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    le corbusierOS TRS

    ESTABELECIMENTOSHUMANOS

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    Coleo Debates

    Dirigida por J. Guinsburg

    Equipe de realizao Traduo: Dora Maria de AguiarWhitaker; Produo: Pliaio Martins Filho.

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    OS TRS ESTABELECIMENTOS HUMANOS

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    Ttulo do oiiginal francs

    L'UrbanUme der Troto tablissements Humalns

    $ Fondallon Le Corbusier

    2* edio

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    SUMARIO

    1. CONSTATAES FUNDAMENTAIS . . . 13A habitao e o deserto das cidades 15Subrbios, cidades-jardim e cidades tenta-

    taculares 21Revoluo arquitetnica e urbanismo mo-

    derno 27Doutrina dos transportes e ocupao dos

    territrios 532. UMA TICA DO TRABALHO 63

    Condies morais 65Condies materiais 71

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    3. OS TRS ESTABELECIMENTOS HU-MANOS 77

    Ocupao do solo 79A unidade de explorao agrcola 89

    A unidade rural 91A aldeia cooperativa 105O centro linear industrial 119A unidade industrial 121A fbrica verde 133A 4 quilmetros de um lado a outro da mo-

    radia recuperao 145

    A qualificao a cem quilmetros de dis-tncia 157O centro radioconcntrico de trocas 165

    4. REALIDADES 171Do oceano aos Urais 173O avio 181

    5. INCIDNCIA SOBRE PARIS 191As cidades 193Paris, vero, 1942 197Declarao de princpios 201As habitaes 205A circulao 211O Centro 217

    Estabelecimentos industriais 2236. A PRPRIA VIDA ABRE OS CA-

    MINHOS 235

    1. ESTUDOS DE URBANISMO 241

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    PRECISO DIZER SEMPRE O QUE SE V.E, O QUE MAIS DIFCIL, PRECISOSOBRETUDO SEMPRE VER O QUE SE V.

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    N. Bezard, J. Commelin, Condouin, J. Dayre, H.Dubreuil, Leyrits, Hanning, Aujames, De Looze partici-param em 1942, sob a presidncia de Le Corbusier, dos

    trabalhos da Ascoral (Assemblia de Construtores poruma Renovao Arquitetnica) que serviram de base tese da ocupao do solo pelos trs estabelecimentoshumanos.

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    . . . NAO A SABEDORIA E TODAS AS OUTRASQUALIDADES DE ALMA, GERADAS QUE FO-

    RAM POR TODOS OS POETAS E TODOS OSARTISTAS DOTADOS DE GNIO CRIADOR? E,ACRESCENTA DIOTIME, A MAIS BELA E AMAIS ALTA DAS FORMAS DE SABEDORIA A QUE SE EMPENHA NA ORGANIZAO DASCIDADES E DAS FAMLIAS; ELA DENOMINA-DA A PRUDNCIA E A JUSTIA.. .

    PLATAO O Banquete

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    Rjlke, numa carta sobre Paul Czanne, escrevia:

    "Um dia em que se discutia a situao presenteda indstria e outros assuntos, Czanne exclamou, comolhos furiosos: "Vamos mal... a vida assustadora..."

    Paul Czanne era pintor. Via todos os dias aspaisagens maculadas por novos atentados, as cidadesque explodiam sob um impulso irresistvel, com os su-brbios a encerr-las na feira. Sentia que uma crisesacudia o mundo e ia provocar o seu desmoronamento:paisagem, cidade, bem-estar, hbitos...

    Entretanto, a vida ser sempre a mais forte. preciso compreend-la e no ir contra ela.

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    O princpio de construo tradicional das casas(madeira, pedra, tijolo) com a fundao e poro enter-rados e duas paredes portantes, repetindo-se de formaigual em todos os andares, jamais cessou de ser apli-cado.

    Nos tempos do cavalo e do carro de boi, as aglo-meraes se constituam de ruas costeadas de casas,assim construdas: andar trreo e, s vezes, um andarsuperior, cujas janelas principais davam para o interiorde quadrilteros formados por quatro ruas sobre

    jardins.As velocidades vinte vezes maiores (100 quil-

    metros por hora) substituram a velocidade imemorial

    do passo do homem ou do passo do cavalo, ou doboi, do burro... Em cem anos, uma civilizao nas-ceu, subvertendo tudo sua passagem. A medida hu-mana foi transgredida, ultrapassada, talvez perdida.

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    Uma parte das fachadas abre-se para a rua,a outra para o ptio. Resultado: a ilhota a serconstruda e a rua-corredor.

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    Com o progresso da indstria, os campos se esva-ziaram ao mesmo tempo em que se operava um gi-gantesco desenvolvimento das cidades (a populao da

    regio parisiense passou de 2 500 000 habitantes (em1851) a 7 500 000, atualmente; em Nova York, apopulao passou de 125 000 (em 1820) a 8 milhes,hoje ou 13 milhes com os subrbios).

    A concentrao ocorrida no centro das cidadesfez com que se construsse, sobre o andar trreo dascasas da poca do cavalo e do carro de boi, sete ou

    oito andares, enchendo-se os jardins de construes damesma altura.As cidades, onde o automvel apareceu, torna-

    ram-se desertos de pedras e de asfalto, no barulho e notdio, com as condies da natureza abolidas e esque-cidas.

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    O sonho da evaso incrustou-se em cada corao:fugir do tumulto da cidade, abrir os olhos para umpedao de cu, perto de uma rvore. Centenas de pe-quenas casas simbolizam este sonho desesperado de

    ser, se no livre, pelo menos senhor de seu destino.Disse um ministro: "Diante da porta de cada ha-bitao instalada na natureza passaro o metr, osnibus e os caminhes".

    Esta teoria, nas cidades-jardim da Inglaterra, dosEstados Unidos, criou a desarticulao do fenmenourbano.

    O campo circundando as cidades tornou-se assimo subrbio, esta zona imensa, estendida para to longe,em toda volta, desenvolvida sem plano e sem ligaoverdadeira com a aglomerao.

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    A desarticulao do fenmeno urbano com ascidades-]ardim e os subrbios.

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    Os subrbios so a borra das grandes cidades.Estas, sedes de uma populao indecisa, voltada misria e s doenas, foram inundadas no decorrer dos

    sculos XIX e XX por uma escuma freqentementedez ou cem vezes mais extensa do que a cidade queela encerra.

    Para vencer a lepra dos subrbios, inventou-seeste disfarce: as chamadas cidades satlites.

    Estabeleceu-se, ento, o inferno das circulaes:os pontos de trabalho oferecem um belo espetculo de

    conflitos explodindo numa rede de ruas preexistentes ede nenhuma forma preparadas para responder a esteassalto.

    Os subrbios e as cidades satlites representam,a cada dia para os habitantes, horas perdidas de metrou de nibus em detrimento de toda a vida coletiva.Mas as horas perdidas no transporte nada representamtendo em vista a parte da renda nacional destinada aopagamento desta heresia. Os milhes de pequenas casasdos subrbios e das cidades-jardim exigem um incon-tvel aparelhamento, uma rede inextricvel de estradas,de vias frreas, de vigilncia e de servios pblicosdiferentes, de canalizao prpria de gua, de gs, deeletricidade. Isso pago por cada um de ns com otributo cotidiano de trs ou quatro horas de trabalho

    que se tornam, por causa disso mesmo, estreis.

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    As cidades satlites: o desperdcio e o infernodas circulaes.

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    grande disperso de pnico, uma lei natural deveser oposta, aquela que faz os homens se agruparempara se ajudar mutuamente, se defender e economizarseus esforos. A revoluo arquitetnica, com a inter-veno do vidro, do ao e do concreto armado, permi-tiu as solues necessrias. O uso secular: fundaes

    macias, paredes portantes espessas, aberturas de ja-nejas limitadas, solo inteiramente atravancado, cober-tura impossvel de ser utilizada, necessidade de repetirdivises idnticas em todos os andares, substitudapor uma nova tcnica: fundaes concentradas, supres-so das paredes portantes, possibilidade de dispor detoda a fachada para iluminao, solo livre entre delga-dos pilotis, cobertura constituindo um novo solo parauso dos moradores.

    A casa no se apoia mais sobre paredes, mas sobrepilares (menos de um milsimo da superfcie coberta).

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    Surge a liberdade total: estrutura independen-te, fachada livre, solo liberado e conquistadosob a construo.

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    O solo no tocado em'seu conjunto. O primeiropiso fica 3 metros acima do solo, deixando livre oespao, sob a casa, entre os pilotis.

    Estando as moradias reunidas em altura, sua con-centrao, ao mesmo tempo que assegura uma grandedensidade de habitao, ocupa somente uma- pequenaparte do solo. As "unidades de habitao de tamanhoapropriado", assim constitudas, com 50 metros dealtura, distam de 150 a 200 metros umas das outras,e so implantadas em funo do sol e do stio numparque de vegetao.

    Uma unidade de habitao aloja 1 600 pessoase cobre 4 hectares. Para o mesmo nmero de habi-tantes, alojados em cidade-jardim horizontal, seria pre-ciso 320 "pequenas casas" cobrindo 32 hectares. Adensidade de 400 habitantes por hectare para umaunidade de habitao, ao invs de 50 para as pequenascasas.

    Uma cidade do tipo "cidade radiante" constitudapor unidades de habitaes cobriria somente 25 hecta-res, enquanto que uma cidade-jardim exigiria 200.

    Uma nova biologia do domnio construdo apa-rece. Os rgos e as funes necessrias realizaode um dia agradvel, til e propcio, se inscrevemnesta nova forma de habitat. O imvel se ergue emum parque, que contm os terrenos de esporte, ascreches maternais, as escolas primrias e o clube. Elese presta a mltiplas criaes coletivas, teis ou indis-pensveis vida harmoniosa de seus habitantes.

    Desta forma, as coisas estaro novamente na es-cala humana. A natureza foi novamente tomada emconsiderao. A cidade, em lugar de se tornar uma

    pedreira impiedosa, um grande parque, onde o urba-nista distribuir as unidades de habitao de tamanhoideal, verdadeiras comunidades verticais.

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    O deserto das cidades.

    O exlio e a desiluso das cidades-jardim.

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    A cidade verde - Sol espao verde.

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    h,stes volumes construdos da cidade verde pode-

    ro se estabelecer de diferentes maneiras: para a ha-bitao: ) tipo denteado; b) tipo em Y; c) tipo fron-tal; d) tipo lmina; e) tipo degrau. E para os negcios:

    />) tipo Y; /) tipo lente.

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    Os novos volumes construdos transformam a ci-dade e a condio dos homens. Segundo o iugar, hum modelo diferente. A prpria moradia pode pre-tender os esplendores da arquitetura.

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    Cidade; daqui por diante sem barreira. O edifcio descolado do soio. O corte revolucionrio modernoconcilia o edifcio ao solo pelo espao livre, o vazio,a passagem possvel, a luz e o sol sob a casa. Os pilaresde concreto armado tornaram-se os pilotis.

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    O solo estando livre sob as casas, a rede inteirados caminhos dos pedestres se desenvolve sem obst-culo sobre o terreno.

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    ] Pedestres sob os pilotis.2 . Estacionamentos de automveis.3. Com acesso de via expressa horizontal a 5

    metros acima do solo.4. A via expressa elevada.

    5 . A via expressa retoma contato com o solonatural.6. A via expressa desaparece numa trincheira

    (perfis em 7,8 e 9).10. Cruzamento por simples rotao.11 . Encontro de uma estrada transversal e de uma

    grande estrada.

    12. Trevo.As estradas da cidade verde so classificadas.

    10% do solo destinado aos pedestres.

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    O impossvel tornou-se possvel: conseguiu-se aseparao do pedestre e do automvel. . .

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    Sol. Espao. Vegetao.Os imveis so colocados na cidade atrs do ren-

    dilhado de rvores.A natureza est inscrita no arrendamento. O pacto

    foi assinado com a natureza.

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    Uma doutrina de transportes pode, portanto, exis-

    tir e ser hoje aplicada. "A regra dos 7V" estabelecidaem 1948 a pedido da UNESCO constitui um sistemasangneo e respiratrio. As "7 vi as" tornam-se os tiposhierarquizados capazes de regular a circulao mo-derna.

    VI estrada nacional ou de provncia, atraves-sando o pas ou os continentes;

    V2 criao municipal, tipo de artria essencialde uma aglomerao;V3 reservadas exclusivamente s circulaes

    mecnicas, no tm passeios; nenhuma porta de casaou edifcio abre-se sobre elas. Semforos so colocadosem cada 400 metros, permitindo assim aos veculosuma velocidade considervel. A V3 tem, por conse-

    guinte, uma criao moderna de urbanismo: o setor.V4 rua de comrcio de setor;V5 penetrando no setor, ela conduz os ve-

    culos e os pedestres s portas das casas, com a ajudaainda da V6;

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    A irrigao dos territrios pela 7V.

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    V7 via alimentando em toda a sua extensoa zona verde, onde esto as escolas e os esportes;

    A V8 veio depois, canalizando as bicicletas.Uma aplicao total da regra dos 7V foi feita emChandigarh, nova capital do Punjab na ndia, emconstruo desde 1951.

    O setor uma conseqncia da V3 assim comoum arranjo moderno do quadrado espanhol (vindo daRoma antiga) que recebeu o traado das cidades ame-ricanas.

    O setor de fato um primeiro estgio da orga-nizao urbana moderna. Ele pode conter de 5 000 a20 000 habitantes. destinado somente habitao,mas possui sua rua de comrcio com os artesos, aslojas, os divertimentos dirios, o mercado do setor ligado aos mercados centrais (a coleta e a distribuiodas mercadorias com controle de preos e de quali-

    dade).A V4 atravessa o setor e pode se alinhar com aV4 dos setores contguos, realizando assim uma con-tinuidade da rua de comrcio.

    O setor atravessado perpendicularmente na V4pela V7, onde esto as escolas, os esportes etc. (a ju-ventude).

    A disposio e a hierarquia das V7 permite rea-lizar aglomeraes residenciais do tipo "cidade verde",garantindo s crianas a segurana total dos jogos edo repouso, longe da presena dos veculos.

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    Os transportes mode/nus propem a ocupao ra-cional dos territrios, condicionados pelas vias de pas-sagem naturais, as estradas de rodagem e de ferro e asvias fluviais, que sulcam uma regio, um pas ou umgrupo de pases; h ainda a quarta estrada, a via area,que acaba subvertendo ou confirmando o traado dasestradas precedentes.

    Ao longo dessas estradas, trs aglomeraes con-tinuam estritas e precisas em suas atribuies, suasfunes, seu equipamento e sua atitude:

    1. As aglomeraes rurais revitalizadas.A aldeia rural (em V) revitalizada pelo seucentro cooperativo (S), seu centro de esporte e de

    juventude (N), sua indstria de complemento (R).2. As aglomeraes industriais (transformao

    das matrias-primas) ao longo das estradas de passa-gem das mercadorias.

    A aglomerao industrial se estende no meio devegetao, seus centros residenciais a seguem passo apasso.

    3. As aglomeraes urbanas (pensamento, co-mando, artesanato) em lugares inscritos sobre o ter-reno pela histria.

    A aglomerao urbana tratada "como cidade ver-

    de", com unidades de habitao de 100, 200, 500 000,1 milho ou 2 milhes de habitantes, abranger em seumeio o centro cvico. A cidade, sem nenhuma margem,pra a pique sobre os campos.

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    A organizao, a ocupao do solo pelodomnio construdo e seus prolongamentos,os problemas da circulao foram os objeti-vos da Ascoral (Assemblia de Construtorespara uma Renovao Arquitetnica), criada

    em Paris em 1942 e presidida por Le Cor-busier. Ela teve, em razo das circunstn-cias, uma existncia um pouco clandestina.A Ascoral, que se dividia em onze setores detrabalho, reuniu-se de quinze em quinzedias durante um ano. Em 1943 aparecia naslivrarias uma pequena obra que, sob o ttuloOs trs estabelecimentos humanos, mostravaas concluses essenciais desses trabalhos.

    b 1

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    A sociedade moderna, legatria das mquinas in-troduzidas h cem anos na existncia humana, entraem uma civilizao que no nem pastoral, nem guer-reira, mas voltada ao trabalho. O trabalho apossou-sede todas as engrenagens sociais, e ningum escapa

    sua fatalidade. Abominao e maldio! exclamaramalguns. preciso responder: civilizao feliz de umtrabalho que a todos dispensa bens teis. Querer eva-dir-se de nada serve; melhor considerar o trabalhocomo esta parte eminente de nossa vida qual con-sagramos, cada dia, as mais belas horas de sol, e issodurante todos os grandes anos da maturidade e dapotncia: de quinze a cinqenta e cinco anos. Nasdores desses cem primeiros anos de mecanicismo, otrabalho, algumas vezes, enegreceu tanto as conscin-cias e os lugares, que ele foi, com tudo que o acompa-nha, considerado como uma provao: trabalho-casti-go, trabalho-resgate, trabalho inumano. Voltando doefeito s causas, a Ascoral descobre, ao contrario, naarquitetura e no urbanismo, os meios materiais de fazer

    passar idias de ordem e de entusiasmo criativo nocomportamento e nos atos humanos, e isso, precisa-mente, a ttulp de trabalho permanente ao docotidiano e da vida.

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    CONDIES MORAIS

    Este captulo foi redigido por Hyacinthe Dubreuieconomista e socilogo, antigo operrio e contramestre

    da indstria automobilstica.

    primeira vista, pode parecer que no existerelao entre os problemas de organizao do traba-

    lho propriamente dito e as preocupaes da arquite-tura; H no entanto uma flagrante analogia. A arqui-tetura se prope escolher e dispor os materiais a fimde criar um conjunto ao mesmo tempo til e harmo-nioso. A organizao igualmente se prope a escolher

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    homens e coloc-los em determinadas posies a partirdas quais se estabelecer, tambm entre eles, um equi-lbrio harmonioso. A organizao assim uma espcie

    de arquitetura ideal, cujo conjunto impressiona tobem os espritos que at o menos abstrato levado aempregar correntemente a expresso "edifcio social".

    Por isso as duas atividades se encontram a cadainstante, pois se uma se preocupa em saber como ohomem vai agir, a outra se prope a organizar oslugares onde ele vai viver. Sendo o lugar ento um

    dos elementos do "meio", compreende-se como ascondies do ambiente humano completam as do am-biente material. assim que em sua procura a fim decriar as melhores condies da vida do homem LeCorbusir levado a escrever:

    "O instrumento de medida Ascoral um deter-minado quantum de felicidade, de alegria de viver. Que

    tudo seja organizado para que o trabalho seja encaradono como um castigo, mas ao contrrio como umaocupao capaz de despertar, na maioria dos casos, ointeresse de quem a ele se dedica."

    Que tudo seja "organizado". A expresso talvezinesperada na pena de um artista. As pessoas que nor-malmente querem tudo organizar so bem conhecidas:so os economistas. Espritos sistemticos que se em-penham em estudar os meios de nos garantir os bensmateriais que nos so realmente necessrios, emboraesqueam um elemento essencial da vida, um elementocuja presena o instinto, a intuio do artista exige.Em sua "ingenuidade", na verdade, o artista ousa rei-vindicar a "felicidade".

    o artista que tem razo. Porque, se ele re-encontra a filosofia proudhoniana e a ela adere falandodo "interesse" do trabalho, ele exprime tambm, pelarepetio, o mais fundamental ensinamento que jamaisfoi dado aos homens para traar o rumo de sua exis-tncia: a saber, que "nem s de po vive o homem".

    Sendo a felicidade geralmente considerada comouma noo vaga, podemos entretanto tentar abordar oseu exame, seguindo simplesmente o fenmeno da vida.

    O mais elementar dos seres vivos procura logouma 'felicidade" sua medida.

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    Ele quer antes de tudo viver. Quer viver, isto 6,"perseverar no seu ser", como diz o filsofo. E, natu-ralmente, preciso que persevere primeiro no seu ser

    material por meio da alimentao e da assimilao.Antes de absorver a alimentao, preciso primeiroque a tome e, para tom-la, necessrio dirigir-se aela. Esta direo a primeira forma da idia associadaao ato. a primeira manifestao do pensamento.

    E se, a este ser que quer viver, faltar alimentos,ele sentir uma dor especial: a fome. Mas notemos

    que o hbito de pensar logo vai criar uma nova neces-sidade, que ser a de uma atividade da inteligncia,mesmo elementar. Esta inteligncia vai sentir neces-sidade de agir, como o estmago tem a de assimilar.Quando um homem, digamos mesmo mais precisa-mente um trabalhador, colocado em posio de exer-cer uma atividade sem que sua inteligncia seja chama-

    da a associar-se aos seus atos, esta inteligncia "temfome".Eis um termo que pode parecer estranho. Mas, se

    nunca o empregamos, porque lhe damos outro nome: fome da inteligncia ns chamamos tdio.

    Pode-se ter certeza de que os trabalhadores moder-nos a conhecem, esta outra fome que, revelia doseconomistas, desempenha um papel to grande emnossas dificuldades sociais. Muitas vezes, por certo,falta ao operrio o necessrio, mas muitas outras ve-zes, e sobretudo, ele se entedia. O mundo do trabalho:a est o verdadeiro "mundo onde a gente se entedia",e sem dvida preciso ter trabalhado nas tristes con-dies da indstria moderna para apreciar plenamente

    a lentido com que o ponteiro gira, quando se esperao instante em que marcar a hora da fuga.Como este espetculo no esclareceu jamais aque-

    les que se interessaram pelo trabalho a fim de alivi-lo?Quase todos cometeram um terrvel engano: "J queo trabalhador acha seu trabalho to 'longo', dizem eles,vamos ajud-lo a encurt-lo". Da o longo e sistem-

    tico esforo, ao qual os trabalhadores naturalmente seassociaram, para diminuir a durao do trabalho. Su-pondo-se que a felicidade deva estar l onde no semaldiga mais a lentido do relgio, isto , longe do

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    trabalho, alm da soleira da oficina, esta soleira setornava uma espcie de fronteira da felicidade.

    Sem se aperceber de que dissocivamos assim a no-o da felicidade da noo da ao. Por que no otrabalho a ao por excelncia? O homem no feitopara agir? E a ao verdadeira, na qual o ser pode en-contrar o desabrochar completo da vida, se inscreverna ociosidade e no repouso que seguem normalmenteo trabalho, no fim do dia e no declnio da jornada?

    Sabe-se que a preocupao do "lazer" e "da uti-lizao do lazer" ocupa um grande lugar no esprito

    de muitas pessoas que pensam mostrar a extenso e ovalor de suas preocupaes sociais. Mas elas incorremde fato em uma contradio singular, colocando otempo da felicidade e do desabrochar do ser fora docurso da natureza.

    O homem feito para agir. A vida contemplativado eremita no concebvel a no ser que outros tra-

    balhem precisamente para tornar esta inao poss-vel. . . Msculos, crebro e sentidos so feitos parafuncionar e no para uma vida vegetativa. Mas no s isso: eles so feitos para funcionar em harmoniacom toda a natureza e particularmente com este granderegulador de toda vida que o sol. O homem feitopara agir na luz, luz natural, e seu repouso deve tam-

    bm coincidir com o da natureza, isto , com as horasem que o sol desceu abaixo do horizonte.Diz-se normalmente ao trabalhador: "Sim, meu

    pobre amigo, bem triste ser obrigado a trabalhar. Mas uma obrigao inevitvel. Faremos tudo o que forpossvel para reduzi-lo ao mnimo e, quando terminar,ento cultivaremos sua inteligncia, faremos de vocum homem".

    Como a cultura compreendida por eles atravsdo modelo da cultura do homem de gabinete, o sonhoda maioria dos nossos socilogos de educao bur-guesa transformar todos os homens em homens degabinete. Eles querem transformar o mundo suaimagem. Sabe-se que esse o caso de tantos pais queno imaginam vida mais bela para seus filhos que umavida calcada exatamente nas suas.

    Existe, alm do mais, nesta concepo um errodifundido quase que universalmente entre as pessoas

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    cultivadas, ou antes, instrudas, que consiste em con-fundir instruo com educao. Se realmente a instru-o pode ser dada fora do trabalho propriamente dito,

    notadamente pelos cursos e pela leitura, meios fami-liares s pessoas "instrudas", a educao, isto , aconquista da sabedoria, s pode ser completamenteadquirida somando-se a todos os meios da cultura asprovaes salutares da vida e da ao.

    Mas sobretudo suficiente contemplar a marchado sol para compreender at que ponto nossa vida

    inseparvel deste grande ciclo. Parece que a Antigi-dade o compreendeu bem, ornando o fronto do Par-thenon com uma alegoria to bela do dia e da vida. esquerda o carro de Hlio elevando-se acima das on-das; depois, ocupando o grande vazio do fronto, alenda do nascimento milagroso de Atena cujo espritovai doravante guiar um povo Palas-Atena saindotoda armada do crebro de Jpiter. direita ento,marcando o fim do dia, o carro do sol mergulha nomar, que sepulta os cavalos at as narinas. Uma admi-rvel cabea de cavalo, parecendo descer abaixo dofronto em seu ngulo extremo, exprime maravilhosa-mente a idia do ocaso do astro e do seu sepultamentona noite.

    Eis, postos em evidncia, os limites da verdadeiravida. por isso que a realizao de um programa socialno pode ser concebida alm da rbita do sol, isto ,fora das horas de ao. na ao que se deve encon-trar o desabrochar e a liberdade, sim, a liberdade, quenos recusaremos a procurar fora do trabalho. Uma li-berdade que alis, e contrariamente crena comum,no incompatvel com a organizao e a estrutura da

    indstria moderna.

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    CONDIES MATERIAIS

    De uma perspectiva sumria, viver desempenhar

    diversas funes, materiais ou espirituais, que fazem oencadeamento das horas e dos anos. A vida passa:viveu-se bem ou na mediocridade. Ofuscantes sucessospodem ter iluminado esse incansvel desenrolar deacontecimentos comezinhos; uma disposio feliz ouinfeliz das contingncias pde fazer a vida montonaou encantadora.

    A vida terrivelmente cotidiana; ela rel seu ri-tual a cada nascer do sol. Esse ritual composto deatos simples, de atos correntes da vida. Se o sol esttodos os dias em sua casa, ele est tambm um pouco

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    no seu corao, mais talvez do que voc pensa. ACARTA DE ATENAS dos CIAM1 proclama: "Asmatrias-primas do urbanismo so o sol, o espao, overde..." Ela manifesta assim o desejo dos CIAM de

    reintroduzir, na existncia dos homens, as "condiesda natureza", abandonadas, perdidas, esquecidas."As condies materiais, onde se escoam os dias

    e os anos da vida, agem sobre o fsico e sobre o mo-ral relaes psicofisiolgicas indissoluvelmente uni-das, todas ligadas a fatos materiais e todas enfim nosdeixando vontade ou constrangidos. Habitar, traba-

    lhar, cuidar de seu corpo ou deix-lo no abandono.Parece natural que uma sociedade tente a aventura po-sitiva rejeitando as causas que a levariam aventuranegativa. Estas causas, em grande parte, dizem respeitoao campo da arquitetura e do urbanismo: alojamentodos seres, coisas e funes, distribuio do tempo, pre-sena ou ausncia de dispositivos provocadores de aes

    teis ou estreis.Admitimos, neste estudo, julgar o trabalho desen-volvido durante o decorrer do dia solar e tambm du-rante a vida.

    Cada dia um ciclo se completa, relacionando casa,trabalho e recuperao.

    Num ritmo mais elstico, outro ciclo, feito deacontecimentos regulares ou intermitentes, carregacasa, trabalho e qualificao.

    Expliquemos estes dois termos "recuperao" e"qualificao", chamados para servir de trampolim aimportantes propostas arquitetnicas ou urbansticas.

    Em suas funes cotidianas, produzindo movi-mento, pensamento e ao, o ser consome energia, con-some tecidos ou valores diversos. O grande recuperador

    o sono cotidiano: ele repousa. A natureza havia ins-taurado, no processo de desenvolvimento da espcie,uma ntima interdependncia entre o homem e seumeio, assegurando assim, muscular e neurologicamente,um jogo frtil de reaes favorveis manuteno damquina humana: o caminhar, a corrida, a luta ou ocombate, as violncias ou as amenidades do clima ou

    - das estaes. Uma diversidade era imposta, colocando

    (1) LA CHARTE d'Athnes. Reedio em 1957, coleo Les CahiersForces Vives, ditions de Minuit.

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    o homem em permanente estado de acomodao, dedefesa, diverso, fortalecimentp, recuperao.

    O trabalho moderno, ao contrrio, levou aos pou-cos vida sedentria, afastando os seres de seu meionatural, empobrecendo e limitando perigosamente suasatividades corporais, seus exerccios fsicos, seu estadode combatividade, sua capacidade de adaptao aoscontrastes do meio ambiente. Criou-se um meio niti-damente artificial, carregado de tenso nervosa. Ocorpo msculos e nervos no se adaptavam maisa ele, tornando-o solto, desligado das condies da na-

    tureza.Os mtodos da organizao cientfica do trabalho,

    alavancas imperiosas da qualidade, assim como daquantidade, no deixam de provocar reaes ntimase s vezes perigosas no comportamento daqueles cujosatos so por eles regidos. Mecanizao de gestos re-petidos, atrofia do pensamento motor.

    fcil compreender por que os CIAM, elaboran-do um cdigo de urbanismo, ligaram de maneira deci-siva o que o desenvolvimento do fenmeno mecani-cista havia separado e desvirtuado, as trs funesessenciais: habitar, trabalhar, cultivar o corpo e o es-

    prito.Outras tantas realidades, que s poderiam ser

    atendidas por dispositivos precisos da arquitetura e dourbanismo, aptos a constituir o quadro slido e geradorde sade dos atos cotidianos, uma recuperao diriaindispensvel: ar salubre, esporte prximo s casas,cultura fsica, organizao de "unidades de sade",disposies favorveis eugenia e puericultura, ins-tituies para ajuda adolescncia etc.

    A "qualificao" esta tendncia para o melhor(um melhor que no se definiu aqui e que se presta discusso), que agita a alma e o esprito e que cons-titui a alavanca primordial dos atos da vida.

    A qualificao hoje, mais do que nunca, a pos-sibilidade que se oferece a cada um de sobressair. Fe-nmeno capaz de pr em ao pior, assim como o

    melhor, daquilo que jaz no fundo da conscincia. Ascastas desapareceram, as classes se aproximam. Aepopia do trabalho oferece a cada um sua oportuni-dade. preciso, no entanto, que o acesso a essa opor-

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    tunidade no seja interditado, ou transformado emiluso pelo jogo dos mais intrincados obstculos a eleinerentes. Podem ser tomadas disposies que, ao invsde tir-las, ofeream oportunidades a todos. Essas dis-

    posies geram o tempo como o lugar, as horas dispo-nveis como os lugares acessveis e locais organizados.Projetos de urbanismo cuidaro disso. Porque aqueleque deseja deve poder agir com eficcia, em um tempoe prazo que possam entrar no quadro da vida corrente.

    Para esta recuperao, para esta qualificao, osprincpios diretores devem ser reconhecidos. Ns dis-

    semos: "condies da natureza" e "oportunidades dequalificao". As condies da natureza sero portantorestabelecidas na vida cotidiana:

    1.) Pela implantao da habitao, no maisnos subrbios das cidades, nem nos quarteires sacri-ficados, mas em zonas verdes, escolhidas por sua inso-lao, sua vista, sua proximidade da gua, campos e

    bosques, assim como de terrenos que se prestem prtica de esportes.2.) Pela. implantao de indstrias (falamos

    aqui das indstrias de transformao, excludas as deminerao) no mais nas cidades ou nos arrabal-des, mas em "zonas verdes" escolhidas por sua orien-tao, sua vista, e antes de tudo, em contato imediatocom as vias de acesso de matrias-primas (vias nave-gveis, estradas de rodagem, de ferro, existentes ou aserem criadas ou conjugadas).

    3.) A moradia e o trabalho a casa e a f-brica situadas de tal maneira uma em relao outra, que ser geralmente suprfluo considerar osmeios mecnicos de transporte de pessoas (para osempregados e operrios); mas caminhos muito bem

    planejados acolhero as massas que iro a p a 4quilmetros por hora de suas casas ao trabalho evice-versa.

    4.) Todas as modalidades de esporte, cientifi-camente supervisionado, sero proporcionadas a todosos paladinos da cidade industrial. Esporte prximo moradia, assim como as distraes correntes, cinemas,

    salas de reunio e de conferncias, biblioteca etc.5.) As fbricas podero ser concebidas como"fbricas verdes". Por fbricas verdes, entende-se uma

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    nova concepo dos lugares de trabalho, satisfazendoaspiraes profundamente humanas, hoje ridiculariza-

    das, a saber: salvaguardar a segurana fsica e moraldo operrio, a salubridade, o raiar de um ambienteluminoso, limpo, harmonioso.

    6.) As aglomeraes industriais evitaro a for-ma radioconcntrica, com o atravancamento nefasto eimplacvel de subrbios, oficinas e loteamentos alter-nados e as circulaes incoerentes necessariamente

    resultantes. Sero organismos inteiros, comportandono apenas os meios imediatos de produo, mas aindaos meios de formar sua mo-de-obra e seus quadros escolas de aprendizado e escolas tcnicas compor-tando ainda equipamentos de qualificao de pesquisadesinteressada: faculdades, laboratrios, bibliotecas,teatros e clubes etc...

    O que acaba de ser dito refere-se especialmenteao trabalho industrial gerado pela lei solar de vinte equatro horas. O trabalho agrcola, obedecendo a outraregra (a do anual, do sazonal e do cotidiano), exige asmesmas satisfaes cotidianas: casa-trabalho-recupera-o; intermitente: casa-trabalho-qualificao. Mesmofim, diferindo somente os dados.

    No primeiro caso o cotidiano o equilbrioparece resultar da prpria natureza das coisas, pormna condio de que a casa camponesa sofresse umareforma radical. O cultivo da terra, com as variaesdas estaes, exige exerccios corporais variados. Asmolstias que grassam to duramente tm sua origemnas moradias camponesas notoriamente deficientes.Problema grave e urgente, hoje colocado: o habitai

    rural.No segundo caso, casa-trabalho-qualificao, a

    vida rural desprovida dos elementos de resposta, e por isso que a terra foi abandonada. No se tratasomente de preencher com lazer certos dias ou horasvazias; trata-se muito mais de enriquecer cada minutocom um sentimento de animadora participao na vida

    social. Solidariedade que tanto une o campons aosprodutos de seu trabalho quanto a este mundo que seu destinatrio.

    A qualificao, esperana inerente ao mago doser, pode acordar um deus que dorme. Tomada de

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    posio que situa o homem acima do acontecimento,permitindo-lhe conduzir-se melhor. Esprito que podeiluminar os atos do cotidiano. Eis o que expulsa o

    tdio! Eis o que ilumina a existncia!Estas tarefas pertencem ao urbanismo.No entanto, nessa hora perigosa, onde tudo devia

    ser preparado com ordem e mtodo, o urbanismo aindano foi dotado de uma definio suficiente. Tentemosenunci-las:

    O urbanismo a expresso da vida de uma socie-

    dade, manifestada nas obras do domnio edificado. He, portanto, o espelho de uma civilizao. O que podeuma civilizao, o urbanismo o mostrar. Ser o con-

    junto do domnio edificado elementos materiais ebrilho do esprito.

    No se trata de uma cincia limitada, estritamenteespecializada e especificamente tcnica, mas de uma

    manifestao de sabedoria, que tem por objetivo eefeito discernir os fins teis e enunciar os programascorrespondentes.

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    OCUPAO DO SOLO

    Depois dos cem anos do mecanicismo moderno, as

    coisas se saturaram o suficiente para que um simplesfato corriqueiro possa bastar para desencadear a re-forma. Eis o fato corriqueiro: uma ordem da autori-dade ordem que parecer natural e indiscutvel impe por exemplo a disperso das grandes indstriaspara fora das cidades radioconcntricas onde suaacumulao tem provocado, entre outros males, bom-bardeios areos durante a guerra e implantado a an-gstia e o temor nas populaes urbanas.

    Nada faltar seno debater segundo que modali-dade se dar a disperso: Afastar as indstrias das

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    aglomeraes radioconcntricas? Mas para onde ecomo faz-lo? nosso problema de hoje.

    Interesses egostas tentaro embaralhar o jogo:"A indstria moderna tem necessidade dessa qualidade

    especial do habitante das cidades imensas: fineza, ner-vosidade, rapidez etc.". A verdade que as cidadesimensas fornecem um mercado de mo-de-obra abun-dante que outorgam toda dominao parte que toma.O argumento ser portanto levado em conta pelo quevale e a disperso da indstria, no somente a fran-cesa, mas a indstria de todos os homens, ser regu-

    lamentada por fatores intrnsecos.Na verdade, os estabelecimentos humanos obede-

    cem a regras. O equilbrio benfazejo e produtivo mantido por uma incansvel adaptao. Vem um diade cansao, de cegueira, onde a regra se interrompe,distende sua disciplina, emperra. As cidades, porexemplo, em seguida primeira era do mecanicismo

    tornam-se cidades tentaculares. O "grande desperdcio"nasceu disso, desfilando dessas extenses construdas,febris, e transtornando o emprego apenas humano dodia solar de vinte e quatro horas. Os empreendimentoscaem na desproporo e os atos no desumano. Efer-vescncia enganadora, agitao estril: o urbanismodegenera, se desnatura, se volta contra aquele que per-

    segue seu desenvolvimento contraditrio, contra o pr-prio homem.

    A famlia se desintegrou; com a biologia atacada,com o fsico e moral arrasados, cai em decadncia;a raa se esgota; ela est apta a cair nas armadilhasdispostas pelos aproveitadores do mundo. E-la desti-nada carne para canho, a dores incontveis e semfim. O trabalho torna-se castigo; d-se voltas em umcrculo vicioso; a metade do trabalho imposto servindosomente para pagar a fraude invasora, a sociedademecanicista atual faz todos os dias horas suplementa-res que s servem para pagar sua desordem: as cir-culaes febris, as estradas congestionadas, o botequimerigido em instituio, e por toda a parte os prazeres

    e "distraes" de desespero. Parece que uma imensavingana se cumpre custa dessa criatura que, im-prudentemente, conquistou a mquina.

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    Ofegante atrs da descoberta que o absorve, ohomem no se deu conta de que se distanciou das con-dies naturais. Que na verdade quebrou os limites na-turais; que suas empresas, surgindo desordenadamente

    sobre toda a superfcie do territrio, e abandonadas violncia dos interesses particulares, invadiram as zonas"sagradas": o que no depende mais da cidade masque , ao contrrio, o baluarte do mundo contra a ci-dade. As empresas humanas trazem seu limite, pro-duto dos termos da equao que as gera; se entre esseslimites, o homem o senhor, fora deles ele fica "fora

    de si", no se possui mais. Falando dos estabelecimen-tos humanos nas civilizaes primitivas, Mareei Griauleescreveu: "O limite uma ocupao de deuses e nouma ocupao de homens".

    A cidade o sopro que marca a respirao hu-mana; a muralha a envolve, a caixa torcica da cidade;mas esse invlucro entrou tambm no molde das pres-

    ses que limitam de todos os lados a aglomerao:presso da paisagem prxima (plancie, vertentes, va-les, mar, rio), crosta justamente engrossada da regiocircunvizinha; suportada pelas grandes estradas, que,vindas de to longe, aqui chegam munidas do potencialde seu hinterland. O que est alm do contorno dacidade no uma extenso flcida; uma substnciaorganizada, dotada e moldada de inmeras foras con-vergentes, como as aduelas de uma abbada. As cida-des romperam o contato com os deuses dos arredores,geradores das condies da natureza, preciso reco-nhecer e reencontrar as condies, da natureza.

    Essa tarefa exigir reconstituio dos povoamen-tos favorveis. Os povoamentos sero favorveis quan-do corresponderem s foras csmicas naturais e hu-

    manas; quando obedecerem, respeitarem, conquista-rem, de acordo com as regras do jogo; quando tiveremganho a partida.

    O empreendimento provocador de alegria, f,civismo. Substituindo esta abdicao hoje disseminadapor toda parte, fonte de decadncia, um sentimento departicipao nascer. Participar. Isso bastar mesmo

    aos mais pobres ou aos mais feridos.Espcie de xodo, partida sem idia de volta, paraterras prometidas... De fato, no plano fsico, um mo-

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    vimento indiscutvel da formiga humana sobre toda aextenso do seu solo. No curso dos lustros, os esforosse coordenaro, se somaro, atingindo a coeso. Umdia ser feita a transformao mediante a qual ovelhas

    tosadas ou rocins sovados, paladinos da civilizao damquina, de novo sero os atores vivos de uma gestaotimista.

    Relatrios categricos podem determinar a mor-fologia dos estabelecimentos humanos sobre a totali-dade do territrio. A confuso destes tempos consumiusua obra destruidora. E na vspera mesmo da recons-

    truo, a unidade de pensamento no est firmadasobre os princpios mais elementares. Prope-se, porexemplo, confundir num s indivduo o operrio doscampos e o operrio da indstria.

    No passemos refutao de tal tese, sem antesreter, de passagem, um fato revelador: a aspirao deconsiderar o trabalho como fator unitrio o grande

    fator da poca, que coloca todos os homens sob amesma lei. Que une os homens em vez de dobr-los.Reconhecer a existncia de uma civilizao do tra-balho, e querer lhe conferir as mais altas marcas daqualificao, traar um caminho natural, capaz detrazer, no esboo e na realizao dos estabelecimen-tos humanos, o ritual, o sagrado, a fraternidade leal

    e construtora, elementos todos eles de um mtodoestabelecido profundamente antes de tudo sobre a pri-mazia da harmonia e do equilbrio da trilogia: homem natureza cosmos.

    Grandes capites de indstria, sonhando, por uminstante, com um futuro pacificado, lanaram a idiado operrio-campons ou do campons-operrio,

    julgando ser possvel confundir tais ocupaes no de-correr do dia, da estao ou do ano. Certos prece-dentes so invocados: os relojoeiros-camponeses doJura e fabricantes de culos. H muito tempo, con-tudo, esses camponeses-relojoeiros abandonaram a ban-cada instalada na fazenda e afluram para os burgos,entraram nas oficinas, que um dia, l por 1900, se tor-naram as grandes manufaturas barulhentas de m-quinas-ferramenta. Assim agindo, transformaram asaldeias em burgos e os burgos em cidades. E torna-

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    ram-se cidados, equipados com casas citadinas e mu-nidos de instituies citadinas.

    A soluo, que nos proposta, baseia-se, no en-tanto, numa srie de a priori frgeis: feira inevitvel,ingratido, tristeza e cansao do trabalho industrial;nobreza, encanto, poesia do trabalho da terra; paixodo homem pela tesoura de jardineiro, instrumento-ima-gem simblico de um paraso perdido; recuperao dehoras disponveis diariamente; benefcio da alternn-

    cia de dois modos de trabalho to diferentes; ganhosuplementar, do qual se acentua o interesse; seguranados alimentos adquiridos por seus prprios meios etc.

    Muitas iluses ou julgamentos mal estribados:

    1.) O trabalho industrial decepcionante, epara muitos cansativo, porque as condies materiaise morais que o cercam revelam a horrvel desordem na

    qual se comprometeu a primeira era do mecanicismo.Esses so fatores extrnsecos.

    2.) O trabalho dos campos no uma liturgiapotica, mas, se digno em condies favorveis, nodeixa de ser um autntico e rude labor, com fadigasque s vezes ultrapassam o grau normal de tolerncia.

    3.) A tesoura do jardineiro antes, neste caso,o smbolo de um estado de graa diante do milagre na-tural, ocasio de se engrenar com a natureza: germi-nao dos gros, floraes encantadoras ou fecundas,frutificao, afluxo impassvel de abundncias ilimi-tadas .. . Esses milagres podem se estender a "todo ouniverso, ir percorrendo-o..." e tornar-se a chave da

    compreenso, o ssamo da unidade no todo, a explica-o de nossa situao no mundo. Portas abertas sobreas profundezas das glebas e dos sedimentos, sobre asextenses verdes, sobre a abbada dos cus estrelados.Esta pequena tesoura de jardineiro, que significa sim-plesmente tomada de contato e revelao, ultrapassa ocaso da roseira e da platibanda, da pereira da espaldeirae dos feijes da horta. Ela pe em jogo a conscincia.

    4.) No perder um s minuto do dia, e, aodeixar a fbrica, tirar plenamente proveito das ltimashoras disponveis antes da noite... Mas a terra dura: fadiga suplementar; mas a terra cotidiana:

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    "trabalhos" que bem podem tornar-se "forados" nodecorrer dos dias; mas a terra no pode esperar...mesmo no inverno. Ento: "Serei por acaso amaldi-oado, obrigado ao castigo eterno?"

    5.) A alternncia dos trabalhos uma fonte dedescanso e renovao ilimitada das foras. Isto s verdade ao abrigo dos golpes do dinheiro. Podem dizer:ganho suplementar aprecivel prova de que soinsaciveis, ambiciosos; ou ento, ai de mim! provade que seus ganhos normais so insuficientes e de que,vtima de um destino medocre, quando seu trabalhoest terminado, so obrigados a acumular um novotrabalho ao fim de cada dia. Ao dia de trabalho ter-minado, junta-se um segundo. Por esse meio, o ali-mento lhes ser assegurado, prova de que sem istopassaro fome.

    O trabalho da terra e o da indstria diferem pro-fundamente. Enquanto o operrio da fbrica sujeitoao regulamento nico dirio das vinte e quatro horas,o operrio da terra sofre a lei anual, depois a lei dasquatro estaes e, enfim, tambm a lei solar diria devinte e quatro horas. Diferena fundamental, materiale espiritualmente.

    A responsabilidade do operrio da fbrica peran-

    te seu trabalho dura o tempo presente; o camponsplaneja todo seu trabalho pela durao de um ano.Cada ato um pensamento conduzido de maneira di-versa, segundo as variaes das terras, as diferentesorientaes. E, a cada manh, uma deciso tem deser tomada, fixando o horrio do dia.

    O comportamento, fsico e moral, de um e de

    outro, so diferentes: o campons se habitua solido;s com seu arado, s no seu vinhedo, s na floresta.Somente na hora excepcional de algumas colheitas que se renem, e em sua honra que se fazem* festas.A ateno requerida pelo arado, pela p ou pela foice,no da mesma natureza que a que liga o operrio a suamorsa, ao seu torno, a seu forno. Aqui, as mos endu-

    recidas de calos, e l, elas tm s vezes a flexibilidadedas de cirurgies. Solido na lavoura, sociabilidade naoficina.

    A "corrente" o signo da indstria, implicandoa regularidade, a exatido, a distribuio incansvel,

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    a implacvel solidariedade das equipes, a ateno e atenso, os gestos cronometrados.

    A unidade do mundo do trabalho no conseguiriase realizar no nvel das mos, onde tudo diferena,oposio mesmo e incompatibilidade. No deve exis-tir a confuso de ocupaes, mas emente de idealsocial, cvico, tico.

    Os "estabelecimentos humanos" so distribudossobre o solo. Eles o so mal, depois deste primeirociclo centenrio do mecanicismo e essa desordem con-duziu crise. Os estabelecimentos humanos devemocupar o solo em lugares especificamente designados,e sua forma, decorrncia de valores intrnsecos, seorganiza em uma autntica biologia construda.

    Deve-se ento propor, para a terra, uma unidade(nova ou renovada), de explorao agrcola. Ferra-menta de produo alimentar.

    Para a indstria, uma forma que responda espe-cificamente cidade-linear-industrial, Ferramenta defabricao.

    Nos cruzamentos das grandes estradas, as cida-des radioconcntricas de trocas podero ser ou tor-nar a ser, isolada ou simultaneamente, os centros decomrcio, as cidades de pensamento, as cidades de

    administrao e de governo. preciso sublinhar aqui que uma destas formasfundamentais nova: o centro linear das transforma-es industriais, e que isto um grande acontecimento,capital na histria das sociedades humanas.

    O estudo destas trs espcies de estabelecimentosnos permitir chegar a determinadas certezas. A

    ocupao do solo poder ser reconsiderada, o que sig-nifica propriamente: ordenar o espao, fazer a geogra-fia humana e a geoarquitetura.

    Poder-se-, ento, falar de equipamento, termoque colpca todas as coisas sob a gide da tcnica, recla-mando desta mtodos racionais.

    Eis portanto esboada a tarefa: reconhecer para

    as necessidades de hoje o nmero e a forma dos estabe-lecimentos humanos da civilizao mecanicista.Dar um estatuto a esses trs estabelecimentos, con-

    ferir-lhes uma biologia que considere a natureza daterra que os recebe e a natureza dos homens que lhes

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    daro vida, este o objetivo que se tem o direito deperseguir. Prepara-se assim, para o amanh imediato,um instrumento de medida que permite julgar tanto ospequenos projetos mais urgentes como empreendimen-

    tos mais vastos e longnquos. Uma linha geral de con-duta ser adotada, aplicada a uma civilizao do tra-balho, que, depois dos tumultos da presente crise, en-trar em seu segundo ciclo, que dever abrir uma erade harmonia.

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    a unidade

    de exploraoagrcola

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    A UNIDADE RURAL

    Qual a causa do abandono da terra? Qual sera alavanca da volta terra?

    Alguns, enchendo o cenrio da alegria de sua des-coberta, reclamam a volta da idade do ouro, hojedesaparecida. Tanto fervor comove, e no se sabe bemcomo considerar exatamente o apego s razes profun-das, se ao respeito marcha das coisas ou preguiaintelectual.

    Respondendo-se primeira pergunta, obtm-se a

    forma do remdio. Essa resposta : a instalao detransportes mecnicos, primeiro sobre trilhos, em se-guida sobre estradas de leito Uso, desencadeou o gran-de movimento interior dos campos.

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    At ento, nas condies da vida camponesa, asvistas sobre o universo estavam limitadas a um raio dequinze quilmetros: trinta quilmetros, ida e volta, mar-cavam o alcance, portanto o territrio explorvel. O

    resto era revelado de vez em quando, e por migalhas,por aqueles que haviam partido e voltado. De umlado, uma curiosidade limitada e logo satisfeita, deoutro, uma informao aureolada de lenda.

    O jornal veio com a ferrovia. Mas foi no tempodo automvel que se rompeu o crculo tranqilo detrinta quilmetros de dimetro, o crculo das coisas bem

    conhecidas. Sculo XX. Movimento incansvel de vai-vm sobre as estradas, como que predestinadas, deLus XIV e de Napoleo; foi suficiente preparar-se denovo suas superfcies de rodagem e substituir suascurvas: uma pista nova foi dada aos homens, median-te a qual cessa o isolamento dos campos e comeasua tardia descoberta pelos citadinos. Descoberta feita

    de encantamentos, ingenuidade e observao superfi-cial. As duas grandes guerras deste sculo, manipu-lando poderosamente gente das terras e gente das ci-dades fizeram a recproca para os jovens das terras:o conhecimento das cidades. Enquanto isso, estas ha-viam-se coroado do diadema resplandecente da eletri-cidade. Noite brilhante, dublando o dia legtimo dosol, seduo suplementar.

    Antigamente, o jovem que partia, era o emigran-te, e no voltava mais. Ele tornou-se o ferrovirio,o policial, o guarda; e pouco a pouco, o mecnico, omotorista. . . Ia-se cidade, mas morava-se prximo.E sem que se notasse, na efervescncia desta grandemutao, um dramtico destino se inscrevia sobre osolo: aparecimento das cidades tentaculares, por um

    lado, xodo dos campos por outro...O instrumento de destruio e de confuso que

    a velocidade tem todas as razes de se tornar, na horadas emendas, o instrumento de medida das solues.

    As velocidades estendem seu efeito a valores posi-tivos: modificam os hbitos milenares de troca e oconsumo dos produtos; os programas agrcolas podem

    eventualmente se modificar. Com as idias do sculo,elas veiculam os meios do sculo e estes so: a substi-tuio pela mquina de parte dos duros trabalhos dos

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    homens e das atrelagens; a informao: jornais, pe-ridicos, T.S.F.

    Os bocados de terra, distribudos no comeo do

    perodo histrico s famlias da comunidade rural ecultivadas na dimenso do passo do homem e do gestodo semeador, parecem muito pequenos diante da m-quina. Sente-se que preciso reconstituir, depois dis-tribuir por unidades maiores, as culturas reconhecida-mente teis. Gaston Roupnel1 j o previa, apesar departir de consideraes diferentes das que aqui nosocupam. Ele havia encontrado os traos da longa e

    magistral produo da terra francesa, na pr-histria,por comunidades que se haviam coletivizado para atin-gir esse fim. E ao que parece s quis considerar a pocaque sucedeu quela, ou seja, o perodo em que se deua distribuio das terras na escala da famlia e dobrao, como sendo um perodo limitado. Alguns mi-lnios passam, e subitamente o homem dotado de

    velocidades mecnicas; a terra francesa foi minuciosa-mente preparada, triturada, tornada produtora. Suautilizao, sua aplicao so pontuais. A parcela pedeapenas para ser revisada na sua distribuio. Roupnelescreve, contentando-se em ser tcnico e no queren-do entrar num debate poltico: "Em um bloco com-posto de vrias parcelas, a propriedade pode ficardividida; suficiente que a explorao seja nica, isto, assegurada pelas mquinas e por uma mo-de-obraa servio da coletividade. A aldeia tenderia assim atornar-se uma associao de exploradores e uma coope-rativa de produo. Voltar-se-ia aos tempos primitivosonde cada um estava a servio de todos..."

    Os poderes supremos sentem a necessidade de re-

    velar a nova unidade administrativa camponesa de "ta-manho apropriado" que permitir a um prefeito, ouqualquer outro administrador, assumir suas responsa-bilidades, desde que um complexo suficiente de terras,gente e acontecimentos lhe seja confiado.

    No plano em que aqui nos ocupamos, o proble-ma tcnico que prope a questo da determinao dasunidades de explorao agrcola: estas podero, emcertos casos, ultrapassar o contedo da aldeia. Filhasdas mquinas, elas se inclinam para o agrupamento.

    (1) Histoire de La Campagne Franaise. Paris, Ed. Grasset,

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    Exploremos o fenmeno agrcola segundo a leidas velocidades.

    Devemos primeiro reconhecer, na vida agrria, o

    que estritamente (e sem modificao possvel) su-jeito velocidade de 4 km/hora; admitir, por outrolado, que o rgido tabuleiro de estradas instalado noscampos e podendo receber veculos mecnicos (o mo-tor e todas as suas conseqncias) ou ser cons-tantemente a varinha de condo capaz de resolveros dados do problema representado por este quadro:

    CONDIESDE VIDA

    ABASTECIMENTO O ECONMICO

    HABITAO (E SEUS PROLONGA-

    MENTOS) O PATRIARCAL

    SOCIABILIDADE O ESPIRITUAL

    Definamos desde j o que, na unidade agrria,se submete lei dos 4 km/hora: o gado e os currais;seu equipamento, o estbulo, o moinho (ou o celeirodas palhas), o silo de forragens e o armazm-cozinhados alimentos dos animais, o alojamento dos pastores.Seu territrio: as pastagens.

    Determinemos em seguida aquilo que se beneficiaou est pronto a se aproveitar da lei dos 50-100 km/hora: o centro cooperativo que agrupa a leiteria, osilo dos produtos agrcolas, a oficina mecnica, o gal-po das mquinas agrcolas e das ferramentas de arar;enfim, a oficina (ou pequena manufatura) de inds-trias complementares. E, alm disso, o corpo principal,

    a cooperativa de abastecimento, a escola, a oficina dajuventude e o clube com sua rea comum de esporte.Essas criaes rurais no so iminentes, mas,

    chamadas a balizar o futuro, deixam entrever a formade reloteamento capaz de fazer novamente florescer avida camponesa: a pecuria determinada pela geogra-fia natural (a ou as pastagens); no centro, nas pro-

    ximidades da estrada principal (mas no em suasmargens), o centro cooperativo; enfim, as culturasadequadamente mecanizadas (mono ou policultura). Afigura seguinte nos d uma prefigurao mais precisada evoluo possvel da agricultura.

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    Em I, uma, duas, trs aldeias ou mais. A igreja,o cemitrio, as fazendas ainda slidas permanecem; asfazendas esmagadas pela velhice no sero mais re-construdas. As aldeias sero postos de espera no cursoda mutao.

    Em 2, o centro cooperativo.Em 3, a ou as pastagens com seus estbulos e

    seus anexos.Em 4, as culturas de hortalias para o consumo

    local ou para a venda externa.

    Em 5, os pomares.Em 6, os cereais, as razes e tubrculos, os vinhe-dos etc. conforme a regio.

    Em 7, diversas estradas de rodagem.O centro cooperativo o instrumento moderno

    que deve ser inserido na vida camponesa. Trs hip-teses se apresentam.

    A) O centro cooperativo da aldeia, tratando-seduma aldeia suficientemente forte.B) O centro cooperativo comum a diversas aglo-

    meraes muito prximas.C) O centro cooperativo da nova unidade de

    explorao agrcola, que o objeto do presente estudo.As duas primeiras contero os mesmos elementos

    constitutivos, mas estes sero agrupados num s edif-cio: o "Centro cooperativo", um s complexo bem or-ganizado, bem situado, bem administrado, e sob aautoridade de um gerente. portanto um novo planode arquitetura que preciso estabelecer: silo (detalharos lugares e os contedos), oficina mecnica e galpodas mquinas comuns; alojamento do pessoal ligado a

    esse rgo, clube.A escola, o correio, a prefeitura, a cooperativa deabastecimento (ou de distribuio), so rgos inde-pendentes desse centro tcnico e podem ser construdosno prprio centro ou fora, de acordo com as circuns-tncias.

    Falta precisar os dados da Unidade de explorao

    agrcola, que pode ser realizada na escala dos estudosexpostos por Le Corbusier e Pierre Jeanneret, no Pa-vilho dos Tempos Modernos na Exposio Interna-cional de 1937 em Paris.

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    Duas hipteses:1 T e m p o s presentes ou imediatamente pr-

    ximos:

    A mquina, o trator, a ceifadeira etc., tudo issotrabalha em cada fazenda muito poucos dias por ano:da o desperdcio. Roupnel pensa nisso e prope comosoluo o reloteamento, ou melhor, diz ele, a associa-o. (Reconstituio do quadro original das culturasantes do deslocamento pela instaurao da propriedadeprivada.)

    A unidade aldeia (vizinhana, distncias curtas deeficcia tima) reside na materialidade das terras. a iniciativa da cultura que passa do campons isoladopara o grupo.

    Esta hiptese vale para o centro cooperativo co-mum a vrias aglomeraes muito prximas.

    2. Futuro mais distante:Desde a pr-histria (Roupnel), as terras so

    bem destinadas s suas possibilidades de rendimento:matas, pastagens, vinhedos, pomares, gramneas, razes,tubrculos e rotao de culturas. Mas, distncias hojeconsideradas inadmissveis tornam-se normais se, porum lado os silos das colheitas, por outro, a oficinamecnica e os galpes das mquinas, estiverem bemcolocados e ligados entre si.

    Os estbulos sero reunidos dentro das pastagens.E quando os trigos tiverem sido batidos, as palhas paraa cama dos animais sero transportadas para o galposituado ao lado do estbulo.

    Admitindo-se que o encargo da explorao dasterras (reunidas, por associao, em vastos campos)possa ser feito sob uma ordem cooperativa, ento o

    centro cooperativo poder ser situado fora da aldeia,fora das aldeias, ao alcance de diversas aldeias.Especifiquemos: as habitaes permanecem onde

    esto enquanto outros costumes no impuserem novasdisposies, isto , na aldeia (habitao atual ou remo-delada acompanhada (talvez) de uma parte caseira daexplorao agrcola: pomar familiar, galinhas, coelhos

    etc.); a igreja permanece, o cemitrio tambm.A escola? As estradas sero coordenadas e pre-paradas em funo das bicicletas, de um "carro coletor",etc.

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    Uma vez renovada a rede vicinal, com tabuleirosduros e lisos, o "clube" se tornar o novo centro sen-svel da vida camponesa.

    A encarnao mais ferica das velocidades moder-nas certamente a eletricidade, transmitida pelas ondasda atmosfera ou por um simples fio metlico e dessaforma sendo levada a lugares que pareciam dever es-capar a toda penetrao da vida moderna.

    Energia, fora e luz vontade ao sabor de

    um simples boto do comutador vai hoje, ou podeir, at os confins dos territrios. Ela se instalou, depoisde haver conquistado as cidades, em burgos, aldeias epovoados, encontrando-se um pouco desengonada nofinal de seu fio, diante do campons, que, perturbado,adivinha perfeitamente que ela de raa nobre ou dia-blica, destinada a mudar muitas coisas l onde athoje no havia luzido seno a lmpada a querosene,a leo ou a vela.

    Examinemos a demografia camponesa: se a terra fixa em sua extenso e em suas disponibilidades, afamlia flutuante: em suas idades, sua importncianumrica, seus valores intelectuais. Antigamente, notempo dos exrcitos mercenrios, uma parte dos ra-

    pazes deixava a terra, partia para enfrentar as balasdos arcabuzes, as pestes ou mil outros perigos. Maisrecentemente, foram as Amricas que os observaram rapazes que "eram de mais" ou sofriam de "vazioexistencial", um demnio qualquer empurrando-os pelosombros longe de um lugar h muito andado e conhe-cido para a emigrao. . .

    As duas ltimas guerras remexeram as pessoas dascidades e as dos campos. As mulheres tambm entra-ram no circuito, com "a instruo" e . . . o ar dos tem-pos. E elas sabem ser cabeudas e querer.

    Existe uma respirao camponesa, nova, espciede aspirao para um espao mais largo. Surgia umasoluo que tinha por efeito impedir os rapazes e asmoas das fazendas de se tornarem criados ou mec-nicos, policiais, ferrovirios ou guardas de museus ouaonde conduzisse to bem a hipnose do retiro e daabdicao diante da verdadeira tarefa? Ser possvelno mais sofrer nos campos o apelo desero?

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    Para isso seria preciso que esta gente camponesaencontrasse em seu prprio lugar a totalidade de seuar respirvel; que as qualidades ancestrais camponesas

    mantivessem seus efeitos no meio natural; que existis-sem ali suficientes fontes de trabalho (isto , serviosa serem prestados); e que essas fontes de servio fos-sem, por sua natureza, a alimentao natural dos ele-mentos rurais que tendem a se evadir da condio cam-ponesa costumeira.

    De fato, isto o que acontece: as famlias, em

    determinados momentos, contam com muitos membrospara muito pouca terra; o fator terra no sendo exten-svel, como utilizar o excedente? Por outro lado, umadesafeio pela vida camponesa, gostos dirigidos aoutras atividades mais regulares, mais limpas tambmmaterialmente, podem aparecer em qualquer tempo ouem qualquer lugar na famlia camponesa, fixar-se sobre

    este rapaz ou esta moa e fomentar essa sede de xodoantigamente preenchida pelas colnias ou pelas Am-ricas, hoje estancada pelas barreiras protetoras dosEstados. Uma parte da populao se encontra assimoscilante, prestes a se desqualificar. Mas o motor el-trico com suas conseqncias pode trazer uma soluo,fixar na cidade os que queriam deix-la e introduzir

    espontaneamente elementos de vida industrial na vidacamponesa, realizando o contato to desejado do es-prito da indstria e do esprito campons; fornecendoassim economia agrria um complemento substancialao seu balano.

    Essas indstrias complementares instaladas nasaldeias podem ser divididas em duas sries. A primeira,

    puramente mecnica, consiste na fabricao em sriede peas avulsas destinadas a entrar na montagem deconjuntos pertencentes grande indstria. A segunda,ligada atividade agrcola, comporta a transformaono lugar de produtos de cultivo: indstrias aucareiras,como por exemplo destilarias, fabricao de cidra,como tambm conservas de frutas, de legumes, even-tualmente de carnes; tratamento dos laticnios, quei-

    jarias, leiterias, produtos de casena etc., cordoaria,fbrica de escovas.

    Uma outra classificao surge motivando modosde participao diferentes: primeiro as indstrias de

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    inverno. Elas limitam a alguns meses a colaboraocamponesa indstria e enchem o tempo da "estaomorta" (se que existe verdadeiramente uma estaomorta, o que discutvel). Depois as indstrias sazo-

    nais, na hora da maturao dos produtos da terra. En-fim, as indstrias mecnicas permanentes, propriamen-te ditas, "de complemento". Elas constituem esse avulcosempre presente de trabalho, de lugares e mquinas disposio, capazes de fazer do trabalhador agrcola, etambm do "campons retirante", um ser regular, se-

    guro de seu ganha-po, ou melhor dito: um fornecedorregular de servios teis.Uma questo se apresenta: o motor (o motor

    eltrico fornecedor de energia) dever ser ele insta-lado na fazenda ou na oficina dependente do centrocooperativo?

    Os chefes da grande indstria aqueles que

    atualmente dirigem a economia respondero: omotor ser instalado na fazenda; ele a constituir umcapital-poder, que a famlia camponesa explorar adomiclio, no interior do crculo familiar e sem rompera sua harmonia; ajuntar um complemento til de ri-queza, talvez mesmo de abundncia. E mostraro, co-roando sua dialtica de um argumento histrico, que

    assim sero reconstitudos os artesanatos rurais ou fa-miliares que iluminaram as idades de ouro, dos quaisouvimos falar mas que j passaram...

    Ora, o motor das indstrias complementares deveser proibido na fazenda. Deve ser instalado na oficinacomum, no centro cooperativo.

    Expliquemo-nos, pondo a questo no seu verda-

    deiro terreno, que no o de trazer recursos suple-mentares de dinheiro, mas sim o de responder pon-tualmente s flutuaes da demografia, impedindo oxodo dos camponeses, e, por esse meio, ao aumentodas cidades tentaculares.

    O motor da fazenda "o dinheiro sedutor", hs-pede permanente da famlia: o motor no funcionaria

    somente nos dias de inverno; funcionaria cada dia,coletando os quartos de hora e as horas eventualmentedisponveis no fim de um trabalho normal, tempo a serdignificado e que poderia ser consagrado ao repousoou cultura, ao fsica ou intelectual. Far-se-o ho-

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    ras venais! A me (de famlia) engrenar o motor, eas jovens e os rapazes a ela se reuniro, os adolescen-tes e as crianas; s vezes, o av assim como a av.

    O dinheiro, o ganho, a seduo do ganho estaro fin-cados no corao da famlia.

    A indstria de complementos a ser instalada naoficina comum ligada ao centro cooperativo servir,ao contrrio, para estabelecer um elo entre pessoasda mecnica e pessoas da natureza. No o ganho,srdido ou meticuloso, que vir juntar seu blsamo ilu-

    srio vida camponesa; um esprito que toma con-tato com um outro esprito a fim de que ambos seconjuguem, fazendo florescer conseqncias apreci-veis: compreenso recproca, adio recproca, marchapara a unidade, entrosamento recproco, revitalizaodos campos e sabedoria das leis da natureza reintrodu-zidas na civilizao mecanicista.

    O "centro cooperativo" aparece ento como odispositivo tcnico portador de segurana e esperanano mundo campons. Ferramenta a ser confiada so-mente a espritos alerta, informados e tecnicamentedesenvolvidos. Ferramenta destinada a forjar uma novaconscincia feita de exatido e de entusiasmo, de con-fiana e de perseverana. Virtudes tcnicas e virtudes

    morais que devem ser extradas da alma camponesaonde elas esto sempre latentes. Tarefas do instrutore do educador. Campons na sua maneira de ser pr-pria ao campons, mas alimentado pelas contribuiesde uma civilizao generalizada. A escola rural farestes ensinamentos, uma escola calcada sobre um pro-grama nitidamente escrito e exatamente medido sobrea escala das necessidades presentes.

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    Reagrupamento em torno dos centros cooperativos.

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    A ALDEIA COOPERATIVA

    Texto redigido por Norbert Bzard, que participoudos trabalhos do CIAM e do Ascoral. Norbert Bzardera de antiga origem camponesa. No era um "campo-

    ns-proprietrio": na sua famlia de pai a filho sempre se foi trabalhador agrcola. Inteligente, abertoa muitas coisas, ele soube animar sua aldeia: Piac,em Sarthe. Trabalhador agrcola, secretrio da prefei-

    tura, padeiro num certo tempo, coveiro no cemitrio.Aos quarenta e cinco anos, vivo, casou-se com aprofessora da aldeia, natural de Paris, e foi para acapital. Desde ento, passou a usar palet e colarinho,ocupando, rapidamente, na Renault um posto de con-

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    fiana nas oficinas. Ficou doente do corao e foi li-cenciado. Que fazer? Dedicou-se aos trabalhos combarro "no quarto". Suas cermicas so admirveis. Na

    pintura, trabalhou em leo e aquarela; todo o seu co-nhecimento da natureza a se manifestou: paisagem,flora e fauna. Mas tornou a adoecer, vindo a falecerno hospital Necker, em Paris, em julho de 1956.

    Apesar dos risinhos de alguns, ns conservaremoso belo vocbulo "Aldeia Radiante" nossa aldeia-tipo,porque ele representa verdadeiramente uma viso ra-diante de renascimento nos nossos campos, e porquenada, a no ser o egosmo das classes dominantes e deuma poca, pode impedir esta viso de se concretizar. difcil, para qualquer um que no tenha vivido nasnossas pequenas aldeias e povoados, imaginar que asdivises, as lutas, a podrido constituem o seu pocotidiano.

    O Clube. A Casa dos JovensA instituio do clube qualquer que seja seu

    nome necessrio no lugar, na aldeia. Uma cons-truo podendo reunir a populao da aldeia aumenta-da dos que vm das aldeias vizinhas nos dias de festae permitindo o funcionamento da Casa dos Jovens. O

    imvel dever ser suficiente para receber as reuniessindicais, a assemblia, os comcios, as quermesseslocais.

    Dever portanto conter: uma sala de espetculo(cinema, reunies, conferncias), um escritrio quesirva de secretaria das associaes locais e de lugarpara acomodar os arquivos, um canto para audio dediscos, um pequeno museu folclrico regional, a per-

    manncia do servio social rural, os vestirios e sani-trios que podero ser utilizados pelos esportistas, es-tando o terreno de esportes nas proximidades.

    Este clube, verdadeiro conjunto administrativo eeducativo, fora de qualquer partido ou religio, acolheos usurios de todas as idades tornando-se o centrovivo da comunidade.

    O Sindicato Regional, O Silo CooperativoO sindicato regional o organismo coletivo da

    administrao.

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    O SILO, AS COLHEITAS (cereais, legumes, razes efrutas). A oficina de conservao e de consertos dasmquinas de uso comum e o galpo que as abriga. Acooperativa de abastecimento. esquerda, a estradade trfico intenso. Construo industrial de elementosem srie. Espetculo lmpido e puro criado no meioda natureza.

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    Seu instrumento o silo, ao qual damos umaacepo muito grande, uma funo verdadeiramentesimblica. Na verdade, o silo cooperativo regional

    uma construo, um instrumento, e por extenso umorganismo administrativo: ele o sinal visvel da exis-tncia da cooperao agrcola; o ventre da aldeia, oarmazm cooperativo; o instrumento comercial do sin-dicato agrcola: armazm de cereais, de frutas, de le-gumes, de adubos, de sementes etc.

    Para os camponeses, o fato de ter suas colheitas

    sob seus olhos e ao abrigo na organizao cooperativano simplesmente de ordem sentimental. O silo subs-titui o cerealista: a pedra angular da moderna econo-mia agrcola.

    Pode-se objetar que existem silos de grande capa-cidade pertencentes s cooperativas departamentais:justamente, nossos camponeses no as acitam mais:

    muito longe, e alm disso, so lojas que, como todasno gnero estas ainda por cima burocratizadas escapam ao controle do campons e no preenchem afuno cooperativa. A clula cooperativa e sindical debase a comuna, ningum pode seriamente invalidaresta constatao.

    O silo cooperativo comunal, propriedade do sin-

    dicato comunal, a confiana-segurana da aldeia etambm do pas inteiro. Se tivssemos tido silos comu-nais, o trigo no teria sido dado aos porcos ou sidocomido pelo gorgulho...

    A Oficina Sindical

    o rgo gmeo do silo, seu complemento indis-

    pensvel. O artesanato rural estava em vias de desapa-recer e era uma catstrofe: sem ferreiros, sem conser-tadores de carroas, operrios diversos, no existe maisagricultura possvel. Compete aos camponeses criar umnovo artesanato apelando, se necessrio, aos operriosexcedentes da cidade, instalando-os numa oficina mo-derna com funes bem definidas, em cooperativa deexplorao (hierarquizada e disciplinada como deveser para o bom andamento da organizao). Esta ofi-cina funcionar na aldeia, ao alcance imediato das ne-cessidades, que iro aumentando na medida do aumentodo equipamento moderno das fazendas.

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    A FAZENDA RADIANTE

    1 A moradia (eventualmente sobre pilotis) com

    seu jardim.2 O terreiro da fazenda.3 Os estbulos (cavalos, vacas, carneiros, peixes).4 Local de preparao da alimentao do gado.5 O silo para a alimentao do gado.6 A granja.7 O galpo das ferramentas.8 A estrumeira (ao abrigo).9 A horta.

    10 O galinheiro.11 O pomar.

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    A Cooperativa de Distribuio

    Nossa inteno no a de descrever o que seriaa cooperativa de distribuio. Queremos simplesmentedizer da necessidade da criao de uma sucursal emcada comunidade rural.

    Quem nunca morou nas zonas rurais distantes nopode fazer idia de at que ponto somos deserdados sobo aspecto da distribuio dos objetos manufaturados eos produtos de especiaria, de mercearia, de alimenta-o, de roupas, de utilidades domsticas etc...

    Por acaso seremos gente de dcima categoria paraque no tenhamos direito distribuio diria e aoacesso por bicicleta a tudo aquilo de que precisamos?

    No dia em que os rurcolas encontrarem para si,em suas casas, todas as comodidades que at hoje fo-ram apenas apangio das cidades, eles no tero maisrazo alguma para partir.

    As Moradias: o Palcio da Habitao

    Procuremos ver como so alojados os habitantesdas aldeias; por exemplo, em Bocage, em Sarthe, emMayenne, no Maine-et-Loire.

    As aldeias distam a, em mdia, uma lgua * umasdas outras, construdas sobre o planalto, em um cres-cimento de antigas estradas, ou no fundo de um vale,sobre um vau. No centro, quase sempre, encontra-sea igreja, com o seu pequeno largo, diversas ruazinhas,sendo uma principal, a estrada de interesse comum,departamental ou nacional. margem destas estra-das ou ruas que so construdas as casas trreas da

    aldeia, no interior de velhas fortificaes nos antigosburgos fortificados ou cercadas do lixo moderno vindodos loteamentos de subrbio.

    Seria verdadeiramente possvel, de boa f, obrigarnossa brava gente dos pequenos burgos a habitar emsemelhantes casebres at o fim dos tempos? Ser im-possvel transformar em alojamentos dignos desse nome

    essas velhas muralhas que desmoronam, sem ar, semluz, sem diviso interna vlida; instalar a gua cor-rente, a higiene moderna, recusar a se contentar com

    (*) Medida usada para medir percursos e cujo valor antigo no bemdeterminado, mas que foi fixado mais recentemente em 4 km. (N. da T.)

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    um sistema de circulao que data dos tempos maisremotos?

    J moraram ao lado de uma grande estrada, onde

    passam todos os dias milhares de veculos, sem contaros caminhes, os carros, as motos? A rua fica prati-camente interditada s crianas, aos velhos, aos peque-nos animais.

    Para Piac-a-Radiante, a aldeia nova prevista(ou centro cooperativo) situa-se fora da estrada prin-cipal, ao lado de um caminho de trfico intenso. Todosos imveis ficaro afastados da circulao intercomu-nal, dispondo de duas sadas, uma para este caminhoe a outra para a estrada principal, por um sistema decruzamento racional.

    Depois de pesquisa e ficando entendido quedeixaremos os velhos acabarem seus dias na velhaaldeia merc dos acontecimentos, na estrada princi-pal propusemos um imvel para locao provido deservios comuns. Por que este imvel em vez de casasindividuais? Por economia, porque mais fcil dartodo o conforto moderno, o mesmo que na cidade, numimvel deste tipo do que em um loteamento de peque-nas casas.

    curioso constatar que os camponeses que par-tem para a cidade aceitam muito bem morar a em"latas de sardinha" .. .No menos curioso constatarque os senhores e senhoras que admiram nas friasnossos velhos pardieiros, recusam absolutamente morarneles no inverno. Para ns, no faria diferena renun-ciar "independncia" oferecida pela pequena casafamiliar, por um oitavo andar dominando o vale com a condio de encontrar nossa disposio, no

    anexo, lugar de acomodao para' as mil coisas quenos so necessrias no campo, ferramentas de jardi-nagem, apetrechos de caa e de pesca: adega, pombal,depsito de lenha, lavanderias etc.

    Essa a soluo que propomos para o centrocooperativo.

    A FazendaA fazenda foi instalada, originariamente, no cen-tro das terras que deveriam ser valorizadas; atualmen-te, as fazendas foram dispersadas pelas heranas, mu-

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    A unidade de explorao /0grcola necessita de umasala de reunies, conferncias, teatros (1), salas decomisses (esportes, msica, conferncia, auxlio etc.)(2). Alojamentos para prefeitura, escritrios, dispen-

    srio, salas de consultas etc. (3). A aldeia necessitade gua. Construiu-se uma caixa d'gua sobre a colina.Essa caixa d'gua poderia ser construda no centro daaldeia. Entre os apoios dos reservatrios e sob estessero instalados as salas de reunies (8), os serviosda prefeitura (6) e os outros servios necessrios (7).

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    danas, partilhas. A fazenda de Bocage realiza o equi-lbrio: metade culturas, metade prados, portanto: poli-cultura e criaes variadas, rvores frutferas. Nada de

    plancie. Todas as terras so cercadas por bosques hpouco arroteados; ficaram sebes, o que cmodo paralevar o gado ao pasto; sebes e fossos constituem bomcercado. Isto o que faz o encanto e a regularidade,a doura do clima; a rvore e a gua so amigas.

    Se existem algumas propriedades rurais entradados povoados, so somente pequenas chcaras, que

    vivem somente da venda de leite e queijos aos habi-tantes locais.. Todas as propriedades, grandes ou pequenas, com

    pouqussimas excees, muito raras, so quase inabi-tveis. Animais e gente so instalados no mesmo ende-reo, freqentemente melhor os animais do que agente. Para a famlia, uma sala-cozinha comum, negra

    de fumaa e praticamente calcinada. Acima, o celeirodos cereais. Ao lado da cozinha, um grande aposentocom muitas camas para as visitas. Os empregadosdormem no "telheiro", uma pea infecta, de cho ba-tido que serve de despejo, ou ainda mais freqente-mente na estrebaria ou no estbulo. Este e aquelaprimitivos, s vezes revestidos de cimento, o que j mais limpo. Na maior parte das vezes, o lquido doesterco, o melhor adubo da fazenda, escoa-se ao longodo caminho, sendo perdido para as terras. Um celeiroinsuficiente, sempre pequeno demais para guardar ascolheitas! Em Bocage no possvel malhar nos cam-pos, pois a regio muito acidentada. Assim, no hmedas de feno de arquitetura pitoresca. O gro ma-lhado logo aps a colheita e levado ao celeiro, sempreinsuficiente e perigoso, pois muito cheio.

    Em suma, preciso tudo reconstruir desde oincio, por no ter sido adaptado poca atual. Novimos, antes da guerra, o "rego de esgoto" chafurdarno lquido do estrume do terreiro? Se aqui e ali, algunsbelos celeiros, alguns belos galpes, algumas estreba-rias novas continuam aceitveis e podem ser conserva-dos, o resto deve ser demolido e ampliado.

    Foi por isso que estudamos a "fazenda radiante",com seu equipamento moderno, sua moradia dignifi-cada, bem adequada ao servio do fazendeiro, e sobre-

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    Eis que aparece na Frana um noVo signo arquitet-nico, sobre os restolhos, as medas de feno, os campose os pastos, um signo cvico: o centro das foras civis.Ele surge no sculo XX tornando marcante a paisagemda Frana, na Provena, na Beauce e na Bretanha.

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    tudo da fazendeira, esta escrava dos tempos modernos.Luxo banido, mas higiene e conforto. Elegncia robustae que eficcia! Uma moradia para pessoas que traba-

    lham duro e na qual viver e se lavar tornam-se umprazer. A moradia o posto de comando da fazenda,fresca e acolhedora.

    Na fazenda, uma circulao tima, uma manu-teno mecanizada, o terreiro limpo como uma moedanova, estbulos e estrebarias com conforto e higienepara os animais e comodidade para os tratadores; o

    lquido do estrume, o esterco, tratados inteligentementee recolhidos. Locais espaosos, celeiro grande, bemarejado, nenhuma migalha de palha ou forragem fora.Todas as mquinas e o material abrigados no galpo,uma garagem, uma pequena oficina. Enfim, silos es-tanques para os cere