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7º FÓRUM DO MOVIMENTO TRATADO CIDADÃO Organizadores: Lucas Almeida dos Santos Sabrina Lima Figueira Goulart A construção do conhecimento na contemporaneidade

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7º FÓRUM DO MOVIMENTO TRATADO CIDADÃO

Organizadores: Lucas Almeida dos SantosSabrina Lima Figueira Goulart

A construção do conhecimento na contemporaneidade

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A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE

7º FÓRUM DO MOVIMENTO TRATADO CIDADÃO - MTC27 E 28 DE SETEMBRO DE 2016 – SANTA MARIA/RS

COORDENADORES:LUCAS ALMEIDA DOS SANTOS

SABRINA LIMA FIGUEIRA GOULART

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Organizadores/CoordenadoresLucas Almeida dos Santos

Sabrina de Lima Figueira Goulart

Conselheiros MTCJadete Barbosa LampertAntonio Fontoura Pereira

Jefferson Canfield

Coordenadora do Projeto MCT - UFSMVânia Medianeira Flores Costa

Avaliadores TécnicosAndressa Schaurich Dos Santos

Camila Borges Fialho Franciane Cougo da Cruz Ceretta

Gean Carlos TomazzoniLaércio André Gassen Balsan

Luciana Fighera MarzalRita de Cássia Trindade dos Santos

Stefania Tonin

Editoração e designMarcus Schleder

Santa Maria2016

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F745c Fórum do Movimento Tratado Cidadão (7. : 2016 :

Santa Maria, RS)

A construção do conhecimento na contemporaneidade

[recurso eletrônico] / 7º Fórum do Movimento Tratado

Cidadão, MTC, 27 e 28 de setembro de 2016, Santa

Maria/RS ; coordenadores Lucas Almeida dos Santos,

Sabrina Lima Figueira Goulart. – Santa Maria : UFSM,

CCSH, 2017.

1 e-book

Acima do título: Tratado cidadão

1. Sociedade – Eventos 2. Interdisciplinaridade –

Eventos 3. Conhecimento – Eventos I. Santos, Lucas

Almeida dos II. Goulart, Sabrina Lima Figueira III. Título.

CDU 316.3(063)

Ficha catalográfica elaborada por Alenir Goularte - CRB-10/990

Biblioteca Central da UFSM

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Sumário

Apresentação.................................................................................................................................................6

O Ambiente Acadêmico Promove o Perfil Empreendedor? Uma análise comparativa entre a opinião dos docentes de uma IES Pública e uma IES Privada..............................................................................7

Prazer e Sofrimento no trabalho em docentes de enfermagem: Uma revisão integrativa..........................24

Projeto Acordar: Uma ação de esforços multiprofissionais em prol dos direitos dos cidadãos e das demandas judiciais/sociais contemporâneas..............................................................................38

Redirecionando olhares: A contribuição da antropologia na construção da sustentabilidade....................51

Prevenção da Gripe: uma Ação na Escola de Educação Infantil Ida Berteotti..............................................58

Revisitando o lugar e o tempo da sala de aula de literatura e língua inglesa em uma escola pública........68

Suicídios rurais em áreas de produção de tabaco: Um atentado à sustentabilidade..................................81

Valores pessoais e o comportamento ecológico: Um estudo com os egressos do programa de pós graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Maria......................................98

O Reflexo da Ética Profissional na Audiotoria Contábil: O Caso da Enron Corporation...............................114

Educação Empreendedora: Características Comportamentais dos Alunos de Graduação.......................128

Trilhando Caminhos Para a Sustentabilidade: A Experiência do Sudoeste do Paraná............................142

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Apresentação

O presente E-book apresenta os artigos aprovados no 7º Forum do Movimento Tratado Cidadão, ocorrido no mês de Setembro de 2016, envolvendo a sociedade e Instituições de Ensino Superior de Santa Maria/RS.

Assim, O Fórum do Movimento Tratado Cidadão (MTC) oportuniza aos alunos colocarem em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula, propiciando a participação destes num movimento social que visa disseminar aos estudantes a prática orientada durante o curso de graduação, com a produção de um trabalho que é apresentado em um fórum público, aberto à sociedade. Nesta apresentação, os participantes descobrem novas temáticas, oportunidades de estágio em empresas da região, além do conhecimento adquirido durante os Fóruns do Movimento.

Ainda, o MTC possui parceria com a Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, sendo um projeto institucionalizado, tendo como perspectiva a divulgação de suas ações, ligado ao Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), mas com um enfoque para todos os cursos da Instituição. Também, o MTC manifesta preocupação das empresas e sociedade em geral com a coerência entre a formação profissional e as necessidades profissionais da sociedade, desenvolvendo uma nova mentalidade que valorize a formação de um perfil cidadão nos futuros profissionais, e permitindo aos seus participantes a oportunidade de diferenciação e agregação de valores sociais mais abrangentes, os quais são necessários para uma formação mais holística dos envolvidos.

Ademais, este E-book visa contribuir com a construção do conhecimento em suas mais diversas áreas, possibilitando a divulgação dos trabalhos apresentados, na promoção de reflexões acerca dos temas abordados pelos estudantes. Com isso, o MTC apresenta a comunidade acadêmica e sociedade o resultado do 7º Fórum do Movimento Tratado Cidadão, parabenizando os envolvidos na sua realização, bem como os alunos e orientadores dos trabalhos aprovados.

Organizadores.

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O Ambiente Acadêmico Promove o Perfil Empreendedor? Uma análise comparativa entre a opinião dos docentes de uma IES

Pública e uma IES Privada

Natalia Cardoso dos PassosLueze Freitas AlfonsoCamila Borges Fialho

Any Carolini Dias MarquesLeticia Pereira Machado

RESUMOA rivalidade econômica acaba forçando os empresários a criar novos caminhos, eliminar barreiras co-merciais e culturais, limitar distâncias e renovar conceitos, criando novas convivências no ambiente de trabalho, novos empregos e desenvolvendo novas riquezas.Para que essas mudanças ocorram é preciso ter capacidade de inovar e apresentar diversas formas de empreendedorismo. Além disso, as pessoas precisam estar pré-dispostas a adotar novos modelos, novas ideias e apresentar características que possam estar relacionadas a um perfil empreendedor. Não obstante, o contexto acadêmico preci-sa ser o embrião fomentador de novas ideias, práticas e iniciativas que corroborem com o sucesso de novos negócios. Assim, este estudo buscou compreender a percepção de docentes de duas IES, uma pública e outra privada, sobre o desenvolvimento do perfil empreendedor dos discentes. Neste senti-do, foi realizado um estudo qualitativo com entrevistas feitas com quatro docentes e os dados foram analisados com base na técnica de análise de conteúdo. Deste modo, os resultados apontam diferenças entre o perfil dos discentes de cada instituição, sendo alguns com perfil mais direcionado ao mercado – prático – e outros com perfil mais acadêmico.

Palavras-chave: Empreendedorismo; Perfil empreendedor; Docentes.

INTRODUÇÃOA busca pela independência financeira e pelo destaque no mercado competitivo

promove a abertura de novos negócios, desenvolvendo o crescimento econômico, a geração de emprego e renda (BARROS; PASSOS, 2000). A Global Entrepreneurship Monitor (GEM), afirma em seu relatório GEM 2000 que a taxa de crescimento econômico de um país está fortemente ligada ao seu nível de atividade empreendedora.Assim, o empreendedorismo ocorre exatamente no cruzamento da oportunidade com a motivação e a habilidade, mas a falta de motivação para a abertura de novos negócios acarreta altas taxas de mortalidade das empresas após 3 anos e meio de operação, segundo parâmetros gerais da pesquisa feita entre diferentes países (GEM, 2000).

Além da falta de motivação, a pesquisa também destaca que o baixo preparo das pessoas que se propõem em abrir um negócio, o desconhecimento de regras básicas e de

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ferramentas de gestão necessárias a administração e ao controle, também fazem parte da razão que especifica a alta mortalidade das empresas. Neste sentido, quais seriam os fundamentos para uma empresa ter “vida longa”? Características inovadoras e empreendedoras são essenciais aos colaboradores e aos gestores para que o desafio de adaptação das empresas seja superado. Dornelas (2001) descreve que estamos na “era do empreendedorismo”. Para ele, a forma de fazer negócios no mundo irá mudar cada vez mais com o empreendedorismo, o qual surge como um resultado natural das transformações tecnológicas e da sua rapidez, e não se configura como um uso passageiro. É possível identificar uma pessoa empreendedora através das seguintes características, que devem fazer parte de seu perfil: “autoeficácia, capacidade de assumir riscos calculados, planejamento, detectar oportunidades, persistência, sociabilidade, inovação e liderança” (SHMIDT; BOHNENBERGER, 2009, p. 454).

Com essa perspectiva de encontrar as características necessárias em seus colaboradores, as empresas vêm investindo em capacitação para que se desenvolvam internamente, ou seja, desenvolvam o intraempreendedorismo, conceituado como sendo “qualquer pessoa dentro da organização que utiliza seu talento para criar e conduzir projetos de caráter empreendedor na organização” (PINCHOT, 1978, apud ESTEVAN, 2012, p.5).Para o desenvolvimento dos empreendedores é necessário que seja despertado o interesse pela inovação, que seja provocada a criatividade através de conteúdos sobre os mais variados assuntos, sendo necessário para isso o conhecimento na área e muitas vezes a ajuda de órgãos de apoio.

Além das iniciativas governamentais para a promoção do empreendedorismo, a comunidade acadêmica (discentes e docentes) tem sido convocada a participar deste movimento de fomento ao empreendedorismo, seja com ações internas (ambiente acadêmico) ou ações externas (comunidade de prática/mercado de trabalho). De acordo com Garcia et al. (2012), os estudantes do ensino superior são agentes capacitados para promover o empreendedorismo, pois aplicam o conhecimento apreendido na faculdade diretamente na geração de novos negócios e nas empresas em que atuam.

Com a finalidade de aumentar a taxa de sucesso do empreendedorismo acadêmico, Rudaet al. (2009) sinalizam que é preciso motivar os futuros empreendedores, potencializando assim a capacidade empreendedora dos acadêmicos. Além da motivação Rasco (2000) aponta a existência de uma lacuna entre o que é ensinado em sala de aula e o mercado de trabalho.

O ensino do empreendedorismo na educação superior precisa centrar-se na aquisição de knowhow, permitindo ao acadêmico que desenvolva habilidades e competências para a prática empreendedora (FILION, 2000). Seguindo essa lógica, as Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras tem sido forçadas a adaptar seus programas de ensino no sentido de atender as demandas evocadas pelo mercado no que tange ao desenvolvimento da atividade empreendedora (SOUZA; GUIMARÃES, 2005).

Partindo-se da premissa que exista a necessidade de interlocução entre a academia e o mercado de trabalho, será que o ensino do empreendedorismo nos Cursos de Graduação está alinhado (discurso e prática) com as reais situações que os acadêmicos enfrentarão no ambiente organizacional? As inquietações avançam quando se direciona o foco de atenção

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para a formação de futuros administradores, pois a Administração é uma área estritamente relacionada ao contexto empresarial. Assim,qual o papel dos docentes como agentes promotores do empreendedorismo?;é possível ensinar e aprender a empreender?;as IES públicas e privadas estão preparadas para atender as demandas do mercado no que diz respeito a formação de empreendedores e apoio ao fomento de novos negócios?

A luz destas e outras discussões foi proposta a realização de uma pesquisa com docentes de uma IES pública e uma IES privada, localizadas no mesmo contexto geográfico. Desta forma, o objetivo geral do estudo reside em analisar o perfil empreendedor de discentes dos Cursos de Administração de uma IES pública e uma IES privada a luz da percepção dos docentes. Para tanto, os objetivos específicos delineados são: (I) identificar a percepção de docentes das IES sobre o desenvolvimento do perfil empreendedor dos discentes; (II) relacionar a compreensão do perfil empreendedor dos discentes entre os docentes da IES pública e da IES privada.

Neste sentido, esta pesquisa contou com a participação dos docentes do Curso de Administração de duas IES, a fim de discutir a temática do perfil empreendedor.

REFERENCIAL TEÓRICOPara balizar a construção deste estudo, apresentam-se conceitos de Empreendedorismo

e Perfil Empreendedor.

EMPREENDEDORISMO: DEFINIÇÕESO início dos primeiros estudos sobre empreendedorismo se deu no século XVII, no

qual a teoria passou a se desenvolver até os dias atuais. Existem vários estudos que buscam aprofundar o conceito de empreendedorismo, em uma tentativa de abranger todos os campos científicos da atualidade. Segundo Hisrich e Peters (2004), o empreendedorismo é um processo dinâmico, onde o indivíduo cria algo que tenha valor para a sociedade; para isso, é necessário dedicar tempo, esforço e correr riscos (financeiros, psíquicos e sociais) correspondentes e, consequentemente, obter recompensas de satisfação e independência econômica e pessoal.

Para Filion (1999), o empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos, uma pessoa que mantém alto nível de consciência no ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidades de negócios e inovação constante. Já Dornelas (2003), quando trata de empreendedorismo corporativo, destaca que é um processo pelo qual um indivíduo ou um grupo de indivíduos, associados a uma organização existente, criam uma nova organização ou instigam a renovação ou inovação dentro da organização existente.

A definição, tanto de empreendedor como de empreendedorismo, é algo que não goza de consenso entre os pesquisadores e estudiosos do tema, porém, é possível encontrar linhas de pensamento que seguem em direções complementares. Segundo Stevenson e Gumpert (1985, p. 3), a compreensão do empreendedorismo “passa por um continuum, onde

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em uma extremidade temos o administrador mais voltado para a manutenção do status quo, enquanto na outra extremidade está o administrador com perfil empreendedor, voltado para a mudança, a inovação e identificação de oportunidades”.

De forma semelhante, é possível perceber o empreendedorismo como um “comportamento transitório que apresenta muito da situação enfrentada pelo empreendedor, não se tratando simplesmente de um conjunto de características de determinados indivíduos, mas de um comportamento que pode ser transitório frente à realidade apresentada pelo indivíduo” (GIMENEZ; MACHADO, apud PELISSON etal. 2001, p. 3).

Da mesma forma, encontram-se algumas variações em torno da definição da figura do empreendedor, porém, todas mantendo uma certa coerência entre si. Na visão de Filion (1999), o empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que mantém alto nível de consciência do ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidades de negócio. Para Stevenson e Gumpert (1985), o empreendedor distingue-se por um desejo de mudança e crescimento, com uma autopercepção de poder e habilidade para realizar metas.

Leite (2002) caracteriza o empreendedor pela iniciativa, criatividade, flexibilidade, senso de oportunidade, motivação e pela capacidade de perceber a mudança como uma oportunidade.Já Ritteret al. (2008) consideram empreendedores por excelência aqueles que reconhecem oportunidades, dominam técnicas de negócios, entendem as estruturas jurídicas e as usam em seu favor, produzindo efeitos sociais e econômicos e fomentando o desenvolvimento. Esses aspectos denotados podem compreender as características empreendedoras, pois são as principais atitudes que os empreendedores exteriorizam no desempenho das suas funções empresariais. Existem vários autores e abordagens que definem as características empreendedoras, entretanto, elas normalmente são complementares e não conflitantes. Com a evolução das ideias sobre o empreendedorismo, vários autores buscaram definireste conceito (Quadro 1).

Quadro 1 - Conceitos de empreendedorismo

AUTORES ANO CONCEITO

PRECURSORES

Catillon 1700 “As pessoas compravam matéria-prima, processavam-na e depois a comercializavam, estando subjacentes as noções de oportunidades e assumir riscos”.

J. B. Say 1800 “O empreendedor movimenta recursos econômicos de um setor de menor produtividade para outro de maior produtividade e melhor rendimento”.

Schumpeter 1950 Considerava o empreendedor como aquele que corria riscos.Drucker 1964 “O empreendedor maximiza oportunidades”.

Hisrish 1983“O empreendedorismo é o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando o tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas de satisfação econômica e pessoal”.

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AUTORES ANO CONCEITO

Fortin 1992 “O empreendedor é uma pessoa capaz de transformar um sonho, um problema ou uma oportunidade de negócios em uma empresa viável”.

CONTEMPORÂNEOSFilion 1999 “Um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões”.

Dornelas 2001“Os empreendedores são pessoas diferenciadas, que possuem motivação singular, apaixonadas pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidas e admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado”.

Dolabela 2008“Empreendedor é quem se dedica a geração de riqueza, seja na transformação de conhecimentos em produtos ou serviços, na geração de seu próprio conhecimento ou na inovação em áreas como marketing, produção, organização, etc”.

Fonte: Elaborado pelos autores

Empreendedorismo é o estudo das competências técnicas e científicas empresariais, origina-se do termo empreender que significa criar algo novo, diferente do que já existe. O empreendedor tem determinadas habilidades e técnicas já existentes nele, para planejar e criar projetos de negócios, colocando em prática gerando emprego, renda e resultados positivos para a empresa.

Empreendedorismo é um neologismo derivado da livre tradução de entrepreneurship e utilizado para designar os estudos relativos ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de atividades, seu universo de atuação e é antes de tudo, aquele que se dedica à geração de riquezas em diferentes níveis de conhecimento, inovando e transformando conhecimento em produtos ou serviços em diferentes áreas (DOLABELA, 1999b, p. 68).

Para Filion (1999) o empreendedorismo ainda não é uma ciência, apesar de ser uma das áreas mais estudadas e publicadas, não existem padrões e paradigmas para que se possa garantir que haverá um empreendedor de sucesso. Ainda segundo Filion (1999) o empreendedorismo é um tema heterogêneo, onde se concentram vários níveis de análise, pois não possui uma teoria universal e consolidada.

Na visão de Drucker (1987), o empreendedor tem característica distinta a partir do conceito de espírito empreendedor, seja de um indivíduo, seja de uma organização. Drucker (1987) enfatiza que espírito empreendedor não é um traço de personalidade, pois para ele qualquer indivíduo que tenha que tomar uma decisão pode aprender a ser um empreendedor.

O empreendedorismo pode colaborar com o desenvolvimento de um país, promovendo o incremento da atividade econômica por meio da geração de novas empresas e consequentemente novos empregos, além de outras facetas.

EMPREENDEDORISMO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOOs empreendedores são componentes essenciais para mobilizar capital, agregar valor

aos recursos naturais, produzir bens e controlar os meios para administrar o comércio. Algumas

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pessoas desenvolvem características empreendedoras próprias que podem ser propulsoras para a realização profissional, porém qualquer indivíduo pode tornar-se um empreendedor se receber orientações e uma preparação correta. Conhecer as atitudes, a forma de agir e pensar dessas pessoas em diferentes ambientes e situações tornou-se essencial para o desenvolvimento do empreendedorismo.

Com relação ao desenvolvimento do empreendedorismo, pesquisa realizada pelo GEM - Global Entrepreneurship Monitor (2012) indicou o empreendedorismo como principal fator de desenvolvimento econômico de um país e fez recomendações a países que buscam o desenvolvimento econômico. Em uma análise atual, a pesquisa revelou que a proporção dos brasileiros que deseja ter o próprio negócio é superior a dos que desejam fazer carreira em empresas. O Brasil aparece em quarto lugar, num total de 67 países, em termos de número de empreendedores. Em 2012, 30,2% da população adulta, entre 18 e 64 anos, estava envolvida na criação ou administração de um negócio. Entre 2002 e 2012, essa taxa apresentou um aumento de 44% (saindo de 20,9% para 30,2%) (GEM, 2012).

Os resultados da pesquisa GEM confirmam que o empreendedorismo é importante para a prosperidade econômica de um país e que as baixas taxas de criação de novas empresas conduzem à estagnação econômica e a diminuição significativa da competitividade.As funções empreendedoras e administradoras que foram conceituadas desde a abordagem clássica pelos atos de planejar, organizar, dirigir e controlar possuem muitas similaridades, porém o diferencial visionário é característico dos empreendedores. Filion (1999) afirma que uma das grandes diferenças entre o empreendedor e as pessoas que trabalham em organizações é que o empreendedor define o objeto que vai determinar seu próprio futuro.

Segundo Dornelas (2001), as diferenças entre os domínios empreendedor e administrativo podem ser comparadas em cinco dimensões distintas de negócio: orientação estratégica, análise das oportunidades, comprometimento dos recursos, controle dos recursos e estrutura gerencial. Para ele o empreendedor é um administrador completo, que incorpora as várias abordagens existentes e interage com seu ambiente para tomar as melhores decisões.

Através de atitudes inovadoras o empreendedorismo permite que a empresa se mantenha competitiva no mercado de trabalho. A presença do empreendedor torna-se cada vez mais fundamental para as organizações, quando avaliada a necessidade cotidiana de criatividade, do trabalho eficiente, da inserção de novas possibilidades e da criação de uma nova postura de trabalho.

Para Hisrich e Peters (2004) o comportamento empreendedor possui três variáveis, tais elas como controle interno, onde todo o resultado depende do seu trabalho, o sentimento de independência e a propensão em assumir riscos. Em comparação, Filion (1999) define quatro fatores fundamentais para a atitude empreendedora: a visão, a energia, a liderança e as relações. Neste sentido, Dolabela (1999) retrata que é necessário um comportamento proativo do indivíduo, tendo criatividade, liderança e visão do futuro.

Dutra e Previdelli (2003) salientam que havia falta de motivação para a atividade empreendedora no Brasil até a metade do século XX, pois o governo não possuía planejamentos e ações que estimulassem o comportamento empreendedor na época. O Surgimento de

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trabalhos acadêmicos e ações políticas ocorreram somente em meados da década de 80.

Já na década de 90, o governo criou programas de educação empreendedora e estímulo ao empreendedorismo. Tais programas, como o Brasil Empreendedor e o Jovem Empreendedor, que visavam à capacitação de novos empreendedores, e o Empretec, voltado à capacitação empresarial, buscavam aperfeiçoar os conhecimentos sobre o assunto e auxiliar no desenvolvimento de novas atividades empreendedoras. Como forma de parceria com o governo, foi criado também o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para proporcionar um auxílio contínuo aos novos empreendedores (COSTA; BARROS; MARTINS, 2012).

Apesar de não serem vinculadas diretamente com a educação, existem outras instituições que prestam aos empreendedores inúmeras contribuições de apoio e pesquisas, entre elas estão a Endeavor e a GEM.Juntamente ao processo de ensino do empreendedorismo nas universidades, surgiram as incubadoras de empresas, que visam proporcionar ao empreendedor o auxílio no processo de geração e consolidação das empresas. Estas incubadoras, em geral, são vinculadas às instituições de ensino e pesquisa, havendo, portanto, um suporte variado quanto a cursos e consultorias. Elas estão cada vez mais dinâmicas e têm um papel importante na promoção do empreendedorismo inovador, contribuindo para o desenvolvimento regional e por razões econômicas e de natureza social (MARTINS, etal, 2014).

Com este rol de programas de educação empreendedora e de suporte, há uma facilitação para a atividade principal do empreendedor, que é conhecer e entender mercados, para que seja possível identificar as oportunidades, ter visões de negócios, e dar vida a essas organizações. Tais programas devem ter o objetivo de criar uma imagem positiva do empreendedorismo, apoiando as atividades empreendedoras, tanto as ações governamentais quanto as acadêmicas, pois,

“num programa educacional, o que importa não é somente o que se ensina, mas também o padrão de aprendizado estabelecido como o processo de aprendizado envolvido. [...] o padrão de aprendizagem adquirido deveria inspirá-los a buscar um aprendizado contínuo, e deixá-los mais à vontade com o novo papel empreendedor que estarão desempenhando (FILION, 2000,p. 7).

Entretanto, o empreendedorismo não pode ser transformado em um tema exclusivamente acadêmico e convencional, porque somente o relato de pesquisa como fonte do saber é intransferível, não se adequando ao sistema convencional de ensino, sendo necessária a cada ação empreendedora uma nova metodologia e uma estratégia especifica (DOLABELA, 2008). Assim, o estudo das características empreendedoras que compõem o perfil empreendedor ascende com um tema de destaque nos estudos sobre empreendedorismo.

PERFIL EMPREENDEDORFilion (2000) destaca algumas características das pessoas empreendedoras. Estas

características não condizem o perfil psicológico, e sim as atitudes e comportamentos destas

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pessoas.No entanto, a ideia de assumir riscos e ter sua independência financeira prevaleceu e pode-se concluir que as pessoas buscam cada vez mais administrar seus próprios recursos e ter uma maior autonomia financeira, fazendo menção ao que afirma Drucker (1998), que é aquele que começa o seu próprio, novo e pequeno negócio, é definido como um empreendedor.

As características empreendedoras denotam as principais atitudes que os empreendedores exteriorizam no desempenho das suas funções empresariais. Existem vários autores e abordagens que definem as características empreendedoras, entretanto, elas normalmente são complementares e não conflitantes.

Sobre o que são características empreendedoras, Dolabela (1999) destaca que são traços da personalidade, atitudes e comportamentos que contribuem para alcançar o êxito nos negócios. Em uma síntese mais completa a respeito das características do empreendedor, Venturi e Lenzi (2003), afirmam que são pessoas que possuem maior comprometimento, determinação e perseverança; são guiados pela auto realização e crescimento; possuem senso de oportunidade e orientação por metas; assumem responsabilidades; são persistentes na resolução de problemas; são realistas com senso de humor; buscam obter feedback; assumem riscos calculados; sabem lidar com o fracasso e são formadores de equipes.

De acordo com McClelland (1972), o sucesso empresarial não consiste apenas no desenvolvimento de habilidades específicas, tais como finanças, marketing e produção, mas também das habilidades atitudinais empreendedoras, através do aperfeiçoamento de tais características. Segundo ele, o indivíduo empreendedor tem uma estrutura motivacional diferenciada pela presença marcante de uma necessidade de realização, que impele o indivíduo a buscar objetivos que envolvem atividades desafiantes e que não são determinados apenas pelas possíveis recompensas em prestígio e dinheiro.

Segundo Lenzi (2002), as pesquisas de McClelland (1972) identificaram três conjuntos de características empreendedoras: conjunto de realização, de planejamento e de poder. A busca de oportunidades e iniciativa, correr riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência, persistência e comprometimento formam o conjunto de realização, enquanto que a busca de informações, estabelecimento de metas e planejamento e monitoramento sistemático compõem o conjunto de planejamento. Em relação ao conjunto de poder, as características inseridas foram a persuasão e rede de contatos e a independência e autoconfiança.

As características que o empreendedor bem-sucedido deve possuir, desenvolver ou apenas aprimorar e seus três comportamentos característicos fazem parte dos conjuntos das denominadas Características Comportamentais Empreendedoras (CCE) de acordo com os estudos realizados por McClelland (1972).Cada uma das dez características está inserida em um dos três comportamentos (Quadro 2) característicos do empreendedor identificados por David McClelland.

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Quadro 2: Características comportamentais empreendedoras

CONJUNTO CARACTERÍSTICA DESCRIÇÃO DA CARACTERÍSTICA

Realização

busca de oportunidades e iniciativa

aproveitam oportunidades fora do comum para iniciar um negócio e realizam atividades antes do solicitado

persistência enfrentam desafios e não desistem perante obstáculos

correr riscos calculados analisam e calculam os riscos de maneira cuidadosa e sempre avaliam as chances de sucesso e fracasso

exigência de qualidade e eficiência

buscam exceder os padrões de excelência e têm energia para trabalhar muito

comprometimento empenham-se pessoalmente na conclusão de uma tarefa e zelam pela satisfação dos clientes

Planejamento

busca de informaçõesrecorrem à ajuda de especialistas para elaborar estratégias e buscam informações sobre clientes, fornecedores e concorrentes

estabelecimento de metas fixam objetivos claros e específicos e estão sempre orientados para resultados

planejamento e monitoramento sistemático

estabelecem prazos para o cumprimento das tarefas, além de acompanhá-las de perto, e buscam feedback

Poder

independência e autoconfiança

Buscam autonomia, mostram-se confiantes ao enfrentar desafios e buscam situações para eliminar problemas

persuasão e rede de contatos

influenciam e persuadem pessoas, agem de forma a desenvolver e manter relações comerciais, negociam e fazem as pessoas acreditarem em determinada ideia

Fonte: adaptado de McClelland (1972)

Neste sentido, este estudo foi desenvolvido com base nas características comportamentais empreendedoras identificadas na pesquisa de McClelland (1972). Salienta-se ainda que a percepção dos docentes fora objeto de investigação.

MÉTODO DE PESQUISACom a finalidade de atender aos objetivos propostos neste estudo, apresentam-se a

seguir os procedimentos metodológicos adotados nesta pesquisa, contendo o delineamento da pesquisa, população e amostra e finalmente a coleta e análise dos dados.

DELINEAMENTO DA PESQUISAEste estudo objetivaanalisar o perfil empreendedor de discentes dos Cursos de

Administração de uma IES pública e uma IES privada a luz da percepção dos docentes, além da apresentar a percepção dos docentes sobre o desenvolvimento do perfil empreendedor dos discentes.

Para tanto, define-se este pesquisa como descritiva, a qual tem por objetivo descrever as características de determinada população ou fenômeno e o estabelecimento de relações entre as variáveis, envolvendo a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados como questionário e observação sistemática (GIL, 2010). A proposta foi compreender como os

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docentes percebem o desenvolvimento deste perfil durante a vida acadêmica.

Para facilitar a compreensão deste estudo, mister se faz apresentar o método de pesquisa de acordo com as técnicas que foram utilizadas para os procedimentos de coleta e análise dos dados. A fim de atender as demandas relativas aos professores, realizou-se uma entrevista com docentes dos referidos cursos, buscando compreender alguns aspectos sobre o perfil empreendedor dos discentes. Conforme Gil (2010) as pesquisas com entrevistas são caracterizadas por trazerem evidências reais às questões levantadas durante o estudo. Disponibilizam-se assim respostas quando não estão disponíveis todas as informações necessárias à continuidade do trabalho.

A entrevista qualitativa em profundidade tem maior flexibilidade proporcionando ao entrevistado construir suas respostas sem ficar preso a um questionário ou uma entrevista estruturada. Segundo Mattos (2010) a entrevista em profundidade tem aumentado nas pesquisas em administração, pois permitem um maior aprofundamento nas questões investigadas na pesquisa, obtendo assim maior qualidade nas informações.

Minayo (2002) cita que a abordagem qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, que correspondem a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

POPULAÇÃO E AMOSTRAA população-alvo de uma pesquisa corresponde à coleção de elementos que possuem

a informação procurada pelo pesquisador e sobre os quais devem ser feitas inferências (MALHOTRA, 2006). Para a presente pesquisa, tomaram-se como população-alvo, docentes de dois Cursos de Administração (uma IES Pública e uma IES privada).

De acordo com Marconi e Lakatos (2003) amostra é uma parcela convenientemente selecionada do universo, um subconjunto do universo. Para a coleta dos dados com os docentes, foi definido como critério a técnica de amostragem por conveniência, selecionando-se os sujeitos que participariam da pesquisa (MALHOTRA, 2006). Foram convidados dois docentes de cada curso de Administração, sendo que os cursos apresentam similaridade entre o corpo docente (média de 20 docentes). A decisão pela escolha dos docentes foi baseada na disponibilidade dos mesmos em participar do estudo, interesse na temática e representatividade em relação aos discentes.

COLETA E ANÁLISE DOS DADOSA fase da pesquisa em que se entra em contato com as informações para registrar os

dados que a definirão, é a coleta de dados (BARQUETTE; CHAOUBAH, 2007). Para a coleta dos dados com os docentes, utilizou-se um roteiro de entrevista enxuto, contendo questões sobre o perfil dos mesmos, conhecimentos sobre empreendedorismo, percepção sobre a aplicação

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do empreendedorismo no ambiente acadêmico, diferenças e similaridades entre o perfil de discentes de IES Públicas e Privadas e finalmente, foi proposto que cada docente preenchesse um quadro com atividades que a IES realiza para promover cada característica comportamental empreendedora apresentada no instrumento de McClelland (1972).

A análise dos dados foi realizada utilizando-se análise de conteúdo. Para Minayo (1999, p. 57) o uso dessa técnica “se caracteriza por uma comunicação verbal que força a importância da linguagem e do significado da fala. Já num outro nível serve como um meio de coleta de informações”. O estudo busca compreender os significados das palavras e expressões das entrevistas mediante a uma analise de conteúdo. Para Bardin (2010, p 33) “análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações”.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOSOs resultados deste estudo serão apresentados com base nos objetivos específicos

delineados, a saber: (I) identificar a percepção de docentes das IES sobre o desenvolvimento do perfil empreendedor dos discentes; (II) relacionar a compreensão do perfil empreendedor dos discentes entre os docentes da IES pública e da IES privada.

Não obstante, este estudo buscou identificar a percepção dos docentes em relação ao ensino e a prática do empreendedorismo no ambiente acadêmico. Este olhar dos docentes sobre o desenvolvimento do empreendedorismo por vezes é negligenciado nas pesquisas que envolvem discentes, talvez pela intenção dos pesquisadores em “separar” a atuação de cada ator – discente e docente – em uma relação que não supõe dissociação.

Certa feita, a pesquisa contou com a participação de quatro docentes, dois de cada IES, os quais foram convidados a contribuir com sua experiência na docência e na condução de projetos extraclasse. Para fins de sigilo, os docentes foram nominados de Docentes A e B (IES privada) e Docentes C e D (IES pública).

Nota-se, de acordo com os dados do quadro 3, que todos os docentes tem vivência prática no ambiente empresarial, destacando-se o DocenteA (15 anos de experiência) e que também é sócia de uma empresa. Os demais Docentes ainda não abriram uma empresa, no entanto dois deles revelam considerarem-se intraempreendedores, sendo que o Docente B tem participação em negócios familiares. É relevante destacar que todos os docentes, de alguma forma, ou lecionam/lecionaram a disciplina de empreendedorismo em sua IES ou estão envolvidos com outras disciplinas que promovem a criação de projetos/empresas.

Outra relação interessante promovida na escolhida dos docentes é que os respondentes da IES privada formaram-se me uma instituição de mesma natureza, o mesmo ocorrendo com os docentes da IES pública, o que facultou para todos a troca de posições, ora discente e ora docente, de acordo com a natureza da instituição de ensino.

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Quadro 3: perfil dos docentes

Idade 32 anos 29 anos 28 anos 27 anosGênero Feminino Masculino Feminino FemininoFormação acadêmica

Graduação em Administração, Mestrado em Engenharia de Produção

Graduação em Administração e Letras, Especialização em Mídias na Educação e Mestrado em Administração

Graduação em Administração, Mestrado em Administração, Doutorado (em andamento) em Administração

Graduação em Administração, Mestrado em Administração

Tempo de experiência no Ensino Superior

3 anos e meio 2 anos e meio 1 ano 2 anos

Tempo de experiência de mercado (total)

15 anos 8 anos 4 anos 6 anos

Você já empreendeu? Se sim, qual é ou era o seu negócio?

Sou sócia de uma empresa de consultoria

Não possuo negócio formal, apenas participação em negócios familiares. Porém, empreender no sentido do

Nunca empreendi em um negócio, entretanto acredito que podemos empreender em qualquer ambiente profissional e não somente por meio da criação de uma empresa

Não

Fonte: dados da pesquisa

Neste sentido, os docentes foram questionados sobre sua compreensão a respeito do que é a atividade empreendedora. Os respondentes apresentam conceitos bastante semelhantes em relação ao empreendedorismo, o qual é relacionado à transformação de ideias em oportunidades, a “fazer acontecer” e “fazer a diferença”.

Empreendedorismo é trabalhar para a implementação de uma ideia usando a criatividade, buscando resultados positivos para o que se deseja, seja a abertura de um negócio, seja implementar um projeto, intraempreender (DOCENTE B).

Além disso, também mencionam a necessidade de planejamento, criatividade, paixão, perseverança e versatilidade com vistas à obtenção de resultados positivos e geração de mudanças não apenas no campo dos negócios/economia.

O empreendedorismo é um conceito que vai além da pura criação de novos negócios, trata-se, de uma forma geral, de um envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam à transformação de ideias em oportunidades, de forma a gerar mudanças não apenas no campo dos negócios/economia” (DOCENTE D).

Após essa reflexão, os docentes responderam se acreditam, com base em sua experiência como docente e também por sua vivência enquanto discente na época da graduação, que o empreendedorismo pode ser desenvolvido no ambiente acadêmico. Todos os respondentes concordam ser possível o desenvolvimento do empreendedorismo no ambiente acadêmico, não apenas no curso de Administração, mas em todas as áreas da graduação,

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através de disciplinas voltadas ao estudo do empreendedorismo (desde conceitos básicos/iniciação ao assunto até questões mais aprofundadas, como criação de novos negócios, desenvolvimento de planos de negócio, etc.).

É indispensável desenvolvê-lo (empreendedorismo) em todos os cursos acadêmicos, por meio do incentivo de mais disciplinas que tenham como foco o seu estudo (DOCENTE C).

Alternativas apresentadas pelos docentes são o incentivo à criação e participação em empresas juniores, incubadoras tecnológicas, diretórios acadêmicos, realização de projetos voltados ao empreendedorismo, entre outras ações que possibilitem a prática e o desenvolvimento de competências empreendedoras.

A criação de empresas juniores, estímulos a diretórios acadêmicos e incubadoras tecnológicas são elementos importantes para o estímulo ao empreendedorismo (DOCENTE B).

De acordo com o Docente D, as ações voltadas ao desenvolvimento do empreendedorismo no ambiente acadêmico “podem estar vinculadas a inclusão de conteúdos de empreendedorismo adaptados as mais diversas disciplinas; a aproximação da comunidade acadêmica com empreendedores/empresas locais por meio dos mais variados tipos de eventos; ao fomento da participação dos alunos no desenvolvimento de pesquisas sobre a temática e outras atividades que estimulem o comportamento empreendedor”.

Com base na natureza desta pesquisa que visa comparar o perfil empreendedor dos discentes de uma IES privada com uma IES pública, os docentes foram convidados a refletir se percebem diferenças e/ou semelhanças entre o perfil empreendedor de discentes de IES públicas e privadas. Novamente é possível observar concordância entre os respondentes, onde todos afirmam identificar diferenças no perfil empreendedor entre os discentes de IES públicas quando comparados aos das IES privadas.

“os alunos das privadas, na sua maioria, trabalham e imagino que isso atrapalhe um pouco o “perfil empreendedor”, o que não os impede de se tornarem empresários. Já na pública, geralmente há incentivo através de empresas juniores e imagino um público mais jovem, que não tenha tanto medo de se arriscar”( DOCENTE A).

Para eles, os discentes das IES privadas apresentam um perfil mais prático, voltado para negócios “mais reais” e para a realização em função de já estarem inseridos no mercado. Já os discentes das IES públicas seriam mais jovens, mais sonhadores e mais propensos a correr riscos. Na percepção dos docentes, existem algumas diferenças, uma vez que os perfis dos estudantes divergem.

O perfil de alunos de instituições privadas, de forma geral, seja mais direcionado à realização, uma vez que grande maioria necessita trabalhar e estudar concomitantemente, da mesma forma que corram mais riscos calculados, pois precisam controlar suas finanças familiares, uma vez que estes, muitas vezes, não dependem dos pais (DOCENTE B).

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Para o Docente D, “além de algumas diferenças no perfil empreendedor destes discentes, é possível identificar diferenças no ensino/fomento do empreendedorismo por estas instituições, o que, além de outras características pessoais dos discentes, também pode impactar no seu perfil empreendedor”.

Com base no modelo utilizado neste estudo, o qual fora compartilhado com os docentes, mesmo que todos anteciparam conhecer os estudos de McClelland (1972), os docentes foram questionados sobre a evidência das características comportamentais empreendedoras mais presentes nos discentes da IES em que lecionam. Além das características, os docentes sinalizaram a qual conjunto (Planejamento, Realização ou Poder) é mais preponderante no perfil dos discentes.

Para os Docentes A e B (IES privada), o conjunto com características empreendedoras mais evidentes entre seus alunos é Poder. O Docente A afirma identificar em maior grau as características de “persuasão e rede de contatos, pois acredito que contatos é fácil estabelecerem e a persuasão pela necessidade de convencimento que muitas vezes são impostas. Mas não percebo a autoconfiança e independência”.

Já para o Docente C (IES pública), considerando a influência de fatores como diferenças entre os cursos e perfil dos alunos, inclusive em relação ao semestre que cursam, as características empreendedoras mais evidentes nos alunos, de forma geral, são as pertencentes ao conjunto Realização, destacando-se “busca de oportunidade e iniciativa”, “exigência de qualidade e eficiência” e “comprometimento”. Na visão dele, “os discentes buscam inserirem-se em diferentes atividades/projetos paralelos as aulas, seja por meio de realização de estágio, participação em grupos de pesquisa e projetos de extensão e/ou como membro de empresa júnior ou de outras organizações. Ainda, principalmente em trabalhos mais práticos, há uma exigência de qualidade, além de realizarem suas tarefas em tempo hábil com bons resultados”.

O Docente D (IES pública) aponta as características do conjunto Planejamento como sendo as mais evidentes entre seus alunos. De acordo com ele, “isso tem muita ligação com o perfil dos alunos dos cursos que são mais de “pensar” e “imaginar”(Administração) do que de realizar ou fazer”(Sistemas de Informação e Ciências da Computação).

Finalmente, no que diz respeito às atividades desenvolvidas em sala de aula e fora dela para fomentar o empreendedorismo, várias práticas foram elencadas pelos docentes: estudos de cases, elaboração de planos de negócios, debates, simulações, visitas técnicas, viagens de estudo, entre outras. Vale destacar que a percepção dos docentes sobre este processo de empreendedorismo é relevante, todavia a sua inserção enquanto ator promotor destas práticas é fundamental, interagindo e atuando com os discentes.

CONSIDERAÇÕES FINAISFilion (1991) afirma que o empreendedorismo é fruto de herança genética, entretanto,

é possível ainda que as pessoas aprendam a ser empreendedoras. E para tanto, nada mais catedrático do que o ambiente educacional, mais precisamente no ensino superior. Tendo

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essa ideia como premissa, muitas instituições têm dedico especial atenção ao ensino e a realização de práticas que fomentem o empreendedorismo, desde iniciativas em sala de aula até a promoção de eventos para startups e empresas aceleradoras.

Neste sentido, este estudo buscou compreender como os docentes percebem o perfil empreendedor dos acadêmicos de dois cursos de Administração, um de um IES pública e outro de uma IES privada. Nota-se que os docentes sinalizaram diferenças entre os públicos, desde aspectos como a maior atuação no ambiente organizacional dos acadêmicos da IES privada até o maior aproveitamento das oportunidades para atividades empreendedoras dos acadêmicos da IES pública.

Salienta-se que o estudo limitou-se a observação de quatro docentes, dois de cada IES, não observando a percepção de todo o corpo docente e de seus coordenadores de curso e coordenadores pedagógicos. Ainda, o estudo também não trouxe à luz a opinião dos discentes.

Assim, será que as IES privadas precisam incorporar mais iniciativas ao seu portfólio relacionado ao fomento ao empreendedorismo? Será que as IES públicas precisam incentivar os acadêmicos a buscarem experiências no mercado de trabalho? Com base nestas inquietações, sugere-se que novos estudos sejam realizados neste campo fértil e ainda prematuro em alguns aspectos.

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Prazer e Sofrimento no trabalho em docentes de enfermagem: Uma revisão integrativa

Marcelo Nunes da Silva FernandesLuis Felipe Dias Lopes

Lúcia AlbanioJonathan Saidelles Corrêa

Damiana Machado de AlmeidaLuana Paula Schettert Negrini

RESUMOAspectos relacionados a prazer e sofrimento conservam papel fundamental no bem-estar no trabalho. Neste sentido, objetivou-se evidenciar nas produções científicas os principais fatores que geram prazer e sofrimento no trabalho de docentes de enfermagem. Trata-se de uma revisão integrativa realizada nas bases de dados da Literatura Latino-Americana em Ciências de Saúde, Literatura Internacional em Ciências da Saúde e Dados Bibliográficos na Área de Enfermagem do Brasil, no período de agosto a setembro de 2015. Utilizaram-se como descritores: enfermagem, prazer, sofrimento e docentes. A amostra constituiu-se de quatro artigos, sem recorte temporal. Os principais elementos de prazer no trabalho constatados pelos docentes de enfermagem foram: a interação docente-aluno e a valorização e o reconhecimento profissional; e o principal fator de sofrimento no trabalho foi o relacionamento interpessoal. Evidenciar os fatores que geram prazer e sofrimento no trabalho de docentes de enfer-magem pode contribuir para que estes possam ressignificar suas vivências de sofrimento na busca pelo prazer no trabalho docente.

Palavras-chave: Gestão de pessoas, Prazer, Sofrimento, Saúde do Trabalhador, Docentes.

INTRODUÇÃOO trabalho tem sido considerado elemento fundamental na sociedade contemporânea,

sobrepondo-se à ideia puramente de tarefa, ocupação ou meio de sobrevivência. Neste sentido, o trabalho passa a ser central na vida e na formação da identidade do trabalhador (MARQUES, 2010).

Para Mendonça e Mendes (2004), a saúde no trabalho é vista como expressão de uma integridade física, psicológica e social marcada pelo emprego de mediações capazes de mobilizar os trabalhadores na busca de uma relação mais gratificante com o trabalho. Assim, o trabalho é fundamental na vida do homem, pois é o meio pelo qual esse se insere na sociedade, podendo desencadear sentimentos de prazer e satisfação, mas também de sofrimento e fadiga (KESSLER; KRUG, 2012).

Com vistas à temática do prazer e do sofrimento no trabalho, afunila-se o mundo laboral para o contexto da docência. Este ofício traz consigo a missão de disseminar conhecimento e de formar profissionais especializados (COSTA, 1995). Porém, o trabalho docente passou de um caráter mais prescritivo para uma atividade de interações humanas, o que torna o

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trabalho, acima de tudo, uma função social (TADIF; LESARD, 2008).

Segundo Morosini (2000), compreender a relação do exercício da docência especialmente no que diz respeito ao prazer e ao sofrimento no trabalho por parte destes trabalhadores, uma vez que a profissão de professor tem apontamentos de ser uma das mais propensas ao sofrimento psíquico. O trabalho docente, de modo geral, é complexo, já que os docentes se encontram em uma realidade na qual devem atender à formação integral dos alunos, de modo a capacitá-los com uma cultura geral e diversificada possibilitando o conhecimento científico, a comunicação e o raciocínio lógico, por meio de uma formação psicológica, afetiva e emocional (NACARATO; VARANI; CARVALHO, 2001).

Altas demandas têm impactado na qualidade de vida dos professores (ESTEVE, 1999). Assim, existe uma série de fatores implicados na relação trabalho e saúde do docente, destacando-se a significativa intensificação do trabalho; precarização das relações de emprego e as mudanças consideráveis nas relações de trabalho (TRINDADE; BONITO, 2011; FREITAS, 2015). Em contraponto, há a necessidade de maior liberdade no trabalho para que este opere como fonte de saúde, possibilitando identificar os fatores que desencadeiam prazer.

De acordo com Coutinho, Dal Magro e Budde (2011), os docentes vivenciam um paradoxo em relação aos sentimentos suscitados. De um lado, experiências de sofrimento, que podem estar atreladas a precarização das condições e relações de trabalho e, de outro, as vivências do prazer vinculadas a produção de conhecimento, as relações afetivas e ao reconhecimento que o espaço acadêmico possibilita ao docente.

Neste sentido, a fim de aprofundar conhecimentos sobre a temática, buscou-se realizar uma revisão integrativa, buscando responder ao seguinte questionamento: Quais os fatores que geram prazer e sofrimento no trabalho de docentes de enfermagem? E como objetivo geral, evidenciar nas produções científicas os fatores que geram prazer e sofrimento no trabalho de docentes de enfermagem.

O presente trabalho está organizado em quatro seções, além desta introdução. Na Seção 2 abordou-se o referencial teórico do estudo, destacando-se a temática do prazer e do sofrimento no trabalho. Na Seção 3 apresentou-se a metodologia, sendo que na Seção 4 foram demonstrados os resultados. Por fim, apresentam-se as principais conclusões do trabalho.

REVISÃO DA LITERATURAA Psicodinâmica do Trabalho é compreendida como um conjunto de conhecimentos

sistemáticos que possibilita uma nova forma de estudar a relação trabalho e saúde. A partir da dinâmica intrínseca no contexto de trabalho, transformando-o em um lugar de saúde e/ou de patologias e de adoecimento, em virtude de fatores e manifestações subjetivas, psíquicas, sociais, políticas e econômicas do trabalhador, (MENDES, 2007).

Para Trindade (2007), o trabalho enquanto atividade criativa e de transformação, modifica o homem que o executa, pois este se reconhece e se transforma pelo trabalho, além do valor econômico, do conhecimento e das experiências e habilidades que o trabalho

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proporciona. Também, ocupa lugar central na vida do indivíduo, pois por meio dele pode alcançar o seu sustento, o estabelecimento das relações sociais e o reconhecimento, entre outras possibilidades (MACHADO, 2006). Do mesmo modo, possui papel fundamental na vida pessoal, pois por meio dele se pode atingir satisfação e realização profissional, constituindo-se para o homem, em condição de existência social e de criação da sua identidade no mundo (GOMES, 2006).

Segundo Dejours (2003), o trabalho centra-se como operador fundamental na construção do próprio homem como ser ativo, na luta para conservar a sua identidade e sua normalidade. O trabalho aparece como um produto das relações sociais, pois a construção da forma como se organiza envolve compromisso, negociação e uma gestão social das interpretações dos trabalhadores, os quais são os criadores do saber-fazer e dos novos modos operatórios para a sua eficiência (DEJOURS, 2004).

Neste contexto, o trabalho é definido como “atividade manifestada por homens e mulheres para realizar o que ainda não está prescrito pela organização do trabalho” (DEJOURS, 2004, p. 65). Refletindo quanto ao exposto, Franco (2006) salienta que o trabalho se dá a partir de encontros entre trabalhadores e desses com os usuários, isto é, são fluxos permanentes entre sujeitos e que formam uma intrincada rede de relações para a sua realização.

O trabalho em saúde depende da organização, ou seja, da dimensão do outro, das normas, valores, acordos e da dimensão do próprio trabalhador e sua subjetividade (ROCHA, 2003; DEJOURS, 2004). Estes aspectos estão ligados às ideias concebidas pela administração científica do trabalho, a qual estabelece o trabalho fragmentado, decomposto em atividades específicas, com controle do tempo de execução e dos movimentos físicos dos trabalhadores, rigor na separação entre elaboração e execução do sistema produtivo, transferência da dimensão intelectual do trabalho para esferas gerenciais e estrutura hierarquizada (DEJOURS, 1994).

Segundo Morrone e Mendes (2003), a divisão das tarefas abrange características como a repetitividade, a monotonia, a incapacidade de gerar uma visão integrada da produção e de estabelecer sentido e significado ao trabalho. Por sua vez, a divisão dos homens está relacionada ao distanciamento e adoção de técnicas de disciplinamento próprias à exploração da força de trabalho pelas estruturas hierárquicas e pela homogeneização das condições de existência.

A partir das mudanças estruturais ocorridas nos últimos anos, surgem novos modelos de organização do trabalho. Estes preconizam, dentre outros, o trabalho em equipe com flexibilidade de funções; a redução dos níveis hierárquicos com o estabelecimento de coordenação horizontal e, finalmente, a valorização da autonomia e da qualificação profissional (MORRONE; MENDES, 2003). Assim, a organização do trabalho passa a ser compreendida como um processo intersubjetivo, na qual se encontram envolvidos diferentes sujeitos em interação com uma dada realidade, resultando no trabalho enquanto lugar de produção, de significações e de construção de relações sociais (MENDES, 1999).

Para se compreender a inter-relação trabalho e saúde em uma perspectiva teórica, Christopher Dejours construiu a abordagem da “Psicopatologia do Trabalho” considerando

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em seus pressupostos, o trabalho como fonte de prazer e de sofrimento. As vivências de prazer e de sofrimento são entendidas como o sentido do trabalho e sua análise possibilita o entendimento da dinâmica organizacional, pois não se pode entender o sofrimento psíquico ligado a atividades laborais sem que se compreenda em quê consiste a satisfação e o prazer no trabalho. De acordo com Morrone e Mendes (2003), prazer e sofrimento são emoções que podem aparecer no trabalho e que repercutem na vida profissional, pessoal e social do trabalhador. Ou seja, são vivências psíquicas, fruto da relação que o trabalhador estabelece com o seu trabalho, a partir da compatibilidade entre a sua história de vida, os seus desejos, projetos, esperanças e a organização do trabalho.

Segundo Mendes (2007), é objeto da psicodinâmica do trabalho o estudo das relações dinâmicas entre organização do trabalho que se manifestam nas vivências de prazer e de sofrimento, nas patologias sociais, na saúde e no adoecimento. O trabalho, assim realizado, aponta para a criação de identidade do trabalhador pelo fazer e produzir, em busca da compreensão da dinâmica das vivências de prazer e sofrimento. Neste cenário, Dejours (1994) entende as dinâmicas de trabalho como produtoras de situações que conduzem ao prazer ou ao sofrimento. Segundo Fernandes et al. (2006), esta abordagem se interessa pela fala do trabalhador, suas vivências e comportamentos, investigando o prazer e o sofrimento dos indivíduos nas suas relações com o trabalho.

Destaca-se a subjetividade do trabalhador no ambiente laboral, sendo o processo de trabalho a forma pela qual os trabalhadores expressam suas preocupações e buscam concretizar seus desejos para o trabalho e para a vida. Assim, é impossível separar o trabalho da produção e de subjetividades dos trabalhadores, pois ele faz parte de suas vidas, contribuindo para a formação de sua identidade e sua visão de mundo (DEJOURS, 2006).

Sob esse viés, Dejours (2006) contribui ao afirmar que, para transformar um trabalho fatigante em um trabalho equilibrado, é necessário tornar a organização do trabalho flexível, visando proporcionar ao trabalhador maior liberdade e identificar os fatores que desencadeiam prazer. Conforme Guido (2003), o prazer e a satisfação no trabalho estão vinculados às possibilidades de ser criativo, ter liberdade para inovar, participar ativamente nas decisões e ter valorizada sua prática profissional. Apesar das dificuldades enfrentadas no contexto laboral, o trabalhador quando satisfeito com seu trabalho, realizará suas atividades prazerosamente, podendo desencadear a satisfação nos sujeitos por ele assistidos.

O sofrimento e a insatisfação no trabalho estão presentes na relação do homem com a organização, destacando-se que o colaborador é influenciado interna e externamente, pois traz consigo sua história, aspirações, desejos e motivações, possuindo características únicas (DEJOURS, 1994). Assim, como o trabalho é um cenário para o fortalecimento desta singularidade e para a realização de si mesmo, destaca-se a importância do reconhecimento deste trabalho como um exercício para a mobilização dos mesmos. A satisfação e a insatisfação do trabalhador podem estar vinculadas a aspectos como condições de trabalho, condições de higiene, segurança, organização do trabalho, relações de poder, questões de responsabilidade e o relacionamento interpessoal (DEJOURS, 2006).

Neste sentido, a relação do homem com a organização das atividades é favorável,

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tornando-se uma fonte de prazer e satisfação profissional, pois as exigências das atividades correspondem às necessidades do sujeito ou que este possa expressar a sua subjetividade, participando da escolha do ritmo de trabalho e modificando a sua organização de acordo com a própria vontade. Por outro lado, o resultado da relação do homem com o trabalho pode ser o sofrimento e a insatisfação profissional, devido ao choque entre a personalidade do indivíduo, o seu projeto individual e a prescrição imposta pela organização do trabalho que não considera a sua subjetividade (MARTINS; ROBAZZI; BOBROFF, 2010).

Diante do exposto, compreende-se que o prazer e o sofrimento são sentimentos dialéticos e que evidenciar os fatores que os geram no trabalho da enfermagem pode ser um ponto de partida para que as organizações, gestores e os próprios trabalhadores impulsionem o labor em um sentido mais colaborativo e mais humano para si mesmos.

METODOLOGIAA presente pesquisa se caracteriza como um estudo de abordagem qualitativa que

buscou evidenciar nas produções científicas os fatores que geram prazer e sofrimento no trabalho de docentes de enfermagem. Neste sentido, optou-se por uma revisão integrativa da literatura, seguindo o modelo proposto por Mendes, Silveira e Galvão (2008). Segundo as autoras, a revisão integrativa de literatura é um dos métodos de pesquisa utilizados na Prática Baseada em Evidências (PBE), sendo relatada desde 1980. Possibilita a síntese de múltiplos estudos publicados e conclusões gerais a respeito de uma particular área de estudo, consistindo, portanto, em um valioso método para a enfermagem (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).

Assim, a revisão integrativa abre a possibilidade de gerar novos enquadramentos e perspectivas sobre o fenômeno estudado, bem como a síntese do estado do conhecimento de um determinado assunto, além de apontar lacunas do conhecimento que precisam ser preenchidas com a realização de novos estudos (POLIT; BECK; HUNGLER, 2011). Corroborando, Souza, Silva e Carvalho (2010) ressaltam que este tipo de revisão é a mais ampla abordagem metodológica referente às revisões, pois permite incorporar um vasto leque de propósitos, o que possibilita uma compreensão mais completa do fenômeno analisado.

Deste modo, para a construção da revisão integrativa, seguem-se seis etapas distintas, quais sejam: identificação do tema ou seleção da hipótese ou questão de pesquisa; estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão; definição das informações a serem extraídas/categorização dos estudos; avaliação dos estudos incluídos; interpretação dos resultados e por fim, apresentação da revisão/síntese do conhecimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008; SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).

Portanto, para a concretização da presente revisão integrativa foram obedecidas criteriosamente às etapas mencionadas, no período de agosto a setembro de 2015. Os critérios adotados para inclusão dos estudos foram: artigos de pesquisa, na íntegra, disponibilizados nos idiomas português, inglês ou espanhol, que abordassem a temática pesquisada e se encontrassem disponíveis online e gratuitos, sem recorte temporal e relacionados à área docente de enfermagem. Os estudos encontrados em mais de uma base de dados ou na própria

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base, foram considerados somente uma vez, sendo assim excluídos os artigos duplicados.

As bases de dados utilizadas para a busca foram: Literatura Latino-Americana em Ciências de Saúde (LILACS); Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE) e Dados Bibliográficos na Área de Enfermagem do Brasil (BDENF). O recurso utilizado na pesquisa foi a opção “palavras”: “Prazer”, “Sofrimento”, “Enfermagem”, e “Docentes” nas bases LILACS e BDENF, sendo realizada a mesma busca com as palavras na versão inglês, na base MEDLINE, para captura de artigos internacionais, que não apareciam com a busca em português.

RESULTADOSNo intuito de atingir ao objetivo proposto e seguir o caminho metodológico adotado

nesta pesquisa, os dados foram estruturados em dois subtítulos: Sistematização da busca dos artigos; e Caracterização dos artigos.

SISTEMATIZAÇÃO DA BUSCA DOS ARTIGOSA busca pelas produções resultou inicialmente nos seguintes números nas referidas

bases de dados: 01 resultado na MEDLINE, 05 resultados na LILACS e 08 resultados na BDENF (Total: 14 resultados). Após a captação de todos os artigos passou-se a leitura dos títulos e resumos. Foi realizada a exclusão dos artigos duplicados em mais de uma base de dados ou na própria base, considerando apenas uma das versões, permanecendo, deste modo, com 01 resultado na MEDLINE, 04 resultados na LILACS e 02 resultados na BDENF (Total: 07 resultados). Na sequência, foram selecionados apenas os artigos de pesquisa, na íntegra, disponíveis online e gratuitos, restando 01 resultado na MEDLINE e 03 resultados na LILACS (Total: 04 resultados). Posteriormente, buscou-se excluir os artigos que não estavam adequados à temática e suprimir os artigos que não se encontravam nos idiomas português, inglês ou espanhol, restando os mesmos 04 artigos, os quais constituíram o corpus desta revisão.

No Tabela 1, apresenta-se os artigos que constituem o corpus desta revisão integrativa, destacando-se a base de dados em que foram encontrados, a referência, o objetivo, o delineamento e os resultados dos estudos.

Tabela 1 - Apresentação dos artigos que constituem o corpus desta revisão integrativa.

ITENS DESCRIÇÃOBase de dados LILACS (2009)Objetivo Identificar os aspectos geradores de prazer e de sofrimento no processo de trabalho do

enfermeiro docente.Delineamento Trata-se de um estudo exploratório e descritivo com abordagem qualitativa. Uso de

entrevista e análise de conteúdo.Resultados O prazer surge da interação docente-aluno, engajamento com as atividades didático-

pedagógicas e o compromisso com a formação profissional. O sofrimento surge quando há uma desarticulação entre o empenho do docente e do aluno, marcado por desinteresse ou descompromisso, questões relacionadas à organização do trabalho e relacionamento interpessoal.

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Referências Ferreira, E. M.; Fernandes, M. F. P.; Prado, C.; Baptista, P. C. P.; Freitas, G. F.; Bonini, B. B. Prazer e sofrimento no processo de trabalho do enfermeiro docente. Rev. Esc. Enferm. USP; v. 43, 2009.

Base de dados LILACS (2007)Objetivo Identificar o significado do trabalho para os docentes e os fatores relacionados ao

desgaste psíquico no trabalho, bem como verificar como convivem com o sofrimento/prazer na docência.

Delineamento Trata-se de um estudo qualitativo. Uso de entrevista e análise de conteúdo.Resultados O significado de ser docente envolve reconhecimento pessoal, missão e troca de

experiências. O sofrimento está relacionado à falta de recursos materiais e humanos, sobrecarga de trabalho, baixos salários, desconforto do ambiente físico, relações interpessoais e falta de privacidade.

Referências Carbogim, F. C.; Gonçalves, A. M. C. Docentes de enfermagem: prazer e sofrimento no trabalho. REME, v. 11, n. 3, p. 291-296, 2007.

Base de dados LILACS (2005)Objetivo Verificar se as enfermeiras docentes vivenciam sentimentos de prazer e de sofrimento

gerados no trabalho, frente à implementação de uma mudança curricular radical.Delineamento Trata-se de um estudo exploratório e descritivo com abordagem quantitativa. Para a

coleta de dados foi utilizada uma escala tipo Likert.Resultados A maioria das enfermeiras docentes tem mais prazer do que sofrimento, pois,

frequentemente, sentem-se valorizadas, às vezes, sentem-se reconhecidas e, às vezes, não se sentem desgastadas em suas atividades na implementação da mudança curricular radical.

Referências Martins, J. T.; Robazzi, M. L. C. Implementação de um currículo com mudança radical: sentimentos de prazer e sofrimento. Cogitare enferm, v. 10, n. 2, p. 29-35, 2005.

Base de dados MEDLINE (2006)Objetivo Identificar se as dimensões de valorização, desgaste e reconhecimento, contribuem

para os sentimentos de prazer e sofrimento no trabalho de docentes enfermeiras, que vivenciaram mudanças no processo organizativo.

Delineamento Trata-se de um estudo exploratório e descritivo com abordagem quantitativa. Para a coleta de dados foi utilizada uma escala tipo Likert.

Resultados As docentes têm mais prazer que sofrimento, pois se sentem valorizadas, reconhecidas e não desgastadas em suas atividades. Esses dados revelam a importância das relações das docentes com suas tarefas, colegas e instituição.

Referências Martins, J. T.; Robazzi, M. L; C. C. Sentimentos de prazer e sofrimento de docentes na implementação de um currículo. Rev. gaúch. Enferm, v. 27, n. 2, p. 284-290, 2006.

Fonte: Adaptado de LILACS (2005, 2007, 2009) e MEDLINE (2006).

A seguir, apresenta-se a caracterização dos artigos e as evidências de prazer e de sofrimento no trabalho de docentes de enfermagem.

CARACTERIZAÇÃO DOS ARTIGOS Ao analisar os dados da pesquisa, verificou-se que os anos de publicação dos artigos

foram 2005, 2006, 2007 e 2009. Quanto à área de publicação, constatou-se que a enfermagem foi a responsável pelos trabalhos publicados. Quanto aos sujeitos pesquisados, os estudos foram realizados com a participação de enfermeiros docentes.

Com relação ao delineamento, os estudos foram classificados no nível de evidência 6 (seis), isto é, “evidências provenientes de um único estudo descritivo ou qualitativo”, conforme a Classificação de 2005 (MELNYK; FINEOUT- OVERHOLT, 2005), adotada como referência na presente revisão integrativa. Os artigos versavam sobre a temática escolhida, sendo possível constatar algumas evidências relacionadas ao prazer e ao sofrimento no trabalho de docentes

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de enfermagem.

O método de coleta de dados empregado nos dois estudos de abordagem qualitativa foi a entrevista. O instrumento para coleta dos dados utilizado nos dois estudos de abordagem quantitativa foi uma escala do tipo likert. Já em relação ao método de análise dos dados, a análise de conteúdo foi a abordagem metodológica utilizada nos artigos de abordagem qualitativa.

A partir da leitura dos artigos selecionados, evidenciou-se como fatores que geram prazer no trabalho de docente de enfermagem a valorização no trabalho, o reconhecimento das atividades realizadas; a interação docente-aluno; o engajamento com as atividades didático-pedagógicas e o compromisso com a formação profissional. Portanto, destacam-se a interação docente-aluno e a valorização e o reconhecimento profissional como fatores que geram prazer no trabalho de enfermeiros docentes. No entanto, sem menosprezar as demais evidências, visto que, pelos resultados apresentados nos artigos, também demonstraram ser fontes importantes de prazer.

Corroborando, o estudo de Carvalho e Garcia (2011) revela como prazer no trabalho docente o orgulho pela atividade exercida, a convivência satisfatória com os estudantes e a inclusão destes na sociedade por meio da aprendizagem. Coutinho, Dal Magro e Budde (2011) confirmam as vivências prazerosas no trabalho e referem-se, sobretudo ao relacionamento que os docentes estabelecem com seus pares e alunos e ao reconhecimento do trabalho.

Destaca-se a importância do reconhecimento do trabalho, o qual é o retorno obtido pelo mesmo, relacionando-se com a capacidade de dar valor à pessoa e ao trabalho executado (MORRONE; MENDES, 2003). Desta forma, a conquista da identidade social do trabalhador passa pela dinâmica do reconhecimento, ou seja, “a cooperação indissociável da economia da identidade e da saúde mental no trabalho” (DEJOURS, 2004, p. 76).

Assim, o trabalho é entendido como uma construção central da identidade dos trabalhadores e como um espaço de interação e de construção coletiva. Neste sentido, a dinâmica do reconhecimento assume papel de articulação entre o processo de constituição da identidade e o campo social, pois atribui um valor ao trabalho a partir da interação do trabalhador com o contexto social no qual está inserido, valor este que determina a construção da identidade do trabalhador no campo social (MORRONE; MENDES, 2003).

Conforme Mendes (2007), o prazer e a realização pessoal e profissional advêm da possibilidade de reconhecimento do esforço investido para a realização do trabalho. Neste contexto, a dinâmica do reconhecimento no trabalho se mostra fundamental, pois confere a recompensa simbólica para o esforço, para a persistência, a resistência ao fracasso e a inteligência mobilizada para a solução dos problemas. Assim, o sujeito trabalha com a perspectiva do binômio contribuição/retribuição, ou seja, em troca de seu esforço, espera uma retribuição (DEJOURS, 2007).

Para isso, o trabalhador se mobiliza e se engaja no trabalho, suas ações necessitam promover uma dinâmica de troca, a fim de possibilitar que os objetivos individuais e coletivos sejam alcançados, e consequentemente, o prazer. Neste sentido, o trabalho como fonte de

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prazer e satisfação pessoal advém da valorização e do reconhecimento das ações realizadas (AZAMBUJA et al., 2007).

Isto demonstra o prazer proporcionado quando é compatível o conteúdo da tarefa e os desejos inconscientes do trabalhador (DEJOURS, 1994; MENDES, 1994). Neste sentido, é fundamental que o colaborador seja reconhecido e valorizado ao desempenhar suas funções, pois através de suas competências e habilidades ele contribui para a organização do trabalho e para a constituição de sua própria subjetividade (MARTINS; ROBAZZI, 2006). Assim, o prazer é uma consequência da organização do trabalho coletivo, com respeito às diferenças de cada ser humano (DEJOURS, 2004).

Entende-se por reconhecimento o retorno obtido pelo trabalho, relacionando-se com a capacidade de dar valor à pessoa e a atividade executada (MORRONE; MENDES, 2003; FREITAS, 2015). Desta forma, quando a qualidade do trabalho é reconhecida, os esforços, as angústias, as decepções e os desânimos do trabalhador adquirem sentido, na medida em que o reconhecimento possibilita transformar em prazer o sofrimento vivenciado pelos trabalhadores (DEJOURS, 2011).

Cabe destacar que o reconhecimento pode ocorrer tanto pelo grupo de trabalho ou hierárquicos, como também pelos clientes (MENDES; VIEIRA; MORRONE, 2009). Assim, o reconhecimento pode acontecer no sentido de constatação, o qual considera a importância da realidade e a contribuição individual à organização do trabalho ou o reconhecimento como sentido de gratidão, expresso pela contribuição dos trabalhadores à organização do trabalho (LANCMAN; SZNELWAR, 2011, FREITAS, 2015).

Ainda, o reconhecimento pode ser distinguido em julgamentos de utilidade e de estética, no qual ambos tratam do trabalho realizado. O julgamento de utilidade é aquele executado verticalmente pelos superiores hierárquicos e subordinados e eventualmente pelos clientes; e o julgamento de estética, é aquele executado horizontalmente, pelos pares, colegas, membros da equipe ou comunidade (LANCMAN; SZNELWAR, 2011).

Quando a dinâmica de reconhecimento acontece, o trabalhador se sente aceito, admirado e com liberdade para se expressar diante das situações de trabalho, permitindo que o indivíduo possa usufruir do trabalho como espaço para se constituir, para se manifestar e não só produzir (MENDES; DUARTE, 2013, FREITAS, 2015).

Com relação ao sofrimento no trabalho de docentes de enfermagem, emergiram como fatores a sobrecarga de trabalho; a desarticulação entre o empenho do docente e do aluno, marcado por desinteresse ou descompromisso; questões relacionadas à organização do trabalho; o relacionamento interpessoal; a falta de recursos materiais e humanos, os baixos salários, o desconforto do ambiente físico e a falta de privacidade. Portanto, o relacionamento interpessoal pode ser o principal fator que gera sofrimento no trabalho de enfermeiros docentes, no entanto, sem desmerecer as demais evidências.

Um estudo com trabalhadores de enfermagem de um serviço de hemodiálise identificou como fatores de sofrimento as dificuldades de relacionamento com os colegas de trabalho e a falta de comprometimento de alguns membros da equipe (PRESTES et al., 2010).

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Já outra pesquisa realizada com docentes universitários de instituições públicas acerca da sua saúde e modo de vida identificou que o relacionamento é marcado pela competição, rivalidade ou falta de companheirismo na relação com os seus colegas (BORSOI, 2012).

Portanto, percebe-se que o relacionamento interpessoal interfere diretamente no cotidiano de trabalho, pois trabalhar pressupõe colaborar com uma hierarquia organizacional e com os colegas, sendo preciso interagir para atingir o objetivo de produção de um bem ou de um serviço (GERNET; DEJOURS, 2011).

Nessa perspectiva, um trabalho faz sentido quando desenvolvido em um ambiente agradável, em que as relações interpessoais são construtivas, pois a partir do momento em que os trabalhadores não encontram apoio e respaldo entre os seus próprios pares, o trabalho perde o seu sentido e o relacionamento se torna prejudicado (TOLFO; PICCININI, 2007; BAGGIO; FORMAGGIO, 2008; FREITAS, 2015). Dessa forma, o conflito quando gerado no grupo de trabalho pode ser positivo se estimula a busca de soluções para um determinado problema. Do contrário, se a situação de conflito se torna contínua e implica na falta de coesão, a mesma poderá causar frustração e insatisfação no trabalhador (FREITAS, 2015).

Dejours (1999) refere que o essencial para a saúde mental individual nas relações de trabalho é a ação sobre o funcionamento do coletivo, pois uma das grandes causas de sofrimento no trabalho está na má qualidade desse tipo de relações. Nessa perspectiva, o sofrimento no trabalho pode estar associado a um conflito entre a vontade de fazer bem o trabalho e a pressão que leva os trabalhadores a estabelecer certas regras para aumentar a sua produtividade (ASSUNÇÃO; OLIVEIRA, 2009; FREITAS, 2015). Estudos realizados com docentes do ensino superior confirmam o sofrimento advindo das condições inadequadas para realizar as diversas demandas do trabalho (SILVA, 2011; FREITAS, 2015).

Para a Psicodinâmica do Trabalho, o sofrimento pode ser criativo ou patogênico. No criativo, o trabalhador mobiliza-se na transformação do seu sofrimento em detrimento de algo benéfico para ele; no patogênico está relacionado à ausência de flexibilização da organização do trabalho (FLEURY; MACÊDO, 2013; FREITAS, 2015).

Assim, quando o sofrimento pode ser transformado em criatividade, ocasiona uma contribuição que beneficia o trabalhador, aumentando a sua resistência ao risco de desestabilização psíquica e somática. No entanto, quando a situação de trabalho, as relações sociais nele desenvolvidas e as escolhas gerenciais empregam o sofrimento no sentido patogênico, o trabalho se transforma em um mediador da desestabilização e da fragilização da saúde (DEJOURS; ABDOUCHELI, 2011; FREITAS, 2015).

Portanto, percebe-se que no trabalho de docentes de enfermagem emergem tanto sentimentos de prazer quanto de sofrimento, pois os docentes “significam seu trabalho ora como fonte de sofrimento, ora de prazer, expressando assim as contradições e ambiguidades de suas vivências atuais no meio acadêmico” (COUTINHO; DAL MAGRO; BUDDE, 2011, p. 163).

Assim, esses achados vão ao encontro do que defende Dejours (2011), ao afirmar que o trabalho nunca é neutro em relação à saúde, pois pode gerar sentimentos diversos, ora sofrimento, ora prazer, favorecendo a doença ou a saúde.

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CONCLUSÃOA partir da construção desta revisão integrativa, abordando os fatores que geram

prazer e sofrimento no trabalho de docentes de enfermagem, foi possível constatar que tais sentimentos estão interligados, pois são fortemente influenciados pelas relações no trabalho.

Evidenciou-se que os principais fatores que geram prazer no trabalho de docentes de enfermagem são a interação docente-aluno e a valorização e o reconhecimento profissional, e como principal fator de sofrimento o relacionamento interpessoal. No entanto, não se desconsidera as demais evidências, visto que todas são de suma importância na relação entre trabalho e docentes de enfermagem.

Constatou-se que existe uma lacuna demonstrando sua relevância para constituir com novas pesquisas, das quais possam emergir contribuições para a área da enfermagem, principalmente para o trabalho docente na contemporaneidade. Compreende-se que evidenciar as contribuições das pesquisas científicas produzidas acerca dos fatores que geram prazer e sofrimento no trabalho de docentes de enfermagem pode contribuir para que estes trabalhadores possam ressignificar suas vivências de sofrimento na busca pelo prazer no trabalho docente.

Como limitação do estudo salientamos o lapso temporal analisado, assim como a amplitude das bases de dados analisadas. Pesquisas futuras podem obter resultados ainda mais significativo se realizar um estudo bibliométrico em bases internacionais (Web of Science, e Scopus), em que fique evidenciadas as principais característica dos temas, bem como a relação com a profissão docente. Do mesmo modo, sugere-se a aplicação de instrumentos de pesquisas visando analisar o contexto in loco de uma determinada realidade de professores de enfermagem.

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Projeto Acordar: Uma ação de esforços multiprofissionais em prol dos direitos dos cidadãos e das demandas judiciais/sociais

contemporâneas.

Rayssa Reck BrumGracielle Almeida de Aguiar

Patrícia Lucion Roso

RESUMOO Projeto Acordar é um empreendimento do Foro da Comarca de Santa Maria e tem o

apoio do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Psicologia Jurídica (NEPE-PJ), da Faculdade Integrada de Santa Maria – FISMA. O mesmo tem como público-alvo casais em processos litigiosos de separação, divórcio, dissolução de união estável, guarda, ação de alimentos e visitas. Visa promover às partes uma abordagem mais humanizada, incentivando a prática de acordos satisfatórios, através de um encontro de pré-audiência com os litigantes, onde são tratados assuntos que podem gerar conflitos ao longo do processo. Acredita-se que o projeto tem alcançado bons resultados, pois, a partir dele, os casais em litígo estão obtendo um atendimento mais humanizado, bem como, estão revertendo os processos litigiosos em acordos totais ou parciais. Através do presente trabalho, busca-se apresentar o Projeto Acordar e demonstrar os resultados que o mesmo vem alcançando.

Palavras Chave: Direito; Práticas inovadoras; Mediação; Psicologia Jurídica.

INTRODUÇÃOO “Projeto Acordar” é uma iniciativa do Foro da Comarca de Santa Maria que, através

das Varas de Família, busca a melhoria nos serviços prestados aos jurisdicionados. A efetivação deste, conta com a atuação de profissionais do direito, do serviço social e da psicologia. Busca promover uma abordagem mais humanizada nos processos litigiosos de separação, divórcio, dissolução de união estável, guarda, alimentos e visitas, tendo, portanto, como foco, os conflitos judiciais familiares.

A ideia de implantar este projeto surgiu da percepção de que as situações levadas à audiência, nas Varas de Família, geralmente são desgastantes para as pessoas envolvidas nos processos.Müller; Beiras; Cruz (2007), afirmam que, embora as leis regulamentem as relações na vida em sociedade, existem aspectos das relações, como os emocionais, que não são suscetíveis a um enquadramento legal. O litígio, dessa forma, suscita questões muitas vezes dolorosas, “relacionadas à experiência de rompimento do tecido emocional, construído ao longo do processo de convivência interpessoal” (MÜLLER; BEIRAS; CRUZ, 2007, p. 197).

Tais questões advêm, muitas vezes, de conflitos sociais, econômicos e emocionais.

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Na maioria dos casos, as partes buscam no judiciário a resolução de seus problemas de cunho pessoal. Sendo assim, formas alternativas de resolução de conflitos se fazem necessárias.

As relações familiares evoluíram sobremaneira na sociedade atual brasileira, necessitando da implantação de alternativas para solucionar os conflitos familiares, consequentes de dissolução das relações, união estável, divórcio etc. No atual Direito de Família, a única preocupação se dá em questões de cunho patrimoniais, deixando para outra esfera, a preocupação com os sentimentos, delegando a outros profissionais das outras áreas a preocupação com a afetividade e os sentimentos dos envolvidos nos litígios familiares (TOALDO; OLIVEIRA, 2016).

Neste sentido, as atividades do projeto servem para amparar as pessoas que se socorrem no Judiciário para resolverem conflitos pessoais. A problemática que delineou esse trabalho foi o entendimentosobre a importância de auxiliar as partes processuais em reflexões acerca de suas problemáticas pessoais/judiciais, visando dar uma maior autonomia e responsabidade aos sujeitos na(s) decisão(ões) em audiência.

O presente trabalho tem por objetivo apresentar o Projeto Acordar e os resultados obtidos através do mesmo no 1º semestre de 2016.Justifica-se a importância do mesmo no sentido de dividir com a comunidade os dados e resultados de uma prática bem sucedida afim de ser modelo/exemplo a ser replicado.

REVISÃO DE LITERATURAO Direito Civil moderno, apresenta em sua definição mais restrita, como membros da

família, as pessoas unidas por relação conjugal ou de parentesco. Venosa (2003), afirma que o conceito de família precisa ser observado de uma maneira ampliada, como parentesco, ou seja, o conjunto de pessoas unidas por um vínculo jurídico de natureza familiar. Sendo assim, o conceito de família compreende os ascendentes, descendentes e colaterais de uma linhagem, incluindo-se os ascendentes, descendentes e colaterais do cônjuge, que se denominam parentes por afinidade.

Segundo Dias (2011, p. 27),

a família é uma construção cultural. Dispõe de estruturação psíquica na qual todos ocupam um lugar, possuem uma função – lugar do pai, lugar da mãe, lugar dos filhos, sem, entretanto, estarem necessariamente ligados biologicamente. É essa estrutura familiar que interessa investigar para o direito. É a preservação do ‘LAR’ no seu aspecto mais significativo: Lugar de Afeto e Respeito.

Conforme Tosta (2013), a sociedade familiar, ao longo dos anos, percebeu a importância de criar leis para regulamentar a mesma, e com isso, irrompeu o Direito de Família. O mesmo surgiu para nortear as relações familiares e solucionar os conflitos provenientes dela.

Através dos tempos, o Direito vem regulando e legislando sempre com intuito de ajudar a manter a família para que o indivíduo possa, inclusive, existir

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como cidadão (sem esta estruturação familiar, onde há um lugar definido para cada membro) e trabalhar na constituição de si mesmo (estruturação do sujeito) e das relações interpessoais e sociais (p. 4).

Sendo assim, quando existe um conflito no âmbito familiar, o Estado intervém e julga, procurando a solução de uma forma positiva, porém entende-se que, quando uma decisão é dada pelo Estado por meio do Poder Judiciário, o conflito não se encerra. O litígio acaba por ali, porém, sempre existe um “perdedor” - pois é uma decisão imposta, que parte de um terceiro (o juíz) (BITTENCURT, 2008).Segundo Monteiro (2011), é fato que o relacionamento conjugal, mesmo alicerçado na afetividade, ultrapassa o viés emocional, compondo-se de elementos que vão além do sentimento, e sendo alguns fatores, indispensáveis para que haja harmonia no lar comum, como, por exemplo, respeito, afinidades, situação e nível econômico, nível cultural, expectativas em relação ao outro, sexualidade do casal, aceitação e compreensão da personalidade. Outro fator importante é o de que, no curso da vida, tais elementos podem desaparecer, gerando o enfraquecimento da relação, e, consequentemente, o rompimento da união. A ruptura deste enlace atinge diretamente a sede integral da família gerando por vezes consequências irreparáveis para os envolvidos, especialmente para aqueles que estão em processo de formação. A família que já vinha experimentando a decadência da relação mediante discussões, desentendimentos, palavras rudes, silêncios e gestos, sofre agora com a ruptura familiar. As crianças e adolescentes advindos desta relação até então estável, são atingidas de forma violenta, haja vista a difícil aceitação do fim da relação de seus genitores.

Grzybowski (2007) afirma que desde a promulgação da Lei 6.515 – Lei de Legalização do Divórcio -, um número cada vez maior de casais recorrem a essa possibilidade como uma forma de finalizar o vínculo conjugal; e o número de divórcios aumenta gradativamente. Esse movimento ainda, conforme o autor, produz um acúmulo de processos no poder Judiciário, fazendo-se necessárias ações no sentido de desafogar o mesmo. Além disso, conforme Souza; Ramires (2006), é importante considerar a complexidade e a multiplicidade de fatores envolvidos na separação conjugal, pois os cônjuges, em meio a essa situação, sentem-se fragilizados emocionalmente, fato que pode afetar os resultados do processo.

Neste aspecto, a separação conjugal pode ser considerada um fenômeno social, que irradia seus efeitos para além da pessoa dos cônjuges. Embora o Código Civil Brasileiro, em seu artigo 1.579, afirme que o divórcio não modificará os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos, a prática demonstra profunda alteração nesta relação, face ao abalo emocional enfrentado pelo casal e a disputa pela guarda dos filhos, o que acarretará certamente a insegurança da criança ante a dependência irrestrita de seus genitores (MONTEIRO, 2011).

Segundo Romaro e Oliveira (2008) quando um casal decide separar-se, haverá uma crise importante na vida das pessoas, envolvidas direta ou indiretamente, podendo ser elaborada de uma forma menos ou mais adaptativa. Cabe ressaltar também que, algumas pessoas não conseguem lidar facilmente com as alterações ligadas à separação, pois o rompimento conjugal não envolve apenas o “sair de casa”, mas a necessidade de assumir responsabilidades legais, sociais e emocionais que este momento exige. De acordo com Brito, Cardoso e Oliveira (2010) a separação conjugal é identificada como um fator responsável por inúmeras mudanças no cotidiano da família, especialmente quando o casal possui filhos.

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Nazareth (2004) afirma que esta realidade envolve transformações na estrutura e na dinâmica familiar, determinando uma nova configuração familiar sendo que a conjugalidade foi rompida. Com a quebra de vínculo conjugal frequentemente estão presentes conflitos e questões emocionais não resolvidas pelo ex-casal, gerando sentimentos depreciativos em relação ao ex-companheiro como raiva, traição, desilusão com o casamento, e uma vontade consciente, ou não, de se vingar pelo sofrimento causado, tanto para o ex-cônjuge, quanto com relação aos filhos oriundos desta relação (SOUSA, 2010).

Neste contexto, destaca-se também que, a separação conjugal pode causar efeitos psicológicos estando relacionados ao aumento de doenças físicas e emocionais. De acordo com Bee apud Romaro e Oliveira (2008) pessoas que recentemente separaram-se estão vivendo um momento de fragilidade e propensas a sofrerem acidentes automobilísticos, à tendência a cometerem suicídio, faltar ao trabalho e se deprimir com facilidade. Conforme apontado, os efeitos psicológicos podem ter consequências desastrosas, sendo fundamental seu estudo nos serviços de saúde no sentido de caracterizar aspectos da demanda do grupo de ex-casal.

METODOLOGIAO Projeto Acordar surgiu da preocupação de alguns profissionais com a crescente

demanda de maiores informações e orientações pessoais trazidas pelas partes em audiências, sentindo, dessa forma, a necessidade de buscar subsídios teórico-práticos que auxiliassem o trabalho dos operadores da justiça, com intuito de amenizar o desgaste emocional das partes através de acordos em primeira audiência, otimizando, assim o fluxo do trabalho realizado pelo judiciário. O Projeto Acordar vai de encontro com o pensamento de Dallari (2002), ao afirmar que “os juízes e os Tribunais deveriam estar mais próximos de agentes do povo, para, dessa forma, poderem solucionar com justiça os conflitos”. (p.89).

Sendo assim, a equipe organizadora do projeto procurou elaborar estratégias com o objetivo de auxiliar aos casais que possuem processos litigiosos nas Varas de Família. A metodologia visa estimular a reflexão sobre suas dificuldades, buscando construir acordos satisfatórios, nos quais ambas as partes possam ter consciência e clareza nas consequências de suas decisões.

Para isso, se somaram esforços dos operadores de justiça e de profissionais voluntários que atuam multidisciplinarmente. O trabalho inicia-se nos cartórios judiciais das Varas de Família. Neste local, ocorre, mensalmente, a triagem dos processos de separação litigiosa, divórcio litigioso e dissolução de união estável, bem como aqueles que abrangem filhos: regulamentação de visitas, guarda e partilha de bens. Envolvidos direta ou indiretamente em processos destas naturezas são o público alvo das ações do projeto. Após os processos serem triados, os cartórios enviam convites às partes envolvidas nos autos, para que compareçam ao encontro de pré-audiência do Projeto Acordar. Este é remetido por carta simples, em formato de convite, para que o comparecimento à palestra não seja recebido com caráter de intimação ou algo compulsório.

Na data agendada, as partes são recebidas para um momento informal e interativo,

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que proporciona orientações, informações e reflexões através da apresentação de slides por membros da equipe e do diálogo com os participantes. O material apresentado trás informações e imagens¹ (cedidas pelo Foro de Santa Maria – RS) com a intenção de suscitar reflexões das partes quanto às suas posturas frente aos filhos. Busca conscientizar dos prejuízos, quando do prosseguimento do litígio, principalmente às crianças que, na maioria das vezes, estão em desenvolvimento psíquico. As partes são convidadas a interagir constantemente, sendo orientadas a esclarecerem suas dúvidas, salientando que as “histórias de vida” trazidas na ocasião não serão juntadas aos autos.

Os encontros são realizados quinzenalmente, às quartas-feiras, na sala de audiências da 2ª Vara de Família, abrangendo os processos triados para o referido mês, tendo duração aproximada de duas horas. Ao final do encontro é entregue aos participantes uma ficha de avaliação da palestra, na qual não há necessidade de identificação. Através desta, os participantes que manifestam interesse em obter atendimento individualizado são orientados e encaminhados às suas necessidades para a rede de apoio, na medida do possível.

FIgura 1: Exemplo de uma das imagens apresentadas na palestra do Projeto Acordar, as quais são cedidas pelo Foro da Comarca de Santa Maria – RS.

Desta forma, descrevemos metodologicamente as atividades do Projeto Acordar por meio de um Relato de Experiência, que, segundo Cavalcante; Lima (2002), é uma ferramenta da pesquisa descritiva que apresenta uma reflexão sobre uma ação ou um conjunto de ações que abordam uma situação vivenciada no âmbito profissional de interesse da comunidade científica. Assim, descreve aspectos vivenciados pelas autoras a partir do trabalho desenvolvido no Projeto Acordar.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOSNeste ano de 2016, o Projeto Acordar iniciou as atividades de sua terceira edição

no mês de Março. Os primeiros encontros aconteceram no mês de Abril, pois utilizou-se o mês anterior para marcar o retorno das atividades e realizar a triagem das partes que seriam convidadas para os encontros. Tendo em vista que as pessoas envolvidas em processos judiciais estão recebendo um atendimento mais humanizado dentro do Poder Judiciário e

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estão conseguindo, de forma geral, reverter os litígios em acordos totais ou parciais já em primeira audiência, vê-se a iniciativa de projetos como este de forma extremamente positiva, pois contribui para desobstruir o fluxo de processos em andamento nas Varas de Família.

AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADESO projeto tem como um dos instrumentos de avaliação de sua eficácia, o número de

acordos totais e parciais realizados em audiência pelas partes que participaram dos encontros. Nestes primeiros meses de sua terceira edição, daqueles compareceram aos encontros propostos, 48% dos participantes realizaram acordos totais e/ou parciais na primeira audiência de conciliação.

A fim de melhor compreensão das atividades exercidas pelo Projeto Acordar, apresentaremos a seguir alguns gráficos das mesmas. Para elaboração dos gráficos, consideraram-se as atividades realizadas durante o primeiro semestre de 2016, que compreende o início da terceira edição do projeto, as quais ocorreram no período supracitado. Com relação ao número de convites enviados ao público alvo, foram encaminhados 91 convites para participação dos encontros, dos quais 37 pessoas participaram das palestras, como mostra o gráfico a seguir.

Figura 1 – Número de convites encaminhados e número de pessoas que participaram das palestras do Projeto Acordar.

Fonte: Dados da pesquisa

Percebe-se, a partir da figura acima apresentada, que há pouca adesão dos participantes aos encontros do Projeto Acordar, considerando o número de convidados e o número de pessoas que compareceram aos mesmos. Todavia, é importante pontuar que podem ter ocorrido alguns imprevistos, os quais impossibilitaram os convidados a participarem dos encontros, os quais serão apresentados a seguir.

SISTEMA SIGEP Os convites são enviados via SIGEP, sistema cujo propósito está em preparar e

gerenciar as postagens de clientes dos Correios. O mesmo é destinado à pessoas jurídicas, com

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contrato firmado com os Correios para prestação de serviços qualificados como por exemplo SEDEX e Encomenda PAC (CORREIOS, 2015).Com isso, as imagens a seguir trazem o número de convites entregues e não entregues, bem como o possível motivo pelo não recebimento.

Figura 2 - Relação entre convites enviados, convites entregues e convites não entregues.

Fonte: Dados da pesquisa

A partir da figura acima, percebe-se que, dos 91 convites enviados, apenas 60 chegaram a seu destinatário. Por conseguinte, a próxima figura irá trazer os motivos pelos quais 31 convites não foram entregues às partes convidadas.

Figura 3 – Motivos pelos quais os convites não foram recebidos pelas partes convidadas.

Fonte: Dados da pesquisa

Alguns dos motivos alegados pelos Correios para a não entrega dos convites foram de que, em alguns casos, o endereço cadastrado no sistema do Judiciário não estava correto ou foi insuficiente. Outro motivo que impossibilitou a entrega dos convites foi que alguns remetentes mudaram-se de endereço ou não encontravam-se no mesmo durante as três tentativas de entrega por parte dos carteiros.

Além disto, embora seja oferecido atestado, muitas pessoas justificam que não conseguem participar por falta de liberação no trabalho, visto que as palestras aconteceram pela parte da manhã, em horário comercial. Portanto, considerando tais situações, acredita-se que poderia ter sido maior o número efetivo de pessoas nas palestras.

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PÚBLICO PARTICIPANTE DOS ENCONTROSA seguir, traremos o número de pessoas que compareceram aos encontros realizados,

analisando o público participante em cada mês do período citado, bem como, o gênero dos participantes. Foram totalizados 06 encontros nos 03 meses iniciais de atividade desta terceira edição do projeto. O mês em que compareceu o maior número de pessoas foi o de Junho (22 pessoas) e o menor número ocorreu no primeiro encontro do mês de Abril (04 pessoas). Ressaltamos que no mês de Abril foi realizado apenas um encontro.

Figura 4 – Número de pessoas que compareceram à palestra do Projeto “Acordar” classificadas por mês.

Fonte: Dados da pesquisa

Tendo em vista a figura acima, o mês que apresentou o maior número de pessoas foi o mês de Junho de 2016. Não há como responder pontualmente porque tal mês foi o mais participativo, visto que comparado a outros semestres das outras edições, este dado é muito variável.

A próxima figura traz um dado interessante, o qual refere-se ao gênero dos participantes.

Figura 5 - Participantes separados por gênero.

Fonte: Dados da pesquisa

A figura aponta que os homens se fizeram mais presentes nos encontros. Conforme Paula (2011, p. 12), “em verdade, o que se observa é que a herança cultural da família parental

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e as imposições sociais elevam, de plano, a mãe ao lugar de titular dos cuidados infantis e relegam o pai à categoria de visitante e provedor. A mulher é considerada, naturalmente, mais apta à guarda dos filhos”. A partir do dado acima apresentado, pode-se pensar que há um movimento dos homens contra esta cultura existente no Poder Judiciário.

ANÁLISE DE ACORDOSEm se tratando da terceira edição do projeto, considerando que as atividades do

mesmo ocorreram de Março a Junho, o número de acordos, entre totais e parciais, apresentados no gráfico abaixo, foi bastante significativo (48%), demonstrando a relevância do trabalho que vem sendo realizado. Lembramos que o projeto tem como forma de avaliação, o número de acordos realizados em audiência pelas partes que participaram da palestra. Ressaltamos que para a elaboração deste relatório, foram considerados os números de acordos realizados de Abril a Junho de 2016. Contudo, destacamos que as atividades da terceira edição do projeto continuam em andamento. Destacamos também que houveram algumas audiências que foram prejudicadas (22%) pois uma das partes não compareceu à sessão, anulando-a.

Figura 6 – Percentual de acordos totais ou parciais e não acordos em relação ao total de processos os quais pelo menos uma das partes compareceu aos encontros do Projeto Acordar.

Fonte: Dados da pesquisa

Entende-se, a partir da figura 6, que o número de acordos totais/parciais realizados foi bastante relevante.

AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO DOS CONVIDADOS EM RELAÇÃO ÀS PALES-TRAS DO PROJETO ACORDAR

A satisfação das pessoas em relação à participação no encontro de pré-audiência do “Projeto Acordar”, é realizada através de uma avaliação entregue aos participantes no término da palestra. Essa avaliação é composta por um quadro avaliativo, com quatro perguntas objetivas. Traremos a seguir cada uma delas, com seus respectivos resultados em gráficos. A primeira pergunta questiona: “A palestra do Projeto Acordar esclareceu as suas dúvidas em relação ao processo?” Abaixo, o gráfico abaixo apresenta a percepção dos participantes.

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Figura 7 – Percentual referente à primeira pergunta

Fonte: Dados da pesquisa

A partir dessa imagem, percebe-se que, grande parte dos participantes teve suas dúvidas esclarecidas quando do comparecimento ao encontro.

A segunda pergunta interroga “O que você achou da ideia de ser convidado para a palestra?”

Figura 8 – Percentual referente à segunda pergunta

Fonte: Dados da pesquisa

A figura 8 demonstra a aceitação e satisfação dos participantes ao serem convidados para os encontros do Projeto Acordar.

A penúltima questãoexamina a intenção das partes em se comprometer com as reflexões do encontro, para contribuir com acordos no processo. Na resposta: “Após ter assistido a palestra, como está sua motivação para fazer acordos?” encontramos os resultados apresentados na figura abaixo.

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Figura 9 – Percentual referente à terceira pergunta.

Fonte: Dados da pesquisa

Entende-se como bastante significativo o percentual de participantes que motivou-se à realização de acordos a partir de sua participação no Projeto Acordar, conforme figura acima.

A quarta e última pergunta é “Você sente necessidade de obter outras orientações ou atendimento individualizado?”.

Figura 10 – Percentual referente à quarta pergunta.

Fonte: Dados da pesquisa

Nessa questão, percebe-se que, no geral, o projeto acordar vem atendendo as demandas dos participantes, que, por consequência, não sentem necessidade de um atendimento individualizado, conforme pode ser visualizado na figura 10.

CONCLUSÕESEntende-se que iniciativas como a do Projeto Acordar representam, acima de tudo,

um repensar do Poder Judiciário em relação à sua atuação na resolução dos conflitos humanos. Através dos dados apresentados, percebe-se a necessidade de se reconhecer que a prestação de serviços judiciários pode se dar com maior qualidade, na medida em que passa a contar com um trabalho multidisciplinar, especialmente nas Varas de Família.

Contudo, ressalta-se que a equipe do ProjetoAcordar acredita que a avaliação do

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projeto ultrapassa a verificação do número de acordos judiciais. Acredita-se que a reflexão trabalhada no encontro é tão importante quanto os resultados em primeira audiência, pois entende-se que tais orientações e informações, podem representar, num futuro, uma mudança de postura do participante com relação ao ex-cônjuge ou ex-companheiro (a) e principalmente com relação aos filhos, quando estes existem.

LIMITAÇÕESAinda que avaliemos que o Projeto Acordar está alcançando bons resultados, o mesmo

enfrenta algumas limitações. Dentre elas, podemos citar a pouca adesão ao mesmo, talvez por os participantes serem convidados, e não intimados a comparecer, ou, ainda, devido ao fato de o projeto ainda estar em seu início, e, assim sendo, poucaspessoas o conheçam - fato que estamos trabalhando para modificar, divulgando o mesmo através de encontros informativos com as Assistências Judiciárias Gratuitas das Faculdades e com a Defensoria Pública, visando estímulo e, consequentemente maior adesão às palestras. Ainda assim, acreditamos que a solução para este impasse não seja a intimação, pois, dessa forma, estaria indo contra o formato e os objetivos do projeto.

Além disso, também há a dificuldade no envio dos convites via Sistema SIGEP, pois, muitas vezes, as mesmas não chegam seus destinos finais. Outra limitação que encontramos é uma certa resistência com que nos deparamos no poder judiciário, pois, nas varas de família, segundo Toaldo; Oliveira (2016), o que se faz é “viabilizar apenas a distribuição dos bens do casal, ignorando questões pessoais, como o a relacionamento afetivo das partes depois da dissolução da entidade familiar”.Neste sentido, o Projeto Acordar busca dar conta destas questões pessoais, que estão relacionadas a aspectos emocionais, sociais e culturais do casal, e que, se não forem trabalhadas, podem se transformar em processos judiciais que se prolongam indefinidamente.

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Redirecionando olhares: A contribuição da antropologia na construção da

sustentabilidade

Bernardo Rodrigues da SilvaNayara Pasqualotto

Laila Mayara Drebes

RESUMOAtualmente é comum o uso da palavra sustentabilidade em vários meios, no entanto,

o termo, geralmente, é erroneamente ligado à apenas aspectos de proteção ambiental, o que diminui sua complexidade. A dimensão ambiental é uma das dimensões do conceito de sustentabilidade, porém, para que para ela seja efetiva, torna-se necessário um trabalho que procure o equilíbrio entre as suas demais dimensões, sendo elas, as dimensões econômica, social, política, ética e cultural. Como há vários tipos de profissionais que estudam a temática da sustentabilidade, nem todos possuem em sua formação básica o necessário para a compreensão de como desenvolver todas as dimensões da sustentabilidade. Neste ponto, para a dimensão cultural da sustentabilidade, podemos buscar nos estudos da Antropologia, algumas contribuições para o direcionamento do olhar desses profissionais que trabalham na construção da sustentabilidade. Este trabalho tem por objetivo trazer um breve histórico da sustentabilidade e alguns autores que auxiliam na compreensão da Antropologia para dentro do debate da sustentabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: sustentabilidade, Antropologia, Agroecologia

INTRODUÇÃOO conceito de sustentabilidade ganha destaque no cenário mundial através das grandes

conferências sobre o meio ambiente (Conferência de Estocolmo, em 1972, e Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável, 1992) e movimentos ambientalistas na década de 1980.

A partir dos anos 1990, o debate da sustentabilidade ganha destaque dentro da agricultura através de pesquisadores que se propunham a estudar as questões agrárias, ambientais e sociais através de um mesmo paradigma científico, a Agroecologia.

Dentro do Desenvolvimento Rural Sustentável, Caporal e Costabeber (2002), ao refletirem sobre os aspectos da sustentabilidade que estavam inseridos no contexto agricultura e extensão rural, e apoiados nos princípios da Agroecologia, elaboraram uma proposta metodológica para a análise multidimensional da sustentabilidade, onde destacam as dimensões econômica, ambiental, social, política, cultural e ética da sustentabilidade. Análises deste aspecto são importantes para a elaboração de ferramentas de ação extensionista que

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levem em conta o conceito de sustentabilidade para o planejamento de intervenções técnicas (DEPONTI, 2002). Uma das preocupações deste tipo de ferramenta está em apontar indicadores que contemplem todas as dimensões da sustentabilidade.

Tendo em vista que há dificuldades técnicas em equilibrar a análise das multidimensões da sustentabilidade, principalmente se levarmos conta que, muitas das decisões das agências de extensão rural pública ocorrem na dimensão econômica e ambiental da sustentabilidade, provavelmente por uma erroneidade do uso do termo sustentável (PASQUALOTTO, STASIAK e PASQUALOTTO, 2012). Torna-se importante que trabalhos valorizem, e elucidem, o que são e como acontecem as dinâmicas das dimensões social, política, cultural e ética da sustentabilidade.

Uma das maneiras de se aproximar essas dimensões de cada uma das realidades encontradas é o estudo de realidades específicas, com a finalidade de revelar estas dimensões mais ligadas às relações humanas.

Nesse contexto, o objetivo da antropologia está em descobrir os processos pelos quais certos estágios culturais se desenvolveram, mas, com o devido cuidado de não correr o risco de dizer que a mente humana obedece às mesmas leis em todos os lugares (BOAS, 2005).

Uma vez que muitos dos profissionais que trabalham com Agroecologia e sustentabilidade venham de várias áreas que não são correlatas às Ciências Sociais, e por este motivo, não estão familiarizados com os estudos da Antropologia, este artigo busca destacar as contribuições da antropologia para o auxílio nos debates da sustentabilidade.

BREVE HISTÓRICO DA SUSTENTABILIDADEO Relatório Brundtland (também conhecido como “Nosso futuro comum”), lançado

em 1987, foi gerado do debate, ocorrido nos anos 1980, dentro da “Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento” (Comissão Brundtland), em nome da ONU (Organização das Nações Unidas). Seu objetivo se deu em investigar dados que foram apontados em 1972, pelo Clube de Roma, fundado em 1968, por várias personalidades de importância mundial no cenário ambiental, político, internacional e econômico, através do relatório “Limites do Crescimento”, que por sua vez, foi publicado no mesmo ano da Conferência de Estocolmo (MARTÍN e GONZALEZ, 1997).

Com o Relatório Brundtlant, possuímos provavelmente o conceito mais propagado de desenvolvimento sustentável: “O desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem colocar em perigo a possibilidade de que as gerações futuras possam atender as suas” (MARTÍN e GONZALEZ, 1997).

Em 1992, publicado originalmente em inglês, pela ONU, o relatório chamado “Meio Ambiente e desenvolvimento sustentável: Mais além do Relatório Brundland” trouxe uma série de artigos que apresentaram uma análise crítica ao Relatório de Brundtland. Este documento possuía o objetivo de discutir o conceito de economia sustentável, desta forma, preparando as discussões no mundo para a “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e

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o Desenvolvimento Sustentável” (também conhecida como “ECO-92) que ocorreu no Rio de Janeiro (Brasil), em 1992. Estes textos foram importantes para a construção da “Agenda 21” e para posteriores construções das agendas políticas ao redor do mundo (MARTÍN e GONZALEZ, 1997).

Conforme Bellen (2006), o conceito de sustentabilidade foi estudado e desenvolvido sob várias perspectivas teóricas. Através de sua revisão de literatura, o autor se deparou com cinco perspectivas teóricas, sendo elas, [1] a perspectiva econômica, [2] a perspectiva social, [3] a perspectiva ambiental e [4] a perspectiva geográfica e a [5] perspectiva cultural.

Em contraponto ao conceito de desenvolvimento global, Buarque (2008. p. 25) nos trás um conceito importante dentro da sustentabilidade, o conceito de desenvolvimento local, sendo este um “processo endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico e à melhoria da qualidade de vida da população em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos.” Sendo que este para ser eficiente, deve aliar uma gestão pública eficiente, qualidade de vida dos povos envolvidos e eficiência econômica do sistema.

No Brasil, o debate da sustentabilidade, sob o contexto do rural, teve seu destaque com Caporal e Costabeber, como mencionado na introdução deste artigo, onde, dentro do Desenvolvimento Rural Sustentável, a sustentabilidade pudesse ser utilizada como ferramenta metodológica na ação extensionista. Assim, uma sociedade atingiria o auge da sustentabilidade, por exemplo, se possuísse as seis dimensões da sustentabilidade em equilíbrio (figura 1) (CAPORAL e COSTABEBER, 2002).

Figura 1 – Multimensões da Sustentabilidade

Fonte: Caporal e Costabeber (2002)

CONTRIBUIÇÕES DA ANTROPOLOGIAConforme Uriarte (2012) recapitula a história da antropologia, ele nos mostra em seu

texto que a etnografia, desenvolvida a partir do século XX, é uma resposta crítica à antropologia

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do século XIX. O autor nos relata que anteriormente ao método da etnografia os pesquisadores possuíam um olhar superior à cultura dos pesquisados, os estudando enquanto “povos primitivos” a partir de relatórios de terceiros, sem nem ao menos conhecer pessoalmente os povos pesquisados, estes pesquisadores possuíam uma forte perspectiva etnocentrista.

Mesmo sendo uma resposta crítica à antropologia do século XIX, pode-se dizer que a etnografia nasceu de um acaso, onde o pesquisador Bronislaw Malinowski se viu obrigado, em decorrência da primeira guerra mundial, a permanecer por três anos na ilha em que estava estudando. Lá, em convivência com o cotidiano dos “nativos”, escreveu o livro que foi o marco para a etnografia, “Os Argonautas do Pacífico ocidental” (URIARTE, 2012).

Podemos considerar bastante problemático construir um olhar sobre determinado fenômeno a partir de leituras teóricas mais rígidas, em outras palavras, direcionar a explicação do fenômeno sem uma prévia investigação e análise histórica e cultural do local estudado (BOAS, 2005). Caso isso aconteça corremos o risco de comparar situações distintas utilizando uma mesma explicação teórica, ou seja, cairemos no risco de dizer que dois fenômenos de ambientes e culturas diferentes possuam a mesma raiz de causa.

Boas (2005), em seu trabalho, defendia que os fenômenos tinham suas causas de acordo com o seu contexto histórico, onde os fenômenos estudados deveriam analisados a partir de um método de indução empírica, o que por sua vez evitava com que os resultados dos fenômenos estudados em um contexto fossem justificados a partir de contextos históricos diferentes. Ele exemplifica muito bem isto, em seu texto, através do exemplo do uso de máscaras em diferentes tribos indígenas, onde, em uma determinada tribo o uso das máscaras representa um espírito personificado pelo mascarado, que afugenta outros espíritos hostis, e em outra tribo diferente, as máscaras são empregadas nas representações teatrais para demonstrar incidentes mitológicos.

Desta forma, Boas (2005, p. 34) afirma que estudar os costumes em relação à cultura local pode conduzir a investigação à revelação de resultados tríplices, sendo que:

Eles podem revelar as condições ambientais que criaram ou modificaram os elementos culturais; esclarecer fatores psicológicos que atuaram na configuração da cultura; ou nos mostrar os efeitos que as conexões históricas tiveram sobre o desenvolvimento da cultura.

Laraia (2001) ao apresentar argumentos que negam o determinismo biológico e o determinismo geográfico, apresenta a cultura como um conceito antropológico. Ao afirmar isto, o autor busca esclarecer que as lógicas existentes nas sociedades humanas são explicadas pela cultura à que estas sociedades estão imersas. Além disso, o autor afirma também que esta cultura é dinâmica e tem sua própria lógica, mudando conforme as experiências pelas quais a sociedade passa.

Geertz (2008), por sua vez, ao dizer que o homem é um animal amarrado às suas próprias teias de significado, assume a cultura como essas teias e sua análise. Com isto, ele declara que, ao se estudar a cultura, ao invés de procurar por leis, devemos procurar por significados, por intermédio de uma ciência interpretativa. Deste modo seu conceito de cultura

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é essencialmente semiótico.

Geertz (2008) ainda aponta que a e a etnografia deve ser uma descrição densa, com o sentido de reconstruir a lógica, deixando explícita a multiplicidade de estruturas complexas existentes, e emaranhadas entre si, no ambiente estudado, a tal ponto de que o pesquisador tem primeiro a aprender e só depois a apresentar.

Ao realizar uma descrição densa da realidade, os relatos etnográficos situam o leitor do ponto de vista do autor, desta forma contextualizando para reduzir a perplexidade do diferente, assim, diz-se que não se trata de “estudar as aldeias”, se trata de “estudar nas aldeias” (GEERTZ, 2008).

Uriarte (2012) ainda alerta que fazer o “fazer etnografia” não se trata apenas de um método de pesquisa, o “fazer etnografia” implica em um prévio e sólido embasamento teórico, implica uma forma descentralizada de ver o mundo, uma imersão profunda e com tempo prolongado no campo para dialogar com as pessoas que se pretende entender, para só então colocar uma ordem nas coisas mediante à uma escrita “realista, polifônica e inter-subjetiva”.

Geertz (2008) lembra que é necessário ter a sensibilidade de estudar a cultura sob a ótica dos atores pesquisados, do contrário correremos o risco de chegar a uma interpretação etnocêntrica.

Magnani (2009) nos atenta o importante momento da “sacada” ou “insight” na pesquisa etnográfica, ao lembrar que este momento não acontece devido à um acaso do destino, ou genialidade do pesquisador, mas sim devido ao grau de atenção à que o pesquisa se encontra imerso, entre a teoria e o campo. A “sacada”, portanto, ocorre devido a um reordenamento dos pensamentos, e, geralmente ocorre devido à algum gatilho do cotidiano em que o pesquisador está inserido.

Fonseca (1999) acredita que, além de uma ferramenta importante para a compreensão do mundo, a etnografia também pode ser utilizada como uma prática, neste contexto a autora cita que a etnografia pode servir na educação, enquanto ato de comunicação e diálogo. No entanto, a autora também afirma que pesquisadores de outras áreas, que se aventurem a trabalhar com a etnografia, precisam ter o devido cuidado de ter a preparação adequada, caso contrário, cairão no risco de permanecer no senso comum da cultura do pesquisador.

Portanto, faz-se necessário uma análise da totalidade do campo, o que implica em reconhecer na comunidade estudada as características que lhes atribuem a ideia de pertencimento ao local, sua identidade, suas alianças, sem desprezar os conflitos que inegavelmente acabam acontecendo dentro de cada cultura (MAGNANI, 2009). Sendo esta totalidade, então construída a partir do contexto diário do pesquisador junto aos atores sociais.

Nas palavras de Oliveira (1996) “o olhar” é uma dos pilares fundamentais do trabalho do antropólogo, sendo os outros dois “o ouvir” e “o escrever”. Para o autor, caso um desses três pilares não for devidamente treinado, seu trabalho estará comprometido. O olhar nesse contexto deve ser domesticado para estar sensível a coisas que antes da bagagem teórica da antropologia não eram perceptíveis, dessa forma, o olhar passa a identificar fatores que antes

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pareciam invisibilizados pelo olhar do senso comum do cotidiano.

CONSIDERAÇÕESCom o decorrer do artigo não busquei dizer que a Antropologia é a “chave” para a

construção da sustentabilidade. O que ouso dizer é que a contribuição teórica da antropologia cultural tem muito a acrescentar à aqueles que estudam a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões. O olhar, que ao invés de julgar, procura significados no comportamento das sociedades é, talvez, o olhar necessário à todos os profissionais que trabalham com a ótica da sustentabilidade.

A Antropologia em sua busca por compreensões e interpretações dos significados dos fenômenos, nos ensina a olhar o outro com o respeito necessário para que não julguemos às práticas e pensamentos de cada local. Entender a racionalidade de comunidades tradicionais, sejam elas, comunidades indígenas, quilombolas ou camponesas, é o primeiro passo antes de querer propor estratégias de ações intervencionistas em extensão rural.

A Antropologia pode nos ajudar a entender a dimensão cultural de cada comunidade em que o profissional de extensão rural irá trabalhar. Cada comunidade rural possui sua lógica cultural diferente, e agir sobre elas sem antes compreendê-la implica em desrespeitar umas das dimensões da sustentabilidade, e, por consequência, a sustentabilidade como um todo.

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Prevenção da Gripe: uma Ação na Escola de Educação Infantil Ida Berteotti

Fabiano Comoretto MachadoVanessa Rodrigues de Andrade

Anderson William Cezar PlateMaiara Barcellos Trindade

Sheila DambrozioNoalVívian Flores Costa

RESUMOEste é um trabalho desenvolvido na disciplina de Projeto de Extensão, parte integrante e obrigatória do currículo do curso do Curso de Administração da Faculdade Palotina de Santa Maria (RS). Para a con-secução do mesmo foi selecionada a Escola de Educação Infantil Ida Berteotti, organização do terceiro setor de Santa Maria (RS),a qual possui cerca de 106 crianças de 1 (um) a 5 (cinco) anos de idade ma-triculadas. Considerando as necessidades diagnosticadas na Escola, delimitou-se como objetivo geral “promover uma ação relacionada a prevenção da gripe na Escola de Educação Infantil Ida Berteotti”. Especificamente, o projeto visou: i) identificar necessidades da Escola no momento da realização do projeto; ii) organizar e realizar uma campanha de arrecadação de materiais de higiene; iii) desenvolver uma atividade/oficina voltada à prevenção da gripe com os alunos da Escola. Assim, além dos subsídios materiais fornecidos (álcool gel, papel higiênico e papel toalha), parece que a realização deste trabalho também auxiliou no reconhecimento, por parte das crianças, de hábitos basilares de higiene pessoal, principalmente no que diz respeito a prevenção da gripe. Espera-se que elas também passem a disse-minar e influenciar seus familiares sobre a importância do que aprenderam.

Palavras-chave: terceiro setor; extensão; prevenção da gripe.

INTRODUÇÃOUm dos agentes imprescindíveis no processo de assistência às pessoas de baixa renda,

a população mais carente são as escolas, e demais instituições, concebidas no conceito do terceiro setor. No Brasil, o terceiro setor era, no passado, mais conhecido por ações voltadas à caridade e ligado a religiosos. Apenas igrejas, orfanatos, escolas religiosas e hospitais eram vistos como organizações importantes sem fins lucrativos. Atualmente, tem-se outra concepção, de acordo com Merege, citado por Srour (1998, p.239), “o terceiro setor é um conjunto de organizações não governamentais, caracterizadas pelo aspecto de não possuir fins lucrativos e que a partir do âmbito privado buscam resultados públicos, com propósitos de trazer respostas aos problemas sociais como saúde, educação, direitos civis, proteção ao meio ambiente etc”. Suas receitas podem ser geradas em atividades operacionais, mas resultam, sobretudo, de doações do setor privado ou do setor governamental.

Em Santa Maria (RS), existem algumas escolas relacionadas ou com características do terceiro setor, as quais tem ganhado espaço e explorado atividades para auxiliar a

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população, em um ambiente propício para que as crianças desempenhem, por exemplo, o início das suas atividades escolares. Para este trabalho foi selecionada aEscola de Educação Infantil Ida Berteotti, localizada no Bairro Salgado Filho, fundada em 16 de agosto de 1982 e possuindo afinalidadede atender a necessidade da comunidade onde está instituída, principalmentecrianças de 1 (um) a 5 (cinco) anos de idade, com cerca de 106 (cento seis) matriculadas. Baseado nas informações dos trabalhos anteriores realizados na Escola e num diagnóstico realizado por meio de uma visita, na qual foi possível dialogar com a diretora, decidiu-se pela escolha de tal instituição para a consecução do presente projeto.

Dentre as diversas necessidades, o grupo responsável por este trabalho resolveu focar em um problema relatado naquele momento pela diretora, o qual é bastante pertinente por ser relacionado a saúde. Assim, delimitou-se como objetivo geral “promover uma ação relacionada a prevenção da gripe na Escola de Educação Infantil Ida Berteotti”. Especificamente, o projeto visou: i) identificar necessidades da Escola no momento da realização do projeto; ii) organizar e realizar uma campanha de arrecadação de materiais de higiene; iii) desenvolver uma atividade/oficina voltada à prevenção da gripe com os alunos da Escola.

Destaca-se que este é um dos trabalhos desenvolvidos na disciplina de Projeto de Extensão, parte integrante e obrigatória do currículo do curso do Curso de Administração da Faculdade Palotina de Santa Maria (RS). Assim, o desenvolvimento do projeto na Escola de Educação Infantil Ida Berteotti, é um importante caminho que propicia a ligação entre a teoria e a prática, promovendo, inclusive, a interação faculdade-sociedade.

Este artigo apresenta, além desta introdução, a qual contemplaa contextualização, bem como os objetivos e a justificativa do trabalho, mais quatro outros capítulos. O capítulo dois apresenta o referencial teórico, o qual aborda, sinteticamente, o terceiro setor, a responsabilidade social e a gripe. O capítulo trêsdescreve o método utilizado para a realização deste trabalho. O capítulo quatro apresenta os resultados obtidos, alinhados com os objetivos propostos. Por fim, o capítulo cinco dispõe as considerações finais.

REFERENCIAL TEÓRICO

Terceiro setor

O terceiro setor tem sido um dos agentes imprescindíveis no processo de assistência às populações carentes, em razão de sua política baseada na execução de projetos e programas capazes de incentivar a geração de emprego e renda, bem como despertar as comunidades para a exploração de atividades que possam assegurar sua sobrevivência. Tem sido visto como um conjunto de organizações e iniciativas privadas que visam a produção de bens e serviços públicos que não geram lucro, mas respondem a necessidades coletivas.

Enquadram-se no terceiro setor as fundações privadas e as associações sem fins lucrativos que condizem com os seguintes critérios (IBGE/IPEA, 2002): Privadas, não integrantes, portanto, do aparelho do Estado; Sem fins lucrativos, isto é, organizações que não distribuem eventuais excedentes entre os proprietários, ou diretores e que não possuem como

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razão primeira de existência a geração de lucros–podem até gerá-los desde que aplicados nas atividades fins;Institucionalizadas, isto é, legalmente constituídas; Auto –administradas ou capazes de gerenciar suas próprias atividades; e Voluntárias, na medida em que podem ser constituídas livremente por qualquer grupo de pessoas, isto é, a atividade de associação ou de fundação da entidade é livremente decidida pelos sócios ou fundadores.

O terceiro setor já ganhou reconhecimento pelas soluções positivas que vem encontrando para toda a sociedade brasileira. São associações, fundações, instituições e organizações, com peculiaridades jurídicas, próprias na área tributária, de isenções e imunidades; No processo de transformação da sociedade, o TerceiroSetor vem encontrando respostas criativas para ajudar a mudaro futuro do Brasil (D’URSO, 2016).

O que se pode considerar sobre o terceiro setor, é que significa uma organização da iniciativa privada com fins públicos, com o objetivo de combater grandes problemas do mundo atual, como a pobreza, violência, poluição, analfabetismo, racismo, entre outros. Tais organizações funcionam em um sistema econômico capitalista, ao qual precisam se adaptar para não desaparecer, como salientam Pimenta, Saraiva e Corrêa (2006).

Para Rothgiesser(2004, p.2), “o terceiro setor consiste em cidadãos que participam de modo espontâneo e voluntário de ações que visam o interesse social. Isto vem mostrar algo em comum com o Estado que é o fato de ambos cumprirem com uma função eminentemente coletiva”. O que se pode perceber é que o terceiro setor envolve um conjunto de ações e finalidades que vãodesde a questão filantrópica, abrangem ações de cidadania e defesa do ser humano, luta em pela inclusão social e o fortalecimento dos movimentos sociais, além de outras atitudes imprescindíveis para a sociedade como um todo. Segundo Hudson (1999, p.11),

“o termo Terceiro Setor tem algo em comum com o setor público já que suas atividades não geram lucros e procuram atuar em prol do bem comum. Algo a mais em relação ao Estado é que o referido setor não está sujeito a controle político direto e têm independência para determinar seu próprio futuro’’.

A ação do terceiro setor é, sem dúvida, necessária, principalmente porque busca o emprego e a renda como meios fundamentais de atendimento social. Entende-se que o trabalho não só gera bens e serviços imprescindíveis à nossa sobrevivência, como também, faz com que o ser humano sinta-se aproveitado e realizado nos seus mais diversos aspectos. É o trabalho que dignifica e conduz à realização pessoal, despertando ser humano estímulo e prazer pela vida.

A assistência por si só jamais despertará tais valores, pelo contrário, pode concorrer sefor assistencialista, para o esvaziamento da iniciativa e, da determinação em buscar a independência econômica. Além disto, a falta de trabalho suprime a criatividade e o desenvolvimento das potencialidades profissionais, assim como o interesse pela busca de algo produtivo e construtivo.

Responsabilidade social

Responsabilidade social é «o grau em que os administradores de uma organização

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realizam atividades que protejam e melhorem a sociedade, além do exigido para atender aos interesses econômicos e técnicos da organização” (BATISTA, 2000 apudVIEIRA, 2004, p. 27). Para o setor empresarial, pode ser considerada como o mais novo, veiculo de comunicação, entre o público interno e externo que, direta e indiretamente, a ela está ligada.

A principal alteração percebida nas escolas em sua gestão diz respeito a sua conscientização sobre a realidade social e a adoção do principio de cidadania. Para Srour(1998) esta perspectiva da responsabilidade, não mais individual de cada, mas coletiva, precisa ser ligada por intermédio dos processos educativos de que a associação social dispõe, para manter e preservar a sua cultura.Esse acordar vem se tornando um agente de renovação e transformação das relações na cultura, no quadro funcional. Em efeito, também uma mudança social.

A responsabilidade social pode ser vista como um indutor na origem de um movimento em que as pessoas se preparampara realizar um trabalho pelo bem estar social da comunidade, isso se confirma de acordo com Wissman (2007).

As demais instituições sociais necessitam levar a efeito políticas que possibilitem a difusão dos conceitos e práticas essenciaisà Responsabilidade Social. Mantendo coerência entre seu discurso e suas práticas. Isto é possível em todas as interesses educacionais: família, escola, organizações do chamado terceiro setor (fundações, associações, religiões, sindicatos e partidos políticos). Este princípio, tão pouco exercitado, necessita ser resgatado, pois a ética é à base da responsabilidade e se expressa através dos valores adotados por cada pessoa ou instituição.

A escola deve avançar suas discussões para além dos lápis, gizes, papel e métodos artificiais por medidas dos quais professores tentam ensinar alunos, devendo primar,prioritariamente, na formação e atuação de um sujeito libertado, com captação do seu papel e compromisso social.

Para a escola, deve ainda, possibilitar espaço de articulação com ofato existencial dos envolvidos, pelas interações sociais, pelo diálogo entre as pessoas, pelos desafios, pelas experiências ricas e diversificadas, questionamento, pela descoberta, acesso à cultura, fonte da apropriação das qualidades humanas, como lembra Vygotsky (1998). Ainda, a escola enquanto espaço de formação, precisa estabelecer estratégias mediadoras que se façam acontecer com criticidade e com comprometimento, e o projeto deResponsabilidade social pode ser uma das ações que se permitem acontecer na escola.

Mesmo tendo a escola enquanto espaço de formação humana, muitas vezes, o próprio processo de produção do conhecimento que vem sendo processado na escola precisa de algumas mudanças, pois o conhecimento não deve apenas servir para a utilidade do mercado e do consumo, tampouco enquanto enquadramento intelectual, mas, sem dúvida, que sirva para a evolução humana, ou seja, para ampliação intelectual do indivíduo, pessoas, e de suas ações em qualquer situação ou experiência de sua vida.

Além da escola, atualmente as demais instituições sociais necessitam levar a efeito políticas que possibilitem a difusão dos conceitos e práticas inerentes à Responsabilidade

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Social.

A AÇÃO NA ESCOLA IDA BERTEOTTI Neste tópicos são descritas as diferentes etapas desenvolvidas neste trabalho, de

forma consoante aos objetivos propostos.

A IDENTIFICAÇÃO DAS NECESSIDADES DA ESCOLAApós entrevista com a diretora foi diagnosticado as seguintes necessidades na

escola vinculadas aos aspectos relacionados ao ambiente interno da escola: a sua carência na infraestrutura e materiais de higiene pessoal, poucos profissionais trabalhando na instituição, por ser amparado através de algumas parcerias de órgãos governamentais e empresas da cidade que disponibiliza doações, o que muitas vezes inviabiliza as melhorias na escola e a divulgação das suas ações, campanhas junto a falta de mantimentos básicos para o ambiente escolar.

Dentre as diversas necessidades, o grupo responsável por este projeto resolveu focar em um problema relatado pela diretora, o qual é bastante pertinente por ser relacionado a saúde e está sofrendo constante atenção da sociedade. Tal necessidade refere-se à prevenção da gripe, que prevenindo pode ser evitada e não levar ao agravamento até ao óbito.Para contribuir no suprimento das necessidades da escola, o grupo realizou uma campanha para arrecadação de mantimentos como: álcool gel, papel toalha, papel higiênico e lenços umedecidos; foi realizada a confecção de um folder explicativo sobre a escola e suas necessidades para melhor prevenir as crianças de se protegerem da gripe, assim contribuindo com materiais de higiene pessoal. Esse material de divulgação contribuiu para tornar mais visível à divulgação da campanha junto ao ambiente do curso de administração da FAPAS.

Também foi realizada a montagem de uma cartilha explicativa com algumas dicas de prevenção da gripe,na qual os alunos pintaram os desenhos explicativos relacionados ao tema do trabalho para o melhor entendimento das crianças e assim transmitir recomendações gerais de prevenção a gripe entre elas, fazer frequentemente a higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel; utilizar lenços ou panos para higiene nasal; cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir; evitar tocar mucosas no olhos, nariz e boca; higienizar, lavar, as mãos após tossir ou espirrar; não dividir objetos de uso pessoal com os demais colegas, como toalhas, talheres e copos; tomar banho de sol nos horários recomendados pelos professores; entre outras recomendações e junto foi realizada a entrega dos mantimentos arrecado pela campanha em kits para as crianças levarem para suas casas.

A CAMPANHA DE ARRECADAÇÃO DE MATERIAIS DE HIGIENENo que tange a realização da campanha para a arrecadação de materiais de higiene, a

primeiramente, cabe destacar a confecção do material de divulgação da mesma. Considerando

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o curto tempo para execuçãoda campanha, desenvolveram-secartazes e folders explicativos, os quais foram distribuídos nas salas de aulas do Curso de Administração da FAPAS, com o intento de convidar professores e alunos para participar com doações de álcool gel 70º, papel higiênico e papel toalha, principais itens solicitados pela diretora da Escola. A Figura 1 ilustra o folder da campanha e a foto da caixa com a arrecadação realizada.

Figura 1 - Folder da campanha e caixa de arrecadação

Fonte: acervo dos autores.

A campanha ocorreu entre os dias 30 de maio e 06 de junho de 2016. A Figura 2 demonstra os materiais que foram arrecadados, bem como os kits que foram organizados pelo grupo de acadêmicos responsável pelo projeto.

Figura 2 – Materiais de higiene arrecadados e kits de higiene

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Fonte: acervo dos autores.

O material recolhido com a campanha foi entregue no dia 09 de junho de 2016 na Escola, mesmo dia em que foi desenvolvida uma atividade/oficina sobre a prevenção da gripe, relatada em um tópico a seguir, com os alunos de uma das turmas da instituição, auxiliando os mesmo a utilização do álcool em gel e orientando-os em praticas que são de hábitos do dia a dia que podem ser praticadas e assim contribuindo para a inexistência da gripe no ambiente coletivo da escola.

OFICINA SOBRE A PREVENÇÃO DA GRIPE PARA OS ALUNOS DA ESCOLAA oficina proposta foi realizada no dia 09 de junho de 2016 pela parte da manhã, em

uma sala de aula da escola, na qual estavam presentes a professora da turma e 17 alunos da faixa etária de 4 (quatro) a 6 (seis) anos de idade. Durante a atividade, foram abordados, de forma informal, assuntos relacionados a prevenção da gripe, na qual foi destacada aimportância da higiene pessoaldos alunos, a necessidade de comer frutas com vitaminas “C”, os cuidados com espirros e tosses, os cuidados com sintomas como a falta de apetite, as dores musculares e a tosse, a importância de tomar sol, de lavar bem as mãos. A Figura 3 ilustra tal iniciativa.

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Figura 3 –Atividade/oficina com uma das turmas da Escola

Fonte: acervo dos autores.

Nesse momento, ocorreu uma interação com os alunos, por meio da disponibilização de alguns desenhos para colorir, conforme mostra a Figura 4. As imagens, com personagens famosos, de fácil reconhecimento das crianças, ilustravam dicas sobre cuidados básicos com a saúde, especificamente em relação a gripe, formando uma cartilha.

Figura 4 – Cartilha entregue aos alunos

Fonte: acervo dos autores.

Para finalizar a inserção foi distribuído umkit contendo 1 (um)mini álcool gel e 1 (um) pacote de lencinhos para cada aluno, como ilustra a Figura 5. Com esse conjunto de ações, esperava-se reforçar a compreensão das criançassobre a importância de alguns cuidados simples e necessários, a partir de boas práticas de higiene pessoal, para prevenir a gripe. Relacionando com a cartilha, a intenção era de que os alunos mostrassem o trabalho para

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os pais, disseminando para a família o que foi aprendido na escola, instigando aos mesmos a participarem mais das atividades abordadas em sala de aula e assim atenta-los as precauções simples que pode ser feita para evitar o vírus da gripe.

Figura 5 - Crianças colorindo a cartilha e recebendo o kit

Fonte: acervo dos autores.

Esta foi a ação na qual o projeto envolveu e interagiu diretamente com as crianças da Escola. Conforme já mencionado, nesta oportunidade foram entregues as doações de materiais de higiene para uso dos alunos e da Escola como um todo.

CONSIDERAÇÕES FINAISDurante a realização do trabalho na Escola de Educação Infantil Ida Berteotti focou-se

na consecução de ações relacionadas a prevenção da gripe. Tal enfoque foi estabelecido pois, ao visitar a Escola e dialogar com a diretora da mesma, houve a sinalização de que tal aspecto era uma grande necessidade, principalmente devido a época do ano.

Apesar dos acadêmicos desenvolvedores deste projeto não serem da área da saúde, buscou-se levar uma contribuição básica, principalmente a partir de uma campanha para arrecadar materiais de higiene, os quais a Escola possuía um baixo estoque, e de uma interação com uma das turmas da instituição.

Assim, além dos subsídios materiais fornecidos, parece que a realização deste trabalho também auxiliou no reconhecimento, por parte das crianças, de hábitos basilares de higiene pessoal, principalmente no que diz respeito a prevenção da gripe. Espera-se que elas também passem a disseminar e influenciar seus familiares sobre a importância do que aprenderam.

Por fim, cabe ressaltar que com a realização deste projeto promoveu-se uma interação essencial, a da faculdade com a sociedade. Ainda, os acadêmicos tiveram contato com uma organização de estrutura diferenciada, do terceiro setor, mantida por uma obra social, e

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reconheceram, entre outras, a importância do trabalho voluntário para a ação social.

REFERÊNCIAS

D’URSO, L. F. B. Cartilha do Terceiro Setor. Disponível em: http://www.amarribo.org.br/. Acesso em: 08 de Abril de 2016.

HUDSON, M. Administração organizações do terceiro setor - o desabafo de administrar sem receita. São Paulo: Makron Books, 2004.

IBGE/IPEA. As Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.

PIMENTA, S. M.; SARAIVA, L. A. S.; CORRÊA, M. L. Terceiro Setor: Dilemas e Polêmicas. São Paulo: Saraiva, 2006.

ROTHGIESSER, T.L. Sociedade Civil. A sociedade civil brasileira e o terceiro setor. São Paulo, 2004.

SROUR, R. H. Poder, cultura e ética nas organizações. 2.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

VIEIRA, B. S. Responsabilidade Social no Contexto da Empresa Trombim Embalagens Ltda. — Unidade de Fraiburgo. 2004. Trabalho de Conclusão de Curso (Serviço Social). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2004.

VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

WISSMANN, M. A. Responsabilidade Social & Balanço Social. 1. ed. Cascavel: Univel, 2007.

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Revisitando o lugar e o tempo da sala de aula de literatura e língua inglesa em uma escola

pública

Tainara Lemos PachecoAdriana Claudia Martins

RESUMOComo objetivo geral, este estudo busca trazer e discutir os dados obtidos a partir de um questionário de sondagem com estudantes em uma turma composta por 21 alunos do oitavo ano do Ensino Fun-damental de uma escola da rede pública Municipal de Santa Maria, RS e de uma entrevistada com sua professora regente, além disso, corroborou para este ensaio a experiência na disciplina de Estágio Su-pervisionado em Língua e Literatura Inglesa III,. Como objetivo específico este ensaio visa responder à pergunta: Como o estudante de Língua Inglesa da escola pública de Ensino Fundamental compreende e significa o ensino da Literatura e Língua Inglesa na sua sala de aula?.Entendemos que ao conhecermos nossos educandos e o contexto da sala de aula, professor e demandas, nos apropriamos do conheci-mento e temos a oportunidade de nos tornarmos melhores profissionais, mais cientes, pesquisadores do lugar e tempo da sala de aula e, ainda, mais simples e menos arrogantes.

Palavras-chave: Ensino e aprendizagem. Literatura e Língua Inglesa. Sondagem. Prática docente.

À GUISA DE UMA INTRODUÇÃOLevando-se em consideração as experiências prévias enquanto professora de Língua

Inglesa em formação inicial e professora Supervisora de EstágioSupervisionado em Língua e Literatura Inglesa III, observa-se que muitas pessoas estudam uma língua adicional com objetivos diversos, os quais incluem práticas profissionais, como por exemplo, oportunidades de estudo, emprego, intercâmbio ou com ênfase em leitura de gêneros acadêmicos (artigos, resenhas, resumos, etc); ou ainda, relacionados ao lazer, como por exemplo, viagens, leitura de diversos textos, compreensão de músicas, acesso à jogos e filmes, expansão de sua rede de contatos e amizades, entre outros.

Não se desconsidera, diminui ou nega a importância e∕ou relevância desses objetivos, no entanto, entendemos nosso papel social como algo maior, que pode ultrapassar os objetivos imediatos dos aprendizes. Enquanto professoras, portanto, buscamos estar conscientes do tempo e espaço de atuação, ensinamos a fim de (trans)formar, entendemos que nossos educandos devem ser críticos, isto é, seres que criam e que realizam uma apropriação consciente da língua.

Ao produzirmos sentido em uma língua adicional, desenvolvemos a capacidade de circular por diversas práticas sociais, as quais implicam diferentes contextos. Assim, é preciso ensinar aos nossos aprendizes sobre a natureza multifuncional da língua, em outras palavras, é

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preciso ensinar que a língua desempenha diversas funções. De acordo com Halliday (2014, p.34) são valores contextuais que “influenciam escolhas linguísticas, que também são influenciadas pelos valores.”

Assim, de acordo com o contexto que estamos inseridos, devemos alterar nosso registro de fala a fim de nos adequarmos, portanto, diferentes contextos implicam em diferentes escolhas linguísticas. Podemos pensar em uma situação real de uso da língua que exemplifica essa necessidade de alteração do registro de acordo com seu contexto. O gênero Entrevista de emprego é uma prática social que envolve determinados participantes e circunstâncias, como por exemplo, entrevistador e entrevistado em uma empresa. Se considerarmos que essa prática é realizada em um contexto de situação formal, os participantes envolvidos deverão modificar seu registro e fazer escolhas linguísticas formais, ou seja, evitarão o uso de gírias, palavras de baixo calão, piadas, entre outros. Dessa forma, os participantes realizam um uso consciente e adequado da língua de acordo com o contexto que estão inseridos. A capacidade de reconhecer os diferentes gêneros textuais e contextos e utilizar a língua de forma consciente são letramentos que o(a) professor(a) de língua adicional deve desenvolver.

Com vistas neste contexto de discussão, significamos a escola como o lugar em que esse agente transformador torna-se responsável pela [trans]formação do aprendiz, não como algo fixo e acabado, pois ‘formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas’ (FREIRE, 1996. p. 9). Assim, entendemos que formar seja, na direção de tornar esse aprendiz apto a circular pelas diversas práticas sociais via linguagem, mais especificamente, via Literatura e Língua Inglesa.

Ao assumirmos esta tarefa necessária à prática pedagógica, no entanto, identificamos dificuldades, pois, trabalhar com linguagem demanda estudo, pesquisa, conhecimento técnico e persistência por parte do(a) professor(a), o que implica em uma formação crítica, humanizadora e continuada. Há, um preço alto a se pagar por essa prerrogativa, que é o longo e pesado investimento que precisa ser feito para formar um professor de línguas estrangeiras. Sem esse investimento não se obtém um profissional dentro do perfil que se deseja: reflexivo, crítico e comprometido com a educação. (LEFFA, 2008. p.354) .

Outro aspecto que merece atenção neste lugar é a capacidade de olhar, pensar e refletir sobre si mesmo e sobre o outro, levando em conta outras possibilidades de realidade. Logo, acreditamos na necessidade de desconstrução do etnocentrismo. De acordo com (OLIVEIRA, 2012), “se os estudantes acreditarem que seus valores são os valores de todos, eles tendem a julgar negativamente os indivíduos e grupos que possuem valores e práticas culturais distintos dos seus.” Conclui-se, então que ao ensinarmos uma língua adicional é preciso expor ao aprendiz a cultura do outro, a fim de fazê-lo ponderar, apontar, considerar e discutir sobre as diferenças e similaridades em relação à sua.

Ao promover essa desconstrução do etnocentrismo junto ao estudante, permitindo-o questionar e ser questionado, o(a) professor(a) contribui para o posicionamento crítico do seu aprendiz enquanto ser que age no mundo e estabelece relações. Ao incentivar esse movimento reflexivo junto ao corpo discente é possível transformar este aprendiz em alguém

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capaz de evitar a manipulação e o domínio pelo outro, mas principalmente, é possível [trans]formá-lo em alguém que olhe para o outro como gente que também sente e que também age no mundo e, a partir disso não queira ser manipulador ou dominador.

Esse é um momento de troca entre mestre e pupilos, onde o mestre toca seus aprendizes e é tocado por eles. Sua voz não compete com a do seu aprendiz, pelo contrário, são vozes que se somam e juntas chegam ao produto final: o conhecimento. A sala de aula não é lugar para silêncio absoluto e passividade por parte daquele que aprende, “pelo contrário, nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo.” (FREIRE, 2016. p 13)

O professor em formação ou o professor recém formado possui, talvez, ainda, um olhar inocente, o olhar de quem (ainda) não pertence àquele tempo, espaço e história. Quando inserido nesse espaço [trans]formador, a escola, o(a) professor(a) sofre a influência desse lugar e desenvolve um novo olhar. Ao se aproximar e se tornar parte dessa realidade, o olhar que antes ignorava torna-se atento, crítico e questionador.

O contexto da escola e da sala de aula são as lentes que o(a) professor(a) coloca em si e passa a enxergar e entender a realidade à sua volta sob outra perspectiva. A partir dessa nova perspectiva nasce a possibilidade e/ou capacidade de provocar a mudança, mesmo que apenas em si. É a partir do estágio que nos questionamos em relação à esse espaço, à prática docente do(a) professor(a) regente, ao aprendiz e suas necessidades, ao diálogo entre teoria e prática e à nossa prática enquanto professores(as) em formação.

Como objetivo geral, este estudo busca trazer e discutir os dados obtidos do questionário e entrevista e a partir da experiência na disciplina de Estágio Supervisionado em Língua e Literatura Inglesa III, em uma turma composta por estudantes do oitavo ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública Municipal de Santa Maria, RS. Buscamos também responder à pergunta: Como o estudante de Língua Inglesa da escola pública de Ensino Fundamental compreende e significa o ensino da Literatura e Língua Inglesa na sua sala de aula?

O TEMPO E O LUGAR DA SALA DE AULA À LUZ DA FORMAÇÃO DE PROFIS-SIONAIS DO ENSINO

A elaboração de uma proposta de estágio de regência inicia-se com a observação da turma e com a sondagem acerca das necessidades emergentes dos educandos. Neste sentido, o lugar da sala de aula e o tempo destinado à aula nos importa nesta reflexão. Entendemos que precisamos estar em consonância com o desejo do outro com o qual tentamos estabelecer uma relação dialógica, em geral o(a) professor(a) da escola, o orientador de estágio e o estagiário, buscando que as aulas façam sentido na vida de todos os envolvidos. Para Freire (2016, p.25), não “há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.

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Nesta perspectiva de Freire, também Bakhtin e de seu Círculo, entendem que o sujeito constitui-se no espaço e no tempo em que vive, por meio das interações sociais que estabelece. Neste sentido, remetemo-nos à formação de professores para este lugar e tempo da escola pública, neste ensaio nos voltamos ao ensino e aprendizagem da Literatura e Língua Inglesa que depende de um professor graduado, consciente de seu fazer.

A seguir, exemplificamos sobre o processo formativo de profissionais que atuam em nossa sociedade, a fim de chamar a atenção para a importância da formação, especialmente, formação de professores. Segundo Celani, os “professores são obrigatoriamente pessoas com formação acadêmica” (2008, p.26). Então, ir regularmente a consultas odontológicas, evitar comer doces e manter uma boa higiene bucal escovando os dentes após as refeições não são condições suficientes para tornar alguém um dentista. Da mesma forma, falar, ouvir, escrever ou ler em outra língua não são condições suficientes para tornar alguém um professor. Se uma pessoa deseja ensinar Inglês é imprescindível que busque uma formação de nível superior, pois “há padrões claramente definidos para a admissão na profissão: possuir um diploma reconhecido de Licenciatura.” (CELANI, 2008, p.34).

Há instituições privadas, como cursos de idiomas, que admitem pessoas sem formação especializada para dar aulas. O critério de admissão estabelecido por essas instituições é o domínio da habilidade oral, isto é, desde que alguém consiga se comunicar oralmente, está apto a dar aulas. No entanto, se acreditarmos que para ensinar uma língua basta se comunicar através da fala, concluiremos que qualquer brasileiro está apto a dar aulas de Língua Portuguesa.

Um(a) professor(a) de línguas precisa dar conta do seu objeto de ensino e explorá-lo de maneira eficiente, consciente, crítica e reflexiva. Caso contrário, não se tem um professor, e sim um treinador, ou seja, um mero reprodutor de técnicas, que não significa e não embasa teoricamente sua prática, sendo esta, portanto, intuitiva. Neste viés, entendemos que o fazer docente é uma atividade especializada. Para Leffa (2008,p.355) “formação é diferente: busca a reflexão e o motivo por que uma ação é feita da maneira que é feita. Há, assim, uma preocupação com o embasamento teórico que subjaz à atividade do professor. Enquanto que o treinamento limita-se ao aqui e agora, a formação olha além.”

Chamamos esse movimento de deslocamento reflexivo. “A reflexão, no contexto educacional, envolve a substituição do conhecimento pedagógico por perguntas que decorrem da prática pedagógica.” (CELANI, 2002.p 25). Aquele que chega e ali permanece é capaz de tornar-se um agente transformador também, pois é capaz de questionar o dado, oferecer o novo e intervir, trazendo para dentro da sala de aula a criticidade, elemento fundamental àquele que assume-se responsável pelo aprendiz. “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática” (FREIRE, 2016. p 40)

O ato de ensinar deve ser assumido de maneira responsável, pois “há outros elementos em jogo. Estamos atuando na área do desenvolvimento de valores, de posicionamento na sociedade, no mundo. Estamos atuando na área da preparação para a vida. Há muito mais envolvido do que a simples prestação de um serviço, que é remunerado.” (CELANI, 2008. p.30).

Assumindo-se professor(a) e tendo ciência sobre sua responsabilidade social enquanto educador(a), ‘uma vez que tomo como pressuposto que todo professor é ao mesmo tempo

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educador” (CELANI, 2008. p.26), esse agente transformador precisa estar disposto a estudar e se atualizar de forma regular, pois, o treinamento tem um princípio, uma fase intrmediária, um fim, contudo, a formação não é assim. Ela é contínua e está sempre envolta no processo constitutivo do profissional.

Logo, um profissional de línguas precisa estar em constante movimento de busca pelo novo, pois seu objeto de ensino, a língua, é similar a um ser vivo: transitório e mutável. Dessa forma, “um professor que trabalha com um produto extremamente perecível como o conhecimento, tem a obrigação de estar sempre atualizado” (LEFFA, 2008. p 357).

METODOLOGIACom o intuito de conduzir esse estudo e responder à questão norteadora: Como o

estudante de Língua Inglesa da escola pública de Ensino Fundamental compreende e significa o ensino da Literatura e Língua Inglesa na sua sala de aula?,foi considerado nesta reflexão um questionário¹, o qual foi elaborado a fim de fazer uma sondagem em relação à realidade, contexto sociocultural e perfil de uma turma composta por 21 estudantes.

Buscamos identificar as necessidades dos educandos, suas expectativas e concepções em relação à disciplina da Literatura e Língua Inglesa na sala de aula, situações reais de uso da língua e da cultura, recursos tecnológicos utilizados, entre outros. Também consideramos e elaboramos uma entrevista² com sete perguntas para ser respondida pela professora regente da turma, a fim de nos aproximarmos, compreendermos sua prática e estabelecermos um diálogo.

Esse questionário foi composto por dez perguntas, seis fechadas e quatro abertas. Os vinte e um estudantes presentes, sendo 9 meninas e 12 meninos, entre 12 e 15 anos, foram convidados a responder ao questionário em uma aula no período inicial do estágio. Após serem respondidos, os questionários foram recolhidos para fins de análise e de levantamento de dados. Nesta perspectiva de conhecer a realidade da turma e se aproximar desse espaço, a fim de dialogarmos com a necessidade e interesses dos educandos durante a regência, consideramos os resultados na proposta e planejamento de estágio.

Na interação entre os sujeitos, ao serem mencionadas as ideias e pensamentos de uns e de outros, ao serem ouvidos por uns e outros, vão se revelando para o outro e com o outro. Bakhtin (2010, p. 341) garante-nos que “os atos mais importantes, que compõem a autoconsciência, são determinados pela relação com outra consciência (com o tu)”. Neste sentido, a pesquisa que busca considerar as necessidades dos educandos é uma possibilidade de escuta do outro e de reconhecimento. Os dados ao serem considerados trazem a historicidade desses sujeitos e são documentos e concretude de lugar e tempo, neste caso, a sala de aula e as demandas que tangenciam o ensinar e aprender.

O documento escrito e assinalado pelos estudantes e a narrativa da docente são dados, que para Bakhtin (2010, p.319) trazem a realidade que deve ser considerada, por “toda parte há o texto real ou eventual e a sua compreensão. A investigação se torna interrogação

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e conversa, isto é, diálogo”. Assim, também é nosso objetivo tentar estabelecer uma relação dialógica entre estudantes e professores envolvidos com a disciplina de Literatura e Língua Inglesa e que todos possam aprender nessa comutação de tempos e lugares.

RESULTADO E DISCUSSÃO DOS DADOSDentre as dez perguntas do questionário, em função da limitação de espaço e a fim

de provocar futuras discussões, consideramos para fins de análise e levantamento de dados as perguntas fechadas, ou seja, as perguntas (1),(3),(5),(6),(7) e (8). Esses dados são elementos importantes, pois orientam o trabalho do(a) professor(a). O professor não deve limitar-se apenas ao que o aprendiz deseja aprender, porém, deve considerar seus os interesses manifestados, tornando o ensino e a aprendizagem de Língua Inglesa processos significativos.

Do total de 21 estudantes ouvidos, no que tange à primeira questão, apenas (1) informou que parou de estudar por razões pessoais, os demais informaram que nunca pararam de estudar. O dado confere ao que relatamos na metodologia quando da idade dos estudantes, isto é, não há grande disparidade neste sentido e podemos dizer que é uma turma de alunos regulares.

Quando perguntados em que situações usam a Língua Inglesa, no que confere à terceira questão, (6) alunos informaram que utilizam a língua para escrever textos; (11) utilizam-na para ler textos; (14) para comunicar-se/navegar na internet; (16) para escutar música; (14) para assistir filmes e seriados; (10) para trabalho/estudo; (4) para fazer amigos; (9) para viajar para um país estrangeiro e (12) para jogar videogame. No que tange à terceira questão, constatou-se que os estudantes reconhecem a importância de aprender a Língua Inglesa e relacionam seu uso à contextos específicos: profissional e cotidiano. Em outras palavras, admitem que o ensino e a aprendizagem de Inglês enquanto língua adicional são processos significativos, e influenciam suas vidas tanto no âmbito cotidiano, bem como no âmbito profissional. Logo, a partir desses dados, o(a) professor(a) pode direcionar sua prática em sala de aula utilizando-se de diversos gêneros: entrevista de emprego, perfil em rede social, jogos online, música, entre outros.

Em relação à quinta questão, no que diz respeito à dificuldade de aprender inglês na escola, do total de 21 estudantes, apenas (8) informaram que não houve dificuldade em aprender inglês na escola. (13) informaram que houve dificuldade de aprendizagem e apontaram as razões: (1) estudante relatou que sua dificuldade se deve à metodologia dos professores; (6) atrelaram a dificuldade ao seu pouco conhecimento como aluno; (1) apontou a pequena carga horária da disciplina de inglês; (4) falta de motivação; (2) falta de contexto imediato para aplicabilidade do uso da língua; (1) assinalou a opção ‘Outras dificuldades’ e informou ter dificuldade com os nomes das palavras’, o que acreditamos estar atrelado ao seu pouco conhecimento como aluno.

Quando questionados em relação a quais recursos tecnológicos têm acesso no dia a dia, (18) estudantes informaram ter acesso ao computador e (21) ao celular; (8) ao tablet; (12) ao videogame e, apenas um aluno assinalou a opção ‘Outros’ e acrescentou: ‘Televisão’.

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Na questão seguinte, perguntamos se os estudantes têm acesso à internet no dia-a-dia e foram obtidas 21 respostas afirmativas. Na última pergunta que consideramos para análise, (9) informaram que utilizam chat como ferramenta digital para se comunicar; (6) email; (9) Skype; (19) Facebook; (7) Twitter; (21) Whatsapp e (1) assinalou a alternativa ‘Outra’ e indicou ‘Snapchat’.

Neste sentido, ao identificar-se que todos os estudantes têm acesso à internet e a maioria têm acesso a mídias digitais, como redes sociais, o(a) professor(a), a partir disso, pode pensar e elaborar atividades que saiam do espaço concreto, a sala de aula, e se realizem no espaço virtual. Essas ferramentas digitais permitem uma aproximação com a realidade do estudante e tornam o ensino e a aprendizagem da língua mais significativas. As condições devem ser acordadas entre a professora e a turma para que juntos realizem um trabalho conjunto e colaborativo. Tomemos por exemplo a seguinte situação. Se todos os estudantes possuem celular e têm acesso ao aplicativo Whatsapp, pode-se utilizar essa mídia com a proposta de criação de um grupo fechado da turma com a professora. Os objetivos devem ser negociados para que o trabalho seja conduzido de maneira séria e comprometida.

Assim, este espaço pode servir para trocar informações sobre avaliações e trabalhos; propor atividades orais, onde o estudante deve mandar uma mensagem de áudio para um colega; explorar a habilidade escrita propondo aos estudantes que escrevam as mensagens em inglês; explorar o vocabulário utilizado no contexto virtual; dentre outros. O importante é que a proposta seja encarada com seriedade por ambas as partes e que ao final a atividade tenha sido significativa à aprendizagem, isto é, que os alunos reconheçam e signifiquem o uso da Língua Inglesa de maneira eficaz e real.

Conforme citado anteriormente, além do questionário, consideramos como instrumento de sondagem e análise uma entrevista com a professora regente da turma. A entrevista foi entregue à professora, respondida e recolhida a fim de fazer o levantamento dos dados. No que tange à primeira questão, conseguimos identificar a formação da regente: Graduação em Letras Português∕Inglês e ainda, uma especialização em Literatura. Chamamos a atenção para esse dado, pois, conforme discutido anteriormente, defendemos a formação especializada do professor de língua adicional. No que diz respeito à especialização, ou seja, a formação continuada, a professora não informou há quanto tempo realizou-a. Novamente trazemos à discussão a importância da formação continuada de forma regular, ou seja, a busca do conhecimento como um dever. Conforme dito anteriormente, o conhecimento é perecível e o professor tem o dever de manter-se um pesquisador da sua prática.

Na segunda questão, a professora informou que sua carga horária semanal corresponde à 50h. Para cumpri-la, ela distribui 30 horas da sua jornada de trabalho na rede pública Estadual e 20 horas na rede pública Municipal. A partir desse dado podemos chamar a atenção para um fator que dificulta o acesso do professor à pós-graduação: a alta carga horária de trabalho. Conforme relatado pela professora, ela precisa se deslocar à duas escolas diferentes para realizar as 50h semanais. Assim, nos questionamos se essa professora teria condições de continuar buscando o conhecimento e se há flexibilidade por parte das escolas para que ela possa continuar estudando.

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No que diz respeito ao seu tempo de experiência profissional, a regente informou 27 anos de experiência na rede pública Estadual e 18 anos na rede pública Municipal, isto é, é uma professora experiente, já inserida no contexto da escola e consciente do seu tempo e espaço.

Quando perguntada sobre sua proposta pedagógica, obtemos o seguinte: ‘Procuro trabalhar de maneira bem acessível, intercalando inglês e português nas aulas. Seguimos também os planos. De acordo com sua fala, podemos concluir que ela compreende a importância de facilitar a aprendizagem de seus alunos, uma vez que reconhece que, se falasse sempre em Inglês, seus alunos pouco compreenderiam, oque seria uma barreira para a condução da aula. Dessa forma, sua fala vai ao encontro do pensamento Freiriano, ou seja, ela não transfere conhecimento, facilita-o.

Para fins de registro das aulas, a professora utiliza planos de aula e cadernos de chamada. Compreendemos a importância de preparar planos de aula, pois esta é uma ferramenta que organiza o trabalho do professor em sala de aula. No entanto, acreditamos que esse instrumento não precisa ser seguido rigorosamente, pois se levarmos em conta que o professor trabalha diretamente com pessoas, devemos considerar a possibilidade de imprevistos, dúvidas, interferências, dificuldades, entre outros. Esses fatores podem interferir no andamento das atividades. Assim, o plano de aula é um gênero questionável e mutável, ou seja, pode ser adaptado e readaptado conforme as necessidades dos participantes envolvidos no processo de ensino∕aprendizagem.

Em relação à penúltima pergunta, a professora informou Nós fizemos a escolha dos livros didáticos a cada 3 anos, mas nem sempre o que é escolhido é o que recebemos. A escola que a professora atua está vinculada ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o qual objetiva auxiliar a prática pedagógica dos professores fornecendo livros didáticos aos alunos da educação básica. Logo, a cada três anos a escola recebe livros didáticos e os professores escolhem o livro com o qual desejam trabalhar. No entanto, de acordo com a fala da professora, percebe-se que nem sempre a escolha do professor é levada em consideração.

Da mesma maneira como o plano de aula é uma ferramenta de orientação, o livro didático também tem como função auxiliar o professor na condução das atividades em sala de aula. Todavia, chamamos a atenção para a criticidade em relação ao uso desse material pedagógico por parte do(a) professor(a). O(a) professor(a) deve utilizá-lo de maneira consciente e crítica, isto é, adaptando-o sempre que necessário e explorando os sentidos ( não) explícitos nos textos e atividades.

Identificamos que o livro didático de inglês não é um gênero inquestionável, pelo contrário, o(a) professor(a) crítico traz aos alunos todas as possibilidades de leitura que há e as questiona, provocando em seus alunos alteração do seu olhar inocente perante o dado, tornando-o atento, crítico e reflexivo. Ainda, consideramos o livro didático apenas uma possibilidade em termos de material pedagógico, não a única. De acordo com a fala da regente, além do livro didático de inglês, ela também utiliza filmes e pesquisas na internet como ferramentas de ensino.

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À GUISA DE UMA CONCLUSÃOAinda que estejamos no movimento de fechar este ensaio, colocamo-nos em processo

formativo, elaborando, contínuas na escuta dos estudantes da escola pública, no diálogo com o professor da escola, no reconhecimento de nós mesmas como parte deste universo cultural. Então, retomamos o objetivo deste ensaio, a partir da explicação de Leffa (2008, p. 361), quando postula que a “formação de um verdadeiro profissional - reflexivo, crítico, confiável e capaz de demonstrar competência e segurança no que faz - é um trabalho de muitos anos, que apenas inicia quando o aluno sai da universidade”.

Assim, entendemos que a formação continua ao longo da docência, para além da formação inicial, pois, ser um professor pesquisador, que olha sua aula e pesquisa para saber quem são seus estudantes, demanda, além da formação, a consciência do lugar e tempo de ensinar na escola pública. Logo, a preocupação constante da profissão de ser professor de Literatura e Língua Inglesa. Um profissional que se organiza a partir da realidade, das demandas, ciente de que o conhecimento evolui. Leffa (2008, p. 357) nos chama a atenção para nos implicarmos que, o “conhecimento não é apenas o armazenamento de fatos, mas também a reflexão de como esses fatos podem ser obtidos, avaliados e atualizados. Isso é formação”.

Este estudo revelou o contexto da turma e a contextura de suas necessidades. Assim, chama-se a atenção para a importância de fazer uma sondagem com o corpo discente antes de dar início à prática pedagógica. Ao conhecermos os estudantes e expô-los a situações reais de uso da língua, significamos o processo de ensino/aprendizagem e formamos um aluno crítico e consciente.

O verdadeiro professor se compromete com o ato educativo de maneira crítica, significa sua prática e compreende que não depositamos, transferimos ou impomos conhecimento ao aluno, mas sim, facilitamos a troca do saber. Ao nos apropriarmos do conhecimento temos a oportunidade de nos tornarmos gente melhor, mais tolerante, mais justa, mais simples e menos arrogante. “Não nego a competência, por outro lado, de certos arrogantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade que, não diminuindo em nada seu saber, os faria gente melhor. Gente mais gente” (FREIRE, 2016. p143)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. 5ª Ed. São Paulo. Martins Fontes, 2010.

CELANI, M.A.A. Ensino de línguas estrangeiras: ocupação ou profissão? In: LEFFA, Vilson (Org.). O professor de línguas: construindo a profissão. Pelotas: Educat, 2008. p. 21-40

CELANI, M.A.A (org.) Professores e formadores em mudança: relato de um processo de reflexão e transformação da prática docente. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2002 – (Coleção As faces da Lingüística Aplicada) p. 25, 2002.

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FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. ed São Paulo: Paz e Terra, 2016.

HALLIDAY, M. A. K. An Introduction to Functional Grammar. London : Edward Arnold, 2014.

LEFFA, Vilson. Aspectos políticos da formação do professor de línguas estrangeiras. In: LEFFA,Vilson (Org.). O professor de línguas: construindo a profissão. Pelotas: Educat, 2008.

OLIVEIRA, Luciano Amaral. Métodos de ensino de inglês: teorias, práticas, ideologias. São Paulo: Parábola. p.183, 2014.

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ANEXO 1

Questionário de perfil e expectativa

Prezado(a) aluno(a)

Sua opinião é muito importante para um melhor desenvolvimento das nossas aulas de língua inglesa. Por favor, responda de forma atenta e verdadeira para que possamos adequar nossa prática de ensino de acordo suas necessidades.

Desde já agradeço.

Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Idade:

1. Caso você tenha parado de estudar, o que levou você a retomar os estudos?

( ) Emprego

( ) Problemas pessoais (família, dinheiro, problemas de saúde, entre outros)

( ) Motivação pessoal (família, conquista, sonho, realização pessoal, entre outros)

( ) Outros:

( ) Nunca parei de estudar

2. Na sua opinião, qual a importância de aprender Inglês?

3. Em que situações você usa a língua inglesa?

( ) Escrever textos (na sala de aula, formulários, mensagens, entre outros)

( ) Ler textos (textos na sala de aula, notícias, revistas, manuais, mensagens, entre outros)

( ) Comunicar-se/ navegar na internet

( ) Escutar música

( ) Assistir filmes e seriados

( ) Trabalho/estudo (palavras em inglês que você deve aprender para lidar no seu dia-a-dia)

( ) Fazer amigos

( ) Viajar para um país estrangeiro

( ) Jogar videogame

( ) Outra situação:

4. Quais são as suas expectativas com relação à língua inglesa?

5. Você teve tido dificuldade de aprender inglês na escola? Se sim, à que você atribui essas dificuldades?

( ) Ao material didático (livro didático, atividades complementares do professor e xerox).

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( ) A metodologia dos professores (como o professor conduz a aula).

( ) Ao seu pouco conhecimento como aluno.

( ) A pequena carga horária da disciplina de Inglês (poucas horas semanais.)

( ) Falta de motivação.

( )Falta de contexto imediato para aplicabilidade do uso da língua (não reconhecer imediatamente como usar o que aprendeu)

( ) Não tive dificuldades em aprender Inglês na escola

( ) Outras dificuldades:

6. Assinale quais recursos tecnológicos você tem acesso:

( ) Computador

( ) Celular

( ) Tablet

( ) Video Game

( ) Outros

7. Você tem acesso a internet no seu dia-a-dia?

( ) sim

( ) não

8. Se a resposta anterior for sim, quais das seguintes ferramentas digitais você utiliza para se comunicar?

( ) Chat

( ) E-mail

( ) Skype

( ) Facebook

( ) Twitter

( ) Blog

( ) Whatsapp

( ) Outra:

9. O que você mais gosta nas aulas de língua inglesa?

10. O que você gostaria que fosse diferente nas aulas de língua inglesa?

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ANEXO 2Entrevista elaborada para a professora regente da turma

Nome:

1) Qual a sua formação?

2) Qual a sua carga horária de trabalho? (Ex: se trabalha em mais de uma escola; rede pública e/ou privada; outra cidade)

3) Qual o seu tempo de experiência profissional?

4) Qual a sua proposta pedagógica? (O que você acredita enquanto professora de línguas)

5) O quê e como você registra? (ex: plano de aula, chamada)

6) Você tem autonomia para escolher o livro didático?

7) O que mais você utiliza como material pedagógico?

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Suicídios rurais em áreas de produção de tabaco: Um atentado à sustentabilidade

Laila Mayara DrebesNayara Pasqualotto

Bernardo Rodrigues da Silva

RESUMONos últimos anos, a ocorrência de suicídios em áreas rurais vem chamando a atenção dos estudiosos. No Brasil, não é diferente. Apesar de todo o avanço nas discussões sobre sustentabilidade, o estado do Rio Grande do Sul apresenta índices elevados de suicídios entre agricultores familiares, sobretudo em regiões produtoras de tabaco, como é o caso do município de Santa Cruz do Sul. Assim, o estudo teve como objetivo compreender as condicionantes socioeconômicas motivadoras dos suicídios rurais no âmbito do cultivo de tabaco no município de Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica voltada a reunir informações de caráter explicativo convergentes com as características apresentadas pelo município de Santa Cruz do Sul. Embora os sui-cídios rurais sejam multideterminados, para o caso estudado, destacaram-se as seguintes narrativas: o uso indiscriminado de agrotóxicos de alta periculosidade; a inflexibilidade da cultura teuto-brasileira no âmbito do Rio Grande do Sul; a precarização do trabalho na agricultura familiar. Nesse sentido, os suicídios rurais consistem em uma agressão à dimensão social da sustentabilidade.

Palavras-chave: agrotóxicos; germanismo; precarização do trabalho; indústria fumageira; cultura.

INTRODUÇÃODesde seu surgimento, em meados do século XX, a noção de sustentabilidade

vem sendo interiorizada no ideário do desenvolvimento como uma alternativa aos efeitos negativos de cunho econômico, social e ambiental acarretados pelo progresso. Em síntese, essa noção traz à tona as relações conflituosas existentes entre sociedade e natureza em busca do crescimento econômico, considerando o caráter destrutivo do desenvolvimento até então e suas extenuadas estratégias de melhorias.

Com o avanço do século XXI a sustentabilidade tornou-se um assunto recorrente, inclusive nas realidades rurais. Contudo, contrastante com esse cenário de culto à sustentabilidade, chama atenção o crescente número de casos de suicídios vinculados com áreas e atividades rurais. Os estudos acadêmicos evidenciam indícios da ocorrência de suicídios rurais no mundo inteiro, envolvendo nações como Suíça, França, Inglaterra, País de Gales, Suécia, Dinamarca, Escócia, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia, China, Índia, Japão, Sri Lanka, Canadá, Estados Unidos, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Venezuela, entre muitas outras nações (STALLONES, 1990; ZEKERI; WILKINSON, 1995; HAWTON et al., 1998; MALMBERG et al., 1997; PAGE; FRAGAR, 2002; JUDD et al., 2006; SALMONA, 2007; MISHRA, 2008; JACQUES-JOUVENOT; LAPLANTE, 2009; ARIAS; BLANCO, 2010; KONG; ZHANG, 2010; CHANG et al., 2012a; CHANG et al., 2012b; ZHANG; LI, 2012; BOSSARD et al., 2013; JACQUES-

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JOUVENOT, 2013; JIANG et al., 2013; DROZ et al., 2014; SPOLJAR, 2014; WEERASINGHE et al., 2014).

No Brasil, os estudos de Klein (1984), Leal (1992), Heck (1994; 2000; 2004), Santos (2013), Dutra e Roehe (2013), Werlang (2013), Mendes e Werlang (2014; 2015) e Faria et al. (2014a; 2014b) mostram uma realidade similar. Em 2012, aconteceram 11.821 suicídios no Brasil, concebendo um aumento de 10,4% em relação ao registrado no ano de 2000 (WHO, 2014). Em termos de taxa de suicídio, ou seja, número de suicídios em cada 100.000 habitantes, o Ministério da Saúde (MS) indicou 5,32 suicídios entre os brasileiros (MS, 2012).

Nessa nação, os maiores índices de suicídio, inclusive no âmbito da agricultura familiar, encontram-se no estado do Rio Grande do Sul (MENEGHEL et al., 2004; FARIA et al., 2006; WERLANG, 2013). Em 2012, o estado evidenciou uma taxa de 10,94 suicídios, ou seja, aproximadamente, duas vezes a taxa em termos nacionais (MS, 2012). Conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES/RS), no ano de 2013 foram notificados 1.136 suicídios entre os gaúchos (SES/RS, 2013). De acordo com Werlang (2013) no estado do Rio Grande do Sul as taxas suicidas costumam ser maiores em economias sustentadas em atividades rurais, onde o número de habitantes nessas áreas é mais elevado.

Caso característico dessa constatação é a cidade de Santa Cruz do Sul, internacionalmente reconhecida devido ao cultivo do tabaco no âmbito da agricultura familiar. No Brasil e no Rio Grande do Sul, Santa Cruz do Sul é reconhecida através do título de “capital do tabaco”. Nesse contexto, está entre os maiores índices absolutos de suicídio no estado, com 28 suicídios no ano de 2013. Não somente, Santa Cruz do Sul revelou a maior taxa de suicídio nesse ano, com 20,10 mortes (SES/RS, 2013). São duas vezes mais mortes em relação ao Rio Grande do Sul e quatro vezes mais em relação ao Brasil.

Não obstante os índices alarmantes, ainda são raros os estudos dedicados ao entendimento dessa mórbida realidade, sobretudo vinculada com o cultivo do tabaco. Nos termos de Meneghelet al. (2012), em Santa Cruz do Sul parece existir uma “rota de suicídios nos galpões de fumo”. As informações anteriores indicam um intrincado vínculo de vulnerabilidade entre suicídio e ruralidade, sendo o mesmo merecedor de atenção. Embora, recentemente, os casos de suicídios rurais venham ascendendo, esses ainda constituem fenômenos sociais muitas vezes mascarados ou silenciados, até mesmo mitificados.

Por trás desse vácuo teórico existe muito sofrimento: dos suicidas e dos sobreviventes (como são denominados os familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho e outros indivíduos do círculo socioafetivo do suicida). Os suicídios não são somente estatísticas, mas também consistem em um símbolo das consternações vivenciadas nas áreas rurais. Talvez, constituam a mais medonha configuração das misérias desencadeadas das velozes, contínuas e incessantes transformações socioeconômicas incidentes sobre essas áreas, até recentemente idilizadas e reconhecidas como áreas “serenas” e “saudáveis”. Assim sendo, analisar os suicídios rurais - em Santa Cruz do Sul ou em outro cenário - consiste, sobretudo, em estudar sofrimento.

Diante disso, esse estudo visa compreender as condicionantes socioeconômicas motivadoras dos suicídios rurais no âmbito do cultivo de tabaco no município de Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Não obstante, o estudo também é uma denúncia

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da necessidade de intervenções sobre a realidade de sofrimento nas áreas rurais em prol de uma sustentabilidade verdadeira.

BREVE REFERENCIAL TEÓRICO: AGRICULTURA FAMILIAR, SUSTENTABILI-DADE E SUICÍDIOS RURAIS

De acordo com Lamarche (1993), a agricultura familiar consiste na correlação entre os fatores terra, trabalho e família, resultando em uma categoria intricada em termos de reprodução social, que chama a atenção em razão de sua “adaptabilidade” e de sua “heterogeneidade”, definindo uma extensa gama de agricultores como familiares (LAMARCHE, 1993).

No Brasil, ao longo do século XX, os agricultores que atualmente são enquadrados como familiares sofreram intensas transformações em seu modo de viver e de trabalhar nas áreas rurais, muito em virtude da modernização ocorrente na agricultura. Desde o final da década de 1940, com a instituição do serviço de Extensão Rural no Brasil, esses agricultores foram incentivados, através de crédito rural altamente subsidiado, a substituir os insumos utilizados em suas atividades, aderindo ao chamado “pacote tecnológico”. Constituído por máquinas e implementos agrícolas, materiais de irrigação, sementes melhoradas, fertilizantes químicos e agrotóxicos, este pacote tecnológico, que embora tenha incrementado a produção e a produtividade da agricultura, desencadeou uma série de consequências negativas em termos econômicos, sociais e ambientais.

Nesse sentido, entre as décadas de 1960 e 1980, as consequências negativas advindas do uso massivo do pacote tecnológico na agricultura auxiliaram na construção e na disseminação da noção de sustentabilidade nas áreas rurais, que passou a problematizar e a questionar o abandono progressivo da produção agropecuária diversificada, o aumento dos custos da produção agropecuária, a intensificação das desigualdades socioeconômicas entre grupos de agricultores, as alterações na sociabilidade dos habitantes e trabalhadores rurais, o acirramento das lutas sociais no campo, o aumento das migrações rumo a centros urbanos, a degradação dos solos, a contaminação química de recursos naturais e de alimentos, a redução da biodiversidade, os agravos na saúde dos agricultores e de suas famílias, entre outros.

Assim, aplicada às áreas rurais, Caporal e Costabeber (2002, p. 76) sintetizam a noção de sustentabilidade como a “capacidade de um agroecossistema manter-se socioambientalmente produtivo ao longo do tempo”. A primeira vista parece uma noção simples, mas na realidade é um conceito complexo que envolve multidimensões relacionadas entre si e concentradas em níveis de relevância, sendo as dimensões ecológica, econômica e social referente ao primeiro nível; as dimensões cultural e política vinculadas com o segundo nível; e a dimensão ética constituinte do terceiro nível (CAPORAL; COSTABEBER, 2002).

Frente ao exposto, a ocorrência de suicídios nas áreas rurais constituium atentado contra a noção de sustentabilidade, sobretudo em seu primeiro nível, no que diz respeito à dimensão social. Para Caporal e Costabeber (2002), a dimensão social da sustentabilidade relaciona-se com a busca contínua de melhorias na qualidade de vida dos agricultores,

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diminuindo os riscos e os efeitos negativos oriundos do seu modo de vida e de trabalho.

Curiosamente, no livro intitulado “O Suicídio” – considerado o mais famoso estudo sobre a temática -, o sociólogo francês Émile Durkheim, ainda no século XIX, conceituou os suicídios como “todo caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima, e que ela sabia que produziria esse resultado” (DURKHEIM, 2014, p.16). Não obstante, nesse mesmo estudo, Durkheim (2014) caracterizou os suicídios como acontecimentos sociais essencialmente urbanos, renunciando sua ocorrência nas áreas rurais. Para o sociólogo, as áreas rurais eram dotadas de valores sociais diferenciados, criadores de uma proximidade e reciprocidade especial entre os agricultores, a qual denominou de solidariedade mecânica. Assim, na visão de Durkheim (2014), a solidariedade mecânica das áreas rurais criava um cenário sereno e saudável, incompatível com a ocorrência de suicídios. Todavia, já no século XXI, especialmente a partir da década de 1990, os estudos científicos passaram a indicar o contrário, evidenciando o crescimento dos índices de suicídios nas áreas rurais.

Na Inglaterra e no País de Gales, 526 agricultores cometeram suicídio entre 1979 e 1990: mostraram-se como os trabalhadores com maior mortalidade voluntária, superando, inclusive, os médicos, colocados, na sequência, com 152 suicídios. Nesse contexto, os agricultores conceberam 1% das mortes através de suicídio (MALMBERG et al., 1997; BOOTH et al., 2000). Na França, o número de suicídios em áreas rurais é duas vezes maior se contrastado às áreas urbanas. Os maiores índices são encontrados entre os agricultores, com estimativas de 400 a 600 suicídios anuais (JACQUES-JOUVENOT; LAPLANTE, 2009; BOSSARD et al., 2013; SPOLJAR, 2014). Na Irlanda, no ano de 1985, a taxa de suicídios foi de 4,5 a cada 100.000 habitantes em áreas urbanas e 13,0 a cada 100.000 habitantes em áreas rurais (GALLAGHER; SHEEHY, 1994).

Não só na Europa, mas também na Oceania observaram-se incrementos na ocorrência de suicídios rurais. Na Austrália, entre 1988 e 1997, 921 agricultores cometeram suicídio. Já entre 2000 e 2005, foram estimadas 2.000 mortes voluntárias de agricultores (PAGE; FRAGAR, 2002; ASSADI, 2006). Na Ásia não foi diferente. Na Índia, desde 1997, em torno de 25.000 agricultores tiraram suas vidas. A taxa de suicídios subiu de 12,3 em 1996 para 19,2 em 2004 (SHIVA, 2004; MISHRA, 2008). Na China, das 287.000 tentativas de suicídios anuais, ocorridas em média, mais da metade remetem a áreas rurais (YANG et al., 2005).

Em relação à África, também se encontraram estudos evidenciando a relevância dos suicídios rurais. Na África do Sul, por exemplo, os habitantes rurais se mostraram 90,0% mais propensos a mortes voluntárias se comparados aos habitantes urbanos (MEEL, 2003). A situação é semelhante na América. No Canadá, a agricultura está entre as ocupações com maior risco de morte suicida, com uma taxa de mortalidade de 31,4 suicídios a cada 100.000 indivíduos (BEAUREGARD et al., 2014). Na Colômbia, entre 2005 e 2010, a classe dos agricultores foi elevada à segunda com maior suscetibilidade ao suicídio (PÉREZ, 2014). Na Venezuela, por sua vez, foram encontradas comunidades rurais com taxas de 40,0 suicídios a cada 100.000 habitantes ainda na década de 1990, sendo seis vezes maior que a taxa da nação (ARIAS; BLANCO, 2010).

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Quanto às motivações dos suicídios rurais, os mesmos são multideterminados e remetem a um processo de causação cumulativa. Logo, os suicídios rurais tendem a acontecer devido a um emaranhado de causas vinculadas com o indivíduo e com a sociedade. Tendo em vista o estudo de Arias e Blanco (2010), sobre suicídios rurais na América Latina, no cerne das causas sociais acumuladas vinculadas com os suicídios rurais tem-se o avanço do capitalismo nas áreas rurais através da modernização da agricultura e os resultados decorrentes desse processo que, por si só, acrescentaram outras motivações a ocorrência destas mortes.

O avanço do capitalismo sobre as áreas rurais através da modernização da agricultura causou o aumento do uso indiscriminado de agrotóxicos de alta periculosidade, o constrangimento cultural dos agricultores frente ao aumento dos custos de produção e do endividamento e a precarização das condições de trabalho na agricultura, entre outras, que também guardam relação com os suicídios rurais. Assim, essas transformações dissolveram o imaginário idílico até então atrelado às áreas rurais, revelando a existência de incoerências econômicas, sociais, ambientais, culturais, políticas e éticas, sendo os suicídios um indicativo do distanciamento destas áreas rurais do ideário de sustentabilidade.

METODOLOGIAPara compreender as condicionantes socioeconômicas motivadoras dos suicídios

rurais no âmbito do cultivo de tabaco, o estudo foi desenvolvido em conformidade com a natureza qualitativa de investigação científica.

Segundo Minayo (2012), investigações científicas qualitativas envolvem significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, isto é, realidades sociais que não podem ou não devem ser quantificadas. Em conformidade com essa natureza, a investigação foi conduzida no formato de estudo de caso.

Conforme Gil (2011), essa modalidade consiste em estudo empírico destacado devido a suas detalhadas imersões nas realidades sociais estudadas, favorecendo seu conhecimento exaustivo. De acordo com as elucidações de Poupartet al. (2010), em termos amostrais, a investigação científica consistiu em um estudo de caso sustentado em meio geográfico.

Nesse sentido, foi estudado o caso do município de Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. É válido esclarecer que esse meio foi selecionado devido a critérios amostrais intencionais convergentes com o intuito doestudo, como o elevado índice de suicídios, a predominância da agricultura familiar e a importância socioeconômica do cultivo do tabaco.

Em consonância com a modalidade de estudo de caso, a técnica de coleta de dados utilizada foi a pesquisa bibliográfica. Essa modalidade de pesquisa é desenvolvida a partir das chamadas fontes bibliográficas, que são consideradas dados secundáriose que compreendem uma diversidade de materiais que em sua elaboração já receberam tratamento analítico, como livros, teses, dissertações, artigos, entre outros (GIL, 2011). A principal vantagem da pesquisa bibliográfica consiste na possibilidade de elaboração de um estado da arte do tema

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estudado, favorecendo a sua apreciação a partir de pontos de vista inovadores e a formulação de conclusões originais (GIL, 2011).

A pesquisa bibliográfica foi realizada no mês de agosto de 2016 e seguiu critérios e procedimentos padronizados com o intuito de garantir o rigor metodológico do estudo e de atingir o objetivo proposto. Dessa maneira, a mesma foi realizada através do mecanismo de busca do Google Acadêmico, partindo da combinação dos seguintes termos: “suicídios rurais” e “suicídios de agricultores”, assim como de suas respectivas traduções em Espanhol, Francês e Inglês.

Essa busca trouxe à tona diversas fontes bibliográficas, entre as quais trabalhos completos de eventos científicos, artigos de periódicos científicos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, capítulos de livro, livros, relatórios de pesquisa e, até mesmo, documentos de organizações multilaterais.Tais fontes bibliográficas passaram por leituras flutuantes que permitiram excluir aquelas sem potencialidade de contribuir com o objetivo do estudo.Não obstante, algumas das fontes indicadas através do mecanismo de busca não foram encontradas inteiramente disponíveis em meio digital, sendo necessária sua busca em meio físico. As leituras flutuantes das fontes bibliográficas encontradas seguiu o critério de saturação teórica, isto é, novas fontes foram consultadas enquanto ainda agregavam informações diferenciadas (POUPART et al., 2010).

A triagem propiciada pelas leituras flutuantes resultou em 18 fontes bibliográficas: 12 artigos de periódicos científicos (KLEIN, 1984; HECK, 2004; LONDON et al., 2012; MENEGHEL et al., 2012; KIM et al., 2014; KO et al., 2012; BANERJEE et al., 2013; WEISSKOPF et al., 2013; FARIA et al., 2014a; 2014b; CASTRO; MONTEIRO, 2015; RIBEIRO; YKUTA, 2015); 2 teses (HECK, 2000; MOURA, 2016); 1 capítulo de livro (LEAL, 1992); 1 livro (DEJOURS; BÈGUE, 2009); 1 relatório de pesquisa (FALK et al., 1996); e 1 documento de organização multilateral (WHO, 1990).Vale esclarecer que nessa triagem foram priorizadas as fontes bibliográficas que versavam sobre Santa Cruz do Sul e região, todavia, as mesmas eram em pequeno número.

As fontes bibliográficas selecionadas passaram por novas leituras, agora mais aprofundadas e exaustivas, a partir das quais foram construídas fichas bibliográficas, uma para cada fonte, contendo as informações expressas de relevância para o estudo.

A partir das fichas bibliográficas, os dados coletados foram organizados, sistematizados e categorizados através da metodologia de análise de conteúdo, envolvendo descrições, inferências e interpretações dos mesmos (BARDIN, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO“Agricultor é morto a tiros e vizinho se suicida no interior de Santa Cruz do Sul”,

veiculou o Jornal Gazeta do Sul, no mês de agosto de 2016 (MENDES, 2016). Notícias como essas se tornaram comuns em Santa Cruz do Sul e são até mesmo recebidas com naturalidade. Contudo, quais seriam as explicações para essa mórbida realidade?

Fundada em 1847, Santa Cruz do Sul consiste em um reconhecido núcleo de colonização

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alemã. Está situada na Mesorregião do Centro Oriental Rio-Grandense, na Microrregião de Santa Cruz do Sul e seus limites se encontram com Vera Cruz, Rio Pardo, Sinimbu, Venâncio Aires e Passo do Sobrado. Além disso, situa-se a 155 km da capital gaúcha, Porto Alegre. O município conta com uma área de 794,49 km², sendo 80,2% da mesma rural (PREFEITURA DE SANTA CRUZ DO SUL, 2015).

Conforme dados do mais recente Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Santa Cruz do Sul é de 118.374 habitantes, sendo 88,9% residentes na área urbana e 11,1% na área rural. Dos 13.184 habitantes da área rural, 51,6% são homens e 48,4% mulheres (IBGE, 2010). De acordo com o último Censo Agropecuário, Santa Cruz do Sul conta com 3.260 estabelecimentos agropecuários, sendo 95,5% de agricultura familiar. Além disso, dos 9.473 agricultores ocupados nos estabelecimentos agropecuários do município, 96,3% são considerados agricultores familiares. De uma área de 48.369 hectares dedicados à agricultura, 84,8% são ocupados com estabelecimentos agropecuários de agricultores familiares (IBGE, 2006).

Os dados anteriores evidenciam a predominância e a relevância da agricultura familiar no município de Santa Cruz do Sul. A mesma destaca-se em virtude do tabaco, milho, soja, arroz, feijão, mandioca, batata-inglesa, batata-doce, laranja, suínos, ovos, aves, mel, peixes, entre outros. Mas entre esses, o mais relevante é o tabaco. No ano de 2012 foram cultivados 7.200 hectares, produzindo 12.600 toneladas de tabaco em folha e gerando 74.844 mil reais em comercialização (IBGE - CIDADES, 2012).

Diante destas características das áreas e das atividades rurais de Santa Cruz do Sul, três grandes narrativas explicativas da ocorrência dos suicídios rurais vinculados com o cultivo de tabacosurgem dos escritos científicos, sendo elas: o uso indiscriminado de agrotóxicos de alta periculosidade; a inflexibilidade da cultura teuto-brasileira no âmbito do Rio Grande do Sul; e a precarização do trabalho na agricultura familiar.

Antes de discorrer sobre as mesmas, é necessário reiterar que as causas vinculadas aos suicídios rurais não devem ser restritas a essas narrativas. Os suicídios rurais são resultantes de um processo de causação cumulativa. Todavia, no caso estudado, essas três grandes narrativas merecem destaque.

O USO INDISCRIMINADO DE AGROTÓXICOS DE ALTA PERICULOSIDADEDe acordo com a Organização Mundial da Saúde, sintomas de intoxicações agudas

e crônicas devido aos agrotóxicos tornaram-se comuns entre civis e, ainda mais, entre agricultores. Esses variam desde náuseas, vômitos, dores de cabeça, contrações musculares involuntárias, tonturas, convulsões, sangramentos nasais, conjuntivites, desmaios, entre outros sintomas mais suaves, até dermatites, alterações cromossomais, efeitos neurotóxicos retardados, arritmias cardíacas, lesões hepáticas, lesões renais, teratogêneses, cânceres, entre outros mais sérios (WHO, 1990).

Não obstante, também o suicídio entre agricultores vem sendo vinculado com os

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agrotóxicos.De acordo com London et al. (2012) e Weisskopfet al. (2013), em estudos realizados na África do Sul e na França, respectivamente, os agrotóxicos têm efeitos neurotóxicos sobre os seres humanos. O indevido contato dos agricultores com os mesmos acomete o sistema nervoso, reduzindo neurotransmissores como a serotonina e contribuindo com transtornos como a depressão, a impulsividade ou outras alterações de humor. Esses transtornos aumentam significativamente os riscos de suicídio. Dessa maneira, como constatado em estudo realizado na Índia, a utilização incorreta dos agrotóxicos afeta fatores socioemocionais e favorece o surgimento de ideações suicidas entre os agricultores (BANERJEEet al., 2013).

Segundo Kim et al. (2014), em estudo sobre a Coréia do Sul, a agricultura tem sido identificada como uma das ocupações mais arriscadas em razão de sua associação com altas taxas de suicídios, sendo as mesmas relacionadas com os agrotóxicos. Assim como existem inúmeras vítimas de intoxicações intencionais, também existem inúmeras outras de intoxicações não intencionais. Sobre essas últimas, nota-se a escassez de informações, ainda mais sobre sua vinculação com os suicídios, considerando os transtornos mentais ocasionados (KO et al., 2012).

No Brasil, a associação entre o uso de agrotóxicos e o aumento das taxas de suicídio é controversa. O estudo de Faria et al. (2014a), analisou as 558 microrregiões brasileiras e concluiu o seguinte: nas microrregiões com maior uso de agrotóxicos e maior ocorrência de casos de envenenamento, ocorreram taxas de suicídio mais elevadas. As preocupações estão centradas sobre os distúrbios mentais desencadeados através da exposição a certos agrotóxicos, sobretudo os inseticidas organofosforados, aumentando a ocorrência de suicídios. Em outro estudo, Faria et al. (2014b) mostraram como o contato com agrotóxicos tem sido associado com transtornos mentais de ordem menor entre os agricultores, embora ainda existam controvérsias em relação ao tipo, a intensidade, a forma de contato, etc. Nesse contexto, as maiores preocupações brasileiras giram em torno da cultura do tabaco, levando em consideração o volume, a recorrência e a toxicidade dos agrotóxicos utilizados.

De acordo com Falket al. (1996), em estudo realizado no município de Venâncio Aires – município vizinho de Santa Cruz do Sul -, existem fortes indícios de relação entre os agrotóxicos organofosforados utilizados na fumicultura e o aumento das taxas de suicídios. No ano de 1995, em Venâncio Aires, mais de 80% dos suicídios foram de agricultores. Não somente, o índice de suicídio aumentou duas vezes em relação aos anos anteriores, acompanhando a intensificação do uso de agrotóxicos no cultivo do tabaco, que passou dos habituais 50 a 60 kg/ha para cerca de 100 kg/ha, uma vez que em 1995 houve um excessivo número de pragas em consequência da seca e de outros fatores. Assim, em 1995, o índice de suicídio em Venâncio Aires atingiu números alarmantes, ficando atrás somente dos índices encontrados na Hungria (FALKet al., 1996).

A INFLEXIBILIDADE DA CULTURA TEUTO-BRASILEIRA NO ÂMBITO DO RIO GRANDE DO SUL

De acordo com Leal (1992), a maneira como o indivíduo escolhe morrer está vinculada

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com a sua cultura e com o valor da existência em sua sociedade. “Para os gaúchos, a morte é um momento especialmente significativo, porque esta é uma cultura que supõe que seus membros têm algum poder de decisão sobre ela” (LEAL, 1992, p. 142). No que tange à cultura do Rio Grande do Sul, existe um imaginário referente à morte, onde os suicídios são entendidos como atos de coragem, auxiliando na internalização da morte como integrante da vida (LEAL, 1992).

Além de sua cultura característica, o Rio Grande do Sul também acionou elementos culturais advindos da Europa, devido às migrações de italianos e de alemães. Esse últimos, trouxeram ao Rio Grande do Sul uma série de elementos culturais notáveis até os dias atuais, inclusive em seu modo de ser. Em recente estudo realizado em Santa Cruz do Sul, Moura (2016) reconstruiu a trajetória da fumicultura no município, sendo que os imigrantes alemães trouxeram consigo o cultivo do fumo em folha e tornaram-se especialistas na sua produção, iniciando, inclusive indústrias fumageiras familiares. Além disso, Moura (2016) também discorreu sobre o “germanismo” encontrado nessas áreas rurais, onde existe uma divisão entre “nós, os alemães” e “eles, os brasileiros”, desencadeando um cenário de endogamia entre as famílias agricultoras descendentes de colonos alemães e consequente isolamento.

Para Moura (2016), nessa cultura teuto-brasileira instalada nas áreas rurais gaúchas, chama atenção a austeridade dos valores morais, a exigência de sucesso financeiro, o desempenho de papéis de gênero, entre outros aspectos, os quais favorecem a ocorrência de suicídios, como única alternativa frente a inflexibilidade da cultura.

De maneira semelhante, em estudo referente ao município de Teutônia, no Rio Grande do Sul, Klein (1984) entendeu os suicídios como indícios de redução da coesão interna das sociedades rurais, vinculados com o isolamento, a religião e a economia característicos entre os colonos alemães. Na visão da autora, “uma longa tradição de isolamento, seja geográfico, linguístico, étnico ou econômico, impediu alguns grupos sociais de origem germânica de se organizarem em sociedades estáveis e harmônicas, interna e externamente” (KLEIN, 1984, p. 51).

Também Meneghelet al. (2012), em estudo nos municípios gaúchos de São Lourenço do Sul, Venâncio Aires e Candelária, ambos de colonização alemã, notaram os vínculos entre os altos índices de suicídio nas áreas rurais e existência de uma rígida ética do trabalho, do dever e da honra, desencadeadora de vidas abstêmias, onde os agricultores familiares economizam o máximo, com o intuito de não contrair dívidas. Nesse mesmo sentido, em seu estudo, Moura (2016) mostrou a correspondência de sentido entre os termos “dívida” e “culpa” no dialeto alemão existente em Santa Cruz do Sul, resumidos em um único termo:schuld.

Em estudo realizado em Santo Cristo, no Rio Grande do Sul, Heck (2000) demonstrou como os suicídios entre descendentes de colonos alemãs são símbolos de sofrimento, integrando a realidade construída e vivida entre os agricultores familiares, cujas organizações societárias são centradas em autoridades, valores morais rígidos e desconfianças com relação a manifestações voluntárias e individuais. Ao analisar esse tema no contexto do município de Venâncio Aires, também no estado do Rio Grande do Sul, Heck (2004) constatou a notoriedade dos casos entre os colonos alemães, sobretudo do sexo masculino, casados, com idades entre

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25 e 55 anos, suicidas através do enforcamento.

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NA AGRICULTURA FAMILIARAtualmente, segundo Dejours e Bègue (2010), tem aumentado a ocorrência de

suicídios nos ambientes de trabalho em todo o mundo. Obviamente, esse acontecimento tem significado. O suicídio no ambiente de trabalho é uma mensagem brutal dirigida à comunidade de inserção do trabalhador. Quando um indivíduo se mata no ambiente de trabalho, não resta dúvida de que o trabalho está em causa.

Nesse sentido, de acordo com Meneghelet al. (2012), em estudo realizado nos municípios gaúchos de São Lourenço do Sul, Venâncio Aires e Candelária, onde destaca-se a fumicultura, foi mapeada uma espécie de “rota dos suicídios nos galpões de fumo”. Durante o estudo foram constatados inúmeros casos de fumicultores que haviam cometido o suicídio através do enforcamento, amarrando a corda nas traves e tesouras desses galpões, onde seus corpos foram, mais tarde, encontrados.

Os galpões de fumo são construções rústicas destinadas à secagem e à estocagem do tabaco. Dessa maneira, os fumicultores vivenciam muitos momentos nesses ambientes. A recorrência dos suicídios ocorrentes nos galpões deve ser entendida como uma denúncia do sofrimento vivenciado no cultivo do tabaco, tendo em vista as precárias condições de trabalho, que, a cada safra, elimina os fumicultores que não conseguem a quantidade e a qualidade estipuladas (MENEGHEL et al., 2012).

Segundo Ribeiro e Ykuta (2015), em estudo realizado no município de Ivaí, no estado do Paraná, o cultivo do tabaco encontra-se cheio de contradições, pois os fumicultores estão atrelados a um “sistema de integração” que restringe sua autonomia. Na visão de Castro e Monteiro (2015), o fumicultor é o elo mais vulnerável do sistema de integração, sofrendo intensa exploração. Nesse cenário, não existe espaço para a valorização da dedicação e do esforço empregado pelos fumicultores: o valor do sentido do trabalho torna-se obsoleto diante da rentabilidade que esse produz.

A empresa paga um baixo valor pelo tabaco; muitos produtores intensificam o trabalho para produzir mais na próxima safra, na esperança de obter melhor remuneração; o excesso da oferta do produto no mercado o desvaloriza; a empresa beneficia-se, compra mais tabaco, com equivalente qualidade. Não conseguindo enfrentar o oligopólio e romper o ciclo, o fumicultor torna-se escravo da sua estratégia de amenizar os efeitos da dominação. Ademais, não há condições para o produtor negociar um preço justo, devido à relação propositalmente distante que a empresa estabelece entre as partes envolvidas (CASTRO; MONTEIRO, 2015, p.88).

O principal mecanismo de exploração da indústria fumageira é a classificação do tabaco, pois no momento da comercialização, os técnicos da indústria avaliam o tabaco rebaixando sua qualidade, acarretando a desvalorização do produto e consequente redução do preço pago ao fumicultor. Caso o produtor considere o preço injusto e não aceite entregar o fumo, terá que se encarregar com as despesas do transporte deste de volta a sua propriedade

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e corre o risco de ter a carga avariada e de não obter melhor classificação para a sua safra (CASTRO; MONTEIRO, 2015). Frente a essa situação de precariedade no trabalho da agricultura familiar produtora de tabaco, os suicídios rurais se multiplicam.

CONCLUSÕESEm áreas rurais de agricultura familiar dedicada ao cultivo do tabaco, como é o caso

de Santa Cruz do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, os suicídios rurais, vinculam-se entre outras causas: com a utilização massiva de agrotóxicos no cultivo do tabaco, sobretudo os organofosforados, os quais têm efeitos neurotóxicos sobre os agricultores e os predispõem a distúrbios de humor, incluindo a depressão; com a austeridade da cultura e da identidade dos agricultores familiares gaúchos e descendentes de colonos alemães, os quais são orientados por valores morais muito rígidos, principalmente no que corresponde à esfera financeira; e com a precarização do trabalho na agricultura familiar produtora de tabaco, considerando as restrições de autonomia que as indústrias fumageiras impõem aos fumicultores através de contratos de integração.

Nesse sentido, os suicídios rurais consistem em uma agressão à dimensão social da sustentabilidade. Nesses termos, discorrer sobre sustentabilidade em uma agricultura assombrada por mortes voluntárias é uma contradição. Antes de condições de cultivar vegetais e de criar animais, entre outras atividades, os agricultores familiares, como todos os demais seres humanos, necessitam de condições de vida e de felicidade. Logo, o entendimento dos suicídios rurais deve ser visualizado com uma estratégia de proteção à vida e, também, como uma ação de fomento à agricultura familiar, cuja relevância socioeconômica no contexto do Brasil, do Rio Grande do Sul e de Santa Cruz do Sul é axiomática. Assim, somado ao serviço de Saúde, destaca-se, também, a relevância do serviço de Extensão Rural na prevenção dos suicídios de fumicultores.

Por fim, tendo em vista que o número de estudos sobre a temática dos suicídios rurais ainda é restrito, recomenda-se a realização de novas investigações científicas que, para além da pesquisa bibliográfica, coletem informações de indivíduos diretamente afetados pelos suicídios rurais, como é o caso dos familiares dos agricultores, vizinhos, amigos, representantes de instituições vinculadas com a agricultura familiar, extensionistas rurais, representantes da indústriafumageira, entre outros. Através disso, será possível esclarecer pontos pouco explorados pelas fontes bibliográficas, entrando efetivamente nas singularidades dos suicídios rurais, gerando maiores subsídiosteóricos para balizamento da intervenção preventiva da Saúde e da Extensão Rural sobre esse problema social.

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Valores pessoais e o comportamento ecológico: Um estudo com os egressos

do programa de pós graduação em Administração da Universidade Federal de

Santa Maria

Gabriela RossatoTalita Posser

Leticia StedileMarta Olívia Rovedder OliveiraVânia Medianeira Flores Costa

RESUMOA busca pela minimização dos impactos ao meio ambiente são assuntos amplamente discutidos e de grande importância para a sociedade e as organizações. A preocupação e preservação do meio em que se vive é motivada pelo comportamento e valores de cada indivíduo, sendo o comportamento ecológico aquele que envolve ações em favor do meio ambiente. O objetivo deste estudo é verificar os valores pessoais e o comportamento ecológico dos egressos do Programa de Pós Graduação em Administração (PPGA) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Adotou-se como metodologia a pesquisa descritiva e a abordagem quantitativa. Por meio de uma survey com os egressos foi aplicado o instrumento composto de duas escalas, o PortraitValueQuestionnaire- PVQ desenvolvida porSchwartz (1992) e validado por Tamayo e Porto (2009)ea Escala de Comportamento Ecológico (ECE), de Pato e Tamayo (2006).

Palavras-Chaves: Valores Pessoais, Comportamento Ecológico; Egressos.

INTRODUÇÃOA discussão a respeito da importância da sustentabilidade como garantia da

manutenção das gerações futuras e como um fator de vantagem competitiva, vem instigando uma consciência em prol do meio ambiente. O consumo sustentável dos indivíduos, a gestão sustentável por parte das organizações e todas as práticas ligadas à preservação do meio ambiente e da sociedade, são exemplos de atividades que podem despertar comportamentos e valores dos indivíduos.

De acordo com os ambientalistas, os problemas relacionados ao meio ambiente estão ligados ao comportamento humano, e qualquer esforço ou posicionamento pró-ambiental, necessita de mudanças no comportamento humano individual. (ZELEZNY; SCHULTZ, 2000)

Os valores podem representar importantes meios de estudo para a compreensão do comportamento humano. De acordo com Hofstede(1980) e Schein (1985), os valores são estudados com frequência na tentativa de entender as atitudes e o comportamento dos indivíduos, o funcionamento das organizações, instituições e sociedade.

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Desse modo, ao compreender o comportamento ecológico dos indivíduos parece ser fundamental conhecermos seus valores. O comportamento ecológico pode ser conceituado como, agir em favor do meio ambiente, podendo ser essa ação consciente e intencional ou não, aprendida, desenvolvida por meio da aprendizagem, internacionalizada e presente no dia-a-dia dos indivíduos (Pato e Tamayo, 2006; Pato 2004). Pode-se observar assim uma relação do comportamento ecológico com a incorporação de valores que refletem o desejo e a preocupação com uma vida em equilíbrio com o meio ambiente (FRANCO, 2012).

Portanto, para essa pesquisa foi considerada a seguinte questão problema: Quais são os valores pessoais e comportamentos ecológicos identificados nos egressos do Programa de Pós Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Maria?

A pesquisa justifica-se em razão de que ainda há pouco embasamento científico sobre a temática estudada. Além disso, os estudos encontram-se em um estágio inicial, havendo questões do conhecimento que devem ser aprofundadas.

À medida que buscamos referenciais a respeito desse tema, encontramos alguns estudos relacionando valores com o comportamento ecológico com diferentes objetivos no contexto organizacional e das universidades. Por isso, parece importante entender essa relação em um público mais experiente, como os egressos do Programa de Pós Graduação em Administração (PPGA).

Desse modo, o objetivo deste trabalho é verificar os valores pessoais e o comportamento ecológico dos egressos do PPGA da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Complementarmente, foram considerados os seguintes objetivos específicos: 1) Conhecer o perfil dos respondentes; 2) Analisar o conjunto de valores pessoais; 3) Identificar os comportamentos ecológicos individuais predominantes.

Os dados do perfil dos respondentes futuramente serão utilizados para a elaboração de um banco de dados dos egressos, sendo possível por meio do atendimento ao que dispõe o currículo.Segundo Brito (2008) o traçado do perfil do egresso é de fundamental importância na compreensão do que é esperado ao longo de sua trajetória pela Instituição de Ensino Superior, alcançandoas competências profissionais necessárias para o exercício da profissão.

Os egressos são os informantes estratégicos sobre a realidade do mercado de trabalho, ainda mais egressos do programa de pós-graduação por possuírem maior experiência. O contato entre eles e a instituição de ensino é de grande valia para aproximar suas experiências profissionais com o meio acadêmico, sendo também contatos fundamentais para novos egressos do programa.

Dessa forma, o trabalho busca identificar os valores pessoais e o comportamento ecológico dos egressos do Programa de Pós Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Maria. Além disso, apresenta uma significativa fundamentação teórica e instrumentos já validados.

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REFERENCIAL TEÓRICOO referencial teórico do presente estudo divide-se em duas seções, a primeira engloba

a perspectiva dos valores, focando principalmente nos valores pessoais, e posteriormente apresenta-se a teoria referente ao comportamento ecológico, conceitos e aplicações apresentando ainda os estudos que relacionam valores a comportamentos ecológicos.

VALORES PESSOAISNo que se refere à definição do tema valores, existe uma grande diversidade de

conceituações, porém foi na década de sessenta que essa temática tornou-se mais evidente. Conforme Hitlin e Piliavin (2004, p.395) o conceito mais dominante de valor na época, foi o de Kluckhohn (1951). Para o autor “um valor é uma concepção, explícita ou implícita, distintiva de um indivíduo ou característica de um grupo, do desejável, o que influência a seleção de modos disponíveis, meios e fins da ação”.

Segundo Rokeach (1968), os valores são considerados importantes convenções que conduzem as ações dos indivíduos, recomendam que atitudes devem ser tomadas, e também são utilizadas para justificar comportamentos. Nesse sentido, o autor destaca que os valores assumem uma disposição hierárquica ou ordenação de valores ao longo de uma escala de importância.

Cornettet. al(2013), reforça que os valores são convenções avaliativas que conduzem nossas preferências, e norteiam nossa percepção sobre o certo e o errado, bom ou ruim. Os autores afirmam que os valores estão relacionados com o autoconceito, visto que buscam interpretar relações, atitudes e crenças.

Vários autores, como Rokeach (1968) e Schwartz (1994), concentraram-se aos estudos dos valores e instigaram grande parte dos autores da área. Nesse sentido, Hofsted (1980) considera que os valores podem agir como a escolha de certas situações a outras. Já Feather (1996) conclui que os valores são convicções a cerca de maneiras de comportamento desejáveis ou indesejáveis.

Abordagem de valores surgiu na década de noventa, priorizando o conjunto de valores que apresenta relações de oposição e de conflito. Schwartz e Bilsky (1987, p.551), definem valores como “representações cognitivas de três tipos de necessidades humanas universais: necessidades biológicas do organismo, necessidade de interação social para a regulação das relações interpessoais e necessidades sócio institucionais, que visam o bem-estar e sobrevivência do grupo”.

Dos três tipos de necessidades humanas universais evidenciadas por Schwartz e Bilsky (1987), derivaram-se os dez tipos motivacionais de valores de Schwartz (2005, p.24-27).

O Quadro 1 introduz os dez tipos motivacionais de valores identificados, seus objetivos e os interesses a que servem.

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Quadro 1: Dez tipos motivacionais de valores, objetivos e interesses.

TIPOS MOTIVACIONAIS OBJETIVOS INTERESSES

Autodeterminação Diz respeito à independência de ação e pensamento Individual

Estimulação Faz referência ao estímulo por meio do desafio, do novo. Individual

HedonismoRefere-se a sentimentos de prazer, satisfação e gratificações. Individual

Realização Objetivado pela aprovação e reconhecimento social. Individual

PoderDeterminado pelo status social, pelo domínio e controle. Individual

SegurançaRepresentado pela harmonia e estabilidade a nível individual ou grupal.

Misto

ConformidadeA inibição de comportamentos não aceitos no meio social, a restrição de ações.

Coletivo

Tradição

Diz respeito à aceitação, respeito, acordo de costumes e cultura impostos socialmente. Coletivo

Benevolência.

Refere-se à preocupação com o bem-estar dos demais indivíduos que fazem parte do grupo, desenvolvendo relações de cooperação.

Coletivo

Universalismo

Faz referência à compreensão, tolerância com o bem-estar não apenas do grupo de pertença, contrastando com os valores de benevolência, mas de todos e da natureza.

Misto

Fonte: Tamayoet al. (2001, p. 29).

Esse modelo dos tipos motivacionais de Schwtarz (2005) pode ser utilizado em estudos que pretendem compreender os comportamentos dos indivíduos e das instituições.

Um dos pontos principais dos valores pessoais é a capacidade de mensuração. De acordo com Pinto (2011) existem quatro principais escalas para mensurar valores pessoais, a escolha da escala dependerá do objetivo do estudo. Uma das principais escalas é a escala de Schwartz (1992), que está relacionada à universalidade de conteúdo e à estrutura dos sistemas de valores, e suas relações entre os tipos de valores que envolvem esse sistema (SCHWARTZ; SAVIG, 1995; SOUZA, 2012). Segundo Pinto (2011), a partir do modelo de Schwartz derivam-se três outras escalas principais: o Inventário de Valores de Schwartz- SVS (57itens), e duas versões da PortraitValuesQuestionnaire-PVQ (40 e 21 itens).

As versões PortraitValuesQuestionnairesforam aprimoradas com a intenção de superar as limitações do Inventário de Valores de Schwartz. Desse modo Schwartz et al.

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(2001) desenvolveram um questionário menos abstrato para avaliação dos valores, o ‘PortraitValueQuestionnaire’ (PVQ) ou ‘Questionário de perfis de valores pessoais’ (QPVP).

No Brasil, alguns autores buscaram validar essas escalas, como Tamayo e Porto (2009) que realizaram um estudo com o objetivo de validar o PVQ no Brasil e proporcionar algumas comparações com a validação do instrumento original.

Os resultados da pesquisa de Tamayo e Porto (2009) apontaram a confirmação e a validação de construto do Questionário de Perfis de Valores (QVP). Entretanto revelou índices baixos de confiabilidade, os autores identificaram a necessidade de desenvolvimento de novos estudos procurando investigar a validade do instrumento com outros públicos.

COMPORTAMENTO ECOLÓGICOA utilização irresponsável de recursos naturais ao longo do tempo trouxe à discussão

da sociedade temas como desenvolvimento sustentável e preservação do meio ambiente. Sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável é um tipo de desenvolvimento que busca a satisfação das necessidades da geração presente sem comprometer, entretanto, as necessidades das gerações futuras, considerando não apenas a dimensão ambiental. (PINHEIRO, MONTEIRO, GUERRA, PEÑALOZA, 2011, p. 87). Esse tema está cada vez mais presente nas tomadas de decisões de indivíduos, empresas e órgãos públicos, evidenciando a importância de entender o que influencia este comportamento.

No que se refere ao meio ambiente, o comportamento humano é determinante no processo de preservação, conservação ou até mesmo degradação. Comportamento é um procedimento adotado por alguém frente a estímulos ambientais ou necessidades íntimas, ou uma combinação de ambos. Comportamentos responsáveis em relação ao meio ambiente são denominados na literatura como comportamento ecológico. Pato (2004) cita diferentes expressões que também são utilizadas: comportamento pró ambiental, comportamento ambiental, comportamento ambientalmente responsável, conduta pró-ambiental, comportamento ecológico e altruísmo ambiental

Ricklefs (2003) constata que as ações ecológicas são discutidas como fundamentais no âmbito de diminuir os impactos ambientais e estimular o desenvolvimento sustentável. Ou seja, o comportamento pró-ambiental é indispensável se desejamos construir uma sociedade mais sustentável.

Os trabalhos de Borden e Schettino (1979), de Hines, Hungerford e Tomera (1987) e de Schahn e Holzer (1990) mostram que as pessoas mais propensas a cuidar de seu entorno são aquelas com conhecimento, atitudes favoráveis, motivadas, hábeis, com locus de controle interno, responsáveis e com crenças pró-ambientais. (CORRAL-VERDUGO, PINHEIRO, 1999).

Para Pato (2004) a definição de comportamento ecológico considera as intenções e a consciência das práticas favoráveis ambientalmente e os impactos das mesmas. Com relação à consciência ambiental, Butzkeet al. (2001) consideram que ela é um conjunto de conceitos

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adquiridos pelas pessoas através de informações percebidas no ambiente, influenciando assim o comportamento ecológico. Dessa forma, percebe-se a importância do meio em que o indivíduo está inserido na forma com que se apresenta seu comportamento. Corral-Verdugo (2005) corrobora esta visão quando afirma que ações em prol do meio ambiente algumas vezes aparecem no contexto de normas, valores e crenças ambientais.

Segundo Pato (2004) o comportamento ecológico indicaria uma preocupação com meio ambiente e repercutiria na utilização sustentável dos recursos. Pesquisadores procuraram mensurar este comportamento através do desenvolvimento de escalas. No âmbito internacional destaca-se a Escala do Novo Paradigma Ecológico (NEP) de Dunlap e Van Liere (1978). Esta escala mede a relação dos indivíduos com o meio ambiente de forma mais ampla. Beuron (2012) afirma que ao buscar uma medida dos comportamentos ecológicos individuais, amplia-se a compreensão das relações entre esses comportamentos e o meio ambiente.

A percepção de que as escalas utilizadas internacionalmente não se aplicavam à realidade brasileira, levou Pato (2004) a desenvolver e validar três instrumentos: Escala de Comportamento Ecológico (ECE), Escala de Percepção de Comportamento Ecológico (EPCE) e Escala de Crenças Ambientais.

A Escala de Comportamento Ecológico, utilizada no desenvolvimento desta pesquisa, é composta por 34 itens que mensuram os comportamentos ecológicos. Dentre esses itens, há aqueles que medem comportamentos antiecológicos e cinco que mensuram a desejabilidade social, determinada como fator influenciador do comportamento dos indivíduos.

Sendo o comportamento algo mutável e passível de influências, surgem pesquisas investigando possíveis variáveis que influenciam no comportamento ecológico. Franco (2012) realizou um estudo, o qual tinha como objetivo identificar a estrutura de valores e o comportamento dos alunos de dois cursos de graduação, ao longo da experiência acadêmica. Ao final da pesquisa, evidenciou não haver relação entre estrutura de valores e comportamento ecológico. Além disso, identificou que o comportamento ecológico não se alterou, ao passo que os valores poderiam ser modificados. Souza (2012) desenvolveu uma pesquisa que teve como propósito verificar a influência da relação entre valores pessoais e a predisposição ao consumo sustentável, identificando a existência de relação entre os constructos.

Nota-se uma preocupação dos pesquisadores em relacionar os valores com o comportamento ecológico. No entanto, este tema ainda requer um maior aprofundamento na área de Administração. Beuron (2012) afirma que é necessário ampliar os estudos no campo da Administração que busquem melhor compreender os valores organizacionais e seus impactos nos comportamentos individuais favoráveis ao meio ambiente.

METODOLOGIACom o objetivo de identificar valores pessoais e comportamento ecológico dos

egressos do PPGA da UFSM, a abordagem do estudo se caracteriza como quantitativa, do tipo descritivo. O principal objetivo da pesquisa descritiva consiste na descrição de algo, ou na

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exposição de um fenômeno, verificando o grau de associação entre as variáveis trabalhadas (MALHOTA, 2006). Ainda de acordo com Trivinos (1987), o estudo descritivo pretende descrever as características de determinado fenômeno ou estabelecer relações entre algumas variáveis.

Desse modo, o método utilizado para a coleta de dados será o survey. Conforme Malhota (2006), esse método consiste na entrevista estruturada direta, método utilizado quando a pesquisa envolve entrevista com um grande número de pessoas, sendo aplicada a elas uma série de perguntas.

A população do estudo foram osegressos do Programa de Pós Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Maria, que totalizam 133 egressos. Para a coleta foi utilizado o critério de amostragem não probabilística, por acessibilidade, que, de acordo com Costa Neto (1988), pode ocorrer quando “embora se tenha a possibilidade de atingir toda a população, retiramos a amostra de uma parte que seja prontamente acessível”. Para maior confiabilidade das escalas utilizadas, foram aplicados 15 pré-testes com respondentes escolhidos por acessibilidade, a fim de constatar alterações a serem realizadas.

A coleta de dados por realizada online, através da ferramenta GoogleDocs. O público alvo da pesquisa foi contatado primeiramente, por e-mail disponibilizados pela secretaria do programa. Após, o questionário foi encaminhado via Facebook e ainda, publicado da Fanpage do PPGA. Apesar do uso de diferentes ferramentas para a coleta de dados, apenas 26 egressos responderam. Anteriormente

Em relação às variáveis a serem estudadas no que diz respeito a valores, será utilizada a escala PortraitValueQuestionnaire- PVQ de 40 itens, baseada em Schartwz (1992), e validada no contexto nacional por Tamayo e Porto (2009), pois suas características convergem com os objetivos e o público deste estudo. Já em relação às variáveis de comportamento ecológico será utilizada a escala de comportamento ecológica- ECE,desenvolvida por Franco (2012), baseada em Pato (2004) e Campos (2008).

Para análise dos dados foram realizadas análises estatísticas descritivas. A estatística descritiva é um ramo da estatística que envolve a coleta e a análise de um conjunto de dados com o objetivo de descrever as características desse conjunto (LEVINE et al.,2000). Utilizou-se também para tratamento dos dados coletados o softwareExcel, resultados estes que serão apresentados na sessão a seguir.

RESULTADOS E DISCUSSÃOOs resultados da pesquisa são apresentados da seguinte forma: caracterização da

amostra e análises descritivas das variáveis.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRAEvidenciou-se que, entre os respondentes, 76,9% fazem parte do gênero feminino e

23,1% são do gênero masculino. Atualmente verifica-se o aumento significativo do nível de

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instrução da população geral e, principalmente, das mulheres que passam a apresentar mais de nove anos de estudo (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 2015). Este aumento do percentual de mulheres que buscam aperfeiçoamento escolar proporcionou a elas maiores oportunidades de ingresso e estabilidade profissional, frente às atuais exigências quanto ao nível superior no mercado de trabalho. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED, 2015) e da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS, 2015) a participação da mulher no mercado de trabalho tem sido crescente nos últimos anos.

Quanto ao estado civil informado pelos respondentes concentrou-se em grande maioria nos solteiros (53,8%). Percebe-se, também, que 38,5% dos egressos possuem renda familiar entre quatro (4) a seis (6) salários mínimos. Além disso, 80,8% são egressos do mestrado e 19,2%são egressos do doutorado.

A Tabela 1, a seguir, apresenta os dados gerais dos estudantes que responderam a pesquisa.

Tabela 1 – Dados Gerais dos Respondentes

GÊNERO RENDA FAMILIAR VÍNCULO PROFISSIONALFeminino (76,9%) De 1 a 3 salários mínimos (19,2%) Atua na área da docência (65,4%)

Masculino (23,1%) De 4 a 6 salários mínimos (38,5%) Não atua na área da docência (34,6%)

Área de atuação De 7 a 9 salários mínimos (30,8%) Natureza da organizaçãoFinanceira (15,4%) Mais de 10 salários mínimos (11,5%) Pública (57,7%)Gestão de Pessoas (26,9%) Privada (42,3)Marketing/Comercial (19,2%)Produção (0%) TitulaçãoOutros (38,5%) Mestrado (80,8%)Estado Civil Doutorado (19,2%)Solteiro(a) (53,8%) CRACasado(a) (26,9%) Sim (26,9%)Divorciado(a) (7,7%) Não (73,1%)Outro (11,5%)

Fonte: Elabora pelas autoras.

A partir da análise da Tabela 1, pode-se concluir a maioria dos estudantes participantes

da pesquisa são do sexo feminino (76,9%), solteiros (53,8%), possuem renda familiar entre quatro (4) a seis (6) salários mínimos(38,5%), do mestrado (80,8%), e que atuam na área da docência (65,4%).

ANÁLISES DESCRITIVAS DAS VARIÁVEISA seguir, na Tabela 2, apresenta-se a média e o desvio padrão de cada variável para

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posterior análise.

Tabela 2 – Média e desvio padrão das variáveis referentes a Comportamento Ecológico

VARIÁVEIS MÉDIA Σ

1) Jogo todo tipo de lixo em qualquer lixeira 2,654 1,269

2) Evito jogar papel no chão 5,423 1,392

3) Falo sobre a importância do meio ambiente com as pessoas 3,769 1,552

4) Quando tenho vontade de comer alguma coisa e não sei o que é, abro a geladeira e fico olhando o que tem dentro 2,962 1,285

5) Evito desperdício dos recursos naturais 4,5 1,575

6) Ajudo a manter as ruas limpas 4,685 1,577

7) Evito comprar produtos que são feitos de plástico 2,577 1,214

8) Enquanto escovo os dentes deixo a torneira aberta 2,154 1,747

9) Separo o lixo conforme o tipo 4,038 1,765

10) Guardo o papel que não quero mais na bolsa, quando não encontro uma lixeira por perto 5,154 1,725

11) Entrego papéis para reciclagem 3,077 1,859

12) Quando estou tomando banho, fecho a torneira para me ensaboar 2,354 1,657

13) Economizo água quando possível 4,154 1,657

14) Quando vejo alguém jogando papel na rua, pego e jogo na lixeira 3,423 1,597

15) Colaboro com a preservação da cidade onde vivo 4,192 1,569

16) Quando não encontro lixeira por perto, jogo latas vazias no chão 1,654 1,466

17) Evito usar produtos fabricados por uma empresa quando sei que essa empresa está poluindo o meio ambiente 3,423 1,597

18) Apago a luz quando saio de ambientes vazios 4,923 1,412

19) Evito desperdício de energia 4,731 1,317

20) Evito comer alimentos transgênicos 2,577 1,364

21) Mobilizo as pessoas nos cuidados necessários para a conservação dos espaços públicos 3,192 1,641

22) Compro comida sem me preocupar se têm conservantes ou agrotóxicos 3,538 1,623

23) Deixo a televisão ligada mesmo sem ninguém assistindo 2,731 1,744

24) Entrego as pilhas usadas nos postos de coleta 3,154 1,703

25) Participo de atividades que cuidam do meio ambiente 2,577 1,419

26) Evito ligar vários aparelhos elétricos ao mesmo tempo nos horários de maior consumo de energia 3,346 1,568

Fonte: Elaborada pelas autoras.

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Como pode-se perceber na Tabela 2, as médias estão situadas entre os valores de 1,654 (menor média) e 5,423 (maior média). Observa-se, ainda, que as variáveis com médias mais altas, em geral, apresentam um desvio padrão baixo, o que representa de certo modo conformidade de opiniões para estas variáveis.

A variável que apresentou a maior média foi a Q2 - Evito jogar papel no chão, com média de 5,423, o que indica que os egressos que participaram da pesquisa se mostram preocupados com o despejo de resíduos no ambiente, possibilitando assim a colaboração para um meio ambiente limpo. A variável Q2 - Guardo o papel que não quero mais na bolsa, quando não encontro uma lixeira por perto, também apresentou uma elevada média (5,154), corroborando com a variável mais elevada, essa variável demonstra que os egressos têm consciência do seu papel na manutenção e na limpeza dos ambientes em que convivem.

Outras duas variáveis que também apresentaram um alto índice de respostas foi Q18 - Apago a luz quando saio de ambientes vazios, com média de4,923, e Q19 - Evito desperdício de energia, com média de 4,731. Essas variáveis representam a preocupação dos respondentes com a questão do uso da energia, os mesmos demonstram estar conscientes em relação ao uso correto da energia, evitando assim os desperdícios e maiores gastos financeiros para os mesmos.

A primeira revela que os respondentes têm clareza em relação a consciência energética, procurando desligar as luzes de ambientes que não estão sendo utilizados. A segunda, também relacionada a questão energética, corresponde a economia de energia, que talvez pode-se ser justificado pelo crescente custo da energia, e das políticas de incentivo a economia da mesmo. Conforme Ting (2012), o cenário atual é preocupante, principalmente porque a quantidade de recursos energéticos extraído está sendo maior do que o encontrado, o que também está relacionado a superpopulação e o crescimento da demanda de energia a nível mundial. O problema da energia está pautado na degradação do meio ambiente e consequentemente na questão econômica, pois o preço de comercialização de energia é considerado muito alto. Desse modo, os respondentes parecem estar engajados nessas práticas, o que pode ser considerado um resultado positivo na busca pela eficiência energética.

No entanto, algumas variáveis apresentaram médias mais baixas em comparação com as demais. A variável Q16 - Quando não encontro lixeira por perto, jogo latas vazias no chão, obteve a menor média (1,654), indicando que apesar de estarem conscientes em relação a conservação do meio ambiente, do destino adequado para os dejetos, quando não há um local para depósitos, os mesmos não se importam em jogá-los no meio ambiente. A variável Q8 - Enquanto escovo os dentes deixo a torneira abertafoi a segunda média mais baixa e apresentou uma média de (2,154). Isto demonstra que os respondentes não costumam economizar água durante uma prática diária, deixando a torneira aberta na higiene bucal. Para Oliveira et al. (2013), as iniciativas de racionalização do uso e de reuso de água se constituem em elementos fundamentais em qualquer iniciativa de conservação, pois atua de forma direta na disponibilidade deste recurso natural para atender o crescimento da população, para implantação de novas indústrias e na preservação e conservação do meio ambiente.

Com o crescimento da população urbana, e o desenvolvimento desta a tendência

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é que o consumo de água tratada aumente e com ele o índice de desperdício. De acordo com o Instituto Akatu (2015), deixar a torneira aberta durante a higiene bucal pode gastar desperdiçar de 12 a 20 litros de água por minuto. Assim, a simples prática de fechar a torneira contribuiria muito para a economia e a sustentação desse recurso hídrico.

Tabela 3 – Média e desvio padrão das variáveis

VARIÁVEIS MÉDIA Σ1) Ser rica é importante para ela. Ela quer ter muito dinheiro e possuir coisas caras. 4,462 1,216

2) É importante para ela viver em um ambiente seguro. Ela evita qualquer coisa que possa colocar sua segurança em perigo 2,538 1,082

3) Ela acredita que as pessoas deveriam fazer o que lhes é ordenado. Ela acredita que as pessoas deveriam sempre seguir as regras, mesmo quando ninguém está observando.

3,538 1,447

4) É importante para ela ouvir as pessoas que são diferentes dela. Mesmo quando não concorda com elas, ainda quer entendê-las. 2,077 1,071

5) Pensar em novas ideias e ser criativa é importante para ela. Ela gosta de fazer coisas de maneira própria e original. 2,346 1,269

6) Ela acredita que é importante que todas as pessoas do mundo sejam tratadas com igualdade. Ela acredita que todos deveriam ter oportunidades iguais na vida.

2 1,77

7) É muito importante para ela demonstrar suas habilidades. Ela quer que as pessoas admirem o que ela faz. 2,731 1,257

8) Ela acha que é importante fazer várias coisas diferentes na vida. Ela sempre procura novas coisas para experimentar. 2,115 1,250

9) É importante para ela ouvir as pessoas que são diferentes dela. Mesmo quando não concorda com elas, ainda quer entendê-las. 2,007 1,071

10) Ela acha que é importante não querer mais do que se tem. Ela acredita que as pessoas deveriam estar satisfeitas com o que têm. 3,577 1,335

11) Ela procura todas as oportunidades para se divertir. É importante para ela fazer coisas que lhe dão prazer. 2,808 1,272

12) É importante para ela tomar suas próprias decisões sobre o que faz. Ela gosta de ser livre para planejar e escolher suas atividades. 2 1,441

13) É muito importante para ela ajudar as pessoas ao seu redor. Ela quer cuidar do bem-estar delas. 1,923 1,299

14) Ser muito bem-sucedida é importante para ela. Ela gosta de impressionar as demais pessoas. 3,269 1,482

15) A segurança de seu país é muito importante para ela. Ela acha que o governo deve estar atento a ameaças de origem interna ou externa 2,654 1,357

16) Ela gosta de se arriscar. Ela está sempre procurando aventuras. 3,731 1,60717) É importante para ela se comportar sempre corretamente. Ela quer evitar fazer qualquer coisa que as pessoas possam achar errado. 3,192 1,519

18) É importante para ela estar no comando e dizer aos demais o que fazer. Ela quer que as pessoas façam o que manda 3,731 1,288

19) É importante para ela ser fiel a seus amigos. Ela quer se dedicar às pessoas próximas de si. 1,886 0,933

20) Ela acredita firmemente que as pessoas deveriam preservar a natureza. Cuidar do meio ambiente é importante para ela. 1,692 0,951

21) Ser religiosa é importante para ela. Ela se esforça para seguir suas crenças religiosas. 3,154 1,536

22) É importante para ela que as coisas estejam organizadas e limpas. Ela realmente não gosta que as coisas estejam bagunçadas. 2,731 1,195

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23) Ela acha que é importante demonstrar interesse pelas coisas. Ela gosta de ser curiosa e tentar entender todos os tipos de coisas. 2,269 0,943

24) Ela acredita que todas as pessoas do mundo deveriam viver em harmonia. Promover a paz entre todos os grupos no mundo é importante para ela. 1,962 0,939

25) Ela acha que é importante ser ambiciosa. Ela quer demonstrar o quanto é capaz. 3,615 1,389

26) Ela acha que é melhor fazer as coisas de maneira tradicional. É importante para ela manter os costumes que aprendeu. 3,692 0,951

27) Aproveitar os prazeres da vida é importante para ela. Ela gosta de se mimar. 3,115 1,476

28) É importante para ela entender as necessidades dos outros. Ela tenta apoiar aqueles que conhece. 2,154 1,099

29) Ela acredita que deve sempre respeitar seus pais e os mais velhos. É importante para ela ser obediente. 2,077 0,958

30) Ela quer que todos sejam tratados de maneira justa, mesmo aqueles que não conhece. É importante para ela proteger os mais fracos na sociedade. 2,038 1,192

31) Ela gosta de surpresas. É importante para ela ter uma vida emocionante. 3,115 1,44932) Ela se esforça para não ficar doente. Estar saudável é muito importante para ela. 1,885 1,049

33) Progredir na vida é importante para ela. Ela se empenha em fazer melhor que os outros. 2,654 1,269

34) Perdoar as pessoas que lhe fizeram mal é importante para ela. Ela tenta ver o que há de bom nelas e não ter rancor. 2,692 1,35

35) É importante para ela ser independente. Ela gosta de contar consigo mesmo. 2,192 1,641

36) Contar com um governo estável é importante para ela. Ela se preocupa com a preservação da ordem social. 2,538 1,84

37) É importante para ela ser sempre educada com os outros. Ela tenta nunca incomodar ou irritar os outros. 1,731 1,094

38) Ela realmente quer aproveitar a vida. Divertir-se é muito importante para ela. 2,692 1,264

39) É importante para ela ser humilde e modesta. Ela tenta não chamar atenção para si. 2,731 1,094

40) Ela sempre quer ser aquela a tomar decisões. Ela gosta de liderar. 3,269 1,19541) É importante para ela se adaptar e se ajustar à natureza. Ela acredita que as pessoas não deveriam modificar a natureza. 2,308 0,867

Fonte: Elaborada pelas autoras

A escala do questionário sobre Valores Pessoais é estruturada de maneira inversa as escalas normalmente utilizadas, sendo 1 para “Se parece muito comigo” e 6 para “Não se parece nada comigo”.

Conforme apresentado na Tabela 3, as médias estão situadas entre os valores de 1,692 (maior identificação) e 4,462 (menor identificação).

A variável que apresentou a maior identificação foi a Q20 - Ela acredita firmemente que as pessoas deveriam preservar a natureza. Cuidar do meio ambiente é importante para ela, com média de 1,692, o que indica que os respondentes consideram importante preservar a natureza e cuidar do meio ambiente. A variável Q37-É importante para ela ser sempre educada com os outros. Ela tenta nunca incomodar ou irritar os outros, também apresentou uma elevada média (1,731), apresentando assim, um segundo valor distinto sobre valores

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pessoais. Essa variável demonstra que os egressos acreditam no valor da educação para com o próximo.

Em contra partida, outras variáveis apresentaram menor identificação em comparação com as demais. A variável Q1 - Ser rica é importante para ela. Ela quer ter muito dinheiro e possuir coisas caras, obteve a média (4,462), indicando que os respondentes não estão preocupados com bens materiais.De acordo com Perkins-Reed (1990, p. 307) pesquisas e estudos revelam que as pessoas que enriquecem se dedicam a uma ocupação de seu agrado, ao invés de tolerar um trabalho do qual desgostam, tentando poupar para o “grande final”, quando por fim se experimenta o prazer. O fato se justifica porque o dinheiro em si é uma substância neutra, que se atrai por energia, ânimo e entusiasmo elevados. Portanto quanto mais gostamos de nosso trabalho, mais dinheiro tendemos a atrair ao realizá-lo. A variável Q16 - Ela gosta de se arriscar. Ela está sempre procurando aventuras, e a variável Q18 - É importante para ela estar no comando e dizer aos demais o que fazer. Ela quer que as pessoas façam o que manda,foram a segunda menor identificaçãoe apresentaram uma média de (3,731). Isto demonstra que a tendência de liderança não pode ser justificadanos respondentes.

Conforme Posner e Kouzs (2013), embora a liderança posso ser aprendida, nem todo mundo quer aprender a ser líder, assim como nem todas as pessoas que aprendem a ser líder dominam o ofício, pois torna-se o melhor líder exige intenso desejo de superar-se, forte crença em que é possível aprender novas qualificações e habilidades, além de dedicação efetiva na prática deliberada e no aprendizado contínuo.

CONSIDERAÇÕES FINAISO presente trabalho teve como objetivoverificar os valores pessoais e o comportamento

ecológico dos egressos do Programa de Pós Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Maria. Acredita-se que de forma geral, foi possível alcançar o objetivo proposto, na medida em que identifica-se os valores predominantes no grupo pesquisado e a sua percepção acerca de seu próprio comportamento pró-ambiental.

A relevância de pesquisa concomitante dos dois temas, valores e comportamento ambiental, se dá pelo fato de que o primeiro é a base para o segundo. Ou seja, os valores orientam o comportamento de cada indivíduo, sendo, portanto, uma peça chave para compreender a adoção ou não de atitudes ambientalmente responsáveis.

Percebeu-se que os egressos participantes da pesquisa têm um comportamento ecológico esperado principalmente em questões como o resguardo em jogar papel no chão, aguardando encontrar uma lixeira para poder dar a correta destinação. Também, demonstraram ter a preocupação com o consumo desnecessário de energia elétrica, apagando as lâmpadas ao deixar um ambiente. No entanto, algumas questões como o desperdício de água ao escovar os dentes ainda parecem ser bastante comuns entre os respondentes, não tendo completo entendimento do quão importante é o consumo consciente nas atividades diárias deste recurso tão essencial para a nossa sobrevivência.

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Quanto aos valores pessoais, verifica-se que os egressos acreditam no valor da educação para com o próximo e não estão preocupados com bens materiais. Além disso, constata-se que assumir riscos e posições de liderança não são consideradas circunstâncias pretendidas pelos respondentes.

As limitações deste estudo estão na escolha da amostra ser não-probabilística por acessibilidade, o que impossibilita a inferência destes resultados a todos os egressos do PPGA da UFSM e também a dificuldade de contatá-los. Como sugestão para trabalhos futuros, orienta-se a aplicação desta metodologia para conhecer os valores pessoais e o comportamento ecológico de mais egressos e, até mesmo, de outros públicos.

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O Reflexo da Ética Profissional na Audiotoria Contábil: O Caso da Enron Corporation

Cinara de Cássia Paze ValenteJones Klann

Lucas Almeida dos Santos

RESUMOEste trabalho objetivou mostrar o reflexo da ética para o auditor contábil no exercício profissional. Diante isso, foram conceituados e contextualizados contabilidade, princípios contábeis, contador, audi-toria, controle interno, erro, fraude e ética profissional, a fim de mostrar o contexto que envolve a au-ditoria e, consequentemente, a ética do auditor. Este trabalho caracterizou-se como um ensaio teórico, com pesquisa qualitativa, bibliográfica e documental. Constatou-se que a ética, para o auditor contábil, reflete diretamente no desempenho de sua atividade profissional, a qual está voltada para testar a eficiência e eficácia do controle patrimonial. Assim, este profissional deve exercer uma conduta ética, de acordo com as normas profissionais existentes, sem perder sua autonomia para trabalhar, pois o parecer dos auditores sobre as demonstrações contábeis é sinônimo de confiabilidade.

Palavras-chave: Auditoria. Contabilidade. Ética. Fraude.

INTRODUÇÃOA organização Enron Corporation, companhia de energia norte-americana, fundada

em 1985 e localizada em Houston, foi uma das empresas líderes no mundo em distribuição de energia e comunicações; empregava cerca de 21.000 pessoas. Aparentemente, apresentava excelentes resultados, possuía ótima reputação, além de ser constantemente homenageada por revistas conceituadas. A mídia, na época, destacava o sucesso da Enron, alardeando que a empresa representava tudo o que havia de mais moderno e qualificado em termos de gestão de empreendimentos.

Alvo de diversas denúncias de fraudes contábeis e fiscais, o grupo, em dezembro de 2001, protagonizou a maior concordata da história corporativa nos Estados Unidos e arrastou consigo a empresa Arthur Andersen, que fazia a sua auditoria. Na época, as investigações revelaram que a Enron havia manipulado seus balanços com a ajuda de empresas e bancos, escondendo dívidas de bilhões de dólares, a fim de inflar artificialmente seus lucros.

Em dezembro de 2000, um ano antes da crise, as ações da Enron indicavam um crescimento de 1.700% desde sua primeira oferta, tendo atingido o seu pico ao preço de US$90 por ação. Em meados de 2001, algumas semanas após o início do escândalo, cada ação estava cotada a US$54,54, e em dezembro de 2001, esta mesma ação estava cotada a US$0,81 (BORGERTH, 2006).

De acordo com a investigação, os executivos e os contadores, assim como as instituições

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financeiras e os escritórios de advocacia, que à época trabalhavam para a companhia, foram, de alguma forma e em diferentes graus, responsáveis pelo colapso da empresa, pois formaram uma rede de cumplicidade que possibilitou à Enron praticar as fraudes contábeis que praticou (WEISSHEIMER, 2006).

Dessa forma, surgiram questionamentos quanto a ética dos envolvidos, que em troca de dinheiro fácil, tiveram total ausência de escrúpulos e de caráter, a ponto de praticar uma fraude desse porte em uma empresa, afetando milhares de pessoas, no mundo todo. De acordo com os relatos da mídia, essa fraude era tão grandiosa que até mesmo experientes executivos, mentores de bancos e empresas de médio e grande porte, acabaram se associando a Enron (MACHADO, 2007).

Diante do quadro apresentado pela empresa, o principal questionamento foi acerca do papel desempenhado pela auditoria independente que tinha o dever de fornecer informações de todas as operações e tinha a obrigação de transparência com o mercado. A auditoria responsável pelos balanços também prestava consultoria à Enron, atividade essas que são consideradas incompatíveis de serem realizadas pela mesma empresa.

Tendo em vista a situação apresentada, este estudo debruça-se acerca da organização Enron colocando como problemática de pesquisa o seguinte questionamento: como a ética profissional do auditor contábil reflete no exercício profissional? Visando responder a problemática levantada, a presente pesquisa aborda como objetivo geral analisar as ações do auditor contábil sob a perspectiva da ética no exercício profissional. Para tanto, como forma de atingir o objetivo proposto, buscar-se-á, também, contextualizar princípios contábeis, tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos; contextualizar auditoria, controle interno, erro e fraude; dissertar sobre ética profissional, pois a Contabilidade, como ciência, tem seu código de ética profissional, seus princípios, suas normas, e a Auditoria, ramo da contabilidade, tem princípios específicos, referentes a forma de trabalhar do auditor e ao controle interno, o qual, se eficiente, pode evitar erros e fraudes. Se o auditor observar todos esses princípios e normas e agir de forma ética, poderá colaborar para uma boa gestão, tanto empresarial, quanto governamental.

Assim, justifica-se a presente pesquisa devido a relevância da temática abordada para a área contábil, uma vez que possibilita um pensamento crítico-reflexivo capaz de promover mudanças na forma de pensar e agir do indivíduo, o qual tem a oportunidade de constatar a importância e o reflexo da postura ética no exercício profissional.

REFERENCIAL TEÓRICO

Contabilidade

A história da contabilidade no Brasil se sobressaiu, com muita relevância, na década de 70. Assim, Niyama (2009) recorda sobre os principais passos da contabilidade nesta época, que se destacaram com a obrigatoriedade de as companhias abertas terem suas demonstrações contábeis padronizadas quanto à sua estrutura, auditadas por auditores independentes. Outra

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conjuntura relevante foi a influência da escola norte-americana de contabilidade que deu início a estudos sobre princípios contábeis e a promulgação da Lei 6.404/76 (BRASIL, 1976).

Contabilidade é a ciência que objetiva o estudo das variações quantitativas e qualitativas ocorridas no patrimônio das entidades. Em outras palavras, Szuster et al. (2008, p. 17) elucidam que:

A contabilidade é a ciência social que tem por objetivo medir, para poder INFORMAR, os aspectos quantitativos e qualitativos do patrimônio de quaisquer entidades. Constitui um instrumento para gestão e controle das entidades, além de representar um sustentáculo da democracia econômica, já que, por seu intermédio, a sociedade é informada sobre o resultado da aplicação dos recursos conferidos às entidades (grifo do autor).

Os usuários da contabilidade não são somente os que participam da administração da entidade, mas também os clientes, os fornecedores, os bancos, o governo, os empregados, os acionistas.

A partir destas considerações, pode-se observar a importância da contabilidade para a empresa, visto que, para Marion (2009, p. 25), “ela coleta todos os dados econômicos, mensurando-os monetariamente, registrando-os e sumarizando-os em forma de relatórios ou de comunicados, que contribuem sobremaneira para a tomada de decisões”. Consequentemente, colabora para uma boa gestão empresarial.

Princípios Contábeis

Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade. No Brasil, foram estabelecidos pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) por meio da resolução 750/93 (CFC, 1993). Em 2010, para haver uma adequação e harmonização com as normas internacionais de contabilidade, os princípios contábeis foram revistos e readaptados pelo CFC, por meio da resolução 1.282/2010 (CFC, 2010), bem como sua nomenclatura alterou-se para “Princípios de Contabilidade”. São eles:

Entidade - a contabilidade deve ter distinção e separação entre pessoa física e pessoa jurídica, o patrimônio da empresa jamais se confunde com os dos seus sócios;

Continuidade - a empresa deve ser avaliada e escriturada na suposição de que a entidade nunca será extinta e seus ativos devem ser avaliados de acordo com potencialidade em gerar benefícios futuros para empresa, na continuidade de suas operações;

Oportunidade - a integridade dos registros é de fundamental importância para a análise dos elementos patrimoniais, todos os fatos devem ser registrados, incluindo os das filiais, sucursais e demais dependências de um a mesma entidade, implica registrar os fatos contábeis quando eles acontecem;

Registro pelo Valor Original - determina que o registro seja feito no momento em que o fato ocorre (tempestividade) e pelo seu valor total (totalidade), expresso em moeda corrente do país;

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Competência - registro de todas as receitas e despesas de acordo com o fato gerador, no período da competência;

Prudência - nunca antecipar lucros e sempre prever possíveis prejuízos.

Santos (2008), em suas pesquisas, encontrou um apanhado dos principais critérios contábeis americanos e seus objetivos, os quais são citados a seguir.

Objetivo A. Que as vendas, as receitas, os estoques, os custos de venda, as despesas e os lucros e perdas sejam contabilizados de forma tal que os resultados das operações do período ou períodos abordados sejam razoavelmente refletidos.

Objetivo B. Que seja contabilizado o aumento de capital pelos acionistas mediante contribuição em ativos ou em lucros acumulados de forma correta. A estrutura e apresentação das contas e das demonstrações financeiras de uma empresa têm por finalidade a observância das exigências estatutárias e dos contratos sociais das referidas empresas, bem como refletir as relações financeiras significativas.

Objetivo C. Que sejam registrados os ativos investidos na empresa pelos acionistas (contribuição sob forma de propriedade ou de lucros acumulados) e pelos credores, de maneira correta, para que, quando forem considerados, em relação ao passivo e ao patrimônio líquido, haja uma apresentação correta e fidedigna da situação financeira da empresa tanto no começo como no final do período. Deve ficar claro que as demonstrações da situação financeira ou os balanços não têm por finalidade mostrar o valor presente do bem para a empresa, nem seu valor passível de realização, em caso de liquidação.

Objetivo D. Que sejam registrados de maneira correta todos os passivos conhecidos, de forma tal que o resumo dos mesmos, tomado em conjunto com a demonstração do ativo, do patrimônio líquido, apresente razoavelmente a situação financeira da empresa, seja no início, seja no fim do exercício.

Objetivo E. As demonstrações financeiras deverão ser feitas de conformida¬de com as normas aplicáveis à elaboração de relatórios, contidas nas normas de auditoria geralmente aceitas. Os relatórios para investidores deverão ser feitos se¬gundo a base da entidade.

Como pode-se observar, os principais critérios contábeis americanos e seus objetivos vêm de encontro aos princípios contábeis, em conformidade com as normas internacionais de contabilidade.

Profissional Contábil

A Profissão contábil consiste em um trabalho exercido habitualmente nas células sociais, com o objetivo de prestar informações e orientações baseadas na explicação dos fenômenos patrimoniais, ensejando o cumprimento de deveres sociais, legais, econômicos, bem como a tomada de decisões administrativas, além de servir de instrumentação histórica da vida da riqueza (SÁ, 2001).

Dessa forma, a profissão contábil divide-se em dois níveis: técnico em contabilidade e bacharel em Ciências Contábeis, ou contador, como é mais conhecido. Nesse sentido,

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o contador é o profissional que atua na área financeira, econômica e patrimonial, sendo responsável pela elaboração das demonstrações contábeis e pelo estudo dos elementos que compõem o patrimônio monetário das companhias. Para o contador, cada número tem seu significado, pois pode ser traduzido em informações, a fim de auxiliar os gestores na tomada de decisão, além de traduzir a representatividade dos negócios de uma empresa.

No que tange a prática de auditoria, seja ela externa ou interna, esta é de exercício exclusivo do contador. A exceção se dá ao profissional de auditoria interna, quando este não tem sob sua análise contas contábeis. A profissão de auditoria exige, em primeiro lugar, que o auditor obedeça aos princípios éticos profissionais, previstos nas normas de auditoria relativas ao auditor e, em segundo lugar e, não menos importante, que o auditor tenha qualificações pessoais e técnicas que suportem um bom trabalho. Jund (2006) menciona diversas qualificações que são necessárias ao auditor. Dentre elas, enumera-se informação qualificada, sigilo profissional, bom senso, objetividade, perspicácia e caráter. Diante disso, conclui-se que, além do grande conhecimento exigido do profissional da auditoria, o trabalho do auditor deve ser executado de forma que mereça toda a credibilidade que o objetivo do mesmo exige, não sendo possível nenhuma dúvida quanto sua integridade e honestidade.

Portanto, percebe-se que ser auditor é contribuir com a prevenção de erros, falhas e incorreções, objetivando tornar a empresa mais segura e sólida, preservando sua continuidade, a fim de salvaguardar empregos e o equilíbrio social na comunidade em que a empresa está instalada.

Auditoria

A auditoria é uma especialização contábil voltada a testar a eficiência e eficácia do controle patrimonial, objetivando expressar a opinião sobre determinado fato. Tem como objeto o conjunto de todos os elementos de controle do patrimônio administrativo, os quais compreendem registros contábeis, papéis, documentos, fichas, arquivos e anotações que comprovem a veracidade dos registros e a legitimidade dos atos da administração.

Portanto, a auditoria tem como finalidade determinar se as informações contidas nos registros contábeis e suas Demonstrações refletem, ou não, a situação do patrimônio da empresa em determinada data e suas variações em certo período, conferindo maior veracidade às Demonstrações Contábeis e às informações nelas contidas (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013a). A auditoria, por meio da relevância que lhe é atribuída, atesta aos usuários das informações contábeis que os controles e as técnicas contábeis, os procedimentos tributários e a obediência às normas reguladoras estão sendo atendidos.

Em outras palavras, a auditoria pode ser classificada em interna e externa, sendo que, para isso, leva em consideração a forma de intervenção do auditor, uma vez que, sendo interna, geralmente é realizada por profissional ligado à organização como colaborador, o qual está vinculado a ela por contrato trabalhista continuado. Esta auditoria é um instrumento de controle administrativo, uma atividade de assessoramento, que objetiva avaliar a eficiência e a eficácia das atividades operacionais, focado principalmente nos controles internos, buscando neles deficiências e riscos envolvidos, sendo dessa forma, realizada periodicamente.

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Contudo, o auditor interno deve manter a sua independência e possuir autoridade para realizar seu trabalho, tendo em vista que terá que revisar documentos, registros, avaliar as políticas, procedimentos, técnicas e sistemas. Dessa forma, este não é responsável pela definição e execução de atividades operacionais, mas pelo trabalho que executa, quanto às constatações que levantou, o que não exime as áreas auditadas das responsabilidades que lhes cabem. Assim, este profissional tem a atuação de um consultor para a organização, promovendo medidas de incentivo e propondo aperfeiçoamentos no funcionamento organizacional.

Por outro lado, a auditoria externa tem como uma de suas principais características a independência, total e absoluta, do auditor, em relação a empresa auditada, portanto, deve ser realizada por profissional independente, sem ligação ao quadro de funcionários da empresa, por meio de contrato de prestação de serviços. Ela objetiva comprovar a exatidão dos registros contábeis, propor soluções e melhorias para o aperfeiçoamento dos controles e sistemas da empresa contratante, verificar a correta apresentação e divulgação das demonstrações contábeis no período e emitir um parecer sobre os processos auditados, e deve ser realizada eventualmente. O parecer dos auditores sobre as demonstrações contábeis é sinônimo de confiabilidade às informações prestadas.

Controle Interno

O controle interno pode ser entendido como um conjunto de procedimentos, métodos ou rotinas que objetiva proteger ativos, produzir dados contábeis confiáveis e ajudar a administração na condução ordenada dos negócios da empresa, de caráter permanente (ALMEIDA, 1996). As empresas que têm controle interno adequado podem obter as informações necessárias para uma melhor gestão, a fim de auxiliar os administradores no aperfeiçoamento das operações, aprimorar a eficiência dos processos produtivos com redução de custos e melhorar a qualidade dos produtos e serviços, tornando a empresa cada vez mais competitiva no mercado (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013b).

No que tange as limitações do controle interno, estas podem dar-se em relação a conluio de funcionários na apropriação de bens da empresa; falta de instrução adequada aos funcionários quanto as normas internas; funcionários negligentes na execução de suas tarefas. O auditor deve certificar-se de que o controle interno levantado é o que realmente está sendo utilizado, caso não seja, deve alterar as informações sobre o sistema, fazendo os ajustes necessários à situação real, bem como tem o dever de avaliar o sistema que efetivamente está sendo praticado no controle dos ativos da empresa e na produção de dados contábeis confiáveis. Para isso, pode utilizar-se dos testes de observância e substantivos.

Portanto, os testes de observância são utilizados para analisar a efetividade operacional dos controles internos na prevenção, detecção e correção de anomalias, a fim de obter segurança de que os procedimentos de controle interno estão efetivamente sendo observados e sendo seguidos por empregados e administradores, enquanto que os testes substantivos são utilizados para obter evidências da validade e propriedade do tratamento contábil das transações e saldos, a fim de validar os saldos apresentados nas demonstrações contábeis.

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Além de aplicar os testes, o auditor deve verificar se o controle interno obedece aos seguintes princípios, a fim de ser um instrumento eficiente e eficaz de gestão (CREPALDI, 2010):

Responsabilidade - as atribuições dos funcionários ou setores internos da empresa devem ser claramente definidas e limitadas, de preferência por escrito, mediante o estabelecimento de manuais internos de organização.

Rotinas Internas – devem ser definidas no manual de organização, com o estabelecimento de formulários internos e externos, instruções de preenchimento e execução de procedimentos.

Acesso aos Ativos – deve-se limitar o acesso dos funcionários aos ativos da empresa e estabelecer controles físicos sobre esses ativos.

Segregação de Função – deve ser estabelecido pela empresa que uma mesma pessoa não tenha acesso aos seus ativos e aos controles contábeis.

Confronto dos Ativos com os Registros - a empresa deve estabelecer procedimentos para confrontar periodicamente os ativos sob responsabilidade de seus funcionários com os registros da contabilidade, a fim de detectar desfalques ou erros de registro contábil.

Amarrações do Sistema - o sistema de controle interno deve ser organizado de maneira que sejam registradas apenas as transações autorizadas, por seus valores corretos e dentro do período de competência.

Auditoria Interna – deve-se verificar periodicamente se os funcionários estão cumprindo o que foi determinado no sistema de controle interno, ou se o sistema deve ser adaptado às novas circunstâncias.

Custo x Benefícios do Controle Interno - o custo do sistema de controle interno não deve ser mais oneroso do que os benefícios que se espera obter com a sua implantação.

Sendo assim, o auditor interno, visando melhorar a eficiência operacional da empresa, aplica o seu trabalho na revisão dos controles internos para acompanhar a sua eficácia e verificar se estão sendo aplicados adequadamente pelos funcionários. No entanto, a realização do exame do controle interno é utilizada para determinar sua adequação e efetividade, indicando a extensão dos processos de auditoria independente para que possa confirmar a veracidade dos registros das Demonstrações Contábeis.

Erro e Fraude

O erro pode ser considerado como uma ação involuntária, sem o intuito de causar dano, um ato não intencional resultante de omissão, desatenção ou má interpretação de fatos na elaboração de registros e demonstrações contábeis. Já fraude pode ser considerada como ato intencional de omissão ou manipulação de transações, adulteração de documentos, registros e demonstrações contábeis.

Na contabilidade, o termo fraude refere-se a um ato intencional de omissão ou manipulação de transações, adulteração de documentos, registos e demonstrações financeiras.

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Sá (2008) ressalta que a fraude se refere a um ato intencional, por parte de um ou mais indivíduos, membros da administração, empregados ou terceiros, que resulta em declarações falsas das demonstrações financeiras.

O auditor não é responsável nem pode ser responsabilizado pela prevenção de fraudes ou erros, mas deve planejar seu trabalho avaliando o risco da sua ocorrência, de forma a ter grande probabilidade de detectar aqueles que impliquem efeitos relevantes nas demonstrações contábeis. Ele tem a obrigação de comunicar a fraude ou erro à administração da entidade e sugerir medidas corretivas, informando sobre os possíveis efeitos no seu parecer, caso elas não sejam adotadas (SANTOS et al., 2007).

Portanto, o auditor deve avaliar criticamente o sistema contábil, incluindo o controle interno, tanto em termos de concepção quanto de funcionamento efetivo, concedendo especial atenção às condições ou eventos que representem aumento de risco de fraude ou erro.

Ética Profissional

A ética é a ciência da moral e se tornou a disciplina que estuda e regula as ações do comportamento humano, assim, acaba influenciando a Moral. Para Barros (2010), comportamento ético exige mais que leis, normas, regulamentos, sendo que nenhum código de ética contempla todas as situações que surgem e exigem do profissional um julgamento pessoal, subjetivo sobre o comportamento ético. Assim, em qualquer profissão, os princípios éticos devem ser respeitados. Para a autora,

no caso do Contador, existe um princípio Moral geral que é o Código de Ética do Profissional Contabilista, e outro, decorrente da moral particular, ou individual, que é de natureza comportamental. Nesse caso, existe um código de ética a ser obedecido e outro que é regido pelo caráter, pelos princípios e pelos valores do profissional como pessoa, como indivíduo (BARROS, 2010, p. 08).

No Brasil, o Código de Ética Profissional do Contabilista foi editado por meio da Resolução nº 290 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) (CFC, 1970), posteriormente atualizada pela Resolução CFC nº 803, de 10 de outubro de 1996 (CFC, 1996). Este Código define como deve ser a conduta do profissional contábil: exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade, observar a legislação vigente, resguardados os interesses de seus clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais, zelar pela sua competência exclusiva na orientação técnica dos serviços a seu cargo.

Ainda, o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) estabelece normas e princípios que garantem maior transparência possível nas demonstrações contábeis e na saúde das empresas, pois a profissão de auditor é de responsabilidade pública e social.

De acordo com Gouvêa e Avanço (2006), o profissional da Contabilidade, que deve primar sempre pela ética e pela moral, deve ter os cuidados necessários quanto ao que fazer e como fazer, deixando claro ao seu contratante até onde vai a sua responsabilidade. Isso está voltado mais aos donos de escritório, ou seja, aqueles que terceirizam os serviços contábeis.

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Estes não devem dizer sim aos seus clientes quando o correto seria dizer não.

Conforme o Conselho Federal de Contabilidade (CFC, 2003) a ética é necessária para que o contabilista possa pautar-se no Código de Ética da Profissão onde estão inseridos os problemas específicos da profissão e as maneiras de resolvê-los de forma clara e idônea. Deve-se salientar também, que nenhum código consegue contemplar todas as situações, sendo que, no momento de alguma decisão que não se encontra clara no Código, devem prevalecer o bom senso e a honradez para o bem-estar da categoria profissional.

METODOLOGIAO presente estudo, entendido como um ensaio teórico, classifica-se como uma pesquisa

qualitativa, pois não requer uso de métodos e técnicas estatísticos. Em relação ao objetivo proposto, o estudo possui caráter descritivo, pois preocupa-se em descrever as características de determinada população ou fenômeno ou estabelecer relações entre variáveis, envolvendo o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados (SILVA; MENEZES, 2005).

O procedimento técnico utilizado foi a pesquisa bibliográfica, a qual, segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 166), “abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo” e tem por finalidade “colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto”.

Ademais, como forma de coletar dados, este estudo se apresenta como documental, pois está restrito a documentos (GIL, 2009), uma vez que foi utilizado o caso da Organização Enron Corporation, como ponto de partida para esclarecer questões referentes a auditoria contábil e a ética profissional, na construção dos resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Os escândalos financeiros envolvendo grandes corporações, como a Enron, e

empresas de Auditoria, como a Arthur Andersen, levaram à discussão sobre os pressupostos éticos no campo da Contabilidade, particularmente na ação dos auditores. Um código de ética é o verdadeiro norteador de toda a conduta dos profissionais regidos por ele, pois as leis, normas e princípios existem para impedir a conduta não ética, como a prática da sonegação, manobras contábeis, aceitação de subornos ou propinas, fraudes em balanços, o que expõe a classe contábil de forma negativa.

O mundo corporativo gera pressões para atingir resultados e objetivos, o que pode levar colaboradores, executivos e parceiros comerciais a problemas de conduta. Esses deslizes éticos na profissão podem ocorrer pelo temor de perder o emprego ou o cliente, a ganância ou até mesmo o jogo de poder.

O profissional contábil trabalha com um elemento precioso que é a informação, normalmente relativa à área financeira e de negócios pertencentes a terceiros, por isso deve aplicar diariamente seus valores éticos. O auditor, por meio de seu trabalho, conhece todas

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as virtudes e fragilidades das empresas onde atua, conhecendo também, os responsáveis e os executores de cada atividade operacional. É por isso que o auditor deve se comportar frente a um código de ética rígido, conseguindo assim, os resultados que de seu trabalho se espera, tanto pela administração da empresa quanto da sociedade em que atua. Para isso, deve adquirir consciência dos valores éticos da profissão, bem como perceber a importância de seu papel na sociedade e as consequências que as condutas não éticas provocam na classe contábil como um todo, assim, ele agirá de forma ilibada, pois disto dependerá a sua sobrevivência profissional.

No entendimento de Aires et al. (2014, p. 8),

a ética não é uma dificuldade no sentido de criar empecilhos ou problema para a ação humana, ela reside no esforço de entendimento, compreensão, teorização e fundamentação da ação humana na direção daquilo que deve ser feito. Assim, a ética não contradiz a Contabilidade e nem a controla, mas lhe dá fundamento e legitimidade.

A conduta ética também envolve o ambiente de trabalho, a fim de contribuir para o bom funcionamento das rotinas de trabalho e para a formação de uma imagem positiva da empresa, pois não adianta a empresa ter uma conduta ética definida, bem como a profissão, se o profissional não é ético.

Retomando a Enron, além das manipulações contábeis, descobriu-se que o código de ética da empresa era constantemente objeto de exceções e não-conformidades, decisões eram aprovadas sem que tivessem passado por todas as instâncias de controle interno esperadas e nem todas as decisões relevantes eram submetidas à aprovação do Conselho de Administração da Empresa. A empresa se caracterizou por um infindável número de falhas de revisão e monitoramento por parte do seu Comitê de Auditoria, que, teoricamente, deveria estar atento a qualquer tipo de falha.

Deve-se considerar que a observância aos princípios de controle interno não garante a ausência de irregularidades na empresa, pois não existe um sistema de controle perfeito, que elimine totalmente estes problemas, mas pode reduzir consideravelmente a existência de erros e fraudes.

Com relação à auditoria externa, constatou-se que os procedimentos adotados pela Arthur Andersen em relação à empresa contrariavam todas as práticas de independência que devem nortear a relação entre uma empresa e seus auditores independentes. Isto comprova-se pelo fato de, em 2001, a Andersen ter recebido milhões de dólares por serviços prestados à Enron, sendo que alguns desses milhões originaram-se da prestação de serviços de consultoria; ambas atividades não podem ser exercidas pela mesma empresa.

Diante disso, conclui-se que a Andersen havia participado ativamente da estruturação das operações antiéticas. Dessa forma, obviamente, a divisão de auditoria da empresa jamais poderia condenar tais operações. No entanto, o fato que mais chamou a atenção sobre a participação da Andersen no esquema de corrupção que imperava na Enron foi que a empresa, a qual deveria tomar uma posição independente em relação à empresa que auditava, destruiu

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toda a documentação que pudesse comprometer a Enron ou a si própria, assim que começaram os rumores sobre problemas, agindo de forma totalmente antiética.

O colapso da Enron provocou uma forte crise econômica, além da perda da confiabilidade no mercado de capitais. A fim de regulamentar este mercado e aperfeiçoar os sistemas financeiros e contábeis nas empresas, uma série de medidas regulatórias foi introduzida, tanto nos Estados Unidos quanto no mundo. Dentre estas medidas, destaca-se a Lei Sarbanes-Oxley, a qual tinha por objetivo restaurar a confiança dos investidores no mercado financeiro e prevenir fraudes corporativas, bem como a convergência das normas internacionais de contabilidade para uma postura mais rígida, com o intuito de evitar ações antiéticas que abalam, não apenas a economia de um país, mas a economia mundial.

Observa-se que, se os auditores, independentemente de serem internos ou externos, houvessem recusado participar do esquema de fraudes, o desfecho desse escândalo poderia ter sido diferente, e a profissão contábil, bem como as demais, não teria sido maculada. Mas tudo isso serviu para alertar o mundo corporativo a rever rotinas e procedimentos, bem como seus relatórios, a fim de ter uma administração eficiente e eficaz.

Diante disso, percebe-se a importância do controle interno e da auditoria para a gestão, tanto empresarial quanto governamental, pois a auditoria visa à transparência da situação financeira da entidade, assim, colabora para garantir aos usuários que as informações evidenciadas estejam validadas e regularizadas, além de proporcionar às contas auditadas um maior grau de confiabilidade e transmitir aos investidores e acionistas essa garantia, bem como possibilita a revisão de procedimentos e métodos, pela administração da entidade auditada, se necessário.

CONCLUSÃODiante do contexto abordado, percebe-se que um profissional, para realizar seu

trabalho de forma correta, sem causar transtornos para a empresa, nem para seus usuários, deve ser, acima de tudo, ético. Outrossim, a ética reflete diretamente no desempenho profissional, sendo muito relevante no exercício de qualquer profissão, principalmente na auditoria contábil, pois é uma atividade que analisa se os dados estão corretos, previne erros e fraudes e traz maior confiabilidade às Demonstrações Contábeis.

Portanto, se o profissional não for confiável, ético, o resultado de seu trabalho também não será. No caso da Enron, se os auditores tivessem se negado a participar da rede de cumplicidade fraudulenta e informado às autoridades o que estava acontecendo, talvez a fraude não tivesse sido tão grande, nem atingido, de forma negativa, tantas pessoas. Em um ambiente competitivo, no qual as pessoas não medem esforços e nem escrúpulos para ganhar dinheiro e alcançar sucesso rapidamente, o profissional contábil precisa assumir uma posição para que não seja subornado, e isso se consegue mantendo uma conduta ética, tanto profissional quanto individual, porque, muitas vezes, esse profissional se depara com situações de manipulação de informações, a fim de ludibriar, principalmente, o fisco. Para isso, a única maneira de o contador recusar ou não ser conivente com situações ilícitas é manter

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sua postura e princípios éticos.

Portanto, a ética deve ser a base da construção da vida profissional, pois exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade é dever de todo o profissional da Contabilidade comprometido com a sociedade, com os colegas e com a classe.

Sugere-se que profissionais das diversas áreas de atuação da contabilidade, bem como profissionais de outras áreas do conhecimento, também reflitam e discutam sobre a importância da ética e o reflexo desta em sua profissão, a fim de aprender, de disseminar o conhecimento e, quem sabe, promover mudanças na forma de pensar e agir da sociedade como um todo. Essa sugestão também é válida para os auditores contábeis, pois ainda há muito a ser discutido sobre o tema da presente pesquisa.

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Educação Empreendedora: Características Comportamentais dos Alunos de Graduação

Cristiane KrügerJuliano Peransoni Pinheiro

Rafaela Escobar BürgerItalo Fernando Minello

RESUMOEste artigo apresenta alguns resultados do Projeto Educação e Atitude Empreendedoras desenvolvido na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O objetivo do projeto é estimular educação e atitude empreendedoras dos alunos de graduação da UFSM. O objetivo do presente artigo é analisar as carac-terísticas comportamentais empreendedoras (CCE’s) dos alunos de graduação da UFSM-FW. A metodo-logia tem enfoque quantitativo, descritivo e exploratório, com base em pesquisa teórico-empírica. Para mensurar as CCE’s utilizou-se o instrumento de McClelland. Os resultados evidenciam que os alunos apresentam características comportamentais empreendedoras, porém em níveis considerados baixo e muito baio. Até o momento não houve a possibilidade de abordar a totalidade de alunos da UFSM. Para estudos futuros sugere-se replicar a presente pesquisa em outras instituições de ensino superior e básico, dada à relevância do desenvolvimento da educação empreendedora no âmbito educacional.

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento empreendedor; ensino; alunos de graduação.

INTRODUÇÃOA educação empreendedora progride a passos largos e tem se espalhado amplamente

em todo mundo nas últimas décadas (BAPTISTA e NAIA, 2015). Na visão de Dolabela e Filion (2013) e Zampier e Takahashi, (2014), posicionam as universidades como uma das principais influenciadoras para o desenvolvimento de indivíduos empreendedores. Sob esse aspecto, as referidas instituições devem assumir um papel empreendedor diante dessa demanda, tanto em relação à gestão, ensino, pesquisa e extensão, quanto diante da interação com a comunidade, a criação de incubadoras e empresas juniores. Dolabela e Filion (2013) ressaltam a relevância de empreendedores para a sociedade, considerando-se que atributos do comportamento empreendedor podem ser aperfeiçoados.

O ensino em cursos de graduação deve oportunizar conhecimentos que ampliem a formação superior básica. Devem, ainda, estar em sintonia com as demandas da sociedade, assim como com a geração de conhecimentos na área de empreendedorismo, por meio de pesquisa científica. Para Marques e Moreira (2011), os alunos devem ser estimulados a desenvolver seu potencial empreendedor, para assegurar seu futuro profissional. Outro aspecto a ser considerado, no que se refere ao ensino do empreendedorismo, diz respeito ao seu objetivo, que consiste tanto em repensar um negócio já existente, quanto estruturar um novo negócio, incentivando o comportamento empreendedor (KRAKAUER et al., 2015) e preparando o aluno para ingressar no mercado de trabalho.

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Em função disso, ressalta-se a importância das universidades. Nada mais propício que as instituições de ensino e pesquisa, atuarem nesta frente como fomentadoras da atitude empreendedora nos alunos, a qual incrementa o desenvolvimento econômico e social, amparadas no princípio constitucional que visa garantir a qualidade do ensino, em seus diversos níveis e modalidades e é regulamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394, 1996). Por outro lado, percebe-se que existe uma lacuna entre a forma como o processo de aprendizagem ocorre dentro das universidades e a demanda do mercado, em todos os seus segmentos. Diante disso, a premência de reflexão acerca do papel dos gestores, professores, técnicos, alunos, órgãos de fomento, comunidade externa, enfim, de toda a sociedade (ZAMPIERI, 2010), no intuito de contribuir para o comprometimento das pessoas envolvidas, de forma a estimular e desenvolver o espírito empreendedor no âmbito da universidade (CLARK, 2015).

De acordo com o Ministério da Integração Nacional (2013), as universidades podem ser um importante vetor para o desenvolvimento regional, pois, além de capacitar pessoas e atrair pesquisadores, geram demandas, que podem ajudar a movimentar a economia de uma região. Estudo realizado por Cruz et al (2008), mostrou que a cada 1% de acréscimo nos investimentos em educação, incrementam os índices de produtividade e de renda per capta, na região em que se inserem, em 0,47% e 0,27%, respectivamente. Isso evidencia a necessidade de mobilização de instrumentos, sobretudo de políticas públicas, voltadas para a disseminação de conhecimentos a respeito do empreendedorismo, podendo as universidades atuarem na transmissão dos mesmos (GOMES et al., 2014).

As universidades atuam como propulsoras do desenvolvimento científico do conhecimento e estimuladoras de sua aplicação de maneira vivencial, por meio da tríade ensino, pesquisa e extensão, além da busca pelo desenvolvimento econômico e social. Esta atuação representa as diferentes dimensões para a criação e/ou transformação de uma universidade de pesquisa em uma universidade empreendedora (ETZKOWITZ, 2013; LORENTZ, 2015). Este papel alavancador tem como prerrogativa um processo de aprendizagem aderente às demandas mencionadas anteriormente, fazendo emergir a experienciação como uma das bases para esse processo. Nesse sentido, Dolabela e Filion (2013) sugerem que esta característica singulariza o processo de aprendizagem como empreendedor ou vivencial, e a seleção de abordagens pedagógicas apropriadas, promovem mudança social e desenvolvimento regional.

Diante disso, ações promotoras do empreendedorismo, no âmbito das universidades, agregam intensa participação dos agentes que interagem no processo, contribuindo para o desenvolvimento da mentalidade empreendedora em todos os níveis do ensino, da pesquisa e da extensão. Etzkowitz (2013) afirma que as universidades estão passando por uma “segunda revolução”, na qual o desenvolvimento social e econômico é incorporado como parte da missão da universidade. Assim, a universidade que integra o desenvolvimento econômico e social como uma função adicional tem sido chamada “Universidade Empreendedora” (ZAMPIERI, 2010; CASADO, SILUK e ZAMPIERI, 2013). Para Ferreira et al. (2012) as universidades devem criar estruturas internas para promover e coordenar tais ações, estabelecendo estratégias para articular ensino, pesquisa e extensão com a sociedade.

Para esta desafiadora missão da universidade é que se configura um novo papel dos

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profissionais que nela atuam, pois conforme Audy (2006), à medida que a sociedade tem mais conhecimento, as empresas mudam suas características e o mercado de trabalho se torna mais intensivo em conhecimento, gerando demandas por um novo tipo de profissional, que se distingue por ações e atitudes empreendedoras. A partir dessa ideia, preparar as universidades para dar à sociedade as respostas às novas demandas ainda representa um grande desafio, o qual exige envolvimento e comprometimento da gestão, sensibilização da comunidade acadêmica e principalmente adaptação às mudanças (AUDY, 2006; CLARK, 2015).

Consta-se o crescimento da importância do indivíduo empreendedor para a sociedade, independentemente do segmento em que atua. Evidencia-se, acentuadamente, a necessidade da universidade desempenhar seu papel e evoluir nesse campo. Este trabalho investiga a realidade do empreendedorismo nas instituições de ensino superior, abordando essa questão no contexto da UFSM. Para isso, busca-se estimular atitudes empreendedoras nos alunos de graduação da Universidade Federal de Santa Maria, por meio de atividades e ações integradas entre alunos, professores e gestores da instituição, visando desenvolver alicerce para a criação de uma Universidade Empreendedora (UE).

Diante deste contexto em que a sociedade anseia por profissionais cada vez mais capazes de modificar a realidade em que se encontram e confiando às universidades a perspectiva de geração de profissionais cada vez mais empreendedores, como problema de pesquisa para este artigo, pretende-se saber: Quais as características comportamentais empreendedoras dos alunos de graduação da Universidade Federal de Santa Maria em Frederico Westphalen?

Isto posto, o presente estudo objetiva analisar as características comportamentais empreendedoras de alunos de graduação da unidade de ensino da Universidade Federal de Santa Maria em Frederico Westphalen (UFSM-FW). Este artigo traz um apanhado dos resultados do Projeto Educação e Atitude Empreendedoras, projeto institucional da UFSM, criado pelo GPECOM (Grupo de Pesquisa Gestão Empreendedora e Comportamento Humano nas Organizações), que visa desenvolver e disseminar atitude empreendedora em discentes, docentes e gestores, buscando contribuir para a formação de uma universidade cada vez mais empreendedora.

REVISÃO DA LITERATURAA revisão da literatura está segmentada em duas partes, inicia com educação

empreendedora e segue com características comportamentais empreendedoras.

Educação empreendedora

Educação empreendedora para Cope (2005), pode ser entendida como um processo dinâmico de conscientização, associação e aplicação que envolve transformar a experiência e o conhecimento em resultados aprendidos e funcionais. Para o autor educação empreendedora compreende ainda conhecimento, comportamento e aprendizagem efetivo-emocional.

Os empreendedores não são nascidos e sim desenvolvidos, torna-se necessário

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incluir nos currículos o ensino do empreendedorismo (PINTO, 2013). Para Lopes (2010, p. 165) “o conceito de educação empreendedora a ser adotado deve ser muito mais no sentido de viabilização de propósitos do que apenas no sentido de abertura de um negócio.”. Esse conceito envolve e direciona o presente estudo.

A ação é fundamental no processo de educação empreendedora, de acordo com Neck (2013) tem como primeiro passo permitir que os alunos experimentem a realidade, para depois aprenderem conceitos. Neste sentido pondera-se que o papel das instituições de ensino, as quais representam papel de suma importância para a concretização desse aprendizado empreendedor.

Desenvolver o comportamento empreendedor no aluno é capacitá-lo para a criação, condução e implementação do processo criativo proporcionando a oportunidade de elaborar novos planos de vida, de trabalho, de estudo, de negócios, transformando-se, deste modo, no ator responsável pelo seu desenvolvimento pessoal, bem como de sua organização (SOUZA et al., 2006).

Logo, a educação empreendedora pode oportunizar ao estudante enxergar e avaliar determinada situação, assumindo uma posição proativa frente a ela, capacitando-o a elaborar e planejar formas e estratégias de interagir com aquilo que ele passou a perceber (LOPES, 2014). Além disso, essa educação auxilia na compreensão da realidade, estimulando a reflexão sobre transformações e inovações, buscando ações planejadas e tecnicamente embasadas, além de estimular a transformação positiva da sua realidade, nas esferas pessoal, econômica e social (SEBRAE/PRONATEC, 2011).

Sob essa perspectiva, Singer et al. (2015), salientam que o conteúdo empreendedor deve ser inserido nos três níveis de educação de forma sistemática e consistente, com vistas ao desenvolvimento de uma cultura empreendedora que permeie a sociedade como um todo. Dentro desse enfoque, destaca-se o papel da instituição de ensino superior que pode ser fomentadora do preparo para empreender, desenvolver novas formas de ensinar que despertem em seus alunos uma mentalidade empreendedora.

A Comissão Europeia (2012) reforça a relevância de programas de formação empreendedora identificando países como Espanha, Irlanda, Chipre, Polônia e Reino Unido que contemplam o empreendedorismo nos currículos de ensino básico. Somado a isso, destaca-se que a referida Comissão, em 2012, estabeleceu diretrizes estratégicas para o avanço do perfil empreendedor através da educação como uma das principais ações para a promoção da atividade empreendedora no referido bloco (COMMISSÃO EUROPEIA, 2012).

Nesse contexto, a European Commission Enterprise and Industry Directorate-General (COMISSAO EUROPEIA, 2012) apresenta uma estrutura para a educação empreendedora no ensino superior dividida em três objetivos: (a) desenvolver espírito empreendedor entre os estudantes, (b) treinar estudantes para abrir um negócio e administrá-lo, (c) desenvolver habilidades empreendedoras necessárias para identificar e explorar oportunidades de negócios. Essa relação é demonstrada na Figura 1.

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Figura 1 – Objetivos da Educação Empreendedora

Fonte: Baseado na proposta da European Commission Enterprise and Industry Directorate-General (2012).

Nessa perspectiva, para se atingir os diferentes objetivos propostos pela educação empreendedora, necessita-se traçar um plano de ensino que se adapte a metodologia pedagógica ao contexto da aprendizagem esperada (ROCHA e FREITAS, 2014). Segundo Balconi (2016), atividades de ensino práticas são as mais propensas para contribuir para o estímulo do comportamento empreendedor. Entre as opções pedagógicas citam-se: palestras, recomendações de leituras, estudos de caso, visita a empresas, brainstorming, simulações e projetos desenvolvidos em grupos (DOLABELA, 2008).

Para Politis (2005), Tseng (2012) e Zampier e Takahashi (2014), características empreendedoras podem ser aperfeiçoadas, mediante o processo de aprendizagem empreendedora. Esse processo evidencia a importância da educação empreendedora nos currículos de diversos cursos de Instituições de Ensino Superior (DE OLIVEIRA et al., 2016), as quais, segundo Pereira (2010), devem desempenhar um papel de agente promotor, disseminando uma cultura empreendedora em todos os níveis.

Características comportamentais empreendedoras

McClelland (1972), tendo como premissas o enfrentamento de desafios e a percepção de oportunidades dos indivíduos, classificou a sociedade em dois grupos, os que apresentam predisposição para empreender, minoria da população, e os que não se disporiam a correr riscos de tal natureza, que representam a maioria da população. O estudo das características do primeiro grupo, permitiu a McClelland traçar um perfil empreendedor, que está continuamente em busca de realização profissional e pessoal. Zampier e Takahashi (2011) salientam que este perfil é marcado por ações empreendedoras, sendo que tais ações refletem o comportamento empreendedor. Essas ações e o comportamento do empreendedor, segundo Hisrich et al. (2014), são alicerçados sobre a mentalidade empreendedora, que, dentre outros aspectos, permite-lhe decifrar oportunidades em um contexto de metas móveis, questionar constantemente a lógica dominante, e refazer perguntas supostamente simples. Isso, segundo esses autores, estimula e testa até que ponto os empreendedores são dinâmicos, flexíveis, autoreguladores e engajados no processo de geração de várias estruturas de decisão, com base nas mudanças, para depois se guiar por suas decisões.

McClelland (MSI, 1990) segmentou as características empreendedoras em três

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conjuntos de ações: realização, planejamento e poder. Esses conjuntos apontam uma série de competências, caracterizadas pelo comportamento empreendedor frente aos desafios vivenciados em seu cotidiano. Tais conjuntos e características são identificados no Quadro 1.

CATEGORIA CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTOS

REALIZAÇÃO

Busca de oportunidades e iniciativa

Faz as coisas antes de solicitado, ou antes, de forçado pelas circunstâncias; Age para expandir o negócio a novas áreas, produtos ou serviços; Aproveita oportunidades fora do comum para começar um negócio, obter financiamentos, equipamentos, terrenos, local de trabalho ou assistência.

Correr riscos calculados

Avalia alternativa e calcula riscos deliberadamente; age para reduzir os riscos ou controlar os resultados; Coloca-se em situações que implicam desafios ou riscos moderados.

PersistênciaAge diante de um obstáculo significativo; age repetidamente ou muda de estratégia, a fim de enfrentar um desafio ou superar um obstáculo; faz um sacrifício pessoal ou desenvolve um esforço extraordinário para completar uma tarefa.

Exigência de qualidade e eficiência

Encontra maneiras de fazer as coisas melhor, mais rápido ou mais barato; age de maneira a fazer coisas que satisfazem ou excedem padrões de excelência; desenvolve ou utiliza procedimentos para assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou que o trabalho atenda a padrões de qualidade previamente combinados.

Comprometimento

Assume responsabilidade pessoal pelo desempenho necessário ao atingimento de metas e objetivos; colabora com os empregados ou se coloca no lugar deles, se necessário, para terminar um trabalho; esmera-se em manter os clientes satisfeitos e coloca em primeiro lugar a boa vontade a longo prazo, acima do lucro a curto prazo.

CATEGORIA CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTOS

PLANEJAMENTO

Busca de informações

Dedica-se pessoalmente a obter informações de clientes, fornecedores e concorrentes; investiga pessoalmente como fabricar um produto ou fornecer um serviço; Consulta especialista para obter assessoria técnica ou comercial.

Estabelecimento de metas

Estabelece metas e objetivos que são desafiantes e que têm significado pessoal; define metas de longo prazo, claras e específicas; estabelece objetivos mensuráveis e de curto prazo.

Planejamento e monitoramento sistemáticos

Planeja dividindo tarefas de grande porte em subtarefas com prazos definidos; constantemente revisa seus planos, levando em conta os resultados obtidos e mudanças circunstanciais; mantém registros financeiros e utiliza-os para tomar decisões.

CATEGORIA CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTOS

PODER

Persuasão e redes de contato

Utiliza estratégias deliberadas para influenciar ou persuadir os outros; utiliza pessoas chave como agentes para atingir seus próprios objetivos; age para desenvolver e manter relações comerciais.

Independência e autoconfiança

Busca autonomia em relação a normas e controles de outros; Mantém seu ponto de vista mesmo diante da oposição ou de resultados inicialmente desanimadores; Expressa confiança na sua própria capacidade de completar uma tarefa difícil ou de enfrentar um desafio.

Quadro 1 – Características comportamentais empreendedoras

Fonte: adaptado de MSI (1990).

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As características podem ajudar os indivíduos a enfrentar os desafios de empreender (MCCLELLAND, 1987), assim como a inexistência delas, pode inviabilizar a formação de um negócio. Para Minello (2014), o comportamento do empreendedor, no papel de gestor do seu próprio negócio, evidencia-se também na sua capacidade de lidar com a adversidade e na própria adversidade. Características comportamentais podem ser alteradas por transformações no ambiente, especificamente quando há transição do sucesso para o insucesso empresarial (MINELLO e SCHERER, 2014). Diante disso o ensino do empreendedorismo pode ajudar a aprimorar tais características e habilidades de gestão, promovendo a aprendizagem empreendedora (LEIVA et al., 2015).

METODOLOGIAA abordagem utilizada na presente pesquisa é quantitativa, tipo exploratória,

descritiva, baseada em pesquisa teórico-empírica. Para atender ao objetivo da pesquisa utilizou-se o instrumento das CCE’s de McClelland (MANSFIELD et al., 1987) com o objetivo de identificar as características comportamentais dos alunos. Este questionário identifica dez CCE’s de McClelland (MSI, 1990), e é composto por 55 afirmações.

Foi realizado um pré-teste para avaliar a clareza das questões junto a pesquisadores da área. A população total desta pesquisa é composta por 1028 alunos, distribuídos em 6 cursos de graduação da UFSM-FW.

Calculou-se o tamanho da amostra mínima, que segundo Fonseca e Martins (1996), é para uma população finita, considerou-se um nível de confiança de 95% e um erro padrão de 5%, a amostra mínima calculada foi de 281 alunos. A coleta de dados ocorreu nos meses de novembro a dezembro de 2015, através de entrega pessoal nas salas de aula. Participaram 615 alunos que responderam o instrumento.

Os dados foram tabulados e codificados, e, posteriormente conferidos, objetivando verificar possíveis erros de digitação. Para tratamento e análise dos dados coletados foram realizados testes estatísticos, utilizando o software “Statistical Packagefor the Social Sciences” – SPSS, versão 24. Na ocasião foram analisados quantitativamente e explorados os dados do modelo proposto por McClelland (MSI, 1990). A seguir apresenta-se a análise dos resultados que corresponde à análise de estatística descritiva, cálculo do alfa de Cronbach e correlação de Pearson.

ANÁLISE DOS RESULTADOSA análise dos resultados iniciou com o cálculo das médias e desvio padrão de cada

dimensão para os construtos estudados. Para estimar a confiabilidade, foi medida a consistência interna através do alfa de Cronbach, chegou-se a = 0,842. Deste modo, os valores resultantes da aplicação dos questionários com os 615 alunos de graduação são confiáveis.

No Quadro 2 apresenta-se a estatística descritiva dos instrumentos utilizados no

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presente estudo.

CARACTERÍSTICAS MÍNIMO MÁXIMO MÉDIA DESVIO PADRÃOBusca de oportunidades e iniciativa 10,00 25,00 17,90 2,54

Persistência 7,00 24,00 16,84 2,40Comprometimento 9,00 25,00 18,39 2,70

Exigência de qualidade e eficiência 3,00 25,00 17,93 3,12Correr riscos calculados 6,00 24,00 16,52 2,57

Estabelecimento de metas 5,00 25,00 19,56 3,12Busca de informações 10,00 25,00 18,31 2,89

Planejamento e monitoramento sist. 9,00 25,00 16,93 2,56Persuasão e redes de contato 5,00 25,00 16,92 2,78

Independência e autoconfiança 4,00 25,00 17,69 2,95

Quadro 2 – Estatística descritiva

Fonte: elaborado pelos autores.

A partir do Quadro 2 é possível verificar as pontuações mínimas e máximas de cada característica, assim como as médias e o desvio padrão. A seguir apresenta-se a análise das médias das CCE’s de McClelland.

0

5

10

15

20

25Busca de Oportunidades

Persistência

Comprometimento

Exigência de qualidade e eficiência

Correr riscos calculados

Estabelecimento de metas

Busca de informações

Planejamento e monitoramento sistemáticos

Persuasão e redes de contato

Independência e autoconfiança

Figura 2 – Média das CCE’s

Fonte: elaborado pelos autores.

A partir das médias (Figura 2) infere-se que os alunos possuem todas as características comportamentais empreendedoras acima do limite de 15 pontos, determinado pelos estudos de McClelland (MANSFIELD et al., 1987). Para melhor compreensão fora atribuído significado à pontuação obtida pelos respondentes destacando-se as características com maior e menor

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pontuação, como é observável por meio da intensidade, apresentada na Figura 3.

6,02% 7,48% 4,88% 8,46% 10,41%3,58% 3,58%

9,27% 9,76% 7,15%

20,16%

33,50%

14,96%20,65%

35,12%

12,68%22,11%

31,87% 31,54%24,07%

46,34%

48,13%

45,37%37,72%

44,07%

28,62%

40,33%

43,90% 42,44%

42,60%

25,53%

9,43%

29,59% 27,48%

10,08%

37,07%

25,85%

13,82% 14,31%22,28%

1,95% 1,46%5,20% 5,69%

0,33%

18,05%7,64%

1,14% 1,95%3,90%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Busca de Oportunidades

Persistência Comprometimento Exigência de qualidade e eficiência

Correr riscos calculados

Estabelecimento de metas

Busca de informações

Planejamento e monitoramento

sistemáticos

Persuasão e redes de contato

Independência e autoconfiança

Inexistente Muito Baixo Baixo Alto Muito Alto

Figura 3 – Intensidade das CCE’s

Fonte: elaborado pelos autores.

O instrumento de McClelland determina que abaixo de 50% a característica é inexistente e o limite máximo é de 25 pontos, deste modo, por meio da análise de 615 questionários elaborou-se o gráfico da intensidade (Figura 3). Foi determinado uma coloração específica para os diferentes níveis de pontuação, sendo: abaixo de 50% característica inexistente, preto; de 50% a 62,5% possui a característica em nível muito baixo, vermelho; de 62,51% a 75% possui a característica em nível baixo, laranja; de 75,01% a 87,5% possui a característica em nível alto, amarelo; e de 87,51% a 100% possui a característica em nível muito alto, verde.

A intensidade demonstra proporcionalmente o percentual dos respondentes diante de cada característica, o que não é evidenciado pela média (Figura 2). Agora é possível verificar que em todas características existem indivíduos com a característica inexistente (preto). Outra circunstância visível é que, aproximadamente, 70% dos alunos possuem características comportamentais empreendedoras, porém, em nível muito baixo (vermelho) e baixo (laranja), o que evidencia a necessidade de buscar junto aos docentes e gestores da instituição uma alternativa, visando o desenvolvimento comportamental desses alunos diante dessas características.

Com a finalidade de estabelecer relação entre as características foi utilizado o coeficiente de correlação Pearson, que de acordo com Collis e Hussey (2005) refere-se a uma técnica paramétrica que indica a medida de força de associação entre duas variáveis. De acordo com Hair Jr. et al. (2009), o coeficiente de correlação de Pearson tem o objetivo de medir a associação linear entre duas variáveis métricas e possui variação de -1,00 a 1,00. Valores de coeficiente “r” próximos a +1 indicam pouca dispersão, o que expressa uma correlação forte e positiva; já os valores próximos de “zero” indicam muita dispersão e ausência de relação entre as variáveis, e, por fim, o valor de “r” próximo de -1 significa pouca dispersão e uma correlação negativa forte (LOPES, 2003).

Para este estudo foi adotada a conversão de Dancey e Reidy (2013) que apontam para a seguinte classificação: r = 0,10 até 0,39 (fraco); r = 0,40 até 0,69 (moderado); r = 0,70 até 1,00 (forte).

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A matriz de correlação e a significância entre as médias das CCE’s estudadas são apresentadas no Quadro 3.

CCE’s Bopor Persi Compr Exigqu Corri Estme Binfo Planmon Persured Indautoc Dimreal Dimpla Dimpode

Boport 1 0,387 0,267 0,317 0,285 0,414 0,373 0,329 0,369 0,387 0,644 0,472 0,447Persis 0,387 1 0,297 0,431 0,314 0,31 0,367 0,319 0,292 0,366 0,691 0,417 0,389

Compro 0,267 0,297 1 0,382 0,259 0,35 0,349 0,314 0,252 0,208 0,648 0,423 0,271Exigqua 0,317 0,431 0,382 1 0,433 0,378 0,356 0,354 0,34 0,336 0,775 0,461 0,398Corris 0,285 0,314 0,259 0,433 1 0,349 0,329 0,376 0,336 0,321 0,665 0,443 0,387Estmet 0,414 0,31 0,35 0,378 0,349 1 0,476 0,365 0,342 0,396 0,525 0,797 0,436Binfor 0,373 0,367 0,349 0,356 0,329 0,476 1 0,473 0,372 0,359 0,515 0,816 0,431

Planmon 0,329 0,319 0,314 0,354 0,376 0,365 0,473 1 0,317 0,316 0,493 0,741 0,373Persured 0,369 0,292 0,252 0,34 0,336 0,342 0,372 0,317 1 0,437 0,463 0,435 0,838Indautoc 0,387 0,366 0,208 0,336 0,321 0,396 0,359 0,316 0,437 1 0,469 0,454 0,857

Dimreal 0,644 0,691 0,648 0,775 0,665 0,525 0,515 0,493 0,463 0,469 1 0,646 0,549Dimplan 0,472 0,417 0,423 0,461 0,443 0,797 0,816 0,741 0,435 0,454 0,646 1 0,525

Dimpoder 0,447 0,389 0,271 0,398 0,387 0,436 0,431 0,373 0,838 0,857 0,549 0,525 1

Quadro 3 – Correlação de Pearson das CCE’s

Fonte: elaborado pelos autores.

Verifica-se que as correlações entre as características foram associações positivas fracas, em sua maioria, e que indica haver relação direta entre as mesmas, sendo a correlação mais forte na dimensão poder (Dimpode) por meio da característica independência e autoconfiança (Indautoc) com 0,857 e persuasão e redes de contato (Persured) com 0,838. Na dimensão planejamento (Dimpla) a característica com correlação mais forte foi busca de informações, com 0,816 e na dimensão realização a característica com correlação mais forte foi exigência de qualidade e eficiência, com 0,775.

CONCLUSÕESO estudo atingiu o objetivo proposto - analisar as características comportamentais

empreendedoras dos alunos da UFSM-FW. Os alunos apresentam muito baixo e baixo níveis comportamentais empreendedores, percebe-se dessa forma a necessidade de desenvolvê-los. Percebeu-se também que algumas características empreendedoras apresentam nível muito baixo em comparação com as demais e que as mesmas podem ser desenvolvidas em sala de aula.

Os resultados deste estudo, foram apresentados aos docentes da UFSM-FW e aos diretores, como uma das ações para desenvolver a educação e atitude empreendedoras foram criadas e ofertadas para cada curso, disciplinas de “Atitude Empreendedora”, que objetivam estimular e desenvolver a atitude empreendedora nos alunos. Os docentes do respectivo centro, após capacitação específica, ministram essas disciplinas apoiados por docentes participantes do Projeto. Ao fim da disciplina, no final do semestre letivo, os alunos são convidados a

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participar de um novo questionário, a fim de verificar se a disciplina contribuiu pontualmente no desenvolvimento das características e atitude empreendedora. Esse acompanhamento ocorre semestralmente até a conclusão do curso de graduação.

A presente pesquisa contou com algumas limitações, incialmente a coleta dos dados ocorreu no final do semestre letivo, onde algumas turmas estavam em prova, alguns docentes impediram que os pesquisadores adentrassem às salas de aula para realizar as coletas, por isso não foi possível atingir um número maior de participantes.

Para estudos posteriores recomenda-se replicar a presente pesquisa em outras instituições de ensino, evidenciando similaridades e discrepâncias dentre os cursos superiores. Também se sugere a replicação da presente pesquisa em outras instituições de ensino superior, de modo a comparar resultados de instituições públicas e privadas, e até mesmo em instituições do ensino básico.

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TRILHANDO CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE: A EXPERIÊNCIA DO

SUDOESTE DO PARANÁ

Nayara Pasqualotto1 Laila Mayara Drebes2

Bernardo Rodrigues da Silva3 Wilson Itamar Godoy4

Luiz Augusto Ferreira Verona5

RESUMOO presente trabalho tem como tema de estudo a sustentabilidade em agroecossistemas hortícolas em transição agroecológica. Este estudo foi desenvolvido em seis agroecossistemas localizados no sudoes-te do Paraná, nos municípios de Coronel Vivida, Pato Branco e Vitorino. O método para a concretização da pesquisa foi baseado na proposta Marco para a Avaliação de Sistemas de Manejo de Recursos Natu-rais Incorporando Indicadores de Sustentabilidade - MESMIS. Através de entrevistas semi-estruturadas, visitas in loco aos agroecossistemas, troca de experiências entre agricultores e cursos de capacitação, foram construídos seis Indicadores de Sustentabilidade Compostos: qualidade de vida, recursos hídri-cos, qualidade do solo, situação econômica, diversidade vegetal e animal, e trabalho. A realização des-tas atividades proporcionou tanto às famílias agricultoras como aos técnicos e pesquisadores envolvi-dos uma melhor compreensão acerca da sustentabilidade no meio rural e qual o caminho deve ser per-corrido para aumentar os níveis de sustentabilidade nos agroecossistemas em transição agroecológica.

PALAVRAS-CHAVE: sustentabilidade; agroecologia; MESMIS; transição agroecológica.

INTRODUÇÃONa atual conjuntura da sociedade, a qual acarreta os danos do processo de

modernização, com problemas ambientais, sociais e econômicos de grande proporção, é comum observarmos a preocupação com a sustentabilidade. Durante as ultimas décadas, a população vem se sensibilizando com tais percalços, buscando amenizar seus danos e garantir às próximas gerações recursos naturais disponíveis e uma boa qualidade de vida.

Esse anseio pela sustentabilidade é identificado em todos os setores da sociedade,

1 - Licenciada em Geografia, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural (PPGEXR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail:[email protected] - Engenheira Agrônoma, Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural (PPGEXR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rio Grande do Sul, Brasil.3 - Engenheiro Agrônomo, Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural (PPGEXR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Rio Grande do Sul, Brasil.4 - Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Docente na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Pato Branco – Paraná, Brasil.5 - Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Pós-doutorando na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Pato Branco – Paraná, Brasil.

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sendo utilizada inclusive com diferentes intuitos e perspectivas. Na agricultura, verifica-se uma preocupação com a conservação dos recursos naturais, bem como a qualidade de vida das famílias agricultoras, garantindo às mesmas saúde, renda, alimentação de qualidade, educação, entre outros.

Com vistas para a possibilidade de um mundo rural alternativo, torna-se imprescindível a busca por meios de utilização dos recursos naturais e processos produtivos que possibilitem a transição de sistemas convencionais para outros mais sustentáveis. Para que ocorram tais transformações, procuram-se alternativas para o desenvolvimento baseando-se em um meio ambiente equilibrado, agroecossistemas diversificados, além de lucratividade e fertilidade do solo sustentado (ALTIERI E NICHOLLS, 2000).

Para se tornar viável, a agricultura alternativa emprega estratégias que se embasam em conceitos ecológicos, proporcionando a reciclagem de matéria orgânica e nutrientes, equilíbrio de pragas e o uso múltiplo da paisagem e do solo. Em meio às agriculturas alternativas, encontra-se a agricultura sustentável, além de outras transcendentes, como a agricultura orgânica, ecológica, biológica, biodinâmica e a permeacultura (HERNÁNDEZ, 2011).

Buscando desenvolver as atividades pautando-se na articulação do sistema sociocultural local como suporte para a manutenção dos recursos naturais, a agricultura sustentável proporciona um mundo rural mais justo e sustentável, com soberania alimentar, agricultura familiar multifuncional, acesso aos recursos naturais, sustentabilidade agropecuária, igualdade de gênero, comércio justo e desenvolvimento endógeno. Ainda, possibilita a articulação local-global e o desenvolvimento de políticas públicas adeptas a esses sistemas (HERNÁNDEZ, 2011).

Para Gliessman (2000), a agricultura se torna sustentável se: ocasionar o mínimo de efeitos nocivos ao ambiente, não liberando substâncias tóxicas na atmosfera e na água, mantendo a saúde do solo; utilizar a água de forma a sustentar as necessidades hídricas do ambiente e das pessoas; depender, principalmente, dos recursos internos ao agroecossistema, buscando a inclusão de comunidades próximas; e buscar a valorização e conservação da diversidade biológica, de forma a garantir a igualdade no acesso às práticas, conhecimentos e tecnologias agrícolas, permitindo o controle local dos recursos agrícolas.

Segundo Guzmán et. al. (2000), a agricultura sustentável vem de encontro à ideia de que a sustentabilidade é mais complexa e abrangente do que foi indicado no Informe Brundtland, no qual essa é entendida como um método oficial para corrigir as implicações da crise ecológica, definindo-se como aquele que satisfaz as precisões das gerações atuais sem comprometer as gerações futuras. Este conceito é muito impreciso, deixando brechas para que ocorram diferentes interpretações, as quais acatam divergentes interesses. Assim, os autores conferem à agricultura sustentável os princípios agroecológicos, os quais buscam por respostas às limitações do desenvolvimento no ambiente endógeno, visto que essa não visa levar respostas prontas às questões locais, e sim, juntamente com a comunidade, detectar aquelas ali existentes.

Gliessman (2003) realiza uma comparação sobre três classes de agroecossistemas: os convencionais, os sustentáveis e os tradicionais. O autor destaca que os agroecossistemas

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tradicionais são os mais parecidos aos ecossistemas naturais, pois seu enfoque é nos recursos endógenos disponíveis. Os de base sustentável são equivalentes aos tradicionais, porém, questões arroladas com a comercialização da produção em circuitos mais distantes, importação de nutrientes e o impacto do mercado na diversidade e manejo acabam por distanciá-los. Ao confrontar os sistemas convencionais com os sustentáveis, constata-se que esses últimos apesentam menor rendimento, o qual pode ser equilibrado pela dependência mínima de insumos externos e a redução dos impactos negativos dentro e fora do agroecossistema.

Desta forma, os princípios agroecológicos aparecem como meio de proporcionar à agricultura mecanismos mais sustentáveis de gestão. Segundo Guzmán Casado et. al. (2000), a sustentabilidade na perspectiva da Agroecologia pode ser apreendida como: a ruptura das formas de dependência que põe em risco os estruturas de reprodução; o emprego de recursos que permitem que os ciclos de materiais e energia que ocorrem no agroecossistema sejam os mais fechados possíveis; o uso dos impactos benéficos que decorrem dos ambientes ecológicos, econômicos, sociais e políticos existentes nos diferentes níveis; tolerância das qualidades biofísicas às adversidades; a valorização dos saberes locais, os quais possibilitam melhoria nas capacidades produtivas dos agroecossistemas; a afirmação de circuitos curtos para o consumo de mercadorias que proporcionam melhor qualidade de vida da população local e a consolidação de uma associação coletiva; e por fim, o enriquecimento da biodiversidade biológica e sociocultural.

Dentro deste contexto, torna-se necessária a realização de uma análise acerca de quão sustentáveis são os agroecossistemas em transição agroecológica, bem como verificar quais são as ações necessárias para que esses aumentem os níveis de sustentabilidade no decorrer do tempo. Para isso, inúmeras atividades podem ser desenvolvidas, sendo fundamental a participação de todos os envolvidos nas atividades econômicas, sociais e ambientais realizadas nos agroecossistemas.

No intuito de analisar a sustentabilidade dos agroecossistemas em transição agroecológica no Sudoeste do Paraná, bem como contribuir para a formação em agroecologia das famílias agricultoras, desenvolveu-se uma série de ações a fim de beneficiar esses agricultores e possibilitar a construção do conhecimento acerca da sustentabilidade na região em estudo, as quais são evidenciadas a seguir.

REVISÃO DA LITERATURA

A sustentabilidade

Dentre as exceções está Boff (2012), o qual assegura que os primeiros relatos da palavra sustentabilidade incidem nos anos de 1560, da Província da Saxônia, Alemanha, nos quais se verificou uma inquietação com a exploração das florestas, de forma a não comprometer as suas composições, permitindo uma constante regeneração.

Entretanto, a expressão “sustentabilidade” auferiu valor estratégico anos mais tarde, em 1713, novamente na Saxônia, difundindo-se a utilização sustentável da madeira, matéria-

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prima para a extração do carvão vegetal, usado nos fornos da mineração. Desta aflição com o manejo sustentável das florestas na época, abrolhou uma nova ciência, a silvicultura (BOFF, 2012).

Este conceito foi utilizado até 1970, quando se originou o Clube de Roma, o qual anunciou seu primeiro informe sobre “Os limites do crescimento”, indicando a desaceleração do crescimento econômico (GONÇALVES, 2005). Este estudo assinalava como solução o equilíbrio global, entendido como uma espécie de planejamento mundial para a conservação do capitalismo com menor aridez de seus resultados sociais e ecológicos (MEADOWS, 1973).

Em meio a isso, surge um grande debate teórico e político acerca das estratégias de desenvolvimento que avaliassem como primazias não só a economia, mas que também o meio ambiente e as condições sociais. Esse debate dá início com o relatório de Founex, em 1971, no qual determinados teóricos abordaram o conceito de ecodesenvolvimento, que posteriormente passou a ser designado desenvolvimento sustentável (SACHS, 1999).

O ecodesenvolvimento aparece como uma proposta mediadora aos preceitos defendidos pelos malthusianos e os cornocupianos no que diz respeito ao futuro do planeta. Estes entendiam que seria imprescindível que os países refletissem sobre estratégias de desenvolvimento no âmbito local e global, abolindo as barreiras estabelecidas entre os países do Norte e do Sul. Para o ecodesenvolvimento tornar-se operacional, eram necessárias algumas condições, dentre as quais se destacam a precisão de uma ampla noção das culturas e dos ecossistemas, especialmente em como as pessoas se relacionam com o ambiente e como essas enfrentam os dilemas cotidianos e o envolvimento da sociedade na idealização das estratégias, pois essa é a maior conhecedora da realidade local (SACHS, 1999; LAYRARGUES, 1997).

Do relatório de Founex desencadeou-se um debate sobre a seriedade da situação com relação à produção e o consumo no planeta durante a “Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente” promovida pela Organização das Nações Unidas - ONU, em Estocolmo, em julho de 1972. Nesta conferência, criou-se o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA (ONU, 2016).

Em 1984, constituiu-se a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, na qual os trabalhos concluíram-se em 1987 com o Relatório de Brundland, tendo como título “Nosso futuro comum”. Este Relatório, de acordo com Jacobi (2007, p.177) “apresenta uma lista de ações a serem tomadas pelos Estados e também define metas a serem realizadas no nível internacional, tendo como agentes as diversas instituições multilaterais”.

Um dos principais conceitos debatidos no relatório Brundland foi o de equidade. Essa é vista como a condição indispensável para que ocorra a participação ativa da sociedade na tomada de decisões, por meio de processos democráticos, com vistas ao desenvolvimento. Além disso, esse ressalta que a pobreza não é algo inevitável e que o desenvolvimento pode privilegiar o acolhimento das necessidades básicas da sociedade, proporcionando melhores condições de vida à população (BARBOSA, 2008).

Desde então, o tema desenvolvimento sustentável recebeu o enfoque principal nas

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discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ocorreu de 3 a 14 de julho de 1992, no Rio de Janeiro, tendo nela a afirmação de seu conceito. Esta conferência, igualmente conhecida como Eco 92, gerou a Agenda 21, um dos seus principais documentos: Programa de Ação Global, no qual cada nação organizou um plano de ações de preservação ambiental, que deu procedência a Carta do Rio de Janeiro (BARBOSA, 2008).

Essa carta responsabilizou todos os Estados, cada um com suas peculiaridades, pelas degradações ambientais de nosso planeta. Indicou o envolvimento e o empenho de todos na procura pela erradicação dos principais dificuldades sociais, pela preservação ambiental, e também pelo desenvolvimento econômico sustentável. De acordo com Oliveira (2005, p.43) a ECO 92 foi um experimento para ajustar os múltiplos problemas ambientais “visando à manutenção da relação centro-periferia, e também à adaptação do capitalismo às possíveis dificuldades da regulação e extinção dos recursos naturais fundamentais à reprodução do capital”.

Desde a Founex até a ECO 92 diversas alterações ocorreram no cenário mundial em relação às ansiedades socioeconômicas e ambientais do planeta. Abrolharam neste período ministérios do meio ambiente em quase todos os países e, acima de tudo, deu-se o surgimento da sociedade organizada como terceiro poder ao lado do Estado e das empresas (SACHS, 1999).

As análises acerca da sustentabilidade, a partir de então, começam a ganhar força, tornando-se de uso comum. Contudo, a falta de acordo na unificação entre a teoria e a prática, fez com que o termo fosse utilizado para proteger diferenciados interesses políticos, sociais e econômicos, a exemplo, dos acordos internacionais norteadores da passagem para um desenvolvimento sustentável (LEFF, 2009).

No decorrer da elaboração desses acordos, nos quais permaneciam em jogo “as estratégias e direitos de apropriação da natureza” (LEFF, 2009, p.21), determinados países do Norte não concordaram em firmar uma declaração que forçava todos os países a se comprometerem com a preservação das florestas, visto que defendiam os interesses das empresas transnacionais de biotecnologia para apoderar-se dos recursos genéticos do Terceiro Mundo por meio dos direitos de propriedade intelectual (LEFF, 2009).

Deste modo, demonstra-se que a apropriação e os intuitos ao que diz respeito ao discurso sobre sustentabilidade não se tornaram homogêneos no mundo. Os países do Norte não se sentiam obrigados a compartilhar do empenho de se impor restrições ao consumo, pois teoricamente eles não estariam colaborando para o adensamento da crise ambiental. O discurso ideológico que se pregava na época era da erradicação da pobreza como a tônica do desenvolvimento sustentável, visto que estaríamos perante apenas o problema da poluição da pobreza. (LAYRARGUES, 1997).

Em setembro de 2002 realizou-se a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Joanesburgo, na África do Sul, tendo como objetivo principal “rever as metas propostas pela Agenda 21 e direcionar as realizações às áreas que requerem um esforço adicional para sua implementação, assim como refletir sobre outros acordos e tratados da Rio-92”. Porém, o que resultou dessa foi uma diversidade de opiniões e posturas, muitas vezes conflitantes, que

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não produziu os avanços esperados (SEQUINEL, 2002, p.13).

No mês de maio de 2002, a ONU promoveu no Rio de Janeiro a segunda etapa da Cúpula da Terra, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio + 20, com a finalidade de recuperar e reafirmar a participação de cada país para o desenvolvimento sustentável. Os temas fundamentais debatidos durante a conferência foram preservação ambiental, efeito estufa, mudança climática e biossegurança, antes limitado ao círculo de ambientalistas e cientistas (GUIMARÃES e FONTOURA, 2012).

Estas conferências proporcionaram um acréscimo na consciência ambiental em todo o planeta, e a questão da sustentabilidade começou a ser debatida por todas as esferas do governo, fazendo parte também da inquietação diária de empresas privadas, universidades, instituições, ONG’s e chegando a grande parte da população por meio dos veículos de comunicação e informação, passando a ser entendido como um ideal a ser alcançado (BOFF, 2012).

Segundo Caporal e Costabeber (2002), a abordagem acerca da sustentabilidade pode ser analisada sob dois vieses. O primeiro é o ecotecnocrático, que parte da precisão por um desenvolvimento econômico continuado, tentando conservar um equilíbrio entre o crescimento, a sociedade e o meio ambiente por meio do emprego de tecnologias e estratégias econômicas. O segundo é através da corrente ecossocial, a qual nasceu a partir do conceito de ecodesenvolvimento. Essa corrente fundamenta-se no respeito às futuras e presentes gerações, valorizando o ecossistema local e respeitando os atores envolvidos nos processos que colaboram para o desenvolvimento sustentável.

Nas concepções de Fernandez (1995), a sustentabilidade pode ser apreendida como aquela que transcende o amparo da diversidade genético-cultural no transcorrer do tempo, consistindo em uma nova racionalidade que aponta para um processo de complexização da organização produtiva. Entendida como um projeto social, essa se contrapõe às intenções de uniformização cultural, ecológica e tecnológica da população.

Segundo Cavalcanti (2003), a sustentabilidade refere-se a possibilidade de se obter continuamente condições igualitárias ou superiores de vida para a sociedade atual e futura em um dado ecossistema. Para isso, é preciso colocar um limite no progresso material e no consumo, antes visto como ilimitados.

Neste sentido, Sachs (1999) aponta cinco dimensões para a sustentabilidade, as quais são:

• Sustentabilidade ecológica: diz respeito à base física do processo de crescimento e tem como intuito a manutenção de estoques dos recursos naturais, agrupados as atividades produtivas;

• Sustentabilidade ambiental: refere-se à conservação da habilidade de sustentação dos ecossistemas, o que sugere a capacidade de absorção e recomposição dos ecossistemas em face das agressões antrópicas;

• Sustentabilidade social: diz respeito ao desenvolvimento e tem por objetivo a

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melhoria nas condições de vida da população;

• Sustentabilidade política: pauta-se no processo de organização da cidadania para garantir a incorporação plena dos indivíduos ao processo de desenvolvimento;

• Sustentabilidade econômica: compreende a uma gestão eficiente dos recursos em geral e assinala-se pela regularidade de fluxos do investimento público e privado.

Para Gálvan-Miyshi, Masera e López-Ridaura (2008), o conceito de sustentabilidade é complexo e multidimencional, contemplando as dimensões ambientais, sociais e econômicas. Esse é dinâmico, no qual não se trata se chegar a um estágio ideal pré-definido, mas de uma evolução contínua de transformação. Além disso, os autores destacam a importância de considerar aspectos como a equidade inter e intrageracional, assim como a articulação das escalas temporais, espaciais e institucionais, o que requer perspectivas de trabalho com a temática da sustentabilidade em longo prazo, entendendo e articulando as diferentes dinâmicas socioambientais no tempo e no espaço.

Compreende-se ainda a sustentabilidade como a condição eterna do ser humano em “colher biomassa de um sistema, porque sua capacidade de se renovar ou ser renovado não é comprometida”. Neste sentido, a prova de quanto sustentável é algum sistema permanecerá continuamente fora de abrangência, sendo demonstrada apenas no futuro. Igualmente, torna-se impossível saber com precisão se uma técnica é sustentável (GLIESSMAN, 2000, p.52).

De acordo com Van Bellen (2004), a sustentabilidade demanda um padrão de vida social dentro das proporções impostas pela natureza, na qual a humanidade viva de acordo com sua capacidade. Neste sentido, Jacobi (2007) aponta que o tema da sustentabilidade confronta-se com as perspectiva de Beck no que se refere ao paradigma da sociedade de risco, sendo que isso implicará na multiplicação de práticas sociais ajustadas pela ampliação do direito à informação e da educação ambiental num ponto de vista integrador. Além disso, o autor ressalta que a “noção de sustentabilidade implica uma necessária inter-relação entre justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvimento com capacidade de suporte” (JACOBI, 2007. p.180).

Ponderando tais conceitos, torna-se imprescindível a busca por respostas acerca da sustentabilidade, com a finalidade de entender se os caminhos percorridos consideram tal propósito. Deste modo, a avaliação da sustentabilidade, concretizada por meio de várias metodologias, aparece como uma opção para verificarmos com maior precisão a marcha percorrida no intento da contemplação das dimensões sociais, ambientais e econômicas de determinado sistema.

A Agroecologia

A Agroecologia tem se consolidado como um novo campo de conhecimento, possuindo as bases necessárias para a superação dos problemas impostos através da crise socioambiental atual, resultantes do modelo de produção adotado até então. De acordo com Caporal et al. (2006), essa propõe um novo paradigma de desenvolvimento rural, o qual surge como uma matriz disciplinar baseando-se em diversas áreas do conhecimento, perfilhando os

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saberes locais, pautando-se na potencialidade endógena para a transição agroecológica.

A Agroecologia é uma ciência que possibilita o conhecimento e o processo metodológico para desenvolver uma agricultura “ambientalmente consistente, altamente produtiva e economicamente viável”. Desenvolvendo novos paradigmas para a agricultura, essa valoriza os conhecimentos locais, promovendo a troca de conhecimentos, o que proporciona atingir o objetivo almejado, que é a sustentabilidade (GLIESSEMAN, 2007, p. 56).

Altieri (2012, p.15) defende a ideia de que a Agroecologia é “tanto um ciência quanto um conjunto de práticas”. Enquanto ciência pauta-se na aplicação da Ecologia para o manejo de agroecossistemas sustentáveis, o que acarreta em uma diversificação agrícola, propiciando a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do ambiente. Além disso, o autor destaca a importância dos recursos humanos para essa ciência, apontando-os como a “pedra angular” de qualquer estratégia que objetiva a ampliação de recursos e opções para as famílias agricultoras.

Constata-se que a Agroecologia respeita a diversidade de conhecimentos, visto que “propugna pela necessidade de gerar um conhecimento holístico, sistêmico, contextualizador, subjetivo e pluralista, nascido a partir das culturas locais” (GUZMÁN, 2001, p. 35). Suas contribuições vão além das questões agronômicas e tecnológicas dos agroecossistemas, incorporam dimensões mais amplas e complexas, abordando variáveis econômicas, ambientais, sociais, culturais, políticas e éticas (CAPORAL E COSTABEBER, 2002).

Procurando elevar ainda mais os coeficientes de sustentabilidade em um determinado agroecossistema, a Agroecologia baseia-se em três dimensões: ecológica e técnico-agronômica, socioeconômica e cultural e sócio-política. Essas se inter-relacionam, e para que possam indicar alternativas mais sustentáveis é imprescindível uma abordagem multidisciplinar, abarcando conhecimentos de diferentes ciências, tais como a Física, a Agronomia, a Economia, a Ecologia, a Biologia, a Sociologia, entre outras (CAPORAL et al., 2006).

Segundo Hernández (2011), a Agroecologia pauta-se em alguns aspectos vitais dos agroecossistemas, destacando-se os animais, a biodiversidade, o solo e a regeneração e conservação dos recursos naturais. Esta permite, também, o intercâmbio entre conhecimentos locais e científicos, poupando o meio ambiente e a sociedade, procurando sempre a equidade dos fatores sociais, econômicos e ambientais.

No que tange a produção com base nos princípios da Agroecologia, constata-se que essa se pauta no manejo ecológico dos recursos naturais, utilizando em maior medida os subsídios de resistência característicos de cada identidade local, visto que “a maneira mais eficaz, para realizar essa tarefa consiste em potencializar as formas de ação social coletiva, pois estas possuem um potencial endógeno transformador”. Desta forma, essas práticas fortalecem a capacidade local por intermédio da associação de tecnologias com os saberes e preceitos de valores dos agricultores e das agriculturas desenvolvias, valorando o potencial endógeno da comunidade (GUZMÁN, 2001, p. 36).

Determinadas técnicas adotadas pelos agricultores em ecologização são apreendidas como basilares para aumentar os níveis de sustentabilidade nos agroecossistemas, em meio

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a elas encontram-se a crescente heterogeneidade de espécies no tempo e no espaço pelo uso de cultivos intercalares, a cultura de flores e outras vegetações para aprimorar o habitat dos opositores naturais, a diversificação de sistemas perenes com agroflorestas, emprego de adubação verde e o acréscimo da diversidade com corredores biológicos (ALTIERI e NICHOLLS, 2003).

Essas estratégias são utilizadas para acrescer a eficiência dos sistemas agrícolas, ocasionando diferentes efeitos para a sustentabilidade nos agroecossistemas. A adoção dessas é fundamental para a diferenciação dos agroecossistemas com base na produção agroecológica dos sistemas de produção orgânicos, sendo que esses últimos “estão sendo comercializados internacionalmente como mercadoria (commodities), e sua distribuição está sendo feita pelas mesmas corporações multinacionais que dominam o mercado convencional” (ALTIERI e NICHOLLS, 2003, p.27).

Para os agricultores em ecologização, a adoção de métodos mais sustentáveis de produção proporciona um futuro ao ambiente, pois a partir do tempo que deixam de ponderar apenas o lucro imediato (como acontece com os produtores que optam pela adoção dos pacotes agrícolas) e passam a avaliar aspectos como a biodiversidade, a saúde, a qualidade do solo e da água, entre outros, garantem um futuro mais sustentável às gerações futuras (GLIESSMAN, 2003).

Neste sentido, Caporal et al. (2006, p.18), garantem que este futuro está subordinado ao:

(...) comportamento dos indivíduos no que diz respeito as suas formas de organização social, seus conhecimentos e das tecnologias que deles resultam, podendo haver, dependendo da situação, uma ruptura na coevolução social e ecológica.

Igualmente, é de fundamental importância a compreensão de que a Agroecologia supõe que as nossas ações particulares e coletivas irão afetar a coevolução entre natureza e sociedade. Destarte, surge o imperativo de abdicarmos do pensamento individualista, e passarmos a avaliar o conhecimento e a inter-relação das diversas ciências com as sabedorias tradicionais, os quais juntos nos levarão à compreensão destes acontecimentos (CAPORAL et. al., 2006; COSTA GOMES, 2005).

Neste sentido, Hernández (2011) assevera que a Agroecologia pode ser percebida como o manejo dos recursos naturais aproveitando-se de ações sociais coletivas, as quais oferecem alternativas para a crise da modernidade. Assim, torna-se indispensável à criação de propostas participativas, considerando desde a produção até a movimentação dos produtos.

METODOLOGIAO presente trabalho faz parte das atividades desenvolvidas no projeto “Avaliação da

Sustentabilidade em Agroecossistemas Hortícolas com base de produção na Agroecologia e na Agricultura Familiar no oeste da região Sul do Brasil”, o qual contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), por meio do edital REPENSA e

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da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina – FAPESC. Esse tem como objetivo a Avaliar a sustentabilidade de agroecossistemas com atividade na produção de hortícoloas, com base em agricultura familiar e agroecologia, no oeste da região Sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná).

No sudoeste do Paraná, as atividades foram coordenadas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a qual contou com a colaboração de diferentes instituições para sua concretização. Dentre essas destacam-se as prefeituras municipais de Coronel Vivida e Pato Branco e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Coronel Vivida – PR.

As 06 famílias agricultoras do sudoeste paranaense envolvidas no projeto pertencem aos municípios de Vitorino, Pato Branco e Coronel Vivida. Essas foram selecionadas através da indicação por instituições ligadas à agricultura familiar e à Agroecologia.

Essas famílias residem em agroecossistemas em transição agroecológica, ou seja, estão constantemente em busca de alternativas mais sustentáveis para o manejo dos agroecossistemas em que estão inseridos. Por isso, considerou-se de extrema importância o desenvolvimento de atividades que contribuíssem para a garantia dos níveis de sustentabilidade dos mesmos.

Neste contexto realizaram-se diferentes atividades em prol da sustentabilidade dos agroecossistemas em estudo. Dentre essas, destacam-se: a avaliação da sustentabilidade através da utilização da ferramenta MESMIS – “Marco para la Evaluación de Sistemas de Manejo de recursos naturales incorporando Indicadores de Sustentabilidad”, elaborado por Masera et. al. (1999); reuniões entre agricultores e técnicos; cursos de formação em agroecologia, produção orgânica de hortaliças e certificação de produtos orgânicos; além da realização da troca de experiências entre os agricultores.

O MESMIS prevê seis etapas iniciais para a avaliação da sustentabilidade de agroecossistemas, que segundo Masera, Astier; López-Ridaura (1999), devem:

1. Determinar o objeto de avaliação, delimitando qual o tipo de agroecossistema será estudado, quais as características socioeconômicas e ambientais devem ser consideradas;

2. Determinar os pontos críticos, definindo os fatores que contribuem ou não para a sustentabilidade do agroecossistema.

3. Selecionar os indicadores, que definirão quais serão os pontos em comum entre os agroecossistemas a serem utilizados na análise.

4. Medição e monitoramento dos indicadores, através do levantamento de informações e análises referentes aos indicadores.

5. Apresentação e integração dos resultados, onde será realizada a comparação entre os seis agroecossistemas estudados, a fim de analisar os fatores positivos e negativos a respeito da sustentabilidade.

6. Concluir e fazer recomendações, propondo melhorias garantindo sustentabilidade

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dos agroecossistemas, aprimorando o processo de avalição, e elaboração de uma síntese da análise realizada nos agroecossistemas.

A coleta de dados foi realizada através de entrevista semiestruturada. A entrevista é utilizada sempre que necessitamos de dados que não possam ser encontrados em registros e documentos, porém, podem ser fornecidos por certas pessoas. Sendo assim, a entrevista parcialmente estruturada ocorre segundo Gil (2002, p.117), “quando é guiada por relação de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso”.

Para a análise dos dados, utilizaram-se as técnicas de análise de conteúdos e a análise qualitativa dos dados, coletados junto aos agricultores familiares dos agroecossistemas a serem estudados, pois de acordo com Gil (2002, p.141), em um estudo de caso “é natural admitir que a análise dos dados seja de natureza predominantemente qualitativa”, porquanto pressupõe a análise de dados subjetivos, que não podem ser quantificados.

Posterior a análise dos dados coletados as informações foram transformadas em valores numéricos, os quais permitiram a comparação dos níveis de sustentabilidade dos agroecossistemas de estudo através da quantificação das informações, até mesmo das entrevistas com caráter qualitativo.

Para tanto, utilizou-se notas de 1,00 (um) a 3,00 (três), onde: 1,00 (um) representa uma condição não desejável; 2,00 (dois) uma condição regular e 3,00 (três): uma condição desejável. Os agroecossistemas que estiverem mais próximos do nível 1,00 (um) têm maiores dificuldades em alcançar bons resultados se tratando da sustentabilidade, já os que estiverem próximos a 3,00 (três) representaram as melhores condições de sustentabilidade (VERONA, 2008).

Através da utilização da ferramenta MESMIS de avaliação da sustentabilidade, foi possível a construção e mensuração de indicadores de sustentabilidade compostos. Os indicadores selecionados são: ISCRH – Indicador de Sustentabilidade Composto Recursos Hídricos; ISCQS – Indicador de Sustentabilidade Composto Qualidade do Solo; ISCQV – Indicador de Sustentabilidade Composto Qualidade de Vida; ISCSE – Indicador de Sustentabilidade Composto Situação Econômica; ISCDVA – Indicador de Sustentabilidade Composto Diversidade Vegetal e Animal; ISCT – Indicador de Sustentabilidade Composto Trabalho.

Além da aplicação desta ferramenta, foram realizadas reuniões entre técnicos, pesquisadores e agricultores da região Sul, sendo que essas eram realizadas com o objetivo de dialogar a respeito dos desafios impostos para garantir a sustentabilidade nos agroecossistemas em transição agroecológica. A participação dos diferentes atores possibilitou uma visão sistêmica acerca da temática, garantindo uma análise contemplando os aspectos sociais, ambientais e econômicos dos mesmos, os quais são os pilares da sustentabilidade.

Os cursos de formação ocorreram em três momentos, sendo o de Produção Orgânica de Hortaliças e o de Certificação de Produtos Orgânicos no Centro de Formação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – EPAGRI, em Chapecó-SC, e o curso de formação em Agroecologia na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA Clima Temperado, em Pelotas-RS. Estes também contaram com a participação de agricultores,

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técnicos e pesquisadores, resultando em um momento de formação e interação entre os atores.

Outra atividade de grande relevância para garantir a sustentabilidade dos agroecossistemas foi a troca de experiências entre as famílias agricultoras. As visitas a outros agroecossistemas garantiu que os agricultores conhecessem outras realidades, possibilitando o aprendizado de novas técnicas de produção, comercialização e preservação ao ambiente.

RESULTADOSAtravés da mensuração e análise dos indicadores, obteve-se o Índice de

Sustentabilidade Geral – ISG dos agroecossistemas, o qual é composto pela média das notas atribuídas a cada um dos Indicadores de Sustentabilidade Compostos – ISC. Na tabela 01, abaixo, é possível verificar o ISG de cada agroecossistema estudado.

TABELA 01: MÉDIAS FINAIS DOS ISC E ISG

ISCISCRH ISCQS ISCQV ISCSE ISCDVA ISCT ISG*

A01 2,00 2,50 3,00 3,00 3,00 2,00 2,58A02 2,33 2,16 2,60 1,80 1,86 1,33 2,00A03 3,00 2,83 2,60 2,00 2,11 1,33 2,32A04 2,33 2,16 3,00 2,40 2,77 2,00 2,44A05 2,00 2,16 2,80 2,40 1,62 2,00 2,16A06 3,00 2,50 2,60 2,40 2,22 1,50 2,37

*Índice de Sustentabilidade Geral

Fonte: dados da pesquisa.

Verificou-se que o ISCQV obteve altos níveis de sustentabilidade em todos os agroecossistemas, isso pode estar relacionado diretamente à satisfação das famílias com a forma como vivem no campo. No ISCQS e no ISCRH o bom desempenho atribui-se à preocupação constante das famílias com a preservação e qualidade dos recursos hídricos e do solo através da utilização de técnicas que não interfiram de forma tão agressiva nos mesmos.

As principais dificuldades identificadas, dizem respeito ao ISCT e ISCDVA. As dificuldades constatadas no ISCT, as quais motivaram a atribuição de notas menores a esse indicador, estão relacionadas principalmente à disponibilidade de mão de obra, jornada de trabalho e intensão de continuidade dos jovens no agroecossistema. Já no que diz respeito ao ISCDVA, observou-se que o principal problema está relacionado à destinação adequada das Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal, mesmo sendo uma preocupação eminente das famílias, esses encontram dificuldades em adequar as áreas destinadas de acordo com a lei vigente, visto o tamanho dos agroecossistemas.

Averiguou-se que as principais discrepâncias no que diz respeito ao ISCSE e no ISCDVA.

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Esta situação, no que diz respeito ao ISCSE, está diretamente relacionada aos mecanismos adotados pelas famílias para diversificar suas atividades produtivas e encontrar novos canais de comercialização, visto que algumas famílias apresentam baixa dependência dos canais de comercialização e alta diversificação das atividades produtivas, ao mesmo tempo em que outras destinam sua produção apenas ao mercado atacadista, produzindo apenas hortaliças.

CONCLUSÕESAtravés dos dados aqui expostos e analisados, conclui-se que os estudos acerca da

avaliação de sustentabilidade em agroecossistemas são considerados de extrema importância para o entendimento da contribuição das práticas adotadas pelas famílias agricultoras para o equilíbrio ambiental, econômico e social. Hoje, poucos são os trabalhos relacionados ao tema no Brasil, principalmente na região Sudoeste do Paraná.

A partir da análise dos indicadores, tornou-se possível a recomendação de algumas ações que contribuirão para o aumento dos níveis de sustentabilidade com o decorrer do tempo. Dentre essas, destacam-se: a efetivação de treinamentos e busca por parceiras que cooperem para melhorar a qualidade da água e do solo; análises laboratoriais de água e solo recorrentes; a organização de grupos de produtores para articular estratégias de comercialização e a agregação de valor aos produtos; a realização de pesquisas junto aos consumidores com o intuito de melhorar os produtos agroecológicos nos aspectos referentes à aparência, formas de comercialização e higienização; a busca de parcerias com as prefeituras municipais para melhorar as condições das estradas de acesso aos agroecossistemas e contratação de técnicos capacitados para dar assistência às famílias; e o aumento das atividades com a produção animal.

Destaca-se que a participação das famílias agricultoras e entidades parceiras proporcionaram ao estudo uma aproximação maior à realidade dos agroecossistemas. Assim, o presente estudo, além de contribuir para que ao longo do tempo se alcance a sustentabilidade nos agroecossistemas, pode dar o embasamento necessário para a criação de políticas públicas que contribuam efetivamente para a sustentabilidade da agricultura familiar.

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