4 Nota CAI-ABA sobre a situação dos Guarani - INFORMATIVO.pdf

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Associação Brasileira de Antropologia, Caixa Postal 04491, Brasília-DF, CEP: 70904-970 Tel/Fax: (61) 3307-3754 – E-mail: [email protected] – Site: www.abant.org.br Brasília, 18 de abril de 2013. NOTA SOBRE A SITUAÇÃO DOS GUARANI (MS) Atenta à trágica situação em que se encontram os Guarani Kaiowa e Guarani Ñandéva em Mato Grosso do Sul, a ABA – Associação Brasileira de Antropologia vem a público se manifestar pela necessidade imperativa da observância de direitos desses povos. Trata-se de uma população de mais de 50 mil indivíduos (um dos maiores contingentes indígenas do país), atualmente constrangidos a ínfimos espaços devido a um processo de expropriação de seus territórios tradicionais. Padecem, em consequência, de inchaço populacional, apresentando altas taxas de violência e suicídio, além de uma extremamente precária situação econômica. Frente a este quadro (que é cosmologicamente interpretado pelos indígenas como sintoma de destruição do mundo), os Kaiowa e os Ñandéva vêm há décadas se mobilizando na tentativa de revertê-lo, manifestando uma tenaz reivindicação fundiária. Inúmeras famílias se envolvem, assim, em reiteradas tentativas de recuperar os espaços aos quais pertencem por determinação de seus deuses e sem os quais seria impossível a manutenção do equilíbrio do cosmo como um todo. Como resposta a essas demandas, o Estado brasileiro (a partir de um Compromisso de Ajustamento de Conduta celebrado entre a FUNAI e o MPF) colocou em campo seis GTs para identificação e delimitação territorial. Iniciados há cerca de cinco anos, estes estudos tiveram enormes dificuldades para serem realizados, devido a contínuas ingerências políticas e ações judiciais promovidas por segmentos ruralistas. Tais ações redundaram em inúmeras paralisações dos processos administrativos, bem como na instauração de um clima de violência local, que resultou no assassinato de diversos indígenas e na hostilidade aos antropólogos responsáveis pelos trabalhos. Não obstante tais dificuldades, a maioria dos relatórios circunstanciados foi concluída. Destes, porém, apenas um foi recentemente publicado (Iguatemipegua I), gerando significativas reações de parte dos ruralistas, os quais, em pressão junto à Casa Civil, solicitaram a suspensão dos demais processos, buscando impedir a publicação dos respectivos relatórios. Antes que extemporânea, tal atitude tem sido sistemática e preocupante, violentando preceitos constitucionais e negando direitos consagrados dos referidos indígenas. Na contramão destas ingerências e em defesa da Constituição, requeremos, assim, celeridade nos procedimentos de regularização fundiária em Mato Grosso do Sul, com a publicação imediata dos referidos relatórios e a busca de caminhos eficazes para a garantia

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7/28/2019 4 Nota CAI-ABA sobre a situação dos Guarani - INFORMATIVO.pdf

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Brasília, 18 de abril de 2013.

NOTA SOBRE A SITUAÇÃO DOS GUARANI (MS)

Atenta à trágica situação em que se encontram os Guarani Kaiowa e Guarani Ñandéva emMato Grosso do Sul, a ABA – Associação Brasileira de Antropologia vem a público semanifestar pela necessidade imperativa da observância de direitos desses povos.

Trata-se de uma população de mais de 50 mil indivíduos (um dos maiores contingentesindígenas do país), atualmente constrangidos a ínfimos espaços devido a um processo deexpropriação de seus territórios tradicionais. Padecem, em consequência, de inchaçopopulacional, apresentando altas taxas de violência e suicídio, além de uma extremamenteprecária situação econômica.

Frente a este quadro (que é cosmologicamente interpretado pelos indígenas como sintomade destruição do mundo), os Kaiowa e os Ñandéva vêm há décadas se mobilizando natentativa de revertê-lo, manifestando uma tenaz reivindicação fundiária. Inúmeras famíliasse envolvem, assim, em reiteradas tentativas de recuperar os espaços aos quais pertencempor determinação de seus deuses e sem os quais seria impossível a manutenção do

equilíbrio do cosmo como um todo.

Como resposta a essas demandas, o Estado brasileiro (a partir de um Compromisso deAjustamento de Conduta celebrado entre a FUNAI e o MPF) colocou em campo seis GTspara identificação e delimitação territorial. Iniciados há cerca de cinco anos, estes estudostiveram enormes dificuldades para serem realizados, devido a contínuas ingerênciaspolíticas e ações judiciais promovidas por segmentos ruralistas. Tais ações redundaram eminúmeras paralisações dos processos administrativos, bem como na instauração de umclima de violência local, que resultou no assassinato de diversos indígenas e na hostilidadeaos antropólogos responsáveis pelos trabalhos.

Não obstante tais dificuldades, a maioria dos relatórios circunstanciados foi concluída.Destes, porém, apenas um foi recentemente publicado (Iguatemipegua I), gerandosignificativas reações de parte dos ruralistas, os quais, em pressão junto à Casa Civil,solicitaram a suspensão dos demais processos, buscando impedir a publicação dosrespectivos relatórios. Antes que extemporânea, tal atitude tem sido sistemática epreocupante, violentando preceitos constitucionais e negando direitos consagrados dosreferidos indígenas.

Na contramão destas ingerências e em defesa da Constituição, requeremos, assim,celeridade nos procedimentos de regularização fundiária em Mato Grosso do Sul, com apublicação imediata dos referidos relatórios e a busca de caminhos eficazes para a garantia

7/28/2019 4 Nota CAI-ABA sobre a situação dos Guarani - INFORMATIVO.pdf

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da posse da terra, imprescindíveis para a reprodução física e cultural dessas famíliasindígenas. A proteção física a essas mesmas famílias e a continuidade da averiguação deresponsabilidade pelos assassinatos e violências contra elas cometidos são igualmentenecessárias.

Carmen RialPresidente

Associação Brasileira de Antropologia

João Pacheco de OliveiraCoordenador da Comissão de Assuntos

Indígenas da ABA