6 Didática

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DIDÁTICA

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  • DIDTICA

  • APRESENTAO

    Caro aluno, voc est recebendo o mdulo da disciplina de Didtica.

    Esses textos nortearo seus estudos, porm no limitam o contedo. Assim

    sendo, elaboramos este material com o objetivo central de norte-lo

    enquanto aluno de pedagogia, instigando-o a esquadrinhar novas pesquisas

    que dever fazer sobre o assunto.

    Alguns designam a Didtica como sendo uma orientao para a

    prtica pedaggica, ou seja, o primeiro passo ofertar qualidade no processo

    de ensino-aprendizagem, para faz-lo precisou unir didtica e o

    planejamento, at porque o educador necessita ser constante pesquisador,

    pois no ensino- aprendizagem os mtodos mudam adequadamente a cada

    tipo de pblico, de contedo, de cultura. Por isso falar sobre a didtica

    inserir o planejamento, pois ambos se interpem.

    Faremos uso de bibliografias que subsidie uma abordagem rica e

    contribua pertinentemente em sua prtica pedaggica, atingindo o foco

    principal que todo educador pretende com seu trabalho: a efetivao do

    processo de ensino-aprendizagem.

    Bons estudos!

    Prof Edilaine Rodrigues

  • EDUCAO, PEDAGOGIA E DIDTICA:

    ARTICULAES

    Para tratarmos das relaes entre educao, pedagogia e didtica,

    fundamental entendermos o processo educativo em sua complexidade. O

    que fazem os educadores em todos os lugares e pocas? Divulgam, expem,

    repassam s comunidades os conhecimentos j produzidos. Esse repasse

    ocorre em todos os locais do meio social, como troca de informaes,

    maneiras de agir, pensar e sentir entre as pessoas. O processo socializador

    tambm meio de conservao das produes da cultura, pois permite a

    circulao das idias e sua manuteno.

    No podemos esquecer que essas trocas so repasses ideolgicos,

    que carregam em si intencionalidades a favor ou contra algo e a algum. As

    formas assistemticas, no intencionais, no-formais de educao

    acompanham a histria da humanidade e permitiram um processo gradativo

    de construo de prticas sistematizadas, intencionais, formais:

    a) Na comunidade primitiva, o grupo adulto repassava s crianas e

    aos jovens os conhecimentos necessrios para viver no meio, nas aes

    cotidianas.

    b) Na sociedade escravista, aparecem os preceptores, os pedagogos,

    os mestres e, gradativamente, as academias e escolas, nas quais pessoas

    especficas ensinavam com mtodo prprio e planejamento.

    c) Na idade mdia, a Igreja Catlica controlava os processos

    educativos, bem como, restringia o acesso leitura e escrita, para acentuar

    os processos de dominao sobre a populao, a formao sistematizada foi

    exclusiva do claro e depois, no processo de transio entre o feudalismo e o

    capitalismo, foram estabelecidas escolas junto s catedrais para a populao

    em geral.

    d) apenas no capitalismo que a educao sistematizada, por meio

    de escolas e outras instituies especficas para o ensino, passa a ser

    acessvel a um nmero maior de pessoas da populao, quando as camadas

    dominantes utilizam a escola com diferentes funes.

    O processo educativo nasce de forma assistemtica como prtica

    necessria manuteno da comunicao, interao e produo cultural dos

    seres humanos e toma a forma sistematizada como reflexo da diviso e

    especializao do trabalho nas diferentes sociedades. So muitas as formas

    de educao presentes nas prticas sociais e identificadas na literatura.

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    Assistemtica Sistemtica

    No-intencional Intencional

    Informal No-formal Formal

    Para Libneo (1999, p. 80-83) a educao informal a ao

    espontnea, difusa, no intencional, sem objetivos estabelecidos previamente,

    que no possui carter institucional, pois a...

    [...] modalidade de educao que resulta do clima em que

    indivduos vivem, envolvendo tudo o que do ambiente e das

    relaes socioculturais e polticas impregnam a vida

    individual e grupal. Tais fatores ou elementos informais da

    vida social afetam e influenciam a educao das pessoas de

    modo necessrio e inevitvel, porm no atuam

    deliberadamente, metodicamente, pois no h objetivos

    preestabelecidos conscientemente. Da seu carter no-

    intencional. [...].

    E a educao no-formal so as atividades intencionais, mas com

    pequeno grau de sistematizao, so relaes pedaggicas no formalizadas como

    tal. Libneo (1999, p. 81) exemplifica citando: os trabalhos comunitrios, as

    atividades culturais e de lazer, as aes de organizaes no governamentais. J a

    educao formal intencional, realizada em instituies, com planejamento

    prvio, objetivos a serem alcanado, currculo pr-definido. O autor salienta a

    articulao entre essas dimenses da educao por meio do esquema posto a seguir.

    Independente da dimenso ou da forma de manifestao, as prticas

    educativas expressam as intencionalidades daqueles que as fazem, suas

    vises de mundo e tambm as percepes sobre desenvolvimento e

    aprendizagem. Nas aes assistemticas, informais, essas

    intencionalidades no so alvo de grandes discusses, mas nos processos

    formais, sistemticos, devem fazer parte da base da organizao do ensino.

    Ocorre que nem todos os educadores tm clareza de seus propsitos e

    concepes, alguns agem sem refletir sobre suas aes, sem se questionar

    sobre as finalidades, funes e objetivos do processo educativo, sem

    perceberem a importncia social da escola e da educao. E esse tipo de

    comportamento que traduz a falta de compromisso social e poltico destes

    educadores, pois no pensam sobre as conseqncias de suas escolhas

    (Figura 2). Mafalda e a escola

  • Fonte: http://clubedamafalda.blogspot.com/2007_04_01_archive.html

    A Pedagogia e a Didtica esto entrelaadas com os processos

    educativos, tanto nas aes sistematizadas com nas assistemticas.

    Para refletir

    O que Educao?

    O que Pedagogia?

    O que Didtica?

    Quais so as relaes entre elas?

    Vamos refletir sobre o sentido atribudo a essas palavras em sua

    gnese, para depois traarmos suas diferenas, semelhanas e articulaes.

    Educao deriva do latim, dos vocbulos: educo, educas, educavi,

    educatum, educare, que significam: [...] alimentar, nutrir, cuidar, criar

    (uma criana), instruir, ensinar. (HOUAISS, 2001, p. 1.100) E de [...]

    educere (tirar para fora de, conduzir para, modificar um estado)

    (LIBNEO, 1999, p. 64). Os responsveis por essas aes foram chamados

    de educator, educatoris [...] o que cria, nutre, diretor, educador,

    pedagogo.

    A etimologia da palavra, expressa o sentido social atribudo ao ato

    educativo, ou seja, o de criar, manter vivo e o de conduzir a um determinado

    caminho, conforme as definies da sociedade. A palavra Pedagogia tem

    origem na Grcia Antiga, derivada dos vocbulos gregos paids (criana),

    agein (conduzir) e logos (tratado ou cincia), a arte de conduzir crianas

    (GHIRALDELLI JNIOR, 1991, p. 8). Os pedagogos eram, inicialmente,

    os escravos que conduziam as crianas aos locais de estudo para que

    recebessem instrues de seus preceptores, no era sua funo instruir.

    Apenas quando os gregos foram dominados pelos romanos, a funo se

    modificou, pois os escravos, agora gregos, tinham erudio superior aos

    dominadores romanos e eram tambm os preceptores (GHIRALDELLI

    JNIOR, 1991, p. 8). Foram pedagogos famosos: Esopo, Scrates,

    Aristteles...

    A palavra didtica vem da expresso grega

    (techn didaktik), ou seja, a arte ou tcnica de ensinar, de discorrer. uma

    ao prpria dos pais, amas, preceptores e pedagogos. A didtica se

    manifesta nas prticas sociais de vrias formas: como ao humana, campo

    de conhecimento e como disciplina: Como ao humana expressa a

    preocupao dos homens em preparar o ensino, organizar as aulas, escolher

    mtodos prprios para ensinar um dado contedo.

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  • A palavra didtica vem da expresso grega

    (techn didaktik), ou seja, a arte ou tcnica de ensinar, de discorrer. uma

    ao prpria dos pais, amas, preceptores e pedagogos. A didtica se

    manifesta nas prticas sociais de vrias formas: como ao humana, campo

    de conhecimento e como disciplina: Como ao humana expressa a

    preocupao dos homens em preparar o ensino, organizar as aulas, escolher

    mtodos prprios para ensinar um dado contedo.

    O campo de conhecimento indica os grupos que pesquisam a

    Didtica e criam saberes especficos nesta rea. A disciplina de Didtica

    desenvolvida em cursos de formao de professores, procurando oferecer as

    ferramentas terico prticas necessrias para que o futuro professor possa

    atuar em sala de aula (ARAJO, 2005).

    Embora muitos filsofos tenham se debruado sobre a educao,

    apenas a partir do sculo XII surgem tratados sistemticos sobre o ensino,

    como as obras:

    a) Eruditio didascalia, de Hugo de San Victor, no sculo XII;

    b) De disciplinis, de Juan Luis Vives, no sculo XVI;

    c) Aporiam didactici principio, de Wolfgang Ratke, no sculo XVII.

    Nenhuma delas, porm, ganha notoriedade como a Didctica

    Magna, de Joo Ams Comnio, publicada em 1657, pela divulgao e

    complexidade das propostas ali colocadas, como o Tratado que prope

    ensinar tudo a todos. E como educao, pedagogia e didtica se articulam?

    Essa no uma questo consensual. A discusso sobre a

    caracterizao desses elementos e suas interrelaes perpassa os sculos,

    bem como, a possibilidade de se atribuir cunho cientfico aos mesmos. A

    anlise de Arajo (1997) sobre os contedos trabalhados na Escola Normal

    na dcada de 1930, no sul de Mato Grosso, na Escola Normal Joaquim

    Murtinho, revela as imprecises sobre o assunto, pois os cadernos

    analisados apontam inicialmente a Pedagogia como fundamento no-

    cientfico para a educao dependente de outras cincias, e tambm como

    cincia em construo: Ora, a pedagogia visa guiar a pratica do ensino e tem

    por objeto imediato a ao; alm disso os seus preceitos so do domnio de

    outras cincias, como a anatomia, a fisiologia, a antropologia, a higiene e a

    sociologia.

    Logo, j por no tender a exprimir em leis certas realidades, mais a

    guiar a pratica educativa, j por no ter domnio autnomo, a pedagogia no

    deve ser considerada uma cincia (CSAR, 1933, p. 17 apud ARAJO,

    1997, p. 35, grifos nossos).

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  • No stimo ponto, deste mesmo caderno, coloca-se a Pedagogia

    como cincia em construo, mantendo-se o debate acerca da natureza deste

    conhecimento e dos prprios parmetros da cincia. A Pedagogia aparece

    como o conjunto sistemtico das leis sobre educao e enquanto cincia da

    educao, trazendo a necessidade de conceituar o que educao e de

    analisar os elementos que a consubstanciam. A educao definida como a

    interferncia do homem na formao do prprio homem. Uma interferncia

    que suporia:

    1 O educando, que o elemento mximo na formao

    educativa. para ele que a educao existe. Normalmente o

    educando est na fase que vai do bero a maioridade;

    porquanto natural que a educao se realize at a idade em

    que se presume ter o homem discernimento e vontade

    bastante para lutar sozinho pela subsistncia.

    2 O educador-raro o caso do individuo educar-se por si

    mesmo. [...] Educadores so os pais, eles intervm 1 na

    criao dos filhos. A ao educativa dos pais geralmente se

    faz por muitos anos, da a razo pelo qual o cunho [que]

    imprimem aos filhos, perdura. Em segundo lugar vm os

    professores e depois a sociedade. Esta exerce de par com a

    ao dos pais e dos mestres, influencia profunda e, s vezes

    decisiva na formao dos homens. [...].

    3 A ao educativa- educando e educador so, afinal, 2

    termos que um mesmo fato relaciona, isto , a ao do

    educador sobre o educando. [...].

    4 A finalidade educativa-assim como no se compreende

    educando sem educador, e um e outro sem ao educativa,

    tambm no se pode compreender a ao educativa sem uma

    finalidade principal. este o problema mais interessante da

    pedagogia.

    5 O mtodo na ao educativa, alm do objetivo que se

    empreenda, importa acentuar uma orientao dos processos

    empregados pelo educador. [...]. O que preliminarmente

    cumpre ao educador conhecer as leis fundamentais da

    evoluo do corpo e do esprito dos educandos sem este

    conhecimento a interferencia do educador, mesmo

    inteligente, ser sempre desastrosa (CSAR, 1934, p. 23-25

    apud ARAJO, 1997, p. 36).

    A preocupao em oferecer status de cincia Pedagogia acentua-

    se na dcada de 1930 sob a influncia cientificista da Escola Nova2, que

    procura legitimar o conhecimento educativo, caracterizando-o como

    cientfico.

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  • Mesmo no sculo XXI essa discusso no foi finalizada, pois h

    inmeras percepes, algumas delas descritas a seguir. Ghiraldelli Jnior

    (1991) descreve as origens histricas da pedagogia, mostrando que sempre

    esteve originalmente ligada ao ato de conduo ao saber, tendo at os dias

    atuais, [...] a preocupao com os meios, com as formas e maneiras de levar

    o indivduo ao conhecimento.

    O autor afirma que a pedagogia a teoria e a educao a prtica

    geradora da teoria pedaggica. [...] A educao, ao mesmo tempo em que

    produz pedagogia, tambm direcionada e efetivada a partir das diretrizes

    da pedagogia (GHIRALDELLI JNIOR, 1991, p. 9). E situa a didtica

    como mediadora entre o plo terico (pedagogia) e o plo prtico

    (educao) da atividade educativa:

    [...] O como ensinar, o que ensinar, o quando ensinar e o para

    quem ensinar, quando ligados pedagogia, esto

    impregnados dos pressupostos e diretrizes de uma

    determinada concepo de mundo que, por sua vez, nutre tal

    pedagogia. Ora, no mbito da didtica, o como ensinar, o que

    ensinar, o quando ensinar e o para quem ensinar se

    consubstanciam em motivaes para que o educador, sob a

    luz da concepo de mundo que orienta sua pedagogia,

    procure os instrumentos e as tcnicas necessrios para que a

    prtica educativa ocorra com sucesso (GHIRALDELLI

    JNIOR, 1991, p. 9).

    Mazzotti (1996, p. 32-34) ao discutir o assunto observa que

    possvel considerar a pedagogia uma cincia da prtica, desde que no se

    tome como centro a perspectiva positivista de cincia. uma cincia da

    prtica, que no se confunde com a prpria prtica ao do professor e

    no se efetiva como tecnologia e sim como uma reflexo sistemtica sobre

    as prticas educativas. Pimenta (1996, p. 46-47) discute ainda, outra

    questo: Cincias da Educao ou Pedagogia cincia especfica da

    educao?, fundamentada em inmeros autores, que se dedicam ao estudo

    dessa questo, conclui que a pedagogia , efetivamente, a cincia que

    estuda a prtica e a prxis educativa.

    ____________________

    Entre os quais h vrios estrangeiros: Coelho e Silva (1991), Dias de Carvalho (1988), Estrela (1980), Estrela e

    Falco (1990), Prez-Gmez (1978), Not (1987), Quintana Cabanas (1983) e Schmied-Kowarzik (1983).

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  • Menciona Quintana Cabanas (1983) que considera a Pedagogia

    como cincia prtica e normativa da educao, que no se dilui nas demais

    cincias que estudam a educao, como a sociologia, a filosofia e a biologia,

    por exemplo.

    uma cincia [...] preocupada com a ao de educar, com o ato

    educativo e com a interveno nesse ato, apara o qual se dirige a um s

    tempo com a inteno de conhec-lo e de transform-lo, munida, portanto,

    de uma intencionalidade, de um projeto. Isso no ocorre com as demais

    cincias da educao, que se deparam com dificuldades concretas quanto

    problemtica de sua competncia e eficcia para a resoluo de questes

    prprias das situaes, dos fatos e dos problemas educativos no mbito da

    necessria articulao entre investigao e prtica (PIMENTA, 1996, p. 50,

    grifos da autora).

    Usando as idias de Schmied-Kowarzik (1983) Pimenta (1996, p.

    53) afirma:

    a) A educao uma prtica social humana, portanto, um fenmeno

    dinmico, inconcluso, que no captado pelo investigador em sua

    completude, mas em sua dialeticidade.

    b) A educao transformada pelos sujeitos da investigao que so

    transformados por ela na sua prtica social.

    c) A funo da pedagogia realizar um estudo sistemtico, especfico,

    rigoroso dessa prtica social, como forma de nela interferir.

    d) A pedagogia , assim, uma cincia que parte dos fenmenos

    educativos para a eles retornar.

    Pimenta (1996, p. 62-63) tambm trata da articulao entre

    Pedagogia e Didtica, considerando a Didtica como uma rea de estudos da

    Pedagogia, centrada na problemtica do ensino em situaes concretas, nas

    mltiplas dimenses da aula.

    Para finalizarmos o assunto, importante indicar que a Educao

    o elemento mais amplo, constitudo de prticas formais e informais; a

    Pedagogia a cincia que estuda a educao em sua amplitude e

    complexidade, e a Didtica um ramo da Pedagogia, que se centra no

    estudo do processo de ensino intencional realizado na aula. A Figura 3

    expressa a amplitude e articulao entre os trs elementos.

    Figura 3 Relaes entre educao, pedagogia e didtica

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  • CAPTULO I

    DIDTICA E AS TENDNCIAS PEDAGGICAS

    A disciplina de didtica tem um papel importante na vida cotidiana

    do curso de formao de professores em geral. Mas, o que venha ser a

    didtica? E porque ela to importante no processo de ensino-

    aprendizagem? Como podemos conceitu-las? Para tanto, dialogaremos

    com textos de Libneo, Jos Carlos Libneo um dos mais renomados

    educadores brasileiros. Logo, para inicio de discusso buscamos algumas

    noes sobre o que a didtica.

    Para voc entender melhor o conceito da didtica, extramos da

    coletnea de trabalhos de Libneo, intitulada Didtica: velhos e

    n o v o s t e m a s , d i s p o n v e l n o s t i o

    http://gtdidatica.sites.uol.com.br/textos/libaneo.pdf.

    A Didtica uma disciplina que estuda o processo de ensino

    no seu conjunto, no qual os objetivos, contedos, mtodos e

    formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a

    criar as condies e os modos de garantir aos alunos uma

    aprendizagem significativa. Ela ajuda o professor na direo

    e orientao das tarefas do ensino e da aprendizagem,

    fornecendo-lhe segurana profissional. Essa segurana ou

    competncia profissional muito importante, mas

    insuficiente. Alm dos objetivos da disciplina, dos contedos,

    dos mtodos e das formas de organizao do ensino, preciso

    que o professor tenha clareza das finalidades que tem em

    mente na educao das crianas. A atividade docente tem a

    ver diretamente com o para qu educar, pois a educao se

    realiza numa sociedade formada por grupos sociais que tm

    uma viso distinta de finalidades educativas. Os grupos que

    detm o poder poltico e econmico querem uma educao

    que forme pessoas submissas, que aceitem como natural a

    desigualdade social e o atuai sistema econmico. Os grupos

    que se identificam com as necessidades e aspiraes do povo

    querem uma educao que contribua para formar crianas e

    jovens capazes de compreender criticamente as realidades

    sociais e de se colocarem como sujeitos ativos na tarefa de

    construo de uma sociedade mais humana e mais

    igualitria. (LIBNEO, P.6, 2002).

    20

  • Nesta coletnea de textos o autor debateu a didtica em suas diversas

    aplicaes. Uma pesquisa utilizada p Libneo (2002) que traz diversas

    contextualizaes, voc perceber que construir conceitos torna-se uma

    ao pedaggica constante. Alem disso, so vrias as consideraes sobre o

    que seja didtica, h uma complexidade em torno da possibilidade

    conceituais desse ramo da pedagogia.

    Libneo (2002, p.9) cita que, para o espanhol Vicente Benedito, a

    didtica [...] est o caminho de ser uma cincia e tecnologia que se

    constri a partir da teoria e da prtica, em ambientes organizados de relao

    e comunicao intencional, nos quais se desenvolvem processos de ensino e

    aprendizagem para a formao do aluno.

    Benedito quer dizer que a didtica, como disciplina, est em

    processo de construo, oriundo da prpria relao terica e prtica.

    Encontramos nesse autor a referencia intencionalidade, isto , a educao

    vista como fruto de uma organizao, com mecanismo prprios de

    estruturao, visando consolidao dos processos de ensino-

    aprendizagem. Para tanto, o professor o cerne que rege a aprendizagem,

    neste momento faz-se pertinente que centremos o olhar sobre a didtica e o

    trabalho do professor. A didtica para Libneo (2002, p. 5)

    (...) uma disciplina que estuda o processo de ensino no seu

    conjunto, no qual os objetivos, contedos, mtodos e formas

    organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar

    as condies e os modos de garantir aos alunos uma

    aprendizagem significativa. Ela ajuda o professor na direo

    e orientao das tarefas do ensino e da aprendizagem,

    fornecendo-lhe segurana profissional. Essa segurana ou

    competncia profissional muito importante, mas

    insuficiente. Alm dos objetivos da disciplina, dos contedos,

    dos mtodos e das formas de organizao do ensino, preciso

    que o professor tenha clareza das finalidades que tem em

    mente na educao das crianas. A atividade docente tem a

    ver diretamente com o para qu educar, pois a educao se

    realiza numa sociedade formada por grupos sociais que tm

    uma viso distinta de finalidades educativas. Os grupos que

    detm o poder poltico e econmico querem uma educao

    21

  • que forme pessoas submissas, que aceitem como natural a

    desigualdade social e o atuai sistema econmico. Os grupos

    que se identificam com as necessidades e aspiraes do povo

    querem uma educao que contribua para formar crianas e

    jovens capazes de compreender criticamente as realidades

    sociais e de se colocarem como sujeitos ativos na tarefa de

    construo de uma sociedade mais humana e mais

    igualitria.

    Neste processo de ensino, o principio bsico que define esse

    processo o seguinte: o ncleo da atividade docente a relao ativa do

    aluno com a matria de estudo, sob a direo do professor. Consiste deste

    modo uma combinao adequada entre o papel de direo do professor e a

    atividade independente, autnoma e criativa do aluno. O papel do professor,

    portanto o de planejar, eleger e preparar os contedos, programar tarefas,

    criar condies de estudo dentro da classe, incentivar os alunos, ou seja, o

    professor dirige as atividades de aprendizagem dos alunos a fim de que estes

    se tornem sujeitos ativos da prpria aprendizagem. No h ensino

    verdadeiro se os alunos no desenvolvem suas capacidades e habilidades

    intelectuais, se no assimilam pessoal e ativamente os conhecimentos ou se

    no do conta de apliclos, seja nos exerccios e verificaes feitos em

    classe, seja na prtica da vida.

    O autor questiona o ensino (professor) e a aprendizagem efetiva

    decorrente do encontro entre o aluno e a matria? E o mesmo responde:

    A fora impulsionadora do processo de ensino um adequado

    ajuste entre os objetivos/contedos/mtodos organizados

    pelo professor e o nvel de conhecimentos, experincias,

    requisitos prvios e desenvolvimento mental presentes no

    aluno. O movimento permanente que ocorre a cada aula

    consiste em que, por um lado, o professor prope problemas,

    desafios, perguntas, relacionados com contedos

    significativos, instigantes e acessveis. Por outro lado, os

    alunos, ao assimilar consciente e ativamente a matria,

    mobilizam sua atividade mental e desenvolvem suas

    capacidades e habilidades. (LIBNEO 2002, p. 6).

    A disciplina de didtica percebida em contextos diferenciados

    como uma possvel cincia. Seu objetivo fundamental ocupar-se das

    estratgias de ensino, das questes prticas relativas metodologia e das

    estratgias de aprendizagem. Mas nem sempre a didtica foi percebida

    22

  • assim. Teremos, entre as estratgias e questes prticas, a contradio

    permanente entre o ideal e o real, isto , entre o que queremos e que

    conseguimos. Isso visto por meio das concepes atribudas ao papel

    didtico nas diversas tendncias pedaggicas do sculo xx.

    Vamos voltar nosso olhar para as correntes pedaggicas, tentando

    construir, junto com voc, noes iniciais sobre a didtica na pedagogia

    tradicional e renovada. Porm, veremos que, com o tempo, os movimentos

    sociais ampliaram a forma de entender a educao. E, com isso, a ao do

    professor no se limita ao fazer pedaggico tradicional e renovado. Assim

    tambm veremos as pedagogias crticas, em busca de maior dilogo com a

    formao do professor e do alunado.

    As metodologias pedaggicas, inclusive os de educao no-formal,

    so permeadas por compreenses diversas de homem, mundo e sociedade.

    Desde os primrdios da educao, inmeras tendncias pedaggicas vm

    sendo construdas, considerando o contexto histrico das sociedades que as

    produzem.

    As Tendncias Pedaggicas Liberais tiveram seu incio no sculo

    XIX, tendo recebido as influncias do iderio da Revoluo Francesa

    (1789), de "igualdade, liberdade, fraternidade", que foi, tambm,

    determinante do liberalismo no mundo ocidental e do sistema capitalista,

    onde estabeleceu uma forma de organizao social baseada na propriedade

    privada dos meios de produo, o que se denominou como sociedade de

    classes. Sua preocupao bsica o cultivo dos interesses individuais e no-

    sociais. Para essa tendncia educacional, o saber j produzido (contedos de

    ensino) muito mais importante que a experincia do sujeito e o processo

    pelo qual ele aprende, mantendo o instrumento de poder entre dominador e

    dominado.

    No artigo de Angela Mendona (2009), a pedagoga contextualiza

    com perceptibilidade tais tendncias:

    Na Tendncia Liberal Tradicional, tarefa do educador

    fazer com que o educando atinja a realizao pessoal atravs

    de seu prprio esforo. O cultivo do intelecto

    descontextualizado da realidade social, com nfase para o

    estudo dos clssicos e das biografias dos grandes mestres. A

    transmisso feita a partir dos contedos acumulados

    historicamente pelo homem, num processo cumulativo, sem

    reconstruo ou questionamento. A aprendizagem se d de

    forma receptiva, automtica, sem que seja necessrio acionar

    as habilidades mentais do educando alm da memorizao.

    Seu mtodo enfatiza a transmisso de contedos e a

    assimilao passiva.

    23

  • ainda intuitivo, baseado na estimulao dos sentidos e na

    observao. Atravs da memorizao, da repetio e da

    exposio verbal, o educador chega a um interrogatrio (tipo

    socrtico), estimulando o individualismo e a competio.

    Envolvem cinco passos que, segundo Friedrich Herbart, so

    os seguintes: preparao, recordao, associao,

    generalizao e aplicao.

    De forma geral, essa tendncia pedaggica, as aes de ensino esto

    centradas na exposio dos conhecimentos pelo professor. O professor

    assume funes como vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a

    matria. visto como a autoridade mxima, um organizador dos contedos

    e estratgias de ensino e, portanto, o nico responsvel e condutor do

    processo educativo.

    H predominncia da exposio oral de contedos, seguindo uma

    sequencia predeterminada e fixa independente do contexto escolar,

    enfatiza-se a necessidade de exerccios repetitivos para garantir a

    memorizao dos contedos. Os contedos e os procedimentos no so

    relacionados com o cotidiano do aluno e muito mesmo s realidades sociais.

    Na relao professor-aluno, prevalece a autoridade do professor. Este exige

    uma atitude receptiva dos alunos e pode impedir a comunicao entre eles.

    O professor transmite o contedo como uma verdade a ser absorvida

    (LIBNEO, 1983). Os contedos do ensino correspondem aos

    conhecimentos e valores sociais acumulados pelas geraes passadas, como

    verdades acabadas. Embora a escola vise preparao para a vida, no

    busca estabelecer relao entre os contedos que se ensinam e os interesses

    dos alunos, tampouco entre estes e os problemas reais que afetam a

    sociedade. A funo primordial da escola, nesse modelo, transmitir

    conhecimentos disciplinares para a formao geral do aluno, formao que

    o levar, ao inserir-se futuramente na sociedade, a optar por uma profisso

    valorizada (LUKESI, 1994).

    Na educao tradicional, denominada por Paulo Freire (2001) de

    bancria, o educando recebe passivamente os conhecimentos, tornando-se

    um depsito de informaes fornecidas pelo educador. Educa-se para

    arquivar o que se deposita. A conscincia bancaria pensa que quanto mais se

    d mais se sabe. A experincia tem mostrado que neste sistema a maioria dos

    indivduos inerte, por no haver estimulo para a criao (FREIRE, 2001).

    A Tendncia Renovada trata de um novo pensamento

    pedaggico internacional, que, inspirado em John Dewey,

    veio revolucionar o tradicionalismo na educao brasileira,

    sofrendo esta uma inspirao positivista baseada em Augusto

    Comte.

    24

  • Para essa tendncia, o papel da educao o de atender as

    diferenas individuais, as necessidades e interesses dos

    educandos, enfatizando os processos mentais e habilidades

    cognitivas necessrias adaptao do homem ao meio

    social. O educando , portanto, o centro e sujeito do

    conhecimento.

    Para Libneo (1994), essa tendncia, no Brasil, segue duas verses

    distintas: a Renovada Progressivista (que se refere a processos internos de

    desenvolvimento do indivduo; no confundir com progressista, que se

    refere a processos sociais) ou Pragmatista, inspirada nos Pioneiros da

    Escola Nova, e a Tendncia Renovada no-Diretiva, inspirada em Carl

    Rogers e A. S. Neill, que se volta muito mais para os objetivos de

    desenvolvimento pessoal e relaes interpessoais (sendo que este ltimo

    no chegou a desenvolver um sistema a respeito dos mtodos da educao).

    Seu mtodo de ensino o ativo, que inicialmente se caracteriza pelo

    mtodo "aprender fazendo" e, aps a juno dos cinco passos propostos por

    Dewey (experincia, problema, pesquisa, ajuda discreta do professor,

    estudo do meio natural e social), desenvolve o "aprender a aprender", que,

    privilegiando os estudos independentes e tambm os estudos em grupo,

    seleciona uma situao vivida pelo educando que seja desafiante e que

    carea de uma soluo para um problema prtico. Para Saviani, por estes

    motivos e outros de ordem poltica, a Escola Nova, seguidora dessas

    vertentes, acaba por aprimorar o ensino das elites e rebaixar o das classes

    populares. Mas, mesmo recebendo esse tipo de crtica, podemos consider-

    la como o mais forte movimento "renovador" da educao brasileira. Essas

    correntes, embora admitam divergncias, assumem um mesmo principio

    norteador de valorizao do individuo como ser livre ativo e social. O centro

    da atividade escolar no o professor nem os contedos disciplinares, mas

    sim o aluno, como ser ativo e curioso. O mais importante no o ensino, mas

    o processo de aprendizagem. Afirma Lukesi (1994, p.58) que se trata de

    aprender a aprender, ou seja, mais importante o processo de aquisio

    do saber do que saber propriamente dito.

    O professor facilita o desenvolvimento livre e espontneo do

    individuo, o processo de busca pelo conhecimento, que deve partir do aluno.

    Cabe ao professor organizar e coordenar as situaes de aprendizagem,

    adaptar suas aes s caractersticas individuais dos alunos, para

    desenvolver capacidades e habilidades intelectuais de cada um. O professor

    estimula ao mximo a motivao dos alunos, despertando neles a busca pelo

    conhecimento, o alcance das metas de aprendizagem e de desenvolvimento

    de competncias e habilidades.

    25

  • Dessa forma, o processo de ensino desenvolvido para proporcionar

    um ambiente favorvel ao autodesenvolvimento e valorizao do eu do

    aluno (SAVIANI,1985).A Tendncia Liberal Tecnicista tem seu incio com o declnio,

    no final dos anos 60, da Escola Renovada, quando, mais uma

    vez, sob a instalao do regime militar no pas, as elites do

    nfase a um outro tipo de educao direcionada s massas, a

    fim de conservar a posio de dominao, ou seja, manter o

    status quo dominante. Atendendo os interesses da sociedade

    capitalista, inspirada especialmente na teoria behaviorista,

    corrente comportamentalista organizada por Skinner e na

    abordagem sistmica de ensino, traz como verdade absoluta a

    neutralidade cientfica e a transposio dos acontecimentos

    naturais sociedade.

    Esta tendncia tambm conhecida como pedagogia por

    condicionamento, pois surgiu nos anos de 60 e 70, nesta poca o Brasil

    vivenciava um revs na educao nacional. Com a instabilidade poltica e

    economia crescente, desde o final do Governo de Juscelino Kubstichek

    (1960), o pas pendia em uma balana entre democracia e ditadura militar.

    Em 1964, essa balana foi totalmente virada para o lado militar. O

    Brasil entrou no seu perodo mais difcil. Como parte do programa de

    alinhamento com as potencias capitalistas, o Brasil aproximou-se dos

    Estados Unidos, no apenas militar e economicamente, mas tambm no

    campo educacional. Por meio de uma serie de acordos, conhecidos como

    Acordo MEC-USAID, importou-se tecnologia para a educao,

    financiados PR meio do World Bank (Banco Mundial). Nesse perodo,

    proliferou o chamado tecnicismo educacional, inspirado nas teorias

    behavioristas (Skinner, Bloon, Mager) da aprendizagem e na abordagem

    sistmica do ensino. Essa pedagogia se concentrou no modelo da conduta

    mediante o jogo eficiente de estmulos e recompensas capazes de

    condicionar o aluno a emitir respostas pelo professor. A prtica pedaggica

    altamente controlada e dirigida pelo professor, com atividades mecnicas

    inseridas em uma proposta educacional rgida e passvel de ser totalmente

    programada em detalhes (LUKESI, 1994).

    Nas Tendncias Progressistas, derivada das teorias crticas,

    ela passa a ser analisada como reprodutora das

    desigualdades de classe e reforadora do modo de produo

    capitalista. Tendo surgido na Frana a partir de 1968 e no

    Brasil com a Revoluo Cultural, nas Tendncias

    Progressistas, a escola passa a ser vista no mais como

    redentora, mas como reprodutora da classe dominante.

    Snyders (1994) foi o primeiro a usar o termo "Pedagogia

    Progressista", partindo de uma anlise crtica da realidade

    social, sustentando, implicitamente, as finalidades sociais e

    polticas da educao.

    26

  • A professora Angela Mendona cita Libneo (1994), para conceituar

    a pedagiogia progressista libertadora, e este designa trs tendncias

    Pedagogia Progressista:

    A Pedagogia Progressista que, partindo de uma anlise crtica

    das realidades sociais, sustenta os fins sociopolticos da

    educao. Teve seu incio com Paulo Freire, nos anos 60,

    rebelando-se contra toda forma de autoritarismo e dominao,

    defendendo a conscientizao como processo a ser

    conquistado pelo homem, atravs da problematizao de sua

    prpria realidade. Sendo revolucionria, ela preconizava a

    transformao da sociedade e acreditava que a educao, por

    si s, no faria tal revoluo, embora fosse uma ferramenta

    importante e fundamental nesse processo.

    A Pedagogia Progressista tem como idia bsica modificaes

    institucionais, que, a partir dos nveis subalternos, vo

    "contaminando" todo o sistema, sem modelos e recusando-se a

    considerar qualquer forma de poder ou autoridade.

    Percebemos esta tendncia como decorrncia de uma abertura

    para uma sociedade democrtica, que vai se firmando

    lentamente a partir do incio dos anos 80, com a volta dos

    exilados polticos e a liberdade de expresso nos meios

    acadmicos, polticos e culturais do pas. Firmando-se os

    interesses por escolas realmente democrticas e inclusivas e a

    ideia do projeto poltico-pedaggico da escola como forma de

    identificao poltica que atenda aos interesses locais e

    regionais, primando por uma educao de qualidade para

    todos. A participao em grupos e movimentos sociais na

    sociedade, alm dos muros escolares, incentivada e ampliada,

    trazendo para dentro dela a necessidade de concretizar a

    democracia, atravs de eleies para conselhos, direo da

    escola, grmios estudantis e outras formas de gesto

    participativa.

    No Brasil, os libertrios recebem a influncia do pensamento

    de Celestin Freinet e suas tcnicas nas quais os prprios alunos

    organizavam os seus planos de trabalho. O mtodo de ensino

    a prpria autogesto, tornando o interesse pedaggico

    dependente de suas necessidades ou do prprio grupo.

    A Pedagogia Progressista Crtico-Social dos Contedos,

    tendo sido fortalecida a princpio na Europa e depois no Brasil,

    a partir da dcada de 80, foi considerada como sinnimo de

    pedagogia dialtica, no sentido da "dialgica". Firmando-se

    como teoria que busca captar o movimento objetivo do

    processo histrico, uma vez que concebe o homem atravs do

    materialismo histrico-marxista, trata-se de uma sntese

    superadora do que h de significado na Pedagogia Tradicional

    27

  • e na Escola Nova, direcionando o ensino para a superao dos

    problemas cotidianos da prtica social e, ao mesmo tempo,

    buscando a emancipao intelectual do educando,

    considerado um ser concreto, inserido num contexto de

    relaes sociais. Da articulao entre a escola e a assimilao

    dos contedos por parte deste aluno concreto que resulta o

    saber criticamente elaborado (Libneo, 1990).

    Essa tendncia prioriza o domnio dos contedos cientficos, os

    mtodos de estudo, habilidades e hbitos de raciocnio

    cientfico, como modo de formar a conscincia crtica face

    realidade social, instrumentalizando o educando como sujeito

    da histria, apto a transformar a sociedade e a si prprio. Seu

    mtodo de ensino parte da prtica social, constituindo tanto o

    ponto de partida como o ponto de chegada, porm, melhor

    elaborado teoricamente.

    Os autores Libneo e Saviani, ao interpretar a pedagogia

    Crtico-Social dos Contedos, chegaram ao consenso de que

    dela parte uma das fases, entre tantas outras, de fundamento

    para a pedagogia Histrico-Crtica. Esta pedagogia surge, no

    Brasil, por volta de 1984, originria do materialismo histrico

    que, na educao, se expressa na metodologia dialtica de

    construo socioindividualizada do conhecimento.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    FREIRE, Paulo. Educao e Atualidade. 3. ed. So Paulo: Cortez;

    Instituto Paulo Freire, 2003.

    SAVIANI, Dermeval. Educao: do senso comum conscincia

    filosfica. 15. ed. Campinas: Autores Associados, 2004.

    ______. Pedagogia histrico-crtica primeiras aproximaes. 9. ed.

    Campinas: Autores Associados, 2005.

    28

  • CAPTULO II

    TENDNCIAS PEDAGGICAS, CRISE DE

    PARADIGMAS E AO DOCENTE

    Antes de iniciamos este assunto importante que verificssemos o

    conceito da palavra paradigma. O uso desta palavra recorrente na

    educao. Talvez voc j a tenha visto algumas vezes, quer nas aulas, quer

    em textos. De fato, a educao e o ensino tm se alimentado com as

    discusses sobre o significado dos paradigmas para a educao. Neste

    capitulo, vamos voltar nosso olhar para as discusses sobre o paradigma e

    pensar como aplic-los na ao docente.

    2.1 Paradigmas: algumas noes

    Thomas Kuhn, celebre historiador da cincia, publicou em ingls

    em 1962, um livro intitulado A Estrutura das Revolues Cientificas. Neste

    trabalho cunhou o termo paradigma para analisar as matrizes modeladores

    ou modelos existentes, considerando a questo, esclarecendo. Durante

    sculos se pensou pela tradio- que a terra era quadrada, tendo os oceanos

    um fim determinado. Isso foi sustentado pela cincia, desde a Grcia

    clssica. Essa era o paradigma dominante, isto , consolidado. Porm, com

    as grandes navegaes, desencadeou-se um processo de reviso desses

    conceitos, at comprovar-se que a terra era redonda. Esse movimento de

    mudana uma crise fez a cincia avanar.

    Uma crise de paradigmas engendra, portanto, uma mudana

    conceitual, ou uma mudana na viso de mundo, como consequencia do

    esgotamento dos modelos predominantes de explicao. A crise de

    paradigmas geralmente leva a uma mudana de paradigmas. As mudanas

    mais radicais se configuram como revolues cientficas.

    Ainda segundo Kuhn (1995), existem causas internas e externas que

    determinam as mudanas paradigmticas. Entre as primeiras, situam-se o

    desenvolvimento terico e metodolgico no contexto da teoria e o

    esgotamento dos modelos tradicionais de explicao oferecidos pela

    prpria teoria. Isso leva busca de novas explicaes ou novas alternativas.

    No que tangue as causas externas, destacam-se as mudanas scio-

    culturais que tornam s teorias insuficientes em seu poder explicativo. De

    ruptura, a cincia progride.

    ___________________

    2- O dicionrio priberam online da Lngua Portuguesa conceitua como algo que serve de

    exemplo geral ou de modelo. = PADRO

    2

    29

  • Exemplificando: ao pensamento nas tendncias pedaggicas vistas

    no capitulo anterior, verificamos que o paradigma tradicional de ensino,

    marcado pelas diversas teorias, foi sendo gradativamente substitudo por

    outras ideias de educao. Obviamente, a tendncia escolanovista, tambm,

    por sua vez, foi substituda.

    Relacionando o assunto, por exemplo, ao processo educativo de

    formao dos professores, deparamo-nos com uma realidade quase que

    quixotesca: como educadores, somos encarados como rea estratgica para

    a humanizao de todos as prticas sociais e profissionais, atravs do ato

    pedaggico, mas, ao mesmo tempo, sofremos o desprestigio da rea

    docente, dos saberes docentes acumulados, da prpria profisso de

    professor, tanto dentro da universidade, quanto fora dela (TARDIF, 2001).

    Esperamos a efetivao da prtica pedaggica como elemento de

    transformao, porm a transgresso necessria no vem sendo exercitada

    como elemento intrnseco da formao profissional do educador. pena

    vivenciarmos, em alguns cursos de formao, o discursos da emancipao

    ao estilo freireano e nos deparamos com o quase reprodutivismo inerte de

    ideias, prprio de uma educaco tradicional institucional.

    Estamos no pice da crise paradigmtica de modelos! Porm,

    concordamos com Resende (1996, p.62) quando afirma que estamos,

    basicamente, entre dois blocos paradigmticos trincados pelo prprio

    processo histrico, o conservador e o emergente. Mas, como toda crise, este

    tambm faz si o germe de sua prpria superao, que aponta para outra

    inspirao paradigmtica rumo a nova conceitos.

    como Lanni (2001, p. 13) resume a crise. O autor [...] de uma

    ruptura drstica nos modos de ser, sentir, agir, pensar e fabular. Um evento

    heurstico de amplas propores, abalando no s as conveces, mas

    tambm as vises de mundo. Pode-se afirmar que, nada mais certo do

    que a mudana. Quaisquer que sejam, vo ocorrer. Da, qualquer teoria, por

    mais bela que parea, entrar em crise por no poder dar conta das demandas

    produzidas no mbito da sociedade.

    2.2 Paradigmas de Ensino: princpios em crise

    O paradigma tradicional de ensino, no Brasil, tem suas origens nos

    primrdios da colonizao, com prticas educativas pelos jesutas. Como o

    objetivo da catequese era a converso do gentio religio catlica, a relao

    educador-educando comea marcado pelo autoricismo e sentitalismo de

    superioridade da raa branca, colonizadora.

    Conforme vimos anteriormente, os modelos ou tendncias passam

    por modificaes e acabam substitudos. Porm, antes disso ocorrer, esse

    modelo ou tendncia cria um corpus de atuao. Bordenave e Pereira (1991)

    explicitam os grandes princpios da prtica tradicional. So eles:

    30

  • a) O educador o centro do processo de ensino: ele o detentor do

    conhecimento que vai ser repassado e, como tal, no lhe cabe aceitar crticas

    ou questionamentos sobre o qu e como ensina.

    b) O educadando o objeto a ser moldado: deve se submeter ao

    ensino do educador, assimilando e reproduzindo o conhecimento todo.

    c) O conhecimento produto, ou seja, assimilado pelo educador e

    aluno em uma perspectiva esttica: concebido como algo acabado,

    imutvel, com valor idntico para toda a vida.

    d) A escola o local exclusivo de acesso ao conhecimento,

    hierarquicamente organizada para dar conta de sua finalidade bsica:

    formar as geraes mais jovens para se ajustarem ao meio social.

    Valendo desses princpios, torna-se fcil compreender porque a

    pedagogia tradicional, at os dias atuais, tem predominado nos diferentes

    nveis de ensino. Eles oferecem segurana ao professor e, por isso, tornam-

    se difceis de serem superados.

    A crtica ao paradigma tradicional comea a ser mais forte nos anos

    1950 e primeira metade da dcada de 1960, realizada luz da perspectiva

    escola-novista. Educadores brasileiros como Ansio de Texeira e Loureno

    Filho, influenciados pelos pensamentos de John Dewey, do uma grande

    contribuio desestabilizao de conceitos defendidos pelo paradigma

    tradicional de ensino. Propugnam novos princpios para o ensino-

    aprendizagem, conforme assinalam Bordenave e Pereira (1991). Observe.

    a) O aluno passa a ser centro do processo de ensino: configura-se como

    ser em desenvolvimento bio-psico-social, que necessita ter respeitada sua

    individualidade.

    b) O conhecimento no pode ser dado: ele resultado do esforo do

    aprendiz sobre o objetivo de estudado.

    c) O professor passa a ser orientador da aprendizagem: a ele cabe

    estimular, facilitar, criar condies para a aprendizagem do aluno ocorro.

    Deve, tambm, ajudar o educando na descoberta de suas potencialidades.

    Para conduzir sua tarefa, o educador precisa aperfeioar continuamente sua

    prtica.

    d) A escola o local onde a aprendizagem se d: por isso deve

    organizada e possuir ambientes favorveis. O seu currculo deve envolver

    atividades diversificadas, todas elas contando com a participao ativa do

    educando.

    A partir dos anos 1960, expande-se, no pas, a chamada pedagogia

    tecnicista que, muitos pontos, confirmam o paradigma tradicional. Apesar

    de todas as crticas que vertente tecnicista recebeu particularmente as que se

    projetam sobre a racionalidade instrumental que a sustenta no se pode

    deixar de admitir que ela extraia a centralidade do processo de ensino do

    professor, situando-a nos meios instrucionais.

    31

  • O tecnicismo evidenciou que o professor sem recursos adequados

    tm poucas possibilidades de promover a aprendizagem.

    Tambm, ao fundamentar a prtica pedaggica nas btaxionomias

    educacionais e em planos operacionais, ambos criticados por sua rigidez, o

    tecnicismo trouxe duas perspectivas que contrariam a postura do professor

    tradicional (dono do saber inquestionvel). So elas: o conhecimento do

    aprendiz no pode ficar apenas no nvel da memorizao, preciso elev-lo

    aos nveis de aplicao, anlise/ sntese e avaliao; e no d para

    improvisar o ensino, preciso planej-lo.

    No final dos anos 1960, comeam a ser, mais enfaticamente,

    destacadas as relaes entre educao e sociedade, especialmente pelas

    contribuies de autores de inspiraes entre educao marxista, como

    Althusser, Boudelot e Establet. Eles consideram a diviso capitalista do

    trabalho como ponto de partida e de chegada na explicao do papel da

    escola. Bardieu e Paseron, por sua vez, enfatizam os processos usados pela

    escola como instrumento de reproduo da cultura dominante. Eram

    lanados as bases para uma compreenso mais ampla de educao, nas suas

    mltiplas relaes: com a sociedade, com a poltica, com o poder institudo,

    com as classes sociais, etc. desde ento, um conjunto de educadores,

    caracterizados como progressistas, entre as quais se destaca Paulo Freire,

    por sustentar uma concepo dialtica de educao, na qual educador e

    educando aprendem juntos, buscando continuo aperfeioamento numa

    relao dinmica que integra teoria e prtica (freire, 2001), colaboram para

    que haja uma conscincia mais clara dos determinantes sociospoliticos da

    educao. Os progressistas trouxeram uma grande contribuio, mostraram

    as fragilidades e iluses do paradigma tradicional. Sem sombra de duvida, o

    pensamento pedaggico dos educadores progressistas pode ser configurado

    como o mais importante anomalia no contexto tradicional. Esses

    ressaltaram a obsolescncia da sua finalidade essencial: reproduzir valores e

    a cultura dominante, o que significa desconsiderar a educao como

    fenmeno histrico. Juntamente com o movimento da Escola Nova,

    constituem as principais causas internas da crise do paradigma tradicional;

    pela fora de suas ideias desarticulam a concepo terico-metodolgico

    que sustenta.

    Em suma, voc observou que a crise quer dizer, necessariamente,

    algo negativo. De fato, em educao, crise pode significar crescimento e

    desenvolvimento de novas perspectivas. Voc poder encontrar a educao

    em uma constante crise, compreendida aqui como espao de mudana e

    transformao.

    32

  • CAPTU

    REGINA BARROS LEAL

    Planejar e pensar andam juntos. Ao comear o dia, o homem pensa e

    distribui suas atividades no tempo: o que ir fazer, como fazer, para que

    fazer, com o que fazer etc. Nas mais simples e corriqueiras aes humanas,

    quando o homem pensa de forma a atender suas metas e seus objetivos, ele

    est planejando, sem necessariamente criar um instrumental tcnico que

    norteie suas aes. Essas observaes iniciais esto sendo expresso, apenas

    para chamar ateno sobre o aspecto cotidiano da ao de planejar e como o

    planejamento faz parte da vida. Aquele que no mais planeja, talvez j tenha

    robotizado suas aes, portanto, quem sabe, no tem a conscincia do que

    est fazendo, nem se ainda pode construir alguma coisa. Alguns at dizem:

    Nem preciso mais pensar, vou fazendo o que me mandam fazer... Eu no

    necessito planejar, j vou fazendo, porque sei onde vai dar.... E assim por

    diante.

    Nessa circunstncia, parece estar presente a alienao do homem

    como sujeito, na medida em que assume a atitude de dominado, fazedor

    dcil e outras tantas denominaes que podem ser impressas no sujeito,

    quando este se torna objeto nas mos de outrem. Todavia, o objetivo deste

    estudo no discutir tais questes, muito embora elas estejam presentes nas

    atividades habituais do homem. O planejamento um processo que exige

    organizao, sistematizao, previso, deciso e outros aspectos na

    pretenso de garantir a eficincia e eficcia de uma ao, quer seja em um

    nvel micro, quer seja no nvel macro. O processo de planejamento est

    inserido em vrios setores da vida social: planejamento urbano,

    planejamento econmico, planejamento habitacional, planejamento

    familiar, entre outros. Do ponto de vista educacional, o planejamento um

    ato poltico-pedaggico porque revela intenes e a intencionalidade, expe

    o que se deseja realizar e o que se pretende atingir.

    Mas o que significa planejamento do ensino e suas finalidades

    pedaggicas? O que o planejamento docente? O plano de aula? O projeto

    de disciplina?

    _____________________

    3- Disponvel no stio http://iberoamericanaeducacin/planejamentodesensino/artigos.pdf.

    4- interessante ler VASCONCELOS, Celso: Planejamento. Projeto de Ensino Aprendizagem e Projeto Poltico

    Pedaggico, So Paulo, Libertad, 1999. GANDIM, Danilo: Planejamento como prtica educativa, So Paulo,

    Edies Loyola, 1985.

    LO III

    PLANEJAMENTO DE ENSINO:

    PECULIARIDADES SIGNIFICATIVAS

    4

    33

  • A programao semestral? O projeto pedaggico? Esses conceitos,

    atualmente, foram redefinidos, no s por conta da Lei de Diretrizes e Bases

    da Educao Nacional, mas tambm como resultante do novo modelo de

    sociedade, onde alguns denominam de sociedade aprendente, outros,

    sociedade do conhecimento.

    O que importante, do ponto de vista do ensino, deixar claro que o

    professor necessita planejar, refletir sobre sua ao, pensar sobre o que faz,

    antes, durante e depois. O ensino superior tem caractersticas muito prprias

    porque objetiva a formao do cidado, do profissional, do sujeito enquanto

    pessoa, enfim de uma formao que o habilite ao trabalho e vida. Voltemos

    a questo inicial. O que significa o planejamento de ensino? Por que o

    professor deve planejar? Quais os procedimentos, os instrumentos, as

    tcnicas, os mtodos, os recursos e as finalidades pedaggicas do

    planejamento de ensino? Um ato poltico pedaggico? Uma carta de

    inteno? Uma reflexo sobre o saber fazer docente? Antes de desenvolver

    algumas dessas questes, imprescindvel afirmar que existem diferentes

    abordagens sobre o assunto. Tais abordagens se diferenciam pela forma

    como tratam a temtica, todavia se afinam quantos aos seus elementos

    constitutivos. Assim considerado, arrisca-se afirmar que o planejamento do

    ensino significa, sobretudo, pensar a ao docente refletindo sobre os

    objetivos, os contedos, os procedimentos metodolgicos, a avaliao do

    aluno e do professor. O que diferencia o tratamento que cada abordagem

    explica o processo a partir de vrios fatores: o poltico, o tcnico, o social, o

    cultural e o educacional.

    essencial enfatizar que o planejamento de ensino implica,

    especialmente, em uma ao refletida: o professor elaborando uma reflexo

    permanente de sua prtica educativa.

    Assim o planejamento de ensino tem caractersticas que lhes so

    prprias, isto, particularmente, porque lida com os sujeitos aprendentes,

    portanto sujeitos em processo de formao humana. Para tal

    empreendimento, o professor realiza passos que se complementam e se

    interpenetram na ao didtico-pedaggica. Decidir, prever, selecionar,

    escolher, organizar, refazer, redimensionar, refletir sobre o processo antes,

    durante e depois da ao concluda.

    __________________________________

    5- Recomenda-se, para uma reflexo mais aprofundada sobre as mudanas ocorridas neste modelo de sociedade, a

    leitura de MERCADO, Luiz Paulo Leopoldo: Formao continuada de professores e novas tecnologias, Macei,

    EDUFAL, 1999.

    5

    6

    34

  • O pensar, em longo prazo, est presente na ao do professor

    reflexivo. Planejar, ento, a previso sobre o que ir acontecer, um

    processo de reflexo sobre a prtica docente, sobre seus objetivos, sobre o

    que est acontecendo, sobre o que aconteceu. Por fim, planejar requer uma

    atitude cientfica do fazer didtico-pedaggico.

    Mas como planejar? Quais as aes presentes e como proceder do

    ponto de vista operacional, uma vez que entendido que o planejamento

    um processo, um ato poltico-pedaggico e, por conseguinte no tem

    neutralidade porque sua intencionalidade se revela nas aes de ensino. O

    que se pretende desenvolver? O cidado que se deseja formar? A sociedade

    que se pretende ajudar a construir?

    Em primeiro lugar, as fases, os passos, as etapas, as escolhas,

    implicam em situaes diversificadas, que esto presentes durante o

    acontecer em sala de aula, num processo de idas e vindas. Contudo, para

    efeito de entendimento, indica-se a realizao de um diagnstico aqui

    compreendido como uma situao de anlise; de reflexo sobre o

    circunstante, o local, o global. Nesse contexto didtico-pedaggico:

    averiguar a quantidade de alunos, os novos desafios impostos pela

    sociedade, as condies fsicas da instituio, os recursos disponveis, nvel,

    as possveis estratgias de inovao, as expectativas do aluno, o nvel

    intelectual, as condies socioeconmicas (retrato scio-cultural do aluno),

    a cultura institucional a filosofia da universidade e/ou da instituio de

    ensino superior, enfim, as condies objetivas e subjetivas em que o

    processo de ensino ir acontecer.

    Tal atitude do docente o encaminhar para uma reflexo de sua ao

    educativa naquela instituio e a partir desse diagnstico inicial,

    relacionando com o projeto da universidade, poder desenvolver uma

    prtica formativa.

    De posse do Projeto de Ensino oficial, o docente ir elaborar sua

    programao, adaptando-a as suas escolhas, inclusive, inserindo a pesquisa

    nos exerccios didticos. Caso a instituio de ensino superior no apresente

    o projeto da disciplina, o professor dever elaborar observando os seguintes

    componentes:

    _____________________________

    7- SCHON, Donald A.: Formar professores como profissionais reflexivos, in NVOA, Antnio (coord.): Os

    professores e sua formao, Lisboa, Don Quixote, 1992.

    8-Um modelo de Projeto de Ensino encontra-se nesta coletnea de texto, como anexo. apenas um modelo, mas

    contm os elementos essenciais a um projeto pedaggico.

    7

    8

    35

  • a) EMENTA DA DISCIPLINA. Ementa um resumo dos contedos

    que iro ser trabalhados no projeto.

    b) OBJETIVOS DE ENSINO. Elabor-los na perspectiva da formao

    de habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos: habilidades cognitivas,

    sociais, atitudinais etc. H nveis diferenciados de objetivos: objetivo geral,

    alcanvel longo prazo; objetivo especfico, o qual expressa uma habilidade

    especfica a ser pretendida. Este deve explicitar de forma clara a inteno

    proposta. Os objetivos variam quanto ao nvel, conforme o projeto. Por

    exemplo; no Projeto da disciplina: objetivo geral e objetivos especficos

    para cada unidade do Projeto; no plano de aula pode comportar mais de um

    objetivo especfico, dependendo do nmero de sesses (exemplo: 02

    sesses no perodo da noite, horrios A e B). importante frisar que ir

    depender da estrutura pedaggica da instituio, a forma de elaborar

    projetos e planos. H bastante flexibilidade, contanto que no projeto de

    ensino ou plano de aula, estejam presentes os seus elementos constitutivos.

    Portanto, no existem modelos fixos.

    Destaca-se ainda, que os objetivos, de uma maneira geral, para

    deixar clara a ao pretendida, devem iniciar com o verbo no infinitivo

    porque ir indicar a habilidade desejada. Caso o professor desejar indicar

    outra habilidade no mesmo objetivo, deve usar o outro verbo no gerndio.

    Exemplo: Avaliar as condies socioeconmicas do Nordeste, indicando os

    fatores determinantes da regio.

    A formulao de objetivos est diretamente relacionada seleo de

    contedos.

    c) CONTEDOS (saber sistematizado, hbitos, atitudes, valores e

    convices). Quais so os contedos de ensino? Quais os saberes

    fundamentais? O professor dever, na seleo dos contedos, considerarem

    critrios como: validade, relevncia, gradualidade, acessibilidade,

    _________________________

    9- Ver como Libneo classifica os contedos de ensino. Muito embora seja um livro para o ensino fundamental,

    interessante a forma como trata a questo, ultrapassando os limites de que os contedos de ensino se resumem ao

    saber sistematizado. LIBNEO, Jos Carlos: Didtica, So Paulo, Cortez, 1994. Pe-se em evidncia que h uma

    nova tendncia que enfatiza a formao de competncias e habilidades dos alunos.

    9

    36

  • interdisciplinaridade, articulao com outras reas, cientificidade,

    adequao. Alm do conhecimento da cincia, o professor, por exercer uma

    funo formadora, deve inserir outros contedos: socializao, valores,

    solidariedade, respeito, tica, poltica, cooperao, cidadania, etc.

    d) METODOLOGIA (procedimentos metodolgicos). Metodologia

    o estudo dos mtodos. Metodologia de ensino significa o conjunto de

    mtodos aplicados a situao didtico-pedaggica.

    Mtodo de ensino o caminho escolhido pelo professor para

    organizar as situaes ensino-aprendizagem. A tcnica a

    operacionalizao do mtodo. No planejamento, ao elaborar o projeto de

    ensino, o professor antev quais os mtodos e as tcnicas que poder

    desenvolver com seu aluno em sala de aula na perspectiva de promover a

    aprendizagem. E, juntamente com os alunos, iro avaliando quais so os

    mais adequados aos diferentes saberes, ao perfil do grupo, aos objetivos e

    aos alunos como sujeitos individuais. Nesse processo participativo o

    professor deixa claro suas possibilidades didticas e o que ele pensa e o que

    espera do aluno como sujeito aprendente, suas possibilidades, sua

    capacidade para aprender, sua individualidade.

    Quando o professor exacerba um mtodo ou uma tcnica, poder

    estar privilegiando alguns alunos e excluindo outros, e, mais ainda,

    deixando de realizar singulares experincias didticas que o ajudariam

    aperfeioar sua prtica docente e possibilitar ao aluno variadas formas de

    aprender. Ainda arriscar a trabalhar o saber de diferentes formas,

    percorrendo criativos trajetos em sala de aula.

    O medo de mudar, s vezes, impede o professor de arriscar novos

    caminhos pedaggicos. Da o significado didtico-pedaggico na formao

    do professor. Os paradigmas das experincias anteriores podem ser as

    referncias de muitos professores. Assim posto, vlido para o docente

    __________________________

    10- A postura da construo do conhecimento, segundo Celso Vasconcelos (1996), implica na mudana de

    paradigma pedaggico, qual seja, ao invs de dar o raciocnio pronto, de fazer para e pelo aluno construir a

    reflexo tomando por base a metodologia dialtica, onde o professor mediador da relao educando e o objeto de

    conhecimento.

    10

    37

  • buscar novas tcnicas, desbravar novos caminhos, numa investida

    esperanosa de quem deseja fazer o melhor, do ponto de vista metodolgico

    e didtico. Tal atitude implica em estudar sobre a natureza didtica de sua

    prtica educativa.

    Donald Schon tem sido uma referncia terico-

    metodolgica dos profissionais que atuam na rea

    de formao de professores por afirmar que os

    bons profissionais utilizam um conjunto de

    processos que no dependem da lgica, da

    racionalidade tcnica, mas sim, so manifestaes

    de sagacidade, intuio e sensibilidade artstica.

    Schon orienta para que se observe estes

    professores para averiguarmos como desenvolvem

    suas prticas, como fazem e o que fazem, para

    colhermos lies para nossos programas de

    formao. (O saber fazer-docente, 2002).

    O professor deve refletir didaticamente sobre sua prtica, pensar no

    cotidiano sobre o saber fazer em sala de aula, para no escorregar na

    mesmice metodolgica de utilizao mesmos recursos e das invariveis

    tcnicas de ensino. importante que o professor estude sobre essa temtica,

    uma vez que h uma diversidade metodolgica que pode ser trabalhada em

    sem sala de aula e/ou numa situao didtico-pedaggica.

    ____________________________

    11- Arriscamos indicar uma bibliografia na rea do Ensino Superior sobre metodologia, tcnicas, enfim, meios

    para mediar os saberes. GARCIA, M. M.: A didtica do ensino superior, Campinas, Papirus, 1994. ABREU,

    Maria Clia, e MASETTO, Marcos Tarcsio: O professor universitrio em aula, So Paulo, MG, 1986.

    MOREIRA, Daniel (org.): Didtica do ensino superior. Tcnicas e Tendncias, So Paulo, Pioneira, 1997.

    SILVEIRA, Regina B. L.: A didtica e a questo da qualidade de ensino, in Revista de Humanidade, 7(5), 1990.

    BORDENNAVE, Juan Diaz: Estratgias de ensino aprendizagem, Petrpolis, Vozes, 1980. LEAL, Regina B.:

    Memorial em dinmica de grupo, Fortaleza, Edies Dezessete e Trinta, 2001. CASTRO, Amlia A.: O professor

    e a didtica, Revista Educao, Braslia, 1981.

    12- Pesquisa realizada na Universidade de Fortaleza: O 'saber-fazer competente' dos professores para alm do

    olhar da escola ou a prtica docente: saberes revelados no cotidiano escolar. Professora coordenadora: Regina

    Barros Leal. Professoras orientadoras: Mnica Mota Tassigny, Grace Troccoli, Josenilde Costa. Orientandas:

    alunas da disciplina de Prtica de Ensino e Didtica.

    11

    12

    38

  • Exemplo: exposio com ilustrao, trabalhos em grupos, estudos

    dirigidos, tarefas individuais, pesquisas, experincias de campo,

    sociodramas, painis de discusso, debates, tribuna livre, exposio com

    demonstrao, jri simulado, aulas expositivas, seminrios, ensino

    individualizado.

    f) RECURSOS DE ENSINO. Com o avano das novas tecnologias da

    informao e comunicao-NTIC, os recursos na rea do ensino se

    tornaram valiosos, principalmente do ponto de vista do trabalho do

    professor e do aluno, no s em sala de aula, mas como fonte de pesquisa. Ao

    planejar, o professor dever levar em conta as reais condies dos alunos, os

    recursos disponveis pelo aluno e na instituio de ensino, a fim de organizar

    situaes didticas em que possam utilizar as novas tecnologias, como:

    datashow, transparncias coloridas, hipertextos, bibliotecas virtuais,

    Internet, e-mail, sites, teleconferncias, vdeos, e outros recursos mais

    avanados, na medida em que o professor for se a aperfeioando.

    g) AVALIAO. A avaliao uma etapa presente quotidianamente

    em sala de aula, exerce uma funo fundamental, que a funo

    diagnstica. O professor dever acolher as dificuldades do aluno no sentido

    de tentar ajud-lo a super-las, a venc-las. Evitar a funo classificatria,

    comparando sujeitos entre sujeitos. A avaliao dever considerar o avano

    que aquele aluno obteve durante o curso.

    H muito que estudar sobre avaliao. Um das dicas a de realizar

    as articulaes necessrias para que se possa promover testes, provas,

    relatrios, e outros instrumentos a partir de uma concepo de avaliao que

    ________________________________________

    13- Recomenda-se a leitura de LEVY, Pierre: As tecnologias da inteligncia: o futuro do pensamento na era da

    informtica. Rio de Janeiro, 1993.

    14- O professor dever conhecer os procedimentos e instrumentos de avaliao, suas funes. Recomendamos a

    leitura de VASCONCELOS, Celso dos S.: Avaliao: concepo dialtica libertadora do processo de avaliao

    escolar, in Cadernos Pedaggicos de Libertad, vol. 3, So Paulo, Libertad, 1995. LUCKESI, Cipriano Carlos:

    Avaliao da aprendizagem escolar: estudos e proposies. 2.a ed., So Paulo, Cortez, 1995. HOFFMAN, Jussara

    M.: Avaliao: Mitos e desafios, uma perspectica construtivista, Porto Alegre, Mediana, 1993. HOFFMAN,

    Jusasara: Avaliao mediadora: uma prtica em construo da pr-escola universidade, Porto Alegre, Mediana,

    1993.

    13

    14

    39

  • diz respeito ao aluno como sujeito de sua aprendizagem, uma vez que

    planejar uma ao dinmica, interativa, e acontece antes de se iniciar o

    processo de ensino, durante e depois do processo. uma ao reflexiva, que

    exige do professor permanente investigao e atualizao didtico-

    pedaggica.

    ________________________

    15- Indica-se a leitura de Indica-se a leitura de PETRAGLIA, Isabel: Edgar Morin: a

    educao e a complexidade do saber, So Paulo, Vozes, 1995. SEVERINO, A. j.:

    Interdisciplinaridade: para alm da filosofia do sujeito, So Paulo, Vozes, 1996.

    15

    40

  • CAPITULO IV

    O QUE FAZER NA SALA DE AULA: didtica,

    metodologia ou nada disso?

    VIVALDO PAULO DOS SANTOS

    Resumo

    Este texto tem o propsito de iniciar uma discusso sobre o quefazer

    que envolve professor e aluno na sala de aula e que, historicamente, tem sido

    analisado, quase exclusivamente, pelas janelas das 'didticas' e das

    'metodologias'. Prope-se, neste breve ensaio, que esse quefazer seja

    analisado a partir do alargamento de viso, uma vez que h indcios

    anunciando que essas disciplinas no esto dando conta de responder aos

    desafios da atualidade quanto a essa dinmica no interior da sala de aula e

    que abrange outros fatores, alm das tradicionais relaes didtico

    metodolgicas entre professores e alunos. Levanta-se a hiptese de que o

    estreitamento das relaes entre Pedagogia e Comunicao, na ptica da

    educomunicao, e, numa abordagem dialgica, na perspectiva do discente

    freiriana, talvez oferea aos educadores um aporte significativo para anlise

    e apreenso desse quefazer.

    PALAVRAS-CHAVE: que fazer; discente; dialogicidade;

    educomunicao.

    INTRODUO

    Nas ltimas dcadas do sculo XX, as pesquisas educacionais

    apontavam a manifestao de uma crise de paradigmas que emergia como

    resultado das tenses histricas e dos choques entre concepes

    tradicionais, o que contribuiu, seguramente, para abalar toda a estrutura do

    atual edifcio da educao escolar. J nos anos 80, os educadores tambm

    identificaram a existncia de uma crise no campo da 'arte de ensinar'. Foi

    exatamente esse motivo que justificou a organizao do Seminrio

    Didtica em questo, realizado em novembro de 1982, cuja organizao

    coube ao CNPq e PUC/RJ. Ali se anunciou, definitivamente, a necessidade

    de um repensar a arte universal de ensinar tudo a todos (COMENIUS,

    1997, p. 11).

    Dentre as diversas reflexes resultantes dos trabalhos ali

    apresentados, algumas so dignas de citao:

    41

  • A didtica no poder continuar sendo um apndice de

    orientaes mecnicas e tecnolgicas. Dever ser, sim, um

    modo crtico de desenvolver uma prtica educativa,

    forjadora de um projeto histrico, que no se far to-

    somente pelo educador, mas pelo educador, conjuntamente,

    com o educando e outros membros dos diversos setores da

    sociedade (CANDAU, 1984, p. 30).

    Nota-se que comea a ruir a idia de uma didtica como conjunto de

    tcnicas e saberes metodolgicos indispensveis arte de ensinar algo a

    algum. Percebe-se tambm o incio de um novo sentido, de um novo olhar,

    implicando a necessidade de alargamento do horizonte que orienta o

    processo ensinar-aprender e de percepo da presena de um conjunto mais

    amplos de interesses e interessados na educao.1 Evidencia-se que o

    espao da sala de aula comea a ser percebido como um cenrio complexo,

    permeado por interesses os mais diversos e radicalmente diferente daquele

    que se define, nica e exclusivamente, com base numa relao linear

    professor-aluno. Reconhece-se a presena ou pelo menos dela se

    desconfia de novas variveis no espao pedaggico da sala de aula. Em

    outra passagem da obra resultante do Seminrio, l-se o seguinte:

    Enquanto instrumentalizao tcnica a Didtica no pode,

    por conseguinte, ser tratada como componente isolado, como

    algo em si mesmo, sem levar em conta consideraes da

    ordem dos valores e dos fins, pois ela no se justifica a si

    mesma apesar da pretenso de neutralidade que toda tcnica

    arroga para si enquanto decorrente de teorias cientficas s

    quais serve inclusive de critrio de validao pela verificao

    e sua eficcia constatada nas observaes dos resultados

    obtidos (op. cit., p. 36).

    Como se pode notar, pensar as questes que envolvem a didtica

    parece no ser uma tarefa to simples como, a princpio, se poderia

    imaginar. Ora, se a Didtica est a exigir o alargamento das tradicionais

    fronteiras que lhe conferiam identidade e lhe asseguravam status de arte ou

    cincia de ensinar, no h dvida, hoje, da necessidade de reavaliar e

    repensar, com humildade epistemolgica, porm com certa dose de ousadia,

    todo esse edifcio que, durante sculos, arrogou para si o direito quase

    exclusivo de responsabilizar-se pelo processo ensino-aprendizagem. Tanto

    isso verdade que ainda est muito presente, no imaginrio e no discurso da

    maioria das pessoas, a crena de que, para ser um bom professor, no basta

    ter conhecimento numa determinada rea de atuao; preciso, antes de

    tudo, ter uma boa didtica. Tambm fazem parte dessas representaes

    pedaggicas s idias da existncia de uma Didtica Geral e de uma

    Didtica Especial, ou especfica, como preferem alguns. Muitos tericos

    vem a Didtica como uma questo plenamente resolvida.

    42

  • Veja-se, nesse sentido, o que nos apresenta este texto:

    A didtica o principal ramo de estudo da Pedagogia. Ela investiga os fundamentos, as condies e os modos de

    realizao da instruo e do ensino. A ela cabe converter

    objetivos sociopolticos e pedaggicos em objetivos de

    ensino, selecionar contedos e mtodos em funo desses

    objetivos (LIBNEO, 1992, p.25).

    Percebe-se, aqui, um carter extremamente abrangente. A Didtica

    se confunde com a prpria Pedagogia, pois apresentada como uma

    verdadeira teoria do processo ensino-aprendizagem e, portanto, da

    educao escolar. Se Didtica cabe investigar os fundamentos, as

    condies e os modos de realizao da instruo e do ensino, ento ela se

    converte em cincia da educao e assume o lugar da prpria Pedagogia.

    Note-se ainda que, no entender de Libneo, Didtica cabe tambm a

    responsabilidade de converter objetivos sociopolticos e pedaggicos em

    objetivos de ensino, conseqentemente, em objetivos educacionais,

    acrescentando-lhe a tarefa de dar sentido ao processo ensino-aprendizagem.

    Assim, a Didtica assume o lugar reservado Filosofia da Educao.

    Entretanto, de acordo com esse autor, sua tarefa no pra a, vai mais longe:

    a ela cumpre selecionar contedos e mtodos, o que tambm a conecta s

    questes de currculo e metodologia. Ora, se a Didtica pode ser confundida

    com tanta coisa ao mesmo tempo, ser que ela no est correndo srio risco

    de esvaziamento de significado e, conseqentemente, perdendo a prpria

    identidade? Pode-se ser tudo, quem garante que no possa ser nada?

    essa falta de preciso no que diz respeito especificidade da

    Didtica que acaba dando lugar a crticas do tipo: Em muitos de seus

    aspectos, os programas de didtica sobrepem-se aos programas de Histria

    da Educao (SANTOS; OLIVEIRA, apud TOZZI, 1998, p. 129).

    Contudo, como se no bastasse o que j se disse a respeito da

    Didtica, vale argumentar que, muitas vezes, a prpria Metodologia de

    Ensino reivindica para si o mesmo estatuto da Didtica. Veja-se, a esse

    respeito, o que nos apresenta Ivani Fazenda (1991, p. 46):

    43

  • A metodologia de ensino voltada para a anlise crtica da

    prtica educacional, inter-relaciona algumas tcnicas de

    ensino individual e coletivo, buscando produzir a

    transformao da relao professor-aluno mediada pelo

    prprio trabalho docente.

    Note-se que, nessa afirmao, caso fosse omitido o termo

    metodologia de ensino, substituindo-o por didtica, ningum perceberia

    qualquer alterao substancial no sentido da afirmao sobre suas tarefas.

    Sobre as questes relativas s 'metodologias', acentue-se ainda a

    existncia de mltiplas variveis indissociveis umas das outras no

    processo ensinar-aprender, conforme nos apresenta Clia Linhares (2001, p.

    141-142) ao se referir s questes de natureza terico-metodolgica

    presentes nas relaes professor-aluno, no espao da sala de aula:

    Quer na dimenso micro tratando das relaes professor-

    aluno , quer na dimenso macro analisando sistemas

    educacionais a autonomia implica um solo tico, em que se

    investigam os limites do exerccio do ensinar e do aprender.

    Mas, a tica no se exerce hoje desligada do mundo dos

    saberes, incluindo, portanto, uma ateno especial para as

    relaes de interdependncia terico-metodolgica da

    educao com as diferentes esferas que constituem o mundo

    dos saberes. Isto quer significar que educao e pedagogia

    como faces indissociveis uma da outra constroem sua

    especificidade epistemolgica com mltiplos entrelaces,

    definindo-se como uma prtica social elaborada.

    justamente por essas razes que no podemos acreditar que a

    educao seja entendida e praticada como mero campo

    aplicacionista.

    Alm da falta de nitidez entre Didtica e Metodologia; Didtica e

    Filosofia da Educao; Didtica e Prtica de Ensino; Didtica e Histria da

    Educao, encontramos aqueles que identificam o contedo da disciplina

    Currculo como parte da Didtica. Dessa forma,

    [...]o campo da Didtica englobaria o do Currculo, visto que

    a Didtica estuda o ensino como um todo, no qual est

    presente a questo dos contedos da escolarizao objeto

    central do campo do Currculo. E, nesse caso, os estudos no

    campo do Currculo implicariam um aprofundamento de um

    dos aspectos estudados pela Didtica (op.cit., p. 132).

    44

  • Analisando-se a questo a partir da citao acima, fica evidenciada a

    existncia de uma complementaridade entre Currculo e Didtica,

    acentuando-se de modo inquestionvel o estabelecimento de uma relao

    dialtica entre ambas. Assim, a complementaridade dos campos do

    currculo mais relacionado com contedo e de didtica mais

    relacionado com mtodo (forma) uma necessidade intrnseca a eles

    (op.cit., p. 134).

    Ainda sobre os dilemas da Didtica, vale a pena destacar mais uma

    posio diferente:

    No qualifico a didtica como uma prtica, embora no

    despreze este seu lado. Muito menos, tento v-la como uma

    teoria geral da educao, estando ou no travestida com o

    nome de Pedagogia esta megalomania terica deveria estar

    afastada de ns desde h muito. Prefiro, neste trabalho, v-la

    como um campo de saberes. Ento chamarei de didtica um

    lugar, ao qual cabe estudar as principais teorias

    educacionais dos nossos tempos (GHIRALDELLI, 2000, p.

    11).

    Esse modo de ver a Didtica reafirma sua identificao com as

    tarefas da Filosofia da Educao, cuja diferena repousa apenas nos

    aspectos da linguagem, pois, enquanto a Filosofia da Educao utiliza uma

    linguagem tcnica, prpria da Filosofia, a didtica serve-se de uma

    linguagem ecltica, histrica, sociolgica, mas no tcnica, no especfica

    de uma das reas das humanidades. Ghiraldelli (op. cit., p. 13), ao tentar

    definir Didtica, acaba por introduzir uma nova varivel no j complexo e

    confuso cenrio: A verdadeira didtica, no meu entender, deve muito

    capacidade geral de se dispor para o outro, na troca de olhares e

    'cortejamento' entre educador e educando trata-se da varivel

    comunicao. Tomando-se como referncia as diversas idias at aqui

    esboadas e analisadas, parece ficar cada vez mais evidente, no discurso

    pedaggico da atualidade, a presena de uma forte tendncia da necessidade

    de que as disciplinas didtico-metodolgicas, bem como todo o aparato de

    idias complexas e confusas que cerca este termo, sejam submetidas a um

    processo rigoroso de reflexo, tendo em vista o compromisso a ser assumido

    com um processo responsvel de formao das futuras geraes de

    educadores.

    Ora, se a troca de olhares, o cortejamento e outros mltiplos

    entrelaces presentes na relao educador / educando fazem parte do

    complexo edifcio didtico-metodolgico, ser lcito e lgico admitir

    tambm que essa relao, num espao pedaggico, tem, indiscutivelmente,

    um qu de comunicao.

    45

  • A partir dessa interpretao, comea a descortinar-se um novo

    horizonte no cu cinzento e nebuloso do processo ensinar-aprender. Se at

    aqui ele foi pintado quase exclusivamente com as cores didtico-

    metodolgicas, de ora em diante, passar a adquirir tonalidades da

    Comunicao. Evidentemente, no se est a falar de uma comunicao

    geral, lato senso; trata-se do processo de comunicao do discente, no

    sentido freiriano do termo. Entre os saberes necessrios prtica docente,

    Freire (2002, p. 127-128) inclui a exigncia de saber escutar:

    Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala

    com ele, mesmo que, em certas condies, precise falar a ele.

    O que jamais faz quem aprende a escutar para poder falar

    com falar impositivamente [...] O educador que escuta

    aprende a difcil lio de transformar o seu discurso, s vezes

    necessrio, ao aluno, em uma fala com ele.

    Portanto, parece haver um movimento lento, mas gradativo, que se

    vai consolidando, no sentido de alertar para a necessidade de aprofundar a

    anlise sobre as questes do processo ensinar-aprender. A varivel

    comunicao do discente comea a aparecer com relativa freqncia na

    literatura pedaggica, para designar a ao que ocorre no interior da sala de

    aula e resulta em ensino-aprendizagem. Tambm a varivel comunicao

    est se fazendo presente nas recentes pesquisas relativas relao

    professor-aluno, quando se pretende determinar fatores que contribuem

    para degradao das relaes no interior da sala de aula. Parece ainda

    oportuno, em se falando de Paulo Freire, enfatizar a relevncia por ele

    atribuda dialogicidade, quando nos referimos s questes relacionadas ao

    ensinar-aprender:S, na verdade, quem pensa certo, mesmo que s vezes, pense

    errado, quem pode ensinar a pensar certo. E uma das

    condies necessrias a pensar certo no estarmos

    demasiadamente certos de nossas certezas [...] A

    'dodiscncia' docnciadiscncia e a pesquisa,

    indicotomizveis, so assim prticas requeridas por estes

    momentos do ciclo gnosiolgico (op. cit., p. 30 -31).

    Mais uma vez, as idias de dilogo e de dialogicidade se fazem

    presentes na relao educador-educando e educando-educador. A

    dialogicidade uma prerrogativa das pessoas que duvidam de suas certezas,

    e s quem duvida de suas certezas rene as condies necessrias a uma

    relao dialgica. Sabe-se que as relaes pedaggicas apoiadas nos

    pressupostos didtico-metodolgicos se revestem de muitas certezas,

    restando pouca margem para as incertezas. E onde no h lugar para as

    incertezas, tambm no h lugar para a comunicao. A comunicao no

    um processo linear, uma vez que exige reciprocidade de ao entre emissor e

    receptor e vice-versa, bem ao sabor da comunicao do discente.

    46

  • Em recente pesquisa intitulada Violncias nas escolas, Miriam

    Abramovay e Maria das Graas Rua (2002, p. 178) apontam a falta de

    comunicao como um dos fatores responsveis pelo acirramento da

    violncia no interior da escola:

    A falta de comunicao dos alunos, seja com professores ou

    demais membros do corpo tcnico-pedaggico, desencadeia

    nos estudantes grande revolta, independentemente da idade

    ou srie em que se encontrem. bastante possvel que esta

    atitude afete a auto-estima dos estudantes, que no aceitam

    ser ignorados. Nesse sentido, h uma forte crtica aos

    professores cuja preocupao se restringe ao repasse de

    contedo, sem interesse em interagir com a turma.

    bem provvel que os defensores das 'didticas' e das

    'metodologias' se apressem em dizer que a situao acima apresentada

    tpica de falta de didtica dos professores, ou que a eles falta uma boa

    metodologia, o que acaba afetando a prtica de ensino. Entretanto, a questo

    no essa: parece ficar cada vez mais evidente que se est a falar da natureza

    e dos dilemas comunicativos da educao. Note-se que os alunos no

    reclamam da forma como os contedos so explicitados nem fazem

    referncia maneira como so apresentados. A reclamao se d em outro

    nvel: Ela d aula [...] no tem nenhuma conversa (op.cit., p. 180).

    Portanto, fica patente que h um problema de comunicao a

    enfrentar: falta de um dilogo pedaggico e ausncia de uma comunicao

    do discente. Em outra passagem, a pesquisa revela explicitamente a

    dificuldade que os professores tm para dialogar com seus alunos em sala de

    aula, reforando a tese de que a ausncia do dilogo se constitui, de fato, em

    fator de deteriorao das relaes pedaggicas no interior da sala de aula:

    H professores que tm dificuldade de dialogar com os alunos,

    humilhando-os e ignorando completamente seus problemas, no querendo,

    sequer escut-los, pois, a professora fala que no tem nada a ver com isso

    (id.ib., p. 180).

    Tudo leva a crer que chegado o momento de repensar as relaes

    comunicacionais no interior da sala de aula, o que passa por avaliar as

    'didticas', as 'metodologias' e as 'prticas de ensino' quanto aos propsitos e

    ao real valor que essas disciplinas encerram quando se tem como horizonte

    um novo paradigma para o processo ensinar-aprender: a promoo da

    humanidade de cada ser humano.

    O paradigma que se vem apoiando nos pressupostos didtico-

    metodolgicos para dar conta do processo ensino-aprendizagem parece ter-

    se esgotado. As evidncias indicam que chegada a hora de os educadores

    assumirem a bandeira da superao desses velhos e desgastados

    pressupostos, direcionando suas atenes para novos horizontes que se

    47

  • descortinam no cenrio das relaes educacionais.

    A essa altura de tais reflexes, parece bastante oportuna a incluso

    das formulaes baseadas nas idias de uma educomunicao, entendida

    como um novo campo de interveno pedaggica:

    Este novo campo epistemolgico emergente que une a

    comunicao e a educao pode configurar como uma ponte

    que inaugura um discurso transverso, apoiado em inter-

    relacionamentos, em processos circulares de interpenetrao

    que desloca as duas cincias dos seus metadiscursos e as faz

    dialogar (LAURITI, p. 36).

    Defendemos a tese segundo a qual um novo campo de

    interveno social vem-se firmando na interface entre

    Comunicao e Educao, inteiramente voltada para a

    construo de ecossistemas comunicacionais em espaos

    educativos profundamente marcados pelo sentido tico

    (SOARES, p. 61).

    Os trabalhos acima referidos abrem novas perspectivas de

    abordagens do