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  • AOREANA, 2007, Supl. 5: 74-111

    OS AORES, ILHAS DE GEODIVERSIDADE: O CONTRIBUTO DA ILHADE SANTA MARIA

    Joo Carlos Nunes, Eva Almeida Lima & Sara Medeiros

    Departamento de Geocincias, Universidade dos AoresRua da Me de Deus, Apartado 1422, 9501-801 Ponta Delgada, Aores, Portugal

    ABSTRACTNowadays the Natural Heritage of The Azores Islands is being considered

    not only by its flora and fauna (especially by the endemic and indigenousspecies e.g. its biodiversity), but also by the geological formations that supportand constrain them. In fact, the Azorean biotic world, including the AzoreanMan, has roots on the volcanoes that built them, on the rocks that form themand on the air and water that surround them. Thus, besides the Azores biodi-versity, it is important to know, to catalogue and to protect the geodiversity (orabiotic nature) of Azores Archipelago, seen has an important component of theAzorean Natural Heritage.

    The Azores geodiversity is the result of the geotectonic setting of the archi-pelago (at the ATJ- Azores triple junction), the type of volcanic eruptions, thenature of its magmas and rocks and, also, the important role played by theweathering processes along the millennia. Therefore, scoria cones, maars, pitcraters, calderas, trachitic coules, domes, prismatic jointing, fumarolic fields,pahoehoe fields (lajidos), lava deltas (lava fajs), volcanic caves and pits,pillow lavas, obsidian, necks and dykes are among some of the landscapes,structures and products that characterize the Azorean geodiversity.

    In this context, Santa Maria Island presents some peculiarities, and increasedimportance, in terms of the geodiversity and geological heritage of the Azores,once: 1) it is the island with the older rocks of the archipelago; 2) has many out-crops of sedimentary rocks, including limestone, conglomerates and sandstones,often with abundant and diversified fossil content, 3) is the only island were sev-eral and major outcrops of pillow lavas can be observed, sometimes on well pre-served stratigraphic sequences and 4), being as volcanic in origin as the others,also presents several volcanic structures and landscapes (e.g. prismatic jointing,volcanic necks, pillow lavas, old and weathered scoria cones, spheroidal joint-ing), some of which can be considered has geosites.

    Some of these geosites were already classified and are part of the 38 terres-trial protected areas of the Azores Islands (e.g. Pedreira do Campo).

    RESUMOAs ilhas dos Aores so todas de natureza vulcnica e apresentam uma

    grande variedade de rochas, formas, estruturas e paisagens, que derivam, entreoutros factores, da natureza dos magmas, do tipo de vulcanismo e doscondicionalismos geotectnicos intrnsecos gnese das ilhas, em especial doseu posicionamento no Atlntico Norte, na juno tripla das placas litosfricasEuroasitica, Norte Americana e Africana (ou Nbia). A paisagem aoriana,

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    INTRODUO

    OPatrimnio Natural de deter-minado territrio constitudopela sua flora e fauna e pelo suportegeolgico que as sustenta econdiciona. Neste contexto, o mundovivo que constitui as ilhas dosAores, incluindo o HomemAoriano, tem razes nos vulcesque as originaram, nas rochas que asconstituem e no ar e no mar que asenvolvem. Importa, pois, conhecer ageodiversidade do arquiplago, umacomponente importante do seuPatrimnio Natural.

    Mas, o que a geodiversidade?Este termo pode ser definido como aamplitude natural (diversidade) decaractersticas geolgicas (rochas,minerais e fsseis), geomorfolgicas(paisagem, processos) e do solo.Inclui as suas associaes, relaes,propriedades, interpretaes esistemas (Gray, 2004).

    A geodiversidade consiste, assim,na variedade de ambientes

    geolgicos, fenmenos e processosactivos (endgenos e exgenos) quedo origem a paisagens, rochas,minerais, fsseis, solos e outrosdepsitos superficiais que so osuporte para a vida na Terra. Emsuma, a geodiversidade compreendetodos os aspectos no vivos doplaneta Terra, ou seja, a naturezaabitica.

    Dada a natureza arquipelgicados Aores e as limitaes impostaspela dimenso e distribuio dasdiferentes ilhas, tais componentesassumem uma relevncia acrescida.Com efeito, a geodiversidade dasilhas dos Aores, juntamente comoutros factores determinantes, comoo isolamento insular, o clima e o tipode solos, so responsveis porcondies ecolgicas distintas, quetraduzem, de forma singular, aestreita relao entre ageodiversidade e a biodiversidade doarquiplago.

    Neste contexto, a ilha de SantaMaria apresenta peculiaridades eimportncia acrescidas, atendendo a

    caracterizada, genericamente, por 14 grandes edifcios vulcnicos (vulcespoligenticos, na sua maioria com caldeira) e por cerca de 1400 vulcesmonogenticos (incluindo cones de escrias/bagacina, domos, anis de tufos econes surtseianos), apresenta caractersticas marcantes no contexto nacional einternacional.

    A ilha de Santa Maria distingue-se das restantes do arquiplago pelas suascaractersticas edafo-climticas, geolgicas e morfolgicas: evidencia umaimportante multiplicidade de paisagens, de produtos vulcnicos e de rochassedimentares que, fazendo parte integrante da vivncia mariense, devero sermelhor conhecidas e, logo, devidamente valorizadas. Como testemunhos dageodiversidade da ilha, refira-se as jazidas fossilferas da Pedra-que-Pica, oscalcarenitos do Figueiral, a disjuno colunar da Ribeira do Malos, os camposde lavas submarinas (pillow lavas) da Pedreira do Campo e da Ponta do Castelo,a chamin vulcnica das Setadas, as arribas escarpadas e as grutas litorais, entretantos outros, objecto de caracterizao no presente documento.

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    que: 1) corresponde parcela doterritrio aoriano onde existem asmais antigas formaes geolgicas doarquiplago; 2) apresenta extensosafloramentos de rochas sedimentares,incluindo calcrios, calcarenitos econglomerados, frequentemente comcontedo fssil abundante ediversificado e 3) corresponde nicailha do arquiplago onde existemafloramentos de lavas em almofada(pillow lavas), abundantes esignificativos.

    Uma caracterstica peculiar nahistria geolgica da ilha de SantaMaria corresponde existncia deuma intensa actividade vulcnica,

    alternada com perodos de acalmiavulcnica e concomitantes oscilaesdo nvel do mar e episdios de erosointensa. Em consequncia, a ilhapossui actualmente formasvulcnicas muito alteradas e ndicesde eroso claramente superiores aosdas outras ilhas do arquiplago, oque atesta, simultaneamente, a suamaior antiguidade geolgica face srestantes ilhas dos Aores. Nestecontexto, a sua localizaogeogrfica, clima, actividadevulcnica e oscilaes do nvel domar que a afectaram contriburam,indubitavelmente, para a suaevoluo e a geodiversidade queactualmente evidencia.

    FIGURA 1 Localizao geogrfica da ilha de Santa Maria (Seco deGeografia/UAc).

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    ENQUADRAMENTO GERAL DAILHA DE SANTA MARIA

    O arquiplago dos Aores,localizado no Atlntico Norte a cercade 1600 km do continente europeu, formado por nove ilhas e algunsilhus de origem vulcnica. As ilhasencontram-se dispersas segundo umaorientao WNW-ESE, numa faixa deaproximadamente 600 km deextenso. Esto distribudas por trsgrupos: o Grupo Ocidentalconstitudo pelas ilhas do Corvo e dasFlores; o Grupo Central integrando asilhas Faial, Pico, So Jorge, Graciosa eTerceira e o Grupo Oriental, formadopelas ilhas So Miguel e Santa Mariae os Ilhus das Formigas (Fig. 1).

    Santa Maria a ilha mais Orientaldo arquiplago, ocupa uma rea de95,9 km2 e apresenta umcomprimento e largura mximos de16,6 km e de 9,7 km, respectivamente.O seu ponto mais elevado localiza-seno Pico Alto, a 587 m de altura. A ilhade So Miguel a mais prxima deSanta Maria, a 80,6 km para Norte,

    distncia esta medida entre a Pontados Frades (Santa Maria) e a Vila daPovoao (So Miguel). Os Ilhus dasFormigas, por seu turno, estolocalizados a cerca de 37 km paraNordeste da Ponta do Norte.

    A ilha alberga uma populao de5578 habitantes (INE, 2002),distribuda pelas 5 freguesias doconcelho de Vila do Porto: Vila doPorto, So Pedro, Almagreira, SantaBrbara e Santo Esprito (Tabela 1).

    Santa Maria a ilha mais seca erida do arquiplago, comtemperaturas da ordem de 17 C noInverno e de 24 C no Vero,enquanto que a precipitao mdiaanual varia entre 600 mm, na zonamais aplanada da ilha e 1800 mm nazona mais montanhosa da ilha(Azevedo et al., 2004).

    GEOLOGIA E HISTRIAVULCNICA DA ILHA DE SANTAMARIA

    A ilha de Santa Maria constituda por uma sequncia derochas e materiais vulcnicos com

    TABELA 1 Passaporte da ilha de Santa Maria, Aores.

    Localizao 36 58 20 N / 25 05 59 Wrea 95,9 km2

    Permetro 63,4 km (Borges, 2003)Altitude mxima 587 mComprimento mximo 16,6 kmLargura mxima 9,7 kmPopulao 5578 habitantesConcelhos 1Freguesias 5Ilha mais prxima So Miguel (80,6 km)

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    intercalaes de rochas sedimentaresmarinhas e terrestres em posiesestratigrficas diversas (Serralheiro,2003). Por ser a ilha mais antiga dosAores, as suas estruturas emorfologia vulcnicas originais esto,actualmente, total ou parcialmenteerodidas e/ou desmanteladas, sendo,em alguns casos, irreconhecveis.

    Do ponto de vista geomor-folgico, destaca-se a presena deuma serra, localizada na parte centralda ilha, constituda por uma cadeiade picos que culminam no Pico Alto eque, no seu conjunto, definem umalinhamento Norte-Sul (SRAM & UE,2005). Esta serra separa 1) uma reaaplanada e de cotas baixas, onde asaltitudes no ultrapassam os 277 m,

    seca e com pouca vegetao, aOcidente e 2) uma zona montanhosae acidentada, a Este, com altadrenagem e maior cobertura vegetal,onde as altitudes atingem os 587 m noPico Alto, 492 m nas Cavacas e 482 mnas Caldeiras (Figs. 2, 3 e 4).

    A metade Oriental da ilha atravessada por vrios cursos degua profundamente encaixados,com trajecto condicionado pelorelevo acidentado e pela altitude dazona, geralmente de cotas acima dos200 m e com alguns picos com maisde 300 m de altitude (SRAM & UE,2005). Esta zona constituda porredes hidrogrficas maishierarquizadas, onde predominamcursos de gua de vales mais abertos

    FIGURA 2 Orografia da ilha de Santa Maria (adaptado de Forjaz, 2004).

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    a montante e mais encaixados ajusante. De entre estas destacam-se asbacias hidrogrficas da RibeiraGrande, a Sul, da Ribeira do Salto, aLeste e da Ribeira de Santa Brbara, aNorte, esta ltima a de maiordensidade de drenagem da ilha(Cruz, 1992). Na zona Ocidental dailha, mais aplanada, a rede dedrenagem muito pouco desen-volvida, com trajectos essencialmenterectilneos, que correm segundo o

    declive do terreno. Nesta zonadistinguem-se as redes hidrogrficasdas ribeiras da Praia e de SoFrancisco, ambas a Sul, e da Ribeirado Engenho, a Norte.

    O litoral da ilha de Santa Maria,de grande valor paisagstico, incluiarribas rochosas de considervelaltura e diversas baas, mais oumenos recortadas. De entre as arribase baas da ilha destacam-se a Baa daCr, a Baa do Raposo, Lagoinhas e o

    FIGURA 3 Hipsometria da ilha de Santa Maria (adaptado de Forjaz, 2004).

    FIGURA 4 Perfil topogrfico da ilha de Santa Maria (in Frana et al., 2003).

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    seu ilhu, e a Baa do Tagarete, nacosta Norte; toda a costa Oriental, emparticular a Baa de So Loureno e oilhu do Romeiro, a Baa do Cura, aMaia e a Ponta do Castelo; parte dacosta Sul, entre a Ponta do Castelo, aPonta da Malbusca e Larache e, aOcidente, da Praia at Ponta doMarvo, passando pelo Figueiral(SRAM & UE, 2005). De acordo comBorges (2003), grande parte dosmodelados da faixa costeira de SantaMaria devem a sua formao aagentes dinmicos de naturezamarinha (ondas, mars, oscilao donvel do mar).

    O litoral da ilha praticamentetodo escarpado, salvo algumas baasonde existem pequenas faixas deareia ou de calhaus. As duasprincipais praias da ilha, a PraiaFormosa e a praia de So Loureno,so de areia clara, na medida em quederivam, em grande parte, da erosode rochas carbonatadas.

    De acordo com Madeira (1986), osfactores estruturais dominantes emSanta Maria so alinhamentostectnicos de orientao preferencialNW-SE e uma densa rede filonianade orientao predominante NE-SW,que afectam essencialmente a parteSudoeste da ilha, mais antiga.

    Segundo Serralheiro et al. (1987),do ponto de vista litoestratigrfico,individualizam-se oito unidadesdistintas na ilha de Santa Maria queso, da mais antiga para a maisrecente: a Formao dosCabrestantes, a Formao do Porto, oComplexo dos Anjos, o Complexo doTouril, o Complexo do Facho-PicoAlto, a Formao de Feteiras, as

    Praias Plio-Quaternrias,Quaternrias e Terraos e, ainda, asFormaes Holocnicas (e.g. aluviese depsitos de vertente Fig. 5). Deseguida efectuada uma brevecaracterizao de cada uma dasunidades litoestratigrficas acimamencionadas, de acordo comelementos disponibilizados porSerralheiro (2003).

    A Formao dos Cabrestantes aunidade geolgica com menorexposio (apenas numa linha degua na costa Noroeste, na Baa dosCabrestantes) e a mais antiga da ilhae do arquiplago, de idade Ante-Miocnica Superior. Esta unidadeest representada actualmente porafloramentos de piroclastossubmarinos, segundo um depsitobem estratificado (por vezes comestratificao entrecruzada), muitocompacto, com colorao amarelada,cristais de augite e lticos de naturezabasltica. Os nveis mais superioresdestes tufos surtseianos apresentamuma colorao avermelhada, devidoao metamorfismo termal causadopelas escoadas lvicas do Complexodos Anjos que recobrem ospiroclastos submarinos (Serralheiro eMadeira, 1993).

    A Formao do Porto expressa-seem dois cones de piroclastossubareos expostos, em seco, nasarribas da Baa da Cr, na costa Norteda ilha, e do porto comercial de Vilado Porto, na costa Sul. Os piroclastosdo cone do porto esto cimentadospor carbonatos, dada a sua idade, oque lhes confere grande coerncia(Serralheiro, 2003). Tanto a formaodos Cabrestantes como esta ltima

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    apresentam no topo nveis decozimento resultantes do contactodestas formaes com as escoadaslvicas, mais recentes, do Complexodos Anjos.

    O Complexo dos Anjos constitudo por um espessoempilhamento de escoadas lvicasbaslticas s.l., subareas, intercaladacom nveis pouco espessos depiroclastos e paleosolos e atravessadapor abundantes files de naturezabasltica s.l. As escoadas afloramdesde Larache, a Leste de Praia, nacosta Sul, at Baa de Tagarete, na

    costa Norte e em vastas reas na parteOcidental da ilha: na zona dos Anjos,Aeroporto, Vila do Porto e Praia.Diferentes aspectos podem serobservados nas escoadas lvicas queintegram este complexo vulcnico,nomeadamente estruturasencordoadas, textura ora compactaora vacuolar, disjuno colunar, emlajes ou em bolas e alguns nveis declinker. Os piroclastos desta unidadegeolgica so pouco abundantes e sso conhecidos dois afloramentossignificativos na rea da Vila doPorto: na Ribeira do Sancho e na

    FIGURA 5 Mapa vulcanolgico simplificado da ilha de Santa Maria (adaptado deSerralheiro et al., 1987). 1 - Formao dos Cabrestantes; 2 - Formao do Porto; 3 -Complexo dos Anjos; 4 - Complexo do Touril; 5 - Complexo do Facho - Pico Alto; 6 -Conglomerados e calcarenitos fossilferos do Complexo do Facho - Pico Alto; 7 -Formao das Feteiras; 8 - Praias plio-quaternrias, quaternrias e terraos; 9 - Aluvies,depsitos de vertente, areias e cascalheiras de praia.

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    Ribeira dos Poos (Serralheiro, 2003).Os files, em nmero superior a 350,localizam-se entre a zona doAeroporto e a Praia, a Sul, e entre asbaas do Salto de Ces e do Tagarete,a Norte, com orientaes predo-minantes de N24E a N74E (65% dototal) na parte Sudoeste da ilha e deN26W a N4E na costa Norte. Refira-se que as intruses filonianascorrespondem a um dos ltimosepisdios deste complexo, pelo queatravessam todo o empilhamentolvico do Complexo dos Anjos.

    O Complexo do Touril estrepresentado por sedimentosterrgenos e marinhos e por escoadaslvicas submarinas (pillow lavas), euma escoada subarea, de naturezabasltica s.l.. As maiores espessurasdos sedimentos encontram-se nacosta Norte (desde as baias da Cr edo Raposo) e na costa Sul (doFigueiral ao Touril) e ultrapassam120 m. De um modo geral, da basepara o topo, neste complexoobservam-se conglomerados grossei-ros dispersos, tipo lahar, uma escoadalvica subarea, escoadas lvicas epiroclastos submarinos e, no topo,uma srie sedimentar marinhacomposta essencialmente por are-nitos, argilas, conglomerados,calcarenitos e calcrios, todos fossi-lferos. Os mais antigos depsitossedimentares terrgenos (e.g. conglo-merados) distribuem-se irregular-mente entre Anjos e Larache. A nicaescoada lvica subarea encontra-seem Larache e os piroclastos eescoadas lvicas submarinos (ataltitudes de cerca de 80m) observam-se sobretudo desde a Baa do Raposo

    at a Baa do Salto de Ces. Inter-calados nos conglomerados existemnveis arenticos, de argila, calca-renitos e calcrios, estes ltimosmuito fossilferos e que foramexplorados principalmente para aproduo de cal (e.g. Figueiral). Osestratos calcrios aparecem prin-cipalmente entre a Baa da Cr, Anjose Accias, na costa Norte, e noFigueiral, na costa Sul.

    O Complexo do Facho-Pico Altoedificou-se na sequncia de trs fasesvulcnicas: a primeira est relacio-nada com a unidade vulcano-estratigrfica do Facho e as restantesduas com a unidade do Pico Alto. Ovulcanismo que originou a unidadedo Facho foi praticamente todosubmarino, estando actualmentevisveis apenas dois centrosemissores posicionados na parte Sulda ilha (Serralheiro, 2003), rela-cionados com esta actividade: o Picodo Facho e um segundo conepiroclstico situado a 500 m paraOeste da Rocha Alta, cuja chamin seobserva na arriba. Ambos estescentros emissores emitiram piro-clastos e escoadas lvicas subma-rinas. Na costa Norte, ter havidopelo menos mais um centro eruptivoassociado a esta unidade, do qual sedesconhece a sua localizao, por seencontrar desmantelada. Uma vezcessada a actividade vulcnica dafase do Facho em toda a ilha edurante um perodo de temporelativamente longo (Serralheiro,2003), geraram-se as condiesnecessrias para a deposio desedimentos sobre as rochas vul-cnicas submarinas do Facho, que

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    contriburam, designadamente, paraa formao dos depsitos de praia.Estes depsitos, com espessuramtrica, so constitudos porconglomerados muito grosseiros comcalhaus bem rolados e matrizcalcarentica, esta ltima muito ricaem fsseis, como o caso da Pedra-que-Pica (Serralheiro, 2003).

    A unidade vulcanoestratigrficado Pico Alto, resultante funda-mentalmente de uma actividadevulcnica fissural, encontra-se ex-posta sobretudo na zona Oriental dailha. Esta unidade constituda porduas sries:

    - a srie inferior desenvolveu-se na rea dos actuais relevoscentrais e contribuiu para ocrescimento da ilha para Oriente.A actividade vulcnica associadafoi essencialmente subarea, ondeos edifcios vulcnicos estavamemersos, existindo simultanea-mente uma importante fciessubmarina, com testemunhosdesde a Baa do Tagarete at Ponta da Malbusca e ao longo dacosta Leste. O nico centroeruptivo que, actualmente, sepode relacionar com esta srie oPico Malos, sendo que, comoreferido, a actividade vulcnicatenha sido sobretudo fissural.

    - a srie superior do Pico Altocobre uma grande superfcie dazona Oriental da ilha, distin-guindo-se emisses subareas esubmarinas. Da fcies subareaafloram extensos mantos lvicoscom intercalaes piroclsticas,algumas chamins e numerososfiles (cerca de 230), que

    originaram os actuais relevoscentrais das Cavacas Caldeira,passando pelo Pico Alto. Asescoadas lvicas submarinasafloram, apenas, nas arribas,apresentando maior expresso daBaa de S. Loureno, Maia e at Ponta do Castelo.As duas sries so separadas por

    sedimentos terrestres e marinhos(Serralheiro, 2003). Os primeiros soconstitudos exclusivamente poraluvies e depsitos de enxurrada(lahars), sob a forma de con-glomerados brechides com matrizargilosa ou grosseira, e que apre-sentam maior expresso entre BomDespacho Velho e Alto do Poente eentre Feteiras e Poo Grande. Ossedimentos marinhos, por seu turno,apresentam-se segundo pequenosafloramentos correspondentes adepsitos de antigas praias, quepodem ser observados na Ponta dosMatos, na Ponta da Rocha ou naPonta do Castelo, na costa Este dailha, neste ltimo caso constitudospor calcarenitos fossilferos plio-cnicos (Serralheiro, 2003).

    A Formao das Feteiras constituda por piroclastos subareos(lapilli e cinzas), profundamentealterados em argilas intensamentecoradas de vermelho (popularmentedesignadas por almagres Ser-ralheiro, 2003), e alguns derrameslvicos. A sua exposio encontra-seconcentrada sobretudo na parteOcidental da ilha, entre Brejo eFaneca, existindo, tambm, pequenasmanchas na parte Oriental da ilha. Oscentros emissores associados foramos cones de piroclastos soldados

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    (spatter), actualmente muito des-mantelados, que se localizam entreSo Pedro e a Ribeira do Engenho, deentre os quais se identificam oscabeos Saramago, Trevina ePiquinhos (ou Monteiros). A maiorparte dos piroclastos querepresentam a Formao das Feteirasforam removidos pela erosomarinha quaternria, na regioOcidental, e pelo entalhe das linhasde gua na regio Oriental, quedeixou apenas pequenos retalhos nosinterflvios.

    As Praias Plio-Quaternriascorrespondem a nveis de areogrosseiro com matriz argilosa, muitoalterada, entre 130 m e 200 m dealtitude, que no contm fsseis massim pequenos ndulos de limonite.Existem pequenos depsitos decalhaus rolados a Nordeste deSantana, em Feteiras de Baixo, entreCh de Joo Tom e Ribeira doEngenho, na estao LORAN (Pontado Norte) e a Noroeste do PicoMalos. H, tambm, plataformas deabraso com alguns calhaus roladosdispersos e as praias que se formaramsobre os piroclastos da Formao deFeteiras possuem ndulos ferru-ginosos. Estes depsitos de praiaencontram-se na estao LORAN (altitude de 160 m), a Noroeste daFaneca (a cerca de 200 m de altitude)e a Nordeste de Santana. As PraiasQuaternrias, por seu turno, estoassociadas s oscilaes do nvelmdio do mar ocorridas noPlistocnico e existem desde a Praiaat ao Monte Gordo (e.g. na zona doAeroporto), em antigas plataformasde abraso marinha, a altitudes

    compreendidas entre os 5 e os 120 m(Madeira, 1986; Serralheiro &Madeira, 1993). Os materiais que asconstituem so conglomerados,areias e argilas, margas calcrias ecalcarenitos, muito fossilferos (e.g.Prainha e Praia) e calcrios comgrande abundncia de macro-foraminferos. Relacionados comaquelas oscilaes do nvel do marexistem alguns Terraos em algumaslinhas de gua, como o caso daRibeira de S. Francisco e do Farropo.

    Os materiais mais recentes,Holocnicos, so constitudos poraluvies, depsitos de vertente,terraos fluviais, depsitos de areiaelicas e de praia, sendo os doisprimeiros aqueles que ocupam reasmais significativas. Os depsitos dealuvies existem em quase todas aslinhas de gua com pouco declive eos depsitos de vertente estopresentes nas arribas Sul, Este eNorte da ilha. So de grandesdimenses, e espessos, os depsitosde vertente formados custa dequebradas/desmoronamentos dasarribas, posteriormente transfor-mados em socalcos pelo Homem,designadamente para o cultivo davinha, como acontece na Baa de S.Loureno. Actualmente, os principaisdepsitos de areias de praia existemem So Loureno e na Praia Formosa.

    Na Tabela 2 apresenta-se umresumo das unidades e formaesgeolgicas que constituem a ilha deSanta Maria e que foram suma-riamente descritas atrs. A lito-estratigrafia indicada materializauma complexa evoluo geolgica ede variaes relativas do nvel do

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    mar, que abrangem os ltimos 8 a 10milhes de anos (Ma) da histriavulcnica do Atlntico Norte(Serralheiro & Madeira, 1993 eSerralheiro, 2003).

    Assim, e em termos gerais, a ilhade Santa Maria ter emergido muitoprovavelmente durante o Tortoniano(Miocnico mdio), h cerca de 8 a 10Ma, e a actividade vulcnica con-

    tinuou at ao Pliocnico Superior. Aeroso dos relevos deu origem adepsitos conglomerticos (do tipolahar), enquanto que as variaesrelativas do nvel do mar deixaramtestemunhos sob a forma desedimentos marinhos, os quais seencontram intercalados nos produtosvulcnicos (Serralheiro & Madeira,1993). As rochas vulcnicas sub-

    TABELA 2 Sumrio da geologia da ilha de Santa Maria (adaptado de Serralheiro, 2003).

    UNIDADESGEOLGICAS

    FCIESTERRESTRE

    FCIESMARINHA ESTRATIGRAFIA

    Milhesde anos

    (BP)

    FormaesHolocnicas

    - aluvies- depsitos devertente e degravidade

    - areias de dunas- aterros- terraos

    - areias e cascalheiras depraia

    - praias quaternrias(2 a 100 m de altitude)- praias plio-quaternrias(130 a 200 m de altitude

    Qua

    tern

    rio

    (Q

    )

    Holocnico

    2Formaes

    Plistocnicas Plistocnico

    Formao deFeteiras (FF)

    - pequenas escoadaslvicas, piroclastos econes desmantelados

    Plio

    cni

    co

    Superior

    Complexo doFacho (F) Pico

    Alto (PA)

    - escoadas lvicas,piroclastos, chaminse files

    - depsitos deenxurrada (lahars)

    - cones piroclsticos

    - escoadas lvicas epiroclastos (LRs)

    - conglomerados ecalcarenitos, fossilferos

    - escoadas lvicas epiroclastos (LRi)

    - escoadas lvicas,piroclastos e cones(chamins)

    Inferior

    Complexo doTouril (CT)

    - depsitos deenxurrada (lahars)

    - escoadas lvicas(MCT)

    - calcrios, calcarenitos eargilas (fossilferos) earenitos

    - escoadas lvicas epiroclastos (LRCT)

    - conglomerados

    Mio

    cni

    co

    Messiniano 5

    Complexo dosAnjos (CA)

    - files, escoadaslvicas e piroclastos

    Tortoniano

    7

    Formao do Porto(FP)

    - cones piroclsticos efiles

    Formao dosCabrestantes () - piroclastos (cone)

    Serravaliano?

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    marinas (e.g. pillow lavas) e as rochassedimentares da ilha de Santa Mariaregistam uma descida do nvel mdiodas guas do mar desde o fim doPliocnico, da ordem de 180 metros.

    A Formao dos Cabrestantesrepresenta uma fase vulcnicasubmarina, presumivelmente antece-dente ao perodo de emergncia dailha, enquanto que a Formao doPorto corresponde fase vulcnicasubarea, estromboliana, associada fase inicial da emergncia da ilha.No sendo conhecidas dataesabsolutas e contedo fssil em rochasdestas formaes, as idadesSerravaliana e Tortoniana para estasformaes, em particular a primeira,devem ser consideradas comoindicativas.

    O Complexo dos Anjos mate-rializa uma fase de intensovulcanismo subareo, essencialmentefissural e efusivo, que se desen-volveu, aproximadamente, de 8 a 5,5milhes de anos (Ma) atrs. Esta faseeruptiva foi responsvel pelo pri-meiro crescimento da ilha, aumen-tando-a substancialmente para Norte,em cerca de 3 km (Serralheiro, 2003):o Ilhu das Lagoinhas testemunhaeste crescimento, que a eroso ma-rinha tem vindo progressivamente adestruir.

    O Complexo do Touril traduz umperodo de paragem, ou diminuio,na actividade vulcnica subarea,que coincidiu com uma fase trans-gressiva, que iria elevar o nvel domar at uma altitude de, pelo menos,180 m (Serralheiro, 2003). Esteperodo da histria da ilha, sob atransgresso Messiniana-Pliocnica,

    inclui a emisso de escoadas lvicassubmarinas (mais importantes nacosta Sul do que na costa Norte) eespessos depsitos de sedimentosmuito fossilferos (incluindo conglo-merados, provenientes da destruiodos relevos emersos, e calcarenitos,margas e calcrios), com idades emtorno de 5 Ma.

    A fase inicial do Complexo doFacho-Pico Alto representa uma fasede vulcanismo intenso, submarino,que inclui a gnese do Pico do Fachoe de extensas pillow lavas, das quais amais elevada se encontra a 180 m dealtitude (Serralheiro, 2003), aumen-tado a rea da ilha para dimensesprximas das actuais. Segue-se novaregresso marinha, cuja descida donvel do mar potencia o aparecimentode uma actividade vulcnica suba-rea (gerando relevos importantes) e aformao de depsitos de enxurrada(lahars), associados aos fenmenoserosivos concomitantes. No seuconjunto, o Complexo do Facho-PicoAlto representa uma fase de vul-canismo intenso, submarino a suba-reo, que se ter desenvolvido h cercade 5 a 3 Ma.

    De idade igualmente inferior acerca de 4,5 Ma (e.g. Pliocnica), aFormao das Feteiras caracteriza-sepor uma actividade vulcnica suba-rea essencialmente explosiva, a qualtraduz o ltimo episdio eruptivoocorrido na ilha de Santa Maria.

    Aps a edificao dos relevosassociados Formao das Feteiras,esta ilha afectada exclusivamentepela meteorizao e eroso, terrestree marinha, com a ocorrncia de novosfenmenos de deposio sedimentar,

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 87

    RefUTM

    Localizao Tipo de Produto Idade(anos)Erro

    (anos) AutorM (m) P (m)

    Perto de Praia Sequncia basltica 4 200 000 Abdel-Monem

    et al.,1968

    SMA-3B

    SMA-3

    SMA-1

    662525

    669000

    668735

    4092725

    4091263

    4091688

    Arriba, a Oeste do Aeroporto (Baixa daSalomeira)

    Sul da Praia

    Oeste da Praia

    Basalto alcalinoolivinico (CA)

    Ancaramito (CA)

    Basalto alcalinoolivinico (F)

    8 120 000

    6 080 000

    4 130 000

    850 000

    510 000

    350 000

    Abdel-Monem

    et al.,1975

    S14

    S15

    S65

    664412

    669925

    670675

    4089962

    4094750

    4090450

    500 m a SW do porto de Vila do Porto

    150 m a Sul do topo do Pico Alto

    Base da arriba, a Oeste da Malbusca

    Basalto (CA)

    Havaito (PA)

    Basalto (CT)

    5 140 000

    5 110 000

    4 200 0004 700 0004 900 000

    401 000

    200 000

    1 100 0001 000 000800 000

    Feraudet al.,1980

    S 17

    SM 37

    S 45

    MA 41

    S 63

    SM 54

    MA 35

    MA 12

    MA 7

    SM 56

    MA 5

    SM 16

    MA 26

    MA 1

    672125

    662275

    671125

    669113

    671925

    672625

    676512

    669525

    669628

    672610

    669703

    666487

    676575

    668462

    4091900

    4093325

    4092588

    4091775

    4091412

    4088925

    4088868

    4091337

    4091475

    4089775

    4091525

    4097212

    4088778

    4091563

    Cruzamento da estrada Santo Esprito-Malbusca

    Arriba a Oeste do Aeroporto, 5 m acima don.m.a.m.

    Estrada para Santo Esprito, s Fontinhas

    Estrada para Praia, ao Jardim, 60 m acima don.m.a.m.

    Estrada Setadas-Malbusca

    ESE do VG. da Piedade, 40 m acima don.m.a.m.

    Ponta do Castelo, 65 m acima do n.m.a.m.

    Estrada para Praia, 60 m acima do n.m.a.m.

    Barreiros

    ESE do VG. da Piedade, 115 m acima don.m.a.m.

    Estrada Praia-Malbusca, 150 m acima don.m.a.m.

    Ponta do Pinheiro

    Ponta do Castelo

    Estrada velha Facho-Praia, 150 m acima don.m.a.m.

    Chamin (PA)

    Escoada lvicasubarea (CA)

    Dique (PA)

    Dique (CA)

    Dique (PA)

    Esc. lvica submarina(F)

    Esc. lvica subarea(PA)

    Frag. de basalto emconglomerado (CT)

    Esc. lvica submarina(F)

    Esc. lvica subarea(PA)

    Esc. lvica subarea(PA)

    Esc. lvica submarina(F)

    Esc. lvica submarina(PA)

    Esc. lvica submarina(F)

    5 500 000

    5 270 000

    5 250 000

    4 800 000

    4 600 000

    4 230 000

    3 850 000

    3 770 000

    3 530 000

    3 530 000

    3 520 000

    3 420 000

    3 300 000

    3 200 000

    1 200 000

    150 000

    160 000

    250 000

    100 000

    100 000

    250 000

    450 000

    120 000

    100 000

    170 000

    100 000

    300 000

    170 000

    Feraudet al.,1984

    Ponta do Monteiro

    Oeste da Malbusca, 20 m acima do n.m.a.m.

    ESE do VG. da Piedade, 90 m acima don.m.a.m.

    5 270 000

    4 600 000

    3 500 000

    Ferreira&

    Azevedo1995

    PC1 A

    PC1 B

    PC1 C

    PP1 I

    PP1 II

    PP1 III

    665958

    665958

    665958

    675838

    675838

    675838

    4090605

    4090605

    4090605

    4089925

    4089925

    4089925

    Pedreira do Campo

    Pedreira do Campo

    Pedreira do Campo

    Pedra-que-Pica

    Pedra-que-Pica

    Pedra-que-Pica

    Fssil de bivalve (CT)

    Fssil de bivalve (CT)

    Fssil de bivalve (CT)

    Fssil de molusco(CT)

    Fssil de molusco(CT)

    Fssil de molusco(CT)

    2 780 000*

    2 240 000*

    10 030 000*

    5 280 000*

    5 670 000*

    5 590 000*

    3.88-2.36a

    2.58-1.89a

    10.34-9.75a

    5.56-4.96a

    5.82-5.49a

    5.82-5.25a

    Kirby etal., 2007

    Patella #1

    Patella #2

    Patella #3

    668730

    668730

    668730

    4091200

    4091200

    4091200

    Prainha

    Prainha

    Prainha

    Fssil de Patella aspera em

    conglomerado (Q)

    Fssil de Patella aspera em

    conglomerado (Q)

    Fssil de Patella aspera em

    conglomerado (Q)

    66 925+

    77 140+

    64 713+

    +1.381/-1.357

    +1.183/-1.167

    +0.987/-0.975

    vila etal., 2007

    TABELA 3 Dataes isotpicas K/Ar, 87Sr/86Sr (*) e U/Th (+) para a ilha de SantaMaria (modificado de Laranjeira & Nunes, 2005); a amplitude de variao da idade(em milhes de anos).

  • 88 2007, Supl. 5: 74-111A O R E A N A

    incluindo a formao de aluvies,depsitos de vertente e de gravidade,nveis de Terraos e Praias Plio-Quaternrias e Quaternrias (Cachoet al., 2003). Desde o fim do Pliocnicoo nvel mdio do mar desceuprogressivamente, pelo menos, 180m, mas no de um modo contnuo,at sua posio actual.

    A histria vulcnica da ilha deSanta Maria suportada numconjunto de dataes isotpicas derochas e fsseis, as quais soapresentadas na Tabela 3. Nestatabela, para cada datao indicada aunidade geolgica (e.g. CT) que lhefoi atribuda por Serralheiro eMadeira (1993), Kirby et al. (estevolume) e vila et al. (2007),verificando-se algumas incongrun-cias entre a idade absoluta obtida, aunidade geolgica em que foiinserida e a estratigrafia de detalhedefinida por Serralheiro et al. (1987)para a ilha de Santa Maria (cf. Tabela2). Embora tais incongrunciastenham sido, parcialmente, disseca-das no trabalho de Serralheiro eMadeira (1993), no cabe no mbitodo presente trabalho proceder-se sua anlise exaustiva.

    GEODIVERSIDADE DA ILHA DESANTA MARIA

    A paisagem vulcnica do ar-quiplago dos Aores apresenta umvasto conjunto de rochas, formas eestruturas, que deriva, entre outrosfactores, da natureza dos magmas, dotipo de vulcanismo, da sua dinmicae da posterior actuao dos agentesexternos. Neste contexto, a ilha deSanta Maria apresenta uma geo-

    diversidade assinalvel, fruto da suahistria vulcnica e estilos eruptivosassociados, dos processos de alte-rao actuantes e, ainda, dasoscilaes do nvel do mar e dosprocessos de sedimentao ocorridosna ilha. Faz-se, em seguida, umacaracterizao sumria desta diver-sidade geolgica, enquanto que noAnexo se apresentam algunsexemplos.

    Cones de Escrias e de SpatterOs cones de escrias so formas

    monogenticas, edificadas duranteuma nica erupo vulcnica, na suagrande maioria do tipo estrom-boliano, de baixa a moderadaexplosividade. Estas erupes soresponsveis, em termos gerais, pelaformao de um cone piroclstico(pela acumulao de cinzas, lapilli ebombas ou blocos) e pela emisso deescoadas lvicas.

    Dada a idade da ilha e osfenmenos erosivos a que estevesujeita, actualmente apenas seobservam alguns cones de escrias demorfologia mais ou menos pre-servada. Por outro lado, nas arribasdo porto da Vila do Porto e da Baa daCr possvel observar cones deescrias pertencentes s mais antigasformaes da ilha de Santa Mariaque, apesar de cobertos por for-maes mais recentes, esto expostosdevido aco erosiva do mar. Omesmo acontece com um cone deescrias implantado a cerca de 500 mpara Oeste da Ponta Rocha Alta,coberto por materiais mais recentes,cuja chamin assume particularrealce (Serralheiro, 2003).

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 89

    De entre os cones de escrias quese observam na ilha de Santa Maria(Fig. 6) destaca-se o Pico Vermelho,um antigo cone vulcnico localizadoem Santa Brbara e constitudo porpiroclastos muito alterados, de coravermelhada. Outros cones deescrias presentes na ilha so o Picoda Tera e o Cruzeiro (em SantoEsprito) e o Pico do Norte (em SantaBrbara). De acordo com Serralheiro(2003) existem, ainda, outros peque-nos cones de piroclastos, actualmentemuito desmantelados, na zonacompreendida entre So Pedro e aRibeira do Engenho.

    De acordo com Serralheiro &Madeira (1993), existem trs cones desalpicos de lava soldados (spattercones) na ilha de Santa Maria,pertencentes ltima fase eruptivada ilha (a Formao das Feteiras): os

    cones de Saramago, Trevina ePiquinhos (ou Monteiros). O Pico doMalos, por seu turno, corresponde aum cone vulcnico constitudo porescrias soldadas, bagacinas epequenas escoadas lvicas, actual-mente bastante desmantelado(Serralheiro, 2003).

    Cones de Tufos SurtseianosEmbora sejam inmeros os

    depsitos de piroclastos submarinospresentes na ilha, associados aerupes hidromagmticas (ou frea-tomagmticas) de magmas bsicos(e.g. erupes surtseianas), o Pico doFacho (com 150 m de altura), omaior cone da ilha e o cone de tufosmelhor preservado, constitudo portufos hialoclastticos e escoadaslvicas submarinas (pillow lavas)associadas (Fig. 6). A formao dos

    Figura 6 Distribuio dos cones de tufos surtseianos, cones de escrias e cones spatteridentificados na ilha de Santa Maria (modificado de Serralheiro et al., 1987).

  • 90 2007, Supl. 5: 74-111A O R E A N A

    Cabrestantes, de idntica natureza,apesar de muito desmantelada ecoberta em grande parte por escoadaslvicas mais recentes do Complexodos Anjos conserva, ainda, parte dasua morfologia inicial.

    Escoadas Lvicas BaslticasAs escoadas lvicas apresentam

    diferentes formas externas e es-truturas internas, decorrentes, entreoutros factores, da composio epropriedades fsicas dos magmasassociados, da taxa de efuso e dascaractersticas da superfcie deescoamento.

    Na ilha de Santa Maria existemabundantes derrames baslticossubmarinos (lavas em almofada oupillow lavas), sobretudo ao longo dolitoral (com excepo da costa Oeste).No contexto dos Aores, apenas nailha de Santa Maria existemabundantes e significativos aflo-ramentos de lavas em almofada. Naverdade, as pillow lavas no seencontram expostas com a mesmapujana em nenhuma outra ilhaaoriana, onde, provavelmente, estocobertas por escoadas lvicas ououtros produtos vulcnicos maisrecentes, ou esto abaixo do nvel domar actual (Cacho et al., 2003).

    As escoadas lvicas subareas queocorrem na zona Ocidental da ilhapertencem ao Complexo dos Anjos e,de um modo geral, estes derrameslvicos apresentam superfcie encor-doada, grande variabilidade detexturas, espessura muito varivel enveis de clinker mais ou menosdesenvolvidos (Serralheiro, 2003).

    Na costa Sul da ilha, a Sudeste do

    lugar de Larache e na base da arribada Malbusca aflora a nica escoadalvica subarea conhecida do Com-plexo de Touril, segundo umaescoada basltica alterada. Sobre estaescoada existem outras pertencentesao mesmo complexo, mas de carac-tersticas submarinas, que se esten-dem ao longo da arriba at localidade de Cardal e que afloramtambm na costa Norte, entre a Baado Raposo e a Baa do Salto de Ces(Serralheiro, 2003). So escoadaslvicas submarinas de espessuravarivel, constitudas por lavas emalmofada e frentes de avano, comdisjuno radial, polidrica.

    As escoadas lvicas que cobrem amaior parte da superfcie Oriental dailha pertencem unidade do PicoAlto, enquanto que as escoadas queafloram na zona Centro-Oeste, numaparte da costa Sul e na costa Nortepertencem unidade do Facho. Estasescoadas, quando submarinas, apre-sentam morfologias diferentesconsoante a profundidade dos fun-dos marinhos por onde correram(Serralheiro, 2003): 1) lavas emalmofada tpicas, elipsoidais, degrandes dimenses e com muitasdigitaes, quando associadas a fun-dos marinhos relativamente planos e2) formas alongadas, do tipo rolo,tpicas do avano de escoadas subma-rinas em fundos marinhos declivosos.

    As escoadas lvicas subareasevidenciam muitas vezes uma disjun-o colunar e, quando alteradas,apresentam uma disjuno esferoidal(e.g. disjuno em bolas), uma are-nizao mais ou menos intensa doafloramento (total ou parcial) ou,

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 91

    ainda, nveis intensos de alterao,argilizados, neste ltimo caso dandoorigem a solos vermelhos, do tipo doBarreiro da Faneca (Serralheiro,2003).

    Formas Subvulcnicas: Files eChamins

    De acordo com Serralheiro (2003),a ilha de Santa Maria essen-cialmente formada por materiaisprovenientes de actividade filoniana,existindo mais de cinco centenas defiles de natureza basltica s.l.identificados. Estes pertencem na suagrande maioria ao Complexo dosAnjos, segundo files subverticaiscom direco predominante de NE-SW (embora existam tambm algunscom a direco NNW-SSE - Madeira,1986) e, ainda, ao Complexo do PicoAlto, segundo files com forteinclinao e grande variabilidade dedireces, predominando as orien-taes entre NNW-SSE e NNE-SSW.

    Estes files podem ser facilmenteobservados nas vertentes costeiras,distribudos principalmente ao longoda costa Sul da ilha, entre o aeroportoe a Praia, e da costa Norte, entre asbaas do Salto de Ces e do Tagarete.No se observaram escoadas lvicasalimentadas por estes files (Madeira,1986).

    Do mesmo modo, a aco erosivaps a descoberto algumas chaminsvulcnicas que se encontramdispersas pela ilha (Fig. 7): umapequena chamin no Norte da ilha,na estao LORAN; quatro a Sul deMarquesa (Lagos); outra a Ocidentede Setadas (a maior de todas aschamins presentes na ilha, com mais

    de 150 m de dimetro); duaspequenas chamins a Sudoeste daanterior; a chamin do Pico do Fachoe uma chamin que se localiza a cercade 500 m para Oeste da Rocha Alta,na costa Sul da ilha (Serralheiro et al.,1987).

    Grutas LitoraisEsto inventariadas na ilha de

    Santa Maria quatro grutas litorais,resultantes da eroso marinha: aFurna de Santana (ou dos Anjos), aFurna do Ilhu do Romeiro, a FurnaVelha (ou das Pombas) e a Gruta dasFigueiras (Fig. 8). Para alm destas,existem outras cavidades na base dasvertentes costeiras em muitos locaisda ilha de Santa Maria, emboraapresentem dimenses reduzidas.

    A Furna de Santana localiza-se nacosta Norte de Santa Maria, na arriba,a Oeste da localidade dos Anjos.Corresponde a uma cavidade deeroso e fenda, com 118 m decomprimento total, 9 m de alturamxima e 11 m de largura mxima(http://www.speleoazores.com).

    A Furna do Ilhu do Romeiroencontra-se no ilhu com o mesmonome, na freguesia de Santa Brbara,em So Loureno e integra a ReservaNatural da Baa de So Loureno.

    A Furna Velha, localizada na costaSul da ilha, a Este da Ponta doMarvo, na freguesia de Vila doPorto, a maior da ilha, com umcomprimento total de cerca de 337 m(Fig. 9) e altura e largura mximas de15 m e 13 m, respectivamente(http://www.speleoazores.com). Assuas caractersticas, designadamentealtura, seco rectangular e line-

  • 92 2007, Supl. 5: 74-111A O R E A N A

    FIGURA 7 Distribuio das principais chamins identificadas na ilha de Santa Maria(modificado de Serralheiro et al., 1987).

    FIGURA 8 Distribuio das grutas litorais da ilha de Santa Maria (fonte:http://www.speleoazores.com).

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 93

    aridade, indiciam um importantecontrole estrutural (cf. fenda/frac-tura) na sua formao. No interiordesta gruta observa-se um filobasltico com disjuno prismticahorizontal (Borges et al., 1992),formaes sedimentares constitudaspor arenitos fossilferos, que pre-encheram uma fenda pr-existente, edepsitos secundrios de carbonatosque revestem parcialmente asparedes da gruta. De acordo comFrutuoso (1522-1591), do interiordesta cavidade ...se tira um barrofino, cinzento como sabo muitomacio, que serve para lavar pano decor, principalmente branco, e tirarndoas dele....

    A Gruta das Figueiras est situadaigualmente na base da arriba anascente da Praia Formosa, nafreguesia de Almagreira. Com 52 mde extenso, largura mxima de 7 m euma altura que atinge cerca de 5,5 m(http://www.speleoazores.com),esta gruta apresenta uma pequenalagoa de gua salgada, com cerca de1,5 m de profundidade, cerca de 22 mde extenso e que se desenvolve emtoda a largura da cavidade.

    Rochas Sedimentares e JazidasFossilferas

    Santa Maria possui rochassedimentares nicas no contextoregional, constitudas essencialmente

    FIGURA 9 Topografia da Furna Velha, ilha de Santa Maria (fonte:http://www.speleoazores.com).

  • 94 2007, Supl. 5: 74-111A O R E A N A

    por conglomerados terrestres emarinhos, arenitos, argilas, calcriose biocalcarenitos fossilferos. Osmaiores afloramentos de rochassedimentares da ilha localizam-seentre o Figueiral e a Praia, a Oeste dazona do Bom Despacho Velho, nazona de Lagoinhas, nas Feteiras, naBaa da Cr e nas arribas entre SoLoureno e a Ponta do Cedro(Serralheiro et al., 1987).

    As jazidas fossilferas de SantaMaria apresentam associaesfossilferas diversificadas e ricas emorganismos de ambientes marinhoscosteiros. As principais jazidaslocalizam-se na Baa da Cr, nasLagoinhas e seu ilhu, prximo dafreguesia de Santa Brbara, na PontaNegra, na Ponta do Castelo, naPedra-que-Pica, na Ponta daMalbusca, na Prainha, no Figueiral,na Pedreira do Campo e junto aoaeroporto (Madeira et al., estevolume) Fig. 10. Podem-se en-contrar, nestas jazidas moluscos(gastrpodes e bivalves), equino-dermes, briozorios, peixes, cetceos,crustceos e foraminferos, quedatam do Miocnico-Pliocnico(Kirby et al., este volume) e moluscos,equinodermes, briozorios e crus-tceos do Plistocnico (vila et al.,2002; Madeira et al., este volume).

    ELEMENTOS SINGULARES DEGEOPAISAGEM

    A anlise da geodiversidadepresente na ilha de Santa Maria e oconhecimento da sua geologiapermitem distinguir alguns elemen-tos singulares de geopaisagem na ilha(Fig. 11), descrevendo-se, em se-

    guida, os mais relevantes. Note-seque, enquanto alguns elementos sode paisagem natural, outros so depaisagem modificada pelo homem,que so apresentados, por umaquesto de facilidade, por ordemalfabtica. Em Anexo apresentam-sealgumas fotos elucidativas destasgeopaisagens da ilha de Santa Maria.

    Arribas da Costa Norte (Foto 1)Na costa Norte da ilha situam-se

    as baas da Cr e do Raposo, nasquais se encontram diversos aflo-ramentos de sedimentos marinhosfossilferos, como calcrios, arenitos,argilitos e conglomerados. As rochassedimentares presentes nas baas daCr e do Raposo possuem grandediversidade e riqueza de associaesde fsseis, dos quais se destacammoluscos (gastrpodes e bivalves),equinodermes e algas calcrias, porvezes segundo exemplares bempreservados. Neste contexto, merecenota de realce o facto da casaexistente na Baa da Cr apresentarna sua fachada um calcrio muito ricoem fsseis, que lhe confere uminteresse especial Ambas as baasreferidas so bordejadas por arribasextremamente declivosas, com al-turas entre os 50 m e os 150 m, queservem de local de nidificao paraaves marinhas endmicas, razo pelaqual foram classificadas comoPaisagem Protegida de InteresseRegional.

    A Baa do Tagarete, por seu turno,apresenta arribas recortadas, muitodeclivosas e altas (com cerca de 200 mde altura), que testemunham osfenmenos de eroso marinha que

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 95

    moldaram uma parte significativa dolitoral mariense. Alm destas carac-tersticas, esta zona possui outrosaspectos geomorfolgicos dignos derealce, como sejam uma queda degua e o vale muito encaixado, e commeandros, da Ribeira do Amaro. Asarribas da Baa do Tagarete soconstitudas por numerosas escoadaslvicas baslticas subareas, inter-caladas por rochas sedimentares,como calcarenitos e conglomeradosfossilferos. possvel observar,ainda, diversos afloramentos deescoadas lvicas submarinas (pillowlava) e vrios files, que cortam osmantos lvicos (Serralheiro et al.,1987). Refira-se que essas lavas

    submarinas e os depsitos sedi-mentares marinhos que se observam(por vezes, a cotas superiores a 150m) testemunham as vrias oscilaesdo nvel do mar (e.g. transgresses eregresses) a que a ilha de SantaMaria esteve sujeita ao longo da suahistria geolgica.

    Ainda na costa Norte da ilha deSanta Maria, possvel observar, naPonta dos Frades, um incipiente campode lapiaz, tpico de rochas carbonatadas(e.g. calcrios) aflorantes.

    Baa dos Cabrestantes (Foto 2)Na Baa dos Cabrestantes, para

    alm da foz de ribeira escavada naencosta, pode observar-se a formao

    FIGURA 10 Localizao das principais jazidas fossilferas Miocnico-Pliocnicas ePlistocnicas da ilha de Santa Maria (adaptado de Madeira et al., 2006).

  • 96 2007, Supl. 5: 74-111A O R E A N A

    geolgica mais antiga da ilha, e dosAores a Formao dos Ca-brestantes constituda por piro-clastos submarinos muito alterados(Serralheiro et al., 1987) e que seapresenta coberta por escoadaslvicas mais recentes do Complexodos Anjos, tal como evidenciado namargem direita da ribeira.

    Barreiro da Faneca (Fotos 3 e 4)O Barreiro da Faneca constitui um

    tipo de paisagem nico nos Aores,que est presente apenas na ilha deSanta Maria. Trata-se de uma rea deterreno rido e argiloso, implantadoem escoada lvica do Complexo doPico Alto, de idade Pliocnica, que se

    apresenta muito alterada, segundoum espesso nvel argiloso. Os solos ea ocupao vegetal existente nestarea desenvolvem-se, ainda, nacobertura de piroclastos finos (lapilli ecinzas) da Formao de Feteiras, aqual corresponde unidade geol-gica vulcnica mais recente da ilha deSanta Maria, de carcter essencial-mente explosivo. Esses piroclastosesto alterados em argilas inten-samente coradas de vermelho, muitoprovavelmente devido a uma pro-funda oxidao destes materiaisvulcnicos sob aco do clima quentee hmido, alternando com estaessecas, que existiu durante parte doPliocnico (Serralheiro, 2003).

    Figura 11 Elementos Singulares de Geopaisagem da ilha de Santa Maria.

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 97

    Com altitudes que rondam os200 m, o Barreiro da Fanecaapresenta-se como uma superfcieaplanada, de relevo ligeiramenteondulado, declives muito suaves edensidade de drenagem muitoreduzida. Nas zonas desprovidasde vegetao notria a eroso dosolo, podendo ser observadasacumulaes dunares causadas pelaeroso elica. Estas caractersticasgeomorfolgicas fazem do Barreiroda Faneca uma paisagem nica nocontexto do arquiplago e justificam,inclusive, a designao de DesertoVermelho dos Aores que lhe atribuda.

    Barreiro da Malbusca/Piedade (Fotos5 a 8)

    Entre a localidade de Malbusca e aPonta da Malbusca existe um barreirosobranceiro arriba, que constituiuuma antiga praia elevada do Plio-Quaternrio, onde ocorrem ndulosde mangans, tpicos dos fundosmarinhos. Embora se trate de umelemento de paisagem de carac-tersticas similares ao do Barreiro daFaneca, esta zona evidencia carac-tersticas geolgicas peculiares. Deentre estas destaca-se, junto linhade costa, a presena de uma escoadalvica basltica com disjunoprismtica, muito alterada e truncadano seu topo, o que lhe confere oaspecto de um pavimento poligonal(Foto 7). O grau de alterao traduz-se pela presena de disjunesesferoidais bem desenvolvidas e pormaterial silicioso, do tipo opala (Foto8), que preenche as fracturas quedefinem os prismas e outros

    interstcios da rocha (Serralheiro,2003).

    Cascata do Aveiro (Foto 9)Na localidade da Maia, na costa

    Oriental e no extremo Sudeste dailha, existe uma imponente queda degua, com cerca de 80 m de altura,uma das mais altas do Pas. Estacascata encontra-se encaixada numbelo circo de eroso e cai em vertical,expondo a arriba existente no local,que caracterizada por uma im-ponente sequncia vulcnica, consti-tuda por diversas pillow lavas da sriesuperior do Complexo do Pico Alto(Serralheiro et al., 1987).

    Chamins Vulcnicas (Foto 10)Em vrios locais da ilha podem

    observar-se chamins vulcnicas, quecorrespondem ao preenchimento pormagma da conduta de vulcesmonogenticos, na sua maioria conesde escrias. De entre estas, num totalde 10, destacam-se as chamins dasSetadas, da estao LORAN, daMarquesa e do Pico do Facho(Serralheiro et al., 1987).

    Gruta do Figueiral (Foto 11)Trata-se de uma gruta artificial, de

    onde se extraa calcrio e argila, oprimeiro para a produo de cal e asegunda para o fabrico de telhas. Nasimediaes da gruta ainda possvelobservar um antigo forno de cal.Apesar da intensiva explorao deoutrora, presentemente identificam-seestalactites e fsseis de origem marinhanas rochas carbonatadas sedimentaresque constituem esta gruta artificial(Cacho et al., 2003; Fal et al., 2005).

  • 98 2007, Supl. 5: 74-111A O R E A N A

    Jazidas Fossilferas (Fotos 12 a 14)Existem diversas jazidas

    fossilferas na ilha de Santa Maria,com fsseis tpicos de ambientesmarinhos costeiros que datam doMio-Pliocnico e do Plistocnico.Existem algumas que se destacam,pela sua fcil acessibilidade, como ocaso da Baa da Cr, da Ponta doCastelo, da Prainha, da Gruta doFigueiral e da Pedreira do Campo.Para uma caracterizaopormenorizada destas jazidasrecomenda-se a consulta dos diversostrabalhos que abordam o contedofossilfero das rochas da ilha de SantaMaria, designadamente os trabalhosde sntese recentemente produzidos(e.g. Serralheiro, 2003; Estevens &vila, este volume; Kirby et al., estevolume; Madeira et al., este volume).

    Pedreira do Campo (Fotos 15 e 17 a20)

    A Pedreira do Campocorresponde a uma antiga frente deexplorao, com cerca de 260 m deextenso, talhada em escoadas lvicassubmarinas (lavas em almofada oupillow lavas) de composio basltica,de onde se extraram inertes paraproduo de britas (Cacho et al.,2003). De acordo com a cartavulcanolgica da Ilha de Santa Maria(Serralheiro et al., 1987), a Pedreira doCampo desenvolve-se numasequncia vulcnica de naturezabasltica submarina (incluindo pillowlavas e hialoclastitos), da base doComplexo do Facho, a qual sesobrepe a formaes sedimentares

    do topo da unidade do Complexo doTouril (Foto 15). Estas formaessedimentares so constitudas porbiocalcarenitos conglomerticosfossilferos, com contedo fssilabundante e diversificado. No seuconjunto, estas unidades tero umaidade aproximada de 5 Ma (milhesde anos), datando do topo doMiocnico base do Pliocnico(Cacho et al., 2003).

    A geologia e a vulcanologia dazona da Pedreira do Campo estopormenorizadamente descritas, entreoutros, nos trabalhos de Serralheiro &Madeira (1993), Cacho et al. (2003),Serralheiro (2003) e, igualmente, notrabalho de Nunes (2005). Especialnfase usualmente dado caracterizao do abundante ediversificado contedo fssil dosbiocalcarenitos marinhos doComplexo do Touril (Foto 20), queinclui moluscos bivalves egastrpodes, corais, briozorios,equinodermes, algas rodofceas,macroforaminferos bentnicos e,ainda, icnofsseis.

    A Pedreira do Campo, tal como seapresenta actualmente, expe umagrandiosa sequncia vulcnicasubmarina de composio basltica(e.g. basalto porfrico, de aspectoamigdalide Foto 17) que, a par deoutras existentes na ilha de SantaMaria (e.g. Ponta do Castelo), sonicas no contexto regional. Aprincipal particularidade destapedreira, para alm da suaproximidade ao principalaglomerado urbano da ilha, Vila doPorto, e da facilidade de acesso,reside no facto de permitir observar,

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 99

    na sua plenitude, toda a sequnciaestratigrfica da passagem de rochassedimentares marinhas a rochasvulcnicas submarinas. Por taismotivos, este local encontra-seclassificado como MonumentoNatural Regional (cf. DecretoLegislativo Regional n 11/2004/A,de 23 de Maro).

    Poo da Pedreira (ou Pedreira daCantaria) (Foto 16)

    O Poo da Pedreira uma antigazona de extraco de inertes, maisprecisamente da designada pedra decantaria de Santa Maria, talhadanum cone vulcnico antigo (o PicoVermelho), constitudo porpiroclastos baslticos (e.g. escrias)de colorao avermelhada, muitoalterados e consolidados.Actualmente, a frente de exploraoapresenta paredes verticais egeomtricas e, na sua base, formou-seum lago.

    Ponta do Castelo (Fotos 21 a 26)A Ponta do Castelo um

    promontrio rochoso alcantiladosobre o mar, no extremo Sudeste dailha (SRAM & UE, 2005), classificadocomo SIC (Stio de ImportnciaComunitria), com uma rea de 306ha e uma faixa costeira com 6730 mde extenso, onde existem diversasespcies endmicas. Engloba arribasescarpadas, com cerca de 200 m dealtura e constitui uma arribapoligentica, com uma sequnciaestratigrfica composta por escoadaslvicas subareas e submarinas,nveis de piroclastos, hialoclastitos edepsitos sedimentares de calcrio

    fossilfero.A Ponta do Castelo, que constitui

    uma das geopaisagens maisimportantes da ilha de Santa Maria,evidencia alguns aspectos geolgicosadicionais para alm daquelasformaes e produtos vulcnicos,como o caso de escoadas lvicasbaslticas com disjuno prismtica eesferoidal (Fotos 23 e 24),hialoclastitos (Foto 25), inmerosafloramentos de escoadassubmarinas (Fotos 22 e 26), incluindoexposies da disjuno radial depillow lavas, e diversas intrusesfilonianas, de pendor e espessuravarivel (Serralheiro et al., 1987), porvezes com disjuno prismticahorizontal.

    Porto de Vila do Porto (Fotos 27 a 29)Na arriba sobranceira ao principal

    porto da ilha, pode observar-se umcone de escrias e vrios files,alguns dos quais cortam o conereferido. Este cone de escriasmaterializa uma das mais antigasformaes geolgicas da ilha de SantaMaria (a Formao do Porto),constituda por uma rocha baslticamuito alterada, com depsitossecundrios (e.g. carbonatos) quepreenchem os interstcios do depsitopiroclstico e as fendas dasdisjunes que caracterizam os filesexistentes no local (Foto 28). Estesfiles, verticais ou subverticais,apresentam espessuras variando de 1a 4 m e trajectrias peculiares ediversificadas.

    Praia Formosa e Praia/Baa de SoLoureno (Fotos 30 e 31)

  • 100 2007, Supl. 5: 74-111A O R E A N A

    A Baa de So Loureno localiza-se na costa Oriental da ilha (a maisOriental do arquiplago) e a PraiaFormosa situa-se na costa Sul deSanta Maria, sendo ambascaracterizadas pela presena dedepsitos de praia de areia clara,tpicos desta ilha e que resultam daeroso de rochas carbonatadas.

    Quer a Baa de So Loureno, quera da Praia Formosa, correspondem abaas bem recortadas, semi-circulares, talhadas por uma intensaaco erosiva marinha. O Ilhu deSo Loureno (ou Ilhu do Romeiro),por seu turno, constitui um elementopaisagstico importante desta baa,apesar da sua reduzida rea,implantado muito prximo da costa esendo bem visvel do miradouroexistente junto estrada (SRAM &UE, 2005).

    A bacia de drenagem da Ribeirada Praia apresenta uma configuraogrosso modo triangular, com umpadro de drenagem dendrtico,fracamente hierarquizado e os seusvales so profundamente entalhadosa jusante (Madeira, 1986). Merece,ainda, nota de referncia a existncia,na zona dos Barreiros, na PraiaFormosa, de cinzas vulcnicascobertas por uma escoada lvica que,fruto do cozimento (e.g. me-tamorfismo termal) a que foramsujeitas, apresentam uma coloraoavermelhada intensa e exibem umadisjuno colunar centimtrica per-feita (Foto 33), pouco comum emdepsitos vulcnicos deste tipo, quefoi identificado durante os trabalhosde campo realizados por Serralheiroet al. (1987).

    Ribeira do Malos (Fotos 32 e 34)No leito da Ribeira do Malos,

    numa queda de gua a cerca de 220 mda sua foz, existe um espectacularafloramento de disjuno prismtica,ou colunar, numa escoada lvicabasltica com cerca de 15 a 20 m deespessura. Este afloramento o nicona ilha com estas dimenses e um dosmais belos dos Aores.

    CONSIDERAES FINAIS

    A ilha de Santa Maria evidenciauma importante multiplicidade depaisagens, de produtos vulcnicos ede rochas sedimentares que, tra-duzindo a histria vulcnica e aevoluo geolgica marienses,devero ser melhor conhecidas e,logo, devidamente valorizadas eclassificadas. Estas caractersticasdistintivas e peculiares devem-se,essencialmente, idade geolgica dailha, presena de extensos aflo-ramentos de rochas sedimentares(incluindo calcrios, calcarenitos econglomerados) frequentemente comcontedo fssil abundante ediversificado e, ainda, pelo facto decorresponder nica ilha doarquiplago onde existem aflo-ramentos de lavas em almofada(pillow lavas), abundantes e signi-ficativos.

    Esta geodiversidade e os ele-mentos de geopaisagens que carac-terizam a ilha de Santa Maria soobjecto de inventariao e decaracterizao no presente trabalho,que, espera-se, possam constituir uminstrumento de apoio deciso,

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 101

    designadamente na criao delegislao especfica para imple-mentao de medidas protectoras oude salvaguarda de locais passveis deserem enquadrados numa perspec-tiva de geoconservao.

    Por outro lado, os elementosagora disponibilizados contribuempara a valorizao dos recursosendgenos da ilha de Santa Maria,incluindo os recursos geolgicos egeotursticos, na medida em que aidentificao de stios de interessegeolgico constitui tarefa importanteno mbito do inventrio dageodiversidade aoriana, da conse-quente definio de estratgias depreservao do seu patrimniogeolgico e, ainda, na implementaode polticas de valorizao destepatrimnio. Com efeito, esta va-lorizao passa, nomeadamente, poruma maior consciencializao danecessidade de se compatibilizar avalorizao da paisagem mariense(importante recurso turstico da ilha)no contexto de um desenvolvimentosustentvel e, logo, respeitador dosvalores naturais, neste caso geo-lgicos.

    AGRADECIMENTOS

    O presente trabalho umacontribuio do projecto Geomonu-mentos e Paleobiogeografia da Ilhade Santa Maria, financiado pelaSecretaria Regional do Ambiente e doMar, do Governo dos Aores. Para asua consecuo muito contribui oapoio recebido do Servio de Am-biente da Ilha de Santa Maria, do

    Clube Naval de Santa Maria e daNAV- Navegao Area de Portugal,E.P., a quem se agradece.

    Por ltimo, um agradecimentopelo contributo emprestado pelorevisor do presente trabalho, quemuito concorreu para a sua melhoriae valorizao.

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  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 105

    ANEXOGeodiversidade e Geopaisagensda Ilha de Santa Maria, Aores

    (Fotos de J.C. Nunes, excepto quando indicado )

  • 106 2007, Supl. 5: 74-111A O R E A N A

    FOTO 1. Arribas da Costa Norte Faneca Baada Cr (Diogo Caetano).

    FOTO 3. Barreiro da Faneca.

    FOTO 5. Barreiro da Malbusca/Piedade.

    FOTO 2. Tufos hialoclastticos da Baa dosCabrestantes: formao geolgica mais antigada ilha/dos Aores. Faneca (Diogo Caetano).

    FOTO 4. Barreiro da Faneca (Diogo Caetano).

    FOTO 6. Barreiro da Malbusca/Piedade.

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 107

    FOTOS 7. Barreiro da Malbusca/Piedade:disjuno colunar (em seco) e disjuno embolas.

    FOTO 9. Cascata do Aveiro (Maia).

    FOTO 11. Gruta do Figueiral.

    FOTO 8. Barreiro da Malbusca/Piedade:depsitos secundrios (e.g. de opala)preenchendo as fendas/disjunes.

    FOTOS 10. Chamins vulcnicas de Setadas, esquerda ( Diogo Caetano) e da Ponta doNorte - Estao LORAN, direita ( SaraMedeiros).

    FOTO 12. Calcarenitos fossilferos da Ponta doCastelo.

  • 108 2007, Supl. 5: 74-111A O R E A N A

    FOTO 13. Exemplar fssil da ilha de SantaMaria (Baa da Cr): Clypeaster sp. ourio domar (Pedro Monteiro).

    FOTO 15. Pillow lavas da frente de exploraoda Pedreira do Campo (foto superior) esequncia vulcnica do Pico do Facho sobrebiocalcarenitos do Complexo do Touril (fotoinferior).

    FOTO 14. Exemplar fssil da ilha de SantaMaria (Baa da Cr): dente de tubaro (PedroMonteiro).

    FOTO 16. Poo da Pedreira (ou Pedreira daCantaria), antiga explorao de inertes(bagacina soldada). Notar filo, em primeiroplano, esquerda (foto superior).

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 109

    FOTO 19. Pormenor da frente de explorao daPedreira do Campo (notar a estruturaconcntrica e as disjunes radiais desucessivas acumulaes de lavas em almofada.

    FOTO 21. Ponta do Castelo, Maia e respectivofarol.

    FOTO 20. Biocalcarenitos marinhos fossilferosdo Complexo do Touril, em bloco extrado naPedreira do Campo.

    FOTO 22. Ponta do Castelo. Escoadas lvicassubmarinas (pillow lavas), do tipo rolo.

    FOTO 17. Aspecto amigdalide do basalto daPedreira do Campo.

    FOTO 18. Pillow lava isolada da frente deexplorao da Pedreira do Campo.

  • 110 2007, Supl. 5: 74-111A O R E A N A

    FOTO 25. Ponta do Castelo. Lavas emalmofada (pillow lavas) e hialoclastitosassociados (cf. na base da foto).

    FOTO 27. Porto de Vila do Porto. Cone deescrias da Formao do Porto, atravessado, naparte central, por filo basltico.

    FOTO 26. Ponta do Castelo. Lava em almofada(pillow lava).

    FOTO 28. Disjunes prismtica e esferoidalem encosto de filo intrudo no cone deescrias da Formao do Porto (Vila do Porto).

    FOTO 23. Ponta do Castelo, acesso ao farol.Disjuno colunar em escoada lvica, compassagem gradual a disjuno esferoidal (ouem bolas) no topo.

    FOTO 24. Ponta do Castelo. Disjunoesferoidal (notar a estrutura em camadas, tipocasca de cebola).

  • NUNES ET AL: GEODIVERSIDADE DE SANTA MARIA 111

    FOTO 29. Filo basltico (Porto de Vila doPorto) - ver foto anterior.

    FOTO 31. Baa da Praia Formosa.

    FOTO 33. Disjuno colunar centimtrica emcinzas vulcnicas consolidadas, sob escoadalvica subarea. Lugar de Barreiros, Praia.

    FOTO 30. Baa de So Loureno.

    FOTO 32. Ribeira do Malos (Malbusca):disjuno colunar/prismtica.

    FOTO 34. Ribeira do Malos (Malbusca):disjuno prismtica tipo Calada deGigantes, na base da escarpa.