilberto Vitorino de Borja

    Engenheiro Civil, M.Sc. - Professor da DIETCON/CNAT/IFRN. E-mail: [email protected]

    Alexandre da Costa Pereira Engenheiro Civil, D.Sc. - Professor da DIETCON/CNAT/IFRN.

    E-mail: [email protected] Marcos Alyssandro Soares dos Anjos

    Engenheiro Civil, D.Sc. - Professor da DIETCON/CNAT/IFRN. E-mail: [email protected]

    RESUMO O artigo tem por objetivo a apresentao de estudos de casos de obras para recuperao de construes histricas. As obras estudadas correspondem s antigas Casa do Estudante de Natal e Escola de Artes e Oficios de Natal, esta recm recuperada para integrar Campus do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Norte (Brasil). Comenta-se no trabalho sobre o emprego de materiais e tcnicas, tradicionais e modernas, de interveno para a recuperao da capacidade portante dos componentes estruturais das obras e para a recuperao dos aspectos funcionais dos sistemas construtivos das mesmas. A integridade estrutural associada manuteno das caractersticas arquitetnicas originais das obras, foram consideradas como fatores fundamentais para a seleo de materiais e tcnicas adequadas para a soluo dos problemas identificados nos diagnsticos de manifestaes patolgicas, associados ocorrncia de danos em diversos componentes construtivos das obras em estudo. Os materiais e tcnicas empregadas foram estudados em funo da capacidade de restabelecer a adequada resistncia aos elementos estruturais das construes histricas sem comprometer as caractersticas arquitetnicas originais das obras, mantendo-se intactos os atributos histricos das mesmas.

    PALAVRAS-CHAVE: Tcnicas de Reabilitao, Construes Histricas, Recuperao de Estruturas, Manuteno.

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    OBRAS DE REHABILITACIN ESTRUCTURAL DE LAS EDIFICACIONES DE LAS ANTIGUAS ESCUELA DE ARTES Y OFICIOS Y DE LA CASA DEL

    ESTUDIANTE DE NATAL RN RESUMEN El artculo tiene por objecto la presentacin de estudios de casos de obras para la recuperacin de construcciones histricas. Las obras estudiadas corresponden a las antiguas Casa del Esdudiante de Natal y la Escuela de Artes y Oficios de Natal, esta recin recuperada para integrar Campus del Instituto Federal de Educacin, Ciencia y Tecnologa del Rio Grande do Norte (Brasil). Se discurre en el trabajo sobre el empleo de materiales y tcnicas, tradicionales y modernas de intervencin para la recuperacin de la capacidad portante de los componentes estructurales de las obras y para la recuperacin de los aspectos funcionales de los sistemas constructivos de las mismas. La integridad estructural asociada al mantenimiento de las caractersticas arquitetnicas originales de las obras han sido consideradas como factores fundamentales para la adocin de materiales y tcnicas adecuadas para la solucin de los problemas identificados en los diagnsticos de manifestaciones patolgicas, associados a la ocurrencia de daos en diversos componientes constructivos de las obras en estudio. Los materiales y tcnicas empleadas fueron estudiadas en funcin de la capacidad de ofrecer la adecuada resistencia a los elementos estructurales de las construcciones histricas sin comprometer las caractersticas arquitetnicas originales de las obras, mantenindose intactos los atributos histricos de las mismas.

    PALABRAS-LLAVE: Tcnicas de Rehabilitacin, Construcciones Histricas, Recuperacin de Estructuras, Mantenimiento.

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    OBRAS DE REABILITAO DAS ESTRUTURAS DOS EDIFCIOS DAS

    ANTIGAS ESCOLA DE ARTES E OFCIOS E CASA DO ESTUDANTE DE NATAL - RN

    INTRODUO Apresentam-se no trabalho dois casos de obras de recuperao de construes histricas, ambas edificadas na cidade de Natal e diretamente relacionadas com os esforos de criao de infraestrutura para a implantao do ensino bsico e tcnico-profissional para os filhos das classes menos favorecidas economicamente, no caso as antigas Casa dos Estudantes de Natal e Escola de Artes e Ofcios (Liceu Industrial). As obras estudadas apresentam estrutura de alvenaria e concreto armado como elementos portantes e a integridade estrutural associada manuteno das caractersticas arquitetnicas originais das obras, ambas integrantes do patrimnio histrico, foram consideradas como fatores fundamentais para a adoo de tcnicas modernas e tradicionais para a soluo de problemas identificados nos diagnsticos de manifestaes patolgicas em diversos componentes construtivos das obras em estudo. O trabalho se estrutura mediante a diviso em dois tpicos no desenvolvimento do artigo: o primeiro tratando das obras de recuperao da antiga Casa do Estudante de Natal e o segundo, dos trabalhos de reabilitao da edificao da antiga Escola de Artes e Ofcios (Liceu Industrial) de Natal. Ao final do trabalho apresentam-se consideraes finais sobre os resultados obtidos em funo da adoo dos materiais e tcnicas de recuperao para os servios de restauro e reforo estrutural realizados nas duas edificaes histricas. MATERIAIS E MTODOS Foram empregadas, nos trabalhos de recuperao das obras, tcnicas tradicionais associadas a tcnicas modernas de reforo e reparao de estruturas das edificaes, como a incorporao de materiais compsitos de fibra de carbono, concreto projetado e injeo de resinas epoxdicas para reforo estrutural das obras. Para o primeiro caso abordado no desenvolvimento do artigo, referente exposio sobre os danos verificados e o processo de recuperao da antiga Casa do Estudante de Natal, materiais e mtodos para a execuo dos trabalhos de restauro envolveram a utilizao de tcnicas de reforo estrutural no convencionais, escolhidas principalmente devido capacidade de propiciar a suficiente resistncia adicional sem descaracterizar as linhas arquitetnicas originais do edifcio. No segundo caso apresentado, sobre os trabalhos de reabilitao da edificao da antiga Escola de Artes e Ofcios (Liceu Industrial) de Natal, so apresentadas as linhas gerais para a recomposio dos componentes construtivos da edificao, incluindo a utilizao de materiais e tcnicas para recuperao de estruturas de concreto armado danificadas por corroso severa das armaduras.

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    RECUPERAO DA ANTIGA CASA DO ESTUDANTE DE NATAL Consideraes Gerais sobre a Obra O trabalho se refere recuperao e reforo da estrutura da edificao, em particular das reas construdas aps o ano de 1935. A edificao da Casa do Estudante de Natal est localizada na rua Cel. Lins Caldas, no bairro de Cidade Alta, em Natal/RN (Brasil). Conforme descrio contida no Relatrio de Execuo dos Trabalhos de Reabilitao do Prdio da Antiga Casa do Estudante do RN [6], a estrutura da edificao composta por lajes pr-fabricadas e macias, vigas em concreto armado convencional, apoiadas em colunas e alvenaria de blocos com grande espessura (0,45m). A espessura das lajes pr-fabricadas de 0,20m e as lajes macias apresentam espessura de 0,15m ou 0,20m. Os pilares possuem 25x25cm de seo transversal, com altura entre 2,2m e 2,75m. O ao utilizado foi o CA-24, com barras de 5/8 (16mm) e de 1/2 (12,5mm) para as vigas e de 3/8 (10mm) e 1/4 (6,3mm) para as lajes, com espessura de recobrimento de 10mm ou 15mm.

    Figura 1 - Aspecto Original da Obra.

    Sobre os Danos Observados na Obra Os resultados dos ensaios em geral apresentaram que o concreto empregado na obra foi de baixa qualidade, muito permevel e com a utilizao de agregados com dimetros de at 50mm, contribuindo para a alta frequncia de vazios nas lajes macias. As vigas, frequentemente se apresentavam sem concreto de recobrimento em diversos pontos, com exposio do ao, alm de serem observadas fissuras tpicas de flexo em regies de armadura a 45 para o combate ao cisalhamento (insuficincia de barras longitudinais).

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    Alguns elementos estruturais se apresentaram com as armaduras em adiantado estado de corroso e severa perda de massa, implicando na insuficincia em oferecer a necessria capacidade de carga da estrutura e na conseqente restrio ou mesmo a impossibilidade de resistir s sobrecargas de servio e mesmo s cargas permanentes da edificao, pois algumas barras se apresentaram totalmente seccionadas. Em relao s lajes pr-moldadas inspecionadas, verificou-se, de forma similar aos elementos estruturais moldados in situ, que o estado de deteriorao das nervuras tambm comprometia a estabilidade estrutural da obra, tendo em vista o avanado estgio do processo de corroso das armaduras longitudinais nas faces inferiores das nervuras. Como possvel constatar na Figura 2 apresentada a seguir, verifica-se que tanto a laje como as vigas de sustentao apresentaram-se bastante deterioradas por processo de corroso das armaduras, o que induz concluso de que os danos eram caractersticos de processos de deteriorao com natureza sistmica, ou seja, relacionados com a qualidade do concreto utilizado para a execuo do sistema estrutural e, principalmente, espessura de recobrimento das armaduras que, na obra em estudo, apresentaram valores representativos de 10mm ou 15mm, bastante reduzidos para propiciar a necessria vida til para a reabilitao da edificao.

    Figura 2 - Viga e laje atacada por corroso das armaduras.

    Interveno na Estrutura da Edificao Antes da execuo dos procedimentos referentes interveno propriamente dita sobre os elementos estruturais da obra em apreciao, luz do projeto de recuperao e reforo dos componentes estruturais, foi realizada a remoo do concreto danificado das vigas e lajes a serem reforadas, mediante a utilizao de tcnicas manuais, conforme mostra a Figura 3, com o cuidado no comprometer ainda mais a capacidade portante da estrutura.

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    Figura 3 - Retirada do concreto danificado em viga e laje.

    Para a recuperao e reforo da estrutura da edificao, foram realizadas intervenes em diversos elementos: lajes, vigas e colunas. Como condicionante fundamental observado na concepo dos sistemas (materiais e mtodos) empregados para os trabalhos de recuperao e reforo foi considerada convenincia de serem minimizadas as alteraes nas dimenses dos elementos estruturais da edificao original, bem como a condio de propiciar a manuteno das linhas arquitetnicas originais da emblemtica construo. Nas lajes, aps a retirada do concreto de recobrimento danificado, foram introduzidas malhas de reforo #4.2c15 e #3.4c20, pintura anti-oxidante nas barras (primer epxico) e introduo de pastilhas de zinco para a proteo catdica do ao. Sobre o ao foi utilizado argamassa tixotrpica e concreto projetado com fck

    =30MPa e espessura de 30mm. Algumas vigotas de lajes pr-fabricadas muito afetadas por corroso, tendo recebido tratamento nas armaduras e reforo adicional com compsito de carbono.

    As vigas, alm de tratamento de fissuras e trincas mediante a injeo de resinas epoxdicas para recuperao da monoliticidade das peas (Figura 4), receberam reforo da armadura por meio de aplicao de compsito de carbono na zona de trao em camadas suficientemente dimensionadas, de acordo com detalhes de projeto e com execuo mediante as seguintes etapas de trabalho [6]:

    Limpeza e tratamento das barras e preparo do substrato;

    Imprimao da superfcie tratada do concreto;

    Regularizao da superfcie com argamassa de regularizao argamassa epoxdica FC) para a correo de pequenos defeitos.

    Aplicao da primeira camada de resina de saturao (primer epxi FC); Aplicao da primeira camada de manta de fibra de carbono (MFC 30);

    Aplicao da segunda camada de resina de saturao antes da colocao da segunda lmina MFC 30;

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    Aplicao da terceira camada de resina de saturao (primer epxi FC) antes da colocao da terceira lmina MFC 30 e execuo do acabamento mediante argamassa Masterseal 550.

    Figura 4 - Aplicao de injeo de resina de epxi para reforo de viga.

    Figura 5 - Aplicao da argamassa para preparo do substrato.

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    Figura 6 -Preparo da fibra e imprimao de viga.

    Figura 7 - Aplicao e aspecto final do compsito em reforo de viga.

    Em relao aos trabalhos referentes recuperao dos elementos estruturais compresso (pilares), os servios foram concentrados no sentido de ser restituda a seo transversal dos mesmos mediante a aplicao de argamassa tixotrpica e utilizao de anodos de sacrifcio (pastilhas de zinco puro) para aumentar a vida til do sistema de reparao e a vida residual da prpria estrutura da edificao. Para a recuperao e reforo de pilares, foram realizados os seguintes trabalhos [6]:

    Retirada de todo o concreto danificado nas regies de corroso do ao;

    Introduo de armadura de reforo;

    Aplicao de pintura protetora anti-oxidante (primer); Instalao de anodos para proteo catdica;

    Recomposio das seces com argamassa tixotrpica;

    Acabamento final.

    Na Tabela 1, apresentada abaixo, se relacionam as lminas de fibra de carbono utilizadas para reforo de elementos estruturais da obra, sendo indicadas, para cada viga, a posio, dimenses (largura e comprimento, em cm), quantidades de lminas e correspondentes reas individuais e totais de reforo por viga:

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    Tabela 1: Relao de Lminas de Fibra de Carbono (LFC) Utilizadas [1]. VIGAS POS. DIM. (cm) QUANT. A

    (cm2A

    ) TOTAL

    (cm2) V1 01 20x250 2 0,50 1,00 V2 02 15x410 1 0,62 0,62

    03 15x200 1 0,35 0,35 V3 04 15x70 5 0,13 0,63

    05 20x560 1 1,10 1,10 06 20x370 1 0,74 0,74 07 13x90 4 0,12 0,48

    V4 08 15x80 6 0,12 0,72 09 20x550 1 1,10 1,10 10 20x370 1 0,74 0,74 11 20x190 1 0,38 0,38 12 15x90 4 0,14 0,56

    V5 13 20x100 6 0,12 1,20 14 20x550 1 0,14 0,56 15 20x350 1 0,70 0,70 16 20x230 1 0,48 0,48 17 20x100 4 0,20 0,80

    V6 = V7 18 15x100 16 0,15 2,40 19 20x400 2 0,62 1,24 20 20x320 2 0,64 1,28

    Obs.: Superfcie total de LFC = 21,84cm2. Aspecto Geral da Edificao aps a Concluso da Reabilitao As Figuras 8 e 9 mostram, respectivamente, o aspecto geral da Casa do Estudante poca da Intentona de 1935, quando o prdio abrigava corporao militar, e aps o trabalho de reabilitao da obra, em 2007. Considera-se que a recuperao da edificao histrica, tanto em nvel da restituio da capacidade dos elementos estruturais que sofreram interveno para recuperao e reforo, como em relao ao restauro dos atributos arquitetnicos da obra, conduziram a resultado satisfatrio, tcnica e economicamente otimizado e em prazo de execuo adequado.

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    Figura 8 - Aspecto geral da Casa do Estudante na poca da Intentona de 1935.

    Figura 9 - Aspecto geral da Casa do Estudante aps o trabalho de reabilitao.

    RECUPERAO DO PRDIO DA ESCOLA DE ARTES E OFCIOS (LICEU INDUSTRIAL) DE NATAL Consideraes Gerais sobre a Obra A edificao do antigo Liceu Industrial consiste em uma das mais antigas do bairro da Cidade Alta, em Natal, construo erguida ainda no comeo do sculo XX, nos idos do ano 1907, ento com finalidade de acolher corporao militar. Em 1909, por Ato Presidencial, com a criao das Escolas de Aprendizes Artfices, no dia 1 de janeiro de 1910, instalou-se oficialmente no estado o novo estabelecimento de ensino, cujo objetivo era o de

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    ministrar instruo primria e profissional aos filhos de operrios e oriundos de classes sociais menos favorecidas economicamente. Entretanto, a Instituio instalou-se, em principio, em um imvel de propriedade estadual, onde funcionava o antigo Hospital de Caridade na ento Rua Presidente Passos, prdio atualmente ocupado pela Casa do Estudante de Natal, obra abordada no item 2 do presente artigo. Convm destacar que foram colocadas em atividade, inicialmente, cinco oficinas para formao de profissionais: marcenaria, sapataria, serralheria e funilaria, funcionando no regime semi-aberto. Entre os anos 1913-1914 a Escola transferiu-se provisoriamente para o edifcio do Natal Club, enquanto o prdio da Presidente Passos sofria uma adaptao no objetivo de acolher Batalho de Segurana do Estado. Assim, somente no ano de 1914, j com a denominao de Liceu Industrial, a Escola se instalou na edificao em estudo. Em 1942, com a promulgao da Lei Orgnica do Ensino Industrial, o Liceu passou a denominar-se Escola Industrial de Natal. No dia 11 de maro de 1967, foi inaugurado o novo prdio da Escola Industrial, na Av. Salgado Filho, n 1559, hoje um complexo de edificaes que integra a infraestrutura do Campus Natal do IFRN. Naquele dia, o velho prdio da Av. Rio Branco, que abrigaria a Escola por mais de 50 anos, foi desocupado, tendo ainda servido a fins diversos, a citar:

    Maro/1967- 1976: Desocupado (utilizado esporadicamente pelo exercito).

    Final de 1976 Maio/1985: TV Universitria (tambm a ocuparam a AFURN, COMPERVE e CRUTAC).

    1982: Incorporado ao patrimnio da UFRN.

    1985 Fev/2008: Utilizado por grupos de teatro que compe a associao repblica das artes e pela associao nacional dos veteranos da FEB, por artesos, loja de artesanato e cordel, pelo CRUTAC e como moradia eventual.

    Fev/2008-Agosto/2009: Restaurao do prdio e incorporao ao patrimnio do Instituto Federal de Educao Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Norte.

    Atualmente acolhendo o Campus Cidade Alta do IFRN. Caractersticas Arquitetnicas da Obra Conforme relata o estudo arquitetnico [2] desenvolvido para o restauro da edificao, trata-se de um prdio de expressivo valor arquitetnico, tombado em nvel estadual, implantado no alinhamento da rua, com planta original em forma de T, com superfcie construda de 1.377,80m, apresentando o bloco principal dois pavimentos e possuindo fachada sbria de concepo simtrica e traos neoclssicos (Figura 10). O edifcio do bloco principal apresenta um prtico de entrada com uma grande porta em arco pleno, superposta por uma sacada e coroada por um fronto. A porta de acesso ladeada por 14 janelas ao nvel do trreo, e igual nmero no pavimento superior, todas em vos de vergas retas. A porta principal conduz a um hall de entrada que conduz a uma imponente escadaria, com belo guarda corpo em ferro.

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    HOLOS, Ano 26, Vol 2 14

    Figura 10: Fachada principal da edificao poca do Liceu Industrial e

    antes do processo de reabilitao.

    Sua fachada apresenta elementos caractersticos dos estilos neo-colonial , ecltico e neo-renascentista, a presena do estilo neo-colonial praticamente reduzida ao fronto que coroa a entrada principal, enquanto que os elementos eclticos esto presentes em maior quantidade observando-se desde os consoles responsveis pela sustentao dos beirais at os adornos acima das janelas, os detalhes em baixo relevo do reboco e a entrada principal em arco pleno, outros elementos eclticos encontrados so o guarda corpo da escada e as bandeiras de algumas portas, e como elemento renascentista tem-se o tratamento de superfcie de paredes no pavimento trreo que imita alvenaria de pedra. Quanto s caractersticas arquitetnicas do bloco Principal, pode-se afirmar que sua fachada apresenta seus elementos arquitetnicos preservados, tendo sofrido poucas alteraes, porm o restante do conjunto arquitetnico sofreu diversas alteraes durante dcadas, desde a insero e posterior retirada de algumas coberturas, passando pela mutilao ou completa retirada de algumas esquadrias at a demolio completa de alguns blocos e construo de novas edificaes em seu entorno. Como principais atributos arquitetnicos da edificao, destacam-se no contexto os ladrilhos hidrulicos policromados (Figura 11), assoalhos de madeira, guarda-corpo da escada, portas e bandeiras decorativas, forros e adornos de sustentao [2]. A principal modificao sofrida na edificao ocorreu no ano de 1937, onde o bloco lateral direito passou pelo acrscimo de um pavimento e a demolio e retirada do bloco que se localizava na parte central da edificao. Quanto a modificaes referentes ao restante do conjunto, acredita-se que as mesmas so construes relativamente novas, de pouco ou nenhum valor histrico e que no se assemelham em nada com as caractersticas arquitetnicas do bloco principal [2].

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    HOLOS, Ano 26, Vol 2 15

    Figura 11 Detalhe dos ladrilhos hidrulicos policromados.

    Sobre os Danos Observados na Obra Apesar de no apresentar bom estado de conservao, o prdio ainda mantinha o primitivo assoalho de madeira de lei e mosaicos em ladrilhos hidrulicos policromados, em algumas de suas dependncias em bom estado de conservao. O prdio ainda ostentava algumas de suas portas originais, de madeira pintada, com belas bandeiras estilo florais [2]. As seguintes Figuras 12 e 13 mostram, respectivamente, o aspecto geral e detalhe da fachada principal da edificao antes do incio dos trabalhos de reabilitao da construo. Quanto ao estado de conservao dos diversos elementos construtivos da obra, sem funo estrutural, durante os trabalhos de vistoria na edificao constatou-se que so diversos os processos de degradao atuantes sobre os componentes construtivos, com naturezas diferenciadas, seja pela ao de agentes fsicos, qumicos ou pela ao de organismos vivos. Em relao aos processos de degradao com natureza eminentemente fsica poder-se-ia destacar as manifestaes patolgicas relacionadas com os ciclos de umedecimento e secagem associados instabilidade dos materiais de construo devido dilatao e contrao dos mesmos, provocada por gradientes de temperatura, principalmente em regies de incidncia dos raios solares sobre a obra.

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    Figura 12 Aspecto da fachada principal antes do trabalho de reabilitao.

    Figura 13 - Detalhe do fronto da edificao antes do incio dos trabalhos de

    reabilitao da construo. Sobre o estado de conservao dos elementos estruturais em concreto armado identificados na obra, foram observados elementos em estado avanado de corroso das armaduras, com concreto de recobrimento danificado e com perda importante da seo transversal do ao estrutural, como se pode observar na Figura 14, referente a detalhe de laje de concreto

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    armado deteriorada por corroso e na Figura 15, que mostra a viga da escada, com severa reduo da seo transversal das armaduras estruturais para combate trao na flexo (longitudinal) e ao cisalhamento (transversal).

    Figura 14 - Detalhe de laje de concreto armado deteriorada por corroso.

    Figura 15 - Severa reduo da seo transversal da armadura de viga da escada.

    A degradao qumica dos componentes construtivos da obra, intimamente relacionados com a presena da umidade, destacam-se os fenmenos do ataque aos componentes metlicos ferrosos por processos de degradao por corroso por oxidao, como o caso da deteriorao dos gradis de ferro da escada mostrado na Figura 16, como manifestaes

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    patolgicas tpicas em argamassas empregadas em alvenarias como eflorescncias e criptoflorescncias salinas que provocam, tanto a lixiviao de sais superfcie, comprometendo esteticamente a edificao (eflorescncias), como causando a degradao do reboco das paredes provocado pela expanso dos constituintes salinos (criptoflorescncias). Quanto ao de organismos (agentes biolgicos) provocando a degradao de materiais e componentes construtivos, destaca-se a ao de razes de vegetais superiores, provocando a fissurao e gradativa degradao e trincamento e deslocamento de materiais, bem como a ao de insetos da Famlia dos Xilfagos, nocivos s partes de madeira (celulsicas) das construes, como o cupim, ambos bastante frequentes como importantes agentes de degradao, como pode-se observar nas Figuras 17 e 18, que mostram o avanado estado de deteriorao dos elementos de madeira para composio de piso e para a constituio de estruturas para sustentao de telhado, inclusive com a constatao do comprometimento da capacidade de suporte da carga da cobertura, com a ruptura de diversos elementos de madeira degradados pela ao nociva de cupins.

    Figura 16 - Detalhe do estado de deteriorao de gradis metlicos.

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    Figura 17 - Aspecto de elementos de madeira danificados pela ao de cupins.

    Figura 18 - Danificao na estrutura da cobertura.

  • PEREIRA et al (2010)

    HOLOS, Ano 26, Vol 2 20

    Interveno na Estrutura da Edificao A proposta de manuteno adotou como critrio, a conservao tipolgica existente na edificao desde sua volumetria at a conservao dos seus elementos arquitetnicos e artsticos remanescentes. O estado de conservao desta edificao era considerada lastimvel, de abandono, contudo sua restaurao foi completa e cuidadosa no sentido de minimizar as eventuais perdas oriundas do processo de restauro. O critrio adotado no projeto foi o de no interferncia fsica e espacial do edifcio. E a procura de evidenciar a tipologia e as peculiaridades da edificao. Os trabalhos englobaram praticamente uma reparao total e manuteno geral da edificao para que fosse garantido o seu retorno ao funcionamento. Duas singularidades marcaram a restaurao desta edificao: A primeira a antiguidade e o valor histrico do mesmo, erguido no incio do sculo, razo de seu tombamento pelo Patrimnio Histrico Estadual. Da decorrendo a inalterabilidade da fachada e seus elementos arquitetnicos remanescentes, que devem ser preservados totalmente, em seus mnimos detalhes. A segunda provm do pouco conhecimento que se possua da rede de instalaes eltricas e hidrossanitrias existentes, as sucessivas modificaes e consertos aleatrios ocorridos durante o funcionamento da edificao, alm da manuteno duvidosa e inexistncia do projeto original de instalaes, constituem fatores de incerteza quanto ao que possvel manter e o que necessrio alterar por razes de segurana ou de melhoramentos das instalaes prediais. Assim, a proposta de reabilitao adotou como critrio a conservao tipolgica existente na edificao, desde sua volumetria at a conservao de seus elementos arquitetnicos e artsticos remanescentes. O estado de conservao da edificao, considerado lastimvel, de verdadeiro abandono, conduziu necessidade de completa e cuidadosa reabilitao, no sentido de minimizar eventuais perdas das caractersticas originais no processo de restauro. Em relao aos esforos no sentido de restituir edificao condies de segurana frente necessria estabilidade estrutural, destacam-se nos trabalhos de recuperao as aes com o objetivo de recuperao estrutural dos elementos em concreto armado de sustentao da escada de acesso na entrada principal (Figura 19), mediante a utilizao de grauteamento (argamassa fluida autonivelante), da recuperao ou substituio de elementos de madeira de sustentao do telhado alm da execuo de reparos localizados como a colocao de elementos de travamento em arcos plenos de alvenaria (Figura 20).

  • PEREIRA et al (2010)

    HOLOS, Ano 26, Vol 2 21

    Figura 19 - Recuperao estrutural dos elementos em concreto armado de

    sustentao da escada de acesso na entrada principal.

    Figura 20 - Colocao de elementos de travamento em arcos plenos de alvenaria.

    Quanto aos trabalhos de recuperao relacionados com o restauro das caractersticas arquitetnicas originais da construo, principalmente aquela consideradas nos estudos prospectivos realizados para a valorao dos componentes arquitetnicos com maior importncia para a edificao, destacar-se-iam, para os ambientes interiores, os servios realizados com o objetivo de restabelecer condies de conservao adequadas para os pisos em ladrilhos hidrulicos policromados, os forro (lambris) e assoalhos em madeira (Figura 21) bem como para a recuperao do conjunto arquitetnico referente ao ambiente da escada de acesso principal ao pavimento superior da edificao (Figura 22).

  • PEREIRA et al (2010)

    HOLOS, Ano 26, Vol 2 22

    Figura 21 - Pisos em ladrilhos hidrulicos policromados, forro (lambris) e assoalhos

    em madeira, aps trabalhos de recuperao.

    Figura 22 Restaurao de escada de acesso principal ao pavimento superior da

    edificao. Em relao aos trabalhos de reparao executados para os ambientes exteriores, os servios realizados para o restauro dos elementos arquitetnicos caractersticos identificados na fachada principal e fronto que coroa a entrada principal, qualificados como de estilos neocolonial (fronto), ecltico e neorenascentista, os servios propiciaram a recuperao dos atributos originais para a fachada da edificao, tendo sido realizados por equipe especializada na recuperao de prdios histricos. A Figura 23 mostra fotografias de momentos durante a execuo dos trabalhos de recuperao da fachada do edifcio, mostrando momento durante a retirada de camadas de

  • PEREIRA et al (2010)

    HOLOS, Ano 26, Vol 2 23

    pintura desgastada e o preenchimento de fissuras e trincas com argamassa (a), e a execuo da pintura da alvenaria e esquadrias (b).

    (a) (b)

    Figura 23 - Execuo de trabalhos de reabilitao na fachada da edificao.

    Aspecto Geral da Edificao aps a Concluso da Reabilitao Os trabalhos de reabilitao da edificao do antigo Liceu Industrial foram desenvolvidos nas partes histricas da construo (1.377,80m) e sobre os espaos acrescidos edificao original (1.788,08m), tendo sido acrescentado reservatrio de gua com capacidade de 15m3

    . A empresa executora dos trabalhos de recuperao do prdio histrico, a PS Construes e Servios de Engenharia Ltda., iniciou os servios de restaurao em Fevereiro de 2008 e os concluiu e entregou as obras de restaurao em agosto de 2009 [5]. As Figuras 24 e 25 mostram, respectivamente, a fachada principal original e a fachada da edificao histrica aps a concluso dos trabalhos de recuperao e restauro na obra.

    Figura 24 - Fachada original da edificao no incio do sculo XX.

  • PEREIRA et al (2010)

    HOLOS, Ano 26, Vol 2 24

    Figura 25 - Fachada da edificao aps os trabalhos de reabilitao (agosto de 2009).

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 1. DA SILVA, M.P. Projeto de Reforo Estrutural do Prdio da Antiga Casa do

    Estudante do RN com Compsitos MFC. PS Construes e Servios de Engenharia Ltda., 2006.

    2. GADELHA, D.R.A. Obra de Recuperao do Prdio onde Funcionou a Escola Industrial Federal do Rio Grande do Norte. Estudos, Especificaes Tcnicas e Projeto Arquitetnico: 18 pranchas, 2007.

    3. PEREIRA, A.C., PEREIRA, A.C, DA SILVA, M.P. Mantenimiento del Patrimonio Histrico por Medio de Tcnicas Modernas de Intervencin en Recuperacin de Edificaciones: Casos de la Fortaleza de los Reyes Magos, del Faro de Maracaja y de la antigua Casa de los Estudiantes de Natal. VI Congreso Internacional de Patologa y Recuperacin de Estructuras: CINPAR 2010, Crdoba-Argentina, 2010.

    4. PEREIRA, A.C., PEREIRA, A.C, DA SILVA, M.P. Recuperacin de Construcciones Histricas: Caso de la Iglesia del Carmo de Olinda-PE, de la Capilla de Cunha-RN y de la Escuela de Artes y Oficios de Natal-RN. VI Congreso Internacional de Patologa y Recuperacin de Estructuras: CINPAR 2010, Crdoba-Argentina, 2010.

    5. PEREIRA, A.C. Relatrio de Execuo dos Trabalhos de Reabilitao do Prdio do Antigo Liceu Industrial do RN. PS Construes e Servios de Engenharia Ltda., 2009.

    6. PEREIRA, A.C. Relatrio de Execuo dos Trabalhos de Reabilitao do Prdio da Antiga Casa do Estudante do RN. PS Construes e Servios de Engenharia Ltda., 2006.

    OBRAS DE REABILITAO DAS ESTRUTURAS DOS EDIFCIOS DAS ANTIGAS ESCOLAS DE ARTES E OFCIOS E DA CASA DO ESTUDANTE DE NATAL - RNRESUMOOBRAS DE REHABILITACIN ESTRUCTURAL DE LAS EDIFICACIONES DE LAS ANTIGUAS ESCUELA DE ARTES Y OFICIOS Y DE LA CASA DEL ESTUDIANTE DE NATAL RNRESUMEN

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