80 Anos de Poesia - Mario Quintana

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CURSO DESAFIO80 ANOS DE POESIA

Mário Quintana

Dados biográficos

Apesar de cantar sempre Porto Alegre, suas ruas, paisagens e, sobretudo o pôr-de-sol sobre o Guaíba, Mário Quintana é natural de Alegrete, cidade fronteiriça com a Argentina, onde nasceu a 30 de julho de 1906. Ali passou também sua infância - muito feliz, segundo ele - no aconchego de uma família de classe média. Dessa infância simples, convivida com gente também simples, traz o carinho pelos humildes e pela infância - o lado sempre menino presente no homem.

As noites de sua infância eram adornadas pelos saraus em família: conversas animadas com tios, tias, primos e o som do piano. Freqüentou a escola primária (Ensino Elementar) da sua cidade, guardando boas recordações especialmente do professor de Português, que o influenciou muito.

Mudou-se em 1919 para Porto Alegre, cidade que adotaria como sua, apesar de não desprezar a terra natal. Diplomou-se no Colégio Militar, retornou a Alegrete para ajudar o pai, mas, com a morte deste, regressou a Porto Alegre, ingressando em atividades jornalísticas e literárias - composições próprias e muitas traduções de clássicos europeus de qualidade. Jamais se preocupou em acumular bens, buscando viver a vida intensamente. Não se casou, mas se sabe que teve algumas paixões rumorosas. No final da vida, despejado de um quarto de hotel, recebeu do craque futebolístico e industrial Falcão um quarto em um de seus hotéis, onde ficou até a morte, ocorrida em 1993.

Nunca foi um poeta "badalado", tendo colaborado para que ficasse mais conhecido no final de sua vida, a amizade com a atriz e também poetisa, Bruna Lombardi. Hoje, algumas universidades e faculdades prestam uma homenagem póstuma - esperamos que sincera - àquele que teve o sonho de pertencer à Academia Brasileira de Letras frustrado.

O contexto histórico-literário

Mário Quintana, com sua vida longa, sempre atrelada à produção literária, atravessou as várias fases do Modernismo brasileiro. Viveu momentos conturbados da

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CURSO DESAFIOdécada de 20, com a Semana da Arte Moderna de São Paulo; a Revolução Tenentista, a Intentona Comunista, as duas vezes em que Getúlio assumiu o poder, as duas guerras mundiais, o Golpe Militar de 64. Sua participação efetiva somente se deu em 1930, quando acompanha Getúlio Vargas até o Rio de Janeiro, como voluntário. Lá conviveu com os poetas e intelectuais, mas voltou para Porto Alegre após seis meses.

Durante esse período, houve os excessos do 1o. Tempo do Modernismo; o questionamento social do 2o. Tempo, com uma linguagem mais "domesticada"; houve o refinamento Estetizante do 3o. Tempo; houve os extravasamentos concretistas, que o poeta execrou, entre tantas outras manifestações. Mário Quintana, passou ao longe de todos eles, sem jamais se apegar a nenhum. Poder-se-ia dizer que serviu a todas as formas sem ter sido escravo de nenhuma delas. Era da sua índole, ficar de longe ("na moita") observando e compondo. Ele mesmo dizia de si: "Eu fui um menino por trás de uma vidraça"...A única coisa que ele jamais dispensou em poesia foi o ritmo: "Fora do ritmo só há danação."

As características literárias do poeta

Eis uma síntese das características gerais do poeta, que podem ser encontradas na sua obra como um todo. Sendo o livro 80 ANOS DE POESIA uma antologia, que compreende vários livros do autor, é fácil encontrar tais características presentes nos poemas (em verso ou prosa) da antologia.

ESTILO

* Preferência pelas formas poéticas breves : epigramas (poesia curta e satírica); haicais (poesia breve de origem oriental, com dezessete sílabas -5,7,5 -, três versos, de fundo filosófico); sonetos.* Poética heterogênea - experimenta as mais variadas formas, sem se prender a nenhuma em especial.* Aversão aos excessos vanguardistas (em especial ao Concretismo)* Poesia de tom humorístico - humor sutil, suave.* Utilização de linguagem coloquial - apoio na oralidade da fala, tanto no vocabulário quanto na sintaxe.* Postura anticonvencional, sem ser debochado. Procura ver e fazer "algo diferente", sem ser pedante.* Valorização do ritmo, embora nem sempre convencional.

TEMAS

* Temas mais filosóficos do que sociais: o poeta prefere basear-se nas experiências vividas.* Tom acentuadamente confessional: poeta autobiográfico e intimista.* Nostalgia da infância: persiste o lado inocente, menino, no adulto, que reage diante do progresso desenfreado.* Alusões constantes à morte, vista como algo irreversível, mas não ruim.

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CURSO DESAFIO* Constantes referências a anjos, diferentes, no entanto, mais para rebeldes, para meninos travessos do que santinhos.* Misticismo: presença de Deus, do além; não há, porém, visão religiosa e sim uma credulidade particular do poeta.* Predomínio do individual sobre o social, porém manifesta preocupações sociais, denunciando a opressão e as diferenças.* Metapoesia: tematiza a função da poesia, sua superioridade sobre os outros gêneros e até como o refúgio do poeta.* Bairrismo: como bom gaúcho, é bairrista e fala muito da cor local, os céus, os becos de Porto Alegre etc.* Posição contra os males do progresso desenfreado e a passividade do homem diante da destruição do mundo.

Análise do livro 80 ANOS DE POESIA

O livro pretende ser uma homenagem da Editora Globo (inicialmente uma editora gaúcha independente, que por muitos anos publicou autores do Sul e, recentemente, comprada pela Rede Globo de Televisão, para poder usar o nome) ao poeta que esteve a ela ligado desde o seu início. Segue ordem cronológica, buscando de cada livro do poeta extrair textos mais típicos e exemplificativos.

O livro divide-se em nove partes, sendo assim composto:

1o. A RUA DOS CATAVENTOS (1938)

Quanto à forma, compõe-se de sonetos com rima e métrica, além de um acentuado lirismo, sendo, portanto, mais próximo do clássico. Os temas são o amor pessoal, os ambientes da cidade (P.A.), a metapoesia, a presença do anjo, de crianças e pessoas humildes. * Vale lembrar que o catavento (brinquedo) é um símbolo marcante na infância do menino gaúcho.

2o. CANÇÕES (1946)

O poeta vale-se de formas mais variadas de poemas, alguns com versos livres ou brancos; o tom é mais coloquial. Quanto aos temas, voltam os recorrentes: o anjo, os ambientes familiares, as brincadeiras de infância, a ternura pelas pessoas humildes ("Pequena Crônica Policial"), tudo marcado pelo lirismo confessional.

3o. SAPATO FLORIDO (1948)

Abre o livro com um questionamento metapoético: prosa ou verso? Mistura poemas em prosa (pequenos textos em prosa, com linguagem poética) e poemas em versos, porém muito breves: epigramas e haicais. Acentua-se a percepção filosófica do poeta.

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CURSO DESAFIO4o. ESPELHO MÁGICO (1945)

Dedica o livro a Monteiro Lobato. Selecionaram-se apenas quadrinhas nas quais predominam a metapoesia e a filosofia, como é exemplo Da Discrição (pág. 79), tipicamente quintaniano.

5o. O APRENDIZ DE FEITICEIRO (1950)

Livro dedicado ao poeta gaúcho Augusto Meyer. Quanto à forma, os poemas são mais longos e os versos livres, com um ritmo bastante pessoal. Há alguma aproximação com o Simbolismo, a metapoesia ("O Poema), o anjo, a presença do mar e até certa sensualidade ("Os Caminhos", pág. 90).

6o. O CADERNO H ( 1945-1973)

Trata-se de textos coletados de uma seção do poeta em jornal de Porto Alegre. Predominam os textos em prosa, uns mais longos, outros curtíssimos. É marcante a metapoesia (95, 102, 110, 112) como tema, além do saudosismo. A liberdade formal é total e a linguagem bastante coloquial. ("Me lembro...)

7o. APONTAMENTOS DE HISTÓRIA SOBRENATURAL (1976)

Predominam os versos, embora livres na maioria, além de epigramas e alguns sonetos. O título já sugere maior preocupação existencial, mais filosófico. Há referências ao ciclo da vida, à esperança (Depois do Fim, pág. 129). Chama a atenção o grilo, como tema recorrente (pág. 135). Pode-se observar também a ironia no poema "Poema da Gare de Astapovo", pág. 139.

8o. NOVA ANTOLOGIA POÉTICA (1981-1985)

Reúnem-se nessa antologia poemas em versos livres e clássicos, destacando-se a criação de imagens surrealistas: as fantasias do menino na observação do adulto, as quadrinhas filosóficas e o lado barroco do autor (pág. 154 - Bilhete), com o "carpe diem", além de vários epigramas, tendo a ironia como marca.

9o. BAÚ DE ESPANTOS ( 1986)

Poemas variados, com temas e estilo repetidos. Chama a atenção o poema Três poemas que me roubaram, em que se destaca uma visão pós-modernista, com a intertextualidade e o humor. Alude à atemporalidade da poesia bem como dos sentimentos.

É importante lembrar que, apesar das datas de publicação dos livros, muitos poemas foram produzidos em outras épocas e apenas publicados em tal ou qual livro do autor.

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CURSO DESAFIO

Exercícios resolvidos

1. XXXV

Quando eu morrer e no frescor de lua Eu levarei comigo as madrugadas,

Da casa nova me quedar a sós, Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando,

Deixai-me em paz na minha quieta rua... Mais o rir das primeiras namoradas...

Nada mais quero com nenhum de vós!

Quero é ficar com alguns poemas tortos E um dia a morte há de fitar com espanto

Que andei tentando endireitar em vão... Os fios de vida que eu urdi, cantando,

Que lindo a eternidade, amigos mortos, Na orla negra do seu negro manto...

Para as torturas lentas da Expressão... (Rua dos Cataventos)

Ao ler os poemas, procure sempre avaliar as características formais: forma fixa ou versos livres, figuras de estilo etc. e o conteúdo, associando-o com temas recorrentes, típicos do autor.

Quanto à forma, percebe-se que o poeta preferiu uma forma fixa - o soneto - com versos decassílabos (10 sílabas métricas) e até uma linguagem menos coloquial: "Deixai-me em paz...".Faz um pequeno jogo de palavras, de efeito poético: "Na orla negra do seu negro manto". Quanto ao conteúdo, vários temas peculiares a Mário Quintana surgem do texto. Destacam-se: a metapoesia (Quero ficar com alguns poemas tortos/Que andei tentando endireitar em vão); a visão ou concepção da morte como algo bom e não o fim (Que lindo a eternidade, amigos mortos); a cor local, a valorização dos ambientes em que viveu (3a. estrofe)

2. HAI-KAI DA COZINHEIRA

A cozinheira preta pretaPreta e gordaCom seu fresco sorriso de lua...

Como o poeta já anuncia no título, escolheu uma forma fixa, o haicai. É preciso, porém, observar que o poeta não se submete rigidamente a nenhuma forma fixa, usando-as liberalmente, com critérios próprios. No haicai tradicional, o poema breve possui dezessete sílabas, divididas em três versos de 5, 7, 5 respectivamente. Aqui, o poeta usou 8 sílabas no

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CURSO DESAFIOprimeiro, 4 no segundo e 9 sílabas no último, perfazendo um total de 21 sílabas. Preocupa-se mais em retratar uma imagem, por isso a metáfora: sorriso de lua.

Quanto ao conteúdo, denota o sem conhecido bem-querer pelas pessoas humildes, tema constante dos poemas de M. Quintana.

Exercícios propostos

Leia os textos a seguir e faça uma breve análise dos mesmos, quanto ao conteúdo e os recursos formais empregados pelo autor.

a) O POEMA

Um poema como um gole d'água bebido no escuro___________________________________

Como um pobre animal palpitando ferido___________________________________

Como pequenina moeda de prata perdida para sempre____________________________

[ na floresta noturna.___________________________________

Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa___________________________________

[ condição de poema.___________________________________

Triste.___________________________________

Solitário.___________________________________

Único.____________________________________

Ferido de mortal beleza.____________________________________

b) A CONSTRUÇÃO

Eles ergueram a Torre de Babel____________________________________

Para escalar o Céu,____________________________________

Mas Deus não estava lá!____________________________________

Estava ali mesmo, entre eles,____________________________________

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CURSO DESAFIOAjudando a construir a torre.

____________________________________

c) TRÊS POEMAS QUE ME ROUBARAM

Lá pelas tantas menos um quarto eu suspirei num poema____________________________________

"Vontade de escrever Sagesse de Verlaine..."_____________________________

Mas o que eu tenho vontade mesmo_____________________________

é de haver escrito A Pedra no Meio do Caminho____________________________________

a Balada & Canha, a Estrela da Manhã,____________________________________

se____________________________________

- ó Musa infiel,____________________________________

não te houvessem possuído antes____________________________________

Carlos, Augusto e Manuel...____________________________________

Testes

1. Sobre o poeta Mário Quintana e sua produção poética, apenas está correta a afirmação:

a) Demonstra nítida preferência pela poesia social, participativa, engajada.b) Materialista, jamais faz referências a Deus, ou insinuações sobre vida pós-morte.c) Emprega predominantemente formas fixas e aprecia poemas longos.d) Segue uma linha poética bastante heterogênea, com preferência pelos versos livres.e) Criou uma poesia hermética, de difícil compreensão para o leitor comum.

2.(UF STA. MARIA-92) O Deus Vivo

Deus não está no céu. Deus está no fundo do poçoonde o deixaram tombar.

- Caim, o que fizeste do teu Deus?

Suas unhas ensangüentadas arranham em vão as paredes escorregadias.Deus está no inferno...

É preciso que lhe emprestemos todas as nossas forçastodo nosso alento

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CURSO DESAFIOpara trazê-lo ao menos à face da terra.

E sentá-lo depois à nossa mesae dar-lhe do nosso pão e do nosso vinho.

E não deixar que de novo se perca.Que de novo se perca... nem que seja no céu!

O poema revela

I - o ateísmo do poeta, perceptível na afirmativa expressa no verso "Deus está no inferno".II- a tentativa de recuperar a idéia de Deus, como algo presente nos pequenos atos e fatos da vida, tal como expresso nos versos: "E sentá-lo depois à nossa mesa,/ e dar-lhe do nosso pão e do nosso vinho".III- a perda de Deus devido ao descuido do ser humano com relação às coisas sagradas, conforme expresso nos versos: "... Deus está no fundo do poço/ onde o deixaram tombar".

Assinale a alternativa correta:

a) As proposições I, II, III estão corretas.b) Apenas as proposições I e II estão corretas.c) Apenas as proposições II e III estão corretas.d) Apenas a proposição I está correta.e) Apenas a proposição II está correta.

3. Sobre o poema está correta apenas a afirmação:

a) O poeta revela a concepção tradicional de Deus, um ser superior, distante e sagrado.b) O pronome possessivo "suas" remete-nos à figura bíblica de Caim, com as "unhas ensangüentadas" pela morte de seu irmão, Abel.c) A concepção que o poeta tem de Deus é infantil, pois Deus não precisa do homem e sim o homem dele.d) O poema denota uma característica típica de Quintana, que é filosofar sobre uma outra faceta possível de interpretação, que não é a comumentemente mais aceita; dá uma nova interpretação para uma visão estabelecida como verdade.e) É absurdo imaginar-se que Deus se perca no céu, pois é seu "território", o que demonstra a pouca formação religiosa do poeta e a confusão que faz ao falar de coisas sagradas.

4. (UFPR-92) O POEMA

Um poema como um gole d'água bebido no escuro.Como um pobre animal palpitando ferido.Como pequenina moeda de prata perdida para sempre na floresta noturna.Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição de poema.Triste.Solitário.

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CURSO DESAFIOÚnico.Ferido de mortal beleza.

A respeito do poema acima, considerado à luz da leitura da Nova Antologia Poética de Mário Quintana, é correto afirmar que:

01- Quanto ao tema, este poema é absolutamente singular na coletânea. Nenhum outro tematiza o próprio poema ou mesmo a construção poética.02- A estrutura do poema repousa numa construção em dois movimentos distintos. Primeiro movimento: três versos longos, apoiados na comparação, fechando-se num quarto verso que se utiliza da repetição para reforçar a temática. Segundo movimento: três versos extremamente breves, para concluir com um verso que atinge sua dimensão significativa quando associado ao último do primeiro movimento.04- O último verso do poema ganha nova força expressiva se considerarmos que em outros poemas da coletânea a idéia de morte está associada à de libertação. Desta perspectiva, a carga semântica do adjetivo "mortal" desvia-se da noção de fim para a de plenitude.08- Para expressar a condição de singularidade de cada poema, o poeta recorre a uma estrutura formal regular - versos de redondilha maior -, ao mesmo tempo que se vale de uma adjetivação rebuscada, usando comparações só acessíveis a iniciados no fazer poético.16- A alteração do artigo definido do título para indefinido no corpo do poema não é casual. Ele atesta a condição de ser único de cada poema.

5. Sobre o poeta Mário Quintana e sua produção poética, é correto afirmar-se:

01- Domina sua poesia obsessiva preocupação formal, embora varie conforme o estilo dominante nas diversas fases por que passou o Modernismo brasileiro.02- Em seus poemas é comum o uso da sátira, atacando os desafetos com profundo sarcasmo.04- Mário Quintana reflete em seus poemas uma postura de observador da realidade, analisando-a sob um prisma filosófico, perpassados seus poemas de uma fina ironia, que vai muito bem com uma de suas formas preferidas, o epigrama.08- Apesar de ser um poeta gaúcho, povo conhecido poe seu bairrismo, a cor local, tal como a descriçào de ambientes, não é facilmente visível na obra poética de Mário Quintana.16- Segundo se pode comprovar pela leitura de 80 Anos de Poesia, o poeta somente emprega versos livres, com poemas em prosa, atestando não ser favorável à poética tradicional.32- Entre os temas recorrentes do poeta está a própria poesia e a função do poeta, constantemente abordadas em poemas.

6. A leitura da antologia 80 ANOS DE POESIA, de Mário Quintana, permite-nos afirmar que:

01- o poeta não vê limites rígidos entre poesia e prosa.02- cultiva grande diversidade de formas poéticas, com preferência, no entanto, pelos poemas curtos.

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CURSO DESAFIO04- o poeta passa por fases de profundo misticismo, por isso fala em anjos e em Deus, tomando seus poemas conotação de proselitismo religioso.08- prefere, para expressar-se, empregar uma linguagem mais coloquial.16- é um grande admirador do progresso, que defende, aliás característica afim aos ideais modernistas.32- o poeta em nenhum momento empresta a seus poemas conotações sensuais ou maliciosas.64- temas recorrentes como o anjo merecem uma visão muito particular do poeta, sendo que este é-nos mostrado mais como rebelde do que como o tradicional "bonzinho".

7. Assinale apenas as afirmações verdadeiras sobre Mário Quintana e sua produção poética presente em 80 ANOS DE POESIA.

01- Essa antologia reúne poemas de 9 livros do autor, tendo sido organizada por ele.02- O livro conhecido como "Caderno H" reúne produções em prosa publicadas pelo poeta em jornal de Porto Alegre.04- O poeta assume uma postura anticonvencional diante da vida, donde seu humor fino, porém sem ser debochado.08- Mário Quintana freqüentemente incursiona pelo social, esquecendo-se de si e dos seus sentimentos, para pôr sua verve poética a serviço da defesa dos oprimidos ou menos favorecidos da sorte.16- Apesar de possíveis referências ao social, predomina no poeta o lado individual, o lirismo confessional.32- A morte surge nos poemas como um tema recorrente, não vista, porém, como um castigo, algo de ruim e sim o fim irreversível da vida na Terra, o que não significa o término da existência do ser.64- Entusiasta por novidades, Quintana nutriu especial admiração pelo vanguardismo, em especial pela poesia concretista.

8. Leia o poema a seguir e assinale apenas as afirmações verdadeiras sobre o mesmo.

DATA E DEDICATÓRIA

Teus poemas, não os dates nunca... Um poemaNão pertence ao Tempo... Em seu país estranho,Se existe hora, é sempre a hora extremaQuando o Anjo Azrael nos estende ao sedentoLábio o cálice inextinguível...Um poema é sempre, Poeta:O que tu fazes hoje é o mesmo poemaQue fizeste em menino,É o mesmo que, Depois que tu te fores, Alguém lerá baixinho e comovidamente, A vivê-lo de novo...A esse alguém,

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CURSO DESAFIOQue talvez nem tenha ainda nascido,Dedica, pois, teus poemas.Não os dates, porém:As almas não entendem disso...

01- O poema reúne vários temas de Quintana, tais como: a metapoesia, o anjo, certo misticismo, ou crença na eternidade.02- No verso "Um poema é sempre", o verbo ser adquire o sentido que lhe é mais primitivo, como sinônimo de existir, ter vida.04- Segundo se deduz do texto, a poesia, a concepção e a criação poética evolui com a maturidade.08- Os poemas são eternos e o poeta mero veículo de sua concretização.16- Um tema comum em Mário Quintana é a relação menino-homem: o homem já existe no menino e o menino persiste no homem, que possui o seu lado menino.32- O uso de iniciais maiúsculas empresta um ar de respeito e misticismo aos substantivos comuns a que foram aplicados.64- Nesse poema, o autor, como lhe é peculiar, empregou linguagem notadamente coloquial, permitindo-se alguns lapsos gramaticais, especialmente no uso de verbos e pronomes.

BIBLIOGRAFIA01. QUINTANA, Mário. 80 Anos de Poesia. São Paulo: Globo, 1994.02. ZILBERMAN, Regina. Mário Quintana. São Paulo: Abril Educação, 1982.03. TÁVORA, Araken. Encontro Marcado com Mário Quintana.Rio de Janeiro:

Imprinta, 1986.04. Quintana dos 8 a0s 80. Porto Alegre, SAMRIG S. A., Moinhos Rio-grandenses,

1985.

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