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85 AP˚NDICE A - MATERIAL DID`TICO IMPRESSO (APOSTILA) INTRODU˙ˆO Como falar da terapia medicinal utilizando as plantas sem de fato conhecŒ-las? Diferenciar o veneno do remØdio estÆ relacionado aos critØrios de utilizaªo das plantas medicinais. A identificaªo correta (cientfica) do vegetal Ø um dos critØrios mais importantes para o uso eficaz. Justifica-se a a elaboraªo de um curso direcionado Botnica das espØcies medicinais. Considerando os processos de mudana na Ærea de educaªo para profissionais da saœde e a demanda por novas formas de trabalhar com o conhecimento, busca-se com este curso uma inovaªo com o estudo dos vegetais na Fitoterapia. No Brasil a adoªo da Poltica Nacional de PrÆticas Integrativas e complementares no Sistema nico de Saœde (SUS), abriu um novo acesso ao conhecimento das plantas medicinais brasileiras e ao emprego correto para recuperaªo e manutenªo da saœde. Foi um avano no processo de fusªo do saber do povo com o saber do tØcnico conhecido pela sigla PPPM (Programa de Pesquisas de Plantas Medicinais). Esse Programa desenvolvido por pesquisadores brasileiros apoiados pelo MinistØrio da Saœde, por meio do setor de pesquisas da antiga Ceme (Central de Medicamentos), foi muito importante na padronizaªo do uso das plantas medicinais. Sua aplicaªo pelo SUS dÆ incio ao disciplinamento do emprego da fitoterapia de base cientfica extrada do conjunto de plantas colecionadas por geraıes sucessivas de uma populaªo que s vezes tem como œnica opªo para o tratamento de seus males o uso emprico das plantas medicinais de fÆcil acesso em cada regiªo do pas. VÆrias espØcies de plantas medicinais foram estudadas e submetidas a pesquisas relativas a ensaios prØ-clnicos, clnicos, atividade biolgica e toxicidade, resultando em 71 espØcies. Essas espØcies serªo priorizadas no curso em questªo. Com o objetivo de facilitar o estudo das plantas medicinais, este curso mostra caractersticas botnicas, qumicas, atividades biolgicas e formas de uso das espØcies medicinais indicadas no SUS para a produªo de fitomedicamentos e ou fitofÆrmacos.

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APÊNDICE A - MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO (APOSTILA)

INTRODUÇÃO

Como falar da terapia medicinal utilizando as plantas sem de fato conhecê-las?

Diferenciar o veneno do remédio está relacionado aos critérios de utilização das

plantas medicinais. A identificação correta (científica) do vegetal é um dos critérios

mais importantes para o uso eficaz. Justifica-se aí a elaboração de um curso

direcionado à Botânica das espécies medicinais.

Considerando os processos de mudança na área de educação para

profissionais da saúde e a demanda por novas formas de trabalhar com o

conhecimento, busca-se com este curso uma inovação com o estudo dos vegetais

na Fitoterapia.

No Brasil a adoção da Política Nacional de Práticas Integrativas e

complementares no Sistema Único de Saúde (SUS), abriu um novo acesso ao

conhecimento das plantas medicinais brasileiras e ao emprego correto para

recuperação e manutenção da saúde. Foi um avanço no processo de fusão do saber

do povo com o saber do técnico conhecido pela sigla PPPM (Programa de

Pesquisas de Plantas Medicinais). Esse Programa desenvolvido por pesquisadores

brasileiros apoiados pelo Ministério da Saúde, por meio do setor de pesquisas da

antiga Ceme (Central de Medicamentos), foi muito importante na padronização do

uso das plantas medicinais.

Sua aplicação pelo SUS dá início ao disciplinamento do emprego da

fitoterapia de base científica extraída do conjunto de plantas colecionadas por

gerações sucessivas de uma população que às vezes tem como única opção para o

tratamento de seus males o uso empírico das plantas medicinais de fácil acesso em

cada região do país.

Várias espécies de plantas medicinais foram estudadas e submetidas a

pesquisas relativas a ensaios pré-clínicos, clínicos, atividade biológica e toxicidade,

resultando em 71 espécies. Essas espécies serão priorizadas no curso em questão.

Com o objetivo de facilitar o estudo das plantas medicinais, este curso mostra

características botânicas, químicas, atividades biológicas e formas de uso das

espécies medicinais indicadas no SUS para a produção de fitomedicamentos e ou

fitofármacos.

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RENISUS � Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS

Espécies vegetais

Quadro 1 - Lista de plantas medicinais de interesse do SUS

Espécies vegetais1 Achillea millefolium 37 Lippia sidoides

2 Allium sativum 38 Malva sylvestris

3 Aloe spp* (A. vera ou A. barbadensis) 39 Maytenus spp* (M.aquifolium ou M.ilicifolia)

4 Alpinia spp* (A.zerumbet ou A.speciosa) 40 Mentha pulegium

5 Anacardium occidentale 41 Mentha spp* (M.crispa, M. piperita ou M. villosa)

6 Ananas comosus 42 Mikania spp* (M. glomerata ou M. laevigata)

7 Apuleia ferrea = Caesalpinia ferrea * 43 Momordica charantia

8 Arrabidaea chica 44 Morus sp*

9 Artemisia absinthium 45 Ocimum gratissimum

10 Baccharis trimera 46 Orbignya speciosa

11Bauhinia spp* (B. affinis, B. forficata ou B. variegata)

47Passiflora spp* (P. alata, P. edulis ou P. incarnata)

12 Bidens pilosa 48 Persea spp* (P. gratissima ou P. americana)

13 Calendula officinalis 49 Petroselinum sativum

14 Carapa guianensis 50Phyllanthus spp* (P. amarus, P.niruri, P. tenellus e P. urinaria)

15 Casearia sylvestris 51 Plantago major

16Chamomilla recutita = Matricaria chamomilla = Matricaria recutita

52 Plectranthus barbatus = Coleus barbatus

17 Chenopodium ambrosioides 53 Polygonum spp* (P. acre ou P. hydropiperoides)

18 Copaifera spp* 54 Portulaca pilosa

19Cordia spp* (C. curassavica ou C. verbenacea) *

55 Psidium guajava

20 Costus spp* (C. scaber ou C. spicatus) 56 Púnica granatum

21 Croton spp(C.cajucara ou C.zehntneri) 57 Rhamnus purshiana

22 Curcuma longa 58 Ruta graveolens

23 Cynara scolymus 59 Salix alba

24 Dalbergia subcymosa 60 Schinus terebinthifolius = Schinus aroeira

25 Eleutherine plicata 61 Solanum paniculatum

26 Equisetum arvense 62 Solidago microglossa

27 Erythrina mulungu 63 Stryphnodendron barbatimão

28 Eucalyptus globulus 64 Syzygium spp* (S.jambolanum ou S.cumini)

29 Eugenia uniflora ou Myrtus brasiliana* 65 Tabebuia avellanedeae

30 Foeniculum vulgare 66 Tagetes minuta

31 Glycine max 67 Trifolium pratense

32 Harpagophytum procumbens 68 Uncaria tomentosa

33 Jatropha gossypiifolia 69 Vernonia condensata

34 Justicia pectoralis 70 Vernonia spp* (V.ruficoma ou V.polyanthes)

35 Kalanchoe pinnata = Bryophyllum calycinum*

36 Lamium album

71 Zingiber officinale

Fonte: BRASIL, 2009

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O conhecimento botânico é indispensável na terapêutica medicinal, para

evitar que muitas espécies sejam utilizadas de maneira incorreta.

O primeiro critério para a utilização das plantas medicinais é a identificação

botânica. Um dos aspectos mais delicados na fitoterapia está na identidade das

plantas. Por ser baseada em nomes vernaculares, a verdadeira identidade de uma

planta recomendada pode variar enormemente de região para região. �Plantas,

completamente distintas, podem ter o mesmo nome popular, algumas acumulam

elevado número deles para a mesma espécie� (LORENZI; MATOS, 2002). A espécie

Chenopodium ambrosioides L., por exemplo, conta com 27 nomes populares. As

interpretações taxonômicas errôneas podem não só induzir o usuário a utilizar uma

planta sem o princípio ativo desejado, como também induzi-lo a fazer uso de uma

espécie perigosa.

Outro critério importante a ser considerado é relativo à parte da planta

medicinal a ser usada como remédio, uma vez que os princípios ativos não são

distribuídos igualmente em todos os órgãos da planta.

Na maioria das vezes, somente se emprega uma parte da planta para fins medicinais, sendo as demais consideradas inertes ou mesmo substâncias tóxicas. Como exemplo dessa situação pode ser citada a Lantana câmara - que suas folhas são indicadas para afecções do sistema respiratório, ao passo que seus frutos são considerados tóxicos (GUIÃO et al., 2004, p. 45).

De acordo com a Política Nacional de Plantas Medicinais, o Ministério da

Saúde tem como objetivo garantir o acesso às plantas medicinais e fitoterápicos,

com serviços eficazes e de qualidade. Conhecer o vegetal é fundamental para obter

essa qualidade desejada. O estudo taxonômico ou as relações entre famílias

botânicas e a constituição química são pouco focalizados nos cursos de graduação

em saúde.

A utilização do Jardim Botânico da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte

como laboratório das aulas de campo é uma estratégia diferenciada e motivadora,

pois transforma um fato abstrato, o que concerne à identificação das plantas a

processos concretos, visuais, interpretativos e dinâmicos. A Botânica nos cursos de

graduação ou extensão é de extrema importância e esse conhecimento passa a ser

um diferencial na Fitoterapia.

O assunto do curso é ministrado com base em unidades didáticas, pois a

fitoterapia é extremamente abrangente e a metodologia aplicada pode ordenar e

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facilitar o ensino-aprendizagem. Com a demanda no SUS de especialistas nessa

área, esse material é uma iniciativa que prioriza a Botânica nos cursos de

Fitoterapia, mostrando os critérios de utilização das plantas medicinais, seu cultivo e

um pouco do misticismo que envolve a manutenção do homem nesse universo

natural.

Vale salientar que, do mesmo modo que as plantas curam, podem matar. Na

maioria das vezes, conhece-se o efeito medicinal popular, mas, como todos os

remédios, existem contraindicações. Portanto, o uso das plantas deve ser controlado

e conhecê-las é indispensável.

A atenção dada às plantas talvez seja o início de uma nova visão do mundo,

um despertar para nossa capacidade de entender a evolução da vida.

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UNIDADE DIDÁTICA 1

Plantas medicinais e História

Objetivos:

Identificar e localizar o uso das plantas medicinais ao longo da história.

Promover aprofundamento conceitual sobre o tema.

Relacionar a importância do uso das plantas medicinais na saúde a partir de

3000 a.C.

Identificar algumas espécies usadas desde a Antiguidade até a atualidade.

ESPÉCIES MEDICINAIS

Histórico

A utilização das plantas como medicamento é tão antiga quanto o próprio

homem. Muito antes de aparecer qualquer forma de escrita, o homem já usava as

plantas como alimento e remédio. É difícil delimitar as etapas que marcaram a

evolução da arte de curar, já que a Medicina esteve por muito tempo associada a

práticas mágicas, místicas e ritualísticas.

O conhecimento histórico do uso de plantas medicinais mostra ao longo da

história da humanidade que, pela própria necessidade humana, as plantas foram os

primeiros recursos terapêuticos usados.

A história da terapêutica começa provavelmente por Mitrídates, rei de Ponto,

de 120 a 63 a.C., o primeiro farmacologista experimental. A lenda conta que,

procurando imunizar-se contra um eventual envenenamento, tomava doses

crescentes (mas nunca letais) dos venenos de que tinha conhecimento, até que

fosse capaz de tolerar até mesmo a dose letal. Prática do mitridatismo. Após ser

derrotado por Pompeu, Mitrídates tentou o suicídio por envenenamento, sem efeito,

devido à sua imunidade. Teria então, forçado um de seus servos a matá-lo com a

espada (Peça Mitrídates, 1673, Racine e na ópera Mitrídates, di Ponto 1770, de

Mozart).

Consideradas ou não seres espirituais, as plantas, por suas propriedades

terapêuticas ou tóxicas, adquiriram fundamental importância na medicina popular.

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Todos os médicos e feiticeiros antigos eram herboristas e nesse campo a Botânica e

a magia se confundiam.

Os mais antigos documentos médicos datam do ano 3700 a.C. e vêm da

China. Atualmente, a China mantém laboratórios de pesquisa e cientistas

trabalhando exclusivamente para desenvolver produtos farmacêuticos com ervas

medicinais de uso popular.

Em 2300 a.C., egípcios, assírios e hebreus cultivavam diversas ervas e

traziam de suas expedições tantas outras. Criavam purgantes, vermífugos,

cosméticos e especiarias para a cozinha, além de líquidos e gomas utilizados no

embalsamento de múmias.

Na Babilônia (600 a.C.), Nabucodonosor mandou plantar em seus jardins,

além de flores e árvores, alecrim cheiroso e açafrão.

Na Grécia (460-377 a.C.), Hipócrates, �Pai da medicina�, resumiu em sua

obra, �Corpus Hipocratium�, a síntese dos conhecimentos médicos de seu tempo,

indicando para cada enfermidade o remédio vegetal e o tratamento adequado.

No começo da Era Cristã, Dioscórides, ao acompanhar os exércitos romanos

na Península Ibérica, no norte da África e na Síria, recolheu abundante informação

sobre plantas dessas regiões. Escreveu o tratado �De Matéria Médica�, que

representa um marco histórico no conhecimento de numerosos fármacos, muitos dos

quais são usados ainda hoje. Nele foram descritos cerca de 600 produtos de origem

vegetal com indicações sobre seu emprego terapêutico. Essa obra foi escrita no ano

78 da nossa era e passou a ser usada como guia de ensino, no mundo romano e

árabe. Em vigor até finais da Idade Média, ainda no século XV eram feitas cópias em

latim dessa obra.

Na Idade Média, o estudo das plantas medicinais estagnou por longo período.

Com a queda do Império Romano e o fortalecimento da Igreja Católica, os tratados

sobre o poder das plantas foram esquecidos ou mesmo perdidos e foram

parcialmente recuperados no início do século XVI.

Os mosteiros tornaram-se centros de estudos e os monges, que se

apoderaram do saber antigo, cultivavam ao redor dos conventos e igrejas

maravilhosos jardins de ervas que eram utilizadas como alimento, bebidas e

medicamentos.

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No século XVI, Theophrastus (Paracelso) viajou por toda a Europa à procura

de plantas e minerais. Ouviu feiticeiros, curandeiros e parteiras e comparava estudos

médicos com a sabedoria popular.

No reinado de Elizabeth I (1558-1603) o saber das ervas pertencia a seres

sobrenaturais (fadas, príncipes, duendes e bruxas) que habitavam pântanos e

florestas.

Na América, o primeiro registro data de 1552, quando o médico mexicano de

origem índia, Juan Badianus, escreveu seus estudos que eram procurados por

muitos estudiosos.

De 1790 a 1850 predominava na Europa e nos Estados Unidos a chamada

�medicina heroica�. Um dos arautos dessa modalidade terapêutica foi exatamente

Willian Cullen, que recomendava, contra a febre, o chamado �antiflogístico�, à base

de sangria e purgativos. Postulava-se a �unidade das doenças�, todas as doenças

deveriam ter um único tipo de tratamento.

A �medicina heroica� preconizava como terapêutica a eliminação dos venenos

internos pelo aumento das excreções do organismo. Assim, durante mais de meio

século a venissecção - �abertura de veias para a drenagem de sangue� - era

ensinada praticamente em todas as escolas médicas americanas e europeias. Não

havia limites para a quantidade de sangue a ser retirada.

Além da sangria, usavam purgativos, eméticos para a eliminação das

impurezas que tomariam o corpo. O uso do calomelano (cloreto de mercúrio) era

obrigatório para quase tudo. E a posologia era pródiga: devia-se aumentar a dose

até que o paciente salivasse profundamente, o que sabemos, hoje, ser o primeiro

sinal de envenenamento pelo cloreto de mercúrio.

Foi nesse contexto histórico da Medicina oficial que surgiu a Homeopatia.

Utilizada em 1848 nos Estados Unidos na grande epidemia de cólera, um número

muito mais alto de pacientes tratados com a Homeopatia sobreviveu em comparação

com a Medicina tradicional. Na Homeopatia, além de plantas são usadas estruturas

animais e minerais.

No século XVIII, Lineu (naturalista sueco) criou a nomenclatura e a sinonímia

botânica dividindo as plantas em 24 classes, o que permitiu estudo mais completo e

abrangente.

No século XIX, com a Revolução Industrial, tornou-se ridículo acreditar no

poder curativo das plantas.

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Hoje, depois de tanto tempo, na busca de melhor qualidade de saúde física e

mental, o mundo está tentando redescobrir os verdadeiros valores da vida por meio

das plantas.

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UNIDADE DIDÁTICA 2

Taxonomia vegetal (espécies medicinais)

Objetivos:

Diferenciar os vários grupos de seres vivos com atividades terapêuticas,

erroneamente, chamados �plantas�.

Caracterizar morfolologicamente espécies com atividades medicinais.

Conhecer as principais espécies medicinais de cada divisão taxonômica.

A DIVERSIDADE BIOLÓGICA

O homem primitivo, ao procurar plantas para seu sustento, foi descobrindo

espécies com ação tóxica ou medicinal, dando início a uma sistematização empírica

dos seres vivos, de acordo com o uso que podia fazer deles. Indícios do uso de

plantas medicinais e tóxicas foram encontrados nas mais antigas civilizações.

A grande diversidade de formas vegetais tornou necessária uma

sistematização, muitas vezes artificial, com base em critérios de mais fácil utilização,

agrupando aquelas formas com mais semelhança externa e interna em níveis

hierárquicos, dependentes do grau de uniformidade de suas características. A

hierarquização e a caracterização dos diferentes grupos de vegetais originaram os

sistemas de classificação. Os sistemas mais antigos baseavam-se em características

morfológicas externas, agrupando as espécies em divisões naturais, tais como algas,

briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas. Os sistemas artificiais dos

quais o mais conhecido foi o de Lineu baseavam-se apenas em algumas

características morfológicas, utilizando como regra a teoria da imutabilidade das

espécies (SIMÕES et al., 2004, cap. 4).

Com Wallace e Darwin, os sistemas filogenéticos foram baseados na teoria da

evolução e refletem a história evolutiva dos táxons, arranjando-os de acordo com

afinidades existentes entre eles (BEZERRA; FERNANDES,1984, p. 100). Desses

sistemas, o que alcançou mais divulgação na primeira metade do século XX foi o de

Engler, em várias edições modificadas. Os sistemas de classificação são sempre

questionados, sofrendo alterações a cada nova descoberta. Atualmente, os sistemas

usuais, elaborados com base em dados morfológicos, fitoquímicos,

micromorfológicos, isto é, ultraestruturais, entre outros (como, por exemplo, para

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angiospermas, os de Cronquist (1988) e outros autores estão sendo alvo de novas

propostas de modificações, baseadas principalmente no conhecimento da biologia

molecular, cujos dados são obtidos do sequenciamento de porções do genoma de

cada táxon. A biologia molecular é considerada uma boa ferramenta para a

formulação e o entendimento de hipóteses e teorias evolutivas, proporcionando

consciência aos sistemas ultimamente propostos. Essa nova metodologia não exclui

todas as outras ferramentas clássicas utilizadas na caracterização dos táxons, como

os caracteres morfológicos comparativos, externos e internos, os embriológicos, os

paleontológicos, entre outros (DALY; CAMERON; STEVENSON, 2001, p. 1328-

1333). As características morfológicas externas possibilitam, via de regra, a

classificação de uma espécie vegetal em qualquer nível hierárquico. No entanto,

algumas vezes são necessárias observações complementares da organização

interna, estudos embriológicos e/ou análise dos metabólitos secundários, para

estabelecer fidedignamente tal classificação (SIMÕES et al., 2004).

O mundo vivo é constituído por significativa variedade de organismos. Para

estudar e compreender tamanha variedade, foi necessário agrupar os indivíduos de

acordo com suas características comuns. Utilizando a evidência molecular, o sistema

de classificação adotado neste curso reconhece os três domínios: Bactéria, Archaea

e Eukarya.

Protistas, fungos, plantas e animais são agora vistos como reinos dentro do

domínio Eukaria. Portanto domínios, não reinos são categorias taxonômicas mais

elevadas.

Para facilitar a identificação, é necessário caracterizar cada organismo

diferenciando plantas de outros seres vivos que também apresentam substâncias

ativas usados nas terapias para a saude.

Principais características que distinguem os três Domínios

Características Bactéria Archaea Eukarya

Tipo de célula Procariota Procariota Eucariota

Envotório nuclear Ausente Ausente Presente

Organelas (mitocôndria e plastídios ) Ausente Ausente Presente

Citoesqueleto Ausente Ausente Presente

Fotossíntese baseada em clorofila Presente Ausente Presente

Fonte: Raven, 2010

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I. Bactéria e Archaea

Seres mais simples de todos os seres vivos, unicelulares que não

apresentam carioteca (membrana nuclear), dotados de parede celular rígida,

reprodução assexuada por divisão transversal ou por esporos. Reprodução sexuada

a partir de recombinação genética.

Exemplo de bactéria utilizada na terapêutica médica: Streptomyces -

bactérias produtoras de antibióticos como a actinomicetina e a aureomicina.

II. Eukarya

Incluem todos os eucariotos.

Reino Fungi, Reino Protista, Reino Plantae

Seres unicelulares eucariontes (apresentam membrana nuclear), pluri ou

unicelulares, autótrofos (algas) ou heterótrofos (protozoários), não possuem tecidos.

Constituintes: algas e protozoários.

Exemplos de protistas utilizados na terapêutica medicinal:

Laminaria - alga parda

Sargassum, Fucus vesiculoso - alga parda

Indicação: escrofulismo, obesidade e gota.

Composição: Iodo

Indicação: dilatação de vasos sanguíneos.

Chondrus crispus - musgo da Irlanda - alga vermelha rica em mucilagem.

Indicação: emoliente e laxante.

III. Reino Fungi:

Eucariontes, uni ou pluricelulares, heterotróficos, membrana de celulose ou

quitina, corpo vegetativo formado por hifas.

Fungos usados na medicina: Penicillium notatum (antibiótico)

Saccharomyces cerevisiae (tônico regulador do intestino, laxante suave)

IV. Reino Vegetal:

Eucariontes, autotróficos, pluricelulares.

IV.1 Divisão Bryophyta

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Criptógamas (plantas sem sementes, sem flores, sem frutos, sem vasos

condutores).

Musgos: Marchantia polymorpha (utilizada para problemas hepáticos).

IV.2 Pteridophyta

Criptógamas (plantas sem sementes, flores, sem frutos, com vasos

condutores).

Lycopodium clavatum (combater catarros e inflamações das vias urinárias).

Selaginella denticulata (virtude: anti-helmíntica).

Equisetum arvense (diurético).

IV.3 Divisão Spermathophyta

IV.3.1 Gimnospermas

São plantas que possuem flores carpelares e sementes, não possuem frutos.

Cupressus sempervirens (resina utilizada nas prisões de ventre e

hemorroidas).

Pinus silvestris (reumatismo e dores).

IV.3.2 Angiospermas

São vegetais que apresentam flores, frutos e sementes.

UNIDADE DIDÁTICA 3

Metabolismo Secundário

Objetivos:

Conhecer os mecanismos de produção de substâncias ativas pelas plantas.

Identificar os principais grupos químicos resultantes do metabolismo

secundário.

Identificar a ação no organismo humano dos alcalóides, flavonóides, terpenos,

antraquinonas, glicosídeos cardioativos, taninos e óleos essenciais.

PLANTA MEDICINAL

Conceitos

Plantas - constituem o reino vegetal (Plantae). São elas: briófitas, pteridófitas,

gimnospermas e angiospermas.

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Medicinal - É a planta que possui um ou mais de um princípio ativo,

conferindo-lhe atividade terapêutica.

Princípio ativo - as plantas sintetizam compostos químicos a partir dos

nutrientes da água e luz que recebem. Esses compostos podem provocar reações

nos organismos, são os princípios ativos. São compostos sintetizados a partir do

metabolismo secundário.

A síntese dos compostos essenciais para a sobrevivência das espécies faz

parte do metabolismo primário � fotossíntese.

Os compostos sintetizados por outras vias e que aparentam não ter grande

utilidade na sobrevivência das espécies fazem parte do metabolismo secundário, por

isso são chamados compostos secundários.

De acordo com Mann, os pontos de origem e produção dos compostos

secundários diferenciados são:

a) Ácido shiquímico � precursor de compostos aromáticos.

b) Aminoácidos � fonte de alcaloides peptídeos.

c) Acetato malonato � origina poliacetilenos, terpenos, esteroides e outros.

Síntese dos metabólitos secundários � compostos ativos.

CO2 + H2O (Fotossíntese)

Glicose

Eritrose

Piruvato

Shiquimato + Policetídeos =Flavonoide

Shiquimato - Outros compostos Aromáticos (lignanas)

Ciclo do Ác. Cítrico Aminoácidos Aromáticos

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Aminoácidos - Alcaloide

Policetídeos Acetato malonato

Ac. Graxos Mevalonato - Terpenos, esteroides e carotenos

Policetilenos e Antibióticos

Alcaloides e terpenos são as classes químicas com mais potencialidades de

fornecer compostos com atividade farmacológica.

Alcaloides: nicotina, pilocarpina, vincristina, vimblastina, emetina, morfina,

beberina, catequina, dopamina, efedrina, etc.

Terpenos: citral, linalol, cânfora, carvacrol, carotenoides.

Flavonoides: flavus � amarelo das flores (atração de polinizadores). São

exclusivos de plantas superiores. Anti-inflamatório, fortalecem vasos capilares,

antibacterianos, diuréticos, etc.

Taninos: proteção da planta contra herbívoros, são adstringentes, provocam

a contração de vasos capilares, cicatrização de queimaduras e antidiarreico.

Óleos essenciais: substâncias voláteis conhecidas pelo aroma que

caracteriza certas plantas, ex: mentol, eucaliptol. Propriedades: bactericida,

antivirótico, antiespasmódico, analgésico, cicatrizante, expectorante, relaxante,

vermífugo, etc.

Cumarinas: gramíneas e umbelíferas são particularmente ricas em

cumarinas, podem apresentar odor. Propriedades: antibacteriano, estimulam a

pigmentação da pele.

Antraquinonas: são purgativos, estimulam os movimentos peristálticos.

Ácidos orgânicos: málico, cítrico, tartárico, oxálico, tartárico. Os ácidos têm

ação laxativa, outros aumentam o fluxo de saliva, contribuindo para reduzir o número

de bactérias que causam cáries. Geralmente os ácidos são laxativos e diuréticos. O

ácido oxálico estimula o surgimento de cálculos renais e reduz a proporção de cálcio

no sangue, afetando o coração.

Mucilagens: laxativos, aumentam a secreção de muco.

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Substâncias amargas: estimula no organismo o funcionamento das

glândulas, produzindo vários efeitos: Aumenta a secreção de sucos digestivos,

aguçando o apetite, e a produção e fluxo da bílis.

Saponinas: formam espuma em água. Ação anti-inflamatória, laxativo suave,

diurético e expectorante.

Compostos fenólicos: originam diversos outros, como os taninos Ex: ácido

salicílico, que tem ação antisséptica, analgésica e anti-inflmatória.

Compostos inorgânicos: sais de cálcio e potássio � diuréticos.

Cálcio � Formação da estrutura óssea.

Sais de silício � Fortalecimento do tecido conjuntivo.

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UNIDADE DIDÁTICA 4

Identificação botânica das espécies de plantas medicinais indicadas

pelo SUS como fitofármacos/fitomedicamentos

Objetivos:

Identificar as principais famílias que caracterizam as 71 espécies de plantas

medicinais indicadas pelo SUS.

Conhecer as famílias consideradas mais tóxicas para o organismo humano

entre as que constituem as plantas medicinais estudadas.

Conhecer a importância das famílias em relação à produção de metabólitos

secundários.

Conhecer características básicas das famílias que caracterizam essas

espécies de plantas medicinais.

CRITÉRIOS DE UTILIZAÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS

As plantas podem ser usadas como remédio desde que utilizadas com critério.

Esses critérios referem-se à identificação da doença, à escolha correta da planta

(identificação botânica) a ser utilizada e à preparação adequada.

Na medida do possível, devem-se utilizar plantas cujos efeitos tóxicos sejam

bem conhecidos, evitando-se os excessos. É importante tomar cuidados quanto à

forma de uso (banhos, infusão, etc.) das plantas a serem usadas. Outro critério que

deve ser levado em conta é a dose. O uso contínuo de determinada planta, mesmo

sem referência toxicológica, deve ser evitado. Sempre procurar orientação de um

profissional de saúde.

Famílias botânicas estudadas: Compositae (Asteraceae),

Caesalpiniaceae(Leguminosae), Fabaceae(Leguminosae), Lamiaceae

(Labiatae), Myrtaceae, Zingiberaceae, Euforbiaceae, Anacardiaceae,

Umbeliferae (Apiaceae), Phyllanthaceae.

Asteraceae (Compositae)

Características botânicas: ervas ou subarbustos, menos frequente arbustos,

pequenas árvores ou lianas, látex às vezes presente; espinhos presentes em

algumas espécies. Folhas alternas, simples, sem estípulas, margem inteira ou mais

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frequente serreada. Inflorescência do tipo capítulo envolvido por brácteas. Flores

todas iguais entre si ou diferenciadas em flores do raio (as mais externas) e flores do

disco (as mais internas). Corola geralmente pentâmera, gamopétala, estames cinco,

ovário ínfero, bicarpelar. Fruto geralmente aquênio, com papilo normalmente

persistente, auxiliando na dispersão.

Características químicas: principais constituintes - flavonóides, lactonas,

terpenos, sesquiterpenos e substâncias amargas.

Fabaceae (Leguminosae)

Características botânicas: ervas, arbustos, árvores ou lianas, folhas

alternas, raramente opostas, geralmente compostas, com estípulas às vezes

transformadas em espinhos. Inflorescência geralmente racemosa; flores vistosas ou

não, geralmente bissexuadas, zigomorfas, diclamídeas ou raramente

monoclamídeas (copaíba). Cálice pentâmero, dialissépalo ou gamossépalo. Estames

geralmente em número duplo ao das pétalas, ocasionalmente em número menor,

iguais ou numerosos (neste caso frequentemente vistoso), livres ou unidos entre si.

Ovário súpero. Fruto legume.

Características químicas: Esteróis, flavonoides, glicosídeos, antraquinonas,

taninos, saponinas e alcaloides.

Lamiaceae (Labiatae )

Características botânicas: ervas, arbustos ou árvores, folhas simples

opostas ou verticiladas com limbo inteiro, denteado, lobado ou partido, revestidas de

pelos glandulares que normalmente secretam essências aromáticas. Flores

pequenas ou grandes, geralmente vistosas, reunidas em inflorescência derivada de

ramos cimosos. São hermafroditas, diclamídeas, pentâmeras, bilabiadas com

marcante zigomorfia (que em alguns casos é pouco pronunciada, ex: lavandula e

mentha. Cálice tubuloso apresentando geralmente diferenciado em lábio superior

(labrum) e inferior (labíolo). Androceu formado por dois a quatro estames. Fruto

geralmente baga ou esquizocapo.

Características químicas: óleos essenciais, terpenos e esteróis, flavonoides

e raramente alcaloides.

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Myrtaceae

Características botânicas: árvores ou arbustos, raramente subarbustos,

tronco geralmente com córtex esfoliante; folhas opostas ou menos frequente

alternas, raramente verticiladas, simples, margem inteira geralmente coriácea.

Inflorescência geralmente cimosa, às vezes reduzida a uma única flor; flores

vistosas, geralmente de coloração branca, bissexuada, raramente unissexuada,

actinomorfa, diclamídea. Estames em geral em número duplo ao das pétalas. Fruto:

baga, drupa, cápsula ou núcula.

Características químicas: taninos, flavonoides, óleos essenciais, vitaminas B

e C.

Zingiberaceae

Características botânicas: ervas rizomatosas; folhas alternas,

peniparalelinérveas; bainha geralmente aberta. Inflorescência cimosa; flores

vistosas, bissexuada, zigomorfa, diclamídea, heteroclamídea; cálice trímero,

gamossépalo, corola trímera com uma pétala maior que as demais. Fruto: cápsula

com semente com arilo ou baga.

Características químicas: óleos essenciais, flavónoides, ácido oxálico,

taninos e mucilagens.

Euphorbiaceae

Características botânicas: ervas, arbustos, árvores ou lianas geralmente

com látex; folhas alternas, raramente opostas ou verticiladas, simples ou menos

frequente opostas, com estípulas, margem geralmente inteira, frequentemente com

nectários extraflorais no pecíolo ou na face abaxial. Inflorescência cimosa ou

racemosa, às vezes reduzida, formando uma estrutura semelhante à única flor.

Flores não vistosas, unissexuada, actinomorfa, aclamídea às vezes envolvidas por

brácteas vistosas. Cálice geralmente 3-6 mero, dialissépalo ou gamossépalo. Corola

dialissépala ou gamopétala, ovário súpero. Fruto geralmente cápsula, raramente

baga, drupa ou sâmara.

Características químicas: aminoácidos, di e triterpenos, óleos essenciais,

taninos, alcalóides, esteróis.

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Phyllanthaceae

Características botânicas: ervas, arbustos, árvores não latescentes; folhas

alternas geralmente trifoliadas, com estipulas, margem geralmente inteira, sem

nectários extraflorais. Inflorescência racemosa, às vezes uniflora. Flores não

vistosas, unissexuada(plantas monóicas ou dióicas), actinomorfa, monoclamídea ou

raramente diclamídea. Cálice geralmente 2-8(12)-mero, geralmente gamossépalo,

perfloração valvar ou umbricada. Corola 5-mera, dialipétala; estames 2-14

frequentemente unidos entre si, anteras rimosas; ovário supero . Corola

dialissépala ou gamopétala, ovário súpero. Fruto cápsula, com deiscência elástica

(tricoca) semente sem carúncula. Ausência de latex e nectários extraflorais nas

folhas.

Características químicas: óleos essenciais, taninos, alcalóides, esteróis.

Anacardiaceae

Características botânicas: árvores ou arbustos, raramente lianas ou ervas

aromáticas; folhas geralmente alternas, compostas ou menos frequente simples, sem

estípulas, margem inteira ou serreada. Flores pouco vistosas, geralmente

unissexuada, actinomorfa, diclamídea. Cálice pentâmero, dialissépalo ou

gamossépalo; corola pentâmera, dialipétala ou gamopétala. Fruto: em geral drupa ou

sâmara.

Características químicas: compostos fenólicos (taninos, chalconas,

flavonóides), esteroides, vitamina C.

Apiaceae (Umbelifareae)

Características botânicas: ervas, muito raramente arbustos ou árvores

geralmente aromáticos; folhas alternas, simples ou compostas. Inflorescência do tipo

umbela, mais frequentemente composta. Flores não vistosas, bissexuadas ou

raramente unissexuadas, actinomorfa, diclamídea ou raramente monoclamídea.

Cálice pouco desenvolvido e pentâmero, dialissépalo; corola em geral pentâmera

dialipétala. Fruto: esquizocárpicos com mericarpos semelhantes a aquênios.

Características químicas: óleos essenciais, alcaloides, flavonoides, ácidos,

tanino, mucilagens, esteroides, vitaminas do complexo B.

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UNIDADE DIDÁTICA 5

Formas farmacêuticas

Objetivos:

Conhecer os mecanismos de extração dos princípios ativos das plantas

medicinais.

Identificar as formas farmacêuticas de algumas plantas entre as 71 estudadas

como as substâncias ativas agem no organismo humano.

Conhecer os efeitos prejudiciais no organismo humano, resultado da

manipulação e/ou formas farmacêuticas erradas.

Conhecer a legislação sobre quem pode manipular, registrar, prescrever e

formular produtos fitoterápicos.

Vide Anexo E : Portaria 6 de 31 de janeiro de 1995 (ANVISA)- Institui e normatiza o

registro de produtos fitoterápicos junto ao Sistema de Vigilância Sanitária. Portaria

123 de 19 de outubro de 1994 (M.S.)- Normas para o registro de produtos

fitoterápicos. Portaria 22 de 30 de outubro de 1967(M.S) Normas para o emprego

de preparações fitoterápicas

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UNIDADE DIDÁTICA 6

Prática de identificação

Objetivos:

Identificar no Jardim Botânico in natura as espécies medicinais da lista do

SUS.

Material: livros, textos, data show, computador, coleção de plantas medicinais

(jardim), herbário e ervanário da FZB-BH.

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PLANTAS MEDICINAIS

Achilea millefolium L.

Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica

Nomes populares: mil folhas, macelão, milefólio, erva dos carpinteiros,

atroveram, aquiléa.

Família: Asteraceae (Compositae).

Origem: Europa.

Usos: diurético, anti-inflamatório, antiespasmódico, cicatrizante, carminativo,

antidiarreico, no tratamento de hemorroidas, contusões, doenças da pele, feridas e

dores musculares.

Constituição química: óleo essencial com terpenos (cineol, cânfora,

pinenos), taninos, mucilagens, resinas, saponinas, esteroides, flavonoides e

cumarinas.

Partes da planta a serem usadas: folhas e inflorescências.

Como pode ser usada: infusão, decocção, suco, emplasto e pomadas.

Curiosidade: da mitologia grega Aquiles foi ferido no calcanhar por uma

flecha envenenada atirada por Páris. Afrodite usou essa planta para estancar a

hemorragia. Também chamada de erva-do-carpinteiro. De acordo com a lenda, São

José, trabalhando como carpinteiro, um dia feriu-se e o Menino Jesus foi buscar uma

erva para curá-lo e trouxe a mil folhas.

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Aloe vera (L.) Bum. F.

Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica

Nomes populares: erva-babosa, aloe-do cabo, babosa, babosa grande.

Família: Aloeaceae (Liliaceae).

Origem: sul da África.

Usos: cicatrizante nos casos de queimaduras e ferimentos superficiais da

pele, pela aplicação local do sumo fresco. Hemorroidas, contusões e dores

reumáticas. Usado pelas mulheres no tratamento dos cabelos para dar brilho e força.

Indicação confirmada: tratamento de queimaduras (1º e 2º graus) e de radiação.

Constituição química: antraquinonas, aloinas e mucilagem constituída do

polissacarídeo aloeferon.

Partes usadas: gel mucilaginoso das folhas.

Como pode ser usada: sumo fresco, alcoolatura e in natura. Uso tópico.

Curiosidade: esta é uma das plantas de uso tradicional mais antigo que se

conhece, inclusive pelos judeus, que costumavam envolver os mortos em lençol

embebido no sumo de aloe, para retardar a putrefação, e no extrato de mirra, para

encobrir o cheiro da morte. A babosa foi um dos ingredientes secretos da beleza de

Cleópatra.

Obs: ingerida em altas doses pode provocar nefrite aguda.

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Artemisia absintium L.

Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica

Nomes populares: losna, absinto, erva-dos-vermes, erva-santa, alvina,

gotas-amargas.

Família: Asteraceae (Compositae).

Origem: Ásia, Europa e Norte da África.

Usos: estimulante, tônico, vermífugo, distúrbios digestivos causados pelo mau

funcionamento do fígado.

Constituição química: óleo (tujona), sesquiterpenos (absintina), ácidos

graxos, vitaminas B e C, flavonoides.

Partes usadas: folhas.

Como pode ser usada: infusão e maceração das folhas, compressas e

decocção.

Curiosidade: seu nome vem do grego e significa: �privado de doçura�. Essa

planta é citada num papiro egípcio que data de 1600 a.C. Os celtas e árabes

aconselhavam seu uso e os médicos da Antiguidade tinham-na como símbolo das

dificuldades e tristezas da vida.

Obs: gestantes e crianças não podem usar. Pode causar (em altas

doses) convulsões, perda de consciência, câimbras e alucinações.

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Baccharis trimera (Less) D.C.

Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica

Nomes populares: carqueja, carqueja-do-mato, carqueja amarga, vassoura,

tiririca-de-barbado.

Família: Asteraceae (Compositae).

Origem: Brasil.

Usos: confirmado - dispepsias. Outros usos: tônico, estomáquico, afecções

estomacais, intestinais e do fígado.

Constituição química: polifenóis (proantocianinas), flavonoides, lactonas

sesquiterpênicas, alcaloides, óleos voláteis, taninos, saponinas.

Partes usadas: caule alados.

Como pode ser usada: infusão.

Curiosidade: cresce em terras secas, pedregosas, à beira das estradas. Há

séculos é usada pelos índios para o tratamento de várias doenças. O primeiro

registro sobre seu uso data de 1931, para o tratamento de esterilidade feminina e

impotência masculina.

Obs: não é recomendado o uso durante a gravidez. O uso constante

pode causar diminuição do potássio no organismo.

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Bauhinia forficata

Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica

Nomes populares: pata de vaca, bauínia, miriró, capa de bode, pata de boi,

pata de veado, unha de vaca.

Família: Fabaceae (Leguminosae).

Origem: Brasil.

Usos: antidiabético, diurético, purgante e usado no tratamento da cistite e do

diabetes.

Constituição química: esteroides, flavonoides livres e glicosilados, alcaloides

(trigonelina), antocianidinas, sistosterol, mucilagens, saponinas, taninos,

triterpenoides.

Partes usadas: toda a planta.

Como pode ser usada: folhas, flores e cascas.

Curiosidade: os primeiros estudos que confirmaram a atividade

hipoglicemiante foram refutados por um estudo mais recente, publicado em 1990. A

árvore apresenta espinhos, as flores são brancas com folhas coriáceas com aspecto

de uma pata de vaca. Gênero dedicado aos irmãos Bahuin, botânicos suíços do

século XVI.

Obs: atividade mutagênica induzindo a formação de tumores. O

consumo crônico pode levar ao hipotiroidismo e à formação de bócio.

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Bidens pilosa

Fonte: Fernando Fernandes.

Nomes populares: erva-picão, picão-do-campo, carrapicho, guambu,

cuambu, carrapicho de duas pontas, carrapicho-agulha, piolho de padre.

Família: Asteraceae (Compositae).

Origem: América tropical (Brasil: Pampa e Mata Atlântica).

Usos: problemas hepáticos (icterícia e hepatite). Propriedades diuréticas e

depurativas. Bactericida, anti-inflamatório e externamente no tratamento de micoses.

Constituição química: flavonoides, esteróis ácidos graxos, taninos,

poliacetilenos, fenilheptatrina (antibiótico citotóxico através da fotosensibilização).

Partes usadas: toda a planta.

Como pode ser usada: infusão e banho.

Curiosidade: o picão é um tipo de carrapicho comum de terrenos baldios e

estradas. Para disseminar suas sementes, tem a estratégia de grudar nos animais.

O extrato bruto inibe a síntese da protaglandina, que é parte de um processo

metabólico ligado à dor de cabeça e doenças inflamatórias.

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Bryophyllum pinnatum Kurz.

Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica

Nomes populares: folha grossa, roda-da-fortuna, fortuna, folha-da-costa.

Família: Crassulaceae.

Origem: Ilhas Maurício ou África.

Usos: emoliente, cicatrizante e anti-inflamatório (uso externo). Usado também

no tratamento de úlceras gástricas e gastrite.

Constituição química: hidrocarbonetos, álcoois, triterpenos, esteróis,

flavonoides livres: quercetina.

Partes usadas: folhas.

Como pode ser usada: cataplasma e suco.

Curiosidade: a espécie Kalanchoe brasiliensis pode ser confundida com a

Bryophyllum pinnatum, K. brasiliensis pode causar hipotiroidismo, por isso a

importância da identificação correta da planta. Dizem que a folha da fortuna traz

dinheiro a quem possuí-la. Mas seu valor está mesmo nas indicações medicinais,

não há dinheiro que pague a saúde.

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Calendula officinalis L.

Fonte: Fernando Fernandes.

Nomes populares: calêndula, malmequer e maravilha-dos-jardins, maravilha

dos jardins.

Família: Asteraceae (Compositae).

Origem: Europa.

Usos: ação cicatrizante e antisséptica (uso externo), sudorífica, analgésica,

anti-inflamatória e tonificante da pele (contra acne), manchas da pele, queimaduras.

Constituição química: óleos essenciais, carotenoides, flavonoides (rutina e

heperidina, mucilagens, saponinas, resinas e princípio amargo).

Partes usadas: flores e folhas.

Como pode ser usada: pomadas e tintura das flores e folhas, cataplasma e

infusão.

Curiosidade: na Espanha era considerada uma planta mágica. Para obter

proteção contra todos os perigos, os feiticeiros aconselhavam a usar um talismã de

calêndulas colhidas quando o sol estivesse entrando no signo de virgem,

embrulhadas junto com um dente de lobo e várias flores de louro. Uma guirlanda de

calêndulas na porta impede à entrada de qualquer tipo de mal. A menina que andar

descalça em cima das pétalas de calêndula vai conseguir entender a linguagem dos

pássaros.

Obs: o uso interno dessa planta é proibido nos Estados Unidos e

Europa.

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Chamomilla recutita (L.) Rauschert

Matricaria chamomilla L.

Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica.

Nomes populares: camomila, maçanilha, matricária, camomila- verdadeira.

Família: Asteraceae (Compositae).

Origem: Europa.

Usos: sedativo, carminativo, carminativo, antiespasmódico, digestivo,

cicatrizante, antivirótico (herpes), antisséptico, como cosmético (clareador dos

cabelos).

Constituição química: óleo essencial azul (abisabolol), polissacaridios,

ésteres, flavonoides.

Partes usadas: capítulos florais.

Como pode ser usada: infusão, pomadas, cremes, loções e xampus.

Curiosidade: os egípcios dedicavam a camomila ao sol e adoravam-na mais

do que qualquer outra erva, pelas suas propriedades curativas. O nome �Matricaria�

deriva do latim, �Mater�, ou talvez de �Matrix�, útero, por ser utilizada em doenças

femininas. "Olho gordo".

Obs: pode provocar dermatite de contato.

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Chenopodium ambrosioides L.

Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica.

Nomes populares: ambrosina, mentruz, erva formigueira, mastruz, mastruço,

erva-de-santa-maria, quenopódio.

Família: Chenopodiaceae.

Origem: América Central e América do Sul (Brasil).

Usos: estomáquica, diurética, vermífuga, sudorífera, infecções pulmonares,

cicatrizante.

Constituição química: óleo essencial (ascaridol), proteínas, compostos

flavônicos, vitamina C, ácidos e carotenoides.

Partes usadas: folhas e flores.

Como pode ser usada: infusão, sumo, cataplasma.

Curiosidade: Chenopus - que tem os pés espalmados como de ganso. A

estrutura da planta inteira é de pé de ganso, explicando a etimologia da planta.

Colocar ramos da erva de santa maria debaixo dos colchões ou varrer a casa

utilizando suas folhas como vassoura elimina e repele pulgas e percevejos.

Obs: o óleo essencial da planta pode causar vômitos, lesões hepáticas e

renais. A dose letal em ratos é de 0,075 mg/kg.

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Cynara Scolymus L.

Fonte: Acervo da Fundação Zoobotânica.

Nomes populares: alcachofra, cachofra.

Família: Asteraceae (Compositae).

Origem: Mediterrâneo.

Usos: depurativa do sangue, colagoga, hipoglicemiante, laxante, ativa a

vesícula biliar, abaixa os níveis de colesterol (HDL) e açúcar do sangue e facilita a

digestão

Constituição química: flavonoides livres e glicosilados, óleos essenciais,

cinarina e ácido cafeico.

Partes usadas: folhas.

Como pode ser usada: decocção, tintura, vinho e extrato.

Curiosidade: a alcachofra não é só uma planta alimentícia, mas uma erva

medicinal que recebeu dos médicos árabes o nome de �al-kharsaf�. O nome genérico

�cynara� vem do latim �canina� e refere-se à semelhança dos espinhos que a

envolvem com os dentes de cachorro. As folhas devem ser colhidas antes da

floração.