6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

download 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

of 11

Transcript of 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    1/11

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122

    O VNCULO ME-BEB NA ATUALIDADE1

    Dbora Maschietto Gonalves

    Fernanda Keli PereiraJuliana Bastos OhyLillian Pisani Leite

    Rebeca KikuchiProfa. Dra. Solange Aparecida Emlio

    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Resumo: As autoras realizaram um estudo sobre o vnculo me-

    beb, enfatizando a dinmica estabelecida e buscando compreender

    os impactos que os dias atuais causam na constituio damaternidade. O mtodo utilizado na pesquisa foi o qualitativo, por

    meio de duas entrevistas realizadas com trs mes, sendo uma delas

    realizada por volta do nono ms da gestao, e a segunda, no

    primeiro ms aps o parto. Os resultados da pesquisa sugerem que

    as relaes no interior da famlia tm sofrido mudanas de carter

    econmico, social e psicolgico. As mulheres entrevistadas, antes e

    aps o nascimento dos bebs, demonstraram interesse em voltar ao

    mercado de trabalho o mais rpido possvel, relatando a necessidade

    de retomada da atividade profissional. Observou-se especial ateno

    s preocupaes prticas de manuteno do padro de vida e

    reinsero no mercado de trabalho, pois eram mulheres que j

    contribuam no oramento familiar e priorizavam a atuao no

    mercado de trabalho como forma de se manterem teis em todas as

    atividades possveis mulher.

    Palavras-chave: vnculo me-beb, preocupao materna primria,

    maternidade e trabalho, papis sociais.

    1 Este trabalho foi baseado na pesquisa realizada pelos alunos do curso de

    graduao em Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Agradecemos aBibiana Cantagallo, Cristiane de Sousa, Diana Krikorian, Ricardo Conceio eViviane Cirullo, que colaboraram com a coleta de dados e com algumas discussesincludas neste artigo.

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    2/11

    O vnculo me-beb na atualidade

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122 113

    THE MOTHER-BABY LINKING AT THE PRESENT TIME

    Abstract: The authors carry through a reflection on mother-baby

    linking, emphasizing the established dynamics and trying to

    understand the impacts that the current days cause for the maternity

    constitution. The method used in the research was the qualitative

    one, by means of two interviews with three mothers, being one of

    them carried through around of the ninth month of the pregnancy,

    and the second one, in the first month after the childbirth. The results

    of the research suggest that the relationships inside the family have

    suffered changes related to economic, social and psychological issues.

    The interviewed women, before and after the babies birth,

    demonstrated interest in getting back to work as fast as possible,

    reporting the need to get busy with the professional activity. The

    practical concerns about the life standard maintenance and work

    market were observed, therefore they were women who already

    contributed to the familiar budget and prioritized the performance inthe work market as a way of being useful in all the activities possible

    to the women.

    Keywords: mother-baby linking, primary maternal preoccupation,

    motherhood and work, social roles.

    Introduo

    Sabemos que o papel da me essencial para odesenvolvimento psquico do beb. De acordo com Winnicott (2001),

    necessrio ser oferecido ao beb o ambiente adequado para que ele

    se desenvolva bem. Assim, de fundamental importncia o que

    acontece na dade me-beb ao longo do desenvolvimento da criana

    (BLEICHMAR, 1992).

    Mazet e Stolerus (1990) estabelecem um modelo terico no

    qual enfocam a reciprocidade na relao bidirecional entre me e

    beb. Consideram a importncia de perceber o modo como a me

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    3/11

    Dbora Maschietto Gonalves, Fernanda Keli Pereira, Juliana Bastos OhyLillian Pisani Leite, Rebeca Kikuchi, Profa. Dra. Solange Aparecida Emlio

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122 114

    entende as necessidades do beb, bem como sua atuao sobre as

    mesmas. Para tal, explicam a existncia de um modelo interacional

    que pode ser dividido em interao de: comportamento, afetividade e

    fantasmtica. No que se refere ao comportamento, as formas de

    contato fsico, verbal e visual podem estimular a adaptao da

    criana quanto ao meio e suas respostas aos estmulos; a voz pode

    ser capaz de acalmar ou agredir o beb; o olhar capaz de revelar a

    relao e o apego estabelecido entre ambos. Em relao interao

    afetiva, nos primeiros seis meses quase no h referncia ao mundo

    externo, isto , ao que h alm da dade me-beb. Nos dois meses

    seguintes, outros objetos comeam a atuar nessa interao, porm

    se a me no fornecer apoio a essas novas interaes, atravs de

    uma possessividade e superproteo criana, ser possvel passar

    criana a idia de que ela no capaz, podendo afetar o seu

    desenvolvimento. J a interao fantasmtica revela quais as

    representaes mentais dos pais sobre o beb e conseqentemente

    como ser estabelecido o padro de apego a ser desenvolvido pelobeb. Sendo possvel a me entrar em contanto com o beb real e

    acolh-lo elaborando deste modo o luto do beb idealizado, ser

    possvel conceber um apego seguro; porm, se o modelo ideal for

    sustentado mesmo perante a realidade, isso poder gerar frustraes

    e um apego inseguro.

    Para Bowlby (1988), a criana constri um modelo

    representacional interno de si mesma, dependendo de como foicuidada, e em sua vida esse modelo permite que a criana seja capaz

    de se ajudar e de acreditar que pode ser ajudada em caso de

    dificuldades. O fato de acreditar em si prpria e a relao de

    segurana criada com seus cuidadores iro ajudar a criana a

    separar-se dos pais gradativamente, a tornar-se independente e a

    explorar a liberdade.

    As crianas, at pouco tempo atrs, eram criadas para a

    obedincia e acatamento das ordens dos adultos e era normal estar

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    4/11

    O vnculo me-beb na atualidade

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122 115

    em constante contato com a famlia, em que pai e me interferiam e

    colaboravam com sua educao, revezando-se nos cuidados e

    imprimindo especial ateno ao comportamento feminino. O pai era o

    chefe da casa, cabea do casal e sua autoridade era incontestada. A

    me incumbia-se das lides domsticas e do cuidado com os filhos, e

    raramente trabalhava fora de casa, uma vez que a idia do trabalho

    fora de casa era incipiente (ALMEIDA, 1998).

    Com o nmero de mulheres cada vez maior ingressando no

    mercado de trabalho e conquistando a independncia econmica,

    ocorrem novos arranjos familiares, com significativas mudanas nas

    relaes entre homens e mulheres, como a separao entre papis

    conjugais e parentais. Encontramos mes que podem fazer a escolha

    de assumir a educao de um ou mais filhos, de forma independente,

    sem parceria masculina ou que, mesmo tendo a presena masculina,

    sentem dificuldade de dividir responsabilidades e acabam por assumir

    uma enorme responsabilidade na criao de seus filhos; mas surgem

    medos e dvidas sobre a forma mais eficiente de educar suascrianas. A maior dificuldade encontrada por essas mes est em

    como colocar limites nas crianas, levando em considerao que

    dispem de pouco tempo para ficar com os filhos (BOLSANALLO;

    BOLSANALLO, 1993).

    Por mais que a atualidade desencadeie grandes transformaes

    socioculturais e esses pais sofram na misso de redefinir seus papis,

    necessrio que consigam restabelecer seus lugares e repensarmodelos que lhes permitam educar seus filhos. Segundo Bolsanallo e

    Bolsanallo (1993), so pais que vivem assustados porque sabem da

    influncia que tm na vida de seus filhos e temem tamanha

    responsabilidade. Reconhecem que so os primeiros objetos de amor

    e que devero transmitir criana os valores culturais, direcionar

    comportamentos e enfrentar episdios decisivos da educao dos

    filhos.

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    5/11

    Dbora Maschietto Gonalves, Fernanda Keli Pereira, Juliana Bastos OhyLillian Pisani Leite, Rebeca Kikuchi, Profa. Dra. Solange Aparecida Emlio

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122 116

    O prazer da mulher em interagir com o mundo exterior e

    ocupar um determinado espao, prestando um relevante servio

    social e recebendo uma remunerao para isso, justifica tais

    mudanas. Na esfera das simbolizaes, est presente o desejo de

    realizao da mulher, uma vez que a autonomia gerada pela

    profisso possibilita maiores oportunidades de escolhas pessoais e de

    emancipao econmica da famlia (ALMEIDA, 1998).

    Gomes e Resende (2005) entendem que hoje as mulheres

    clamam por mudanas radicais nas mentalidades e profundas

    transformao nas condies de vida privada e profissional que esto

    sendo tecidas nos ncleos familiares contemporneos, a partir de

    conflitos reestruturantes que nelas se manifestam.

    O presente trabalho partiu de uma pesquisa que objetivou

    compreender os impactos que os dias atuais causam na constituio

    da maternidade, enfatizando a dinmica estabelecida no entorno da

    chegada do beb em uma famlia e buscando investigar a vinculao

    me-beb neste contexto.

    Mtodo

    A pesquisa foi realizada com o referencial do mtodo

    qualitativo. Para a anlise dos dados, buscamos aproveitar todas as

    informaes coletadas no decorrer da pesquisa, como os relatos de

    observao e as transcries de entrevistas. O meio de coleta foi a

    entrevista semi-aberta.Trs mes foram entrevistadas por duas vezes, em momentos

    distintos da maternidade. Algumas perguntas feitas em um dos

    momentos foram repetidas no segundo, de forma um pouco

    diferente. A primeira entrevista foi realizada por volta do nono ms

    da gestao e a segunda entrevista no primeiro ms aps o parto,

    com o propsito de verificar o vnculo me-beb estabelecido em

    ambos os momentos e tambm como a chegada do beb influenciaria

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    6/11

    O vnculo me-beb na atualidade

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122 117

    as decises da me em relao sua vida pessoal e continuidade

    de sua vida profissional.

    Foram entrevistadas mulheres primparas e que tiveram a

    gravidez planejada. Optamos por mulheres que tivessem um parceiro

    fixo para considerarmos as possibilidades de apoio, de

    compartilhamento de expectativas e responsabilidades. As mes

    eram economicamente ativas, a fim de verificar as possibilidades de

    influncia das mudanas nos papis femininos no processo de

    maternidade atual.

    A anlise dos resultados baseou-se em trs momentos

    principais: no levantamento de primeiras impresses sobre cada uma

    das entrevistas; na retomada dos dados por rea de investigao e,

    no terceiro momento, pela anlise interpretativa, que emoldurou as

    descries particulares e gerais, aliando a discusso terica aos

    aspectos percebidos como mais relevantes pesquisa.

    Apresentao e d iscusso dos r esu l tados Em todos os casos acompanhados, com o nascimento das

    crianas, as famlias ficaram, nos primeiros meses, organizadas como

    famlia moderna, descrita por Almeida (1998), com o pai como chefe

    da casa, posicionado como provedor econmico e a me encarregada

    das tarefas domsticas e cuidados com o filho. neste perodo,

    segundo Winnicott (2003), que a me vivencia a preocupao

    materna primria, que proporciona a ela uma sensibilidade cada vezmaior em relao s necessidades do beb e dedica-se

    completamente ao novo filho. Nesse momento, as novas mes se

    preocupam de tal forma que se sentem incapazes de levar adiante

    outras tarefas.

    O que houve de novidade com as mes entrevistadas, porm,

    foi que a preocupao em retornar ao trabalho continuou presente,

    tanto antes do parto quanto um ms aps. Na entrevista realizada

    nesse segundo momento, duas das mes mostraram-se mais

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    7/11

    Dbora Maschietto Gonalves, Fernanda Keli Pereira, Juliana Bastos OhyLillian Pisani Leite, Rebeca Kikuchi, Profa. Dra. Solange Aparecida Emlio

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122 118

    preocupadas com tal retorno. Apresentaram, assim, caractersticas da

    me citada por Almeida (1998), que anuncia seu prazer de interagir

    com o mundo exterior e ocupar um determinado espao, recebendo

    uma remunerao para isso, revelando que a autonomia gerada pela

    profisso possibilita maiores oportunidades de escolhas pessoais e de

    emancipao econmica da famlia. Mesmo quando a preocupao em

    relao maternidade apareceu bem acentuada no momento anterior

    ao nascimento do beb, o contato com a criana pareceu colaborar

    para a sua diminuio. Por exemplo, a me que relatou, ainda

    durante a gravidez, que pretendia voltar s atividades somente

    quando a filha tivesse por volta de trs anos de idade, um ms aps

    o nascimento optou por voltar a trabalhar e alegou no conseguir

    ficar em casa dedicando-se exclusivamente ao beb.

    O que foi percebido nas mes entrevistadas coincide com a

    proposio de Gomes e Resende (2005), segundo a qual, o modelo

    de famlia, anteriormente organizado com base na hierarquia, regido

    pela severidade de princpios tem sido substitudo na atualidade porformas diferenciadas de organizao, sem deixar lugar para o

    autoritarismo do antigo pai provedor, que exercia domnio sobre o

    grupo. Antigamente a mulher, de modo submisso, tinha os afazeres

    da casa e o cuidado com os filhos como ocupao exclusiva. Hoje,

    encontramos pais que devem se habituar a um novo modelo familiar,

    o que quer dizer que passam a procurar novas identidades que se

    articulam com as contingncias sociais, econmicas e culturais,envolvendo fatores individuais e emocionais, redefinindo, portanto, as

    relaes internas e externas de ambos. Isso foi percebido na

    pesquisa, pois um dado presente nas trs mes entrevistadas em

    nossa pesquisa foram as expectativas presentes - j na primeira

    entrevista - de retorno ao mercado de trabalho em algum momento

    aps o nascimento do beb.

    Por mais que a atualidade desencadeie grandes transformaes

    socioculturais, necessrio que as famlias consigam restabelecer

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    8/11

    O vnculo me-beb na atualidade

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122 119

    seus lugares e repensar modelos que lhes permitam dedicar-se aos

    seus filhos sem alienar-se de si e de seus diferentes lugares na

    sociedade. Conforme o esperado, as trs famlias apresentaram sua

    organizao em torno das necessidades do beb, porm as mes

    entrevistadas comentaram a dificuldade que sentiram em conciliar

    seus papis de: esposa, me e dona de casa, bem como de retomar

    suas atividades fora de casa, comuns mulher de nosso tempo.

    Uma das mes - que antecipou em quase trs meses a data de

    retorno ao trabalho, em relao que havia sido prevista antes do

    nascimento do beb - curiosamente, revelou-se intensamente

    apegada ao filho, relatando suas dificuldades em separar-se dele.

    Exps sua dificuldade em concentrar-se em suas atividades

    corriqueiras e relatou que por isso sempre mantinha o beb por

    perto, com medo de que lhe acontecesse algo. Esta me parece

    denunciar um conflito vivenciado pela mulher atual, dividida entre as

    preocupaes com a profisso e com o beb.

    Em duas das mes aparecem intensas expectativas a respeitoda aparncia da criana e tambm que fosse saudvel e calminha,

    principalmente para poder ficar no berrio. Nesse sentido,

    importante considerar o investimento emocional dos pais em seus

    filhos, referido como formao de vnculo - um processo formado por

    repetidas experincias significativas e prazerosas. No esto apenas

    relacionadas s experincias do beb, mas tambm de todos os

    componentes da famlia que atuam buscando esta integrao(KLAUS; KENNEL; KLAUS, 2000).

    Winnicott (2001) categoriza a funo da me suficientemente

    boa, citando o holding, que tem relao com a capacidade da me de

    se identificar com seu beb, proporcionando o cuidado bsico; a

    manipulao, que facilita a formao de uma parceria psicossomtica

    na criana, e do sentido do real e do irreal; e apresentao de

    objetos ou realizao, que consiste em tornar real o impulso criativo

    da criana, dando incio capacidade do beb de relacionar-se com

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    9/11

    Dbora Maschietto Gonalves, Fernanda Keli Pereira, Juliana Bastos OhyLillian Pisani Leite, Rebeca Kikuchi, Profa. Dra. Solange Aparecida Emlio

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122 120

    objetos. As trs mes buscaram estas caractersticas citadas, bem

    como equilibrar novamente suas vidas vinculando seus diferentes

    papis.

    Percebemos que no contexto atual as relaes no interior da

    famlia esto sofrendo mudanas de carter econmico, social e

    psicolgico. Estas mesmas mulheres vem-se permeadas de tarefas,

    responsabilidades, papis sociais e um cotidiano mltiplo de funes

    que requerem grande desenvoltura e capacidade. Trata-se de uma

    carga que lhes impem um desempenho exmio no desenvolvimento

    de suas mltiplas tarefas, fato este que pode ser observado nas mes

    em pesquisa, j que deveriam rever suas funes de me e de

    mulher na famlia. O que pudemos observar foi o intenso papel

    materno sendo executado nesse perodo e o papel de mulher e

    profissional acabaram sendo recuperados aps o perodo de

    nascimento do beb. A responsabilidade de exercer tais funes,

    concomitantemente, torna a tarefa da mulher ainda mais rdua, uma

    vez que est em um perodo em que, teoricamente, deveria sededicar exclusivamente s necessidades do seu beb. Mas a

    necessidade de se sentirem teis dentro e fora de casa as fez retomar

    suas atividades profissionais, pois permanecer exclusivamente em

    casa foi relatado como algo tedioso, que as deixam tensas e em

    desacordo com o que elas pretendem para as suas vidas.

    As trs mes entrevistadas pouco citaram o pai do beb, a no

    ser quando os pesquisadores fizeram perguntas sobre eles. Porm, asrespostas evidenciaram que eles estiveram envolvidos durante todo o

    perodo de gestao e aps o nascimento do beb: participaram do

    planejamento da gravidez, na escolha do nome, nas expectativas

    quanto ao sexo e a aparncia fsica, alm de demonstrarem felicidade

    com a notcia da gravidez e companheirismo durante e aps a

    gestao. Podemos pensar que as funes de me e profissional

    ganharam um destaque muito maior do que a de esposa e

    companheira.

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    10/11

    O vnculo me-beb na atualidade

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122 121

    Com essa pesquisa, pareceu-nos que as mulheres atuais

    realmente esto preocupadas com a maternidade, com o mercado de

    trabalho, com o lar e com o seu relacionamento conjugal (apesar da

    pouca nfase). A maioria delas consegue lidar com as diversas

    contingncias, mas sem se dedicar integralmente aos seus filhos

    como a mulher de tempos passados, pois precisam e, principalmente,

    desejam trabalhar e portanto possuem diversas preocupaes. Uma

    questo a ser levantada se a preocupao materna primria da

    mulher atual est voltada ao beb, como proposto por Winnicott, ou

    aos demais projetos e investimentos que os novos papis assumidos

    implicam.

    A pesquisa cumpriu com a meta de contribuir para o

    conhecimento dos processos e dinmicas envolvidas no vnculo me-

    beb na atualidade, alm de auxiliar futuros estudos acerca do tema.

    Tambm pde contribuir para despertar o interesse nas questes

    femininas envolvidas, tais como a nfase dada pelas mulheres

    importncia da vida profissional e a dvida sobre a maternidade serou no esquecida com o tempo, em virtude dessa intensa mudana

    de mulher-me, para uma mulher-profissional. Deste modo,

    sugerimos novos estudos voltados a essa temtica permeada de

    questes to presentes e necessrias para a compreenso do

    momento em que vivemos.

    Referncias Bibliogrficas

    ALMEIDA, J. S. Mulher e Educao: A Paixo Pelo Possvel. SoPaulo: Fundao Editora UNESP, 1998.

    BLEICHMAR, N. M.; BLEICHMAR, C. L. A psicanlise depois deFreud: Teoria e Clnica. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1992.

    BOLSANALLO, A.; BOLSANALLO, M. A. Conselhos: Anlise do

    comportamento humano em psicologia. So Paulo: EditoraEducacional Brasileira, 1993.

  • 8/3/2019 6 o Vinculo Mae-bebe Na Atualidade

    11/11

    Dbora Maschietto Gonalves, Fernanda Keli Pereira, Juliana Bastos OhyLillian Pisani Leite, Rebeca Kikuchi, Profa. Dra. Solange Aparecida Emlio

    Boletim de Iniciao Cientfica em Psicologia 2006, 7(1): 112-122 122

    BOWLBY, J. A secure base: clinical applications of AttachmentTheory. London: Routledge, 1988.

    GOMES, A. J. S.; RESENDE, V. R. O Pai Presente : O Desvelar da

    Paternidade em uma Famlia Contempornea. So Paulo: Psicologia:Teoria e Pesquisa. 2005. Disponvel em:. Acesso em: 23 mai 2005.

    KLAUS, M. H.; KENNEL, J. H.; KLAUS, P. H. Vnculo: Construindo asBases para um Apego Seguro e para a Independncia. Porto Alegre:Artes Mdicas, 2000.

    MAZET, P. G.; STROLERUS, S. Manual de P sicoterapia do Recm-

    Nascido. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1990.

    WINNICOTT, D. W. Textos selecionados: da pediatria psicanlise.Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2003.

    WINNICOTT, D. W. A famlia e o Desenvolvimento Individual.So Paulo: Martins Fontes, 2001.

    Conta to :

    Solange Apar ec ida Em l io

    So lange.emi l io@ter ra .com.br

    T rami tao :

    Re ce b id o e m a b r i l / 2 0 0 6

    A ce it o em j u n h o / 2 0 0 6