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ANAIS

Seminrio de Engenharia Urbana da Universidade Estadual de Maring

1 SEUEM

EDITORES: Romel Dias Vanderlei Cludia Regina Gregio D'arce Filetti Sandro Rogrio Lautenschlager

ISSN: 1981-7312

SEUEM U30 de julho a 1 de agosto de 2007 - Maring - Paran

UEM

CTC - Centro de Tecnologia

CAEC

Departamento de Engenharia Civil e Programa de Ps-Graduao em Engenharia Urbana da Universidade Estadual de Maring

Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP) (Biblioteca Central - UEM, Maring PR., Brasil) Seminrio de Engenharia Urbana da Universidade Estadual de Maring (1. : 2007 : Maring, PR) S471a Anais do 1 Seminrio de Engenharia Urbana da Universidade Estadual de Maring : SEUEM (30 de julho a 1 de agosto de 2007) \ Editor : Romel Dias Vanderlei; comisso organizadora: Sandro Lautenschlager...[et. al].-- Maring, Pr : Xpa Eventos, 2007. 1 disco a laser para computador: son., color. 4 pol. : il. ISSN 1981-7312 1. Engenharia Civil. 2. Construo civil. 3. Engenharia de Estruturas. 4. Geotecnia. 5. Transportes urbanos. 6. Engenharia Urbana. 7. Infra-estrutura urbana. 8. Planejamento urbano. 9. Resdos solidos. 10. Arquitetura e urbanismo. 11. Projeto urbano. I. Vanderlei, Romel Dias. II. Lautenschlager, Sandro Rogrio. III.Filetti, Cludia Regina Gregio Darce. IV. Universidade Estadual de Maring. Programa de Ps-graduao em Engenharia Urbana.

Cdd 21.ed. 624.07 Cicilia Conceio de Maria

DADOS GERAIS Reitor DCIO SPERANDIO Vice Reitor MRIO LUIZ NEVES DE AZEVEDO Pr Reitor de Administrao MARCELO SONCINI RODRIGUES Pr-Reitor de Recursos Humanos e Assuntos Comunitrios NEUSA ALTO Pr-Reitor de Ensino CLIO JUVENAL COSTA Pr-Reitor de Extenso e Cultura WNIA REZENDE SILVA Pr-Reitor de Pesquisa e Ps-Graduao NILSON EVELZIO DE SOUZA Prefeito do Campus DANIEL DAS NEVES MARTINS Diretor do Centro de Tecnologia DANTE ALVES MEDEIROS FILHO Vice-Diretor do Centro de Tecnologia GENEROSO DE ANGELIS NETO Chefe do Departamento de Engenharia Civil PAULO FERNANDO SOARES Vice-Chefe do Departamento de Engenharia Civil JOS KIYNHA YSHIBA Presidente do SEUEM ROMEL DIAS VANDERLEI

Editores: ROMEL DIAS VANDERLEI CLUDIA REGINA GREGIO DARCE FILETTI SANDRO ROGRIO LAUTENSCHLAGER Coordenao: ROMEL DIAS VANDERLEI Comisso Organizadora CLUDIA REGINA GREGIO DARCE FILETTI GENEROSO DE ANGELIS NETO PAULO FERNANDO SOARES ROMEL DIAS VANDERLEI SANDRO ROGRIO LAUTENSCHLAGER Apoio Tcnico Administrativo DOUGLAS BUENO FERNANDES JUAREZ ANTNIO DOS SANTOS NEUSI OLIVEIRA GUSMO Acadmicos ALINE HANSEN ALINE LISOT RAKELLY GIACOMO MERCADO CARLOS ANTNIO MAREK FILHO TIAGO AUGUSTO JORDO PIGOZZO Comisso Cientfica Adriana Petito Ana Flvia Galinari Anamaria Malachini Miotto Farah Andr Augusto de Almeida Alves Carlos Augusto de M. Tamanini Claudia Pezzuto Cludia Regina Grgio d'Arce Filetti Eneida Sala Cossich Evaristo Atncio Paredes Fabola Castelo de S. Cordovil Jeselay Hemeterio C. dos Reis Marcela Paula M. Zanin Meneguetti Marcelo Rodrigo Carreira Oigres Leici Cordeiro de Macedo Paula Silva Sardeiro Vanderlei Romel Dias Vanderlei Sandro R. Lautenschlager Vladimir Jos Ferrari

Sumrio

Padronizao na arquitetura e no urbanismo Diana Carla Rodrigues Lima; Layane Alves Nunes; Igor Jos Botelho Valques; Paulo Fernando Soares .......................................................................................................................... Representao grfica na era digital, ser o desenho a marca pessoal do arquiteto? Rodolfo Tsutomu Miuamoto; Dante Alves Medeiros Filho; Irene de Freitas Mendona; Cherlinton de Castro Guedes ....................................................................................................... Quantificao da qualidade dos lugares urbanos Igor Jos Botelho Valques; Layane Alves Nunes; Diana Carla Rodrigues Lima; Paulo Fernando Soares .......................................................................................................................... Levantamento e sistematizao de fontes bibliogrficas sobre arquitetura e sociedade em maring no segundo ps-guerra: resultados parciais e discusso preliminar Hugo Sefrian Peinado; Andr Augusto de Almeida Alves ............................................................ Zona 3: uma viso ao longo das dcadas Irene de Freitas Mendona; Maria Jos Herkenhoff Carvalho; Generoso De Angelis Neto; Renato Leo Rego ........................................................................................................................ Acessibilidade e Incluso: Praa Napoleo Moreira da Silva Layane Alves Nunes; Diana Carla Rodrigues Lima; Igor Jos Botelho Valques; Paulo Fernando Soares .......................................................................................................................... Anlise Comparativa entre a forma urbana de Cianorte e o projeto de Jorge Vieira Macedo Anelise Guadaim Dalberto; Renato Leo Rego ........................................................................... A urbanizao e o cooperativismo - As possibilidades do processo no resgate da dignidade humana Rodrigo Afonso Vicente; Igor Jos Botelho Valques; Cherliton de Castro Guedes; Paulo Tadeu Monteiro Romani; Evaristo Atencio Paredes ............................................................................... Loteamentos implantados sem planejamento: Estudo de caso em Marechal Cndido Rondon Pr Carla Fernanda Sander; Generoso de Angelis Neto; Daniel Raminelli Pccolo ........................... Planejamento urbano e saneamento na cidade de Sarandi Pr: uma avaliao crtica Maria Jos Herkenhoff Carvalho; Luciano Carvalho; Clia Regina Granhen Tavares; Fernanda Antnio Simes; Leila Cristina Konradt Moraes; Irene de Freitas Mendona .............................. Tratamento e reciclagem de efluentes de lavanderias industriais com uso de carvo ativado e osso bovino Oswaldo Teruo Kaminata; Aline Peres Galhardo; Lcia Tiemi Yano; Many Abro de Campos; Clia Regina Granhen Tavares ................................................................................................... Estudo da potencialidade de reaproveitamento dos resduos slidos de construo e demolio no municpio de Maring - Pr Cntia Maria Pedroso; Igo Henrique Silva Nunes; Romel Dias Vanderle ..................................... Potencial do uso da cinza do bagao da cana-de-acar como agregado mido Carlos Humberto Martins; Renato Michael Zanella; Romildo Paulino Jnior ............................... Reuso de edificaes em madeira Giovane Pereira Alves; Sandro Rogrio Lautenschlager ............................................................. Fabricao e caracterizao de blocos cermicos em escala reduzida Joo Dirceu Nogueira Carvalho; Humberto Ramos Roman ......................................................... Estudo da recuperao de barras solicitadas flexo pura utilizando concreto de alto desempenho Carlos Antnio Marek Filho; Douglas vila; Romel Dias Vanderlei ..............................................

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Estudo da ligao entre concretos com diferentes propriedades Tiago Augusto Jordo Pigozzo; Romel Dias Vanderlei ................................................................ Estudo da ligao entre concretos de diferentes propriedades solicitados flexo pura Carlos Antnio Marek Filho; Romel Dias Vanderlei ...................................................................... Ferramenta computacional para dimensionamento de vigas fletidas de concreto armado Jonas Benedett Drr; Romel Dias Vanderlei ................................................................................ Responsabilidade Civil do Engenheiro Maria Jos Herkenhoff Carvalho; Luciano Carvalho; Clia Regina Granhen Tavares; Irene de Freiras Mendona; Antnio Belincanta; Leila Cristina Konradt Moraes; Generoso De Angelis Neto ............................................................................................................................................. Avaliao da qualidade acstica de anfiteatros na UEM Rogrio Ferraz Cruz; Paulo Fernando Soares ............................................................................ Simulao do desempenho de barreiras acsticas para atenuao do rudo de trfego Aline Lisot; Aline Hansen; Rakelly Giacomo Mercado; Paulo Fernando Soares; Mrcio Vincius Pinheiro ........................................................................................................................................ Caracterizao tica de policarbonatos no tocante ao conforto trmico da edificao Paula Silva Sardeiro; Rosana Maria Caram ................................................................................. Estrutura e qualidade de implantao das caladas do novo centro de Maring Carla Fernanda Marek; Aline Hansen; Carla Fernanda Sander ................................................... Desenho de Base de Dados Geogrficos (BDG) Evaristo Atencio Paredes ............................................................................................................. Aplicao do software global MAPPER 8.0 na elaborao de mapas temticos no planejamento territorial Fbio Freire; Evaristo Atencio Paredes ....................................................................................... Estudo de caso: avaliao de mobilirio escolar padronizado com medidas fixas Marcela Paula Maria Zanin Meneguetti; Mena Cristina Marcolino ..............................................

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PADRONIZAO NA ARQUITETURA E NO URBANISMO: UMA REVISODiana Carla Rodrigues Lima 1 Layane Alves Nunes 2 Igor Jos Botelho Valques 3 Paulo Fernando Soares 4

RESUMOA padronizao de solues arquitetnicas e urbansticas pode ser um facilitador dos processos de desenvolvimento urbano e possibilita a criao de espaos urbanos legveis e, simultaneamente, de distintas identidades. A necessidade de adoo e defesa do pr-fabricado na paisagem urbana pode ser entendida a partir do momento de sua massificao e de seu carter dogmtico para a resoluo de problemas sociais. O uso de pr-moldados em edificaes est amplamente relacionado a uma forma de construir econmica, durvel, estruturalmente segura e que possibilita versatilidade arquitetnica. Ao contrrio do que se costuma pensar, a padronizao dos elementos construtivos, diferentemente da adoo de projetos-padro, no engessa o partido arquitetnico e urbanstico. Seu desenvolvimento e crescente aceitao contribuem para a soluo de problemas no s na construo civil, mas no ambiente urbano como um todo. Este trabalho tem como objetivo fomentar a viabilidade e utilizao dos elementos pr-fabricados na arquitetura e na criao de identidades no espao urbano.

Palavras-chave: padronizao; pr-fabricados; identidade; espao urbano.

Acadmica do Programa de Ps Graduao em Engenharia Urbana, Universidade Estadual de Maring UEM / Departamento de Engenharia Civil. E-mail: [email protected] 2 Acadmica do Programa de Ps Graduao em Engenharia Urbana, Universidade Estadual de Maring UEM / Departamento de Engenharia Civil.E-mail: [email protected] 3 Acadmico do Programa de Ps Graduao em Engenharia Urbana, Universidade Estadual de Maring UEM / Departamento de Engenharia Civil.E-mail: [email protected] 4 Prof. Dr., Universidade Estadual de Maring UEM / Departamento de Engenharia Civil. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUOA necessidade de reconhecer e padronizar nosso ambiente to crucial e tem razes to profundamente arraigadas no passado, que essa imagem de enorme importncia prtica e emocional para o indivduo (LYNCH, 1999, p.124).

Ao contrrio do que se costuma pensar, a padronizao dos elementos construtivos, diferentemente da adoo de projetos-padro, no engessa o partido arquitetnico e urbanstico. O uso de prmoldados em edificaes est amplamente relacionado a uma forma de construir econmica, durvel, estruturalmente segura e que possibilita versatilidade arquitetnica. Todo sistema construtivo tem suas prprias caractersticas, as quais geram uma maior ou menor influncia no layout da estrutura. Ainda h muito para ser desenvolvido, especialmente com respeito eficincia dos processos construtivos atuais, desde o projeto da edificao at o seu acabamento. Hoje, a pr-fabricao das estruturas um processo industrializado com grande potencial para o futuro. Todavia, frequentemente a pr-fabricao vista por seguimentos da sociedade como apenas uma variante tcnica das construes produzidas totalmente in loco. Dentro do contexto da prfabricao, o projeto de elementos arquitetnicos ou urbanos no est restrito aos elementos de concreto ou ao produzidos em srie. Quase todo tipo de edificao, mobilirio ou elementos infraurbanos podem ser adaptados aos requisitos do arquiteto. A padronizao de solues construtivas apresenta-se como uma ferramenta ainda mais importante do que a modulao dos elementos. A padronizao de solues arquitetnicas e urbansticas pode ser um facilitador dos processos de desenvolvimento urbano e possibilita a criao de espaos urbanos legveis e, simultaneamente, com distintas identidades. A necessidade de adoo e defesa do pr-fabricado na paisagem urbana pode ser entendida a partir do momento de sua massificao e de seu carter dogmtico para a resoluo de problemas sociais. Com esse intuito, inicia-se este trabalho atravs de um breve relato histrico em que ser apresentada a evoluo do pr-moldado e da padronizao de elementos padronizados na arquitetura e no urbanismo at a sua aplicao na contemporaneidade. Em seguida, so apresentadas as caractersticas do pr-moldado e sua aplicao na composio da paisagem urbana; e; por fim, discuti-se e prope-se a utilizao desses elementos para a produo da identidade urbana O desenvolvimento e a crescente aceitao desse mecanismo contribuem para a soluo de problemas no s na construo civil, mas no ambiente urbano como um todo. 2 BREVE RELATO HISTRICO H milnios, quando o homem aprendeu a modificar os materiais da natureza utilizando-se de ferramentas, existe a construo pr-moldada. As grandes edificaes da acrpole de Atenas eram feitas com peas em granito previamente elaboradas, cinzeladas, tornado-as perfeito exemplo de peas pr-fbricas (KOCH, 2001). A partir da Revoluo Industrial o concreto pr-moldado comeou a se tornar acessvel a todos. Por ser menos deformvel, ele reduz a possibilidade de trincas e outras patologias, diminuindo, conseqentemente, a necessidade de manuteno a mdio e longo prazo, aumentando o horizonte de usurios urbanos e rurais a se utilizarem desta tecnologia. O urbanismo do sculo XX constituiu uma resposta aos problemas criados pelo intenso crescimento urbano observado na Europa desde a segunda metade do sculo XVIII; mas foi tambm fruto de uma imagem da cidade que incorporava os efeitos das novas infra-estruturas urbanas numa outra concepo do espao (BENEVOLO, 1994). Localizavam-se em contexto urbano algumas das transformaes tecnolgicas e econmicas mais importantes que se puderam observar ao longo das ltimas dcadas do sculo XIX. Aps quase um sculo em que o aumento da populao das cidades europias parecia exceder os meios de gesto da vida urbana. 2

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A velocidade das transformaes no tem precedente: cidades que nascem e duplicam numa gerao. A cultura poltica e econmica da poca tocada no tanto por aquilo que de novo se constri, mas pela queda das estruturas tradicionais. Os reformadores polticos usam a crtica racional para demolir os privilgios do absolutismo, da hierarquia social, do dirigismo econmico (LAMAS, 2000). A revoluo demogrfica e industrial transformou radicalmente a distribuio dos habitantes no territrio. As carncias de novos locais de fixao comeam a manifestar-se em larga escala, na ausncia de providncias adequadas. As famlias que abandonavam o campo e afluam aos aglomerados industriais ficavam alojadas nos espaos vazios disponveis dentro dos bairros antigos, ou nas novas construes erigidas na periferia, que depressa se multiplicaram formando bairros novos e extensos ao redor dos ncleos primitivos (BENEVOLO, 1994). Os lucros do capital investido nas habitaes eram baixos e s podiam ser aumentados reduzindo os custos e baixando o mais possvel o nvel das construes. No entanto, provvel que as casas ocupadas pelas famlias operrias nas cidades no fossem piores, do que as casas do campo de onde essas mesmas famlias provinham em grande parte (ibid.). A diferena, entretanto, fica evidente se forem considerados os problemas derivados das relaes recprocas entre as casas e os outros edifcios no corpo compacto da cidade industrial. As carncias higinicas relativamente suportveis no campo tornam-se insuportveis na cidade, pela contigidade e o nmero enorme das novas habitaes. Em contrapartida, a cidade industrial um fato novo, surgido num tempo limitado sob os olhos das mesmas pessoas que lhe suportam os incmodos. No havia um sistema razovel para controlar seus processos, mas era natural que a inventiva do homem e a fora das mquinas, tal como originaram esta realidade, poderiam tambm mudar-lhe o curso. evidente que, com a acelerao da industrializao, a cidade toma uma configurao e uma dimenso at ento inimaginveis, sendo mais um reflexo das profundas alteraes nos diversos campos (tecnolgico, econmico, social, poltico, etc.) que a estruturao do capitalismo resultou. A industrializao, desenvolvendo-se aceleradamente na Europa do sculo XIX, produziu algo mais do que riqueza para a burguesia, pois teve como conseqncia tambm o surgimento de um ambiente urbano altamente degradado, onde, at mesmo os bairros ocupados pelas elites apresentavam problemas de infra-estrutura e congestionamento. As condies das cidades industriais do sculo XIX so descritas como o caos urbano nos mais diversos sentidos (circulao, higiene, infra-estrutura, etc.) (MUMFORD, 2001). Seguindo o ritmo "natural" das orientaes em uma sociedade capitalista, somente quando a pobreza se torna insuportavelmente visvel e ameaadora que os brados dos "benfeitores" pertencentes classe dominante comeam a se preocupar com a necessidade do planejamento urbano (MASCAR, 1987). Com isso, medidas so propostas e tomadas na tentativa de reverter a situao catica e degradante que extensas faixas pertencentes rea urbana estavam tomadas. Diversas correntes tericas ou aes diretas sobre a cidade manifestam as primeiras tentativas de reformulao do projeto de cidade. Elas representam uma busca em direo modernidade, que leve superao da situao desordenada em que a cidade industrial se encontrava no sculo XIX (CHOAY, 2005). No sculo XX, o urbanismo progressista ou urbanismo modernista, triunfa sobre todas as demais correntes, aproveitando-se de uma srie de condies que oportunizaram sua hegemonia, que no ficou restrita s experincias em um nico pas, mas teve abrangncia mundial. Pode-se afirmar que o urbanismo moderno no surgiu simultaneamente aos processos tcnicos e econmicos que deram origem e implicaram a transformao da cidade industrial, mas formou-se posteriormente, quando os efeitos quantitativos das transformaes em curso se tornaram evidentes e entraram em conflito entre si , tornando inevitvel uma interveno reparadora (ibid.).

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A industrializao dos equipamentos urbanos no sculo XIX inseparvel da criao do urbanismo moderno e do carter estratgico que a interveno urbanstica passa a assumir na resoluo dos problemas urbanos e na qualificao das cidades (BENEVOLO, 1994). 3 O MOVIMENTO MODERNO E A PADRONIZAO Modernismo e modernizao encontram-se estreitamente ligados entre si, sendo que transformaes no primeiro acabam por se refletir no segundo e vice-versa, resultando naquilo que denominamos modernidade (CORBUSIER, 2000). A modernizao um processo, logo est em constante movimento, direcionada, principalmente, pelo modo de produo hegemnico. Por essa razo, possvel afirmar que, ao menos nos ltimos quatro sculos, a dinmica empregada na modernidade foi resultado do modo de produo capitalista. O Modernismo tem como metas primordiais a simplicidade de elementos, sejam estruturais ou estticos e sua relao com a funcionalidade dos mesmos (CHOAY, 2005). A arquitetura moderna pelos seus postulados de geometrizao, limpeza de formas, funcionalidade, setorizao e a indefectvel idia do homem-tipo, possibilitou a elaborao de dogmas. Um exemplo Charles-Edouard Jeanneret (Le Corbusier) que estabelecia a casa como uma mquina de morar, com funes genricas, baseadas nas premissas do CIAM Congresso Internacional de Arquitetura Moderna morar, trabalhar, circular, cultuar o corpo e a mente (lazer). Nascia assim, a equao fundamental da standartizao, da necessidade de uma sociedade cada vez mais maquinista e ansiosa por mudanas. A escola da Bauhaus congregou importantes criadores de vanguarda. Estes fixaram algumas diretrizes estticas que iriam prevalecer em todo o mundo durante o sculo XX. Para Walter Gropius, seu fundador, a unidade arquitetnica s podia ser obtida pela tarefa coletiva, que inclua os mais diferentes tipos de criao, como a pintura, a msica, a dana, a fotografia e o teatro. De tal maneira a filosofia da Bauhaus impregnou seus membros que, sem demora, definiu um estilo (estilo da mquina design industrial) em seus produtos despidos de ornamentos, funcionais e econmicos, cujos prottipos saam de suas oficinas para a execuo em srie na indstria. O estilo Bauhaus era fruto do pensamento dos professores, recrutados, sem discriminao de nacionalidade, entre membros dos movimentos abstrato e cubista (DORFLES, 1986). Gropius enunciou os preceitos da standartizao na habitao e consequentemente no urbanismo. Esse processo, aplicado por Henry Ford para as indstrias de automvel, tinha reflexo na criao de unidades fabris capazes de produzir vrios modelos simultaneamente e responder a variaes sbitas de procura. Gropius (1974) afirma que toda racionalizao s tem sentido se contribuir para o enriquecimento da vida, se traduzida para a linguagem da economia, poupar esta valiosa mercadoria que a vitalidade do povo, j que padronizar, nesse caso, significa modificar a paisagem urbana. Segundo Rebello (2004), no h contradio entre elegncia arquitetnica, variedade e eficincia, utilizando-se pr-fabricados. As caractersticas do terreno e o programa de cada edificao geram solues diferenciadas, criadas por antigos e novos projetistas responsveis pelos projetos, para resolver e equacionar a problemtica de cada momento histrico. A repetio de elementos, a fabricao longe do local da obra, e a montagem in loco, no so privilgios da era industrial. O esclarecimento dos fatos scio-histricos deveria preceder tudo o mais para que fosse possvel determinar o optimum mnimo da necessidade de moradia, e o menor preo desta produo. Este mnimo varia segundo as condies locais da cidade e pas, paisagem e clima; a mesma rea de espao livre em funo diversa numa rua estreita do centro da cidade e num subrbio menos habitado. A aplicao da produo em srie na organizao conjunta da construo industrial foi condio primordial para a soluo deste problema. preciso abord-lo sob trs ngulos: o econmico, organizacional, tcnico e formal; os trs setores dependem diretamente um do outro. Solues 4

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satisfatrias s puderam advir de procedimentos simultneos nos trs domnios, j que dado o grande nmero de questes emaranhadas, no possvel conceder supremacia a um setor individualmente, mas ao trabalho conjunto de numerosos profissionais. O barateamento da produo de habilidades foi de importncia decisiva para a economia das naes. Gropius (1974, p.76) j vislumbrava a indstria da pr-fabricao afirmando:As tentativas de reduzir por meio de mtodos mais rgidos de organizao do trabalho, os custos de construo de tipo manual at agora no trouxeram seno processos muito ligeiros. O problema no foi atacado pela raiz. A nova meta seria a produo industrial em larga escala de casas e moradia, que seriam fabricadas, no mais no canteiro de obra, mas dentro de fbricas especiais em partes isoladas passveis de montagem.

Segundo Gropius (ibid.), as vantagens deste tipo de produo seriam tanto maiores quanto mais possibilidade houvesse de montar as partes individuais pr-fabricadas no prprio canteiro de obra, por meio de processos de construo a seco, como se fossem peas de mquina. Esta montagem de construo a seco, removeria as patologias das partes da construo devido umidade e a perda de tempo que o velho processo aquoso de construo com massa e reboco acarreta. Poderia, assim, alcanar-se completa independncia em face das variaes do tempo e das estaes do ano. A adaptao s alteradas condies mundiais levou finalmente a concretizar a antiga idia de construir habitaes tpicas de menor custo, de melhor qualidade e em maior nmero do que fora construdo at ento. Atravs da utilizao do pr-fabricado o problema da construo pode ser correspondido no seu encadeamento sociolgico, econmico, tcnico e formal, pela base de uma forma metdica e em grande escala. 3 PADRONIZAO E ELEMENTOS URBANOS PR-FABRICADOS A padronizao constitui-se num fator econmico importante no processo de pr-fabricao, devido aos baixos custos das formas, industrializao do processo de produo com alta produtividade e larga experincia em execuo. Ela representa um impacto benfico em uma srie de componentes idnticos, resultando na reduo de trabalho por unidade produzida. A evoluo construtiva das edificaes e das atividades na construo civil nas prximas dcadas ser influenciada pelo desenvolvimento do processo de informao, pela comunicao global, pela industrializao e pela automao. No entanto, h muito mais para ser feito e produzido, especialmente com respeito eficincia dos processos construtivos atuais, desde o projeto da edificao at o seu acabamento (REBELLO, 2004). A pr-fabricao possui um maior potencial econmico, desempenho estrutural e durabilidade do que as construes moldadas no local, por causa do uso altamente potencializado dos materiais. Isso obtido por meio do uso de equipamentos modernos e de procedimentos de fabricao cuidadosamente elaborados. A execuo mais rpida outra qualidade do sistema de pr-fabricados. Devido lentido dos mtodos tradicionais de estruturas de concreto moldadas no local, os longos atrasos na construo so geralmente aceitos. No entanto, a demanda atual por um rpido retorno do investimento est se tornando cada vez mais importante: a deciso de iniciar a construo pode ser adiada at o ltimo momento, mas uma vez iniciada, o cronograma inicial da obra deve ser cumprido (ibid.). Um processo de produo eficiente pode ser combinado com trabalho especializado que permite um projeto arquitetnico sem custos extras, representando uma oportunidade para uma boa arquitetura. Dessa forma, a padronizao de solues construtivas apresenta-se como uma ferramenta ainda mais importante do que a modulao dos elementos. No contexto da pr-fabricao aberta, o projeto do edifcio no est restrito aos elementos de concreto produzidos em srie. Os inmeros tipos de edificaes podem ser adaptados aos requisitos 5

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dos fabricantes ou do arquiteto. No h contradio entre elegncia arquitetnica, variedade e eficincia. Em alguns tipos de construes a flexibilidade (grande vos) requisito bsico, devem ser adaptveis para satisfazer as necessidades do usurio. Como exemplo, um edifcio de escritrios, em que a soluo mais apropriada criar um grande espao interno livre sem nenhuma restrio para possibilitar a adaptao de subdivises com divisrias. Futuramente, haver muito menos demolio de edificaes inteiras e mais demandas para adaptar as construes existentes para as novas exigncias do mercado. As razes principais para essa atitude sero os custos elevados para demolio devido a barulho, poeira, problemas com trfego e muitas outras inconvenincias (PUPPI, 1986). Desde que as necessidades bsicas de qualquer gerao so moradia e mobilidade, o setor da construo civil ocupa uma posio central nesse desenvolvimento. No entanto, a maioria das atividades nessa rea ainda gera um impacto desfavorvel sobre o meio ambiente em termos de consumo de energia, utilizao no racional de recursos naturais, poluio, barulho e desperdcio durante a produo (MASCAR, 1987). No contexto de uma relao mais amigvel ao meio ambiente, a indstria do concreto pr-moldado apresenta-se como uma alternativa vivel: com uso reduzido de materiais at 45%; reduo do consumo de energia de at 30%; diminuio do desperdcio com demolio de at 40% (REBELLO, 2004).

Figura 1: Fotos ilustrando a modulao e montagem no canteiro de obras das peas prmoldadas

Figura 2: Foto mostrando processo de construo a seco

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A modulao um fator econmico de grande importncia no projeto e na construo de edifcios, tanto para o trabalho estrutural como para o acabamento. Em pr-fabricao, isso ainda mais marcante, especialmente em relao padronizao e economia na produo e execuo. A modulao geralmente bem estabelecida para componentes estruturais em construes prmoldadas (MASCAR, 2005), como ilustram as figuras 1 e 2. Assim, durante o projeto de uma edificao ou mobilirio urbano, seria sempre interessante conseguir padronizao e repetio de solues, no sentido de se conseguir uma maior economia na elaborao e construo, no apenas em relao ao concreto pr-moldado, mas em qualquer tipo de material industrializado pr-fabricado (figura 3).

Figura 3: A elaborao da paisagem urbana atravs da utilizao de mobilirio pr-fabricado 4 PRODUO DA IDENTIDADE URBANA A cidade uma construo no espao que pode ser percebida no decorrer de longos perodos de tempo. Nela, cada cidado possui diversos pontos de associao com algumas de suas partes, o morador de uma cidade pode construir uma imagem dos espaos urbanos atravs de lembranas e de impresses diariamente vividas no contexto citadino (LYNCH,1997). O espao urbano o produto de muitos construtores que atuam no sentido de modificar a estrutura objetivamente dada. Segundo Lynch (1999), no se pode observ-la apenas como um objeto percebido unilateralmente por pessoas de diferentes classes, valores e sentimentos, mas como um objeto que, apesar de poder se apresentar estvel por algum tempo, est sempre e continuamente em modificao. Estruturar e identificar o ambiente uma capacidade vital entre todos os animais que se locomovem. Vrios tipos de indicadores so usados, como sensaes visuais de cor, forma, movimento, alm dos outros sentidos. No processo de orientao o elo estratgico a imagem ambiental, o quadro mental generalizado do mundo fsico exterior de que cada indivduo portador. Essa imagem produto tanto da sensao imediata quanto da lembrana de experincias passadas. Seu uso se presta a interpretar as informaes e orientar a ao. Os componentes da estrutura e da identidade, que so a parte da imagem, parecem ir saltando medida que o observador passa de um espao para outra na cidade. Ao invs de uma nica imagem abrangente para todo o ambiente, parece haver grupos de imagens que mais ou menos se sobrepem e se inter-relacionam. Organizam uma srie de nveis aproximando-se da escala da rea em questo de tal modo que quando necessrio o observador passe de uma imagem de rua a uma da regio metropolitana (LYNCH, 1997). As imagens podem diferenciar-se no s pela escala da rea considerada, mas tambm, pelo ponto de vista, hora do dia ou estao do ano. Alimentar a imaginabilidade 5 do ambiente urbano significa5

Conceito especificado na Tese de Kevin Lynch e discorrido em seu livro A Imagem da Cidade de 1964, em que ele estabelece pontos focais de orientabilidade ao morador urbano, estudando trs cidades: Chicago, Boston e New Jersey. A imaginabilidade seria o fator que indicaria se um lugar, ou cidade, permanece retido na memria do morador citadino, tornando-a compreensvel e legvel.

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facilitar sua identificao e estruturao visual. A clareza da estrutura e a expressividade da identidade so os primeiros passos para o desenvolvimento de smbolos fortes. 5 CONSIDERAES FINAIS Nestas pginas tentou-se fomentar a viabilidade e utilizao dos elementos pr-fabricados. A partir das inmeras vantagens deste sistema de produo da construo civil, seu menor impacto ao ecossistema urbano e sua padronizao, pode-se dizer que este um caminho para os gestores municipais no quesito identidade visual. Essa possibilidade estabelece a percepo dos moradores para o lcus vivendi e os suprem da afinidade e unicidade almejada. Todos querem ter laos de afeto ao lugar que moram, que seja bem sinalizado, limpo e com smbolos dos tempos futuros, e nesta funo a padronizao por elementos pr-fabricados estabelece essa possibilidade. Ao parecer com um lugar admirvel e bem interligado; a cidade poderia oferecer uma base para o agrupamento e a organizao de tais significados e associaes. Em si mesmo, esse sentido de lugar reala todas as atividades humanas que a se desenvolve e estimula a memria. A cidade corbusiana e uma cidadezinha italiana do sculo XIII podem ser muito parecidas. Ao se estabelecer mobilirios padronizados nos bairros ou utilizar-se detalhes pr-fabricados na sinalizao e infra-estrutura estar-se- igualando os padres de compreenso, apreenso e identidade de ambas cidades. Mesmo tendo sculos de histria de diferena entre elas, o prfabricado auxilia a orientao e a identificao em cada uma delas. Uma cidade com identidade precisa ser bem formada, digna de nota, convidativa ao olhar e audio, participao maior. O domnio sensorial de tal espao no seria apenas simplificado, mas igualmente ampliado e aprofundado. Uma cidade assim seria apreendida, com o passar do tempo, como um modelo de alta continuidade com muitas partes peculiares e claramente interligadas. Como analisado nesse trabalho, a padronizao de solues arquitetnicas e urbansticas, bem como a utilizao de elementos pr-moldados, constitui-se em um promotor dos processos de desenvolvimento urbano e possibilita a criao de espaos urbanos legveis e, simultaneamente, com distintas identidades. 6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BENEVOLO, L. As Origens da Urbanstica Moderna. Lisboa: Presena, 1994, 172p. CHOAY, F. O Urbanismo. So Paulo: Perspectiva, 2005, 350p. CORBUSIER, L. Urbanismo. So Paulo: Martins Fontes, 2000,307p. DORFLES, G. A Arquitetura Moderna. Lisboa: Edies 70, 1986, 151p. GROPIUS, W. Bauhaus: Novarquitetura. So Paulo: Perspectiva, 1974, 223p. KOCH, W. Dicionrio dos Estilos Arquitetnicos. So Paulo: Martins Fontes, 2001, 230p. LAMAS, J.M.R.G. Morfologia Urbana e Desenho da Cidade. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2000, 563p. LYNCH, K.R. A Imagem da Cidade. So Paulo: Martins Fontes, 1997, 236p. LYNCH, K.R. A Boa Forma da Cidade. So Paulo: Martins Fontes, 1999, 446p. MASCAR, J.L. Desenho Urbano e Custos de Urbanizao. Braslia: MHU-SAM, 1987,175p. MASCAR, J.L. Infra-Estrutura Urbana. Porto Alegre: Masquatro, 2005, 207p. MUMFORD, L. A Histria da Cidade: suas origens, transformaes e perspectivas. So Paulo: Martins Fontes, 2001, 781p. PUPPI, I.C. Estruturao Sanitria das cidades. Curitiba, Universidade Federal do Paran/So Paulo: CETESB, 1986, 330p. REBELLO, Y.C.P. Concepo Estrutural e a Arquitetura. Porto Alegre: Zigurate, 2004, 272p.

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REPRESENTAO GRFICA NA ERA DIGITAL, SER O DESENHO A MARCA PESSOAL DO ARQUITETO?Rodolfo Tsutomu Miyamoto 1 Dante Alves Medeiros Filho 2 Irene de Freitas Mendona 3 Cherlinton de Castro Guedes 4 RESUMOA constante informatizao que vem ocorrendo em escritrios de arquitetura e engenharia no processo projetual atravs da utilizao de softwares CAD, muitas vezes ocorre de forma imediata e acrtica. Tratando-se da representao grfica por parte dos arquitetos o trao a forma de expresso que indica cdigos visuais marcando o estilo pessoal de cada um, seja atravs de detalhes de apresentao, de indicaes ou mesmo pelo traado forte, partido, puro ou interrompido. Nesta nova era, a digital, estes conceitos foram deixados de lado pois os recursos oferecidos pelos programas igualam os desenhos suprimindo as deficincias de alguns e reprimindo as qualidades de outros. importante salientar que o desenho enquanto representao visto como uma forma de linguagem. Portanto, necessrio analisar esta nova realidade onde as mquinas auxiliam os projetistas procurando discutir as implicaes do uso de suporte informatizado na expresso grfica e os possveis reflexos na formao de novos arquitetos. Diante deste contexto, o presente trabalho faz uma anlise sobre as implicaes geradas pelo uso da computao grfica na representao de projetos arquitetnicos analisando e comparando os mtodos de expresso grfica atravs do computador com as tcnicas tradicionais do desenho a mo livre ou instrumental. Esta pesquisa procura compreender se o desenho ainda a marca pessoal de cada arquiteto ou se este conceito foi perdido aps a informatizao.

Palavras-chave: representao grfica; era digital; desenho; arquiteto.

Aluno de mestrado, Programa de Ps-Graduao em Engenharia Urbana / Universidade Estadual de Maring - Departamento de Engenharia Civil. E-mail: [email protected] 2 Prof. Dr., Universidade Estadual de Maring Centro de Tecnologia. E-mail: [email protected] 3 Aluna de mestrado, Programa de Ps-Graduao em Engenharia Urbana / Universidade Estadual de Maring - Departamento de Engenharia Civil. E-mail: [email protected] 4 Aluno de mestrado, Programa de Ps-Graduao em Engenharia Urbana / Universidade Estadual de Maring - Departamento de Engenharia Civil. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUO A partir do desenvolvimento de novas tecnologias que buscam meios de contribuir no processo projetual visando economia de tempo e garantindo maior segurana s diversas etapas minimizando erros e proporcionando maior agilidade, ocorreu uma informatizao de diversos segmentos ligados ao projeto arquitetnico, escritrios de arquitetura, construtoras, projetistas autnomos passaram a fazer uso deste novo recurso a fim de garantir maior qualidade e economia e tempo em seus trabalhos. Este processo ocorreu num perodo curto de tempo de forma que muitos incorporaram os computadores sem um planejamento estratgico de aprendizagem ou aperfeioamento adaptando o novo recurso, incorporando-o nas etapas de desenvolvimento de projetos sendo utilizado como uma prancheta digital, ou seja, diversos recursos computacionais ainda estavam guardados. Isto se refere principalmente possibilidade de criar modelos tridimensionais como forma de concepo ou de apresentao do projeto. Recurso este que atualmente tem se destacado dentre os usurios de programas destinados ao projeto auxiliado por computador, pois possibilita a visualizao espacial de todo o objeto, contribuindo na identificao de possveis falhas no projeto e na anlise volumtrica do modelo. Com os avanos tecnolgicos e a utilizao da modelagem tridimensional no processo projetual, muitos arquitetos deixaram de lado o desenho manual, o croqui que a marca registrada de cada profissional, onde atravs do trao expe suas emoes e sentimentos realizando um desenho livre. Esta informatizao contribuiu na possibilidade de igualar expresses grficas, ou seja, possvel suprimir determinadas deficincias com relao representao de projetos que algumas pessoas possuem com relao ao trao, propores, etc., ao mesmo tempo em que pode estar retendo qualidades de profissionais com mais experincia na forma de expresso manual. A fim de realizar uma reflexo ampliando a discusso sobre este tema, o presente trabalho constitui um estudo sobre a representao grfica na era da informatizao, atravs da anlise das tcnicas projetuais com o auxlio do computador e as tradicionais com o desenho a mo livre. Apresentando parmetros para comparao e posterior crticas sobre o desenho como a marca pessoal do arquiteto na era digital. 2 O DESENHO DE ARQUITETURA NO TEMPO Segundo Righetto (2005), o ofcio do arquiteto aparece trs milnios antes da era crist, sendo considerado Imhotep o primeiro arquiteto, pois construiu a primeira pirmide egpcia: a de Djoser. No Egito Antigo os desenhos arquitetnicos eram elaborados com pena de junco sobre papiro ou couro e representavam os palcios, templos e cmaras morturias. Como cincia o desenho nominado pela primeira vez no livro De Architectura Libri Decem de autoria do arquiteto da era augusta Marco Vitruvio Pollio, a nica obra sobre a arquitetura do mundo antigo a chegar ao Renascimento e, portanto, a principal fonte sobre a Antigidade Clssica disposio de seus arquitetos. Vitruvio cita neste livro os conhecimentos necessrios ao exerccio da profisso, onde segundo ele a teoria e prtica no podem estar separadas. No perodo da Renascena Filipo Brunelleschi, desenvolveu um novo mtodo de representao, a perspectiva, conseguindo representar no plano elementos tridimensionais. Mas foi no sculo seguinte com Albrecht Drer que a perspectiva se firmou, como at nos dias de hoje, sendo utilizada como um elemento de suporte a representao grfica 3D sob planos. Em 1819, Jean Nicolas Louis Durand escreveu o livro Prcis des leons darchitecture, onde definiu o desenho como uma linguagem natural, relatando que os conceitos de representao da expresso devem comunicar a idia do projeto. 10

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Na Frana por volta de 1790 surge a unidade metron que viria a influenciar todo o processo de desenvolvimento de um desenho, definindo uma escala, possvel de analisar propores. No perodo entre o fim do sculo XIX at o incio do sculo XX, vrias transformaes ocorreram: surge o capitalismo e a industrializao que tomam conta da economia. Este crescente processo de urbanizao norte-americano possibilitou o desenvolvimento do sistema estrutural de esqueleto e do elevador, permitindo o aparecimento dos arranha-cus (Righetto, 2005). Um dos arquitetos que mais marcou o sc. XX foi o suo naturalizado francs Le Corbusier, que formulou uma nova linguagem arquitetnica, descrevendo a arte de projetar seguindo cinco pontos, sendo eles: . . . . . Construo sobre pilotis; Terrao-jardim; Planta livre; Fachada livre; Janela em fita.

Todos estes preceitos foram formalizados no projeto da "Villa Savoye" (Figura 1), responsvel por influenciar o pensamento projetual de diversos arquitetos em todo o mundo devido sntese que faz das idias pregadas pelo arquiteto com relao nova arquitetura que surgia para o novo sculo, que segundo ele, seria marcado pela mquina, pela razo e pelo progresso.

Figura 1: Villa Savoye - projeto do arquiteto Le Corbusier na dcada de 1920 Outra grande contribuio, foi o desenvolvimento de um sistema de medidas padro a partir do corpo humano, onde criou uma srie de medidas proporcionais que dividia o corpo de forma harmnica e equilibrada, idealizando para suas convenes um homem de 1,83m, este novo sistema chamou de Modulor (Figura 2).

Figura 2: Modulor - sistema de propores elaborado pelo arquiteto Le Corbusier 11

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A partir da industrializao, constantes avanos foram surgindo, no ano de 1984 aparece o primeiro computador com recursos grficos, o Macintosh da Apple Computer. Mas mesmo sendo lentos e de pouca resoluo estes computadores causaram uma verdadeira revoluo, invadindo aos poucos os setores ligados ao desenvolvimento de projetos. Com o auxlio da computao grfica os arquitetos puderam inovar suas representaes, bem como o modelo virtual veio integrar conceitos que os arquitetos vinham buscando: ver por simulao o interior e o exterior do edifcio, a relao deste com o entorno, o estudo do emprego de materiais com a colocao de texturas, jogo de luzes e sombras, superposio, foto-realismo e tantas outras possibilidades. O desenho tcnico no foi abolido e dificilmente ser, mas este novo mtodo de representao grfica permitiu que cada escritrio estabelecesse seus padres de desenho (Righetto, 2005). 3 COMPUTAO GRFICA NO PROCESSO PROJETUAL necessrio antes de iniciar uma discusso compreender o que o processo projetual. Neste, tratase de um processo complexo que envolve uma atividade tecnolgica, criatividade e um processamento de informaes buscando a estruturao e resoluo de um problema. Segundo Schn (1998), o processo projetual tem seu eixo centrado e alm de tudo isso um tipo de fazer, um tipo de conversao entre sujeitos e instrumentos de representao, ou seja, este processo est diretamente ligado s representaes de objetos e ao mesmo tempo embasado sobre um conjunto de relaes sociais, culturais e histricas onde os instrumentos de representao e o tipo de mediao so importantssimos. Portanto, o processo projetual uma idia inicial que vai se transformando em algo compreensvel a fim de ser comunicada. A preocupao com a representao do projeto muitas vezes deixada de lado, muitos projetistas desenham sobre planos de forma bidimensional, se privando de desenhos tcnicos ou a mo livre de perspectivas que muitas vezes contribuem muito mais que um belo desenho tcnico todo cotado e especificado pois consegue transmitir melhor a proposta. Broadbent apud Carvalho e Almeida (2002) abordando a atividade projetual apresenta quatro tipos de desenhos e estabelece relaes entre estes e o uso da computao grfica: . pragmtico: neste os materiais e os fatores fsicos fundamentam o processo projetual. A computao grfica adequa-se a esta modalidade atravs dos procedimentos de modelagem e simulao; . tipolgico: neste caso o projetista trabalha em cima de tipos ou modelos conhecidos e prestabelecidos. compatvel com a utilizao dos bancos de dados; . analgico: o destaque para a criatividade ressaltando a importncia das imagens mentais do projetista. Este seria o modo menos compatvel com a computao grfica; . sinttico: neste o projetista trabalha com um sistema baseado em regras (freqentemente geomtricas) e a adequao a utilizao de computadores evidente. Com os avanos da informtica, com a difuso de softwares CAD no auxlio aos profissionais ligados a projetos o processo de representao sofreu um avano principalmente com relao representao grfica e o reaproveitamento de desenhos. A contribuio que os recursos informticos proporcionam aos projetistas clara. Avanos como a utilizao de tcnicas de modelagem 3D aliada a programas de tratamento foto-realsticos (rendering) so grandes contribuies, tanto no processo de concepo como de apresentao do projeto (Azuma, 2003). Projetistas que migraram da prancheta para o computador possuem as noes de geometria, de desenho tcnico, no tendo dificuldades, pois possuem o trao da mesa de desenho. Em casos como este eles sentem uma simplificao de diversas fases do projeto, como no momento de cotar, de

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escrever, de colocar hachuras nos desenhos, processos que antes demandavam um bom tempo passaram a ser automatizados, simplificando a representao grfica. O uso destas novas tecnologias tem gerado longos questionamentos com relao s modificaes produzidas por ela entre os profissionais e pesquisadores da rea (Carvalho e Almeida, 2002), referente ao ensino do desenho, suas tcnicas e com relao ao domnio do trao por parte dos arquitetos. Atualmente ocorre uma ruptura entre o antigo mtodo de representao grfica manual que deixa de ser realizado, passando a ser informatizado gerando uma instabilidade sobre as ordens de representao e dos saberes (Carvalho e Almeida, 2002). O arquiteto Lcio Costa (Costa, 1995) declara em 1940 sua preocupao com o modo com que os alunos so orientados no aprendizado do ensino do desenho, pois este deve visar ...desenvolver nos adolescentes o hbito da observao, o esprito de anlise, o gosto pela preciso, fornecendo-lhes os meios de traduzirem as idias e de registrarem as observaes graficamente, o que, alm de os predispor para as tarefas da vida prtica, concorrer, tambm, para dar a todos melhor compreenso do mundo de formas que nos cerca, do que resultar, necessariamente, uma identificao maior com ele, afirmando que: o arquiteto no rabisca, o arquiteto risca, entendendo que o risco inteno, design. 4 DESENHO COMO MARCA DO ARQUITETO O trao o arquiteto muitas vezes expressa no s a idia formal de uma proposta mas tambm o sentimento que o mesmo possui quando na realizao da representao, transmitindo leveza, tranqilidade, simplicidade, rapidez e intimidade ao desenho. Arquitetos renomeados possuem um desenho caracterstico, to expressivo e reconhecido como suas obras, cito Le Corbuiser, Frank Lloyd Wright, Joo Filgueiras Lima, Lcio Costa e o principal arquiteto brasileiro, Oscar Niemeyer com seus croquis inconfundveis, expressa seu conhecimento quanto implantao de novas obras, a relao com o entorno, reconhecendo as qualidades do local e se apropriando realizando uma unio com projeto. Niemeyer se destaca por pensar e falar graficamente, com seu trao puro e livre, expressa a forma arquitetnica, realizando uma relao entre pensamento arquitetnico e a representao grfica (Figuras 3 e 4).

Figura 3: Oscar Niemeyer e seus croquis

Figura 4: Croquis, projeto e foto Casa de Canoas Oscar Niemeyer 13

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A partir da informatizao que ocorreu com a implantao de computadores buscando contribuir no processo projetual, alguns arquitetos adotaram imediatamente o computador como ferramenta para a produo de desenhos tcnicos enquanto outros rejeitavam por princpio esta nova ferramenta. Este novo conceito do projeto auxiliado pelo computador proporcionou uma standartizao de alguns processos, igualando diversas tarefas, tornando o desenvolvimento de projetos um mtodo que se fosse seguido atingiria determinada qualidade, ou seja, ele possibilitou a compensao de determinadas deficincias que alguns profissionais possuam quando na representao manual. Mas este processo fez com que o projeto perdesse sua identidade prpria como antes ocorria com os croquis, pois desde que um plano seja criado para a confeco de um determinado objeto, se todos obedecerem, o resultado ser diversos projetos iguais mas realizados por pessoas diferentes. Um exemplo seria no caso da assinatura onde cada pessoa possui as marca pessoal, sua grafia, mas se todos escrevem atravs do computador, utilizando a mesma letra, todas as assinaturas sero iguais. Acredita-se que o desenho no um instrumento neutro cientificamente isento, ao contrrio, ele deve traduzir as intenes de projeto, seduzir ou informar. A escolha de um meio de representao para transmitir esta mensagem tambm a prpria mensagem. Artigas (1999), afirma que como linguagem o desenho acessvel a todos e que no necessrio ter talento, imaginao e vocao para desenhar, basta ter vontade e querer aprender. Atualmente com a chegada destes novos recursos de representao necessrio compreender que as transformaes so irreversveis, mas devem ser analisadas e assimiladas de forma crtica e reflexiva buscando meios de minimizar os possveis impactos que possam ocorrer. 4.1 O pensamento e a representao grfica O ato de projetar envolve criatividade, percepo e capacidade de representao. Como a histria mostra atravs de grandes projetos, de renomados arquitetos, possvel considerar que o desenho do arquiteto pode para vir a ser sua marca dgua. Muitos arquitetos deixaram gravados na histria seus desenhos, e a materializao destes na execuo de obras que expressam seu pensamento arquitetnico. Estes projetos passam dcadas, mas so indissociveis da poca em que so produzidos e dos meios disponveis para torn-los realidade. projeto e sua expresso marcam a forma pela qual o arquiteto se posiciona em relao a sua poca e aos meios de representao disponveis. A historia da arquitetura e de sua representao demonstra que as dimenses tcnica e artstica intrnseca ao desenho receberam diferentes pesos ao longo do tempo. Os desenhos dos arquitetos so capazes de traduzir as inquietaes da poca quanto a estas duas dimenses (Artigas, 1999). Foi no Renascimento que o arquiteto Filippo Brunelleschi desenvolveu uma forma de traduzir a sua criao em um cdigo comum ao construtor, estabelecendo os parmetros para a criao de um novo mtodo de representao: a perspectiva, desenvolvendo este processo para representar a cpula da Igreja de Santa Maria Del Fiori, pois as formas de representao eram insuficientes, ou seja, criou o desenho da estrutura tridimensionalmente. no Renascimento o desenho ganha cidadania. E se de um lado risco, traado, mediao para expresso de um plano a realizar, linguagem de uma tcnica construtiva, de outro desgnio, inteno, propsito, projeto no sentido de proposta do esprito. Um esprito que cria objetos novos e os introduz na vida real (Artigas, 1999).

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A partir da Revoluo Industrial ocorreram diversas transformaes na estrutura social e na forma de perceber e representar o mundo, a perspectiva j no era suficiente para todos os seus detalhes construtivos de uma mquina, ou seja, havia a necessidade de criao de uma nova forma de representao, com isso foram desenvolvidos novos sistemas de projeo: ortogonal, cnico e paralelo. Por volta da dcada de 80 o computador comea a ser utilizado pelos profissionais de projetos, introduzindo novas tcnicas de representar e conceber a arquitetura. A possibilidade da utilizao de novos programas e equipamentos contriburam na qualidade grfica das apresentaes dos tipos de desenho j conhecidos. Segundo Uddin (1997), na ltima dcada despontaram novas possibilidades de utilizao dos recursos da computao grfica aplicada arquitetura e ao urbanismo. Os novos equipamentos e ferramentas trouxeram antes de tudo um refinamento nas apresentaes dos tipos de desenho j conhecidos. Uddin (1997), questiona se o croqui no estar com seus dias contados e se os recursos grficos da informtica ainda so limitados, resultando em desenhos frios enquanto expresso plstica. 4.2 Arquitetura - O ato de projetar e representar, do tradicional ao digital A arquitetura uma grande empresa, que nem todos podem enfrentar. Ocorre ser provido de grande engenho, de zelo perseverante, de excelente cultura e de uma longa prtica, e sobretudo de muita ponderao e juzo agudo, para poder consolidar-se na profisso de arquiteto. J que em arquitetura a maior glria entre todas est no avaliar com juzo reto que coisa seja digna. Construir, na verdade, uma necessidade; construir convenientemente responde seja necessidade seja utilidade; mas, construir de modo a obter a aprovao dos homens de costumes esplndidos, sem do contrrio ser reprovado pelos homens frugais, isto somente pode provir da habilidade de um artista dotado, sbio e judicioso. (Argan, 1984) Projetar e representar esto diretamente ligados ao ato de criar e desenhar, traduzindo as intenes e expectativas do arquiteto quanto ao objeto arquitetnico. Estes processos se diferenciam de acordo com a utilizao dos meios tradicionais ou os meios digitais no momento da representao grfica. Segundo Carvalho e Almeida (2002), devemos questionar at que ponto o processo de criao influenciado pelas caractersticas do meio digital: chegaria ele a ser formatado segundo o processo de transmisso de dados para a mquina? Ou no? Como a mquina por si s no criativa nem expressiva possvel afirmar que diferentes operadores produziriam diferentes resultados? E mais: seria o desenho ainda uma marca registrada dos arquitetos? Seguindo estas explanaes, onde paira a dvida com a relao a possvel alterao que ocorreu a partir da utilizao dos meios digitais no momento da ao projetual, procurar-se- compreender que se trata de uma nova mdia e que desempenha um papel restrito na representao do pensamento arquitetnico, ou seja, necessrio entender que o desenho no s como uma linguagem, mas se trata agora de uma ferramenta lgica projetual que visa representar uma soluo formal. 5 OS MEIOS TRADICIONAIS DE REPRESENTAO E OS DIGITAIS Bermudez e King (1999), classificam meios tradicionais e meios digitais como anlogos e digitais, onde classifica os meios anlogos como manuais, tradicionais, materiais ou fsicos, e os digitais como eletrnicos, virtuais, assistidos por computador (CAD), etc. J Purini (1998), adota uma conotao que extrapola os meios de produo, sendo o desenho histrico ou automtico, tratando o desenho manual como histrico, uma categoria que aos poucos

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vai sendo extinta contrapondo o desenho automtico que vai se firmando como uma tecnologia que busca contribuir no processo projetual. Cada meio possui caractersticas que os tornam mais adequados para determinadas tarefas, mas escolher o tipo de representao uma deciso que deve ser tomada pelo profissional. Os meios tradicionais com desenhos manuais so mais simples e rpidos, mais indicados para representar um estmulo da imaginao, o esboo de uma idia, um estudo de visualizao de escala, anlise rpida de volumes ou expressar estados emocionais. Enquanto que os meios digitais demandam um nvel maior de definio geomtrica, sendo assim, adequados ao desenvolvimento de detalhes, inclusive de projetos complexos, se destacando pela gerao e articulao de diversos pontos de vista, possibilitando manipular imagens, realizar simulaes e facilitar o arquivamento e busca de informaes (Bermudez e King, 1999). 6 CONSIDERAES FINAIS A partir dos constantes avanos tecnolgicos a partir da utilizao de programas CAD destinados a contribuir na criao de projetos visando economizar tempo, e garantindo mais qualidade grfica e de representao, possvel destacar que esse desenvolvimento que vem ocorrendo contribui na ao projetual. Tanto na etapa de concepo como na de apresentao do projeto. Recursos como a modelagem tridimensional vem sendo muito utilizada pelos arquitetos na busca de garantir mais confiabilidade a proposta ao mesmo tempo em que pode ser estudada a harmonia volumtrica e sua relao com o entorno. Diante deste contexto, realizando uma anlise com relao ao desenho realizado pelo processo tradicional com o desenho digital possvel afirmar que o desenho manual continua sendo a marca do arquiteto. Mas cabe a cada profissional determin-la, pois o conceito de desenho a mo livre aos poucos vem sendo perdido e neste caso o correto que cada profissional desenvolva sua tcnica de representao, rpida, simples, mas que para ele esclarea suas dvidas ou mesmo, arquive idias, solues, etc. A contribuio do computador no processo de projeto clara, mas necessrio determinar em que momento ele a ferramenta mais adequada. Considerando a conceituao de Purini (1998) o desenho histrico de fato pode estar cada vez mais restrito criao, mas no seria este o principal momento do processo projetual? Apesar de o computador exercer um fascnio nos profissionais, a melhor forma de desenvolver um projeto utilizando as duas tcnicas de representao grfica. No caso, o desenho a mo livre atua num primeiro momento agilizando o processo de anlise do projeto, realizando estudos rpidos, de implantao, insolao, estudos de volumes atravs de perspectivas, etc., e posteriormente aps resolvido o projeto, utiliza-se o computador para garantir mais qualidade e confiabilidade ao projeto. Sendo assim, o desenho manual e o digital seriam ento complementares. 6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ARTIGAS, V. O desenho in Caminhos da Arquitetura. So Paulo: Cosac & Naify, 1999, pp 6981. ARGAN, G. C. Il Trattato De Re Aedificatoria. In: Opere di Giulio Carlo Argan, vol. Clssico Anticlassico. II Rinascimento da Brunelleschi a Bruegel. Milano: Feltrinelli, 1984, p. 112-113. AZUMA, M. H. A contribuio da informtica nos escritrios de projetos de arquitetura Uma anlise do caso de Londrina PR. In: Arquitetura e cidade no norte do Paran / Maria Irene Szmrecsanyi e Antonio Carlos Zani. So Paulo: FAUUSP/UEL, 2003, p. 159-170. BACKES, R. J. O ato de desenhar: do desenvolvimento da percepo construo da representao. XIV Congresso Internacional de Ingeniera Grfica Santander, Espanha: 2002.

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Disponvel em: . Acesso em : 04 mar. 2007, p. 1-9. BERMUDEZ E KING, J. & KING, K. La interaccin de medios en el Proceso de diseo: hacia una base de conocimentos in Libro de ponencias - III Congreso Ibero Americano de Grfica Digital. Montevideo: Facultad de Arquitectura, Universidad de la Republica, 1999, p. 35-44. CARVALHO. G. L.; ALMEIDA, I. A. C. A representao do projeto arquitetnico aliando a computao grfica aos traados de desenho tradicionais. XIV Congresso Internacional de Ingeniera Grfica. Santander, Espanha: 2002. Disponvel em: . Acesso em : 04 mar. 2007, p. 1-10. COSTA, Lcio. Lucio Costa: registro de uma vivncia. So Paulo: Empresa das Artes, 1995, p. 242. PURINI, F. Franco Purini: O Que Est Feito Est Por Fazer. Catlogo da Exposio. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/ SMU, 1998, p. 27-42. RIGHETTO, A. V. D. O desenho de arquitetura e seu desenho no tempo. SIGRADI - 2005. Disponvel em: . Acesso em : 08 mar. 2007, p. 421-426. SCHN, D. A. Designing Rules, types and worlds. In: Design Studies, Butherworth & Co (publishers) Ltda., July, 1998, p. 181-190. UDDIN, M. S. Composite Drawing - Techniques for Architectural Design Presentation. New York: McGraw Hill, 1997, p. 68-73.

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QUANTIFICAO DA QUALIDADE INERENTE DOS LUGARES URBANOS.Igor Jos Botelho Valques 1 Layane Alves Nunes 2 Diana Carla Rodrigues Lima 3 Paulo Fernando Soares 4

RESUMOA qualidade dos lugares em que vivemos, por onde passamos, mensurvel. Seja por parmetros subjetivos ou diretamente objetivos podemos atribuir valores para tentar entender a empatia de certos locais. Presume-se que ocorra uma avaliao qualitativa diria; e os usurios, que interagem com esses espaos, so os avaliadores. Atributos inerentes aos locais, porm valorados pelos observadores ou usurios, podem contribuir para uma interpretao diferenciada. Isso se deve a fatores intrnsecos ao usurio/avaliador, possuidor de sua cultura, de sua historicidade, da forma de ver e interpretar os smbolos e os fatos urbanos. A inteno deste artigo sugerir atributos, passveis de verificao, que possam valorar a qualidade dos lugares urbanos e ainda, uma relao matemtica para a sua mensurao e quantificao. Tem-se a finalidade de possibilitar o entendimento do carcter dos lugares urbanos na sua dinmica temporal e histrica.

Palavras-chave: quantificao; qualidade; lugar; urbano.

Acadmico do Programa de Ps Graduao em Engenharia Urbana, Universidade Estadual de Maring UEM / Departamento de Engenharia Civil. E-mail: [email protected] 2 Acadmica do Programa de Ps Graduao em Engenharia Urbana, Universidade Estadual de Maring UEM / Departamento de Engenharia Civil. E-mail: [email protected] 3 Acadmica do Programa de Ps Graduao em Engenharia Urbana, Universidade Estadual de Maring UEM / Departamento de Engenharia Civil. E-mail: [email protected] 4 Prof. Dr., Universidade Estadual de Maring UEM / Departamento de Engenharia Civil. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUO Questiona-se qual ser o critrio que estigmatiza um lugar de ruim ou lgubre, e ainda, qualifica o mesmo de aprazvel ou bom. Ser a hora do dia? Ser a forma de apreenso ou mesmo o tempo destinado a isso? Ou sero os fatos ali ocorridos? Fica a dvida final: a pessoa apreendeu a qualidade do lugar? Tentar-se- com este trabalho fomentar e equacionar respostas a essas indagaes. Elucida-se que lugar pode ser considerado como sendo o espao ocupado, a localidade, o ponto de observao, o espao prprio para determinado fim ou ainda, stio ou ponto referido a um fato. Todos, no entanto, relacionados com o usurio ou sujeito, seja por interao ativa ou passiva. Portanto a qualidade dada aos espaos sejam eles edificados, urbanizados ou naturais uma resposta de determinada avaliao sensorial. Baseada nos condicionantes relativos ao lugar e as experincias e conhecimentos vivenciados esta avaliao feita diariamente, e os usurios que interagem com os lugares so os avaliadores. Experincias e conhecimentos adquiridos proporcionam, porm, tendncias para a compreenso e a conseqente avaliao dos lugares. Este trabalho inicia-se com o entendimento da relao homem/lugar segundo sua percepo, indicando, em seguida, os nveis de cognio do meio ambiente. Passa-se, em um segundo momento, para o entendimento da qualidade inerente aos lugares, para tanto se sugere algumas caractersticas memoriveis a ela. Em seguida, lista-se uma proposta de indicadores relativos aos atributos do lcus para sua valorao. Finalmente apresenta-se a relao matemtica entre todos os indicadores responsveis pela qualidade inerente dos lugares urbanos, com a finalidade de possibilitar a sua avaliao e entendimento. 2 A PERCEPO DO AMBIENTE A maneira na qual o homem sente e relaciona-se com o meio, segundo Ornstein et al. (1995), [...] est intimamente ligado com o modo nos quais os estmulos so absorvidos atravs da viso, audio, olfato, tato e suas associaes psquicas. Aparentemente:O que parece ser simples reao sensorial com freqncia depende de variveis nos campos do condicionamento, motivao e emoo. Estas variveis esto fora do organismo, esto em seu ambiente imediato e em sua histria ambiental (ORNSTEIN et al, 1995, p.21).

H vrias maneiras de se organizar esses estmulos e, de fato, ele feito, mas de tal modo que exista sempre apenas uma forma de apreenso num dado momento. Esse empreendimento se d de maneira espontnea e inerente ao indivduo, ou seja, existe a tentativa de racionalizar qualquer forma de percepo e, portanto este um processo limitado a uma opo cognitiva por vez, porm no nica. Isto sustenta e ilustra a subjetividade das vrias formas de se delinear o mesmo fenmeno (GOMES-FILHO, 2000). Para entender a relao homem/lugar, objetivando sua qualidade, este trabalho baseia-se na fenomenologia que, conforme Moreira (2002), [...] a descrio e o estudo dos fenmenos das aparncias, da experincia humana, [...] vivenciados nos vrios atos da conscincia. Corroborando com tal pensamento Milton Vargas (1985, p.68) descreve a teoria de Sartre sobre a fenomenologia:Esta teoria consiste em que a conscincia humana pode estar no mundo de duas maneiras diferentes. Na primeira o mundo aparece como um espao-temporal de coisas a disposio do homem, isto , um complexo organizado de utenslios, tal que para que algo acontea necessrio agir deterministicamente nele. Na segunda, o mundo aparece como uma totalidade de no-utenslios, sem distncias e sem tempo. Por outro lado, a conscincia da emoo no seria reflexiva; mas conscincia do mundo. Enfim a emoo no s modificao psquica, com todas as suas correlaes somticas (tenso nervosa, tremor, frio, suor, lgrimas);

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tambm, uma modificao do mundo enquanto organizado intencionalmente pela conscincia, ou vice-versa; mas, de qualquer forma, retroativamente.

Conforme Tuan (1980), todos tem uma ligao com os lugares. Topofilia, termo criado e defendido por ele, o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente fsico. Difuso como conceito, vvido e concreto como experincia pessoal, a topofilia o termo para explicar as relaes emocionais das pessoas com os lugares. Entretanto, segundo Montagu (1986, apud OKAMOTO, 2002), a civilizao ocidental est apenas no incio do conhecimento de sua negligncia com os sentidos, pois no atual contexto fica evidenciada a [...] privao de experincias sensoriais que sofremos em nossa sociedade tecnolgica.

Figura 1: Representao de um local nas diferentes estaes do ano analogamente alusivo a variao de interpretao de um mesmo lugar. Fonte: , acesso em 23/04/2007 Considerando esses conceitos subjetivos, existe a possibilidade de que duas pessoas no sintam ou percebam os mesmos estmulos advindos do lugar. Portanto, ocorre uma grande probabilidade de que no opinem da mesma forma diante de uma equidade de indicadores fsicos do local (figura 1, acima). Consequentemente e possivelmente diferentes usurios podero ter opinies opostas sobre a qualidade do lugar. Estas afirmaes ajudam a compreender a necessidade de se subjugar objetividade com doses de subjetividade, a fim de entender as sensaes humanas. Necessita-se, pois, entender os nveis de percepo ambiental existentes. 2.1 Nveis de Percepo ambiental No processo de conhecimento e apreenso do espao, o corpo humano tem participao ativa, principalmente pela constante adaptao ao meio em que vivemos e com o qual interagimos. Por estmulos do meio, que so gerados pelas mais diferentes modalidades de energia, o homem, atravs dos seus receptores especializados (rgos sensitivos), percebe as variaes que formam o contexto ambiental (OKAMOTO, 2002). 2.1.1 Nvel de Percepo Sensorial

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Este nvel identifica-se com os parmetros aferidos no conforto ambiental, grosso modo, luz, temperatura, rudo e umidade relativa do ar atravs dos bio-receptores do corpo humano. Muitos autores identificam os bio-receptores de formas diferentes. Entretanto, optou-se pela conceituao de Rappaport (1985, p.4 V.10/II) que os lista e afirma que so, geralmente, divididos em quatro grandes grupos. So eles: Mecanorreceptores sensveis presso (energia mecnica); Termorreceptores sensveis ao frio e calor (energia trmica); Fotorreceptores sensveis luz (energia eletromagntica); Quimiorrecptores sensveis aos odores e sabores (substncias qumicas). Estes bio-receptores, no entanto, podem ser mitigados ou majorados por problemas fisiolgicos causados por doenas. Por exemplo, doenas como a Influenza 5 , cujos efeitos sobre os sistemas como o respiratrio, o regulador de temperatura, o gustativo e outros que so comuns a toda raa humana, influenciam a percepo dos ambientes tornando o fator de sanidade corporal relevante a esta pesquisa. Todas as clulas receptoras, qualquer que seja sua especificidade, transformam as energias e substncias captadas em energia eletroqumica, que responsvel pelo fluxo de ons atravs da membrana celular originando o impulso nervoso. evidente que, para que haja uma boa percepo do ambiente, o usurio deve estar com todos seus bio-receptores em perfeitas condies, conforme lembra Rappaport (1985, p 4 V.10/II). Portanto, fica claro que acidentes e deficincias, congnitas ou momentneas, desses sistemas perceptivos (viso, olfato, tato, audio e gustativo), com seus especficos bio-receptores, interferem na apreenso do lcus. Contudo, conforme comenta Tuan (1980), [...] embora todos os seres humanos tenham rgos dos sentidos similares, o modo como as suas capacidades so usadas e desenvolvidas comea a divergir numa idade bem precoce. Esta afirmao satisfaz a necessidade de um nvel subjetivo de percepo do espao: o emotivo. 2.1.2 Nvel de Percepo Emocional A emoo impingida pelo sistema lmbico6 , e desencadeada pela memria de algo, algum ou lugar, responsvel, segundo Schmid (2005, p.111), por [...] grandes turbilhes hormonais que alteram as sensaes corporais, causando calor, tremor, arrepios. E comenta ainda o autor, [...] achar-se numa situao ou ambiente so experincias que registramos melhor quando acompanhadas de sensaes, estas as quais nos fazem lembrar emoes e pensamentos (SCHMID, 2005). Segundo Corbusier (2000, apud SCHIMID, 2005), apesar da casa (edificao) ser uma mquina de morar [...] a arquitetura feita para emocionar. Assim, por analogia, a cidade que a materializao do conjunto das obras edificadas deve, por conseguinte, causar emoes. Emoes que so vivenciadas e desencadeadas pelo uso dos locais na sua dinmica formal e conceitual, gerando uma interpretao pessoal da qualidade do ambiente. Fazendo isso, ou seja, escolhendo um vis interpretativo, incorre-se na possibilidade da no total contemplao, porm tenta-se sistematizar os parmetros de apreenso do lugar de uma maneira mais prxima da real avaliao perceptiva do usurio.

A influenza (gripe) doena infecciosa aguda de origem viral que acomete o trato respiratrio e a cada inverno atinge mais de 100 milhes de pessoas na Europa, Japo e Estados Unidos, causando anualmente a morte de cerca de 20 a 40 mil pessoas somente neste ltimo pas. O agente etiolgico o Myxovirus influenzae, ou vrus da gripe, ver tambm em Forleo-Neto (2003) 6 Na superfcie medial do crebro dos mamferos, o sistema lmbico a unidade responsvel pelas emoes. Constituise de uma regio constituda de neurnios, clulas que formam uma massa cinzenta denominada de lobo lmbico. Ele que comanda certos comportamentos necessrios sobrevivncia de todos os mamferos, interferindo positiva ou negativamente no funcionamento visceral e na regulamentao metablica de todo o organismo.

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3 A QUALIDADE DOS LUGARES O conceito de qualidade a propriedade, atributo ou condio das coisas ou das pessoas capaz de distingui-las das outras e de lhes determinar a natureza. Contudo a qualidade conceituada por Ferrara (2005, p.65) como sendo, [...] numa escala de valores, qualidade que permite avaliar e, conseqentemente, aprovar, aceitar ou recusar, qualquer coisa. Segundo a filosofia a qualidade dado pelos sentidos, ou relacionada aos sentidos perceptivos denominada secundria 7 , pois possui um vis interpretativo e subjetivo. Em funo disso a qualidade de um lugar o resultado participativo, contemplativo e avaliativo de sua apreenso por um usurio. Alis, o lugar ter qualidade se a interpretao dos fatores fsicos, intrnsecos as atividades e ao conforto ambiental, forem aliados a expectativa de qualidade do mesmo. Alm disso, segundo Tuan (1980, p.82), o ser humano, [...] constri um ambiente artificial resultado de processos mentais (mitos, fbulas, cincia) para se sentir confortvel na natureza. Corroborando com tal idia subscreve-se notaes de Kevin Lynch:Um cenrio fsico vivo e integrado, capaz de produzir uma imagem bem definida, desempenha tambm um papel social. Pode fornecer a matria-prima para os smbolos e as reminiscncias coletivas da comunicao de grupo. Uma paisagem admirvel o esqueleto sobre o qual muitas raas primitivas eregem seus mitos socialmente importantes. Potencialmente, a cidade em si o smbolo poderoso de uma sociedade complexa (LYNCH,1999, p.5).

Em vista disso, pode-se dizer que os locais dependem de um uso e, sua percepo de um usurio; que ao interagir com o ambiente estabelece uma imagem memorizada do lugar. Essa imagem mental que mais tarde far parte de sua memria pode conferir ao local o rtulo de boa ou m qualidade. Entrementes, no se pode esquecer que qualquer anlise momentnea, em contrapartida os atributos qualitativos criadores de memrias so dinmicos, variam com o passar das horas, dos fatos, das sociedades, da vida. Tudo depende, no entanto, de alguns fatores inerentes ou influentes ao lugar. Esses fatores formam a capacidade do lugar de vir ao encontro s expectativas do usurio. 3.1 Qualidade do Lcus pela Memria Visual A beleza visual dos lugares no esttica, dinmica, pois, as obras edificadas que so os formadores dos locais da cidade sofrem influncia celeste. Conforme afirma Einfhlung (apud ZEVI, 1996, p.165) [...] que esttica, que nada! a arquitetura move-se continuamente sob o constante girar do Sol. Ao encontro desse iderio, Gordon Cullen (2004, p.10), lembra que:O crebro humano reage ao contraste, s diferenas entre as coisas, e ao ser estimulado simultaneamente por duas imagens [...] apercebe-se da existncia de um contraste bem marcado. Neste caso a cidade torna-se visvel num sentido mais profundo; anima-se de vida pelo vigor e dramatismo dos seus contrastes. Quando isto no se verifica, ela passa despercebida uma cidade incaracterstica e amorfa.

Obviamente o autor confirmava assim, os conceitos de que um lugar muda de aspecto nas diferentes horas do dia. A rua arborizada e florida, exuberante e linda durante a manh, torna-se, no entanto, lgubre durante a noite se a iluminao artificial for falha. Um local de grata satisfao, de cenas aprazveis em meio ao caos citadino um osis de beleza. A beleza visual de um lugar pode ser apenas superficial, porm pode-se caracteriz-la atravs de parmetros, mesmo que subjetivos. 3.2 Qualidade do Lcus pela Memria FactualQualidade secundria segundo a filosofia a qualidade relacionada percepo sensorial imediata de uma coisa (cor, sabor, cheiro, temperatura, textura) cuja objetividade , por isso, problemtica, ver tambm em FERRARA 2005.7

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Conforme explana Rossi (2001), tem-se que os fatos urbanos constituem-se, para certa funo, de modo esttico e que sua estrutura coincide com a funo que desempenham num determinado momento. Interpretando o autor, pode-se afirmar que a funo, e todas as caractersticas fsicas do lugar, podem variar em funo de acontecimentos ou aes ocorridas, alterando assim seu significado. Esses significados, conforme enuncia Freud (1914, apud VALADARES, 2000), se superpem s praas, aos espaos da engenharia e da arquitetura e a tudo que usado pela linguagem, como o espao da lei e da legalidade, transformando-os novamente em lugares. Nesses lugares, continua o autor, [...] a um s tempo de liberdade e segurana, sero os verdadeiros pontos de encontro e de despedidas, pois so um externo/interno, sempre leal ao sujeito e ao seu grupo, reunio e possibilidade de destacamento (FREUD, 1914 apud VALADARES, 2000). O local pode tornar-se palco de belas cenas cotidianas tendo na memria coletiva a idia de um local agradvel de se estar e visitar. Porm, mediante mudanas factuais, os mesmos lugares podem tornar-se estigmatizados, iniciando ou perpetuando uma sensao de insatisfao, desconforto, ou seja, um local com vrias significaes. 3.3 Qualidade do Lcus pela Memria Cultural Atravs da cognio ambiental, segundo Ornstein et al (1995), os indivduos codificam, armazenam e decodificam a informao acerca da localizao e atributos do meio espacial. Afirma-se que os ambientes so compreendidos, percebidos e interpretados de modo distinto, como por exemplo, pelos arquitetos e engenheiros, historiadores e cientistas sociais e usurios leigos.Tendo em vista a herana e as variaes culturais, o significado do ambiente construdo difere entre as categorias de agentes do processo decisrio de produo e uso do ambiente construdo. Historiadores e cientistas sociais apresentam uma formao mais analtica e contextual, os arquitetos e engenheiros uma viso espacial mais prtica e perceptiva, os usurios leigos uma viso mais associativa (ORNSTEIN et al, 1995, p.36).

Tuan (1980), afirma que [...] uma pessoa em determinada cultura pode desenvolver um olfato aguado para perfumes, enquanto os de outra cultura adquirem profunda viso estereoscpica. Essas variaes so dinmicas, pois os locais variam conforme as eras, contribuindo com seus significados para a evoluo cultural e histrica de um povo. Esses lugares estigmatizados por uma batalha ou ovacionados por um momento de vitria sero possuidores de uma induo emocional a todo o sujeito que dele, enquanto espao real, vivenciar. 3.4 Qualidade pela Memria Ambiental Os atributos inerentes ao conceito de memria ambiental so relacionados pela interao entre dois tipos variveis: os agentes naturais e artificiais dos lugares. Os agentes naturais so, basicamente, os fenmenos da natureza e dentre eles pode-se citar: o vento e seus efeitos fsicos como a eroso ou o som das folhas e galhos se debatendo, a chuva e suas conseqncias diretas como as cheias e o sol com seu efeito trmico. Todos eles so mensurveis, porm sazonais e muitas vezes cclicos. Por outro lado os agentes artificiais so todos os elementos, aliengenas ao meio ambiente natural e, produzidos pelo homem. Dentre estes, cita-se: a poluio sonora, o calor dissipado pelos pavimentos, construes e por fbricas (poluio trmica), as reflexes de aclaramento excessivo, e os vrios efeitos possveis de movimento elico em funo das edificaes. Nas palavras de Okamoto (2002, p.110): Talvez devido poluio sonora, visual, do ar e sujeira nas ruas, tem havido, tambm, uma reduo na eficincia dos nossos sentidos perceptivos, que so a interface com a realidade. O resultado sentirmos menos o meio ambiente.

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4 QUALIDADES INERENTES DOS LUGARES Estabelecidos e explicados a forma com que a qualidade torna-se inerente ao lugar, deve-se sistematizar os atributos do um local hipottico. Em um primeiro momento necessrio compreender como apreendida a cidade, suas caractersticas e seus atributos. Prope-se que a imagem mental do lugar deva ser analisada de uma forma sistmica, ou seja, composta ou dividida por vrias memrias qualitativas. Como no existe sujeito sem espaos de convvio, de construo, de memrias, stios de recordaes, no existem lugares sem usurios. Os atores do cenrio urbano, os sujeitos, os usurios, so os avaliadores da qualidade ambiental dos espaos urbanos. Contudo, o Homem vive numa sociedade de alta subjetividade que, cada vez mais, submete os fenmenos e os comportamentos lgica subjetiva. O meio urbano pode ser objeto de mltiplas leituras, conforme os instrumentos ou esquemas de anlise utilizados. No essencial, os instrumentos de anlise vo fazer ressaltar os fenmenos implicados na produo do espao. As inmeras significaes que se encontram no meio urbano e na arquitetura correspondem aos inmeros fenmenos que os originaram (LAMAS, 2004, p.12). Portanto, para sistematizar a leitura da qualidade dos locais, visando o seu entendimento, ter-se- que conhecer e compreender os indicadores que regem e balizam a apreenso dos mesmos. 4.1 Indicadores de Qualidade A qualidade inerente a todos os lugares, pode ser compreendida e traduzida via instrumentao, observao e questionrios. Segundo Vargas (1985, p.105), a pesquisa deve abranger a totalidade do assunto sem deixar nada de fora e ainda lembra que o mtodo cartesiano 8 primeiramente afirma que verdade e evidncia so a mesma coisa em seguida enuncia que para conhecer preciso preparar o assunto em partes; isto : analis-lo e progredir do conhecimento das partes mais simples para as mais complexas e finaliza explicando que apenas pela razo que se pode chegar a concluses verdadeiras, partindo-se de proposies iniciais, simples e evidentes por si mesmas, e progredir, por dedues lgicas, at as concluses finais. Baseia-se no trabalho de Fitzsimmons, Stuart & Wolf (1975, apud CANTER, 1996), o qual estabelece duas categorias de indicadores de qualidade de vida (QOL quality of life index). Primeiramente eles estabelecem os Descritores Psicologicamente Favorveis (Psichological Well Being Descriptors) que denotam os fatores emocionais que estabelecem satisfao vida, so eles: Situaes como: possuir companheirismo; ter amor prprio; gozar de paz interior, ter desafios estimulantes, ter acesso a conforto; ter realizao, possuir popularidade, ter liderana, etc. Na continuidade de pensamento o trabalho de Fitzsimmons et al (1975, apud CANTER, 1996) estabelecem os Descritores Situacionais (Situational Descriptors) que descrevem situaes do cotidiano que contribuem para ter-se uma vida de qualidade, so eles: Situaes de carter econmico: ter padro de vida; estar empregado; possuir dependncia financeira; possuir uma boa moradia; ter acesso a vveres e suprimentos; e possuir transporte conveniente. Situaes de carter social: possuir relaes familiares; amizades; ter satisfao com o trabalho; ter acesso sade; ter acesso educao; e ter segurana. Situaes de lazer: ter acesso a entretenimentos (caseiros e sociais); ter oportunidades culturais (arte, histria, etc.); ter acesso a reas de recreao; ter acesso a lugares de beleza contemplativa; e no estar exposto a agentes poluidores.8

Mtodo dedutivo que Descartes aplicou com grande sucesso na construo da sua Geometria Analtica, ver tambm Vargas (1985, p.34).

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Situaes polticas: ter participao poltica; possuir acesso a noticirios; gozar de liberdade e direitos civis; viver sob responsabilidade governamental; ter acesso a servios pblicos; ter igualdade de oportunidades. Esses dois grupos de indicadores de qualidade de vida foram tabulados por Fitzsimmons et al (1975, apud CANTER, 1996), a fim de facilitar a verificao, via questionrio (forma usualmente subjetiva) dos indicadores. Eles objetivaram estabelecer uma possibilidade de avaliao da qualidade de vida dos usurios de certa regio, ou cidade. Apesar de no estabelecerem nenhum tipo de frmula para essa avaliao presume-se que seja a contagem de pontos da listagem, atravs de uma verificao de porcentagens e valores previamente atribudos. Gerando por da somatria no final. Acredita-se que regies com pontuao prxima dos 100 (10 pontos pelas questes emocionais e 90 pelas questes situacionais) seriam consideradas possuidoras de Qualidade de Vida (Quality of Life - QOL). 4.1.1 Indicadores de Qualidade Inerente aos Lugares Baseado no mtodo de estabelecer atributos de Fitzsimmons, Stuart & Wolf, este trabalho prope listar atributos, para um local hipottico, passveis de estabelecer suas caractersticas qualitativas para as qualidades memorialmente situacionais. Para tanto se sistematizar os atributos de um local de boa ou m qualidade. Neste sentido, instituem-se os atributos que devem ser inerentes a um lugar com qualidade visual, so eles: Local com paisagem buclica presente. Local com padro arquitetnico ou modulao urbana (fcil identidade). Local com clareza de visibilidade (diurna e noturna). Local com cromatismo agradvel e farto. Local com esttica, equilbrio e harmonia compatveis com o lugar. Continuando nessa corrente de pensamento, para qualificar um lugar de possuidor de memria factual o mesmo deve ter sido ou no palco de alguns fatos urbanos. So eles: Local de ocorrncia de fatos da vida cotidiana (memria pessoal e coletiva). Local de aes de entretenimento e encontros (lazer). Local de acontecimentos extraordinrios (incndios, desabamentos, etc.). Local com ocorrncia de degradao moral e de costumes. Local de fatos criminosos. Em vista disso, alguns atributos de um local com efetiva carga cultural seriam: Local de fatos histricos (passados e recentes). Local com representao tnica (pais ou regio). Local de resguardo cultural. Local de aglomeraes ideolgicas. Local de patrimnio local, nacional ou mundial. Toda essa relao de variveis desencadeia a percepo e iniciam uma sensao de conforto ou desconforto do ambiente, transmitindo ao sujeito/usurio a qualidade do local. Desta forma, pode-se dizer que os atributos inerentes memria ambiental de um lugar so: Local com poluio ambiental aparente. Local propenso a catstrofes ambientais (enchentes, terremotos, erupes, etc.). Locais de ocorrncia de Ilhas de Calor (baixa inrcia trmica). Locais com ocorrncia de aclaramento excessivo (fachadas envidraadas). Local de preservao ambiental. Aps essa descrio de atributos inerentes aos lugares torna-se necessrio valor-los. A opo, para tanto, estabelecer num primeiro momento a pontuao mxima, optou-se por 1000 pontos para a qualidade mxima do local. Considera-se para a pontuao, no entanto, a lgica de que locais possuidores de fatos, acontecimentos, ambincias devam ser regidos pela aprazibilidade e bom 26

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senso emprico. Exemplificando: Quando um local no possui poluio ambiental aparente sua pontuao positiva em caso contrrio sua pontuao negativa. Para um melhor entendimento do mtodo de valorao das memrias indica-se em uma tabela (tabela 1) todos os atributos, j mencionados, em uma simulao de anlise. A anlise, hipoteticamente, ser em um parque urbano. Este, no entanto, possuidor de problemas de aes antrpicas e de virtudes ambientais como sua caracterstica mitigadora ao clima circundante (osis climtico). Tabela 1 Indicadores de Qualidade Inerente aos Lugares SubValor Atributos dos Locais: pontos I. Descritores dos Atributos Visuais 100 1. Paisagem buclica 50 2. Padro arquitetnico ou modulao urbana 50 3. Clareza de visibilidade (diurna e noturna) 25 4. Cromatismo (presena de cores na paisagem) 25 5. Esttica, equilbrio e harmonia. Valor parcial da soma de pontuao dos atributos visuais pontos II. Descritores dos Atributos Factuais 50 6. Fatos cotidianos (dia-a-dia) 50 7. Entretenimento e encontros 50 8. Sem acontecimentos extraordinrios (incndios) 50 9. Sem degradao moral e de costumes 50 10. Sem ocorrncia de fatos criminosos Valor parcial da soma de pontuao dos atributos factuais pontos III. Descritores dos Atributos Culturais 50 11. Acontecimentos histricos 35 12. Caractersticas tnicas 50 13. Resguardo cultural (museu, biblioteca, etc.) 15 14. Aglomeraes ideolgicas (parlatrio) 100 15. Patrimnio local, nacional ou mundial. Valor parcial da soma de pontuao dos atributos culturais pontos IV. Descritores dos Atributos Ambientais 75 16. Sem ocorrncia de poluio ambiental aparente 75 17. Sem catstrofes (enchentes, erupes, etc.) 25 18. Sem Ilhas de calor 10 19. Sem ofuscamento (fachadas envidraadas) 75 20. Preservao ambiental (fauna e flora) Valor parcia