92/80( - Editora do CCTA · Marivaldo Wagner Sousa Silva Michelle Bianca Santos Dantas Walquíria...

320

Transcript of 92/80( - Editora do CCTA · Marivaldo Wagner Sousa Silva Michelle Bianca Santos Dantas Walquíria...

  • VOLUME III

    EDITORA DO CCTAJOO PESSOA

    2017

  • UMA DCADA DE EXPANSO UNIVERSITRIA: ESTUDOS SOBRE O VALE DE MAMANGUAPE

    Volume III

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABACENTRO DE CINCIAS APLICADAS E EDUCAO

    REITORA Margareth de Ftima Formiga Melo Diniz

    VICE-REITORA Bernardina Maria Juvenal Freire de Oliveira

    DIRETORA DO CENTROMaria Angeluce Soares Pernico Barbotin

    VICE-DIRETOR DO CENTROAlexandre Scaico

    ASSESSORIA DE PESQUISAElaine Cristina Cintra

    COMISSO ORGANIZADORAAline Cleide Batista

    Ayla Dantas RebouasAline Gisele Azevedo Lima

    Carla Alecssandra de Melo BonifcioCristiane Borges Angelo

    Elaine Cristina CintraEstevo Martins Palitot

    Jos Jassupe da Silva Morais Laurnia Souto Sales

    Marco Aurlio Paz TellaMaika Bueque Zampier

    Maria Angeluce Soares Pernico BarbortinMarivaldo Wagner Sousa SilvaMichelle Bianca Santos Dantas

    Paulo Roberto Palhano SilvaWalquria Nascimento da Silva

    Williame Ribeiro

    CORPO TCNICO ADMINISTRATIVOAdriana Santos de Lima

  • UMA DCADA DE EXPANSO UNIVERSITRIA: ESTUDOS SOBRE O VALE DE

    MAMANGUAPE

    Volume III

    OrganizadoresAline Cleide Batista

    Ayla Dantas RebouasAline Gisele Azevedo Lima

    Carla Alecssandra de Melo BonifcioCristiane Borges Angelo

    Elaine Cristina Cintra Estevo Martins Palitot

    Jos Jassupe da Silva Morais Paulo Roberto Palhano Silva

    Marco Aurlio Paz Tella Maika Bueque Zampier

    Maria Angeluce Soares Pernico BarbotinMarivaldo Wagner Sousa SilvaMichelle Bianca Santos DantasWalquria Nascimento da Silva

    Williame Ribeiro

    EDITORA DO CCTAJOO PESSOA

    2017

  • Editorao: Maria Angeluce Soares Pernico Barbotin Luiz AlbertoCapa: Marivaldo Wagner Sousa SilvaO contedo e a reviso dos textos so de responsabilidade dos autores de cada captuloFicha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Setorial do CCAE (Centro de Cincias Aplicadas e Educao) da Universidade Federal da Paraba Campus IV

    D291 Uma dcada de expanso universitria: estudos sobre o Vale de Mamanguape: volume III / Aline Cleide Batista et al. (Orgs.). Joo Pessoa: Editora do CCTA, 2017.

    318p. : Il. - Editorao: Maria Angeluce Soares Pernico Barbotin. Capa: Marivado Vagner Sousa Silva. ISBN: 978-85-9559-011-3 1. Ensino superior - expanso. 2. UFPB Campus IV. 3. Vale do Mamanguape - Paraba. I. Batista, Aline Cleide et al. (Orgs.). II. Ttulo.

    UFPB/BS-CCAE CDU: 378(813.3)

  • SUMRIOPREFCIO ............................................................................................................. 7Elaine Cristina CintraAPROPRIAO DA CULTURA UNIVERSITRIA NOS 10 ANOS DO CCAE: CONTRIBUIES DO PET INDGENA E CURSINHO PR-VESTIBULAR JUNTO AO POVO POTIGUARA..........................11Paulo Roberto Palhano SilvaMaika Bueque ZampierAntnio Pessoa Gomes CaboquinhoLeonardo Cinsio GomesIracilda Cinsio GomesIranilza Cinsio Gomes FelixVagner Santos da Silva

    NARRATIVAS INSLITAS NA SALA DE AULA: FORMAO DE LEITORES NO VALE DO MAMANGUAPE............................................33 Luciane Alves SantosMichelle Bianca Santos DantasThase Gomes LiraEDUCAO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE NO VALE DO MAMANGUAPE\PB: ESTUDO DE CASO NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MDIO PROF. LUIZ GONZAGA BURITY\PB...........................................................................................................55Joel Silva dos SantosCarla Soraia Soares de CastroFrederico Gustavo Rodrigues FranaHayme Nascimento de AlencarHenrique SantosMayara SoaresSamara Alexandre de Souza

    A CONTRIBUIO DOS EVENTOS PARA A EXTERNALIZAO E PROMOO DO CURSO DE SECRETARIADO EXECUTIVO BILNGUE DA UFPB, CAMPUS IV - LITORAL NORTE.....................77Cibelle da Silva SantiagoMarineide Maria da SilvaINICIAO CIENTFICA E EXTENSO UNIVERSITRIA: UM ESTUDO SOBRE A IMPORTNCIA DE PARTICIPAO PARA OS ALUNOS DE GRADUAO DO CURSO DE CINCIAS CONTBEIS DA UFPB - CAMPUS IV......................................................109 Marcleide Maria Macdo PederneirasJenifer Marques de AlmeidaDaniela Cintia de Carvalho Leite MenezesLuiz Gustavo de Sena Brando-PessoaJorge Lopes

  • PROFISSO CONTBIL EM RIO TINTO E MAMANGUAPE/PB: A INFLUNCIA DO CURSO TCNICO EM CONTABILIDADE NA FORMAO PROFISSIONAL.....................................................................135Jos Jassuipe da Silva MoraisMaria Gerusa Silva PontesYara Magaly Albano SoaresLuiz Gustavo de Sena Brando PessoaDILOGO E CONHECIMENTO DAS IMAGENS EM RIO TINTO PB.........................................................................................................................161Joo Martinho Braga de Mendona

    O POTENCIAL TURSTICO DA CIDADE HISTRICA DA TECELAGEM: UM ESTUDO COM MORADORES DE RIO TINTO PB.........................................................................................................................181Jammilly Mikaela Fagundes BrandoPriscilla Germano da Silva1Joelma Abrantes Guedes Temoteo

    TURISMO DE SOL E PRAIA: A PERCEPO DE PROFISSIONAIS DA HOTELARIA LOCAL SOBRE A SAZONALIDADE TURSTICA NA CIDADE DA BAA DA TRAIO-PB...............................................213Joelma Abrantes Guedes TemoteoJammilly Mikaela Fagundes BrandoHerlane De Alcntara Wanderley

    DESIGN, INOVAO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL INTEGRADOS EM PROL DO ARTESANATO SUSTENTVEL DO MUNICPIO DE RIO TINTO/PB.................................................................249Joo Incio dos Santos NetoMarivaldo Wagner Sousa Silva

    MULHERES DO COMPLEXO SERTOZINHO: UM OLHAR A PARTIR DAS DIMENSES TERRITORIAIS E DAS PRTICAS TERICO-VIVENCIAIS NA EXTENSO-PESQUISA.......................279Maria Luzitana Conceio dos SantosAldo Silva de Mendona

    OS AUTORES E AUTORAS..........................................................................309

    COMIT CIENTFICO.....................................................................................317

  • 7

    PREFCIOElaine Cristina Cintra

    Como parte das aes comemorativas dos 10 anos do CCAE-UFPB, a direo deste campus, na pessoa da Profa. Maria Angeluce Soares Pernico Barbotin, solicitou Assessoria de Pesquisa (AP), em maio de 2016, a organizao de um livro que oferecesse comunidade um espectro amplo das pesquisas realizadas nessa instituio desde o momento de sua criao. Para atender a esta demanda, a AP comps uma comisso organizadora com um membro de cada curso do Centro, garantindo que o projeto fosse elaborado com a representao de todas as reas de pesquisa desenvolvidas neste campus. Em 25 de junho de 2016, foi publicado o Edital de Chamada Pblica 001/2016, redigido por essa comisso, em que era apresentada a seguinte proposta de tema para a submisso dos artigos: a Histria e aes do CCAE-UFPB na regio do Vale do Mamanguape. A necessidade de se discutir o impacto das pesquisas dessa instituio na regio que a acolheu, fica claro na descrio de sua proposta:

    a proposta disponibilizar para a comunidade os resultados das aes e produes cientficas desenvolvidas ao longo dos dez anos da instalao do CCAE na regio do Vale do Mamanguape, com o objetivo de subsidiar um melhor entendimento da citada regio no que se refere a seus aspectos culturais, geogrficos, sociais, polticos, educacionais, entre outros.

    Disponibilizar os resultados das pesquisas desenvolvidas em 10 anos da presena de uma instituio representava mais do que dar visibilidade aos trabalhos que os pesquisadores docentes,

  • 8

    discentes e tcnicos da universidade realizaram, dentro de seu escopo de formao, com ou sem apoio financeiro, mas de maneira bastante assdua durante esse perodo; significava tambm mostrar como a pesquisa sria, comprometida com o desenvolvimento social, poltico e econmico da regio, sara dos muros da universidade e impactara uma regio com demandas urgentes em todas as reas. A histria desses esforos precisava ser registrada uma vez mais, e para atender a essa chamada, os pesquisadores do CCAE se propuseram a documentar seus projetos, seus resultados, os desdobramentos da formao acadmica que, durante dez anos, se propuseram a construir.

    A comisso organizadora recebeu uma quantidade considervel de artigos, que ia bem alm do esperado, tendo em vista o escassssimo tempo de divulgao. Ao todo, foram enviados 23 textos de reas diversas. Todos os artigos foram, ento, enviados a pareceristas internos e externos da rea de conhecimento do artigo, em um processo interinstitucional, pelo sistema double blind review. Ao final, tivemos o grato prazer de ter como resultado a aprovao de todos os artigos. Como no havia possibilidade de publicar mais do que as 200 pginas empenhadas no prego pblico, a direo entendeu que um segundo volume deveria ser providenciado para que nenhum desses textos que j havia sido avaliado e aprovado ficasse fora do projeto. Eis ento como surgiram e se consolidaram os 3 volumes de um nico livro.

    Foi necessrio redistribuir, com a possibilidade de dois volume a mais, os artigos entre os trs livros. Assim, optamos por organiz-los por reas, para facilitar o acesso do leitor, que em geral, busca textos dentro de um interesse especfico. No entanto, so vrios os artigos que dialogam com outras reas, sendo assim,

  • 9

    esta distribuio , de uma certa maneira e como quase todas, frgil, o que consideramos mais positivo do que na verdade negativo, pois propicia a relao de vrios saberes e especificidades.

    Para manter a unidade com o volume I, apresentamos nos incio de cada um dos livros artigos que documentem a histria do campus de maneira mais geral e especfica. Compreendemos a importncia de se resguardar esses testemunhos e estudos para que, nesses tempos to ciosos e volveis, no se percam esses registros.

    Como um livro que desde sua gnese se mostrou coletivo e mltiplo, entendemos, por fim, que os prefcios deveriam ser feitos por estudiosos que no faziam parte da comisso organizadora, e que no faziam parte da lista de autores dos volumes, mas que, por outro lado, foram profissionais integrantes da trajetria desse campus e deixaram sua valiosa parcela de contribuio para a construo desses 10 anos. Tivemos, assim, o privilgio de contar, no volume I, com o prefcio do Prof. Lusival Antnio Barcellos. Para este segundo volume, a Prof. Chussy Karlla Souza Antunes nos deu a honra de prefaciar o livro.

    E assim, apresentamos o terceiro e ltimo volume deste projeto, ao mesmo tempo em que tentamos dar uma verso da histria dessa obra. O que certo que este um livro coletivo e multidisciplinar que, dentro de vrias propostas e metodologias, atende a um propsito nico: documentar a histria da pesquisa no CCAE, desdobrada em aes de ensino e extenso, nesses seus primeiros 10 anos. Ficamos na expectativa que venham mais anos profcuos como esses, e com eles, mais histrias e mais livros!

    Mamanguape, dezembro de 2016.

  • 11

    APROPRIAO DA CULTURA UNIVERSITRIA NOS 10 ANOS DO

    CCAE: CONTRIBUIES DO PET INDGENA E CURSINHO PR-VESTIBULAR JUNTO AO POVO

    POTIGUARA

    Paulo Roberto Palhano SilvaMaika Bueque Zampier

    Antnio Pessoa Gomes CaboquinhoLeonardo Cinsio Gomes

    Iracilda Cinsio GomesIranilza Cinsio Gomes Felix

    Vagner Santos da Silva

    1 A Educao Superior

    Este artigo tem como finalidade registrar e socializar para a comunidade acadmica a importncia do Curso Pr-Vestibular litoral norte e o Curso do Programa de Educao Tutorial (PET) Indgena como pagina da histria do Centro de Cincias Aplicadas e Educao - CCAE-UFPB.

    Atualmente, a educao considerada um dos fatores mais importantes para o crescimento de uma nao. atravs da produo de conhecimentos que um pas se desenvolve, aumentando sua renda e a qualidade de vida das pessoas. Investir em Educao primordial para o desenvolvimento da sociedade. Embora o Brasil tenha avanado neste campo, nas ltimas dcadas, ainda h muito para ser feito.

    http://www.suapesquisa.com/paises/brasil

  • 12

    O Plano Nacional da Educao (PNE) indica a responsabilidade das instituies universitrias, manifesta a necessidade da formao de jovens com ensino superior para atuar junto s carncias da Educao Bsica no Brasil. A escola, nvel bsico, e as universidades tornaram-se locais de grande importncia para a ascenso e incluso social, pois com a cultura universitria os espaos escolares nas comunidades podem ser visitados por novo capital cultural, capaz de articular cincia com tradio, dentre outros aspectos.

    Compreende-se como cultural universitria todo o processo de formao acadmica que envolve a juventude no ensino superior. Atualmente, o grande desafio encontrar politicas no apenas de acesso, mas que possibilite a permanncia e concluso da graduao por essa juventude advinda de grupos tnicos. As aes com a finalidade de proporcionar a entrada de mais jovens na Graduao, no foram suficientes para que o pas atingisse tal objetivo, pois alguns problemas centrais, tais como vencer a evaso dos alunos no Ensino Mdio e melhorar a qualidade da formao bsica, ainda no foram devidamente equacionados. Nos parece que o principal gargalo que impede de muitos jovens ingressarem nas universidades no est no Ensino Superior, mas sim na Educao Bsica.

    Deve-se registra que na dcada de 2000, no Brasil, emerge a discurso das polticas de incluso diferenciada, que ganhou a notoriedade como debate das cotas. Nesse veis se situam muitas opinies que se cristalizam nos favorveis e dos contrrios s cotas, dentre as quais as populaes indgenas brasileira. A esse respeito pode-se averiguar as produes tericas de BANIWA (2009), GRUPIONI (2006), LIMA (2007), dentre outros que manifesta as

  • 13

    trajetrias e desafios do acesso e permanncia dos indgenas no ensino superior.

    Segundo Lobo (2014) clculos recentes do Ministrio da Educao (MEC) estimam que 17% dos jovens so estudantes universitrios. Esse nmero est distante da meta do Plano Nacional de Educao (PNE), que previa a incluso de 30% dos jovens no Ensino Superior. Idem menciona que, mantido o quadro atual, difcil imaginar que se atingir 50% de taxa bruta das matrculas no Ensino Superior em relao populao de 18 a 24 anos como pretende o novo PNE de 2012. (LOBO, 2014, p. 646)

    Dentre as 20 metas do novo PNE, em tramitao no Congresso Nacional, destacamos o aumento do nmero de matrculas no Ensino Superior uma das mais emblemticas. O texto do projeto elaborado pelo Executivo deixa claro que, em 2020, o pas dever ter 50% dos jovens de 18 a 24 anos matriculados nas instituies de Ensino Superior. Muitos questionamentos surgem para a efetivao dessas polticas pblicas na educao. Uma das questes centrais para melhorar a qualidade do ensino no pas a valorizao do professor. Nesse aspecto, o Ensino Superior tem um papel fundamental a desempenhar formando bem os docentes, que estaro frente das salas de aula no Ensino Fundamental e Mdio.

    A histria, porm, revela que ser necessrio um grande esforo e, talvez, um novo desenho das polticas educacionais como um todo para que o pas atinja tal objetivo. Segundo FREIRE (1992, p. 54) No h transio que no implique um ponto de partida, um processo e um ponto de chegada. Todo amanh se cria num ontem, atravs de um hoje.

  • 14

    Para Nascimento (2009, p. 96), no h como solucionar os problemas de acesso ao Ensino Superior sem enfrentar o desafio de melhorar a qualidade da formao na Educao Bsica. Entre as principais causas do significativo abandono dos estudos durante o Ensino Mdio est a deficincia de aprendizagem que muitos carregam do Ensino Fundamental, somada a um currculo desconectado das demandas sociais, dos interesses dos jovens e do mundo do trabalho, que desestimulam e afastam os alunos dos bancos escolares.

    A falta de base que os estudantes apresentam quando fazem o vestibular uma realidade enfrentada em muitas instituies pblicas e particulares na Paraba e no Brasil. Diante de uma numerosa demanda dessa formao capenga para galgar o nvel superior, muitas delas, so instigadas a equacionarem essa deficincia educacional. Diante de situaes como essas, a Universidade Federal da Paraba (UFPB), Campus IV, Litoral Norte, vendo as necessidades dos estudantes da rede pblica, passou a oferecer, a partir de 2007, um Curso Pr-Universitrio para estudantes indgenas, tendo como objetivo a aprovao no Ensino Superior.

    No Brasil a educao Escolar Indgena j faz parte do cotidiano da maioria das comunidades (NASCIMENTO 2009; BRASIL, 2004). Tal realidade assume caractersticas desafiantes, especialmente se considerada a multiplicidade tnica e a baixa concentrao demogrfica, ingredientes historicamente utilizados para justificar a no implementao de polticas especficas e diferenciadas para as comunidades indgenas.

    A escola entrou na comunidade indgena como um corpo estranho, que ningum conhecia. Quem a estava colocando

  • 15

    sabia o que queria, mas os ndios no sabiam, hoje os ndios ainda no sabem para que serve a escola. E esse o problema. A escola entra na comunidade, e se apossa dela, tornando- se dona da comunidade, e no a comunidade dona da escola. Agora, ns ndios, estamos comeando a discutir a questo (KAINGANG apud FREIRE, 2004, p. 28).

    O desempenho dos estudantes brasileiros aferidos por meio dos exames de avaliao do Ministrio da Educao, demonstra que a aprendizagem dos discentes ainda est abaixo de padres adequados. Esse baixo desempenho dos educandos possui vrias causas internas e externas escola. Nesse cenrio, aliado s questes sociais e econmicas estruturais em um pas continental como o Brasil, necessrio ressaltar os processos de organizao e de gesto pedaggicas que interferem na produo do fracasso escolar, tais como: deficincia do processo ensino-aprendizagem, estrutura inadequada de parte dos sistemas educacionais para dar conta do aumento de demanda dos ltimos anos, carncia de professores qualificados, especialmente no Ensino Mdio, oferta de recursos pedaggicos e bibliotecas adequadas aos processos formativos emancipatrios.

    Todas essas questes se articulam s condies objetivas da populao, em um pas historicamente demarcado por forte desigualdade social, que se caracteriza pela apresentao de indicadores sociais preocupantes e, que nesse sentido, carece de amplas polticas pblicas incluindo, nesse processo, a garantia de otimizao nas polticas de acesso, permanncia e gesto com qualidade social na educao bsica. (PNE, 2012).

    Na tentativa de superar as desigualdades socioeconmicas e alcanar uma maior equidade social, o Brasil atravs do Projeto de Lei 3627/2004, adotou o Sistema Especial de reserva de Vagas

  • 16

    para estudantes egressos de escolas pblicas, em especial, negros e indgenas, nas instituies pblicas federais de Educao Superior. (GARLET, GUIMARAES, BELLINI, 2010, p. 65, grifo nosso). Estudantes de qualquer raa, nvel de renda e gnero so reprovados ou aprovados exclusivamente em funo de seu desempenho. Isso significa que os nativos no so barrados no acesso ao Ensino Superior por serem indgenas, mas por deficincias de sua formao escolar anterior.

    De certa forma, estranho que a primeira grande iniciativa de ao afirmativa no campo educacional, incida justamente sobre o vestibular, sem propor medidas de correo das deficincias de formao que constituem a causa real da excluso dos pobres, dos negros e dos indgenas. Segundo MAGALHES, (2005, p. 548), falta a [...] valorizao plena das culturas dos povos indgenas e a afirmao e manuteno de sua diversidade tnica.

    De fato, isso verdade na medida em que aquela populao enfrenta obstculos sociais muito srios na sua trajetria escolar que dificultam o acesso ao Ensino Superior.

    A soluo das cotas no se encaminha no sentido de propor uma ao afirmativa que permita aos brasileiros com ascendncia indgena superar deficincias do seu processo de escolarizao e o estigma da discriminao, mas a de reivindicar que, para os indgenas, os critrios de admisso ofeream possibilidades de terem as condies mnimas para fazer um vestibular em p de igualdade com os demais estudantes.

    Com a implantao do CCAE, da UFPB, Campus IV - Litoral Norte, todas as iniciativas de melhoria da qualidade de vida dos povos indgenas foram tambm exacerbadas, gerando muitas expectativas de realizarem seus sonhos em entra no ensino

  • 17

    superior fazendo um curso universitrio de excelncia, sem sair da aldeia.

    Sob o ponto de vista metodolgico optou-se por uma abordagem qualitativa, baseado em pesquisas bibliogrficas destacando os principais aspectos citado por tericos da rea como: BARCELLOS, NASCIMENTO, PALHANO SILVA, BRASIL, GARLET, GUIMARES, BELLINI, FREIRE, MAGALHES entre outros.

    A anlise dos dados feita por meio deste estudo vem com um anseio de confirmar as contribuio do CCAE na entrada dos indgenas Potiguara no Ensino Superior destacando as aes realizadas pelo PET Indgena e pelo prprio Campus IV.

    2 O Povo Potiguara da Paraba

    Segundo Nascimento e Barcellos (2012), a palavra Potiguara significa povo comedor de camaro, aquele que habita as terras de Akajutibir (caju azedo ou bravo) na Baa da Traio-PB. As comunidades habitadas possuem vida, autonomia e convenes prprias e so lideradas por um cacique local, que o representante da aldeia. Ele permanece no cargo durante os anos em que for reconhecido pela comunidade que o elegeu como representante diante das outras aldeias e da sociedade em geral. Na Paraba os Potiguaras esto encravados historicamente no Litoral Norte.

    A Terra Indgena (TI) Potiguara situa-se nos trs municpios e possui 21.238 ha, que foram demarcados em 1983 e homologados em 1991. A TI Jacar de So Domingos tem 5.032ha nos municpios de Marcao e Rio Tinto, cuja homologao se deu em 1993. Por fim, a TI Potiguara de Monte- Mr, com 7.487 ha, em Marcao e Rio Tinto. (PALITOT, 2005, p. 54).

  • 18

    O povo Potiguara atua como pequenos agricultores e utilizam suas terras para o plantio de macaxeira, feijo, inhame, batata, melancia, maracuj, mamo, mandioca, milho entre outros. (BARCELLOS, 2012, p. 19). Estes roados so feitos pelas famlias indgenas sendo definidos pelos chefes da famlia tendo o cultivo com a participao dos seus filhos. A colheita dos alimentos destina-se ao sustento da famlia. Parte pode ser utilizado para troca entre parentes. Em tendo excedente os produtos so comercializados em feiras livres ou para atravessadores da regio.

    Habitam em um espao de natureza agradvel, com um ecossistema bem diversificado, com fauna e flora peculiares, onde so encontrados rios, praias, recifes de corais, cachoeiras e lagoas envoltas em biomas com Mata Atlntica e manguezais banhados por baas que do contornos que s a natureza capaz de lapidar.

    Os indgenas trazem consigo durante toda a sua histria conflitos, perseguio e muitas lutas desde a chegada dos portugueses no Perodo Colonial. Na contemporaneidade, no diferente, pois registram-se conflitos sociais diversos: questes trabalhistas com Fbrica de Tecido Rio Tinto; questes com a posse da terra com usineiros, turismo e outros; questes de meio ambiente alusivas degradao ambiental. Registra-se a ebulio de processos judiciais e ocorrncias de mortes de lideranas indgenas.

    Ainda, segundo Barcellos (2005), o Povo Potiguara possui hoje populao de aproximadamente, 20.000 mil indgenas, e habitam um territrio de 33.757 hectares, distribudos em trs reas contguas nos municpios de Marcao, Baa da Traio e Rio Tinto, no Litoral Norte do Estado da Paraba.

  • 19

    Os Potiguara atualmente, contam com 32 aldeias presentes nos 3 municpios citados, Galego, Forte, Cumaru, So Francisco, Vila So Miguel, Laranjeiras, Santa Rita, Tracoeira, Bento, Silva, Mata Escura, Akajutibir, Jaragu, Silva de Belm, Vila Monte-Mr, Jacar de So Domingos, Jacar de Csar, Carneira, Estiva Velha, Lagoa Grande, Grupina, Brejinho, Tramataia, Camurupim, Caieira, Trs Rios, Ybykuara, Grupina dos Cndidos, Coqueirinho, Val, Lagoa do Mato e Bem Fica. Cada uma das aldeias possui um lder que chamado de Cacique.

    Diante disso, destacamos que o papel do cacique organizar e representar o povo dentro e fora da aldeia, levando em considerao os anseios e almejos dos parentes indgenas e suas respectivas aldeias, praticando sempre que possvel o incentivo cultura, a polticas pblicas e a valorizao do seu povo em um contexto social.

    Segundo Nascimento, Barcellos et al, (2012), apenas a terra indgena de Monte-Mor, com 7.487 hectares, passa por processo de homologao no Ministrio da Justia. Nas trs ltimas dcadas, houve um relevante desmatamento, sobretudo praticado pelos usineiros, para a utilizao da monocultura da cana-de-acar. Seu territrio est localizado numa plancie, no Litoral Norte da Paraba e possui suas fronteiras ao norte, com rio Camaratuba; ao sul, com o rio Mamanguape; ao leste, com o Oceano Atlntico.

    Com relao ao cultivo da cultura indgena Potiguara NASCIMENTO e BARCELLOS (2012) definem que:

    [...]nos ltimos sculos o povo Potiguara vem sofrendo influncia de outros povos, desde a chegada dos portugueses, porm no perderam suas caractersticas e suas tradies e ainda hoje cultivam seus costumes e seus valores de origens,

    http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Galego_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Forte_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cumaru_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=S%C3%A3o_Francisco_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Vila_S%C3%A3o_Miguel&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Laranjeiras_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Santa_Rita_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Tracoeira&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Bento_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Silva_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Acajutibir%C3%B3&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Aldeia_Jaragu%C3%A1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Silva_de_Bel%C3%A9m&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Vila_Monte-Mor&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Vila_Monte-Mor&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Jacar%C3%A9_de_S%C3%A3o_Domingos&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Jacar%C3%A9_de_C%C3%A9sar&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Carneirahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Estiva_Velha&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Estiva_Velha&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Lagoa_Grande_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Grupi%C3%BAnahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Brejinho_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Tramataiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Camurupimhttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Caieira_(potiguaras)&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Tr%C3%AAs_Rios_(potiguaras)&action=edit&redlink=1

  • 20

    como as pinturas feitas em seus corpos, alm de outras expresses culturais como o ritual do tor.

    Foto1: Universitrios Potiguara aps realizao do ritual do tor na aldeia Brejinho, municpio de Marcao-PB. Ano: 2015

    As religies seguidas pelos potiguaras so o Cristianismo (Catolicismo, Batista, Assembleia de Deus, Beteis e entre outros), introduzido no perodo colonial pelos portugueses e praticado pela maioria dos Potiguara; e religies de prticas espirituais ancestrais ligados aos encantados e a jurema. Mas, a partir da emergncia tnica, instalada na dcada de 1980 (ARRUTI, 1995), um grande movimento revoluciona o Povo Potiguara, pois esse passa a desenvolver publicamente suas manifestaes religiosas, expor sua identidade e tradies. O pesquisador PALHANO SILVA (2013) explicitar os resultados de pesquisa em artigo denominado Educao e movimentos sociais: registro do TOR POTIGUARA - a fora da espiritualidade, onde manifesta que que Os registros histricos indicam a existncia do Povo Indgena Potiguara desde 1500, resistncia tnica que atravessa sculos, alimentando-se do cultivo de prticas ritualsticas espirituais, culturais e das tradies. (PALHANO SILVA, 2013, p. 216).

    3 O Curso Pr-Vestibular do CCAE

    A UFPB, atravs do Programa Expandir, elaborou o projeto de criao do Campus IV no corao do Vale do Mamanguape,

  • 21

    Litoral Norte, no ano de 2005. No incio de 2006, o MEC aprovou o projeto da UFPB, e foi ento criado o Campus IV pelo Conselho Universitrio (CONSUNI).

    J a iniciativa do Curso Pr-Vestibular do Litoral Norte no campus foi idealizada pelo Professor Dr. Lusival Antnio Barcellos (Departamento de Educao/CCAE/UFPB) que teve incio em 2007, beneficiando 11 municpios, atuando com cerca de 1.250 estudantes que receberam ajuda para vencer um grande desafio: ser aprovado em uma universidade. Entre os 11 municpios destacamos Rio Tinto, Marcao e Baa da Traio, localizado no territrio Potiguara, que tambm foi contemplado pelo Curso Pr-Vestibular, dando vez e voz aos jovens indgenas.

    O Curso Pr-Vestibular da Baa da Traio, precisamente ministrado na aldeia So Francisco, por exemplo, foi de suma importncia, uma vez que havia dificuldades destes realizarem a sua locomoo da aldeia at o centro urbano, na cidade.

    O Curso Pr-Vestibular foi ento estruturado com a seguinte composio: uma comisso de professores graduados e universitrios do Campus UFPB/Litoral Norte que coordenava a iniciativa; um coletivo de quatro coordenadores gerais e 11 coordenadores locais responsveis por viabilizar a efetivao do projeto. Alm das aulas, eram realizados simulados e bisuradas objetivando estimular a juventude a participar do vestibular visando aprovao dos estudantes no ensino superior. Esta ao se estendeu at o ano de 2012, atingiu alm do Vale do Mamanguape 22 municpios da Paraba, incluindo uma cidade do Rio Grande do Norte.

    Para materializar o Curso Pr-Vestibular do Litoral Norte a coordenao reuniu o apoio do CCAE, da Reitoria da

  • 22

    UFPB, mas sem dvida foi fundamental as parcerias realizadas com as Secretarias de Educao dos municpios beneficiados, com a Fundao Nacional do ndio (FUNAI) e movimentos sociais, indgena. Os municpios, disponibilizavam transporte, alimentao e material de expediente aos alunos. Grupos internos ao CCAE, como o Grupo de Estudos e Pesquisa e Educao, Etnias e Economia Solidria (GEPeeeS) tambm compunha essa rede de apoio. O movimento indgena tratou o assunto em suas pautas.

    O primeiro resultado alcanado em 2007 com a atuao do cursinho na aldeia So Francisco, foi a conquista de uma aprovao do primeiro Potiguara na Universidade de Braslia (UnB). No ano seguinte, uma verso mais aperfeioada do projeto resultou em um ndice bem mais eficiente: a aprovao de 12 indgenas em universidades pblicas. Ao longo desse trajeto tambm pode-se constatar outros resultados. Esse, sem dvida um registro que contm a proeza acadmica do CCAE/UFPB no Litoral Norte: a de possibilitar condio para o acesso de indgenas Potiguara no espao acadmico.

    4 O Curso Pr-Vestibular do PET Indgena

    A segunda iniciativa abordada diz respeito ao PET Indgena. Trata-se de um Programa do Governo Federal, aprovado em dezembro de 2010, que teve como primeiro Tutor o seu criador, Prof. Dr. Lusival Antonio Barcellos. O projeto inicial teve como tema central foi o acesso e a permanncia do universitrio indgena na academia. Em sua justificativa foi mencionado que tratava de um programa composto por indgenas que, incondicionalmente, lutam contra a discriminao e preconceito de sua cultura e tradio. Argumentava que a relevncia da ao acadmica estava em uma

  • 23

    singularidade: o trabalho do PET estrategicamente pauta-se por acompanhar os indgenas na vida acadmica, e especialmente propiciar que os indgenas sejam reconhecidos no interior da universidade.

    Ao longo da trajetria, o acompanhamento pedaggico propiciou que os integrantes do PET Indgena pudessem alm das atividades vinculada as disciplinas, organizar um conjunto de atividades explicitadas nos espaos da universidade, objetivando mostrar para os no indgenas sua arte, sua dana, sua culinria e sua tradio. Eventos esses organizados pelos prprios indgenas ou por segmentos da UFPB, como os coordenados pelo GEPeeeS, como: Seminrio Internacional de Prticas Educativas, Exposio dos Expoentes da Educao: Educadores Escolas e dos Movimentos Sociais.

    Outros marcos que ficaram cravados na histria dos indgenas na universidade foi a auto-dedicao de dez universitrios Potiguara de ministrarem aulas no Curso Pr-Universitrio aldeia Grupna, a partir do ano de 2011, objetivando ampliar o capital cultural dos seus parentes indgenas. Essa atividade tinha como finalidade rever os contedos especficos das provas do Processo Seletivo Seriado (PSS) da UFPB e do Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM).

    Ao decidirem por atuar na aldeia Grupina, situada no municpio de Marcao, que conta com uma populao de 300 habitantes, aproximadamente, os universitrios do PET Indgena enfrentam dois grandes obstculos: primeiro, de ordem geogrfica: a aldeia estava localizada numa rea de difcil acesso por possuir estradas de barro e ladeiras perigosas; segundo, de ordem estrutural: no havia translado pelos nibus

  • 24

    amarelinhos aos sbados. A Direo do CCAE em conjunto com as Secretarias Municipais, montaram um circuito de deslocamento dos universitrios com transportes de mdio porte. Registra-se que a ao em 2012, atingia 22 cidades da regio, sendo os universitrios do PET Indgena responsveis pelas aulas na aldeia dos municpios de Marcao, Rio Tinto e Baia da Traio. Na rea indgena tambm houve o apoio da FUNAI.

    Diante dessa realidade, houve uma inverso de trajeto, isto , ao invs dos estudantes irem at a sede do municpio, os bolsistas do PET que iam at eles, na aldeia Grupina. Isso facilitou at mesmo para os moradores das aldeias vizinhas, dentre as quais: Estiva Velha, Bento e Silva. A aldeia Grupina se tornou o polo da regio. At a implantao do PET, em 11 de junho de 2011, a aldeia Grupina, situada distante da cidade de Marcao, era vista como uma aldeia esquecida, sem perspectiva de maior ateno pelas autoridades. Se os indgenas desejassem estudar para alm das sries iniciais teria de fazer o seu deslocamento para outras escolas. E, aqueles que almejavam o ensino superior, o sonho era sempre adiado. Mas, a entrada no Cursinho e do PET Indgena revolucionou a aldeia: essa viso foi totalmente mudada. Um novo cenrio foi instalado, pois estudantes que pensavam em parar de estudar, renovaram suas esperanas: cursinho chegou e mudou essa histria.

    O Curso Pr-Vestibular do PET durante trs anos de durao foi composto por um grupo de 12 graduandos indgenas Potiguara bolsistas, sendo 10 deles voltados para o Curso Pr-Universitrio. Os outros dois bolsistas ficaram encarregados com os focados na pesquisa foram: Iracilda Cinsio Gomes graduanda em Bel. em Ecologia e Gess Viana da Silva graduando no Curso de Licenciatura Cincia da Computao. Destacam-se nessa ao universitria: Rayssa da Costa Ciraco, Isac Faustino

  • 25

    Gomes, Jessica da Silva Ferreira, Jessica Nascimento da Silva, Antnio Isidoro Pascoal Neto, dentre outros. Segue, o quadro com indgenas professores(as): Quadro1: universitrios do PET Indgena que assumiram aes educativas no Cursinho Pr-Vestibular no CCAE-UFPB. 2011 a 2013.Estudantes Curso Disciplina que ministraDanieide Silva Cndido Ecologia - P4 LITERATURAMaicon Babosa Ecologia - P4 HISTRIAIranilza Cinsio Gomes Secretariado Executivo

    Bilngue- P5ESPANHOL

    Juracy Deyse Delfino Soares Secretariado Executivo Bilngue- P3

    INGLS

    Eva Tnia Viana Pedagogia - P4 BIOLOGIAGilvania Hilrio Pedagogia - P4 L N G U A

    PORTUGUESAElizabete Maximo de Lima Pedagogia - P6 GEOGRAFIALeonardo Cinsio Gomes Matemtica - P1 FSICAJussara Clementino Matemtica - P9 MATEMTICAJacquiele da Silva Ferreira Matemtica - P5 QUMICA

    Fonte: informaes coletadas junto aos estudantes universitrios indicados no presente quadro. (Rio Tinto-PB, CCAE, 2016)

    Nos anos de 2011 e 2012, cerca de 60 estudantes indgenas participaram do Cursinho orientado pelo PET Indgena. Muitos deles moram distante do Polo Grupina. As aulas ocorriam aos sbados, pois os estudantes tinham disponibilidade, mas tal definio ocorreu aps vasto dialogo com estudantes nas aldeias. Um aspecto que favoreceu a presena dos indgenas foi o fornecimento de alimentao gratuita. A pausa para a alimentao do corpo, alimentava tambm a esperana dos indgenas chegarem ao espao universitrio, pois esse espao passou a ser marcado pelos dilogos sobre a vida gerando sociabilidade, onde as histrias e sonhos eram compartilhados.

    Dois anos depois da implantao do cursinho pr-vestibular do PET na aldeia Grupina, com a aprovao de mais de cinco

  • 26

    alunos do cursinho, e com a realidade de prestar os vestibulares mudada, uma vez que antes da chegada do PET na regio os estudantes que concluam o Ensino Mdio, no prestavam o vestibular. O PET implanta seu cursinho na aldeia Camurupim em Marcao PB. Uma a aldeia posicionamento estratgico que foi definida como polo para a regio, pois fica prximo das aldeias Tramataia, Val e Caieira.

    O Cursinho, a exemplo das aes na aldeia Camurupim, cumpre papel de relevncia cultual para a comunidade Potiguara. NASCIMENTO & PALHANO SILVA (2013, p. 78-79) manifestam haver entre os Potiguara o fenmeno saberes da sobrevivncia algo indispensveis vida. Os saberes, compartilhados de gerao gerao, fortalecem a perpetuao das tradies, o cultivo dos valores tnicos, ampliam a unio dos universitrios indgenas aos troncos velhos e lideranas do povo Potiguara.

    Na verdade esse um caminho de mo dupla, pois instala-se uma convivncia com as culturas indgena e acadmica. Os universitrios indgenas e no indgena passam a vivenciam por meio de um conjunto de prticas pedaggicas, como oficinas de plantas medicinais, cultura, novas tecnologias, confeco de saiotes, feituras de maracas, tintas e pinturas reafirmando a identidade tnica Potiguara. As rodas de conversas e caminhadas nas aldeias, o contatos com Troncos Velhos e ambiente de produo, com a musicalidade e Tor, dentre outros elementos que vo gerando nova viso de mundo sobre o mundo tnico Potiguara.

    5 Resultados e Discusses

    Um dos maiores resultados foi mudar o imaginrio de indgenas que achavam impossvel o acesso ao Ensino Superior.

  • 27

    Os depoimentos dos professores indgenas, da mesma idade, de aldeias prximas, que tem a mesma realidade de muitos deles, contribuiu, sensivelmente, para eles acreditarem que o sonho era possvel: a aprovao na universidade. O conhecimento adquirido, a troca e a partilha de saberes, marcou a vida de quem era discente e docente, alm de fomentar entre eles, o exerccio para a cidadania. O cuidado e o carinho, as conversas e as orientaes, as oportunidades e as esperanas mudaram a histrias de todos os envolvidos nesse projeto.

    Os indgenas carregam consigo os saberes milenares dos ancestrais e bebem tambm dos saberes sistematizados na academia. A juno dessas duas fontes proporciona aos petianos, no s um apoio econmico, como tambm crescimento pessoal/acadmico. O grupo um ninho de partilha da vida e dos sonhos individuais e coletivos. So muitas as descobertas que estudantes e professores edificam nessa grande teia das relaes.

    O Curso Pr-Vestibular oferecido pelo PET Indgena, alm de contribuir com a entrada dos Potiguara no Ensino Superior, tambm acaba proporcionando muitas lies e ensinamentos para a vida de quem um dia conviveu com esses aguerridos Potiguara. Um destaque o fato dos universitrios indgenas ter ministrado aulas para os parentes indgenas, algo jamais visto na histria de seu povo, legado que ficar para sempre nos anais do CCAE/UFPB. A vitria de cada Potiguara, aprovado no Ensino Superior, tambm vitria de toda equipe do PET. Ensino, pesquisa e extenso vai sendo gestado paulatinamente, rompendo desafios e proporcionando a materializao que o sonho pode ser realidade.

    Depois da instalao do cursinho nas aldeias a realidade do Povo Potiguara foi visivelmente modificada. A entrada dos

  • 28

    Potiguara nos cursos de Ensino Superior da UFPB, em especial no campus IV, j no mais novidade. De acordo com dados da Associao dos Universitrios Potiguara (AUP) hoje a UFPB possui cerca de 180 Universitrios Indgenas cursando uma graduao em todos os seus campus espalhados pela Paraba. Registra-se a presena de Potiguara em outras universidades como, a UnB, UFRN.

    Este fato traz impacto para a sociedade acadmica, para a realidade das aldeias e para a sociedade como todos, pois ter o acesso ao conhecimento acadmico no mais um privilgio para poucos, para a classe mais favorecida, com o cursinho e com a vinda do Campus IV para a vizinhana do Povo Potiguara toda a realidade foi modificada trazendo mudana no sistema educacional brasileiro.

    A iniciativa do Curso Pr-Vestibular no vale do Mamanguape no territrio Potiguara, trouxe resultados concretos para o Povo Potiguara. Percebe-se que foram desencadeadas um conjunto de prticas educativas mediatas pelos dilogos sistemticos, tematizando questes do vivido nas aldeias e do vivido na universidade favorecendo a formao intelectual, estimulando a permanncia no espao universitrio e ampliando vnculos dos saberes acadmicos e tradicionais. Guardadas as devidas propores, foram prticas que propiciam que novos coletivos de jovens indgenas tomassem conhecimento sobre a universidade, bem como, que jovens universitrios mantivesse contatos com a cultura indgena Potiguara. Pode-se dizer, que um capital cultural vai sendo paulatinamente constitudo, marcadas pelos valores e saberes interiorizados e externalizados em coletivo (PALHANO SILVA, 2016).

  • 29

    O CCAE com seus Cursos, Bases de Pesquisas e Extenso, inserido no corao do Vale do Mamanguape Paraibano, ao completar 10 anos de trajetria educativa, comea a ser um espao acadmico, onde estudantes indgenas realizam seu sonho de ingressar no ensino superior, vivenciando do ensino, a extenso e pesquisa. Mesmo reconhecendo que h muito por fazer, acreditamos que os esforos reunidos e praticados vem gerando paulatinamente o acesso dos indgenas Potiguara nos registros de concluintes nos diversos cursos do CCAE. de se realar, a ampliar da sociabilidade entre os segmentos indgenas e no indgenas, exercitado na disputa e troca de cultural. Um novo capital cultural vai sendo gestado pela articulao dos saberes da cincia e da tradio tnica, onde universitrios indgenas realizam a mediao no cotidiano da aldeia, ao mesmo tempo que identificam novas demandas para atualizar a agenda da UFPB, mas especialmente, nesse movimento emerge a esperana que fortalece a busca de novos horizontes nas terras potiguara.

    Referncias

    BANIWA, Gersen Luciano. (2009), Indgenas no Ensino Superior: novo desafio para as organizaes indgenas e indigenistas no Brasil. In: SMILJANIC, M. I. (org.); PIMENTA, J. (org.); BAINES, S. T. (org.). Faces da Indianidade. UNB. Curitiba-PR. p 187-202.

    BARCELLOS, Lusival Antnio. Prticas educativo-religiosas dos indgenas Potiguara da Paraba. 2005. 310 f. il. Tese (Doutorado em Educao) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005.

    ______; NASCIMENTO, Jos Mateus do. O povo Potiguara e a luta pela etnicidade. In: NASCIMENTO, Jos Mateus do (Org.). Etnoeducao Potiguara Pedagogia da Existncia e das Tradies.

  • 30

    Joo Pessoa: Ideia, p. 11-25, 2012.

    BRASIL, Conselho Nacional de Educao Cmara da Educao Bsica. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educao Escolar Indgena -n. 3, Joo Pessoa: DPG/SEC/PB, 2004.

    ______. Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade. Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indgenas (RCNEI). Braslia: MEC/SECAD, 2005.

    FREIRE. Paulo. Educao e atualidade brasileira. Recife: Universidade Federal do Recife, 1992.

    ______. Paulo. Educao como prtica da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 28, 2004.

    GRUPIONI, L. D. B. Contextualizando o campo da formao de professores indgenas no Brasil. In: GRUPIONI, L. D. B. (org.), Formao de professores indgenas: repensando trajetrias. Coleo Educao para Todos. Edio MEC/UNESCO. Braslia, fevereiro, 2006.

    LOBO, Roberto; HIPOLITO, O.; MOTEJUNAS, P. R.; LOBO, M. B. C. M.. A Evaso no Ensino Superior Brasileiro. Cadernos de Pesquisa (Fundao Carlos Chagas. Impresso), v. 37, p. 641-659, 2014.

    LIMA, Antonio Carlos de Souza & HOFFMAN, M. B. (orgs.). Seminrio Desafios para uma educao superior para os povos indgenas no Brasil. 2007. Disponvel em: http://www.trilhasdeconhecimentos.etc.br/livros/index.htm.

    MAGALHES, Edvard Dias. (Org.). Legislao Indigenista Brasileira e normas correlatas. 3. ed. Braslia: FUNAI/CGDOC, 2005.

    MEC. Disponvel em: . Acesso em: 10 de abril 2012.

    NASCIMENTO, Jos Mateus e PALHANO SILVA, Paulo Roberto. Educao escolar Indgena Potiguara. In: Etnoeducao Potiguara.

    http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Educa%C3%A7%C3%A3o_como_pr%C3%A1tica_da_liberdade&action=edit&redlink=1http://www.trilhasdeconhecimentos.etc.br/livros/index.htmhttp://www.trilhasdeconhecimentos.etc.br/livros/index.htm

  • 31

    Pedagogia da Existncia e das Tradies. Joo Pessoa, Editora Ideia, 2013.

    NASCIMENTO, Rita Gomes. Rituais de resistncia: experincias pedaggicas Tapebas. 2009. 209 f., principalmente il. collor. Tese (Doutorado em Educao) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, p. 96, 2009.

    PALITOT, Estvo Martins. Os Potiguara da Baa da Traio e Monte-Mr: histria, etnicidade e cultura. Dissertao apresentada Coordenao do Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade Federal da Paraba e Universidade Federal de Campina Grande. Joo Pessoa PB, p. 54, 2005.

    PNE. Disponvel em:www.revistaensinosuperior.uol.com.br. Acesso em: 10 de abril 2012.

    UFPB. Disponvel em: Acesso em: 25 de julho 2016.

    http://www.revistaensinosuperior.uol.com.br

  • 32

  • 33

    NARRATIVAS INSLITAS NA SALA DE AULA: FORMAO DE LEITORES NO VALE DO

    MAMANGUAPE

    Luciane Alves SantosMichelle Bianca Santos Dantas

    Thase Gomes Lira

    1 Introduo

    O trabalho em questo justifica-se pela necessidade de reflexo acerca da articulao entre o ensino e a formao contnua, elementos fundamentais para os estudantes de licenciatura das Universidades. Aes dessa natureza se tornam possveis por meio de atividades como as dos projetos do Programa de incentivo licenciatura - Prolicen: Literatura greco-romana em sala de aula e Fico Distpica: novas frmulas para jovens leitores, que propiciam o entrelaamento da teoria e da prtica pedaggica, movimento essencial tanto formao profissional quanto cidadania.

    Ao mesmo tempo, destacamos que o presente trabalho fruto de uma discusso mais ampla, vinculada s produes, estudos de professores e alunos do Curso de Letras CCAE/UFPB, compartilhadas e aprofundadas no grupo de pesquisa Variaes do inslito: do mito clssico modernidade (CNPq/UFPB).

    As motivaes para as pesquisas e aes voltadas para o ensino de literatura envolvem mitos sobre os parcos hbitos de leitura do povo brasileiro, e o que se pode afirmar sobre o tema

  • tem fundamentos histricos e econmicos, que consideram: o grau de escolaridade; a influncia de pais e professores na iniciao leitura literria; o acesso a bibliotecas dentro e fora das escolas; o alto preo do livro no Brasil; e o ritmo de vida adotado no sculo XXI, que inclui o perodo dirio de estudos, o de trabalho e ainda o tempo dedicado s redes sociais, particularmente, pelos jovens.

    Nesse sentido, torna-se pertinente a reflexo sobre a elaborao de alternativas para contribuir na formao de leitores a partir dos primeiros anos da vida escolar. Portanto, as aes de leitura, aqui discutidas, podem ser aplicadas considerando as categorias do inslito que se manifestam em diferentes linguagens, como a literatura, a msica e o cinema.

    Percebemos, diariamente e em todos os lugares, o relevante interesse dos jovens pelas narrativas do Maravilhoso, como a mitologia greco-romana, presentes nos livros, filmes, games, sries, todos de grande respaldo do pblico infantil e juvenil. Para que possamos ter ideia desse interesse, as duas sries do autor norte-americano Rick Riordan, Percy Jackson & os olimpianos1 e Os Heris do Olimpo2, venderam milhares de cpias em todo o mundo, sendo traduzidas para diversos pases. Jovens de todo o mundo acompanham a saga do semideus Percy, e, no Brasil, como no diferente, seus fs chamam-se de os de sangue puro, os olimpianos, e interagem atravs de grupos e blogs nas redes sociais. Inclusive, esse sucesso de pblico verificado tanto por jovens da classe mdia-alta, como tambm pelos menos 1 Essa primeira srie dedica-se a temtica da mitologia grega e composta pelas obras O Ladro de Raios, O Mar de Monstros, A Maldio do Tit, A Batalha do Labirinto e O ltimo Olimpiano. Inclusive, os dois primeiros tornaram-se os filmes Percy Jackson e O ladro de raios (2010), dirigido por Chris Columbus, e Percy Jackson e o Mar de monstros (2013), dirigido por Thor Freudenthal, ambos produzidos pelo estdio Century Fox. Tambm essa srie j rendeu a adaptao para os quadrinhos O ladro de raios (2011) e A maldio do tit (2014).

    2 Essa srie tem como tema norteador a mitologia romana e composta pelas obras O Heri Perdido, O Filho de Netuno, A Marca de Atena, A Casa de Hades e O Sangue do Olimpo.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Lightning_Thiefhttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Lightning_Thiefhttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Lightning_Thiefhttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Lightning_Thiefhttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Sea_of_Monstershttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Sea_of_Monstershttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Sea_of_Monstershttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Titan%27s_Cursehttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Titan%27s_Cursehttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Titan%27s_Cursehttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Battle_of_the_Labyrinthhttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Battle_of_the_Labyrinthhttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Battle_of_the_Labyrinthhttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Last_Olympianhttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Last_Olympianhttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Lost_Herohttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Lost_Herohttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Lost_Herohttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Lost_Herohttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Son_of_Neptunehttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Son_of_Neptunehttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Mark_of_Athenahttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Mark_of_Athenahttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Mark_of_Athenahttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_House_of_Hadeshttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_House_of_Hadeshttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_House_of_Hadeshttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Blood_of_Olympushttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Blood_of_Olympus

  • 35

    favorecidos socialmente. Esse pblico fascinado pelas aventuras e pelos poderes de um jovem comum que, em pleno sculo XXI, descobre ser filho de Poseidon e, tambm, que os deuses continuam vivos, habitando o Monte Olimpo, localizado em Nova York, no Empire State Building. Pela dimenso do pblico, estima-se que a srie est entre as mais vendidas e de maior sucesso da histria. Tal encanto da juventude pela mitologia fez com que o autor lanasse uma trilogia baseada na mitologia egpcia, As Crnicas dos Kane (2012), e vem preparando outra sobre a mitologia nrdica, ainda no publicada.

    Ao mesmo tempo, acompanhamos tambm a tendncia da invaso de romances de vertentes inslitas, como o incontestvel sucesso alcanado pela gerao Harry Potter, da britnica J. K. Rowling (1997) ou a bem recebida distopia de Suzanne Collins, Jogos Vorazes (2010). Essa nova combinao literria ganhou enorme adeso entre os jovens leitores. Acreditamos que so textos dessa natureza importantes dispositivos para atrair novos leitores, cada vez mais preciso buscar a expanso dos horizontes e no apenas reafirm-los; desafiar o educando para conhecer o outro, o novo, o diferente; estabelecer metas ambiciosas e fixar patamares elevados de leitura a serem gradativamente conquistados (CECCANTINI, 2004, p.134).

    evidente que do mito clssico s distopias contemporneas, as manifestaes inslitas, em seu carter hbrido, esto presentes na literatura, no cinema, na pintura e em diferentes formas de representao. Trata-se de uma modalidade rica e expressiva que nos remete a uma gama simblica de temas, situaes e cenrios que se desdobram em uma enorme experincia esttica. Por sua via direta com o imaginrio, pela presena de acontecimentos

    https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Kane_Chronicleshttps://pt.wikipedia.org/wiki/The_Kane_Chronicles

  • 36

    singulares e inquietantes, apresenta considervel abertura pedaggica para que diferentes linguagens sejam exploradas na Educao Bsica.

    2 Nas trilhas do inslito

    Para melhor delinear os caminhos percorridos em nossa abordagem terica, apresentaremos alguns pontos importantes em relao conceituao das categorias ficcionais aqui analisadas.

    A palavra inslito, do latim insolitus, reconhecida como um fenmeno que transgride as leis naturais e que abala a ordem de uma situao conhecida para causar estranheza. Em todas as pocas da criao literria, os fenmenos extraordinrios esto associados a uma multiplicidade de mundos imaginrios, uma vez que geram a ruptura da ordem cotidiana. Como categoria ficcional, a modalidade expressiva que nos remete a um arsenal simblico de temas, situaes e cenrios, que se desdobra em uma enorme experincia esttica.

    Atuando em diferentes formas, o inslito apresenta-se como demonstrao de liberdade, como exteriorizao de questionamentos ao improvvel que rodeia o pensamento individual e social, a arte que desestrutura a capacidade de compreenso do mundo real e que engendra uma nova forma de apreenso da realidade.

    Do ponto de vista histrico, o sculo XIX foi dominado pelo Positivismo que refutou o obscurantismo, a religio e a imaginao, concentrando-se na passagem de uma viso mstica de mundo para uma viso fundada apenas em princpios cientficos. Em meio a esse movimento cientificista, surgiram novas prticas experimentais que procuraram compreender a vida de outras

  • 37

    formas, repelindo teorias excessivamente reducionistas e racionais para integrar o mistrio e a incerteza s esferas do real. Uma nova inteno exploratria dirige seu olhar para os territrios obscuros e insondveis do esprito humano, assiste-se ao renascimento do irracional. Este foi o sculo por excelncia das utopias, das viagens extraordinrias, dos experimentos cientficos e de toda forma de transgresso com o real. Cada vez mais a literatura que expressa o inconcebvel passou a traduzir as angstias do homem moderno, aquele que passou pelas guerras, que conheceu o avano tecnolgico e cientfico, que entrou em crise com a religio e no encontrou conforto espiritual.

    Na entrada do sculo XX, inmeros contistas e romancistas apropriaram-se do inslito nas formas do Fantstico, do Maravilhoso, do Estranho entre outras, para produzir um tipo de literatura mais afinada ao imaginrio do leitor contemporneo. Em novos tempos, notadamente a partir da segunda metade do sculo XX, as narrativas que abordam as rupturas da ordem cotidiana constituem as mais importantes tentativas de renovar o inslito ficcional.

    Nas literaturas de lngua portuguesa, esse movimento de recuperao e renovao do imaginrio se fez presente de forma inequvoca nas obras de escritores consagrados como Murilo Rubio, Jos Jacinto Veiga, Lygia Fagundes Teles, Mia Couto, Jos Saramago, Pepetela e toda uma gerao que promoveu, por meio da fico, a reviso crtica da condio humana.

    Dadas as especificidades dos estudos acerca do inslito ficcional, inevitvel a diviso e a classificao das categorias que compem essa rea de estudos. Apresentaremos as duas

  • 38

    mais significativas que envolvem nossos objetos de trabalho: o Maravilhoso e a Distopia.

    2.1 O Maravilhoso

    A palavra maravilhoso deriva do latim mirabilia e tem como definio as coisas admirveis que causam espanto ou admirao. O termo, uma vez incorporado literatura, representa aes que transgridem as leis naturais que regem o mundo. Para Irlemar Chiampi (1980, p.48) Maravilhoso o extraordinrio, o inslito, o que escapa ao curso ordinrio das coisas e do humano. Partindo dessas definies, pode-se inferir que o universo literrio engendrado pelo maravilhoso permite o mergulho em uma realidade paralela que no rivaliza com o mundo natural; ao contrrio, trata-se da suspenso do mundo cotidiano, ordinrio e banal, para a aceitao de elementos sobrenaturais, intrigantes e fabulosos que intervm sem explicaes num mundo j concebido como irreal.

    As primeiras manifestaes do maravilhoso remontam sculos e se confundem com a prpria origem da literatura, atravs dos mitos, epopeias, tragdias e outros textos greco-romanos. Trata-se de um gnero que tem servido para designar a forma primordial do imaginrio de obras de todas as latitudes culturais (CHIAMPI, 1980, p.49). Se assim o entendemos, fato que, ao longo da histria da humanidade, a mente humana tem sido alimentada por histrias maravilhosas que envolvem magias, elementos sobrenaturais e situaes estranhas. No sculo VIII a.C., A Odisseia, de Homero, representou fonte inesgotvel do poder de criao e enfrentamento com situaes de carter absolutamente fantsticos. Na obra de Homero, todas as intervenes fantsticas

  • 39

    so concebidas como naturais; a presena das divindades greco-romanas encarada como elemento comum trajetria dos personagens. O clebre protagonista Ulisses no se surpreende nem aqueles que esto sua volta com os vrios obstculos maravilhosos: a presena do Ciclope, o encontro com Cila e Carbdis, os conselhos da deusa Atena, a visita ao Hades, a fria dos deuses entre outros, que se opem ao seu retorno a taca.

    No apenas na literatura pag encontram-se fortes traos desse universo transgressor, eles tambm so largamente reconhecidos na Literatura Novelstica Popular Medieval fortemente influenciada por aspectos cristos. Na Idade Mdia, o termo maravilhoso constitui um amlgama de questes ligadas s divindades religiosas e pags: a conhecida histria do mago Merlin, de Robert de Boron, representa as razes do paganismo celta e as lendas em torno do Rei Arthur se tornaram um autntico porta-voz da cultura e da imaginao crist. Tambm as peripcias de Perceval, em A demanda do Santo Graal, de Chrtien de Troyes, confirmam a presena da religiosidade crist aliada a acontecimentos que rompem as fronteiras entre o natural e sobrenatural.

    2.2 A Distopia

    O termo Distopia resulta da unio do prefixo grego DIS que, segundo Faraco e Moura (1976), citado por Schneider (2010, p. 3), pode significar dificuldade e negao ao radical TOPOS, que significa lugar. O termo quer dizer, ento, Lugar Ruim ou Lugar Difcil. Dessa unio constata-se a oposio s Utopias, que Figueiredo define como locus da ao humana, perfeitas no por serem atribudas a um regimento metafsico qualquer, mas

  • 40

    por serem produzidas pelos homens e para os homens (2009, p. 325).

    Dessa forma, as utopias podem representar a melhor forma de organizao social, enquanto as distopias representam um lugar no-ideal para viver. Porm, segundo reflexo da referida autora, o prprio sistema utpico oferece bases distopia, ao passo em que tambm estabelece um limite sutil, no declarado abertamente, liberdade da populao submetida a tal sistema.

    Com efeito, os textos literrios definidos como distpicos descrevem uma sociedade imaginria, controlada por regimes totalitrios em que impera a negao da liberdade individual. A distopia a consequncia do exerccio de uma ideologia dominante, alicerada em um mundo organizado, obviamente, do ponto de vista do discurso oficial.

    Sob essa aparente organizao social, impera a uniformizao do pensamento a que os habitantes desse topus idealizado so submetidos. Nesse sentido, as distopias apresentam uma hierarquia social rgida: quem se encontra em situao de poder, oprime, e a maioria oprimida, relegada a pssimas condies de vida. Figueiredo (2009, p. 355-356) aponta oito principais caractersticas de um sistema distpico: totalitarismo; centralizao do poder; opresso de uma minoria em posio de poder sobre grupos inferiorizados; tecnologia avanada, aproximando-se do surreal; crticas sociedade vigente; ausncia de harmonia; populao com liberdade delimitada; protagonistas ou heris, uma vez identificados pelo poder central, so exilados ou eliminados.

    As distopias, tambm chamadas antiutopias ou contra-utopias, descrevem a sociedade humana do futuro em um estado

  • 41

    de crise que a hiprbole do presente; assim, nessas narrativas, o distanciamento temporal pouco marcado. Mais recentemente, as distopias so construdas de ecos dos gritos dos protagonistas de catstrofes atmicas ou ecolgicas. Para Gouanvic (1994, p. 34), as distopias so particularmente reveladoras de fantasmas e angstias coletivas que atravessam as sociedades ocidentais em determinadas pocas.

    As categorias brevemente apresentadas, a Distopia e o Maravilhoso, tm em comum a presena de elementos extraordinrios, no compatveis com a realidade ordinria e banal. Por transitarem com observvel aceitao entre os jovens leitores brasileiros, elas foram escolhidas para o desenvolvimento de nosso projeto.

    3 Propostas de interveno na Educao Bsica: o mundo maravilho dos mitos greco-romanos e as narrativas distpicas

    Iniciando a descrio das aes conjuntas entre professores e alunos da UFPB, em constante dilogo com docentes das escolas pblicas do Vale do Mamanguape, apresentaremos algumas reflexes sobre novas estratgias didticas para o desenvolvimento de atividades voltadas para o Ensino de Literatura.

    Um dos projetos utilizou como corpus os textos da Literatura Romana, j que toda sua simbologia e a presena mitolgica dos heris e deuses so bastante atrativas para os jovens leitores. Dessa maneira, nosso trabalho contribui, tanto com os alunos do Ensino Bsico, que tero a oportunidade de compreender melhor nossa literatura ocidental, suas origens e significados, como tambm para os alunos do Ensino Superior do Curso de Letras (CCAE), tendo em vista que refletiro sobre procedimentos didticos da

  • 42

    Literatura, ao mesmo tempo em que podero realizar a leitura de textos literrios e tericos que, muitas vezes, no so contemplados nos programas das disciplinas que constam na matriz curricular do Curso.

    Nossa perspectiva de trabalho corroborada por autores como talo Calvino (2007), Ana Maria Machado (2002), Girlene Marques Formiga (2011) e Maria Helena Zancan (2005) que justificam a importncia do nosso projeto, uma vez em que, em seus postulados, expem a importncia do ensino de Literatura e, principalmente, o trabalho com textos clssicos em sala de aula. Vejamos a assertiva abaixo:

    (...) os clssicos no so lidos por dever ou por respeito, mas s por amor. Exceto na escola: a escola deve fazer com que voc conhea bem ou mal um certo nmero de clssicos dentre os quais (ou em relao aos quais) voc poder depois reconhecer os seus clssicos. (CALVINO, 2007, p. 13).

    Como podemos ver, a citao acima ratifica a importncia de observarmos a escola como um locus de saber democrtico, cultural e histrico, que tem o papel fundamental de apresentar os clssicos aos alunos e estimul-los leitura, como nos diz talo Calvino (2007). Assim tambm como no podemos negar a relevncia que essas leituras podero trazer para as vidas desses estudantes, como enfatiza Ana Maria Machado (2002):

    Se o leitor travar conhecimento com um bom nmero de narrativas clssicas desde pequeno, esses eventuais encontros com nossos mestres da lngua portuguesa tero boas probabilidades de vir a acontecer quase naturalmente depois, no final da adolescncia. E podem ser grandemente ajudados na escola, por um bom professor que traga para sua classe trechos escolhidos de algumas de suas leituras

  • 43

    clssicas preferidas, das quais seja capaz de falar com entusiasmo e paixo. (MACHADO, 2002, p.13-14)

    importante a presena e a atuao do professor na formao do leitor desde as sries iniciais, pois esse aluno crescer cercado de obras, sejam adaptadas, sejam clssicas, e a sua insero naquela realidade moldar o seu perfil leitor, da mesma forma que a ausncia de obras de fcil acesso molda o perfil no-leitor. Alm disso, nesse percurso, no ignoramos que o uso das adaptaes pode ser uma boa ferramenta didtica, desde que trabalhada com eficincia metodolgica, a fim de que possamos ter xito em nossa proposta. Como nos orienta Girlene Formiga (2011), os alunos possuem contato com os clssicos muito mais pelas adaptaes (quadrinhos, filmes, jogos, textos adaptados), do que atravs dos originais. Dessa forma, as adaptaes podem ser utilizadas, caso julguemos ser necessrio, como ponto de partida, instrumento mediador, e no como finalidade de nossa proposta de leitura.

    Nesse processo, no podemos desconsiderar os questionamentos que existem, quase como ecos, que expressam certa resistncia, ou, no mnimo, ignoram trabalhos como o que defendemos: trabalhar com mitos e narrativas greco-romanas em sala de aula. Isso ocorre porque, na medida em que se defende a utilizao de textos esquecidos, ou, at mesmo, marginalizados pela hegemonia cultural, propondo-se um avano de perspectivas e uma inovao do corpus, alguns estudiosos compreendem que trabalhar com os textos clssicos refletem uma metodologia retrgada e pouco eficaz.

    Do nosso ponto de vista, a riqueza e a diversidade literria devem ser trabalhadas e discutidas em sala de aula. No podemos esquecer que a viso esttica e estratificada entre o

  • 44

    culto e o popular, por exemplo, tem uma razo social, mas que, muitas vezes, a prpria literatura insiste em romper. E por esse alcance que observamos a presena do mito/maravilhoso nas mais diversas expresses artsticas, demonstrando que na arte no existe hierarquizao e, sim, comunho de riquezas e tradies. Para tanto, lembremos da cano de um dos maiores repentistas do Brasil, Otaclio Batista, nascido no serto de Pernambuco e que comps os versos Mulher nova, bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor, musicada por Z Ramalho e cantada por diversos intrpretes, a exemplo da cantora cearense Amelinha. Nesta cano, o eu-lrico, a fim de enfatizar o poder do encanto proporcionado pela beleza de uma jovem mulher, recorre a um percurso histrico e mitolgico, desde a paixo de Pris por Helena, a de Alexandre por Roxana, a retratada na poesia de Cervantes, at chegar paixo de Virgulino por Maria Bonita. Assim, podemos observar a grandeza e a universalidade da arte potica, que atravessa o tempo e a geografia, seja ela clssica, popular, moderna, antiga, a matria artstica possui um propsito harmonizado, que o objetivo de alcanar e representar a essncia humana, seus amores, suas dores, seus anseios e suas emoes.

    Entendemos, assim, como enfatiza Rildo Cosson (2014), que o isolamento desses textos no ajuda a atingir a finalidade maior, que o aluno, e apresentar-lhe a diversidade e riqueza da literatura. Apresentar esses dilogos importante, at mesmo para que o aluno compreenda as novas construes, as desconstrues, as ampliaes e at mesmo as recusas ideolgicas e artsticas presentes nos textos, propiciando ao aluno um arcabouo de conhecimento que o tornar capaz de analisar e interpretar o texto literrio. Vejamos o que nos diz Rildo Cosson (2014):

  • 45

    Aceitar a existncia do cnone como herana cultural que precisa ser trabalhada, no implica em prender-se ao passado em uma atitude sacralizadora das obras literrias. Assim como a adoo de obras contemporneas no pode levar perda da historicidade da lngua e da cultura. A literatura deveria ser vista como um sistema composto de outros tantos sistemas. Um desses sistemas corresponde ao cnone, mas h vrios outros, e a relao entre eles dinmica, ou seja, h uma interferncia permanente entre os diversos sistemas. A literatura na escola tem por obrigao investir na leitura desses vrios sistemas at para compreender como o discurso literrio articula a pluralidade da lngua e da cultura. (COSSON, 2014, p. 34)

    Entretanto, muitas vezes, levamos para sala de aula os preconceitos e as separaes que tanto criticamos teoricamente, seja por limitao ou ao proposital e, ao invs de ampliarmos os horizontes de leitura, ns o restringimos a um micro e limitado espao, aprisionando a interpretao. E da decorrem as divises e os modismos, em que primeiro se defendeu o uso dos cnones no ambiente escolar, depois os textos contemporneos e/ou de linguagem mais simplificada e/ou os populares, como explica e critica Cosson (2014). Alm do mais, esse poder de permanncia que revigora a arte e o que hoje considerado moderno, num futuro prximo no o mais ser, mas isso dever faz-lo ser esquecido? Antoine Compagnon (2001), em O demnio da teoria, cita Saint-Beuve ao destacar que o que faz de um texto clssico no apenas a poca em que foi escrita, mas a fora de sua tradio que precisa ser mantida. Isso faz com que compreendamos tal assertiva, tendo em vista que a defesa da nossa tradio literria, tambm a defesa de nossa memria e essa postura, ao invs de ser um retrocesso, sinal de resistncia, pois o conhecimento de nossa histria que nos possibilita compreend-la e, inclusive,

  • 46

    transgredi-la. Compagnon, aps explicar o sentido do clssico para autores como Hegel, Gadamer, Max e Adorno, ainda completa:

    O surpreendente que as obras-primas perduram, continuam a ser pertinentes para ns, fora de seu contexto de origem. E a teoria, mesmo denunciando a iluso de valor, no alterou o cnone. Muito ao contrrio, ela o consolidou, propondo reler os mesmos textos, mas por outras razes, razes novas, consideradas melhores. (COMPAGNON, 1999, p. 254)

    Dessa maneira, nosso trabalho prope encontrar novas razes, a fim de que os mitos clssicos sejam trabalhados, no de modo que se apresentem nicos e/ou hierarquicamente superiores, mas que propiciem uma melhor formao, medida que se perceba o teor universal e simblico que integra a natureza mtica. Assim, explorando o maravilhoso mundo mtico, atrairemos e estimularemos os alunos a aprofundarem os seus conhecimentos literrios. Tambm no podemos deixar de considerar que essa fruio da arte um direito inalienvel, como nos faz pensar Candido (2012), e que a sua negao tem um propsito poltico e educacional muito maior, vejamos:

    Acabei de focalizar a relao da literatura com os direitos humanos de dois ngulos diferentes. Primeiro verifiquei que a literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e viso do mundo que ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto nos humaniza. Negar a fruio da literatura mutilar a nossa humanidade. Em segundo lugar, a literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situaes de restrio dos direitos, ou de negao deles, como a misria, a servido, a mutilao espiritual. Tanto num nvel quanto no outro ela tem muito a ver com a luta pelos direitos humanos. (...). Em nossa sociedade h fruio segundo as classes na medida em

  • 47

    que um homem do povo est praticamente privado da possibilidade de conhecer e aproveitar a leitura de Machado de Assis ou Mrio de Andrade. Para ele, ficam a literatura de massa, o folclore, a sabedoria espontnea, a cano popular, o provrbio. Estas modalidades so importantes e nobres, mas grave consider-las como suficientes para a grande maioria que, devido a pobreza e a ignorncia, impedida de chegar s obras eruditas. (CANDIDO, 2012, p.188-189)

    Constatamos que a maior parte dos nossos alunos do Ensino Bsico, principalmente os da Rede Pblica, so impedidos de terem acesso aos textos cannicos. Parte-se do pressuposto de que eles no precisam, no gostam, sem, ao menos, investir e (re) pensar as prticas com esses textos literrios, a fim de que, de fato, se alcance uma leitura reflexiva e crtica.

    Decorrente desse processo em busca do autoconhecimento cultural e artstico, poderemos propiciar aos alunos uma educao emancipadora e autnoma, como defende Adorno (2006). Pois s munido com os mais diversos conhecimentos, poder o aluno ter a efetiva liberdade, a fim de que possa ter uma autorreflexo crtica de suas necessidades, suas prioridades e interesses. No caso do ensino de Literatura, no o diferente, o alunado precisa conhecer os diversos gneros, os diversos autores, as diversas pocas, a fim de que possa ter a liberdade para definir suas preferncias e entender como elas se enquadram dentro de um processo maior que o da histria literria. No podemos perder de vista que Por mais que se tente apagar a origem do discurso de outrem, ele reaparece, ainda que sob a forma de um estranhamento ou de rudo- na harmonia do texto (ALS, 2006, p.3). O reconhecimento dessa polifonia ou, como chama Als (2006), desse concerto de vozes, no habilita o leitor a fazer uma interpretao hierarquizada e, sim, o possibilita de faz-la mais ampla e profunda. Assim,

  • 48

    defendemos que s atravs da disposio plural de textos em sala de aula poderemos formar, efetivamente, leitores que sejam capazes de vir a escolher os seus prprios textos, enfim, os seus prprios clssicos.

    A ideia de proporcionar aos jovens leitores ao reconhecimento das diversidades narrativas nos leva segunda etapa do projeto: as narrativas distpicas. Esse projeto consistiu em intervenes pontuais, em sala de aula, com apresentao da temtica da Distopia, como vertente da Fico Cientfica, que apresenta forte afinidade com o pblico adolescente. O corpus literrio utilizado para estudo foi o romance distpico norte-americano Jogos Vorazes, de Suzanne Collins (2010).

    Se existe, de fato, uma crise de leitura no Brasil, ela est associada falta de prticas efetivas de leitura na escola, ao pouco interesse na ampliao de bibliotecas e criao de salas de leitura, de forma que, para o estudante de ensino fundamental e mdio, Literatura ainda se configure como a parte maante que eles precisaro enfrentar s vsperas do vestibular. Joseane Maia (2007) problematiza a crise apontando os corpos discente e docente como os principais envolvidos em uma crise que vai muito alm dos problemas de leitura:

    (...) embora a crise da leitura seja corolria de uma crise bem maior, que engloba questes de ordem poltica, econmica, social e cultural, para o universo escolar que direciono minhas indagaes, por ser esse o espao onde esto situados os sujeitos principais da histria da formao de leitores: o professor e o aluno. (MAIA, 2007, p. 17)

    Nesse sentido, a temtica da Distopia, que apresenta, em seu universo apocalptico, questes polmicas sobre tica, moral e cidadania, estabelece as bases para debate e reflexo entre os

  • 49

    alunos adolescentes. Ressaltamos a escolha do tema Distopia porque este se apresenta como a vertente da fico cientfica em que se renem, mais fortemente, os elementos da ao e da luta do indivduo contra organizaes de controle e poder que sufocam a liberdade individual; a Distopia estimula o questionamento do status quo e o engajamento de jovens nas lutas em prol do bem coletivo. Indo de encontro apologia a mundos utpicos e sociedades perfeitas, a Distopia direciona-se descrio de futuros sinistros e atemorizantes, em cenrios apocalpticos. Podemos configurar tal perspectiva em ferramentas de conscientizao sobre o futuro da humanidade.

    A mudana no hbito leitor brasileiro pode ter bases nas novas narrativas que se tornaram sucessos de pblico no exterior e no Brasil, a exemplo dos j citados fenmenos editoriais Harry Potter, de J. K. Rowling, e Percy Jackson, de Rick Riordan. Tais leituras, por serem best-sellers so desconsideradas como literatura pela Academia, condenadas porque atingem as massas. Zilberman e Rsing afirmam em seu prefcio que:

    (...) a globalizao e o neoliberalismo impuseram novas formas de financiamento da cultura, visto que o estado, em muitas ocasies, deixa-a ao desamparo. Por outro lado, obsolesceram crticas, como as emanadas dos pensadores associados Escola de Frankfurt, condenando a indstria cultural, e seus subprodutos, como os best-sellers, as histrias em quadrinhos, a novela de televiso, ou as manifestaes populares, como o cordel, o funk, o rap e o hip-hop, expresses muitas vezes annimas, como o causo, no meio rural, o grafite, no cenrio urbano, e a fanfiction, no ambiente digital. (ZILBERMAN & RSING, 2009, p. 12)

    Essas autoras debatem ainda que as mudanas ocorridas no Brasil e no mundo, no sculo XXI, propiciaram essa maior

  • 50

    difuso de obras literrias, tanto no suporte do livro fsico como no eletrnico, com livros em formato e-pub e PDF. A praticidade da leitura e a aquisio de livros em seus diferentes suportes, longe de afastarem os jovens das literaturas cannicas, abrem um espao propcio para que este pblico, uma vez iniciado no hbito e no gosto pela leitura, busque a chamada alta literatura por conta prpria, o que lhe proporcionar uma outra forma de prazer esttico.

    As obras citadas, entre muitas outras, apresentam um ponto em comum: elas falam a linguagem do pblico juvenil, e possuem um apelo especial ao pblico adolescente do sculo XXI, que busca narrativas mais rpidas, leves e favorecem o prazer de uma leitura sobre a qual podero conversar com outros amigos da mesma idade, com adultos e tambm com crianas; esse jovem busca histrias que possam adequar-se ao seu novo ritmo de vida, que rpido e fluido, o jovem deste sculo vigoroso e apaixonado, est sempre portanto aparelhos eletrnicos, conectado em redes sociais e reunido com os amigos em ambientes fsicos ou virtuais, pelos quais podem criar grupos e fruns para debaterem o que tm visto e lido.

    Considerando o perfil dos jovens alunos, nossa proposta de interveno enfocou os fundamentos da Fico distpica presentes na obra Jogos Vorazes, em duas diferentes linguagens: Literatura e Cinema. Dessa forma, proporcionamos a aproximao entre o aluno e o texto literrio distpico e, tambm, a verso para cinema da mesma obra. O primeiro livro distpico de Suzanne Collins ambientado em um mundo ps-apocalptico, com uma configurao social, econmica e geogrfica diferente da realidade atual, porm com fundamentos na nossa histria mundial. A obra

  • 51

    estruturada em trs partes de nove captulos, apresenta uma narradora-personagem e narrada no tempo presente.

    Segundo sua premissa, a Amrica do Norte no existe mais: em seu lugar, h a nao Panem, com doze distritos cujos moradores vivem em extrema pobreza, sendo governados rigidamente pela administrao totalitarista da Capital, que utiliza ameaas e diferentes formas de violncia para manter o controle e a ordem.

    A Distopia, h muito presente na literatura universal, possui um valor literrio notvel e tambm social e cvico: no choque entre a obedincia cega a um governo ou corporao versus a rebelio contra o sistema; no patriotismo cego e na alienao, nela questionados; na fome e na misria por ela denunciados; na represso pela violncia e nos exageros polticos realizados.

    4 Algumas consideraes

    Ao nos debruarmos sobre reflexes e propostas para o Ensino de Literatura, tentamos colaborar para a superao das histricas dificuldades que se apresentam no processo de formao do jovem leitor. Acreditamos que o trabalho com diferentes narrativas inslitas, a exemplo do Maravilhoso e da Distopia, carrega enorme potencial para a formao de leitores de textos literrios.

    Ressaltamos que, como assinala Cosson (2014, p. 35), o critrio para seleo de leituras na escola no implica o reconhecimento do passado em atitude sacralizadora da obra literria, valorizando somente as obras de referncia. preciso, de fato, que as escolhas considerem os gostos dos jovens brasileiros, sem ceder severidade de julgamentos que no atendem, e muitas

  • 52

    vezes pouco conhecem, as realidades escolares. assim que tem lugar na escola o novo e o velho, o trivial e o esttico, o simples e o complexo e toda a mirade de textos que faz da leitura literria uma atividade de prazer e conhecimentos singulares (COSSON, 2014, p. 36). Da a importncia de se investir em obras de diferentes temticas, de forma que ambos os estilos, clssico e contemporneo estejam presentes no desenvolvimento da proficincia leitora dos alunos da Educao Bsica.

    Referncias

    ADORNO, Theodor. Educao e emancipao. Trad. Wolfgang Leo Maar. So Paulo: Paz & Terra, 2006.

    ALS, Anselmo Peres. Texto literrio, texto cultural, intertextualidade. Revista Virtual de Estudos da Linguagem ReVEL. V. 4, n. 6, maro de 2006.

    CALVINO, talo. Por que ler os clssicos? Trad. Nilson Moulin. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.

    CANDIDO, Antonio. O direito literatura. In: Vrios Escritos. Rio de Janeiro: Duas Cidades, 2012, p. 169 a 191.

    CECCANTINI, Joo Luis C.T. Literatura infantil a narrativa. In: Pedagogia cidad cadernos de formao em Lngua Portuguesa. So Paulo: Unesp, 2004.

    CHIAMPI, Irlemar. O realismo maravilhoso. So Paulo: Perspectiva, 1980.

    COLLINS, Suzanne. Jogos Vorazes. Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2010.

    COMPAGNON, Antoine. O demnio da teoria: literatura e senso comum. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999, 305 p.

  • 53

    COSSON, Rildo. Letramento Literrio: teoria e prtica. So Paulo: Contexto, 2014.

    FIGUEIREDO, Carolina Dantas. Da utopia distopia: poltica e liberdade. Recife: Revista Online de Literatura e Lingustica Eutomia, Julho/2009.

    FORMIGA, Girlene Marques. As vrias formas de ler clssicos literrios: uma proposta com as adaptaes. In: Ensinar literatura atravs de projetos didticos e de temas caracterizadores. (Org) Socorro de Ftima Pacfico Barbosa. Joo Pessoa: UFPB, 2011.

    GOUANVIC, Jean-Marc. La Science-fiction franaise au XXe sicle (1900-1968): essai de socio-potique dun genre en mergence. Paris: Rodopi, 1994.

    MACHADO, Ana M. Como e por que ler os Clssicos Universais desde cedo?. Rio deJaneiro: Editora Objetiva. 2002, 145 p.

    MAIA, Joseane. Literatura na formao de leitores e professores. So Paulo: Paulinas, 2007.

    SCHNEIDER, Luizane. A semntica dos prefixos de- e dis- para as palavras de base. Artigo apresentado no II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: Diversidade, Ensino e Linguagem, 06 a 08 de outubro de 2010. Cascavel-PR Unioeste, 2010. Disponvel em: http://cachp.unioeste.br/eventos/iisnel/CD_IISnell/pages/simposios/simposio%2001/asemanti cadosprefixosde-edis-paraaspalavrasdebase.pdf> Acesso em: 05 mar 2014.

    ZILBERMAN, Regina & RSING, Tania M. K (Org). Escola e leitura: velha crise, novas alternativas. So Paulo: Global, 2009.

    http://cachp.unioeste.br/eventos/iisnel/CD_IISnell/pages/simposios/simposio 01/asemanticadosprefixosde-edis-paraaspalavrasdebase.pdfhttp://cachp.unioeste.br/eventos/iisnel/CD_IISnell/pages/simposios/simposio 01/asemanticadosprefixosde-edis-paraaspalavrasdebase.pdfhttp://cachp.unioeste.br/eventos/iisnel/CD_IISnell/pages/simposios/simposio 01/asemanticadosprefixosde-edis-paraaspalavrasdebase.pdfhttp://cachp.unioeste.br/eventos/iisnel/CD_IISnell/pages/simposios/simposio 01/asemanticadosprefixosde-edis-paraaspalavrasdebase.pdfhttp://cachp.unioeste.br/eventos/iisnel/CD_IISnell/pages/simposios/simposio 01/asemanticadosprefixosde-edis-paraaspalavrasdebase.pdfhttp://cachp.unioeste.br/eventos/iisnel/CD_IISnell/pages/simposios/simposio 01/asemanticadosprefixosde-edis-paraaspalavrasdebase.pdfhttp://cachp.unioeste.br/eventos/iisnel/CD_IISnell/pages/simposios/simposio 01/asemanticadosprefixosde-edis-paraaspalavrasdebase.pdfhttp://cachp.unioeste.br/eventos/iisnel/CD_IISnell/pages/simposios/simposio 01/asemanticadosprefixosde-edis-paraaspalavrasdebase.pdf

  • 55

    EDUCAO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE NO VALE DO

    MAMANGUAPE\PB: ESTUDO DE CASO NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL

    E MDIO PROF. LUIZ GONZAGA BURITY\PB

    Joel Silva dos SantosCarla Soraia Soares de Castro

    Frederico Gustavo Rodrigues Frana Hayme Nascimento de Alencar

    Henrique SantosMayara Soares

    Samara Alexandre de Souza

    1 Introduo

    No comeo da histria da humanidade os indivduos precisavam conhecer o seu ambiente para sobreviver. Devido aos avanos tecnolgicos h a iluso de que o homem moderno depende menos do ambiente natural. Dessa forma, o grande paradoxo da atualidade o fato de que, mesmo com o avano tecnolgico alcanado pelo ser humano, ele depende diretamente dos recursos naturais para a sua sobrevivncia e o desenvolvimento de suas atividades socioeconmicas (ODUM, 1988, p.1).

    O ser humano est imerso na biosfera, um grande sistema de partes funcionais e interdependentes que compreende a atmosfera, a litosfera, a hidrosfera e os seres vivos, incluindo a espcie humana, interagindo entre si e com o seu ambiente. No entanto, vale destacar que a sociosfera, sistema sociopoltico, socioeconmico e sociocultural, desenvolvido pelo homem para

  • gerar as relaes da comunidade com outros sistemas, evoluiu aceleradamente ao longo de sculos chegando a comprometer o equilbrio dinmico do sistema Terra (DAZ, 2002, p.16). As relaes da socieosfera com a biosfera ocorrem atravs da tecnosfera, sistema criado pelo desenvolvimento tcnico-cientfico do ser humano submetido ao seu controle. A problemtica ambiental atual resultado de um desajuste entre esses sistemas, de forma que a sociosfera pressiona a biosfera com uma enorme populao humana que demanda por recursos para satisfazer as necessidades do sistema socioeconmico vigente (DAZ, 2002, p.17).

    Para Daz (2002), a compreenso de tais relaes que deve inspirar qualquer posicionamento educativo. Sob essa perspectiva, os aspectos mais concretos da problemtica ambiental devem nortear os contedos curriculares dos programas de ensino. Dessa forma, a relao entre meio ambiente e educao assume um papel cada vez mais desafiador, demandando a emergncia de novos saberes para apreender processos sociais cada vez mais complexos e riscos ambientais que se intensificam. Sendo assim, nas suas mltiplas possibilidades, abre-se um estimulante espao para um repensar das prticas sociais e o papel dos educadores na formao de um sujeito ecolgico (CARVALHO, 2008, p.67).

    Na perspectiva de um processo educativo contextualizado e holstico surge os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Esse documento uma das propostas implantada pelo Ministrio da Educao para que a escola e seus professores trabalhem com atitudes, formao de valores, e tambm o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos com os alunos de todos os nveis de ensino e de maneira transversal e holstica (MARINHO, 2007, p.170).

  • 57

    Nesse sentido, a abordagem do tema meio ambiente na escola passa a ter um papel articulador dos conhecimentos nas diversas disciplinas, num contexto cujos contedos so construdos e reconstrudos simultaneamente. Ao interferir no processo de ensino e aprendizagem e nas percepes\representaes sobre a relao entre homem e ambiente, o tema promove os instrumentos para a construo de uma viso crtica e holstica, reforando prticas que explicitam a necessidade de problematizar e agir em relao aos problemas socioambientais nas mais diversas esferas e escalas (JACOBI, 2005, p.241).

    Apesar de todo o conhecimento adquirido e acumulado nas ltimas dcadas a respeito dos problemas ambientais e do papel da Educao Ambiental na superao dos mesmos, ainda assim, constata-se a dificuldade de se abordar tal tema de forma transversal e holstica. A carncia de informaes e muitas vezes o domnio de ideias equivocadas sobre a temtica ambiental nos livros didticos e no cotidiano da populao, tornam difcil, seno impossvel, a tarefa do docente em conduzir os alunos a uma viso mais qualificada e contextualizada sobre o assunto, o que provoca uma deficincia ou mesmo inexistncia do conhecimento dos estudantes em relao a uma problemtica muitas vezes presente no seu espao de vivncia cotidiana. Logo, a capacitao de professores e alunos frente s questes ambientais poder contribuir diretamente para a desmistificao da temtica e o desenvolvimento de atividades que possam colaborar para a sustentabilidade ambiental.

    Dessa forma, diante deste contexto que surge o projeto de extenso (PROEXT) Educao Socioambiental e Sustentabilidade, tendo como desafio principal articular teoria e prtica em busca de

  • 58

    uma prxis que seja indispensvel na compr