9º MusiMid - Resumos Participantes (semifinal)

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Comunicações orais ALGUÉM COLOCOU ALGO EM MEU DRINK Daniel Pala Abeche (PUC-SP) [email protected] Análise semiótica de temas relacionados à ingestão de bebidas e de outras substâncias na obra dos Ramones. O grupo musical Ramones, representante referencial e um dos fundadores/precursores do gênero punk rock, abordou amiúde temáticas relacionadas à subversão e desestruturação de modos e padrões socialmente convencionais, tendo como elemento lírico constante a alusão à ingestão de álcool e substâncias ilícitas. Essa temática, presente em letras de músicas como “Somebody put something in my drink” e “Now I wanna sniff some glue”, também permeia títulos e capas de álbuns como “Acid Eaters”, inclusive proliferando signos em materiais audiovisuais, como o videoclip de “I wanna be sedated”, em que o grupo protagoniza um verdadeiro ritual subversivo, como uma santa ceia às avessas. O presente trabalho tem como objetivo estudar os signos relacionados à ingestão de bebidas, drogas e alimentos na obra dos Ramones, em âmbito lírico, visual e audiovisual, e verificar a influência desses elementos na construção identitária do grupo, veiculada pelos media e também presente no imaginário de seu público. A metodologia inclui levantamento do arquivo midiático dos Ramones (letras de músicas, capas de álbuns, encartes e videografia), estudo detalhado da obra e posterior análise crítica embasada teoricamente por autores que abordam a análise de discurso, a semiótica da cultura, os estudos culturais e as teorias da comunicação. A MÚSICA COMO EXPRESSÃO GASTRONÔMICA: O BAIÃO DE LUIZ GONZAGA Moacir Ribeiro Barreto Sobral (Universidade Anhembi Morumbi) [email protected] O cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento, considerado o Rei do Baião, divulgou pelo Brasil os forrós pé-de-serra, o xote, o xaxado e outros estilos musicais, cujas letras evidenciavam a pobreza, as dores e as injustiças presentes na sua região natal, ecoando as tristezas e os amores de um povo que ainda não tinha voz. A presente pesquisa, de natureza qualitativa, objetiva identificar e analisar as letras das músicas cantadas por Luiz Gonzaga que apresentam elementos relativos à comensalidade, sociabilidade e aspectos da alimentação nordestina, todos diretamente associados às práticas da hospitalidade. A pesquisa tem como objetivo principal a alimentação e os sabores do nordeste que sempre estiveram presente na vida de Gonzaga. Fundamenta-se na análise de conteúdo dos estudos biográficos do cantor, na seleção e análise das letras das músicas a partir das categorias alimentação, comensalidade e sociabilidade. A RITUALIZAÇÃO NAS REPÚBLICAS FEDERAIS DE OURO PRETO – MG: DOS HINOS ÀS ‘REZAS DE CACHAÇA’ E SUAS IMPLICAÇÕES

Transcript of 9º MusiMid - Resumos Participantes (semifinal)

Comunicaes orais

ALGUM COLOCOU ALGO EM MEU DRINKDaniel Pala Abeche (PUC-SP)[email protected]

Anlise semitica de temas relacionados ingesto de bebidas e de outras substncias na obra dos Ramones. O grupo musical Ramones, representante referencial e um dos fundadores/precursores do gnero punk rock, abordou amide temticas relacionadas subverso e desestruturao de modos e padres socialmente convencionais, tendo como elemento lrico constante a aluso ingesto de lcool e substncias ilcitas. Essa temtica, presente em letras de msicas como Somebody put something in my drink e Now I wanna sniff some glue, tambm permeia ttulos e capas de lbuns como Acid Eaters, inclusive proliferando signos em materiais audiovisuais, como o videoclip de I wanna be sedated, em que o grupo protagoniza um verdadeiro ritual subversivo, como uma santa ceia s avessas. O presente trabalho tem como objetivo estudar os signos relacionados ingesto de bebidas, drogas e alimentos na obra dos Ramones, em mbito lrico, visual e audiovisual, e verificar a influncia desses elementos na construo identitria do grupo, veiculada pelos media e tambm presente no imaginrio de seu pblico. A metodologia inclui levantamento do arquivo miditico dos Ramones (letras de msicas, capas de lbuns, encartes e videografia), estudo detalhado da obra e posterior anlise crtica embasada teoricamente por autores que abordam a anlise de discurso, a semitica da cultura, os estudos culturais e as teorias da comunicao.

A MSICA COMO EXPRESSO GASTRONMICA: O BAIO DE LUIZ GONZAGAMoacir Ribeiro Barreto Sobral (Universidade Anhembi Morumbi)[email protected] cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento, considerado o Rei do Baio, divulgou pelo Brasil os forrs p-de-serra, o xote, o xaxado e outros estilos musicais, cujas letras evidenciavam a pobreza, as dores e as injustias presentes na sua regio natal, ecoando as tristezas e os amores de um povo que ainda no tinha voz. A presente pesquisa, de natureza qualitativa, objetiva identificar e analisar as letras das msicas cantadas por Luiz Gonzaga que apresentam elementos relativos comensalidade, sociabilidade e aspectos da alimentao nordestina, todos diretamente associados s prticas da hospitalidade. A pesquisa tem como objetivo principal a alimentao e os sabores do nordeste que sempre estiveram presente na vida de Gonzaga. Fundamenta-se na anlise de contedo dos estudos biogrficos do cantor, na seleo e anlise das letras das msicas a partir das categorias alimentao, comensalidade e sociabilidade.

A RITUALIZAO NAS REPBLICAS FEDERAIS DE OURO PRETO MG: DOS HINOS S REZAS DE CACHAA E SUAS IMPLICAESLeonardo Corra Bomfim (Universidade Estadual Paulista UNESP)[email protected]

A histrica cidade de Ouro Preto MG h anos vem acolhendo novos habitantes em virtude da Universidade Federal de Ouro Preto UFOP, sendo este crescente nmero de estudantes responsvel por algumas transformaes de elementos e prticas do municpio. Em Ouro Preto existem 68 Repblicas Federais, sendo grande parte destas, antigos casares transformados em moradias estudantis, cedidos pela universidade, e que possuem um regimento prprio. A reza de cachaa uma prtica apropriada pelos estudantes das Repblicas Federais de Ouro Preto, que consiste em declamar versos rimados antes da ingesto da bebida. Tal atividade pode ser considerada uma espcie de loa, possuindo, normalmente, uma conotao cmica e ldica, abordando desde estruturas temticas religiosas, exaltao das prprias repblicas, da sexualidade, e do excesso no consumo alcolico. Assim como ocorre nas rezas, a maioria das repblicas tambm possui hinos, sendo estes, habitualmente, apropriaes de canes da cultura popular, com ou sem modificaes da letra, que exaltam os mesmos temas. Estas atividades, normalmente realizadas em festas nas prprias repblicas, refletem diversos aspectos da cultura jovem e estudantil ouro-pretana, que, ao transitar entre elementos como tradio e modernidade, hierarquia e a noo de communitas, revela caractersticas que se relacionam tradio oral, ritual, identidade e pertencimento. Desta forma, atravs de observaes etnogrficas realizadas entre 2007 e 2010, discutimos neste artigo questes associadas aos conceitos elencados, atravs de autores como Turner (1974), Hall (2000; 2003), Geertz (1989), entre outros, afirmando esta prtica como um resgate e mantenimento da cultura oral popular mineira.

As funes da msica e a intermidialidade nos programas radiofnicos dos anos 1950 em Porto AlegreKnia Simone Werner (Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre)[email protected]

Intermidialidade um termo relativamente recente para um fenmeno que pode ser encontrado em todas as culturas e pocas, tanto na vida cotidiana como em todas as atividades culturais que chamamos de arte (CLVER, 2008). Considerando essa afirmao, esse artigo tem por objetivo apresentar um estudo, ainda em andamento, sobre uma anlise da relao entre msica e texto de um programa radiofnico transmitido pela Rdio Farroupilha entre os anos 1953 e 1958 em Porto Alegre. De querncia em querncia foi um programa semanal e tinha como objetivo contar a histria da origem de municpios gachos. As narraes eram feitas atravs de dilogos de personagens, um narrador e artifcios sonoros, incluindo trechos de msicas compostas pelo msico Roberto Eggers (1899-1984) especialmente para os programas. Atravs do sistema de identificao deixadas nas partituras por Eggers, possvel sabermos os momentos do programa em que os trechos musicais eram tocados, permitindo analisar a relao msica/texto. A anlise proposta com base na abordagem intermiditica de Irina Rajewsky (2009) e das categorias das funes da msica para cinema criadas por John Wingstedt (2005), sendo elas adaptadas a uma mdia onde a imagem no se faz presente. O artigo apresenta a anlise de dois momentos desses programas, permitindo a exemplificao do que pretende a pesquisa. A proposta se justifica pela ausncia de registros sonoros de programas radiofnicos dos anos 1950 em Porto Alegre. As partituras presentes no acervo de Eggers junto aos roteiros dos programas so um importante registro para o entendimento das concepes estticas e funes das msicas nas rdios da poca.

udio-imagem segundo J. E. BerendtLuiza Spnola Amaral (PUC-SP)[email protected]

Sua voz ficou conhecida na Alemanha bem antes que sua imagem pudesse ser reconhecida pelos ouvintes. Homem do rdio, Joachim-Ernst Berendt construiu uma carreira de sucesso na mdia, durante os quarenta anos em que trabalhou como diretor no departamento de jazz da emissora alem, Sdwestfunk. No incio dos anos de 1980, no entanto, e depois de uma carreira notvel como produtor e crtico de jazz, envereda por um novo caminho, inaugurado com a pea radiofnica Nada Brahma Die Welt ist Klang, onde no mais a msica, mas os sons se tornam alvo do seu interesse. Ainda assim, o conceito de som elaborado por Berendt no visava ampliao da paleta sonora no espectro da tradio musical, mas sua antropologizao. Nesse contexto, o autor propunha a desobstruo do sentido auditivo, de forma a pensar outro tipo de imagem, sem referncia visual, como um contra fluxo diante da excessiva visibilidade das imagens, intensificada aps o advento da televiso, e que gerou o que ele denominou, hipertrofia dos olhos. Suas reflexes acerca do ouvir, longe de parecer retrgradas, antecipavam a importncia de pensar a dimenso humana e sensria como partes dos processos comunicacionais. Entendendo, ento, que o estudo da Comunicao deve ser pensado alm dos meios tcnico, mas atento s modificaes que tais meios proporcionam s relaes sociais, pretendemos apresentar o conceito de udio-imagem segundo Joachim-Ernst Berendt, como forma para se pensar uma esttica ps-miditica da imagem tal qual apresentava Dietmar Kamper - onde a imaginao parte fundamental dentro desse processo.

Bebendo o Blues: a bebida e o cigarro na obra de Celso Blues BoyPaulo Celso da Silva (Universidade de Sorocaba)[email protected]

O trabalho analisa a obra do msico carioca Celso Ricardo Furtado de Carvalho (1957-2012) que escolheu para seu nome artstico o Blues Boy, em homenagem a seu dolo da adolescncia, Blues Boy King, ou simplesmente, B.B. King. Iniciou sua carreira acompanhando msicos brasileiros e, a partir dos anos 1980, desenvolveu sua carreira solo com mais de 20 discos lanados, sendo que o ttulo do ltimo disco, de 2012 foi, Por um monte de Cerveja . O texto analisa a recorrncia do tema bebida Blues cigarro, na obra de Celso Blues Boy, utilizando a metodologia de palavras-tema e palavras-chave, considerando que as primeiras so utilizadas pelo autor, mas de uso geral e, as segundas, caracterizam o poeta-msico. Isso possibilita compreender as particularidades desse estilo musical no Brasil, o fazer Blues no Brasil. O trabalho tambm mostra que a correspondncia entre o Blues e a Bebida, nem sempre feliz, marcou, alm do estilo e a temtica, a vida dos msicos e artistas. As teorias da folkcomunicao demonstram a possibilidade de um estudo brasileiro analisar um estilo estadunidense e propor caminhos para outros temas.

Comunho e potncia nas pistas de msica eletrnica - xtase tecnolgicoCarolina de Camargo Abreu (Departamento de Antropologia/FFLCH/USP)[email protected] pertinente do meu trabalho de campo, este trabalho trata dos muitos corpos que aprenderam a se deixar afetar pela msica eletrnica de pista depois de ocasionalmente consumirem ecstasy. Atento proposta de John Blacking (1995), que nos convoca a considerar as situaes sociais de produo, audio e reproduo nos quais as pessoas atribuem sentido musical aos sons diversos, esse ensaio explora a combinao entre msica eletrnica e ecstasy que transformou rudo em msica nas pistas de raves e clubs durante a virada do milnio. Prope desvio de produo e audio da msica que se posiciona partir das preocupaes dos djs, e convida para o clculo de outro lugar olhado e ouvido da coisa: o engajamento dos corpos danantes na pista de dana. Corpos cheios de rgos vivos e pulsantes, compostos por sistema nervoso, que no apenas recebem, mas produzem sensaes, emoes, significados. Corpos que so instrumentos primrios de conhecimento, como Marcel Mauss (2003) os concebeu.

D meu Dananoninho pra eu virar heri: encantamento e persuaso no jingle Danuza Pessoa Polistchuk (Universidade Municipal de So Caetano do Sul) [email protected]

Este artigo, que permeia as disciplinas propaganda, msica e filosofia, objetiva encontrar uma possvel relao entre a simbologia do heri e o jingle Me D Danoninho, do fabricante de iogurtes Danone, por meio da anlise da letra e do texto musical, e se este simbolismo caracteriza finalidades de encantamento e/ou persuaso. Para atingir este objetivo, a anlise ser feita sob a luz da semitica da cultura, justamente por tratar-se de simbolismo e significao. A anlise da letra e do texto musical no se limitar apenas aos aspectos explcitos apresentados no jingle, mas tambm queles menos perceptveis, e que ofeream a possibilidade de relacion-los ao simbolismo do heri. A relevncia deste artigo est na possibilidade de se encontrar na propaganda cantada aspectos simblicos do heri, comumente usados na propaganda impressa, e apontar se essa simbologia usada s como persuaso, com inteno clara de convencimento, ou tambm como encantamento, contribuindo para a seduo.

Festa do Divino: Msica e Devoo no Serto BaianoThiago Marcelo Mendes (Instituto de Estudos Brasileiros)[email protected]

A proposta de comunicao pretende abordar a Festa do Divino de Brotas de Macabas, no serto da Bahia. Ela ocorre durante 50 dias (entre o domingo de Pscoa e domingo de Pentecostes) e percorre cerca de 100 comunidades do municpio, movimentando-se em 2370 km2 entre a caatinga e cerrado. O principal smbolo da festa a Bandeira do Divino. ela que representa o santo e ao mesmo tempo d sentido e unidade ao grupo. Por sua vez, os tocadores so os responsveis pelas cantorias da Bandeira, sendo elas religiosas (Ladainha do Divino) e festivas (forr e ritmos regionais); estas manifestaes musicais tem a funo de acessar a memria afetiva do grupo, seja atravs da devoo ou atravs da diverso. Neste sentido, f, devoo e festa constituem um modo e um ethos de vida peculiares da populao das comunidades brotenses. Entretanto, o ritual se complementa na medida em que os moradores oferecem alimentos (ch, caf, mandioca cozida, feijo, carne pilada, frutas, bolos) e bebidas (gua, suco, cachaa, vinho, refrigerante) aos acompanhantes da bandeira e tocadores, celebrando uma fartura gastronmica e tambm uma renovao dos laos sociais e afetivos. Assim, a Bandeira do Divino rene festa e devoo num mesmo espao de trocas simblicas, sendo que a msica desempenha papel fundamental, sendo o fio condutor destas manifestaes e performances.

Hardcore, sobriedade e direitos dos animais: reflexes sobre as relaes entre produo musical, veganismo e abstinncia na subcultura straightedgeJhessica Reia (Escola de Comunicao da Universidade Federal do Rio de Janeiro)[email protected]

Esse trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexo sobre as relaes existentes entre a produo musical straightedge, a (no)ingesto de lcool e drogas e a alimentao vegana, que acaba permeando todos os festivais chamados de Verdurada e a cena de hardcore punk que os cerca. Straightedge um movimento que teve incio nos anos 1980, dissidente da cena punk, que buscava um estilo de vida livre de lcool e drogas, por vezes associado tambm ao veganismo, militncia poltica e ao sexo responsvel. A pesquisa a ser apresentada tem como referencial terico os estudos culturais e a interseco dos estudos de msica e/como comunicao. A base para a constituio desse trabalho minha pesquisa de mestrado, realizada entre 2011 e 2013; por isso, se apropria de alguns mtodos utilizados para construir a reflexo aqui proposta. Diante de tantas questes a serem sistematizadas e analisadas, optou-se por realizar a pesquisa em duas partes distintas e complementares: uma de carter terico, bibliogrfico e documental; e outra caracterizada por um estudo emprico realizado atravs de observao participante, da aplicao de questionrios presenciais (durante os festivais) e online (para membros da pgina da Verdurada no Facebook), de entrevistas qualitativas com atores-chave (bandas, selos, coletivo organizador, frequentadores, etc.), e de netnografia complementar. A partir de todo material coletado pode-se analisar melhor o papel que a comida e a ausncia da bebida (principalmente do lcool) exercem na produo musical straightedge e na comunidade como um todo, adquirindo um carter quase ritualstico de interao pessoal, ao mesmo tempo em que e um sinal de distino e pertencimento ao grupo.

Indstria da cultura e indstria de alimentos: causa ou consequncia da homogeneizao e degenerao dos gostos na sociedade de massas?Juliano de Oliveira/ Ronaldo Novaes (Universidade de So Paulo)[email protected]

bastante conhecida a crtica dos frankfurtianos, notadamente Theodore Adorno e Max Horkheimer, de que a msica vinculada Indstria da Cultura (vide o captulo O iluminismo como mistificao das massas em Dialtica do Esclarecimento (1947)), com suas estruturas formais altamente previsveis e repetitivas, alm da nfase em harmonias consonantes e padres familiares, teria sido responsvel por certa infantilizao da audio e poderia haver contribudo, outrossim, para a regresso da escuta. Tambm bastante comum nos tempos atuais a crtica, por parte de nutricionistas e profissionais da rea da alimentao, indstria dos alimentos por haver ocasionado uma homogeneizao dos gostos e contribudo para a criao de paladares infantilizados, que, neste caso, se caracterizaria pela predileo por sabores adocicados e pela averso a verduras, frutas, alimentos desconhecidos e temperos fortes. Nesse artigo buscar-se-, portanto, estabelecer possveis relaes entre as crticas auferidas as indstrias da msica miditica e a de alimentos tendo por base as seguintes questes: haveria, de fato, a cultura de massas (ou para as massas) ocasionado uma homogeneizao e infantilizao de todos os gostos? At que ponto possvel relacionar uma experincia esttica com uma experincia alimentar? No seria, em certa medida, a apreciao gustativa tambm uma experincia esttica em algum sentido? At que ponto podemos conceituar como infantilizada uma cultura pautada nos gostos de uma sociedade de massa construda sob a gide do consumo?

Msica ambiente vs. muzak: potncia criadora de paisagens sonorasThiago Rodrigues Gonalves (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro)[email protected]

necessrio um olhar geogrfico sobre a msica para que possamos contrapor e, acima de tudo, para que possamos diferenciar o que chamamos muzak e o que pode ser compreendido, essencialmente, como msica ambiente. Derivando nosso olhar a partir dos trabalhos de Brian Eno, considerando que a prpria existncia da muzak se d como elemento condicionante da relao dos indivduos com o seu lugar ainda que, no caso, seja esse lugar-sem-lugaridade, porque forjado para o consumo e, a partir disso, ressaltando o carter de potncia criadora da msica dita ambiente (ou environmental), queremos propor a discusso sobre a possibilidade dessa msica como meio para a criao de paisagens sonoras. E, dessa forma, chamar a ateno para o carter eminentemente geogrfico da experincia da msica enquanto fenmeno da conscincia. As paisagens sonoras engendradas pela msica ambiente ressaltando o quanto a msica , tambm, do escopo da existncia e, consequentemente, da Geografia atenta aos fenmenos do Dasein.

Msica da mdia na mente: uma anlise da recepo dos jingles e uma reflexo sobre o gosto musical contemporneoANA LUCIA IARA GABORIM MOREIRA (USP)[email protected]

Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa iniciada em 2012 acerca da presena da mdia na paisagem sonora - conceito estabelecido por Murray Schafer (2011). Segundo o autor, a paisagem sonora muda com o tempo, mas deixa algumas impresses que se perpetuam, no pensamento das pessoas, independente de perodo ou local. Diante disto, tem-se que o acompanhamento destas mudanas pode demonstrar cada vez mais o que est intrnseco ao desenvolvimento da msica da mdia no cotidiano das pessoas. A pesquisa realizada neste ano, alm de abordar a recepo das canes da mdia (VALENTE, 2004) em anllse comparativa dos anos de 2012 e 2013, buscou ampliar as investigaes no campo das msicas compostas especialmente para fins de divulgao de um produto comercial, ou seja, os jingles - que se fixam na memria, mais do que as imagens a eles associadas (BAITELLO JR., 1997). A pesquisa tambm aprofundou as reflexes acerca do gosto musical, que algo individual e nos revela muito sobre aspectos psicolgicos do ouvinte-receptor. Partimos do uso de novas tecnologias, como questionrios online, enviados atravs de redes sociais e e-mails com vrias perguntas conceituais e pessoais, abordando a mesma classe de pessoas e em perodo semelhante, contribui para a validao dos resultados da pesquisa, de modo que possvel chegar a concluses semelhantes s expostas por Schafer em todas as suas anlises, enfatizando a realidade brasileira e considerando que o povo se alimenta da msica da mdia s vezes sem total percepo.

Msica e tecnologia: um novo tempo, apesar dos perigosLeonardo Morel (FGV-Rio)[email protected]

Msica e tecnologia: um novo tempo, apesar dos perigos um livro de minha autoria, lanado em 2010 pela editora Azougue, fruto de minha tese de ps-graduao em Gesto e Produo Cultural pela Fundao Getlio Vargas-Rio, em 2009. Ele descreve de que maneira a inovao tecnolgica impactou o mercado musical na viso de artistas como Geraldo Azevedo, Leoni, quem por acaso escreveu a orelha do livro, o pesssoal da banda Forfun, entre outros. Tambm conversei com pessoas da imprensa especializada como o jornalista Sergio Cabral. O objetivo foi demonstrar que a inovao tecnolgica causou alteraes nas formas de se produzir, divulgar e consumir msica, e, alm disso, descrever de que maneira artistas de diferentes segmentos da msica popular brasileira e demais profissionais da cadeia produtiva da msica esto se adaptando a esse momento de significativas mudanas. O livro faz parte do programa de algumas disciplinas de graduao e ps-graduao, como no curso de Antropologia da msica, da PUC-Rio, e ter em breve o lanamento de sua segunda edio, acompanhada da verso digital traduzida em ingls.

O arranjo psicodlico-intergalctico de Rogrio Duprat na gravao de No identificado por Gal Costa (1969)Jonas Soares Lana (Programa de Ps-Graduao em Cincias Sociais da PUC-Rio)[email protected]

Prope-se uma discusso sobre o modo como o arranjo de Rogrio Duprat para essa verso de No identificado adensa os sentidos das imagens projetadas pela palavra cantada da cano atravs da simulao sonora de duas viagens: a psicodlica e a intergalctica, como narrada em filmes de fico cientfica.

O culinrio em Adorno, Benjamin e Brecht: entre o prazer e a regressoLuiz Fernando de Prince Fukushiro (Universidade de So Paulo)[email protected]

Em alemo, o adjetivo kulinarische, culinrio, indica aquilo pejorativamente aquilo que para ser consumido rapidamente, em um gozo sem esforos. Embora valha para toda a lngua, o termo esteve bastante em voga no incio do sculo XX na crtica e teoria de arte. Adorno coloca em seus textos musicais a msica culinria como algo ruim, de prazer rpido e sem reflexo, talvez na esteira da escuta estruturada de Hanslick, que dizia que a msica era para ser contemplada atentamente, no degustada como um vinho. Em contraponto, Benjamin via na pera culinria de Brecht uma nova possibilidade de experincia, j que o prazer de degustar algo bom ao paladar poderia tambm trazer a crtica tona. Este trabalho tentar delinear ento como o termo culinrio aparece na obra desses autores e tambm tecer relaes entre a escuta e o paladar a partir deles.

O extico no Banquete de Mrio de Andrade discusso sobre a negritude e o projeto de recepo da msica erudita nacionalTheophilo Augusto Pinto (FFLCH USP)[email protected]

Mrio de Andrade, em 1943, imaginou um banquete onde um grupo de comensais discute questes ligadas msica de sua poca. Um compositor erudito, uma cantora lrica, um estudante de direito, um poltico e a rica anfitri so usados pelo autor para tipificar a recepo da msica nacional pelo pblico estrangeiro que, segundo o autor, est interessado no vatap musical brasileiro, isto , no extico. Esse exotismo musical transubstanciado em alimento o objeto deste texto.

O Festival do Folclore de Olmpia, o Grupo Sabor Marajoara e o Culto da Jurema: \"invenes sucessivas e complementaresEstvo Amaro dos Reis (Universidade Estadual de Campinas Unicamp)[email protected]

O Festival do Folclore de Olmpia So Paulo (FEFOL) o maior evento do gnero no pas, completou em 2012 quarenta e oito anos de existncia e em seu espao so encontradas manifestaes folclricas ou tradicionais de todas as regies brasileiras. O Grupo Sabor Marajoara da cidade de Belm (Par), idealizado por Paulo Parente a partir da sua experincia no FEFOL, inicia suas atividades no ano de 1985 e encontra-se entre os grupos cuja histria est diretamente ligada histria do Festival do Folclore de Olmpia. No presente trabalho, analisaremos como no decorrer dos anos os integrantes do grupo Sabor Marajoara aproximaram-se da tradio do Culto da Jurema, cuja bebida de mesmo nome (jurema) desempenha papel essencial no Culto, e utilizaram esta tradio como argumento e justificativa para sustentar sua relao com as manifestaes folclricas ou tradicionais que levam ao palco na forma de espetculos. Para tal, utilizaremos o conceito de tradio inventada discutido por Hobsbawm (1997) e os estudos sobre o mito desenvolvidos por Canclini (2010) e Eliade (1991).Palavras-chavemsica, ritual, festivais de folclore, jurema, tradio inventada.

Olhares da Educao musical sobre as mdias: o velho, o novo e as devidas vertigensMARCELO FERNANDES PEREIRA (UFMS)[email protected]

H uma grande ciso em termos de paradigma cientfico e referencial bibliogrfico extra-musical entre as produes em educao musical do incio dos anos 90 do sculo passado e as publicaes ocorridas a partir da virada do sculo XXI. Por isso, este artigo - que faz parte de uma pesquisa em andamento - pretende justapor dois diferentes posicionamentos a respeito da cultura musical legada pela mdia aos alunos do ensino regular: o primeiro posicionamento decorre de um referencial moderno, que v a mdia a partir do processo de regresso da audio formulado por Theodor Adorno e enxerga a educao musical como uma espcie de contraponto a esse processo; e o segundo, decorrente de teorias multiculturalistas sobretudo inspiradas nas ideias de Garcia Canclini que v com otimismo as mudanas provocadas pela mdia, no as considerando como regresses, mas como hibridismos que resultam, no em perdas, mas em transformaes na sensibilidade musical contempornea. Nosso objetivo desnudar os limites epistemolgicos de aplicao de cada posicionamento e as propostas em educao musical que deles decorrem, sem, no entanto buscar quaisquer tipos de snteses. Nossa metodologia eminentemente bibliogrfica e tem como referencial terico, alm dos socilogos acima citados e de estudiosos de ambas teorias, as publicaes de Nilceia Campos, Maura Pena Jussamara Freire e Vanda Belard Freire ligadas rea de educao musical.

O mundo no para de girar As bebidas alcolicas nas canes de rock nacional dos anos de 1980Gustavo dos Santos Prado (Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo)[email protected]

Uma grande parcela das composies de rock nacional da dcada de 1980, trazem em seu bojo uma trama cultural complexa, resultado das aspiraes que vrios jovens artistas tiveram e que foram experienciadas em um dado cotidiano urbano. Assim, comum as msicas abordarem temticas que polarizavam a ateno dos jovens, tais como relacionamentos, festas, relaes familiares, dentre vrias. Diante desse universo de temticas, que j foram relativamente exploradas na esfera acadmica, a comunicao em questo, visa abordar as formas que, uma parcela do movimento roqueiro da dcada de 1980, representaram em suas composies, as suas relaes com as bebidas alcolicas. O resultado desse envolvimento permite que problematizemos a relao do jovem consigo mesmo, bem como com seu cotidiano vivido. Para tanto, foram trazidas para anlise cinco canes, de grupos e artistas diversos, que fizeram parte do movimento musical em questo.

O Rock and roll carioca nos anos 50Marcelo Garson Btaule Pinto (USP)[email protected]

O objetivo deste artigo iluminar alguns aspectos da gnese do rock and roll no Brasil. Analisando o curto perodo localizado entre 1955 e 1960, busca-se contestar a ideia de que, nessa poca, o rock era praticamente inexistente enquanto pratica social, composto sobremedida por iniciativas esparsas de intrpretes j consagrados. Uma extensa anlise dos jornais e revistas da poca deixa claro que rock and roll era reconhecido como uma dana e no como um gnero musical. justamente essa natureza que nos interessa analisar, o que nos leva descoberta de um circuito de praticas sociais extremamente movimentado nos subrbios cariocas. Nesses locais, os danarinos disputavam concursos onde a superioridade tcnica de suas acrobacias estava em jogo. Organizados a partir da lgica dos shows de variedades, esses eventos contavam com atraes das mais diversas, revelando, em grande medida, como a atmosfera do espetculo importante para compreender o papel social da msica nessa poca.

O Samba e a culinria mineira: anlise de um samba de Toninho Geraes e Paulinho RezendeAna Lcia Ferreira Fontenele (Universidade Federal do Acre)[email protected]

O presente artigo foi motivado por um samba Comida Mineira de autoria de Toninho Geraes e do letrista Paulinho Rezende. Aproveitamos a temtica para situarmos alguns pontos da prtica dos sambas de mesa no Rio de Janeiro. Os compositores traduziram em melodia e letra a saudade da cozinha mineira, associando as delcias salgadas e doces aos prazeres que a mineira, amada e cozinheira, os proporciona. Interessante observar que em boa parte dos sambas que associam a festa com a culinria a figura feminina aparece como a boa cozinheira, que alm do banquete ainda faz a feira. No samba Comida Mineira o compositor, letrista, livra a cozinheira dessa parte da tarefa e ainda incrementa uma bela fogueira! A bebida outro componente imprescindvel no mundo do samba. Ela, a loira gelada, rola solta em volta da mesa do samba e irriga as gargantas dos cantantes e danantes. O samba Comida Mineira resolve problemas, como em geral os sambas o fazem. Uma paixo declinada, uma dvida, uma ou vrias saudades. Nesse banquete mineiro desfilam o tutu, o cheiro verde, a vaca atolada, a pimenta, a mandioca, a polenta, o angu, a carne seca, o i i, o i i e tudo o que mais rolar.

Os sons no rito da comunhoEverton Vieira Barbosa (FCL Unesp/Assis)[email protected]

A msica, presente em diversos eventos como festas, encontros, bares, filmes, casas, tambm partcipe em sacrifcios e cerimnias religiosas de maneira direta ou indireta, conectando as pessoas em um mesmo ritmo de envolvimento. Pensando no contexto religioso, especificamente nas igrejas catlicas, foco deste trabalho, a msica, com seu conjunto sonoro e rtmico atua ritualisticamente, envolvendo seus fiis quele ato coletivo. Como exemplo, podemos observar as msicas executadas no rito da comunho, onde simbolicamente o corpo, em formato de hstia (po sem fermento), e o sangue, em formato de vinho, sero ingeridos por estas pessoas. Suas letras representam o ato concreto feito por estes fiis, fazendo meno procisso, ou transformao do po no corpo de Cristo e transformao do vinho no sangue de Cristo, entre outras. Neste sentido, buscaremos observar e analisar algumas msicas que fazem parte deste momento nas missas, buscando entender, em suas letras, a representao sonora manifestada pelo ato concreto das pessoas que participam do rito da comunho.

Os Ticuna e a bebida dos imortaisEdson Tosta Matarezio Filho (Universidade de So Paulo - Departamento de Antropologia)[email protected]

Minha comunicao se baseia em minha pesquisa de doutorado sobre os Ticuna ndios de lngua isolada localizados na trplice fronteira entre Brasil, Colmbia e Peru o mais numeroso grupo indgena do Brasil. Entre estes ndios, a moa que menstruou pela primeira vez fica reclusa at que seja aprontada sua festa de iniciao, a chamada Festa da Moa Nova. A menina ficar reclusa em um quarto feito de talos de palmeira buriti, anexo casa de festas. Atrs deste local de recluso, no recinto dos trompetes, ficam os instrumentos sagrados, que tocaro durante o ritual, aconselhando a moa nova. O copeiro encarregado de cuidar para que se cumpra o processo ritual e de servir bebida fermentada para os convidados , conta para o soprador de trompete o nome do cl da moa. Ento o trompete canta pedindo bebida reclusa. Quando ele pede o caldo para a moa nova, ela suspende as palhas do curral dos instrumentos e entrega a vasilha com a bebida para os tocadores. A bebida vertida na boca dos trompetes tambm, pois estes so considerados pessoas e devem ser alimentados durante a festa. Ao longo de minha comunicao pretendo apresentar o principal motivo para os Ticuna fazerem a Festa da Moa Nova: alcanar a imortalidade. Segundo um de meus informantes, quando todo mundo est de porre a casa sobe [para a terra dos imortais]. Antigamente, aparecia um imortal para muitas moas e levava elas. Os encantados [imortais] levavam todo mundo que estava na festa com ela.

O tringulo e o biscoito fino para as massas: reverberaes culturais de uma prtica ambulanteThas Amorim Arago (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)[email protected]

O som do tringulo e o sabor do chegadinho so frequentemente associados por habitantes de Fortaleza a uma memria de infncia, que tambm pode ser acionada ao mero presenciar do evento sonoro que a passagem do vendedor desse biscoito pelas ruas da cidade. Neste trabalho sero apresentados dados que emergiram do contato com um grupo de vendedores, sobre a forma como eles articulam o som para se comunicar com a populao em seus percursos, alm de como conseguem seus instrumentos e como percebem sua prpria relao com o tocar - e tambm com o cozinhar, pois muitos fazem os biscoitos que vendem. Desenvolvida em nvel de mestrado no Programa de Ps-graduao em Plenejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PROPUR-UFRGS), a pesquisa traz um panorama sobre a combinao desse alimento e desse instrumento de percusso em uma prtica que persiste em vrias cidades do pas, da Amrica hispanofalante e da Pennsula Ibrica, alm de sua profunda influncia na msica popular brasileira, notadamente a nordestina.

O Yoga no ocidente: sonoridade, alimentao e ritualJulicristie Machado de Oliveira (Unicamp)[email protected]

Yoga um substantivo masculino de origem snscrita que significa unio e trata da juno do ser individual, fenomnico com o absoluto, atemporal. Segundo Patanjali, responsvel pela primeira sistematizao sobre o tema, yoga a supresso dos movimentos da conscincia. A prtica do Yoga no ocidente to plural quanto instigante, diferentes linhas so revisitadas e ressignificadas. As sanas, ou posturas, so as caractersticas mais marcantes e facilmente associadas prtica. Outras nuances, entretanto, so muitas vezes recorrentes: a sonoridade e a alimentao. Msicas instrumentais, mantras, sons da natureza e outros elementos criam uma atmosfera interiorizadora, um convite para se reduzir as oscilaes da mente, do (s)om ao silncio. O mantra uma frmula invocatria e sua repetio uma prtica meditativa. O som de om, ou aum, slaba mstica, uma ponte sonora que transcende o fenomnico rumo ao atemporal. Ascese, alimentao vegetariana e outras discusses sobre diettica criam uma atmosfera reflexiva, um convite para se pensar sobre o que se come, das questes ticas sade. Ademais, em tempos de lightizao da existncia, dos corpos e do comer, elaboram-se outras questes a serem ou no respondidas. E temos que considerar que o Yoga no ocidente tambm tem tambm seu ritual: no h uma boa sesso que no se inicie com um ch quente na sala de espera, ao som de uma citara; transcorra com suas sanas, pranayamas, mudras, bandhas e kriyas, com uma musak ao fundo; e no termine com os yogins em padmasana pronunciando repetidamente o om.

Para comer e para levar, para cantar e para bailar: Estudo da msica salsa como patrimnio imaterial musical da dispora afro-latino-caribenhaJULIO MORACEN NARANJO (Universidade Federal de So Paulo)[email protected]

O trabalho trata do estudo da msica salsa no Caribe e no Brasil, enquanto acontecimento espetacular-musical patrimonial que se desenvolve em espaos culturais da dispora atlntica. A salsa como movimento musical e cultural ganha amplitude face Globalizao, por conter um estilo performtico e musical que interfere nas culturas brasileiras e caribenhas por suas narrativas sonoras transnacionais e interculturais. Analisando-a no sentido de potencializar abordagens cosmopolitas, pensamos poder contribuir com questes para alargar, terica e analiticamente, discusses sobre as mediaes entre msica + comida + bebida, em um enfoque de dilogo local/ regional e transregional, onde a salsa, e patrimnio imaterial espetacular-musical transculturado, na perspectiva de Fernando Ortiz em seu livro Contrapunteo Cubano del Tabaco y del Azucar. A pesquisa e apresentada a partir da analise de artistas, danarinos e bailadores, espaos culturais e mestres (tesouros humanos vivos), trazendo ao primeiro plano dilogos antropolgicos e uma histria das interrelaes culturais no espao conhecido como afro-latino-caribenho a partir do Caribe e do Brasil.

Piquenique Classe C: msica, alimento, histria, literatura e sociedadeGuilherme Gustavo Simes de Castro (Universidade Federal de Santa Catarina)[email protected]

Piquenique Classe C, crnica de Osvaldo Molles, narra personagens e cenrios na cidade de So Paulo entre os anos 1940 e 1950. Aborda de maneira espontnea aspectos sociais atravs da histria de um convescote em Santos que fizeram os operrios da Tecelagem da Virgem S/A, rua Catumbi em So Paulo. As manifestaes musicais e gastronmicas dos operrios paulistanos aparecem de maneira clara nos excertos: (...) De repente, nascem cestas na areia. Pacotes desabrocham em frangos assados. Aparecem garrafes de vinho nacional. Surgem marmitas. E todo mundo mastiga. O rudo dos queixos parece querer afogar a msica do mar. (...) comeam a tecer msica que nasceu do outro lado do mar. (...) a cano do Scapricciatiello. Depois vem a Mala femmena... Uns pedem O Solo Mio... Mas tudo termina mesmo em baio. Numa interface entre Histria e Literatura quero relacionar o texto ficcional com o contexto histrico e material da expanso urbana da capital no perodo. Os costumes e experincias musicais e de hbitos de alimentao so de extrema relevncia como dados para construo do conhecimento de uma sociedade. A historiografia deve aproximar-se da msica, da literatura e das mdias e buscar, em todos os tipos de linguagens, fontes e documentos, indcios de determinados contextos e experincias histricas da vida das pessoas e sua relao com o mundo. 1. MOLLES, Osvaldo. Piquenique Classe C: crnicas e flagrantes de So Paulo. So Paulo: Editora Boa Leitura S/A, s/d., p. 24 e 25.

Rasa: o sabor da msica clssica indianaMarcus S. Wolff (Universidade Candido Mendes)[email protected] comunicao est inserida tanto no primeiro eixo temtico desse Encontro quanto no segundo, j que a temtica aqui abordada diz respeito ao conceito de rasa, elaborado na ndia Antiga inicialmente no contexto dos rituais vdicos, onde tambm se dava uma associao entre msica e bebida visando o despertar de estados alterados de conscincia. Assim, o termo snscrito rasa pode ser encontrado no mais antigo dos Vedas, associado a uma bebida (soma) utilizada nos rituais, denotando a seiva das ervas utilizadas em sua preparao. J nos Upanishads, textos hindus posteriores, rasa adquire o sentido de elemento essencial ou energia vital (prana), reaparecendo no tratado de msica, teatro e dana conhecido como Natya Shastra (escrito no sc. I d.C.), onde adquire trs associaes bsicas de significado, a de ser um objeto de percepo atravs do paladar, a de ser a essncia de algo, seu sumo ou seiva e a de ser algo lquido e dinmico. Tais associaes foram importantes no contexto do teatro snscrito da ndia clssica, onde a dana, o teatro e a msica formavam um todo inseparvel e nessa fase do desenvolvimento da cultura indiana, sobretudo a partir do sc. V d. C., o termo rasa tornou-se um termo tcnico referente tanto quilo que os espectadores experimentavam ao assistirem ao teatro danado e musicado (samgita) quanto ao carter prevalecente dessa pea teatral. Em fase posterior, a definio do rasa (ou sabor) pelo espectador permitiu que se estabelecessem associaes entre as estruturas meldicas das tradies clssicas (ragas) e os rasas, compreendidos ento como estados emocionais codificados pela tradio iniciada por Bharata, o mtico autor do Ntya Shastra. A associao entre ragas e rasas ainda mantida hoje em dia pelos grandes mestres das tradies clssicas indianas (hindustani e carntica), gerando enormes discusses sobre o carter essencial das estruturas meldicas antigas e novas. O objetivo dessa comunicao apresentar ao pblico brasileiro o desenvolvimento dessa relao entre os rituais hindus (que envolviam comidas e bebidas), o teatro snscrito e a msica, destacando a ideia de rasa como promotora da integrao entre as artes, j que era um princpio orgnico presente em todas elas, capaz de conduzir o espectador/ouvinte a um estado de conscincia peculiar, distinto da conscincia ordinria. Pretende-se, assim, demonstrar como o termo rasa, oriundo dos rituais vdicos e da culinria indiana, foi utilizado metaforicamente para indicar um tipo de experincia esttica que tambm implicava a entrada do espectador/ouvinte num estado de conscincia alterado e especial. O referencial terico desse trabalho se apoia na semitica de matriz peirceana, tal como desenvolvida por aqueles que se dedicaram ao estudo da semitica musical, em especial, por Jos Luiz Martinez, autor de Semiosis in Hindustani Music (1997), obra em que elaborou uma teoria semitica da msica na qual distinguiu seus campos de anlise: o da semiose musical intrnseca, que lida com a significao musical interna e o estudo do signo musical nele mesmo, o da referncia musical, que trata da relao entre o signo musical e seus possveis objetos e com os diversos tipos de representao que ligam o signo musical a seus objetos e o da interpretao musical, que analisa a ao dos signos musicais numa mente existente ou potencial. Neste sentido, o estudo do desenvolvimento do conceito de rasa, aqui apresentado, insere-se no campo da interpretao musical, uma vez que atravs da percepo e da cognio que o espectador/ouvinte distingue o rasa dos elementos particulares que o representam. A metodologia utilizada baseia-se no levantamento bibliogrfico, na utilizao das ferramentas de anlise fornecidas pela semitica peirceana, bem como numa anlise das fontes primrias, especialmente dos tratados escritos na ndia entre o sculo I e XII da era crist, desde o mtico Bharata Muni, at Abhinavagupta (nascido na Cachemira no sc. X), autor de comentrios sobre o Ntya Shastra (Abhinavabharati) e sobre tratados de estetas que o antecederam, como Anandhavardhana, Bhatta Lolata e outros. A leitura e anlise dessas fontes parece indicar, at o momento atual dessa pesquisa, que o conceito de rasa possui uma longa trajetria no contexto indiano, chegando at o sculo XX, poca em que Omkarnath Thakur (1897 1967), um renomado cantor e musiclogo indiano, destacou que a grande variedade de ragas na msica clssica hindustani no podia ser tratada em termos de sistemas classificatrios reducionistas, apenas baseados em escalas, tal como fizeram alguns musiclogos ocidentais e indianos no comeo do sc. XX. Assim, em sua monumental obra Sangitanjali (1955-75), descreve as estruturas meldicas clssicas dando ateno s qualidades musicais especficas desses ragas, seus ornamentos, registros e demais sutilezas e aos rasas que cada raga representa. Tal obra, escrita em seis volumes, demonstra que a tradio esttica iniciada por Bharata continua viva na ndia, inspirando vrios intrpretes/ compositores a criarem um tipo de msica que est indissoluvelmente ligada s emoes e sabores da vida.

Ritmo, color y sabor: emprstimos identitrios entre a msica, a gastronomia e as polticas publicas de promoo turstica no Peru.Fernando Llanos (Fundao das Artes de So Caetano do Sul / Faculdade Campo Limpo Paulista)[email protected]

O presente artigo discute alguns dos elementos que conformam a linguagem esttica da chamada msica negra peruana e sua relao com a culinria da costa desse pas, analogia que por sua vez exemplifica complexas leituras sociais, toda vez que elas identificam uma populao negra ou descendente, assim auto-definida. Tradicionalmente, a lrica da msica costeira peruana tem encontrado nas iguarias uma particular extenso polissmica da sua performance. Isto se deve, em parte, existncia do consenso espalhado de que as famlias negras souberam conservar as tradies culinrias ao longo da histria e, por isso, se destacam na preparao de alimentos. Esta crena cujas bases histricas datam da economia escravocrata se reafirmou quando, nos ltimos 10 anos, o pas andino ganhou notoriedade mundial ao tornar-se destino obrigatrio do turismo gastronmico internacional. Em consequncia, o Governo peruano sistematizou grande parte do seu patrimnio imaterial que, atualmente, gerenciado como recurso econmico no marco de polticas pblicas de promoo turstica. Nesse ponto, surge a Marca Per, que viria a ser literalmente uma etiqueta ou distintivo outorgado e condicionado a uma avaliao tcnica prvia, com a qual as autoridades determinam aqueles que merecem representar ao pas no circuito comercial das rotas tursticas. Como opera esta espcie de reavaliao comercial da histria e quais os pesos e medidas para cada protagonista? Nesta fase e sob estas condies polticas e sociais, a comida e a msica da costa peruana configuram-se numa simbiose de interdependncia, em que uma a trilha sonora das refeies tpicas, e a outra um complemento cultural-esttico para ressaltar uma experincia multissensorial. Por outro lado, a situao tambm parecer ter instaurado um veculo de expresso identitria intricado, em que o gosto da msica e da comida aludem ao gosto da cor da pele, representado pelo arqutipo do negro e todos aqueles que lembrem seus traos (fentipos). Assim, esta sntese comida-msica-negra-peruana apresenta-se como uma arena de diversas tenses, de trocas culturais (pois os referentes andinos e ibricos tambm jogam um papel importante), de relaes de poder, de inspiraes poticas e reafirmaes tnicas.

Saraus, rcitas lricas, bailes e concertos ituanos: as sinhazinhas, e seus dons musicais, embebidos em gengibirra e quitutesMarcos Jlio Sergl (Universidade de Santo Amaro UNISA)[email protected]

As reunies familiares com intuito artstico ganham fora no Brasil no sculo XIX, sobretudo, para apresentar os dotes musicais das moas. As prticas musicais socialmente aceitveis realizadas pelas sinhazinhas esto ligadas ao espao domstico, por meio dos saraus, concertos, rcitas lricas e bailes. O preparo para esses eventos muda a rotina da localidade. A decorao esmerada composta por arcos de folhas e festes sobre as portas e janelas, grandes vasos com buqus de flores e arbustos, no exterior e no interior dos edifcios. Os doces e licores especiais so parte essencial dessas festas. E a localidade conta nessa poca com Maria Custdia, que ajudada por duas escravas, arma mesas de doces, que parecem obra tcnica de engenharia. A pera italiana tem aceitao plena e constitui a base do repertrio musical. As companhias italianas e nacionais, que apresentam suas mais recentes criaes, ditam a moda e o comportamento da sociedade local. E os jornais dedicam pginas inteiras descrio dessas festas, s quais todos comparecem. A partir da divulgao de eventos por parte da imprensa ituana, destacamos uma grande quantidade de bailes, saraus, peas e concertos na localidade. Festas escolares de trmino do perodo letivo, atos governamentais, solenidades religiosas e cvicas, aniversrios, tudo motivo para festejo. Assim, a monotonia da cidade provinciana quebrada. Nesta pesquisa iremos analisar esses eventos de lazer cultural e social que destacam Itu no cenrio da Provncia de So Paulo.

Tem acaraj na cano: estudo sobre a presena da iguaria nas canes brasileirasAyeska Paulafreitas de Lacerda (Universidade Estadual de Santa Cruz)[email protected]

O acaraj um bolinho feito com feijo fradinho e frito no azeite de dend. Uma das tradies da cozinha baiana, tem origem na culinria africana e, alm de atender ao apetite do baiano comum no fim da tarde, tambm a comida do orix Ians. A iguaria vendida em locais pblicos por mulheres vestidas em trajes tpicos as chamadas baianas de acaraj que se sentam diante de seus tabuleiros de comidas doces e salgadas enquanto fritam os bolinhos no azeite fervente, diante do fregus. Devido sua importncia para a cultura baiana, tornou-se um dos smbolos da baianidade e em 2004, o Ofcio das Baianas de Acaraj foi registrado como bem cultural do Patrimnio Imaterial no Livro dos Saberes. Sendo assim, pensou-se neste trabalho sobre a presena do acaraj na musica popular brasileira, que tem por objetivo observar de que modo ele citado nas letras das canes: como um simples alimento? Como smbolo de baianidade? associado a festas, a bebidas, a outras iguarias? Para responder a essas questes, o mtodo de trabalho constar de um levantamento de canes em cujas letras haja a meno ao acaraj, definio das categorias de anlise e a anlise de contedo de acordo com Laurence Bardin. Com os resultados, espera-se contribuir para os estudos da cano, os estudos identitrios e para as intersees entre ambos.

Venha para onde est o sabor, venha para o Mundo de Marlboro: Msica e histria na publicidade tabagista (1980)Marcel Oliveira de Souza (USP)[email protected] Tizatto dos Santos (Universidade do Estado de Santa Catarina)[email protected]

Esse trabalho procura discutir a produo audiovisual utilizada pela indstria tabagista Philip Morris, exibida na televiso brasileira na dcada de 1980, para a promoo, venda e consumo dos cigarros Marlboro. A msica Main Title And Calvera de Elmer Bernstein do filme The Magnificent Seven - 1960, o cenrio rural prprio do estilo western, e a representao do cowboy, so apropriaes do cinema que passam a ser encarados servio do consumo de tabaco, em uma constante exibio televisiva. Proibida para exibio no Brasil em 2000, atravs da Lei 3.156 do governo Fernando Henrique Cardoso, a execuo da publicidade tabagista ficou restrita aos pontos de venda, contudo, h muita histria, representao e apropriao (CHARTIER, 2010), no intercurso entre a indstria tabagista e o consumo. O caminho que o produto faz para chegar at o consumidor intermediado por estratgias miditicas, que podem ser observadas em pelo menos todo o sculo XX. A prtica do tabagismo foi propagada permeando slogans, envolvendo tramas familiares, nas cenas e cenrios do cinema, do rdio e da televiso. A imagem positivada do tabagista, as paisagens litorneas e rurais, a juventude e a ideia de liberdade, so eixos temticos apropriados pela produo comercial para o rdio, o cinema e a televiso, e, nestes suportes que a imagem em movimento, e a vocalidade tecnicamente mediatizada (ZUMTHOR, 1997) acompanhada de recursos musicais e potico-musicais, assim, contribuindo para a elaborao da mensagem do compre-me, que aparece na relao entre imagem, msica e produto (TAGG, 2004). Uma vez que a publicidade analisada neste artigo foi produzida para linguagem televisiva, vale considerar os usos do cotidiano (CERTEAU, 1994) na elaborao, na interpretao e na recepo da mensagem tabagista no interior da materialidade audiovisual.

Psteres

As Bacantes: msica, comida e bebida e seu poder de regeneraoLouise Monteiro Bonassi (Universidade de So Paulo)[email protected]

Se considerado o dilogo que se tramou entre as tradies africana e europia como caracterstico da formao da cultura brasileira, sabe-se que essa traz em si a marca fundamental de permebilidade e hibridez, aspectos que propiciam seu carter de renovao. Pensando nisso, a presente fala pretende partir da cano Comida e Bebida, criada para a montagem feita pelo Teatro Oficina da pea As Bacantes de Eurpides (msica de Jos Miguel Wisnik e Z Celso Martinez Corra e letra de Z Celso), analisando de que maneira a leitura dessa pea se distancia de algumas interpretaes moralistas e reafirma pontos fundamentais da pea grega. Definida por Z Celso como tragdia-comdia-orgia do rito dionisaco, a leitura do Oficina se distancia de um olhar da tradio grega como distante e apartada da realidade brasileira, elaborando uma traduo da tragdia dentro do repertrio da cano popular brasileira e em dilago com as especificidades dessa cultura, j que o rito de Dionsio est tanto na origem da tragdia quanto na do carnaval. A msica apresentada na pea com o argumento do cego Tirsias ao rei Penteu, aps este ter vetado permanncia de Dionsio na cidade de Tebas. A fala de Tirsias alude aos prazeres da comida e da bebida, foras que sintetizam toda a expresso e a fora do corpo material e do transcendente espiritual. A pea do Oficina extrapola a imagem j desgastada de Dionsio como deus dos poderes embriagantes, do vinho e da comida, atribuindo a ele o potencial do dilaceramento de uma identidade cristalizada e permitindo, atravs do transe, uma nova significao da vida, capaz de trazer a regenerao.

Hip hop em Juiz de Fora: a ideia de cena musical e a retrospectiva histrica do hip hop na cidadeLia Rezende Domingues (Universidade Federal de Juiz de Fora)[email protected]

O presente artigo procura realizar uma retrospectiva histrica do hip hop em Juiz de Fora, com especial enfoque na msica rap, e analis-lo a partir do conceito de cena musical. Os dados histricos relativos ao desenrolar do movimento na cidade foram obtidos, basicamente, atravs de entrevistas com pessoas envolvidas na cena local, alm de vdeos e trabalhos acadmicos j realizados sobre o assunto. Assim, em primeiro lugar, faremos uma reviso dos estudos acerca dos movimentos juvenis com o intuito de esclarecer como surgiu e o que de fato significa o conceito de cena musical. Para tal, partiremos da Escola de Chicago da dcada de 1920 e chegaremos aos ps-culturalistas dos anos 1990, passando pelos Estudos Culturais de Birmingham enquadrados nas dcadas de 1960 e 1970. Depois, faremos uma breve narrativa a respeito da histria do hip hop em Juiz de Fora, partindo dos primeiros bailes black organizados durante a dcada de 1980 para chegarmos, enfim, aos atores que protagonizam a cena local na atualidade. No final, procuraremos unir a academia e a histria e, a partir da pertinncia do conceito de cena musical enquanto base para a anlise de prticas culturais, buscaremos compreender com maior clareza os articuladores e como se d a organizao da cultura hip hop na cidade de Juiz de Fora.

Muito alm do Hit: consideraes sobre Junk MusicAlex Kantorowicz Buck (UNESP)[email protected]

Acreditando na potncia do encontro interdisciplinar, o presente trabalho problematiza a escuta musical no Brasil atual apoiando-se em duas pesquisas recentes que compartilham do mesmo objeto de estudo, a saber, os efeitos da alimentao de produtos industrializados e a consequente pandemia de obesidade. O documentrio brasileiro Muito Alm do Peso e o livro Salt, Fat, Sugar: How de Giants of Food Hooked Us tratam da impotncia da sociedade - em escalas macro (polticas governamentais) e micro (orientao familiar) no enfrentamento as aes das grandes corporaes do segmento alimentcio que manipulam as taxas de sal, acar e gordura dos alimentos (processo denominado otimizao) como estratgia de seduo, captura e manuteno de consumidores. A questo principal deste trabalho se faz a partir da observao de que um hit1 elaborado com a mesma finalidade com que so sintetizados os alimentos industrializados: existe uma inteno comercial evidente, a de se efetuar e contaminar o maior nmero de pessoas. Em msica, o sal, a gordura e o acar parecem ser substitudos por padres tonais simples, mtricas binrias, pulsos regulares, discursos curtos, letras fceis de se decorar e compreender. Encontrados os denominadores comuns entre a maioria da produo de msicas comerciais pode-se especular sobre a existncia de efeitos malficos a sade quando da exposio a msicas grudentas2 e descartveis que cotidianamente so lanadas pelos diferentes tipos de mdia. 1Hit um termo ingls que significa obter sucesso, ou tornar-se popular. No caso do mercado musical as duas noes se confundem j que o sucesso de um single (uma msica) justamente tornar-se popular. Existem ranks semanais que medem a capacidade de venda dos singles. O rank mais respeitado o da revista Billboard. 2 Referncia ao termo sticky music utilizado por Oliver Sacks para descrever msicas constitudas por padres tonais e que recorrentemente surgem como alucinaes musicais em vrios de seus pacientes. Dentre os gneros que mais aparecem como causadoras desse tipo de sintoma esto as canes natalinas.

O samba e a cerveja como smbolos nacionais: eu sou BrahmeiroAntonio Layton Souza Maia (Universidade Federal do Cear)[email protected]

O presente artigo, partindo de uma propaganda da cerveja Brahma, busca entender como a cerveja e o samba tornaram-se elementos da identidade nacional brasileira. A partir de uma viso scio-histrica, embasada pelas consideraes de Schneider sobre a brasilidade, discute as principais caractersticas do imaginrio nacional brasileiro, para, ento apoiado pelos levantamentos de dados histricos de Vianna, Diniz e Coutinho, encontrar os principais elementos que elevaram tanto a cerveja quanto o samba ao patamar de smbolos nacionais.

O Significado Musical: ExpectativasKarin Segalla Ferreira (FAE Centro Universitrio)[email protected]

O objetivo do presente trabalho apresentar um modelo de teoria para as expectativas e significado musicais, atravs de pesquisas j realizadas que perpassam desde o entendimento de como a msica se torna significativa, do conceito de tendncia, e da musicologia cognitiva. O pioneiro trabalho de Leonard Meyer (1956) ser apresentado em nosso captulo primeiro, trazendo a discusso entre as perspectivas formalista e referencialista do significado musical e um posicionamento mais emocional das expectativas. A teoria de David Huron (2006), autor que estudaremos em nosso captulo segundo, entendida como uma proposta derivada da teoria de Meyer, complementar e ao nosso ver, mais madura e atual, pois o autor foca-se nos aspectos neurolgicos e fisiolgicos para explicar o fenmeno da antecipao musical. Em nosso captulo terceiro, apresentaremos a Teoria da Relevncia proposta por Sperber & Wilson (2005) e relacionaremos o conceito de comunicao ao efeito cognitivo. O encerramento desse trabalho nos leva ao possvel dilogo existente entre a TR e as expectativas musicais. Sendo assim, a TR pode ser um caminho possvel para explicar a questo que nos norteia: msica comunica(?). Dessa forma, buscamos atravs desse trabalho expor teorias e introduzir uma possibilidade para explic-las. Nossa inteno foi trazer um novo modelo para discusso que pode ser um caminho para formulao de uma nova hiptese no escopo terico escolhido, sendo essa discusso para ns necessria e plausvel a partir das formulaes tericas previamente estudadas. Msicas comunicam, e so manifestaes sonoras comunicativas dos seres humanos. A abordagem terico-relevante um caminho para que essa concluso seja efetiva. Ela uma interface entre a razo e a emoo e uma potencial sada terica para as questes abordadas.