3.a Corrida Montepio

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montepio PIB E OS OUTROS Os caminhos alternativos a um indicador que tem dominado a economia e os economistas DONOS DAS CIDADES Portugal tem cidades que são uma referência nos orçamentos participativos do mundo PATRIMÓNIO MUNDIAL Com o Cante Alentejano em destaque, o que leva o património a ter o selo da UNESCO? CULTURA KALAF É UM DOS PROTAGONISTAS DO NOVO GUIÃO CULTURAL QUE SE ESCREVE NO PAÍS. UM ENREDO DE DIFERENTES EXPRESSÕES QUE TRANSPIRA ARTE NA ESCRITA, NA MÚSICA E NA RUA série II número 17 Primavera 2015 Trimestral €1

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PIB E OS OUTROSOs caminhos alternativos a um indicador que tem dominado a economia e os economistas

DONOS DAS CIDADESPortugal tem cidades que são uma referência nos orçamentos participativos do mundo

PATRIMÓNIO MUNDIALCom o Cante Alentejano em destaque, o que leva o património a ter o selo da UNESCO?

CULTURA

KALAFÉ UM DOS PROTAGONISTAS DO NOVO GUIÃO CULTURAL QUE SE ESCREVE NO PAÍS. UM ENREDO DE DIFERENTES EXPRESSÕES QUE TRANSPIRA ARTE NA ESCRITA, NA MÚSICA E NA RUA

série ii

número

17

Primavera 2015 Trimestral €1

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10 Património M

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Proteger a mem

ória futura

84 Iniciativa

86 Descontos e benefícios

90 Agenda Atmosfera m

para associados

Ruínas romanas de TroiaBaptista-Bastos80 CrónicaMiguel Araújo

82 10 perguntas

Dia do Voluntariado Montepio

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A MINHA ECONOMIA

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SUMÁRIO PRIMAVERA 2015#17

Orçamentos participativos

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Participar para conf arTapeçarias de pedra

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06 Glocal Portugal no mundo

10 Património M

undial

Proteger a mem

ória futuraU

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anho da rua

16 Arte U

rbana

88 Agenda Atividades

84 Iniciativa

86 Descontos e benefícios

90 Agenda Atmosfera mexclusivas da Associação

para associados

78 Passeios com História

Ruínas romanas de TroiaBaptista-Bastos80 CrónicaMiguel Araújo

82 10 perguntas

68 À

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74 Pro

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76 Caderno de viagem

Óbidos

Negócios 52

Startups de verão

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Dia do Voluntariado Montepio

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

p r o p r i e d a d e Montepio Geral – Associação Mutualista, Rua do Ouro, 219-241 1100-062 Lisboa Tel. 213 249 540 d i r e t o r António Tomás Correia d i r e t o r - a d j u n t o Rita Pinho Branco c o o r d e n a ç ã o Gabinete de Relações Públicas Institucionais

e d i t o r Plot - Content Agency Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 19, 6º, 1070-072 Lisboa Tel. 213 804 010 d i r e t o r a d e p r o j e t o

Catarina Carneiro e d i t o r c h e f e

Nuno Alexandre Silva e d i t o r e x e c u t i v o

Miguel Ferreira da Silva

d i r e t o r a d e a r t e

Inês Reisd e s i g n

Rita Barata Feyo, Sónia Garcia, João Caetano e Maria João Aires

p r o d u ç ã o e a r t e f i n a l

Ana Miranda e Pedro Pinguinha c o l a b o r a ç õ e s Ana Sofia Calaça, António Ramalho Eanes, Baptista-Bastos, Cristina Almeida, Eudora Ribeiro, Francisco Moita Flores, Helena C. Peralta, Helena Viegas, Maria Abreu, Marisa Vitorino Figueiredo, Rita Vaz da Silva, Sara Raquel Silva, Susana Torrão (texto), Artur, Augusto Brázio, Gonçalo F. Santos, João Cupertino, Luís Viegas, Sílvia Lopes e Vera Marmelo (fotografa), Ana Seixas (ilustração)

p u b l i c i d a d e Filipa D' Avillez (917 967 472) Sónia Vigário (913 038 491)Tel. 213 804 010 | Fax 213 804 011

i m p r e s s ã o LiderGraf Sustainable PrintingRua do Galhano, 15 (E N 13), Árvore 4480-089 Vila do Conde

| Revista trimestral |Depósito Legal nº 5673/84 | Publicação periódica | registada sob o nº 120133

t i r a g e m 465 300 exemplares

O Montepio é alheio ao conteúdo da publicidade externa. A sua exatidão e/ou veracidade é da responsabilidade exclusiva dos anunciantes e empresas publicitárias.

26PÁG.

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COLABORADORES

#17 PRIMAVERA 2015

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série ii

Kalaf Escritor e músico

Em Lisboa tornou--se um homem do mundo e hoje vive do seu poder de observação, simplesmente acutilante. Apaixonado por design, o músico que não sabe dançar, dá ritmo aos temas dos Buraka Som Sistema com as suas palavras. Kalaf não resiste a contar uma boa história e a Montepio conta-lhe a sua.

Lídia Jorge Escritora

Um dia afrmou que a escrita é mais importante do que a vida. Lídia Jorge nunca soube ser outra coisa e conta-nos o início do seu percurso literário desde os tempos da faculdade. Já Afonso Cruz iniciou a sua relação com a escrita mais tarde, mas partilha a mesma paixão pelo ofício da escrita.

Vhils Artista plástico

Começou com graffitis e agora utiliza explosivos para esculpir rostos com dezenas de metros de diâmetro. Vhils é um artista com convicções que quando cria, gosta de "perder o pé" e reinventar-se diariamente. Olha para o sucesso de soslaio e prefere concentrar-se no próximo trabalho.

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Nesta edição...

Conheça alguns temas da próxima ediçãoReportagem^ ESCOLHER SABORESQuem defne os sabores dos mais importantes produtos portugueses? Mostramos--lhe os rostos dos homens e mulheres que fazem do palato uma arte.

Empreendedorismo^ ÁGUA NA BOCAConheça três startups com muita garra que lhe vão estimular o paladar.

Tendência^ SUPER-HERÓISNa vida real, há portugueses que fazem da melhoria da nossa vida a sua missão.

Certificado PEFC

Este produto tem origem em florestas com gestão florestal sustentável e fontes controladas

www.pefc.orgPEFC/13-31-011

Aceite o desafio, participe na próxima edição e envie-nos as suas sugestões e comentários para [email protected] ou, se preferir, para Revista Montepio, Gabinete de Relações Públicas Institucionais, Rua General Firmino Miguel, 5, Torre 1, 7º, 1600-100 Lisboa

Descubra o património do nosso PaísO Cante Alentejano foi o último bem a ser considerado Património Imaterial da Humanidade. Portugal já contava com o Fado e com a Dieta Mediterrânica nesta categoria, além de 15 locais classifcados como Património Material da Humanidade.

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EDITORIAL

MONTEPIO PRIMAVERA 2015

A história do Montepio é a história de uma boa ideia. O triunfo da solidariedade e a afirmação da entreajuda. A dimensão prática de quem não se resigna a um “cândido” otimismo. Um conforto certo nos momentos de incerteza.

Mas a história do Montepio sempre foi, na sua essência, uma história de pessoas. Quando pagámos a primeira pensão de viuvez, em 1842. Quando contratámos o primeiro colaborador, em 1844. Ou quando atingimos os 1 000 associados, em 1861.

Aos 175 anos de vida partilhamos a boa ideia de previdência social com 650 mil associados que dão força ao Montepio para continuar a fazer o que sempre fez: proteger poupanças. Garantir o presente e o futuro.

Sabemos como, erradamente, somos vistos como um Banco quando, na verdade, somos uma associação mutualista – a maior de Portugal –, detida por 650 mil associados.

Comparar com outras organizações é não reparar no caminho de cada um dos nossos associados, nos seus desafios diários, nas suas preocupações, no seu presente e no futuro.

É esquecer uma história de confiança que se transmite de ge-rações em gerações, partilhada no seio de milhares de famílias

portuguesas e que é o garante de uma associa-ção que foi a segurança social de muitos por-tugueses antes mesmo de existir um sistema público de previdência.

Por isso, obrigado aos 650 mil associados que depositam a sua confiança no Montepio. Que partilham, juntos, um caminho e que todos os dias alimentam a ideia da cidadania ativa, do associativismo e da construção de um melhor Portugal.

O Montepionão é a história de uma vida. É a história de muitas vidas. 650 mil que todos os dias estimulam os 5 200 colaboradores deste Grupo.

A confiançanuma ideia

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1878UkeleleHavai, EUA120 madeirenses chegaram ao Havai, a bordo do Priscilla, para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar. Com eles levaram a música do cavaquinho, ou braguinha, que fez tanto sucesso que se tornou no instrumento tradicional do Havai (ukelele).

1807Sotaque cariocaRio de Janeiro, BrasilO “s” chiado e as vogais abertas do sotaque carioca são o resultado da fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro. Afinal, de um dia para o outro, 15 mil portugueses invadiram a Cidade Maravilhosa.

1910IronboundNewark, EUAData da chegada dos primeiros imigrantes portugueses àquela cidade do Estado de Nova Jérsia. As celebrações do Dia de Portugal atraem mais de 500 mil pessoas ao bairro de Ironbound.

1868Cacau do PríncipePríncipe, São Tomé e PríncipeA partir desta data foi introduzida a cultura do cacau na ilha do Príncipe. Hoje esta ilha é um dos principais produtores mundiais de cacau de Comércio Justo.

1462Cidade VelhaCabo VerdeTambém conhecida como Ribeira Grande, o seu povoamento deve-se ao Infante D. Fernando, irmão do Infante D. Henrique. Primeiro posto comercial nos trópicos.

Antes de 1418 Igreja Santa Maria de ÁfricaCeuta, EspanhaNão é certo se foi mandada construir pelo conde de Arraiolos ou pelo Infante D. Henrique. A igreja alberga uma imagem do século VI oferecida pelo imperador bizantino Justino I ao governador Procópio.

1956LuandaAngolaJoão António de Aguiar projeta a atual cidade de Luanda para 500 mil habitantes. Atualmente é a maior capital lusófona do mundo. O novo plano diretor da cidade está a ser elaborado pelo gabinete de arquitetura Broadway Malyan.

1510GoaÍndiaAfonso de Albuquerque conquistou Goa sem sangue. Um dos mais cobiçados portos comerciais do mundo do século XVI ainda conserva a cultura portuguesa na sua matriz.

1972-1975Barragem de Cahora-BassaMoçambiqueO maior e mais grandioso projeto dos últimos anos do colonialismo. A sua albufeira é a quarta maior de África. Fornece eletricidade a Moçambique, África do Sul e Zimbabué.

1502 a 1507Ilha de MoçambiqueA presença portuguesa ainda é visível na “cidade de pedra”, paredes meias com a “cidade de macuti”, material local utilizado para a construção de casas.

1602-1640Ruínas da Catedralde São PauloMacau, ChinaConstruída por jesuítas no século XVII, a catedral foi consumida pelo fogo em 1835, restando só a fachada. É o símbolo de Macau.

1571Sabores NacionaisNagasaki, JapãoPorto fundado por jesuítas portugueses em 1571. Da região são típicos dois sabores originais da cozinha portuguesa: a tempura (fritura com polme) e o kasutera (pão-de-ló).

1511MalacaMalásia Mantém na sua traça elementos da arquitetura portuguesa do século XV e XVI. Mas a maior expressão lusitana está na cultura da comunidade cristang que remonta aos Descobrimentos.

1535 a 1732Cidades HistóricasBrasilSão sete cidades cuja arquitetura exibe o melhor do barroco em terras do Novo Mundo: Olinda (1535), São Salvador da Bahia (1549), São Cristóvão (1590), São Luís (1615), Ouro Preto (1652), Diamantina (1713) e Goiás (1732), autênticos museus vivos da influência portuguesa.

1987Questão de MacauChinaÉ assinada a Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau que reconhece a autonomia de Macau e marca a transferência de soberania para a China para dia 20 de dezembro de 1999.

23 569 Km

EXTENSÃO GEOGRÁFICAdos patrimónios de origem portuguesa

EXTENSÃO TEMPORALda influência portuguesa

Bens de influência portuguesa

Fusos horários Extensão total Da Reconquista Cristã à integração de Macau na China

língua mais falada no mundo

milhões de falantesdialetos portugueses fora de Portugal

Países Continentes

LÍNGUA PORTUGUESA

Património da Humanidade UNESCO fora de Portugal

OS NOSSOS ANTEPASSADOS EMBARCARAM HÁ MAIS DE 500 ANOS NUMA AVENTURA CHAMADA DESCOBRIMENTOS. PELO CAMINHO, DERAM “NOVOS MUNDOS AO MUNDO”, TORNANDO GLOBAL ESTA “ESTRANHA FORMA DE VIDA”, QUE DÁ NOME AO SENTIMENTO SAUDADE E TEM COMO LAR UM PEQUENO (GIGANTE) PAÍS NA EXTREMIDADE OCIDENTAL DA EUROPA

GLOCAL

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1878UkeleleHavai, EUA120 madeirenses chegaram ao Havai, a bordo do Priscilla, para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar. Com eles levaram a música do cavaquinho, ou braguinha, que fez tanto sucesso que se tornou no instrumento tradicional do Havai (ukelele).

1807Sotaque cariocaRio de Janeiro, BrasilO “s” chiado e as vogais abertas do sotaque carioca são o resultado da fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro. Afinal, de um dia para o outro, 15 mil portugueses invadiram a Cidade Maravilhosa.

1910IronboundNewark, EUAData da chegada dos primeiros imigrantes portugueses àquela cidade do Estado de Nova Jérsia. As celebrações do Dia de Portugal atraem mais de 500 mil pessoas ao bairro de Ironbound.

1868Cacau do PríncipePríncipe, São Tomé e PríncipeA partir desta data foi introduzida a cultura do cacau na ilha do Príncipe. Hoje esta ilha é um dos principais produtores mundiais de cacau de Comércio Justo.

1462Cidade VelhaCabo VerdeTambém conhecida como Ribeira Grande, o seu povoamento deve-se ao Infante D. Fernando, irmão do Infante D. Henrique. Primeiro posto comercial nos trópicos.

Antes de 1418 Igreja Santa Maria de ÁfricaCeuta, EspanhaNão é certo se foi mandada construir pelo conde de Arraiolos ou pelo Infante D. Henrique. A igreja alberga uma imagem do século VI oferecida pelo imperador bizantino Justino I ao governador Procópio.

1956LuandaAngolaJoão António de Aguiar projeta a atual cidade de Luanda para 500 mil habitantes. Atualmente é a maior capital lusófona do mundo. O novo plano diretor da cidade está a ser elaborado pelo gabinete de arquitetura Broadway Malyan.

1510GoaÍndiaAfonso de Albuquerque conquistou Goa sem sangue. Um dos mais cobiçados portos comerciais do mundo do século XVI ainda conserva a cultura portuguesa na sua matriz.

1972-1975Barragem de Cahora-BassaMoçambiqueO maior e mais grandioso projeto dos últimos anos do colonialismo. A sua albufeira é a quarta maior de África. Fornece eletricidade a Moçambique, África do Sul e Zimbabué.

1502 a 1507Ilha de MoçambiqueA presença portuguesa ainda é visível na “cidade de pedra”, paredes meias com a “cidade de macuti”, material local utilizado para a construção de casas.

1602-1640Ruínas da Catedralde São PauloMacau, ChinaConstruída por jesuítas no século XVII, a catedral foi consumida pelo fogo em 1835, restando só a fachada. É o símbolo de Macau.

1571Sabores NacionaisNagasaki, JapãoPorto fundado por jesuítas portugueses em 1571. Da região são típicos dois sabores originais da cozinha portuguesa: a tempura (fritura com polme) e o kasutera (pão-de-ló).

1511MalacaMalásia Mantém na sua traça elementos da arquitetura portuguesa do século XV e XVI. Mas a maior expressão lusitana está na cultura da comunidade cristang que remonta aos Descobrimentos.

1535 a 1732Cidades HistóricasBrasilSão sete cidades cuja arquitetura exibe o melhor do barroco em terras do Novo Mundo: Olinda (1535), São Salvador da Bahia (1549), São Cristóvão (1590), São Luís (1615), Ouro Preto (1652), Diamantina (1713) e Goiás (1732), autênticos museus vivos da influência portuguesa.

1987Questão de MacauChinaÉ assinada a Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau que reconhece a autonomia de Macau e marca a transferência de soberania para a China para dia 20 de dezembro de 1999.

23 569 Km

EXTENSÃO GEOGRÁFICAdos patrimónios de origem portuguesa

EXTENSÃO TEMPORALda influência portuguesa

Bens de influência portuguesa

Fusos horários Extensão total Da Reconquista Cristã à integração de Macau na China

língua mais falada no mundo

milhões de falantesdialetos portugueses fora de Portugal

Países Continentes

LÍNGUA PORTUGUESA

Património da Humanidade UNESCO fora de Portugal

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PUB

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TENDÊNCIAS NA ECONOMIA, SOCIEDADE,

VIDA E CULTURA

O MEU MUNDO

Página 26

ENTREVISTAKalaf é um dos novos rostos da elite cultural lisboeta. Quem é este tranquilo agitador de melodias e palavras que cruza a música, a escrita e o fascínio pelo design?

página 16

TEMA DE FUNDOA arte urbana é feita de muitos rostos. Antes catalogada como marginal, hoje é encomendada e reconhecida e são muitos os que lhe dão cor e forma nas paredes da cidade

Página 32

DESAFIAR O PIBO domínio deste indicador económico está patente nas economias e junto dos economistas. Mas são muitas as alternativas que o desafiam e que prometem comparar melhor os países

página 10

PATRIMÓNIO MUNDIALMais de 1 000 locais e 300 tradições estão protegidos pela UNESCO. O Cante Alentejano faz, agora, parte do património português que passou a ser de todos

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10

MONTEPIO PRIMAVERA 2015

1o meu mundoCULTURA

“Deixámos de fazer ruínas.” É desta forma que o historiador e professor João Bonifácio Serra resume uma interessante conversa sobre as atuais preocupações relativas ao património, às cidades e à sua conservação. Antes do ainda recente cuidado com a preservação dos nossos monumentos históricos – que surgiu com mais força no final do século xix e início do século xx – o património edificado era votado ao abandono e na maior parte dos casos chegou aos nossos dias sob a forma de ruínas.

Entre as mais famosas edificações do Homem são de salientar Machu Picchu, no Peru, a Acrópole, na Grécia, Angkor, no Camboja, ou o Coliseu de Roma, em Itália. São ves-tígios vivos da história da Humanida-de que nos ajudam a compreender o passado, quem somos e como chegá-mos até aqui. Se fossem conservadas em perfeitas condições muito mais nos contariam, mas, provavelmen-te, não teriam a mesma beleza para o nosso imaginário. A conservação do património edificado – monumentos,

zonas históricas – prende-se sobretu-do com a crescente importância das cidades e a sua necessidade de atrair turistas. “A ideia de classificar o pa-trimónio surgiu em França, no final do século xix. Valorizar os monu-mentos acaba por ter duplo sentido: por um lado, favorece a preservação e o seu estudo, por outro, atrai o turis-mo cultural. O património entrou co-mo valorização da oferta turística das cidades e tem impacto real na econo-mia das mesmas”, refere, a propósi-to, o especialista que foi consultor de

PATRIMÓNIO MUNDIAL

PROTEGER A MEMÓRIA FUTURA SALVAGUARDAR O PATRIMÓNIO CULTURAL E NATURAL, ASSIM COMO OS BENS CULTURAIS INTANGÍVEIS, É O OBJETIVO DA UNESCO COM AS LISTAS DE PATRIMÓNIO MUNDIAL E DE PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL, QUE INCLUEM MAIS DE 1 000 LOCAIS E 300 TRADIÇÕES POR TODO O MUNDO

por helena c. peraltafotografia augusto brázio

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11

MONTEPIO PRIMAVERA 2015

? TRADIÇÃO O Cante Alentejano

é de todos. Das famílias, das

tabernas e dos grupos corais, como

o da Casa do Povo de Serpa, na imagem

como Património Mundial, Guima-rães foi eleito o quarto destino mais recomendado. Responderam ao in-quérito mais de um milhão de turis-tas, que distinguiram o Palácio de Potala, na China, como o melhor des-tino, seguido de a Garganta de Iron-bridge, no Reino Unido, e o Palácio de Fontainebleu, em França.

A importância de ser Património MundialA UNESCO, a Organização das Na-ções Unidas para a Educação, Ciên-cia e Cultura, fundada em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, tem como objetivo a paz e a segurança no mundo através da Educação, da Ciência e da Cultura. A área da cul-tura, além do estímulo à criação e criatividade e promoção da diversi-dade cultural, procura salvaguardar o património através da preservação de monumentos, de entidades cultu-rais e de tradições.

Pa ra t a l fo ra m a s s i n a d a s duas importantes convenções da UNESCO – são sete na área da cultu-ra – com o intuito de preservar o pa-trimónio à escala mundial: a primei-ra, a Convenção da UNESCO para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural, adotada em 1972, tem como objetivo proteger os bens patrimoniais dotados de valor univer-sal excecional, e Portugal ratificou--a em 1980; a segunda, mais recente,

Jorge Sampaio, enquanto Presidente da República, e presidente da Funda-ção Cidade de Guimarães.

João Bonifácio Serra recorda co-mo a distinção de Património Mun-dial, em 2001, foi importante pa-ra a cidade de Guimarães, tal como a honra de ser Capital Europeia da Cultura, em 2012, projeto no qual tra-balhou durante mais de cinco anos. “Portugal tem uma oferta turísti-ca que assenta muito em sol e praia, mas começa a haver uma aposta cada vez maior em nichos, como o turismo

de cidades, mais cultural. Com estas duas distinções Guimarães acrescen-tou reconhecimento enquanto im-portante local histórico, uma progra-mação cultural contemporânea, im-portante para atrair turistas”, refere.

E o berço da nação portuguesa tor-nou-se, em poucos anos, uma vede-ta regional e um importante polo de retenção de jovens. Segundo um es-tudo realizado pelo portal de viagens TripAdvisor junto dos seus utilizado-res, em parceria com a UNESCO, en-tre os 962 locais classificados à data

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12

1o meu mundoCULTURA património mundial

MONTEPIO PRIMAVERA 2015

ff O FADO A música

portuguesa tem no Fado

o outro grande representante

cultural

a Convenção da UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultu-ral Imaterial, assinada em 2003 e ratificada por Portugal em 2008, salvaguarda o património cultu-ral imaterial, composto por tradi-ções, artes, rituais, eventos festi-vos, saberes, conhecimentos e prá-ticas, nomeadamente artesanato. Como refere Clara Bertrand Cabral, responsável pelas atividades da UNESCO na área da cultura em Por-tugal, “estas duas convenções foram muito bem aceites pelos países-mem-bros”. A primeira foi ratificada por 191 Estados e a segunda por mais de 161.

Fazer parte das listas represen-tativas da organização é um selo de garantia do valor de determina-do bem inscrito, material ou imate-rial. Esta inscrição tem de ser acei-te pelos diferentes países, represen-tados em cada uma das convenções por um comité composto por um nú-mero acordado de Estados que ana-lisam as propostas apresentadas. No caso do Património Mundial, Cul-tural e Natural, o Comité é compos-to por 21 países, com mandatos de quatro anos. Portugal foi eleito para este Comité em 2013 e vai exercer funções até 2017. Seguindo as reco-mendações da UNESCO, comprome-teu-se a não apresentar candidaturas a Património Mundial até ao término do seu mandato. “A Comissão Nacio-nal da UNESCO reuniu um grupo de especialistas para, até 2017, atualizar a lista indicativa de bens portugueses que podem, eventualmente, ser can-didatos a Património Mundial”, ex-plica Clara Bertrand Cabral.

Neste momento, a lista do patrimó-nio mundial inclui 1 007 bens mate-riais, distribuídos um pouco por todo o mundo. Na Europa ficam 480 monu-mentos ou zonas naturais, na Ásia 231, na América Latina e Caraíbas 130, em África 89 e nos Estados Árabes 77. Falamos de grandes monumentos co-mo as pirâmides de Gizé, no Egito, a Grande Muralha da China, a Estátua da Liberdade, nos Estados Unidos,

REGRAS

Critérios para a candidatura a património

São dez os critérios da UNESCO para avaliar o valor universal excecional e que permitem que determinado património possa candidatar-se às listas representativas. Conheça-os a seguir, de forma resumida:

)1Representar uma obra-prima do génio criador do Homem

)2Testemunhar uma troca de influências consideráveis durante um certo período ou determinada área

)3Ser testemunho único ou excecional de uma tradição cultural ou civilização viva ou desaparecida

)4Constituir exemplo excecional de um tipo de construção ou de um conjunto arquitetónico ou tecnológico de uma paisagem

)5Constituir um exemplo excecional da fxação humana ou ocupação de um território tradicional, representativo de uma cultura

)6Estar direta ou materialmente associado a um acontecimento ou tradições vivas, a ideias, crenças ou obras artísticas

)7Representar fenómenos naturais ou zonas de uma beleza natural e importância estética excecionais

)8Ser exemplo excecional representativo de grandes estádios da história da Terra

)9Ser exemplo excecional e representativo de processos ecológicos e biológicos em curso de evolução

!0Conter os habitats naturais mais representativos e importantes para a conservação da diversidade biológica

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13

MONTEPIO PRIMAVERA 2015

inúmeras catedrais francesas ou Sto-nehenge, no Reino Unido, entre tan-tos outros locais de eleição.

Portugal tem 15 bens materiais inscritos ao abrigo da Convenção de 1972, mas fica ainda muito aquém dos 50 apresentados pela Itália e dos 47 da China, os dois países com mais bens destacados (ver caixa).

A vizinha Espanha consegue um honroso terceiro lugar no ranking, com 44 locais inscritos nesta lista. A UNESCO recomenda que sejam desenvolvidos esforços para se al-cançar uma distribuição geográfica e tipológica mais equitativa dos bens e que seja dada primazia à classifica-ção de bens situados em países pou-co representados e a candidaturas em série e transnacionais. Porém, Clara Bertrand Cabral garante que

Bens materiais e imateriais, por país, na lista da UNESCO

LISTA

No topo cultural

PATRIMÓNIO MATERIAL

ITÁLIACHINA

ESPANHAFRANÇA

ALEMANHAÍNDIA

REINO UNIDORÚSSIA

EUA

4750

44

3939

3232

2826

22

MÉXICO

PATRIMÓNIO IMATERIAL

FRANÇA

JAPÃO17

22

14

1314

1212

1211

10

BÉLGICA

IRÃO

CROÁCIAESPANHA

COREIA

TURQUIAMONGÓLIA

ÍNDIA

“todas as candidaturas são vistas com o mesmo olhar e têm de cumprir os mesmos requisitos. Eventualmen-te, as candidaturas de países que não têm qualquer bem inscrito poderão ser analisadas com alguma benevo-lência, para que se obtenha uma Lis-ta do Património Mundial geografi-camente mais equilibrada”.

Já Rui Vieira Nery, musicólo-go, historiador, diretor da Fundação Gulbenkian e coordenador da candi-datura do Fado refere que alguns paí-ses se excederam na apresentação de novas candidaturas, como a Croá-cia e a China, pois há também algum interesse geopolítico da sua parte. “Espanha gastou imenso nas candida-turas para conseguir ter bens nas lis-tas. A candidatura do Flamenco cus-tou dez vezes mais que a do Fado”, diz.

Preservar o imaterialAlém dos 15 bens do Património Mundial, Portugal tem já três inscri-tos na Lista Representativa do Patri-mónio Cultural Imaterial da Huma-nidade – a dieta mediterrânica, o Fa-do e o Cante Alentejano –, rol que no seu total ascende a 314 itens. O caso de Portugal é até de louvar, pois duas das candidaturas apresentadas pa-ra o património intangível foram ti-das como bons exemplos, fruto do trabalho de muito tempo de prepa-ração. Neste caso, os critérios para a avaliação são bastante diferentes do património material (ver caixa): esta distinção tem de contribuir para a visibilidade e consciência do bem cultural intangível, encorajando o diálogo com quem o representa, têm de ser criadas medidas de salvaguar-da, para proteger esse património, e as comunidades devem ser envol-vidas em todas as ações e processos relacionados com os mesmos.

“Há uma diferença importante nas duas listas. No caso do patrimó-nio físico procuram-se obras-primas e são avaliadas pela sua complexidade, técnica, escala, etc. No património intangível a avaliação não é estética,

Clara CabralResponsável pelas atividades da Comissão Nacional da UNESCO na área da cultura em Portugal

P&R

Como se iniciou todo o processo de proteção do património? A UNESCO surgiu em 1945 após a Segunda Guerra Mundial e, sendo uma agência das Nações Unidas, tem como objetivo principal alcançar a paz e a segurança no Mundo através da educação, da ciência e da cultura; a proteção do património é um dos instrumentos para alcançar esse objetivo. Esta necessidade surgiu pela primeira vez em 1950, com a decisão de construir a barragem de Assuão no Egito, que inundaria o vale do Nilo e os notáveis templos de Abu Simbel. Uma mobilização internacional alertou a opinião pública em todo o mundo para a urgência de se adotarem medidas de proteção rápidas e bem coordenadas, o que veio a acontecer, salvaguardando o património.

Quais as vantagens para os países distinguidos? Desde logo é importante referir--se o reconhecimento e maior visibilidade – nacional e internacional – do património classifcado pela UNESCO, o que de alguma forma contribuirá para a sua proteção. Mas, além dos objetivos principais, todo este processo também acaba por favorecer o turismo, que deverá ser sempre desenvolvido de forma sustentável, criando riqueza a favor das regiões e das suas populações.

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1o meu mundoCULTURA património mundial

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que esta será uma nova candidatura de Portugal, com caráter de urgência, pois há apenas 13 artesãos que os fabricam e quase todos com mais de 70 anos. Como não têm aprendizes, a arte está em risco de extinção. No segundo caso tem de ser um bem representativo de uma cultura como o Fado ou o Cante Alentejano. Há ainda uma outra can-didatura a ser ponderada que é o Car-naval de Torres Vedras, isto segundo informações vindas a público através da Câmara Municipal da cidade.

Seja qual for a lista da UNESCO em que os bens se inscrevem, o objeti-vo é salvaguardar, proteger e conser-var o passado para preparar o futuro.

Portugal tem 15 locais inscritos na lista do património material da UNESCO. Na lista de património imaterial estão inscritos três bens.

CASO NACIONAL

Património Mundial em Portugal

PATRIMÓNIO MATERIAL E NATURAL 1983 | MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS, LISBOA

| CONVENTO DE CRISTO, TOMAR | MOSTEIRO DA BATALHA | CENTRO HISTÓRICO DE ANGRA DO HEROÍSMO, AÇORES

1986 | CENTRO HISTÓRICO DE ÉVORA1989 | MOSTEIRO DE ALCOBAÇA1995 | PAISAGEM CULTURAL DE SINTRA1996 | CENTRO HISTÓRICO DO PORTO1999 | FLORESTA LAURISSILVA NA MADEIRA2001 | CENTRO HISTÓRICO DE GUIMARÃES

| ALTO DOURO VINHATEIRO2004 | PAISAGEM DA CULTURA DA VINHA DA ILHA DO PICO1998/2010 | ARTE RUPESTRE DO VALE DO RIO COA E DE SIEGA VERDE,

PORTUGAL E ESPANHA2012 | CIDADE QUARTEL FRONTEIRIÇA DE ELVAS E SUAS FORTIFICAÇÕES2013 | UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ALTA E SOFIA

PATRIMÓNIO IMATERIAL 2013 | DIETA MEDITERRÂNICA – CANDIDATURA CONJUNTA DE PORTUGAL,

MARROCOS, GRÉCIA, ESPANHA, CHIPRE, CROÁCIA E ITÁLIA2011 | FADO2014 | CANTE ALENTEJANO

o que se procura é uma lista representa-tiva de tipos de práticas culturais que re-presentem a identidade e autenticidade de um povo”, explica Rui Vieira Nery. Este responsável salienta ainda as van-tagens associadas a este destaque in-ternacional: há duas internas, que são a necessária recolha de fontes, de me-mórias – o que implica muita investiga-ção para a preparação da candidatura –, e a salvaguarda e preservação do bem; e há uma externa, que é a visibilidade internacional dessa prática, que tem como consequência natural o aumento do interesse turístico. “O Fado, ao rece-ber este selo de autenticidade, tem re-gistado um acréscimo de procura, com consequências para o setor profissional associado ao mesmo”, refere.

Já o Cante Alentejano tem carate-rísticas diferentes porque é um movi-mento amador e comunitário. “A ideia de candidatar o Cante Alentejano já tem alguns anos. Mas foi em 2011 que se iniciou todo o processo”, recorda Paulo Lima, diretor da Casa de Cante de Serpa e coordenador da candidatura. Integrou a lista em novembro de 2014 e já se nota o poder desta visibilidade: em pouco meses surgiram mais de 30 novos grupos de Cante Alentejano, co-mo revela o responsável. A cobertura mediática da candidatura exponen-ciou o interesse dos jovens pelo Cante e trouxe mais dignidade à população local, que se sente orgulhosa da sua tradição. Além disso, contribui para a coesão e inclusão social, ajudando, por exemplo, os mais idosos.

Os bens intangíveis podem ser ins-critos na lista de salvaguarda urgente ou na lista representativa. No primei-ro caso é necessário que determinado bem esteja em risco de desaparecer, como acontece com o fabrico de cho-calhos em Alcáçovas. Paulo Lima diz

? O QUE SIGNIFICA Proteger o património do planeta é o resultado do esforço iniciadona segunda metade do século xx. Estar na lista é sinónimo de reconhecimento e mais turismo.

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1fFloresta Laurissilva,

Madeira 2fAlto Douro

vinhateiro3fCentro

histórico de Angra do Heroísmo,

Açores

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o meu mundoTEMA DE FUNDO

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ARTE URBANA

UMA TELA DO TAMANHO DA RUACHEGARAM E INVADIRAM AS RUAS DAS CIDADES SEM PEDIREM LICENÇA. A OCUPAREM AS FACHADAS DE PRÉDIOS DEVOLUTOS OU EXTENSOS MUROS, AS PINTURAS DE ARTE URBANA NÃO SÃO DISCRETAS, NEM DELICADAS. QUEREM SER VISTAS, QUEREM PROBLEMATIZAR

Ninguém sabe ao certo quantas são as pinturas urbanas nas ruas de Lisboa. Ou do Porto. Ou em todas as avenidas e becos de Portugal. A verdade é que as enormes telas ao ar livre estão a assumir-se como um cartão de visita do país e já valeram a Lisboa um lugar entre as melhores cidades do mundo para a arte urbana, pela mão da famosa revista Condé Nast Traveller. No ranking publicado no final de 2014 a capital portuguesa está na sexta posição, atrás de cidades como Berlim, Buenos Aires, Los Angeles, Londres e Melbourne.

Entre os muitos nomes internacio-nais que já deixaram a sua marca na ebulição da arte urbana portuguesa, como o italiano Blu e os brasileiros Os Gémeos, está uma nova geração de criadores nacionais que usam as pare-des como telas de liberdade.

É o caso de Bordalo II, conhecido pelas intervenções tridimensionais que deixa nas ruas, híbridos entre a escultura e o mural. O neto de Real Bordalo, conhecido pelas suas agua-relas de Lisboa, tem sido apontado co-mo um dos melhores representantes da arte urbana mundial, mas não é o único a marcar as paredes lisboetas com técnicas fora do comum.

Add Fuel, por exemplo, cos-tuma preparar stencils para pin-tar padrões de azulejos, reple-tos de elementos desconcertantes. Gonçalo Ribeiro (MAR) e Tamara Alves continuam a socorrer-se das latas de spray, apesar de terem per-cursos muito diferentes. Ele é um dos nomes mais conhecidos da arte urba-na nacional, autor de murais em gran-de escala. Ela traz a selva à sociedade com desenhos de animais ferozes, mi-metizando emoções à flor da pele.

São traços muito diferentes que surgem nas fachadas. Porém, todos são acarinhados de igual forma pela GAU – Galeria de Arte Urbana da

por marisa vitorino figueiredofotografia artur

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O que ver em Lisboa?ROTEIRO

Na amálgama de ruas lisboetas há pedaços de arte urbana escondidos

em becos e outros que ocupam toda a fachada dos edifícios das principais artérias. É difícil escolher o que ver ou onde ver e, consciente disto, a GAU reu-niu, em livro, a street art de Lisboa. Ao todo, são quase 200 referências de obras de arte urbana, com direito a mapa e fotografas do local. Como o tempo é sempre escasso, deixamos-lhe um roteiro de nove obras que não pode perder em Lisboa. Mas com a garantia de que todas as outras também merecem uma visita.

Câmara Municipal de Lisboa que, desde há cerca de sete anos, tem con-vidado diversos artistas para faze-rem intervenções nas ruas da cida-de. A estratégia funcionou e Lisboa é hoje considerada uma das 25 melho-res cidades desta corrente artística, num ranking organizado pelo portal Huffington Post.

A criação da GAU é, também, um sinal de que a arte que ganha vida na rua é cada vez mais aceite, muitas ve-zes encomendada pelas próprias au-tarquias – e empresas – como forma de “limpar sem limpar”, nas palavras de Tamara Alves. Neste jogo entre en-comenda e intervenção cabe ao autor

“manter-se fiel a si próprio”, com a certeza de que, sem o “empurrão” das câmaras municipais “não seria possí-vel ter murais com estas dimensões”, acrescenta a artista.

Nascida em Nova Iorque, a street art tornou-se “o primeiro fenómeno de arte mundial graças à Internet”, lem-bra Add Fuel. No entanto, muitas ve-zes ainda é confundida com o graffiti, atividade que lhe deu origem mas na qual não se esgota. A fronteira entre ambas é fluida e ainda pouco conso-lidada – até porque a street art está em constante evolução. Os mais puris-tas remetem o graffiti para o lettering (desenho de letras) a spray, feito de for-ma ilegal e territorial. A arte urbana seria tudo o resto: expressões artísti-cas feitas na rua, com tinta de spray ou qualquer outro material, de forma le-gal e a convite de festivais, autarquias ou outras entidades. Mas há quem chame de graffiti a tudo, ou quem recuse, pura e simplesmente, qual-quer tipo de rótulo. “Posso ser consi-derado, no máximo, um artista que pinta num suporte diferente, num material diferente”, refere MAR.

Migração artísticaOs motivos desenhados nas paredes são predominantemente urbanos. Há influências do hip-hop, do multi-culturalismo, da confusão da cida-de e dos seus desperdícios. “Hoje já se chama arte urbana a muita coisa. São pinturas em grande escala, conti-nuam na rua, mas já nem sequer exis-tem só na grande cidade”, lembra Ta-mara Alves.

Exemplo disso é o Wool – Festival de Arte Urbana da Covilhã, que tem promovido intervenções em murais na cidade serrana desde 2011. Foi na cidade beirã que Tamara deixou uma figura de três braços, uma homena-gem às bordadeiras que fazem renda de bilros, e que Bordalo II criou, com lixo e sucata, um mocho tridimen-sional numa alusão à fauna local. Nos azulejos de stencil de Add Fuel assomam padrões de máquinas de

1AvenidafFontes Pereira de Melo | Os Gémeos/ Blu2Jardim do Tabaco | PixelPancho/Vhils3 Lx Factory | vários autores4 Avenida de Berna | Mural 25 de Abril | Add Fuel/Draw/KissMyWalls/MAR5 Alcântara | Bordaleta | Bordalo II

6 Avenida das Índias – ARM Collective7 Avenida Conselheiro Fernando de Sousa | Vários autores8 Pilares da ponte 25 de Abril | José Carvalho/Klit/Kruella D’Enfer/Mosaik/Regg/Tamara Alves/Violant9 Mercado da Ribeira – Galeria UnderDogs

? Entre artistas nacionais e

internacionais, são muitos os

que expressam a sua interpretação

do mundo nas paredes das

cidades

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o meu mundoTEMA DE FUNDO arte urbana

Desenhos recriados ou apagados A arte urbana começa a chegar aos museus, galerias e casas de particula-res. Bordalo II, cuja exposição “World Gone Crazy” esteve patente no Cen-tro Cultural de Belém, valoriza es-ta nova dimensão. “Quando indoor, o trabalho ganha durabilidade, torna-se menos efémero e vulnerável. Pode-mos chegar a mais público, durante mais anos”, explica.

Mas a casa da arte urbana será sempre a rua. E lá fora, quanto maior a pintura, melhor. “É um movimento artístico que chega às pessoas, comu-nica com quem está na rua e funcio-na como um alerta para a arte, porque a maioria das pessoas não vai a um museu”, sublinha MAR. Na parede da rua o desenho ganha novos senti-dos, sentidos que o autor não contro-la. Exemplo disso é o caso caricato que colocou uma das suas pinturas no seio de uma polémica pública. Uma su-perfície comercial decidiu tapar, com uma tela publicitária, o trabalho artís-tico, que tinha inclusive recebido apoio da GAU. Após a remoção da tela, os

1f Latas (preto e branco são as cores básicas)

2f Caps (espécie de tampas por onde sai a tinta; vários, para diversos traços)

3f Luvas de borracha

4fMáscara5f Caderno

(sketchbook) /lápis

6fMarcadores7fComida 8fÁgua

MATERIAL

1fBordalo II2fAdd Fuel3fMAR4fTamara Alves

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tecelagem. E os ARM Collective, do qual faz parte MAR, pegaram na fi-gura tradicional do pastor e as ovelhas para a desconstruir, num universo muito próprio. A envolvente inspirou os artistas e há muito para descobrir nas ruas da cidade.

Como o Wool, são vários os fes-tivais que dinamizam a street art. O trabalho coletivo está no ADN da arte urbana e são estas iniciativas que dão visibilidade ao trabalho dos artis-tas, podendo até dar origem a novas encomendas. “É um tipo de arte mais social, enquanto nas outras estamos fechados num ateliê”, refere Tama-ra. Da experiência em colaboração, resultam novas inspirações, à medi-da que o spray é manuseado a várias mãos. Add Fuel reforça a ideia, lem-brando intervenções em duo e quar-teto: “Trazem muitas experiências po-sitivas, principalmente o feedback que recebemos uns dos outros.”

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O que contém a mochila de um street artist?

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personagens desenhados na fachada de Alcântara não puderam continuar sossegados: apanhados numa cheia, “pareciam nadar por cima de água”, ganhando novo cenário inesperado. “A pintura acaba por ‘viver’, ter um percurso muito próprio”, fora das in-tenções do artista. Arriscando-se tam-bém, a um desaparecimento precoce.

Depois de dias de trabalho a obra fica sujeita à sua sorte. Pode ser risca-da, tapada com novo desenho, pinta-da de branco ou, até, “sobreviver” uns bons anos. Tudo depende de vários fa-tores, como o fácil (ou difícil) acesso à pintura, o nome do artista na comuni-dade e o local escolhido. “Existe uma tolerância zero em relação ao graffiti e à street art; as peças pintadas nas ruas duram, por vezes, poucas horas até serem limpas ou destruídas por tinta cinzenta morta”, acrescenta Bordalo II que afirma que “nas ruas não há re-gras. Cada um tem a sua consciência”.

A incerteza do destino da obra não retira a vontade de exprimir opiniões e visões. Para os artistas, a rua, no seu desafio e interpelação do mundo, dá muito mais do que aquilo que tira.

“É a melhor altura para ser mulher e fazer arte urbana” Tamara AlvesTem um percurso dito convencional: licenciatura de Artes Plásticas, mestrado de Arte Contemporânea. Fora das aulas, Tamara Alves sempre teve o “bichinho de experimentar”, de ir para a rua e criar. Talvez o mesmo que a levou, incentivada pelos pais, a pintar as paredes do quarto, aos seis anos. Ou, com 14, a brincar com as primeiras latas de spray. Nas suas criações a referência animal é constante, como no Coração-Polvo que pintou na Calçada da Glória. “Transmito sentimentos fortes e quero levá-los à letra”, num retorno ao animal dentro de nós, explica a artista que acredita que “agora é a melhor altura para ser mulher e fazer arte urbana”, num cenário em que há cada vez mais procura de artistas no feminino.

“A cidade do desperdício” Bordalo IIUma borboleta criada com sucata e lixo. Uma tampa de esgoto em forma de moe-da de um euro. Um contentor do lixo “remodelado” para parecer um hambúrguer. As intervenções de Bordalo II ganham alma a partir dos vários elementos da cidade. “A ideia é criar uma imagem da cidade a partir do desperdício da mesma, é construir uma realidade a partir dos podres da sociedade”, explica o artista.O plástico, como “cancro do planeta”, é o material de eleição nesta reconstrução do que é urbano. Os objetos comuns são recriados e ganham novos sentidos. Ao ponto de o site internacional Street Art News o considerar um dos melhores na arte urbana mundial de 2014. A arte e a representação da cidade correm-lhe nos genes. Bordalo II é neto de Real Bordalo, conhecido pelas aguarelas de Lisboa.

“Devolver o azulejo à rua” Add FuelPensa-se na arquitetura portuguesa e chega-se, inevitavelmente, ao azulejo. O quadrado de cerâmica tem caráter nacional e foi essa importância que levou Add Fuel, nome artístico de Diogo Machado, a reapropriar-se dele como inter-venção de arte urbana. Neste ato de “devolver o azulejo à rua” nascem murais de stencil e spray que exploram infndáveis pormenores como mãos, olhos ou cavei-ras. “Gosto de pegar num conceito e ver o que resulta: algo mais irónico, ou algo mais cómico, mais subtil.” Para o resultado fnal contribui a experiência de Add Fuel como ilustrador e a sua obsessão, saudável, com padrões. “Fotografo muitos azulejos e outro tipo de padrões quando ando na rua”, explica, salientando a im-portância do local envolvente para o desenho.

“Pegar numa personagem e desconstruí-la” MAR“Faço bonecos”, começa por explicar MAR sobre o seu universo de perso-nagens estilizadas que vão ganhando lugar no mundo citadino. A frase “es-conde” a importância do artista. Há 16 anos que trata por “tu” as paredes da margem Sul e de Lisboa. Sozinho ou através do coletivo ARM Collective, as suas intervenções em grande escala são uma referência. Especializado em personagens, que partilham traços e cores muito próprias, o artista aposta em trabalhos de maior dimensão para conseguir marcar a diferença. Fachadas de prédios devolutos ou, de preferência, grandes murais – como o da Avenida das Índias, onde o coletivo foi desafado a recriar o imaginário d’Os Lusíadas.

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o meu mundoENTREVISTA arte urbana

VHILS

O “INCONTORNÁVEL”SE AS PAREDES FALASSEM, AS DE ALEXANDRE FARTO, OU VHILS COMO É MAIS CONHECIDO, TINHAM MUITO PARA CONTAR. CONDECORADO, RECENTEMENTE, PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA COM A DISTINÇÃO DE CAVALEIRO DA ORDEM MILITAR DE SANT’IAGO DA ESPADA, ESTÁ ENTRE OS MAIS PROMISSORES JOVENS DO PLANETA, SEGUNDO A PRESTIGIADA REVISTA FORBES

por helena viegasfotografia vera marmelo e sílvia lopes

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“Arte urbana” não é um rótulo que aprecie. Como designa o que faz?Parece-me redutor para descrever uma realidade bem mais complexa. A maior parte do meu trabalho alimenta-se do meio urbano e recorre a materiais provenientes da cidade, mas vai muito mais além. Faço traba-lho no espaço público das cidades, mas também em espaços interiores e nou-tros contextos. Porque não pensar ape-nas em arte, seja qual for o meio onde é produzida?A frase “os graffitis já não são um ato de rebelião” é sua. O que mudou?Nesse contexto referia-me ao cres-cente apelo do radicalismo islâmico à juventude europeia. Muitas formas de contestação ao poder e às institui-ções associadas à juventude têm si-do integradas na cultura dominante. As subculturas que surgem nas mar-gens são absorvidas pelo centro, dei-xam de cumprir essa função contes-tatária. A ausência desse espaço de contestação pode tornar a juventude mais vulnerável à radicalização polí-tica ou religiosa. No que respeita ao graffiti, a verdade é mais complexa: se por um lado tem sido absorvido pelo mundo da comunicação visual e da arte, por outro tem uma faceta indomável que teima em apoderar--se do espaço público para exprimir a sua vitalidade. É essa a sua natureza.Sente nostalgia do tempo em que o graffiti era um ato de rebelião?Sim, porque guardo boas memórias do que era um ato simples e puro, sem interesses. O que faço hoje não é graffiti, mas considero-o a minha es-cola de formação. Ensinou-me a lidar com realidades complexas, a ler o es-paço urbano, a ser minucioso e a tra-balhar com certas superfícies, mate-riais e ferramentas. A arte urbana tem uma forte com-ponente social, de apelo à crítica e à reflexão. São as caraterísticas da “rebelião” do século xxi?Trabalhar no espaço público sem au-torização é um ato de rebeldia. Mas o conteúdo dessa comunicação de-

pende da intenção do interveniente. Eu uso o meu trabalho para desenvol-ver uma reflexão que considero mais de natureza social do que artística. Gosto de chamar a atenção para de-terminados temas e interessa-me fa-zer pensar de forma crítica.A experimentação é uma tentação do artista?Para mim, sempre foi uma compo-nente muito importante do trabalho e uma das que me dá maior prazer. Gosto de mexer com os materiais, de arriscar, de ver até onde consigo levá-los. É da experimentação que têm surgido muitos dos corpos de tra-balho que tenho desenvolvido.A desconstrução é o conceito que o move? Em certa medida sim, mas a descons-trução não surge isolada. Encontra--se ligada a um contexto e conteú-do específicos. Num primeiro mo-mento, o meu trabalho encontra-se ligado por uma reflexão sobre o pre-sente modelo de desenvolvimento socioeconómico, a vida nas socieda-des urbanas contemporâneas e o de-senvolvimento da identidade indi-vidual nestes contextos. Mas depois cada corpo de trabalho é usado para desenvolver uma reflexão mais par-ticular. Um dos conceitos fundamen-tais é o recurso a técnicas destrutivas como forma de criação. Este univer-so e o próprio conceito estão ligados aos tempos do graffiti, quando usava ferramentas destrutivas para cravar o nome em vários tipos de superfí-cies com base numa técnica de stencil

invertida – criando através da remo-ção de camadas em vez da sua adição. Ao escavar estas camadas vi que esta-va a expor fragmentos de outros, num ato de arqueologia contemporânea. Estes fragmentos refletem a ener-gia caótica da cidade e o ritmo frené-tico das sociedades contemporâneas. Decidi aplicar o mesmo processo às pa-redes, escavando camadas de modo a criar composições semelhantes, e daí alarguei o processo a outros suportes.Surgiu, recentemente, numa lista da revista Forbes de jovens promissores com menos de 30 anos. O significa para si o sucesso? É gratificante que se interessem e apoiem o meu trabalho, mas é ape-nas importante na medida em que aumenta o acesso a mais recursos. No caso dos projetos sociais ajuda a chamar a atenção para estas realida-des. Pessoalmente, não me importa para nada. Oferece vantagens e in-convenientes, mas continuo a mesma pessoa. Prefiro manter o foco no tra-balho e nas questões que este levanta.Qual é o estado da arte (urbana) em Portugal?Numa era de despromoção da cultu-ra e criatividade artística em Portugal tem sido positivo ver agentes culturais a superarem as (muitas) dificuldades para continuarem a produzir. A arte, seja urbana, contemporânea ou con-temporânea de inspiração urbana, pa-rece-me estar viva e saudável. Faz-se muito com pouco. As crises, sem me-nosprezar a sua dimensão trágica, po-dem oferecer oportunidades.

? RETRATO DE JACK MUNDEY, ativista que lutou para preservar a cidade australiana de Sydney. No seu trabalho Vhils apela a uma reflexão, não só artística mas também social

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1o meu mundoLETRAS

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HISTÓRIAS

ESCREVER: PORQUÊ? PARA QUÊ?PARA CRIAR A CRÓNICA DO TEMPO QUE PASSA, EXPLICAR A REALIDADE, TRANSMITIR ETICAMENTE UMA IDEIA… SÃO MUITOS OS MOTIVOS QUE LEVAM UM AUTOR A ESCREVER. FALÁMOS COM LÍDIA JORGE E AFONSO CRUZ, DOIS ESCRITORES COM IDADES, PERCURSOS E OBRAS DIFERENTES QUE EXPLICARAM O SEU AMOR PELA ESCRITA E O MODO COMO CHEGARAM ATÉ ELA

por susana torrãofotografia artur e joão cupertino

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Tudo começou pela leitura. O gosto pelos livros acompanha Lídia Jorge e Afonso Cruz desde a infância. Em Boliqueime, no Algarve dos anos 50, a autora de Os Memoráveis ou Vale da Paixão encarava as histórias que lia como ponto de partida. “Só por si, um livro nunca me dava satisfação. Acabando-o pensava em escrever eu a minha história”, recor-da. Vinte anos mais tarde, na Figuei-ra da Foz, era a vez de Afonso Cruz. “Sempre li muito e, como um copo que vamos enchendo e há um dia que extravasa, um dia também come-çamos a pôr cá para fora aquilo que acumulámos”, explica. Ela sempre teve como objetivo ser escritora, para ele essa foi uma descoberta mais tranquila. Encontram-se no olhar crítico que têm sobre a realidade.

Dar sentido à vida“Devoto tudo à escrita. Ponho-a aci-ma de tudo. Naturalmente há limites. A família – os nossos – fica de fora desta contenda.” É assim que Lídia Jorge explica a importância da escri-ta no seu quotidiano. Um dia chegou a dizer que “escrever é mais importante que a própria vida” e, apesar de reco-nhecer o caráter hiperbólico da frase, assume que vê a vida como uma es-pécie de batalha a que a escrita pode trazer alguma luz. “Não é arrogância, é ambição de criar outro ponto de vis-ta para tentar encontrar explicação para a existência tal como é: com es-ta finitude, com esta permanente de-sinteligência entre os homens, o facto de haver sempre desinteligência mes-mo entre as formas mais superiores de amor. Porquê? Porquê ambicio-narmos viver fora do tempo? Porquê o início do mundo? Porquê o fim do mundo? Tudo isto são questões que nós colocamos”, diz.

Desde que, aos dez anos, escreveu as primeiras 33 páginas de Amores de São João – “histórias sobre rapazes e raparigas mais velhos do que eu e que conhecia, para quem tentava criar his-tórias como as que lia no Júlio Dinis.

Coisas muito ridículas e muito primi-tivas…” – Lídia Jorge trabalhou para alcançar o objetivo de ser escritora. Esse texto perdeu-se numa mudan-ça de casa mas ainda existem os arti-gos que publicou em A Centelha, o jor-nal do Liceu Nacional de Faro do qual chegou a ser diretora, bem como os textos que escreveu na universidade, em Lisboa. Até o estudo da literatura se tornar paralisante. “Quando che-guei à Faculdade de Letras procurei os livros e os autores com quem eu me identificava. Foi um momento de re-colha de informação, de descoberta de autores, com uma intenção mais ama-durecida. Nesse aspeto a Faculdade de Letras foi muito importante, mas também foi o momento em que duvi-dei de que era capaz. Estudava teoria e análise literária, disciplinas de aná-lise, de sobreaviso sobre a literatura, e questionava-me: será que para escre-ver é preciso ter esta engrenagem na cabeça? Só senti uma espécie de liber-tação quando deixei a faculdade e vol-tei a ser uma leitora desprevenida e a escrever desembaraçadamente”, con-ta Lídia Jorge.

Viajar para partilharO início da relação de Afonso Cruz com a escrita deu-se mais tarde, numa altura em que o também ilustrador tra-balhava como redator de publicidade. “Foi a primeira vez que, profissional-mente, trabalhei com as palavras e não com as imagens. Foi talvez aí que co-mecei a escrever com assiduidade”, re-corda. Entretanto, Afonso Cruz foi acu-mulando viagens e conta hoje no currí-culo com mais de 60 países. “Acho que a necessidade de partilhar e de nos ex-pressarmos tem a ver com tudo aquilo que acumulamos. E isso não se restrin-

“Senti uma espécie de libertação quando deixei a faculdade e voltei a escrever desembaraçadamente”(Lídia Jorge)

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o meu mundoLETRAShistórias

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ge às leituras mas às experiências que fomos tendo ao longo da vida. Apesar de haver escritores que são muito pre-coces, acho que o processo normal e o mais expectável é que adquiram uma certa bagagem”, lembra.

O que o levava a partir era a bus-ca pela diferença e a certeza de en-contrar novas maneiras de pensar, que podia confrontar com a rotina. “Por nos afastarmos um pouco da nos-sa sociedade, quando olhamos de longe vamos observá-la de maneira diferen-te. Quando viajo procuro sociedades que possam fazer-me refletir e repen-sar o nosso padrão de vida. Os povos indígenas da Amazónia ou algumas tribos africanas têm diferenças mais acentuadas, mas o limite da diferença está entre o nómada e o sedentário, em que a maneira de pensar é realmente diferente”, explica Afonso Cruz.

Para o escritor, mais do que a for-ma é o conteúdo de cada aconteci-mento ou de cada experiência que deve ser valorizado. Foi o que tentou mostrar na sua Enciclopédia da His-tória Universal, uma compilação de factos inventados. “Nas nossas expe-riências – independentemente de te-rem sido factos ou não – o mais impor-tante a retirar delas é o conteúdo que encerram. E não sinto que uma obra de ficção seja menos importante… Por exemplo o Crime e Castigo será sempre muito importante para mim, independentemente do personagem ter morto ou não aquelas senhoras na vida real. Não é isso que importa. E, em alguns momentos históricos, também é mais importante retirar o conteúdo do que as circunstâncias que os acabam de promover no tem-po e que, noutra época, deixam de ser importantes”, afirma.

Importante mesmo é procurar a essência das coisas. “É a ficção que cria coisas. Costumo brincar e dizer

que se não fosse a ficção as rodas ain-da eram quadradas”, diz Afonso Cruz.

Das crónicas e da ética“Cronista do tempo que passa.” É as-sim que também se define Lídia Jor-ge. E, de facto, através dos seus ro-mances é possível traçar uma espécie de “história marginal” de Portugal ao longo dos últimos 50 anos. Do país rural e da forma como este se modi-fica em O Vale da Paixão, ao período da revolução e o tempo que lhe é ante-rior em O Dia dos Prodígios, à guerra colonial e ao regresso da mesma em A Costa dos Murmúrios e Notícias da Cidade Silvestre, passando pelos anos de mudança e pela história da própria democracia em livros como O Vento Assobiando nas Gruas, Combateremos a Sombra ou Os Memoráveis.

“Eu não sou capaz de escrever ro-mance histórico. Por impotência! Não tenho duas vidas. E tendo só uma vida e não sabendo quando acaba te-nho pressa e urgência em ser teste-munha do meu tempo, que é aquilo que acho que posso fazer melhor e com alguma singularidade. Porque nós podemos saber sobre o longínquo,

AFONSO CRUZ

O escritor da Figueira da Foz faz das palavras a sua arma para levar ao mundo mensagens globais. O papel que acredita caber ao escritor é o de personagem ativa que contrabalance as mensagens de consumismo e que promova lemas como “sê crítico” ou “mais criativo”. As viagens por mais de 60 países também são uma inspiração.

sobre aquilo que não é o nosso país ou sobre lugares nenhuns, como mui-tas vezes se escreve. Mas a verdade é que, tendo só uma vida e capacidade de testemunhar a transformação da sociedade, podemos desocultar a mo-dernidade”, revela.

Já Afonso Cruz, que nos seus livros e peças de teatro coloca em cima da mesa questões tão atuais co-mo a perda ou a religião, como é o ca-so de Para onde Vão os Guarda-Chuvas, ou o materialismo da atual socieda-de, usa a sua faceta de autor infanto--juvenil (onde começou como ilustra-dor) para passar mensagens globais. Além do mais, encontra aqui um bom veículo para transmitir preocupações éticas e morais. “Somos bombardeados constantemente com mensagens cujo único objetivo é fazer-nos consumir, mas não temos nada que nos diga ‘sê bom’, ou ‘sê mais inteligente’ ou ‘mais criativo’ ou ‘mais crítico’. Cabe à arte e à literatura ter esse papel”, afirma.

Ou, nas palavras de Lídia Jorge, es-critas no passeio à frente da biblioteca de Penafiel: “Não há livro de instru-ções para salvar a vida. Só a literatura se aproxima desse imenso livro”.

A literatura como mensagem

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Referência não farei a quanto, de forma empenha-da e eficaz, serviu o país, no país e no estrangeiro, exer-cendo funções políticas da mais alta importância nacio-nal, cargos da maior impor-tância na administração pú-blica e, ainda, no governo de grandes instituições públicas (como o Banco de Portugal) ou de grandes organizações da so-

ciedade civil (o Montepio, por exemplo).Acção de relevante trabalho e mérito teve, ainda,

no urgente processo de esclarecimento da opinião pública, através de inúmeras conferências e inter-venções mediáticas.

Mas incompleto ficaria este testemunho, de me-mória e preito de gratidão, se esquecesse que Sil-va Lopes, o Homem do Dever, sabia ser, também, e era-o frequentemente, o homem de sorriso discre-to, sereno, como tudo o que brota, com naturalidade, de fontes profundas. Sorriso que oferecia aos amigos. Sorriso, de tocante carinho, com que sempre olhava, falava com os filhos e netos, ou deles dava notícia.

Encontrar Silva Lopes, descobri-lo, tê-lo como amigo e amizade fazer também com a sua mu-lher e os seus filhos, usufruir dos seus ensinamentos, inspirar-me no seu exemplo, foi uma graça, um dom de excepcional valia que agradeço a Deus.

Aos filhos e netos de Silva Lopes, quero ape-nas dizer, neste tempo de partida, neste momen-to de despedida, quão orgulhosos, e gratos tam-bém, se devem sentir pelo pai e avô que têm, pelo amor e exemplo que lhes deu, mas, também, pelo muito que ele legou aos portugueses, à sua vi-da e história, na qual tem jus a referência e a lugar especiais.

E digo – aos filhos e netos – o pai e avô que têm, e não o que tiveram, porque homens grandes, assim, não morrem. Nunca morrem.

1o meu mundo

OPINIÃO

NOTA: O autor continua a escrever segundo a chamada norma antiga.

Ex-Presidente da RepúblicaAntónio Ramalho Eanes

Mas, socorrendo-me de Kant, o que sobremaneira conta em Silva Lopes é “o valor do carácter que é moralmente, sem qualquer com-paração, o mais alto, e que consiste em fazer o bem, não por incli-nação, mas por dever”.

Essa preocupação ética do dever – servida por uma grande e ininterrupta preparação, por um vivido e interiorizado cosmopo-litismo, por uma experiência profissional de excepcional matriz, diversidade e exigência, que o levaram a ser intransigentemente fiel à verdade – somada à sua coragem, honestidade, prestígio inte-lectual e aos serviços prestados ao país, conferem a Silva Lopes, a justo título, uma aristocracia de espírito.

São, realmente, essa fidelização ao dever e às respostas de saber (sempre em procura de empenhada perfectibilização), a inteira disponibilidade para servir o país, com empenho e competência, e com desassombro também, não procurando agradar a quem exerce o poder (um pouco à maneira de Mouzinho da Silveira) que fazem de Silva Lopes não só, e como bem disse Luís Villalobos, “o econo-mista que fez história” mas, também, o Homem que, na história co-lectiva, inscreveu presença harmoniosa, de referência e inspiração.

De referência e inspiração é Silva Lopes, pelo dever de verdade que, com tocante humildade, sempre oferecia e que elegeu como sol norteador, pela liberdade que defendeu e exigiu, tanto para si como para os outros, pela igualdade diferenciadora por que se ba-teu e que impõe que a todos seja estendida a fruição do necessário para assegurar uma vida digna.

Aliás, estas foram preocupações, e propósitos também, que o leva-ram, por vezes, ao combate político, que travou, recusando, sempre, o recurso demagógico, que considerava forma maior da corrupção política.

Homens grandes assim não morremNA UNIDADE E CONTINUIDADE, NA MEMÓRIA, NA PERSONALIDADE DE SILVA LOPES* MUITO CONTAM TANTO OS SEUS INVULGARES TALENTOS DO ESPÍRITO QUANTO OS SEUS IMPRESSIVOS DOTES DE TEMPERAMENTO, QUE O SEU CARÁCTER TÃO BEM QUIS, E SOUBE, ESCULPIR E, NOBREMENTE, ANIMAR.

Silva Lopes, o Homem do

Dever, sabia ser, também, e era-o frequentemente,

o homem de sorriso discreto,

sereno como tudo o que

brota de fontes profundas

* José Silva Lopes presidiu ao Montepio entre 2004 e 2008.

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“Acreditava ser possível fazer vida e pagar contas a escrever canções. E consegui.”

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KALAF ÂNGELO

O AGITADORTRANQUILO

QUEM É O HOMEM POR DETRÁS DA VOZ MELANCÓLICA QUE CRUZA O AFRICANO KUDURO COM A MUNDIAL ELETRÓNICA

DOS BURAKA SOM SISTEMA? DEPOIS DE TER “COMPRADO” LISBOA, KALAF PASSA OS DIAS A VENDÊ-LA PELO MUNDO,

NA MÚSICA E NOS LIVROS

por nuno alexandre silva e miguel ferreira da silva

fotografia gonçalo f. santos

É a alma poética dos consagrados Buraka Som Sistema e, por paixão a Lisboa, já se declarou em livro. Este angolano que celebra o design na forma de vestir e de viver sabe bem o que quer: contar histórias.

Chegou a Portugal aos 17 anos, vin-do de Angola, e agora passa a vida a cruzar o mundo. Qual é a sua terra? Lisboa, sem dúvida nenhuma. Esti-ve há poucos dias no Rio de Janeiro e estava a vender Lisboa como um guia

turístico. Lisboa é o único lugar do mundo que fala português onde consi-go conviver com todos os mundos que falam português. E isso é muito impor-tante para o meu trabalho. Gosto mui-to de ir a outros sítios onde não falo

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o meu mundoENTREVISTA

a língua, para despertar a curiosidade e para explorar outros “eus” que habi-tam em mim. Mas a apontar uma “ca-sa”, Lisboa reúne todas as caraterísti-cas que eu preciso. É a minha base.Como era esta Lisboa quando che-gou e como está agora?Quando cheguei foi amor à primeira vis-ta. Quando se é jovem não se tem a ideia do “para sempre”. Pensamos que tudo é temporário e eu também pensei que Lis-boa seria temporária. Mas, com o pas-sar do tempo, fui descobrindo as pessoas que aqui habitam: cabo-verdianos, bra-sileiros, portugueses. Achei, também, o Porto fascinante. No início ia cons-tantemente a Serralves, ao Museu de Arte Contemporânea, para convi-ver de perto com coisas que lia nos li-vros e que estavam ali. Gosto da pro-ximidade que Lisboa tem de outras cidades. Depois do Porto passei a ter es-sa relação com Madrid. O [museu] Rai-nha Sofia e o [museu] Prado são imba-tíveis e estão tão perto. A minha cidade escape passou a ser Madrid, mas só por-que estava em Lisboa e tinha essa pro-ximidade.E como estão os portugueses? Diferentes?Sim. Acho que os portugueses que en-contrei não estavam tão atentos a uma realidade: o facto de Lisboa ser uma das capitais africanas mais vibrantes, e incluo as que estão em África.Ganhou visibilidade com a música nos Buraka Som Sistema. Era is-so que tinha pensado para si ou não pensa muito nisso?Não era necessariamente, mas, assim que pisei aqui a terra e me confrontei com outros povos que falam a mesma língua, foi muito claro que o que queria fazer era contar histórias. O que mais me cativou, durante esse contacto, foi que a história não está a ser contada no seu todo. Eu adorava que houvesse mais pessoas a escreverem como eu escrevo,

a completarem aquilo que não consigo completar, que não consigo expressar. O meu ponto de vista não exclui nada. Eu incluo. Sempre partindo do ponto de que venho de Benguela...Sente necessidade desse prefácio?Sinto necessidade de contadores de his-tórias. Porque essa é a única forma de eliminar os equívocos. Se contarmos tudo, se expusermos tudo, mais facil-mente conseguimos encontrar o equilí-brio social. Mais perto ficamos de uma ideia mais humana, mais inclusiva. E eu acho que fazemos pouco isso. Escreve-se muito, em português escreve-se bastan-te, mas não o suficiente...Temos apenas um prémio Nobel.Mas podíamos ter quatro ou cin-co. Eu sou do team Mia Couto. Estou a torcer por ele. Que Deus nos oiça.Quando pensou ser escritor?Queria contar histórias e queria estar perto das pessoas que contam his-tórias. Logo, a música, enquanto jovem, foi a mais sedutora. A ideia de ficar em casa a escrever livros não é muito atrati-va. Então, decidi ser músico, mas desco-bri que não tinha talento para fazer mú-sica e decidi escrever canções. Acredi-tava que era possível fazer vida e pagar contas a escrever canções. E consegui.E ser poeta?É difícil viver da poesia. O meu edi-tor acha que devo escrever roman-ces porque os consegue pôr no mer-cado. A poesia é difícil. Mas escrever canções é um prazer que continuo. Os meus poemas acabam sempre por vazar para as canções, mas ainda não consegui editar um livro de poesia.Terá, certamente, oportunidade.Sim, não tenho pressa. Acho que os meus escritores favoritos só se desco-briram aos 50 anos.O que tem a dizer ao mundo? O que procura transmitir na sua escrita?Através das histórias conseguimos es-tar mais perto do sublime, no senti-do em que todas as pessoas carregam um génio dentro delas. E esse génio só se revela quando se está em plena co-munhão com o seu ser. Quanto mais se tiver a plena certeza do que nos

“O pensamento sob o qual nos regemos não inclui os negros”

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define, sem medos e sem dúvidas, mais perto conseguimos estar dessa viagem. E escrever tem-me tornado intransi-gente no sentido que estou mais perto de chegar a esse lugar. De, realmente, ser um fator de mudança. E eu escrevo para me conhecer, conhecer os outros, e, nesse ato, chegarmos a um consen-so de que o que importa não é aqui-lo que nos é imposto pelo status quo. A felicidade não reside naquilo que nós, em grupo, acreditamos que é a felicida-de, mas, simplesmente, aquilo que es-tá guardado dentro de cada um de nós. Não é uma pergunta de resposta fácil. Estou sempre a fazer essa pergunta e provavelmente quando encontrar a res-posta vou deixar de escrever.

ORIGENS

Com dois livros publicados, Estórias de Amor para Meninos de Cor e O Angolano que Comprou Lisboa (Por Metade do Preço), Kalaf Ângelo, ou Epalanga como agora assina, é o ponto de encontro das culturas que foi experienciando e que também transporta para as palavras que dão corpo aos discos dos Buraka Som Sistema. A “falta de jeito” para tocar um instrumento fê- -lo encontrar nas palavras o seu porto de abrigo e não esquece as raízes. “Sou fruto da geração

hip hop, geração Internet, que olha para a cultura e não tem pudor em tirar aquilo que lhe interessa, com vontade de fazer arte para consagrar de forma a que alguém, daqui a 20 anos, esteja a fazer as mesmas perguntas que eu”, explica, acrescentando a influência de Miguel Esteves Cardoso no seu trabalho. “É provavelmente das maiores influências que tenho. Não necessariamente no conteúdo, mas na abordagem. A forma como ele escreve sobre a cidade.”

De onde vem Kalaf?

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O título O Angolano que Comprou Lis-boa tem mais de metáfora da sua vida ou de metáfora sociológica?Para começar, é uma declaração de amor à cidade de Lisboa. Só compra quem gosta. É óbvio que a provocação é viciante. Se eu escrevesse “O ango-lano que seduziu Lisboa” não ia ter a mesma leitura. “O angolano que con-quistou Lisboa” talvez ficasse mais próximo. Mas o título do livro é, sem dúvida, uma provocação. Para mim, como angolano, e para os outros que não são angolanos. Este livro come-çou a ser escrito quando editei o ante-rior, Estórias de Amor para Meninos de Cor. Eu brincava com essa ideia de cor, que é um termo bastante pejorativo. A geração dos meus pais detesta este termo. Mas senti que precisava de tocar nas feridas para poder, depois, iniciar a conversa. O livro tem o kuduro e o kizomba, muitas vezes, no papel principal. Como é que vê esta relação entre a nova agenda cultural e a economia?Sem dúvida que a cultura precisa de dinheiro para existir, mas acho que não se devia pôr todas as fichas no mesmo número. Porque isso tende a deformar. A economia tem uma agen-da muito clara, que é gerar mais di-nheiro. E essa agenda pode atropelar um conjunto de fatores importantes. A preocupação devia ser criar mais e pensar a longo prazo. Se calhar o im-portante não é gerar mais, mas pre-servar para décadas vindouras. O ku-duro e o kizomba são mais soluções pa-ra apresentar ao mundo. Infelizmente olhamos mais para quem consegue en-cher o Pavilhão Atlântico e não olha-mos para quem só consegue encher o B.Leza. Mas para haver o Pavilhão Atlântico, tem de haver o B.Leza sau-dável e pujante. É como na economia. Não se pode investir só nas socieda-des anónimas e esquecer as pequenas,

HISTÓRIA

A história dos Buraka Som Sistema, banda que tem Kalaf como vocalista, parece tirada de um flme. Um projeto musical que sai da Amadora e conquista o mundo. Que leva o nome de um subúrbio lisboeta e o coloca no mapa das mais fulgurantes sonoridades. A novidade da ligação do zouk e kuduro africanos com a eletrónica foi a fórmula que levou a banda de Kalaf Ângelo, João Barbosa (Branko), Rui Pité (Dj Riot) e Andro Carvalho (Conductor), a pisar os mais importantes palcos da

música do mundo, um pouco por todo o planeta e a colecionar prémios internacionais.Quanto ao segredo do sucesso, Kalaf aponta o caminho: “O facto de Lisboa ter sido e continuar a ser um segredo para uma boa parte do mundo foi vantajoso para nós. A música tem que ser boa, mas quando se tem um bom produto o fator surpresa traz vantagens.” João Barbosa, um dos quatro fundadores dos Buraka, partilha com Kalaf a marca de roupa criada com o objetivo de

se adaptar a qualquer época e qualquer estação, a Rest of The World. Além disso, a história de parceria dos dois músicos começou em 2004, com a Enchufada, a produtora que reúne hoje muitos músicos de novas tendências musicais, como Blaya, que faz parte da formação atual dos Buraka. Kalaf lembra a importância do amigo. “Nestes últimos anos, com os Buraka a marcar o passo, o João Barbosa posicionou- -se num lugar que não tem paralelo. É quase o Anthony Bourdain.”

Buraka global

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o comércio de rua que mantém uma sociedade e que contribui para a feli-cidade. Viver em Portugal é mais fácil nesta fase? Há menos preconceito com a cor da pele?Eu sofro sempre que falo sobre racis-mo. Acho que, hoje, o racismo clás-sico, como nós entendemos, tem--se vindo a transformar. Há pessoas que não gostam da diferença, e de-pois há aquele racismo associado a classes. Esse é mais grave. Não é tão visível. Eu, com a gravata posta, tenho um tratamento e, sem a gra-vata, tenho outro. São duas aborda-gens. Não só racial, porque nesse pla-no as coisas têm vindo a equilibrar-se. Mas no plano económico e intelectual há muita resistência. Porque o nos-so modelo foi herdado do Iluminis-mo. Foi construído por pessoas que não incluíram o negro na equação. O pensamento sob o qual nos rege-mos não inclui os negros. Por racismo, por discriminação... vamos evoluindo, mas o pensamento está vigente. É co-mo nas universidades. Os nossos pro-fessores estão a ensinar esses valores. E não incluem os negros. No Brasil está a discutir-se a ideia de quotas, uma dis-cussão acesíssima sobre esse assunto, nos dois planos: classe e raça. Uma pro-fessora de design, minha amiga, conta-va que os temas mais clássicos, como a escola de Bauhaus e Eames, e no design é tudo muito Bauhaus e Eames, não di-ziam nada aos alunos negros. Aquele conhecimento não é aplicado na sua realidade. Eles não ambicionam traba-lhar no estúdio de design do arquiteto “xpto”. Eles querem ir buscar o conhe-cimento e aplicar na favela.É diferente de qualquer parte do mundo? Não é muito diferente e também está presente em África. Porque estamos a perpetuar um pensamento que já devia ser confrontado há muito tem-po. É urgente reequilibrar a balança. Eu não sou apologista da ideia de quo-tas, mas está a ser aplicado e até está a funcionar, não nego.

Kalaf diz que é vaidoso. Como vive com essa vaidade?Assento a minha vaidade em algo sóli-do que é a minha paixão pelo design, que vai desde o vestuário até objetos. Voltan-do aos discos, sou do tempo em que ficá-vamos horas a olhar para a capa de um disco. Essa relação com o objeto e com as formas é algo que me definiu. Claro que vou transpondo os meus interesses pa-ra outras áreas, como o vestuário. Olho, por exemplo, para a geração Orpheu, de Almada Negreiros, Sá Carneiro, Pessoa. Aquela época em que os homens andavam com chapéu e havia um certo pudor em não sair de casa mal amanhado. Claro que adoro a t-shirt. Acho uma das peças de ves-tuário mais brilhantes que o homem já criou. Tão simples, que funciona, com qualquer forma, com qualquer coisa. É a peça de vestuário mais bri-lhante. Mas como convivi muito com o jazz e fui colecionando discos de vinil ganhei um certo gosto por uma época, por uma era, por uma forma e porque é que as coisas são feitas dessa forma. É incrível com uma peça de roupa con-segue contar uma história, trazer ali to-do um passado de memórias. Há dias em que se sente mais Orpheu e dias em que se sente mais jazz?Há dias em que me sinto rock and roll, leather jacket... também porque respei-to essa ideia de uniforme. Eu estou a conseguir reduzir o meu guarda-rou-pa às peças essenciais e todas elas res-peitam essa ideia de uniforme.Como o Einstein que tinha sempre a mesma roupa?Estou quase a chegar aí.Com a dimensão que tem hoje há quem o procure para “apadrinhar” projetos musicais e literários?Nem tanto. Eu estou naquela fase em que gostava de aprender mais com pessoas ligadas a outras áreas da cul-tura. Estou na fase em que gostaria de perder mais tempo com arquite-tos, mais tempo com economistas, para entender como levar a experiên-cia a mais pessoas e ser transforma-dor na sociedade.

Está a escrever o primeiro romance para publicar ainda este ano. Sim, a correr contrarrelógio.É mais ou menos autobiográfico do que os outros dois livros?Tenho em mãos um romance políti-co, que se passa em Lisboa e... mais não posso dizer. Como é a sua vida hoje? É a que sonhava?A única coisa que me falta é tempo. De resto, tudo bem. Esta coisa de ser pioneiro numa corrente cultural rouba tempo porque temos que estar atentos a várias frentes. Perdemos tanto tempo a criar a música como depois a pensar como vai chegar às pessoas. E isso rouba tempo. Por isso é que digo que devia sempre haver mais.

Onde sai à noite em Lisboa?Bairro Alto e Cais do Sodré.Onde estão os novos sons de Lisboa?Lux, Music Box, B.Leza e Doc’s.Lição de viagem?Não é preciso ter pressa.Um escritor que o marca?James Baldwin. Um músico importante?Rui Mingas.Um realizador fundamental?Mathieu Kassovitz, com O Ódio.Um concerto memorável?Buraka Som Sistema, em Coachella.

A revista Montepio agradece ao Valverde Hotel a cedência do espaço para a realização da entrevista.

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PROGRESSOPROGRESSO

DESENVOLVIMENTODESENVOLVIMENTO

RIQUEZA

FELICIDADEFELICIDADE

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o meu mundoOBSERVATÓRIO

O ritual repete-se. A cada três meses sai um novo valor da evolução do PIB, as três letras que hoje são referência para qualquer economia e que representam o produto interno bruto. Cada divulgação é aguardada com ansiedade. Enquanto um crescimento, nem que seja mínimo, é motivo de exaltação, uma descida provoca ondas de críticas e desilu-são. Governos e países totalmente dependentes da evolução de um único indicador. Mas será o PIB o único modelo eficiente para medir a riqueza de um país?

RIQUEZA

HÁ VIDA ALÉM DO PIB?NUM MUNDO CENTRADO NAS TRÊS LETRAS DO PRODUTO INTERNO BRUTO, HÁ QUEM QUESTIONE A MEDIDA DE CRESCIMENTO E CRIE NOVAS FÓRMULAS PARA AVALIAR O PROGRESSO DAS ECONOMIAS. A “DITADURA” DO PIB PODE TER OS DIAS CONTADOS? HÁ QUEM DEFENDA QUE SIM

por maria abreuilustração ana seixas

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Um pouco por todo o mundo têm-se multiplicado movimentos para ex-plorar indicadores alternativos a es-te índice com o objetivo de incluir outros fatores, como o desenvolvi-mento sustentável ou o bem-estar das populações. Ainda que não te-nha surgido um capaz de destronar o PIB, há já vários indicadores que visam substituí-lo.

Quando Simon Kuznets criou o PIB, em 1934, o economista alertou para o facto de o bem-estar de uma sociedade não poder ser medido por um indicador de rendimento nacio-nal. Num discurso proferido em 1962, o Nobel da Economia, galardoado de-vido à sua participação na criação do índice, alertou que devem ser tidas em conta distinções entre quantida-de e qualidade do crescimento, entre os seus custos e retornos, e entre cur-to e longo prazo. Objetivos para mais crescimento devem especificar mais crescimento de quê e para quê”.

Mais tarde, em 1968, foi o senador norte-americano Robert Kennedy a dizer que lamentava que o PIB não incluísse “a beleza da nossa poesia ou a força dos nossos casamentos, a inte-ligência do nosso debate público ou a integridade dos nossos oficiais públi-cos”. As críticas seguiram-se e têm

* PIB – PRODUTO INTERNO BRUTO EM MIL MILHÕES DE DÓLARES** IDH – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO=INDICADOR COMPOSTO QUE AGREGA PIB PER CAPITA, ESPERANÇA DE VIDA E ESCOLARIDADE FONTE: FMI, PNUD

Duas formas de “medir” os países

PAÍS EUAChinaJapãoAlemanhaFrançaReino UnidoBrasilItáliaRússiaÍndia

PIB* 17 41610 355

4 7703 8202 9022 8482 2442 1292 0572 048

PAÍS NoruegaAustráliaSuíçaHolandaEUAAlemanhaNova ZelândiaCanadáSingapuraDinamarca

IDH** 0,940,930,920,920,910,910,910,90,90,9

EUA são o país mais rico do mundo pelo PIB... ... a Noruega lidera no desenvolvimento

sido vários os países e organizações a apostarem em indicadores alterna-tivos nos últimos anos, com o objeti-vo de colmatar as limitações do PIB.

O Índice de Desenvolvimento Hu-mano, desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desen-volvimento (PNUD), o Indicador de Progresso Genuíno (GPI, sigla em inglês) ou a Felicidade Interna Bru-ta (FIB) são algumas das alternativas que colocam o “homem” mais no cen-tro da análise. Mas, para já, perma-nece a primazia deste indicador a ní-vel mundial. A capacidade de agre-gar dados indicativos da atividade de uma determinada região ou país num período de tempo, bem como a possibilidade de medir a sua evo-lução histórica, dão ao PIB um esta-tuto específico, sendo para já o único que permite comparar a taxa de cres-cimento a nível global.

Crescimento ou progresso?Mas o que mede, afinal, o PIB? Um carro, uma casa maior, umas fé-rias caras. São tudo indicadores de riqueza e que contribuem para au-mentar o PIB de um país. O indi-cador mede a atividade económica num determinado período através da soma de todos os bens e serviços

produzidos nesse tempo. Mas, serão estes verdadeiros sinais de cresci-mento? Luís Aguiar-Conraria, dire-tor do departamento de Economia da Universidade do Minho, explica que o “PIB mede o valor acrescentado ge-rado em todas as transações”.

No entanto, nem todas as transa-ções são “boas”, “havendo transações de que não gostamos”. “Por exemplo,

1934Data em que Simon Kuznets alertou que o bem-estar de uma sociedade não podia ser medido por um indicador de rendimento nacional.

2006Em julho de 2006, a New Economics Foundation introduziu O Índice do Planeta Feliz

20Número de estados, nos EUA, que utilizam o indicador de GPI (Indicador de Progresso Genuíno)

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o meu mundoOBSERVATÓRIO há vida além do PIB?

na compra de coisas poluentes ou num acidente que nos leva a pagar cuidados médicos, temos o PIB a aumentar por maus motivos”, conclui o docente da Universidade do Minho. Luís Aguiar--Conraria lembra ainda o velho exem-plo do patrão que casa com a emprega-da, o que é mau para o indicador, uma vez que esta deixa de receber salário e o seu trabalho passa a não ser contabi-lizado para o crescimento.

Também Isabel Cruz, sociólo-ga especializada em Sociologia do Consumo, realça que “o crescimento

1 INDICADOR DE PROGRESSO GENUÍNOO Gross Progress Indicator (GPI) pretende ser uma alternativa ao PIB e evoluiu do Índice de Bem- -estar Económico Sustentável, criado em 1989 por Herman Daly e John Cobb. Partindo dos aspetos considerados pelo PIB, o GPI ajusta- -se depois a outros fatores, como os custos para a economia de efeitos negativos, o crime ou a destruição de recursos naturais. O índice acrescenta ainda o valor de bens e serviços não calculados. Este indicador é utilizado no Canadá e nos EUA.

2 ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANOCom mais de duas décadas, o IDH é um reconhecido indicador mundial, desenvolvido pelo PNUD, que procura avaliar e medir o bem-estar de uma determinada população. O indicador é calculado a partir de três indicadores: vida longa e saudável, acesso ao conhecimento e padrão de vida digno. Pretende ainda medir o impacto de políticas económicas na qualidade de vida. A Noruega lidera o ranking a nível global.

3FELICIDADEINTERNA BRUTACriado no Butão como alternativa ao PIB, o FIB assenta em quatro pilares: desenvolvimento sustentável, preservação e promoção dos valores culturais, preservação do ambiente e estabelecimento de um bom governo de forma democrática. O país rejeitou desde 1971 o PIB como a única métrica para medir o crescimento.

4 ÍNDICE DE RIQUEZA INCLUSIVALançado pelas Nações Unidas, o Índice de Riqueza Inclusiva pretende medir o progresso das nações através da análise de todas as fontes de capital de um país, incluindo capital humano, manufaturado e natural. O indicador reúne informações referentes à educação, expetativa de vida e recursos naturais, além da produção industrial.

5 ÍNDICE DO PLANETA FELIZO Índice do Planeta Feliz tem como objetivo medir a capacidade que cada país tem para proporcionar um bem-estar sustentável aos seus cidadãos. Introduzido pela britânica New Economics Foundation em julho de 2006, o índice pretende medir o nível de efcácia dos países para converter os recursos naturais em bem-estar social através da análise do grau de satisfação da população, da esperança média de vida e das políticas ambientais praticadas pelo país.

INDICADORES

Cinco alternativas ao PIB

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fj A FELICIDADE INTERNA BRUTA NO BUTÃO A economia deste reino no sopé dos Himalaias está indexada aos valores budistas

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Crise intensifica discussãoA crise financeira, que deixou milhões de pessoas numa situação económica de quase rutura, também intensificou o debate em torno da “ditadura” do crescimento medido pelo PIB. O acesso mais fácil ao cré-dito e o incentivo a uma economia centrada num consumo elevado ser-viram de rastilho àquela que seria a maior crise desde a Grande Depres-são, em 1929, período após o qual viria a adoptar-se o PIB como medi-da de crescimento mundial. Os go-vernos de todo o mundo foram obri-gados a injetar biliões de dólares na economia para incentivar o cresci-mento, o que suscitou ondas de indig-nação por parte dos cidadãos.

Em 2008 Nicolas Sarkozy, o então Presidente francês, criou uma comissão liderada por Joseph Stiglitz e Amartya Sen para estudar uma alternativa para medir o crescimento em França. Também no Reino Unido, em 2011, o primeiro-ministro David Cameron realizou um inquérito com

objetivo “é medirmos o desenvolvi-mento sustentável, o bem-estar ou até mesmo a ‘felicidade’ (conceito subjetivo), teremos que recorrer a ou-tros indicadores que não o PIB”, sa-lienta a investigadora.

Arthur Wolf, professor da Uni-versidade de Vermont, considera que “o PIB é uma boa estatística de resumo para comparar o bem-estar de países de todo o mundo e a evo-lução num país ao longo do tempo”. Para o economista, “não é, nem pre-tende ser, a única coisa que é impor-tante para as pessoas num país”, des-tacando que as suas limitações são bem conhecidas, “mas o PIB está altamente correlacionado com valo-res não económicos que a maioria das pessoas consideraria importantes: taxa de mortalidade infantil, esperan-ça média de vida, educação e literacia, qualidade do ambiente e muitos outros fatores”, explica. “É difícil sintetizar num único indicador a nossa qualida-de de vida. O PIB é um modo de suma-rizar um conceito muito lato”, conclui.

económico não conduz necessaria-mente ao desenvolvimento”. Ao lon-go dos anos assumiu-se que este ín-dice de crescimento é também um indicador de bem-estar e desenvol-vimento, sendo esta uma das prin-cipais limitações deste índice. Se o

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1o meu mundoCULTURA

MONTEPIO PRIMAVERA 2015

o meu mundoOBSERVATÓRIO há vida além do PIB?

Isabel CruzSocióloga especializada em Sociologia do Consumo

P&R

O PIB é o indicador mundial reconhecido para medir o nível de riqueza dos países. É o melhor indicador para o fazer?O PIB pode ser defnido, de uma forma simples, como o somatório de todos os bens e serviços produzidos numa economia em determinado período de tempo. É o indicador utilizado para medir o crescimento económico. As críticas à utilização deste indicador surgem quando o mesmo é aplicado a outros domínios (social e ambiental, entre outros).Alguns países e organizações têm feito esforços para criar medidas alternativas. Estão no caminho certo?A questão não é tanto encontrar outros indicadores para o crescimento. A ideia de que o crescimento económico não gera prosperidade nem uma melhor qualidade de vida é hoje cada vez mais forte. Existem diversos dados que comprovam que o crescimento reduz o nível de vida de grande parte da população mundial, agravando as desigualdades sociais. As suas consequências sobre o ambiente também são visíveis, quer através da degradação dos ecossistemas, quer do aumento das emissões de carbono. Por último, a ausência de justiça é mencionada como um dos motivos que fundamentam o questionamento desta fórmula convencional de alcançar a prosperidade.

o objetivo de perceber se os britânicos estão “felizes” com a sua vida. Iniciati-vas que pretendem medir a qualidade de vida dos cidadãos contabilizando fatores não considerados no PIB, co-mo a sustentabilidade e o impacto da poluição na sociedade. “Não importa quão depressa o PIB cresce, um siste-ma económico que falha em entregar lucros à maioria dos seus cidadãos, e na qual a maioria da população en-frenta um aumento de insegurança é, num sentido fundamental, um siste-ma económico falhado”, escreveu Sti-glitz num artigo publicado no final do ano passado.

Também as Nações Unidas se têm empenhado em ir além do PIB. “Igualdade, dignidade, felicidade e sustentabilidade são fundamentais às nossas vidas, mas ausentes no PIB”, disse Helen Clark, administradora do PNUD aquando da apresentação da proposta para criar o Índice de De-senvolvimento Humano Sustentável, no Rio+20, em 2012. “O progresso pre-cisa de ser definido e medido de uma forma que represente uma perspetiva mais ampla do desenvolvimento hu-mano e o seu contexto”, acrescentou.

Butão é pioneiroMas foi num pequeno país dos Hi-malaias que se quebrou a corrente, com a criação de um novo indica-dor. “Foi o rei do Butão, Jigme Sin-gya Wangchuck, quem desenvolveu e aplicou o FIB [Felicidade Interna Bruta], designando-o como uma no-va fórmula para medir o progresso de uma comunidade ou nação”, ex-plica Isabel Cruz. Nos EUA, o Es-tado de Maryland foi o primeiro a adotar o GPI (Indicador de Progres-so Genuíno), em 2010, quando o go-vernador Martion O’ Malley lançou a iniciativa para apresentar o GPI do Estado através de uma ferramenta

online. Dois anos mais tarde, Ver-mont passou o GPI a lei. Agora, 20 Estados usam este indicador e o Ore-gon e Washington estão a caminhar nesta direção.

Jon Erickson, professor de Eco-nomia Ecológica da Universidade de Vermont, lembra, num texto pu-blicado no blogue de sustentabilida-de da instituição, que antes de 1940 não existiam indicadores destina-dos a medir o crescimento da eco-nomia, tendo a criação do PIB sur-gido justamente para resolver essa lacuna. Mas este índice limita-se a medir o tamanho de uma econo-mia e a sua evolução. Para o docen-te, os líderes mundiais estão “obce-cados” com o sobe e desce do PIB. No entanto, Erickson questiona: isto é crescimento? Quão rápido? Qual é o PIB por pessoa? O mesmo respon-sável, um dos arquitetos do GPI nes-te Estado americano, adianta que cada vez mais pessoas questionam o tipo de crescimento e como o mesmo é gerado. Estas questões não podem ser respondidas apenas através da evolução do PIB.

Eric Zencey, coordenador do pro-jeto de GPI de Vermont do Instituto Gund, da Universidade de Vermont, que está a compilar uma atualiza-ção do indicador para Vermont, de-fende que a primazia do PIB tem os dias contados. “Acredito que a nossa dependência do PIB vai terminar e que vamos utilizar um indicador me-lhor de benefício económico líquido (ao contrário do bruto) criado pela economia”, adianta à revista Mon-tepio. E diz porquê: “Trata-se de sen-so comum. Todos os empresários sa-bem que um negócio sobrevive ou morre não com base no seu negócio bruto, mas no líquido após os custos. É o mesmo com as economias nacio-nais e as civilizações.”

? O QUE SIGNIFICA O PIB continua a marcar a agenda económica, mas começa a haver indicadores alternativos que melhor refletem o desenvolvimento dos países

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o meu mundoCRÓNICA

Quarenta e um anos depois, repetem-se as efemérides, fazem-se balanços. Não surpreende que neste momento

de crise aguda, já muito demorada e com enormes sacrifícios da população, os discursos hesitem entre o lamento e um

futuro sebastiânico, tão desejado quanto mal percebido.

No meu entender, não conseguimos enfren-tar dois desafios históricos porque nunca se olhou o futuro numa escala de média e longa duração. O mais importante, foi o paradigma em que assen-tou o desenvolvimento do nosso sistema educati-vo. Montou-se o dispositivo que garantiu acesso de todas as crianças à educação, prepararam-se pro-fessores e programas para responder a esse desa-fio e descurámos a dimensão humanista e compe-titiva do conhecimento. Destruiu-se o ensino pro-fissional em nome de mitos classistas. Deixou de se investir naquilo que era necessário apostar, na formação de quadros especializados, com saberes mais complexos. Acredito mesmo, que a crise que vivemos, ainda que baixe a agressividade conjun-tural, voltará enquanto não encararmos a Escola como desafio estratégico para a cultura portugue-sa em todos os domínios de actividade.

O segundo erro é velho. Tem séculos de agra-vamento e nunca houve coragem para o enfren-tar. Herdámos um país desequilibrado demogra-ficamente. Foi sempre assim. Sempre em mo-vimento para o litoral. Concentrando riqueza, crescimento, modernidade nas regiões de cos-ta marítima, deixando mirrar mais de metade do território. Hoje a paisagem demográfica é ter-rível. A tal ponto que 167 das 308 autarquias do país gerem velhos e paisagens desertas. Cres-cem os lares e diminuem as escolas. Aumen-tam os cemitérios e contraem-se as maternida-des e o resultado, a não ser enfrentado este terrí-vel problema, é a contínua degradação dos saldos fisiológicos. Este é o flagelo do Portugal de Abril. A derrota maior com todas as consequências que já sentimos em aflição. O grande desafio a vencer para que a utopia nascida nesse dia de Liberda-de continue a fazer sentido: só um país rejuvenes-cido pode sonhar o futuro com a confiança que hoje não temos.

FRANCISCO MOITA FLORES

25 de Abril e REVOLUÇÃO

Porém, ao olhar para trás, tinha vinte e um anos nesse dia, para além da saudade, sentimento que debota qualquer juízo, qual foi o maior erro que o País cometeu para podermos explicar o estado em que nos encontramos? Fizeram-se coisas extraor-dinárias. Não era difícil, reconheça-se. Tínhamos sessenta por cento de analfabetos, qua-se meio milhão de alcoólicos, índices de mortali-dade infantil que rondavam os vinte por cento, as auto-estradas chegavam de Lisboa a Cascais e a Vila Franca de Xira. Mais de metade do território não tinha água potável canalizada, nem esgotos, nem sistema de saúde. O avião era um luxo. A re-lação com o exterior tornava-se uma verdadeira aventura que só uma multidão de emigrantes co-nhecia pelo sofrimento.

Durante estes quarenta e um anos, assis-timos e vivemos uma transformação radical. O analfabetismo é residual, as taxas de mortalida-de infantil são das melhores do mundo, multipli-caram-se auto-estradas, democratizou-se o avião, a água, a rede sanitária, a iluminação pública che-gou a todo o lado. Multiplicaram-se as universida-des, modernizou-se a rede escolar, a censura fe-chou portas, as prisões políticas são, hoje, apenas uma memória a reter.

A tudo isto, associou-se a revolução cibernéti-ca fazendo explodir as novas tecnologias, multi-plicando ferramentas de trabalho e comunicação até ao infinito.

Vencedores de tantos desafios, conquista-dores de uma sociedade aberta, que faltou pa-ra sairmos da cauda da Europa no que respeita à riqueza, ao crescimento sustentado, à pobre-za endémica que persiste em cruzar os nossos quotidianos?

NOTA: O autor continua a escrever segundo a chamada norma antiga.

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CAMINHOS A PERCORRER EM MOBILIDADE, URBANISMO,

SOLIDARIEDADE

A MINHA CIDADE

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CALÇADA PORTUGUESAOs tapetes de pedra que cobrem o chão das cidades contam histórias de um país e de uma arte que têm no calcário a sua matéria-prima criadora

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ORÇAMENTO PARTICIPATIVOSão cada vez mais as autarquias a envolverem os eleitores nas decisões orçamentais. Cascais e Funchal são dois casos de sucesso internacional

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a minha cidadeAUTARQUIAS

ORÇAMENTOS PARTICIPATIVOS

PARTICIPAR PARA CONFIARDAR AOS CIDADÃOS A OPORTUNIDADE DE ESCOLHEREM PROJETOS MAIS À SUA MEDIDA AUMENTA A CONFIANÇA NO PODER LOCAL. PORTUGAL FOI UM DOS PAÍSES PIONEIROS NA IMPLEMENTAÇÃO DOS ORÇAMENTOS PARTICIPATIVOS E JÁ É VISTO COMO EXEMPLO A SEGUIR

por susana torrão

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Tomar o destino em mãos. Avançar com propostas para a cidade e decidir em comunidade quais devem ir para a frente. Em Portugal, nos últimos dois anos, os orçamentos participativos (OP) revelaram-se um instrumento fundamental para reconstruir a confiança entre os cidadãos e o poder político local. Depois de um começo tímido, em 2002, Portugal é hoje um case study a nível europeu. No final de 2014 estavam ativos 65 OP, alguns dos quais, como é o caso do de Cascais, convertidos em exemplo internacional. Desde 2002 – data do início dos OP em Portugal – até ao fim de 2014, os portugueses decidiram o destino de 54 milhões de euros dos erários municipais

Em 2050, de acordo com dados das Nações Unidas, 66% da população mundial viverá em cidades. Facto que atribui uma importância cada vez maior ao modo como estas são geridas, nomeadamente através da aposta na democracia participativa. Os OP surgiram nos anos 80 na ci-dade brasileira de Porto Alegre (ver caixa) e estão hoje disseminados por todo o mundo. O estudo Aprenden-do com o Sul: o orçamento participati-vo no Mundo – um convite à participa-ção global, da associação Engagement Global, de Bona, publicado em 2012, sublinha o facto de poderem ser en-contrados OP “num largo espectro de sociedades, culturas e sistemas polí-ticos”, incluindo em regimes não de-mocráticos. O estudo estimava que, em 2012, o número de OP no mundo variasse entre os 795 e os 1 469, estan-do mais de metade na América Lati-na. Na Europa a disseminação dos OP fez-se rapidamente, em parte gra-ças à participação dos responsáveis políticos europeus nos fóruns sociais de Portalegre e ao crescimento ini-cialmente registado em países como Itália, Espanha e Portugal.

Foi na cidade brasileira de Porto Alegre que surgiram as primeiras experiências de orçamentos participativos, no início dos anos 80. À época, além de ter movimentos sociais com alguma força, Porto Alegre caraterizava-se

por um nível de vida superior ao da média nacional e por elevados níveis de desconfança face ao poder central. O orçamento participativo surgiu com três objetivos: democratizar, inverter as prioridades em favor dos desfavorecidos e

erradicar a corrupção e melhorar as políticas públicas.As experiências destes tipos de orçamento foram-se disseminando pelo Brasil, hoje o país à escala mundial com maior densidade de OP – em 2012 tinha mais de 200 OP ativos.

ORIGENS

Uma história com 30 anos

A capital francesa teve o seu primeiro orçamento participativo global apenas em 2014, mas foi a chamada “estreia em grande”. Depois da experiência de OP em alguns dos bairros parisienses, a câmara presidida por Anne Hidalgo atribuiu 5% do orçamento

camarário ao OP e avançou com 15 propostas que submeteu ao voto dos cidadãos. Na edição deste ano, aquele que é o maior OP da UE – com 75 milhões de euros – torna-se mais democrático. Desta vez serão os cidadãos, e não a câmara, a avançar com as propostas para votação.

EM FOCO

Paris, o maior OP da Europa

O poder da decisão“Até 2013 tivemos duas grandes ge-rações de orçamentos participativos. A primeira experiência data de 2002, em Palmela. Nessa altura, a nature-za dos OP era essencialmente consul-tiva. A grande evolução numérica e qualitativa dá-se com os orçamentos participativos deliberativos, em que o cidadão decide investimentos pú-blicos”, afirma Nelson Dias, sociólo-go e presidente da associação In Loco, organização que faz a monitorização e acompanhamento de várias expe-riências de orçamento participativo em Portugal.

O processo sofreu altos e baixos ao longo dos últimos anos. Até 2013, os OP em Portugal registavam aqui-lo a que se pode chamar “uma al-ta taxa de mortalidade”, que afetava sobretudo os modelos em que os ci-dadãos podiam apresentar propos-tas mas não tinham poder decisório. Os números falam por si: em 2009 apenas 15 OP estavam a funcio-nar, em 2010 tinham subido para 23, aumentando para 33 nos dois anos seguintes e voltando aos 23 em 2013. Depois das últimas eleições autár-quicas, no final de 2014, o número de OP subiu em flecha, somando 65 ex-periências, 55 das quais deliberati-vas, que envolveram um montante global de cerca de 14 milhões de eu-ros – mais de um quarto dos 54 mi-lhões atribuídos ao longo de 12 anos.

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a minha cidadeAUTARQUIAS participar para confiar

Nelson DiasPresidente da associação In Loco

P&R

O que explica o aumento do número de OP?Por um lado o resultado das eleições de 2013. Foi a primeira eleição depois da nova legislação que obrigou ao limite de mandatos, o que provocou uma certa renovação nos quadros das autarquias. Além disso, há um acentuar da necessidade dos eleitos se aproximarem dos cidadãos. Por duas razões: uma tem a ver com a grande desconfança que se foi instalando na sociedade portuguesa, que afasta cidadãos e políticos, e a outra a crise fnanceira das autarquias,

que leva a uma maior necessidade de aproximação entre quem gere os recursos públicos e os munícipes. Há a ideia de que os portugueses são pouco interventivos na sociedade.

Os OP permitiram--lhes uma participação mais direta?Sim, sem dúvida. Mas há uma grande diferença entre OP e outras formas de participação: nos OP os cidadãos controlam o resultado, são eles quem o decide. A participação não é uma variável independente.

fj FUNCHAL O último

OP teve a participação de

505 pessoas quando, em

média, este tipo de inicativas

conta com 50 participantes

“Os resultados que temos nos processos deliberativos mostram que a participa-ção aumenta de ano para ano. Inclusive, há um número cada vez mais expressi-vo de pessoas que afirmam não votar nas eleições mas participar nos OP”, afirma Nelson Dias.

Confiar é precisoConsoante os modelos e os países em que é aplicado, um OP pode ter dife-rentes funções. Desde o fortalecimen-to da democracia e combate à corrup-ção, ao aumento da transparência ou à abertura de estruturas até então de-masiado herméticas. Em Portugal a experiência não gerou um aumento de transparência nas contas autárqui-cas (ver entrevista), mas os OP têm-se revelado um instrumento poderoso para restabelecer a confiança entre os cidadãos e o poder político local.

Nelson Dias sublinha que as reser-vas existem de parte a parte. “Não são apenas os cidadãos que desconfiam da classe política, muitas vezes esta tam-bém duvida dos cidadãos. Considera que estes se organizam em grupos de interesse e não são capazes de pensar o bem coletivo”, afirma. A experiência dos OP tem possibilitado a reconstru-ção da confiança, permitindo aos res-ponsáveis políticos entenderem que os cidadãos são capazes de lançar propos-tas que vão ao encontro do bem coleti-vo e levado os cidadãos a terem mais confiança nos políticos. “Muitas vezes, em reuniões públicas do OP vi pessoas a entrarem na sala com uma proposta

e a meio do debate abandonam a sua proposta para darem o seu voto a uma proposta de outra pessoa, porque reco-nhecem que é mais urgente”, afirma o presidente da In Loco.

Além da cada vez maior pre-ponderância de OP deliberativos, Portugal tem outras caraterísticas que o tornam um caso particular dentro da União Europeia. A não partidarização dos OP é uma delas. “Temos OP em câmaras de diferen-tes cores partidárias, sem grandes distinções metodológicas, embora seja evidente que o partido com mais OP é o PS, seguido do PSD, de coliga-ções PSD/CDS e outras com o PS em coligação. Todas as experiências da CDU desapareceram em 2008 e 2009 e agora estão a ser retomadas, como é o caso de Palmela, mas são consulti-vas”, explica Nelson Dias. A não par-tidarização acaba por funcionar co-mo um seguro de vida para os OP. Em Espanha, um dos países onde numa fase inicial houve uma maior proliferação de OP, estes tinham uma vertente muito ideológica, aparecen-do muito ligados à Esquerda Uni-da. Depois das eleições municipais de 2011, com a derrota da Esquerda Unida em grande parte das autar-quias, os OP quase desapareceram.

Outra caraterística destacada por Nelson Dias é o facto de, em Portu-gal os OP nunca terem tido objeti-vos sociais. “Nunca foi o seu objetivo fazer chegar mais recursos pú-blicos, investimento autárquico

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às zonas mais desfavorecidas dos muni-cípios”, afirma o sociólogo. Contudo, em alguns casos foram os próprios cidadãos a revelar essas preocupações, como acon-teceu há dois anos em Lisboa com a apro-vação do projeto Lisboa Acessível, que torna parte da Avenida Fontes Pereira de Melo e da Avenida da República aces-sível a pessoas com mobilidade reduzida.

Cascais e Funchal: casos de sucessoOs OP nacionais distinguem-se ain-da por um conjunto de boas práticas que têm marcado a diferença. “Alguns são referências no contexto interna-cional e o que tem maior destaque é o de Cascais. É uma experiência que vai iniciar agora o seu quinto ano, com uma metodologia muito bem conce-bida e um número cada vez maior de participantes”, refere Nelson Dias. Em 2014 o OP de Cascais teve 41 mil vo-tos na fase final (Carlos Carreiras, o atual presidente da autarquia, foi eleito com 28 mil votos), cerca de 20% da população de Cascais, batendo o recorde a nível eu-

ropeu e ficando apenas atrás de Paris. A adesão em massa pode ser explicada pelo facto de qualquer pessoa, mesmo não residente em Cascais, poder partici-par na votação feita via SMS, mas o pre-sidente da autarquia desvaloriza a parti-cipação externa: “É muito residual.”

Os níveis de participação da popula-ção manifestam-se num cada vez maior empenho na qualidade das propostas, bem como no esforço para as divulgar em verdadeiras “campanhas eleitorais”. A cada um dos proponentes é dada pos-sibilidade de criar um vídeo, através do qual a proposta é apresentada, que é de-pois divulgado nas redes sociais. “Há ain-da quem crie campanhas nas redes so-ciais, quem distribua folhetos ou faça t--shirts. Há um grande envolvimento, o que também é possível porque, quanto mais não seja, faz funcionar como vi-zinhos pessoas que de outra maneira não se relacionariam. Um dos males da nossa sociedade é que temos con-dóminos e deixámos de ter vizinhos”, diz Carlos Carreiras.

O OP de Cascais é dos mais ele-

vados do país – 1,5 milhões de euros, o equivalente a 6% do orçamento mu-nicipal – e tem taxas elevadas de exe-cução. Tudo isto valeu-lhe o prémio do Observatório Internacional da Democracia Participativa e a elei-ção, no ano passado, como Capital Mundial da Democracia Participa-tiva. “Foi algo que nos deu bastante projeção. Muitos dos nossos técnicos e alguns políticos têm sido convida-dos para explicarem a nossa experiên-cia, tanto em países do Norte da Eu-ropa como em países da América do Sul e em África”, refere o presidente da câmara.

Por seu turno, o Funchal tem agora o seu primeiro OP mas já começou a fazer história. A última reunião bateu recor-des nacionais com a presença de 505 pes-soas – a média nacional para este tipo de reunião ronda os 50 indivíduos. “Não es-távamos à espera de tanta gente”, admite Domingos Rodrigues, vereador da Câ-mara do Funchal, que tutela a Unidade de Democracia Participativa e Cidadania da autarquia, apesar de logo na primeira

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a minha cidadeAUTARQUIASparticipar para confiar

Carlos CarreirasPresidente da Câmara de Cascais

P&R

Que balanço faz da experiência do OP?É um balanço muito positivo que vem ao encontro dos nossos objetivos. Há um afastamento cada vez maior por parte dos cidadãos em relação à política e aos políticos. Isso cruzado com níveis de falta de confança cada vez maiores, leva à necessidade de se promoverem mecanismos que aproximem o cidadão da decisão e reforcem os níveis de confança.

Esperava esta adesão?Não tinha qualquer tipo de expetativa. Por um lado, os próprios políticos não estão habituados a abrir mão do poder, num segundo nível

os técnicos da câmara, que estão muito envolvidos no OP, tiveram de sair da sua zona de conforto. Hoje, com tantas leis, o cidadão é imediatamente abafado com a invocação de um decreto-lei. Aqui isso não acontece. No OP os técnicos têm de dar a cara e envolver-se com as pessoas. E, a um terceiro nível, do cidadão, que não está habituado a este poder.

Tem havido evolução no OP?Os projetos têm vindo sempre a melhorar e o OP tem-se espalhado por todo o concelho. Mas é o número de cidadãos que participa que é signifcativo: 2 408 pessoas na última edição do OP que formularam 811 propostas.

reunião terem comparecido 120 pessoas. A explicação para uma tão grande ade-são pode estar no modelo de OP adotado. Um OP deliberativo, totalmente ana-lógico e aberto aos jovens, que podem participar se tiverem 15 anos ou mais. “O OP só faz sentido se for deliberati-vo. Adotámos um modelo o mais tra-dicional possível. Optámos pelo analó-gico não só para fomentar a participa-ção e a votação presencial mas também para uma maior credibilização. Além disso, mais do que números – de parti-cipantes ou votantes – é importante ini-ciar um processo participativo efetivo no qual os cidadãos discutem livremen-te e frente a frente as suas propostas e opções”, afirma Domingos Rodrigues, para quem este modelo garante ainda a igualdade de oportunidades a todas as faixas etárias.

A abertura a uma participação efetiva dos jovens rapidamente deu frutos. Foi deles a primeira proposta aprovada para votação: a construção do Skatepark do Funchal, com um or-çamento previsto de 100 mil euros – o montante máximo que pode ser atri-

buído a uma proposta. Os 300 mil eu-ros alocados ao OP representam 2,5% do orçamento camarário.

Ao longo de todo o processo, os fun-chalenses apresentaram um total de 248 propostas, das quais 42 foram pa-ra análise técnica, sendo 27 aprova-das para ir a votação, que terminou a 20 de março. Nos dez postos de vota-ção fixos criados pela cidade e no au-tocarro que percorreu os locais menos acessíveis e funcionou como 11º posto de voto, os funchalenses escolheram en-tre propostas tão diversas como a cria-ção de dois núcleos de proteção civil, a plantação de um bosque alimentar ou a garantia de acessibilidade ao mar por parte dos cidadãos com necessidades motoras especiais.

Gestão do dia-a-diaUm exemplo interessante da resolu-ção de problemas pelos OP aconte-ceu em São Domingos de Rana. “Há dois anos, um dos projetos aprovados no OP de Cascais foi a construção de um passeio. O passeio era reclamado há mais de 30 anos pela comunidade porque permitiria a ligação a pé en-tre uma paragem de autocarro e uma escola – os alunos tinham de passar pela berma da estrada e os atropela-mentos eram recorrentes. O OP per-mitiu que as pessoas que defendiam esse projeto se organizassem e pro-movessem reuniões com o Instituto de Estradas, a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia, e conseguissem um consenso para que a obra fosse viabilizada”, conta Nelson Dias.

65ORÇAMENTOS PARTICIPATIVOS ativos em Portugal em 2014

€1,5 milhõesVALOR DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO de Cascais, um case study mundial

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a minha cidadePATRIMÓNIO

CALÇADA

TAPEÇARIAS DE PEDRAA CALÇADA PORTUGUESA É UM SÍMBOLO NACIONAL. PODEMOS NÃO REPARAR NOS DESENHOS QUE VAMOS PISANDO, MAS O CALCÁRIO BRANCO E PRETO QUE FAZ DE TAPETE NAS CIDADES CONTA HISTÓRIAS DE UM TRABALHO QUE SE CONFUNDE COM ARTE

por miguel ferreira da silvafotografia artur

As cartas régias de D. Manuel I, entre 1498 e 1500, promulgaram um calcetamento para evitar que o cortejo de aniversário do rei acabasse manchado de lama. A solução pas-sou por blocos de granito do Porto, material capaz de suportar o peso do Ganga, um rinoceronte branco ornamentado com riquezas do Oriente, a grande atração da festivi-dade. Era o único dia do ano em que o monarca se mostrava ao povo e a manifestação da sua majestade era demonstrada através de um rinoce-ronte branco e uma calçada. Daí a expressão “quando o rei faz anos”.

Passaram quase 350 anos até a cal-çada portuguesa assumir a forma co-mo a conhecemos, pela mão de Eusé-bio Pinheiro Furtado, militar e gover-nador do castelo de São Jorge entre 1840 e 1846. Este tenente general de-cidiu pavimentar a fortaleza lisboeta com pedras de calcário branco, cor-tadas a espaços por outras de basalto

negro. Estas pedras foram colocadas por presidiários a quem chamaram “grilhetas”. Reza a história que a ci-dade, em romaria, subiu à sua coli-na fortificada para admirar o mosai-co que os cativos tinham assentado. A Câmara gostou do trabalho e re-plicou a ideia no Rossio, em 1848. Desta vez utilizando calcário “vidra-ço”, branco e negro, num desenho ins-pirado nos Descobrimentos, ao qual foi dado o nome de Mar Largo por re-presentar a curva da rota marítima que permitiu aos heróis do mar ul-trapassarem o Cabo das Tormentas e encontrar o Brasil.

Durante os primeiros anos do século xx, a calçada foi cobrindo Lisboa até ao “Marquês de Pombal”. Se Lisboa passava despercebida às luzes da ribalta mundial da primei-ra metade do século xx, o calçadão de Copacabana deu-se a conhecer ao mundo em 1942 com o filme Saludos Amigos, de Walt Disney, quando Zé Carioca e o pato Donald dançaram

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a “Aguarela do Brasil” com Maria do Carmo Miranda, uma portuguesa de Marco de Canaveses conhecida para sempre como Carmen Miranda.

Poesia nas ruasErnesto Matos, Associado do Montepio, é investigador, fotógra-fo e designer, e a sua obra constitui uma das mais completas recolhas fo-tográficas de calçada portuguesa em Portugal e no mundo. “Calçada por-tuguesa é comunicação”, adianta. “Para mim são obras de arte dispo-níveis 24 horas por dia”, refere, des-tacando a minúcia do trabalho exe-cutado pelos calceteiros. Ernesto Matos relembra a expressão dos mes-tres calceteiros, que gabando-se do seu trabalho diziam que em “cada pedra que se encaixa não cabe nem uma mortalha de tabaco”. No entanto, o investigador critica a generalidade dos trabalhos realizados hoje em dia. “Já não se faz o emparelhar para encai-xar”, alertando para a perda de qualida-de que muitos pavimentos têm sofrido. Adianta várias causas, desde o eleva-do custo e morosidade da colocação da calçada portuguesa a motivos so-ciais. “É um trabalho muito duro e ninguém quer um filho a fazer calçada portuguesa”, conclui. Hoje, como nos primórdios, os calce-teiros são homens e mulheres que per-manecem anónimos. Poucos são os que notam as suas assinaturas, identidades de um labor muitas vezes disfarçado no padrão da empreitada.

Levantados do chãoNos Olivais, em Lisboa, encon-tra-se a Quinta Conde dos Arcos. O seu espaço funciona como um re-fúgio no meio da cidade, tal a cal-ma que se sente na sua propriedade, não obstante estar no centro de uma das maiores freguesias lisboetas. Ali fica a Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa, que ministra o curso de formação profissio-nal nesta área desde 1986. Luísa Dor-nelas, responsável pela formação da

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a minha cidadePATRIMÓNIOcalçada

Câmara Municipal de Lisboa (CML), re-fere que “o foco do curso é o munícipe”. O curso tem 1 800 horas e dá equi-valência de qualificação escolar e profissional. Nesse ano e meio, além das disciplinas curriculares, os alu-nos aprendem o que são rochas or-namentais, a história da calçada, a técnica e algum treino prático. Mas também aulas de desenho, medi-ções e orçamentos. A ideia é “promover a criação de autonomia e a perceção de direitos e deveres na sociedade” junto dos formandos, refere Luísa Dornelas. A maioria dos alunos são cidadãos com baixa qualificação, denotando

geralmente alguma “debilidade finan-ceira e social”. Sabe que são pessoas que não vão tornar-se empresários de um dia para o outro, mas refere que este é um mercado no qual “os habi-tuais empregadores (estatais) terão de se reinventar”, reconhecendo que o futuro da calçada passa pelo “setor privado ao qual caberá o interesse em reformular” este trabalho com me-lhores rendimentos. Jorge Duar-te, formado na Escola de Calcetei-ros, já executou vários trabalhos, no Brasil, Venezuela, Holanda e Espa-nha, recordando-se de um traba-lho seu em calçada executado no

interior do edifício do Montepio, na Rua Áurea. Hoje é mestre calcetei-ro e formador da Escola de Calceteiros.

Montanhas de pedraNa origem da calçada está uma mon-tanha que os homens da pedra co-nhecem como as próprias mãos. Uma máquina de perfuração separa um bloco calcário com mais de 15 tone-ladas. Um homem sobe para o monóli-to e crava três guilhos com aurifícia pre-cisão. Três pancadas com um malho e a rocha abre pelo veio como uma fatia de bolo. A visita à pedreira é feita por Cel-so Gonçalves, criador da marca Roc2c e

fj ELEVAR AO CUBO

A partir de uma rocha com 15 toneladas, procede-se à sua

desmultiplicação em calçada.

A tecnologia envolve guilhos, palmetas,

maços, martelos e o saber fazer de quem

constrói ruas a partir de uma montanha

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especialista no comércio e aplicação de pavimentos em pedra natural e calçada portuguesa. “O que me fascinou foram as máquinas da pedreira”, conta Celso Gonçalves. Ex-jogador do Hóquei Clu-be de Turquel, iniciou a atividade em 1999. “Nessa altura havia 300 pedrei-ras a funcionar”, entre Barreirinhas e Pé de Pedreira, localidades da freguesia de Alcanede, encrustadas no Maciço Calcário Estremenho da Serra de Aire e Candeeiros. “Hoje a exploração está reduzida a 30 ou 40 pedreiras”, com-parando com a “época de ouro” da cons-

trução assinalada pelo evento que foi a Expo ‘98. Luísa Dornelas reconhece “o boom que a Expo ‘98 significou para a calçada portuguesa”, nomeadamente no plano artístico, sendo disso exem-plos o Alto Mar de Fernando Conduto, Monstros Marinhos, de Pedro Proença, Calçada do Mar Português, de Xana e Caminho de Água, de Rigo, todos pavi-mentos situados no Parque das Nações. Luísa Dornelas atenta que “a execução técnica (da calçada) é muito importan-te”, reforçando a importância de “incor-porar o valor estético com uma boa exe-cução e teatralidade”. Celso Gonçalves relembra que o mercado exigia “calça-da portuguesa e o brio profissional fi-cou para segundo plano”.

Calçada a referendoNo início de março, a junta de fre-guesia de Campolide, em Lisboa, pro-cedeu a um referendo aos seus mo-radores sobre a mudança, nas suas zonas históricas, de calçada por-tuguesa para outro pavimento. As escolhas eram “calçada, tradi-cional à semelhança do que já exis-te” ou “outro tipo de pavimento con-tínuo, mais moderno e seguro”. Apesar de só terem votado 350 mora-dores de 15 000 recenseados, ganhou o “pavimento mais moderno e seguro” com 61,5%. André Couto, presidente da junta de freguesia de Campolide, de-cidiu proceder à consulta popular por considerar que, em certas zonas, a tra-dição se sobrepunha à segurança. Luí-sa Dornelas afirma que “a segurança é sempre uma prioridade”, adiantando que “não choca se nalgumas áreas mais perigosas se substitua a calçada por

fj APRENDER UMA ARTE São 1 800 horas, ou ano e meio de formação, para os aspirantes a calceteiros. O curso é realizado na Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa, na Quinta Conde dos Arcos, nos Olivais, e dá equivalência de qualifcação escolar e profssional

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a minha cidadePATRIMÓNIOcalçada

outro pavimento”. No entanto, prefere realçar as qualidades da calçada portu-guesa: “Confere uma imagem única a Lisboa e é responsável pela intensida-de de luz da cidade.” Além disso, são “caminhos de um material com 90% de reaproveitamento”, referindo ainda que os “resíduos por um caminho levanta-do são menores” promovendo a “reuti-lização de materiais”. Por outro lado, Luísa Dornelas reforça que “as cheias em Lisboa são menos graves porque te-

mos calçada portuguesa”, uma vez que “os espaços entre as pedras permitem a drenagem e o escoamento” das águas. Ernesto Matos afirma mesmo que “a calçada portuguesa é um material reciclável”, uma vez que a sua transfor-mação “não sofre processos de indus-trialização”. Por outro lado, o investiga-dor refere que a calçada portuguesa po-de reinventar-se também na utilização, como por exemplo ”fazer calçada nas paredes, dando novas oportunidades a

O processo é comum em todas as pedreiras. Primeiro procede-se ao desmonte da rocha. Este processo pode envolver uma máquina giratória ou explosivos, como a pólvora negra. De seguida recorre-se ao martelo pneumático para furar a rocha, inserindo-se o guilho e

as palmetas. Com um maço de seis a oito quilos percute-se o guilho até fraturar a rocha. Depois, aplica--se a marreta para reduzir o restante a paralelepípedos com 40 por 20 centímetros. Esta medida permite minimizar o desperdício.

Essas pedras são então “traçadas“ com um pequeno martelo, dando origem a pedras com as dimensões de calçada portuguesa. As pedras são armazenadas em estaleiro sendo posteriormente transportadas a granel.

SABER FAZER

Processo de extração de calçada

^ O tipo de calcário mais utilizado na calçada portuguesa é o vidraço

^ O principal núcleo da sua exploração fca na Serra de Aire e Candeeiros, onde se encontram calcários com várias tonalidades, desde brancos a cinzentos e negros

^ As explorações de calçada portuguesa estão implantadas em flanco de encosta suave, com escavações que podem atingir entre três a dez metros de profundidade

^ A maior parte da extração continua a ser artesanal, ainda que apoiada por alguns meios mecânicos como retroescavadoras ou martelos pneumáticos

artesãos e artistas”. Luísa Dornelas par-tilha esta visão de alargamento do uso da calçada “a uma utilização vertical”.

Farol para o mercadoCelso Gonçalves confessa que “o fac-to de ter um site e de ter o trabalho exposto é uma boa forma de anga-riar novos clientes”. Reforça a “con-fiança numa equipa com dez anos de experiência”. Estar perto da produ-ção da matéria-prima tem vanta-gem no controlo de qualidade. Neste momento “tenho o ciclo fechado”, afirma. “Faço o projeto, peço a pedra, contrato a mão-de-obra e executo no local”, conclui. Dos seus trabalhos em calçada destaca os 22 000 m2 na Avenida Dom José Alves Correia da Silva, junto ao Santuário de Fátima, e as parcerias com gabinetes de arqui-tetura de David Chipperfield, Gonçalo Byrne e Siza Vieira no empreendimen-to de luxo Bom Sucesso, em Óbidos.

O processo industrial da transfor-mação do calcário “nada tem a ver com a calçada portuguesa”, diz Celso Gon-çalves. “Onde nós temos uma pedra com 15 toneladas, ali eles trabalham com centenas.” A calçada portugue-sa “continua a ser um trabalho artesa-nal” que recorre a “pequenas pedrei-ras onde se trabalha individualmente”. As pedreiras nesta região, explica, “são trabalhadas normalmente por uma equipa de dois indivíduos com as má-quinas”. Celso afirma que “as empresas de exploração pagam uma renda à jun-ta ou aos baldios”. Neste caso pertence ao Conselho Diretivo dos Baldios, que engloba as localidades de Valverde, Pé da Pedreira, Barreirinhas e Murteira.

Apesar de haver muita procura, Celso diz que não se tem assistido a uma renovação dos trabalhadores das pedreiras. “Há dez anos que não entra ninguém novo”, refere, sem esquecer que é uma profissão de desgaste e com evidentes riscos associados. “Valorizar a profissão” e “um plano de recuperação das pedreiras” são medidas que con-sidera urgentes para que não se perca a primeira etapa das ruas portuguesas.

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NEGÓCIO INTERNACIONALA moda é uma questão de gosto e os gostos portugueses não se discutem, exportam-se, como mostram algumas empresas deste setor que estão a fazer a diferença

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FINANÇAS PESSOAISHá mais de dois milhões de portugueses a viver fora de Portugal. Como é que se alimenta uma relação à distância entre o banco e os residentes no estrangeiro?

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NOVAS EMPRESASConheça quatro startups que fazem do verão a sua estação principal, mas que já afirmaram o seu valor na nova vaga de negócios de comércio e turismo fora de época

PRODUTOS FINANCEIROS, SUGESTÕES E

EMPREENDEDORISMO

A MINHA ECONOMIA

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a minha economiaEMPREENDEDORISMO

NEGÓCIOS

STARTUPS DE VERÃOCOM A CHEGADA DO CALOR, O TRABALHO DOS EMPREENDEDORES QUE TENTAM IMPULSIONAR NEGÓCIOS RELACIONADOS COM O AR LIVRE OU VOCACIONADOS PARA O TURISMO AUMENTA DE FORMA VERTIGINOSA. PARA MUITAS STARTUPS ESTA É A ÉPOCA ALTA

por ana sofia calaçafotografia artur

No verão é tempo de empreender e nos negócios ligados ao turismo, as startups desdobram-se em esforços para vencer no mercado. Com os consumidores ávidos de novidades, a capacidade de inovar é um segredo para qualquer empresa recém- -criada. Para os empreendedores que “descobrem” negócios que permitem tirar proveito do melhor que esta época tem para oferecer, este é um momento de oportunidade.

É o caso de Mónica Pena Ferreira que lançou, em junho de 2013, a Mo-nica Lisbon Rentals, uma imobiliária que se dedica ao arrendamento turís-tico nos bairros históricos da capital. Os apartamentos, batizados com no-mes que marcam Portugal – Fado, Gui-tarra, Tejo –, localizam-se na encosta

reforça a mensagem lembrando que “es-te foi o melhor ano para o turismo” no país. O recorde do setor estende-se tam-bém às dormidas e lucros da hotelaria, que no ano passado cresceram, respeti-vamente, 11% e 12,8%, segundo o Institu-to Nacional de Estatística.

Mas há mais dados que mostram a tendência do turismo nacional e a de-pendência do estrangeiro. O estudo “Desafios do Turismo em Portugal 2014”, da consultora PwC, indica que “desde junho de 2010 as dormidas de não residentes têm apresentado taxas de crescimento positivas face ao mês homó-logo, salvo as exceções verificadas no fi-nal de 2011 e maio de 2013, com especial impacto em Lisboa, Algarve e Madei-ra, cuja dependência do turismo exter-no se situa entre os 75% em Lisboa e no Algarve, e os 90% na Madeira”.

do Castelo, com vista para o rio, e são muito procurados por famílias atraí-das pelo charme desta zona da cidade.

Na Startup Lisboa, uma incubado-ra de empresas onde esta jovem imo-biliária tem sede, a empreendedora não tem mãos a medir com o trabalho no verão. “Lisboa está na moda e pre-vejo que o turismo vai continuar a ex-pandir-se”, refere a jovem empresária. A receita para que o seu negócio vá abrindo ainda mais portas está na pon-ta da língua: “Trabalhar com confiança e otimismo é essencial.”

São muitos os empreendedores que estão a apanhar a nova onda de cresci-mento do turismo em Portugal. As re-ceitas turísticas aumentaram 12% em 2014 em comparação com o ano ante-rior, de acordo com os mais recentes da-dos do Banco de Portugal, e o governo

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Investir no turismo e navegar com vento favorável A inovação e o empreendorismo são ingredientes-chave para projetar a imagem de Portugal como um destino turístico diferenciado e atrativo. Quem o lembra é José Diogo Madei-ra: “O turismo é uma área crucial para o crescimento da economia portu-guesa”, realça um dos fundadores do Jornal de Negócios e que atualmente lidera a Ezimute, uma plataforma eletrónica que é uma fusão entre um guia turístico e um espaço de reservas on-line de tours, atrações e restaurantes. A relação entre qualidade e preço é um dos fatores que tem atraído turistas para terras portuguesas. José Diogo Madei-ra explica que a aposta das companhias aéreas nos voos low cost para Lisboa con-tribuiu para o crescimento do turismo

e considera que faz todo o sentido inves-tir em força neste setor. “É mais fácil aproveitar um mercado que esteja em crescimento. O turismo é muito dinâmi-co em Portugal. É uma área que está a crescer e no qual o país tem vantagens competitivas. Navegar com vento favo-rável ajuda sempre”, sublinha.

Os dois empreendedores lembram os ingleses, alemães ou russos que an-dam de t-shirt e calções, em pleno in-verno, nas ruas de Lisboa. “O clima agradável é um cartão-de-visita pode-roso”, sublinha Mónica Pena Ferrei-ra, defendendo que cada vez mais as pessoas marcam as estadas de acordo com as previsões meteorológicas e sur-gem muitas reservas de última hora, mesmo na época baixa.

Um dos desafios das “startups de verão” é superar com sucesso o obstácu-lo da sazonalidade, embora os empreen-dedores revelem que existe agora um alargamento da chamada época alta.

“O verão é significado de muitos turistas, mas a ocupação elevada esten-de-se entre os meses de março e outu-bro”, salienta a criadora da Monica Lisbon Rentals. Também José Diogo Madeira, da Ezimute, afirma que não existe uma temporada baixa e alta na capital, sublinhando que este será o me-lhor ano turístico de sempre em Lisboa. Mas o que fazer nos dias de chuva?

Mónica Pena Ferreira conhece bem a resposta: “Os portugueses procuram--nos nos períodos de inverno, o que é bom para enfrentar a época baixa. São pessoas que estão em projetos pro-fissionais em Lisboa”, explica.

Quem quer fazer um piquenique?Se verão é significado de bom tem-

po, natureza e refeições ao ar livre, então é sinónimo de piqueniques. A marca Anita Picnic, startup que aposta em cestos e outros acessórios totalmente feitos à mão, é um exemplo de empreendedorismo que aproveita o conceito de piquenique mas não se rende ao clima.

“As pessoas têm a ideia de que o cesto de piquenique só pode usar-se

João VasconcelosDiretor executivo da Startup Lisboa

P&R

Que importância assume a Startup Lisboa no lançamento de novas empresas e no estímulo ao empreendedorismo na capital?Desde a sua abertura, a Startup Lisboa já apoiou mais de 200 startups e promoveu a criação de mais de 700 postos de trabalho. O nosso papel é ajudar os empreendedores a atraírem clientes, investimento e a desenvolverem modelos de negócio escaláveis, com base na associação com mentores e parceiros estratégicos.

Qual o papel das startups de verão numa cidade como Lisboa, um ponto de atração de turistas a nível mundial?O turismo é um dos setores que privilegiamos na Startup Lisboa e estamos sempre abertos a acolher bons projetos nesta área, de base tecnológica e não só. O número de visitantes que Lisboa tem acolhido nos últimos anos comprova que Lisboa apresenta várias janelas de oportunidade neste setor para muitos empreendedores lançarem os seus negócios.

^ BERÇO DO NEGÓCIO

A Startup Lisboa, fundada com o apoio do Montepio, apoia-

-se no dinamismo da capital para atrair

clientes e investimento. Nesta incubadora

já nasceram mais de 200 startups

que resultaram na criação de cerca

de 700 postos de trabalho

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a minha economiaEMPREENDEDORISMOstartups de verão

no verão, mas existem imensas formas de surpreender alguém. O piquenique pode ser o que se quiser. Depende da imaginação. Já fui, por exemplo, en-tregar de bicicleta um cesto a casa de uns namorados”, explica a designer de moda Carla Cantante que, em conjun-to com o diretor criativo Pedro Pires, se lançou no mundo dos negócios.

“Há uns anos não havia ninguém nos parques e jardins, agora estão cheios. As principais alterações rela-cionam-se com o que está a acontecer no país e no mundo. As pessoas têm menos dinheiro, e quando não querem fazer uma refeição fora de casa, vão para o jardim e fazem um piquenique”, acrescenta esta jovem, que tem como meta expandir o negócio internacio-nalmente e já conseguiu clientes na Alemanha, Grã-Bretanha e Argentina.

A exportação é uma das novas tendências das startups que nascem em Portugal. O número de empresas recém-criadas que exporta no primei-ro ano de vida aumentou de 8%, em 2007, para os 10%, em 2013, segundo o “Estudo do Empreendedorismo em Portugal: 2007-2014”, da consulto-ra Informa D&B. Destas, metade do volume de negócios advém das ex-portações, tendo atingindo os 67%, a percentagem mais alta desde 2007. O estudo refere ainda que no quinto ano de atividade a taxa das empresas exportadoras duplica.

Ideias originais para voar mais alto

A multinacional AirHelp, com sede na Polónia, lançou os dados em 2013 e apostou numa ideia à escala global: ajudar os clientes das companhias áreas a reclamarem e receberem indemnizações por causa de proble-mas nos voos (atrasos, cancelamentos ou overbooking), um negócio com mais lucro no verão, quando o tráfego aéreo

Ezimute

NASCIMENTO Este guiaturístico on-line surgiu no fnal do primeiro semestre de 2014 para criar um modelo de negócio que serve, em simultâneo, os operadores turísticos e os turistas que visitam Lisboa. Na plataforma digital é possível fazer reservas para tours, atrações turísticas e restaurantes. “O Ezimute premeia os utilizadores e também quem o recomenda.”LEMA “Para quem gosta de viajar…” OBJETIVOS Depois de ter chegado a Lisboa, Porto, Alentejo e Algarve, o objetivo é apostar

na internacionalização. Espanha será o próximo destino. DESAFIOS A principal difculdade foi conseguir colocar a funcionar uma rede de parceiros, denominados embaixadores, embora neste momento a adesão seja tão grande que são os próprios operadores turísticos que pedem para participar na plataforma digital, explica o responsável pelo projeto, José Diogo Madeira. Cada embaixador tem um código, que permite um desconto de 3% nas reservas feitas no Ezimute. Destas, os parceiros ganham

4% nas tours ou atrações e 50 cêntimos por pessoa sentada num restaurante. O Ezimute oferece mapas turísticos da cidade com o código de cada embaixador, para serem distribuídos aos amigos e turistas. PAPEL DA STARTUP “Ter um espaço próximo do centro da cidade é o ideal devido à natureza da nossa atividade. Cruzar e trocar experiências com outras startups também é muito importante porque permite o acesso a uma série de conhecimentos que se estivéssemos isolados num escritório não conseguiríamos.”

aumenta devido aos períodos de férias. Esta startup, que conseguiu captar

investidores em Silicon Valley, conta com uma equipa de 50 jovens ameri-canos, polacos, dinamarqueses, finlan-deses, suecos, alemães, espanhóis e ita-lianos espalhados por vários cantos do planeta. A empresa tem como objetivo ajudar os passageiros aéreos a fazerem valer os seus direitos. Por exemplo, se chegarem a um destino com um atraso superior a três horas podem pedir uma indemnização de 600 eu-ros por pessoa, o que para uma família, constituída por um casal e duas crian-ças, equivale a 2 400 euros.

Maria Tavares, 25 anos, licen-ciada em Economia e com um mestrado em Finanças pela Universidade Nova de Lisboa, é a country manager da AirHelp em Portugal e está agora a expandir a empresa para o Brasil. “Ser em-preendedor está na moda, mas só vão sobreviver os que têm ideias e acredi-tam nelas. Na Startup Lisboa, onde tenho a minha base, há pessoas com elevadas qualificações que estão a lutar com todas as forças por uma oportunidade”, defende, acrescentan-do que “o sonho move montanhas”.

1fJosé Diogo Madeira, responsável pelo projeto Ezimute2fCarla Cantante, fundadora da marca AnitaPicnic3fMaria Tavares, country manager da AirHelp em Portugal4fMónica Pena Ferreira, fundadora da imobiliária Monica Lisbon Rentals

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Monica Lisbon Rentals

AirHelp

NASCIMENTO Os criadores da AirHelp são da Dinamarca, onde esta startup nasceu em 2013, mas entretanto a sede mudou para Gdansk, na Polónia, com o objetivo de aproveitar os recursos humanos qualifcados e o custo de vida mais baixo neste país. A ideia é ajudar os clientes das companhias aéreas a reclamarem por causa de atrasos nos voos, cancelamentos ou overbooking. O passageiro terá que preencher um formulário on-line com os pormenores do voo e a equipa da AirHelp entra de seguida em contacto com a companhia e encarrega-se de todo o processo, até aos tribunais, se for necessário. Os serviços da AirHelp funcionam para voos a partir da Europa ou para a Europa. LEMA “Não ganha, não paga.” O serviço da AirHelp é totalmente gratuito. Só no caso de o cliente ser indemnizado é que será cobrada uma taxa de 25% sobre o valor da indemnização. OBJETIVOS Recuperar o dinheiro dos clientes. DESAFIOS “É preciso gerir expetativas. Temos um trabalho inglório, que é ajudar pessoas zangadas com companhias áreas, o que nem sempre é fácil”, explica Maria Tavares, country manager da AirHelp em Portugal. PAPEL DA STARTUP LISBOA “A Startup Lisboa é identifcada como uma marca de sucesso, dá-nos uma exposição e um selo de qualidade maiores do que se estivéssemos sozinhos”, refere.

Anita Picnic

NASCIMENTO A marca foi lançada em maio de 2014 e surgiu de uma necessidade pessoal da fundadora, Carla Cantante. “Para festejar o aniversário do meu flho, na primavera, queria organizar um piquenique, mas não existiam acessórios que me fascinassem. E pensei: Porque não criar uma marca de objetos de piquenique que vá ao encontro do meu gosto e das necessidades que existem?”, recorda.LEMA “Celebrar a vida ao ar livre.”OBJETIVOS Crescer ao nível das exportações e ver reconhecido o trabalho dos artesãos da zona da Guarda. “Cada peça demora dois dias a ser concluída, o que tem um valor incontornável, é quase uma obra de arte”, explica.DESAFIOS O maior obstáculo é encontrar artesãos que tenham vontade de fazer algo diferente. “São pessoas de muita idade, com uma noção de tempo e trabalho diferente”, realça a designer. PAPEL DA STARTUP LISBOA “Esta incubadora de empresas é importante para tirar algumas dúvidas, mas nunca fazem o trabalho por nós. Cada empreendedor tem que desbravar o seu próprio caminho”, explica Carla Cantante.

NASCIMENTO A ideia para esta imobiliária de arrendamentos turísticos surgiu de forma espontânea, aproveitando os edifícios de que as fundadoras eram proprietárias no centro de Lisboa. “Os estrangeiros vinham bater à porta para perguntar se arrendávamos quartos ou apartamentos e, quando nos apercebemos desta

situação, começámos a remodelar os imóveis para dar resposta ao mercado”, explica Mónica Pena Ferreira que abriu esta startup em conjunto com a mãe, Isabel Sá Ferreira. LEMA “Em Lisboa sejam lisboetas.”OBJETIVOS Manter a qualidade dos apartamentos.DESAFIOS O grande desafo é corresponder às expetativas dos

clientes e o maior obstáculo relaciona-se com o crescente número de alojamentos locais que tem aparecido em Lisboa.PAPEL DA STARTUP LISBOA “A Startup Lisboa é um modelo de sucesso que dá aos seus incubados muita segurança porque atua ao nível do networking de um modo exímio”, defende Mónica Pena Ferreira.

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a minha economiaFINANÇAS PESSOAIS

EMIGRAÇÃO

LONGE DA VISTA, PERTO DA MINHA CONTAOS MAIS DE DOIS MILHÕES DE PORTUGUESES ESPALHADOS PELO MUNDO PODEM REALIZAR OPERAÇÕES BANCÁRIAS COMO SE ESTIVESSEM EM TERRITÓRIO NACIONAL, COM TODA A FACILIDADE, COMODIDADE E SEGURANÇA. SAIBA COMO ESTAR PERTO DO SEU BANCO MESMO LONGE DE PORTUGAL

por cristina almeida

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EDUCAÇÃOINFORMAÇÃO

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Rita Ferreira tem 28 anos e é jornalista. Em setembro de 2012 comprou um bilhete de ida e volta, fez as malas e partiu rumo ao Brasil. Na conta bancária tinha o saldo suficiente para se sustentar durante três meses, mas na bagagem carregava a expetativa de encontrar melhores condições de emprego. Em apenas duas semanas, Rita recebeu uma proposta de trabalho. Hoje é assessora do conselho de administração de uma empresa portuguesa com atividade no Brasil, escreve artigos para várias publicações e é correspondente da Euronews, em São Paulo

Cinco dúvidas frequentes1 Como posso movimentar a minha conta a partir do exterior?Pode movimentar a sua conta com toda a segurança e comodidade a partir do Montepio24. Os serviços Net24, Netmóvel24 e Phone24 permitem realizar todas as operações e esclarecer qualquer questão. Pode ainda dirigir-se a um dos escritórios de representação do Montepio na Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, França, Estados Unidos e Canadá.2 Que transações podem ser realizadas?Pode realizar todas as transferências, pagamentos e operações de gestão diária, acompanhar as diversas soluções de poupança e investimento, realizar operações internacionais, como transferências ou reservas de moeda, e verifcar contratos de crédito ou dar instruções para operações na bolsa.3 Posso abrir um depósito na moeda do país onde resido? Sim, o Montepio disponibiliza depósitos à ordem e a prazo em moeda estrangeira, como franco suíço, dólar americano e libra inglesa, entre outras. As taxas de juro variam em função da moeda, prazo e montante. Desta forma, evita os riscos cambiais se pretender efetuar pagamentos em moeda estrangeira. 4 Posso obter financiamento para comprar casa em Portugal?Sim, pode pedir um crédito para realizar um investimento em imobiliário. No Portal Montepio Imóveis encontra uma vasta carteira de imóveis para residência de férias, para o seu regresso ou para viver na reforma. Conheça as condições especiais de fnanciamento e as vantagens exclusivas.5 Qual a linha de contacto?A partir do estrangeiro ligue +351 21 724 16 24.

O testemunho de Rita inclui-se no retrato da nova vaga de emigração portuguesa: mais jovem e qualifica-da do que no passado. Entre 2007 e 2012 saíram do País, em média, 80 mil pessoas por ano e os últimos da-dos do Instituto Nacional de Esta-tística revelam que mais de 128 mil portugueses deixaram Portugal em 2013. Os jovens entre os 20 e os 29 anos representaram 41,5% das saídas.

Estima-se que há no mundo cer-ca de 2,3 milhões de portugueses emigrados e Portugal é mesmo o se-gundo país da União Europeia com mais emigrantes em percentagem da população (20,8%), de acordo com os dados do relatório governamental sobre emigração, da autoria da Se-cretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.

A dimensão da diáspora mais do que justifica a aposta do setor finan-ceiro na criação, ao longo de várias décadas, de produtos e serviços dire-cionados exclusivamente para o seg-mento de residentes no estrangeiro. A evolução da oferta bancária tem acompanhado as alterações do fenó-meno da emigração e está hoje total-mente adaptada aos novos perfis mi-gratórios.

Um espaço únicoA relação dos portugueses com a banca é imune à mobilidade geográ-fica. O homebanking anula as fron-teiras da gestão bancária e os escri-tórios de representação espalhados pelo mundo são fundamentais para garantir a proximidade e o acompa-nhamento especializado e perma-nente aos portugueses não residen-tes em Portugal.

Gerir a conta corrente, fazer pa-gamentos ou transferências, enviar ou receber dinheiro, valorizar as pou-panças e incrementar os investimen-tos, realizar projetos com acesso a fi-nanciamento e subscrever soluções de proteção são opções acessíveis a todos os portugueses que vivem, tra-balham ou estudam no exterior.

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a minha economiaFINANÇAS PESSOAISemigração

Além das contas que podem abrir em Portugal, como qualquer cidadão residente em território nacional, “os emigrantes têm a possibilidade de ser titulares de uma ou várias contas especiais denominadas contas emi-grante”, lê-se na página oficial da Se-cretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.

A abertura e a manutenção da Conta Emigrante dependem da com-provação anual do estatuto de emi-grante, concedido a quem exercer uma atividade profissional remune-rada no estrangeiro, mantendo aí a sua residência permanente.

O estatuto é essencial para aceder a produtos e serviços criados exclu-sivamente para os residentes no ex-

terior e é o passaporte para benefí-cios fiscais, como a isenção do impos-to municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis (IMT).

Se viver no estrangeiro era sinó-nimo de abrir uma conta bancária numa instituição do país de destino, hoje a realidade é bem diferente tan-to na emigração permanente como na temporária.

Desde agosto de 2014, os portugue-ses residentes nos países da União Eu-ropeia, Islândia, Noruega, Liechtens-tein, Suíça, Mónaco e San Marino be-neficiam da área única de pagamentos em euros (SEPA, na sigla anglo-saxó-nica). Na prática, podem utilizar uma única conta bancária para efetuarem todas as transações entre dois países do espaço SEPA. Além de poderem receber o ordenado na conta de Portu-gal, os cidadãos podem realizar trans-ferências ou domiciliar os pagamen-tos de serviços prestados por qualquer empresa europeia. Por exemplo, é pos-sível pagar a luz, água ou gás de uma residência no estrangeiro através de um débito direto SEPA, indicando a conta domiciliada em Portugal.

No espaço dos 34 países SEPA não há diferenças nos preçários entre operações nacionais e transfronteiriças.

A criação do conjunto único de instrumentos de pagamentos torna--se ainda mais relevante numa altura em que hierarquia dos países de des-tino da emigração portuguesa está a sofrer alterações na sua composição.

Em 2010, mais de dois terços dos portugueses emigrados viviam na Europa e quase um terço na América do Norte e do Sul. No resto do mundo apenas viviam cerca de 3% dos por-tugueses emigrados. No mesmo ano, seis dos dez principais países de emi-gração eram europeus.

Poupar em PortugalOs dois países onde residem mais por-tugueses, França e Suíça, são a origem de mais de metade do total de remes-sas recebidas em Portugal. O envio de poupanças tem um peso importante

Catarina MarquesRelações públicas numa ONG em Dublin

“Continuo a ter uma conta bancária em Portugal e utilizo-a maioritaria-mente para efetuar transações bancárias com familiares e amigos. Contudo, também tenho uma conta bancária na Irlanda. Entre as minhas

operações mais frequentes estão as transferências para Portugal e os pagamentos para algumas contas de débito direto que estão associadas à conta portuguesa. A distância física não alterou a minha relação com a banca.”

VALOR DAS REMESSAS de emigrantes em 2014

NÚMERO de portugueses emigrados

%41,5

PESO DOS JOVENS no total da emigração

41,5%

3 057 milhões

2,3 milhões

— SWIFT Representa o código que identifca a instituição fnanceira e é essencial para realizar uma transferência internacional.

— SEPA Signifca área única de pagamentos em euros. Facilita as transferências a crédito, os débitos diretos e a utilização de cartões entre 34 Estados-membros (União Europeia e Islândia, Liechtenstein, Mónaco,

Noruega, Suíça e San Marino).

— IBAN É o número internacional de conta bancária, necessário para validar transferências a crédito ou débitos diretos no espaço SEPA.

glossárioTrês termos bancários que entram no vocabulário de quem muda de país para residir

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Soluções Residentes no EstrangeiroQuando a sua carreira lá fora ganha cá dentro, ganhamos todos.

Gerir o dia-a-diaA Solução Montepio Consigo, o Serviço Montepio 24 e o Extrato Digital são alguns dos serviços disponíveis.Realizar pagamentosO Montepio apresenta-lhe diversas opções para fazer pagamentos ou transferências, tais como cartões de Débito e de Crédito, cartões Pré-Pagos Montepio, transferências SEPA e Serviço MoneyGram.Incrementar poupançasOs depósitos a prazo Montepio Super Poupança, Montepio Aforro Residentes no Estrangeiro e Montepio Aforro Plus Residentes no Estrangeiro têm caraterísticas adequadas a diferentes necessidades.Concretizar projetosO Montepio permite-lhe o acesso a diversas opções de financiamento, como o Crédito Habitação, Crédito Automóvel e Crédito Individual, entre outras soluções. No Portal Montepio Imóveis encontra condições especiais de financiamento e vantagens exclusivas.Estar protegidoConheça as soluções de proteção criadas a pensar nas suas necessidades. Para assegurar o presente e ajudar a planear o futuro informe-se sobre a oferta mutualista de poupança e proteção que complementa o sistema público de Segurança Social.Rede InternacionalEncontre os escritórios de representação na Europa e América do Norte (Suíça, França, Reino Unido, Alemanha, EUA e Canadá).

www.montepio.ptSAIBA MAIS

na balança de transações correntes do País face ao estrangeiro, embora os va-lores atuais estejam muito longe do pós-25 de Abril. Em 1979, as remessas de capital enviadas por portugueses a trabalhar no estrangeiro atingiram o valor mais alto de sempre, chegando a pesar mais de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) português.

Em 2014, o envio de dinheiro pa-ra Portugal ultrapassou, pelo segun-do ano consecutivo, os três mil mi-lhões de euros, representando cerca de 2% do PIB.

As instituições bancárias desem-penham um papel crucial na oferta de soluções para quem trabalha no es-trangeiro e quer poupar em Portugal. Os vários mecanismos disponíveis en-globam, por exemplo, as tradicionais transferências, realizadas com toda a segurança e comodidade através dos escritórios de representação interna-cional, os vales postais ou o acesso a serviços da rede especializada Mo-neyGram, com quase 350 mil pontos de venda em mais de 200 regiões.

Agosto rima com aforroO verão continua a ser, por excelên-cia, a época do ano em que milhares de portugueses a trabalhar no estrangeiro regressam à sua terra natal e aprovei-tam para cuidar das suas poupanças ou fazer investimentos. No entanto, os bancos têm hoje campanhas ou pro-moções disponíveis durante todo o ano.

A possibilidade de subscrever as aplicações de poupança em euros ou em moeda estrangeira e a partir do país de destino é uma das principais especificidades da grande maioria da oferta destinada aos residentes no ex-terior. Com prazos diversificados, as aplicações garantem o capital investi-do e oferecem taxas de juro crescentes.

Uma das regras de ouro é escolher um produto com um juro superior à ta-xa de inflação prevista para o país onde se reside, para garantir ganhos reais.

A possibilidade de utilizar os car-tões de débito, crédito ou pré-pagos e aceder a financiamento bancário,

mesmo estando longe de Portugal, é um indicador de que hoje a relação com a banca não tem fronteiras.

A procura por crédito para ad-quirir habitação na terra natal tem uma longa tradição, mas a jovem e qualificada diáspora também apre-senta outras necessidades, como o crédito para formação ou para cria-ção do próprio negócio, que os ban-cos acompanham.

A iniciativa empreendedora dos novos emigrantes também motivou, recentemente, o lançamento de vá-rias medidas de incentivo ao regresso de portugueses.

O Plano Estratégico para as Mi-grações até 2020 prevê que, ainda este ano, seja lançado um projeto--piloto do Programa Mentores para Emigrantes. O objetivo é “promover experiências de entreajuda e apoio entre cidadãos nacionais residentes e não residentes, com vista ao apoio ao regresso sustentado em projeto pro-fissional”, explica o Plano.

Rita FerreiraJornalista em São Paulo

“Contactei o meu banco para me informar do preçário no estrangeiro. Só consegui abrir uma conta no Brasil cerca de nove meses após ter chegado. Mantenho, até hoje, duas contas bancárias

em Portugal. Nos primeiros meses, usei sempre a conta portuguesa. Nunca senti qualquer difculdade ou tive qualquer problema. O contacto com o banco à distância é fácil.”

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

a minha economiaINTERNACIONALIZAÇÃO

REINVENTAR É A PALAVRA DE ORDEM PARA A MODA PORTUGUESA. ESTA INDÚSTRIA TEM SIDO CAPAZ DE DAR A VOLTA E CONQUISTAR TERRENO NOS MERCADOS INTERNACIONAIS. SAIBA COM QUE LINHAS SE COSEM OS NEGÓCIOS EM PORTUGUÊS por ana sofia calaça

A moda evidencia estilos de vida e de-fine identidades. Vestuário, calçado ou joias falam por si e são um reflexo de diferentes personalidades – irreveren-tes ou conservadoras, desportivas ou clássicas –, mas a natureza cíclica e mutável das preferências e gostos dos consumidores obriga este setor a ino-var constantemente para fazer frente às exigências de um universo em per-manente mudança.

Muitas empresas não resistiram à crise de 2008 e à maior abertura do co-mércio internacional, mas as que se mantiveram no mercado moderniza-

MODA

GOSTOS NÃO SE DISCUTEM, EXPORTAM-SE

ram-se e asseguraram que a moda ma-de in Portugal é de vanguarda e já está muito focada na internacionalização.

Um setor dinâmicoO setor do têxtil e vestuário é ho-je uma das mais importantes indús-trias da economia portuguesa, com cerca de 7 000 empresas, mais de 85% localizadas na região Norte, em especial nas cidades do Porto e de Braga, segundo dados da Associa-ção Têxtil e Vestuário de Portugal. A provar o dinamismo desta indústria, o ano de 2014 foi o melhor dos últimos

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

onze anos para as exportações neste setor, registando um valor exportado de 4,6 mil milhões de euros e um cres-cimento de 8% face a 2013.

A proximidade faz de Espanha o principal cliente externo do vestuário nacional, com 32% das exportações, representando o mercado que mais cresceu em termos absolutos em 2014 (acréscimo de 139 milhões de euros).

França e Reino Unido, os outros principais compradores, também es-tão a apostar mais na moda portugue-sa, com 14% e 9% de quota, respetiva-mente, e foram o segundo e terceiro

1JEANS ONE SIZE Calças feitas com um tecido “super elástico” que se adapta a qualquer tamanho ou formato de corpo.

2JEANS ANTI-CELULITE Aliam o efeito modelador a micro--cápsulas de creme anti-celulítico incorporadas nas fbras do tecido.

3JEANS IMPERMEÁVEIS Calças de ganga à prova de chuva. Foi utilizada uma técnica que permite a impermeabilização dos jeans, testada e comprovada em várias lavagens.

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Calças de ganga inovadoras

destinos com maiores crescimentos absolutos.

Se do estrangeiro aumentam as encomendas de roupa, há também mais pés para calçar. Considerado o ex-líbris da economia portuguesa, o calçado viu as exportações aumen-tarem 50% nos últimos anos, com as empresas a venderem 95% da sua pro-dução para 160 países de cinco conti-nentes, de acordo com a Associação Portuguesa dos Industriais de Calça-do (APICCAPS).

Mas o modelo não ficaria perfeito sem o adorno elegante dos números de um ramo de negócio que conta já com 5 000 empresas, na sua maioria PME, e que representa um volume de negócios de mil milhões de euros. O comércio de joalharia e ourivesaria cresceu a uma média anual de quase 19% entre 2008 e 2013, ao mesmo tem-po que as vendas para o estrangeiro

Para muitas empresas, a interna-cionalização tem sido uma estra-tégia de resposta ao momento do país. Como é que a ação do Monte-pio pode fazer a diferença?O Montepio tem vindo a dotar-se de condições que possam ir ao encontro dos novos desafos das empresas nacionais, que são tam-bém os nossos. A ação diferenciada do Montepio passa cada vez mais por cooperar com clientes, adequan-do a oferta e comportamento à necessidade de cada cliente, nas suas diferentes fases de internacio-nalização. O dinamismo de gestão, o conhecimento dos mercados, com presenças físicas estratégicas, quer em Angola, através do Finibanco Angola, quer em Moçambique, via Banco Terra, os recursos mobili-záveis, a obtenção gradual de capacidade criativa e o estabeleci-mento de relações de confança ou parceria com clientes são os fatores que marcam a ação do Montepio. Que soluções estão desenhadas para responder aos desafios?A missão será estar permanente-mente ao lado do cliente, para que este se sinta seguro e confante noutras geografas. Ambicionando a verticalização de todo o processo de internacionalização, o Montepio tem soluções de assessoria em es-tudo de mercados, na sua abertura de natureza e segurança fnanceira, antecipando-se ao cliente enquan-to primeira plataforma negocial em geografas que tenham dimensão percebida de bom negócio.

Pedro PiresDiretor de Empresas Montepio

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

a minha economiaINTERNACIONALIZAÇÃOmoda

subiram 27%, com Hong Kong, Suíça e França como os maiores destinos dos produtos nacionais.

Especialistas em jeansRevolucionar o mundo das calças de ganga. É com esta ideia em mente que a Tiffosi se tem afirmado pela aposta em produtos inovadores. Filipe Pinto Correia, administrador, explica que a têxtil minhota “diferencia-se por ter desenvolvido um conceito de ‘especia-lista em jeans’, que proporciona aos clientes um ambiente de loja Denim e um produto muito competitivo no binónimo qualidade/preço”. Funda-da em 1979, a Cofemel criou a marca Tiffosi em 1991 e, há seis anos, a em-presa foi comprada pelo Grupo VNC. “A evolução é clara quando transfor-mada em números. A empresa cres-ceu 80% em vendas ao consumidor fi-nal desde 2008”, de acordo com o ad-ministrador.

A marca portuguesa apresen-ta também um “forte crescimento no mercado externo”. Desde 2012, ano em que inaugurou a primeira loja monomarca em Madrid, a Tiffosi conseguiu “estar presente em cerca de 20 países e em mais de mil clientes multimarca a nível internacional”. O líder da Tiffosi sublinha ainda que as encomendas para Espanha e Fran-ça têm duplicado nas últimas cole-ções e que o processo de internacio-nalização já chegou igualmente ao Médio Oriente, onde “o feedback dos clientes tem sido positivo, mas as di-ferenças de sazonalidade deste mer-cado face à Europa têm representa-do um forte desafio na gestão das coleções que lhe são apresentadas”. Dentro de portas, 2015 é o ano para fa-zer nascer no mercado o conceito de megastore (lojas com dimensões nun-ca inferiores a 500 m2). A marca quer inaugurar um novo espaço quinzenal-mente, sem perder de vista a expan-são internacional.

“Nos próximos anos prevemos um investimento de cerca de 30 milhões de euros em lojas novas, com espe-

A Lemon Jelly nasceu em 2013, mas a sua empresa-mãe, a Procalçado, tem quase 40 anos de experiência na produção de solas de borracha para outras marcas, incluindo a estilista Carolina Herrera ou a britânica Hunter. A aventura de lançar a primeira

marca de calçado injetado, totalmente concebida, desenvolvida e produzida em Portugal, tem tido resultados surpreendentes. “A aceitação tem sido realmente boa, a nível nacional e internacional”, garante o CEO da empresa.

LEMON JELLY

Vontade de inovar

cial incidência no mercado espanhol, o que contribuirá para o objetivo de duplicar a dimensão da empresa nos próximos cinco anos”, sublinha Filipe Pinto Correia.

Calçado que cheira a limãoFresca e divertida. É assim que a Lemon Jelly se afirma no mundo do calçado, com as suas galochas à portu-guesa com um design inovador e aca-bamentos de qualidade. As cores ale-gres e vibrantes, assim como os tons metalizados, representam uma ten-dência da moda e a Lemon Jelly pro-mete não fugir à regra em 2015, im-primindo criatividade a sapatos de plástico, a pensar em mulheres ur-banas que “não têm nada a provar”. As coleções da Lemon Jelly foram concebidas com inspiração em al-gumas das melhores coisas da vi-da: as amizades, as férias de verão e as viagens, os salpicos do mar e as noites urbanas e cheias de glamour. “Reinventamos modelos clássicos através da mistura de diversos tipos de plástico, com cor e estilo, além de qualidade e conforto, indo ao encontro de um público jovem”, assegura José Pinto, CEO da marca.

Os sapatos Lemon Jelly são ideais para dar ainda mais cor aos dias de sol, mas existem igualmente em tons mais sóbrios, como o preto ou casta-nho. José Pinto destaca também ou-tros elementos que marcam a dife-rença: “Através da atenção aos por-menores e da aplicação de detalhes feitos em materiais nobres e com técnicas de elevada tecnologia, con-seguimos acrescentar valor a um tipo de calçado que, tradicionalmen-te, é visto como mais económico.” Com preços entre os 70 e os 180 eu-ros, estes sapatos revelam a pai-xão, dedicação e espírito de equi-pa que guiam o trabalho da marca. “Os nossos sapatos são feitos com muito amor, cuidado e diversão pa-ra se transformarem em companhei-ros fiáveis e coloridos, que sabem ao mais doce dos doces: são como uma

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PESO DAS EXPORTAÇÕES José Pinto realça que as exportações representam 60% do negócio. “O mercado europeu tem grande relevância por razões óbvias, mas estamos também presentes noutros mercados, como é o caso do Canadá, China, Hong Kong e África do Sul.”

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> MACHADO JOALHEIROS A marca está em Lisboa desde 2008 e pauta-se pelo luxo das peças

O que é que Lady Gaga e a moda portuguesa têm em comum? A resposta está na jovem açoriana Susana Bettencourt, a estilista lusa que tem dado nas vistas e que já vestiu a irreverente cantora norte--americana. Apesar das celebridades, Susana sabe bem quem faz a sua marca: “Não crio as coleções a pensar nos famosos. São as pessoas reais que mantêm a minha marca viva e sustentável.” A aventura das malhas vai tendo novos capítulos que se somam aos de um começo em família. “Aos cinco anos aprendi a tricotar e a fazer crochet à mão com a minha avó e madrinha. Mas só depois de uma má experiência na área de ciências é que aceitei que o meu hobby fosse a única coisa que me faria feliz”, recorda. Felicidade que está presente no trabalho e que permite superar os obstáculos “dos ‘nãos’ de concursos e apoios”, ou dos encargos de “apresentar coleções de seis em seis meses”. Ainda assim, é positiva a opinião sobre o momento da moda em português. “Estamos cada vez mais fortes e com mais iniciativas, como o boom do Portugal Fashion. O desafo mais complicado será sempre o preço e transmitir um conhecimento generalizado da nossa existência”, explica. "Persistência e uma grande dose de loucura" são os ingredientes que aponta para o sucesso.

Susana Bettencourt Estilista

dências da joalharia e relojoaria em Portugal”, explica António Machado, administrador e descendente do ho-mem que fez crescer este negócio.

A empresa portuense, que é um exemplo da tradição e experiência de vários séculos, cria peças de joalharia com design moderno voltado para as novas gerações, que depois são expos-tas num ambiente de requinte nas lo-jas de Porto e Lisboa.

Respeitando a filosofia de criar uma atmosfera seletiva, o responsá-vel por esta casa centenária explica que as lojas nos centros comerciais es-tão fora de hipótese. António Macha-do sublinha que qualquer “joalharia fica melhor localizada na rua, onde existe outra luz, outro brilho e mais espaço”, que são um trunfo da marca que tem montras com joias para to-dos os gostos, desde as clássicas (mui-tas vezes inspiradas em peças antigas executadas pela marca) às vanguar-distas. Os “preços são transversais”, refere António Machado, realçando que as criações exclusivas têm cada vez mais procura por parte de clientes “exigentes, conhecedores e apaixona-dos por joias”. O administrador garan-te: “Sempre foi a nossa tradição e con-tinuaremos a apostar nessa vertente.”

Apesar de já ter atravessado vá-rios séculos, a Machado Joalheiro es-tá também de olhos postos no futuro: “2015 é o ano do diamante, em todas as suas formas e cores. E as nossas no-vas coleções vão nesse sentido.”

O primeiro espaço da Machado Joalheiro chamava-se Ourivesaria Cunha e nasceu em 1880, na Rua do Loureiro, uma das ruas mais dinâmicas do Porto, pela mão de Pinto da Cunha, fgura lendária do mundo das joias.

Em 1914 a loja mudou-se para a Rua 31 de Janeiro e ali permanece até hoje, num edifício classifcado como Património Municipal. Pouco antes da II Guerra Mundial, Jacinto Machado dos Santos (pai de António Machado, atual

administrador), começou a trabalhar na ourivesaria, tornando--se mais tarde sócio da empresa. O nome da marca, que hoje conhecemos, só surgiu nos anos 80, década em que chegou à Avenida da Boavista.

MACHADO JOALHEIROS

A história de uma casa centenária

explosão de gelado, gomas, rebuça-dos e chupa-chupas, e têm simulta-neamente o som das gargalhadas e o toque de uma carícia”, sublinha o CEO da Lemon Jelly.

A tendência das joias“Durante 134 anos, a Machado Joa-lheiro marcou e tenta marcar as ten-

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VOLTAR À TERRAA Bolsa Nacional de Terras é um novo eixo estratégico. Levar os terrenos referenciados a novos arrendatários e proprietários que os dinamizem é a missão

página 72

LAZERHá um Portugal para percorrer em bicicleta. Conheça quatro cidades que são um exemplo do investimento em ciclovias e prepare-se para deixar o carro parado e pedalar

página 76

CADERNO DE VIAGEMÓbidos é muito mais que ginja e chocolate. A nova onda literária está a transformar a famosa Rua Direita num dos maiores destinos turísticos da região Centro

página 68

TENDÊNCIAMais globalizados e mais iguais. Num mundo cada vez mais semelhante, há uma nova vaga de soluções que apostam na individualização e customização para quem quer ser único

IDEIAS E DESCOBERTAS EM LAZER, FAMÍLIA, SAÚDE, CULTURA

A MINHA VIDA

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4

MONTEPIO PRIMAVERA 2015

a minha vidaTENDÊNCIA

4

À MEDIDA

TODOS QUEREMOS SER ÚNICOS

No tempo dos nossos avós, o azeite e o leite eram aviados em garrafas de vidro reutilizáveis. Embalagens e sacos plásticos eram coisas raras e no balcão das mercearias não faltava o livro de capa preta com a lista dos fiados e a balança para a venda a granel. As senhoras iam às modistas fazer vestidos e os senhores tiravam medidas no alfaiate. Comprava-se e vendia-se com conta, peso e medida. Com gosto.

A RECUSA DA MASSIFICAÇÃO E A ROMANTIZAÇÃO DE TUDO O QUE É VINTAGE CRIOU, NA ÚLTIMA DÉCADA, UMA NOVA TENDÊNCIA: A PROCURA DE PRODUTOS E SERVIÇOS ÚNICOS, ADAPTADOS AO GOSTO DE CADA UM E AOS SEUS HÁBITOS

por rita vaz da silva

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

O despontar da sociedade de consu-mo trouxe uma sociedade mais homo-génea nos hábitos, mas numa era de transformações galopantes o que on-tem era démodé volta a ficar in ao fim de umas temporadas de hibernação. Depois da institucionalização, na últi-ma década, dos conceitos retro, vinta-ge e gourmet, está a renascer uma vaga de personalização de serviços e pro-dutos aliada à arte de bem servir por quem recusa a massificação. Afinal, já

não queremos ser iguais, seja por crise de identidade, por nostalgia ou até por egoísmo. Queremos ser únicos.

“Biclas” com pintaOs hábitos diários do cliente são a alma do negócio da iNBiCLA, empre-sa da região do Porto que faz bicicletas personalizadas. Vítor Machado criou o negócio do zero, aliando o gosto pes-soal pelas bicicletas à formação em de-sign de produto.

“Para criar uma bicicleta tenho de ter elementos que me ajudem a adap-tar o produto ao que o cliente necessi-ta. Cada projeto começa de raiz com um quadro sem pintura [peça trian-gular no centro da bicicleta] e depois há uma negociação. O cliente chega aqui e diz-me: ‘Quero uma bicicleta para andar ao fim de semana numa zona plana e com um cestinho para ir buscar o pão’ ou ‘Faço cinco quilóme-tros por dia de casa para o trabalho e tenho duas subidas.’ Esta informação

Como grande parte das empresas que oferecem bens e serviços customizados em Portugal, a iNBiCLA depende muito do “passa-palavra”, das

redes sociais e do que está na moda para angariar novos compradores. “A maior parte dos meus clientes está em Lisboa e não na região do Porto,

onde tenho a ofcina. O negócio cresceu porque a bicicleta voltou a estar na moda”, lembra Vitor Machado, criador da marca que faz bicicletas únicas e cosmopolitas.

INBICLA

Duas rodas na moda

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4

MONTEPIO PRIMAVERA 2015

a minha vidaTENDÊNCIA à medida

O cabaz da Costa da Marinha – Agricultura Biológica tem entre 9 a 15 produtos da época e vai dos cinco aos sete quilos. Antes da primavera, uma das caixas pode conter ervas aromáticas e

condimentares, como coentros, salsa, tomilho, orégãos, limonete e hortelã, e legumes como alface, espinafre, rúcula, abóbora, batata-doce, alho-francês e brócolos. No verão já há mirtilos e fgos.

COSTA DA MARINHA

Ajustar os paladares às estações

é muito importante para a escolha dos materiais, do design e das peças a uti-lizar”, descreve.

Para o cliente este serviço é vanta-joso “pelo atendimento personalizado e pelo produto único que leva para ca-sa”. “A certa altura acabo por conhecer tão bem as pessoas e a sua história que já nos tratamos por tu”, conta o desig-ner que começou por se aventurar no ramo do mobiliário e “tropeçou no negócio das bicicletas” por causa de alguns amigos que lhe pediam para criar “biclas para as namoradas”.

A criação começa pela história de vida e passa depois à parte do design. “Há clientes que sabem o que que-rem, outros não. Alguns trazem uma fotografia para inspiração. Eu faço um mock-up e depois apresento para apro-vação.” Esta fase inicial demora cer-ca de uma semana. A construção da bicicleta pode levar um mês. O preço médio ronda os 550 euros.

Vítor personaliza qualquer parte da bicicleta: o volante, o revestimento, a estrutura, as cores, o selim, o cesto. Cada veículo é numerado e exclusivo. “Posso até inscrever o nome do cliente ou uma frase se assim o quiser”, explica. “Nunca faço a mesma coisa e até agora ninguém me pediu para replicar algu-ma bicicleta que já tenha feito. Também não me pediram ainda para criar peças de raiz, por exemplo o travão. Compro essas peças já prontas, mas se um dia me pedirem posso vir a fazer.”

Cada cabeça, sua sentençaÚnicos e exclusivos são os chapéus que Cristina de Almeida desenha e fabri-ca no seu ateliê no Centro Comercial Roma, em Lisboa. Muitas das suas compradoras sentem-se tão aconche-gadas com o atendimento especial desta modista de chapéus que a con-vidam para almoçar ou para um cha-zinho numa nas pastelarias do bairro.

“Fico muito lisonjeada mas recuso sem-pre. Às vezes tenho alguma pena mas não há tempo, há sempre mais clientes marcadas e chapéus para fazer.”

Com duas lojas na capital, uma on--line e outra em Bruxelas, A Fábri-ca dos Chapéus é uma empresa fa-miliar, criada em 2008 por Cristina e pelo marido, Luís Barbosa. Ambos trabalhavam como gestores em mul-tinacionais e deixaram para trás uma carreira bem-sucedida para abraçar a paixão pela chapelaria.

O casal repete muitas vezes a mes-ma frase: “Enquanto houver cabeças vamos por cá andar.” A “Fábrica” tem chapéus para todos os gostos e senten-ças. E se nos mais de mil modelos dis-poníveis, tanto nas coleções de inverno como de verão, não encontrar o que pro-cura, Cristina e duas das colaborado-ras que formou fazem chapéus à me-dida exata do que o cliente pretende. Não há limites. “Posso arranjar penas de pavão, mandar fazer um tecido ou qualquer tipo de peça decorativa. Até o molde de madeira para o chapéu pode-mos mandar fazer se não tivermos no atelier o que o cliente quer. Quanto ao chapéu propriamente dito, posso fazer a aba com mais ou menos milímetros ou com uma copa mais alta ou em qual-quer cor. Posso adaptar ao rosto, à vida e à roupa do cliente”, explica Cristina.

Algumas das encomendas chegam de Angola e do Brasil. “Recebo muitos e-mails com pedidos e depois dou con-tinuidade através do Skype. Mostro os chapéus que tenho, os modelos, os te-cidos e vamos chegando a um acordo.” A componente on-line é vital para as vendas – além das encomendas por

e-mail e através das aplicações de con-versação e vídeo – a loja on-line escoa uma parte significativa das peças da coleção para qualquer lugar no país e no mundo. Curiosamente, a Internet e a tecnologia que tanto contribuíram para a globalização ajudam as peque-nas empresas com produtos à medida a vingarem no mercado onde a con-corrência das grandes marcas é feroz. Não há nada que não possa vender-se on-line, há tecnologia para criar quase tudo e o que não existe num país pode encomendar-se noutro.

À “Fábrica” chegam também mui-tos pedidos para criação de réplicas. “Copiam-se muito os casamentos

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

reais.” E restauram-se chapéus des-gastados pelo tempo. “Um chapéu com bom material dura 300 anos. Além disso, a empresa também faz chapéus para fardas, uma produção mais mas-sificada que resulta em parcerias com fábricas nacionais e estrangeiras. En-tre os clientes institucionais incluem--se companhias aéreas e uma rede de padarias nacional. A modista colabo-ra igualmente com criadores de moda nacionais e designers de outros países.

A relação com o cliente é um trun-fo do negócio, defende Cristina de Almeida. “O mundo mudou muito – – é mais fácil uma pessoa chegar a uma loja, desarrumar tudo, ver tudo e ninguém falar com ela. O nosso ca-minho foi mais difícil, mas é mais ci-mentado, tem mais futuro. Para mim, ter alguém que nos ouça e aconselha não tem preço. Se não se for bem aten-dido não se volta e não se compra mais naquela loja. É muito importante ter uma aproximação muito educada ao

Milliner formada em Inglaterra, a mentora da Fábrica dos Chapéus cria sobretudo peças para cerimónia. Também faz todos os anos 15 a 20 acessórios para os clientes portugueses que se deslocam ao desfle de

chapéus mais extravagantes do mundo, as corridas Royal Ascot. “As clientes vêm cá fazer a prova, trazem os vestidos e os sapatos. Depois da festa ou evento, enviam e-mails com fotografas da noiva ou das convidadas.”

FÁBRICA DOS CHAPÉUS

Celebrar à medida

cliente, não de subserviência, mas de se mostrar disponível para ajudar. Nis-so serei sempre uma mulher à antiga.”

Cabazes ao gosto do freguêsOutra moda da última década, e um mercado em pleno crescimento, é a agricultura biológica. Cada vez mais se consomem produtos biológicos, cultivados num ambiente natural que respeita o tempo de maturação das plantas e não recorre a fertilizan-tes ou pesticidas químicos.

Paulo Freixinho, ator de teatro e televisão há mais de 18 anos, decidiu apostar neste nicho de mercado e lan-çou-se, aos 38 anos, numa atividade paralela esperando “encontrar um outro ânimo para viver neste país”. Aproveitando um terreno familiar de dois hectares na zona de Ovar, criou, em 2013, um negócio de caba-zes biológicos adaptados aos hábitos de consumo dos seus clientes, a Costa da Marinha – Agricultura Biológica.

Os clientes recebem por e-mail a lis-ta de produtos disponíveis ou combi-nam por telefone a composição da sua caixa. “Os meus clientes são pessoas muito atarefadas, que passam o dia fora de casa e têm pouco tempo para fazer compras. Também não têm con-dições para ter uma pequena horta”, explica o ator, agricultor e estudante de agronomia biológica na Escola Agrária de Coimbra.

Os cabazes variam consoante o gos-to do freguês, embora não permitam muitas variações, já que se trata de produtos hortícolas e frutícolas da épo-ca. “Têm de ser clientes que acreditem no projeto e que entendam o conceito. Sei o que cada pessoa gosta.”

Esta proximidade “é muito com-pensadora para quem compra e para quem produz”. “A produção fica paga e o consumidor recebe produtos mais baratos e com uma qualidade incom-parável ao que encontraria numa gran-de superfície.”

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

a minha vidaLAZER

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EXERCÍCIO

CIDADES PARA PEDALAR

Paulo Guerra dos Santos, coordenador do projeto Ecovias de Portugal, acredita que falta dar passos decisivos na legislação fiscal e rodoviária e no investimento em ciclovias, mas encontra no país locais onde já é aprazível circular em duas rodas. Grândola, Ovar, Torres Vedras e Vila Real de Santo António são as cidades de eleição.

EM PORTUGAL HÁ MAIS DE 1 700 QUILÓMETROS DE CICLOVIAS, MAS A BICICLETA AINDA NÃO DOMINA O CENÁRIO

Tipologia Iniciados

(exceção da Boa Vista que é para

experientes)Distância

55 kmPistas

Ecovia do Litoral, Boa Vista, Cacela, Rias Parque e Vila

Real de Santo António-Monte

Gordo

Vias duplas para os residentes, turistas e atletas que fazem o trajeto Vila Real de Santo António-Monte Gordo e medi-das para a acalmia do trânsito em meio urbano são os trunfos desta cidade.Adicionalmente, o concelho é atraves-sado pela Ecovia do Litoral, que percor-re todo o litoral algarvio numa extensão de cerca de 214 quilómetros. Uma novidade: o concelho prevê, junta-mente com os municípios fronteiriços de Castro Marim e de Aiamonte (Espa-nha), criar uma rota ciclável na Ponte Internacional do Guadiana.

A ritmo internacional

VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO

Nesta cidade bastante plana, onde cir-cular de bicicleta é prática comum des-de há gerações, a maioria das ciclovias é dedicada ao lazer. No entanto, este meio de transporte convive de forma harmoniosa com os veículos motori-zados na via pública, em parte por tra-dição mas também porque a autar-quia colocou sinalização que protege os velocípedes. As Agostinhas, bicicle-tas assim batizadas em honra a Agos-tinho da Silva, natural da cidade, es-tão disponíveis todos os dias das 8 às 20 horas e a sua utilização é gratuita.

Na rota das Agostinhas

TORRES VEDRAS

Tipologia Iniciados

Distância 44 kmPistas

Ciclovia das praias

Sizandro e Barro

por sara raquel silvailustração ana seixas

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

Tipologia Iniciados

Distância Mais de 50 km

Pistas Avenidas Praia Esmoriz, Praia

Cortegaça, D. Manuel I, Sá Carneiro,

da Régua,do Emigrante,

D. Maria II, Es-trada de Pardilhó, Escolas, Rua das

Britas, ecopista do Atlântico, Avenida

Raimundo Ro-drigues e Maceda

A Rede de Mobilidade Ciclável e Pedonal do Concelho de Ovar conta com cerca de 60 quilómetros de exten-são, sendo composta por pistas exclu-sivas, mistas e pelos trilhos da nature-za, destacando-se a recente conclusão da ecopista do Atlântico Esmoriz-Fura-douro. A utilização deste meio de trans-porte é popular não só entre os turis-tas como entre os locais, que dispõem, em alternativa ao meio de transporte próprio, das Bias, bicicletas municipais utilizadas por mais de 10 000 pessoas por ano. A cidade recebeu, em 2014, o Prémio Nacional da Mobilidade em Bicicleta, na categoria Autarquias.

BIAS pela riaOVAR

Tipologia Iniciados

Distância Mais de 10 km

Pistas Alameda e Parque

O concelho tem cerca de 10 quilómetros de ciclovias. Dois fcam na vila, junto à Alameda José Amaro e à Alameda 22 de outubro. Os sete restantes perten-cem à freguesia de Carvalhal e ligam a aldeia à praia. Com pouco trânsito e bastante plano, o concelho é desde sempre convidativo à circulação a duas rodas, que aumenta signifcativamente no verão com a afluência dos turistas. A prática de BTT é também popular na zona da serra. Ao longo do ano rea-lizam-se várias provas, destacando--se o inédito 1º Ciclo BTT de Grândola, em abril, que juntou o ciclismo (44 km) e BTT (22 km).

Do passeio à BTTGRÂNDOLA

f^ BIAS, EM OVAR A cidade foi premiada

em 2014 pela promoção da bicicleta

f^ VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO

A autarquia está a traçar uma ciclovia

até Aiamonte

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4a minha vidaINICIATIVA

MONTEPIO PRIMAVERA 2015

PROPRIEDADE

REGRESSARÀ TERRAO PROJETO BOLSA NACIONAL DE TERRAS REÚNE A OFERTA DE PRÉDIOS RÚSTICOS E MISTOS EM TODO O PAÍS. UMA AJUDA ÍMPAR A QUEM PRETENDE DEDICAR-SE À AGRICULTURA OU SILVICULTURA, MAS NÃO DISPÕE DE TERRENO PRÓPRIO

Num inquérito realizado pelo Ministério da Agricultura junto de jovens agricultores as opiniões foram unânimes: havia vontade de trabalhar a terra – encontrá-la é que parecia uma missão impossível. Foi então criada, em dezembro de 2012, a Bolsa Nacional de Terras, um projeto que nasceu para facilitar o acesso a prédios rústicos e mistos, numa plataforma on-line.

por sara raquel silva

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

da informação e celebração do contrato de disponibilização com o proprietário, além da verificação da conformidade do prédio. Os interessados têm apenas de consultar as ofertas e contactar os proprietários, sem necessitarem de in-termediários ou de sair de casa, o que é sobretudo útil a quem pretenda deslo-calizar-se. Os terrenos podem perten-cer ao Estado, às autarquias, entidades públicas ou entidades privadas, embo-ra, no caso da cedência a terceiros ser efetuada parte do Estado, o procedi-mento se concretize, por regra, através de concurso, com ou sem negociação, de modo a garantir transparência total.

Além de facilitar o acesso a proprie-dades, muitas vezes sem qualquer uti-lização, esta iniciativa “contempla in-centivos fiscais como a redução em 75% dos custos associados a atos de regis-to do prédio na conservatória e prevê a redução ou isenção do pagamento do IMI [Imposto Municipal Sobre Imó-veis] rústico”, adianta o coordenador do projeto.

O impulso da necessidadeAngélica Caçador, professora de Edu-cação Física, residente em Ponte de Lima, é um dos exemplos de “regres-so à terra” através de um depositário pertencente a uma autarquia (que em breve se espera vir a integrar a Bolsa Nacional de Terras). Tendo em con-ta a instabilidade profissional procu-rava um projeto paralelo ao ensino e resolveu apostar na agricultura, mais precisamente na produção de peque-nos frutos. “Foi muito difícil encontrar terreno, pois muitos tinham socalcos e não possuíam área suficiente”, recor-da. “Até que ao ter conhecimento desta iniciativa tudo aconteceu rapidamen-te, pois a descrição da propriedade fi-cou logo acessível”. Angélica demorou apenas duas semanas para descobrir dois hectares na freguesia do Freixo, terreno que agora arrenda. Hoje, além de se sentir mais confiante no futuro, garante ainda uma especial satisfação: “Criar postos de trabalho na região”.

Nuno Russo Coordenador da Bolsa Nacional de Terras

P&R

Que novidades estão em carteira?Prevê-se o desenvolvimento de fun-cionalidades da componente da pro-cura de terras no Sistema de Infor-mação – Plataforma Informática da Bolsa de Terras, com vista à facilita-ção e melhoria contínua do acesso às terras por parte dos interessados, visando a maximização do núme-ro de terras cedidas via Bolsa de Terras. Por outro lado, está prevista a troca de experiências com outras Bolsas de Terras europeias, em particular com o Banco de Tierras de Espanha, com o objetivo de troca de experiências e conhecimentos em projetos semelhantes.É também nossa intenção estudar a possibilidade de articulação da Bolsa de Terras com outros siste-mas de informação que contribuam para o aumento de terras na Bolsa, através de iniciativas conjuntas e de colaboração com algumas entidades parceiras da Bolsa Nacional de Terras, incrementando o envolvimento destas e de outras entidades na disponibilização de prédios na Bolsa de Terras. Por fm, pretende-se ainda a integração de um indicador de qualidade associa-do a inquérito junto dos proprietá-rios, interessados e candidatos ao Concurso das Terras do Estado.

Quais as expetativas para 2015?Potenciar o conhecimento da Bolsa de Terras e promover os seus resulta-dos, valorizando a Bolsa de Terras e a sua ampla utilização.

A iniciativa permitiu que, até feve-reiro deste ano, se tenham disponi-bilizado em valores acumulados 352 prédios rústicos para arrendamen-to e venda, totalizando uma área de 14 482 hectares (área equivalente ao município de Albufeira). “O grande objetivo é que este seja o principal re-positório de informação da existên-cia de terras em Portugal com poten-cial produtivo”, afirma Nuno Rus-so, coordenador nacional do projeto. O balanço é positivo e contribui para o sucesso do grande propósito da Bolsa de Terras: “combater o despovoamen-to e o desemprego, através de um in-centivo à fixação de populações e de jo-vens agricultores e contribuindo para uma gestão eficiente da disponibilida-de dos terrenos, valorizando a multi-funcionalidade do território que deve-rá ser encarado como fonte de rique-za ao serviço de um desenvolvimento sustentável”, adianta o responsável.

A plataforma digital é simples: quem detém terrenos disponíveis in-sere-os no portal bolsanacionaldeter-ras.pt, descrevendo a sua dimensão, localização e o tipo de cedência, que pode ser venda, arrendamento ou con-trato campanha. Também pode fa-zê-lo presencialmente junto de uma Entidade Gestora Operacional da zo-na correspondente que, em última ins-tância será responsável pela validação

NOTA: INFORMAÇÃO ATÉ FEVEREIRO DE 2015

53NÚMERO DE PRÉDIOS rústicos cedidos

2 642ÁREA, em hectares, de propriedade cedida

Como a propriedade está a chegar aos utilizadores da plataforma

Os números da “bolsa”DADOS

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

MONTEPIO PRIMAVERA 2015

SE ANTES ERA APENAS UM LOCAL BONITO PARA VISITAR, AGORA É UMA LOCALIDADE QUE MARCA O PASSO NA CRIATIVIDADE. ESTA É A PRIMEIRA VILA LITERÁRIA NO PAÍS E QUER FAZER PARTE DA REDE UNESCO DAS CIDADES CRIATIVAS NA ÁREA DA LITERATURA

É difícil imaginar cavaleiros a galope ao lado das muralhas, dotes de prince-sas nas tradições reais e uma tão lon-gínqua história numa vila de Óbidos ladeada por dois dos maiores expoen-tes da civilização moderna: uma au-toestrada e a linha férrea do Oeste. A verdade é que a famosa Rua Direita parece tirada dos livros de História.Estão lá todos os símbolos da terra que se acredita ter origens em 308 a. C. e que foi tomada aos mouros em 1138. A ginjinha e o chocolate são as estre-las, mas é um Portugal em miniatura que está representado em pouco mais de 200 metros nas tradicionais lojas de souvenirs, na discográfica de Fado ou mesmo nas ementas de alguns dos restaurantes que preenchem a oferta gastronómica da rua.Mas Óbidos é agora muito mais que História e turistas. A vila tem vindo a reposicionar-se, destacando-se pela

por helena c. peraltafotografia câmara municipal de óbidos

… para passear A cidade romana de Eburobrittium, que se acredita tenha sido fundada no século i a. C. , é uma das atrações turísticas a conhecer

? TRADIÇÃO No município, que tem três monumentos nacionais, há sete turistas por ano por cada habitante

sua capacidade de inovação, criativi-dade e, sobretudo, pela programação cultural que oferece. Como graciosa-mente diz Celeste Afonso, vereado-ra da Cultura da Câmara Municipal de Óbidos, “José Saramago escreveu que Óbidos era uma menina bonita à espera de ser chamada para dançar. Agora é ela que se levanta e que cha-ma para a dança.” É neste contexto que surge o proje-to da Vila Literária, uma parceria en-tre a autarquia, a Editora Ler Devagar e a Livraria Bichinho do Conto que en-volve vários espaços. Museus, galerias,

ÓBIDOS

NA VILADOS

LIVROSGPSN 39° 21’ 34.6134”

W 9° 9’ 26.7726”

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

Passado medievalO Mercado Medieval de Óbidos é um dos pontos de interesse e o palco da recriação histórica que se organiza, em julho, há 14 anos. A origem do castelo remonta ao período romano ou aos castros lusitanos, e foi conquistado por D. Afonso Henriques em 1148.

GinjinhaA criação deste licor ancestral data de há muitos séculos, talvez na Ásia, e acredita-se que a sua origem se deva a fins medicinais. As ginjas cultivadas no Oeste, sobretudo no concelho de Óbidos, são consideradas as melhores da Europa.

Ligações úteiscm-obidos.ptvilaliteraria.com facebook.com/vlobidosfacebook.com/mercadobiologicodeobidos

? TRADIÇÃO Com nove

milhões de euros de receitas do

turismo em 2013, Óbidos só fca

atrás de Ourém (Fátima) na

região Centro

09H30 Passear no castelo, muralha e todo o casario.

11H00 Visitar

museus ou galerias.

Três boas sugestões:

Museu Municipal de Óbidos,

Museu Abílio ou Centro

de Design.

16H00 Caminhar na ecovia

na margem da lagoa de Óbidos até às praias.

13H00 Almoçar num dos

muitos restaurantes

da vila. Esplanadas não faltam.

19H00 Terminar o

dia num dos muitos bares

da vila.

ROTEIRO EM

24 HORAS

12H00 Relaxar entre livros. Pode começar na Livraria da Adega e terminar na Livraria Santigo, na Igreja de S. Tiago, junto ao castelo.

17H00Visitar a fábrica de ginja, Frutóbidos, onde fcará a conhecer a história deste licor.

14H30 Dar um salto à lagoa de Óbidos. Pode andar de barco, fazer stand up paddle ou SUP Yoga.

mercado biológico, igreja, antigo edifí-cio dos Correios, tudo está imbuído do novo espírito literário. São milhares e milhares de livros disponíveis (cer-ca de 170 mil títulos), em várias áreas e em diferentes línguas, e muitos de-les não se encontram com facilida-de no mercado livreiro convencional. A ideia embrionária surgiu com a ne-

cessidade urgente de requalificar a igre-ja de S. Tiago, uma construção do sécu-lo xii, tendo-se decidido transformá-la numa majestosa livraria. Mas, porquê ficar apenas por aí? Desafiado a entrar no projeto, José Pinho, responsável pe-la Ler Devagar, editora presente na LX Factory, em Lisboa, sugeriu a criação de uma rede de livrarias que transfor-massem a vila num original espaço de procura literária. Existem já dez locais reconvertidos e o Festival Internacional de Literatura de Óbidos (FOLIO), que acontecerá na segunda metade de outu-bro, é a nova coqueluche da vila.

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4a minha vidaPASSEIOS COM HISTÓRIA

RUÍNAS DE TROIA

HISTÓRIAS DE PEIXE E SAL

SAIBA MAIS RUÍNAS ROMANAS DE TROIATel. 265 499 400 | 939 031 [email protected]

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A PENÍNSULA A QUE HOJE CHAMAMOS TROIA ACOLHEU DURANTE SÉCULOS UM COMPLEXO INDUSTRIAL ROMANO DE SALGA DE PEIXE QUE EXPORTAVA CONSERVAS PARA TODO O IMPÉRIO

por susana torrão fotografia tróia resort

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4a minha vidaXXXXXXXXXXXXX

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Apogeu e morte de um polo industrialA exploração da unidade de salga e conservas de peixe que existiu na então ilha de Ácala – hoje parte da península de Troia – durou entre o segundo quartel do século i e a primeira metade do século v. A produção foi interrompida no fnal do século ii, eventualmente devido a um período de intensa crise económica. As salgas voltaram ao ativo no início do século iii permanecendo em laboração por mais dois séculos. Com o tempo as ruínas foram sendo cobertas de areia, mas nunca totalmente, e permaneceram assim na memória popular e nos registos históricos. São monumento nacional desde 1910.

HISTÓRIA

À chegada às ruínas, ouve-se apenas o vento nos pinheiros, o marulhar das águas da lagoa, o piar de uma ave e talvez o motor de um barco a passar ao longe. Há 2 000 anos, com 25 oficinas de salga a funcionarem e 1 500 pessoas a trabalharem, o ambiente seria muito diferente. Hoje é um local sereno que já fervilhou com a atividade de um dos principais centros de produção conserveira do Império Romano.

A visita começa pelas oficinas de salga. As primeiras organizam-se em torno de um pátio lajeado e, um pouco mais à frente, surgem tanques mais pequenos. Como refere Inês Vaz Pinto, investiga-dora responsável pelas visitas, este tipo de divisão corresponde a fases diferen-tes da exploração. “Houve uma primei-ra fase da produção, entre o século i e o século ii, em que as oficinas funcio-navam num espaço único em torno de um pátio central. Mais tarde, tanto a oficina como o pátio foram divididos em divisões mais pequenas”, explica.Tal como hoje, também na época a sar-dinha era um peixe popular por estas paragens. Os resíduos encontrados no fundo dos tanques revelam que esta era a principal espécie usada nas conser-vas, seguida da cavala e do carapau. Além das conservas de peixe, as salgas também produziam molhos. “Os peixes eram postos em vasilhas, com sal às ca-madas, mel, vinho e ervas aromáticas, ficando a macerar durante dois a quatro meses. O peixe não apodrecia mas ia-se liquefazendo, soltando um molho mui-to fino e apreciado no mundo romano, o garum”, explica Inês Vaz Pinto.

A vida domésticaUm pouco mais à frente ergue-se o edi-fício do mausoléu que acolhia diferen-tes tipos de rituais funerários: crema-ções, em nichos nas paredes, e inuma-ções, no chão. Por trás do mausoléu, uma elevação no terreno já teve diver-sos usos: oficina de salga, lixeira e ce-mitério, uma prova da necessidade de

rentabilização do espaço.O caminho por entre os pinheiros con-duz até à chamada Rua da Princesa, cujo nome advém do facto de ter sido escavada a mando de D. Maria I, ain-da princesa, no século xviii. “As cida-des de Pompeia e Herculano tinham sido descobertas há pouco tempo e a arqueologia estava na moda”, salienta Inês Vaz Pinto. As escavações puseram a descoberto uma casa familiar que, na altura, devia erguer-se em dois andares e onde uma placa com o nome Lucius Cornelius Bocchus pode indicar uma ligação das salgas a uma das famílias mais importantes de Alcácer do Sal. O terreno ondula suavemente até à água, sendo a forma das dunas revela-dora dos muitos edifícios que ainda se escondem sob a areia. De volta à entrada é ainda possível ver as termas, onde a fornalha, o poço de captação, o frigidarium (parte dos ba-nhos frios) e o caldarium (zona aque-cida) são perfeitamente identificáveis.

Locais de cultoA visita guiada inclui ainda a basílica paleocristã do século iv e v. Como o edifício não está ainda totalmente re-cuperado e beneficiado, só nas visitas marcadas é possível apreciar os frescos que decoram as paredes, bem como as chamadas sepulturas de mesa. Mesmo depois do fecho das salgas o local permaneceu habitado até ao século VI. Não se sabe ao certo o que levou ao abandono do local, mas um ditado popular de Setúbal pode dar algumas pistas que remetem para o degradar das condições naturais. Diz o povo: “Grande peixe é a baleia que no mar se criou, 30 dias choveu areia quando Troia se arrasou.”

Condições especiais^ Isenção de pagamento de entrada

nas ruínas romanas;

^ 10% nas viagens realizadas nos ferry boats da Atlantic Ferries (na tarifa “viaturas Classe A”).

Mais informações em montepio.pt/vantagens-associado

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

a minha vidaCRÓNICA

Samuel levantou-se mais cedo, como todas as sextas-feiras. Arranjou-se com esmero. Às sextas-feiras encontra-se

com dois amigos para, no Jardim da Estrela, fazer uma partida de cartas, numa mesa de pedra, reservada para isso. São quatro jogadores eméritos e a sua fama alargou-se para outros bairros,

fazendo reunir uma pequena multidão em trono da mesa.

Samuel tem este nome em homenagem a um miúdo judeu, do gueto de Varsóvia, celebriza-do numa fotografia quando mostra, no braço esquelético, o número de prisioneiro. O pai de Samuel impressionou-se de tal forma com a fotografia do miúdo judeu, assustado e desampa-rado, que baptizou o filho com o nome do outro.

Samuel gosta muito do nome e de contar as origens dele. E conseguiu, numa antiga ima-gem de revista, obter a foto do miúdo, recortá--la e colocá-la numa moldura que ainda tem. O jogo de bisca dos nove mantém-se há um ror de anos. Dos seus outros parceiros dois foram, como ele tipógrafos, um trabalhou numa fábri-ca de estampagem e o quarto era cangalheiro.

Antes do jogo, almoçam os quatro numa ta-berna de galegos, como eles velhos, ali para Alcântara. Quase sempre é um cozido à portu-guesa, vinho tinto e, no final, uma bagaceira. Conversam ainda um bocado e, depois, a pé, “para esmoer”, como dizem, dirigem-se para o Jardim da Estrela, onde já os espera um grupo de espectadores. Gostam do convívio semanal e de ter mirones a observá-los.

Samuel põe gravata, penteia-se cuidado-samente e passa um pano de feltro pelos sa-patos. Quando o tempo está ruim e amea-

ça chuva, usa chapéu castanho e gabardina. Coloca o chapéu levemente inclinado para a es-querda, olha para o retrato da mulher, que mor-reu há pouco tempo, manda-lhe um beijo com os dedos, e lá vai ele.

Gosta muito de caminhar, embora já sinta certa dificuldade com um problema de circu-lação nas pernas. Porém não desiste. Pára al-gumas vezes, para descansar, até à paragem do eléctrico que fica perto da taberna dos ga-legos velhos.

Os largos e as ruas, agora, estão pratica-mente vazios de miúdos. Apreciava vê-los, a jogar à bola e em outras brincadeiras. Explica-ram-lhe que os tempos são outros, como se ele o não soubesse, e os miúdos ficam mais tempo nas escolas, porque as mães trabalham fora, ou estão com tablets, nas casas de uns e de outros, a fazer jogos ou a ver filmes sob a vigilância distraída das avós.

Tem três filhos, dois no Canadá e um em Angola. Raramente lhe escrevem, e a saudade vai esmaecendo-se. Tem pena que isso aconte-ça, mas a vida tem destas ciladas.

NOTA: O autor continua a escrever segundo a chamada norma antiga.

BAPTISTA-BASTOS

SAMUEL, DIAS

VULGARES

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MONTEPIO PRIMAVERA 2014

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

a minha vidaTESTEMUNHO

Qual a figura histórica com quem mais se identifica? Identifcar não, mas ambicionar identifcar-me: Inácio de Loyola.Qual o seu maior medo?Fantasmas. Qual a sua ideia de felicidade perfeita?A felicidade de uma ideia feita.

MIGUEL ARAÚJOForam Os Azeitonas que revelaram o talento de Miguel Araújo, mas as composições do artista portuense são hoje cantadas por outros músicos portugueses, como António Zambujo e Ana Moura. No seu trajeto musical, o autor do single “Os Maridos das Outras” do álbum Cinco Dias e Meio, o primeiro em nome próprio, conta com parcerias com Nuno Markl e João Só. O ano de 2014 foi a consagração e levou-o aos palcos do país com o apoio do Montepio.

perguntas a...

Esta entrevista foi realizada seguindo

as premissas do famoso Questionário de Proust,

que pretende refletir a personalidade do

entrevistado. O nome e popularidade deste

questionário estão relacionados com as respostas

dadas pelo escritor francês Marcel Proust.

Qual o seu maior feito?Cantar em público. Se morresse e ressuscitasse como uma pessoa ou animal, qual escolheria ser?Não quereria nada disso, queria ir diretamente para Além.Quem são os seus heróis na vida real?Jesus e os apóstolos.

O que aprecia mais nos seus amigos e família?A companhia. Se pudesse mudar algo em si, o que seria?O sistema respiratório. Qual o seu realizador favorito?Não sou fã de cinema.Qual o seu músico favorito?Chico Buarque.

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NOTÍCIAS INSTITUCIONAIS, INICIATIVAS,

PROJETOS E COMUNICADOS

O MEU MONTEPIO

página 85

INICIATIVASaiba como vai ser a 3ª edição da Corrida Montepio. Não deixe de participar num evento que junta a solidariedade a um estilo de vida saudável

página 88

AGENDANão perca todas as atividades e iniciativas que desenvolvemos este trimestre para os associados Montepio

página 84

VOLUNTARIADOOs colaboradores Montepio fazem a diferença. O dia 15 de maio marcou a agenda do Grupo e, mais uma vez, a solidariedade chegou a todo o país

página 86

DESCONTOSInvista em si e na sua família com os descontos e benefícios para associados. Destaque para um passatempo Repsol que pode levá-lo a viajar

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

5o meu montepioSOLIDARIEDADE

Um mar de solidariedade inundou Portugal. E foi o Montepio que trouxe essa força. No dia 15 de maio, 400 co-laboradores demonstraram o seu em-penho na concretização dos valores de solidariedade e entreajuda, numa ação de voluntariado corporativo sem precedentes, uma das maiores realiza-das em Portugal. Pela primeira vez na história das ações de voluntariado do Montepio estiveram envolvidas as regiões do Alentejo, Açores e Madei-ra, num dia que ajudou a melhorar o futuro de 23 instituições de dimensão social, ambiental, cultural e ecológica. Marcaram presença os administrado-res Pedro Almeida Ribeiro e Carlos Beato, demonstrando que o volunta-riado e o dever de cidadania são prer-rogativas transversais a todo o Grupo Montepio. Paula Guimarães, direto-ra do Gabinete de Responsabilidade Social da Instituição, reiterou que “o

Montepio tem como objetivo sensibi-lizar, valorizar e incentivar as práti-cas de voluntariado e contribuir para a coesão social e disseminação da so-lidariedade pela comunidade.” A res-ponsável refere que esta é uma das 60 ações levadas a cabo durante o ano pe-los cerca de 1 300 voluntários do Gru-po, representando 38% dos colabora-dores no ativo e incluindo ainda co-laboradores aposentados, promotores comerciais e colaboradores de empre-sas que integram a cadeia de valor do Grupo.

Carlos Beato, presente numa ação na Mata da Machada, no distrito de Setúbal, referiu que “no Montepio, as palavras são iguais às atitudes e esta é a prova que somos fortes e coesos, que sabemos o que queremos e para onde vamos. É a prova que acredita-mos que, juntos, faremos sempre mais e faremos sempre melhor”.

Administrador da Associação Mutualista Montepio

“É a provaque acreditamos que, juntos, faremos sempre mais e faremos sempre melhor”.

Carlos Beato

DIA DO VOLUNTARIADO

SER SOLIDÁRIOA 15 DE MAIO REALIZOU-SE A TERCEIRA EDIÇÃO DO DIA DO VOLUNTARIADO MONTEPIO. A INICIATIVA CONTOU COM 400 COLABORADORES-VOLUNTÁRIOS E INTERVENÇÕES EM 23 INSTITUIÇÕES DO PAÍS, INCLUINDO AS REGIÕES AUTÓNOMAS DA MADEIRA E DOS AÇORES

fotografia luís viegas

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

Instituições que o Montepio apoiouREGIÃO NORTE E GRANDE PORTO^Vila Verde, Habitat for Humanity^Barcelos, Casa da Saúde de São João de Deus^Braga, Serve the City^Porto, Centro Social da Sé Catedral do Porto^Gaia, Parque Biológico de Gaia^Porto, Sociedade Protetora dos Animais^Porto, Serve the City (2 ações)

REGIÃO CENTRO^Guarda, Associação Cultural Social Freguesia de Panóias^Buçaco, Mata da Buçaco

REGIÃO LISBOA E GRANDE LISBOA^Sintra, Casa de Saúde do Telhal^Sintra, CERCITOP^Mafra, Patas Felizes^Cascais / Sintra, Cascais Ambiente^Lisboa, Serve the City^Sintra, CECD^Sintra, Associação Korin

REGIÃO SUL^Évora, CerciDiana^Coina, Mata da Machada^Setúbal, O Cantinho da Milú^Monte das Pitas, Centro de Lazer Montepio

REGIÕES AUTÓNOMAS DA MADEIRA E DOS AÇORES^Funchal, Casa do Voluntariado^São Miguel, Lar Mãe de Deus

BENEFICIÁRIOS

Depois de uma participação recorde superior a 10 mil pessoas na última edição, 25 de outubro é o dia mar-cado para a 3.a Corrida Montepio. Todos estão convidados a partici-par nesta celebração da solidarie-dade, do bem-estar e da vida saudá-vel. Estarão disponíveis dois percur-sos: corrida (10 km) e caminhada (5 km). Ambos terão partida na Pra-ça D. Pedro IV (Rossio) e a linha da meta na Praça do Comércio. No ca-so da prova de meio-fundo, o percur-so vai conduzir os atletas para junto do Centro de Congressos de Lisboa para depois retornarem pela Avenida 24 de Julho até à meta. Os participan-tes na caminhada vão ter pela fren-te um percurso que vai levá-los até à Estação de Santa Apolónia e de volta até à Praça do Comércio. As crianças também vão poder participar em pro-vas por escalão etário e em atividades lúdicas com a marca Clube Pelicas.

O valor da inscrição de cada partici-pante na 3.a Corrida Montepio reverte

No próximo dia 25 de outubro, Dia Nacional do Mutualismo, milhares de portugueses vão fazer da baixa pombalina uma pista solidária, na 3.a Corrida Montepio. Reserve já o seu lugar.

3.a Corrida Montepio

^ CORRER POR UMA CAUSAO Montepio faz do exercício um convite à solidariedade

para a Liga Portuguesa Contra o Can-cro, transformando este evento numa importante ação de solidariedade na-cional. O ano passado foram reunidos 55 mil euros aplicados no apoio a crian-ças com necessidades. Contribua com a sua presença para um futuro melhor.

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

DESCONTOSE BENEFÍCIOS PARA ASSOCIADOSDESCUBRA MAIS VANTAGENS EM SER ASSOCIADO/A MONTEPIO

DanefísioFISIOTERAPIA AO DOMICÍLIOA Danefísio oferece 20% de desconto nos serviços de consultas de fsioterapia, tratamentos de fsioterapia e tratamentos de terapia da fala. Estes descontos são aplicáveis na clínica e ao domicílio.Ribeira GrandeTel. 296 701 786

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Incentivos ao Ensino UNIVERSIDADE EUROPEIAOferta para associados com seis meses de vida associativa ou mais, a ser aplicada e fracionada no pagamento das mensalidades, liquidadas por débito direto, referentes aos seguintes montantes anuais: licenciaturas globais, 750€; licenciaturas, 450€; licenciaturas pós-laborais, 350€; mestrados, 550€; mestrados pré-Bolonha, 450€; mestrados internacionais, 850€; Executive Masters-A ou Executive Masters-B, desconto de 20%; pós- -graduações, desconto anual de 5%.www.europeia.pt

GlassdriveEmpresa especialista em vidro automóvel, com uma rede de 130 centros Glassdrive, no continente e ilha da Madeira, oferece 20% de desconto nos serviços de substituição e reparação de vidro, em viaturas ligeiras e que não possuam QIV (Seguro de Quebra Isolada de Vidros). Oferta do produto Aquacontrol na substituição/montagem de parabrisas. Se a substituição/montagem de um parabrisas estiver coberta com QIV é concedido 20% de desconto na aplicação do produto Aquacontrol. Tel. 808 246 246 www.glassdrive.pt

AgiledlusaILUMINAÇÃO LEDA iluminação LED é a maior revolução na indústria da iluminação desde a invenção da luz elétrica. Esta tecnologia permite poupar nos consumos e reduzir a produção de calor, a emissão de CO2 e a quantidade de material de difícil reciclagem. Como principais benefícios destaca-se a garantia de 2 a 5 anos destes produtos, uma poupança de energia superior a 80%, um ciclo de vida útil entre 30 000 e 50 000 horas, uma elevada efciência (superior aos 80 Lm/W) e um feixe de 360° para as lâmpadas esféricas e de chama. O desconto de 15% é relativo aos produtos comercializados através do site agiledlusa.com Código de acesso para associados Montepio: LED_MG2015Lisboawww.agiledlusa.com

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

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CONSUMO SPALDIN PORTUGALSISTEMAS DE DESCANSOBRAGA

CONSUMO AUTO

GLASSDRIVENACIONAL

CONSUMO ARQUITETURA/

CONSTRUÇÃO/MATERIAIS PROMOTORAPRAIA DA VITÓRIA, ILHA TERCEIRA

FORMAÇÃO FORMAÇÃO/CENTROS

DE ESTUDO GRANDE COLÉGIO DA PÓVOA DE VARZIMPÓVOA DE VARZIM, VILA DO CONDE

SAÚDE CENTRO DE ENFERMAGEM/

REABILITAÇÃO FÍSICA CLINAGUE, LDAÁGUEDA

DANEFISIO FISIOTERAPIA AO DOMICÍLIORIBEIRA GRANDE – ILHA DE SÃO MIGUEL

FISIOKIDS – GABINETE DE FISIOTERAPIA, LDAMAIA, PORTO

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CENTRO MÉDICO GIRASSOLALFRAGIDE, AMADORA

I.P. MEDICINA DENTÁRIAÉVORA

CLINAGUE, LDAÁGUEDA

DENTIGLI – CLÍNICA DENTÁRIA DAS GLICÍNIASAVEIRO

CLÍNICA DENTÁRIA DRª EUNICE SAMAIA, ILHA DA MADEIRA

CLÍNICA MEDICINA DENTÁRIA DENT IN DENTFUNCHAL, ILHA DA MADEIRA

DENTAL COUNCIL, LDA – INSTITUTO CLÍNICO DO BARLAVENTOPORTIMÃO

IMPLANTCLINICLISBOA E PORTO

SIIPEMOR CLÍNICA+SÃO BRÁS DE ALPORTEL

NEUROCOMP – NEUROCIÊNCIAS CLÍNICASLISBOA

SAÚDE EQUIPAMENTO HOSPITALAR

ORTOPEDIA DE PENICHEPENICHE

SAÚDE LABORATÓRIO/CENTROS

DE DIAGNÓSTICO ARTLACBAL, LDACASTRO MARIM, VILA REAL DE STº ANTÓNIO E FARO

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INSTITUTOPTICOABRANTES, ALPIARÇA, BENAVENTE, CARTAXO, CHAMUSCA, GOLEGÃ, RIO MAIOR, SANTARÉM E PORTO DE MÓS

ESPAÇO RENAMOTORES

IPSY’S – INSTITUTO PSICOLOGIA NEUROPSICOLOGIA

IDEAL CLÍNICA – CLÍNICA MÉDICA E DENTÁRIA

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

JULHO

AR LIVREDIA 16 | 1Oh | LISBOA MEGA CIRCUITO DE ARBORISMO, CANOAGEM E MINI-GOLFE

12€ (receção de participantes a partir das 8h00)

AR LIVREDIA 18 | 9h | MONCHIQUE ROTA DA ÁGUA - FONTE SANTA DA MALHADA QUENTE

12,5€ ou 24,5€ (caminhada + almoço)

VISITA ORIENTADADIA 24 | 10h | VILA DO CONDEFÁBRICA A.M.A.R. KAYAKS – NELO

Gratuito

VISITA ORIENTADADIA 25 | 10h | MATOSINHOSVISITA GUIADA TEATRALIZADA – MUSEU DA QUINTA DE SANTIAGO

3€, gratuito até aos 3 anos

VISITA ORIENTADADIA 25 | 17h | PORTOCRUZEIRO DAS 6 PONTES

Gratuito até aos 10 anos, 11,5€ adultos

AR LIVREDIA 26 | 10h | PORTOPASSEIO DE KAYAK

18,5€

AGENDAATIVIDADES EXCLUSIVAS DA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA MONTEPIONÃO PERCA PASSEIOS, ATIVIDADES AO AR LIVRE, CURSOS, VISITAS ORIENTADAS OU WORKSHOPS CRIADOS A PENSAR EM SI E NA SUA FAMÍLIA. MARQUE NA AGENDA, RESERVE O DIA E INSCREVA-SE PARA UMAS HORAS OU UM DIA BEM PASSADOS

25 JULHO

CRUZEIRO DAS 6 PONTES

VISITA ORIENTADADIA 18 | 10h | LISBOALISBOA 1886

Gratuito

PASSEIO COM HISTÓRIADIA 18 | 10h | PORTO“UMA CASCATA E LENDAS DE FRADES E SEREIAS”, COM JOEL CLETO

6,5 € (do Lordelo à Afurada, travessia de barco +1€)

VISITA ORIENTADADIA 18 | 15h | LISBOACONVENTO DOS CARDAES

4€, 3,5€ para maiores de 65 anos, gratuito até aos 10 anos

VISITA ORIENTADADIA 18 | 15h | PENAFIELQUINTA DA AVELEDA

5€ (gratuito até 6 anos, inclusive)

AR LIVREDIA 19 | 10h30 | OLHÃOCRUZEIRO COM ALMOÇO NA RIA FORMOSA

40€

SUNSETDIA 22 E 29 | 18h | TROIASUNSET NAS RUÍNAS DE TROIA

Gratuito 26 JULHO

PASSEIO DE KAYAK

22 E 29 JULHO

SUNSET NAS RUÍNAS

DE TROIA

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

SAIBA MAISwww.montepio.org

Informações e inscriçõesGabinete de Dinamização Associativa

[email protected]. 213 249 230/1

AGOSTO

AR LIVREDIA 15 | 15h | LISBOACRUZEIRO NO TEJO – CAIS DA ROCHA CONDE DE ÓBIDOS

15€, 7,5€ dos 3 aos 12 anos, gratuito até aos 3 anos

PASSEIO COM HISTÓRIADIA 16 | 10h | LISBOAPARQUE EDUARDO VII

Gratuito

VISITA ORIENTADADIA 22 | 10h | VILA NOVA DE FAMALICÃOPARQUE DA DEVESA

Gratuito

VISITA ORIENTADADIA 22 | 14h30 | ÁGUEDAMUSEU NACIONAL FERROVIÁRIO – NÚCLEO DE MACINHATA DO VOUGA

Gratuito < 14 anos, 1€ dos 15 aos 25 anos, 2€ > 25 até 65 anos, 1€ > 65 anos

VISITA ORIENTADADIA 29 | 9h30 | RIO MAIORROTA DE TURISMO SOLIDÁRIO – COOPERATIVA TERRA CHÃ “ROTA DO SAL E DO VENTO”

20,5€

VISITA ORIENTADADIA 30 | 10h30 | MAFRAABRIGO DO BURRO – BURRICADAS

4€

VISITA ORIENTADADIA 30 | 15h | PORTOWORLD OF DISCOVERIES

8€, 6€ dos 4 aos 12 anos, gratuito até aos 3 anos

PASSEIO COM HISTÓRIADIA 1 | 9h | ALBUFEIRAMUSEU E CENTRO HISTÓRICO DE ALBUFEIRA

2,5€

AR LIVREDIA 1 | 10h | ILHA TERCEIRA VISITA AO NAVIO-ESCOLA SAGRES – PRAIA DA VITÓRIA

Gratuito

VISITA ORIENTADADIA 1 | 16h | SAGRESFAROL DO CABO DE S. VICENTE

Gratuito

VISITA ORIENTADADIA 2 | 9h | SILVES CASTELO DE SILVES E MUSEU

7,5€ VISITA ORIENTADADIA 6 | 15h | ALMADASANTUÁRIO E CRISTO REI

3,5€, gratuito < 7 anos, 2,5€ dos 8 aos 13 anos

AR LIVREDIA 8 | 9h | SERRA DE MONCHIQUEROTA DA FONTE SANTA – FORNALHA, ALFERCE

12,5€ ou 24,5€ (caminhada + almoço)

PASSEIO COM HISTÓRIADIA 8 | 10h | MATOSINHOS“FRANCISCANOS, PIRATAS E NAZIS”, COM JOEL CLETO. DA BOA NOVA À MEMÓRIA PELOS PASSADIÇOS

6,5€

WORKSHOP DIA 8 | 10h | VIDAGOINICIAÇÃO AO GOLFE

Gratuito

VISITA ORIENTADADIA 8 | 16h | MONTALEGRE/PISÕESBARRAGEM DO ALTO RABAGÃO

Gratuito

VISITA ORIENTADADIA 8 | 15h | PORTO TORRE DOS CLÉRIGOS – (VISITA GUIADA À TORRE + EDIFÍCIO)

3€

AR LIVREDIA 9 | 10h | COMPORTAPASSEIO DE KAYAK NA VALA REAL

8€

VISITA ORIENTADADIA 14 | 15h | LISBOAGALERIA SUBTERRÂNEA – CASA DO REGISTO/SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA (1 600 M)

5€ adultos, 2,5€ estudantes, gratuito até aos 12 anos

VISITA ORIENTADADIA 15 | 10H30 |ÁGUAS DE MOURACAVES ERMELINDA FREITASVISITA ÀS INSTALAÇÕES MAIS PROVA DE VINHOS

Gratuito

VISITA AO SANTUÁRIO

E CRISTO REI

6 AGOSTO

16 AGOSTO

PASSEIO COM HISTÓRIA NO PARQUE EDUARDO VII

8 AGOSTO

WORKSHOP DE INICIAÇÃO AO GOLFE

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MONTEPIO PRIMAVERA 2015

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PORTOAo longo destes dois meses, o espaço de exposições do Porto acolhe os trabalhos de Pintura dos alunos da Academia Intergeracional Rutis – atmosfera m. Uma seleção de obras dos 15 alunos e professores das duas turmas de 2014/2015.

LISBOA A Sociedade Portuguesa de Autores promove uma homenagem ao artista plástico e cenógrafo António Casimiro, numa retrospetiva com obras do autor; inclui desenhos e esboços de cenários para televisão, cinema e teatro. Pinturas e alguns documentos pessoais completam esta mostra.

FORMAÇÃO

Aprender sem idadeEm setembro regressa a Academia Intergeracional, em parceria com a RUTIS, no Porto e em Lisboa. Disciplinas como Envelhecimento Ativo, Alimentação, Yoga, Informática, Línguas, vão fazer parte da proposta para o ano letivo 2015/2016.Inscreva-se através dos e-mails: [email protected] e [email protected]

PORTO/LISBOA PERMANENTE: BOOKCROSSINGDesde o dia em que se celebrou o aniversário deste projeto internacional – 23 de abril – os espaços atmosfera m Porto e Lisboa passaram a ser pontos oficiais de troca de livros; várias dezenas de exemplares já viajaram pelas mãos dos nossos visitantes, encontrando novos destinos.

TOASTMASTERS CLUBO Clube internacional de Comunicação e Formação de Líderes escolheu os espaços atmosfera m para abrir, respetivamente, o Invicta Toastmasters Club e Leadership Toastmasters Club. Todos estão convidados a entrar, pensar e… comunicar!

FINS DE SEMANAAo sábado há sempre uma atividade a pensar nos mais novos: escrita criativa, ilustração, filosofia, teatro, filmes ou oficinas de brinquedos e xadrez prenchem já as agendas dos visitantes mais jovens.

JULHO E AGOSTO

UM ESPAÇO PARA PENSAR E AGIR

AGENDA

ESPERAMOS POR SI

PORTO | Rua Júlio Dinis, n.° 158/160 | contactos T.: 220 004 270 e-mail [email protected] | horário Segunda-feira a sábado, das 9h30 às 19h30 (Biblioteca das 13h00 às 19h00) | Encerrado aos domingos e feriados

LISBOA | Rua Castilho, n.° 5 | contactos T.: 210 002 730 e-mail [email protected] | horário Segunda-feira a sexta, das 9h00 às 19h00 | Sábados, das 11h00 às 17h00 | Encerrado aos domingos e feriados

Horário de agosto Segunda-feira a sexta, das 9h00 às 17h00

Mais informações

sobre as atividades dos atmostera m

emwww.montepio.pt/

atmosferam

COM UMA AGENDA DINÂMICA, O ATMOSFERA M, AGORA TAMBÉM EM LISBOA, CONTINUA A APOSTAR EM EVENTOS CULTURAIS, FORMAÇÃO E TERTÚLIAS, DINAMIZANDO UM ESPAÇO DE CIDADANIA E CULTURA CONCEBIDO PARA USUFRUTO DOS ASSOCIADOS MONTEPIO, RESPETIVAS FAMÍLIAS E TODA A COMUNIDADE

As atividades permanentes de que os associados Montepio poderão usufruir são: f BookCrossing f Clube de leitura f Formações e cursos livres f Atividades do Clube Pelicas

FINS DE SEMANA PAIS E FILHOSf Hora do Conto f Ofcinas de escrita criativa f FilhoSofa f Atelier de ilustração infantil f Filminhos à solta pelo País

Sabia que...

^ ANTÓNIO CASIMIRO é o artista em destaque, nos meses de julho e agosto, no espaço de Lisboa

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