52 Ano xi / nº 19 - FUNCEB · manutenção da mata atlântica, um modelo a ser seguido. ......

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Paulo Roberto Rodrigues Teixeira

A sua história começa no ano de 1776, quando se iniciou a construção do Forte do Vigia, nome que retratava

a sua missão – vigiar a barra da Baía de Guanabara contra a ameaça

dos navios estrangeiros.

Duque de CaxiasDuque de CaxiasDuque de CaxiasForte

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Popularmente conhecido como Forte do Leme, faz parte do roteiro turístico dos que visitam a Cidade do Rio de Janeiro. Patrimônio histórico, preservado pelo Exército, oferece valioso acervo para pesqui-sadores, historiadores e visitantes que diariamente afluem ao forte para conhecê-lo. A sua história começa no ano de 1776, quando se iniciou a construção do Forte do Vigia, nome que retratava a sua missão – vigiar a barra da Baía de Guanabara contra a ameaça dos navios estrangeiros. Posteriormente, mudou-se o seu nome para Forte do Leme até que, em 1935, passou a se chamar Forte Duque de Caxias, em homenagem ao Patrono do Exército Brasileiro. Foi cenário de episódios históricos, no período do Império e da República, que deixaram marcas indeléveis, como baluarte austero e vitorioso. Ao encerrar as suas atividades operacionais, em 1965, transformou-se no Centro de Estudos de Pessoal (CEP), estabelecimento de ensino que se projetaria numa as-cendência vertiginosa e que viria trazer benefícios incalculáveis à Força Terrestre. Esta reportagem tem como objetivo apresentar este monumento histórico e cultural

do Exército.

O Forte Duque de Caxias

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Está localizado no Morro do Leme, na Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro, ocupando a cota de 124m acima do nível do mar. Foi construído sobre um costão rochoso e preserva vegetação remanescente numa exten-são de 28 hectares de mata atlântica, com fl ora e fauna típicas. A sua imponente entrada conserva o antigo portal de cantaria, no local chamado de miran-te da Bandeira, onde tremula, dia e noite, a Ban-deira Nacional, que é vista à longa distância. O visual panorâmico do alto do morro, onde está uma bateria com duas seções, é de uma be-leza extraordinária, encantando todos que per-correm a estrada arborizada, conduzindo-os ao topo da elevação. É um passeio ecológico onde, ao fi nal, podem-se observar diversos pontos

turísticos da cidade, como o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Praia do Leme e a de Copacabana e diversas ilhas, emolduradas pelas águas azuis da Baía de Guanabara. O entorno do Forte é mantido como área de proteção ambiental, onde se executa um audacioso projeto que tem alcançado excelen-te resultado na recuperação, refl orestamento e manutenção da mata atlântica, um modelo a ser seguido. Os últimos obuseiros giratórios Krupp de 280mm estão em dois poços cavados na rocha, protegidos por casamatas de concreto. Hoje, es-sas instalações são aproveitadas para exposições do precioso acervo e também para enriquecer os eventos culturais realizados com frequência pelo Centro de Estudos de Pessoal (CEP).

O ForteVista panorâmica.O Forte em primeiro plano e a praia do Leme e Copacabana

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todo o seu efetivo, tornando o forte inoperante. No período da guerra de independência do Brasil, o forte foi reaberto e guarnecido, em 1823, e tinha como poder de fogo cinco peças de ferro de diversos calibres. Na época da Regência, em 1831, foi des-guarnecido juntamente com muitas outras fortifi cações, abalando a estrutura de defesa do território brasileiro. Em 1895, após a Proclamação da República, passou a se chamar Forte do Leme. O Presidente Hermes da Fonseca, em 1913, determinou erguer uma nova edifi cação, no mesmo local, pela sua importância estraté-gica, a fi m de impedir qualquer tentativa de ameaça externa à barra da Baía de Guanaba-ra, mobiliando-a com peças de artilharia mais modernas. Segundo informações bibliográfi cas (Gar-rido, 1940), o autor do projeto foi o Coronel Engenheiro Tasso Fragoso e teve a coorde-nação do Major Arnaldo Paes de Andrade. Aprovado, o projeto foi enviado para a fábrica Krupp, na Alemanha. Segundo o projeto dos alemães, seriam quatro obuseiros de 120mm,

A construção do Forte Duque de Caxias ocorreu no período de 1776 a 1779, (e foi er-guido) por ordem do Marquês de Lavradio. O seu nome inicial era Forte do Vigia ou da Espia. Na verdade, tratava-se de um posto de observação na entrada da Baía de Guanabara, para alertar as fortifi cações vizinhas sobre a chegada de navios estrangeiros ao Rio de Ja-neiro, como também para defender qualquer desembarque inimigo no sul da cidade. Em 1789, foi guarnecido pela Companhia dos Dragões de Minas, onde servia o Alferes Joaquim José da Silva Xavier – O Tiradentes – poucos dias antes da sua prisão. Por falta de recursos, em 1791, o Vice-Rei D. José Luís de Castro determinou a retirada de

História

Da casamata avista-se o morro do Pão de Açucar

Guarnição com uniforme colonial

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cujos projéteis transporiam as elevadas barrei-ras constituídas pelos Morros da Urca e do Pão de Açúcar, com armas que seriam fabricadas sob medida para atender ao projeto. No período da Primeira Guerra Mundial (1914-18), sem que as obras fossem concluí-das, o forte foi guarnecido pela 11ª Bateria do 4º Grupo de Artilharia de Costa (GACos), sob o comando do Capitão Manoel Pedro de Al-cântara (Garrido, 1940). O efetivo era de três oficiais e 32 praças, alojados provisoriamente em barracões de madeira. No decorrer da guerra, pelas agressões sofridas com o torpedeamento de navios brasileiros pelos alemães, o Brasil declarou guerra à Alemanha. As atividades do projeto foram suspensas, retornan-do a partir de 1918, com o fim do conflito. Dando continuidade à construção, proce-deu-se à instalação de quatro obuseiros girató-rios Krupp de 280mm, com alcance de 12km. Concluídas as obras do Quartel de Paz, que abrigava a guarnição no sopé do morro, e do Quartel de Guerra, no alto do morro, o forte foi inaugurado em 9 de janeiro de 1919. Entre outras participações, no quadro políti-

co e militar da época, destacam-se o ocorrido na revolução de 1930, quando participou da ação de interceptação do navio alemão Baden,

Datas marcantes na história do Forte Duque de Caxias

Canhão Krupp de 280mm

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Bandeira do Brasil tremulando no topo do Forte, tendo ao fundo o Corcovado.

que tentava abandonar o porto do Rio de Janei-ro sem permissão. Ignorando as ordens de rádio para retornar ao porto, forçou a barra da Baía de Guanabara, recebendo dois tiros de advertência pelo Forte. Ao insistir na ma-nobra, foi então alvejado por um tiro que lhe estroçou o mastro principal, obrigando-o a retornar. Em julho de 1935, em homenagem ao Pa-trono do Exército, pelo decreto assinado pelo então Presidente Getúlio Vargas, recebeu o nome de Forte Duque de Caxias. Nesse mes-mo ano, por ocasião da Intentona Comunista, permaneceu fi el às forças legalistas, tendo seu efetivo participado do cerco aos rebeldes do 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha.

No dia 11 de novembro de 1955, os úl-timos disparos de sua artilharia foram dados, por ordem do Marechal Teixeira Lott, contra o cruzador Tamandaré, que forçava a barra transportando Carlos Luz, alguns ministros e aliados rumo a Santos. Durante 20 minutos, foram feitos vários disparos, sem atingir a em-barcação. Em 24 de abril de 1965, com todos os obu-seiros já com tubos de redução de 105mm, o forte foi desativado, dando início a uma nova fase de sua história. As suas instalações pas-saram a sediar um estabelecimento de ensino que traria grandes benefícios ao Exército e passou a denominar-se Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias (CEP/FDC).

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O Centro de Estudos de Pessoal e Forte Du-que de Caxias (CEP/FDC) hoje é uma organi-zação militar peculiar do Exército, vocaciona-da para o ensino superior (pós-graduação), a pesquisa psicológica e a preservação de valores históricos ambientais e culturais. Essas ativida-des constituem a missão síntese da OM: edu-car, pesquisar, avaliar e preservar. É participante ativo no processo de transfor-mação do Exército, que prevê novas concep-ções para diferentes vetores estruturais da força terrestre perante novas demandas decorrentes de um mundo imerso na era do conhecimento e da tecnologia. Assim sendo, vem desenvol-vendo e conduzindo projetos de reestrutura-ção e reformulação aos sistemas de primeira ordem da Instituição, a saber: Sistema de En-sino, Sistema de Comunicação Social, Sistema de Operações Psicológicas, Sistema de Pessoal e Sistema Operacional. Além da reestruturação educacional e peda-gógica, reformulou seu espaço físico para aten-der, em determinadas épocas do ano letivo, um corpo discente de 200 alunos, bem como para sediar grandes eventos, nas áreas de ensino e avaliação psicológica. Foi reaberto o Audi-tório Professor Raul Jobim Bittencourt com um novo espaço para 320 lugares e sistema de áudio e som de última geração, e ainda foram feitas reformas de salas de aula e implantação de redes sem fi o.

Colaboração do CEP/FDC

CEP/FDC

Vista panorâmica do aquartelamento

Instrutor ministrando aulano auditórioProf. Raul Jobim Bittencourt

EducarUma das missões do CEP

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Na parte estrutural foram realizadas obras para manutenção do Forte, entre elas, a imper-meabilização total da laje de cobertura, insta-lação de rede elétrica independente, reforma de banheiros, salas e galerias, iluminação da fachada e sinalização. Foi também adquirido um carro elétrico para o transporte de visitan-tes e para o apoio administrativo. No acervo histórico, houve um aumento do potencial cultural do Forte. Agora dispõe de um memorial à Caxias, galerias com exposições fi xas sobre a sua história, área de proteção ambiental, sala de vídeo com exibição de fi lmetes e espaço para realização de exposições temporárias.

Revitalização

No dia 24 de setembro de 2010,após 10 meses da execuçãodo projeto de revitalização,o forte reabriu as suas portaspara visitação pública.

O novo salão deexposições temporárias

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Exposição do acervo doDuque de Caxias

Cerimonial de hasteamento da Bandeira Nacional.Grupo escolar ao início da visita ao Forte.

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O canhão Krupp de 280mmé um dos atrativos mais

procurados pelos visitantes

Colaboração do CEP/FDC

Crianças visitam as exposições eparticipam do passeio ecológico

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A história do Forte Duque de Caxias, des-de a criação do Forte do Vigia, em 1776, até os dias atuais, registrou fatos históricos mar-cantes que demonstraram a sua importância estratégica na segurança da barra da Baía de Guanabara.

Ao ser transformado em estabelecimento de ensino, prosseguiu com a missão de preser-var e divulgar o processo histórico, mas agora também com a responsabilidade de educar, pesquisar e avaliar, participando no processo de transformar o Exército.

Após a revitalização do Forte, com a cria-ção e ampliação do espaço cultural, passou a ter uma programação intensa e já foi visi-tado por mais de 20 mil pessoas desde a sua reinauguração, número que tende a crescer ainda mais. Cerca de 90% dos visitantes re-comendam o passeio e disseram que a visita superou suas expectativas, em pesquisa rea-lizada pelo Forte.

No primeiro semestre de 2011, o Forte re-cebeu a visita de inúmeros grupos de diversos segmentos da sociedade: autoridades civis e militares, universitários, estrangeiros, grupos de terceira idade, alunos de ensino médio e fundamental que visitaram o sítio histórico e a área de proteção ambiental do Leme, conhe-cendo um pouco mais sobre as tradições e a história do Exército e o trabalho desenvolvido de educação ambiental.

Além de receber grupos, ele é aberto de ter-

Paulo Roberto Rodrigues Teixeira

Coronel de Infantaria e Estado-Maior, é natural do Rio de Janeiro.

Tem o curso de Estado-Maior e da Escola Superior de Guerra. Atual-

mente é assessor da FUNCEB e redator-chefe da Revista DaCultura.

Paulo Roberto Rodrigues Teixeira

ça-feira a domingo, das 9h30 às 16h30. O passeio inicia-se pela caminhada ecológica, uma subida de 800 metros numa estrada de paralelepípedos, arborizada pela mata atlântica, em meio a área de proteção ambiental, onde todos se deslumbram com a vista panorâmica ao longo do trajeto, um espetáculo inesquecível para o visitante.

Dentro da Política Cultural da Força Terrestre, considera-se que o Forte Duque de Caxias possa, em curto prazo e com algu-mas modifi cações, tornar-se um dos pontos turísticos mais visitados da Cidade do Rio de Janeiro, consolidando-se como mais uma ferramenta para formar o caráter militar e do cidadão brasileiro.

Encerramos a nossa reportagem com a cer-teza que deixamos nossos leitores, especialmen-te os que pela primeira vez estão conhecendo o Forte Duque de Caxias, orgulhosos do que fez o Exército, no passado, ao cumprir a nobre e difí-cil missão de alertar sobre qualquer tentativa de invasão estrangeira à cidade do Rio de Janeiro e defendê-la, e hoje, o que representa o Centro de Estudos de Pessoal (CEP), organização militar vocacionada para o ensino superior, com parti-cipação efetiva no processo de transformação da Força Terrestre, destaque na área cultural do país.

Encerramento