3ª GERAÇÃO ROMÂNTICA

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3ª GERAÇÃO ROMÂNTICA - POESIA SOCIAL No Brasil, a primeira fase do movimento romântico tem como pano de fundo o processo de Independência. Por isso, os escritores desse período estão preocupados com a construção da identidade nacional. Depois, na segunda fase, os escritores deixam de lado o discurso nacionalista e se voltam para as profundezas do indivíduo. Mas, na terceira fase do movimento romântico, o Brasil já se encontra em outro contexto social e histórico. É o momento em que os republicanos querem acabar com a monarquia e o movimento abolicionista ganha força entre os intelectuais. Por isso, a terceira fase do Romantismo também é conhecida como geração condoreira, pois o condor é uma ave que, voando muito alto, representa o desejo de renovação da sociedade brasileira. Na verdade, a terceira geração romântica questiona a ideologia da primeira geração. É que os escritores da primeira fase do nosso Romantismo, como José de Alencar, representam o povo brasileiro como resultado da união de duas etnias: o branco europeu e o índio – mas deixa o negro de fora desse projeto nacionalista-literário. Afinal, numa sociedade escravocrata, transformar o negro em herói seria uma grande contradição. Logo, podemos pensar que a terceira geração, ao recuperar o negro como personagem da nossa cultura, possibilita uma resposta a essa lacuna. CASTRO ALVES (1847 -1871) O maior representante da terceira geração do Romantismo no Brasil é o poeta baiano Castro Alves, diretamente envolvido na campanha abolicionista, um dos temas centrais de sua obra, o que lhe rendeu o título de “Poeta dos Escravos”. Como o objetivo é sensibilizar os outros sobre as questões sociais de seu tempo, a poesia de Castro Alves foi feita para ser recitada para grandes públicos, por isso adota um estilo condoreiro, de vocabulário pomposo e tom grandiloquente. Já falta bem pouco. Sacode a cadeia Que chamam riquezas...que nódoas te são! Não manches a folha de tua epopeia No sangue o escavo, no imundo balcão. Nesses versos, do poema América, perceba que o eu lírico continua exaltando a pátria, como faziam os escritores da primeira geração. Porém, o ele também faz uma crítica à escravidão, entendida como uma “mancha” na história do Brasil. A obra de Castro Alves não se limita apenas à questão do negro no Brasil. Também merece destaque sua lírica amorosa, em que aborda o amor de uma maneira diferente dos seus contemporâneos. O seio virginal, que a mão recata, Embalde o prende a mão...cresce, flutua... Sonha a moça ao relento...Além na rua Preludia um violão na serenata!.... ...Furtivos passos morrem no lajedo... Resvala a escada do balcão discreta... Matam os lábios os beijos em segredo... De um modo geral, tanto na poesia como na prosa, o amor e a mulher são idealizados pelo Romantismo. Mas, nesses versos de Castro Alves, perceba que a figura feminina já não é tão inacessível assim e o sofrimento amoroso, em vez de levar o eu lírico a desejar a morte, faz com que ele deseje ardentemente viver esse amor. Logo, temos uma poesia que fala do amor de maneira mais concreta e sensual. Leia o texto que segue, a parte IV de O navio negreiro para responder à questão. Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar... Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs! E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... Presa nos elos de uma só cadeia,

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Atividade sobre a 3ª fase do Romantismo brasileiro.

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3ª GERAÇÃO ROMÂNTICA - POESIA SOCIALNo Brasil, a primeira fase do movimento romântico tem como pano de fundo o processo de Independência. Por isso, os escritores desse período estão preocupados com a construção da identidade nacional. Depois, na segunda fase, os escritores deixam de lado o discurso nacionalista e se voltam para as profundezas do indivíduo. Mas, na terceira fase do movimento romântico, o Brasil já se encontra em outro contexto social e histórico. É o momento em que os republicanos querem acabar com a monarquia e o movimento abolicionista ganha força entre os intelectuais. Por isso, a terceira fase do Romantismo também é conhecida como geração condoreira, pois o condor é uma ave que, voando muito alto, representa o desejo de renovação da sociedade brasileira. Na verdade, a terceira geração romântica questiona a ideologia da primeira geração. É que os escritores da primeira fase do nosso Romantismo, como José de Alencar, representam o povo brasileiro como resultado da união de duas etnias: o branco europeu e o índio – mas deixa o negro de fora desse projeto nacionalista-literário. Afinal, numa sociedade escravocrata, transformar o negro em herói seria uma grande contradição.Logo, podemos pensar que a terceira geração, ao recuperar o negro como personagem da nossa cultura, possibilita uma resposta a essa lacuna.CASTRO ALVES (1847 -1871)O maior representante da terceira geração do Romantismo no Brasil é o poeta baiano Castro Alves, diretamente envolvido na campanha abolicionista, um dos temas centrais de sua obra, o que lhe rendeu o título de “Poeta dos Escravos”. Como o objetivo é sensibilizar os outros sobre as questões sociais de seu tempo, a poesia de Castro Alves foi feita para ser recitada para grandes públicos, por isso adota um estilo condoreiro, de vocabulário pomposo e tom grandiloquente.

Já falta bem pouco. Sacode a cadeiaQue chamam riquezas...que nódoas te são!Não manches a folha de tua epopeiaNo sangue o escavo, no imundo balcão.

Nesses versos, do poema América, perceba que o eu lírico continua exaltando a pátria, como faziam os escritores da primeira geração. Porém, o ele também faz uma crítica à escravidão, entendida como uma “mancha” na história do Brasil.A obra de Castro Alves não se limita apenas à questão do negro no Brasil. Também merece destaque sua lírica amorosa, em que aborda o amor de uma maneira diferente dos seus contemporâneos. O seio virginal, que a mão recata,Embalde o prende a mão...cresce, flutua...Sonha a moça ao relento...Além na ruaPreludia um violão na serenata!.......Furtivos passos morrem no lajedo...Resvala a escada do balcão discreta...Matam os lábios os beijos em segredo...De um modo geral, tanto na poesia como na prosa, o amor e a mulher são idealizados pelo Romantismo. Mas, nesses versos de Castro Alves, perceba que a figura feminina já não é tão inacessível assim e o sofrimento amoroso, em vez

de levar o eu lírico a desejar a morte, faz com que ele deseje ardentemente viver esse amor. Logo, temos uma poesia que fala do amor de maneira mais concreta e sensual.Leia o texto que segue, a parte IV de O navio negreiro para responder à questão.Era um sonho dantesco... o tombadilhoQue das luzernas avermelha o brilho.Em sangue a se banhar.Tinir de ferros... estalar de açoite...Legiões de homens negros como a noite,Horrendos a dançar...Negras mulheres, suspendendo às tetasMagras crianças, cujas bocas pretasRega o sangue das mães:Outras moças, mas nuas e espantadas,No turbilhão de espectros arrastadas,Em ânsia e mágoa vãs!E ri-se a orquestra irônica, estridente...E da ronda fantástica a serpenteFaz doudas espirais ...Se o velho arqueja, se no chão resvala,Ouvem-se gritos... o chicote estala.E voam mais e mais...Presa nos elos de uma só cadeia,A multidão faminta cambaleia,E chora e dança ali!Um de raiva delira, outro enlouquece,Outro, que martírios embrutece,Cantando, geme e ri!No entanto o capitão manda a manobra,E após fitando o céu que se desdobra,Tão puro sobre o mar,Diz do fumo entre os densos nevoeiros:"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!Fazei-os mais dançar!..."E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .E da ronda fantástica a serpenteFaz doudas espirais...Qual um sonho dantesco as sombras voam!...Gritos, ais, maldições, preces ressoam!E ri-se Satanás!...(In: Espumas flutuantes, Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s.d. p. 184-5.)Sobre o poema O navio negreiro, é correto afirmar:I. Junto de Vozes d'África, o poema épico-dramático O navio negreiro integra a obra Os escravos e vem a ser uma das principais realizações poéticas de Castro Alves;II. O poema O navio negreiro apresenta uma finalidade estética voltada para a exacerbação romântica, cuja linguagem é pouco expressiva e voltada para a objetividade.III. Apresenta uma finalidade política e social evidente: a erradicação da escravidão no Brasil.IV. Faz uma recriação poética das cenas dramáticas do transporte de escravos no porão dos navios negreiros.V. Os versos apresentam referências a costumes e crenças das tribos indígenas brasileiras, expressando um nacionalismo guerreiro e primitivo.a) I, II e III estão corretas.b) II e V estão corretas.c) I, III e IV estão corretas.d) Todas as alternativas estão corretas.

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e) I, III e V estão corretas.