978856524232-5- Um atrativo à escola bíblica dominical-WEB

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9 Sumário AGRADECIMENTOS .................................................................... 7 PREFÁCIO .................................................................................... 11 INTRODUÇÃO ............................................................................ 13 CAPÍTULO 1 PARA QUEM VEM E PARA QUEM ESTÁ ........... 16 1.1 Uma palavra superficial ....................................................... 18 1.2 A funcionalidade do Evangelho ........................................... 19 1.3 Uma imersão em águas rasas ............................................. 23 1.4 Uma administração com fraca contextualização .................. 25 1.5 As ideologias que arrefecem a fé em Cristo.......................... 30 1.6 A contribuição da igreja para as ideologias arrefecedoras .... 32 CAPÍTULO 2 “MENOS A LUÍZA, QUE ESTÁ NO CANADÁ!” ..... 37 2.1 Um discurso sem meias palavras.......................................... 43 2.2 A verdade em Cristo como referência .................................. 49 2.3 A oportunidade da EBD ...................................................... 54

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Sumário

AGRADECIMENTOS .................................................................... 7

PREFÁCIO .................................................................................... 11

INTRODUÇÃO ............................................................................ 13

CAPÍTULO 1 PARA QUEM VEM E PARA QUEM ESTÁ ........... 16

1.1 Uma palavra superficial ....................................................... 18

1.2 A funcionalidade do Evangelho ........................................... 19

1.3 Uma imersão em águas rasas ............................................. 23

1.4 Uma administração com fraca contextualização .................. 25

1.5 As ideologias que arrefecem a fé em Cristo .......................... 30

1.6 A contribuição da igreja para as ideologias arrefecedoras .... 32

CAPÍTULO 2 “MENOS A LUÍZA, QUE ESTÁ NO CANADÁ!” ..... 37

2.1 Um discurso sem meias palavras.......................................... 43

2.2 A verdade em Cristo como referência .................................. 49

2.3 A oportunidade da EBD ...................................................... 54

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CAPÍTULO 3 UM CULTO AO PERFORMÁTICO ...................... 58

3.1 A criação de “deuses” .......................................................... 62

3.2 Os deuses criados na igreja .................................................. 72

3.3 Um antídoto à inserção de deuses........................................ 84

CAPÍTULO 4 A IGREJA DE JESUS CRISTO NÃO QUER FALAR SOBRE JESUS CRISTO................................................................. 92

4.1 Uma palavra incompleta ..................................................... 95

4.2 O que é ser cristão ............................................................. 102

4.3 Em direção às Escrituras Sagradas ..................................... 105

CAPÍTULO 5 VAMOS REFLETIR! ............................................ 108

5.1 A escolha do professor ...................................................... 109

5.2 A fragmentação do ensino ................................................. 111

5.3 Uma ação prática .............................................................. 114

CAPÍTULO 6 ESTRUTURA PRÁTICA DE UMA SALA DE AULA DA ESCOLA BÍBLICA ................................................................ 117

6.1 Uma abordagem numérica de alunos................................. 117

6.2 Uma análise sobre o espaço nas salas ................................ 118

6.3 Um ensino contundente e sem pressa................................. 120

6.4 A mediação na sala de aula ............................................... 122

6.5 A praticidade do tema ....................................................... 125

6.6 Evitando a fragmentação bíblica ....................................... 128

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................... 133

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Introdução

O termo Escola Dominical foi primeiramente usado no século XVIII, quando o jornalista Robert Rai-kes ofereceu uma educação rudimentar às crian-ças de Gloucester na Inglaterra, com a intenção

de reduzir o número de detentos nas instituições carcerárias, o qual era expressivo. Robert entendeu que o abandono em que as crianças viviam era o principal estímulo para que elas praticassem crimes contra a sociedade da época. Para ame-nizar ou solucionar o problema, Robert fundou uma esco-la que funcionava aos domingos, com materiais religiosos e científicos, em razão de as crianças e os jovens trabalha-rem durante a semana. Essa atitude de Robert culminou com uma expressiva redução dos criminosos em Gloucester.

No entanto, as origens da Escola Bíblica Dominical vêm de tempos antigos, quando Deus ordenou que as Escrituras Sagradas fossem ensinadas de geração em geração. Dessa forma, o ensino bíblico veio a partir de Moisés, passando pelos Reis, pelos Sacerdotes e Profetas, por Esdras, por Jesus e pela igreja primitiva. Caso não houvesse esse longo acervo, a Escola Bíblica Dominical não existiria.

Não queremos nestes escritos padronizar as Escolas Bí-blicas Dominicais com conceitos predefinidos e instituídos como normas, até porque acreditamos que se faz necessário analisar a EBD de cada congregação para atender ao suporte

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educacional adequado à unidade evangélica. Porém, existem algumas particularidades que são comuns a todos, ou seja, para melhorar e fazer a EBD na igreja local, é preciso:

1) Conquistar o pastor;

2) Conscientizar os alunos da necessidade da EBD;

3) Motivar os professores; e

4) Fundamentalmente promover a EBD.

Para isso, partimos da ideia de que a relação na sala de aula da EBD tem de ser norteada por alguns princípios:

1) Cada sala de aula da EBD deve se tornar um valoroso instrumento para o ininterrupto e abonador aumento em grandeza espiritual da igreja, pois a constituição de equipes menores pertinentes a uma específica re-lação entre as pessoas da mesma composição etária, sob a guarda de um líder, torna fácil a relação espi-ritual, o zelo pelas Escrituras Sagradas, bem como o amadurecimento espiritual;

2) A EBD é um grandioso recurso para o evangelismo, com um extraordinário poder para alcançar pessoas em razão de sua feitura incluir os educandos confor-me suas exigências. A comunicação fundamental das Escrituras Sagradas é o sentimento de dedicação ab-soluta de Deus, manifesto na morte e na ressurreição de Cristo. Dessa forma, a Bíblia inteira tem a figura de Jesus como principal;

3) Também é de nossa credibilidade que os alunos da EBD têm a possibilidade de construir formas de ado-ração evangelizadora domésticas, com o objetivo de angariar pessoas para o Reino de Deus e, consequen-

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temente, para a EBD. Concorrentemente, eles tam-bém têm a possibilidade de realizar pequenas reuni-ões para visitar pessoas aparentadas que vivem, em geral, na mesma casa e que atravessam dificuldades espirituais, além de evangélicos desviados da presen-ça de Deus;

4) As salas de aula da EBD têm a possibilidade de an-gariar fundos para a obra missionária, mobilizando maior intimidade com os missionários no campo e orando pelo crescimento do Evangelho no mundo; e

5) Por fim, as salas de aula têm a possibilidade de se in-tegrarem como o objetivo de cooperar com as várias tarefas da igreja, como orientação educativa, evange-lismo, plantação de igreja etc. O conhecimento adqui-rido por meio das Escrituras Sagradas e realizado por um conjunto de pessoas tem como consequência o expressivo aumento do espiritual da pessoa humana no progresso da obra de Cristo. Nas salas de aula da EBD, o serviço ao Reino é mais bem compreendido e a obediência a Deus é uma inevitável consequência.

Este trabalho tem como proposta a explanação em seis capítulos de como se configura a transformação da socieda-de pós-moderna junto ao cenário religioso atual e de como devemos trabalhar na Escola Bíblica Dominical a fim de atrair e manter, no Reino de Deus, crianças, jovens e adultos que estão imersos no mundo da informação generalizada, no qual o objetivo maior é manter nossos filhos e netos presos à cadeia hedonista e pragmática da sociedade contemporânea, dita laica e sem compromisso com Deus.

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1Pa r a q u e m v e m e pa r a q u e m e s tá

Saiu o semeador a semear sua semente. E, quando seme-ava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; e foi pisada, e as aves do céu a comeram. Outra caiu sobre pedra; e, nascida, secou-se porque não havia umidade. E outra caiu no meio dos espinhos; e, crescendo com ela os espinhos, sufocaram-na. Mas outra caiu em boa terra; e, nascida, produziu fruto, cem por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”. Perguntaram-lhe, então, seus discípulos o que significava essa parábola. Respondeu ele: “A vós é dado conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros se fala por parábolas; para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam. É, pois, esta a parábola: a semente é a palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são os que ouvem; mas logo vem o Diabo e tira-lhes do co-ração a palavra, para que não suceda que, crendo, sejam salvos. Os que estão sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; mas estes não têm raiz, apenas creem por algum tempo, mas na hora da prova-ção se desviam. A parte que caiu entre os espinhos são

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os que ouviram e, indo por diante, são sufocados pelos cuidados, riquezas e deleites desta vida e não dão frutos com perfeição. Mas a que caiu em boa terra são os que, ouvindo a palavra com coração reto e bom, a retêm e dão frutos com perseverança”. (Lucas 8: 5,15)

A iniciação no Evangelho é algo preponderante para o conhecimento e para o crescimento do cristão em toda a sua vida. Ao escolher os doze apóstolos, será que Jesus anunciou, por acaso, “é chegado o Reino de Deus”, ou simplesmen-te determinou, “vai e cura, expulsa o demônio e batiza no Espírito Santo”? De forma alguma! Ele os chamou para se-gui-Lo e no caminho foi didaticamente mostrando aos após-tolos como deveriam fazer – diga-se de passagem, não foi algo fácil. Foram três anos de total dedicação e instrução dos apóstolos de forma integral, com idas e vindas que só Deus poderia aturá-las. Todavia, e apesar da dedicação, ainda hou-ve entre os discípulos dois traidores, os quais entenderam apenas parcialmente as instruções. Ora! A quem queremos enganar ao ministrarmos o Evangelho de forma dispersiva e sem algo significativo para quem o está recebendo? Será que é somente se sentar no banco da EBD e escutar? Não! Não é!

A parábola do semeador, no caput, vem justamente nos indicar qual a característica do crente que desejamos, não só para nossa instituição, mas também para a pregação de um Evangelho genuíno.

Recentemente, ao participar de uma jornada de prega-ções sobre o Evangelho nessa perspectiva, pude perceber que a principal queixa dos pregadores girava em torno do Evan-gelho da moda, no qual ser evangélico é mais uma das mui-tas formas de ser notado ou aceito em determinada estrutura social. Ora! A estrutura da Palavra de Deus não possibilita

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em momento algum essa conotação; pelo contrário, tem po-sições rígidas e inquestionáveis, colocadas como necessárias e suficientes para uma vida cristã perfeita na busca da vida eterna. Sendo assim, isso não coaduna com uma perspectiva efêmera e guiada pelo modismo pós-moderno.

1.1 Uma palavra superficial

Sobre a primeira semente, Jesus coloca que: “Saiu o semea-dor a semear sua semente. E quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; e foi pisada, e as aves do céu a comeram”. Em outra parte, Ele explica: “A semente é a palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são os que ouvem; mas logo vem o Diabo e tira-lhes do coração a palavra, para que não suceda que, crendo, sejam salvos”. Tentamos entender a parte “caiu à beira do caminho”. Como crentes, acreditamos que Jesus é a Verdade, o Caminho e a Vida, e a semente que caiu à beira do caminho configura uma alusão a uma palavra pregada a alguém de maneira próxima a Cristo, mas não em Cristo. Havia até uma alusão ao Evan-gelho, mas substancialmente não possuía uma visão de Jesus.

Vamos tentar vislumbrar essa situação: certo educador, intrigado com a quantidade de analfabetos em determinado país, resolveu dedicar sua vida à alfabetização de pessoas. Para executar essa tarefa, ele resolveu criar métodos que o auxiliassem nesse objetivo. Para isso, dedicou-se aos estudos, à procura de uma possibilidade infalível e precisa. Nesse ín-terim, conseguiu adequar uma proposta: em três meses, ele conseguiria alfabetizar um bom número de pessoas. Assim ca-minhou para consumar seus objetivos no território do país. A situação ia de vento em popa. O processo realmente alfabeti-zava com precisão. Em uma dessas viagens, o educador visi-

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tou uma colônia de pescadores em uma localidade longínqua, sem qualquer interação com a sociedade urbana. Jubiloso por seu “achado”, o educador não mediu esforços para alfa-betizar esse povoado. Chegou ao local e colocou em prática suas ideias. Passados três meses, quase todo o povoado tinha sido alfabetizado e, vendo que o trabalho se concretizara, o educador resolveu voltar para casa. Alguns anos mais tarde, pretendendo descobrir como algumas localidades tinham se comportado após a alfabetização, resolveu fazer uma viagem à colônia de pescadores. Para sua surpresa, ao desembarcar e visitar algumas pessoas, percebeu que todas tinham voltado a serem analfabetas. Querem saber o motivo disso? Infelizmente o educador só se preocupou com o método e se esqueceu da manutenção, ou seja, livros e jornais para ler, biblioteca etc., podendo-se concluir que faltou a funcionalidade.

Com tudo isso, podemos afirmar que as sementes que ficaram pelo caminho precisam ter a garantida manutenção do Evangelho, pois se o diabo tira as palavras do coração para que não sejam salvas, elas vão morrer sem Cristo e Ele não tem prazer nisso. “Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus; convertei-vos, pois, e vivei.” (Ezequiel 18: 32)

1.2 A funcionalidade do Evangelho

Retornemos à funcionalidade do Evangelho. Aqui cabe res-saltar a transformação do sujeito. É conclusivo que o indi-víduo que aceita fazer parte do Reino de Deus e aceita Jesus como seu único e suficiente salvador, mas que não inicia in-ternamente um processo de transformação, provavelmente está “na moda”, ou seja, ele quer uma condicionante para aparentar ovelha, mas o lobo interior ainda não começou a

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desaparecer. O que fazer? Colocar o indivíduo fora da so-ciedade evangélica e dizer que ele não tem mais jeito? Disci-pliná-lo de forma definitiva, colocando-o a mercê do inimi-go da alma? Mas quando foi que Deus mandou fazer isso? Quando foi que Jesus disse: “eu vim para buscar os santos”? Se esses comentários estiverem escritos em sua Bíblia, sugiro que compre outra, pois ela deve estar adulterada.

Querido irmão, a funcionalidade do Evangelho não precisa ser criada. Ela já existe e só precisa ser interpretada corretamente e praticada de forma coerente para que leve o sujeito à transformação. Coloquemos a parábola do homem de Gerasa:

Apontaram à terra dos gerasenos, que está defronte da Galileia. Logo que saltou em terra, saiu-lhe ao en-contro um homem da cidade, possesso de demônios, que havia muito tempo não vestia roupa, nem morava em casa, mas nos sepulcros. Quando ele viu a Jesus, gritou, prostrou-se diante dele e, com grande voz, ex-clamou: “Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes!”. Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do ho-mem. Pois já havia muito tempo que se apoderara dele; e guardavam-no preso com grilhões e cadeias; mas ele, quebrando as prisões, era impelido pelo demônio para os desertos. Perguntou-lhe Jesus: “Qual é teu nome?”. Respondeu ele: “Legião”, porque tinham entrado nele muitos demônios. E rogavam-lhe que não os mandasse para o abismo. Ora, andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos; rogaram-lhe, pois, que lhes permitisse entrar neles, e lho permitiu. E tendo os demô-nios saído do homem, entraram nos porcos; e a manada precipitou-se pelo despenhadeiro no lago, e afogou-se. Quando os pastores viram o que acontecera, fugiram, e foram anunciá-lo na cidade e nos campos. Saíram, pois,

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a ver o que tinha acontecido, e foram ter com Jesus, a cujos pés acharam sentado, vestido e em perfeito juízo o homem de quem havia saído os demônios; e se atemori-zaram. Os que tinham visto aquilo contaram-lhes como fora curado o endemoninhado. Então, todo o povo da região dos gerasenos rogou-lhe que se retirasse deles; porque estavam possuídos de grande medo. Pelo que ele entrou no barco, e voltou. Pedia- -lhe, porém, o homem de quem haviam saído os demônios que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo: “Volta para tua casa, e conta tudo quanto Deus te fez”. E ele se retirou, publicando por toda a cidade tudo quanto Jesus lhe fize-ra. (Lucas 8: 26-39)

Jesus o enviou para divulgar as boas novas para a famí-lia e para a cidade e o principal argumento foi a expulsão dos demônios do seu corpo, ou seja, o milagre de Cristo foi o ponto de partida para converter e ensinar àquele homem qual era sua função no Reino de Deus: falar da salvação e do amor de Cristo.

Agora, como falar do amor de Deus e de sua transforma-ção se quem fala não foi transformado? Não tem como! Pela simples razão de que não é ter o amor para falar de Cristo, mas sim ter Cristo para falar de amor. Não podemos colocar a carroça na frente dos bois se não empaca. Quando falamos da Palavra de Deus, é a palavra que Deus concede para falar e não a palavra que queremos falar para ajudar Deus. Pois, para falar do amor de Deus, este, essencialmente, tem de es-tar dentro de nós e, caso não exista essa prerrogativa, como poderemos expor o que não possuímos? Não podemos!

Ao observarmos algumas pessoas experientes na pala-vra, pregando sobre o Evangelho, é fácil perceber quem está para pregar o amor de Cristo por meio das Escrituras Sagra-das e quem só está ali para discorrer sobre um assunto cor-

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riqueiro que foi decorado às pressas, a fim de não fazer feio na hora de falar sobre o amor de Cristo. Ora, se a intenção é não fazer feio, por si só já é sem propósito.

Caros ministradores da Palavra de Deus, o pessoal que está chegando agora ao mundo da luz já está vindo saturado de informações que não dizem nada. Já não suportam acre-ditar em uma coisa hoje e amanhã desacreditar nessa mesma coisa. Eles procuram segurança na palavra. Podemos alegar que a palavra, por si só, já é segura. É verdade! Porém, Deus usa os homens para ministrar a palavra de maneira que faça sentido a eles. O milagre tem de ser percebido na vida de quem se ensina e, para que isso aconteça, é necessário fazer diferença na vida do ensinador. Como podemos falar que somos felizes em Cristo Jesus se a rabugice é nossa tônica? Como se fazer acreditar que Deus protege se o irmão que fala só vive mur-murando? É uma incongruência!

Certa vez, um irmão em Cristo, depois de ministrar uma palavra, veio até mim para que eu fizesse uma análise de sua pregação. Eu fiquei até com vontade de falar minha opinião, mas, como manda a boa educação, fiquei no: “foi boa”. Ora, irmãos! Desde quando temos de nos preocupar com nossa performance? A Palavra de Deus não volta vazia; dessa for-ma, alguém ali precisava ouvir a mensagem daquela maneira. E o irmão preocupado com o retorno! Não é por aí! Pode até parecer que o que escrevemos até aqui tenha levado a essa ideia, mas é totalmente o contrário. Justamente para evitar a apropriação indébita da autoria que devemos nos ater à pa-lavra pura e simples. Não é prender a atenção do espectador – isso a mídia mundana faz com propriedade –, é colocá-lo a par da verdade mesmo que isso não o agrade ou o prenda com o discurso, pois acredito que sair dessa linha de interpre-tação é ir de encontro à própria palavra. “Se alguém vier a

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mim, e não aborrecer a pai e mãe, à mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14: 26), ou seja, não divulgar nossa ideia de que estamos fazendo o melhor para sermos exaltados: isso é pregar a verdadeira palavra. Porém, há um paradoxo que alguns irmãos em Cristo estão cometendo e que é usado por várias igrejas, a velha máxima que diz: “faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço”, atitude que já não alcança mais ninguém. Um líder evangélico com um mínimo de bom-sen-so deve ficar atento ao exemplo que presta com suas atitu-des dentro e fora da igreja. Quantos não são os irmãos que priorizam o direcionamento dos seus liderados a uma leitura bíblica plena, mas a pessoa que lidera não possui uma rotina de leitura? Atitude que leva o próprio líder a educar de forma inadequada seus liderados, fato que, em momentos de confli-to, levam liderados a sempre estarem em busca do líder local e não de Cristo.

1.3 Uma imersão em águas rasas

Sobre a segunda semente, Jesus coloca que: “Outra caiu so-bre pedra; e, nascida, secou-se porque não havia umidade”. Em outra parte Ele explica: “Os que estão sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; mas estes não têm raiz, apenas creem por algum tempo, mas na hora da provação se desviam”.

Vamos fixar-nos na passagem “creem por algum tempo, mas na hora da provação se desviam”. Todos nós sabemos que a pós-modernidade é um processo que identifica a civi-lização, principalmente a ocidental, no pós-guerra. Ela tem trazido grande contribuição ideológica para a humanidade. Contudo, se é boa ou ruim, não sei! Mas o certo é que algu-

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mas de suas interpretações vêm de encontro aos preceitos da igreja de Cristo, como a fragmentação da família, a adoração ao novo, o modismo exacerbado, a velocidade das mudanças individuais que chegam ao exagero. São propostas que, se não bem identificadas, são capazes de desconfigurar um bom processo de evangelização. Fato novo para os que estão em Cristo? Não! Deus já havia advertido: “Tu, porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro, até o fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplica-rá” (Daniel 12: 4). Assim, como trabalhar a Bíblia na EBD de forma a alcançar um público que não tem mais sede da água da vida? Água que, a nós, já é garantida por Jesus: “mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna” (João 4: 14). Como dar dessa água para alguém que já experimentou quase tudo? E que este não faça da Palavra de Deus apenas mais uma en-tre as outras? Como nos prepararmos para manter os novos convertidos na igreja de Cristo? Não cabe aqui alegar que “Deus sabe o que faz”, pois isso funcionará como um jargão da falta de comprometimento. Todos nós, irmãos em Cristo, já temos a certeza disso. O grande problema ou a grande solução, conforme o entendimento, é que Deus já disse há muito tempo o que devemos fazer: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1: 8). Ou estamos esperando que o Espírito Santo venha novamente e habite entre nós? Que-ro comunicar a vocês que Ele não virá mais! Simplesmente porque Ele já está entre e dentro de nós, ansioso para que nosso entendimento seja mais rápido e que a gente possa sair dessa ociosidade religiosa, a qual tem impregnado a vida cristã! Vamos agir, irmãos! O lance do mundo sem Cristo é

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que ele cria a doença, mas o antídoto já está pronto. Só que ele não será usado antes de milhares de pessoas perderem a vida, sendo necessário para dar um fortalecimento à rigoro-sidade da doença; com isso, o remédio será mais valorizado. Consequentemente, rios de recursos são destinados ao trata-mento de algo que, mesmo antes de nascer, já estava morto, cabendo a nós, cristãos, desfigurar esse sistema por meio da palavra. Mas como fazer isso se nós mesmos ainda não des-cobrimos como fazer?

“Creem por algum tempo” é um demônio que domina os dias atuais, mas com o nome próprio de “efemeridade”. São pessoas indo e vindo sem qualquer perspectiva, não que elas não queiram uma, mas o inimigo das almas já as cegou. Para estas pessoas, não vale mais a pena investir em coisas que não veem ou que não dão resultados imediatos; para elas, crer em algo é simplesmente o tempo necessário para que esse algo dê resultado. E o que é pior: após o resultado, se for ruim, elas o abandonam logo, pois o tempo urge e se faz necessária a busca de nova crença; se for bom, elas o utilizam enquanto tiver dando resultado. “Mas na hora da provação se desviam.”

1.4 Uma administração com fraca contextualização

Uma combinação de fatores tem aumentado o contingente de cristãos desviados: ora são as intrigas entre os membros da igreja, nutridas por disputas que a vaidade reluta em ali-mentar; ora é a não aceitação de lideranças com suas dou-trinas humanas que, com a desculpa de purificar o rebanho, servem mais como forma de exclusão dos membros que não agradam aos preceitos ideológicos dos pastores líderes. To-davia, a mais danosa de todas é a falta de perspectiva da co-

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munidade evangélica. Esta contribui com uma grande parte dos decididos a largar o Evangelho, em razão de estes não vislumbrarem uma possibilidade de crescimento dentro de uma instituição na qual a competição, apesar de marcada pela “paz do senhor”, é essencialmente danosa ao alimento espiritual. Atitude que, em longo prazo, pode reduzir ampla-mente a vontade do membro em frequentar a igreja.

Um fator colabora amplamente para essa situação e é muito bem identificado: chama-se administração fordista. Há uma corrente de líderes, que é a maioria, impregnando a comunidade evangélica, com mesmo padrão de liderança mundana, no qual o taylorismo, amplamente disseminado na empresa moderna, é colocado como tábua de salvação dentro da igreja de Cristo. Nesta corrente o importante é determinar a autoridade da liderança, não importando se a verdade do Evangelho é cumprida. Toma-se a decisão partin-do-se do ponto de vista da autoridade, ou seja, é feita uma reunião onde todos dão opinião e, no final do “colegiado”, cabe à direção a decisão final que, em boa parte, vai de en-contro a todas as opiniões elaboradas e apresentadas nas reuniões. Sabe--se, entretanto, que existirá um beneficiado final que, provavelmente, é o mais “chegado” da direção.

Aqui cabe ressaltar o poder e a hierarquia do contribuin-te ou mais “chegado” da direção. Caso seja um mantenedor fiel, é até temeroso ir de encontro à decisão final, pois, pro-vavelmente, quem não se enquadrar será colocado em posi-ção de inferioridade administrativa perante a instituição. O mais interessante é que o trabalho realizado na base da pirâ-mide, como carregador de material, limpador de banheiros ou realizador de trabalho braçal, igualmente como a políti-ca empresarial mundana, é colocado como subirmão. Meu Deus! Fico preocupado porque Jesus, quando lavou os pés

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dos discípulos, deu uma visão de qual a melhor maneira de caminhar com Ele.

“Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo: não é o servo maior do que seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-a-venturados sois se as praticardes.” (João 13: 13-14)

Porém, como andar no Caminho se já estamos impreg-nados por essa ideologia mundana do individualismo? Na qual o mais importante é o status da posição visível, ou seja: eu sou importante para a igreja, pois louvo bem! Mas eu sou melhor, pois dou um grande dízimo! Ora, eu apa-rento me empenhar muito! Eu sou pastor! Eu sou presbí-tero! Eu sou diácono! Eu sou obreiro! Meu Jesus! Todos têm superpoderes? Claro que não! Todos têm de servir à multidão! Pois é isso que diferencia a administração cristã da mundana: enquanto a base da mundana serve, a base da cristã é servida.

Então, Jesus chamou-os para junto de si e lhes disse: “Sabeis que os que são reconhecidos como governadores dos gentios, deles se assenhoreiam, e que sobre eles seus grandes exercem autoridade. Mas entre vós não será as-sim; antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se gran-de, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Pois também o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar sua vida em resgate de muitos”. (Mar-cos 10: 42-45)

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A igreja urge por membros comprometidos com a Pala-vra de Deus, meditando no Evangelho e praticando-o, para que, na hora da tribulação, eles fiquem firmes. Façamos a diferença!

Em um primeiro momento, podemos cogitar a formação de uma identidade consistente. Como seria isso? Um pastor conhecido pregou em determinada igreja o seguinte testemu-nho: uma patrulha policial estava em ação de incursão em um morro carioca, a fim de prender traficantes. No local o ti-roteio era intenso de ambos os lados. Em dado momento um policial foi atingido e caiu no chão. Vendo isso, o companhei-ro correu para socorrê-lo, mas, ao se aproximar, ele também foi alvejado. Muito aflitos, os policiais que estavam no local não sabiam o que fazer. Por um instante, uma igreja evangéli-ca que estava no meio do evento abriu a porta. Inicialmente, surgiu uma mão com a Bíblia Sagrada. Simultaneamente, o tiroteio cessou de ambos os lados. Um homem, com a Bíblia na mão, saiu da igreja, pegou um dos baleados e o colocou para dentro. Logo após, pegou o segundo baleado e nova-mente voltou para a igreja. Nesse instante, o tiroteio recome-çou. Perceberam isso? O que é que ele tinha na mão? Eu digo: identidade! “No amor não há medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo, e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor” (I João 4: 18).

O conhecimento do homem sobre si mesmo, desde a an-tiguidade, gira em torno da sua capacidade de racionaliza-ção; todavia, esta é limitada quando o homem se depara com suas próprias possibilidades, a fim de preencher as lacunas da falta de respostas para fatos que não conseguia explicar através da racionalidade. O sujeito começou a criar culturas e doutrinas, baseados em sua lógica, com a finalidade de tais

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atos finalmente serem inseridos em sua racionalidade. Como exemplo desse ato, temos a religião.

Condicionando pessoas, e não as transformando, as reli-giões têm atraído milhares de indivíduos com sede de alcan-çar sua identidade, em um mundo sem perspectiva, no qual o sujeito anda de um lado para outro sem saber aonde quer chegar, e a religião é bastante valorizada. Porém, as condi-ções que são impostas para quem quer entrar no círculo re-ligioso são em boa parte danosas à própria pessoa, pois de alguma forma elas são mutiladas social, física ou psicologi-camente. O que mais intriga é que quem impõe os preceitos determinantes para a entrada no círculo raramente preenche os requisitos impostos: “Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los” (Mateus 23: 4). O incrível é que, mesmo com esse pressuposto, legiões de se-guidores adotam os preceitos dessas religiões, com o objetivo único de alcançar a salvação mantendo o mesmo modo de vida promíscua que sempre prescreveu seu cotidiano. Mas... Desta vez... Bingooo! Já alcançaram a “salvação” e, o mais interessante... Sem nenhuma transformação! E, assim, dão mais trabalho para o Espírito Santo!

Ora! Não precisamos de religião! Já possuímos Jesus Cristo que veio como homem, mesmo sendo Deus, e nos livrou do pecado do mundo. E se estamos na igreja para cumprir mais um ritual evangélico, nós nos tornamos sim-plesmente mais uma turma de religiosos embevecidos pelos louvores, pela palavra que agrada ao nosso coração e pelas reuniões exorcistas. Quem foi que falou que a igreja como instituição é um local para agradar aos membros? Que eu saiba, é um local de reunião para confraternização entre os irmãos em Cristo e para adoração a Deus! Corrija-me se esti-

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ver errado! Por que tanta gente reproduz a mesma ideia pre-conceituosa e excludente mundana dentro da igreja, já que Jesus fala: “Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros” (João 15: 17)?

Pois bem! Se Jesus está mandando, vamos cumprir! Pois a semente que ficou na pedra recebeu o Evangelho com amor e grande euforia. Vamos fazer a diferença no mundo dela, para que esse amor não acabe. Vamos dar uma identidade cristã a essa semente, para que, na hora da tribulação, ela resista com autoridade e torne-se mais uma árvore frutífera.

1.5 As ideologias que arrefecem a fé em Cristo

Sobre a terceira semente, Jesus coloca que: “E outra caiu no meio dos espinhos; e crescendo com ela os espinhos, sufoca-ram-na”. Em outra parte, Ele explica: “A parte que caiu en-tre os espinhos são os que ouviram e, fazendo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, riquezas e deleites desta vida e não dão frutos com perfeição”.

Podemos verificar que as duas primeiras sementes não se transformaram em árvore, pois não construíram raízes; con-tudo, a terceira, apesar de ter caído entre espinhos, vingou. Porém, as riquezas e os deleites desta vida fazem não dar frutos com perfeição. Aqui eu faço uma pausa para explicar a ideologia do mundo moderno, ou as ideologias do mundo pós-moderno.

Para alguns autores que utilizam o termo sob uma con-cepção crítica, ideologia pode ser considerada como um instrumento de dominação que age por meio de convenci-mento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando ou não a consciên-

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cia humana. Pois se parte do pressuposto que ideologias coerentes e concretas como as cristãs se fazem necessárias para uma vida íntegra, realizada e direcionada a um ob-jetivo necessário e divino que nos dá como recompensa a vida eterna em Cristo Jesus. Já o processo ideológico e he-gemônico do sistema político e econômico vigente é algo que não podemos nos descuidar, quando procuramos nos manter como árvore frutífera. Devemos ter considerações necessárias e precisas para que nós, como sementes que caí-mos entre espinhos, consigamos nos desvencilhar, e apesar das riquezas e dos deleites a nossa disposição, consigamos suplantar essas barreiras, para que possamos concluir de forma proveitosa a missão principal que Deus nos deu: “E disse-lhes: ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16: 15).

Fruto de ideologias humanas, o sistema hegemônico se aproveita de todas as coisas tangíveis e intangíveis para a manutenção de suas bases econômicas e ideológicas. E, para que esses pressupostos sejam concretizados, eles utilizam fi-nitos procedimentos para consumar a prisão do indivíduo. O problema está na sutileza da ação do sistema que, se não bem vigiado (e orado), corrompe qualquer um, seja rico ou pobre, letrado ou inculto. Como isso ocorre? Podemos dizer que o sistema de controle hegemônico da sociedade envolve instituição, empresa e indivíduos, e muitas vezes o Estado, entre outros atores, sendo responsável por brutal concentra-ção de riquezas e de conhecimentos, com o principal objetivo de nos convencer da necessidade do desnecessário, como já alegado nestes escritos, cria o problema com a situação já re-solvida, forma sutil de nos prender ao que o apóstolo Paulo nos alerta: “Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição

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dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segun-do Cristo” (Colossenses 2: 8).

1.6 A contribuição da igreja para as ideologias arrefecedoras

Vamos aos fatos! A ideologia de consumo exagerado está im-pregnada tanto na sociedade como também na igreja evan-gélica. Isso é fato! Agora, como trabalhar em uma instituição evangélica na qual o consumismo se mistura com as práticas religiosas? Como identificar as autorizações realizadas pelas igrejas para a prática do consumo? Como isso prejudica nos-so crescimento espiritual e nos leva a sermos sufocados pelos “deleites da vida” e a não frutificarmos perfeitamente? São perguntas que necessitam de respostas urgentes.

Vamos ver como isso funciona!

Ao colocar a assiduidade de nossa frequência junto à igreja como primordial, podemos perceber que uma grande quantidade de irmãos está no recinto tão somente para pedir ou agradecer pelas bênçãos materiais, ou seja: “Senhor, obri-gado pelo terreno!”, “Senhor, obrigado pela cura!”, “Senhor, dê providências para conseguir meu carro zero!”. Não que isso seja errado, pois temos de agradecer a Deus por tudo que temos todos os dias; todavia, vamos verificar o que a Bíblia fala sobre os bens materiais: “Também não se venderá a ter-ra em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós estais comigo como estrangeiros e peregrinos” (Levítico 25: 23). Ou seja, se estamos aqui nesse mundo como peregrinos e es-trangeiros, é tudo por permissão e misericórdia divinas, pois, na verdade, era para nem mais existirmos; então, para que darmos tanta atenção à casa própria, a cura, ao carro? Como

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se pudéssemos levá-los para a vida eterna... Já não nos basta termos abrigo durante a vida terrena? Por que temos de nos preocupar tanto com essas conquistas e esquecemos das ne-cessidades dos outros? Por que nos deixamos dominar por bens materiais? A Bíblia fala: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6: 24). E, para confirmar essas perspectivas, Jesus nos alerta que a abundância material não consiste em vida: “E disse ao povo: acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui” (Lucas 12: 15). O mais interessante é que se um irmão em Cristo se propu-ser a servir Jesus com sua vida, ele vai perceber, com toda a certeza, que, para ser feliz e estar contente, os bens materiais são os que menos importam. “Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4: 12-13). Irmãos! Sejamos conscientes! As almas que vêm para o Evangelho estão à procura de carinho, amor e com-preensão. Não vamos nos preocupar com nossos bens ma-teriais e nos esquecer da casa de Deus! A Bíblia nos alerta: “Esperastes o muito, mas eis que veio a ser pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para casa, eu o dissipei com um assopro. Por que causa? Disse o Senhor dos exércitos. Por causa da minha casa, que está em ruínas, enquanto correis, cada um de vós, à sua própria casa” (Ageu 1: 9). Agora me explique: como podemos cuidar da casa de Deus se estamos preocupados com nossa casa? Além disso, cuidar da casa de Deus significa cuidar do próximo e, dessa forma, nossos bens

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materiais não são mais nossos, são de todos, pois compar-tilhar é a ação mais concreta que identifica um verdadeiro irmão em Cristo. Ou não é isso que diz a Bíblia? “E todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum. E ven-diam suas propriedades e bens e os repartiam com todos, se-gundo a necessidade de cada um. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração” (Atos 2: 44-46).

Outra observação a que podemos nos ater dentro da igre-ja refere-se a julgar pela aparência. Comumente observamos que pessoas humildemente vestidas não são bem vistas nas reuniões. Há uma cultura que predomina no meio evangélico, originária da sociedade mundana, a qual diz que a aparên-cia é primordial para cultuar a Deus. Aqui cabe fazer uma pausa para precisar as ações oriundas desse pressuposto. É adequado alegar que isso leva pessoas ao endividamento fi-nanceiro, somente para manter um padrão de aparência que suas condições econômicas não viabilizam, além de criar certo paradoxo, pois o templo de Deus, local para me sentir à von-tade, cultuando e adorando a Deus e livrando-me dos fardos do mundo, está me tornando oprimido em razão das minhas condições. Todavia, as Escrituras Sagradas nos afirmam que a aparência é a última coisa a que devemos nos ater dentro da casa de Cristo, ou não é isso que está escrito aqui: “Mas o Senhor disse a Samuel: não atentes para sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o rejeitei; por-que o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, mas o Senhor olha para o coração” (I Samuel 16: 7)? É claro que a aparência não deve ser totalmente descartada, pois devemos ter certo zelo quan-do entramos na casa de Deus: “Quero, do mesmo modo, que as mulheres se ataviem com traje decoroso, com modéstia e

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sobriedade, não com tranças, com ouro, pérolas ou vestidos custosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras” (I Timóteo 2: 9-10). Porém, empreender um caminho que leva a colocar a aparência acima da própria adoração a Cristo, no qual o interessante é como vou estar atraente na igreja ou como vou estar no estilo dentro do templo, é ir de encontro à própria palavra: “Vosso adorno não seja o enfeite exterior, como as tranças dos cabelos, o uso de joias de ouro, ou o luxo dos vestidos, mas seja o do ínti-mo do coração, no incorruptível traje de um espírito manso e tranquilo, que és, para que permaneçam as coisas” (I Pedro 3: 3-4). “As aparências enganam”, dito popular que se caracte-riza pela sugestão para não cometermos indelicadezas. Porém, já nos obstinamos a julgar e condenar pessoas pelo simples fato de sua aparência não estar de acordo com a perspectiva histórica de nossa vivência, sem, com isso, adequarmos nosso foco ao estilo de vida de quem estamos julgando. Não leva-mos em conta que a beleza verdadeira está no coração, e sua aparência exterior reflete apenas conceitos, padrões e circuns-tâncias de sua realidade, não o identificando verdadeiramente. Pois a verdadeira beleza encontra-se no Senhor: “Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus…” (Salmos 90-17).

Por fim, uma das mais nocivas ideologias, e a mais pre-sente dentro das instituições evangélicas, a qual está impos-sibilitando, de certa forma, a proliferação de um Evangelho genuíno: a cobiça!

A prosperidade é uma dádiva que nos é doada por Deus. Ela é caracterizada pela aquisição de bens materiais e por uma vida saudável na presença de Cristo, rica em dons espirituais e abundantes em graça, fator que por si só já seria suficiente para uma vida alegre e feliz na presença do Senhor. Porém,

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o homem, ambicioso por natureza e exímio conquistador de eventos que o satisfaçam carnalmente, consegue de forma contundente transformar as dádivas do Senhor em uma dis-puta etnológica, ou seja, usa a graça de Deus contra o Deus da graça, na qual o grande lance não é suplantar as aquisições dos “oponentes”, mas, ao fazer isso, ver quem é o vencedor e quem é o vencido e, assim, satisfazer o ego transbordante de pobreza espiritual. A concretização desse processo aparenta ser finalizado com a descoberta do “grande vencedor”. Toda-via, não o é! Pois o sucesso na aquisição ou satisfação material está quase sempre acompanhado de um vencido. Mesmo que este não tenha sido alvo visível do vencedor, mas foi ultrajado quando da ascensão deste, logo se tornou um inimigo oculto ou um falso amigo, o qual, sem perspectiva de alcançar o mes-mo objetivo, lança mão de subterfúgios fundamentalistas que, em sua maioria, são conflituosos, conduzindo-o à prática da cobiça, na qual suplantar o oponente ou possuir o que ele tem torna-se o grande e único objetivo do sujeito. Como é relata-do na Bíblia: “De onde vêm as guerras e contendas entre vós? Porventura não vêm disto, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais e nada tendes; logo, matais. In-vejais, e não podeis alcançar; logo, combateis e fazeis guerras. Nada tendes, porque não pedis” (Tiago 4: 1-2).

E todas essas conversações servem para que?

Para que todos nós nos transformemos na quarta semen-te, da qual Jesus fala: “Mas a que caiu em boa terra são os que, ouvindo a palavra com coração reto e bom, a retêm e dão frutos com perseverança”.