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50 baby armorial design group curtumes e vaqueiros Texto Juliana Alves Fotos Divulgação ‘todos nós temos alguma ligação com o nordeste’ em projeto conjunto, os designers rodrigo almeida, rodrigo ambrósio, sérgio matos e zanini de zanine reavivam elementos da cultura do sertão nordestino Na Recife de 1970, o escritor paraibano Ariano Suassuna lançou um movimento cultural que pretendia criar arte erudita genuinamente brasileira a partir de mani- festações e fundamentos da cultura popular nordestina. Chamada de Movimento Armorial, a iniciativa contava com a colaboração de escritores e artistas da região e abrangia, além da música e da pintura, literatura, dança, teatro, cinema e arquitetura. Mais de quarenta anos depois, quatro designers brasileiros embarcam em uma viagem de volta às suas próprias raízes, partindo das bases desse movimento para a criação de objetos con- temporâneos. Formado por Rodrigo Almeida, Rodrigo Ambrosio, Sérgio Matos e Zanini de Zanine, o Armorial Design Group estreou na segunda edição da feira Made, no último novembro, com uma coleção de peças inspiradas em imagens do sertão nordestino e em elementos do cotidiano da região. Na ocasião, o grupo apresentou bancos, lumi- nárias e cadeiras nos quais couro e madeira eram as principais matérias-primas. Ainda no forno, uma próxima coleção pretende explorar e ressignificar as redes de descanso – um dos utensílios domésticos mais emblemá- ticos do nordeste brasileiro. É esperar para ver. Sertanejos Do alto para baixo, luminária Carcará, de Rodrigo Almeida, banco Bode Véio, de Rodrigo Ambrosio, e poltrona Arreio, de Sérgio Matos. As peças da primeira coleção do ADG foram apresentadas na última edição da feira Made. Bamboo De onde veio a ideia para criar o grupo? Rodrigo Almeida Sou de família baiana, e a influência nordestina já está há algum tempo presente no que crio. Achei que seria interessante montar um grupo focado nessa temática, e a partir daí ter várias visões sobre as manifestações estéticas e culturais da região, bem como dos materiais, dos objetos e de seus usos cotidianos. Todos nós temos alguma ligação com o Nor- deste – Rodrigo é alagoano, Sérgio mora na Paraíba, e Zanini também é de família baiana – e o trabalho, mais que inspirado no local, é um depoimento sobre ele. B Como é o processo de criação? RA Fugimos um pouco do litoral e voltamos os olhos para a cultura popular do interior. A partir daí, cada um traz suas influências, memó- rias afetivas, interpretações, e decide como vai transformar isso em produto. Na primeira coleção partimos do curtu- me, artesanato feito a partir do couro, muito usado por vaqueiros. Tivemos peças confeccionadas por artesãos como Espedito Seleiro, do Ceará, e Biagio Grisi, da Paraíba. Agora estamos trabalhando com redes. Veja mais armorialdesigngroup.com

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50 baby armorial design group

curtumes e vaqueiros

Texto Juliana Alves Fotos Divulgação

‘todos nós temos alguma ligação com o nordeste’

em projeto conjunto, os designers rodrigo almeida, rodrigo ambrósio, sérgio matos e zanini de zanine reavivam elementos da cultura do sertão nordestino

Na Recife de 1970, o escritor paraibano Ariano Suassuna lançou um movimento cultural que pretendia criar arte erudita genuinamente brasileira a partir de mani-festações e fundamentos da cultura popular nordestina. Chamada de Movimento Armorial, a iniciativa contava com a colaboração de escritores e artistas da região e abrangia, além da música e da pintura, literatura, dança, teatro, cinema e arquitetura.

Mais de quarenta anos depois, quatro designers brasileiros embarcam em uma viagem de volta às suas próprias raízes, partindo das bases desse movimento para a criação de objetos con-temporâneos. Formado por Rodrigo Almeida, Rodrigo Ambrosio, Sérgio Matos e Zanini de Zanine, o Armorial Design Group estreou na segunda edição da feira Made, no último novembro, com uma coleção de peças inspiradas em imagens do sertão nordestino e em elementos do cotidiano da região. Na ocasião, o grupo apresentou bancos, lumi-nárias e cadeiras nos quais couro e madeira eram as principais matérias-primas.

Ainda no forno, uma próxima coleção pretende explorar e ressignificar as redes de descanso – um dos utensílios domésticos mais emblemá-ticos do nordeste brasileiro. É esperar para ver.

Sertanejos Do alto para baixo, luminária Carcará, de Rodrigo Almeida, banco Bode Véio, de Rodrigo Ambrosio, e poltrona Arreio, de Sérgio Matos. As peças da primeira coleção do ADG foram apresentadas na última edição da feira Made.

Bamboo De onde veio a ideia para criar o grupo?

Rodrigo Almeida Sou de família baiana, e a influência nordestina já está há algum tempo presente no que crio. Achei que seria interessante montar um grupo focado nessa temática, e a partir daí ter várias visões sobre as manifestações estéticas e culturais da região, bem como dos materiais, dos objetos e de seus usos cotidianos. Todos nós temos alguma ligação com o Nor-deste – Rodrigo é alagoano, Sérgio mora na Paraíba, e Zanini também é de família baiana – e o trabalho, mais que inspirado no local, é um depoimento sobre ele.

B Como é o processo de criação?

RA Fugimos um pouco do litoral e voltamos os olhos para a cultura popular do interior. A partir daí, cada um traz suas influências, memó-rias afetivas, interpretações, e decide como vai transformar isso em produto. Na primeira coleção partimos do curtu-me, artesanato feito a partir do couro, muito usado por vaqueiros. Tivemos peças confeccionadas por artesãos como Espedito Seleiro, do Ceará, e Biagio Grisi, da Paraíba. Agora estamos trabalhando com redes. Veja mais armorialdesigngroup.com