5_perfil biográfico florbela espanca fevereiro 2010

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Máscaras do Destino que dedica ao irmão. Mas a viver para o Redondo, onde o jovem casal passa a trabalhar num novo projecto que, a princípio se essencialmente, uma busca e uma insaciabilidade, Soror Saudade. Entretanto, volta a apaixonar-se, refugia-se a trabalhar afincadamente no livro As Em Junho de 1919, sai o Livro de Mágoas, Florbela Espanca é, sem dúvida, uma das Em 1917, ingressa na faculdade de Direito Flor e confia os originais a Batelli. No dia 2 de Quimeras. livro de contos.

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Biografia

Florbela Espanca é, sem dúvida, uma das

primeiras vozes na Literatura Portuguesa a exprimir

com originalidade e sinceridade poética a alma e a

essência do feminino. Apesar das influências

simbolista e parnasiana, com recurso ao soneto e ao

decassílabo, as temáticas da sua poesia reflectem,

essencialmente, uma busca e uma insaciabilidade,

centradas na idealização transbordante e erotizada

do Eu e do Amor, marcadamente românticas. O

sofrimento, a solidão e o desencanto, aliados a uma

imensa ternura e a um desejo de felicidade e

plenitude infinitos, corporizados numa linguagem

veemente e confessional, tornam os seus textos

únicos e capazes de se apoderarem do leitor.

A sua vida foi dominada pelo incomum, pelo

inesperado e pelo dramático. Nasceu em Vila Viçosa,

a 8 de Dezembro de 1894, fruto de uma relação

extraconjugal que o pai, João Maria Espanca,

arranjara com Antónia Conceição Lobo, visto não

conseguir ter filhos do seu casamento com Mariana

Toscano. Como tal, é registada filha de “pai

incógnito”, tal como o irmão, Apeles, que nasce 3

anos depois, apesar de ambos terem sido adoptados

e educados pelo casal. Este estigma social e

ignominioso, para Florbela, só será alterado 19 anos

após a morte da poetisa, altura em que o pai a

perfilha, aquando da inauguração do seu busto, em

Évora.

Após ter sido uma das primeiras mulheres a

concluir o curso geral do liceu, em Évora, em 1912,

casa, aos 19 anos, com um colega de liceu, Alberto

Moutinho, contra a vontade do pai e do irmão, e vai

viver para o Redondo, onde o jovem casal passa a

dar explicações para viver. Publica os seus primeiros

poemas na Imprensa Portuguesa em 1914. Em 1916,

inaugura o projecto “Trocando Olhares”, colectânea

de 88 poemas e três contos cujos poemas, mais

tarde, darão origem a duas antologias poéticas, Livro

de Mágoas e Livro de Soror Saudade.

Em 1917, ingressa na faculdade de Direito

da Universidade de Lisboa, onde é das únicas

mulheres inscritas.

Em Junho de 1919, sai o Livro de Mágoas,

que esgota rapidamente, apesar do quase

desconhecimento da autora no mundo literário.

O marido vive no Algarve e, Florbela

apaixona-se por um jovem militar, António

Guimarães, com quem passa a viver, causando

enorme escândalo entre os parentes. Após o divórcio

com Alberto Moutinho, casa, em 1921, com António

Guimarães com quem, segundo consta, não é feliz.

O pai e o irmão cortam relações com ela. Começa a

trabalhar num novo projecto que, a princípio se

chamaria Livro do Nosso Amor ou Claustro de

Quimeras.

Acentuam-se problemas de instabilidade

emocional e neuróticos, após o segundo aborto

espontâneo. Em Janeiro de 1923, publica o Livro de

Soror Saudade. Entretanto, volta a apaixonar-se,

desta vez, por um médico militar, Mário Lage, com

quem acaba por casar, em 1925, após um segundo

divórcio. Passa a viver em Matosinhos, na casa dos

pais de Mário Lage.

Em 1927, começa a compor os poemas que

darão origem a Charneca em Flor e a trabalhar num

livro de contos.

Nesse ano dá-se o acontecimento mais

trágico na vida de Florbela - a morte do irmão

Apeles, num acidente de aviação - do qual nunca

recuperará. A sua doença agrava-se bastante e,

segundo Rui Guedes, biógrafo e estudioso da sua

obra, “nunca mais conseguiu dormir tranquila, nunca

mais se riu, nunca mais deixou o luto.” A escritora

refugia-se a trabalhar afincadamente no livro As

Máscaras do Destino que dedica ao irmão. Mas a

sua vida afectiva e profissional tornam-se cada vez

mais instáveis.

Em 1930, começa a escrever Diário do

Último Ano. Passa a colaborar nas revistas Portugal

Feminino e Civilização e trava conhecimento com o

professor italiano Guido Batelli, na ocasião visitante

na Universidade de Coimbra, que se oferece para

editar as suas últimas publicações.

Após uma primeira tentativa falhada de

suicídio e de lhe ter sido diagnosticado um edema

pulmonar, revê, em Matosinhos, o livro Charneca em

Flor e confia os originais a Batelli. No dia 2 de

Dezembro de 1930, encerra o seu Diário do Último

Ano com a seguinte frase «…e não haver gestos

novos nem palavras novas.»

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Às duas horas do dia 8 de Dezembro de

1930 – no dia e hora do seu 36º aniversário –

suicida-se, ingerindo dois frascos de Veronal.

Algumas décadas depois, os seus restos são

transportados para Vila Viçosa. Em 1934, Diogo de

Macedo termina e envia para Évora o busto de

Florbela que, durante anos, ficará encaixotado e

fechado numa arrecadação da Câmara. Só 19 anos

depois, após o seu reconhecimento como filha

legítima de João Espanca, o busto será inaugurado.

Bibliografia

Livro de Mágoas, 1ª edição,1919

Livro de Soror Saudade, 1ª edição, 1923

Charneca em Flor: Sonetos de Florbela Espanca (edição póstuma), 1ª edição, 1931

Juvenília: versos inéditos de Florbela Espanca, 1ª edição, 1931

Cartas de Florbela Espanca a Dona Júlia Alves e a Guido Battelli, 1ª edição, 1931

As Máscaras do Destino, contos, 1ª edição, 1931

Cartas de Florbela Espanca (e evocação lírica de Florbela Espanca por Azinhal Abelho e José Emídio Amaro), 1ª edição, Lisboa, Edição dos Autores, s.d.

Diário do Último Ano (seguido de um poema sem título), 1ª edição (edição fac-similada), Amadora, Bertrand Editora, 1981

O Dominó Preto, contos, 1ª edição, 1982

Aos dezasseis anos

Aos trinta e seis anos

Bibliografia consultada:

http://www.institutocamoes.pt/cvc/projtelecolab/tintalusa/numerodois/tl3.html http://www.mulheres-ps20.ipp.pt/Florb-Espanca.htm#Biografia

[F 15 – Fevereiro de 2010]

“Eu não sou de ninguém!...Quem me quiser Há-de ser Luz do Sol em tardes quentes(…)

Há-de ser Outro e Outro num momento! Força viva, brutal, em movimento,

Astro arrastando catadupas de astros!»