4 - L26-A Grande Obra
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LIÇÃO nº 26
TEMA: A Grande Obra
INTRODUÇÃO
A Alquimia é tão antiga como o próprio homem. Encontramo-la
plasmada nos templos sagrados do antigo Egipto e sempre aparece
nos ensinamentos dos iniciados que ao longo da História têm existido.
Pouco a pouco temos de compreender que a Alquimia é uma
ciência cem por cento esotérica, que o alquimista não é um homem
metido no meio de tubos de ensaio, provetas e retortas. O alquimista é
um iniciado que, trabalhando no seu próprio laboratório interior, tem
um só objectivo: realizar a “Magnus Opus”, a Grande Obra.
Devemos entender que a Grande Obra é um processo iniciático;
podemos vivê-lo no nosso interior psicológico e espiritual, que
culmina com o Menino de Ouro da Alquimia, a ressurreição do Cristo
interior profundo dentro de nós mesmos, aqui e agora.
O Jesus Cristo interior existe e Jesus Cristo histórico também
existiu. O mérito dele foi ter dado a conhecer a doutrina do Jesus
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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Cristo Íntimo particular de cada um de nós. Esse é o seu mérito. Ele
propagou a doutrina do Cristo íntimo.
A Mãe Divina Kundalini, já fecundada pelo Logos, é a Divina Mãe,
a Divina Concepção com o menino nos seus braços. Esse menino que
desce, faz-se filho da Divina Mãe de cada um, aguardando o instante
de entrar no nosso corpo para começar o processo da Grande Obra.
O Salvador de cada um de nós, o Jesus Cristo interior é o que
conta. O Drama Cósmico é o que tem de viver o nosso Senhor interior,
dentro de nós mesmos, aqui e agora, no trabalho da Grande Obra.
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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A GRANDE OBRA
Vamos estudar e definir o caminho que nos conduzirá à
liberação. Os antigos alquimistas medievais referiam-se à Grande
Obra que, como veremos, é muito importante.
No solo das antigas catedrais
góticas vêem-se frequentemente
vários círculos concêntricos formando
um verdadeiro labirinto que chegava
do centro à periferia e da periferia ao
centro. Muito foi dito sobre os
labirintos. A tradição fala-nos do
labirinto de Creta e do famoso
Minotauro Cretense.
Em Creta encontrou-se recentemente um labirinto, ao qual
chamavam o “Absolin”, ou o “Absolum”, que é, como quem diz
Absoluto. Absoluto é o termo que utilizavam os alquimistas
Medievais para designarem a Pedra Filosofal; eis aqui pois um
grande mistério. Nós necessitamos, como Teseu, do fio de Ariadne
para sairmos daquele labirinto. no centro do qual se encontrava
sempre o Minotauro. Teseu conseguiu vencê-lo. Esta é a tradição
grega. Nós também necessitamos vencê-lo, necessitamos de
Labirinto desenhado na
Catedral de Chartres (França)
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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destruir o Ego animal. Para chegar ao centro do labirinto, onde
está o Minotauro, há que lutar muitíssimo.
Há numerosas teorias, escolas de toda a espécie,
organizações de todo o tipo. Umas dizem que o caminho é por ali,
outras que é por aqui, outras por além e nós temos de orientar-nos
no meio desse grande labirinto de teorias e de conceitos antitéticos,
se quisermos, de verdade, chegar até ao centro onde podemos
achar o Minotauro. Quando se consegue chegar ao centro do
labirinto, é necessário um grande engenho para sair dele. Teseu,
mediante um fio misterioso, o fio de Ariadne, assemelha-se a
Hiram, o Mestre Secreto do qual fala a maçonaria oculta e que
todos devemos ressuscitar dentro de nós aqui e agora. Ariadne
também nos indica a aranha, símbolo da Alma que tece
incessantemente o tear do destino.
Assim pois, devemos reflectir sobre
tudo isto. Mas o que será na
realidade esse fio de Ariadne? Que
fio é esse que salva a Alma, que lhe
permitirá sair desse misterioso
labirinto, para chegar ao seu Real Ser
Interior? Muito se falou sobre este
assunto. Os grandes alquimistas
pensavam que era a Pedra Filosofal e
nós estamos de acordo com isso, mas
vamos um pouco mais longe, de
acordo com as nossas investigações.
A Pedra Filosofal está simbolizada na
Ariadne dá o fio a Teseu
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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Catedral de Notre Dame de Paris por Lúcifer, portanto agora
compreenderemos que a Pedra Filosofal está no próprio sexo.
Então descobrimos no sexo o Lúcifer.
É Lúcifer, portanto o fio de Ariadne, que nos conduzirá até à
liberação. Isto parece antitético e paradoxal, porque todos
conceituaram que Lúcifer é o Diabo, é Satanás, é o Mal.
Necessitamos da auto-reflexão evidente, se quisermos aprofundar no Grande Arcano. Esse Lúcifer que encontramos no sexo é a viva Pedra, cabeça de ângulo, a Pedra Mestra, a Pedra do canto na Catedral de Notre Dame de Paris, a Pedra da Verdade. É indispensável aprofundar um pouco estes mistérios quando se trata de conhecer o fio de Ariadne.
Recordemos os famosos Santuários
Sagrados dos autênticos Rosacruzes
Gnósticos esoteristas da Idade Média.
Quando o neófito era conduzido até ao
centro do templo, levava os olhos
vendados; alguém lhe arrancava
inesperadamente a venda e então, atónito
e perplexo, ele contemplava uma figura
insólita; ali estava ante a sua presença o
Bode de Mendes, uma figura estranha, o
Diabo. Na sua testa luziam os cornos,
sobre a sua cabeça uma tocha de fogo. No
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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entanto, algo indicava que se tratava de um símbolo.
No templo da iniciação encontrava-se perante a figura de
Tifão Bafometo, a tenebrosa figura do Arcano 15 do Tarot. A tocha
ardente brilhava sobre a sua cabeça, e na fronte, a estrela
flamejante das cinco pontas, com o ângulo superior para cima e os
dois ângulos inferiores para baixo; isto indicava-nos que não se
tratava de uma figura tenebrosa. Então ordenava-se ao neófito que
beijasse o traseiro do Diabo; se o neófito desobedecia, punha-se-lhe
outra vez a venda nos olhos e retirava-se por uma porta secreta.
Tudo isto sucedia à meia-noite. Nunca o neófito saberia por onde
havia entrado, nem por onde havia saído, porque os iniciados se
reuniam sempre em segredo, à meia-noite, tendo supremo cuidado
para não serem vítimas da Inquisição. Mas se o neófito obedecia,
então naquele cubo sobre o qual estava assente a figura do
Bafometo, abria-se uma porta e por ali saía uma Ísis que recebia o
iniciado de braços abertos, dando-lhe em seguida um ósculo santo
na testa. A partir desse momento aquele neófito era um novo
irmão Iniciado da Ordem.
Esse bode, esse Tifão Bafometo, é Lúcifer representando a
energia sexual, energia que há que saber utilizar, se é que
queremos realizar a Grande Obra.
Agora ficamos a saber por que motivo Tifão Bafometo, o
Bode de Mendes representa a Pedra Filosofal, o sexo; é com essa
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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força tremenda que há que trabalhar. Recordemos que a Arca da
Aliança dos antigos tempos tinha quatro cornos de bode nas
quatro esquinas, correspondentes aos quatro pontos cardiais da
Terra e, quando era transportada, agarrava-se sempre por esses
quatro cornos.
Moisés, no Sinai, transformou-se e, quando desceu, os
clarividentes viram-no com dois raios de luz na testa, semelhantes
aos do Bode de Mendes. Foi por isso que Miguel Ângelo, ao
cinzelá-lo na pedra viva, lhe pôs na sua cabeça
aqueles simbólicos cornos, é que o bode representa a
força sexual, mas também representa o Diabo, porém
esse Diabo ou Lúcifer é a própria potência de vida,
que devidamente transformada, nos permite a Auto-
Realização Intima do Ser; por isso se disse que
Lúcifer é o Príncipe dos Céus, da Terra e dos
Infernos.
Nas antigas catedrais góticas tudo estava
calculado, até a planta dos templos estava
organizada em forma de cruz e isto recorda-nos a crucis, crux,
crisol, etc., já sabemos que a haste vertical é masculina e a
horizontal é feminina, no cruzamento de ambos encontra-se a
chave de todos os mistérios, o cruzamento de ambos é o crisol dos
alquimistas medievais, no qual há que cozer e recozer e voltar a
cozer a matéria-prima da Grande Obra; essa matéria-prima é o
Esperma Sagrado que, transformado, se converte em energia. É
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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com essa subtilíssima energia que
podemos abrir os chacras,
despertar todos os poderes mágicos
ocultos, criar os Corpos Existenciais
Superiores do Ser, etc. Tudo isto é
muito importante e muito
interessante.
A cruz em si mesma é um
símbolo sexual. Na cruz está o
Lingam-Yoni do Grande Arcano.
Nos dois madeiros atravessados da
cruz estão as marcas dos três cravos; são esses três cravos que
permitem abrir os estigmas do iniciado, ou seja, os chacras das
palmas das mãos e dos pés. Também simbolizam as três
purificações do Cristo, e aqui está outro mistério transcendental.
Definitivamente, realizar a Grande Obra é a única coisa pela qual
vale a pena viver.
Pedro, o amado discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo, tem
como evangelho o Grande Arcano, os mistérios do sexo; por isso é
que Jesus lhe chamou Petrus, Pedra: "Tu és pedra e sobre essa pedra
edificarei a minha Igreja". O sexo é, pois, a Pedra Básica, a Pedra
Cúbica, a Pedra Filosofal que nós devemos trabalhar à base de
cinzel e martelo para a transformarmos em Pedra Cúbica perfeita.
Essa pedra sem cinzelar, a Pedra Bruta em si mesma é Lúcifer; já
cinzelada é o nosso Logoi interior, o Arché dos gregos. O
Planta em cruz da Catedral de
Chartres
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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importante é, pois, cinzelá-la, trabalhar com ela, elaborá-la, dar-lhe
a forma cúbica perfeita.
Entre os discípulos de Cristo há verdadeiros prodígios e
maravilhas. Recordemos por um momento Santiago, esse grande
Mestre. Dizem que era aquele que mais se parecia com o Grande
Kabir Jesus. Chamavam-lhe o irmão do Senhor e é óbvio que
dispunha de grandes poderes psíquicos, mágicos.
Santiago foi o primeiro que, depois da morte do Grande
Kabir, oficiou a Missa Gnóstica em Jerusalém. Contam as tradições
que teve de enfrentar, o mago negro Hermógenes, na Judeia.
Santiago, conhecedor da Alta Magia, combatia sabiamente o
tenebroso. Quando este usava um sudário de maravilhas, aquele
também o usava para se lhe opor. Se Hermógenes usava o bastão
mágico, Santiago usava outro semelhante, até que por fim
derrotou o tenebroso nas terras de Judeia. No entanto, foi
considerado mago e era-o, fora de toda a dúvida.
Foi condenado à pena de morte, mas algo insólito aconteceu.
Segundo contam as lendas: "Deu-se o caso de que o sarcófago de
Santiago se suspendeu no ar e foi transportado à antiga Espanha". Certo
é o que se diz de Santiago de Compostela, que ressuscitou de entre
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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os mortos e que, em terras de Espanha, foi atacado pelos demónios
com figura de touro, por fogo vivo...
Nicolás Flamel o grande alquimista medieval teve Santiago
de Compostela por patrono da Grande Obra (Nicolás Flamel
indubitavelmente obteve a Auto-Realização Íntima do Ser).
No caminho de Santiago de Compostela há uma rua a que
chamam de Santiago, e aí há uma caverna chamada "a Gruta da
Saúde". Pela época em que as pessoas peregrinavam até Santiago
de Compostela, os alquimistas reuniam-se nessa caverna, aqueles
que estavam trabalhando na Grande Obra, aqueles que
admiravam não só Santiago de Compostela, ao qual tinham por
patrono bendito, mas também os seguidores de Jacobo de Morai.
Assim pois, enquanto as pessoas estão rendendo um culto
exotérico a Santiago de Compostela, os alquimistas e cabalistas
estão reunidos em mística assembleia, para estudar a Cabala, a
Alquimia e todos os mistérios da Grande Obra.
Aqui vemos os dois aspectos esotéricos e exotéricos do
cristianismo. Indubitavelmente, tudo isto convida-nos à reflexão.
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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Jacobo de Morai, que foi queimado vivo durante a
Inquisição, é considerado, entre aqueles alquimistas e cabalistas
que se reuniam na Gruta da saúde, da mesma forma que se
considera Hiram Abif, o Mestre secreto que há que ressuscitar em
cada um de nós e Santiago, como o verdadeiro patrono da Grande
Obra. Isto é bastante interessante, pois é a Grande Obra o que nos
interessa realizar e, afirmo com toda segurança, é o único pelo qual
vale a pena viver; o resto não tem a menor importância.
Dizem que o patrono Santiago de Compostela aparece aos peregrinos de chapéu de bico para cima, o seu bastão, no qual reluz o Caduceu de Mercúrio, e uma concha de tartaruga no peito simbolizando a estrela flamígera. É interessante estudarmos a epístola universal de Santiago na Bíblia; é indubitavelmente maravilhosa, está dirigida a todos aqueles que trabalham na Grande Obra.
Diz Santiago que "a Fé sem obras nada vale". Observamos
aqui toda a doutrina do Grande Arcano. Todas as explicações que
damos sobre os alquimistas e sobre a Grande Obra, se não
realizamos a Grande Obra, se não trabalhamos nela, se só temos a
fé e nada mais, nos pareceríamos, como diz Santiago, "ao homem
que olha um espelho, vê o seu rosto reflectido e vira costas e se retira",
esquecendo o incidente.
Se escutarmos todas as explicações sobre a Grande Obra e
não trabalharmos na Forja dos Ciclopes, e não fabricarmos os
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Corpos Existenciais Superiores do Ser, parecer-nos-emos com esse
homem que se olha ao espelho, dá meia volta e se retira.
A fé sem obras de nada vale, é necessário que a obra dê
suporte à fé, a fé deve falar pelas obras. Diz Santiago que
precisamos de ser misericordiosos, é claro, porque se somos
misericordiosos, os Senhores do Karma julgar-nos-ão com
misericórdia, porém se somos desapiedados, os Senhores do
Karma julgar-nos-ão de forma desapiedada e dado que a
misericórdia tem mais poder que a justiça é certo que se formos
misericordiosos poderemos eliminar muio Karma.
Tudo isto nos convida à reflexão. Diz Santiago que temos que aprender a refrear a língua, aquele que sabe refrear a língua, pode refrear todo o corpo e dá-nos o exemplo do cavalo. Ao cavalo põe-se-lhe o freio na boca, no focinho, e é assim que conseguimos dominá-lo, manejá-lo; o mesmo sucede se refreamos a nossa língua, ficamos donos de todo o nosso corpo.
Diz Santiago: "Olhemos os barcos, quão grandes são e no entanto o
que os governa é o leme". Este é realmente muito pequeno em
comparação com o enorme tamanho que têm os navios. A língua é
muito pequena, na verdade, mas que grandes incêndios forma!
Somos ensinados nessa epístola a jamais nos jactarmos do
que quer que seja, aquele que é jactancioso de si mesmo ou das
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suas obras, daquilo que fez, indubitavelmente é soberbo, pedante e
fracassa na Grande Obra. Necessitamos humilhar-nos ante a
Divindade, sermos cada dia mais e mais humildes, se é que
queremos trabalhar com êxito na Grande Obra; jamais presumir de
coisa alguma, sermos simples, sempre, isso é vital quando se quer
triunfar na Grande Obra, na Magnus Opus.
Essa epístola está escrita com um duplo sentido, se a
lêssemos literalmente não a entenderíamos; assim a leram os
protestantes, os adventistas, os católicos e não a entenderam; essa
epístola tem um duplo sentido e está dirigida exclusivamente aos
que trabalham na Grande Obra.
Quanto à fé, é necessário tê-la,
todo o alquimista deve ter fé, todo o
kabalista deve ter fé, porém esta não é
algo empírico, algo que se nos ofereça,
a fé, há que fabricá-la, não podemos
exigir a alguém que tenha fé, há que
fabricá-la, elaborá-la. Como se fabrica?
À base de estudo e de experiência.
Poderia alguém ter Fé disto que
estamos a dizer aqui, se não estudar e
experimentar por si mesmo?
Obviamente que não. Mas conforme formos estudando e
experimentando, vamos compreendendo e dessa compreensão
criadora deriva a fé verdadeira; assim pois a fé, necessitamos
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fabricá-la, e mais tarde, muito mais tarde, o Espírito Santo, o
Terceiro Logos poderia consolidá-la em nós, fortificá-la e
robustecê-la, mas nós devemos fabricá-la.
Outro apóstolo bastante interessante que devemos ter em conta neste caminho estreito e difícil que percorremos é André. Diz-se que em Nicea conjurou sete demónios perversos e que os tornou visíveis ante as multidões na forma de sete cães que fugiram espavoridos; muito se tem falado sobre André e não há dúvida de que foi extraordinário, estava imbuído de um grande poder. A realidade é que André, o Grande Mestre discípulo do Cristo, foi condenado à morte e torturado. A Cruz de Santo André convida-nos à reflexão; é um “X”, com os seus dois braços estendidos à direita e à esquerda e as suas duas pernas abertas de lado a lado em forma de xis e sobre ela foi crucificado. Esse xis é muito simbólica, em grego equivale a um "K", que nos recorda o Crestos. Sem lugar a dúvidas, o drama de André foi magnificamente simbolizado pelo grande monge iniciado Bacon. Este, no seu livro mais extraordinário denominado "A Roda", coloca uma gravura na qual se vê claramente um homem morto, que no entanto trata de levantar a cabeça, de esperançar-se, de ressuscitar, enquanto dois corvos negros lhe vão retirando a sua carne no áspero chão.
A Alma e o Espírito elevam-se do cadáver, isto faz-nos
recordar a frase de todos os iniciados que diz: "A carne abandona os ossos".
Santo André ao morrer numa cruz em forma de xis fala-nos
precisamente da desintegração do Ego. Há que reduzi-lo a “poeira
cósmica”, há que esquartejá-lo: "A carne abandona os ossos", só
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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assim é possível que o Mestre Secreto Hiram Abif ressuscite dentro
de nós mesmos, aqui e agora, caso contrário seria completamente
impossível.
Na Grande Obra devemos morrer de instante a instante, de
momento a momento.
E que diríamos de João? Ele é sem dúvida o patrono dos fabricantes de ouro. Haverá alguém que fabrique ouro? Sim, recordemos Raimundo Lúlio, fabricou-o, enriqueceu as arcas de Filipe o Formoso de França e do rei de Inglaterra. Todavia se recordam cartas de Raimundo Lúlio, uma delas fala de um formoso diamante, com o qual obsequiou nada menos que o rei de Inglaterra; dissolveu um vidro num fundidor e em seguida, pondo água de mercúrio naquele vidro, transformou-o num gigantesco diamante extraordinariamente fino, que obsequiou ao rei; quanto à transmutação do chumbo em ouro, fazia-o graças ao Mercúrio Filosofal. Enriqueceu toda a Europa com as suas fundições e no entanto ele permanecia pobre. Viajante extraordinário por todos os países do mundo, por fim morreu lapidado numa dessas terras. Tudo isto convida à reflexão.
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Assim João, o Apóstolo de Jesus, é o patrono dos fabricantes
de ouro. Diz-se que numa ocasião encontrou no seu caminho, num
povoado no Oriente, um filósofo que tentava convencer as pessoas
e demonstrar-lhes o seu poder com a palavra e com o Verbo. Dois
jovens que tinham escutado os seus ensinamentos abandonaram as
suas riquezas, venderam-nas e com elas compraram um grande
diamante. Puseram nas mãos do filósofo aquele diamante. Este por
sua vez devolveu-o a eles, os quais de imediato com uma pedra
destruíram a gema. João protestou dizendo: "Com tal gema poderia
dar-se de comer aos pobres".
Dizem que perante as multidões reconstruiu a gema e logo a
vendeu para dar de comer às multidões, mas os jovens
arrependidos protestavam e disseram para si próprios: "Que tontos
fomos ao desfazer-nos de todas as nossas riquezas para comprar um
diamante que ficou em pedaços e logo foi reconstruído para ser repartido
entre as pessoas".
Porém João, que via todas as coisas do céu e da terra e sabia
transmutar o chumbo em ouro, mandou trazer da beira-mar, ali
perto, umas pedras e umas canas (pedra, símbolo da Pedra
Filosofal, o sexo; e a cana, símbolo da Espinha Dorsal, pois ali está
o poder para transmutar o chumbo em ouro) e depois de converter
aquelas canas e pedras em ouro, entregou essas riquezas aos
jovens, porém disse-lhes: "Perderam o melhor, devolvo-vos o que
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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deram, porém perderam o que tinham alcançado nos Mundos
Superiores”. Em seguida, acercando-se de uma mulher que tinha
morrido, ressuscitou-a e ela então contou o que tinha visto fora do
corpo e dirigindo-se àqueles jovens, disse-lhes que tinha visto os
seus anjos guardiães a chorar e em grande amargura, porque eles
tinham preterido o melhor por coisas vãs e perecedouras. É claro
que os jovens se arrependeram, devolveram esse ouro a João que o
transformou no que era, canas e pedras; e os jovens converteram-
se em seus discípulos.
Assim pois, João e a Ordem de São João convidam-nos a
pensar; João é patrono dos que fazem ouro. Nós necessitamos
transmutar o chumbo da personalidade no ouro vivíssimo do
Espírito. Por algo se lhes dá o nome, aos grandes Mestres da Loja
Branca, "Irmãos da Ordem de São João". Muitos crêem que João, o
Apóstolo do Mestre Jesus, desencarnou, mas ele não desencarnou.
Velhas tradições dizem que mandou cavar a sua cova sepulcral,
deitou-se nela, resplandeceu em Luz e desapareceu; a cova ficou
vazia. Nós sabemos que o apóstolo João vive com o mesmo corpo
que teve na Terra Santa e que vive precisamente em Agarta, no
reino subterrâneo, ali onde está a Ordem de Melchisedeck e
acompanha o Rei do Mundo.
Entrando pois no Magistério do Fogo, devemos definir algo
para esclarecer, torna-se necessário como dissemos, transmutar o
Esperma Sagrado em energia. Quando isto se consegue, advém o
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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fogo que sobe pela espinha dorsal e começa a realizar-se a Grande
Obra.
Necessitamos criar os Corpos Existenciais Superiores do Ser,
mas isto não é suficiente, é necessário, indispensável e urgente,
recobrir depois esses veículos com as distintas partes do Ser,
porém para recobri-los há que aperfeiçoá-los, convertê-los em ouro
puro, ouro espiritual de verdade. Não estranhem pois que João ou
que Santiago tenham um corpo Astral de ouro puro, um corpo
Mental do mesmo metal, ou o corpo Causal, ou o Búdico, ou o
Átmico; eles alcançaram realizar a Grande Obra.
Se por algo o Conde Saint Germain podia transmutar o
chumbo em ouro, é porque ele mesmo era de ouro, a aura do
Conde Saint Germain é de ouro puro, os átomos que formam essa
aura são de ouro e os Corpos Existenciais Superiores são de ouro
da melhor qualidade. Nessas condições ele pode deitar uma
moeda num fundidor, derretê-la e de seguida, com o próprio
poder que possui interiormente, transmutá-la em ouro puro,
porque ele é ouro.
Isso é o que se chama realizar a Grande Obra. Nisto há
graus e graus; primeiro há que alcançar a Mestria, depois temos
que converter-nos em Mestres perfeitos e muito mais tarde
alcançar o grau de Grande Eleito. Grande Eleito e Mestre Perfeito
são aqueles que realizaram a Grande Obra. Assim como agora nos
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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encontramos realmente estamos
mal, necessitamos passar pela
transformação radical e isso só é
possível destruindo os elementos
inumanos e criando os humanos, só
assim marcharemos em direcção à
libertação final.
Na catedral de Notre Dame de
Paris, como já temos dito, numa
esquina está a Pedra Mestra ou a
Pedra do Ângulo, que os
edificadores de todas as seitas,
escolas, religiões e demais, rechaçaram. Pedra escolhida, preciosa,
que tem a figura de Lúcifer. Isto assustaria os profanos;
inquestionavelmente, só ali, no sexo, poderemos encontrar esse
princípio luciferino que será a base para a Auto-realização. Porém,
porque é Lúcifer o fio de Ariadne? Porque é precisamente ele que
há-de conduzir-nos à liberação final, (quando na verdade foi tido
por inimigo), porque é o reflexo do Logoi Interior dentro de nós
mesmos, a sombra do nosso Íntimo, Deus em nós e para nosso
bem, posto que é o treinador.
Deus não pode tentar-nos; tentam-nos as nossas próprias
concupiscências. Fá-las passar pelo ecrã do entendimento, com o
propósito de nos treinar psicologicamente, de fazer-nos fortes, mas
se falhamos, fracassamos na Grande Obra. Qualquer um pode
falhar, e pelas suas falhas sabe que tem delitos a corrigir, a
eliminar. Assim Lúcifer nos treina, nos educa, nos forma e, à força
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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de tanto treino libera-nos, conduzindo-nos de esfera em esfera até
ao nosso Hiram Abif.
Lúcifer é pois, o Fio de Ariadne, que nos leva até ao nosso
Deus Interior, que nos retira deste doloroso labirinto da vida
mediante o trabalho esotérico. Uma e outra vez faz passar pelo
ecrã do nosso entendimento as nossas próprias concupiscências,
não outras senão as nossas. Vencê-las, eliminá-las, desintegrá-las,
torná-las pó, é o indicado, assim damos cada vez mais passos e
mais avançados, assim vamos partindo do centro do labirinto em
direcção à periferia para chegarmos um dia ao nosso Deus. Esse é
o trabalho de Lúcifer, ele é o Fio de Ariadne, ele é a Pedra
Filosofal; por algo os peregrinos da catedral de Notre Dame de
Paris apagam as suas velas nas faces pétreas de Lúcifer, na pedra
do canto, como se diz por ali.
Tem-se falado de poderes mágicos, podemos chegar a tê-los
mas necessitamos de criar muito dentro de nós e destruir
demasiado. Há muito que nos sobra e muito que nos falta, todo o
mundo crê que possuímos os Corpos Existenciais Superiores do
Ser e isso não é assim.
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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Torna-se necessário criá-los e não é possível criá-los a não ser
na Forja dos Ciclopes, quer dizer, mediante o trabalho sexual; dir-
nos-ão que somos fanáticos do sexo; equivocam-se, o que acontece
é que temos um laboratório, que é o nosso próprio corpo. Também
temos o fornilho do laboratório, é o fogo do Alquimista e um crisol,
que está no sexo. Eis aí a matéria-prima da Grande Obra, o
esperma sagrado; transmutá-lo é indispensável, convertê-lo em
energia e poder, de seguida com essa energia e com o que ela
contém, criar os Corpos Existenciais Superiores do Ser, isso é o
vital, o indispensável.
Chegará um dia em que haveremos de passar mais além do
sexo. Sem termos alcançado a meta, isso seria como querermos sair
do comboio antes de
chegarmos à estação, como
querermos sair do autocarro
ou do camião onde vamos,
antes de chegarmos à meta
que traçámos. No sexo há que
criar e há que destruir. Criar
os Veículos Solares é
necessário para que o nosso
Deus Interior possa
ressuscitar em nós e eliminar
os elementos inumanos que
levamos dentro.
Matéria Prima Lapidis Philosophorum
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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Todos devemos compreender, não basta lermos isto, é
necessário realizá-lo, porque a fé sem obras é fé morta. É
necessário que a fé vá acompanhada da obra.
Há que realizar a Grande Obra, mas não basta ter fé, e como
resultado final conseguiremos que cada um de nós se converta
num Grande Deus com poder sobre os Céus e a Terra e sobre os
Infernos, esse é o resultado final da
Grande Obra, cada um de nós
convertido numa majestade, numa
Criatura terrivelmente Divina.
Actualmente devemos reconhecer
que nem sequer somos humanos,
somos unicamente humanóides, de
forma mais crua diríamos que somos
mamíferos intelectuais e nada mais,
porém podemos sair deste estado em
que nos encontramos mediante a
Grande Obra.
Hiram Abif é o Mestre Secreto, o
Terceiro Logos, Shiva, o Primogénito
da Criação, o nosso Real Ser Interior
Divino, a nossa Mónada verdadeira e
individual. Necessitamos ressuscitá-la
Manuscrito s. XII
Elevação pela via divina.
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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porque está morta dentro de nós, ainda que esteja viva para os
mundos inefáveis.
Raimundo Lúlio realizou a Grande Obra, recebeu no Mundo
Astral o Grande Arcano e foi com essa chave mestra que pôde
trabalhar na Grande Obra. Raimundo Lúlio indubitavelmente
conheceu fora do corpo físico o que é a Sagrada Concepção da Mãe
Divina Kundalini Shakty. Ao conhecer como se realizava, propôs-
se materializar desde o alto a Sagrada Concepção em si mesmo, até
que o alcançou.
Não poderá verificar-se a ressurreição do Cristo no coração
do homem, enquanto não estiverem os Corpos Superiores
Existenciais do Ser convertidos em veículos de ouro puro, que
penetrando-se e compenetrando-se sem se confundirem, formem o
famoso To Soma Heliakon, o Corpo de Ouro do Homem Solar.
O To Soma Heliakon serve de envoltório para o Senhor, para
o Cristo interior que se levanta do seu sepulcro de cristal e volta
aqui a manifestar-se. Ele envolve-se com o corpo de ouro e
expressa-se no mundo físico como um Mahatma. Para que vem o
Senhor a este mundo? Para trabalhar pela Humanidade, esse é o
objectivo.
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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Indubitavelmente a Mãe Divina deve conceber, por obra e
graça do Terceiro Logos, o Filho. Ela permanece virgem antes do
parto, no parto e depois do parto.
Esse menino que Ela concebe deve materializar-se, cristalizar
em nós a partir de cima, desde o alto, até ficar revestido completamente com o nosso corpo físico, com o nosso corpo planetário.
Ao chegar a esse grau pode dizer-se que a Grande Obra se
realizou, noutros termos, devemos ressuscitar Hiram Abif dentro de nós.
Quanto ao menino, ele é o Cristo íntimo, o Menino a quem adoram os Reis Magos, o Cristo íntimo que tem de passar todo este trabalho. Durante este processo de Alquimia, o Senhor Interior Profundo trabalha terrivelmente. No fundo já é dirigente da
A Anunciaçã - Fra Angelico
La Anunciación – Fra Angelico
Curso de Gnose por correspondência – I.G.A.
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Grande Obra, a própria Stella Maris trabalha sob a sua direcção, Ele é o chefe da Grande Obra. De maneira que quando o Senhor Interior Profundo termina a totalidade da Grande Obra, dentro desse sepulcro de cristal, nasce como um menino no coração do Homem.
Ele tem que se desenvolver durante o trabalho esotérico, tem
que viver o Drama Cósmico dentro de nós mesmos e toma a seu cargo todos os nossos processos mentais, volitivos e emocionais. Numa palavra, faz-se Homem entre os homens e sofre todas as tentações da carne. Tem que vencer e sair triunfante. Todos os seus veículos são então de ouro puro e pode cada um vestir-se com esses corpos e viver no mundo da carne, como um autêntico Adepto resurrecto, triunfante no Universo. Que se saiba, pois, que o Senhor Interior Profundo, o Cristo íntimo, é o estímulo no mundo, de toda a majestade de Deus, porque é o nosso verdadeiro Salvador.
Natividade do Senhor - G. Doré