622 docentes da UFsC aprovam proposta salarial do governo · Florianópolis, 10 de dezembro de...

3
FLORIANÓPOLIS, 10 DE DEZEMBRO DE 2007, N o 622 Docentes da UFSC aprovam proposta salarial do governo PAUTA: 1. Informes; 2. Discussão sobre o plano de saúde institucional da UFSC; 3. Outros assuntos Assembléia Geral PLANO DE SAÚDE DA UFSC (PATRONAL) s professores que participaram da Assembléia Geral realizada pela Apufsc na última quinta-feira, dia 6, no auditório do Centro Tecnológico (CTC), decidiram, por maioria, aprovar a proposta salarial do governo. Querem, no entanto, que as negociações prossigam para avançar no debate sobre a carreira docente. A posição será levada à reunião do Setor das Federais do Andes-SN, que acontece no dia 15 de dezembro. A Assembléia também elegeu os dele- gados (titulares e suplentes) para o 27º Congresso do Andes-SN, que acontece de 14 a 20 de janeiro, em Goiânia (GO). Como titulares, foram eleitos: Magaly Mendonça, Carlos Soares, Bartira Grandi, Marcelo Tragtenberg, Valmir Martins, José Arno Scheidt, Armando de Melo Lisboa, Lino Peres, Alberto Franke, Albertina Dutra Silva, Regina Vasconcelos Antonio e Sandra Mendonça. Como suplentes, que só irão ao Congresso em caso de de- sistência ou impossibilidade de um dos titulares, foram escolhidos: César Régis, Paulo Cesar Philippi, Ivan Brognoli, Vâ- nia Manfroi, Walter Carpes Jr., Fernando Milman, Irmgard Haas, Eliane Trevisan e Maria Luísa Sartorelli. O debate sobre o Caderno de Textos será encaminhado através da lista de discussão da Apufsc e os delegados se reunirão antes do Congresso para debater as teses e orga- nizar a participação no evento. URP – Depois de um contato com a senadora Ideli Salvatti, que participou na última sexta-feira, dia 7, da Conferência Estadual da Educação Básica de Santa Catarina, realizada na UFSC, foi agendada um encontro entre a Apufsc, a senadora e o ministro da Educação, Fernando Haddad, nesta segunda-feira, dia 10, às 11 horas, quando o ministro estará na nova unidade do Cefet, no bairro de Coqueiros. Desta segunda até quarta-feira, dia 12, uma comissão de professores da UFSC estará em Brasília para contatos com parlamentares e governo, reunião com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e para acompanhar a posse do catarinense Jorge Mussi, como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), em busca de apoio contra o corte da URP. Assembléia discute plano de saúde patronal O Ofício enviado pela Pró-Reitoria de De- senvolvimento Humano e Social da UFSC informa que o Ministério do Planejamento determinou aos órgãos do governo que elaborem planos de assistência à saúde para seus servidores até impreterivelmente o dia 31 de dezembro. O documento solicita que a Apufsc se posicione a respeito de “qual modalidade de assistência à saúde (artigo 2º da Portaria 1.983/06) que melhor atende aos anseios de seus sindicalizados”. Por conta disso, a Apufsc decidiu convo- car Assembléia para esta quinta-feira, dia 13, a partir das 14 horas, no auditório da Reitoria. Trata-se de debater qual a posição dos professores a respeito do plano de saú- de institucional, cujo contrato seria fecha- do pela administração central da UFSC, debitado no contra-cheque dos docentes e subsidiado pelo governo federal. O ofício ressalta ainda que a adesão ao plano é optativa e que há duas pro- postas na mesa: uma do Geap e outra da Unimed. quinta, dia 13, às 14 horas, no aud. da Reitoria

Transcript of 622 docentes da UFsC aprovam proposta salarial do governo · Florianópolis, 10 de dezembro de...

Page 1: 622 docentes da UFsC aprovam proposta salarial do governo · Florianópolis, 10 de dezembro de 2007, no 622 docentes da UFsC aprovam proposta salarial do governo Pauta: 1. Informes;

Florianópolis, 10 de dezembro de 2007, no 622

docentes da UFsC aprovam proposta salarial do governo

Pauta: 1. Informes; 2. Discussão sobre o plano de saúde institucional da uFSC; 3. Outros assuntos

assembléia GeralPlano de saúde da UFsC (Patronal)

s professores que participaram da Assembléia Geral realizada pela Apufsc na última quinta-feira,

dia 6, no auditório do Centro Tecnológico (CTC), decidiram, por maioria, aprovar a proposta salarial do governo. Querem, no entanto, que as negociações prossigam para avançar no debate sobre a carreira docente. A posição será levada à reunião do Setor das Federais do Andes-SN, que acontece no dia 15 de dezembro.

A Assembléia também elegeu os dele-gados (titulares e suplentes) para o 27º Congresso do Andes-SN, que acontece de 14 a 20 de janeiro, em Goiânia (GO). Como titulares, foram eleitos: Magaly Mendonça, Carlos Soares, Bartira Grandi, Marcelo Tragtenberg, Valmir Martins, José

Arno Scheidt, Armando de Melo Lisboa, Lino Peres, Alberto Franke, Albertina Dutra Silva, Regina Vasconcelos Antonio e Sandra Mendonça. Como suplentes, que só irão ao Congresso em caso de de-sistência ou impossibilidade de um dos titulares, foram escolhidos: César Régis, Paulo Cesar Philippi, Ivan Brognoli, Vâ-nia Manfroi, Walter Carpes Jr., Fernando Milman, Irmgard Haas, Eliane Trevisan e Maria Luísa Sartorelli.

O debate sobre o Caderno de Textos será encaminhado através da lista de discussão da Apufsc e os delegados se reunirão antes do Congresso para debater as teses e orga-nizar a participação no evento.

UrP – Depois de um contato com a senadora Ideli Salvatti, que participou na

última sexta-feira, dia 7, da Conferência Estadual da Educação Básica de Santa Catarina, realizada na UFSC, foi agendada um encontro entre a Apufsc, a senadora e o ministro da Educação, Fernando Haddad, nesta segunda-feira, dia 10, às 11 horas, quando o ministro estará na nova unidade do Cefet, no bairro de Coqueiros.

Desta segunda até quarta-feira, dia 12, uma comissão de professores da UFSC estará em Brasília para contatos com parlamentares e governo, reunião com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e para acompanhar a posse do catarinense Jorge Mussi, como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), em busca de apoio contra o corte da URP.

assembléia discute plano de saúde patronal

O

Ofício enviado pela Pró-Reitoria de De-senvolvimento Humano e Social da UFSC informa que o Ministério do Planejamento determinou aos órgãos do governo que elaborem planos de assistência à saúde para seus servidores até impreterivelmente o dia

31 de dezembro. O documento solicita que a Apufsc se posicione a respeito de “qual modalidade de assistência à saúde (artigo 2º da Portaria 1.983/06) que melhor atende aos anseios de seus sindicalizados”.

Por conta disso, a Apufsc decidiu convo-

car Assembléia para esta quinta-feira, dia 13, a partir das 14 horas, no auditório da Reitoria. Trata-se de debater qual a posição dos professores a respeito do plano de saú-de institucional, cujo contrato seria fecha-do pela administração central da UFSC, debitado no contra-cheque dos docentes e subsidiado pelo governo federal.

O ofício ressalta ainda que a adesão ao plano é optativa e que há duas pro-postas na mesa: uma do Geap e outra da Unimed.

quinta, dia 13, às 14 horas, no aud. da reitoria

Page 2: 622 docentes da UFsC aprovam proposta salarial do governo · Florianópolis, 10 de dezembro de 2007, no 622 docentes da UFsC aprovam proposta salarial do governo Pauta: 1. Informes;

Florianópolis

2 3

10 de dezembro de 2007

Héctor Ricardo Leis

Confesso que o texto do prezado colega Pinzani me produziu sentimentos contra-ditórios. Por um lado, fiquei feliz ao descobrir que a tocha do debate tinha sido recolhi-

da. A UFSC – e não apenas ela, mas a ampla maioria das universidades brasileiras – requer com urgência um debate aprofundado sobre o sentido e objetivos da universidade, no atual momento do Brasil e do mundo. Mas por outro lado me deu um certo desconcerto, tamanha minha expectativa em debater questões mais de fundo e menos discursivas.

No meu texto pautei diferentes elementos necessários para compreender o processo pelo qual a UFSC passou. Vamos resgatar alguns: 1. falei do resultado da última eleição, explicando o porquê de ter ganho quem ganhou e as razões de ter perdido quem perdeu; 2. coloquei em questão o “faz de conta” do sistema eleitoral adotado; 3. problematizei a relação política como algo que hoje se apresenta a partir da lógica de uma relação amigo-inimigo que, embora inevitável, deve ser limitada, na medida em que leva para a guerra e destruí a comunidade e as instituições da democracia; 4. trouxe a tona o tema da pro-dução de conhecimentos e do ensino e extensão, que dever se dar dentro do mais alto padrão de excelência possível, como objetivos principais e permanentes da universidade; 5. comentei que as relações no interior da comunidade universi-tária não podem ser confundidas com as relações da família, da empresa ou dos cidadãos de um Estado; 6. falei da complexidade de relações que combinam hierarquia num sentido, com igualdade em outro... etc. No entanto, o ponto eleito pelo meu colega para promover o debate foi algo que não escrevi nem sugeri. E, para pior, fui acusado de um pecado banal. Declaro então, solene e preliminarmente, a minha inocência diante a acusação.

Não posso, portanto, atender a seu pedido cordial de rever minha posição, porque essa que ele declara ser minha, não é – e apenas me foi atribuída por conta de causas que tratarei de esclarecer mais a frente. A rigor, o que mais me desapontou não foi tanto o fato de ser acusado por um delito que não cometi, mas de ter pauta-do tantas coisas vitais para a universidade, que ficaram no esquecimento quando meu debatedor se concentrou em uma questão praticamente diversionista. De que sou acusado? De defender a neutralidade ideológica na universidade. Mas como poderia? Essa acusação ofende a sofistica-ção que me é atribuída pelo colega em sua crítica. As pesquisas comprovam que até o inconsciente é influenciado pelas nossas ideologias conscientes. Para bem ou para mal, as ideologias são repre-sentações inevitáveis da realidade. A origem da confusão reside na crença de que as ideologias são de um único tipo, e, por conta disso, toda a realidade passa pelo filtro das ideologias políticas.

Creio ser essa uma visão simplista e equivocada. Assim como as relações no seio da família não são as mesmas que aquelas no seio da igreja ou do Estado ou da empresa (tal como já expliquei no texto anterior), também existem diversos tipos ou formas de ideologias que não podemos confundir. No sistema político se destacam, obviamente, as ideologias políticas e ninguém poderia reclamar a neutralidade ideológica nesses termos quando se observa um partido político ou o Parlamento. No entanto, no sistema religioso, por exemplo, não são essas ideologias que se destacam, mas outras que são próprias dessa esfera. O mesmo vale para a universidade. Nem as ideologias, nem os poderes (como bem observou Aristóteles no momento fundacional da ciência política) são sempre os mesmos, nas diversas dimensões da sociedade e suas instituições. Eu achei que tinha pautado esses pontos de forma clara, mas vejo que pequei em algum ponto da minha exposição de idéias. Voltemos então ao assunto.

É um fato que as ideologias políticas penetra-ram as instituições universitárias (muito espe-cialmente, as públicas). Mas isto é desejável? Eu digo que não é! Por acaso isto supõe uma reivin-dicação de neutralidade ideológica? Obviamente não! As ideologias sempre estão presentes, mas é desejável que essas lentes que, para bem ou para mal, nos filtram a luz da realidade, estejam sinto-nizadas o mais possível com a realidade específica que se vai abordar. Ao se reduzir o campo das ideologias ao das ideologias políticas (que, aliás, reduzido a um arco entre o neoliberalismo e a esquerda revolucionária me parece pobre demais), não se consegue enxergar o fato de que existem outros tipos de ideologias que são específicas da vida acadêmica. Embora com nomes que nada tem a ver com os de esquerda ou de direita, as ideologias e as revoluções não são fatos estranhos na vida dos cientis-tas, como bem estabeleceu Thomas Kuhn. Muitos colegas têm acompanhado minha longa luta pela interdisciplinaridade na UFSC (tanto em nível de graduação como de pós-graduação). Pois bem, essa luta eminentemente acadêmica esteve (e continuará) repleta de obstáculos ideológicos que não são precisamente de esquerda ou de direita, senão “disciplinares” e “departamentais”, entre outros. Se eu falasse em pró ou contra a interdisciplinaridade em termos de ideologias de esquerda ou direita não faria outra coisa que obnubilar mais ainda o debate.

Em um outro artigo, que publiquei no Boletim da Apufsc, não muito tempo atrás (nº 613, de 08/10/07), afirmei que as universidades públicas não podiam se de esquerda nem de direita. Não tanto porque seus membros docentes ou discentes tivessem ou não ideologias políticas, mas porque esse fato não ajudava a entender e operar sua realidade. Lá eu afirmava que a China produz anualmente 38% de engenheiros, sobre o total

de diplomados, enquanto no Brasil esse valor chega apenas a 6%. A seguir me perguntava como interpretar esses dados. Com relação aos engenheiros, o caso brasileiro é exemplo de polí-tica de esquerda ou de direita? Do mesmo modo, o caso da China é de esquerda ou de direita? A conclusão obvia é que as ideologias políticas pouco servem para entender a universidade e promover reformas que a coloquem em sintonia com as necessidades do país que as financia (aliás, não acredito que a proposta de colocar à universidade em sintonia com as necessidades de desenvolvimento do país real seja reprodu-zir as “elites do país”, muito pelo contrário!). Se alguém quer ser de esquerda ou de direita, que seja, é um direito básico de cidadania. No entanto, enquanto membro da comunidade universitária e, muito especialmente, enquanto reitor ou professor, essa distinção ideológica não ajuda em nada – alias, tanto não serve que até um colega que apoiou a mesma chapa que o professor Pinzani, reconheceu que eu tinha razão (ver o Boletim da Apufsc no. 614).

A Chapa 2 do professor Prata, por exemplo, conseguiu atrair o apoio de professores, alunos e servidores que divergem em termos de suas ideologias políticas, mas não de suas visões de universidade. Esse fenômeno se instala precisa-mente no ponto cego da perspectiva do Professor Pinzani. Ele parece não ter observado o fato de que pessoas de ideologias políticas de esquerda e de direita podem compartilhar as mesmas idéias de excelência para a universidade. Curiosamente

(pelo menos para alguém que usou os argumentos que usou contra mim), essa cegueira tem causas ideológicas. Meu colega fez a manobra fan-tástica de colocar seu pensa-mento no centro do espectro ideológico político. Ele diz que acredita numa via mediana entre a esquerda revolucio-naria e o neoliberalismo, que

ele entende serem duas expressões ideológicas extremas. Fazendo um exercício semântico po-deroso (que acredito vai ter que explicar melhor a seu candidato), nos diz que o Professor Nildo não forma parte da esquerda revolucionária, “já que ele possui visões bastante radicais, sim, mas não extremistas” (sic). Que assim seja. Mas o que meu colega talvez não tenha percebido é que os apoios ao Professor Prata se deram a partir de um arco plural, que incluiu de forma equilibrada pessoas de ideologias de esquerda e de direita. Isso foi possível porque na Chapa do Professor Prata o mais importante não foi saber se as pessoas eram de esquerda ou de direita, mas se compartilhavam a mesma visão de universi-dade. Mas o mesmo não poderia ser dito dos que apoiavam a Chapa do Professor Nildo, lá todos eram de esquerda! (e, provavelmente, nem sem-pre compartilhando a mesma visão de univer-sidade). As causas da cegueira que mencionava antes se encontram aqui. Para a esquerda que

apoiou, junto com o professor Pinzani, a Chapa do professor Nildo, as convergências são possíveis no interior da ideologia política de esquerda. Por isso meu colega foi levado a concluir que eu defendia a neutralidade ideológica, porque para certa visão da esquerda, todas as relações sociais devem passar pelo filtro do pensamento político de esquerda, nivelando assim todas as institui-ções e fenômenos sociais, políticos e culturais. Para mim não faz sentido debater os problemas da família ou da universidade em termos de ideologias políticas, mas para o pensamento da esquerda tradicional parece que faz, sim.

Resumindo, a acusação que me foi feita de ser um suposto defensor da neutralidade ideológica na universidade não tem sua origem em meu texto, mas na cegueira “epistemológica” de certa ideologia política (que por certo não é a minha!). Infelizmente, meu colega não comentou nada so-bre a parte final de meu texto. Ela foi introduzida previamente por um chamado de atenção para as conseqüências que traz maximizar na sociedade à lógica amigo-inimigo, típica da política. Tanto o radicalismo de esquerda como o de direita (que obviamente não tem nada a ver com a turma do neoliberalismo, mas a de Hitler e companhia) são responsáveis pelo uso desta lógica até o ponto de destruir as bases da sociedade (bases que Aristó-teles identificava, tanto na família como na pólis, com o conceito de phylia, uma força unificadora das relações sociais baseada num sentimento próximo ao da amizade). Era isto o que não via Carl Schmitt, mas sim viu Leo Strauss, tal como comentei no meu artigo anterior (pensadores que o professor Pinzani deve conhecer bem). Basear as estratégias de ação na universidade a partir de ideologias políticas supõe diferenciar a cada membro da comunidade em termos de relações não de colaboração ou amizade, mas de inimi-zade ou disputa. A eleição do reitor da UFSC foi um momento político importante, mas foi muito mais importante no plano acadêmico que no político. É um fato que na UFSC os eleitores não guiaram sua escolha preferencialmente por ideologias políticas. Eu fico feliz com isso, mas suspeito que meu colega Pinzani não tanto. A avaliação que expus em meu texto dava conta de que as ideologias políticas penetraram no de-bate universitário mais do que deveriam. Prova disso, apontei no final de meu texto, foi a falta de reconhecimento por parte do professor Nildo da legitimidade do triunfo eleitoral do professor Prata. Após a disputa eleitoral, vencedores e derrotados devem enviar sinais da amizade e não de inimizade. Isso vale para a nação, mas vale muito mais especialmente, em função de seus objetivos, para a universidade. Finalizo então fazendo um apelo para a reconciliação além de nossas ideologias políticas, para que nossa comu-nidade possa agir em comunhão, diminuindo a inimizade e aumentando a amizade, de cara para o século XXI.

Professor do Depto. de Sociologia e Ciência Política

na UFsC, os eleitores não guiaram sua escolha por ideologia

o ponto cego da ideologia política

Nildo Ouriques

Tramita na Assembléia Legislativa o projeto de lei n. 582/2007 que, entre outras providências, institui um siste-ma estadual de ciência, tecno-logia e inovação. A legislação

é necessária e poderá abrir um novo horizonte para o desenvolvimento científico e tecnológico em nosso estado. Contudo, caso aprovado como apresentada pelo executivo, o projeto poderá tam-bém significar retrocessos em relação à situação atual e pecar por omissões insustentáveis.

Indiscutivelmente a possibilidade de retro-cesso (inaceitável) fica por conta do artigo 27 do projeto de lei:

“O Estado de Santa Catarina destinará à pesquisa científica e tecnológica pelo menos dois por centos de suas receitas correntes, delas ex-cluídas as parcelas pertencentes aos municípios, destinando-se à Empresa de Pesquisa Agrope-cuária e Extensão Rural de SC – Epagri, para a pesquisa agropecuária, e à Fapesc, liberadas em duodécimos.”

Em caso de aprovação, teremos na prática duas agências de fomento em ciência e tecnolo-gia: a primeira, a Fapesc, que atenderá a todas as áreas da pesquisa científica e tecnológica e a segunda, a Epagri, agora transformada em única gestora dos recursos constitucionais destinados à pesquisa agropecuária. Um verdadeiro ab-surdo, pois neste caso, a pesquisa agropecuária realizada com recursos orçamentários fica sob controle exclusivo de um órgão governamental, subalternizando ou inclusive podendo excluir as universidades de nosso estado com capacidade de pesquisa no setor.

No caso da UFSC, as limitações impostas ao CCA, CCB, CSE e CFH são tão evidentes quanto inaceitáveis: afinal, não somos capazes de desenvolver – ou participar – de pesquisa agropecuária? A única possibilidade caso a lei receba aprovação, seria a “parceria” com a Epagri sempre que a empresa decida contar com “apoio” dos professores de nossas universidades. Mas neste caso, a situação não seria ruim apenas para aqueles centros da UFSC que ficam excluídos do apoio estadual à pesquisa agropecuária, mas se tornaria ainda pior também para os demais, uma vez que a disputa seguramente aumentará no 1% destinado à Fapesc. Em resumo, a disputa pelos recursos ficará ainda mais desigual! Este verda-deiro “seqüestro” de recursos públicos pela Epagri é mais uma peça da desconstitucionalização em curso em Santa Catarina, pois o Tribunal de Contas do Estado já aceitou a inclusão de verbas de custeio da Epagri como se fosse investimento

em ciência e tecnologia, fato que permitiu ao governo “cumprir” o artigo 193 que o obriga a investir 2% na área.

Por outro lado, o projeto não cria as condições institucionais para que a Fapesc possa criar um sistema de bolsas de estudo para nossos estudantes de pós-graduação que, em grande número, ainda realizam seus estudos sem amparo financeiro algum por parte de nossos programas. Neste sentido, o projeto estabelece no artigo 11 as pos-sibilidades de “bolsa de estímulo à inovação” aos “pesquisadores públicos” diretamente de institui-ção de apoio ou agência de fomento, mas nada diz sobre medidas essenciais para um vigoroso sistema de pós-graduação que ainda temos que construir: a dedicação exclusiva do mestrando ou doutorando que somente se consegue com um sólido programa de bolsas de estudo que a Fapesc teria que criar com urgência.

O corpo técnico da Epagri que se transformou em importante apoio para a mobilização de todos os interessados no desenvolvimento científico e tecnológico neste ano, sabe que esse “seqüestro” não contará com o apoio dos universitários catarinenses. No último período conseguimos uma aliança estratégica entre universitários e funcionários do estado (Epagri) para conquistar os recursos constitucionais. O artigo em questão (27) não somente nos divide radicalmente como também elimina o clima de confiança tão neces-sário para lutas futuras; o corporativismo pode render frutos momentâneos, mas não garante futuro tranqüilo para ninguém.

Não obstante os avanços, a verdade é que a Fapesc jamais se consolidou como agência de fomento em Santa Catarina e a razão é conhecida de todos nós: jamais pode contar os recursos cons-titucionais, na forma da lei (duodécimo)! Desti-nar à Epagri recursos que somente poderiam ser geridos pela legitimidade da Fapesc não somente debilitará esta, mas muito provavelmente não garantirá os recursos para o órgão governamental encarregado da pesquisa agropecuária logo que o critério de “austeridade fiscal” tocar mais forte na Secretaria da Fazenda.

Há outros artigos que merecem melhor reflexão, mas os dois indicados anteriormente constituem pontos fundamentais para um forte sistema catarinense de ciência e tecnologia que estamos obrigados a construir. Existe a possibili-dade de mudar aspectos importantes do projeto de lei que, tudo indica, será votado ainda em dezembro. A manifestação pública da Apufsc neste momento é essencial para sensibilizar os deputados em tão decisiva matéria.

Professor do Depto de Economia e presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos (Iela)

Um golpe na ciência e na tecnologia

Page 3: 622 docentes da UFsC aprovam proposta salarial do governo · Florianópolis, 10 de dezembro de 2007, no 622 docentes da UFsC aprovam proposta salarial do governo Pauta: 1. Informes;

BOLetim apuFscFlorianópolis

4

10 de dezembro de 2007

licitação Já!!!

o melhor caminho para a UFSC é abrir licitação para o plano de saúde

armando de melo Lisboa

Preocupa-nos o contrato que a UFSC fará com a em-presa que cuidará do plano de saúde (PS) patronal a ser oferecido a todos os traba-lhadores desta universidade.

Esta escolha definirá o padrão de cuidado de 18 mil vidas nos próximos anos. É um contrato de mais de 30 milhões de reais/ ano. Não há outro contrato na UFSC maior.

Todos recebemos há três semanas o Infor-mativo Plano de Saúde, assinado pela “Admi-nistração Central da UFSC”. Nele se narra as últimas notícias do processo de implantação de um PS patronal dentro da universidade, que é uma obrigação legal não cumprida há muitos anos. Desde 2004 o Reitor constituiu uma Comissão de Trabalho com a participação da Apufsc e do Sintufsc (este declinou). Esta Co-missão faria estudos e apresentaria propostas para constituir um PS para toda UFSC.

O conteúdo do Informativo preocupa, pois a fragilíssima “análise do mercado” das em-presas que prestam serviços de PS em Santa Catarina feita pela Comissão (concluindo que apenas a Geap e a Unimed tinham condições de nos atender) ocorreu há mais de três anos. Ora, os mercados são altamente dinâmicos e evoluem rápido. Em três anos, muitas novi-dades temos, como a Agemed, operadora de Joinville que, ansiosa para entrar no mercado de Floripa, ofereceu para a Apufsc um PS financeiramente muito vantajoso.

Por outro lado, custa crer que um sério es-tudo de mercado sobre PS tenha concluído que apenas duas operadoras estavam em condições, pois no Brasil operam mais de 2 mil empresas neste setor. Notem que estamos falando dum contrato com 18 mil vidas e na escala de 30 milhões de reais!!! Com certeza as grandes em-presas da área estarão interessadas e habilitadas para um dos maiores contratos deste país.

Também chama atenção no Informativo que a Comissão concluiu que a Geap é “o mais vantajoso ao servidor”. Aqui subjazem mais motivos ideológicos (pois a Geap, outrora um organismo estatal, hoje se apresenta como uma operadora de “autogestão”) do que técnicos.

Parece mais com uma bandeira política, que de fato escolher a empresa que prestará o melhor serviço para nossa saúde. Temo pelo grau de racionalidade da decisão.

Esta suspeita funda-se na cultura estabele-cida dentro da Apufsc de tratar esta questão do PS patronal como da órbita única e exclusiva da Geap (como se fossem sinônimos), pois a Geap, para a velha guarda da Apufsc (que tan-to batalhou pelo PS patronal), seria um órgão estatal. Mas isto é inconsistente: a Geap há muito deixou de ser parte do Estado. Ela é uma fundação de direito privado (www.geap.com.br/_geap/ge_estat.asp), e tinha até há pouco o monopólio do PS dos servidores públicos. Isto ficou encoberto na reportagem sobre a Geap do Boletim Apufsc de 5 de novembro.

É preocupante tomar decisões como esta apenas com base ideológica. A ideologia age aqui naquilo que ela tem de pior, como cegueira da alma, nos impedindo de ver o óbvio. É como uma patologia, uma alucinação coletiva.

A taxativa defesa da contratação imediata da Geap (inclusive omitindo a alternativa de cada um de nós ser indenizado em 42 reais/ mês, caso a UFSC não con-trate nenhum plano) por parte duns poucos colegas está fundamentada ideolo-gicamente, sem argumentos técnicos qualificados. Lutar pela Geap foi uma bandeira dos servidores em outros tempos. Se se fosse fincar bandeiras ideológicas neste caso, caberia recusar que recursos públicos (os 42 reais/ pessoa/ mês que virão da União) sejam repassados para empresas privadas; ou recusar qualquer PS complementar, e defender apenas o SUS.

Entretanto, aqui não se trata de afirmar uma bandeira política, mas escolher o melhor PS dentro das nossas condições. Escolher um PS é como escolher um carro. Nem todos pro-fessores optaram por ter seu automóvel. Mas, a grande maioria escolhe seu carro com base em aspectos mercadológicos, analisando várias opções. Não conheço ninguém que comprou um Lada em função de uma posição ideológica.

Aquele Informativo também convocou para

uma reunião ampliada sobre PS da UFSC (em 26 de novembro), para conhecer as propostas da Geap e da Unimed. Com pouquíssimos professores, um grande número de servidores participam. Muitos dos presentes ficam conven-cidos que a proposta da Unimed apresentada foi muito superior à da Geap. Isto foi um con-senso, por exemplo, da coordenação do Sintufsc, sindicato que muito se empenhou na última greve para que este plano patronal surgisse.

Após esta reunião, a Apufsc recebeu ofício do Pró-Reitor Luiz Henrique solicitando nos manifestarmos até 5 de dezembro sobre qual modalidade de assistência à saúde queremos para nossos sindicalizados (nos termos da Portaria 1983/2007/MPOG). As opções pos-síveis são: Geap, licitação, indenização. Após três anos cozinhando nos bastidores, dão-nos menos de sete dias úteis para decidirmos!!!

Os meus críticos (intra-Apufsc) na con-dução da negociação com a Unimed, fizeram tempestade num copo d’água. Estes mesmos críticos, de forma sutil, passavam sem fazer alarde uma decisão de muito maior importân-cia. Em 06 de novembro, tivemos assembléia exclusiva sobre PS. Mas nada a respeito dos trabalhos daquela Comissão se trouxe para deliberarmos, apesar de, coincidentemente, neste mês de novembro o processo iniciado em 2004 pela Comissão chegar ao seu final.

Agora, neste apagar de luzes e véspera de Natal, após os dias do vestibu-lar e o final do semestre, temos uma assembléia para decidir. É preocu-pante que, diante de um contrato muito maior que o da Apufsc com a Uni-med, não tenha ocorrido o devido debate e escla-

recimento. Vejam aquela incompreensível matéria sobre a Geap no Boletim de 5 de novembro.

Com certeza, um PS de toda a UFSC será superior ao que hoje a Apufsc oferece. Além dos 42 reais de subsídio que receberemos, os preços cairão, pois há muito mais vidas envolvidas. O melhor caminho para a UFSC implantar um plano de saúde é abrir licita-ção. Com ela utilizaremos o mercado a nosso favor, pois a competição permitirá escolher a proposta mais vantajosa.

Professor do Departamento de Economnia