46 - Capítulo 2 - Faltas Entre Fases e Entre Espiras (24!03!2014)

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22 Apoio A proteção do gerador deve ser analisada cuidadosamente, não apenas para faltas, mas também para as diversas condições anormais de operação de um gerador. Existem muitas razões para o desligamento de um gerador, as quais destacamos: • Faltas no gerador • Faltas no sistema de potência • Proteção térmica • Condições anormais de operação Tendo em vista a fadiga, a vibração mecânica e o envelhecimento da isolação dos enrolamentos do gerador, após um longo período de tempo, os geradores tendem a desenvolver defeitos em seus enrolamentos. As faltas no gerador são sempre consideradas graves, pois a elevada corrente de falta gerada pode danificar severamente a isolação, o enrolamento e o núcleo. Além disso, devido ao decaimento lento do fluxo, a corrente de falta vai fluir por vários segundos mesmo após o gerador com defeito ter sido desligado e o campo desconectado. Esta corrente de falta prolongada pode resultar em maiores danos. Faltas típicas no gerador incluem faltas Por Geraldo Rocha e Paulo Lima* Capítulo II Faltas entre fases e entre espiras Proteção de geradores fase-fase, fase-terra e entre espiras. A falta fase-terra é a mais frequente (65% das ocorrências), sendo que as faltas fase-fase representam 23,5% das ocorrências e as faltas entre espiras, 11,5%. Sempre que ocorre uma falta no gerador, mesmo se a máquina for bem protegida, haverá custos para reparo do gerador e compra de energia de substituição. Este custo atinge facilmente muitos milhões de dólares no caso de geradores de 250 MW. A relação dos custos de danos para uma falta não protegida versus danos para uma falta protegida é de aproximadamente 6 para 1 Figura 1 – Faltas no estator do gerador.

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46 - Capítulo 2 - Faltas Entre Fases e Entre Espiras (24!03!2014)

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  • 22 Apoio

    A proteo do gerador deve ser analisada

    cuidadosamente, no apenas para faltas, mas

    tambm para as diversas condies anormais

    de operao de um gerador. Existem muitas

    razes para o desligamento de um gerador, as

    quais destacamos:

    Faltas no gerador

    Faltas no sistema de potncia

    Proteo trmica

    Condies anormais de operao

    Tendo em vista a fadiga, a vibrao

    mecnica e o envelhecimento da isolao

    dos enrolamentos do gerador, aps um longo

    perodo de tempo, os geradores tendem a

    desenvolver defeitos em seus enrolamentos.

    As faltas no gerador so sempre consideradas

    graves, pois a elevada corrente de falta gerada

    pode danificar severamente a isolao, o

    enrolamento e o ncleo. Alm disso, devido

    ao decaimento lento do fluxo, a corrente de

    falta vai fluir por vrios segundos mesmo aps

    o gerador com defeito ter sido desligado e o

    campo desconectado. Esta corrente de falta

    prolongada pode resultar em maiores danos.

    Faltas tpicas no gerador incluem faltas

    Por Geraldo Rocha e Paulo Lima*

    Captulo II

    Faltas entre fases e entre espiras

    Prot

    eo

    de

    gera

    dore

    s

    fase-fase, fase-terra e entre espiras. A falta

    fase-terra a mais frequente (65% das

    ocorrncias), sendo que as faltas fase-fase

    representam 23,5% das ocorrncias e as faltas

    entre espiras, 11,5%.

    Sempre que ocorre uma falta no gerador,

    mesmo se a mquina for bem protegida,

    haver custos para reparo do gerador e

    compra de energia de substituio. Este

    custo atinge facilmente muitos milhes de

    dlares no caso de geradores de 250 MW. A

    relao dos custos de danos para uma falta

    no protegida versus danos para uma falta

    protegida de aproximadamente 6 para 1

    Figura 1 Faltas no estator do gerador.

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    para os geradores de 250 MW.

    Como consequncia, para faltas em geradores

    que produzem elevadas corrente de falta,

    normalmente, so usados sistemas de proteo de

    alta velocidade para dar trip e desligar o gerador o

    mais rpido possvel, de forma a reduzir os danos

    mquina.

    Proteo contra faltas entre fases no estator

    Diferencial percentual

    A proteo diferencial de corrente de alta

    velocidade normalmente usada para proteger

    geradores contra faltas trifsicas, bifsicas e

    bifsicas-terra.

    Se o gerador for aterrado por meio de baixa-

    resistncia, a proteo diferencial de corrente

    tambm pode proteger contra faltas terra nos

    enrolamentos desde o terminal at um pequeno

    percentual acima do neutro. Para geradores

    aterrados por alta resistncia, a corrente de falta

    terra bem pequena, normalmente abaixo

    do nvel de sensibilidade do rel diferencial de

    corrente.

    O diagrama da Figura 2 mostra o mais

    simples dos esquemas diferenciais usando um

    rel de sobrecorrente instantneo. Algumas

    vezes denominado esquema de sobrecorrente

    diferencial.

    A proteo diferencial uma das formas

    mais efetivas de proteo dos equipamentos de

    potncia. Colocando de uma forma simples, a

    proteo diferencial opera com base na diferena

    entre a corrente medida entrando e saindo da

    zona protegida. Uma vez que ela opera somente

    com base na diferena e no na corrente total

    que circula no circuito, um rel com essas

    caractersticas de proteo pode ter maior

    sensibilidade para faltas do que outros tipos

    de rels. Alm disso, como a zona de proteo

    definida com preciso pela localizao dos

    TCs que envolvem a zona protegida, o rel

    altamente seletivo. Com alta seletividade, um

    rel diferencial pode dar trip rapidamente sem o

    intervalo de tempo de coordenao.

  • 24 Apoio

    Prot

    eo

    de

    gera

    dore

    s

    Figura 2 Esquemas diferenciais usando um rel de sobrecorrente instantneo.

    As caractersticas da proteo diferencial podem ser

    resumidas como:

    Princpio:

    Medir a corrente entrando e saindo da zona de proteo;

    Se as correntes no forem iguais, existe uma falta.

    Fornece:

    Alta sensibilidade;

    Alta seletividade.

    Resultado:

    Velocidade relativamente alta.

    Todas as protees diferenciais devem lidar com o

    desafio de permanecerem seguras diante de elevadas

    correntes de faltas passantes.

    Durante uma falta externa severa, um TC pode

    saturar e fornecer menos do que o valor de sua

    relao de corrente. Nesse caso, as correntes no so

    completamente canceladas, resultando numa falsa

    corrente diferencial. Para isso, os esquemas de proteo

    diferencial percentual so mais utilizados e oferecem

    maior segurana e confiabilidade ao compararem uma

    grandeza de operao com uma grandeza de restrio.

    O princpio de operao da proteo diferencial

    percentual o mesmo da proteo de sobrecorrente

    diferencial, conforme a Figura 4. Contudo, no esquema

    Figura 3 Desafios da proteo diferencial.

    diferencial percentual, a corrente de restrio tem

    uma magnitude elevada para uma falta externa severa.

    Logo, mesmo se houver uma corrente de operao

    significativa, a restrio ser to grande que o rel no

    vai operar. Se a falta for interna, a corrente de operao

    consideravelmente maior do que a corrente de restrio,

    permitindo a operao do rel.

    Nesse esquema, o rel opera quando a magnitude da

    corrente de operao do secundrio, OP = S + R, for maior do que uma determinada proporo da corrente

    de restrio do secundrio IRT. Para este esquema

    especfico, a corrente de restrio escolhida como IRT

    = (|S| + |R|) / 2. A constante de proporcionalidade, k, ou slope,

    algumas vezes ajustvel, com valores tpicos de 0.1 a 0.8;

    ou 10% a 80%.

    Nota: As duas setas das correntes primrias mostradas

    so uma conveno comum na anlise da proteo

    diferencial. Geralmente, elas so mostradas com ambas

    as setas de corrente indo na direo do equipamento

    protegido. As duas correntes no tero o mesmo sinal

    ou ngulo quando em condies normais de operao

    do sistema (sem faltas), a no ser que o equipamento

    protegido seja um transformador. De forma contrria,

    durante operao normal, as duas correntes tero a

    mesma magnitude, porm os fasores vo estar defasados

    em 180 graus. Tenha em mente que alguns autores usam

    uma conveno diferente.

    Figura 4 Esquema de proteo diferencial percentual.

    Figura 5 Caractersticas de operao da proteo diferencial percentual.

  • 26 Apoio

    Prot

    eo

    de

    gera

    dore

    s Na Figura 5, um grfico da corrente de operao versus a corrente de restrio mostra a caracterstica

    diferencial percentual. Esta figura explica o conceito

    do slope (conhecido como inclinao ou rampa). A

    rea sombreada representa os pontos do plano em que

    o rel vai operar.

    Conforme mostrado, a rea acima da linha reta

    definida pela equao:

    IOP = k . IRT

    O slope dessa linha k.

    A linha curva tracejada representa a corrente de

    operao como funo da corrente de restrio para

    faltas externas de magnitudes diferentes. Para valores

    baixos da corrente de falta, a corrente de restrio tem

    uma magnitude pequena, assim como a corrente de

    operao. Para magnitudes elevadas da corrente de

    falta externa, os TCs saturam de forma diferente e o

    resultado uma corrente de operao maior. A corrente

    de restrio tambm aumenta, evitando qualquer

    operao indevida do rel para uma falta externa.

    Diferencial Autobalanceado

    Para geradores pequenos, mais econmico usar

    o esquema diferencial autobalanceado mostrado na

    Figura 6.

    Este esquema utiliza para cada fase um TC de baixa

    relao. Os condutores dos terminais dos dois lados

    dos enrolamentos do gerador passam pelos TCs de tal

    maneira que as correntes entrando e saindo se cancelam

    durante uma operao normal. Um rel de sobrecorrente

    simples conectado aos TCs, propiciando uma proteo

    rpida e confivel pela deteco de qualquer diferena

    das correntes entrando e saindo do enrolamento.

    Figura 6 Esquema de proteo diferencial autobalanceado.

    O tamanho limitado do TC de janela limita o

    tamanho do condutor e, consequentemente, o

    tamanho do gerador a ser protegido. O rel deve ter

    um burden to baixo quanto possvel visando manter

    a alta sensibilidade e reduzir as chances de saturao

    do TC.

    Proteo contra faltas entre espiras do gerador

    Defeitos entre espiras so faltas graves para os

    geradores. A corrente de falta entre espiras pode ser

    muitas vezes maior do que a corrente de falta nos

    terminais do gerador.

    A maioria dos enrolamentos do estator tem

    bobinas com espira nica. Se um estator possuir

    enrolamentos com bobinas com mltiplas espiras e

    dois ou mais circuitos por fase (fase-dividida), como

    muitos dos geradores hidroeltricos, pode-se utilizar

    um sistema de proteo contra defeitos entre espiras

    do tipo diferencial de corrente de fase dividida ou

    autobalanceada de fase dividida.

    Para geradores com mltiplas espiras e com apenas

    um circuito por fase, ou para um gerador que possua

    bobinas multicircuito conectadas de modo neutro

    dentro do gerador com apenas um condutor de neutro

    disponvel externamente ao gerador, use um elemento

    direcional de potncia de sequncia-negativa ou

    sobretenso de sequncia-zero (para geradores no

    aterrados) para a proteo contra defeitos entre espiras.

    Proteo diferencial de corrente de fase dividida

    A Figura 7 mostra o esquema diferencial de corrente

    de fase-dividida para proteo contra faltas entre

    espiras. A relao dos TCs do lado do neutro do gerador

    o dobro da relao dos TCs do lado dos terminais do

    gerador. Esta diferena nas magnitudes das relaes

    possibilita o balanceamento das diferenas de corrente

    durante condies normais de operao do gerador.

    Este esquema diferencial de corrente de fase

    dividida tambm pode proteger o gerador contra faltas

    entre fases no enrolamento. Para geradores aterrados

    por meio de baixa resistncia, este esquema propicia

    proteo contra faltas terra no enrolamento.

    Proteo autobalanceado de fase dividida

    A outra maneira de proteger o gerador contra faltas

  • 27Apoio

    entre espiras usando elementos de sobrecorrente com

    TCs de ncleo balanceado, passando os dois condutores

    da bobina dentro da janela do TC em direo oposta.

    Durante a operao normal do gerador, as correntes

    nos dois enrolamentos so iguais. Consequentemente,

    a corrente de sada do TC prxima de zero e o

    elemento de proteo de sobrecorrente no opera.

    Se ocorrer uma falta entre espiras em um dos dois

    enrolamentos, as correntes fluindo em ambos os

    enrolamentos sero desiguais e no se cancelam no

    ncleo do TC. O elemento de sobrecorrente sensvel

    atua e d trip no gerador.

    Uma considerao importante para este esquema

    Figura 7 Esquema de proteo diferencial de corrente de fase dividida.

    de proteo quando h reparo de emergncia com

    corte do enrolamento.

    Figura 8 Esquema de proteo autobalanceado de fase dividida.

    Continua na prxima edioConfira todos os artigos deste fascculo em

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    *GeRaLdo Rocha engenheiro eletricista e especialista em proteo de sistemas eltricos. atualmente engenheiro de aplicao da Schweitzer engineering Laboratories, Inc.

    PauLo LIma graduado em engenharia eltrica, com nfase em Sistemas eltricos de Potncia. especialista em Proteo de Sistemas eltricos, atua na SeL desde 2012 como engenheiro de aplicao e suporte e como professor da universidade SeL.