500 anos da Reforma de Lutero: sua relevância para a...

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  • 500 anos da Reforma de Lutero: sua relevncia para a libertao dos oprimidos

    LEONARDO BOFF - 21/07/2017 Ao celebrarmos os 500 anos da Reforma Protestante de

    Lutero cabe considerar sua importncia para o nosso tempo latino-americano e mundial. Face s opresses histrico-sociais, as vrias Igrejas fizeram uma opo pelos pobres contra sua pobreza e em favor da liberao. Lutero enfrentou tempos semelhantes de conturbaes sociais e da conhecida Revolta dos Camponeses (Bauerkrieg) entre 1524-1525 que mobilizou a Europa Central e telogos como o famoso Thomas Mnzer, considerado um dos primeiros formuladores da ideia de revoluo, segundo o filsofo do princpio-esperana Ernst Bloch.

    Atualizamos aqui um estudo feito h anos, pois entendemos que conserva sua vigncia e nos serve como comemorao do jubilee de Lutero, lida a partir do tipo de teologia desenvolvida entre ns. Ulrich Duchrow, professor da Universidade de Heidelberg a este propsito reuniu recentemente vrios estudos em trs volume com o provocativo ttulo: Warum de Reformation radikaler warden muss (Por que a Reforma deve ser mais radical).

    A teologia da libertao, antes de ser uma doutrina com contedos mais ou menos definidos, apresenta-se como uma maneira de considerar as distintas matrias teolgicas, vale dizer, uma outra forma de fazer teologia. Temos a ver com um mtodo singular de realizar a reflexo da f em confronto com a realidade conflitiva que vivemos.

    A partir da opo pelos pobres, pela justia social e do compromisso com acaminhada das comunidades crists que, motivadas pela f, se empenham na mudana da sociedade, pode-se ler e reler grandes temas da tradio e interrogar personalidades-testemunhas do passado. O que elas nos tm a dizer, a confirmar, a criticar em nossa preocupao pela libertao dos oprimidos a partir da f?

  • Lutero apresenta-se como uma das maiores testemunhas do esprito evanglico e da coragem de postular reformas na Igreja e na sociedade. Ele defrontou-se com grandes processos de mudana, com os prncipes que disputavam entre si poder e com os camponeses em rebelio.

    Que tipo de prtica desenvolveu Lutero? Como refletiu sobre as prticas histricas vigentes ento? Que atitude queria para o seu movimento face s mudanas sociais? Estas questes no so as do Lutero histrico; so nossas, condicionadas pelo tipo de desafios vividos e sofridos por ns no contexto de uma Amrica Latina em efervescncia social e ecclesial e tambm da fase planetria da humanidade. Mas Lutero nos poder qui servir de inspirao e tambm de crtica.

    Para achegarmo-nos a ele, primeiramente, faramos bem em interrogar os movimentos confessionais que remontam a Lutero e que guardam sua herana espiritual. Em seguida tentaremos dialogar com o prprio Lutero em suas obras mais diretamente ligadas questo que nos interessa: a f, a Igreja e a sociedade em transformao.

    1. O protestantismo histrico, promotor da liberdade da

    sociedade emergente, burguesa

    Na Amrica Latina, como que se relacionam as Igrejas histricas protestantes (a Luterana e a Presbiteriana de orientao confessional e a Metodista e Batista de revival evanglico) com o processo popular de libertao dos pobres latino-americanos?[1]

    Para compreender esta relao, importa situar historicamente a penetrao do Protestantismo no Continente da Amrica Latina. Comeou a se fazer presente, ativa e organizadamente, a partir da metade dosculo XIX. Vinha dos pases centro-europeus e do Atlntico Norte, especialmente dos USA. Portanto,vinha daqueles pases pioneiros da modernidade e que detinham e detm at hoje a hegemonia do projeto liberal e atualmente neoliberal, de vs radical. Chegando a nossos pases, as Igrejas histricas traziam os ideais do

  • liberalismo, ideais que, no aspecto econmico, reforavam a modernizao e industrializao contra as velhas oligarquias senhoriais da terra; em sua dimenso poltica levantavam a bandeira da democracia representativa; na vertente cultural disseminavam a escola para todos e a promoo do indivduo, de sua liberdade e empreendedorismo.

    Claramente o formulava o missionrio presbiteriano Staniey W. Rycroft: O Cristianismo (Evangelho), com sua nfase no valor do indivduo e na liberdade do esprito humano sob a disciplina de Deus, o mais seguro alicerce para a liberdade e a democracia pela qual anseia a Amrica Latina.[2]

    Com este propsito, o Protestantismo histrico quer reproduzir na Amrica Latina, condies semelhantes s de seus pases de origem do hemisfrio norte. Para tanto, faz aliana estrutural (no intencionalidade subjetiva, mas dentro do jogo de foras sociais) com os setores mais avanados da sociedade latinoamericana, influenciados pelos ideais da Revoluo Americana e Francesa, do Iluminismo, do Positivismo e at da maonaria. Trata-se da burguesia nacional, da pequena burguesia urbana, rural e comercial.

    Este processo ocorre exatamente no momento em que ocorre a transio da sociedade latino-americana tradicional e colonial para a moderna e liberal. Explodem conflitos entre os velhos senhores e o novo sujeito histrico emergente. A Igreja Catlica se alinhava ao bloco histrico senhorial e colonial. Vai constituir um inimigo que deve ser combatido fortemente pelos protestantes, no s pelas diferenas confessionais, mas por sua funo social conservadora. Para o Protestantismo histrico, o Catolicismo Romano considerado a ideologia e estrutura religiosa de um sistema global, a caduca ordem hispnica senhorial, implantada na Amrica Latina, que deve ser varrida para dar lugar a uma nova ordem democrtica, liberal, ilustrada, dinmica, que o Protestantismo historicamente inspirou e qual a doutrina protestante de livro aberto e com juzo prprio abre o passo e sustenta.[3]

    Com efeito, o Protestantismo inovador diante do pacto colonial do Cristianismo (Igreja Catlico-Romana) com as foras

  • do Imprio ibero-lusitano. E representa um apelo a uma vivncia moderna da f em articulao com o esprito imperante de liberdade, participao democrtica e atualizao do processo produtivo.[4] Em termos religiosos, mostrava-se como f viva em contraposio f morta do Catolicismo, religio de tradies e exterioridades. Segundo Gonzalo Bez Camargo, Cristo na Amrica Latina foi o Cristo silencioso, diante do Cristo sem cadeados dos protestantes.[5]

    Por outro lado, deve-se reconhecer que a teologia protestante est ligada ao sujeito histrico liberal. O liberalismo se torna a ideologia do imperialismo dominador, criador de um centro e de uma periferia. Desde meados do sculo XIX se estabeleceu um neocolonialismo na Amrica Latina; o protestantismo que viera no seio dos ideais liberais se transforma em fator legitimador deste pacto neocolonial. Significa um avano diante da tradio colonial sustentada pelo trono e pelo altar.

    Mas cabe reconhecer: no libertador da estrutura fundamental de dominao. Os senhores mudaram, mas o sistema de sujeio e marginalizao do povo continua seu percurso. A mudana social que o Protestantismo favorecia era s reformista; beneficiava diretamente os estratos mdios e altos e bem escassamente as camadas populares, por via indireta. A transformao religiosa centrada na converso do corao, em uma f viva e em prticas ticas, apesar de personalistas, repercutia nos estratos modernos da sociedade. O povo continuava em sua religio popular e no drama de opresso social.

    Acertadamente dizia Octavio Paz: A ideologia liberal e democrtica, longe de exprimir nossa situao histrica concreta, a escondia. A mentira poltica se instalou em nossos povos assim constitucionalmente. O prejuzo moral foi incalculvel e atinge regies muito profundas de nosso ser. Vemo-nos na mentira com naturalidade. Por mais de cem anos sofremos regimes de fora a servio das oligarquias feudais, mas que usavam a linguagem da liberdade.[6] O Protestantismo histrico

  • mantm uma relao muito ntima com essa ideologia liberal e o faz de modo natural e inconsciente.

    Com a crise do projeto liberal, de um capitalismo dependente e perifrico na Amrica Latina, entrou em crise tambm a compreenso liberal do Protestantismo. Poder ser uma fora de libertao dos oprimidos?

    Jos Mguez Bonino, eminente telogo da libertao argentino, j falecido, formulou de modo consciente a seguinte tese: Poder o Protestantismo superar sua crise de identidade e misso se e na medida em que conseguir recuperar o papel subversivo que realizou no passado, mas na situao radicalmente distinta em que hoje nos encontramos.[7] Jlio de Santa Ana, ex-membro do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), e conhecido telogo uruguaio de libertao, hoje vivendo na Suia, postula uma encarnao da Igreja e do Protestantismo no mundo dos pobres, para ajudar em uma transformao profunda e global, uma verdadeira libertao dos oprimidos.[8] Rubem Alves, outro telogo da libertao, presbiteriano, tambm j falecido, distingue a funo ideolgica que o Protestantismo ocupou diante do liberalismo e sua permanente funo utpica como memria da fora libertadora do Evangelho. Nessa perspectiva, catlicos e protestantes esto se descobrindo como um s corpo em funo de uma esperana na Amrica Latina nova.[9]

    Na verdade, existe uma frente libertadora protestante de grande significao no processo global da prtica libertadora e da reflexo que se constri a partir dessa prtica. Cabe agora perguntar em que medida Lutero pode corroborar nesta misso. Walter Altmann, professor de teologia sistemtica de So Leopoldo, dedicou-lhe uma investigao minuciosa que ganhou ressonncia no mundo inteiro, Lutero e a Libertao(Atica: So Paulo 1994)

    2. Lutero libertador na Igreja, reformador na sociedade

    Queremos colocar a questo: at que ponto Lutero tem uma

    funo libertadora no processo histrico-social-religioso e at

  • que ponto em sua teoria e prtica propiciou uma interpretao legitimadora da modernidade que tanta opresso traria s grandes maiorias empobrecidas de nossa poca. Para responder a tal pergunta, necessrio se faria uma investigao muito minuciosa sobre o fenmeno-Lutero em si e sobre sua incidncia no conjunto de foras que vigoravam naquele tempo. Para isto no h tempo nem espao nesta breve reflexo. Mas tentarei esboar algumas linhas (incompletas) que nos podem ajudar a entender o desafio que os explorados nos lanam, a todos, como cristos e como Igrejas.

    Para refletirmos com certo sentido hermenutico, temos necessidade de um quadro mnimo referencial. Assumo a hiptese (que no cabe aqui aprofundar nem justificar) de que um fenmeno religioso como o de Lutero no pode ser analisado s com as categorias religiosas. Quem procura fazer uma anlise apenas religiosa acaba no fazendo sequer uma anlise religiosa. Isto assim porque o fator religioso (semelhantemente cultura, s ideologias, aos valores) jamais se constri sozinho, mas sempre em articulao com a histria concreta e as estruturas econmico-polticas de uma sociedade.

    Alm de seu carter especfico, cada fator tem seu ndice de eficcia prpria sobre os demais; podem ocorrer momentos em que o fator religioso parea dominante[10]; talvez seja este o caso da Reforma com Lutero. A Reforma antes de tudo um fenmeno religioso, mas no somente ; no campo religioso se revelaram todos os nveis de conflito que perpassavam a sociedade e a conscincia europia de ento. Com razo, diziaHenrique Hauser: A Reforma do sculo XVI teve o duplo carter de revoluo social e revoluo religiosa. As classes populares no se sublevaram s contra a corrupo do dogma e os abusos do clero. Tambm se levantaram contra a misria e a injustia. Na Bblia no buscaram apenas a doutrina da salvao pela graa, mas tambm a prova da igualdade original de todos os seres humanos.[11]

    sumamente emaranhada a questo das causas da Reforma.[12] Ningum se atreveria a reduzi-la a uns poucos fatores apenas. Mas o que podemos seguramente dizer que os

  • Reformadores, particularmente Lutero, responderam aos grandes anseios de seu tempo marcado por transformaes profundas atravs do descobrimento de novos continentes, com a colonizao de novas terras, a inveno da imprensa, a introduo de novos mtodos financeiros, a emergncia do humanismo e especialmente o grito de toda a Cristandade por reformas profundas na cabea e nos membros (in capite et in membris).

    Ante o campo especfico (religioso) dentro do qual se movia, Lutero efetuou um grandioso processo libertador. Ser ele para sempre uma referncia obrigatria para todos os que buscam a liberdade e sabem lutar e sofrer por ela. Hegel, com razo, considera a Reforma Luterana uma Hauptrevolution (revoluo fundamental), porque, com Lutero, comea a liberdade de esprito, liberdade que no apenas se reconhece, mas sumamente exigida.[13].

    Conquista-se essa liberdade rompendo com o cativeiro babilnico a que fora submetida a Cristandade sob a hegemonia da Roma dos Papas renascentistas que nunca primaram por bons costumes. Para identificar melhor a significao libertadora de Lutero dentro do campo religioso e da sobre os demais campos da realidade, urge considerar rapidamente o lugar da Igreja dentro da formao feudal e senhorial daquele tempo.

    a)Libertao do cativeiro babilnico da Igreja

    Na Europa semifeudal e mercantil dos sculos XV e XVI, a

    Igreja constitui pea fundamental. A S Romana, os bispos, particularmente na Germnia, tinham grandes interesses econmicos, polticos, jurdicos e militares. No se h de esquecer que o papa exercia grande poder temporal com inmeros pactos e benefcios. No regime semi-feudal e de burguesia mercantil ocorriam relaes de vassalos e sditos, de senhores e servos, de colonizadores e colonizados.

    Particularmente para manter submisso o campesinado, apesar das muitas sublevaes na Bomia, Subia, Frana e outras partes da Europa Central, no se recorria apenas

  • coero armada mas tambm persuaso religiosa.[14] Aristocracia feudal e sociedade burguesa mercantilista fizeram um pacto com o clero (que tambm tinha poder secular), de tal sorte que a Igreja se constitua na instncia central da reproduo da sociedade semifeudal e mercantilista. Isto significa: a Igreja, em sua multifuncionalidade, consagra e solidifica as relaes do status quo, de dominao. Essa especial funo da Igreja se exerce com eficcia mediante mil tipos de obras piedosas, devoes a Santos, indulgncias lucradas a dinheiro. Por exemplo, Lutero desaprovou o acmulo em uma igreja, no castelo de Frederico o Prudente, de 17.413 relquias cuja venerao, mediante pagamento, permitia auferir 128.000 anos de indulgncia.[15] Todo esse processo de coligao da ordem dominante com o clero tinha seu centro de animao e legitimao ltima na S Romana e no papado todo ele tomado por corrupes.

    Diante de tal situao, Lutero (que vinha de profunda crise espiritual, aliada a um desejo profundo de reforma em sua Ordem religiosa, os agostinianos, e na Igreja inteira) lanou o seu grito proftico. Insurge-se contra o que ele tantas vezes chama de tirania do papa.

    justificao pelas obras ope a justificao pela f.[16] Faz a inaudita descoberta da misericrdia ilimitada de Deus em Jesus Cristo crucificado. O homem no se acha condenado a cumprir leis e tentar por suas boas obras produzir a salvao. Portanto, sua misso neste mundo no consiste em ajustar-se e reproduzir todas as normas, com a convico de sua incapacidade visceral de faz-lo perfeitamente.

    Com a tese bsica da justificao pela f, Lutero introduz uma radical libertao, pois com isto quer dizer que o ser humano est livre de todas essas exigencies impostas pela Igreja dos clrigos a fim de estar livre para acolher a graa e a misericrdia como puro dom e oferecimento gratuito do Pai. Em conseqncia da graa e da pura f (ato englobante de toda a existncia , por isso, algo mais que simples adeso intelectual a um cdigo de verdades reveladas)[17], o ser humano produz boas obras. Porque bom produz obras boas; no bom

  • porque produz obras boas, ser uma afirmao bsica de Lutero[18] que a encontrou j no Mestre Eckhart.[19]

    A justificao pela f a expresso de incrvel liberdade interior conquistada por Lutero e arvorada como bandeira de libertao para os outros cristos. Em 16 de abril de 1521, quando Carlos V o convocou Dieta de Worms, convidando-o a abandonar sua proclamao, Luterores pondeu: No posso nem quero retratar-me, porque no bom nem sincero agir contra a prpria conscincia. Que Deus me ajude! Amm! Instado pela ltima vez pelo oficial que disse: Deixa tua conscincia, irmo Martinho: a nica coisa que no oferece perigo submeter-se autoridade estabelecida, Lutero recusou definitivamente.[20] Lutero no mostra deferncia servil a nenhuma autoridade terrena como ltima instncia; ltima instncia s pode ser Deus; e Deus um Soberano insubstituvel, e o papa Seu servidor.

    Os textos produzidos em junho (O papado de Roma), em agosto (Apelo nobreza crist da nao alem), em outubro (O Cativeiro babilnico da Igreja) e novembro de 1520 (A liberdade do homem cristo) produzem inegvel aura de libertao. Insistimos: evidentemente, a tematizao religiosa, mas o seu efeito tambm social, poltico, econmico, porque a Igreja perpassava todas estas instncias como a instituio bsica de coordenao, hegemonia e reproduo do sistema vigente.

    Na obra O papado de Roma define a intuio fundamental da eclesiologia protestante. A Igreja visvel (corpus christianorum) puramente humana e no pode identificar-se com o Corpo Mstico de Cristo. A Igreja de Cristo como o Reino que est dentro de ns, invisvel, espiritual e interior.

    Na obra tremendamente virulenta contra o clero e o papa Apelo nobreza crist da nao alem, na perspectiva da convocao de um Conclio para a reforma da Igreja, denuncia os trs muros dos romanistas que impedem a liberdade dos cristos:

    1) A superioridade do estado religioso sobre o civil (geistiicher Stand weltlicher Stand) mediante a qual o papa pretende dominar a todos. O poder na Igreja unicamente espiritual e significa funo de servio e permanece enquanto

  • realiza o servio; fora dessa insero diaconal, permanece e volta a ser leigo: O carter indelvel so palavras e leis inventadas plos homens.[21] Aqui que Lutero defende a vigncia permanente do sacerdcio universal de todos os leigos.

    2) O outro muro o direito que o papa se arroga de interpretar sozinho as Escrituras; Lutero, que dominava maravilhosamente os textos sacros (sua traduo da Bblia, genial na correo e simples no estilo, teve 84 edies no seu tempo e 253 depois de sua morte), afirma o direito ao acesso individual ao texto, a iluminao do Esprito em sua interpretao e assim quebra o monoplio da legitimidade de interpretao e abre caminho para o livre exame. Por fim.

    3) o terceiro muro, a pretenso do papa de somente ele poder convocar e reconhecer um Conclio. Na base de textos escritursticos e de testemunhos da Tradio, Lutero reivindica o direito dos prncipes de convocar um Conclio e urgir uma reforma na Igreja, inclusive para ensinar ao papa que ele um homem e no Deus, ao Qual deve manter-se submisso.[22] No Cativeiro babilnico da Igreja denuncia as formas como o corpo sacerdotal se apoderou dos sacramentos mediante os quais mantm na sujeio todos os fiis. Todos eles foram reduzidos a um msero cativeiro pela Cria Romana. A Igreja se viu privada de toda a sua liberdade.[23] Aceita e defende trs sacramentos como tais: o Batismo, a Penitncia e o Po. Os demais so ritos eclesisticos emf uno da vida e da organizao comunitria, que tm legitimidade como construes religiosas humanas, mas no como expresso da vontade divina.

    Para Lutero, o sacramento tambm Evangelium, isto , concretizao da Palavra da promessa. Sem o elemento sacramental, a promessa fica nuda promissio. Mas o sacramento jamais puro sinal, e sim um sinal que contm a promessa. Por isso, ainda segundo Lutero, no o sacramento (sinal) que comunica a salvao, mas a f no sacramento (que contm a promessa).[24]

    Quanto Missa, Lutero reivindica as duas espcies (po e vinho) para o povo e lamenta que se diga em latim, incompreensvel. O ministro no renova o sacrifcio da cruz, mas

  • comemora a promessa de perdo dos pecados, promessa confirmada pela morte do Filho de Deus Se promessa, no chegamos a ela por nenhuma obra, por nenhum esforo ou mrito, mas somente pela f (sola fides), pois onde est a Palavra de Deus que promete, a se faz necessria a f que constitui o princpio de nossa salvao.[25]

    O cativeiro que Roma imps a este Sacramento foi convert-lo em meio de negcio com missas votivas, encomendadas e sufrgios. Especialmente duro se mostra Lutero contra a Ordem como sacramento (apesar de aceitar o rito eclesistico para introduzir os ministros na comunidade): O Sacramento da Ordem tem sido e continua sendo uma belssima maquinao para consolidar todas as monstruosidades que at hoje se cometeram e ainda se cometem na Igreja. Aqui desaparece a fraternidade crist, aqui os pastores se transformam em lobos, os servos em tiranos, os eclesisticos em mais que mundanos Os clrigos no s creem que so mais que os leigos cristos, que so ungidos pelo Esprito Santo, mas at os consideram ces indignos de ser contados juntamente com eles na Igreja.[26]

    A liberdade do homem cristo um dos mais belos textos da tradio crist que Lutero, junto com uma carta, enviou ao Papa Leo X. Todo ele se articula em duas proposies: O cristo um homem livre, senhor sobre todas as coisas e a ningum submetido. O cristo um servo obediente a todas as coisas e submetido a todos.

    O livro uma apologia da libertao interior: o homem de f se sente livre de toda preocupao por sua salvao, por observar preceitos e outros imperativos, porque sabe que a salvao lhe oferecida gratuitamente por Deus. Em funo desse dom, tem mos e olhos e corao livres para trabalhar em prol de seusi rmos, por puro amor a eles.[27] A ltima frase de seu livro resume bem a perspectiva: O homem cristo no vive em si mesmo mas em Cristo e em seu prximo: em Cristo pela f, no prximo pelo amor Esta a verdadeira e espiritual liberdade crist, que liberta o corao de todos os pecados, leis e mandamentos, liberdade que supera qualquer outra liberdade, como o cu terra.

  • No De servo arbtrio (escrito em 1525, contra o De libero arbtrio, de Erasmo) mostra que a liberdade humana no pode afirmar-se diante de Deus; sua funo consiste em acolher a ao salvfica de Deus; por si mesma a vontade humana no pode nem consegue elaborar e sustentar sua relao com Deus[28]; esta provm da livre iniciativa da misericrdia divina. Mas nas coisas da vida neste mundo se exerce a determinao humana, e uma vez agraciada pode livremente colaborar com Deus na construo de Seu Reino.[29]

    Concluindo este item, devemos reconhecer que, apesar dos tremendos excessos verbais, juzos parciais e, por vezes, errneos, Lutero significa a presena da autntica profecia, exigindo converso e reforma de toda a Igreja. Soube colocar o Evangelho e a Cruz como marcos de referncia fontais para livrar a Igreja de todo o tipo de abusos do poder sacro e de manipulao das doutrinas a servio do dominium mundi.

    No se pode negar uma aura de liberdade que pervade os principais textos de Lutero e que se transformou em fermento de libertao no seio do corpus christianorum. Sabemos que Lutero jamais teve a pretenso de criar uma confisso crist paralela. Isto foi obra dos prncipes alemes a partir da Aliana de Torgau (1526), para enfrentar uma liga de prncipes catlicos, selada definitivamente em maro de 1551 pela Liga de Smalkalda.

    Quando se assinou a Paz de Augsburgo em 1555, j encontramos a Alemanha dividida entre Luteranismo e Catolicismo romano, sob o princpio cujus rgio, heujus religio.

    b) A apropriao do esprito protestante pelos novos

    senhores

    A atuao de Lutero foi libertadora dentro do campo religioso. A incidncia na poltica no seguiu a mesma lgica. A Igreja Romano-Catlica perdeu o monoplio religioso e passa a se reposicionar dentro de um campo religioso dividido; sua influncia social diminui e tem que enfrentar a competio no confessional e tambm no poltico da parte dos prncipes que se bandearam para o Luteranismo (boa parte das regies nrdicas).

  • Lutero mesmo no tinha condies de controlar o movimento que desencadeou. Nem sequer teve conscincia de sua incidncia scio-poltica; nem se lhe deve pedir, porque isto transcende os limites da conscincia possvel daqueles tempos recuados.

    Assim o dizia claramente Lutero: Meu Evangelho no tem nada que ver com as coisas deste mundo. uma coisa bem parte que tange unicamente s almas e no de minha competncia dar soluo e despacho aos negcios temporais; para isto, existem pessoas com vocao, o imperador, os prncipes e as autoridades. E a fonte de onde devem tirar sua sabedoria no o Evangelho e sim a razo, o costume e a equidade.[30]

    A falta de uma articulao consciente aparece ao irromper a Guerra dos Camponeses, liderados pelo pregador Thomas Mntzer (1489-1525).[31] A sublevao se insere dentro de um movimento maior que bem anterior Reforma. A situao dos camponeses no comeo do sculo XVI bastante boa.[32] Batiam-se pela reivindicao por mais direitos fundamentais no terreno scio-poltico, como se v no documento dos Doze Artigos. A seu movimento se associam, por isso, no s pequenos senhores, mas tambm abades, prncipes e bispos (Fulda, Bamberg, Espira).[33] Tendo que tomar posio, Lutero escreveu em abril de 1525 uma Exortao paz. Diz claramente aos senhores: No so os camponeses que se sublevam contra vs, mas Deus mesmo, e aos rebeldes: Quem usa a espada morrer pela espada; embora os prncipes sejam maus e injustos, nada vos autoriza a rebelar-vos contra eles.

    Lutero no em nvel poltico um revolucionrio.[34] Fundamentalmente respeitador do poder secular, porque v nele instncias institudas por Deus, a que se deve obedecer. Explicitamente em 1521, em Wartburg, se pronuncia contra a rebelio e a sedio: Eu me oponho e quero sempre opor-me aos que usam de violncia, por mais justa que seja, porque a rebelio no se satisfaz a no ser com a efuso do sangue inocente.[35]

  • Com razo, conclui o conhecido historiador Jean Delumeau: A revolta dos camponeses mostrou bem claramente a incompetncia poltica do Reformador. Especialmente o fez perder a f no povo organizado em comunidades. Desde aquele momento tendia a pedir aos prncipes a instituio do culto reformado. Ao Lutero da liberdade crist sucedeu o Lutero da Igreja do Estado (Landeskirche).[36]

    Para verificar a incidncia do religioso sobre o scio-poltico, deve-se perguntar pelos aliados que o movimento religioso evocou. No caso de Lutero, podemos seguramente dizer que mais que o povo pobre, foram os camponeses e servos da gleba, os prncipes, os humanistas e artistas (Drer, Cranach e Holbein) e os burgueses urbanos.

    O projeto histrico incrustado em suas prticas se orientou menos na linha de uma libertao, do que de acumulao de riquezas e privilgios. Max Weber mostrou a conaturalidade que vige entre Protestantismo e Capitalismo.[37] A vivncia da f em moldes protestantes funcional ao estabelecimento e expanso do modo de produo capitalista. Na medida em que o mundo ocidental se rege pela lgica do Capitalismo, podemos concluir que o Protestantismo se sente neste mundo como em casa, ao passo que o Catolicismo se percebe como no exlio. A ideologia protestante unifica a liberdade do indivduo, a democracia liberal e o progresso econmico como expresso do esprito protestante. Em suma: o mundo moderno fruto do Protestantismo.[38]

    A associao histrica do Luteranismo com os prncipes e a burguesia vitoriosa fez com que o Protestantismo incorporasse e assim legitimasse os interesses e ideais sociais desta classe.

    Paul Tillich, eminente telogo, vindo da sociologia, viu muito bem o enorme desafio posto ao Protestantismo moderno pelo proletariado e sua causa. Diz ele que sob muitos pontos de vista at parece que o Protestantismo e a situao operria no tm nada a ver um com a outra A situao proletria, na medida em que representa o destino das massas, refratria a um Protestantismo que, na sua mensagem, confronta a personalidade individual com a necessidade de fazer uma

  • deciso religiosa e a deixa entregue a si mesma na esfera social e poltica, considerando que as foras que dominam a sociedade foram ordenadas por Deus.[39]

    O famoso individualismo protestante se sente impotente e mudo diante de estruturas de injustia. Na medida em que no reflete evangelicamente sobre esse desafio, corre o perigo de mascarar os conflitos que atormentam os pobres e assim no trazer uma colaborao para a tarefa messinica de libertao dos condenados da terra.

    Voltando pergunta que pnhamos ao falar do Protestantismo na Amrica Latina, devemos dizer que se confirmam as suspeitas segundo as quais mal existe uma articulao, em nvel social, entre Protestantismo e libertao dos pobres. Ela existe na medida em que esta articulao deve ser montada a partir de algumas intuies de Lutero e especialmente de seu esprito francamente libertrio dentro da Igreja.

    3. O evangelismo protestante como fator de libertao dos oprimidos

    Em primeiro lugar, deve-se atentar bem para o fato de que a nossa situao se acha profundamente modificada quando a comparamos com a do tempo de Lutero. Naquele tempo a Igreja era a principal pea de reproduo do sistema social, de modo que as mudanas introduzidas por Lutero no campo religioso puderam repercutir imediatamente sobre o social. Hoje, a religio ocupa papel subsidirio.

    Em nossas sociedades de capitalismo, apesar de perifrico e excludente, a atividade econmica constitui a atividade central e organiza hegemonicamente todas as outras, produzindo imensa marginalidade para o povo empobrecido. Isto significa que uma possvel libertao no vem com mudana dentro do campo religioso sem uma explcita articulao com os demais, em nossa conjuntura, mais determinantes e dominantes. a partir do scio-poltico e em permanente conexo com ele que o fator religioso pode mostrar-se libertador. Queremos apontar

  • alguns pontos,ricos de contedo libertador, do evangelismo protestante. a) O princpio protestante

    Paul Tillich cunhou esta expresso[40], para exprimir a

    intuio fontal de Lutero: o princpio protestante. Ele se sublevou, em nome do Evangelho, contra a prepotncia do poder sagrado da Igreja dos papas e do clero, contra o condicionado que usurpava a condio de incondicionado, contra o histrico que se apresentava como divino. O esprito protestante desmascara os dolos religiosos e polticos e se recusa a simplesmente legitimar o status quo. Tudo tem de entrar em processo de converso e mudana, isto , deve libertar-se de todo tipo de opresso, para ampliar o espao da liberdade para Deus e para a ao livre do ser humano. O princpio protestante vai ajudar os prprios protestantes a se libertarem de seu moralismo burgus para se apoiarem no radicalismo evanglico, como o fez Lutero.

    b) Recuperao do potencial libertador do Evangelho

    A mais alta significao de Lutero foi sua profunda

    vinculao bblica e evanglica. Num tempo em que o Evangelho era presa das elites ilustradas e clericais, Lutero o resgatou como viva vox e o entregou s mos do povo. Na Amrica Latina, o Evangelho lido e meditado em centenas de crculos bblicos e milhares de comunidades eclesiais de base como a grande fonte de contestao proftica do sistema de explorao e de compromisso libertador. O potencial libertador das Escrituras emerge quando so lidas luz das perguntas que vm da conflitividade social e do grito do oprimido. Este intercmbio entre Palavra de Deus e palavra da vida empobrecida e humilhada recupera a atualidade permanente da revelao e da ao salvadora de Deus instaurando seu Reino contra as artimanhas do anti-Reino. Neste ponto Lutero uma referncia irrecusvel de libertao integral.

  • c) A f que deslancha obras de libertao

    Lutero nos ajuda a todos a entendermos que a libertao deslancha a partir do dom de Deus que antes de qualquer ato histrico, por parte dos homens, toma a iniciativa. Essa conscincia no desmobiliza as pessoas em seu engajamento de luta. Ao contrrio, as estimula com mais fora a se lanarem na produo de boas obras na medida em que libertam o prximo. Neste sentido, Lutero contrasta a fides abstracta vel absoluta (fora das boas obras) com a fides concreta, composita seu incarnata (ativa nas boas obras).[41]

    Em funo disto, pode Lutero falar de Cristo actuosissimus em seus membros que assimilaram as atitudes de Jesus Cristo e assim levam uma vida convertida e libertada.[42] Numa expresso concreta, sublinha que a f deslancha por meio das obras feitas a partir do dom e da misericrdia.[43] Essas obras hoje no se podem reduzir ao mbito da subjetividade sem repercutirem sobre as estruturas da sociedade.

    Para garantir eficcia ao que nasce da f, deve-se antepor uma anlise dos mecanismos produtores de opresso e definir os passos concretos que visam alibertao. Nisto, tanto os catlicos como os protestantes, devemos aprender a nos fazer discpulos de uma prtica teolgica diferente que saiba sem servilismos nem paralelismos articular o discurso da f evanglica com o discurso social da tradio crtica. dentro desta conexo que emerge o potencial libertador da f crist.

    Para concluir, queremos fazer nossas as palavras da Comisso Mista Catlico-Luterana Internacional, em seu documento de maio de 1983: Consideramos conjuntamente a Lutero como testemunha do Evangelho, mestre da f e voz que chama renovao espiritual.[44]

    Para ns, que vivemos na Amrica Latina, o Evangelho necessita ser vivido de forma libertadora, a f como produtora de um compromisso com os mais necessitados a partir da experincia da misericrdia primeira de Deus e da renovao espiritual como uma mstica que una f e poltica e construa a

  • comunidade a partir de baixo, dos mais humildes, para que seja deveras a comunidade messinica que prolonga a misso redentora e libertadora do Messias, cheio do Esprito, Jesus Cristo.

    Essa passo foi dado nos encontros do Papa Francisco com a Confederao Mundial Luterna Igreja na Sucia em 31 de outubro a 1 de novembro de 2016 onde irrompeu a possibilidade de uma reconciliao, respeitadas as diferenas, sempre em benefcio da humanidade e da salvaguarda da Me Terra e de nossa civilizao ameaada pela violncia intrnseca ao sistema anti-vida capitalista que tomou conta do mundo. Esta grave situao de nossa realidade mundial, tem facilitado a convergncia e a soma de esforos de todos os portadores da herana de Jesus na perspectica da justia, da paz e da preservao do Criado ou na linguagem do Papa Francisco no cuidado da Casa Comum(2015).

    Notas de rodap [1] Cf. Vrios, Protestantismo y liberalismo en Amrica Latina, San Jos de

    Costa Rica (DEI), 1983; E. Willems, Followers of the New Faith: Culture change and the rse of Protestantism in Brazl and Chile, Nashville, 1967; W. R. Reed, V. M. Monterroso, H. A. Johnson, Avanceevanglico en Amrica Latina, Dlias, 1970; Ch. L. DEpinay, El refugio de Ias masas: estdio sociolgico dei protestantismo chileno, Santiago, 1968; W. A. Csar, Por uma sociologia do Protestantismo brasileiro, Petrpolis, 1973.

    [2] Religin y f en Amrica Latina, Mxico, 1961, p. 10. [3] Cf. J. M. Bonino, Historia y misin. Los estdios histricos dei cristianismo

    en Amrica Latina con referencia a Ia bsqueda de liberacin, em Protestantismo y liberalismo en Amrica Latina, op. cit., p. 25.

    [4] Cf. R. Alves, Protestantismo e represso. So Paulo, 1979, p. 38-42: O protestantismo como vanguarda da liberdade e da modernidade. Alves exprime sua autoconscincia de um fiel protestante: Se perguntarmos histria: De que lado ests? Qual o teu destino? Ela responder: O catolicismo o passado de onde venho. O protestantismo o futuro para onde caminho (p. 38).

    [5] Citado por C. Alvarez, Dei protestantismo liberal ai protestantismo liberador, em Protestantismo y liberalismo en Amrica Latina, op. cif., p. 49.

    [6] Cf. El laberinto de Ia soledad, Mxico, 1974, p. 99. [7] Historia y misin, op. cit., p. 31. [8] Protestantismo, cultura y sociedad, Buenos Aires, 1970, p. 110-127. [9] Funcin ideolgica y posibilidades utpicas dei

  • protestantismo latinoamericano, em De Ia Iglesia y Ia sociedad, Tierra Nueva, Uruguai, 1971, p. 21.

    [10] Para toda esta questo, cf. a obra fundamental de O. Maduro, Religio e luta de classes, Petrpolis, 1981; ainda M. Godelier, Marxisme, anthropologie et religion, em Epis-tmologie et marxismo. Paris, 1952, p. 209-265; H. Portelli, Gramsci y Ia cuestin religiosa, Barcelona, 1977, p. 58-64.

    [11] Etudes sur Ia Reforme Franaise, Paris. 1909, p. 83. [12] Ainda clssica a obra de J. Lortz, Wie es zur Spaltung kam. Von den

    Ursachen der Reformation, em Die Reformation ais religioeses Aniiegen heute, Trveris, 1948, p. 15-105, ou ento em Die Reformation in Deutschiand I, Friburgo, 1949, p. 3-20; H. Loe-we, C.-J. Roepke (Hg.), Luther und die Folgen, Munique, 1983.

    [13] Vorlesungen ber die Geschichte der Philosophie III (Suhrkamp, Werke 20), Frank-furt, 1971, p. 49, 50, 51.

    [14] Cf. O. Maduro,A religio no regime semifeudal da Colnia, em Religio e luta de classes, op. cif., p. 87-90.

    [15] Cf. I. Delumeau, La reforma, op. cit., p. 32. [16] Cf. O. H. Pesch; Theologie der Rechtfertigung bei Martin Luther und

    Thomas von Aquin. Versuch emes systematsch-theologischenDialogs, Mogncia, 1967; Idem, Hinfueh-rung zu Luther, op. cit., p. 264-271.

    [17] Para uma exposio deste conceito de f em Lutero, cf. G. Ebeling, Lutero, un volto nuovo, Brescia, 1970, p. 145-159.

    [18] WA IV 3,28s; 56.3,13s; 4,11; 172.8; 268,4s. [19] Cf. Mestre Eckhart: a mstica de ser e de no ter (org. L. Boff), Petrpolis,

    1983. p.104-105; 111-114. [20] Citado por J. Delumau, La Reforma, op. cif., p. 35. [21] Segundo a ed. de Wilhelm Goldmann Verlag, Munique, 1967, p. 38. [22] Idem, ibd., p. 76. [23] Usamos a edio brasileira da Editora Sinodal, So Leopoldo, RS, 1982, p. 14. [24] WA VI, 572,11; 550,9.25. [25] Do cativeiro babilnico da Igreja, So Leopoldo. RS, 1982. p. 36-37. [26] Idem, p. 126-127.

    [27] Para toda esta questo, cf. W. Maurer, Von der Frehet eines Christenmenschen. Zwei Untersuchungen zu Luthers Reformationsschriften 1520-1521, Goettingen, 1949.

    [28] Para Lutero, a compreenso defendida por Erasmo de Roterd, sobre o livre-arbtrio, levava a uma excessiva autonomia diante de Deus. Assim definia Erasmo o liberum arbitrium: a fora da vontade humana mediante a qual se pode dirigir para aquelas coisas que levam salvao ou dela se afastam: Diatribe seu collatio de libero arbtrio I b, 10,7-10.

    [29] Quanto a este ponto, cf. WA XVIII, 695,29; 754,1-17; M. Seils, Der Gedanke vom Zusammenwirken Gottes und des Menschen in Luthers Theologie, Guetersioh, 1962.

    [30] W A XVII, 321.

  • [31] Cf. M. M. Smirin, Die Volksreformation des Thomas Mntzer und der grosse Bauernkrieg, Berlim, 1956; P. Althaus, Luthers Haltung im Bauernkrieg, Basileia, 1953.

    [32] J. Lortz, Die Reformation m Deutschiand I, op. cif., p. 322. [33] Idem, p. 324. [34] G. Casalls, Luther et 1Egise confessante, Paris, 1983, p. 82. [35] Citado por G. Casalis, op. cit., p. 82. Lutero era amigo de chefes da

    represso dos camponeses, como Felipe de Hessen, e lhes disse: necessrio estrangul-los. necessrio matar o co enlouquecido, que se lana contra ti: seno, ele te matar (em Contra as quadrilhas ladras e assassinas dos camponeses). Esta posio de Lutero se torna de difcil compreenso pelos oprimidos que no tm claramente o conceito de articulao da religio em uma sociedade de classes, religio que pode ser cooptada em funo dos interesses do grupo hegemnico. No seu Comentrio ao Magnificai Lutero mostra uma interpretao espiritualista, referindo-se aos ricos e poderosos e aos pobres e humilhados, nestas palavras: Os famintos no so aqueles que pouco ou nada tm para comer, mas aqueles que, voluntariamente, curtem privaes, principalmente se a isto so impelidos por outros por amor a Deus ou verdade. E d motivos para no considerar as diferenas rico-pobre: Deus no julga as pessoas pelas suas aparncias. Pouco lhe importa que sejam ricas ou pobres, que ocupem posies de importncia ou tenham situao social de menor projeo. O que Ele v o esprito que as anima. Na sociedade, sempre existiro privilegiados e deserdados. Os primeiros no devem apegar-se s vantagens de que gozam, e os segundos devem manter-se tranqilos: M. Lutero, O Magnificat, Petrpolis, 1968, p. 91-92; cf. tambm 82-87, o comentrio espiritualizante do versculo: derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Aqui se percebe a ausncia de uma anlise das classes sociais, historicamente constitudas, coisa que ultrapassava a conscinncia possvel no s de Lutero mas tambm de outros atores dos conflitos sociais daquela poca.

    [36] La Reforma, op. cit., p. 45. [37] A tica protestante e o esprito do capitalismo, Barcelona, 1969. [38] R. Alves, Protestantismo e represso, op. cit., p. 42, referindo a

    autoconscincia dos protestantes. [39] P. Tillich, .The Protestant Era, Chicago. 1962, p. 161.Leonardo Boff,

    telogo ecumnico, filosofo e escritor Leonardo Boff, telogo, filsofo e escritor Petrpolis, 21 de julho de 2017. -----------------------------------

    https://leonardoboff.wordpress.com/2017/07/21/500-anos-da-reforma-de-

    lutero-sua-relevancia-para-a-libertacao-dos-oprimidos/

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