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    É A CIDADE QUE HABITA OS HOMENS OU SÃO ELES QUE MORAM NELA?É A CIDADE QUE HABITA OS HOMENS OU SÃO ELES QUE MORAM NELA?História material em Walter Benjamin "Trabalho das Passagens"

    Sergio Paulo Rouanet - ex-Secretário Nacional da ultura! di#lomata e ensaista! autor de! entre outrosli$ros! %s Ra&'es do (luminismo )om#anhia das *etras+,

    a cidade .ue habita os homens ou s/o eles .ue moram nela0 % #ergunta dirigida a Walter 

    Benjamin! mas o 1l2neur .ue se sente $isado #or ela,Pois a cidade está sob sua jurisdi3/o, Seu mundo o das 1antasmagorias urbanas as da cidade #or excel4ncia! Paris! ca#ital do sculo 5(5, "Paris criou o ti#o do 1l2neur" )#, 676+ )8+, % cidade seutem#lo! seu local de culto, "% cidade o $erdadeiro lugar sagrado da 1l2nerie" )#, 69:+, ;le dissimulanuma "miragem reconciliadora a 1orma de $ida do homem da cidade grande" )#, 6do #or eles" )#, 6@A+, ;m suma! a cidade tudo #ara o 1l2neur! suacasa! sua #aisagem, "% cidade se desdobra diante dele em seus #ólos dialticos, ;la se abre diante delecomo #aisagem! ela o en$ol$e como se 1osse um .uarto" )#, 676+,

    as n/o somente o es#a3o da cidade .ue está C dis#osi3/o do 1l2neur! tambm sua história,Seria #oss>$el 1a&er um 1ilme a#aixonante a #artir do #lano de Paris! "a condensa3/o em meia hora domo$imento secular das ruas! bule$ares! #assagens e #ra3as e .ue outra coisa 1a& o 1l2neur0D )#, 896+, ;ledes#re&a a história con$encional! .ue a1asta do concreto! mas 1areja na história a cidade e a cidade nahistória, "Euando o 1l2neur se a#roxima! o lugar come3a a se animar! sua mera #roximidade já umaceno e um ensinamento Trocaria toda sua ci4ncia #ara descobrir o domic>lio de um Bal&ac e de umFa$arni! o local de um crime ou de uma barricada" )#, 676+ % 1l2nerie o condu& #ara um tem#odesa#arecido, ada rua #ara ele uma ladeira .ue desce em dire3/o ao #assado o dele e o da cidade, "Noas1alto em .ue ele caminha! seus #assos des#ertam resson2ncias sur#reendentes, % lu& do gás! .ue cintilasobre as carruagens! lan3a uma lu& amb>gua nesse du#lo ch/o" )#, 67cios mais microscó#icos! como um a#ache! .uel4 num galho .uebrado coisas e a3'es in$is>$eis C #erce#3/o ci$ili&ada, ;le o deteti$e da cidade! como omoicano o deteti$e da sa$ana, Sua ociosidade a#arente! ele se dedica C ati$idade mais antiga dahumanidade! a ca3a! e nenhuma #resa esca#a a seus olhos de lince )#, 668+, ;sse moicano sabe ler tra3os

    tambm no rosto das #essoas! o grande 1isionomista da multid/o, ;m cada #assante ele deci1ra a #ro1iss/o! a origem! o nome )#, 6

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    as ele a res#onde a seu modo! indiretamente, ;le está em seu elemento na imagem! n/o na 1rase,Primiti$o de Paris! ele está dis#osto a contar-nos o .ue $iu na cidade, as n/o se #e3a dele o .ue ele n/osabe dar, Seu mtodo a montagem, "N/o tenho nada a di&er"! ex#lica ele, "Só mostrar, N/o rejeitareinada de $alioso! n/o usarei nenhuma 1ormula3/o engenhosa" )#, @Jtulo da #alestra,

    (( I 1l2neur está na #assagem Ki$ienne! #ronto #ara mergulhar em Paris! como .uem mergulha nomar, Sua Paris a $erdadeira! a de sonho! e n/o a Paris dos urbanistas e ar.uitetos! #ara os .uais ela uma sim#les entidade to#ográ1ica! com seu sistema $iário e suas casas! com sua história! sua geogra1ia!sua demogra1ia, N/o! a $erdadeira Paris a de Bal&ac! em .ue ele situou .uase todos os seus

     #ersonagens! "solo de sua mitologia com seus dois ou tr4s ban.ueiros! com seu grande mdico! HoraceBianchon! com seu negociante! sar Birotteau" )#, 89$el C $ertigem das

    multid'es, "ultid/o sem nomeM aosM Ko&es! olhos! #assos%.ueles .ue nunca $imos! a.ueles .ue n/oconhecemos!Todos os $i$osM idade &umbindo nos ou$idosais .ue um bos.ue da %mrica! mais .uecolmias de abelhasM" )#, 9@rico de umareconcilia3/o sonhada entre o homem e a nature&a )9+, a Paris de Nadja! de %ndr Breton! $identemenos misteriosa .ue a cidade em .ue ela circula de madrugada! onde n/o existem os beaux .uartiers!mas somente a trLs belle #orte St, enis! a igreja de St, ulien le Pau$re! os halles! a torre St, ac.ues )nimos #ormenores da cidade! mas #or.ue n/o há maior #ra&er .ue examinar o mais #er1eito dos #lanosurbanos do mundo, "Para .uem n/o sente sua imagina3/o des#ertar com o estudo desse #lano e n/o

     #re1ere rememorar gra3as a ele suas $i$4ncias de Paris! em $e& de recorrer a 1otos e anota3'es de $iagem #ara esse n/o há sal$a3/o" )#, 896+,

    ;le está na rua! #ara botani&ar no as1alto! segundo sua $oca3/o mais >ntima, % rua seu elemento,Ueli&mente n/o está nem numa estrada nem num caminho! #or.ue as duas coisas s/o assustadoras, Icaminho era seguido #elas hordas bárbaras! sob a dire3/o de um che1e! e elas corriam o risco de #erder-se,Por isso o caminho amedronta, Na estrada! n/o necessário seguir um che1e! #or.ue há #lacas em toda

     #arte! .ue mostram a dire3/o certa, as ela tambm assusta? nada mais in.uietante .ue a 1aixa de as1alto.ue se estende C nossa 1rente, o horror da monotonia, % s>ntese desses dois medos! o irren! no du#lo

    sentido de err2ncia e de erro! o medo de #erder-se e o da monotonia! o labirinto )#, @ o al>$io do1l2neur! .ue circula na rua! nunca monótona e em .ue ningum se #erde! #ois com isso ele esca#a aolabirinto! .ue #ara ele re#resenta o mais absoluto dos riscos, "I labirinto o caminho certo #ara .uemsem#re chega su1icientemente ao seu objeti$o, Para o 1l2neur! esse objeti$o o mercado" )#,

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    ;le entra na rue Ki$ienne, Nos anos gua, Por um lado! a moda aco#la o mundo da $ida com o mundo inorg2nico, ;lade1ende os direitos do cadá$er com rela3/o ao $i$o )#, 68+, ;la "a jun3/o dialtica entre a mulher e amercadoria! entre o #ra&er e o cadá$er, Sua caixeira &elosa! a morte! mede o sculo com jardas! #ara

    economi&ar 1a& ela mesma o mane.uim! e dirige so&inha a li.uida3/o! .ue em 1ranc4s se chamar$olution, Pois a morte nunca 1oi outra coisa .ue uma #aródia multicor do cadá$er! #ro$oca3/o da morte #ela mulher! e atrás de risos lasci$os! um diálogo sussurrado com a decom#osi3/o, (sto a moda" )#,888+, as se a moda 1uncionária da morte! ela constitui! #or outro lado! a reali&a3/o ir=nica do

     #rograma do jo$em arx? naturali&a3/o do homem! humani&a3/o da nature&a, ;la o1erece a imagem deuma nature&a humani&ada! como a lune #einte #ar elle-m4me! de Frand$ille! .ue em $e& de se inclinar sobre nu$ens! recosta-se em modern>ssimos coxins de #elOcia )#,7@J+, ; o modelo de uma humanidadenaturali&ada! como os $estuários 1antásticos descritos #or %##olinaire! em .ue entra$am todas assubst2ncias do reino animal! $egetal e mineral! desde a corti3a e a #orcelana at as arestas de #eixe, "%moda n/o des#re&a nada! ela enobrece tudo! e 1a& #elas matrias o .ue os rom2nticos 1i&eram #elas

     #ala$ras" )#, 88A+, a mesma 1orma .ue a moda $e>culo do inorg2nico mas tambm da reconcilia3/o

    com a nature&a! ela a encarna3/o do tem#o m>tico! o do sem#re igual! mas tambm a #romessa dotem#o messi2nico! o da história dialtica, ;n.uanto sacerdotisa da mercadoria! a Onica 1un3/o da moda a#resentar o indi1erenciado na 1orma do di1erenciado! o id4ntico na 1orma do Onico, "% história do$estuário está sujeita a $aria3'es sur#reendentemente insigni1icantes! e n/o outra coisa .ue um rod>&iode nuances o com#rimento da barra! a altura do #enteado! a extens/o das mangas! o dcollet do busto! alargura da cintura, esmo as re$olu3'es mais radicais da moda constituem sem#re o eterno retorno domesmo" )#, 87:+, Nisso! ela se mostra como a ant>tese da #ol>tica! como o s>mbolo da atualidade #er$ersa!die schlechte HeutigVeit, "% mudan3a introdu&ida #ela moda! o hoje eterno! esca#a C ótica histórica! e só

     #ode ser $erdadeiramente su#erada #ela #ol>tica ou #ela teologia, % #ol>tica reconhece em cadacon1igura3/o atual o $erdadeiramente Onico! o irre#et>$el" )##, @Jdicos do es.uecimento" )#,898+, (mita! em sua estrutura! a estrutura da história descont>nua! baseada na ru#tura, % moda consiste emextremos, omo #or nature&a ela busca extremos! n/o lhe resta outra alternati$a! ao abandonar uma1orma! sen/o #rocurar o seu contrário" )#, 88A+, I es#etáculo da moda! .ue consiste em a#resentar o maisno$o na 1orma do mais antigo! do mais habitual! " o es#etáculo genuinamente dialtico" )#, 877+, %moda tem um 1aro #ara o atual! onde .uer .ue ele esteja! escondido no #assado )A+, Sim! os costureiros"obt4m sua ins#ira3/o da atualidade mais $i$a, as como nenhum #resente se emanci#a totalmente do

     #assado! este tambm (he o1erece est>mulos I cha#u inclinado na testa! .ue de$emos C ex#osi3/o de

    anet! #ro$a .ue surgiu entre nós uma no$a dis#onibilidade de con1rontar-nos com o sculo 5(5" )#,877+, Nessa imita3/o do #assado! ela tem o #oder de mostrar-nos o no$o! antes .ue ele se concreti&e, ";lamantm um contato constante e #reciso com as coisas $indouras! gra3as ao 1ato incom#ará$el .ue asmulheres t4m #elo .ue se está #re#arando no 1uturo, ada esta3/o tra& em suas Oltimas cria3'es sinaissecretos das coisas .ue $ir/o, Euem souber l4-las! conhecerá de antem/o as no$as leis! as no$as guerras eas no$as re$olu3'es" )#, 887+,

    %inda na rue Ki$ienne! o 1l2neur #assa #elo edi1>cio da Bolsa, Terminado em 87@! o #rdio 1oiobjeto de comentários ir=nicos de Kictor Hugo "um monumento .ue #ode ser indi1erentemente um

     #alácio real! uma c2mara dos comuns! uma #re1eitura! um colgio! um estábulo! uma academia! umentre#osto! um tribunal! um museu! uma caserna! um se#ulcro! um tem#lo! um teatro, No meio tem#o! uma Bolsa Bolsa na Uran3a! como teria sido um tem#lo na Frcia" )#, 77J+, No tem#o de *u>s Uili#e! a

    es#ecula3/o 1inanceira soletra$a ainda suas #rimeiras letras? os m>seros bilh'es da d>$ida 1rancesa! os #oucos milh'es da d>$ida es#anhola e na#olitana, % #artir de 89J! de#ois das #rega3'es saintsimonianas! o #a>s se descobriu maduro #ara as grandes a$enturas 1inanceiras )#, A9s, Todos os ca#itais se concentraram na es#ecula3/o da Bolsa!

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    em detrimento das in$ers'es na indOstria e na agricultura )#, Anua de gestos sem#re iguais! o tem#o do jogador o do eternamente id4ntico, N/o se

     #ode di&er! se.uer! .ue o jogador seja mo$ido #elo desejo do ganho, Na $erdade! ele n/o deseja nada,Pois o jogador! #rotóti#o do homem #ri$ado de ex#eri4ncia! e #ortanto cortado da tradi3/o! n/o tem

     #assado! e o desejo nasce na in12ncia mais remota! só #odendo reali&ar-se #or com#leto na #ers#ecti$a deum 1uturo in1initamente dis#on>$el, desse #assado e desse 1uturo .ue está #ri$ado o jogador! cujatem#oralidade a do in1erno? o ritmo do sem#re igual )8:+, as #or outro lado o jogador tem outro ti#o

    de rela3/o com o tem#o, ;le obrigado a reagir instantaneamente! num momento es#ec>1ico! sob ume1eito de cho.ue! .ue im#ede o trabalho de re1lex/o, "% embriague& do jogo está em .ue ele im#'e ao

     jogador uma #resen3a de es#>rito tal .ue ele seja 1or3ado a reagir a constela3'es sem#re inde#endentesumas das outras! de 1orma no$a e original I jogador reage ao acaso como o joelho ao martelo do mdico")#, @9ticas? "o jogo o1erece a $antagem de libertar os homens da es#era" )#, 8J+, ;n1im! a

     #ráxis do jogador eminentemente dialtica? ela retira as coisas do seu contexto! #elo cho.ue, "% a#osta um meio de dar Cs coisas um caráter de cho.ue! extraindo-as do contexto da ex#eri4ncia" )#, @

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    obra de centrali&a3/o re$olucionária e im#erial ria3/o arti1icial e desmesurada! a#enas nascida 1oicortada em sua 1onte %ssistiu-se a esse es#etáculo #aradoxal de uma constru3/o arti1icial em seu

     #rinc>#io! abandonada de 1ato a#enas Cs regras im#ostas #ela nature&a" )#, 8Alias #roletárias, % no$a Paris 1oi o #ara>so da es#ecula3/o, % 1raude era a regra, I #rinc>#io da concorr4ncia

     #Oblica 1oi es.uecido! as obras eram atribu>das a em#reiteiras 1a$orecidas #elo #re1eito! as indeni&a3'es #or imó$eis desa#ro#riados eram 1ixadas muito acima do seu $alor real! desde .ue os #ro#rietáriosesti$essem dis#ostos a #agar comiss'es, i&-se .ue adame Haussman comentou uma $e&!ingenuamente-curioso! cada $e& .ue com#ramos uma casa! um bule$ar constru>do diante dele, Nemsem#re as constru3'es eram sólidas, Ha$ia rachaduras no #rdio da #era! na igreja da Trinit, %megalomania geral! come3ando #elo #ró#rio #re1eito? $ai ser #reciso .ue me 1a3am ac.educ, Paris setorna tambm megaloman>aca, Surge a 1antasia da cidade in1inita, aricaturas re#resenta$am "Parislimitada #elo cais da ancha e do idi! #elos bule$ares do Reno e da ;s#anha" )#, 8+, Gm belo dia! "a(tália! a ;s#anha! a inamarca e a ROssia ser/o incor#oradas #or decreto ao munic>#io #arisiense tr4sdias de#ois! as barreiras ser/o recuadas at a No$a Yembla e a terra dos Pa#uas, Paris será o mundo e ouni$erso será Paris" )#, 8A+, No 1undo! essa 1antasia n/o esta$a t/o longe da realidade, Se Paris n/o ia

    at o mundo! o mundo ia at Paris #or exem#lo! o Brasil, Todo o Brasil lati1undiário $iaja #ara gastar milh'es com as cocottes do aximDs, %s ri.ue&as brasileiras tambm $iajam, Nathan Rotschild mostra"aos $isitantes uma caixa .ue acaba de chegar do Brasil com diamantes no$os! recm-extra>dos! #ara

     #agar com eles os juros da d>$ida externa, N/o interessante0" )#, J:+, % constru3/o da Paris im#erialexigiu um #re3o humano t/o grande! .ue as cr>ticas se multi#lica$am, Publicam-se im#ro#rios em #rosae $erso contra o #re1eito, "Tu $i$erás #ara $eres a cidade desolada e triste Is Oltimos dias de tua $idaser/o tristes e en$enenados Is lagartos! os c/es $adios! os ratos reinar/o como senhores entre asmagni1ic4ncias .ue constru>ste" )#, 8A:+, Para Blan.ui! "a Paris moderna uma #ar$enue! .ue só .uer datar de si mesma! e arrasa os $elhos #alácios e $elhas igrejas #ara construir em seu lugar belas casas

     brancas" )#, 7:J+, I 1l2neur se inclina #or essa o#ini/o negati$a! mas! incorrig>$el cultor da $i$4ncia! do;rlebnis! a#rendeu a#esar de tudo a $er nas no$as a$enidas o seu lado de sonho, ;le tem uma certaa1inidade #elas ru>nas, %s de Haussman s/o ru>nas barrocas! ricas de ensinamentos sobre a transitoriedadedas coisas, %lm disso! o 1l2neur se 1ascina #ela tcnica da cita3/o! .ue ele adotou #ara 1a&er estaex#osi3/o! e acha .ue Haussman a #raticou em grande escala, % cita3/o tira as 1rases do seu contexto! e.ue outra coisa 1e& Haussman0 "Trans#lanta-se o bule$ar dos (taliens em #lena montanha Ste-Fene$iL$e!com tanta utilidade como uma 1lor de baile trans#lantada #ara a 1loresta" )#, 7:+, ontra todos os seusinstintos! ele concorda! em #arte! com *e orbusier? " $erdadeiramente admirá$el o .ue Haussmanconseguiu 1a&er" )#, 8A

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     #assado um dia de in$erno num 1alanstrio" )#, Astico na #ró#ria Paris! e n/o em cidades de 1alanstrios! e nisso os saint-simonianos s/oinsu#erá$eis, "Euisemos dar a 1orma humana C #rimeira cidade! sob a ins#ira3/o de nossa 1," ;ssa Parishumana terá como cabe3a uma #ra3a magn>1ica! os cabelos ser/o ár$ores! no #eito será constru>do umtem#lo! as colinas de Roule e haillot ser/o seus 1lancos! onde 1icar/o os bancos e uni$ersidades! o bra3oes.uerdo estará na margem do Sena e o direito em PassQ! o ante-bra3o conterá todas as escolas dedicadasCs ci4ncias naturais! o bra3o direito do colosso se estenderá at a esta3/o de Saint-Iuen! a coxa e a #erna

    direita ter/o as 1ábricas! a coxa direita terá longas 1ileiras de hotis! entre os joelhos ha$erá umaca$alari3a em 1orma de eli#se! e entre as #ernas um imenso hi#ódromo )#, 6:9+,I 1l2neur atra$essa o bule$ar ontmartre! e entra no bule$ar des (taliens, urante o Segundo

    (m#rio! essa artria era o centro da $ida elegante! com seus ca1s 1re.Xentados #or 1inancistas e homensde letras? o ca1 de Paris! a aison ore! o ca1 Riche! o Tortoni Gma das caracter>sticas desses ca1sera o grande nOmero de es#elhos, Nas #aredes! nas #ortas! em toda #arte es#elhos! at no teto! como nos

     bordis de luxo, Ha$ia es#elhos .ue olha$am es#elhos o tru.ue 1a$orito de Sat/"! #ensa o 1l2neur! comum arre#io )#, @@J+, Paris inteira! aliás! uma cidade de es#elhos )#, @@@+, ;la tem a #aix/o das

     #ers#ecti$as es#eculares! a$enidas ao cabo das .uais se $4em miragens! como o %rco do Triun1o! o Sacr-oeur! o Panthon )#, @@J+, iragens de es#elhos! semelhantes a outras miragens como as #rodu&idas

     #elos #ano ramas,

    Paris inteira! num certo momento! 1oi en1eiti3ada #or ilus'es de ótica! #rodu&idas #elos "a#arelhosde 1antasmagoria"! como os dioramas! os dia1anoramas! os na$aloromas! os #leoramas, I #anorama umdos mais di1undidos, %ssim como a ar.uitetura come3ou a libertar-se da arte #elas constru3'es de 1erro! a

     #intura e1etuou a mesma liberta3/o gra3as ao #anorama, a$id aconselha$a seus estudantes a estudar anature&a nos #anoramas, Is #anoramas #rocura$am imitar com absoluta 1idelidade a nature&a!re#rodu&indo as $aria3'es da lu& durante o dia! o nascer da lua! a cascata, I citadino! cansado de sentir-sesu#erior ao homem do cam#o! tenta tra&er a nature&a #ara a cidade, % cidade se trans1orma em #aisagematra$s do #anorama,

    om isso! o citadino n/o #recisa abandonar a cidade #ara sentir a nature&a )#,

     bule$ar des a#ucines, noite, Gm ra#a& ilumina com um archote o cor#o de uma mo3a ensangXentada!$>tima da re#ress/o de *u>s Uili#e! le$anta #eriodicamente o cadá$er! e grita? Kingan3aM Kingan3aM I

     #o$o res#onde? Zs armasM Zs armasM )#, 69+,

     Na adeleine! ele se lembra de .ue o #rimeiro =nibus circulou em 9: de janeiro de 8A7! com umitinerário .ue ia dessa igreja at a Bastilha )#,69

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     #artir da ex#osi3/o uni$ersal de 8@J, No in>cio! sus#ira o 1l2neur! n/o ha$ia trocadores nos =nibus! e odinheiro do bilhete #assa$a de m/o em m/o! at chegar ao condutor )#, 696+, as em matria detrans#ortes urbanos a imagem .ue o 1l2neur retm! mesmo! a de uma caricatura de aumier? um

     burgu4s es#erando o =nibus! "o guarda-chu$as no .ual se a#óia este ser ossi1icado! inerte! cristali&ado!.ue es#era o =nibus! ex#rime n/o sei .ue idia de #etri1ica3/o absoluta" )#, A+,

    I 1l2neur desce a rue RoQale e chega C #ra3a da oncórdia, %ntes ela se chama$a #ra3a *u>s 5K ede#ois #ra3a da Re$olu3/o, om isso! ele come3a a re1letir sobre os nomes das ruas e #ra3as de Paris, ;la

     já 1oi chamada a $ille .ui remue! mas o exem#lo da oncórdia raro! e em geral os nomes s/o está$eis!Cs $e&es durando mais .ue as #ró#rias ruas, I mais 1ascinante! na rua! o nome, Há uma $olO#ia es#ecialnesse ato nomeador! como sabia %d/o! .ue nomeou as coisas com o nome .ue elas $erdadeiramente t4m)88+, nos nomes .ue está a magia da es.uina? intersec3/o de nomes e n/o de ruas )#, 8::+, I mesmoacontece com os nomes de #ra3as, I 1l2neur se recorda de ter estado na #lace du aroc! em Belle$ille,

     Nada mais desconsolado .ue essa #ra3a! com seus bidon$illes desoladores! $istos numa manh/ dedomingo, as o nome trans1igura tudo, Fra3as a ele! a #ra3a n/o somente e$oca o deserto marro.uinocomo constitui tambm um monumento do colonialismo im#erial! entrela3ando "a $is/o to#ográ1ica coma signi1ica3/o alegórica" )#, @cie! surgem os Nomes! em estado de #ure&a

    absoluta? Sol1rino! (talie! oncorde e Nation )#, @

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    s/o o $ereile doch! du bist so schoen! .ue ela dirige Cs rela3'es de #rodu3/o do ca#italismo )#, s 5K(! carta&esordena$am o $asculhamento minucioso das catacumbas )#, 89J+, Uoi nelas tambm .ue se re1ugiaram os

    carbonários! no sculo 5(5, as se de& regimentos descessem C sua #rocura! "n/o teriam #odido #=r am/o em um Onico carbonário! de tal maneira os mil caminhos dos 1Onebres subterr2neos condu&iam aretiros inacess>$eis, %liás em cinco ou seis lugares as catacumbas esta$am admira$elmente minadas! e

     bastaria uma centelha #ara 1a&er ir #elos ares a margem es.uerda inteira" )#, J@:+, ;m 8J:! os$ersalheses as re$ol$eram! em busca dos communards, e resto! durante a omuna! um "$ento deloucura" so#rou sobre a cidade, Is re$oltosos sus#eita$am da exist4ncia de subterr2neos em toda #arte,ebaixo de cada abadia eles julga$am descobrir galerias! com os es.ueletos das $>timas dos monges )##,A68-7+, as $erdade? a cidade está cheia de subterr2neos, Há $elhas masmorras! como as da antiga

     #ris/o do hatelet! com cujas #edras se construiu em #arte o teatro do mesmo nome )#, 678+, Há outrossubterr2neos! menos macabros, I 1l2neur 1a& uma nota mental? um dia ele $eri1icará se as adegas doantigo ca1 %nglais sobre$i$eram C demoli3/o desse estabelecimento, ;ram ca$ernas t/o grandes! .ueeram di$ididas em ruas! dedicadas aos di1erentes $inhos, "Ha$ia a rua do Bourgogne! a rua do Bordeaux!a rua do Beaune! a rua do Hermitage! a rua do hambertin hega$a-se a uma gruta 1resca! cheia deconchas a gruta do $inho de ham#agne" )#, 8cie? Feorge K!;lQse! ;tienne arcel ";sse labirinto abriga em seu interior n/o um! mas dO&ias de touros cegos!1uriosos! cuja sede de $ingan3a a#lacada! n/o #or uma $irgem tebana uma $e& #or ano! mas todas asmanh/s! #or de&enas de midinettes an4micas e de em#regados sonolentos" )#, 89@+,

    ;le $ira C es.uerda e come3a a descer o cais, % #oucos metros! ergue-se o $ulto colossal da gare

    dDIrsaQ! hoje trans1ormado em useu do Sculo 5(5, Nada mais a#ro#riado! #ensa o 1l2neur! ele #ró#riohomem do sculo 5(5, % esta3/o seu local de del>cias, sua 1a$orita entre as casas de sonho .ue acidade o1erece, Nela dormem $elhas saudades! $elhas des#edidas! amores de1untos, N/o #or acaso .ueo #rimeiro ato da Kie Parisienne! de I11enbach! se #assa numa esta3/o )#, 786+, % esta3/o tinha .uereceber grande #arte da energia on>rica do sculo #assado! #or.ue ela era a casa do trem! e este 1oisaudado #or todos! #elos es#eculadores .ue enri.ueceram com a constru3/o das $ias 1rreas e #elos saint-simonianos .ue .ueriam sal$ar o mundo atra$s do #rogresso industrial! como o grande $e>culo dea#roxima3/o entre todos os #o$os da terra, %o trem como sonho corres#ondeu! no in>cio! um tremsonhado! constru>do segundo $elhos modelos de uma #oca #r-ca#italista, arx nos in1orma .ue a

     #rimeira locomoti$a tinha dois #s .ue se le$anta$am alternadamente! como um ca$alo )#,78J+, urantemuito tem#o se hesitou em 1a&er trilhos de 1erro! #or.ue este era considerado um material #ouco nobre! já

    .ue n/o existe como tal na nature&a! e #or isso muitos #re1eriam o granito )#, 78A+, Tambm a ar.uiteturadas esta3'es tinha elementos on>ricos, Ha$ia um es1or3o consciente de embele&á-las! construindo-as em1orma de chalets, Projetos 1antásticos eram elaborados, Pensou-se em re1a&er a gare St, *a&are comtrilhos a#oiados em elegantes arcos de 1erro 1undido! $inte #s acima do solo! e .ue teriam atra$essado

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    $árias ruas! cada uma das .uais teria uma esta3/o #articular )#, 78cios! um dos "estetas" di& .ue "as 1ormas

     #reexistem C constru3/o"! e denuncia "o es#>rito do sculo no .ue se re1ere Cs belas artes em geral!classi1icadas no gru#o das artes industriais" )#, A@+, %cuados na de1ensi$a! os engenheiros se resignarama a1astar-se dos c2nones do bom gosto! e se concentraram nos edi1>cios utilitários e contingentes! como osmercados! as esta3'es e as salas de ex#osi3'es, No 1undo! toda a #ol4mica $inha da inca#acidade dosculo de reagir Cs ino$a3'es do ca#italismo, ada $e& .ue a#arecia o no$o! ele era trans1igurado #or 1ormas arcaicas, %ssim como as #rimeiras esta3'es imita$am chals! as colunas imita$am #ilares dePom#ia! e as 1ábricas imita$am $ilas residenciais )#, $eis! mas sem seu 1erro e seu $idron/o conseguir>amos hoje trans1ormar em materiais da "$ida des#erta" o 1erro e o $idro de sonho!de#ositados na ar.uitetura do sculo 5(5, Hoje temos condi3'es de deixar .ue as no$as 1ormas surjam

    das no$as tcnicas! em $e& de 1antasiar essas tcnicas com 1ormas antigas, Hoje sabemos .ue n/o se tratade re1ugar a tecnologia em nome da arte! mas de 1undi-las! criando a base #ara o uso humano da tcnica e #ara a constru3/o de um mundo humano! .ue #ara ele e$identemente um mundo em .ue todos #ossamtornar-se 1l2neurs,

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    Is cais $/o se sucedendo? onti! Frands %ugustins! St, ichel! ontebello! *a Tournelle! Saint Bernard;le resol$e $oltar C margem direita! atra$essando o Sena sobre a #onte de %usterlit&, Icorrem-lhe duasre1lex'es! uma tcnica e outra surrealista, % tcnica .ue a #onte de %usterlit& 1oi uma das #rimeirasconstru3'es de 1erro de Paris )#, 787+, % surrealista tem a $er com a origem do nome, N/o! n/o 1oi a

     batalha .ue deu seu nome C #onte! 1oi esta .ue deu seu nome C batalha, Kelha como o mundo! essa #onte muito mais antiga .ue Na#ole/o, No tem#o das ru&adas! os heróis iam solenemente C #onte com suas

     bandeiras! #ara beberem uma ta3a de austerlit&, %usterlit& a bebida dos 1ortes! o hidromel dos nossosante#assados gauleses! mas mais amarga e com muita água de Selt& )#, @6ncia )#,6stica! a#esar das demoli3'es de Haussman, I $erdadeiro #arisiense n/o mora em Paris! e sim noseu arrondissement! isto ! em sua #ro$>ncia )#, AAA+, Paris tem sua Ri$iera! sua Bretanha! suas cidadesmal-a1amadas! como Toulon e arselha )#, 8,:::+, *ocomo$er-se do bd, des (taliens ao bd, du Tem#le como ir de um continente a outro )#, 7:+, Nas insurrei3'es! os combatentes luta$am e morriam em seu

    .uartier, Is che1es recomenda$am aos re$oltosos .ue de1endessem seus bairros! "onde bom $i$er emorrer" )#, A69+, ada bairro de Paris uma m=nada! inteiramente autár.uica, %lgumas s/o a miniatura!n/o do mundo! mas da misria humana, Euem ti$esse nascido no 8cios da calamidade #roletária! da cl>nica dos #artos ato or1anato! o hos#ital dos indigentes e a 1amigerada Sant? #ris/o e cada1also )#, 89+,

    %tra$essando a #onte St, *ouis! ele entra na it, ;la dominada #ela silhueta noturna de Notreame, ;le tem medo! #or.ue $ista assim! nessa hora! a catedral se #arece com um bos.ue gigantesco!coisa assustadora #ara um citadino, "Frandes bos.ues! $ós me assustais como se 1=sseis catedraisM" )#,9rito $ia #renOncios e corres#ond4ncias mágicas em toda #arte, ;msuas sess'es de es#iritismo! em FuerneseQ! at alegorias se materiali&a$am? idias abstratas como aBele&a e a Humanidade atendiam ao a#elo de sua table tournante! como se 1ossem almas, Uoi Hugo .ueescre$eu? "I escritor-es#ectro $4 idias-1antasmas uidado! tu .ue $i$es! ó homem do sculo! #roscritode uma idia terrestre #or.ue isto loucura! isto se#ulcro! isto in1inito! isto uma idia-1antasma" )#,A96+, Por .ue esse sculo t/o racionalista 1oi o sculo do es#iritismo0 Bal&ac era leitor de Sedenborg ese interessa$a #elas ci4ncias ocultas, "Tantos 1atos $eri1icados! aut4nticos! sa>ram das ci4ncias ocultas .ueum dia elas ser/o ensinadas como se ensina a .u>mica e a astronomia, mesmo singular .ue no momentoem .ue se criam em Paris cátedras de esla$o! de manchu! de literaturas t/o #ouco ensiná$eis como asliteraturas do Norte n/o se tenha restaurado! sob o nome de antro#ologia! o ensino da 1iloso1ia oculta!uma das glórias da antiga Gni$ersidade" )#, A7J+,

    Tambm o 1l2neur tem! na it! idias 1antasmas! $indas do mais antigo #assado de Paris, Uoi a.ui.ue ela come3ou, ;ssa antigXidade #esa sobre a cidade moderna! como um >ncubo )#,

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    e a#esar dos moti$os #ol>ticos circunstanciais! a misria, ;la era t/o extrema .ue muitas $e&es le$a$a ostrabalhadores ao suic>dio, Gm deles en1orcou-se na casa de ;ugLne Sue! deixando um bilhete em .uedi&ia .ue a morte seria menos terr>$el se se desse na casa de .uem tinha amado e de1endido o #o$o )#,J+, %s condi3'es sanitárias eram de#lorá$eis, as a burguesia sabia como e$itar o cólera entre asclasses #o#ulares? morali&ando-as! #elo trabalho, Por exem#lo! o ;stado #oderia sanear o imundo bairroda Bastilha! atra$s de obras #Oblicas! a serem em#reendidas #ela #o#ula3/o, ;las seriam inauguradassolenemente, "I rei e sua 1am>lia! os ministros! o onselho de ;stado! a orte de assa3/o! a orte Real!

    o .ue resta das duas c2maras! a#areceriam 1re.Xentemente no canteiro de obras %s mulheres mais brilhantes se misturariam com os o#erários! #ara encorajá-los % #o#ula3/o! assim alti$a e exaltada! seriacertamente in$ulnerá$el ao cólera" )#, J7J+, as nem sem#re a moral ser$ia #ara eliminar a e#idemia? Cs$e&es era a e#idemia .ue era con$ocada #ara eliminar a imoralidade, (n.uieto com o e1eito da $ida

     #arisiense sobre os costumes das mo3as de #ro$>ncia! um 1ilantro#o as conclama a n/o abandonarem suasaldeias, "Se o desem#rego e a 1ome se instalarem obstinadamente em teu .uarto! chama em teu socorroum Oltimo $isitante? o cólera, ;m seus bra3os descarnados! sobre seu seio l>$ido! n/o #recisarás #elomenos temer #or tua honra" )#, J:+, Euando esse remdio n/o $inha ou .uando a morali&a3/o #elotrabalho n/o #rodu&ia os e1eitos es#erados! a #o#ula3/o se suble$a$a, urante as trois glorieuses de julhode 89:! segundo as contas do 1l2neur! 1oram constru>das #edos )#, 8AA+, Gm =nibus $irado e alguns mó$eis ser$iam #ara construir uma barricada,

    Uourier considera$a a constru3/o de barricadas um exem#lo de trabalho n/o-remunerado! mas"a#aixonado" )#, 7:7+, ;m 8

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    encarregado de a#anhar os detritos de um dia da ca#ital, Tudo o .ue a grande cidade rejeitou! tudo o .ueela #erdeu! tudo o .ue ela desdenhou! tudo o .ue ela .uebrou ele cataloga e coleciona, ;le com#ulsa osar.ui$os do #assado! os ca1arnauns dos dejetos, Ua& uma triagem! uma escolha inteligente recolhe! comoum a$aro recolhe um tesouro! as imund>cies .ue! reelaboradas #ela di$indidade industrial! se tornar/o deno$o objetos de utilidade ou #ra&er" )#, si1o! retirar das coisas! #ela #osse! seu caráter de mercadoria, as em $e&de de$ol$er-lhes o $alor do uso! o colecionador lhes atribui um $alor idiossincrásico! determinado #or seuinteresse de "conhecedor", ;le o tra#eiro dos objetos mortos! retira-os do seu hábitat! e os 1a& renascer num no$o uni$erso relacional, om isso! ele estabelece uma no$a rela3/o com a história, "I colecionador 

    sonha n/o somente um mundo distante ou #assado como um mundo melhor em .ue as coisas est/olibertas da obriga3/o de serem Oteis" )#, 69+, ada #e3a de sua cole3/o se trans1orma numa enciclo#dia!m=nada em .ue se resume toda uma história a história do objeto e das circunst2ncias em .ue ele 1oiencontrado! e nesse sentido "uma 1orma de rememora3/o #rática! a mais con$incente das mani1esta3'esdo #róximo" )#, 7J8+,

     Na rue Saint-enis as #rostitutas circulam em massa! em 1rente dos es#etáculos eróticos, I1l2neur tem um 1raco #or essas 1iguras 1emininas! #or.ue como todos sabem ele se interessaes#ecialmente #ela mercadoria! e a #rostituta! como o trabalha dor assalariado! mercadoria e $endedoraao mesmo tem#o )#, 6@+, ;le condena as causas sociais .ue a #rodu&iram, S/o um sub#roduto da misria!como 1oi o caso das o#erárias 1abris do sculo 5(5! .ue ao sa>rem do trabalho iam com#lementar seusalário com a #rostitui3/o, i&ia-se .ue elas 1a&iam seu ".uinto turno" )#, @7+, as a com#aix/o n/o oim#ede de 1ascinar-se com o simbolismo do meretr>cio, Homem da cidade! ele n/o #ode deixar deinteressar-se #or esse 1en=meno t>#ico de cidade grande, Somente a massi1ica3/o urbana #ermite C

     #rostitui3/o di1undir-se #or $árias #artes da cidade, #or isso .ue ela 1ascina! e sobretudo #or ser objeto$endá$el, Euanto mais ela re$este a 1orma-mercadoria! mais excitante se torna )#, a #adroni&a3/oda rou#a e da ma.uilagem! t/o bem simboli&ada na #adroni&a3/o da rou#a e da ma.uilagem das coristas!no teatro de re$ista )#, ntese do ca#italismo e da cidade, Seu1eiti3o o do 1etichismo, %o mesmo tem#o! ela n/o só o 1etichismo! história #etri1icada em nature&a ela tambm a #romessa de uma rela3/o mais harm=nica com a nature&a, e algum modo! ela re#resenta anature&a como 1igura materna! ainda .ue degradada, Nas condi3'es atuais! a m/e tem os tra3os da cortes/,

    as a m/e #ode ser reencontrada sob os tra3os da cortes/, % #rostituta nature&a corrom#ida $ida .uesigni1ica morte )#, nas, as n/o está nisso aess4ncia da cidade0 N/o ela habitada #ela $irtualidade do decl>nio0 Kários autores descobriram emParis seu substrato de ru>na? Hugo! .ue anteci#a sua destrui3/o 1utura "mais nada nessa #lan>cieEue um

     #o$o desa#arecido do .ual ela está ainda cheia" *on audet! .ue do alto do Sacr oeur #ercebe .ue"a.uela acumula3/o de #alácios! monumentos! casas e chou#anas! está #redestinada a uma catástro1e! ou$árias! de caráter meteorológico ou social" axime du am#! .ue debru3ado no Pont Neu1 com#reende!

    de re#ente! .ue "a.uela ca#ital tal .ue o rodea$a com seu burburinho teria o mesmo destino .ue a %tenasde Pricles! a artago de Barca! a %lexandria de Ptolomeu" )86+, Sim! Paris #ode ser destru>da a .ual.uer momento, omo Pom#ia! ela #ode ser engolida #elo KesO$io C sua nature&a $ulc2nica .ue ela de$esua 1ascina3/o, "Paris na ordem social o e.ui$alente do .ue o KesO$io na ordem geológica, Gm

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    maci3o amea3ador! #erigoso! centro sem#re ati$o das re$olu3'es, as assim como os decli$es do KesO$iose trans1ormam! gra3as Cs camadas de la$a .ue os recobrem! em #omares #aradis>acos! assim 1lorescemnas la$as da re$olu3/o! como em nenhum outro lugar! a arte! a $ida 1esti$a! a moda" )#, 89$el a dialtica da ru>na? a la$a #ode destruir a cidade! mas na la$a .ueela renasce, % ru>na designa o .ue 1oi destru>do #elos o#ressores! ao mesmo tem#o .ue a#onta #ara adesagrega3/o do mundo .ue eles constru>ram com os escombros, Na #rimeira ace#3/o! a ru>na reca#itula3/o do desastre! a 1igura de tudo o .ue na história "#rematuro! so1rido e malogrado" )8@+, S/o

    as ru>nas de Haussman, as a ru>na tem tambm um sentido anteci#atório, emória da injusti3a! eladesigna tambm o lugar de uma luta, Tambm a Paris dos $encedores está condenada C ru>na, I 1l2neur consegue #erceber essa ru>na interior! antes .ue ela se torne a#arente, as antes dele! "Bal&ac 1oi o

     #rimeiro a 1alar das ru>nas da burguesia I desen$ol$imento das 1or3as #roduti$as trans1ormou em ru>nasos s>mbolos de desejo do sculo #assado! antes mesmo .ue os monumentos .ue os encarna$am sedesagregassem om o abalo so1rido #ela ordem econ=mica baseada na mercadoria! come3amos areconhecer os monumentos da burguesia como ru>nas! en.uanto eles ainda est/o de #" )#, 6A+, as s/oru>nas #ositi$as a.uelas em .ue "se 1ormam caminhos" )8J+, %1inal! a Paris incendiada #ela omuna!com a .ual os o#rimidos se $ingaram das ru>nas de Haussman! 1oi reconstru>da, Gm dia! #ensa o 1l2neur!tal$e& seja #oss>$el uma $erdadeira destrui3/o! .ue n/o esteja a ser$i3o da es#ecula3/o 1inanceira! uma$erdadeira constru3/o! .ue n/o seja t/o banal como o Uorum des Halles! e sobretudo uma $erdadeira

    reconstru3/o! em .ue nada se #erca da alma .ue habita$a as constru3'es originais! em .ue tudo esteja$i$o! no$o e intacto como no #rimeiro dia! di1erente em tudo e em tudo id4ntico ao .ue ha$ia antes,

    as ha$eria um lugar #ara o 1l2neur nessa cidade redimida0 ;le está cansado, Sua 1l2nerie 1oi deuma #onta a outra da cidade! dura há $árias horas! na $erdade há mais de um sculo, numa #assagem.ue #recisa terminar sua #eregrina3/o! como 1oi numa #assagem .ue ele a come3ou, Ueli& mente há uma!a #oucos metros da rue St, enis, a #assagem du aire, esmo exausto! o 1l2neur sabe tudo sobre essa

     #assagem e lembra-se de tudo, ;la 1oi constru>da de#ois da $olta de Na#ole/o do ;gito! o .ue ex#lica seunome )#, 8:

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    interligadas )#, 8::+ como em sua 1orma surreal! a idia 1ourierista de criar cidades inteiras com ruasgalerias )#, 8:8+, *embra-se da imagem da cidade como es#elho, Gm dos as#ectos da ambigXidade das

     #assagens $em de "sua ri.ue&a em es#elhos! .ue am#liam 1eericamente os es#a3os e di1icultam aorienta3/o" )#, 8,:6:+, *embra-se dos #anoramas, % #assagem .ue tem esse nome! no bule$ar ontmartre! tinha dois #anoramas! instalados #or Uulton! o a#er1ei3oador da na$ega3/o a $a#or, %lmdisso! "os #assantes nas #assagens s/o de certo modo habitantes de um #anorama ;les s/o $istos das

     janelas dessa casa! mas n/o #odem $er-se" )#, 8,::+, *embra-se da ilumina3/o .uem entrasse em 88J

    na #assagem dos Panoramas $eria lu&es .ue #areciam emanar das "1adas da ca$erna", Num dos ladoscanta$am as sereias do gás! do outro acena$am as "odaliscas do óleo" )#, J::+, *embra-se do trans#orteurbano! #or.ue era 1ugindo dos carros .ue o transeunte #re1eria 1lanar nas #assagens )#, 6+, *embra-seda magia da to#on>mia urbana! e$ocada #elos #ró#rios nomes das #assagens! t/o densos em alus'eshistóricas a #assagem dos Panoramas! .ue remete aos "a#arelhos de 1antasmagorias"! a Kro-odat )#,6+! .ue remete a dois ricos 1abricantes de salsichas! e a #ró#ria #assagem em .ue ele se encontra agora!.ue remete Cs a$enturas orientais do im#erialismo euro#eu, *embra-se das ex#osi3'es uni$ersaistambm nas #assagens as mercadorias se o1erecem ao olhar do $isitante e do tema correlato do1etichismo! .ue 1a& suas bruxarias nos #rodutos ex#ostos, % #assagem "a rua lObrica do comrcio! .ueser$e a#enas #ara des#ertar os desejos, Por.ue nessa rua os sucos se coagularam! a mercadoria #roli1eraem cada um dos seus 1lancos! e estabelece conex'es 1antásticas! como os tecidos de uma Olcera ;la re$ela

    um mundo de a1inidades secretas #almeiras e es#anador! a#arelhos e a K4nus de ilo! #róteses e guiasde corres#ond4ncia" )##, A9 e @J:+, *embra-se do mundo subterr2neo "catacumbas nas #assagens" )#,8,::7+, e dia! as ruas se assemelham C consci4ncia des#erta, e noite! mergulhamos em nossa $idasubmersa! e s/o as #assagens .ue nos condu&em aos subterr2neos da alma )#, 8,:

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    trans1orma3/o, e um gol#e! elas se con$erteram na 1=rma $a&ia na .ual 1oi 1undida a imagem damodernidade" )#, @J+,

    Terminada gra3as Cs #assagens a reca#itula3/o do seu itinerário #ela cidade! o 1l2neur encerrousua anamnsis e com isso julga ter res#ondido a #ergunta deste sim#ósio,

    ((( #oss>$el .ue este auditório seja mais exigente e insista numa res#osta menos indireta, N/o #odemos trans1erir essa res#onsabilidade ao 1l2neur, ;le o homem da $i$4ncia! do ;rlebnis! e n/o dateoria, % #ala$ra tem .ue ser dada agora ao #ró#rio Walter Benjamin,

    Eual seria a res#osta de Benjamin0 ;le res#onderia .ue o homem habita uma cidade real e habitado #or uma cidade de sonho, ;ssa dualidade resume o essencial do Trabalho das Passagens, ;mtodos os momentos! Benjamin joga com dois n>$eis de realidade! a realidade objeti$a e a on>rica,

    Para ele! "o ca#italismo 1oi um 1en=meno da nature&a .ue submeteu a ;uro#a a um Traumschla1! aum sono #o$oado de sonhos" )#, nea! mo$imento das $>sceras! #ulsa3/o card>aca e sensa3'es musculares" geram no indi$>duoadormecido "imagens de loucura e sonho" )#, rica do coleti$o0 Benjamin hesita nares#osta,

    Zs $e&es eles s/o assimilados ex#ressamente aos sinais .ue $4m do interior do cor#o, Para ocoleti$o! "muitas coisas s/o internas! .ue #ara o indi$>duo s/o externas, %s ar.uiteturas e modas,, , S/o nointerior do coleti$o o .ue s/o no interior do indi$>duo as sensa3'es dos órg/os! os sentimentos de saOde edoen3a" )#, rica, % ar.uitetura e amoda n/o est/o no "cor#o"! n/o en$iam sinais somáticos! #or.ue s/o elas #ró#rias sonhos! s/o elas

     #ró#rias 1iguras do sonho coleti$o, a $ers/o mais #laus>$el! C lu& do conjunto da teoria do sonhocoleti$o! e em muitos trechos Benjamin n/o deixa dO$idas a res#eito, "% moda! como a ar.uitetura 1a&em

     #arte da consci4ncia on>rica do coleti$o" )#, do #elas 1or3as #roduti$as e #elas rela3'es de #rodu3/o! e estas seex#rimem na su#erestrutura! do mesmo modo .ue os sinais somáticos se ex#rimem na consci4ncia dosonhador, "% su#erestrutura a ex#ress/o da in1ra-estrutura, %s condi3'es econ=micas nas .uais $i$e umasociedade se ex#rimem na su#erestrutura! da mesma 1orma .ue um est=mago cheio n/o se re1lete noconteOdo do sonho mas nele se ex#rime arx descre$e as correla3'es causais entre a economia e acultura, %.ui se trata de uma correla3/o ex#ressi$a, N/o a g4nese econ=mica da cultura !mas a ex#ress/oda economia na cultura" )##, tica! ex#rime em Oltima inst2ncia a base material! mas se alimenta! de modomais direto! em rela3'es sociais menos abstratas, %ssim! o sonho da moda se articula na indOstria t4xtil eno comrcio de luxo o sonho da ar.uitetura! na indOstria de constru3/o ci$il e nas no$as tcnicas deconstru3/o o sonho do jogo! no mo$imento es#eculati$o do ca#ital 1inanceiro e o sonho da ex#osi3/o

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    uni$ersal! na #rodu3/o 1abril, I coleti$o se a#ro#ria de cada um desses as#ectos da realidade material eos alucina #elo sonho,

    I "cor#o" teria assim .ue ser rede1inido, Seu conteOdo incluiria todos os n>$eis da realidadeobjeti$a! desde as determina3'es mais remotas em Oltima inst2ncia! a base econ=mica at rela3'essociais mais concretas e mesmo objetos materiais! como a cidade e seus elementos, Todos essesconteOdos do "cor#o" se ex#rimiriam como sonhos na consci4ncia coleti$a,

    as a rela3/o cor#o-a#arelho #s>.uico constitui a#enas um dos as#ectos! no 1undo um dos mais

     #eri1ricos! da teoria 1reudiana do sonho, I cerne da teoria está sabidamente na tese de .ue os sonhosconstituem reali&a3'es de desejo e de .ue a ex#ress/o desses desejos dissimulada #ela censura,;sse tema ex#resso com toda clare&a no ex#os de 8A96, %s imagens do sonho coleti$o s/o

    imagens de desejo! Wunschbilder! #elos .uais o homem tenta lidar com o inacabamento )Gn1ertigVeit+ ecom as im#er1ei3'es )aengel+ da ordem social , Eue #retende o coleti$o alcan3ar com essas imagens dedesejo0 uas coisas? transcender )au#heben+ e dissimular )$erVlaeren+ uma realidade insatis1atória, S/oos dois mo$imentos .ue colaboram #ara a 1orma3/o do sonho! segundo Ureud, Por um lado! o desejotenta abolir! alucinatoriamente! uma realidade #enosa! e #or outro! uma contra $ontade tenta mant4-la!recorrendo #ara isso C de1orma3/o! ;ntstellung! das re#resenta3'es .ue $eiculam o desejo )##, duo n/o tem consci4ncia clara e um sonho sujeito Cambi$al4ncia resultante do entrela3amento da uto#ia e do mito, % ar.uitetura! a moda! o jogo! o

     #anorama! s/o sonhos coleti$os .ue ex#rimem o "cor#o" )a realidade objeti$a! em seus di1erentes n>$eisde media3/o+ e estruturam-se #ela inter#enetra3/o de elementos utó#icos! .ue cont4m o desejo e im#elemem dire3/o ao des#ertar! e elementos m>ticos! .ue tentam #er#etuar as 1antasmagorias e eterni&ar o sono,

    I itinerário do 1l2neur 1oi constru>do de modo a ilustrar essa dialtica, Sua #erce#3/o 1unciona

    sem#re em dois registros! em dois n>$eis de realidade a objeti$a e a on>rica, ; dentro desta! há sem#re um$etor utó#ico e outro m>tico,%ssim! o 1l2neur está em seu elemento na rua! e nada mais material .ue a rua, as sobre a

    materialidade do as1alto surge o sonho do labirinto, I labirinto contm o desejo de chegar! o im#ulso dealcan3ar o objeti$o! e nesse sentido uto#ia! e o #erigo de trans$iar-se! o risco de n/o chegar ao 1im! oude chegar a um 1im .ue n/o seja o desejado e nesse sentido mito,

    Euando ele aborda a moda! dá uma srie de in1orma3'es #recisas sobre a indOstria t4xtil! sobre aslojas de luxo! sobre os grands magasins onde s/o o1erecidos os artigos de $estuário! etc, I sonho seentronca nesses dados reais? sonho utó#ico da reconcilia3/o com a nature&a e da con.uista de uma no$atem#oralidade! sonho m>tico da nature&a en.uanto morte e da história como sem#re igual,

    Euando examina o jogo! #arte das tend4ncias do ca#italismo 1inanceiro no segundo (m#rio e de

    sua materiali&a3/o na Bolsa , Sobre esse ch/o brota o sonho do jogo? resgate utó#ico do tem#omessi2nico! condena3/o do homem ao tem#o circular do mito,

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    (lha Saint-*ouis? bairro real e sonho do bairro, Sonho utó#ico da comunidade org2nica! auto-su1icientesonho m>tico da comunidade do mal! tambm auto-su1iciente! como o 8ntese detodas as misrias da classe o#erária,

     Notre ame! #rdio real e grande H em sua 1achada H de Hugo, Por .ue esse uto#ista da ci4ncia edo #rogresso 1oi tambm um #ro1eta do mito! um ade#to do es#iritismo0

    % cit como ber3o de Paris? 1ato histórico e tambm sonho da história, I 1l2neur sonha *utcia!uto#ia de um reencontro com a origem! mito de uma antigXidade .ue ronda! como um $am#iro! o mundo

    moderno,; os combates #o#ulares0 I 1l2neur acumula estat>sticas sobre o nOmero de barricadas e #aralele#>#edos arrancados, ; $em o sonho, ;m seu lado generoso! o dos socialistas utó#icos! .ue.uerem com#letar em 8J: as tare1as de 8JA! em seu lado re#ressi$o o dos embellisseurs stratgi.ues!.ue .uerem im#ossibilitar a constru3/o de barricadas! e o dos 1ilantro#os! .ue .uerem consolidar a lei e aordem #ela morali&a3/o da classe o#erária,

    I grand magasin? objeto material! uto#ia da mercadoria o1erecida a todos e mito .ue escra$i&a asmassas ao consumo,

    *ixo e sonho do lixo! sonho do tra#eiro! s>mbolo utó#ico da reden3/o! .uando todos os detritosser/o sal$os! recolhidos #or um grande colecionador! e s>mbolo m>tico do trabalho degradado,

    Prostituta e sonho da #rostitui3/o! imagem utó#ica de uma nature&a maternal! #er#etuamente

    dis#on>$el! e imagem m>tica de uma nature&a alienada! trans1igura3/o da m/e em cortes/,Ru>na e sonho da ru>na? res>duo de demoli3'es reais! cenotá1io dos $encidos e memento mori

    dirigido aos $encedores,Por isso! no 1undo! o 1l2neur tem ra&/o .uando cr4 ter res#ondido C #ergunta do sim#ósio, ;le dá

    uma res#osta ateórica! .ue #odemos com#letar com as categorias de Benjamin, Fra3as ao 1l2neur sabemos! sem sombra de dO$ida! .ue a res#osta sim e n/o,

    Sim! os homens habitam a cidade! en.uanto objeto real, Nesse n>$el! ela uma entidade concreta!com suas ruas! #ra3as e sistemas de trans#orte,

     N/o! os homens n/o habitam a cidade! na medida em .ue ela uma cidade de sonho, ;ssa!segundo Paris! 1unciona em outro registro! tambm uma cena! como a #rimeira! mas uma outra cena! einanderer Schau#lat&! a outra cena em .ue se d/o os sonhos, ada objeto da cidade! das ruas aos ca1s e Cs

     #ontes! cada ati$idade! da moda ao jogo e C #rostitui3/o! cada #ersonagem! tanto os reais! comoHaussman! Uourier e Baudelaire! .uanto os alegóricos! como o jogador! o colecionador e nosso $elhoconhecido! o 1l2neur! tudo o .ue a cidade contm e a #ró#ria cidade! absolutamente tudo está mergulhadono sonho! e como tal tudo ambi$alente "a ambi$al4ncia a lei da dialtica em estado de re#ouso" )#,66+ a#ontando #ara a sal$a3/o e #ara a catástro1e! #ara o sem#re igual do mito e #ara o $erdadeiramenteno$o da reden3/o, Is homens n/o habitam a cidade! #or.ue en.uanto cidade de sonho ela está sujeita aosdinamismos do inconsciente e reside no inconsciente, nos homens .ue a cidade mora! #or.ue #arte desua $ida de sonho, ! em geral! a lógica do sonho, Todo homem em sua exist4ncia diurna habita arealidade e em sua exist4ncia noturna $i$e uma realidade .ue o habita, essa rela3/o do homem com acidade! no Trabalho das Passagens? entidade 1>sica em .ue ele mora! e entidade on>rica .ue mora nele,

    as o sonho #ode ser inter#retado, mesmo essa a #rinci#al tare1a do historiador dialtico, Sua1un3/o contribuir #ara des#ertar o coleti$o .ue sonha, nisso .ue o #rojeto teórico das Passagens di1eredo surrealista! #or.ue este se mantinha na es1era do sonho! ao #asso .ue o materialista histórico estáinteressado sobretudo no des#ertar,

    esde o ex#os de 8A96! Benjamin dissera .ue "a a#lica3/o dos elementos do sonho o #aradigma do #ensamento dialtico Por isso o #ensamento dialtico o órg/o do des#ertar histórico" )#,6A+, I des#ertar $indouro! di& ainda Benjamin! "está como o ca$alo de madeira dos gregos na Tróia dossonhos" )#, ntese da .ual a consci4ncia on>rica)Traumbeusstsein+ seria a tese e a consci4ncia des#erta )Wachbeusstsein+ seria a ant>tese, ;m outras

     #ala$ras! o modelo da consci4ncia lOcida n/o a consci4ncia des#erta! o Wachbeusstsein, ;la t/o #arcial .uanto a consci4ncia de sonho, Só o des#ertar! o ;rachen! a consci4ncia realmente dialtica! #or.ue sinteti&a o saber do estado de $ig>lia com o saber ad.uirido durante o sonho! e #or isso "omomento de acordar id4ntico ao agora da cognoscibilidade" )#,6JA+,

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    om essa ex#ress/o! Benjamin e1etua uma homologia ex#l>cita entre o sujeito histórico! ca#a& de ca#tar num rel2m#ago o #assado do .ual contem#or2neo! e o sujeito do sonho! ca#a& de ca#tar! no momentoem .ue des#erta! os conteOdos $erdadeiros .ue #ulsam na trama on>rica, % humanidade "es1rega os olhos"e "o historiador assume a tare1a da inter#reta3/o dos sonhos" )#, 6:+,

    Se assim! inter#retar o sonho da realidade n/o signi1ica recondu&ir a consci4ncia ao n>$el darealidade objeti$a o Wachbeusstsein, Signi1ica ele$ar a consci4ncia ao n>$el do ;rachen! a

    consci4ncia do des#ertar! .ue inclui e transcende a consci4ncia de sonho, (nter#retar trans1ormar em #ráxis a dimens/o utó#ica do sonho! eliminando sua dimens/o m>tica! e n/o recusar o sonho em nome darealidade, es#ertar do seu sonho a cidade e.ui$ale a desencantá-la! termo eberiano ex#ressa menteusado #or Benjamin, "Só a Re$olu3/o 1a& a cidade $i$er ao ar li$re? a Re$olu3/o desencanta )ent&aubert+a cidade" )#, 698+, as desencantar a cidade n/o re#udiar a cidade de sonho e sim criar uma cidade .ueinclua em #arte a cidade de sonho? n/o $aleria a #ena libertar a cidade do minotauro a#enas #ara deixá-laentregue C tirania da realidade en.uanto mito, I .ue se #retende "montar na cidade real a cidade desonho! Paris! como con1igura3/o com#osta de todos os #lanos de edi1>cios! dos esbo3os de ruas! dos

     #rojetos de #ar.ues! dos sistemas de nomenclaturas! de todas as tentati$as .ue nunca se reali&aram" )# ,68J+ ,

    ontar na cidade em#>rica a cidade sonhada! #ara obter uma cidade messi2nica! isto ! humana

    exatamente o .ue Benjamin entende #or des#ertar! o des#ertar do alegorista no reino de eus! no reinodos homens! na erusalm $erdadeira,

    I des#ertar nessa ci$itas dei terá a estrutura da a#ocatástase! a.uela restaura3/o 1inal de todos osseres! inclusi$e o dem=nio e os condenados! sonhada #or Ir>genes, "%#ocatástase! decis/o? justamente oselementos do cedo demais e do demasiado tarde! do #rimeiro come3o e do derradeiro decl>nio! reunir tudode no$o na a3/o re$olucionária e no #ensamento re$olucionário" )#, 67+,

    I #rimeiro amor das grisettes! o #asseio em St, loud numa tarde de domingo! o assombro com o #rimeiro $idro! sim! mesmo o Vitsch! mesmo o ornamento de 1erro 1undido! mesmo o im#ulso destruti$ode Haussman! a 1antasia de uma cidade toda de #assagens! em .ue o homem esteja ao abrigo das$icissitudes da história! o terror in1antil com os subterr2neos! o 1asc>nio sentido #or %lice nos Pa>s dos;s#elhos! a embriague& dos museus de cera! sim! mesmo o 1etichismo! com sua #romessa detranscend4ncia do imediato! os $encidos de todas as re$olu3'es! mortos .ue agora #odem ser resgatados

     #elos $i$os! os 4xtases da moda! do jogo! da cole3/o! todos os elementos da cidade! tudo o .ue nela umdia existiu e tudo o .ue nunca 1oi tudo isso será sal$o nessa ex#los/o messi2nica com .ue o %ngelus

     No$us dinamita o continuum da história, Pois "somente a humanidade redimida #oderá a#ro#riar-setotalmente do seu #assado,

    (sso .uer di&er? somente #ara a humanidade redimida o #assado citá$el! em cada um dos seusmomentos,

    ada momento $i$ido trans1orma-se numa cita3/o na ordem do dia e esse dia justamente o dou>&o Uinal" )8A+, Nesse momento! os homens habitar/o a cidade dos homens! $erdadeiramente umacidade de sonho! mas em .ue o sonho deixaria de ser mito e "a a3/o seria irm/ do sonho" )#,

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    Gma $erdadeira bot2nica do as1alto se delineia a.ui, Postes de lu&! #lacas de tr2nsito e letreirosseriam seus es#cimes, omo Baudelaire! ele #romo$e em "Paris do Segundo (m#rio" umatrans1igura3/o da cidade em 1loresta,

    Bem C maneira de um #aisagista! ele a1irma .ue "o nome das ruas de$e soar como o estalar dogra$eto seco ao ser #isado e as $ielas do centro da cidade de$em re1letir as horas do dia t/o nitidamente.uanto um des1iladeiro",

     N/o #or acaso o #rimeiro destes #aisagistas a.uele .ue caminha #elas ruas! o 1l2neur, Z deri$a

     #ela cidade! ele tem de achar suas #istas como .uem marcha atra$s da sel$a,"Gma embriagu4s acomete a.uele .ue longamente $agou sem rumo #elas ruas? a cada #asso!menor se torna a sedu3/o das lojas! dos bistr=s! das mulheres sorridentes e sem#re mais irresist>$el omagnetismo da #róxima es.uina! de uma massa de 1olhas distantes! de um nome de rua," Gmencantamento do long>n.uo .ue só a.uele .ue caminha des#re$enido #ode #erceber,

    as tambm o $iajante #ossui este olhar ca#a& de metamor1osear cidades estrangeiras em #aisagem, e todas as cidades! oscou a ca#ital da Re$olu3/o! a metró#ole dos anos 7: justamente a.ue! #ara Benjamin! mais a#arece como uma 1loresta, Para o recm-chegado! cada cal3ada se trans1ormanum rio caudaloso! cada #rdio num sinal trigonomtrico! cada #ra3a num lago, % sel$a de #edra t/oim#ermeá$el .ue o olhar só distingue o .ue brilha intensamente, Tambm os ru>dos .ue ressoam de seusrecantos orientam nosso caminhar, "ada #asso assusta uma can3/o! o estre#itar de tábuas! o tilintar de

     baldes, Basta ter-se #erdido nestas #aragens #ara! com uma rede de a#anhar borboletas! segui-los .uandoes$oa3am no sil4ncio,"

    *u&es! nomes e ru>dos 1a&em estas cidades estranhas se re$elarem #ara nós, (nd>cios .ue #ermitemse orientar nos lugares! .ue irradiam sua $erdadeira $ida, omo o e1eito .ue #rodu&ia a escasse& demoradia em oscou, Euando se #ercorrem as ruas nos #rimeiros momentos do anoitecer! $4em-se! nos

     #rdios grandes e #e.uenos! .uase todas as janelas iluminadas, "Se o clar/o .ue delas brota n/o 1osse t/odesigual! crer-se-ia ter diante de si uma ilumina3/o,"

    % crian3a o terceiro alegorista da cidade, Seu olhar tambm a con$erte em #aisagem, esta $e&incrustada na memória, Tanto .ue Berlim a#arece #rimeiro em (n12ncia Berlinense como #ar.ue, %li oscanteiros! o lago! o tan.ue da lontra e as alamedas lhe #ro#orcionariam a #rimeira ex#eri4ncia dadist2ncia da.uilo .ue só se re$ela a nós #or uma Onica e bre$e $e&,

    as esta ca#acidade de a#reender a.uilo .ue des#onta no long>n.uo! esta exig4ncia de dist2ncia.ue #ró#ria do #aisagista! um olhar hoje em extin3/o, % tend4ncia no mundo moderno! da re#rodu3/otcnica! da có#ia! se a#ro#riar das coisas, %#roximar-se de tudo, N/o há mais a tens/o entre #erto elonge .ue com#unha a #aisagem, Tudo uma só su#er1>cie, %.ui a ex#eri4ncia da aura n/o nos mais

     #ermitida, Teriam ent/o a magia e o sentido das coisas se es$a>do em de1initi$o0%s coisas n/o res#ondem mais ao nosso olhar, (nsistir na busca da dist2ncia cair no clich4! no

    Vitsch, Para Benjamin! o olhar metro#olitano se 1ixa no hori&onte e ao mesmo tem#o es#reita em torno,Prescinde do sonho .ue di$aga no long>n.uo, a> a renOncia ao encantamento do distante! comBaudelaire! ser #ara ele um elemento decisi$o na l>rica moderna, Ualando dos .uadros de #aisagem! o

     #oeta di& #re1erir os dioramas e os cenários de teatro! com sua magia intensa e grosseira! aos #intores

     #aisagistas, Por.ue a.uelas coisas! embora absolutamente 1alsas! est/o #or isso mesmo in1initamente mais #róximas da $erdade,% singela dist2ncia das #aisagens das barracas de 1eira! este hori&onte a&ulado! n/o se des1a& com

    a a#roxima3/o! tal como tende a ocorrer com .ual.uer cena a#ós o #rimeiro olhar, N/o se estende!es#alha1atosa e #rolixa! .uando se chega #erto! mas se ergue! ainda mais 1echada e amea3adora! C nossa1rente, isso .ue dá! #ara Benjamin! aos cenários teatrais! seu caráter incom#ará$el,

    ;n.uanto o sonhador rom2ntico #etri1ica a #aisagem na moldura de imagens es$anecidas! o #oetatem o dom de conjurá-la sob uma no$a chamada! de rein$esti-la do #oder de re$idar o olhar, omanancial da #oesia, a miss/o do #oeta moderno? em $e& de tentar humani&ar estas coisas sem marcas!tra&er C lu& a aura .ue #ró#ria da mercadoria, N/o 1ugir C 1antasmagoria! mas $i$er no cora3/o dairrealidade! da ilus/o,

    a> a cidade a#arecer! em Benjamin! atra$s de a#arelhos de $is/o, omo imagem, % #aisagem secon$erte em #anorama! o dis#ositi$o #recursor do cinema! .ue re#resenta$a atra$s de telas #intadas!numa constru3/o redonda! a $is/o em 9@: .ue se teria de uma cidade de um #onto central e ele$ado, om

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    $aria3'es de lu& .ue simula$am o correr do dia, I #anorama re#rodu&ia a magia da cidade? seures#landecer e sua majestosa grande&a,

    as Benjamin tambm recorre a toda uma srie de arte1atos mara$ilhosos! de .ue o sc, 5(5 1oi #ródigo! ca#a&es de recriar a imensid/o das #aisagens e a abrang4ncia do olhar #anor2mico, Pan )tudo+ \orama )$ista+? o ideário máximo do sculo, esde os antigos cart'es-#ostais com o cu de #a#el celo1aneat o #anó#tico! o estereoscó#io! o Vinotoscó#io e outros a#arelhos de am#liar! dar #ro1undidade! rele$o emo$imento aos objetos, Gm #aisagismo ótico-mec2nico! .ue só seria substitu>do #ela 1otogra1ia, Gma

     #aisagem já $ista atra$s de objeti$as, % #ró#ria #assagem! com seus es#elhos e $itrines! de1inida como"uma galeria de re$erbera3'es óticas", Nestes toscos engenhos! .ue deixa$am trans#arecer seus mecanismos de ilus/o! .ue n/o se

    oculta$am como meros cenários! .ue #ara Benjamin se aninha a magia das #aisagens, da irrealidadedos #ainis #intados! dos gestos bruscos das marionetes! dos e$identes e1eitos de re1lexo e das sObitas

     #aradas das engrenagens mec2nicas .ue #ro$m! #ara ele! o seu encantamento, I olhar dos alegoristas dacidade o 1l2neur! o $iajante e a crian3a na $erdade já s/o mediati&ados #or estas 1antasmagorias! #or estas imagens, á s/o modernos, ;m Rua de /o ]nica! no texto chamado "Brin.uedos"! Benjamindescre$e a #aisagem de algumas cidades, Gma leitura mais atenta nos re$ela! #orm! .ue o #anoramadescortinado se a#resenta como estam#as de antigos álbuns de recortar! como cenários de barracas de tiroao al$o! como uma $is/o atra$s de um binóculo estereoscó#ico )rele$o+ ou como um #res#io mec2nico,

    ;stes arte1atos já eram! na #oca de Benjamin! anacr=nicos, Por .ue ele teria ido buscá-los0 ; .uea eles cabia! ent/o! #er1eitamente! a de1ini3/o de 1antasmagoria? o #roduto cultural .ue hesita ainda um

     #ouco antes de tornar-se #ura e sim#les mercadoria, (no$a3'es tcnicas .ue ainda n/o se banali&aram,omo os mtodos de constru3/o das #assagens,

     N/o seria esta uma #ista #ara analisar as imagens hoje! .uando a dist2ncia #arece ter desa#arecido #ara sem#re0 N/o se #ode! tal$e&! nem mais 1alar em #aisagem! só em imagens, as estas imagens #odem ser! #ara ele! dotadas de 1or3a, a sur#resa .ue nos reser$a Benjamin? ele #rocura magia esigni1icado num mundo su#ostamente e$acuado de tudo isso, %s imagens ou algumas delas teriam hojeo #oder de nos 1a&er estas coisas sem olhos re$idarem o olhar! de ca#tarem o momento em .ue a cidadeinanimada acena #ara nós0

    NOTAS.

    8 Is nOmeros entre #ar4nteses designam a #ágina corres#ondente de as Passagen-WerV )UranV1urt! SuhrVam#! 8A7! ed, Rol1 Tidemann+! $ol, K! tomos 8 e 7, %s outras obras s/o citadas em notas de # de #ágina, N/o citei es#eci1icamente nenhumtrabalho sobre Benjamin! mas no .ue di& res#eito ao Passagen-WerV! consultei com #ro$eito ose1 UXrnV/s! Surrealismus als;rVenntnis )Stuttgart! , B, et&lersche Kerlagsbuchhandlung! 8A@+ e Susan BucV-orss! The ialectics o1 Seeing )*ondon!The (T Press! 8AA+,7 1, es#ecialmente W, B,! Geber einige oti$e bei Baudelaire! F,S,! $ol, (-7,9 *ouis %ragon! *e PaQsan de Paris! Paris! Fallimard! 8A7@,< %ndr Breton! Nadja! Paris! Fallimard! 8A@