4º manifesto R+C

download 4º manifesto R+C

of 32

Transcript of 4º manifesto R+C

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    1/32

    Antiquus Mysticusque Ordo Rosae Crucis

    MANIFESTO

    Positio

    Fraternitatis Rosae Crucis

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    2/32

    agosto 2001 Ordem Rosacruz, AMORC

    Esta obra a continuidade dos Manifestos Rosacruzes publicadosno sculo XVII em que a Ordem Rosacruz torna pblica sua posiodiante do estado atual do mundo, e constitui um elo de ligao entreos rosacruzes do passado, do presente e do futuro. Assim sendo,este Manifesto no destinado unicamente aos Rosacruzes, masdeve ser difundido amplamente para que sua mensagem sejaconhecida pelo maior nmero de pessoas possvel. Por isso, a OrdemRosacruz, AMORC autoriza a sua reproduo e divulgao pedindoapenas que lhe seja creditada a autoria.

    Este pronunciamento internacional publicado pela SupremaGrande Loja da Ordem Rosacruz, AMORC,

    foi traduzido e editado na:

    Grande Loja da Jurisdio de Lngua Portuguesa.

    Rua Nicargua, 2620 Bacacheri 82515-260 Curitiba PrCaixa Postal 4450 82501-970Fone (0**41)351-3000 FAX (0**41)351-3065

    www.amorc.org.br

    Este documento est registrado no 4 Ofcio de Registro de Ttulos e Documentos

    da Comarca de Curitiba Pr Protocolo n 16.231-A de 02/08/2001

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    3/32

    3

    PRLOGO

    Caro leitor:

    Por no podermos nos dirigir diretamente a voc, fazemo-lo pormeio deste Manifesto. Esperamos que tome conhecimento dele sempreconceito e que ele suscite em voc ao menos uma reflexo. Noqueremos convenc-lo da legitimidade desta Positio, mas partilh-la livremente com voc. Naturalmente, esperamos que ela encontreum eco favorvel em sua alma. Caso contrrio, apelamos sua

    tolerncia

    Em 1623, os rosacruzes afixaram nos muros de Paris cartazesao mesmo tempo misteriosos e intrigantes. Eis o seu texto:

    Ns, deputados do Colgio principal da Rosa+Cruz,

    demoramo-nos visvel e invisivelmente nesta cidade pela graa do

    Altssimo, para O Qual se volta o corao dos Justos. Mostramos e

    ensinamos a falar sem livros nem sinais, a falar todas as espcies

    de lnguas dos pases em que desejamos estar para tirar os homens,

    nossos semelhantes, de erro de morte.

    Se algum quiser nos ver somente por curiosidade, jamais se

    comunicar conosco, mas, se a vontade o levar realmente a se

    inscrever no registro de nossa Confraternidade, ns, que julgamos

    pensamentos, faremos com que ele veja a verdade de nossas

    promessas; tanto assim que no estabelecemos o local de nossa

    morada nesta cidade, visto que os pensamentos unidos real vontade

    do leitor sero capazes de nos fazer conhec-lo, e ele a ns.

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    4/32

    4

    Alguns anos antes, os rosacruzes j se haviam dado a conhecerpublicando trs Manifestos deste ento clebres: Fama Fraternitatis,Confessio Fraternitatis e O Casamento Alqumico de ChristianRosenkreutz, que apareceram respectivamente em 1614, 1615 e 1616.Na poca, esses trs Manifestos suscitaram numerosas reaes, nosomente da parte dos meios intelectuais, mas tambm das autoridadespolticas e religiosas. Entre 1614 e 1620, cerca de 400 panfletos,manuscritos e livros foram publicados, alguns para elogi-los, outrospara os denegrir. De qualquer forma, seu aparecimento constituiuum evento histrico muito importante, especialmente no mundo doesoterismo.

    Fama Fraternitatis foi dirigido s autoridades polticas ereligiosas, bem como aos cientistas da poca. Ao mesmo tempo quefazia um balano talvez negativo da situao geral na Europa, reveloua existncia da Ordem da Rosa+Cruz atravs da histria alegricade Christian Rosenkreutz (1378-1484), desde o priplo que o levarapelo mundo inteiro antes de dar vida Fraternidade Rosacruz, at descoberta de seu tmulo. Esse Manifesto j fazia apelo a umaReforma Universal.

    Confessio Fraternitatis completou o primeiro Manifesto, por umlado insistindo na necessidade do ser humano e a sociedade seregenerarem e, por outro lado, indicando que a Fraternidade dosRosacruzes possua uma cincia filosfica que permitia realizar essaRegenerao. Nisso ela se dirigia antes de tudo aos buscadoresdesejosos de participar nos trabalhos da Ordem e promover a

    felicidade da Humanidade. O aspecto proftico desse texto intrigoumuito os eruditos da poca.

    O Casamento Alqumico de Christian Rosenkreutz, num estilobastante diferente dos dois primeiros Manifestos, relatou uma viageminicitica que representava a busca da Iluminao. Essa viagem desete dias se desenrolava em grande parte num misterioso casteloonde deviam ser celebradas as bodas de um rei e de uma rainha. Em

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    5/32

    5

    termos simblicos, o Casamento Alqumico descrevia a jornadaespiritual que leva todo Iniciado a realizar a unio entre sua alma (aesposa) e Deus (o esposo).

    Como sublinharam historiadores, pensadores e filsofos con-temporneos, a publicao desses trs Manifestos no foi neminsignificante nem inoportuna. Ocorreu numa poca em que a Europaatravessava uma crise existencial muito importante: estava divididano plano poltico e se dilacerava em conflitos de interesseseconmicos; as guerras de religies semeavam desgraa e desolao,mesmo no seio das famlias; a cincia tomava impulso e j assumiauma orientao materialista; as condies de vida eram miserveis

    para a maioria das pessoas; a sociedade da poca estava em plenamutao, mas faltavam-lhe referncias para evoluir no sentido dointeresse geral...

    A Histria se repete e pe regularmente em cena os mesmoseventos, mas numa escala geralmente mais vasta. Assim, perto dequatro sculos aps a publicao dos trs primeiros Manifestos,constatamos que o mundo inteiro, mais estritamente a Europa,enfrenta uma crise existencial sem precedentes, em todos os camposde sua atividade: poltica, econmica, cientfica, tecnolgica,religiosa, moral, artstica, etc. Por outro lado, nosso planeta, isto ,nosso campo de vida e evoluo, est gravemente ameaado, o quejustifica a importncia de uma cincia relativamente recente, qualseja, a ecologia. Seguramente, a Humanidade atual no est bem.Por isso, fiis nossa Tradio e ao nosso Ideal, ns, Rosacruzes

    dos tempos atuais, julgamos que seria til darmos testemunho dissoatravs desta Positio.

    Positio Fraternitatis Rosae Crucis no um ensaio escatolgico.De maneira nenhuma apocalptico. Como vimos de dizer, seuobjetivo transmitir nossa posio quanto ao estado do mundo atuale pr em evidncia o que nos parece preocupante para o seu futuro.Como j o fizeram em sua poca nossos irmos do passado,

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    6/32

    6

    desejamos tambm apelar para mais humanismo e espiritualidade,pois temos a convico de que o individualismo e o materialismoque prevalecem atualmente nas sociedades modernas no podemtrazer aos homens a felicidade a que eles legitimamente aspiram.Esta Positio sem dvida parecer alarmista para alguns, mas noh surdo pior do que aquele que no quer ouvir e cego pior do que

    aquele que no quer ver.

    A Humanidade atual est ao mesmo tempo perturbada edesamparada. Os imensos progressos que ela realizou no planomaterial no lhe trouxeram verdadeiramente felicidade e no lhepermitem entrever o futuro com serenidade: guerras, fome,

    epidemias, catstrofes ecolgicas, crises sociais, atentados contraas liberdades fundamentais, so outros tantos flagelos quecontradizem a esperana que o Ser Humano depositara em seu futuro.Por isso dirigimos esta mensagem a quem a queira de bom gradoouvir. Ela segue a linha daquela que os rosacruzes do sculo XVIIexprimiram atravs dos trs primeiros Manifestos, mas, paracompreend-la, preciso ler o grande livro da Histria com realismoe dirigir um olhar lcido para a Humanidade, este edifcio feito dehomens e mulheres em via de evoluo.

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    7/32

    7

    POSITIO R+C

    OSer Humano evolui atravs do Tempo, como o faz, alis, tudoaquilo que participa no seu campo de vida, bem como o prprioUniverso. A est uma caracterstica de tudo o que existe no mundomanifesto. Mas consideramos que a evoluo do Ser Humano nose limita aos aspectos materiais de sua existncia, convictos queestamos de que ele tem uma alma, ou seja, uma dimenso espiritual.Conforme pensamos, ela que dele faz um ser consciente, capaz derefletir sobre a sua origem e o seu destino. Por isso consideramos aevoluo da Humanidade como um fim, a Espiritualidade como um

    meio e o Tempo como um revelador.A Histria no to inteligvel pelos eventos que a geram, ou

    que ela gera, quanto pelos elos que os unem. Por outro lado, ela temum sentido, o que a maioria dos historiadores atuais de bom gradoadmite. Para compreend-la, preciso ento levar em consideraoos eventos, verdade que como elementos isolados, mas tambm esobretudo como elementos de um todo. Com efeito, consideramos

    que um fato s verdadeiramente histrico com relao ao conjuntoa que pertence. Dissociar os dois, ou fazer de sua dissociao umamoral da Histria, constitui uma fraude intelectual. Assim que hproximidades, justaposies, coincidncias ou concomitncias quenada devem ao acaso.

    Como dissemos no Prlogo, vemos uma similitude entre a situaoatual do mundo e a da Europa no sculo XVII. Aquilo que alguns j

    qualificam comops-modernidade, acarretou efeitos comparveisem numerosos campos e, infelizmente, provocou certa dege-nerescncia da Humanidade. Mas pensamos que essa degenerescncia apenas temporria e que acabar numa Regenerao individual ecoletiva, na condio, no obstante, de que os homens dem umadireo humanista e espiritualista ao seu futuro. Se no o fizerem,estaro de fato se expondo a problemas muito mais graves do queaqueles que esto enfrentando atualmente.

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    8/32

    8

    Com base na nossa Ontologia, consideramos que o Ser Humano a criatura mais evoluda dentre as que vivem na Terra, mesmo ses vezes se comporta de maneira indigna no tocante a esse status.Ele ocupa essa situao privilegiada porque dotado deautoconscincia e de livre-arbtrio. ento capaz de pensar e orientarsua existncia por suas prprias escolhas. Acreditamos tambm quetodo ser humano uma clula elementar de um nico e o mesmocorpo, o corpo da Humanidade inteira. Em virtude deste princpio,nossa concepo do Humanismo consiste em afirmar que todos oshomens deveriam ter os mesmos direitos, gozar do mesmo respeitoe desfrutar a mesma liberdade, independentemente do pas ondenascessem e daquele onde vivessem.

    Quanto nossa concepo da Espiritualidade, est fundada, porum lado, na convico de que Deus existe como Inteligncia absolutaque criou o Universo e tudo o que ele contm e, por outro lado, nacerteza de que o Ser Humano tem uma alma que Dele emana. Melhorainda, consideramos que Deus Se manifesta em toda a Criao atravsdas leis que o Ser Humano deve estudar, compreender e respeitar,para sua maior felicidade. De fato, consideramos que a Humanidadeevolui para a compreenso do Plano divino e est destinada a criarna Terra uma Sociedade ideal. Esse humanismo espiritualista podeparecer utpico, mas unimo-nos a Plato, que declarou em ARepblica: A Utopia a forma de Sociedade ideal. Talvez sejaimpossvel de realizar na Terra, mas nela que um sbio deve

    depositar todas as suas esperanas.

    Neste perodo de transio da Histria, a Regenerao daHumanidade nos parece mais que nunca possvel em virtude daconvergncia das conscincias, da generalizao das trocasinternacionais, da expanso da mestiagem cultural, da uni-versalizao da informao, bem como da interdisciplinaridade queexiste desde j entre os diferentes ramos do saber. Mas consideramosque essa Regenerao, que deve funcionar tanto no plano individualquanto no coletivo, s se pode fazer privilegiando-se o ecletismo e

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    9/32

    9

    seu corolrio, a tolerncia. Com efeito, nenhuma instituio poltica,nenhuma religio, nenhuma filosofia, nenhuma cincia detm omonoplio da Verdade. Isto posto, podemos nos aproximar dessaRegenerao colocando em comum o que essas instituies tm demais nobre a oferecer aos seres humanos, o que redunda em buscara unidade atravs da diversidade.

    Cedo ou tarde, as vicissitudes da existncia levam o Ser Humanoa se interrogar quanto razo de sua presena na Terra. Essa buscade uma justificativa natural, pois parte Integrante da alma humanae constitui o fundamento de sua evoluo. Por outro lado, os eventosque balizam a Histria no se justificam somente pelo fato de que

    existem; eles postulam uma razo que lhes exterior. Pensamos queessa prpria razo se integra a um processo espiritual que incita oSer Humano a se questionar quanto aos mistrios da vida, donde ointeresse que ele algum dia atribui ao misticismo e busca daVerdade. Se essa busca natural, acrescentamos que o Ser Humano impelido esperana e ao otimismo por uma injuno de suanatureza divina e por um instinto biolgico de sobrevivncia. Nisso,a aspirao Transcendncia aparece como uma exigncia vital daespcie humana.

    No tocante poltica, consideramos que imperativo que ela serenove. Dentre os grandes modelos do sculo XX, o marxismo-leninismo e o nacional-socialismo, baseados em postulados sociaispretensamente definitivos, levaram a uma regresso da razo e,finalmente, barbrie. Os determinismos correlatos com essas duasideologias totalitrias contrastaram fatalmente com a necessidadede autodeterminao do Ser Humano, traindo assim seu direito liberdade e escrevendo, no mesmo golpe, algumas das pginas maisnegras da Histria. E a Histria desqualificou a ambas, esperemos

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    10/32

    10

    que para todo o sempre. Seja o que for que se pense disso, os sistemaspolticos baseados num monologismo, isto , num pensamento nico,tm com freqncia em comum o fato de imporem ao Ser Humanouma doutrina da salvao que se presume libert-lo de sua condioimperfeita e elev-lo a um status paradisaco. Por outro lado, amaioria deles no pede ao cidado que reflita e sim que creia, o queos assemelha, na realidade, a religies laicas.

    Ao contrrio, correntes de pensamento como o rosacrucianismono so monolgicas e sim dialgicas e pluralistas. Em outras palavras,encorajam o dilogo com outrem e favorecem as relaes humanas.Paralelamente, aceitam a pluralidade de opinies e a diversidade dos

    comportamentos. Tais correntes se nutrem, portanto, de trocas, deinteraes e mesmo de contradies, coisa que as ideologias totalitriasprobem e se probem. alis por esta razo que o PensamentoRosacruz sempre foi rejeitado pelos totalitarismos, qualquer que fossea sua natureza. Desde suas origens, nossa Fraternidade preconiza odireito individual de forjar suas idias e express-las de maneiratotalmente livre. Nisso, os rosacruzes no so necessariamente livres-pensadores, mas todos so pensadores livres.

    No estado atual do mundo, parece-nos que a democracia continuaa ser a melhor forma de governo, o que no exclui certas fraquezas.Com efeito, sendo toda verdadeira democracia baseada na liberdadede opinio e de expresso, nela se encontram, geralmente, umapluralidade de tendncias, tanto entre os governantes como entre osgovernados. Infelizmente, essa pluralidade com freqncia gera diviso,

    com todos os conflitos que disso resultam. Assim que a maioria dosEstados democrticos manifesta faces que se opem continuamentee de maneira quase sistemtica. Essas faces polticas, gravitando omais das vezes em torno de uma maioria e de uma oposio, no nosparecem mais adaptadas s sociedades modernas e desaceleram aRegenerao da Humanidade. O ideal nessa matria seria que cadanao favorecesse a emergncia de um governo que reunisse, todasas tendncias amalgamadas, as personalidades mais aptas a dirigir os

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    11/32

    11

    negcios do Estado. Por extenso, fazemos votos de que um diaexista um Governo mundial representativo de todas as naes, doqual a ONU apenas um embrio.

    No tocante economia, consideramos que ela est comple-tamente deriva. Todo mundo pode constatar que ela condicionacada vez mais a atividade humana e cada vez mais normativa. Hojeem dia ela assume a forma de redes estruturadas muito influentes e,

    portanto, dirigistas, quaisquer que sejam suas aparncias. Por outrolado, mais que nunca ela funciona a partir de valores determinadosque se pretende quantificveis: custo de produo, limiar derentabilidade, avaliao do lucro, durao do trabalho, etc. Essesvalores so consubstanciais com o sistema econmico atual e lhefornecem os meios de alcanar os fins que persegue. Infelizmente,esses fins so fundamentalmente materialistas, porque baseados nolucro e no enriquecimento excessivo. Assim que se chegou a colocaro Ser Humano a servio da economia, quando essa economia quedeveria ser colocada ao servio do Ser Humano.

    Em nossos dias, todas as naes so tributrias de uma economiamundial que se pode qualificar como totalitria. Esse totalitarismoeconmico no corresponde s mais elementares necessidades decentenas de milhes de pessoas, ao passo que as massas monetrias

    nunca foram to colossais no plano mundial. Isto significa que asriquezas produzidas pelos homens s beneficiam uma minoria deles,o que deploramos. De fato, constatamos que a defasagem no cessade se ampliar entre os pases mais ricos e os pases mais pobres.Pode-se observar o mesmo fenmeno em cada pas, entre os maisdesprovidos e os mais favorecidos. Consideramos que assim porquea economia se tornou especulativa demais e porque ela alimentamercados e interesses que so mais virtuais que reais.

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    12/32

    12

    Evidentemente, a economia s cumprir seu papel quando forcolocada a servio de todos os seres humanos. Isto supe que sevenha a considerar o dinheiro pelo que ele deve ser, a saber, ummeio de troca e uma energia destinada a proporcionar a cada umaquilo de que ele precisa para viver feliz no plano material. Nissoestamos convictos de que o Ser Humano no est destinado a serpobre e menos ainda miservel, mas, ao contrrio, a dispor de tudoo que possa contribuir para o seu bem-estar, a fim de que possaelevar sua alma, com toda quietude, a planos superiores deconscincia. A rigor, a economia deveria ser empregada de tal maneiraque no houvesse mais pobres e que toda pessoa vivesse em boascondies materiais, pois isso a base da dignidade humana. A

    pobreza no uma fatalidade; no tampouco o efeito de um Decretodivino. De maneira geral, resulta do egosmo dos homens. Esperamosento que chegue o dia em que a economia esteja fundamentada napartilha e na considerao do bem comum. No obstante, os recursosda Terra no so inesgotveis e no podem ser partilhados ao infinito,de modo que, certamente, h de ser necessrio regular osnascimentos, principalmente nos pases superpovoados.

    Quanto cincia, consideramos que ela chegou a uma faseparticularmente crtica. verdade que no se pode negar que elaevoluiu muito e permitiu Humanidade realizar progressos

    considerveis. Sem ela, os homens ainda estariam na idade da pedra.Mas, enquanto os gregos haviam elaborado uma concepoqualitativa da pesquisa cientfica, o sculo XVII provocou umverdadeiro sismo, instaurando a supremacia do quantitativo, o queno deixa de guardar relao com a evoluo da economia. Omecanicismo, o racionalismo, o positivismo, etc., fizeram daconscincia e da matria dois campos bem distintos e reduziramtodo fenmeno a uma entidade mensurvel e desprovida de

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    13/32

    13

    subjetividade. O como eliminou o porqu. Se um fato que aspesquisas realizadas ao longo das ltimas dcadas resultaram emdescobertas importantes, o ganho financeiro parece ter primado sobreo resto. E chegamos hoje ao pice do materialismo cientfico.

    Tornamo-nos escravos da cincia, tanto mais que no asubmetemos nossa vontade. Simples falhas tecnolgicas podemhoje colocar em perigo as mais avanadas sociedades, o que provaque o Ser Humano criou um desequilbrio entre o qualitativo e oquantitativo, mas tambm entre ele prprio e aquilo que criou. Osobjetivos materialistas que ele persegue hoje em dia, atravs dapesquisa cientfica, acabaram extraviando seu esprito. Paralelamente,

    eles o afastaram de sua alma e do que nele h de mais divino. Essaexcessiva racionalizao da cincia um perigo real que ameaa aHumanidade a mdio e talvez mesmo a curto prazo. Com efeito,toda sociedade em que a matria domina a conscincia desenvolve oque h de menos nobre na natureza humana. Em virtude disso ela secondena a desaparecer prematuramente e em circunstncias o maisdas vezes trgicas.

    Em certa medida, a cincia tornou-se uma religio, mas umareligio materialista, o que paradoxal. Fundada numa abordagemmecanicista do Universo, da Natureza e do prprio Ser Humano,ela tem seu prprio credo (S acreditar naquilo que veja) e seuprprio dogma (Nenhuma verdade fora dela). Isto posto,observamos no entanto que as pesquisas que ela realiza sobre o comodas coisas levam-na cada vez mais a se interrogar sobre o seu porqu,

    de modo que ela pouco a pouco toma conscincia de seus limites enisso comea a se juntar ao misticismo. Certos cientistas, ainda raros, verdade, chegaram mesmo a propor a existncia de Deus comopostulado. de se notar que a cincia e o misticismo estavam muitoligados na Antiguidade, a tal ponto que os cientistas eram msticos evice-versa. precisamente a reunificao desses dois meios deconhecimento que precisa ser realizada no decorrer das prximasdcadas.

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    14/32

    14

    Tornou-se necessrio repensar a questo do saber. Por exemplo,qual o sentido real da reprodutibilidade de uma experincia? Umaproposio que no se confirme em todos os casos, ser elanecessariamente falsa? Parece-nos urgente superarmos o dualismoracional estabelecido no sculo XVII, pois nessa superao quereside o verdadeiro conhecimento. Nesta linha de pensamento, ofato de no se poder provar a existncia de Deus no suficientepara se afirmar que ele no existe. A verdade pode ter vrias faces;manter somente uma, em nome da racionalidade, um insulto razo. Alm disso, pode-se verdadeiramente falar em racional eirracional? a prpria cincia racional, ela que cr no acaso? Parece-nos com efeito muito mais irracional acreditar nele do que no

    acreditar. Neste particular, devemos dizer que nossa Fraternidadesempre se ops noo comum do acaso, que ela considera umasoluo de facilidade e uma fuga ante o real. Nele vemos o que a seurespeito disse Albert Einstein, a saber: A Senda que Deus adotaquando quer permanecer annimo.

    A evoluo da cincia coloca tambm novos problemas nos planostico e metafsico. Embora seja inegvel que as pesquisas em genticapermitiram fazer grandes progressos no tratamento de doenas apriori incurveis, elas abriram caminho a manipulaes que permitemcriar seres humanos por clonagem. Este gnero de procriao spode levar a um empobrecimento gentico da espcie humana e sua degenerescncia. Alm disso, ela supe critrios de seleoinevitavelmente marcados pela subjetividade e apresenta, porconseguinte, riscos em matria de eugenia. Por outro lado, a

    reproduo por clonagem s leva em conta a parte fsica e materialdo ser humano, sem atentar para o esprito nem para a alma. Porisso consideramos que essa manipulao gentica fere, no somentesua dignidade, mas tambm sua integridade mental, psquica eespiritual. Nisso aderimos ao adgio, cincia sem conscincia aruna da alma. Na Histria, a apropriao do Ser Humano pelo SerHumano s deixou tristes lembranas. Parece-nos ento perigosopermitir livre curso s experincias relativas clonagem reprodutora

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    15/32

    15

    do ser humano em particular e dos seres vivos em geral. Temos osmesmos receios a propsito das manipulaes que tangem aopatrimnio gentico dos animais como ao dos vegetais.

    Quanto tecnologia, constatamos que ela tambm est em plenamutao. Os homens sempre procuraram fabricar ferramentas emquinas para melhorar suas condies de vida e para serem maiseficazes em seu trabalho. Em seu aspecto mais positivo, esse desejo

    tinha originalmente trs objetivos principais: permitir-lhes realizarcoisas que no podiam fazer usando somente suas mos; poup-losdo sofrimento e da fadiga; ganhar tempo. preciso notar tambmque, durante sculos, para no dizer milnios, a tecnologia s foiempregada para ajudar ao Ser Humano em trabalhos manuais eatividades fsicas, ao passo que em nossos dias ela o assiste ainda noplano intelectual. Por outro lado, por muito tempo ela se limitou aprocedimentos mecnicos que requeriam a interveno direta doSer Humano e no ameaavam ou pouco ameaavam o ambiente.

    Desde ento, a tecnologia se fez onipresente e constitui o coraodas sociedades modernas, a ponto de que se tornou quase indis-pensvel. Suas aplicaes so mltiplas e ela passou a integrarprocedimentos tanto mecnicos quanto eltricos, eletrnicos, deinformtica, etc. Infelizmente, toda medalha tem seu verso e as

    mquinas se tornaram um perigo para o prprio Ser Humano. Comefeito, embora elas fossem idealmente destinadas a ajud-lo e apoup-lo do sofrimento, chegaram ao ponto de substitu-lo. Por outrolado, no se pode negar que o desenvolvimento progressivo domaquinismo provocou certa desumanizao da sociedade, no sentidode que reduziu consideravelmente os contatos humanos, entendendo-se aqui os contatos fsicos e diretos. A isso acrescentam-se todas asformas de poluio que a industrializao gerou em muitos campos.

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    16/32

    16

    O problema colocado atualmente pela tecnologia provm do fato deque ela evoluiu muito mais rpido do que a conscincia humana.Consideramos tambm que urgente que ela rompa com omodernismo atual e se torne um agente de humanismo. Para isso imperativo recolocar o Ser Humano no centro da vida social, o que,em conformidade com o que dissemos a respeito da economia, implicarecolocar a mquina a seu servio. Essa perspectiva requer totalreconsiderao dos valores materialistas que condicionam asociedade atual. Isso supe, por conseguinte, que todos os homensvoltem a se centrar em si mesmos e enfim compreendam que precisoprivilegiar a qualidade de vida e cessar essa corrida desenfreada contrao Tempo. Ora isso s ser possvel se eles reaprenderem a viver em

    harmonia, no somente com a Natureza, mas tambm com elesprprios. O ideal seria que a tecnologia evolusse de tal maneira quelibertasse o Ser Humano das tarefas mais penosas e ao mesmo tempolhe permitisse desabrochar harmoniosamente em contato com osoutros.

    Quanto s grandes religies, consideramos que elas manifestamatualmente dois movimentos contrrios: um, centrpeto e, o outro,centrfugo. O primeiro consiste numa prtica radical que se podeobservar sob forma de integrismos no seio do cristianismo, dojudasmo, do islamismo ou do hindusmo, entre outros. O segundo

    se traduz por um abandono de seu credo em geral e de seus dogmasem particular. O indivduo no mais aceita manter-se na periferia deum sistema de crenas, mesmo que se trate de uma religio ditarevelada. Doravante, ele quer se colocar no centro de um sistema depensamento resultante de sua prpria experincia. Nisso, a aceitaodos dogmas religiosos no mais automtica. Os crentes adquiriramcerto senso crtico a respeito das questes religiosas e a validade desuas convices corresponde cada vez mais a uma validao pessoal.

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    17/32

    17

    Onde a necessidade de Espiritualidade produziu outrora algumasreligies com forma arborescente (a forma de uma rvore bemenraizada em seu solo scio-cultural, que elas alis contriburampara enriquecer), hoje ela toma a forma de uma estrutura em rizoma,feita de arbustos mltiplos e variados. Mas, o Esprito no sopraonde quer?

    Assim que aparecem hoje em dia, margem ou no lugar dasgrandes religies, grupos de afinidades, comunidades de idias oumovimentos de pensamento, no seio dos quais as doutrinas, maispropostas que impostas, so admitidas por uma adeso voluntria.Independentemente da natureza intrnseca dessas comunidades,desses grupos ou desses movimentos, sua multiplicao traduz umadiversificao da busca espiritual. De maneira geral, consideramosque essa diversificao se deve ao fato de que as grandes religies,que respeitamos como tais, no detm mais o monoplio da f. Eassim porque elas respondem cada vez menos ao questionamentodo Ser Humano e no mais o satisfazem no plano interior. talveztambm porque elas se afastaram da Espiritualidade. Ora, esta,

    embora imutvel em essncia, procura constantemente se expressaratravs de veculos cada vez mais adaptados evoluo daHumanidade.

    A sobrevivncia das grandes religies depende mais que nuncade sua aptido para renunciar s crenas e posies mais dogmticasque elas adotaram com o passar dos sculos, tanto no plano moral

    como no doutrinrio. Para que elas perdurem, devem imperiosamentese adaptar sociedade. Se no se derem conta, nem da evoluo dasconscincias nem do progresso da cincia elas se condenaro adesaparecer a um prazo mais ou menos longo, no sem provocarainda mais conflitos tnico-scio-religiosos. Mas, na realidade,presumimos que seu desaparecimento inevitvel e que, sob o efeitoda globalizao das conscincias, elas daro nascimento a umaReligio universal que integrar o que elas tinham de melhor a

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    18/32

    18

    oferecer Humanidade para a sua Regenerao. Por outro lado,pensamos que o desejo de conhecer as leis divinas, isto , as leis naturais,universais e espirituais, h de cedo ou tarde suplantar a necessidadeexclusiva de crer em Deus. Nisso, postulamos que a crena um dia darlugar ao Conhecimento.

    No que concerne moral, no sentido que damos a esta palavraque se tornou ambgua, consideramos que ela est cada vez mais

    injuriada. Para ns ela no designa obedincia cega a regras (parano dizer a dogmas) sociais, religiosas, polticas ou outras. Ora, assim que muitos de nossos concidados percebem a moral dosnossos dias e da vem sua atual rejeio. Consideramos antes queela se relaciona com o respeito que todo indivduo deveria ter paracom ele prprio, os outros e o ambiente. O respeito a si mesmoconsiste em viver segundo suas prprias idias e no em sefundamentar nos comportamentos que se reprova nos outros. Orespeito aos outros consiste, simplesmente, em no fazermos ao nossosemelhante o que no gostaramos que ele nos fizesse, o que todosos sbios do passado ensinaram. Quanto ao respeito ao ambiente,ousamos dizer que ele vem naturalmente: respeitar a natureza epreserv-la para as geraes futuras. Vista sob esse ngulo, a moralimplica um equilbrio entre os direitos e os deveres de cada um, oque lhe d uma dimenso humanstica que nada tem de moralizadora.

    A moral, no sentido que vimos de definir, coloca todo o problemada educao. Ora, esta nos parece perdida. A maioria dos pais jdesistiu nesse campo ou no tem mais as referncias necessriaspara educar corretamente seus filhos. Muitos deles descarregam suaresponsabilidade nos professores, para dissimular essa carncia.Todavia, o papel de um professor no antes de tudo de instruir, ouseja, de transmitir conhecimentos? Quanto educao, consiste antes

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    19/32

    19

    em inculcar valores cvicos e ticos. Nisso compartilhamos a idia deScrates, que via nela a arte de despertar as virtudes da alma, taiscomo a humildade, a generosidade, a honestidade, a tolerncia, abenevolncia, etc. Independentemente de toda considerao de naturezaespiritual, consideramos que so essas virtudes que os pais e os adultosem geral deveriam inculcar nas crianas. Naturalmente, isso implica, seno que eles prprios as tenham adquirido, ao menos que tenhamconscincia da necessidade de adquiri-las.

    Com certeza o leitor sabe que os rosacruzes do passado pratica-vam a alquimia material, que consistia em transmutar metais inferioresem ouro, principalmente o estanho e o chumbo. O que freqentemente

    se ignora que eles tambm se dedicavam alquimia espiritual. Ns,rosacruzes dos tempos atuais, damos prioridade a essa forma dealquimia, pois dela que mais do que nunca o mundo necessita. Essaalquimia consiste, para todo ser humano, em transmutar cada um deseus defeitos em sua qualidade oposta, a fim de, precisamente, adquiriras virtudes a que j nos referimos. Pensamos, com efeito, que soessas virtudes que fazem a dignidade humana, pois o Ser Humano s digno do seu status se as expressa atravs do que pensa, diz e faz.No h dvida de que, se todos os indivduos, sejam quais forem suascrenas religiosas, suas idias polticas ou outras, fizessem o esforode adquiri-las, o mundo seria melhor. Assim, pois, a Humanidade podee deve se regenerar, mas preciso, para isso, que todo ser humano seregenere, inclusive no plano moral.

    Quanto arte, consideramos que ela seguiu, durante os sculospassados e mais particularmente durante as ltimas dcadas, ummovimento de intelectualizao que a levou a uma crescenteabstrao. Esse processo cindiu a arte em duas correntes opostas: umaarte elitista e uma arte popular. A arte elitista precisamente

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    20/32

    20

    aquela que se expressa atravs do abstrato e cuja compreensoest o mais das vezes limitada queles que se dizem iniciados ouque se diz que so iniciados. Por uma reao natural, a arte popularse ope a essa tendncia, acentuando sua maneira de traduzir oconcreto, s vezes de maneira excessivamente figurativa. Mas, porparadoxal que isso parea, ambas mergulham cada vez mais namatria, tanto verdadeiro que os extremos se tocam. Assim foique a arte se tornou, estrutural e ideologicamente, materialista, imagem da maioria dos campos da atividade humana. Hoje em diaela traduz mais os impulsos do ego do que as aspiraes da alma,o que lamentamos.

    Acreditamos que a arte verdadeiramente inspirada consiste emtraduzir no plano humano a beleza e a pureza do Plano Divino. Nesteparticular, barulho no msica; borradela no pintura; trituraono escultura; extravasamento no dana. Quando no so efeitosda moda, so meios de expresso que traduzem uma mensagemsociolgica que seria um equvoco negligenciar. Pode-se naturalmenteapreciar essas coisas, mas parece-nos inconveniente qualific-lascomo artsticas. Para que as artes participem na Regenerao daHumanidade, consideramos que elas devem colher sua inspiraonos arqutipos naturais, universais e espirituais, o que implica queos artistas se elevem a esses arqutipos, em lugar de desceremaos esteretipos mais comuns. Paralelamente, absolutamentenecessrio que as artes se dem uma finalidade esttica. Tais so,para ns, as duas principais condies a reunir para que elascontribuam realmente para a elevao das conscincias e sejam a

    expresso humana da Harmonia Csmica.

    No tocante s relaes do Ser Humano com seus semelhantes,consideramos que elas so cada vez mais interesseiras e deixam cada

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    21/32

    21

    vez menos lugar ao altrusmo. verdade que se manifestam impulsos desolidariedade, mas isso acontece o mais das vezes fortuitamente, porocasio de catstrofes (inundaes, tempestades, tremores de terra,etc.). Em situaes normais, o cada um por si que predomina noscomportamentos. Pensamos que tambm essa ascenso doindividualismo uma conseqncia do materialismo excessivo quegrassa atualmente nas sociedades modernas. No obstante, oisolamento que decorre disso deveria acabar, cedo ou tarde, gerandoo desejo e a necessidade de renovar o contato com os outros. Poroutro lado, pode-se esperar que essa solitude leve cada um a seinteriorizar mais e a se abrir finalmente para a Espiritualidade.

    A generalizao da violncia nos parece tambm muitopreocupante. verdade que ela sempre existiu, mas est semanifestando cada vez mais nos comportamentos individuais. O que mais grave ainda que ela se manifesta cada vez mais cedo. Nestecomeo do sculo XXI, uma criana mata uma outra, aparentementesem nenhum sentimento. A essa violncia efetiva acrescenta-se umaviolncia fictcia que invadiu as telas de cinema e de televiso. Aprimeira inspira a segunda e esta alimenta aquela, criando um crculovicioso que mais que tempo de deter. Nisso, se inegvel que aviolncia tem mltiplas causas (misria social, ruptura da famlia,desejo de vingana, necessidade de dominao, sentimento deinjustia, etc.), seu fator mais determinante no outro seno aprpria violncia. Evidentemente, essa cultura da violncia perniciosa e no pode ser construtiva, tanto mais que, pela primeiravez na Histria conhecida, a Humanidade tem os meios de se

    autodestruir em escala planetria.

    Num paradoxo dos tempos modernos, constatamos por outrolado que, na era da comunicao, os indivduos praticamente no secomunicam mais. Os membros de uma mesma famlia no dialogammais entre si, to ocupados esto em escutar o rdio, assistir televiso ou surfar na Internet. A mesma constatao se impe numplano mais geral: a telecomunicao suplanta a comunicao

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    22/32

    22

    propriamente dita. Com isso ela instala o Ser Humano numa grandesolido e refora o individualismo a que j nos referimos. Que sejamosbem compreendidos: o individualismo, como direito natural a viver demaneira autnoma e responsvel, absolutamente no nos parececondenvel; bem ao contrrio. Mas, que ele se torne um modo devida baseado na negao do outro, parece-nos particularmente grave,pois contribui para a desagregao do meio familiar e do sistemasocial.

    Por contraditrio que parea, consideramos que a atual falta decomunicao entre nossos concidados resulta em parte de umexcesso de informao. Naturalmente, no se trata de se

    reconsiderar o dever de informar e o direito de ser informado, poisambos so os pilares de toda democracia verdadeira. Parece-nos,no entanto, que a informao se tornou ao mesmo tempo excessivae invasora, a ponto de gerar o seu oposto: a desinformao.Lamentamos igualmente que ela seja focalizada acima de tudo naprecariedade da condio humana e tanto ponha em epgrafe osaspectos negativos do comportamento humano. Assim fazendo elanutre, no melhor, o pessimismo, a tristeza e o desespero; no pior, asuspeio, a diviso e o rancor. Se legtimo mostrar o que participana feira do mundo, do interesse de todos revelar o que compea sua beleza. Mais que nunca o mundo tem necessidade de otimismo,esperana e unidade.

    A compreenso do Ser Humano pelo Ser Humano constituiriaum avano considervel, mais radical ainda do que o impulso

    cientfico e tecnolgico que o sculo XX conheceu. Por isso todasociedade deve favorecer os encontros diretos entre seus membros,mas tambm abrir-se para o mundo. Nisso defendemos a causa deuma Fraternidade humana que faa de todo indivduo um Cidadodo mundo, o que supe que se ponha termo a toda discriminao ousegregao de ordem racial, tnica, social, poltica ou outra.Finalmente, trata-se de empreender o advento de uma Cultura daPaz, fundada na integrao e na cooperao, coisa em que os

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    23/32

    23

    rosacruzes sempre se empenharam. Sendo a Humanidade uma emessncia, sua felicidade s possvel favorecendo a de todos os sereshumanos, sem exceo.

    A propsito das relaes do Ser Humano com a Natureza,consideramos que elas nunca foram to ruins num plano de conjunto.Todo mundo pode constatar que a atividade humana tem efeitoscada vez mais nocivos e degradantes sobre o ambiente. No entanto,

    evidente que a sobrevivncia da espcie humana depende de suaaptido para respeitar os equilbrios naturais. O desenvolvimento daCivilizao gerou muito perigos decorrentes de manipulaesbiolgicas relativas alimentao, utilizao em grande escala deagentes poluentes, acumulao mal controlada de resduosnucleares, para citarmos apenas alguns riscos principais. A proteoda Natureza e, portanto, a salvaguarda da Humanidade, tornou-seuma questo de cidadania, ao passo que antes s dizia respeito aosespecialistas. Ademais, ela se impe doravante no plano mundial.Isso ainda mais importante porque o prprio conceito de Naturezamudou e porque o Ser Humano est se sentindo parte integrantedela; no se pode mais falar, hoje em dia, emNatureza em si mesma.A Natureza h de ser, portanto, aquilo que o Ser Humano queiraque ela seja.

    Uma das caractersticas da poca atual seu grande consumo deenergia. Esse fenmeno no seria em si mesmo inquietante se fosseproduzido com inteligncia. Observamos, no entanto, que as fontesnaturais esto sendo superexploradas e esto se esgotandogradativamente (carvo, gs, petrleo). Por outro lado, certas fontesde energia (centrais nucleares) apresentam riscos considerveis,muito difceis de dominar. Notamos tambm que, a despeito derecentes tentativas de acordo, certos perigos, como a emisso de

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    24/32

    24

    gs com efeito-estufa, a desertificao, o desmatamento, a poluio dosoceanos, etc., no so objeto de medidas adequadas, por falta de umavontade suficiente. Alm do fato de que essas agresses ao ambientefazem com que a Humanidade corra riscos muito graves, elas traduzemuma grande falta de maturidade, tanto no plano individual quanto nocoletivo. Seja o que for que se diga, consideramos que as anormalidadesclimticas atuais, com seu cortejo de tempestades, inundaes, etc.,so uma conseqncia das agresses que os homens infligem h muitotempo ao nosso planeta.

    Evidentemente, um outro problema importante no deixar de seimpor de modo mais ou menos crucial no futuro: o problema dagua. Ela um elemento indispensvel manuteno e aodesenvolvimento da vida. Sob uma forma ou outra, todos os seresvivos dela necessitam. O Ser Humano no exceo a essa lei natural,mesmo porque seu corpo contm 70% de gua. Ora, o acesso umvolume constante atual de gua doce est hoje limitado a no mximopara seis habitantes no globo, proporo esta que ameaa reduzir-separa somente quatro habitantes antes de meio sculo, devido aoaumento da populao mundial e da poluio dos rios e dos riachos.

    Os maiores especialistas concordam em dizer, hoje em dia, que oouro branco ser, mais que o ouro negro, o jogo do sculo,com todos os riscos de conflitos que isso implica. Uma tomada deconscincia global desse problema tambm se impe.

    A poluio do ar encerra ainda perigos considerveis para a vidaem geral e para a espcie humana em particular. A indstria, oaquecimento e os transportes, participam numa degradao de sua

    qualidade e poluem a atmosfera, fonte de riscos para a sade pblica.As zonas urbanas so as mais atingidas por esse fenmeno, queameaa ento se ampliar na medida da urbanizao. Nessa linha depensamento, a hipertrofia das cidades constitui um perigo nonegligencivel para o equilbrio das sociedades. A propsito de seucrescimento, adotamos a opinio que Plato, ao qual j nos referimos,emitiu em sua poca: At ao ponto em que, aumentada, ela conservesua unidade, a cidade poder se estender, mas no alm desse

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    25/32

    25

    ponto. O gigantismo no pode favorecer o humanismo no sentido comque j o definimos. Ele acarreta necessariamente desarmonia no seiodas grandes cidades, gerando mal-estar e insegurana.

    O comportamento do Ser Humano para com os animais tambmfaz parte de suas relaes com a Natureza. Ele tem o dever de am-los e respeit-los. Todos participam na cadeia da vida tal como semanifesta na Terra e todos so agentes da Evoluo. Ao seu nvel,eles so tambm veculos da Alma Divina e participam no PlanoDivino. Vamos mesmo ao ponto de considerar que os mais evoludosdentre eles so seres humanos em devir. Por todas essas razes,consideramos indignas as condies em que muitos deles so criados

    e abatidos. Quanto vivisseco, nela vemos um ato de barbrie.De maneira geral, consideramos que a fraternidade deve incluir todosos seres que a vida ps no mundo. Compartilhamos tambm essasproposies atribudas a Pitgoras: Enquanto os homenscontinuarem a destruir sem piedade os seres vivos dos reinos

    inferiores, no conhecero nem a santidade nem a paz. Enquanto

    eles massacrarem os animais, havero de se matar entre si. Com

    efeito, quem semeia morticnio e dor no pode colher alegria e

    amor.

    Com respeito s relaes do Ser Humano com o Universo,consideramos que elas se baseiam na interdependncia. Sendo o SerHumano um filho da Terra e a Terra uma filha do Universo, o SerHumano ento um filho do Universo. Assim que os tomos quecompem o corpo humano provm da Natureza e so encontradosnos confins do Cosmo, o que leva os astrofsicos a dizer que O SerHumano um filho das estrelas. Mas, se o Ser Humano est emdbito com o Universo, este tambm deve muito a ele; no a suaexistncia, claro, mas sua razo de existir. Com efeito, que seria o

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    26/32

    26

    Universo se os olhos do Ser Humano no o pudessem contemplar, sesua conscincia no o pudesse apreender, se sua alma no pudesse nelese refletir? Na realidade, O Universo e o Ser Humano precisam um dooutro para se conhecerem e mesmo se reconhecerem, o que no deixade lembrar o clebre adgio: Conhece a ti mesmo e conhecers oUniverso e os Deuses.

    No cabe todavia deduzir que nossa concepo da Criao sejaantropocntrica. De fato, no fazemos do Ser Humano o centro doPlano Divino. Digamos antes que fazemos da Humanidade o centrode nossas preocupaes. Segundo o nosso pensamento, sua presenana Terra no fruto do acaso ou de um concurso de circunstncias.

    Ela conseqncia de uma Inteno que teve origem na IntelignciaUniversal que comumente chamada deDeus. Ora, se Deus, devido Sua Transcendncia, incompreensvel e ininteligvel, no aconteceo mesmo com as leis pelas quais Ele se manifesta na Criao. Comoj o mencionamos, o Ser Humano tem o poder, se no o dever, deestudar essas leis e de aplic-las para o seu bem-estar material eespiritual. Pensamos mesmo que nesse estudo e nessa aplicaoque residem, no somente sua razo de ser, mas tambm suafelicidade.

    As relaes do Ser Humano com o Universo colocam ainda aquesto de saber se a vida existe em outros lugares alm da Terra.Estamos convencidos disto. Dado que o Universo contm cerca decem bilhes de galxias e cada galxia cerca de cem bilhes deestrelas, existem provavelmente milhes de sistemas solares

    comparveis ao nosso. Por conseguinte, pensar que s o nossoplaneta habitado nos parece muito redutor e constitui uma formade egocentrismo. Dentre as formas de vida que povoam outrosmundos, algumas so provavelmente mais evoludas do que as queexistem na Terra; outras, menos. Mas todas fazem parte do mesmoPlano Divino e participam na Evoluo Csmica. Quanto a saber seextraterrestres podem contatar nossa Humanidade, consideramosque sim, mas no fazemos disso objeto de nenhuma expectativa.

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    27/32

    27

    Temos outras prioridades. Isto posto, o dia em que se fizer esse contato,pois ele h de ocorrer, constituir um evento sem precedente. Com efeito,a Histria do Ser Humano se fundir da Vida Universal

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    28/32

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    29/32

    29

    EPLOGO

    Caro leitor:

    A est ento o que queramos lhe dizer atravs deste Manifesto.Ter ele lhe parecido alarmista? Por razo mesmo de nossa filosofia,esteja no entanto seguro de que somos ao mesmo tempo idealistas eotimistas, posto que temos confiana no Ser Humano e em seudestino. Quando se considera o que ele criou de mais til e mais

    belo no campo da cincia, da tecnologia, da arquitetura, da arte, daliteratura ou em outros e, quando se pensa nos sentimentos maisnobres que ele capaz de ter e de expressar, como o maravilhamento,a compaixo, o amor, etc., no se pode duvidar de que ele possui emsi algo de divino e de que capaz de se transcender para fazer obem. A este respeito pensamos, com o risco de mais uma vezparecermos utopistas, que o Ser Humano tem o poder de fazer daTerra um lugar de paz, de harmonia e de fraternidade. Isso s dependedele.

    A situao do mundo atual no desesperada, mas preocupante.O que mais nos preocupa, no tanto o estado da Humanidadequanto o do nosso planeta. Pensamos, com efeito, que o tempo paraa evoluo espiritual da Humanidade no est contado, pois, comosua alma imortal, ele tem de certo modo a eternidade para realizar

    essa evoluo. Ao contrrio, a Terra est realmente ameaada a mdioprazo, pelo menos como habitat para a espcie humana. O tempoest ento contado para ela e consideramos que sua preservao overdadeiro jogo do sculo XXI. a ela que a poltica, a economia,a cincia, a tecnologia e, em geral, todos os campos da atividadehumana, deveriam se dedicar. Ser realmente to difcil compreenderque a Humanidade s poder encontrar felicidade vivendo emharmonia com as leis naturais e, por extenso, com as leis divinas?

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    30/32

    30

    Por outro lado, ser to absurdo admitir que ela tenha os meios de sesublimar em seu prprio interesse? Seja como for, se os seres humanospersistirem no atual materialismo, as profecias mais sombrias se realizaroe ningum ser poupado.

    Pouco importam as idias polticas, as crenas religiosas, asconvices filosficas de cada um. Os tempos no esto mais paradiviso, qualquer que seja sua forma, mas para a unio; para a uniodas diferenas, a servio do bem comum. Nisso, nossa Fraternidadeconta em seu quadro com cristos, judeus, muulmanos, budistas,hindustas, animistas e mesmo agnsticos. Rene tambm pessoasque pertencem a todas as categorias sociais e representam todas as

    correntes polticas clssicas. Homens e mulheres nela tm um statusde total igualdade e cada membro goza das mesmas prerrogativas. essa unidade na diversidade que faz a pujana do nosso ideal e danossa egrgora. Assim porque a virtude que mais prezamos atolerncia, isto , precisamente, o direito diferena. Isto no faz dens sbios, pois a sabedoria abrange muitas outras virtudes.Consideramo-nos antes filsofos, ou seja, literalmente, amantesda sabedoria.

    Antes de selar esta Positio e lhe dar assim a marca da nossaFraternidade, desejamos encerr-la com uma invocao que traduz

    o que se poderia qualificar como a Utopia Rosacruz, no sentidoplatnico do termo. Apelamos boa vontade de todos e de cadaum, para que essa Utopia se torne um dia realidade, para o maiorbem da Humanidade. Talvez esse dia nunca chegue, mas, se todosos seres humanos se esforarem para acreditar nisso e agir emconformidade com isso, o mundo s poder ser melhor

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    31/32

    31

    Utopia Rosacruz

    Deus de todos os seres humanos, Deus de toda vida,

    Na Humanidade com que sonhamos:

    Os polticos so profundamente humanistas e trabalham a serviodo bem comum.

    Os economistas gerem as finanas dos Estados com discernimentoe no interesse de todos,

    Os sbios so espiritualistas e buscam sua inspirao no Livro da

    Natureza,Os artistas so inspirados e expressam em suas obras a beleza e a

    pureza do Plano Divino,

    Os mdicos so motivados pelo amor ao prximo e cuidam tantodas almas quanto dos corpos,

    No h mais misria nem pobreza, pois cada qual tem aquilo de

    que precisa para viver feliz,O trabalho no mais vivenciado como uma coero, mas como

    uma fonte do desabrochar e de bem-estar,

    A natureza considerada como o mais belo dos templos e osanimais como nossos irmos em via de evoluo,

    H um Governo mundial, formado pelos dirigentes de todas as

    naes, trabalhando no interesse de toda a Humanidade,A espiritualidade um ideal e um modo de vida que tm sua

    fonte numa Religio universal, baseada mais no conhecimento dasleis divinas do que na crena em Deus,

    As relaes humanas so fundadas no amor, na amizade e nafraternidade, de modo que o mundo inteiro vive em paz e harmonia.

    Assim seja!

  • 8/14/2019 4 manifesto R+C

    32/32

    Selado a 20 de maro de 2001

    Ano Rosacruz 3354