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Vol. III, n° 1, 2008, p. 119-124 Revista Estudos Amazônicos 119 NAPOLEÃO E A PRESENÇA AFRICANA NA AMAZÔNIA JOSÉ MAIA BEZERRA NETO * Sei muito bem que alguns leitores devem ter imaginado tratar-se de texto sobre os africanos e Napoleão, imperador dos franceses, na Amazônia!? Mas não é deste que quero aqui tratar, até porque fazê-lo tal como poderia ser pensado seria obra de ficção. Trato de outro Napoleão, a bem dizer de Arthur Napoleão Figueiredo, antropólogo e professor durante muitos anos da Universidade Federal do Pará, sendo nesta instituição responsável e primeiro curador do acervo etnográfico constituído pelos conjuntos Etnologia Indígena; PopulaçãoUrbana/Cultos Afro-Brasileiros e População Interiorana, pertencentes ao “Laboratório de Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo”, ligado à Faculdade de Ciências Sociais/IFCH/UFPA. 1 Na qualidade de professor e pesquisador, o “velho” Napoleão, como ainda hoje é afetuosamente recordado por antigos alunos e colegas de ofício, foi igualmente, durante vários anos, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP); sendo fundador, portanto primeiro ocupante da Cadeira de número 2 dessa instituição, cujo patrono é o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira. 2 Enfim, estas duas referências de atuação institucional me bastam para indicar a importância desse intelectual que elegeu como parte de seu universo de pesquisa antropológica a compreensão da presença africana na Amazônia, sendo acompanhado neste percurso pela antropóloga Anaíza Vergolino com quem publicou em co-autoria alguns trabalhos. 3 Para além, portanto, da instituição e curadoria da coleção etnográfica do Laboratório de Antropologia, que traduz parcialmente um aspecto importante do trabalho de pesquisa do antropólogo envolvido com a presença africana na Amazônia, particularmente no * Professor da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará. Doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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  • Vol. III, n 1, 2008, p. 119-124 Revista Estudos Amaznicos 119

    NAPOLEO E A PRESENA AFRICANA NA AMAZNIA

    JOS MAIA BEZERRA NETO*

    Sei muito bem que alguns leitores devem ter imaginado tratar-se de texto sobre os africanos e Napoleo, imperador dos franceses, na Amaznia!? Mas no deste que quero aqui tratar, at porque faz-lo tal como poderia ser pensado seria obra de fico. Trato de outro Napoleo, a bem dizer de Arthur Napoleo Figueiredo, antroplogo e professor durante muitos anos da Universidade Federal do Par, sendo nesta instituio responsvel e primeiro curador do acervo etnogrfico constitudo pelos conjuntos Etnologia Indgena; PopulaoUrbana/Cultos Afro-Brasileiros e Populao Interiorana, pertencentes ao Laboratrio de Antropologia Arthur Napoleo Figueiredo, ligado Faculdade de Cincias Sociais/IFCH/UFPA.1 Na qualidade de professor e pesquisador, o velho Napoleo, como ainda hoje afetuosamente recordado por antigos alunos e colegas de ofcio, foi igualmente, durante vrios anos, scio efetivo do Instituto Histrico e Geogrfico do Par (IHGP); sendo fundador, portanto primeiro ocupante da Cadeira de nmero 2 dessa instituio, cujo patrono o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira.2 Enfim, estas duas referncias de atuao institucional me bastam para indicar a importncia desse intelectual que elegeu como parte de seu universo de pesquisa antropolgica a compreenso da presena africana na Amaznia, sendo acompanhado neste percurso pela antroploga Anaza Vergolino com quem publicou em co-autoria alguns trabalhos.3

    Para alm, portanto, da instituio e curadoria da coleo etnogrfica do Laboratrio de Antropologia, que traduz parcialmente um aspecto importante do trabalho de pesquisa do antroplogo envolvido com a presena africana na Amaznia, particularmente no

    * Professor da Faculdade de Histria da Universidade Federal do Par. Doutorando em Histria pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo.

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    Par4, Napoleo Figueiredo, como costumava assinar em seus trabalhos acadmicos, deixou-nos publicado ou divulgado em conferncias ou palestras produtos de suas investigaes acerca do assunto. Tais produtos ou textos, na forma de artigos ou captulos de livros, citando aqui os quais tenho conhecimento, so em ordem cronolgica de publicidade: A marca do negro, quinto e ltimo captulo do livro de Napoleo Figueiredo intitulado Amaznia: Tempo e Gente, obra laureada com o prmio Carlos Nascimento, gnero ensaio, no concurso literrio da Academia Paraense de Letras, em 1975, mas, somente publicada em 1977 pela Secretaria Municipal de Educao e Cultura de Belm; o artigo Presena Africana na Amaznia, publicado em 1976, no nmero 12 da Afro-sia, revista do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, aqui republicado; e, por ltimo, porm no menos importante, no contexto das comemoraes alusivas ao centenrio da abolio em 1988, o texto pronunciado na conferncia ocorrida na sesso comemorativa da referida efemride promovida pelo Instituto Histrico e Geogrfico do Par, em 19 de maio de 1988, denominado: A Dispora Africana na Amaznia e a Abolio da Escravatura no Par, texto no publicado.

    Esses trabalhos, os dois primeiros j publicados, o terceiro ao que me consta ainda no, so verses distintas de um texto-base acerca da presena africana na Amaznia, detidamente no Par. Isto porque, para alm dos ttulos diferenciados, ainda que mantenham muitas pginas em comum, particularmente a respeito dos aspectos mais informativos da presena escrava de origem africana na regio, os referidos textos enfocam, com graus de anlise diferenciados, s vezes somente em um deles, aspectos distintos acerca dessa presena ou da cultura afro-brasileira em territrio paraense, tal como, por exemplo, foi feito em relao ao aspecto religioso em A marca do negro, aspecto, verdade, igualmente tratado no artigo Presena Africana na Amaznia, embora neste trabalho tal aspecto fosse associado de forma mais enftica ao universo tnico da africanidade na Amaznia. Alis, esse artigo j uma verso mais madura daquele, da mesma forma que o ltimo, A Dispora Africana na Amaznia e a Abolio da Escravatura no Par, trouxe consigo algo mais de maturidade na abordagem do tema, principalmente naquilo que existe de mais importante ao longo dessas verses e que, sem equvocos, j havia sido demonstrado com

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    segurana no texto publicado pela prestigiada revista acadmica Afro-sia, artigo que ora se republica na Revista de Estudos Amaznicos. Mas, o que h de mais importante na argumentao construda e amadurecida ao longo do tempo, que encontrou seu ponto de inflexo de forma mais segura no artigo estampado no peridico baiano e aqui reproduzido, que justifique, alis, esta reedio?

    A importncia da argumentao de Napoleo Figueiredo sobre a presena africana na Amaznia justamente a suspeio que coloca sobre a tese do vazio africano na regio construda pela historiografia e cincias sociais de um modo geral. Partindo do estudo de campo antropolgico sobre os batuques em Belm, buscando entender o ecletismo cultural e religioso dessas prticas, Figueiredo entra pelo campo da histria da escravido negra na regio amaznica demonstrando o quanto a tese do vazio africano na Amaznia comportava um diagnstico ideologizado, uma excluso ideolgica com base em um modelo interpretativo que associava mecanicamente plantation e escravido africana e extrativismo em oposio agricultura com trabalho indgena, no considerando as evidncias contidas nas fontes primrias acerca dessa presena que alguns trabalhos poca j haviam demonstrado ou estavam demonstrando como resultado de suas pesquisas. Figueiredo, neste sentido, aponta outra possibilidade de modelo interpretativo para se entender a escravido negra na Amaznia e sua importncia na regio, inclusive construindo uma anlise historiogrfica acerca da produo intelectual sobre a presena africana na Amaznia desde os relatos dos viajantes, passando pela produo antropolgica das dcadas de 1930, 40 e 50, acerca da religiosidade afro-brasileira na Amaznia, situando nesse contexto os primeiros trabalhos a se preocuparem com o estudo do negro na Amaznia, para depois tratar da produo da dcada de 1960, entre eles o trabalho de Vicente Salles. Contextualizando e tipificando de um modo geral essa produo, Figueiredo nos ajuda a entender os seus significados e sentidos e perceber como se deu no apenas a construo da tese do vazio africano na regio amaznica, mas, por outro lado, como se iniciaram os estudos do negro e, portanto, da escravido africana e a compreenso de sua importncia na Amaznia. Prope-nos, ento, a possibilidade de outro modelo interpretativo, a meu ver totalmente vlido, modelo este de certa forma e de alguma maneira j incorporado

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    em estudos mais recentes acerca de variados aspectos da presena africana na regio amaznica.

    Obviamente o leitor que ter oportunidade de ler impresso em papel o trabalho, ora reeditado, poder verificar a validade do que est sendo dito aqui, bem como, evidentemente, ver outras tantas possibilidades a serem extradas de seu prprio exerccio de leitura acerca da importante contribuio de Napoleo Figueiredo para o estudo da presena negra na Amaznia, destacadamente no Par. Sendo ele, alis, um dos pioneiros neste campo de investigao, embora nem sempre lembrada sua contribuio. Passo, enfim, a vez ao juzo de outros leitores.

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    1 Sobre a coleo etnogrfica do Laboratrio de Antropologia e a importncia de Napoleo Figueiredo para constituio e organizao deste acervo, ver BELTRO, Jane Felipe. Colees Etnogrficas: chave de muitas histrias. DataGramaZero Revista de Cincia da Informao, vol. 4, n 3 (2003), artigo 1, http://www.datagramazero.org.br/jun03/Art_01.htm. 2 Sobre Napoleo Figueiredo no IHGP, ver a coleo de revistas do Instituto ao longo da segunda metade do sculo XX, na qual podemos constatar sua participao, inclusive no corpo de sua diretoria e comisses aos longos das dcadas de 1960, 1970 e 1980, por exemplo. A criao das cadeiras em nmero de quarenta, cada uma com um respectivo patrono, ocorreu aquando da reforma dos Estatutos do IGHP no incio da dcada de 1960, que praticamente refundou a instituio em novas bases, criando novas tradies que se mantm at hoje, quando da presidncia do historiador Ernesto Cruz no IHGP, sendo ento Napoleo Figueiredo o primeiro ocupante da Cadeira de nmero 2, ou seja, seu fundador. Posteriormente, Roberto Santos veio a ser o segundo ocupante desta. 3 Sobre os trabalhos de Anaza Vergolino sobre a temtica, ver, por exemplo: VERGOLINO e SILVA, Anaiza. Alguns elementos para o estudo do negro na Amaznia. Belm: Museu Paraense Emlio Goeldi, 1968; O Negro no Par: A Notcia Histrica. In: ROCQUE, Carlos (org.). Antologia da Cultura Amaznica. Belm: Amaznia Edies Culturais, 1971, vol. VI (Antropologia e Folclore), pp. 17-33. No incio da dcada de 1970, alis, Vergolino havia elaborado seu projeto de pesquisa para sua dissertao de mestrado em Antropologia Social, apresentado Universidade Estadual de Campinas, denominado: O Tambor das Flores: estruturao e simbolismo ritual de uma Festa da Federao Esprita Umbandista e dos Cultos Afro-Brasileiros no Par (1973). Sobre os trabalhos publicados em conjunto por Napoleo Figueiredo e Anaza Vergolino sobre a temtica afro-brasileira, a partir da Amaznia, ver: FIGUEIREDO & VERGOLINO E SILVA. Alguns elementos novos para o estudo dos batuques de Belm. Atas do Simpsio sobre a Biota Amaznica. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Pesquisas, 1967, vol. 2 (Antropologia), pp. 103-22; bem como: FIGUEIREDO & VERGOLINO E SILVA. Estudos e Problemas Brasileiros; Formao tnica e cultural do Povo brasileiro. Belm: Universidade Federal do Par/Centro de Educao, 1971; e FIGUEIREDO & VERGOLINO E SILVA. Festas de santos e encantados. Belm: Academia Paraense de Letras, 1972. Sendo que o trabalho mais conhecido de ambos foi o livro: VERGOLINO-HENRY & FIGUEIREDO. A presena africana na

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    Amaznia Colonial: uma notcia histrica. Belm: Arquivo Pblico do Par, 1990. 4 Ver a respeito, por exemplo, FIGUEIREDO, Napoleo & RODRIGUES, Ivelise. As colees etnogrficas da Amaznia em Belm (Pa). In: O Museu Goeldi no Ano do Sesquicentenrio. Belm: Museu Emlio Goeldi, Publicaes Avulsas, n 20, 1973.

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    PRESENA AFRICANA NA AMAZNIA

    ARTHUR NAPOLEO FIGUEIREDO*

    A pesquisa cientfica sobre os contingentes tnicos formadores da atual sociedade brasileira, bem como dos processos scio-culturais ocorridos no perodo de quatro sculos de relao tnico-cultural, somente nos ltimos anos tem sido objeto de uma anlise metodizada por parte de antroplogos brasileiros e estrangeiros.

    O elemento indgena, o colonizador portugus e o escravo africano (nenhum deles portador de unidade tnica e cultural), produziram os mais diversos tipos tnicos no Brasil mulato, mameluco, crioulo, cafuso, curiboca, cabra, caboclo, pardo , representam os elementos bsicos na formao de uma sociedade luso-brasileira, posteriormente de uma sociedade neo-brasileira que nos dias de hoje expressa caractersticas prprias, definidas de tal modo, que forma uma sociedade nacional.

    O incio da evoluo desse conjunto encontrado no empreendimento da colonizao, caracterizado fundamentalmente por um sistema patriarcal, de explorao latifundiria, monocultora e escravocrata, com base na plantao da cana-de-acar introduzida pelo elemento portugus no nordeste brasileiro.

    A anlise desse processo envolve preliminarmente uma perspectiva de trabalho, pois duas alternativas so oferecidas: a primeira, nos levaria a tratar o tema debaixo de uma visualizao global, onde a formao da sociedade brasileira, quer do ponto de vista tnico quer cultural, seria a resultante de atividades econmicas que criaram uma infra-estrutura, em torno da qual todas as relaes tnicas e

    * Este artigo foi inicialmente publicado na revista Afro-sia, n 12 (1976), pp. 145-60, tambm disponvel em www.afroasia.ufba.br. Agradecemos aos editores da Afro-sia a autorizao para republicao do texto.

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    culturais se fizeram, dando como conseqncia, subculturas regionais, configuradas de forma terica em regies culturais brasileiras.

    Digues Jr.1, partindo das relaes entre o meio fsico e as condies econmicas, das inter-relaes do processo de crescimento demogrfico, econmico, social e cultural, e das ocupaes dos vazios demogrficos, divide o Brasil em regies culturais2, as quais, apesar da aparente diversificao, guardam entretanto uma unidade marcante que por sua vez caracteriza o que poderamos chamar de cultura brasileira.

    A segunda alternativa envolveria uma viso etnogrfica do problema, isto , o estudo em separado do elemento indgena, do portugus e do africano, portadores de nveis de cultura diferentes3, bem como dos demais grupos que, de forma tnica ou cultural, tenham influenciado essa formao, trazendo como corolrio normal uma viso da realidade brasileira dos dias de hoje.

    Quanto primeira alternativa, o autor tentou anteriormente como tantos outros, especialmente Digues Jr.4, abordar o problema partindo basicamente das condies naturais oferecidas pelo meio fsico e da evoluo das atividades econmicas, para concluir que os processos dessa ocupao foram fundamente vinculados s caractersticas fisiogrficas de cada poro do territrio brasileiro.5

    A fazenda, nome genrico com que foram conhecidos esses pontos de convergncia e de fixao terra, quer fossem de base agrcola, pastoril, mineradora ou extrativista, formou os locais de encontro dessas culturas, que eram igualmente centros sociais e demogrficos, pois, alm de focos de produo econmica, era tambm o elemento palpvel, mensurvel e atuante, que tornou possvel a ocupao e que, posteriormente, refletindo variedades de povoamento, condicionou a expanso das frentes pioneiras de penetrao.

    Esses focos ou ncleos correspondem, no Brasil, ao sentido do Plantation utilizado por Harris6, ou seja, propriedade agrcola organizada para suprir um mercado abundante de capital, em que os fatores de produo so empregados primordialmente para aumentar o acmulo de capital sem referncia s necessidades de gabarito social dos proprietrios; onde as relaes entre senhor e escravo eram fortemente personalizadas ou as relaes sociais tendiam a ser intimas e altamente pessoais.

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    Assim, a fazenda constitui a comunidade colonial onde com o correr do tempo se estruturam as classes sociais e onde os casamentos e as relaes ilcitas contriburam para a mestiagem, que, dado o seu maior ou menor relacionamento com o colonizador, fizeram passar as grandes propriedades e os bens dos mais afortunados para os filhos das mulatas, mamelucas ou cabrochas, caracterizando, conforme condies, atividades econmicas e modos de vida, a ocupao da terra e a tropicalizao dessa nova sociedade emergente.

    A montagem de um modelo capaz de servir de base para a anlise dos elementos culturais que se mesclaram nos conduzir fatalmente segunda perspectiva de trabalho, qual seja o estudo em separado das contribuies do indgena, do portugus e do elemento africano, bem como de outros grupos tnicos de cuja mistura emerge a atual sociedade brasileira.

    Fixando a orientao do presente ensaio apenas no elemento africano, verificaramos que a tentativa de determinao tnica dos escravos africanos entrados no Brasil, utilizando-se como fonte os documentos do trfico negreiro e do comrcio de escravos, forma o contedo do esquema historicista, encontrado nas obras de Joo Ribeiro, Slvio Romero e Pandi Calgeras, onde so investigados os locais de procedncia do trfico negro, bem como os pontos de entrada dos mesmos no Brasil e dos traos culturais de que esses africanos eram portadores, terminando por identificar como bantus os grupos tnicos africanos aqui entrados. Essas afirmaes, no havendo apresentado concluses satisfatrias, face ausncia de veracidade de fontes, passaram a constituir os alicerces de um esquema falho, severamente analisado por Rodrigues7 que inicia por sua vez um outro tipo de anlise, o de etnologia comparada. Prosseguindo esses estudos, no logrou xito em sua tentativa de estabelecer concluses vlidas, pois, caindo no exclusivismo nag, culmina por identificar como sudanesas todas as culturas africanas entradas no Brasil.

    Ramos8, seguindo a mesma orientao, analisa as sobrevivncias culturais dos grupos africanos no Brasil, classificando as mesmas em trs conjuntos distintos: Culturas Guineano-Sudanesas, Culturas Guineano-Sudanesas-Islamizadas e Culturas Bantu, que parece ter sido considerada vlida, a julgar pelo nmero considervel de monografias regionais publicadas, que seguiram a mesma orientao terica, tais

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    como os trabalhos de Pereira9 e Eduardo10, para o Maranho, Fernandes11 e Ribeiro12 para Pernambuco; Duarte13 para Alagoas e Valente14, que apresentam quadros sincrticos e anlises de divindades afro-brasileiras.

    A etapa seguinte, que representa a situao atual desses estudos no Brasil, no est mais voltada para a notcia histrica ou sobrevivncias culturais, porm integrao do elemento negro, descendente do escravo africano, em uma sociedade de classes, onde se destacam os trabalhos de Fernandes15; Cardoso16; Ianni17, Costa18 e Pereira.19

    Paralelamente a essa abordagem vamos encontrar os estudos de religies com sobrevivncias africanas e estudos de ajustamento social, onde so marcantes os trabalhos de Bastide20; Carneiro21; Eduardo22; Ribeiro23; Camargo24; Leacock25; Steger26; Gerbert27 e outros.

    O elemento africano tem sido objeto igualmente de anlise scio-histrica com nfase na economia e na estrutura social, na obra de Freyre28 onde traada a histria da sociedade patriarcal no Brasil ou nas obras de conjunto onde sobressaem os trabalhos de Ramos29 Azevedo30; Prado Jr.31; Furtado32 e Digues Jr.33

    O africano e seus descendentes aparecem ainda nas obras voltadas para o estudo da unidade nacional brasileira, tais como nos trabalhos de Bastide34, Wagley35, Lambert36 e Smith.37

    Na Amaznia, esses estudos no ocorrem em termos de seqncias de orientao terica. Partindo-se da anlise de considerar a Amaznia como um todo, a conquista da regio e domnio da terra somente podem ser entendidos por um complexo de foras geo-polticas que atuaram no espao geogrfico dessa rea (do qual participaram ndios, portugueses, africanos e mestios), formando um tringulo cujos vrtices apoiaram-se em Belm, no Estado do Par; em Barcelos, no Estado do Amazonas e em Vila-Bela, no Estado de Mato Grosso.38

    A expanso e manuteno desse territrio foi montada base da instalao de fortificaes militares e de aldeamentos dirigidos por sacerdotes de diversas ordens religiosas.

    As primeiras, construdas em locais estratgicos que envolviam o conjunto ao longo das fronteiras vivas e mortas, tais como a Fortaleza de Macap, Fortaleza de So Joaquim, Forte de So Jos de Marabitana,

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    Forte de So Gabriel da Cachoeira, Forte de Tabatinga, Forte de Bragana e Forte Prncipe da Beira, onde, para as mesmas, uma srie de recomendaes constantes de Cartas Rgias, Alvars e Decises no somente aconselhavam como estimulavam o casamento entre portugueses e ndias.

    Os aldeamentos dirigidos por missionrios franciscanos da Provncia de Santo Antanio, Carmelitas, Mercedrios, Jesutas, Franciscanos da Provncia da Nossa Senhora da Piedade e Capuchos da Conceio da Beira e Minho, estabeleceram-se nas proximidades de Belm, nas atuais zonas bragantinas, guajarina, do Salgado e Gurupi; na Ilha de Maraj e no Amap. Subiram o Rio Tocantins e se instalaram nos afluentes do Amazonas (Xingu, Tapajs, Nhamund, Madeira e Negro); no Solimes confinaram com os aldeamentos espanhis e, em muitos casos, a penetrao no deu como resultado o estabelecimento de aldeias, entretanto atingiram os Rios Araguaia e Branco e a confluncia do Uaups como o Negro.39

    Esses aldeamentos no eram dedicados apenas catequese ou s prticas religiosas, como tambm a atividades sociais e econmicas, imprimindo paralelamente a essas diretrizes, outras, capazes de encaminhar a populao nelas baseada a uma diversificao de atividades merc dos recursos existentes em sua localizao regional.

    Quanto ao elemento africano, as notas mais antigas nos so fornecidas pelos naturalistas viajantes, que em seus relatos nos trazem algumas informaes sobre os mesmos. Bates nos refere sobre a composio da populao de Belm40; Agassiz nos relata passagens da vida social da cidade41; Wallace nos fala das festas e da participao da populao nas mesmas42; Ferreira em sua iconografia, apresenta por sua vez instantneos de momento, onde aparece o africano participando da vida econmica43; Spix & Martius indicam apenas referncias de importao de escravos44, enquanto os historiadores clssicos da Amaznia, entre eles Baena45 e Berredo46 trazem referncias sobre a atuao do negro na economia regional.

    Uma outra fonte de informao histrica encontrada nos peridicos locais, especialmente no final do sculo passado e comeo deste, dizendo mais da presso policial s casas de feitiaria que perturbavam o sossego pblico nas ruidosas sesses noturnas, ou ao noticirio, tambm esparso, dos despachos da encruzilhada, que

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    amedrontavam a populao dos subrbios distantes da cidade. Ao lado desse noticirio um fator constante: acusaes de bruxas e feiticeiras, espritos malficos, magia negra e espritos demoniacos que dominaram a macumba nos bairros pobres da cidade.47

    A situao atual de orientao histrica sobre o contingente africano na Amaznia parte da anlise feita de fontes primrias em arquivos coloniais, como se v dos trabalhos de Carreira48, Dias49, Vergolino e Silva50 e Salles.51

    Esses estudos j nos permitem concluses parciais sobre o problema, quanto s modalidades do trfico, nmero aproximado de negros importados, portos de entrada e sua procedncia.

    Quanto s modalidades do trfico, o mesmo foi realizado sob diversos regimes. O assento ou alistamento compulsrio de negros cativos na frica, geralmente negociados com contratos da Fazenda Real com particulares realizados nos Sculos XVII e XVIII; o estanque ou estanco, monoplio atribudo s companhias de comrcio; a iniciativa particular realizada irregularmente durante todo o perodo do trfico; o contrabando e finalmente, o comrcio interno, tambm de iniciativa particular, que deslocou escravos sobretudo da Praa da Bahia para o Maranho, e desta para o Par atravs dos caminhos terrestres e feitos pelos comboieiros.52

    Quanto ao nmero de escravos introduzidos atravs das diversas modalidades, os dados so ainda incompletos e insuficientes para uma afirmao final sobre o assunto, entretanto, os conhecidos e constantes das obras de Carreira53; Dias54 e Vergolino e Silva55, levam-nos a acreditar que se elevam a mais de 53.000 o nmero de escravos africanos entrados na Amaznia pelo porto de Belm.

    Vergolino e Silva ainda refere que a mo-de-obra escrava no era apenas utilizada na cidade de Belm e cercanias.56 Vamos encontrar essa mo-de-obra espalhada por toda a Amaznia. Em Belm, os escravos eram utilizados para os servios domsticos (cozinheira, costureira, ama-seca, criada de servir), como integrantes de bandas marciais, porteiros do Legislativo, nas construes navais, nas olarias, nos servios urbanos e de transporte, enfim, os servios que lhes eram atribudos por seus possuidores, tais como amassadeiras de aa ou

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    vendedora de tacac, pedreiros, ferreiros, sapateiros, carpinteiros, escultores, torneiros, alfaiates e teceles.

    Nos outros centros, tais como Ourm, Barcelos, Bragana, Macap, Boim, Ega, Oeiras, Camet, Santarm, Serpa, Bujaru, Benfica, Mazago, Acar, Borba, Vigia, Vila Vistosa, Arari, Vila Nova de Mazago, eram utilizados principalmente nas atividades agrcolas, especialmente nos engenhos de cana-de-acar, tais como o do Murutucu, nos limites de Belm; Jaguarari, no Moju; Carmelo, no Tocantins; Cafezal, nas proximidades da Baa de Carnapij; Palheta, no arquiplago de Maraj e ainda nas reas das bacias dos Rios Acar, Capim, Moju, Igarap-Miri e baixo Tocantins; nos trabalhos de fortificao (Macap); Olaria (Engenho do Carmelo) e tambm minerao (Borba).

    O elemento africano participou tambm da pecuria principalmente na Ilha de Maraj, especialmente nas misses religiosas existentes na ilha; em Cachoeira, Condeixa, Chaves, Monsars, Monforte e Muan.

    Desta forma, o escravo africano apresenta-se na Amaznia com as mesmas caractersticas sociais que se apresenta no resto do Brasil Colonial: o negro de campo e o negro domstico.57 Na primeira categoria est includo o negro de ofcio especializado nos trabalhos do engenho da cana-de-acar, e na segunda categoria, o negro de aluguel, onde seu trabalho era explorado diretamente, e o negro de ganho, onde se dava liberdade de ao para o escravo, em troca de certa quantia paga semanalmente pelo mesmo.

    Assim, Belm no era apenas porto de entrada de escravos africanos para o vale amaznico, porm, sua funo principal foi a de ser centro distribuidor dos mesmos para toda a regio. Esses escravos foram importados diretamente da Guin Portuguesa, pelos portos de Bissau e Cacheu, de Cabo Verde, de Cabinda e de Angola; indiretamente atravs dos portos do Maranho, Pernambuco, Bahia e outros portos brasileiros, bem como uma reduzida populao tambm penetrou a Amaznia representada por grupos fugitivos das Guianas, que se instalaram em territrio brasileiro.

    Muitos dos escravos fugidos das senzalas organizaram quilombos nas adjacncias das principais cidades amaznicas e mesmo no interior da regio. No Par, ficaram celebres os mocambos dos Rios Curu, nas

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    proximidades de Alenquer; Trombetas e Cumin, nas proximidades de Obidos e Oriximin; Tocantins, nas proximidades de Tucuru, Mocajuba e Camet; Gurupi, na fronteira do Par e Maranho. No Maranho organizaram-se nos Rios Maracassum e Turiau, nas vizinhanas da cidade de Turiau, e no Amap, nos Rios Oiapoque e Caloene, bem como perto de Mazago.

    Esses quilombos ou mocambos, como afirma Carneiro, constituram um acontecimento singular na vida nacional seja qual for o ngulo por que o encaremos. Como forma de luta contra a escravido, como estabelecimento humano, como organizao social, como reafirmao dos valores das culturas africanas sobre todos os aspectos, o quilombo revela-se como fato novo, nico, peculiar uma sntese dialtica. Movimento contra o estilo de vida que o branco queria lhe impor, o quilombo mantinha a sua independncia custa das lavouras que os ex-escravos haviam aprendido com os seus senhores e a defendia quando necessrio, com as armas de fogo dos brancos e os arcos e flechas dos ndios. E embora em geral contra a sociedade que oprimia seus componentes, o quilombo aceitava muito dessa sociedade e foi, sem dvida, um passo importante para a nacionalizao da massa escrava.58

    Terminado o trfico, proporo que o tempo se estende e a escravaria ganha igualmente tempo para sobreviver, as mudanas scio-culturais sucessivas, ocorridas com o advento das leis do Ventre Livre e Sexagenrios e finalmente com a Abolio, os descendentes desses escravos comeam a participar lentamente de uma sociedade estratificada, formando a base de uma pirmide social, misturados com mestios, mamelucos e caboclos, constituindo o proletariado urbano e rural.

    Todos os valores de que eram portadores foram perdidos, pois apesar dos elementos culturais que se mesclaram e onde muitos sofreram processos de adaptao e mudana, em tempo algum o portugus colonizador abriu mo dos padres bsicos de que era portador: a lngua, a religio, as instituies polticas, administrativas, sociais e morais, a organizao social, a maneira de construo dos povoados e vilas, a arquitetura (civil, militar ou religiosa), a vida em famlia e o esprito tradicionalista.

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    Para tipificar o que restou desses valores, teramos evidentemente que partir da anlise dos padres culturais de que eram portadores esses elementos, oriundos de um cadinho cultural como a frica, com uma diversidade de culturas difcil de serem determinadas, pois muitas vezes, ou quase sempre, os padres culturais de que eram portadores os escravos exportados no coincidiam com os existentes nas reas dos portos de embarque com destino ao Brasil.

    Mesmo adotando-se um modelo terico como o de Ribeiro de classificao de cultura por nveis operacionais59 vemos ser simplesmente impossvel realizar essa anlise.

    Incorporado compulsoriamente a uma sociedade que emergia, teve que adaptar-se s condies impostas pelo escravizador. Do nvel adaptativo, nada restou; o associativo lhe foi imposto, pois como afirma Harris quando os seres humanos tm o poder, a oportunidade e a necessidade se unem com membros do sexo oposto sem considerar a cor da pele ou a identidade do av. Sempre que a procriao livre numa populao de seres humanos restrita, porque um sistema maior de relaes se encontra ameaado por semelhante liberdade.60

    Quanto ao nvel ideolgico, ainda Harris que nos explica que o efeito do plantation sobre as sobrevivncias dos elementos religiosos de interesse todo especial Uma vez que os cultos africanos constavam principalmente de danas rtmicas, de msica e de cantorias em suas fases pblicas, provvel que os senhores de engenho no apenas permitissem como at mesmo encorajassem esses vestgios africanos. Certamente quando trabalhavam no campo podiam os escravos cantar e marcar o ritmo, mantendo a produo do trabalho. Ao cair da noite, a dana com o acompanhamento de tambores era permitida e encorajada como diverso que ajudava a levantar o moral dos escravos. Enquanto os escravos faziam tentativas de associar o panteo africano ao panteo catlico, seus senhores no ficavam particularmente interessados com tais atividades pags.61

    Desta forma, resta apenas a religio como instrumento de pesquisa. A anlise antropolgica de religies na Amaznia com sobrevivncias africanas somente tem inicio com o estabelecimento de reas de culto constantes dos trabalhos de Bastide para o qual esses cultos seriam a resultante do sincretismo afro-ibero-indgena, e estariam enquadrados no que ele denominou de rea do catimb62; e de

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    Carneiro para o qual h dois tipos de culto na rea C: o batuque e o babau, que correspondem s variedades transmitidas Amaznia respectivamente, por elementos egressos da casa de Nag e da casa das Minas em So Luiz.63

    Quer nos centros urbanos quer nos rurais da regio, um esquema rgido e conceitual dessa natureza no pode ser aplicado. Os trabalhos de campo desenvolvidos na rea forneceram um material que veio demonstrar inicialmente, no que concernia ao aspecto emprico, no serem vlidos os esquemas etnolgicos assim estabelecidos.

    A montagem de um modelo mecnico decalcado em uma bibliografia falha, onde foram tomadas as informaes constantes dos autores clssicos da Amaznia, como ponto de referncia, aliadas utilizao de abordagem do tipo histrico comparativo ou mesmo ecltico, determinou para a rea amaznica a colocao do problema apenas em termos do que poderamos chamar de uma classificao didtica.

    Assim, julgamos que, como no foi realizado o estudo do trao econmico da regio e da evoluo do processo poltico desenvolvido na rea, acrescido de ausncia de anlise de correlaes mais profundas do ponto de vista histrico, no foi possvel a esses autores irem alem de ensaios duvidosos, da a razo de ser da incidncia de um africanismo numa deformao da realidade. A citao vaga de documentos, a ausncia de pesquisa intensiva em fontes primrias e de trabalho de campo, condicionou a repetio de conceitos errneos, porem tidos como vlidos.

    As primeiras contradies na faixa interiorana foram encontradas por Galvo64, na regio de Gurup e confirmadas por Figueiredo & Vergolino e Silva65 na regio do alto Cairari, quando se constatou que fracamente assistido pelos sacerdotes catlicos e pelos missionrios evanglicos, o indivduo e a comunidade recorrem a outras crenas, que reunidas s catlicas, constituem a sua religio, o catolicismo uma filosofia de vida que se sobrepe a idias locais, cuja origem diversa, mas que dependem sobretudo de influncias amerndias absorvidas na moderna cultura do caboclo amaznico.66

    Nesse mundo espiritual, os Santos so entidades que protegem no somente os homens como as comunidades em que vivem, e que, devidamente reverenciados sob as formas as mais diversas, garantem

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    prosperidade, sade e felicidade. Sua atuao, entretanto, no e total, pois existem situaes em que sua fora impotente. Essas situaes encontradas no mundo sobrenatural e na prpria natureza so fruto da atuao de outras entidades que habitam a floresta e o fundo dos rios.

    Esse mundo mitolgico tem suas razes nas crenas indgenas e a prpria designao dessas entidades expressa por palavras tambm de procedncia indgena, que no guardam mais o modelo nem a funo primitiva, pois foram reformuladas pela influncia do catolicismo, dos cultos afro-brasileiros e outras, oriundas do contato dessas populaes interioranas com as frentes de penetrao nacional.

    Assim, o mundo sobrenatural e as instituies religiosas existentes no interior da Amaznia so a resultante, como a prpria subcultura amaznica da integrao dos elementos culturais, de que eram portadores os que participaram do processo de colonizao da regio e as mudanas culturais hoje encontradas so decorrentes da transformao de uma sociedade colonial de ndios, portugueses, africanos e mestios, na atual sociedade amaznica.

    A colocao do problema, no centro macro-regional da rea, que Belm, revela mudanas no nvel ideolgico de seus habitantes, pois se no interior paralelamente existe uma crena e uma prtica de pajelana cabocla; nos centros urbanos esse mesmo cristianismo se dilui na adeso s religies medinicas, sejam elas de fundo evanglico (Pentecostal), kardecista (Espiritismo) e sincrtica (Afro-Brasileiro).67

    O visitante que em Belm, sem rumo certo, percorre noite os subrbios da cidade, invariavelmente atrado pelo toque de tambores e pelos cnticos entoados nos terreiros.

    Penetrando em qualquer uma dessas casas de culto, a experincia religiosa68 que ir observar a resultante de um longo processo aculturativo, onde se encontram amalgamados, formando um corpo de crena nico, reminiscncias ou sobrevivncias africanas, catolicismo, xamanismo indgena, pajelana cabocla, kardecismo, teosofismo, preceitos de sociedades secretas e, dificilmente, sem anlise mais profunda, poder entender o mecanismo de funcionamento e o significado da cerimnia que observa.

    Esses centros medinicos esto agrupados na cidade em duas associaes distintas: a Federao Esprita Umbandista e dos Cultos Afro-Brasileiros e o Supremo Conselho da Umbanda Crist. A primeira

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    congrega atualmente 416 casas de culto espalhadas pela cidade e no interior do Estado, e fundamentalmente apresenta trs tipos de culto: o Nag, a Jurema e a Umbanda, com uma srie de variantes, enquanto o Supremo Conselho da Umbanda Crist congrega algumas casas que guardam uma certa unidade de funcionamento.

    Constata-se, igualmente, a existncia de um grande nmero de casas de culto, sem filiao associativa e sem registro policial, disseminadas pela cidade, dos subrbios mais distantes aos modernos edifcios de apartamentos no centro urbano, que funcionam como cultos domsticos ou familiares, reunindo parentes e amigos mais chegados em determinados dias da semana, para a realizao do cerimonial.

    Todas essas casas de culto, como j havia sido anteriormente observado por Carneiro69, em uma vizualizao genrica do Brasil, guardam entre si uma certa unidade de estrutura e funcionamento, caracterizada pelo fenmeno da incorporao ou possesso, o carter pessoal da divindade que baixa, a presena de Exu como mensageiro e a utilizao de processos divinatrios os mais diversos (o destino).

    Entretanto, as entidades que baixam, reformuladas e reinterpretadas ao longo do tempo, sofrem nos dias de hoje impactos cada vez maiores. Nas estantes de livros dos pais e mes-de-santo, ao lado de uma literatura no codificada, adquirida nos mercados, feiras ou ainda em casas especializadas, onde se vendem tambm banhos, defumaes, amuletos e imagens (catlicas, ou no), encontram-se obras de autores nacionais e estrangeiros que realizaram estudos sobre esses cultos.70

    As idias encontradas na leitura dessa bibliografia so reformuladas e reinterpretadas dentro da experincia religiosa de cada um desses chefes de culto, que as transmitem a seus filhos e filhas, e ao mesmo tempo que conquistam dimenses locais, diversificam-se na unidade de cada uma dessas casas de culto, que funcionam assim com caractersticas prprias.

    Muitas das entidades encontradas na antiga mitologia africana, com o correr do tempo foram desaparecendo, e as que sobreviveram identificaram-se com os santos catlicos, e hoje, nessa complexa liturgia, emergem e chefiam linhas cada uma delas com sete legies. Cada legio tem seu guia chefe que por sua vez chefia sete

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    entidades menores, cada uma delas chefiando outras tantas, numa progresso infinita, onde se encontram misturados Santos Catlicos e Orixs Negros, ndios, Caboclos e Brancos, Pretos-Velhos e Encantados, Gente Fina (Prncipes e Bares) e povos de civilizaes desaparecidas, Hindus e figuras ligadas ao teosofismo. Cada uma delas portadora de identificaes prprias e, apesar da aparente diversidade litrgica integrada a cada uma dessas entidades, as mesmas guardam uma unidade de funo.

    Essas entidades contraem casamentos entre si monogmicos e poligmicos (polindricos e polignicos) ou simplesmente se amigam dando origem a uma numerosa prole e estabelecendo um intrincado sistema de parentesco com diversos arranjos organizatrios onde estabelecido um relacionamento formal ou informal nas diversas descendncias.

    Na clientela que freqenta essas casas de culto (associadas ou no) encontram-se representadas todas as classes sociais da cidade: o proletariado urbano, a classe mdia-baixa; a classe mdia-media; a classe mdia-alta e a classe alta. Na hora da dana ou dos trabalhos na Guma misturam-se domsticas, polticos, militares, servidores pblicos, profissionais liberais, senhoras elegantes citadas nas colunas do caf-society, todos nivelados no espao-tempo sagrado do terreiro, participando sem distino de classe e cor desse experimento religioso.

    A representao das entidades que atuam nessas casas de culto tambm sofreu modificaes no tempo. Primeiramente representadas sob a forma de fetiches, proporo que o culto se modifica ganha propores de estaturia crist e finalmente conquista smbolos nos pontos riscados que se transformam em esculturas de ferro, com propriedades mgicas, adquiridas mediante preparo pelos guias, servindo de apoio s foras extraterrenas e sobrenaturais.

    As alfaias, utenslios e vasilhame so importados da Bahia ou Rio de Janeiro ou ainda de fabricao local, e a temos a registrar um fato interessante: enquanto o material de importao sempre de linha industrial e em srie, o confeccionado em Belm, como cuias, bilhas, copos ou pratos em barro, bem como as esculturas em forro, todos eles com dizeres ou smbolos representativos das entidades, so confeccionados de forma no seriada por artesos locais (pintadores de cuia, oleiros e ferreiros) que no pertencem irmandade, o que nos

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    leva a concluir que esse artesanato, fabricado por gente que no de dentro, sintoma da difuso de um experimento religioso que se incorpora mentalidade mgica dos habitantes de Belm.

    Os portadores dessa mentalidade mgica agrupam-se por sua vez em trs categorias distintas: os ostensivos, os disfarados e os envergonhados. Os primeiros participam e vivem o experimento religioso. So filiados s instituies associativas ou aos cultos de famlia ou de amigos em carter permanente. Identificam-se como membros da irmandade e so reconhecidos pela coletividade como tal. Os segundos freqentam de maneira particular apenas uma ou outra casa de culto. associativa ou no, e ao mesmo tempo que partilham das mirongas do cerimonial, praticam ostensivamente outro tipo de experimento religioso: freqentam missa, so membros de irmandades religiosas e dos Cursilhos da Cristandade ou ainda partilham do cerimonial das sinagogas. Os ltimos so freqentadores espordicos do culto, como tambm freqentam esporadicamente outro experimento religioso; mas, em suas casas, fazem as obrigaes do culto e do santo, usam amuletos preparados, porm no desejam identificar-se ou serem reconhecidos como participantes do experimento.71

    Essa nova abordagem que abandona o africanismo para estudar o fenmeno religioso como um todo, foi utilizada em Belm por Leacock72 e por Figueiredo & Vergolino e Silva.73 O primeiro, adotando uma posio funcionalista, aborda o fenmeno como compensao em que se procura evidenciar funes conscientes (cura por exemplo) ou inconscientes (integrao e ajustamento numa sociedade que se urbaniza) ou ainda deprivao onde se pretende dar conta de um fato social atravs de motivaes individuais. Quanto aos segundos, adotando uma posio ecltica, deixaram de levar em conta a relevncia dessas sobrevivncias africanas num contexto presente, dando como resultante uma viso esttica do problema.

    Um outro tipo de abordagem est sendo realizado por Vergolino e Silva74 que partindo de uma situao social, uma cerimnia que pelo fato de aglutinar todo o conjunto da Federao Esprita Umbandista e dos Cultos Afro-Brasileiros, por iniciativa de membros de sua Diretoria, poder permitir conhecer o histrico da mesma, sua organizao oficial

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    e oficiosa, os processos de competio que nela ocorrem e, sobretudo, uma visualizao dos tipos de poder e prestgio que nela se apresentam.

    Quanto ao estudo da atual situao dos descendentes desse elemento africano, diludos em uma sociedade de classes, ainda no foram realizados na Amaznia.

    Finalmente quanto aos componentes raciais das populaes amaznicas, estudadas do ponto de vista gentico, temos a referir o trabalho de Ayres et alii75 que, utilizando marcadores genticos caractersticos de brancos, ndios e negros africanos e cujas freqncias nas geraes parentais exibem diferenas acima de 10%, foram estimados preliminarmente em: branco 50%; ndio 17%; e negro 33%. Esses estudos prosseguem76 e o ltimo informe sobre o assunto, onde foi analisado apenas um marcador gentico de toda populao estudada, revela: componentes caucaside 69%; negride 16% e ndio 15%.

    Assim, concluiramos que, diludos no tempo e no espao amaznico, os traos somticos e culturais dos que participaram da conquista e da ocupao da rea (ndios, portugueses, africanos e mestios) amalgamaram-se e fundiram-se de tal forma, que impossvel dissociar qualquer um deles.

    Todos esses traos, inclusive os religiosos, no so antagnicos; muito ao contrrio: o conjunto aparentemente desordenado altamente organizado e harmnico, no havendo contrastes entre religies, sejam elas quais forem. Na mentalidade mgica do homem amaznico, integrada ao processo cultural que se desenvolveu e se desenvolve na rea, existe apenas um todo suas crendices, supersties, enfim, sua religio.

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    1 DIGUES JR., Manuel. Regies culturais do Brasil. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais/MEC, 1960. 2 Nordeste Agrrio do Litoral, Mediterrneo Pastoril, Amaznia, Centro-Oeste, Pastoril do Extremo-Sul, Colonizao Estrangeira, Caf, Industrial, Cacau, Sal e Pesca. 3 Utilizando-se os critrios de Ribeiro constataramos que essas culturas estavam atravessando os seguintes processos civilizatrios: grupamentos indgenas de aldeias agrcolas indiferenciadas; o colonizador portugus De imprios mercantis salvacionais; populaes africanas de aldeias agrcolas indiferenciadas a hordas pastoris nmades. RIBEIRO, Darcy. O processo civilizatrio. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1968. 4 DIGUES JR. Regies culturais do Brasil; DIGUES JR. Etnias e culturas no Brasil. 3 edio. Rio de Janeiro: Editora Letras e Artes, 1963; DIGUES JR. Imigrao, urbanizao e industrializao. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais/MEC, 1963; DIGUES JR. O Brasil e os brasileiros. So Paulo: Livraria Martins Editora, 1964. 5 FIGUEIREDO, Napoleo & VERGOLINO E SILVA, Anaza. Estudos e Problemas Brasileiros: formao tnica e cultural do Povo brasileiro. Belm: Universidade Federal do Par/Centro de Educao, 1971; FIGUEIREDO. Estudos sobre a Cultura Portuguesa em Portugal e no Brasil. Manuscrito, 1973. 6 HARRIS, Marvin. Padres raciais na Amrica. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1967. 7 RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1945. 8 RAMOS, Arthur. Introduo Antropologia Brasileira. 2 edio. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1951. 9 PEREIRA, Nunes. A casa das Minas: contribuio ao estudo das sobrevivncias daomeanas no Brasil. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Antropologia, 1947. 10 EDUARDO, Octavio da Costa. The Negro in Northern Brazil: a study in acculturation. 2 edio. Seattle: University of Washington Press, 1966. 11 FERNANDES, Gonalves. O sincretismo religioso no Brasil. Curitiba: Editora Guara, 1941. 12 RIBEIRO, Ren. Cultos afro-brasileiros do Recife: um estudo de ajustamento social. Recife: Instituto Joaquim Nabuco, 1952.

    N O T A S

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    13 DUARTE, Eduardo. Sobrevivncias do culto da serpente (Dnh-Gbi) nas Alagoas. Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de Alagoas, vol. 26 (1952), pp. 60-67. 14 VALENTE, Waldemar. Sincretismo religioso afro-brasileiro. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955; VALENTE. Sobrevivncias Daomeanas nos grupos de culto Afro-nordestinos. Recife: Instituto Joaquim Nabuco, 1964. 15 FERNANDES, Florestan. Mudanas sociais no Brasil. So Paulo: Difuso Europia do Livro, 1960; FERNANDES. A integrao do negro na sociedade de classes. So Paulo: EdUSP, 1965; FERNANDES. Mobilidade social e relaes sociais: o drama do negro numa sociedade em mudana. Cadernos Brasileiros, n 47 (1968). 16 CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravido. So Paulo: Difuso Europia do Livro, 1962. 17 IANNI, Octavio. As metamorfoses do Escravo. So Paulo: Difuso Europia do Livro, 1962. 18 COSTA, Emilia Viotti da. Da Senzala Colnia. So Paulo: Difuso Europia do Livro, 1966. 19 PEREIRA, Joo Batista Borges. Cor, mobilidade e profisso. So Paulo: Pioneira, 1967. 20 BASTIDE, Roger. Imagens do Nordeste mstico em preto e branco. Rio de Janeiro: Grfica O Cruzeiro, 1945; BASTIDE. Candombl da Bahia. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961; BASTIDE. As religies africanas no Brasil. So Paulo: Pioneira, 1971, 2 vols.; BASTIDE. Estudos afro-brasileiros. So Paulo: Perspectiva, 1973. 21 CARNEIRO, Edison. Religies negras. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1936; CARNEIRO. Negros bantus. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1937; CARNEIRO. Candombls da Bahia. Rio de Janeiro: Andes, 1954; CARNEIRO. Ladinos e crioulos. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1964. 22 EDUARDO. The Negro in Northern Brazil. 23 RIBEIRO. Cultos afro-brasileiros do Recife. 24 CAMARGO, Cndido Procpio Ferreira de. Kardecismo e Umbanda. So Paulo: Pioneira, 1961. 25 LEACOCK, Seth & LEACOCK, Ruth. Spirits of the deep. New York: Natural History Press, 1972. 26 STEGER, Hanns-Albert. El Trasfondo revolucionario de1 sincretismo criollo. Aspectos sociales de la transformacin clandestina de la religin en Afroamrica colonial e postcolonial. Cuernavaca: CIDOC, 1972. 27 GERBERT, Martin. Religionen in Brasilien. Eine analyse der nicht-katolischen religions-formen und ihrer Entwicklung im Sozialen Wandel der Brasilianischen Gesellschaft. Berlim: Biblioteca Ibero-Americana, 1970.

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    28 FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mocambos. 2 edio. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1951; FREYRE. Casa-grande e Senzala. 7 edio. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1952. 29 RAMOS. Introduo Antropologia Brasileira. 30 AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira: introduo ao estudo da cultura no Brasil. 3 edio. So Paulo: Melhoramentos, 1958. 31 PRADO JR., Caio. Formao do Brasil contemporneo. Colnia. 5 edio. So Paulo: Brasiliense, 1957. 32 FURTADO, Celso. Formao Econmica do Brasil. 2 edio. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1959. 33 DIGUES JR. Etnias e culturas no Brasil; DIGUES JR. Imigrao, urbanizao e industrializao; DIGUES JR. O Brasil e os brasileiros. 34 BASTIDE. Brasil, terra de contrastes. S. Paulo. Dif. Europia do Livro. So Paulo: Difuso Europia do Livro, 1959. 35 WAGLEY, Charles. An Introduction to Brazil. New York: Columbia University Press, 1965. 36 LAMBERT, Jacques. Os dois Brasis. 3 edio. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967. 37 SMITH, T. Lynn. Brasil, Povo e Instituies. Rio de Janeiro: Aliana para o Progresso, 1967. 38 MENDONA, Marcos Carneiro de. A Amaznia na era pombalina. Rio de Janeiro: IHGB, 1963, p. 6A. 39 MAUS, Raimundo Heraldo. Congregaes religiosas na Amaznia. Ao das Ordens e Congregaes religiosas na Amaznia. Belm: Grmio Literrio Portugus, 1968, p. 25. 40 BATES, Henry Walter. O naturalista no Rio Amazonas. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944, p. 64. 41 AGASSIZ, Luiz & CARY, Elizabeth. Viagem ao Brasil (1865-1866). So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938, p. 195. 42 WALLACE, Alfred Russel. Viagens pela Amaznia e Rio Negro. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939, p. 21. 43 FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Viagem filosfica s Capitanias do Gro Par, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiab. So Paulo: Grficos Brunner, 1952; FERREIRA. Viagem filosfica s Capitanias do Gro Par, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiab, 1783-1792. Iconografia. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1971, vol. 1. 44 SPIX & MARTIUS. Viagem pelo Brasil. 2 edio. So Paulo: Melhoramentos, 1938, vol. 3, p. 19. 45 BAENA, Antonio Monteiro. Compendio das Eras da Provincia do Par. Belm: Santos e Santos Menor, 1838.

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    46 BERREDO, Bernardo Pereira de. Annaes historicos do Estado do Maranho. 2 Edio. Maranho: Typographia Maranhese, 1849. 47 FIGUEIREDO & VERGOLINO E SILVA. Alguns elementos novos para o estudo dos batuques de Belm. Atas do Simpsio sobre a Biota Amaznica. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Pesquisas, 1967, vol. 2 (Antropologia), pp. 103-22; VERGOLINO E SILVA. O Tambor das Flores: estruturao e simbolismo ritual de uma Festa da Federao Esprita Umbandista e dos Cultos Afro-Brasileiros no Par. Campinas: Projeto de Pesquisa para Dissertao de Mestrado em Antropologia Social, Universidade Estadual de Campinas, 1973. 48 CARREIRA, Antnio. As Companhias Pombalinas de navegao e comrcio e trfico de escravos entre a Costa Africana e o Nordeste Brasileiro. Porto: Imprensa Portuguesa, 1969; CARREIRA. Cabo Verde: formao e extino de uma sociedade escravocrata (1460-1878). Bissau: Centro de Estudos da Guine Portuguesa, 1972. 49 DIAS, Manuel Nunes. A Companhia Geral do Gro Par e Maranho. Belem: Imprensa Universitria, 1970, 2 vols. 50 VERGOLINO E SILVA, Anaza. Alguns elementos para o estudo do negro na Amaznia. Belm: Museu Paraense Emilio Goeldi, 1968; VERGOLINO E SILVA. O negro no Par: a noticia histrica. In: Antologia da Cultura Amaznica. Belm: Amaznia Edies Culturais, 1971, vol. 6 (Antropologia e Folclore), pp. 17-33. 51 SALLES, Vicente. O negro no Par. Sob regime de escravido. Rio de Janeiro/Belm: FGV/UFPA, 1971. 52 Ibidem, p. 27. 53 CARREIRA. As Companhias Pombalinas de navegao e comrcio e trfico de escravos entre a Costa Africana e o Nordeste Brasileiro; CARREIRA. Cabo Verde. 54 DIAS. A Companhia Geral do Gro Par e Maranho. 55 VERGOLINO E SILVA. O negro no Par: a noticia histrica. 56 Ibidem, p. 32. 57 CARNEIRO. Ladinos e crioulos, pp. 6-10. 58 Ibidem, p. 35. 59 Adotamos os critrios de Ribeiro de classificao da cultura por nveis operacionais; o sistema adaptativo, compreendendo o conjunto integrado de modos culturais, de ao sobre a natureza necessria produo e reproduo das condies materiais de existncia de uma sociedade: o sistema associativo, compreendendo os modos de regulamentao das relaes entre as pessoas para o efeito de atuarem conjugadamente no esforo produtivo e na reproduo biolgica do grupo; e finalmente, o sistema ideolgico, compreendendo alm das tcnicas produtivas e das normas sociais em seu

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    carter de saber abstrato, todas as formas de comunicao simblica como a linguagem, as formulaes explcitas de conhecimento com respeito natureza e sociedade, os corpos de crena e as ordens de valores, bem como as explanaes, em cujos termos os povos explicam seu modo de vida e conduta. RIBEIRO. O processo civilizatrio. 60 HARRIS. Padres raciais na Amrica. 61 Ibidem. 62 BASTIDE. As religies africanas no Brasil, p. 243. 63 CARNEIRO. Ladinos e crioulos, p. 137. 64 GALVO, Eduardo. A vida religiosa do caboclo da Amaznia. Boletim do Museu Nacional, vol. 15, Nova Srie, Antropologia (1953), pp. 1-18; GALVO. Santos e visagens: um estudo da vida religiosa de It, Amazonas. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955. 65 FIGUEIREDO & VERGOLINO E SILVA. Festas de santos e encantados. Belm: Academia Paraense de Letras, 1972. 66 GALVO. A vida religiosa do caboclo da Amaznia, pp. 4-5. 67 VERGOLINO E SILVA. O Tambor das Flores. 68 O material utilizado no presente ensaio foi coletado em pesquisa de campo realizada no perodo 1966/1971 Projeto Batuques de Belm Universidade Federal do Par Napoleo Figueiredo & Anaiza Vergolino e Silva. As colees etnogrficas recolhidas integram o acervo da disciplina Etnologia e Etnografia do Brasil da mesma Universidade (Col. Figueiredo & Vergolino e Silva. 1967 ns. 330 a 699; 947 a 981; Col. Vergolino e Silva & Figueiredo. 1970 ns. 1160 a 1198 e Col. Figueiredo, 1973 ns. 1259 a 1268). 69 CARNEIRO. Ladinos e crioulos, pp. 121-142. 70 FIGUEIREDO & VERGOLINO E SILVA. Alguns elementos novos para o estudo dos batuques de Belm; FIGUEIREDO. Os caminhos de Exu, manuscrito, 1974. 71 FIGUEIREDO. Os caminhos de Exu, manuscrito, 1974. 72 LEACOCK. Fun-loving deities in an afro-brazilian cult. Anthropological Quaterly, vol. 37, n 3 (1964), pp. 94-109; LEACOCK. A cerimonial drinking in an afro-brazilian cult. American Anthropologist, vol. 66, n 2 (1964), pp. 344-54; LEACOCK & LEACOCK. Spirits of the deep. 73 FIGUEIREDO & VERGOLINO E SILVA. Alguns elementos novos para o estudo dos batuques de Belm. 74 VERGOLINO E SILVA. O Tambor das Flores. 75 AYRES, Manuel et alii. Componentes raciais da populao de Belm, Par. Primeiros dados. Cincia e Cultura, vol. 20, n 2 (1968), pp. 188-89. 76 Laboratrio de Gentica do Centro de Cincias Biolgicas da Universidade Federal do Par.