3º ano c wesley

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 Carlos Drummond de Andrade Não passou Passou? Minúsculas eternidades deglutidas por mínimos relógios ressoam na mente cavernosa. Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz. A mão- a tua mão, nossas mãos- rugosas, têm o antigo calor de quando éramos vivos. Éramos? Hoje somos mais vivos do que nunca. Mentira, estarmos sós. Nada, que eu sinta, passa realmente. É tudo ilusão de ter passado.  

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Carlos Drummond de AndradeN ã o p a s s o u

Passou?

Minúsculas eternidades

deglutidas por mínimos relógios

ressoam na mente cavernosa.

Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.

A mão­ a tua mão, nossas mãos­

rugosas, têm o antigo calor

de quando éramos vivos. Éramos?

Hoje somos mais vivos do que nunca.

Mentira, estarmos sós.

Nada, que eu sinta, passa realmente.

É tudo ilusão de ter passado.

 

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Biografia

Nasceu  em  Minas  Gerais,  em  uma  cidade  cuja  memória  viria  a permear  parte  de  sua  obra,  Itabira.  Posteriormente,  foi  estudar  em Belo Horizonte e Nova Friburgo com os Jesuítas no Colégio Anchieta. Formado  em  farmácia,  com  Emílio  Moura  e  outros  companheiros, fundou "A Revista", para divulgar o modernismo no Brasil. No mesmo ano em que publica a primeira obra poética, "Alguma poesia" (1930), o seu  poema  Sentimental  é  declamado  na  conferência  "Poesia Moderníssima  do  Brasil",  feita  no  curso  de  férias  da  Faculdade  de Letras de Coimbra, pelo professor da Cadeira de Estudos Brasileiros, Dr.  Manoel  de  Souza  Pinto,  no  contexto  da  política  de  difusão  da literatura  brasileira  nas  Universidades  Portuguesas.  Durante  a  maior parte  da  vida,  Drummond  foi  funcionário  público,  embora  tenha começado  a  escrever  cedo  e  prosseguindo  até  seu  falecimento,  que se  deu  em  1987  no  Rio  de  Janeiro,  doze  dias  após  a  morte  de  sua única  filha,  a  escritora  Maria  Julieta  Drummond  de  Andrade.[1]  Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crônicas.

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A poesia de DrummondQuando se diz que Drummond foi o primeiro grande poeta a se afirmar depois das estreias modernistas, não se está querendo dizer que Drummond seja um modernista. De fato herda a liberdade linguística, o verso livre, o metro livre, as temáticas cotidianas. Mas vai além. "A obra de Drummond alcança — como Fernando Pessoa ou Jorge de Lima, Herberto Helder ou Murilo Mendes — um coeficiente de solidão, que o desprende do próprio solo da História, levando o leitor a uma atitude livre de referências, ou de marcas ideológicas, ou prospectivas", afirma Alfredo Bosi (1994).

“Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva­nos de descobrir coisas interessantes.”

Carlos Drummond Andrade

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Murilo Mendes

SOLIDARIEDADE

Sou ligado pela herança do espírito e do sangue 

Ao mártir, ao assassino, ao anarquista.

Sou ligado

Aos casais na terra e no ar,

Ao vendeiro da esquina,

Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida,

Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,

Ao santo e ao demônio,

Construídos à minha imagem e semelhança

Murilo Mendes

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Murilo MendesBiografia

Médico, telegrafista, auxiliar de contabilidade, notário e Inspetor do Ensino Secundário do Distrito Federal. Foi escrivão da quarta Vara de Família do Distrito Federal, em 1946. De 1953 a 1955 percorreu diversos países da Europa, divulgando, em conferências, a cultura brasileira. Em 1957 se estabeleceu em Roma, onde lecionou Literatura Brasileira. Manteve­se fiel às imagens mineiras, mesclando­as às da Sicília e Espanha, carregadas de história.

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Poemas de Murilo Mendes

 A mãe do primeiro filho

Carmem fica matutando

no seu corpo já passado.

— Até à volta, meu seio

De mil novecentos e doze.

Adeus, minha perna linda

De mil novecentos e quinze.

Quando eu estava no colégio

Meu corpo era bem diferente.

Quando acabei o namoro

Meu corpo era bem diferente.

Quando um dia me casei

Meu corpo era bem diferente.

Nunca mais eu hei de ver

Meus quadris do ano passado…

A tarde já madurou

E Carmem fica pensando.

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Ao Aleijadinho 

Pálida a lua sob o pálio avança 

Das estrelas de uma perdida infância. 

Fatigados caminhos refazemos 

Da outrora máquina da mineração. 

É nossa própria forma, o frio molde 

Que maduros tentamos atingir, 

Volvendo à laje, à pedra de olhos facetados, 

Sem crispação, matéria já domada, 

O exemplo recebendo que ofereces 

Pelo martírio teu enfim transposto, 

Severo, machucado e rude Aleijadinho 

Que te encerras na tenda com tua Bíblia, 

Suplicando ao Senhor – infinito e esculpido – 

Que sobre ti descanse os seus divinos pés.

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Guernica 

Subsiste, Guernica, o exemplo macho,

Subsiste para sempre a honra castiça,

A jovem e antiga tradição do carvalho

Que descerra o pálio de diamante.

A força do teu coração desencadeado

Contatou os subterrâneos de Espanha.

E o mundo da lucidez a recebeu:

O ar voa incorporando­se teu nome.

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Jorge de Lima

Biografia

Era filho de um comerciante rico e mudou­se para Maceió em 1902, com a mãe e os irmãos. Em 1909 foi morar em Salvador onde iniciou os estudos de medicina. Concluiu o curso no Rio de Janeiro em 1914, mas foi como poeta que projetou seu nome. Neste mesmo ano publicou o primeiro livro, XIV Alexandrinos.

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Voltou para Maceió em 1915 onde se dedicou à medicina, além da literatura e da política. Quando se mudou de Alagoas para o Rio, em 1930, montou um consultório na Cinelândia, transformado também em ateliê de pintura e ponto de encontro de intelectuais. Reunia­se lá gente como Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Nesse período publicou aproximadamente dez livros, sendo cinco de poesia. Também exerceu o cargo de deputado estadual, de 1918 a 1922. Com a Revolução de 1930 foi levado a radicar­se definitivamente no Rio de Janeiro.

Em 1939 passou a dedicar­se também às artes plásticas, participando de algumas exposições. Em 1952, publicou seu livro mais importante, o épico Invenção de Orfeu. Em 1953, meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos da América.

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PoesiaA MÃO ENORME

Dentro da noite, da tempestade, 

a nau misteriosa lá vai. 

O tempo passa, a maré cresce, 

O vento uiva. 

A nau misteriosa lá vai. 

Acima dela

que mão é essa maior que o mar? 

Mão de piloto? 

Mão de quem é? 

A nau mergulha, 

o mar é escuro, 

o tempo passa. 

Acima da nau 

a mão enorme 

sangrando está. 

A nau lá vai. 

O mar transborda, 

as terras somem, 

caem estrelas. 

A nau lá vai. 

Acima dela 

a mão eterna 

lá está.

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CANTIGAS 

As cantigas lavam a roupa das lavadeiras. 

As cantigas são tão bonitas, que as lavadeiras ficam tão tristes, tão pensativas! 

As cantigas tangem os bois dos boiadeiros! 

Os bois são morosos, a carga é tão grande! 

O caminho é tão comprido que não tem fim. 

As cantigas são leves ... 

E as cantigas levam os bois, batem a roupa das lavadeiras. 

As almas negras pesam tanto, são 

Tão sujas como a roupa, tão pesadas como os bois ... 

As cantigas são tão boas ... 

Lavam as almas dos pecadores! 

Lavam as almas dos pecadores! 

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ALTA NOITE QUANDO ESCREVEIS                

À senhora Heitor Usai

Alta noite, quando escreveis um poema qualquer 

sem sentirdes o que escreveis que vossa mão não vos pertence mais; 

olhai como parece uma asa que viesse de longe. 

Olhai a luz que de m, 

olhai vossa mão —omento a momento 

sai entre os seus dedos recurvos. 

Olhai a Grande Mão que sobre ela se abate 

e a faz deslizar sobre o papel estreito, 

com o clamor silencioso da sabedoria, 

com a suavidade do Céu 

ou com a dureza do Inferno! 

Se não credes, tocai com a outra mão inativa 

as chagas da Mão que escreve.