8 Ano - A Gata Borralheira

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1 CONTO POPULAR CONTO POPULAR CONTO POPULAR CONTO POPULAR “A Gata Borralheira” “A Gata Borralheira” “A Gata Borralheira” “A Gata Borralheira” Era uma vez um homem, cuja primeira esposa tinha morrido, e que tinha casado novamente com uma mulher muito arrogante. Ela tinha duas filhas que se pareciam em tudo com ela. O homem tinha uma filha de seu primeiro casamento. Era uma moça meiga e bondosa, muito parecida com a mãe. A nova esposa mandava a jovem fazer os serviços mais sujos da casa e dormir no sótão, enquanto as “irmãs” dormiam em quartos com chão encerado. Quando o serviço da casa estava terminado, a pobre moça sentava-se junto à lareira, e sua roupa ficava suja de cinzas. Por esse motivo, as malvadas irmãs zombavam dela. Embora a moça tivesse que vestir roupas velhas, era ainda cem vezes mais bonita que as irmãs, com seus vestidos esplêndidos. O rei mandou organizar um baile para que seu filho escolhesse uma jovem para se casar, e mandou convites para todas as pessoas importantes do reino. As duas irmãs ficaram contentes e só pensavam na festa. A moça ajudava. Ela até lhes deu os melhores conselhos que podia e ofereceu-se para arrumá-las para o evento. As irmãs zombavam de dela e diziam que ela nunca poderia ir ao baile. Finalmente o grande dia chegou. A pobre da moça viu a madrasta e as irmãs saírem numa carruagem em direcção ao palácio, em seguida sentou-se perto da lareira e começou a chorar. Apareceu diante dela uma fada, que disse ser sua fada madrinha, e ao vê-la a chorar, perguntou: - Gostarias de ir ao baile, não é? - Sim - suspirou a moça. - Eu posso fazer com que vás ao baile – disse a fada madrinha e deu umas instruções esquisitas à moça: - Vai ao jardim e traz-me uma abóbora. AGRUPAMENTO DE ESCOLAS FERNANDO PESSOA ESCOLA EB 2,3 FERNANDO PESSOA LÍNGUA PORTUGUESA 8ºANO Nome: ____________________________________ Ano: ______ Turma: ______ ______

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8 ano - a gata borralheira

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CONTO POPULARCONTO POPULARCONTO POPULARCONTO POPULAR

“A Gata Borralheira”“A Gata Borralheira”“A Gata Borralheira”“A Gata Borralheira”

Era uma vez um homem, cuja primeira esposa tinha morrido, e que tinha casado novamente com uma mulher muito arrogante. Ela tinha duas filhas que se pareciam em tudo com ela.

O homem tinha uma filha de seu primeiro casamento. Era uma moça meiga e bondosa, muito parecida com a mãe.

A nova esposa mandava a jovem fazer os serviços mais sujos da casa e dormir no sótão, enquanto as “irmãs” dormiam em quartos com chão encerado. Quando o serviço da casa estava terminado, a pobre moça sentava-se junto à lareira, e sua roupa ficava suja de cinzas. Por esse motivo, as malvadas irmãs zombavam dela. Embora a moça tivesse que vestir roupas velhas, era ainda cem vezes mais bonita que as irmãs, com seus vestidos esplêndidos.

O rei mandou organizar um baile para que seu filho escolhesse uma jovem para se casar, e mandou convites para todas as pessoas importantes do reino. As duas irmãs ficaram contentes e só pensavam na festa. A moça ajudava. Ela até lhes deu os melhores conselhos que podia e ofereceu-se para arrumá-las para o evento.

As irmãs zombavam de dela e diziam que ela nunca poderia ir ao baile. Finalmente o grande dia chegou. A pobre da moça viu a madrasta e as irmãs saírem

numa carruagem em direcção ao palácio, em seguida sentou-se perto da lareira e começou a chorar.

Apareceu diante dela uma fada, que disse ser sua fada madrinha, e ao vê-la a chorar, perguntou:

- Gostarias de ir ao baile, não é? - Sim - suspirou a moça. - Eu posso fazer com que vás ao baile – disse a fada madrinha e deu umas instruções

esquisitas à moça: - Vai ao jardim e traz-me uma abóbora.

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS FERNANDO PESSOA

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A moça assim trouxe e a fada madrinha esvaziou a abóbora até ficar só a casca. Tocou-a com a varinha mágica e a abóbora transformou-se numa linda carruagem dourada!

Em seguida a fada madrinha transformou seis ratos em cavalos lindos, tocando-os com sua varinha mágica. Escolheu também um rato que tivesse o bigode mais fino para ser o cocheiro mais bonito do mundo. Então, ela disse à moça:

- Olha atrás do regador. Aí encontrarás seis lagartos. Trá-los aqui. A moça nem acabou de trazê-los e a fada madrinha os transformou em lacaios. Eles

subiram atrás da carruagem, com os seus uniformes de gala, e ficaram ali como se nunca tivessem feito outra coisa na vida.

Quanto à moça, bastou um toque da varinha mágica para transformar os farrapos que usava num vestido de ouro e prata, bordado com pedras preciosas. Finalmente, a fada madrinha deu-lhe um par de sapatinhos de cristal.

Toda arrumada, a moça entrou na carruagem. A fada madrinha avisou que deveria estar de volta à meia-noite, pois o encanto terminaria ao bater do último toque da meia-noite.

O filho do rei pensou que a moça fosse uma princesa desconhecida e apressou-se a ir dar-lhe as boas vindas. Ajudou-a a descer da carruagem e levou-a ao salão de baile. Todos pararam e ficaram a admirar aquela moça que acabara de chegar.

O príncipe estava encantado e dançou todas as músicas com ela. Ela estava tão absorvida com ele, que se esqueceu completamente do aviso da fada madrinha. Então, o relógio do palácio começou a bater doze horas. A moça lembrou-se do aviso da fada e, num salto, pôs-se de pé e correu para o jardim.

O príncipe foi atrás mas não conseguiu alcançá-la. No entanto, na pressa ela deixou cair um dos seus elegantes sapatinhos de cristal.

A moça chegou a casa exausta, sem a carruagem ou os lacaios e vestindo a sua roupa velha e rasgada. Nada tinha restado do seu esplendor, a não ser o outro sapatinho de cristal.

Mais tarde, quando as irmãs chegaram em casa, perguntou-lhes se o baile tinha sido divertido. As irmãs, que não tinham percebido que a princesa desconhecida era a moça, contaram tudo sobre a festa, como o príncipe pegara o sapatinho que tinha caído e passou o resto da noite olhando fixamente para ele, definitivamente apaixonado pela linda desconhecida.

As irmãs tinham contado a verdade, pois alguns dias depois o filho do rei anunciou publicamente que se casaria com a moça em cujo pé o sapatinho servisse perfeitamente.

Embora todas as princesas, duquesas e damas da corte tivessem experimentado o sapatinho, ele não serviu em nenhuma delas.

Um mensageiro chegou a casa da moça trazendo o sapatinho. Ele deveria calçá-lo em todas as moças da casa. As outras duas tentaram de todas as formas calçá-lo, mas em vão.

Então, a moça sorriu e disse:

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- Eu gostaria de experimentar o sapatinho para ver se me serve! As irmãs riram e zombarem dela, mas o mensageiro tinha recebido ordens para deixar

todas as moças do reino experimentarem o sapatinho. Então, fez a moça sentar-se e, para surpresa de todos, o sapatinho serviu-lhe perfeitamente!

As duas irmãs ficaram espantadas, mas ainda mais espantadas quando ela tirou o outro sapatinho de cristal do bolso e o calçou no outro pé.

Nesse momento, surgiu a fada madrinha, que tocou a roupa da moça com a varinha mágica. Imediatamente os farrapos se transformaram num vestido ainda mais bonito do que aquele que havia usado antes.

A madrasta e as suas filhas reconheceram a linda “princesa” do baile, e caíram de joelhos implorando o seu perdão, por todo sofrimento que lhe tinham causado. A moça abraçou-as e disse-lhes que perdoava de todo o coração.

Em seguida, no seu vestido esplêndido, ela foi levada à presença do príncipe, que aguardava ansioso a sua amada.

Alguns dias mais tarde, casaram-se e viveram felizes para sempre.

Adaptado do conto dos Irmãos Grimm Adaptado do conto dos Irmãos Grimm Adaptado do conto dos Irmãos Grimm Adaptado do conto dos Irmãos Grimm A Gata BorralheiraA Gata BorralheiraA Gata BorralheiraA Gata Borralheira

Após a leitura atenta do conto, responda com frases completas e bem estruturadas às Após a leitura atenta do conto, responda com frases completas e bem estruturadas às Após a leitura atenta do conto, responda com frases completas e bem estruturadas às Após a leitura atenta do conto, responda com frases completas e bem estruturadas às seguintes questões.seguintes questões.seguintes questões.seguintes questões.

1. 1. 1. 1. Como era o diaComo era o diaComo era o diaComo era o dia----aaaa----dia da moça após a chegada da madrasta?dia da moça após a chegada da madrasta?dia da moça após a chegada da madrasta?dia da moça após a chegada da madrasta? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Qual foi o evento so2. Qual foi o evento so2. Qual foi o evento so2. Qual foi o evento socialcialcialcial que surgiu no reino que surgiu no reino que surgiu no reino que surgiu no reino? ? ? ? Refira a sua importRefira a sua importRefira a sua importRefira a sua importância.ância.ância.ância. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Como 3. Como 3. Como 3. Como é que a moça conseguiu fazer parte desse evento?é que a moça conseguiu fazer parte desse evento?é que a moça conseguiu fazer parte desse evento?é que a moça conseguiu fazer parte desse evento? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4.4.4.4. Qual era a Qual era a Qual era a Qual era a única condiúnica condiúnica condiúnica condiçççção ão ão ão que tinhaque tinhaque tinhaque tinha de de de de ser ser ser ser cumprida por ela? cumprida por ela? cumprida por ela? cumprida por ela? Justifique.Justifique.Justifique.Justifique. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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5. Conte por palavras suas c5. Conte por palavras suas c5. Conte por palavras suas c5. Conte por palavras suas como decorreu o baileomo decorreu o baileomo decorreu o baileomo decorreu o baile.... ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. Como 6. Como 6. Como 6. Como é que a moça é que a moça é que a moça é que a moça regressou a casaregressou a casaregressou a casaregressou a casa???? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. D7. D7. D7. Descreva os acontecimentos que sucederam depois do baile atescreva os acontecimentos que sucederam depois do baile atescreva os acontecimentos que sucederam depois do baile atescreva os acontecimentos que sucederam depois do baile atéééé àààà desc desc desc descoooobbbbererererta ta ta ta da da da da verdadeira identidadeverdadeira identidadeverdadeira identidadeverdadeira identidade da da da da ““““princesaprincesaprincesaprincesa”””” que encantou o pr que encantou o pr que encantou o pr que encantou o príncipeíncipeíncipeíncipe.... ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8.8.8.8. Qual foi a reacç Qual foi a reacç Qual foi a reacç Qual foi a reacção daão daão daão da fam fam fam famíliaíliaíliaília do moça do moça do moça do moça à descoberta?à descoberta?à descoberta?à descoberta? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9999. . . . Classifique as personagens do tClassifique as personagens do tClassifique as personagens do tClassifique as personagens do texto quanto ao relevo.exto quanto ao relevo.exto quanto ao relevo.exto quanto ao relevo. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10. 10. 10. 10. CaracterizCaracterizCaracterizCaracterize e e e física e psicologicamente a personagem principalfísica e psicologicamente a personagem principalfísica e psicologicamente a personagem principalfísica e psicologicamente a personagem principal.... ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11. 11. 11. 11. Classifique o narradorClassifique o narradorClassifique o narradorClassifique o narrador do conto do conto do conto do conto quanto quanto quanto quanto à prà prà prà preeeesença e sença e sença e sença e à cià cià cià ciênciaênciaênciaência.... Justifique Justifique Justifique Justifique.... ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Conto de AutorConto de AutorConto de AutorConto de Autor “História da “História da “História da “História da GGGGata Borralheira”ata Borralheira”ata Borralheira”ata Borralheira”

IIII Como uma rapariga descalça, a noite caminhava leve e lenta sobre a relva do

jardim. Era uma jovem noite de Junho, a primeira noite de Junho. E debruçada sobre o tanque redondo, ela mirava extasiadamente o reflexo do seu rosto.

Do jardim via-se a casa, uma casa grande cor-de-rosa e antiga que, toda iluminada nessa noite de festa, espalhava no jardim luzes, brilhos, risos, música e vozes. A luz recortava o buxo dos canteiros e a música misturava-se cora o baloiçar das árvores.

Pelas janelas abertas avistavam-se pares dançando e vestidos claros de raparigas, vestidos que flutuavam entre os passos e os gestos. Vultos de namorados passavam entre as cortinas e vinham apoiar-se no peitoril das janelas, inclinados sobre a noite. Às vezes um riso mais agudo cortava, como um pequeno punhal, a água lisa dos tanques.

Vistas do jardim essas coisas pareciam feéricas e irreais. Delas subia, perante a alegria serena da noite, urna alegria rápida e agitada, desgarrada e passageira, um pouco triste e cruel.

Lúcia tinha dezoito anos e era este o seu primeiro baile. Tinha vindo com a tia que era sua madrinha.

Seguida, por Lúcia, a tia atravessou a grande entrada iluminada e, com os brincos a tilintar, avançou para os donos da casa que estavam de pé à porta da primeira sala. Falaram-se e beijaram-se e, enquanto se falavam e beijavam, Lúcia, um pouco entontecida por tantas caras desconhecidas e tantos vestidos de tantas cores e pela profusão de vozes e flores e luzes e perfumes, tudo para ela confusamente próximo demais e acumulado demais, só pôde ver que o vestido da dona da casa era azul e que a cara do dono da casa era encarnada amável como uma maçã polida.

— Esta é a minha sobrinha Lúcia. É filha do meu primo Pedro — disse a tia. A dona da casa sorriu com um ar um pouco ausente, beijou Lúcia e respondeu:

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- Conheci muito bem o seu Pai. Mas há muito tempo que não o vejo. - Ah, é a filha do Pedro - exclamou o dono da casa com ar caloroso. E reafirmou: - Conhecemos muito bem o seu Pai. Ainda é meu parente, como está ele? - Agora está bem, muito obrigado. Mas este Inverno esteve doente. - Doente? Mas

que maçada! - Comentou o dono da casa, já distraído de Lúcia e sorrindo a outros convidados que chegavam.

A dona da casa chamou a sua filha que sorriu, deu um beijo a Lúcia e a levou para a sala de baile.

A grande sala estava cheia de gente dançando, pares que se multiplicavam nos enormes espelhos esverdeados. Ao fundo um grupo de músicos tocava. Pelas janelas abertas entravam os perfumes do jardim. As cortinas inchavam-se de brisa.

A filha da dona da casa apresentou Lúcia às amigas. Estas falaram-lhe com um ar alheio e sorriram com ar indiferente. Depois continuaram as suas conversas como se ela não estivesse ali. Falavam muito depressa, em frases um pouco incompreensíveis e entrecortadas, batiam as pestanas e sacudiam os cabelos.

Lúcia olhava-as com um misto de temor e fervor. Pareciam-lhe todas bonitas, animadas por uma vida rápida e segura, e tinham faces rosadas como um fruto e um agudo brilho nas vozes metálicas.

A música parou, os pares desfizeram-se, as raparigas acompanhadas por rapazes vieram reunir-se ao grupo onde a filha da dona da casa estava. Lúcia tentou seguir a conversa. Fez uma pergunta mas ninguém lhe respondeu.

A música começou outra vez a tocar, os rapazes convidaram as raparigas para dançar e o grupo desfez-se. Lúcia ficou sozinha. Ninguém a tinha convidado para dançar.

Encostou-se à ombreira de uma porta. Pararam perto dela uma rapariga vestida de azul e uma rapariga vestida de branco, que a olharam de alto a baixo, com ar misto de troça e dúvida. E ela ouviu a rapariga vestida de azul perguntar a meia-voz à rapariga vestida de branco:

- Quem é esta? E a rapariga vestida de branco respondeu: - Sei lá! E ambas poisaram nela um olhar duro como se Lúcia fosse uma intrusa e elas a

quisessem pôr fora da sala, empurrando-a com o olhar. Como se elas, afirmando não saber quem eia era, a atirassem para o mundo das coisas inexistentes.

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Lúcia fingiu não ter ouvido. Surgiram dois rapazes que convidaram a rapariga branca e a rapariga azul para dançar. Lúcia continuou sozinha, encostada à porta. Aquela sala cheia de gente, de luzes e de música pareceu-lhe um lugar belo e desejável mas onde não havia lugar para ela. E passaram três raparigas que a olharam de relance e se afastaram conversando entre si.

- Estão a falar de mim. - Pensou Lúcia. Continuava encostada à porta. Olhou em redor procurando um lugar onde estivesse menos exposta à vista de todos. E viu do outro lado da sala uma cadeira vazia perto de uma janela aberta, meia escondida pela cortina.

- Vou-me sentar ali – pensou. Mas tinha de atravessar meia sala. No caminho passou em frente dê um espelho e

olhou-se. Mais urna vez verificou quanto o seu vestido era feio. Era um vestido que lhe tinha sido dado pela tia que era sua madrinha. Oito dias antes, a madrinha tinha aparecido em casa de Lúcia.

- Lúcia - disse ela - de hoje a uma semana vens comigo a um baile. - Mas não tenho vestido de baile - exclamou Lúcia. - Eu tenho um meu que se pode arranjar para ti. Amanhã vem almoçar comigo. No dia seguinte Lúcia foi almoçar com a tia. Mal ela chegou a tia levou-a ao quarto

dos armários e tocou para chamar a costureira. - Abre aquele armário - disse a madrinha à criada, apontando com o dedo. A criada abriu o armário e surgiu uma fileira de vestidos de baile pendurados em

cabides. - Tira aquele vestido - mandou a madrinha apontando com o dedo. A criada despendurou do armário o vestido e segurou o cabide com o braço

erguido. O vestido era de seda lilás. - Está novo - declarou a madrinha - mas engorda-me. Lúcia achou o vestido muito feio e balbuciou com cuidado: - Lilás fica-me mal. - Na tua idade tudo fica bem - respondeu a madrinha. - Despe-te para a costureira

ver como se há-de arranjar. Lúcia despiu-se e enfiou rápida o vestido. A porta do armário era forrada de espelho. E nesse espelho ela viu-se de cima

abaixo e achou o vestido ainda mais feio. Tomou a murmurar: - A cor não me fica bem.

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- Esta cor é para ser vista à luz eléctrica – explicou a tia. Lúcia não ousou dizer mais nada. A costureira começou a marcar o vestido com

alfinetes e a passar alinhavos. - No dia do baile tens que pôr saltos altos – disse a madrinha. - Põe-te em bicos

dos pés para se calcular a altura. - Não tenho sapatos de saltos altos – respondeu ela. Mas a tia, distraída, não

ouviu. Lúcia pôs-se em bicos dos pés e, enquanto a costureira media a bainha, espetava

alfinetes e passava alinhavos, olhava duvidosa a própria imagem. Sempre sonhara ir a um baile. Apetecia-lhe apaixonadamente ir àquele baile.

A sua vida, entre o pai viúvo e arruinado, os dois irmãos, as velhas criadas faladoras, o jardim inculto, cheio de musgos e ervas selvagens, não era uma vida triste mas uma vida monótona e modesta. Às vezes, no colégio, algumas das suas amigas falavam de um mundo de festas e divertimentos, um mundo onde tudo era fácil e todas as pessoas eram ricas. Agora, aquele baile era para ela a porta aberta para esse outro mundo. Não podia perder o convite, não podia deixar que a porta se fechasse. Com cautela, tentou insinuar na tia a ideia de um outro vestido. Disse:

- Gosto muito do seu vestido. É lindo. Mas, a um primeiro baile, é costume ir com um vestido branco.

- Branco ou cor-de-rosa – atalhou a tia – e este lilás é quase cor-de-rosa. À noite entre lilás e cor-de-rosa quase nem se distingue.

Lúcia compreendeu que não havia nada a fazer neste capítulo e que o pior de tudo seria não ir ao baile. Não disse mais nada e, mal saiu da casa da tia, começou a percorrer as sapatarias da cidade. Mas os sapatos de baile eram todos terrivelmente caros.

- Que hei-de eu fazer? - Pensou. Em casa fez uma busca ao sótão. No sótão havia de tudo: cadeiras desmanteladas,

candeeiros de petróleo de outros tempos, revistas antigas, livros roídos pelos ratos, frascos vazios, uma caixa com leques, uma mala com sapatos.

Lúcia procurou nessa mala e descobriu uns sapatos de salto alto que, embora um pouco largos, lhe serviam. Mas estavam fora de moda e em mau estado com o forro

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azul roto nas biqueiras e aqui e além manchas de bolor. Lúcia limpou-os o melhor que pôde, mas pouco melhoraram.

- Como o vestido é comprido – calculou ela – não se vêem os sapatos. E, quando na véspera do baile a costureira trouxe o vestido, Lúcia enfiou-o logo,

calçou os sapatos e constatou que a saia tocava bem no chão e que ninguém veria como ela estava calçada.

O único perigo era o facto de os sapatos estarem um pouco largos. - Tenho de caminhar com cuidado – pensou ela. Mas agora, ali, na sala de baile, escondida atrás de um grupo de pessoas e voltada

para o espelho murmurou: - Era melhor não ter vindo. O espelho era antigo e tinha um fundo embaciado, manchado e verde onde Lúcia

se via como uma afogada boiando numa água sinistra. - Estou pálida – constatou – preciso de pôr mais rouge. Resolveu ir ao quarto de vestir. Indagou onde ficava, explicaram-lhe que no andar

de cima, à esquerda. Saiu da sala de baile, atravessou a entrada, subiu a escada. Mas a meio da escada

fugiu-Ihe o sapato do pé direito. Olhou com terror em sua roda. Ninguém tinha visto. - Tenho que caminhar com cuidado – suspirou. No quarto de vestir estavam três

raparigas a pentear-se em frente do espelho. Não a viram entrar. Conversavam umas com as outras mas cada uma olhava o seu reflexo. Diziam:

- Quem é aquela rapariga com um horrível vestido lilás? - Não sei. Pensei que já não havia ninguém capaz de se vestir de lilás. - Coitada, tenho pena dela. Deve ver um vestido emprestado. - Vocês são más e snobes. O vestido é feio mas ela é bem bonita, atalhou a

terceira rapariga que tinha estado calada. - Talvez fosse bonita se estivesse vestida de outra maneira. Assim... Mas Lúcia não ouviu mais. Recuou com cuidado e saiu sem fazer barulho,

esperando não ser vista. - Para que vim eu a este baile? - Pensou. - Aqui o meu vestido é uma espécie de

anti-passaporte que me proíbe a passagem para o mundo deles. Desceu a escada. Na entrada parou em frente de um grande espelho de moldura

dourada, pendurado por cima de um tremó. Estava ainda mais pálida agora. Abriu a carteira e rapidamente pôs um pouco mais de rouge nos dois lados da cara.

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Então, no fundo do espelho, atrás da sua cara, viu, descendo a escada, a terceira rapariga. Era loira, não alta, mas esguia e tinha um ar aéreo. O vestido de chiffon cor-de-rosa pálido dançava em redor de seus passos.

Lúcia fingiu não a ver mas a rapariga avançou, parou ao seu lado em frente do espelho, sorriu e disse:

- Não se veja nesse espelho. Faz muito má cara. Lúcia perplexa murmurou: - Pois é, talvez... A sua pele é linda e branca - atalhou a rapariga, e, ali, parece cinzenta. É melhor

não olhar para lá. Pairou um silêncio. Alguém que passava chamou a rapariga. Ela, sem se mover,

respondeu: - Vou já. Depois hesitou um instante, sorriu de novo e, olhando Lúcia, continuou: - Sabe... é preciso não dar importância a este género de espelhos. São como as

pessoas más, não dizem a verdade. - Pois, pois é - concordou Lúcia tentando entrar no imprevisto tom da conversa. - Sabe - e a rapariga tomou um ar ausente como se falasse sozinha - não sabemos

ao certo o que querem os maus reflexos, os maus olhares, as más palavras. Talvez a perdição da nossa alma. E temos que manter nossa alma livre.

- Pois é – concordou Lúcia espantada. - É - rematou a rapariga. Depois, voltou a sorrir, sacudiu os cabelos e disse: - Tenho de ir, até já. E afastou-se. As palavras da rapariga, estranhas e entrecortadas, deixavam no ar algo

inacabado. Algo suspenso. “Que queria ela dizer? – perguntou Lúcia a si própria. “Será que percebeu que eu

ouvi a conversa no quarto de vestir e me quis consolar? Ou será que não compreendi nada? Será que ela estava a falar numa linguagem do grupo dela, que eu não entendo? Ou será que estava só a dizer frases esquisitas para se fazer interessante?»

Sentia-se confusa e irritada, desconfiava da simpatia da rapariga e daquela conversa súbita e, de certa forma, estranha. Suspeitava de qualquer armadilha. Mas, ao mesmo tempo, obscuramente, parecia-lhe que a rapariga a tentara ajudar a defender-se de algum perigo que ela não queria ver.

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Enquanto se interrogava tinha chegada ao limiar da sala de baile. A cadeira ao pé da janela, semi-escondida pela cortina, continuava vazia. Lúcia contornou os pares que dançavam e foi sentar-se ali. Sobre os seus ombros passava o perfume do jardim: cheiro a madressilva e erva cortada, frescor de humidade nocturna.

Alguém passou ali perto e disse: - Que bonita festa! Lúcia olhou: era uma bonita festa. Luzes, música, flores. Mas eram os vestidos que

acima de tudo a deslumbravam. Nunca tinha imaginado que pudessem existir vestidos tão maravilhosos. Vestidos estreitos e esguios, vestidos flutuantes que esvoaçam ao sabor dos gestos, vestidos rodados como coroas brilhantes de enormes flores. Intensamente atenta, Lúcia admirava-os, invejava-os, mirava cada pormenor, fixava a eficácia de cada feitio.

- Se um daqueles vestidos, o azul ou o branco, pudesse ser o meu! - Murmurou. De súbito irritou-se. Levantou-se e, virando as costas à sala, debruçou-se sobre o

jardim. A noite poisou a sua mão fresca sobre a sua cara afogueada. Ficou assim alguns instantes. Quando de novo se virou para a festa, viu perto dela,

a filha da dona da casa. Estava a dançar com um rapaz alto, bonito, moreno. O rapaz ao passar viu Lúcia atrás da cortina. Inclinou-se para a ver melhor e sorriu.

Depois disse qualquer coisa à filha da dona da casa. A rapariga olhou para o lado, reconheceu Lúcia, sorriu e, sorrindo-lhe, respondeu ao rapaz.

- Estão a rir-se de mim - calculou Lúcia. Mas quando a música acabou a filha da dona da casa, seguida pelo rapaz, avançou para a janela. Lúcia fingiu não os ver e olhou para o jardim. Mas a rapariga parou em frente dela e perguntou:

- Está a ver o jardim? Depois, sem esperar resposta apresentou-lhe o rapaz e deixou-os. O rapaz

encostou-se à janela. Lúcia não sabia o que havia de dizer. Por fim murmurou: - Estava a ver a noite. - Vamos continuar a ver a noite - respondeu ele. E virando as costas à sala debruçou-se sobre o jardim, respirou fundo e exclamou: - Cheira bem, cheira a erva cortada, a buxo, a tílias, a madressilva. - É - aprovou Lúcia debruçando-se também na janela. - Tudo parece tão misterioso: o brilhar do luar entre as sombras e as folhas das

árvores, o reflexo da lua no lago. O lago parece um espelho. É uma noite mágica. - Está lindo - murmurou Lúcia um tanto perplexa.

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- Ainda é Primavera e já é Verão. As noites, neste tempo do ano, são uma maravilha, apetece vivê-las minuto a minuto, não perder nem um instante delas, nem um suspiro da brisa.

- É maravilhoso - aprovou Lúcia tentando mais uma vez captar o estilo da conversa.

Houve um longo silêncio. De súbito o rapaz acordou da contemplação e com um leve arrebatamento perguntou:

- Estas noites assim não a assustam? - Assustar? Porquê? - Tanto azul, tantos brilhos, brisas, perfumes, parecem a promessa de uma vida

deslumbrada que é a nossa verdadeira vida. Mas, ao mesmo tempo, há nessas noites uma angústia especial - há no ar o pressentimento de que nos vamos despistar, nos vamos distrair, nos vamos enganar e não vamos nunca ser capazes de reconhecer e agarrar essa vida que é a nossa verdadeira vida.

Lúcia hesitou, suspeitosa. Duvidava simultaneamente do estilo da conversa e do seu próprio entendimento. O rapaz parecia-lhe tonto e lunático. Compreendeu que não poderia dizer que para ela a verdadeira vida seria estar naquele baile com um vestido lindíssimo. Essas coisas não se dizem. Por isso respondeu:

- Pois é, está uma noite extraordinária. Mas, depois, abruptamente perguntou: - Porque é que me diz essas coisas? Não me conhece, não sabe como eu sou. - Porque você estava a olhar para a noite em vez de estar a olhar para os vestidos. - Como é fácil enganar – pensou Lúcia. Não respondeu nada mas abriu um grande

sorriso. O rapaz perguntou: - Quer dançar? - Não sei dançar - respondeu da duramente. O rapaz tornou a sorrir e disse: - É fácil, eu ensino-lhe. Tomou-lhe a mão para a ajudar a levantar-se e guiou-a para o lugar da dança.

Começaram a dançar. Lúcia tropeçava nos próprios passos. Tornou a dizer: - Não sei dançar. E acrescentou: - É melhor pararmos. Mas ele continuou a dançar, olhou-a, sorriu de novo e disse: - Não faz mal. Eu gosto de dançar consigo, mesmo que dance mal.

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O rosto de Lúcia iluminou-se. Não era só o elogio daquele rapaz bonito que a alegrava. Era posta nela a atenção de alguém que pertencia ao mundo do brilho e poder onde ela queria penetrar.

Deixou de tropeçar, começou a seguir a música, sorriu inclinando a cabeça para o lado. Mas foi então que a coisa mais temida aconteceu.

Estavam agora dançando no meio da sala, precisamente no meio da sala, debaixo do lustre, quando o sapato esquerdo escorregou do pé de Lúcia. Ela sentiu-o escorregar mas, levada pelo movimento da dança, não conseguiu parar logo para o segurar. Olhou e viu o sapato separado de si no meio da sala. Ia a dizer: - É meu - quando uma rapariga começou a rir e perguntou:

- O que é aquilo? Mas o que é aquilo? Lúcia calou-se. Várias pessoas olharam. Riram. As palavras cruzavam-se no ar. - Um sapato! - Todo roto! - De quem será? - Não é de ninguém. É uma partida? - Quem terá tido esta ideia? - Que ideia fazer partidas de Carnaval em Junho! - Talvez não seja partida. Talvez seja de alguém que o perdeu. - Ninguém é capaz de vir para um baile com um sapato daqueles. O sapato estava miserável. Com os movimentos do pé de Lúcia, a seda do forro

tinha rebentado na biqueira e no salto. Algumas pessoas não viam ou fingiam não ver mas outras olhavam, comentavam. Lúcia dançava muito direita em equilíbrio no pé descalço que o vestido comprido

escondia. Quando a música acabou e os pares abandonaram o espaço da dança, o sapato

ficou sozinho no centro da sala, esfarrapado e miserável sobre o chão polido. Lúcia e o rapaz tinham-se sentado num sofá. Ela não sabia se ele tinha ou não

compreendido que o sapato era dela. Não ousava encará-lo. A dona da casa chamou um criado e murmurou qualquer coisa. O criado foi buscar

as pinças que estavam penduradas ao lado do fogão e agarrou com elas o sapato e levou-o.

A música recomeçou a tocar. O rapaz perguntou qualquer coisa a Lúcia mas ela só respondeu:

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- Tenho sede. - Vou-lhe buscar uma bebida - disse ele. Levantou-se e saiu pela porta da esquerda. - Compreendeu que o sapato era meu - pensou ela - e arranjou uma maneira de se

ir embora. Uma das raparigas que conhecera no princípio da noite veio sentar-se junto dela.

Olhou Lúcia na cara e perguntou-lhe com ar trocista: - De quem seria o sapato? - Não sei - disse Lúcia. - Eu sei - respondeu a rapariga. E, rindo, arrastou-se e dirigiu-se para um grupo de amigas. - Tenho de sair daqui depressa, depressa - murmurou Lúcia. Levantou-se e saiu da sala. A entrada estava vazia. Já tinha acabado a hora das

chegadas e ainda não tinha começado a hora das partidas. Perto da escada havia uma porta aberta que dava para um quarto pouco iluminado.

Lúcia espreitou: era uma pequena sala vazia. Entrou e fechou a porta atrás de si. Mas então viu que o lado de dentro da porta, o lado que dava para o interior da pequena sala, era, de cima a baixo, forrado de espelho. E nesse espelho ela viu-se toda, pálida, com o vestido detestado escorrendo desde os ombros até aos pés.

Recuou em frente do seu reflexo. Procurou na sala um lugar onde se pudesse esconder da sua imagem. Sentou-se na cadeira que ficava à esquerda e sentou-se no sofá que ficava à direita. Mas em toda a parte o espelho a via. O seu olhar frio e brilhante fitava o vestido lilás.

Lúcia olhou em redor. Em frente da porta por onde tinha entrado outra porta abria para a varanda.

- Acolá ninguém me olha - calculou ela. E refugiou-se na varanda. Dali via-se o interior da sala de baile cujas janelas

estavam abertas. E, lá dentro, no meio das danças e das pessoas, ela avistou o rapaz com quem

dançara. Estava parado em frente do sofá onde ambos tinham estado sentidos. Trazia na mão um copo e parecia procurar alguém.

- Está à minha procura - constatou Lúcia.

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O rapaz percorreu a sala toda com o olhar, e depois aproximou-se da rapariga que momentos antes perguntara a Lúcia se ela sabia de quem era o sapato. O rapaz disse- -lhe qualquer coisa com a expressão e o gesto de quem pergunta.

Lúcia não podia dali ouvir nem a pergunta nem a resposta. Mas viu que a rapariga ria muito e sacudia a cabeça enquanto respondia. O rapaz afastou-se dela com gestos um pouco incertos e ficou isolado num canto da sala, com o copo na mão.

- Ele perguntou-lhe onde eu estava. Ela deve ter respondido: «Foi à procura do sapato». Ele agora sabe que o sapato era meu e tem dó de mim - pensou Lúcia. E mesmo sozinha corou de vergonha.

Afastou-se do lugar onde estava e sentou-se num canto sombrio onde havia um banco. Apoiou o cotovelo no frio parapeito de pedra da varanda, apoiou o rosto na sua mão e mergulhou o olhar na onda escura da noite.

- Que hei-de eu fazer, que hei-de eu fazer? - Murmurou. Começou a imaginar, que era ela própria e estava "naquele mesmo dia, naquele

mesmo baile, mas que tinha um maravilhoso vestido, o mais belo vestido que havia no baile. E quando ela passava, as pessoas murmuravam: - Que vestido maravilhoso! - Ouviu o roçar leve do vestido pelo chão e viu a sua imagem brilhando nos espelhos. Sussurrou:

- Mas como? Então lembrou-se. Naquele ano, no dia em que fizera dezoito anos, a madrinha

tinha-lhe dito: - Lúcia, tens dezoito anos, é preciso pensar no teu futuro. Não conheces ninguém,

não és convidada para nada, andas vestida como uma pobre. Vem viver comigo que sou tua madrinha e não tenho filhos. Se vieres viver comigo, eu dou-te todas as coisas de que precisas.

- Não posso deixar o meu pai e os meus irmãos! - Disse Lúcia. - Bem - respondeu a madrinha. - Viver é escolher. Tu escolhes ficar com o teu pai.

Mas o meu convite fica em aberto. Se um dia escolheres um caminho diferente, vem viver comigo.

Lúcia ficou a viver com o pai e os irmãos. Mas agora, ali, com a cara encostada à pedra fria da parede, com o olhar mergulhado no escuro da noite, lembrou-se de convite que lhe fora feito e murmurou:

- Tenho de escolher outro caminho. Tenho de ir viver com a minha madrinha.

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Mas algo nela hesitava: deixar a sua casa, aqueles que a amavam, deixar a doce liberdade familiar - entre a aérea distracção do pai, os irmãos descendo como bólides pelo corrimão, o desleixo das criadas velhas, os quartos onde o papel se descolava da parede, a sala onde a seda dos cortinados se esgarçava e trocar tudo isso, que era quente, vivo e livre, pela minuciosa tirania da tia rica e pelos seus discursos de prudência e cálculo, era difícil. Mas ela não queria renunciar ao outro caminho.

Lembrou-se da rapariga vestida de cor-de-rosa. «Que tinha ela dito?», perguntou Lúcia a si própria. «Que era preciso não se importar». Mas ela, Lúcia, não queria não se importar. Aquele baile, aquela gente que a ignorara e humilhara era o mundo que ela decidira escolher. Aqueles eram os vestidos, os sapatos, as jóias que ela queria possuir. Aquele o poder que desejava.

Poisou as mãos sobre a pedra fria do corrimão da varanda e murmurou: - Tenho de escolher outro caminho. Um dia hei-de voltar aqui com um vestido maravilhoso e com sapatos bordados de brilhantes.

IIIIIIII

Daí a dias Lúcia foi viver com a tia. Iniciou então o seu novo caminho. Passou a ter tudo que antes não tinha.

O mundo tem um preço e Lúcia pagou o preço do mundo. Onde antes encontrara desprezo agora encontrava triunfo. Todas as coisas lhe eram oferecidas como por mãos invisíveis. Era como se ela tivesse penetrado num palácio mágico onde tudo a servia, tudo lhe obedecia.

A partir do dia da escolha, o seu êxito tomara-se mecânico. Ela nem precisava quase de lutar por ele, ele aparecia-lhe, tudo o suscitava. Era como se nela agora houvesse uma fatalidade de triunfo.

Casou com um homem rico que depois de ter casado com ela se tornou cada vez mais rico. A sua beleza crescia de ano para ano, novos amigos a procuravam todos os dias. Na sua vida não havia nenhuma sombra senão a memória do antigo baile, do primeiro baile a que tinha ido.

Tinha o vestido de seda lilás embrulhado em papel de seda, guardado dentro de unia caixa, escondida dentro de uma gaveta. Mas, às vezes. Lúcia fechava-se à chave, sozinha, no seu quarto e tirava a caixa da gaveta e o vestido da caixa.

Depois estendia o vestido lilás em cima da sua cama e olhava-o longamente e pensava:

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- Preciso de queimar este vestido. E assim passaram vinte anos. Também o tempo parecia servir Lúcia. Ela tinha

embelezado sempre mais. O oval da sua cara agora era mais fino, os seus traços mais desenhados, os seus gestos mais perfeitos, a sua voz mais equilibrada e serena.

E nesse vigésimo ano em certa manhã de Maio, Lúcia recebeu um convite. Um convite para um baile no primeiro dia de Junho. Um baile na mesma casa onde ela vinte anos antes, tinha ido com um vestido lilás, feio e fora de moda.

Sorriu e lembrou-se da frase que então dissera: - Um dia hei-de voltar aqui com um vestido maravilhoso e com sapatos bordados

de brilhantes. Aquele convite para um baile, na mesma casa, na mesma noite de Junho era como

um encontro marcado pelo destino. E pareceu a Lúcia que era preciso que agora ela fosse àquele baile para com o seu triunfo, o seu sucesso presente, apagar, até ao último vestígio, a memória da humilhação ali antes sofrida. Era preciso que ela, como a madrasta da Branca Flor, pudesse naquela noite perguntar a todos os espelhos da casa:

- Dizei-me espelhos, qual a mais bela, a mais perfeita, a mais rica de triunfo, aquela que está em seu reino mais segura?

E era preciso que todos os espelhos, até de madrugada, lhe respondessem: - Tu. Daí a tempos, no círculo onde Lúcia vivia, começou a correr uma notícia estranha:

dizia-se que Lúcia mandara fazer uns sapatos bordados de brilhantes verdadeiros. Mas ninguém acreditou que isto fosse de facto verdade. A história pareceu fantástica de mais.

No mês de Maio, trémulo de brisas, foi contando um por um os seus dias e no primeiro dia de Junho, à noite, depois do jantar, antes do baile, Lúcia fechou-se à chave no seu quarto.

Depois, com outra chave, abriu a única gaveta. Tirou da gaveta uma caixa e da caixa tirou o vestido lilás e estendeu-o em cima da cama.

Em seguida, tirou do armário o vestido novo e os novos sapatos e começou a vestir-se. Depois de vestida, penteada, pintada e perfumada, olhou-se no espelho. Tendo visto que tudo estava como desejava, parou ao lado da sua cama, em frente do seu antigo vestido que fitou em silêncio.

Por fim disse:

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- Amanhã vou queimar este vestido. E de novo guardou o vestido na caixa e a caixa na gaveta. Quando ela apareceu no limiar da grande sala de baile, primeiro, ninguém

acreditou no que via. Agora os vestidos de baile já não se usavam compridos até ao chão: a saia de Lúcia terminava um pouco acima das canelas. E os seus sapatos bordados de brilhantes viam-se bem. Algumas pessoas pararam de dançar.

Lúcia deu lentamente a volta à sala, mostrando o brilho dos seus passos. Murmúrios correram de boca em boca:

- Não é possível que sejam verdadeiros brilhantes! - É uma imitação! - É inacreditável! - Mas são verdadeiros! - São falsos com certeza! - Mas nunca vi jóias falsas brilharem tanto! Os sapatos brilhavam com mil luzes. E

o seu fogo era tão límpido, tão puro e tão agudo que todos compreenderam que, de facto, Lúcia tinha vindo àquele baile com sapatos bordados de brilhantes verdadeiros.

Houve um primeiro movimento de espanto e quase de escândalo. Mas Lúcia começou a dançar. Os seus passos traçavam círculos sucessivos de luz, fogo e brilho.

Todos os olhares a seguiam. O lume dos diamantes espalhara-se em toda a sua pessoa. E à medida que a sua dança dava a volta à sala, Lúcia ia-se vendo de espelho em espelho. Cada espelho lhe dizia «tu». E ela sacudia os cabelos e batia as pestanas.

Era já o meio da noite quando disse a si própria: - Agora tenho de voltar àquela sala onde há vinte anos me fui esconder. Tenho de ver-me de novo no espelho que está atrás da porta, no espelho onde tive vergonha do meu reflexo.

E, como outrora, saiu da sala de baile, atravessou a entrada e penetrou na pequena sala que ficava à esquerda da escada. Como outrora essa sala estava vazia.

Lúcia fechou a porta atrás de si e virou-se para o espelho. Era o mesmo espelho, ainda lá estava. Mas também a mesma imagem lá estava ainda.

Todo o seu corpo gelou num momento de horror. O seu sangue parou de correr. Um grito ficou estrangulado na sua garganta. Viu-se no espelho. Viu-se e viu que o vestido que ela tinha vestido era ainda o mesmo, era ainda o antigo vestido lilás.

E o vestido parecia encher a sala, espalhar-se no ar. A sua cor parecia erguer-se como uma palavra, parecia escorrer como um metal fundido. Lúcia queria gritar mas o grito estava preso no seu pescoço. Levou a mão à garganta.

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Então o espelho, muito devagar começou a mexer-se. Girou lento sobre si mesmo e a porta abriu-se deixando entrar um homem. Mas pareceu a Lúcia que ele não tinha entrado pela porta mas que tinha antes surgido do próprio espelho.

Era um homem de bela aparência e de ar exacto e brilhante. Tudo nele mostrava inteligência, poder, posse, domínio. Inclinou-se ligeiramente, com ar amável, segurou o braço de Lúcia e disse:

- Vamos para a varanda. Cá fora na varanda a sombra da noite era inquieta e pesada. Lúcia respirou com

esforço, sentou-se no banco de pedra e disse: - Parece-me que não o conheço. - Conheces - respondeu o desconhecido. - Desde há vinte anos. Estivemos juntos

nesta varanda, numa noite de Junho, há vinte anos. Foi aqui que nos conhecemos. - Eu estive aqui, mas estava sozinha. - Eu espiei-te. Vi-te. - Vai-te embora - murmurou Lúcia. Mas o homem respondeu: - Há vinte anos, aqui, nesta varanda escolheste o outro caminho. Eu sou o outro

caminho. - O que é que tu queres de mim num agora? - Quero o sapato do teu pé esquerdo. - O sapato? - Sim, o teu sapato. - Não, não, não! - Gritou Lúcia. - O sapato é meu. Ganhei-o. Fui eu que o ganhei. É

o trabalho da minha vida inteira. É a minha vida. - Dá-me o teu sapato, Lúcia. Lúcia recuou com terror e disse: - Não, o sapato, não. - Ouve, Lúcia. Lembra-te: a partir daquela noite de há vinte anos tiveste uma vida

maravilhosa. Nada te foi recusado, nunca mais sofreste uma humilhação. Outros sofreram, foram abandonados, humilhados, vencidos. Tu, não. Tu venceste sempre. Dá-me o teu sapato: é o preço do mundo.

- Não posso ficar no meio de um baile com um pé calçado e o outro descalço. - Quando aqui te encontrei há vinte anos também tinhas um pé calçado e outro

descalço. Mas eu penso em tudo. Não me esqueço de nada. Trouxe outro sapato para o teu pé esquerdo.

E dizendo isto o homem estendeu-lhe na mão um sapato.

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Era um sapato de salto alto, forrado de seda azul, velho, miserável, esfarrapado. Lúcia quis fugir, mas o seu corpo estava rígido e ela não pôde mover nenhum dos

seus membros. Quis gritar mas a sua voz estava muda. O homem inclinou-se, tirou-lhe do pé o sapato de brilhantes e calçou-lhe o sapato

de farrapos. Quando ao clarear do dia encontraram Lúcia morta na varanda, ninguém quis

acreditar no que via. Dizia-se: - Não é possível, não pode ser. Parecia inexplicável. Mas veio o médico e constatou que a morte tinha sido causada por uma síncope

cardíaca. Era uma explicação. O facto de ter desaparecido o sapato também era explicável: alguém que a vira

morta ou julgara adormecida não tinha resistido à tentação dos brilhantes. Mas o que era inexplicável era o facto dela ter no pé esquerdo um sapato forrado

de seda azul, um sapato de aspecto miserável, roto e coberto de manchas esbranquiçadas de bolor! Para isso nunca apareceu explicação.

O acontecimento foi discutido com paixão obcecada durante alguns meses. Depois foi esquecido.

FimFimFimFim

Sophia de Mello Breyner Andresen, “História da Gata Borralheira” in Histórias da Terra e do mar.

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GUIÃO DE LEITURAGUIÃO DE LEITURAGUIÃO DE LEITURAGUIÃO DE LEITURA ORIENTADA ORIENTADA ORIENTADA ORIENTADA

Conto de Autor “História da Gata Borralheira”Conto de Autor “História da Gata Borralheira”Conto de Autor “História da Gata Borralheira”Conto de Autor “História da Gata Borralheira” do livro “Histórias da Terra e do Mar” de Sophia de do livro “Histórias da Terra e do Mar” de Sophia de do livro “Histórias da Terra e do Mar” de Sophia de do livro “Histórias da Terra e do Mar” de Sophia de

Mello Breyner AndresenMello Breyner AndresenMello Breyner AndresenMello Breyner Andresen

Parte IParte IParte IParte I 1. No texto de Sophia de Mello Breyner Andresen, que personagens se podem associar à Gata Borralheira e à fada do conto tradicional? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2. Indique o nome dos três objectos que, na sua opinião, são fundamentais para a compreensão do conto em estudo. Justifique. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. Localize a acção do conto no tempo e no espaço. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4. Já no interior, Lúcia foi praticamente ignorada pelas amigas da dona da casa. Indique a passagem do texto que melhor ilustra esta situação. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS FERNANDO PESSOA

ESCOLA EB 2,3 FERNANDO PESSOA

LÍNGUA PORTUGUESA 8ºANO

Nome: ____________________________________ Ano: ______ Turma: ______ Nº ______

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5. Lúcia começa a aperceber-se de que algo a distingue das outras raparigas. O quê? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6. Num dado momento a narração é interrompida. 6.1. Identifique as expressões que marcam o início e o fim da analepse. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6.2. O que ficamos nós a saber sobre a personagem? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6.3. Explique então a função da analepse. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. Lúcia mira-se no grande espelho da entrada. 7.1. O que lhe pareceu a sua imagem? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7.2. O que afirmou a rapariga loira sobre o espelho? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. Lúcia acaba por despertar a atenção de um rapaz. 8.1. Que pressentimento tem sobre o rapaz? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8.2. O que aconteceu a Lúcia enquanto dançavam? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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8.3. A protagonista negou a sua identidade. De que forma? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9. A personagem tomou uma decisão que alterou a sua vida. Qual? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Parte IIParte IIParte IIParte II 1. Resuma o que aconteceu à personagem nos vinte anos seguintes. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 2. Que significado tem o facto de o segundo baile ocorrer no mesmo dia do primeiro e na mesma casa? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Que efeito provocou Lúcia quando entrou na sala? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. Lúcia voltou a mirar-se no espelho atrás da porta como há vinte anos. O que viu ela no espelho? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5. Qual é a simbologia do espelho. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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6. Qual é a prova definitiva da verdadeira identidade de Lúcia? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. Que explicação encontram as pessoas para: 7.1. a morte de Lúcia? ___________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 7.2. o desaparecimento do sapato de Lúcia? _______________________________________ ________________________________________________________________________________ 7.3. o aparecimento do sapato roto? ______________________________________________ ________________________________________________________________________________

Parte IParte IParte IParte I e II e II e II e II 1. Complete o esquema abaixo, retirando do primeiro parágrafo do texto as palavras ou expressões que apontam para a personificação da noite.

2. Atente na descrição do espaço interior e exterior (segundo e terceiro parágrafos). 2.1. Transcreva do texto os vocábulos ou expressões que transmitem sensações: - visuais de cor/luz: ______________________________________________________________ - de movimento: _________________________________________________________________ - auditivas: ______________________________________________________________________ 2.2. Caracterize o tipo de ambiente ligado a essas sensações. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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3. Os momentos de passagem da descrição à narração são perceptíveis nos tempos verbais usados. Ilustrando com exemplos do texto, indique o tempo verbal predominante na: - descrição: _____________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ - narração: ______________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 4. Atente nas formas verbais deste excerto:

4.1. Sublinhe as formas verbais existentes. 4.2. Indique o tempo verbal em que se encontram. ___________________________________ ________________________________________________________________________________ 4.3. Explique o seu emprego. _____________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 5. Atribua um título a cada uma das partes. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6. Compare este conto com o conto tradicional que conheceu, partindo do preenchimento dos esquemas nas páginas seguintes. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

“No caminho passou em frente de um espelho e olhou-se. Mais uma vez verificou quanto o seu vestido era feio.”

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7. Leu o conto com atenção? Bom trabalho a preencher as seguintes palavras cruzadas.