5. Jesus - A Ética Original_ a Vida Fenomenológica Como Fundamento Da Ação Humana

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    Investigao Filosfica, Edio Especial do I Encontro Investigao Filosfica, 2015. (ISSN: 2179-6742)Artigos / Articles

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    A TICA ORIGINAL: A VIDA FENOMENOLGICA COMO FUNDAMENTO

    DA AO HUMANA

    Joo Elton de Jesus1

    RESUMO:Este trabalho apresenta a chamada tica original propugnada pelo filsofo Michel Henry.Nessa abordagem, o fundamento da tica a vida imanente e transcendental que se manifesta numcorpo subjetivo como sabedoria e poder de movimento. A vida condio de possibilidade para todaao humana e nica capaz de determinar qualquer valorao, norma ou lei no que tange prxis dohomem. Desta maneira, para melhor apresentar o objeto desse estudo, inicialmente abordaremos acrtica de Michel Henry ao saber cientfico, em seguida apresentaremos a fenomenologia da vida e docorpo e finalmente elucidaremos a tica original fundamentada na vida fenomenolgica.

    PALAVRAS-CHAVE:tica. Fenomenologia. Vida. Cincias. Barbrie.

    Abstract:This paper presents the original ethics proposed by the philosopher Michel Henry. In this

    approach, the foundation of ethics is the immanent and transcendent life that manifest itself in asubjective body as wisdom and power of movement. Henry says that life is the only possibilitycondition for all human action. Life is capable of determining any valuation, rule or law regardingman's praxis. To better present the object of this study, initially discuss the criticism of Michel Henryto scientific knowledge, then we will present the phenomenology of life and body, and finallyelucidate the original ethics based on the phenomenological life.

    Keywords:Ethics. Phenomenology. Life. Sciences. Barbarism.

    Introduo

    Nascido no Vietn, Michel Henry (1922-202) cresceu na Indochina e se formou naFrana. A filosofia desse pensador busca a factibilidade do homem. Por meio daquilo que ele

    chama de fenomenologia radical, esse autor apresenta um novo olhar para as cincias, para a

    arte, para a poltica e portanto para o agir humano.

    Em sua anlise filosfica-fenomenolgica, Michel Henry denuncia que o mundo

    contemporneo vive em estado de barbrie. Para ele, o saber cientfico passou a ser a nica

    verdade, de modo que sua forma mais expressiva, a tcnica, fez com que a vida fosse

    obscurecida, escondida, ocultada. Nesse contexto, Henry (2015, p.382) afirma que os homens

    utitu ata, tia mia, lu ihi m

    tratados matematicamente, informaticamente, estatisticamente, contados como animais e

    val muit m u l

    Para aquele que conhecido como o filsofo da vida, a origem da ideologia objetiva

    do mundo moderno se remete Galileu Galilei que em sua obra Il Saggiatore (1623) afirma

    1Bacharel em Administrao com nfase em Marketing pelas Faculdades Anhanguera. Graduando em Filosofia

    na Faculdade de Filosofia e Teologia FAJE e Ps-graduando em Juventude no Mundo Contemporneo pela

    FAJE. Participa de Iniciao Pesquisa Cientfica promovida pela FAJE / Fapemig e do Grupo de PesquisaFilosofia do corpo a partir da Fenomenologia e do pensamento analtico arquegenealgico da FAJE/CNPQ. E-mail: [email protected]

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    u uiv t it m lgua matmtia, aat tigul,

    circunferncias e outras figuras geomtricas, sem cujos meios impossvel entender

    humaamt a alava m l vagam i t um u laiit

    (GALILEU GALILEI, 1983, p.130)

    Segundo o proto-fundador da cincia moderna, os sentidos e a sensibilidade no so

    suficientes para explicar o mundo e a existncia humana, pois, conforme o prprio Galileu

    ata ti no nos proporcionam a ordem racional que a nica capaz de nos

    fornecer a explicao desejada. Tal ordem sempre matemtica e s pode ser alcanada

    atav mt ait a mta matmtia (R, 1, )

    Com base no pensamento galileano, nos sculos ulteriores a matemtica e com ela o

    positivismo e o objetivismo mudariam o paradigma humano de ler, ser e estar no mundo. O

    saber cientfico passa a ser considerado verdadeiro e absoluto, a salvao da humanidade. No

    mundo contemporneo, qualquer informao ou objeto s tem validade se for

    itifiamt mva

    ihl y hama u galilaa a jtivao do mundo,

    titu matiai xt, itua u a la ut, m fma

    figua tmiaa (y, 1, ) filf a via afima u (1, 1) m

    alilu, mu m fu, uiita, matialista, que cr que o nico saber

    vlido a fsica e as cincias que lhe esto ligadas. um mundo que obedece a essa ideologia

    u itifia a m iia, u ga a xitia ut ti himt

    Dessa maneira, a crise do mundo moderno acontece quando a reduo galileana

    alcana o seu pice de objetivao e imprime um carter ontolgico na existncia humana.

    Nesse contexto h a runa do homem, pois o saber cientfico, multiplicado em diversos

    saberes (qumica, fsica, biologia, etc.), fragmenta o ser humano em vrias especialidades que

    fm ualu vi jut a xitia humaa ua tia, vi

    sem a qual impossvel decidir o que precisa fazer em cada caso, desde que este concirnajustamente nossa exitia, a uma ia (ERY, 1, )

    1. Fenomenologia da Vida

    Michel Henry busca na filosofia algum caminho que recupere a originalidade do ser

    humano vtima da fragmentao causada pela reduo galileana. Em sua busca pela verdade,

    esse pensador depara-se com a fenomenologia como uma alternativa filosfica que avance

    horizontes para alm das tradicionais abordagens antropolgicas metafsicas e clssicas.Contudo, ao aprofundar no pensamento fundado por Edmund Husserl, o Filsofo da Vida

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    verifica que a fenomenologia histrica permanecia indeterminada pois no chegara s coisas

    mesmas, tal como fora sua presuno.

    ua hga ia mma, ihl y, iia m ai ia,

    se debrua sobre a fenomenalidade do fenmeno. Para ele, conhecer diferente de ver. Em

    ua xit ut m vla () uja fmalia j ia a

    la fa -la lu u mu (ERY, 1, ) ata-se de uma

    realidade escondida ao ver, invisvel toda representao no mundo visvel.

    amt at m fuamt, ihl y afima u

    contedo real do mundo sensvel decorre de uma impresso exclusiva, ou seja, o contedo

    real do mundo, uma revelao original, primitiva, impressional, sensual. (HENRY, 2014,

    p.72). H no fenmeno um autoaparecer, pois aparecemos a ns mesmos antes de

    aparecermos no mundo.

    aa y -de-fa jt, alg mai igii El atiui

    mai igii ia vida que aparece antes de todo aparecer no mundo pois ela

    mt aa um ti, ti tu u tim, ma at um ti-se a

    i mma, a imia aluta attia (ERY, 1, ) aa l, a via uma

    sensibilidade, uma afectividade imanente transcendental, onde repousa um experimentar a si

    mesmo sem nenhuma influncia exterior, sem nenhum ex-tase.

    A principal caracterstica da vida, desse algo mais original do homem, o pthos.

    aa l a via m u autsentir e em seu autossofrer. O sofrimento da subjetividade

    identificamente seu gozo, o mergulho em seu prprio ser, sua unio e comunho com ele na

    taaia a ua aftivia (ERY, 1, )

    Para Henry, a vida originria de toda existncia humana traz consigo uma passividade

    e um sofrimento, pois na medida em que sofre e se suporta ela vai experimentando a si

    mesma, alcanando a si mesma, apoderando-se de si mesma. H um crescimento de si e um

    usufruir-se de si de modo que desse sofrimento, surge a alegria.Eis por que Sofrimento e Alegria no se separam jamais, uma condio da outra, osofrer fornecendo sua matria fenomenolgica ao usufruir de si, produzindo-secomo a carne da qual feita a Alegria, a qual, por seu lado, no passa da efetivaofenomenolgica desse sofrer e cujo sofrimento se transforma em Alegria, de talmodo que, em semelhante transformao, cada termo subsiste como a condiofenomenolgica do outro, e como sua prpria substncia (HENRY, 2012,p.69)

    Como uma autofrui attia tatal, a via litalmt ivivl aia

    u ja u h mai t (y, 1, ) um tul uj al a lu

    mu a itfi, a via ia iiviual, i a autaf titui,como tal, a essncia de toda ipseidade possvel. O Indivduo assim o Todo do ser, aquilo em

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    u l u u m tma m um m tal (ERY, 1,

    p.56)

    A vida um saber originrio onde no h interveno do saber da conscincia ou do

    saber da cincia. Todos os saberes so manifestaes da prpria vida, tem origem somente

    ta a a via u ta vl mvimt a m lh, at

    erguer, de subir as escadas, de beber e comer, o prprio u (ERY, 1, )

    Portanto, para Michel Henry, a vida uma afetividade originria e pura, imanente e

    tatal a m a ujtivia a iilia Via afftu, um i a

    a si mesmo na vida, e apenas provado nesta. A partir deste sentir primitivo se desenvolvem a

    conscincia, o pensamento, a linguagem, a memria e as demais caractersticas e aes

    humanas. (PRAZERES, 2014, p.246)

    2. Fenomenologia do corpo

    Em sua busca pela factibilidade do homem, Henry no quer ficar num conceito de vida

    etreo ou no inerente realidade. Dessa forma, ele observa como o fenmeno humano se

    apresenta e percebe que o homem, constitudo de um corpo, um fenmeno que se apresenta

    ita xtimt aa l, xitm i m fuamentais e irredutveis de

    aa mu a via (ERY, 1, 1) Em ua a Ver o invisvel ele

    afirma:Pois, de um lado, vivo interiormente esse corpo, coincidindo com ele e com oexerccio de cada um de seus poderes: eu vejo, ouo, cheiro, movo mos e olhos,tenho fome, frio, de tal modo que eu sou esse ver, esse ouvir, esse cheirar, essemovimento, essa fome, que eu me precipito inteiro em sua pura subjetividade, aponto de no poder me diferenciar deles - fome, sofrimento, etc. em nada. Deoutro lado, e ao mesmo tempo, eu vivo exteriormente esse mesmo corpo por sercapaz de v-lo, toc-lo, represent-lo a mim mesmo como objeto, realidade exteriorprxima aos outros objetos. (Henry, 2012c, p. 14)

    Dessa maneira, Henry percebe que a vida se manifesta numa corporeidade, naquilo

    u l hama ujtiv, u um igii, uma a aa l, hvia m uma a, ma h a m via (ERY, 1, 1) im, ua

    falamos de corpo subjetivo em Michel Henry, conceituamos uma corporeidade humana muito

    mais originria, no intencional, no sensvel, sua essncia a vida, conforme as

    caractersticas acima apresentadas. (HENRY, 2014, p.173).

    O corpo subjetivo para Henry, manifestao dessa vida, aquele que se apresenta

    como condio de possibilidade para o corpo objetivo, aquele que visto luz do mundo.

    No se trata de um dualismo, como aqueles apresentados na histria da filosofia como em

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    Plato ou Descartes. Trata-se de um dualismo ontolgico, onde o homem traz consigo o seu

    corpo objetivo que, por sua vez, traz a sua originalidade no corpo subjetivo.

    Para melhor esclarecer a originalidade do corpo subjetivo, Henry (2014, p. 207) diz

    u iaa m g jtiv, ati mua,a mo incapaz de tocar

    ti u u u ja, m uta m m uta at u um

    ualu a ti, fa ujtiv ta im, ualu

    movimento feito pelo corpo objetivo luz do mundo, tem a sua origem e possibilidade no

    corpo subjetivo, que invisvel, pois manifestao da vida imanente e transcendental.

    ta maia, ujtiv um u aifta a via, l tm

    poderes de pegar, andar, agir tambm movimento que permanece em posse de si na

    imanncia de nossa corporeidade originriaautomovimento da Vida em sua autorrevelao

    carnal. (HENRY, 2014, p. 210)

    Para Henry, o corpo subjetivo lugar de uma memria original. Ele afirma (2014, p.

    11) u mais profunda que a capacidade da conscincia ou de um rgo

    jtiv, i a mmia um u lma () autmvimt um

    u lh vla a auta attia miha ia igiia

    Portanto, podemos afirmar com Henry que essa corporeidade original se revela como

    uma aia igial, um a alut, um himt alut tu a

    uma v, fa tm (y, 1, ) ata-se de um saber imanente e

    transcendental, que existe independentemente de algo de fora. No h nele nenhuma

    exterioridade, no h relao com objeto nenhum, uma subjetividade radical pois s existe

    pela experincia constante de si. Michel Henry aponta o saber da vida como uma auto-

    inteligibilidade, um saber infalvel, imediato, absoluto.

    3. tica original

    Compreendida a concepo do homem ao qual a vida se manifesta numa corporeidade

    original que, ao ser sabedoria original, condio de possibilidade para toda ao, podemosavanar o nosso pensamento para a rea da tica, pois se a vida ao, est ligada, portanto

    itamt xi im m i m y (1, ) a a a via m

    saber em que a vida constitui tanto o poder que conhece quanto o que conhecido por ele,

    proporcionando-lhe, de maia xluiva, u t, ham a xi

    via a i la tmia que somos, j que esse movimento constitui, nossa

    ipseidade. O que fazemos, porque, carregados por ele e advindo a ns mesmos, na medida em

    que ele advm a si, , l, aim fa m l (ERY, 1, 1) Para

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    Ra (, 1) fala Via tia , aim, uma uia, u a Via tia

    th a Via, um la atti imial

    O homem comea onde comea esse viver definido como sentir-se a si mesmo,como provar-se, e acaba onde ele termina. Ora esse domnio da fenomenalidade tamm a tia tia ut u vm fa a taquesto, por mais vasta que seja, requer uma condio e que , justamente, quepossamos fazer alguma coisa. Ela dirige-se por conseguinte apenas aos vivos nosentido em que defini a vida. Porque a aco pertence ao domnio do viver, apenas possvel pelo meu corpo que no um objecto do mundo mas um corpo vivo,subjectiv, um u (y, 1, 1-11)

    Desta maneira somente na vida podemos falar de uma prxis verdadeiramente

    humaa tat igiaiamt tia, i , ialia, atai, tmla,

    analisar, transformar em tema etc., isso [soment] a via fa (HENRY, 2012, p.101).

    Trata-se de uma tia igial m co-naissance (co-nascena), um saber imediato e vivido,advindo na subjectividade arqui-transcendental e pattica da Vida. O ethos da tica a

    morada da Vida, no o conhecimento dos nossos deveres (ROSA, 2006, p.15)

    A tica proposta por Henry se contrapes ao positivismo, s filosofias clssicas e ao

    vitalim Em u ilhat atig th a tia, Ra afima u a tia igial

    proposta por Henry abandona radicalmente uma viso naturalista cujo ser humano tem o

    dever de perseguir fins para se realizar. Nesse sentido, tambm afirma o prprio Henry (2015,

    p. 248)

    A ao, o fazer, a prtica, o corpo so arrancados ao absurdo do positivismo que crreduzi-los a um fenmeno objetivo anlogo a todos os fenmenos do universo. Soarrancados tambm ao absurdo das filosofias clssicas que veem neles uma passagem,ou melhor, um salto ininteligvel entre duas ordens irredutveis. So arrancados,enfim, confuso do vitalismo, que, colocando a ao no princpio das determinaesda existncia humana, se mostra, todavia, incapaz de lhe designar um estatutofenomenolgico qualquer, fazendo dela uma expresso desprovida de sentido de umafora cega e annima.

    Uma tica definida como relao entre aes e fins, normas ou valores, est vinculada

    a um ex-tase, a uma objetivao e assim se desliga daquilo ao qual mais original e na qual

    toda ao se mantm: a prpria vida. Para Henry (2012, p.149), uma tica como disciplina

    normativa, u uia ita a li a a m aa m a iia hhau

    ma tica que queira modelar e corrigir a vontade a vida impossvel. As doutrinas s agem

    m a himt, ma t jamai tmia a vta

    Se a vida prxis e origem de tudo, s ela possibilita o fundamento e a origem de

    qualquer valor. Henry afirma que no uma tica reflexiva que de forma a posteriori impe

    u val, ma fm ata Ra (, 1) a via aa i mma, imiatamt,

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    o seu prprio mandamento e no precisa de injunes e de preceitos ticos exteriores e

    aa i (R, , 1)

    Esse poder de valorao de toda ao dado pela vida s positivo e vlido porque a

    vida no experienciar-se e no provar-se continuament aa um atu aa

    va u , ma um f tat itifia (y, 1, 1) a

    a valorizao da vida positiva pois ela busca, em sua auto-fruio, a plenitude de si mesma.

    Assim, constitui-se a teleologia imanente da vida ao qual enraza uma tica diferente

    a tia tia u mativa, u ta aa i fi val, ma a tia igial u,

    antes, o prprio ethos, ou seja, o conjunto de processos indefinidamente recomeados nos

    quais a vida realiza sua essncia. (HENRY, 2012, p.150)

    Ainda assim, Henry coloca a possibilidade de uma contra-avaliao dada pela vida, ou

    seja, uma valorao equivocada da ao do homem. Para ele a vida pode ficar doente, e isso

    ocorre quando num processo de objetivao produzida pela reduo galileana e pela tcnica

    hm imiilita ua a, l xlu a,

    ui aatia a i mga (ERY, 1, 1)

    Tirar o poder de ao da vida impossibilitar o homem de buscar a sua plenitude, o

    u m i agi a via, m ua autfui mvimt aa y, a

    vida fica doente quando o saber cientfico e a tcnica obscurecem o poder da vida de exercer

    seu poder de valorao, tornando o homem destitudo daquilo que mais original, tornando o

    homem inumano.

    Iuma iga a viavlta tlgia fit a ual ii itiv organizador de uma sociedade, encontrando sua substncia na vida, no mais esta,mas uma soma de conhecimentos, de processos e de procedimentos para cujoestabelecimento e disposio a vida foi, na medida do possvel, posta de lado. (Henry,2012, p.183)

    Dizer que a vida o nico mandamento para toda prxis e assim para toda ao

    humana no colocar a tica mbito da contingncia e do relativismo, pois Henry no coloca

    m hu a li u a ma, Ra (, 1) ata u u t m aua a li,

    ma a ta la, auil a ati fa u fa

    Henry crtica as representaes da lei que visam somente a tica do aparecer no

    mundo e no no aparecer da vida. Para ele, no aparecer do mundo, dentro do espao e do

    tm, l fa xitm mt li a ia (li fia, iai, ultuai, mai

    comportamentais) que, por sua vez, concebem o homem somente como indivduos empricos

    presos na verdade de uma exterioridade onde a lei objetiva se manifesta.

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    Para Henry, essas leis exteriories e objetivas so impotentes porque so estranhas

    vida, elas no tm seu lugar na vida onde se encontra o todo agir concebvel e a possibilidade

    de toda ao. Desta maneira, uma representao objetiva da lei incapaz de colocar o homem

    em ao.

    Ver o que preciso fazer sem dispor do poder para faz-lo, ver o que preciso fazerencontrando-se destitudo, nesse ver e por ele, no mandamento e por ele, dacapacidade de execut-lo, tal a situao dramtica e desesperada em que a Leicolocou o homem, e isso na medida em que ela lhe dirigida do exterior enquanto Leitranscendente. Tal Lei que define a infrao e o crime, que abre escancaradamentediante do homem a possibilidade deles, sem lhe dar o poder de evitar um e outro, uma Lei de maldio. (HNERY, 2015, p.253)

    Michel Henry inverte a relao entre lei e vida, traz uma tica original. Para ele uma

    lei efetiva est vinculada a uma tica original que da ordem do agir e portanto da vida. Para

    y (1, ) u agi tm u luga a Via, hum tat m l possvel, nem nenhum modo de agir sobre ele para p-lo em ao ou para modific-lo

    vl a Via gaa a la im a li tat a tia m xiti

    efetivamente no interior da vida, constituir algo uno com ela.

    Consideraes finais

    A filosofia propugnada por Michel Henry busca oferecer uma resposta e uma

    alternativa ao mundo moderno, que herdeiro do pensamento de Galileu Galilei, reduziu a

    existncia humana em dados objetivos, de modo que o homem passou a ser fragmentado e

    objetivizado pelo saber cientfico e pela tcnica.

    Para Michel Henry a vida que d poder a toda ao do ser humano deve deixar de ser

    obnubilada pelo saber cientfico de modo a voltar a tomar o seu posto de originalidade do ser

    e estar do homem no mundo. Para o filsofo de famlia francesa, a vida prxis e portanto

    est diretamente ligada com a ao dos homens e consequentemente com a tica.

    Uma tica que seja verdadeira e eficaz deve ser fundamentada na vida. As leis, por sua

    vez, no podem ser uma forma exterior que determina a ao humana, pelo contrrio, Henry

    afirma que a vida, que ao, que deve determinar a lei, pois a vida no erra em seu

    conatus, em sua busca de se auto-realizar-se e auto-efetivar-se.

    Para Henry a barbrie do mundo contemporneo ocorre porque esqueceu-se da

    sensibilidade e da subjetividade que se do somente a partir da vida. A vida uma energia

    que se manifesta num corpo subjetivo que condio de possibilidade para o corpo objetivo.

    Assim, Henry busca resgatar a tica original, pautada na vida, pois somente a vida pode ser a

    norma para a existncia humana, e nada mais.

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