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8 Resultados e Discussão
O sistema de extração foi testado após sua descontaminação (branco) e
nenhum pico foi detectado (seis replicatas). Logo, o limite detecção não pode ser
determinado como sendo a média do branco mais três vezes o valor do desvio-padrão.
Figura. 28 – Cromatograma típico para o branco do sistema de extração.
Portanto, definiu-se o limite de detecção como sendo igual ao limite de
detecção instrumental, ou seja, a menor concentração de cada componente capaz de
produzir sinal no cromatógrafo, determinado através de diluições sucessivas da
solução padrão contendo os 16 ftalatos em estudo. Estes limites de detecção
encontram-se na tabela 17.
Tabela 17- Limites de Detecção Instrumental para os ftalatos em estudo (ng.L-1)
8 – Resultados e Discussão
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Ftalato LD instrumental (n=10)
DEHP.................................................................. 0,5 ± 0,01 ng.L-1
DMP, DEP, DIBP, DBP, DHP, DMPP, DAP,
DMEP, DBEP, BBP, DCHP, DNOP, DNP, DPP,
DPIP………………………………………
1,0 ± 0,02 ng.L-1
DEEP,HEHP……………………………………. 5,0 ± 0,05 ng.L-1
A solução com os 16 padrões de ftalatos foi analisada no espectrômetro de
massas do DQAN do INT de forma a identificar os picos com seus respectivos
tempos de retenção. Utilizou-se a mesma coluna, programação de temperatura para
análise das amostras da Baía e condições do equipamento de Massas da PUC (vide
item 7.3.2).
Figura. 29 – Espectro de massas que identificou os picos do padrão misto de ftalatos.
Ao se realizarem os brancos do sistema descontaminado com os padrões
internos tipo 2 (solução contendo DPP e DPIP), verificou-se que esses padrões
introduziram um pico de DEHP como impureza. A concentração média (n=6) desta
contaminação foi calculada, encontrando-se o valor de 4,38 ± 0,38 ng.L-1, o qual foi
subtraído de todos os resultados deste ftalato encontrado nas amostras de águas
potáveis.
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Para evitar esta contaminação nas amostras do ecossistema da Baía de
Guanabara foram comprados novamente estes padrões internos tipo 2, cada um teor
de pureza maior 99,5%. Estes novos padrões foram testados no branco sistema e não
apresentaram a contaminação anteriormente verificada.
Como o DPIP apresentou a resposta do detector muito inferior à do DPP para
uma mesma concentração, não se adicionou este padrão tipo 2 nas amostras da Baía
de Guanabara (águas, sedimentos e mexilhões), pois o ruído da linha de base era
suficiente para encobrir parcial ou totalmente o pico, o que acarretaria grandes erros
na sua quantificação.
Como não existem amostras de referência para ftalatos (água, sedimento ou
mexilhão/peixe), a validação do método de extração foi feita através de sua
repetibilidade (dez replicatas), para cada tipo de amostra e comparada aos valores
obtidos no método utilizado (EPA 8061A). Assim, adicionou-se à uma amostra de
cada tipo uma quantidade conhecida do padrão DPP e a amostra foi extraída e
analisada de acordo com o procedimento adotado. Os resultados obtidos se encontram
na tabela 18.
Tabela 18- Recuperação obtida com o método de extração por tipo de amostra
Tipo de Valores obtidos no Recuperação (%)
Amostra Método EPA 8061A Média (n=10) Máximo Mínimo
Água 71,2 – 98,9 88,46 ± 1,89 97,59 79,15
Sedimento 62,0 – 84,7 86,56 ± 1,39 94,60 80,36
Mexilhão -- 88,84 ± 2,37 98,21 78,57
8.1 Amostras de Águas Potáveis
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Obteve-se para as amostras uma recuperação de 76,3 - 99,3% para o DPP e
79,7-98,7% para o DPIP. Apesar do método estar apto para determinar 16 diferentes
ftalatos nas amostras, somente o DEHP foi encontrado (além dos padrões internos
benzil benzoato, DPP e DPIP). Sua ocorrência foi confirmada por análise em
espectrometria de massa (GC-MS), segundo condições descritas na seção
experimental (m/z= 149).
Figura. 30 – Cromatograma típico para águas potáveis.
As curvas de calibração encontram-se no Apêndice I. Como as concentrações
esperadas eram baixas, utilizou-se apenas a menor faixa de concentração para
elaborar estas curvas (1, 10, 50, 100 ng.L-1 de ftalatos e 10 ng.L-1 de padrão interno).
Os resultados obtidos nas amostras encontram-se nas tabelas 19 a 21.
Tabela 19- Concentração de DEHP nas amostras de água mineral
Amostras de Água Mineral DEHP (ng.L-1)
Mineral comercial (extraída 15 dias após o envasamento) 1,26 ± 0,23
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Mineral coletada na fonte 1,21 ± 0,25
Não há diferença entre as concentrações de DEHP na água mineral, indicando
que a operação de envase e o material plástico da garrafa não contribuem para a
ocorrência do ftalato.
A presença do DEHP na água da fonte pode ser explicada pela sua grande
utilização e conseqüente extrema disseminação no meio ambiente. No entanto, se
comparada aos valores encontrados na literatura (vide tabela 22), esta concentração
pode ser considerada muito baixa.
Tabela 20- Concentração de DEHP nas amostras de águas potáveis dos bairros
da cidade do Rio de Janeiro
Amostras de Água de Bairros do Rio de Janeiro DEHP (ng.L-1)
Madureira 2,94 ± 0,25
Recreio dos Bandeirantes 3,13 ± 0,31
Barra da Tijuca 3,14 ± 0,29
Méier 3,16 ± 0,30
Ilha do Governador 3,40 ± 0,27
Tijuca 3,65 ± 0,28
Flamengo 6,18 ± 0,32
Laranjeiras 6,19 ± 0,30
Botafogo 6,20 ± 0,29
Gávea 9,63 ± 0,29
Copacabana 9,65 ± 0,31
Leblon 9,66 ± 0,28
Ipanema 9,67 ± 0,27
No Rio de Janeiro, para os bairros localizados na região sul (Leblon, Ipanema,
Gávea e Copacabana) obtiveram-se maiores concentrações e valores praticamente
iguais. Pelo sistema de distribuição de água da CEDAE (figura 14), observa-se que
estas regiões se situam muito próximas e no final da linha de abastecimento.
8 – Resultados e Discussão
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Comparando o esquema da CEDAE com as concentrações do DEHP nos
outros bairros estudados, zona norte (Madureira e Méier), zona oeste (Recreio e Barra
da Tijuca) terminando na zona sul (Botafogo, Laranjeiras, Flamengo, Copacabana,
Leblon, Ipanema e Gávea), verificou-se que quanto mais longe fica o bairro da
ETAG, maior a contaminação. A Ilha do Governador é abastecida por outra linha de
distribuição e seus valores são semelhantes aos da Tijuca.
O aumento da concentração de DEHP com a distância da estação de
tratamento do Guandu é explicado pelo uso de material, à base de DEHP na união das
juntas das tubulações. Segundo o responsável pelo desenvolvimento de compostos da
Tigre (Stollmeier, A. 2002), as tubulações de ferro fundido utilizam uma pasta
lubrificante para auxiliar na vedação entre trechos de tubulação de água e
saneamento.
Tabela 21- Concentração de DEHP nas amostras de águas potáveis dos bairros
da cidade de Niterói
Amostras de Água de Bairros em Niterói DEHP (ng.L-1)
Icaraí 2,98 ± 0,21
Santa Rosa 5,70 ± 0,19
Centro (junto às barcas) 6,05 ± 0,20
São Francisco 6,25 ± 0,22
Jurujuba 6,85 ± 0,19
Em Niterói, obtivemos resultados muito diferentes para bairros próximos
(Icaraí, Santa Rosa e Centro). Ao se considerar o sistema de abastecimento da cidade
(figura 15) constata-se que toda a água que abastece Niterói vem pelo mesmo duto de
ferro fundido que liga a Ilha do Governador a Icaraí, que tem a menor concentração
de DEHP. Daí é distribuída em tubulações de PVC para os bairros de Santa Rosa,
Centro e elevatória de São Francisco. Esta última abastece os bairros de São
Francisco até Jurujuba, também com tubulação de PVC. Observa-se então o aumento
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100
das concentrações dos ftalatos com a distância, que atinge o máximo em Jurujuba,
local mais remoto da rede de distribuição.
Em ambas cidades, os resultados permitem correlação entre a rede de
distribuição e as concentrações encontradas. Na cidade de Niterói, o uso de
tubulações de PVC em parte da rede de abastecimento, aumenta as concentrações de
DEHP entre bairros vizinhos.
Comparando os resultados deste estudo com valores encontrados na literatura
(tabela 22) para concentrações de ftalatos em águas potáveis de outros países ,
observa-se que todas as amostras deste estudo apresentaram valores menores do que
os descritos para cidades da Europa e Estados Unidos, obtidos por métodos
semelhantes.
Tabela 22- Concentração de DEHP em águas potáveis na literatura
Amostra DEHP (ng.L-1) Referência
New Jersey (potável) 50 – 103 Clark, L. B. , 1991
Canadá (mineral) 6 – 10 Page, B. D., 1995
Itália (da chuva) 3,2 – 11,4 Guidotti, M., 2000
Polônia (potável) 60 Betlej, K. L, 2001
Alemanha (potável) 50 Betlej, K.L. 2001
República Checa:
• Potável 2000
• mineral 2900 – 7000
Holadová, K., 1995
Os resultados indicam que o pouco uso de tubulações de PVC nas redes de
distribuição de águas de ambas as cidades contribui para os baixo níveis encontrados
em relação aos dados da literatura.
8.2 Amostras de Águas da Baía de Guanabara
8 – Resultados e Discussão
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Obteve-se para as amostras uma recuperação de 78,8 - 92,7% para o DPP. A
programação de temperatura utilizada está descrita no item 7.3.2-B e as curvas de
calibração se encontram no Apêndice II.
Figura. 31 – Cromatograma típico para águas superficiais.
Nas coletas, foram registrados o pH, salinidade e temperatura. O pH manteve
o valor constante de 8,2 para todas as amostras, em ambas coletas. A salinidade, a
temperatura e as concentrações dos ftalatos são apresentadas na tabela abaixo.
Tabela 23 – Resultados das amostras de águas superficiais
Estação chuvosa (Dez/00) Estação seca (Ago/01)
A1 A2 A3 A4 A5 A6 A1 A2 A3 A4 A5 A6
DEP (ng.L-1) 3,49 <1 6,76 3,46 <1 8,52 13,2 <1 14,2 15,4 <1 16,8
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102
DIBP(ng.L-1) 6,46 1,65 9,09 4,12 1,55 3,92 12,6 16,4 15,6 13,4 17,2 14,2
DBP(ng.L-1) 1,66 3,26 6,86 2,95 7,32 4,84 28,3 32,9 33,1 30,1 37,9 29,2
DEHP(ng.L-1) 1,80 4,06 3,35 2,02 5,91 3,95 12,7 15,8 16,3 13,3 16,5 12,8
Salinidade 28 29 29 23 28 27 35 32 32 32 32 35
Temp. (oC) 20 20,5 19,5 20,9 19,5 20,5 18 18,5 19,5 19,5 18,5 20,5
Pelos resultados obtidos não há correlação entre os parâmetros de temperatura
e salinidade com as concentrações de ftalatos.
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Águas Superficiais: concentração de DEP (ng.L-1)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Stos Dumont Ponte RJ Ilha doGovernador
Fundo da Baía Ponte Nit Boa Viagem
�������� Estação chuvosa Estação seca
Figura. 32 – Águas superficiais: concentração de DEP (ng.L-1).
Nas estações de coleta Ponte RJ e Nit, os valores se encontram < 1ng.L-1.
8 – Resultados e Discussão
103
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��������������������
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Águas superficiais: concentração de DIBP (ng.L-1)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Stos Dumont Ponte RJ Ilha doGovernador
Fundo da Baía Ponte Nit Boa Viagem
����Estação chuvosa Estação seca
Figura. 33 – Águas superficiais: concentração de DIBP (ng.L-1) .
��������������������
��������������������
������������������������������
��������������������
������������������������������
������������������������������
Águas Superficiais: concentração de DBP (ng.L-1)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Stos Dumont Ponte RJ Ilha doGovernador
Fundo da Baía Ponte Nit Boa Viagem
�����Estação chuvosa Estação seca
Figura. 34 – Águas superficiais: concentração de DBP (ng.L-1) .
8 – Resultados e Discussão
104
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����������������������������������������������������������������������
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Águas superficiais: concentração de DEHP (ng.L-1)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Stos Dumont Ponte RJ Ilha doGovernador
Fundo da Baía Ponte Nit Boa Viagem
����Estação chuvosa Estação seca
Figura. 35 – Águas superficiais: concentração de DEHP (ng.L-1) .
Verifica-se que as amostras da estação seca são mais poluídas, evidenciando
influência da distribuição pluviométrica, maior durante o verão, diluindo as
concentrações de poluentes na Baía, conforme observado em estudos anteriores
(Azevedo, L. A 1998; Brito, A. P. X. 1998; Hamacher, C. 1996).
De modo geral, as amostras apresentaram concentrações semelhantes para
todos os ftalatos, não sendo verificada influência direta do ponto de coleta. Isto pode
ser explicado pela dinâmica das correntes na Baía, que contribuiriam para a
distribuição homogênea em todo o local de estudo.
Nota-se, contudo, acentuado decréscimo das contaminações, nos pilares da
ponte Rio-Niterói, durante a estação chuvosa, para o DIBP e DBP. Para o DEHP esta
tendência não foi observada.
O DEP foi encontrado abaixo dos limites de detecção em ambos pilares da
Ponte, em ambas estações. Como nestes pontos de coleta se encontram as maiores
correntes (DHN, 1999) e se encontram afastados das prováveis fontes deste
composto, este fato pode ter tido alguma influência neste resultado.
8 – Resultados e Discussão
105
O DBP apresentou valores pouco superiores ao DEHP nas amostras da
estação seca, o que surpreende pois o DEHP é geralmente indicado como o maior
contaminante em outros ambientes aquáticos. Tal fato provavelmente pode estar
relacionado à utilização eventual de produtos que o contenham.
Tabela 24- Concentração de Ftalatos em águas costeiras (ng.L-1) na literatura
Local estudado DBP DIBP DEHP DEP Referência
Kiel (Alemanha) 9,6– 203,4 2,4 – 47,9 -- 0,3 – 2,2 Erhardt,1980
Irlanda 99-4800 54-1100 190-2200 <1-430 Law,1991
Tarragona (ES)
-porto pesqueiro
-porto industrial
--
-
--
--
2100
3200
1400
1800
Peñalver, A
2001
Itália 300-43300 200-5700 300-31200 100-3200 Vitalli,1997
Liverpool (UK) -- 30,5-1100 125-693 68-243 Preston,1989
Plymouth (UK) -- -- 99-280 --
Baía Tees(USA) -- -- 980-2200 --
Golfo do México -- -- 130 --
Alemanha -- -- 25-35 --
Turner, A.
2000
Todas as amostras de água superficiais da Baía de Guanabara podem ser
consideradas pouco contaminadas em comparação com outros ambientes costeiros da
Europa, aproximando-se aos valores encontrados em Kiel Bight (Erhardt, 1980).
8 – Resultados e Discussão 106
8.3 Amostras de Sedimentos
Obtiveram-se para as amostras recuperações de 75,41 - 98,21 % (DPP). As
condições analíticas estão descritas no item 7.3.2-B, as curvas de calibração e os
resultados na tabela 25.
Tabela 25 – Resultados das Amostras de Sedimentos (ng.g-1)
Amostra (profundidade) % Recuperação DMP DBP DHP DEHP
Ponto S1 (Santos Dumont)
00 – 03 cm 91,07 29,16 23,39 50,76
Ponto S2 (Rio Meriti)
00 – 03 cm 92,86 68,33
03 – 06 cm 78,13 60,49
Ponto S3 (Fundo da Baía)
00 – 03 cm 96,43 8,76 26,24
03 – 06 cm 85,99 5,41
06 – 09 cm 92,13 4,48
09 – 12 cm 81,64 2,90
12 – 15 cm 96,43 <1
Ponto S4 (São Gonçalo)
00 – 03 cm 94,60 37,09 59,37 36,59
Os testemunhos de sedimentos foram coletados em quatro pontos da Baía de
Guanabara, segundo descrito no capítulo 7. Foram analisadas todas as vinte amostras
obtidas dos testemunhos de cada ponto, sendo que cada amostra representa uma faixa
de 3 cm de profundidade, na intenção de verificar a contaminação por ftalatos ao
longo dos anos.
Porém, após a análise de todas as amostras de cada testemunho, verificou-se
que os ftalatos encontravam-se somente nas camadas superficiais. No ponto de coleta
Capítulo VII – Resultados e Discussão
107
S3, o DBP foi detectado em profundidades de até 12 cm. Como a maioria dos estudos
em ambientes costeiros considera a faixa de sedimento superficial de 0-20 cm, pode-
se dizer que todas as contaminações por ftalatos encontradas nas amostras deste
estudo foram em sedimentos superficiais, descartando-se a avaliação dos ftalatos ao
longo dos anos.
Isto provavelmente ocorre porque a concentração dos ftalatos na água está
abaixo de seus pontos de solubilidade, diminuindo portanto a taxa de acumulação nos
sedimentos. Além disto, a rápida biodegradabilidade (2 dias – 3 semanas) dos
compostos detectados, também contribui para as pequenas concentrações observadas.
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�����������������������������������������������������������������
Concentração de Ftalatos nos Sedimentos (ng.g-1)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Stos Dumont (S1) Rio Meriti (S2) Fundo da Baía (S3) São Gonçalo (S4)
�������� DBP DEHP
�������� DHP
Figura.36 - Concentração dos principais Ftalatos (ng.g-1) encontrados nas amostras de
sedimentos superficiais, por ponto de coleta.
No ponto S1 foram detectados três ftalatos (DBP, DHP e DEHP),
predominando o DEHP. Este ponto está localizado na entrada da Baía de Botafogo,
cuja praia é constantemente considerada imprópria para banho devido a alta poluição
por esgotos domésticos, agravados pelos despejos das embarcações fundeadas em
frente ao Iate Clube.
Os maiores valores foram verificados para o DEHP no ponto S2, onde foi o
único ftalato detectado. Seus altos teores podem ser explicados pela proximidade à
Capítulo VII – Resultados e Discussão
108
foz do Rio Meriti, curso d’água receptor dos efluentes da maioria das indústrias
plásticas da região, que utilizam basicamente o DEHP em suas linhas de produção.
O local menos poluído situa-se no fundo da Baía de Guanabara, próximo à
área de preservação ambiental (ponto S3). Lá foram detectados somente dois ftalatos
(DBP e DEHP), predominando o DEHP.
No ponto S4, foram detectados três ftalatos (DMP, DBP e DEHP), estando o
DBP na maior concentração. Este ponto, próximo à praia de São Gonçalo, recebe
poluentes de diversas pequenas indústrias, esgotos domésticos de populações de
baixa renda, instalações de manutenção de barcos e colônias de pesca. É difícil
portanto relacionar esse ftalato com a fonte de poluição.
Tabela 26- Concentração de Ftalatos em sedimentos (ng.g-1) na literatura
Local estudado DMP DBP DHP DEHP Referência
Chesapeake (EUA) -- 16-93 3-5,6 <2,6-180 Peterson, 1982
Rio Klang (UK) 0-10,1 67-637 -- 493-15015 Tan, 1995
Rios da Itália -- 3,0–28,3 -- 3,2-487,3 Vitali, 1997
Rio Mersey (UK) 92-214 92-289 -- 487-2774 Preston, 1989
Pelos dados apresentados acima, todas as amostras de sedimentos superficiais
da Baía de Guanabara deste estudo podem ser consideradas pouco contaminadas,
quando comparadas a outros ambientes costeiros da Europa e Estados Unidos.
8 – Resultados e Discussão
109
8.4 Amostras dos Mexilhões: 1997 - 2000 Obteve-se para estas amostras recuperações de 76,58 - 97,59% (DPP). A
programação de temperatura utilizada está descrita no item 7.3.2-B, as curvas de
calibração e a tabela dos resultados se encontram no Apêndice II e III
respectivamente.
Nas 30 amostras coletadas durante 4 anos, em 4 pontos de coleta, nas estações
seca e chuvosa, foram detectados cinco ftalatos no total: DMP, DEP, DHP, BBP e
DEHP. Destes, apenas três ( DHP, BBP e DEHP) ocorreram em todos os anos,
motivo pelo qual foram escolhidos para ser os principais alvos desta discussão.
As faixas de concentração encontradas nos mexilhões são 10-100 vezes
maiores que as encontradas nas águas, verificando-se a mesma tendência de maiores
concentrações na estação seca em relação à estação chuvosa, confirmando estudos
anteriores com outros poluentes orgânicos na Baía de Guanabara (Azevedo, 1998;
Brito, 1998; Lima, 2001) e evidenciando a característica concentradora e filtrante dos
organismos.
Em todos os anos, percebe-se claramente maiores concentrações nos dois
pontos situados nos pilares da Ponte Rio-Niterói, seguidos pelo Santos Dumont e
como estação menos poluída a Praia de Boa Viagem. Os altos teores presentes nos
espécimes coletados nos pilares da ponte são explicados devido à alta circulação das
águas da Baía nos períodos de marés, expondo os organismos filtrantes às
concentrações dos poluentes.
Os ftalatos encontrados nos mexilhões, em sua maioria, haviam sido
detectados nas amostras de águas e sedimentos superficiais. As exceções foram:
• DBP encontrado nas águas e sedimentos, não aparece nos organismos pois é
excretado muito rapidamente (vide tabela 13).
• DIBP foi detectado apenas nas amostras de águas, o que pode indicar que este
é seu compartimento ambiental preferencial nas concentrações avaliadas.
8 – Resultados e Discussão
110
• BBP só foi encontrado nas amostras de mexilhões, provavelmente por maior
afinidade com os organismos. Este composto tende a se bioacumular muito
mais que o DEHP (vide tabela 9). As figuras 37 a 44 expõem cronologicamente as concentrações dos ftalatos nos
mexilhões durante as estações seca e chuvosa.
Ftalatos nos mexilhões (1997 - Estação seca)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit Boa Viagem
ng.g
-1
DMP DEP DHP BBP DEHP
Figura.37 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação seca de 1997.
O ano de 1997 foi o único em que se detectou a presença de DMP e DEP, na
estação chuvosa, quando os poluentes estão mais diluídos. São compostos muito
usados em repelentes dérmicos, cujo uso aumenta no verão (estação chuvosa) com a
proliferação de insetos, proporcionando maior possibilidade de contaminações nos
efluentes hídricos. Além disso, nesse ano houve uma epidemia de dengue no Rio de
Janeiro e seus arredores, incrementando o uso de repelentes.
8 – Resultados e Discussão
111
Ftalatos nos mexilhões (1997 - Estação chuvosa)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit Boa Viagem
ng.g
-1DMP DEP DHP BBP DEHP
Figura.38 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação chuvosa de 1997.
Ftalatos nos mexilhões (1998- Estação seca)
0300600900
1200
1500180021002400270030003300
Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit Boa Viagem
ng.g
-1
DHP BBP DEHP
Figura.39 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação seca de 1998.
8 – Resultados e Discussão
112
Ftalatos nos mexilhões (1998 - Estação chuvosa)
0300600900
12001500180021002400270030003300
Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit Boa Viagem
ng.g
-1
DHP BBP DEHP
Figura.40 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação chuvosa de 1998.
Em 1998, apenas DHP, BBP e DEHP foram detectados, em todos os pontos
de coleta, em ambas as estações. Os três ftalatos encontrados têm aplicações em
produtos plásticos. Neste ano se verificou a maior concentração de DEHP em todos
os anos, na estação seca, provavelmente pelo aumento da produção de plásticos
previsto para este ano (Abiplast, 1997).
No ano de 1999, em ambas coletas, não foi encontrado nenhum organismo no
ponto M2 (Ponte RJ), provavelmente colhidos anteriormente pelos pescadores da
região. No outro pilar da ponte foram coletados mexilhões cujas contaminações
foram semelhantes às dos outros períodos.
8 – Resultados e Discussão
113
�����������
Ftalatos nos mexilhões (1999-Estação seca)
0
150
300
450
600
750
900
1050
1200
1350
1500
Stos Dumont Ponte Nit Boa Viagem
ng.g
-1DHP BBP DEHP
Figura.41 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação seca de 1999.
�������������������
Ftalatos nos mexilhões (1999-Estação chuvosa)
0
150
300
450
600
750
900
1050
1200
1350
1500
Stos Dumont Ponte Nit Boa Viagem
ng.g
-1
DHP BBP DEHP
Figura.42 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação chuvosa de 1999.
8 – Resultados e Discussão
114
����������������
Ftalatos nos mexilhões (2000-Estação seca)
0
300
600
900
1200
Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit Boa Viagem
ng.g
-1
DHP BBP DEHP
Figura.43 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação seca de 2000.
����������������
Ftalatos nos mexilhões (2000-Estação chuvosa)
0
200
400
600
800
1000
1200
Stos Dumont Ponte RJ Ponte Nit Boa Viagem
ng.g
-1
DHP BBP DEHP
Figura.44 – Concentração de Ftalatos nos mexilhões (ng.g-1) na estação chuvosa de 2000.
8 – Resultados e Discussão
115
No ano de 2000 os níveis de ftalatos tiveram queda acentuada, ainda
predominando o DEHP. Neste ano as indústrias enfrentaram problemas econômicos,
que se refletiram na manufatura de plásticos do Rio de Janeiro, acarretando redução
de produção de algumas das principais empresas do Estado.
Como as faixas de concentração encontradas para o DEHP foram muito
maiores que dos outros ftalatos, a visualização dos outros compostos fica prejudicada.
Consequentemente são apresentados distribuições ao longo dos anos por ponto de
coleta e tipo de composto, nas figuras 45 a 47.
DHP nos mexilhões ao longo dos anos (ng.g-1)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1997 1998 1999 2000
M1 seca M1 chuvosa M2 seca M2 chuvosaM3 seca M3 chuvosa M4 seca M4 chuvosa
Figura.45 – Concentração de DHP nos mexilhões (ng.g-1) nos pontos de coleta, ao longo
dos anos.
O DHP não apresentou nenhum padrão com relação ao ponto ou estação de
coleta.
Nota-se tendência de menores concentrações na estação chuvosa e aumento da
contaminação ao longo dos anos, que pode ser correlacionada com a produção do
setor de plásticos (Fornari, 2002).
8 – Resultados e Discussão
116
BBP nos mexilhões ao longo dos anos (ng.g-1)
0
20
40
60
80
100
120
140
1997 1998 1999 2000
M1 seca M1 chuvosaM2 seca M2 chuvosaM3 seca M3 chuvosaM4 seca M4 chuvosa
Figura.46 – Concentração de BBP nos mexilhões (ng.g-1) nos pontos de coleta, ao longo dos
anos.
Para o BBP, tivemos uma tendência de presença do composto na estação seca
e ausência total ou diminuição da concentração na estação chuvosa. A exceção
ocorreu para o ano de 1997, onde não se detectou BBP durante a estação seca, em
nenhum dos pontos de coleta.
Quanto aos pontos de coleta, o BBP teve maiores concentrações nos
mexilhões do pilar da ponte mais próximo a Niterói (M3), próximo ao canal de
circulação da Baía. O ano de maior ocorrência desse ftalato foi o de 1998.
Como esperado pela sua maior utilização industrial, as maiores concentrações
encontradas nos mexilhões da Baía de Guanabara, em todos os pontos de coleta,
foram do DEHP. Percebe-se as seguintes tendências:
• decréscimo de utilização com o passar dos anos, após 1998, o que é
correlacionado com dados produtivos do setor de plásticos (Reto, 2002);
• menores concentrações na estação chuvosa quando comparada com a seca; e
• concentrações decrescentes por ponto de coleta: Ponte RJ > Ponte Niterói >
Santos Dumont > Boa Viagem, ou seja, da zona mais poluída para a menos.
8 – Resultados e Discussão
117
DEHP nos mexilhões ao longo dos anos (ng.g-1)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
1997 1998 1999 2000
M1 seca M1 chuvosaM2 seca M2 chuvosaM3 seca M3 chuvosaM4 seca M4 chuvosa
Figura.47– Concentração de DEHP nos mexilhões (ng.g-1) nos pontos de coleta, ao longo
dos anos
Não há dados sobre faixas de concentração de ftalatos em espécies de
mexilhões na literatura, apenas sobre moluscos é citado algo sobre fator de
bioacumulação (Staples, 1997). Portanto, os resultados obtidos são inéditos.
Este fator (BCF = razão entre concentração do organismo e a da água) médio
de DEHP em moluscos é de 1469± 949. Neste estudo, para dez/2000, única coleta em
que foram avaliadas amostras de água e mexilhões nos mesmos pontos de coleta, foi
encontrado um BCF variando de 570 a 3,51, muito inferiores à média de Staples. Os
baixos valores refletem os baixos teores presentes nas águas, comparados aos valores
encontrados internacionalmente. No ponto de coleta mais contaminado (Ponte RJ) , o
BCF cai dentro da faixa média encontrada na literatura.
8 – Resultados e Discussão
118
8.5 Amostras do Biomonitoramento: Obteve-se para as amostras uma recuperação de 75,57 - 99,54% (DPP). A
programação de temperatura utilizada está descrita no item 7.3.2-B, as curvas de
calibração e tabela dos resultados se encontram no Apêndice II e tabela 27
respectivamente.
Tabela 27– Concentração do DEHP (ng.g-1) nos Mexilhões do Biomonitoramento
Data Organismos coletados % Recuperação DEHP (ng.g-1)
Estação contaminada (Ilha d’Água)
Out. /99 na Ponte (inicial, t=0) 81,59 4185 ± 1,2
Nov. /99 em Itaipu em outubro 75,57 380 ± 0,89
Jan. /00 em Itaipu em outubro 78,56 1292,6 ± 1,5
Estação de controle (Itaipu)
Out. /99 em Itaipu (inicial, t=0) 83,19 205,5 ± 0,91
Nov. /99 na Ponte em outubro 76,58 886,3 ± 1,3
Jan. /00 na Ponte em outubro 99,54 644,7± 0,85
Os parâmetros fisico-químicos (pH, temperatura, salinidade e carbono
orgânico dissolvido - COD) e biológicos (vermelho neutro e índice de condição) se
encontram detalhados em Lima (2001).
Durante os três meses de duração do experimento, praticamente todos os
organismos transplantados sobreviveram em ambas estações de monitoramento.
O biomonitoramento pode ser avaliado somente pelas ocorrência do DEHP,
único ftalato detectado em todos as amostras.
Variação da concentração de DEHP durante monitoramento
350040004500
Itaipu Ilha d'AguaOrgs. da Ilha d’água
8 – Resultados e Discussão
119
Figura.48 – Variação da Concentração de DEHP durante monitoramento ativo
Out/99 (data inicial do experimento): Itaipu representa os resultados dos mexilhões
coletados no pilar da ponte e Ilha d’Água os mexilhões coletados em Itaipu.
Verifica-se uma tendência de maiores valores na Ilha d’Água (B1) em relação
à Itaipu (B2).
Em um mês de transferência (novembro/99), a concentração do DEHP nos
animais transferidos para a B1 aumentou abruptamente, mantendo esta tendência até
o fim do monitoramento ativo, demonstrando uma situação de estresse para os
organismos e acumulação de contaminantes. A situação inversa é verificada para o
mexilhões transferidos para B2, que rapidamente se recuperaram, depurando o DEHP
acumulados.
Esta mesma tendência de depuração na área de controle e acumulação na área
contaminada foi verificada por Lima (2001) com os HPAs.
Não foi verificado trabalho de biomonitoramento ativo semelhante na
literatura, para comparar as faixas de acumulação e depuração de DEHP em
mexilhões. Portanto este trabalho é inédito e serve como referência para os próximos
estudos deste tipo.