a 3 de dezembro de 1972 Cr$ 2,00 27 Ano II Número...

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27 de novembro a 3 de dezembro de 1972 Ano II Número 58 Cr$ 2,00 / "WjWT tf ^ j ,M a peripecia de um poeta Tristao de Athayde em POÜTKA ? J ? ? ?

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27 de novembro a 3 de dezembro de 1972 Ano II — Número 58 — Cr$ 2,00

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Tristao

de Athayde

Tristao de Athayde

10 anos depoisMeu velho mestre Jacques Maritain é

agora apenas o "

frère Jacques" dos"irmãozinhos de Charles de Foucauld",

como na canção medieval francesa, patri-

mônio popular de todos os povos. Patri-

mônio universal também é hoje esse"frère

Jacques" de Toulouse, em carne e

osso (aliás muito mais osso e espírito do

que carne ...), que entra galhardamente

na última década anterior ao centenário!

Li, com a maior alegria, a entrevista por

ele concedida a Antônio Carlos Vilaça,

que atravessou expressamente o Atlânti-

co, como enviado especial do Jornal do

Brasil para ouvir pessoalmente o glorioso

nonagenário.

A alegria que tive não foi a de saber

que o velhíssimo mestre não se esquecera

de seus velhos discípulos. Mas de verifi-

car que, a dez anos do nosso último

contato pessoal, continua ele tão jovem e

lúcido como em 1962, quando fui vê-lo,

já recolhido ao acampamento dos "petits

frères" em Toulouse, junto ao moderno

convento dos Dominicanos, construído

segundo planos de Le Corbusier. Acaba-

ra, então, Maritain de completar oitenta

anos e eu vinha de Roma, da abertura do

Concilio. O primeiro objeto que vi nas

mãos do venerando "guru"

foi a fotogra-

fia de João XXIII, com a mais afetuosa

das dedicatórias.

A mensagem de otimismo e de trans-

tendência, que o filósofo da Esperança e

da Primazia do Espiritual envia ao Brasil

e ao mundo, em 1972, nesta sua memo-

rável entrevista, continuaa ser a mesma

que me confiou há dez anos. Acabava ele

de perder, dois anos antes, a sua amada

Raissa. "Nunca

mais irei a Paris",

disse-me'então, pois lá, num sobrado da

rue du Bac, é que partira a companheira

de toda a vida para sua descoberta do

Céu. Quando, agora, Maritain fala de sua

curiosidade em conhecer o céu, está con-

firmando as últimas palavras de Léon

Bloy, a quem tanto deveu sua conversão,

embora com temperamentos absoluta-

mente opostos. Ele, o "homo

cordial is",

por natureza; Bloy, por natureza o agres-

sivo "peregrino

do absoluto". Real men-

te, pouco antes de morrer, respondera

Bloy concisamente a um amigo que lhe

perguntara o que sentia nessa hora de

agonia: "une

grande curiosité".

Dizia, aliás, Aristóteles que a curiosi-

dade é a mãe da filosofia. Essa sede de

verdade dominou também toda a vida de

Maritain. Mas a descoberta da verdade

integral, longe de o encher da arrogância

habitual aos que se proclamam "donos

da verdade", comunicou ao velho mestre

de tantas gerações, embora falando a um

mundo tão indiferente à Verdade, um

espírito de humildade, de fraternidade e

de simplicidade, que me confiou aos

oitenta anos como acaba de o confirmar

a seu jovem entrevistador, uma década

depois. Como me alegro de ver essa con-

firmação da alegria espiritual profunda

que continua a fluir, cheia de otimismo,

do mestre.

"Liberdade, Justiça e Paz", palavras

do Sábio, presentes em toda asua obra,

como hoje na conversa com o jovem

brasileiro, que melhor lema para uma

humanidade que se debate diariamente

contra a opressão, a desigualdade e a

guerra? E na hora em que um Cardeal,

tão ilustre como Daniélou, da Compa-

nhia de Jesus, fala em "decadência"

da

Igreja, o testemunho de um leigo, mas"maestro

di coloro chi sono", nos asse-

gura luminosamente que a vida da Igreja,

como presença do Cristo na História,

ontem como hoje e como será amanhã, é

uma crise perene, mas de perene cresci-

mento embora descontínuo, em que os

aparentes sinais de decadência ou de cri-

se, de que os pessimistas e integristas

fazem um cavalo de batalha, são apenas

os caminhos secretos do fermento na

sombra da massa

Na aludida canção medieval, o inter-

locutor interpelava o "irmão

Tiago",

dizendo-lhe:

"Frère Jacques! frère Jacques!

Dormez-vous? dormez-vous?

Sonnez les matinês! sonnez les mati-

nes! (Conta André Malraux no seu livro"La

confition humaine", em que narra

suas aventuras no Camboja, no início da

revolução chinesa, nos idos de 1930, que

o hino cantado pelos jovens revoluciona-

rios era baseado na música medieval de"Frère

Jacques", (sic.) o que mostra que

o imprevisto e a universalidade represen-

tam mesmo a essência da condição hu-

mana!).

Quanto ao nosso irmão Tiago de

Toulouse, com os seus 90 anos bem vivi-

dos, esse não dorme. Mas continua a

tocar o sino das Mati nas para todos os

que dormem .. .Assim o encontrei aos

80! Assim continua aos 90! Assim che-

gue aos 100! D*~u$ seja louvado.

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POLITIKA

Sebastião

Nery

"A

nossa Igreja é do povo

de

Deus no sertão. É uma Igreja

pobre, oprimida,

perseguida.

Mas também uma Igreja livre,

repleta de esperança e amor' |

denuncia

J

j^^dÉff

^ ¦'''-. *** k

Dom Pedro Maria Casaldaliga Pia

A

IGREJA

QEDEUS

Há um ano, no dia 23

de outubro, aconteceu na

margem direita do Rio

Araguaia a sagração po-

pular de um bispo. Não

houve pompas. Não hou-

ve autoridades convida-

das, como sempre aconte-

ce. Dom Pedro Maria Ca-

saldaliga Pia, 44 anos, um

homem pequeno, magro,

carregando sobre o nariz

adunco pesados óculos de

aro de tartaruga, rosto se-

co como todo seu corpo,

caminhou por entre a

gente simples da terra.

Apertou mãos, recebeu

abraços e presentes.

0 único luxo na ceri-

mônia simples: uma tími-

ca branca, de algodão,

que vestia. Presente de

velha sertaneja da região,

que plantara, fiara, tecera

durante meses. Em lugar

da mitra, um chapéu de

palha. Não houve discur-

sos, nem mesmo quando

cacique dos Tapirapés

lhe deu o báculo tosco,

de pau-brasil.

Dom Pedro MariaXa-

saldaliga Pia é homem

simples, decidido:

"Tanto eu como meus

companheiros de prela-

zia, religiosos e leigos, te-

mos sofrido todo tipo de

pressões. Pessoalmente,

fui ameaçado de morte. E

pelo menos duas vezes.

Ameaças gerais têm parti-

do de fazendeiros e repre-

sentantes dos latifúndios

que operam na região. As

ameaças de morte par-

tem, sempre, do pessoal

da fazenda 3ordon.

WL2

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denúncia

Por amor a seu povo,

o bispo

de São Félix viu crescer uma

onda de protestos,

de ameaças

e de intrigas, cujo ápice foi

a perseguição

ao padre

Gentel.

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São

Nunca houve justiça

em

Félix. O povo

depende de suas

próprias armas e de fé

Essa acusação foi feita à impren-

sa que nada publicou. Dom Pedro

Maria Casaldaliga Pia fê-la, mais de

uma vez, durante três audiências

que teve com o ministro Alfredo

Buzaid, em Brasília. Ele fora à Capi-

tal pedir justiça, em nome dos pos-

seiros, homens simples, comuns, de

todas as partes do Brasil, que há

anos escolheram o interior de Goiás

e Mato Grosso para viver. Cortaram

a mata, trabalharam a terra, planta-

ram. Agora, imensas faixas de terra

sâk> ocupadas por empresas pecua-

ristas. E os homens estão sendo en-

xotados ou ameaçados de morte.

Um padre francês, Francisco Gen-

tel, em Santa Teresinha, uniu-se aos

posseiros. E está sendo procurado

há meses, com processo de expulsão

em andamento. Dom Pedro Maria

Casaldaliga Pia tornou-se notícia

quando foi à Brasília discutir o pro-

blema dos posseiros. Nesses encon-

fros, chefou a dizer que

"nunca1

houve justiça em São Félix" eque

nada mais esperava do governo. De-

¦pois, em abril, a defesa dos possei-

ros de São Félix foi ofjcializada pe-

Ia Igreja. Uma delegação da CNBB

foi a Brasília «pediu ao governo Fe-

deral uma mkSo do problema de

terrqs na ArfWzônia. O governo re-

conheceu os direitos dos

"sem ter-

ra". Em abril, ainda, editou um de-

creto-lei para regular os casos em

que empresas de colonização se es-

tabeleçam em terras já ocupadas.

Na verdade, nenhuma mudança

houve desde a edição do decreto. O

padre Gentel permanece foragido e

Dom Pedro Maria Casaldaliga e sua

gente simples continuam enfrentan-

do o dissabor da ameaça, fria e co-

varde, dos capatazes das grandes fa-

zendas do Araguaia. Ou a provoca-

ção ostensiva de alguns policiais.

Dom Pedro Maria Casaldaliga vi-

veu sua infância e adolescência en-

tre perseguições de padres, missas

clandestinas e medo, na Catalunha,

transformada pelos rojos republica-

nos em base territorial, nos últimos

anos da Guerra Civil Espanhola. Sua

ordenação como padre talvez o te-

nha marcado: em 1943, era um dos

mil padres que se ordenavam em ce-

rimônia conjunta, prostrados na1

grama do Estádio de Montjuich, em

Barcelona. Depois, como padre,

participou da organização dos pri-

meiros cursilhos —

bem diferentes

do que são hoje — e passou alguns

meses na África. Viveu nove anos

na Espanha e em 1967 veio para o

Brasil. Instalou-se na casa paroquial

dos padres Claretianos, em Vila

Operária, Goiânia. Logo depois foi

para São Félix do Araguaia. Dom

Pedro Casaldaliga é Claretiano. A

missão que lhe foi dada tem uma

área de 150 mil metros quadrados.

Por dois anos, viajou pelo território

de sua prelazia, a cavalo, em canoa,

em teco-teco. Trouxe padres da Es-

panha, contatou com a missão do

padre Gentel, em Santa Teresinha.

Criou escola primária, ambulatório,

fundou um ginásio, ouviu e recla-

mou pela gente pobre da região, es-

pecialmente na questão de terras.

Sempre na defesa dos posseiros,

contra as companhias de Coloniza-

ção do Norte de Mato Grosso. Vie-

ram então as ameaças:

"No Caso da fazenda Bordon, tu-

do começou porque animamos o

povo de Serra Nova a exigir seus di-

reitos. E esses direitos eram contrá-

rios às pretensões da fazenda.

"Aquilo era terra devoluta, terra

de ninguém. Reclamamos, o povo

ouviu. Em setembro de 1971, quan-

do estávamos indo a cavalo para a

fazenda, fomos avisados por empre-

gados da própria Bordon de que ha-

via uma tocaia no caminho. Que-

riam matar-me por ordem do geren-

te da fazenda, um tipo conhecido

como Benedito Boca-Quente, devi-

do a sua fama de pistoleiro. Depois

em outubro, fui informado de que

A Igreja

do povo

de Deu s

i

A terra

agora tem

donos

um empregado da Fazenda Bordon

tinha sido, várias vezes, peitado pa-

ra me matar. Prometeram-lhe mil

cruzeiros, um revólver 38 e uma

passagem para qualquer lugar. De-

pondo, mais tarde, declarou tudo is-

so na Polícia Federal. Mas nenhuma

providência foi tomada contra os

responsáveis. As pressões contra nós

são inúmeras. E sempre por causa

da defesa dos posseiros."

O povo tinha uma floresta, ao la-

do da cidade, onde via garantido o

seu futuro. Terra boa, de mata, on-

de poderiam fazer agricultura. De

repente, chegaram os empregados

da fazenda e deixaram para o povo

de Serra Nova apenas alguns quilô-

metros de mata, demarcando o res-

to como propriedade da Bordon."

Dom Pedro fala em sua casa pa-

roquial, em Vila Operária, em Goiâ-

nia. Ele vive em São Félix, mas sem-

pre vem a Goiânia. Ali é a sede de

comunicações de sua prelazia:

Calmo, imperturbável, o bispo

lembra os fatos:

_ "Ainda

no ano passado, fazendei-

ros foram à Nunciatura Apostólica

no Rio, pedir ao Núncio que não

me sagrasse bispo. A Codeara -

Companhia de Desenvolvimento do

Alto Araguaia —

tentou, em Brasi-

lia, processo contra mim. Mas, co-

mo parece que não podem prender

um bispo, querem expulsar o padre

Gentel e perseguem os posseiros

da

região. Mais de quarenta deles estão

largados pelas matas. Perseguidos

por elementos da Codeara e da Poli-

cia Estadual de Mato Grosso. Al-

guns portando armas militares, far-

dados, embora civis. Além disso,

um colaborador leigo da missão foi

preso em Santa Teresinha".

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POLITJKA

A Igreja

do povo

de Deus

Santa Teresinha tem triste e

longa história, contada numa

seqüência de cinco anos, que

foram de dores, perseguições

e em que

não faltaram mortes.

denúncia

A solução é a reforma social

básica, de forma que

o povo

tenha acesso à

terra, que

não é de ninguém

Nenhum destes fatos despertou

no bispo de São Félix tanta repug-

nância quanto o processo

movido

contra o padre Gente!:

"Seria o primeiro processo

con-

tra um padre no Brasil. Porque, até

hoje, os padres expulsos o foram

sem processos, sumariamente. Mes-

mo assim, nâo sei até que ponto

essa expulsão poderia ser chamada

de processo. O inquérito, aberto na

Delegacia da Polícia Federal no Ma-

to Grusso, foi sustado e enviado a

Sras lia. E, no entanto, segundo

informações do próprio Departa-

mento de Polícia Federal, um advo-

gado nao teria funções nesse inqué-

rito. E antes de ser chamado a

participar dessa espécie de processo,

o Padre Gentel foi procurado por

todos os meios, tanto na Prelazia

como na nossa casa paroquial, em

Goiânia, como no Rio, na CNBB e

na Nunciatura — como se fosse

criminoso."

Ele lembra e defende o Padre

Gentel:"0

famoso tiroteio de Santa Te-

rezinha tem uma história. Depois de

mais de cinco anos de agressões da

Codeara contra o povo, com a coni-

vência freqüente da polícia esta-

dual, das autoridades da prefeitura,

de autoridades estaduais e até de

alguns órgãos federais, houve a inva-

são de um terreno da prelazia, onde

estávamos construindo um ambula-

tório popular, quando derrubaram a

ccnstrução iniciada e ameaçaram f i-

sicamente a todos que lá se encon-

travam. Eu, pessoalmente, e não o

padre Gentel, dei ordem para o

reinicio das obras. Aprovei, e apro-

vo, o ato de leqítima defesa com

que o povo reagiu ante nova inva-

são, patrocinada pela Codeara, des-

ta vez com acompanhamento da

Polícia Militar de Mato Grosso.

0 padre Gentel nem estava no

lugar da construção e só soube do

acontecido muito depois."

Procurado, perseguido, acusado,

0 ^

Padre Gentel desapareceu para

nao ser preso. Dom Pedro fez sua

defesa. Dirigiu-se às autoridades fe-

derais e declarou:

"com ou sem o

Padre Gentel, a responsabilidade do

^e ele disse e fez, no seu trabalho

favor dos direitos do povo

de

Santa íerezinha, é minha".

O bispo relembra o que disse, na

época:"O

incidente do ambulatório

nunca será para mim crime comum,

como pretende qualificá-lo o gover-

nador de Mato Grosso. Foi um ato.

popular de legítima defesa. E como

já afirmei duas vezes na Polícia

Federal, sou tão estrangeiro quanto

o Padre Gentel. Se ele, padre, pode

ser expulso, eu, bispo, posso tam-

bém ser expulso. Ou preso. A justi-

ça, ou é uma só, sem distinguir

pessoas ou títulos, ou não é mais

justiça."

Sem esquecer, por nenhum mo-

mento, a luta sem direito de defesa

do padre Gentel, o bispo de São

Félix percorreu corredores de Mi-

nistérios e Repartições em Brasília:

SNI, Polícia Federal. E, em abril

deste ano, saiu o decreto regula-

mentando os direitos dos posseiros,

nas áreas dos empreendimentos

agropecuários financiados por in-

centivos fiscais e nas chamadas

áreas pioneiras.

A situação, contudo, depois do

decreto, não mudou.

"É mais grave

até, em Santa Te-

rezinha. A perseguição da Codeara e

da Polícia prossegue. Agora mais

desmascaradamente. Temo que

o

latifúndio se sinta respaldado pelas

autoridades e pratique novas pres-

soes e arbritariedades. Preocupam-

me os conflitos, já permanentes, do

povoado de Porto Alegre, no Rio

Papirapé, com a fazenda Frenova,

pertencente ao grupo

Medeiros, de

São Paulo, e do povoado de Serra

Nova, com a Bourdon.

"A Igreja tem a palavra

e o exem-

pio de seu Senhor, o Cristo. Ele nos

deu, como mandamento^supremo^ o

de amar os nossos irmãos que tem

fome, sede, que estão nus, sem abri-

go. Ou sem direitos, ou sem terra, t

amar, arriscando, se for preciso, ate

a própria vida. Essa é a prova

maxi-

ma do amor." .

Se na verdade a prova maxima do

amor é acreditar em Cristo como

mandamento supremo, o bispo de

São Félix vive este mandamento.

Chegaram-lhe notícias de escravidão

branca em sua prelazia: , ,"Tenho,

entre os peões das ta-

zendas latifundiárias, alguns proble-

mas desse tipo. A Polícia Federal

dispõe de denúncias, feitas por todo

¦§ V

m » I fi sja \ fl

^H

Só Cristo

inspira

Dom Pedro

mundo. Por jornalistas, pelos pró-

prios policiais, pelos peões que con-

seguem fugir das fazendas, por mim

mesmo, através de documentos até

agora não rebatidos e alguns publi-

cados na mitiha carta pastoral, no

fim do ano passado, que se chama

Uma Igreja da Amazônia em ConfH-

to com o Latifúndio e a Margina-

lização Social. Um peão, que há

semanas fugiu da fazenda Jaú, de-

nunciou a desoladora situação dele

e de seus companheiros, que é den-

tro da minha Prelazia. Doentes de

malária, largados, sem receber paga-

mentos há meses e sem poder fugir

de lá, devido às ameaças e à falta de

condução. Alguns poucos fugiram e

chegaram tão debilitados que ou

morreram em São Félix ou ficaram

José Frageli

hospitalizados. Na minha carta pas-

toral, editada em livro, apresentei

muitos exemplos de escravidão,

com nomes, empresas e datas."

E a solução, qual seria? O bispo

responde:

"Seria uma reforma social, em

vários aspectos básicos: política

econômica, trabalhista e rural."

Sabe, entretanto, que seir traba-

lho, simples e despido de publicida-

de, é justo e fiel ao mandamento

maior de Cristo, o amor:"A

nossa Igreja é o povo de Deus

no sertão. É uma Igreja pobre, opri-

mida, perseguida. Mas também uma

Igreja livre de condicionamentos in-

teresseiros e da busca de prestígios

e privilégios. Repleta de esperança,

no meio da luta. Não a trocaria por

nenhuma outra.

Não uso nenhuma insígnia epis-

copai porque acho que a missão de

serviço que tem o bispo não precisa

de marcas aristocráticas."

D

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POLITIKA

6ekonomia

A França aceitava os pontosde vista ingleses sobre os

manufaturados e lutava por

tarifas protecionistas para

sua desenvolvida agricultura

Paulo

Firmo

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Ministros das Finanças dos países que integram o Mercado Comum Europeu.

MercadoComum Europeu

0

SEGUNDO

PODER

Em 1956, alguns paísesda Europa Ocidental resol-

veram unir-se. Levados pe-la conscientização de blo-

co, objetivavam o fortale-

cimento de seu mercado.

Assim, tiveram início as

primeiras conversações pa-ra a formação do Mercado

Comum Europeu.

Durante os contatos

preliminares, a Inglaterra

propunha a formação deuma área de livre comer-

cio, opondo-se à criação de

um mercado comum, por-

que a área de livre comer-

cio lhe permitiria a conti-

nu idade de suas relações

com os membros do Com-

monwealth, evitando as-

sim, entre outras coisas, a

adoção de uma tarifa ex-

terna comum, em relação a

esses países.

O livre comércio entreos países membros defen-dido pela Inglaterra visavasomente aos bens manufa-turados. Os produtos agri-colas, o que lhe garantiaesta restrição um supri-mento de bens primáriosa baixo preço, eram ex-clu idos pelos ingleses.

A França aceitava os

pontos referentes aos pro-dutos manufaturados de-tendidos pelos ingleses.Mas também lutava pelodesenvolvimento da agri-cultura. Ao sentir que seusagricultores não obteriam

vantagens de um largomercado, sem tarifas, ve-

tou as pretensões inglesas.

Em 1958, os franceses

puseram fim às negocia-

ções, criando o Mercado

Comum Europeu sem o in-

gresso da Inglaterra. O Tra-

tado de Roma assinado pe-los seis países originais do

MCE - França, Itália, Bél-

gica, Holanda, Alemanha e

Luxemburgo -, criou a

Política Agrícola Comum- PAC -, com a finalidadede formar um único mer-

cado para os produtosagrícolas.

Na realidade estava sen-

do criado um gigante poli-tico e econômico.

INTERCÂMBIO COMER

CIAL DO MCE

Em 1963, o Mercado

Comum Europeu já se

apresentava bem desenvol-

vido. Em Strasburgo, 18

países africanos assinaram

convênio para uma associa-

ção com o MCE. Evidente-

mente, essa expansão de

MCE do continente africa-

no foi, somente, o começo

de uma infiltração e, tam

bém, a legalização do que

determinava o Tratado de

Roma, em relação às anti-

aas colônias européias da

Africa, que se tornavam in-

dependentes e aliadas, co*

mo membros de certas cc-

munidades.

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Com a ampliação do Mercado

Comum Europeu, seu gigantismo

político e econômico gerounovas preocupações para os

Estados Unidos e para a URSS

A carne é o único produto

primário que não encontra oponenente no

O segundo

poder I ekonomia^ ^

Quando os Estados Unidos deci-

diram aumentar o imposto de im-

portações, os países latino-america-

nos tiveram sérios prejuízos. Nesta

época, somente a procura de novos

mercados para seus produtos seria

conveniente. Os países da Europa

Ocidental, em particular do Merca-

do Comum Europeu, percebendosuas oportunidades cada vez maio-

res, no momento em que os paísesda América Latina buscavam ansio-

'samenie clien.tes, não tardaram em

intensificar o intercâmbio comer-

ciai.Ém 1970, 56 por cento das ex-

portações argentinas, por exemplo,foram para os países-membros doMCE. Com o ingresso da Inglaterra(país que mais compra da Argenti-na), Dinamarca e Irlanda no MCE,este percentual ultrapassará a 60

por cento. Na balança comercialcom a Inglaterra, em 1970, a expor-tação de carne proporcionou à Ar-

gentina um saldo de 18 milhões dedólares, apesar de ter flutuado bas-tante nestes últimos anos.

Para os próximos dois anos aArgentina poderá exportar para oMCE cerca de 22 mil toneladasanuais de carne congelada sem osso.Esta exportação, caso se concretize,representará um aumento de 30 porcento sobre as quantidades exporta-das em 1971.

Porém, a regularização das im-portações de países não pertencen-tes ao bloco é tema de constantesdebates. No que diz respeito a carnenem tanto, apesar de a França termcentivado seus agricultores aoaumento de produção. A caprichosapiuduçào de carne francesa faz comQue^seja difícil regularizar as impor-taçoes deste produto, oferecendoassim aos exportadores dos paísesnao pertencentes ao bloco, em par-ticular os sul-americanos, um mer-cado estável e constante.

Já, para outros produtos, como abauxita, a beterraba e o café, o ex-cesso de proteção aos agricultoreseuropeus,

poderá levar aos exporta-dores dos países não pertencentesao bloco, em particular os latinos-americanos, a encontrarem dificul-dades

para comercialização.Quanto à beterraba, a França que

cultiva o produto, sustenta um for-

Mercado Comum Europeute grupo de representantes eleitos,

para garantir que os pesados impôs-

tos alfandegários continuem a inci-

dir sobre o açúcar importado. Nd

caso da bauxita, a França também é

a grande beneficiada. Possuindo de-

pósitos próprios no continente,

apesar de pressões contrárias, os

franceses têm conseguido manter as

elevadas taxas alfandegárias para o

produto. Para a comercialização do

café, os exportadores latino-ameri-

canos encontram duas barreiras. A

primeira é quanto a posrção privile-

giada dos países5 afro-franceses que

são associados do MCE (1963), e a

segunda é o imposto sobre o café

fixado na Alemanha Ocidental.

A França é a que mais luta para

proteger o agricultor europeu^ ao

contrário da Alemanha e da Itália,

que sempre optaram pela-aquisição

de produtos alimentícios nos países

que lhes compram bens industriais,

apesar da França apresentar uma su-

perprodução de produtos alimentí-

cios.

O GIGANTE ECONÔMICO

Em relação às duas maiores po-tências, os Estados Unidos e a

União Soviética, o gigantismo do

Mercado Comum Europeu, dos seis,

apresenta sérias ameaças, tendo o

próprio presidente norte-americano

demonstrado esta preocupação,

quando recentemente declarou que"o

MCE será um inimigo em poten-ciai dos Estados Uhidos no futuro".

A posição do MCE dos seis, em

relação aos Estados Uhidos e União

Soviética, pelos dados de 1970, é a

seguinte:

MCE EUA URSS

População (milhões)PNB (bilhões de dólares)

Produto Nacional/habitante (dólares

Exportações (% total mundial)

Cereais (milhões toneladas)

Carne (milhões de toneladas)

Produção de energia (milhões toneladas-carvao)

Produção de aço (milhões toneladas)

Produção de Automóveis (milhares)

Automóveis em circulação (por mü habitantes)

Aparelhos de TV em funcionamento (por mü

habitantes)

Telefones (por mil habitantes)

Centro de Computadores (milhares)

Emissões de ações e obrigações (exceto

Luxemburgo no MCE)

190

485,22565

31,86911

331109

802922Í)

216185

15

205933,3

455115,5

19323

2151122

6550

432

39956769

244288

11804,6

1609

1386116348

7

12750

não se sabe

17460 57182

No comércio mundial, para um

total de US$ 640.700 milhões, aparticipação do MCE, eu

deUS$ 194.112 milhões.

Participação do MCE no comércio mundial

_ 1971: milhões de dólares

Total mundial: 640.700 (exportações: 312.300 - importações: 328.400)

"~ PAÍS ~~

EXPORTAÇÃOIMPORTAÇÃO TOTAL

FrançaAlemanha

Bélgica e Luxemburgo

Itália

Holanda

20.594 21.323 41.91732 029 34.338 66.367

12393 12.85*4 25.24715*102 15.960 31.062

13'989 15.530 29.519

Em 1973, com o ingresso da In-

glaterra, Dinamarca e Irlanda, o

Mercado Comum Europeu aumenta

o seu gigantisnwo político e econô-

mico, criando novas preocupações

para os Estados Unidos e a União

Soviética. Em população, o MCE

dos nove, ultrapassará aos 240 mi-

lhões de habitantes, sendo liderada

pela Alemanha com 62 milhões, se-

guida da Inglaterra com 56 milhões.

Os EUA possuem uma população

de 205 milhões de habitantes e a

URSS de 244 milhões. O seu PNB

será superior aos US$ 550 bilhões,

contra US$ 933,3 bilhões dos EUA

eUS$ 288 bilhões da URSS.

No comércio mundial a participa-

ção do MCE dos nove será superior

a 35 por cento, com um total supe-

rior a US$ 280 bilhões. A Alemã-

nha lidera com US$ 66 bilhões, se-

guida da França e da Inglaterra com

US$ 41 bilhões. A participação do

MCE neste setor representará quase

o dobro do que têm os Estados Uni-

dos, Uiião Soviética e o Japão jun-

tos. No crescimento econômico, en-

quanto os EUA conseguiram a mé-

dia anual de 3,2 por cento ao ano,

no período de 1965/70, os seis pai-

ses originais do MCE atingiram a

5,2% e a Inglaterra poucamenos de

2%. Em riquezas acumuladas em di-

visas, o total do novo MCE será su-

perior a US$ 35 bilhões, também

liderada pela"Alemanha com US$

14,9 bilhões, seguida da Itália com

US$ 5,9 bilhões, a França com

US$ 5,4 bilhões e a Inglaterra com

US$ 3,2 bilhões. Neste setor os

EUA apresenta um total de US$

11,5 bilhões.

Total Geral 94.107 100.005 194.112

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• .' .

8mwEWÊBaw^mÊM _______________________________________b t-^^9 __________! ..Vv,..!

11 — §1I kruzada I II J MeM

1Os meios editoriais estão

preocupados com o retraimen-

to do mercado de literatura

infantil. Alceu Amoroso Lima,

entrevistado pela Editora Abril,

suqeriu a criação do livro ciber-"nético.

Seria, com o aproveita-

mento da tecnologia moderna,

uma combinação de texto, ima-

gem e som.

2Antônio Carlos Vilaça

lançou O Anel, em noite

de autógrafo na Livraria

Eldorado, em Copacabana.

O Anel, como O Nariz,

livro cie memórias, onde o

autor transmite suas angus-

tias em face de seu destino

humano. Neste livro de

agora, mais que no ante-

rior, Vilaça revela sua in-

quieta nte busca de Deus e

do sexo.

\oventa ano.s

de Maritain

No último dia 18, Jacques Mun-

tain completou noventa anos. Nas-

cido em Paris, foi batizado por sua

mãe na igreja protestante. Teve co-

mo amigos na adolescência Ernest

Psichari Le Dantec, Bergson e

Peguy. Estudante na Sorbonne, li-

cenciou-se em letras e ciências natu-

rais. Em 1905, casa-se com Raissa

Oumançoff. É por essa ocasião que

entra em contato com León Bl">y.

Dai' resulta sua aproximação com a

igreja católica Em 1906 o casal é

batizado em Saint-Jean-l'Evanqe-

liste Montmartre.

Convertido, depois de uma via-

gem de estudos a Heidelberg, Ma-

ritain abandona todas as suas ati-

vidades refugiando-se em Quarr

Albey, na ilha de Wight. É aí que,

sob a direção do dominicano padre

Clénssac, inicia seus estudos sobre o

tomismo.

Ao regressa' a Paris, Maritain

dedica-se a uma intensa atividade

intelectual sempre ligada ao movi-

mento católico francês. Seu primei

ro livro intitula-se Philosophic

Bergsoniei.ne. resultado "de

um

curso dado por ele no Instituto

Católico dc Paris.

Em 1917, a Santa Sé lhe confere

o título de doutor ad honorem em

.filosofia das universidades romanas

Em 1918, torna-se membro da Aca-

demia Romana de São Thomas de

Aquino.

Politicamente, Maritain liga-se ao

movimento reacionário, de fundo

católico, da Action Française, cola-

borando em seu órgão oficial Revue

Cnivcrsallc Quando esse movimen-

to é co ndenado pelo Vaticano,

Maritain revê suas posições, evoluin-

do do reacionarismo de direita para

uma posição democrática.

Homem dotado de excepcionais

qualidades intelectuais, empenhado

nos estudos de filosofia, Jacques

Maritain elabora sua teoria do neo-

tomismo e do humanismo integral

obtendo grande êxite. Trabalhador

incansável, termina construindo

uma obra fundamental para o pen-

samento católico contemporâneo.

Sua influência é grande, tanto na

França, como fora dela, especial

mente na América Latina.

No Brasil Maritain é responsável

pela renovação do movimento cato-

lico até então dominado por uma

concepção estreita, tradicionalista e

reacionária. Entre as figuras mais

diretamente influenciadas, entre

nós, pelas suas novas teorias, está o

grande escritor e líder católico

Alceu de Amoroso Lima, com

quem manteve demorada corres-

pondéncia.

Maritain, durante a última

guerra, exilou-se nos Estados Uni-

dos, onde escreveu um pequeno

livro ainda hoje de grande atuali-

dade, chamado Cristianismo c

Democracia.

Além de professor, escritor, gran-dé debatedor de idéias, ocupou

durante algum tempo o posto de

embaixador da França junto ao

Vaticano.

Emo Silveira

Há de sua obra muitos volumes

editados no Brasil

Viúvo, Jacques Maritain vive hoje

refugiado em um convento Domini

cano, no sul da França, de onde te-

ve oportunidade de assistir à vitória

de muitas de suas idéias contra o

pensamento reacionário católico, o

que o deve deixar, por certo, tran-

quilo e em paz com a sua cons-

ciência.

3Enio Silveira viu-se forçado a

solicitar concordata. Com isto,

o grande editor, que vinha sen-

do açoutado por uma violenta

crise financeira, conseguirá res-

pirar. O maior credor da Edito-

ra Civilização Brasileira, hoje, é

a Editora José Olympio, avalis-

ta de uma grande operação fi-

nanceira feita pela empresa.

José Olympio está garantido

pelo controle da maioria das

ações da Civilização, que passa-

ria às suas mãos caso o débito

não venha a ser resgatado.

Enio Silveira, excepcional

vocação de editor, criou com a

Civilização Brasileira uma insti-

tuição que honra a nossa cultu-

ra.

Di, o

poetaMais uma vez, abre-me os braços

Cidade onde eu nasci!

Aperta-me no teu calor

Amada mulher

Árvore Frondosa

Peixe, pássaros

E o sol de diamante . . .

Mais uma vez, abre-me os braços

Cidade onde eu nasci

Esses versos, parte de um

longo poema publicado em

1956, na Revista de Música Po

pular, dirigida por Lúcio Ran-

gel, é de Di Cavalcanti. 0 poe-

ma, apresentado como a mais

recente elegia do pintor Emilia

no à terra carioca, leva a se-

guinte dedicatória: A Eneida,

que é uma espécie de violão da

minha vida.

Fogo

Krnzado"A

contabilidade nacio

nal pode se transformar

num labirinto de espelhos,

no qual um hábil ilusionis-

ta pode obter os efeitos

mais deslumbrantes.''

(Celso Furtado)

Povo desenvolvido

também ê povo livre"Franklin

Roosevelt não inovou a América apenas

com o l\few Deal. Encontrando-se o seu país em

guerra, e justamente por isso, ele entendeu que a

opinião pública americana deveria estar informada de

tudo quanto se passava no governo, em detalhes. Para

mobilizar toda a nação e ter o povo a seu lado,

tornava-se imperativo que a administração pública

dividisse com os cidadãos a responsabilidade das

decisões a tomar.

Exceção feita às questões de segurança nacional e

movimentação de tropas, tudo o mais constituiu

objeto de suas entrevistas semanais, transmitidas por

cadeias de rádio, costa a costa, e aproveitadas por

todos os jornais do país e muitos do estrangeiro.

Projetos em tramitação no Congresso ou

simplesmente idealizados pelo Executivo, planos para

depois da vitória final, ainda longínqua, relatos de

acontecimentos bcr.3 e maus "assado:; na Caca Branca

problemas internos e externos - tudo, enfim, era

matéria de informação e, em seguida de debate. A

imprensa se encarregava de analisar e comentar cada

um dos temas anunciados, mobilizando-se depois

diversas instituições, como associações de classe,

universidades e entidades representativas, numa ampla

e às vezes áspera troca de pontos de vista.

Assim, Roosevelt aprimorou e até reformulou

conceitos e decisões sempre que convencido da

procedência das críticas e ponderações recebidas."Manter

o povo informado" - nome dado ao

programa de rádio semanal - foi uma estratégia não

apenas destinada a conseguir a integração do povo

com o governo. Consistiu, também, a fórmula de dar

aos cidadãos co-responsabilidade nas decisões mais

graves, de modo a que todos se sentissem agentes, não

espectadores daquele grande momento nacional.

' Se é certo não haver porque, no Brasil, copiarmos

integralmente modelos estrangeiros, também parece

evidente que as boas soluções devem ser adotadas,

mesmo quando ja aplicadas além de nossas fronteiras.

É próprio do subdesenvolvimento a alegação de que

só aqui dentro encontraremos o modelo apropriado às

nossas necessidades, carecendo, pois, o País de

experiências alheias. Agir assim, no fundo, é refletir

arraigado complexo de inferioridade. Ainda mais

porque, lá e cá, ao menos teoricamente a democracia

é o denominador comum.

Os responsáveis pelo poder, no Brasil, acentuam

estarmos em meio a pelo menos duas guerras. Uma

revolucionária, solerte e encoberta, mas tão perigosa

quanto a convencional. E outra mais ou menos épica,

pelo desenvolvimento econômico e social. Para que o

País nossa vencê-las — e não apenas o

governo - informações e debates amplos são

requisitos fundamentais. Caso contrário poderá haver

vitória, mas apenas de um grupo restrito, responsável

pelo poder. A integração de povo e governo é que

forjará as bases definitivas de um processo de

afirmação, seja ao repelir as ideologias estranhas, seja

ao construir o progresso e distribuir a riqueza. Em

suma, diálogo e debate são pressupostos da grande

vitória comum, ao mesmo tempo em que monólogo e

sigilo aparecem como causadores, no máximo, de

vitórias restritas e parciais.

Hoje, diálogo e debate estão de quarentena. Não

existe entre povo e governo a comunicação

espontânea e desarmada, a menos que se tenha a

pretensão de julgar a opinião pública pelas suas

manifestações nos campos de futebol ou pelos

aplausos que despertam os filmes do "Sujismundo".

A imensa máquina de propaganda, sem a participação

efetiva da massa à qual se dirige, poderá criar falsa

impressão de unidade durante algum tempo, mas não

resistirá a análises mais profundas e nem se constituirá

no amálgama necessário a objetivos tão grandes corno

os desejados - a vitória nas duas guerras. Afinal de

contas, o povo desenvolvido não será apenas o povo

limpo, mas principalmente o povo livre.

A um ano do fim do mandato que lhe foi delegado

pelo alto comando, o presidente Mediei concedeu

duas entrevista» coletivas, ambas em 1970. Depois,

limitou-se ao monólogo, aparecendo de quando em

quando na televisão para pronunciamentos isolados

Apesar de haver declarado, inicialmente, "que dana

objetividade às metas revolucionárias de democracia e

de desenvolvimento em consonância com as mais

lídimas aspirações nacionais", e que "iria

ouvir os

homens de empresa, os operários, os jovens, os

professores, os intelectuais e as donas de casa, num

diálogo travado sobre os nossos problemas, os nossos

interesses e o nosso destino", S. exa. preferiu optar

por outros caminhos. Os grandes planos de

desenvolvimento foram lançados à moda do impacto,

isto é, de surpresa, elaborados no recôndito dos

gabinetes, sem a participação sequer da classe

político-representativa. Em todos os setores, não se

consultou o povo sobre o que ele queria, mas

estabeleceu-se o que se pensava, ele estar querendo. A

diferença é fundamental e pesa na balança da

História, contra o terceiro governo da Revolução. A

curto prazo, é a solução mais simples e mais cômoda.

Será, no entanto, a menos eficaz para o futuro".

(Carlos Chagas, do Estado de São Paulo)

ÉÉl

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"As empresas como as nações nào prescindem

de uma filosofia de vida.

Elas crescem e prosperam na razão direta do

estrito cumprimento de suas obrigações para

com a sociedade. Servir, na mais profunda

acepção social de interesse público, é a norma

de conduta que há de tornar grande o Banco

Nacional de Minas Gerais'.' maio *- 1944.

Jo-ié de Magalhães Pinto - Fundador

Im «Io

*

BANCO NACIONAL DE MINAS GERAIS S. A.

comunica que,

em Assembléia Geral Extraordinária de seus Acionistas, realizada a 16

do corrente mês, de acordo com orientação das Autoridades Monetá-

nas e obedecidos os preceitos legais, deliberou pela incorporação

dos bancos

BANCO NACIONAL DE SÃO PAULO S. A.

BANCO SOTTO MAIOR S. A.

BANCO COMERCIAL DE MINAS GERAIS S. A.

BANCO DE BRASÍLIA S. A.

BANCO NACIONAL DO TRIÂNGULO MINEIRO S. A.

BANCO NACIONAL DO ESPÍRITO SANTO S. A.

Com 229 agências em todo o país, capital de Cr$ 190.400.000,00

e depósitos de Cr$ 1.954.359.202,08*, o Banco mantém sua

sede em Minas Gerais, Belo Horizonte, e passa a operar com

o nome de

BANCO NACIONAL S. A.

CONSELHO DIRETOR

Presidente

Eduardo de Magalhães Pinto

Vice-Presidentes

Marcos de Magalhães Pinto

Francisco Farias

Antônio de Pádua Rocha Diniz

Fernando de Magalhães Pinto

CONSELHO CONSULTIVO

Paulo Auler

Inar Dias de Figueiredo

José Wanderley Pires

DIRETORIA EXECUTIVA

Glower Raymundo de Souza Duarte

José Rangel de Almeida

Murillo Macedo

Olair Zenir Leite

Genival de Almeida Santos

Germano de Brito Lyra

CONSELHO FISCAL

Caetano de Vasconcellos

Alfredo Carneiro Santiago

Alberto Brochado

César Gonçalves de Souza

Hilton Ribeiro da Rocha

. ..

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POLITIKA

IOkultura

A contracultura é. em termos

gerais, uma contestação, não

política, das ideologias que

marcam o Ocidente atual, com

as drogas trazendo o paraíso.

Francisco

Antônio

Dória

^_WWW vi li W-WÊÊ_W ^^**\\

_^^ HHÜIÍ____. ¦illl___i *--m WW ^__l _____-

11 VI ^^^Bl ____^^Bl^r^BI

C/ra/m Samuel Katz,

Luiz Costa Lima e

Francisco Antônio Dória,

professores de

Comunicação da

Universidade Federal do

Rio de Janeiro, em

abril de 1973 lançarão o

Dicionário de

Comunicação, uma

edição inteiramente

reestruturada e ampliada

do dicionário que com

igual nome foi lançado

no ano passado e em

quatro meses estava

esgotado. 0 texto

sobre contracultura,

a aparecer na próximaedição, é de

Francisco Antônio Dória.

POLITIKA o

antecipa por se tratar

de assunto da

maior atualidade nos

estudos universitários

do Brasil de hoje

(A Editorial

'

A contracultura é um

movimento que eclodiu,

em meados da década de

sessenta, nos Estados Uni-

dos, e que dali se espalhou

pelo mundo. A contracul-

tura é um movimento de

contestação apol ítico, isto

é, que não pretende como

objetivo seu a tomada do

poder político em algum

país. A contracultura con-

testa os valores e ideo/o-

gias que marcam, de uma

maneira geral, o Ocidente

contemporâneo - em es-

pecial as diversas formas

de repressão sexual e de

repressão ao uso de drogas

alucinógenas — e propõeum retorno ao paraíso per-dido tanto através de teses

francamente utopistas

quanto através de uma re-

vivescência da religiosidade

como experiência indivi-

dual, não institucional'!-

zada.

A contracultura pode

ser vista como uma conse-

qüência indireta — ou uma

descendente em segunda

geração — do existencial is-

mo francês pós-1945. Cer-

tamente foi o existencialis-

mo francês (cuja figura

teórica dominante era

Jean-Paul Sartre, e cujo

mito básico era a mulher

livre representada por Ju-

liette Gréco) a influência e

motivação dominantes no

movimento beatnik ameri-

cano da década de cin-

qüenta. Como em seguida

a contracultura, uma estru-

tura muito precisa consti-

tu ia o movimento beatnik.

Um aspecto intelectual //-

vre e maldito: e aqui en-

contramos o romancista

Jack Kerouac, o poeta

Allen Ginsberg e William

Burroughs, junto com a re-

valorização e o endeusa-

mento de escritores margi-

nais como Henry Miller.

Um aspecto popularesco:embora tratando-se de um

movimento francamente

intelectual e elitizado, uma

de suas marcas foi a músi-

ca pop da década de 50, o

rock'n roll, e a figura ar-

quetipicizada dos angry

young men (expressão esta

que descrevia outro movi-

mento intelectual contem-

porâneo aos beatniks, os

teatrólogos e ensaístas in-

gleses do grupo de Bren

dam Beham, John Osborbe

(Look back in Anger),

Shelagh Delaney {A Taste

of Honey, que depois se

torna em música dos

Betles), Colin Wilson (TheOutsider). Foram angry

men (arque) típicos Mario

Brando e James Dean. Um

aspecto contestatório:

Kerouac era toxicômano e

Ginsberg é homossexual

declarado. Estas três linhas

persistirão no movimento

de contracultura dos anos

60, mas com uma decisiva

alteração — a contracul-

tura é um movimento de

massa.

Talvez encontremos

seu estopim principal nos

movimentos estudantis de

contestação cujo início se

dá em Berkeley, na Cali-

fórnia, em 1964, sob a li-

derança de Mario Savio

(um não-estudante ligado

às entidades para-universi-tárias estudantis do cam-

pus de Berkeley). O movi-

mento estudantil teve uma

lógica própria, que culmi-

na em 1968 com a prima-vera de Praga e com o

Maio Francês, mas uma de

suas conseqüências lateraisresultante talvez da mar-

ginalização de um grandesetor estudantil pelas for-

ças repressoras do Governofoi a explosão, em 1966

do flower people e da

flower culture em Los An-

geles: os hippies. Em 1966

o ideário hippie já estava

maduro. Basicamente, a

exigência social da não-vio-

lência (afirmada na escolha

de não-violentos como fi-

gu ras-sim boi o do movi-

mento - Gandhi, Buddha,

Cristo) e a busca individual

de uma religiosidade atra-

vés do uso de drogas aluei-

nógenas, aliadas a certa

promiscuidade sexual. Se

os beatniks tiveram como

música o rock, os hippies

usarão de um vasto sorti-

mento onde surgem canto-

res pop como os Beatles

(cujo primeiro sucesso,

Love me do, é de 1963) e

logo em seguida os Rolling

Stones, e grupos de rock e

(conforme a gíria do tem-

po), iê-iê em cujos recursos

técnicos se acham as expe-

riências dos compositores

de música eletrônica

(Stockhausen) e a nostal-

gia do pós-romantismo eu-

ropeu (em especial Mahler,

que de músico desconheci-

do e desvalorizado torna-se

rápido figura dft surpreen-

dente importância), üe

i9ô6 até hoje pouco hou-

ve de mudanças no movi-

mento hippie, cuja tendên-

cia tem sido até agora a cie

crescer e se espalhar.

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POLITIKA

A volta

ao paraíso

perdido

O homem sempre quis, através

a liberdade, conseguir a suarealização. Muitas fórmulas,

contestações e drogas para a

satisfação da individualidade.

Os hippies

são a forma

mais simples

%*^_^__B__^_^_^_^_^__^^__________B ^^^t&_____>_. Jfl_^fi_____ _____B^ <_H _______ *'^C__ wé_j_

' ___*___£.-'

"^*S-_n-_____B

_____L _J _F»*^^MtíBlta__á__l

B___BI _Bt* ' __B

Bs 15m fl _/*__i Ifl_____s ™*w' Ba' ^__H^_| H

EB1 dl wlíii I___l_^___í kL1.!

__v 1 B*fl fll --fl 9

O homem

busca sua

liberdade

movimento hippie, como se disse,

distingue-se dos movimentos existencialis-

tas de contestação dos anos cinqüenta por

ser um movimento de massa. Isto significa

o seguinte: a importância dos beatniks es-

tava nas suas figuras principais —

Kerouac, Ginsberg, Osborn; a importância

dos hippie está na difusão entre a juventu-de atual dos traços que os marcam. Entre

os hippies, ainda, tornam-se mais precisosalguns aspectos que marcaram os

beatniks. Os beatniks foram literatos -

teatrólogos, romancistas, poetas e ensaís-

tas. Os hippies fazem literatura e música

para contestarem a ideologia tecnocráticacontemporânea. Os beatniks tinham um

comportamento sexual livre e faziam uso

de drogas. Os hippies têm um comporta-mento sexual livre para negarem com hi-

Pocrisia toda espécie de repressão sexual;os hippies usam drogas como um meio de

desenvolverem uma religiosidade indivi-

dual e inata. Ideologicamente, marcam acontracultura - além da figuras da nãoviolência,

já citadas - os teóricos da ex-

pansão da individualidade: Aldous Huxley

(cujos últimos livros pregam um francomisticismo), Alan W. Watts, teólogo divul-

gador do budismo zen nos Estados Uni-dos, ISbrman O. Brown e Wilhelm Reich,

Psicanclistas freudianos cujo tema básicoé a crítica à cultura Ocidental como cul-tura da culpa e da repressão, Ronald Da-vid Laing e David Cooper (psiquiatria eantipsiquiatria),

psiquiatras que preten-dem retirar do louco a marca da anormali-dade e da patologia, Carl Gustav Jung, co-

'"•o teórico da naturalidade (e filogenia)religiosidade no ser humano, e Her-

¦ nann Hesse como guru - os romances de

'esse, típicos da forma alemã do Er-

ziehungsroman, romance-de-formação,

são vistos como guias e orientadores do

caminho que cada um deve seguir para o

encontro de si mesmo (centro da persona-

lidade e ponto onde se dá a resolução de

todos os conflitos segundo a psicologia

junguiana). O colorido geral é o de uma

negação do Ocidente e o de uma busca

utópica dos valores orientais.

Junto a este sustentáculo ideológico se

organiza toda uma maneira bem marcada

de viver. No vestuário: há uma busca da

cor e do enfeite, bem como se procura

trajes de estilo ou aparência orientalizan-

te. Há a tentativa de se exprimir uma sen-

sualidade natural através da roupa, abolin-

dose a roupa de baixo e permitindo-se

uma nudes parcial e não provocante (a

minissaia foi lançada por Mary Quant em

1966). Há, de um modo geral, a procura

de uma aparência natural e livre, o que se

vê nos cabelos longos e na barba dos ho-

mens, e no fato de as mulheres não mais

rasparem os cabelos das pernas e das axi-

Ias (porque cortar os pelos do corpo é

antinatural. Na vida social, a linguagem se

também torna livre, incorporando as pala-

vras tabu do calão com conotações se-

xuais; surge um comportamento sexual

mais ou menos promíscuo (baseado no

critério de que é bom se fazer aquilo de

que se gosta) e é feito um esforço para se

substituir a família pela comunidade..

agregado de pessoas com interesses mais

ou menos similares e que repartem tudo

ou quase tudo - desde o salário até obje-

tos pessoais e roupa (e, em casos extre-

mos, menos freqüentes do que se supõe,

chegando a uma certa promiscuidade se-

xual). Ocorre uma valorização das figuras

marginais à sociedade: o louco e o investi-

do sexual (pederastas e lésbicas). Mas não

o tarado (o pedofílico, o fetichista) e o

criminoso (o ladrão e assassino comuns).

O movimento hippie é apolítico, havendo

inclusive uma certa tendência à auto-mar-

ginalizacão frente aos mecanismos políti-

cos usuais (eleições), com exceções que só

fazem (como os provos holandeses) con-

firmar esta tendência básica.

Uma análise da contracultura deve pen-

sar suas teses e suas ausências. Suas teses:

a busca da natureza, a busca da religiosi-

dade individual, a sua apoliticidade e sua

contestação genérica às grandes marcas do

Ocidente: o cristianismo institucionaliza-

do na moral, e a tecnologia. Suas ausên-

cias: Freud entre os ideólogos, e a rejeição

de marginais sociais e de certos tipos per-

versos sexualmente.

Os conceitos de natureza e naturalida-

de surgem nítidos ao emparelharmos as

oposições do desvalor/valor no ideário da

contracultura. É natural tudo aquilo que

pertence ao lado do valor. Assim, técni-

ca-ciência/arte, repressão sexual/liberdade

sexual, materialismo burguês/religiosidade

do indivíduo, poluição tecnológica/vida

agrária, alimentação em lata/alimentação

natural (macrobiótica, por exemplo). O

que seja a naturalidade poderia ser expres-

so como visões idílicas, edênicas, de um

Paraíso perdido. Mas estas imagens em na-

da nos esclarecem; melhor é observar co-

mo, através das oposições caracterizadas

acima (explicitamente) como desvalor/va-

Ior percebe-se a oposição (recalcada) o

que é possuído/o que é desejado. O que é

possuído: a vida contemporânea. 0 que é

desejado: as lacunas da vida çontémporâ-

nea. Recalcadas estas lacunas, e recalcado

o desejo, as imperfeições do quotidiano se

completam com a fantasia (o espírito,

que fantasia, é melhor que o corpo, que é

pesado, imperfeito e perecível). Ideologi-

camente, portanto, o ideário hippie ainda

repete a divisão platônica (e gnóstica) en-

tre concreto (falso) e ideal (verdadeiro),

ou entre corpóreo (pecaminoso demonía-

co), e espiritual (divino). Mas esta ideolo-

gia permite e racionaliza todo um vasto

movimento, de desrepressão que vai con-

tra alguns dos quadros institucionais mais

básicos no Ocidente: a Moral do sacrifício

e da penitência, a família e, de um modo

geral, a autoridade constituída. O meca-

nismo de racionalização elimina (e recai-

ca) as vivências culposas - embora o re-

primido possa reaflorar na figura do

hippie que volta à casa paterna e se reinte-

gra na sociedade. O mesmo mecanismo de

racionalização permite e facilita o aban-

dono da atividade política estudantil

(que, de qualquer maneira, é condenada a

um fracasso por sua própria e .básica pre-

cariedade), atividade esta que é substituí-

da por uma auto-marginalização política

dos hippies.

No entanto, sendo a contracultura um

movimento de massa, é claro que ela pro-

duz um efeito sensível nas instituições so-

ciais contemporâneas. Bem ou mal, a li-

berdade sexual já se espalhou de maneira

a ter provocado uma reviravolta nos códi-

gos práticos de conduta contemporânea

(nos grandes centros e naquela faixa so-

11kultura

ciai que se chama habitualmente classe

média a virgindade feminina escasseia

após os dezesseis anos, fazendo com que

os casamentos se constituam após largas

vivências sexuais do homem e da mulher).

Menos importantes - aliás, muito menos

- são as ondas rapidamente consumidas

de redescobertas da religiosidade perdida,'

como os Jesus freaks (Doidinhos de Je-

sus), exemplos típicos do que Oswald

Spengler chamaria segunda religiosidade,

a religiosidade da moda que caracteriza os

impérios em decadência. Constituindo um

acontecimento à parte, o aumento muito

grande no consumo das drogas alucinóge-

nas. Estas drogas se diferenciam do álcool

por individualizarem aqueles que as to-

mam, em oposição à maior socialização

que o álcool permite. Talvez esteja aqui a

maior fonte de angústias que os alucino-

genos provocam na sociedade: constitum-

do-se a sociedade de grupos cuja tendên-

cia (e cuja exigência) é aumentarem sem-

pre os laços que unem e fazem coesos os

seus participantes - como medida social

de defesa -, os alucinógenos rompem-

precisamente esta tendência básica, des-

truindo os grupos ao isolarem i individua-

lizarem seus membros (o contraste entre a

festa onde se consome álcool — com mui-

to ruído, muita dança, brincadeiras coleti-

vas - e a festa onde se consomem aluei-

nógenos - as pessoas espalhadas nos can-

tos das casas, isoladas e quietas - é nítido

e iluminador).

É aqui que encontraremos as ausências

da contracultura. A primeira delas (e a

mais notável) é Freud. Freud só se aceita

via a revisão de Norman Brown e Reich

ou via a transformação de Jung. Por que?

Porque na teoria freudiana o que se busca

sempre é a estrutura recalcada na vivência'

visível, a culpa negada e escondida na ino-

cftncia afirmada. E por trás do movimento

hippie se acha a mesma culpa básica que

perpassa todo o Ocidente, e cuja máxima

simbolização se encontra a imagem cristã

do Deus assassinado. Esta culpa precisa

ser negada, esta enorme culpa cultural.

Negando-a, os hippies a atiram para a so-

ciedade decadente, que serve como conve-

niente lata de lixo. A mesma vivência de

uma culpa negada se acha na marginalida-

de social que a contracultura também ne-

ga. A marginalidade do ladrão e do assas-

sino, a marginalidade do perverso e do ta-

rado. Aqui está o lado sombrio, e irrecu-

peravelmente sombrio, de nossa cultura.

O criminoso é ontologicamenle mau; d vi-

da do perverso é triste e decaída. A ideo-

logia hippie não tem lugar para a sombra

(malgré Jung).

No entanto, há alguma coisa de muito

inquietante na contracultura. Talvez o

anúncio de um tempo em que a ciência e

a tecnologia desapareçam como institui-

ções dominantes e determinantes no Oci-

dente, deixando lugar para aquela institui-

ção muito mais arcaica (e muito mais ho-

mogênea) que é a arte. Mas isso é coisa

que só vai acontecer daqui a uns cem

anos, e não vou viver até lá. É pena?

Realmente, não sei.

.

Page 12: a 3 de dezembro de 1972 Cr$ 2,00 27 Ano II Número 58memoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00058.pdf · anos e eu vinha de Roma, da abertura do Concilio. O primeiro objeto que vi

• IflIlStéUKMiMIM*

bacia

L

das almas

^

Simonnl. o dedo-duro

Desde que se tornou garoto-propaganda do governo, Wilson Simonal começou a se

desgastar. Antes ele comandava a galera; lembram-se daquele Festival da Cançao, no

Maracanãzinho? Pois bem, depois de descoberta sua condição de duce, começou a expio-

ração. O Simona era usado para tudo: cantar hino, dar conselhos e até garoto-propaganda

de truste do petróleo. De repente, suas outras qualidades começaram a aparecer e culmi-

naram com a revelação do inspetor Mário Borges: o Simona é também dedo-duro. Piestou

relevantes serviços ao Mário Borges. Sua versatilidade foi longe demais e o povo nao

perdoa. É o fim de carreira do Simonal, melancólica, convenhamos. Alcagoete não é Ia

uma profissão muito digna.

Wilson Simonal

Kililorial -I

DIVIDA EXTERNA - "A dívida externa do Brasil cm 1970 era do 5

bilhões 296 milhões de dólares. I m 1971. até setembro, era de 6 bilhões

125 milhões e 300 mil dólares. Atualmente ela jiira em torno de 8

bilhões de dólares. Desprezamos o montante da dívida atual para nos

basear, nos cálculos que taremos, apenas, na dívida oficialmente

publicada nas estatísticas oficiais que é de f> bilhões, 125 milhões e 300

mil dólares até setembro de 1971. isto é. dívida de um ano atrás. Desta

dívida, 43% foi contraída com vencimento a curto prazo. Isto eqüivale a

dizo* que 2 bilhões, 633 milhões tem vencimento a curto prazo. Esta

dívida a curto prazo representa mais de 90% do total de todas as nossas

exportações em 1971 que foi de 2 bilhões, 900 milhões de dólares.

Adniitindo-se um prazo médio de 3 anos para os empréstimos a curto

prazo temos uma previsão de amortizarão de 878 milhões de dólares por

ano. Acolhendo-se um prazo médio de 10 anos para os outros

empréstimos num total de 3 bilhões, 492 milhões de dólares, temos uma

amortizarão anual de 392 milhões de dólares. Como vcem, o país está

precisando de uma verba de amortização de capital de sua dívida externa

de ordem de 1 bilhão e 270 milhões de dólares, correspondente à soma

das parcelas de resgate da dívida a curto, médio e longo prazo.

Acrescente-se a isto - as parcelas de juros a 6% (em termos de

empréstimos de Governo, porque se calcularmos para operação na base

das resoluções 63 e 289 a taxa de juros fica em torno de 9 a 9,5%)

constatamos a necessidade de 360 milhões de dólares anuais para

pagamento de juros. Adicionando-se as duas parcelas anteriores

encontramos a cifra de 1 bilhão, 630 milhões de dólares, só para

pagamento de juros c amortização anual da dívida o que obriga o Brasil a

gastar somente para eles, atentem bem, mais do que o total de sua

exportação em 1970, de acordo com o relatório do Banco

Central - 1970 página 127 de:

r--« »rSr» 940 milhões de .dólares

Café - solúvel 43 mi,hões de dólares

aÍLis* 154 milhões de dólares

Maneanês 31 mi,hõcs de dólares

Manganês 2Q9 milhões de dó,arcs

JJJ?. 110 milhões de dólares

Hg, 127 milhões de dólares

TOTAL 1.614 milhões de dólares

90 milhões dol.

Todas estas exportações, Srs. Deputados, são insuficientes para o resga-

te parcial e juros de nossas dívidas, o que constitui um tato alarmante e

sem precedentes na nossa história.

Mas não é só. A estas duas últimas parcelas e preciso se adicionar o

custo em dólares das chamadas despesas invisíveis, (das celebres despesas

invisíveis), que somaram, em 1970, a 603 milhões de dólares, assim discri-

minados — relatório do Banco Central — 1970 página 127.

Note-se que só computámos as despesas invisíveis que se tornaram

visíveis no relatorio do Banco Central, deixando de utilizar uma estimati-

va das verdadeiramente invisíveis mas, sem nenhuma dúvida, existentes e

atentatórias à dignidade da Nação brasileira e camuflada nos sub e sobre

faturamentos que realizam matrizes e filiais das empresas estrangeiras.

Remessa de lucro e dividendos para o exterior 119 milhões de dol.

Viagens - Déficit Turismo 120 milhões dol.

prete 190 milhões dol.

Seguros milhões dol.

Transações Governamentais - compreendendo gastos

do Governo em dólares com funcionários -

diplomáticos, embaixadores, adidos militares

culturais, comerciais (déficit)

Serviços diversos - Royaltes, Patentes,

Comissão - Assistência Técnica 74 milhões dol.

Total milhões dol.

Juntando-se as obrigações anteriores

com juros, amortizações etc. 1.630 milhões dol.

Temos um total de 2.233 milhões dol.

Isto significa que o Brasil precisa de uma receita de 2 bilhões, 233

milhões de dólares para responder os seus compromissos externos anuais.

Precisaríamos, pois, no balanço comercial que o nosso saldo fosse cx-

traordinariamente alto, capaz de atender às necessidades das importações

e mais as que decorrem dos compromissos mencionados. A verdade, en-

tretanto, é que no encontro de contas da nossa balança comercial, isto é,

a relação entre as exportações e importações estamos deficitários. Em

1970, exportamos 2 bilhões 738 milhões 900 mil dólares e importamos 2

bilhões 849. milhões 200 mil dólares com um saldo negativo na Balança

de Pagamento de 110 milhões 300 mil dólares - 110,3.

Já em 1971 exportamos 2 bilhões e 900 milhões de dólares e importa-

mos 3 bilhões 225 milhões de dólares, com um saldo negativo de 325

bilhões de dólares - 325,00. (Boletim do Banco do Brasil - 10, 1971).

É por isso Srs. Deputados que o ministro Delfim Neto virou Caixeiro

Viajante.

Até onde sr. presidente

os subsídios concedidos às exportações brasilci-

ras serão toleráveis, agravando a vida do povo, tudo para suportar tais

encargos com a dívida externa e os compromissos cm moeda externa?

É uma constatação dolorosa. Os compromissos externos do Brasil, ho-

je, por ANO, são equivalentes a pouco menos do que o total da dívida

externa global do Brasil em 1963."

(Francisco Pinto, deputado federal, do Diário do Congresso).

Quando os nacionalistas

dizem que a ajuda dos Estados

Unidos é uma mentira, vêm o

Jornal do Brasil e o O Globo e

nos chaman de jacobinos,

extremados e xenófobos. A sra.

Judit Tendler, professora na

Universidade da Califórnia e

ex-funcionária da AID (Agên-

cia Internacional de Desenvol-

vimento) no Rio de Janeiro, vai

à Comissão de Dotações do

Senado norte-americano e de-

clara:

— "Os

programas de ajuda

ao Brasil, promovidos pela

AIB, prejudicam a indústria

brasileira".

- "A

AID, pelo menos em

duas ocasiões, durante minha

experiência na agência, no

Brasil, pressionou os técnicos

norte-americanos e brasileiros

para que se decidissem pela

compra em emprego de equipa-

roentos norte-americanos que a

indústria local tem capacidade

para produzir".

- "A

AID financiou a

construção de uma usina hidre-

létrica no Estado do Rio Gran-

de do Sul, pressionando para

que as turbinas e geradores

fossem adquiridos nos Estados

Unidos. Além da pressão para

compra de equipamentos

norte-americanos — a AID con-

seguiu que a capacidade da

usina fosse de 250 megawats

embora os estudos técnicos re-

comendassem uma capacidade

de somente 125 megawats. A

pressão para o aumento de

gastos tem o objetivo de am-

pliar as exportações norte-

americanas".

— "Em

um programa de

preservação de estradas no Sul

do País, a AID impôs à impor-

tação de 100 caminhões que

poderiam perfeitamente ser

produzidos no Brasil".

— "O

programa de preser-

vação de rodovias obrigou os

organismos locais a adquirirem

mais equipamento do que o

normalmente empregado nas

rodovias norte-americanas".

E agora, doutores? Fizemos

questão de transcrever ipsis

litteris o texto traduzido e

publicado pelo Jornal do

Brasil. Por que o JB e o O

Globo não denunciam essa

Mme Tendler por estar prejudi-

cando a imagem dos Estados

Unidos e desservindo a amizade

entre os brasileiros e nossos

irmãos do Norte?

O burro

interno

Na Rússia tinha um sá-

bio. Nasreddin de

Bukhará. Um dia, ele

anunciou à Nação que fa-

ria um burro falar em 30

anos.

Um amigo lhe pergun-

tou se não temia o fracasso

e a desmoralização. Nas-

reddin sorriu:

— Ora, daqui a 30 anos,

nem o burro estará vivo

nem eu. Que importará,

então?

Eu ando desconfiado de

que o governo mandou

gente a Bukhará para

aprender a lição de Nas-

reddin: — vamos falar, va-

mos garantir, vamos afir-

mar. Se ficar tudo em pro-

messas, que importará?

Daqui a alguns anos outros

estarão aqui e ninguém

mais se lembrará das pala-

vras que ficaram somente

palavras, do burro nacional

que não falou.

O «lorrolailo

únh*o

São Sebastião da Lagoa de Roca

é uma cidadezinha do interior da

Paraíba, que vive e depende do go-

verno estadual. Por isso a ARENA

lá é quem manda. O MDB não tem

vez. Assim, a ARENA correu sozi-

nha. Candidato único. Abertas as

urnas, os votos em branco suplanta-

ram os atribuídos a Daniel Gregório

da Rocha e seu companheiro Severi-

no José Cardoso. Serão marcadas

novas eleições. Certamente Daniel

Gregório não concorrerá mais, já re-

cebeu o julgamento do povo. Ele e

a ARENA.

Amador, o

profissional

O banqueiro Drault Ernani

contava, em uma roda de banquei-

ros, esta história de banqueiros:

Walter Moreira Sales convidou

Amador Aguiar para conhecer pes-

soai mente os diretores do grupo

União de Bancos Brasileiros, que

deveriam trabalhar com a turma do

Bradesco. E foi dando os títulos de

um a um:

Este estudou em Harvard. Esse

aí tem curso de especialização em

Cambridge. Aquele foi primeiro alu-

no em Oxford.

E foi em frente. Quando acabou

a fila, o velho Amador falou grosso:Pois é, senhores. Já que perde-

ram tanto tempo aprendendo essas

coisas, vamos ganhar dinheiro.

Ciirsillio

o Buswtta

Em carta aos jornais, o

m arechal Jus tin o Alves

Bastos diz que o mafioso

Homero de Almeida Gui-

marães Júnior se declarava

tratar-se de um "ardoroso

e autêntico revo lúcio-

nário".

No Correio da Manhã

(coluna PaineU Sérgio Fi-

gueiredo informava:

"Ho-

mero de Almeida Guima-

rães Júnior, preso em Bra-

sitia, acusado de ser desta-

cado membro da Máfia da

heroína, era um dos mais

conhecidos cursilhistas de

São Paulo".

Há um livro famoso so-

bre a Opus Dei intitulado

A Santa Máfia Homerinho

provou que é mesmo um

gênio: fazia parte das duas.

Da santa (a do Cursilho) e

da pecaminosa (a de Bus-

cetta).

A subversiva

deelaraçfto

Um jornalista do "Miami

He-

rald", no dia da Festa Nacional dos

Estados Uhidos, tirou 300 cópias

da Declaração da Independência e

mandou a 300 assinantes adultos do

jornal. O resultado foi o seguinte

(seguido o telegrama de Miami,

EUA;

1) Em cada 100, 28 pensaram

tratar-se de um fragmento das obras

de Lenin.

2) "O autor deve ser um comu-

nista. Um inimigo do país".

3) "Trata-se de alguém que quer

fazer a revolução, provavelmente

por motivos pessoais e egoístas".

4) "É obra de um louco. Isto não

tem o menor sentido".

5) "Alguém deveria denunciar o

autor desse texto ao FBI".

O jornalista ainda fez mais. Foi

para o meio da rua e começou a

propor que subscrevessem a Decla-

ração da Independência, fazendo-a

passar por um manifesto. De 50

pessoas, apenas uma aceitou assinar.

Desde, porém, que lhe fossem pagos

pelo menos 25 cents.

Conclusão do Miami Herald: A

Declaração da Independência, redi-

gida há quase 200 anos pelos f unda-

dores da nação norte-americana,

tem, hoje, natureza altamente

subversiva".

Os impérios começam a acabar

assim. Crescendo para baixo, como

rabo de cavalo.

m

Page 13: a 3 de dezembro de 1972 Cr$ 2,00 27 Ano II Número 58memoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00058.pdf · anos e eu vinha de Roma, da abertura do Concilio. O primeiro objeto que vi

POLITIKA

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11

SnEtt I

Miguel Reale

4inlinnc<M» imortal

Plínio Salgado, cansado de ser O Estrangeiro, quer agora tornar-se O Esperado. Tenta,

desesperadamente, entrar para a Academia Brasileira de Letras. Já conversou com alguns

acadêmicos que outrora usaram fardão verde. Miguel Reale, reitor da Universidade de São

Paulo, soube da história e está furioso. Afinal, sua candidatura foi lançada antes e ele tem

dito a amigos mais próximos que se trata de uma punhalada pelas costas partida de quem

menos teria autoridade moral para traí-lo.

0 presidente Austregésilo de Athayde, fino ironista, dava gargalhadas esta semana

conversando, a portas fechadas, com um amigo seguro: — O Plínio vai me criar um

problema. No projeto da nova Academia, o arquiteto não previu galinheiro.

bacia

das almas

0 mmtHo

pxórcilcr

ilt> \i x o li

No dia da mais recente desmora-

iização internacional dos EUA,

Henry Kissmger compareceu a uma

recepção da embaixada de Saigon,

em Washington A dita embaixada,

segundo alguns jornalistas locais, é

um dos escritórios de Thieu para

importação de heroína. O assessor

era todo sorrisos, afirmam os raros

jornalistas presentes (os irmãos

Aisop, William Buckley e outros

expoentes da direita). E revelou

aquela espirituosidade coruscante

que faz a delícia dos Sênior (ler

Senls) Editors de Time. Newsweek

e de outros desperdícios de papel,

tinta e dinheiro. Disse que não era

Kissinger, mas o sósia de Kissinger

(rir, rir, rir). 0 assessor do assessor,

general Alexander Haig, declarou-se

a namorada de Kissinger. Brincadei-

ra, naturalmente, mas alguém preci-

sa avisar ao general de que não

existem brincadeiras sexuais inocen-

tes. Se tudo isso não bastasse, anun-

cia-se que depois da retirada dos

EUA da Indochina, Nixon quer

manter lá alguns assessorai, que se-

riam, segundo fontes do governo,

oficiais de West Point. As fontes

não oficiais, a que dou mais crédito,

calculam que Nixon planeje manter

no Vietnã do Sul um exército sKre-

to controlado pela CIA. o que já faz

no Laos. Humoristas negros acham

que Nixon quer voltar a 1960-63,

quando Kennedy mantinha também

assessores no Sul. Depois, quem

sabe, convidará os franceses a volta-

rem. Enquanto Kissinger, desmenti-

do publicamente pelo patrão, fazia

graças, continuava morrendo gente

no Vietnã, mas, o que importa?

Hoje praticamente só morre amare-

Io e já há gente de cor demais no

mundo.

(Paulo Francis, dos Estados Unidos

para a Tribuna da Imprensa)

lindo raio

A professora de uma escola

pública da Guanabara conta o

diálogo com um garotinho,

nível 1, seis ou sete anos, se

tanto:

Meu filho, você bebeu al-

guma coisa?

Bebi, sim senhora. Bebi

cachaça. ,

Meu Deus do céu, quem

foi que te deu cachaça?

Foi meu pai.

Seu pai?

A senhora não se assuste

não. A gente bebe todo dia de

manhã, e' para enganar o estô-

mago.

Depois a gente pensa que

Mundo Cão é só no cinema.

Mulher*»*.

Iiiclios i»

futebol

0 povo votou. As opções

não eram muitas, por isso foi

procurar os seus candidatos en-

tre os não-candidatos. Rivelino,

o Garoto do Parque, foi o ve-

reador mais votado em São

Paulo. No primeiro dia de apu-

ração, somava 10 mil votos,

contra 7 mil atribuídos a Ma-

nuel Sala, do MDB. Em Belém

do Pará, Sujismundo, o garoto

propaganda da AERP, lidera a

votação, enquanto em Salvador

os baianos preferiram a onça

Peteleca, famosa por ter fugido

do Zoo. É isso mesmq, quem

não tem cão caça com.gato. Ou

com onça.

Uma coisa se positivou nesta

eleição: a ascensão das mulhe-

res e dos jogadores de futebol e

dirigentes esportivos.

Bety Friden, aquela horroro-

sa norte-americana que esteve

aqui pregando a emancipação

da mulher, fez escola. Várias

prefeitas foram eleitas, como

Editorial - 2

1 - "O mercado de capitais está deprimido, como

era de esperar-se, cm seqüência à fase de violenta

especulação. A recuperação é lenta, mas pode ser

acelerada, com medidas adequadas. Não nos parece,

entretanto, medida recomendável a oferta de títulos

de renda fixa. Não é esse o meio de estimular a

demanda de ações.

2 - "O momento, pois, desaconselha o lançamento

de títulos públicos. Existindo substanciais recursos

provenientes de contribuições compulsórias, destina-

das às instituições financeiras da União, compete-lhes

atender às solicitações mais urgentes dos listados.

Devemos aguardar a consolidação do mercado de

capitais para dar início ao restabelecimento do crédito

público estadual.

3 - "Muito embora o acúmulo de reservas no

exterior, com seus reflexos sobre os meios de paga-mentos, seja um problema do Governo federal, as

medidas que as autoridades decidem tomar exercem

•mpactos nos meios financeiros da Guanabara. E

natural, pois, que as pessoas envolvidas nessas ativi-

dades possam ter a oportunidade de manifestar seu

ponto de vista, em proveito da política federal".

^ ~ "0 a fluxo de crédito proveniente

do exterior

assume características inflacionárias quando a utiliza-

Çao de cruzeiros pela importação de mercadoria e

transferência de serviços é inferior à soma de cruzeiros

resultante da entrada do crédito estrangeiro. O exce-

dente da entrada sobre a saída de cambiais, ou seja a

'ormação de reservas em moeda estrangeira, exige a

contrapartida da formação de reservas em moeda

nacional. Do contrário, a soma de cruzeiros supera o

Montante desejável.

n As autoridades monetarias — continuou o

exfS — necessitam de reservas, no

v;c"or- A reccita da exportação sofre, dc quando

emz, declínios inesperados. Mesmo que se disponha dasistcneia

do Fundo Monetário, é conveniente av' r' >° de linhas adicionais de segurança, notada-

mente quando se avolumam os serviços dos empres-

timos. Todavia, se tem sido fácil acumular reservas no

exterior, dada a crescente oferta de emprésmo ao

Brasil há dificuldades da acumulação correspondente

en. cruzeiros. A dificuldade c plenamente compreen:

sível Se procuramos disponibilidade no exterior e

porque existe deficiência de disponibilidades no terri-

tório nacional.

6 "O

Governo federal adotou engenhoso processo

de absorção de cruzeiros, mediante a venda de títulos

emitidos pelo Banco Central. O mercàdo linanceiro da

Guanabara manipula elevadas somas com esses; títulos.

Conquanto seja um mercado peculiar,

dos papéis postos em circulaçao, sua influencia nao

deixa de refletir-se no mercado dc capitais, onde«

União, e também a Guanabara seempcnhamcm

normalizá-lo Havendo dificuldade dc colocar ações

ZZ no mercado, as empresas pressionam a procura

rSdío optando pelo empréstimo no exterior, por

ser mais favorável.'

estimula? ^^lUrad^^^a^itaracion^io!1 em

Psubsü-

SE? 35USKÍ3&S HSKS

£o da Guanabara, ura»;«« que ™ «

\

S2

de ^cõts novas no meíc»do se apresent». ,nv.»vel,

u »-Ç\n muito sério à expansao economica. A

participação^da demanda exterior facilitaria a venda de

ações de empreendimentos novos.

8 _ »É de fundamental importância que °s cruzei-

mos. A Uberasão das renovais ao depôs,to de 25%

en(rÃoSoí Octávio^Gouveia

dc" Bulhões, ex-ministro

da Fazenda da República Federativa do Brasil).

uma Diana, em Caçapava, São

Paulo. Em Belém as votações

para vereadores estão sendo pu-

xadas por duas mulheres, Maria

Duarte, da ARENA e Vera Lú-

cia, do MDB. Em Belo Hori-

zonte, Ivone Borges Botelho, li-

dera a ARENA, enquanto o

MDB tem à sua frente dona

Junca Marisenuma. Em Porto

Alegre, pela primeira vez uma

mulher é eleita vereadora, dona

Darci Furtado.

O mineiro está com furor fu-

tebolista. Vejam só a relação

dos mais votados para a Câma-

ra Municipal de Belo Horizon-

te: Kafunga, comentarista de

futebol; Wilson Piazza, jogador

do Cruzeiro; Neri Campos, di-

retor do Clube Atlético Minei-

ro; Gil César Moreira de Abreu,

construtor do Mineirão; Aldair

Pinto, radialista e chefe da tor-

cida do Cruzeiro; Fernando

Sasso, locutor esportivo, e Be-

nedito Adami, locutor esporti-

vo e pesquisador, todos da

ARENA, à exceção de Piazza.

Um terço dos 21 vereadores

belorizontinos está ligado ao

futebol. Só falta escalar o time.

zoro millia

O Informe JB, falando sobre as

200 milhas, diz que "o

decreto bra-

sileiro, na sua conceituação, sedife-

rencia muito da decisão tomada a

esse respeito pelo Peru".

Quem escreveu isso nunca leu o

decreto peruano, que tem a mesma

conceituação (e não poderia ser de

outra forma) do brasileiro. Tanto

um como outro estabelece que o

mar territorial, do Peru e do Brasil,

vai até as 200 milhas, soberanamen-

te.

Mal informado quanto á concei-

tuação, D que o Informe JB devia

lembrar é a absoluta diferença da

prática. Enquanto o Peru está real-

mente agindo soberanamente sobre

as 200 milhas, controlando toda a

pesca e toda a comercialização, nós

continuamos com as 200 milhas

apenas no papel, pela absoluta,

inexplicável e intolerável incompe-

téncia da SUDEPE (Superintendén-

cia do Desenvolvimento da Pesca).

Editorial - •!

"Rejeitar não é dizer não. É mo-

dificar pelo trabalho. Isso quer di-

zer que aceitarás muitas coisas para

modificar algumas delas" (Jean-Paul

Sartie que o MDB precisa ler).

Peron.

a visita da velha senhora

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POLIU KA

O prefeito

da cidade gaúcha

de Gramado pretende

erguer

um monumento aos tripulantes

do cruzador alemão Adniral

Graf Spee num acinte ao país

Edmar

Morei

IIEI*OHTAGE»l

PROIBIDA

0 NAZISMO

RESSURGE

DAS CINZAS

0 AOS

1H

Em fins de 1939, fui designado por Assis Cha-

teaubriand para fazer uma reportagem, em Monte*

vidéu, sobre o cruzador alemão Admirai Graf Spee,

seriamente danificado pelas belonaves britânicas Ajax,

Achilles e Exeter, na manhã de 13 de dezembro, no

Atlântico Sul. 0 navio nazista chegou è capital uru-

guaia na mesma noite e o comandante Langsdorff pe-

diu 14 dias, pelo menos, para os devidos reparos. 0

Conselho de Ministros só concedeu 72 horas.

As atenções do mundo voltaram-se para Montevi-

déu, onde Langmann, ministros de Hitler no Uruguai,

em sucessivos telegramas, pedia instruções diretas ao

Estado Maior da Armada Nazista; : V>«

Repórteres do Rio, São Paulo edè quase todas as

grandes capitais das Américas rumaram para Montevi*

déu, sendo envolvidos ppr uma onda de boatos. Cer*

to, à vista, o Graf-Spee, com dois rombos, fundeado

no porto, procurando ganhar tempo. Wlas 0 governo

foi decisivo: o prazo seria de 72 horas, o. mesmo con*

cedido à belonave britânica que chegara, há tempos,

avariada. Além dos três possantes navios de guerra de

Sua Majestade, ao largo, em posição estratégica, esta-

vam o cruzador Ark Royal e o destróier Renown, não

havendo a mais remota possibilidade do Graf-Spee es*

capar. Nesta dramática situação, o comandante

Langsdorff enviou este telegrama em código:

Proponho afastar-me até fronteiras neutras. Se for

possível abrir caminho até Buenos Aires, usando a

munição restante. Isso será tentado. Caso a tentativa

de furar o bloqueio traga como resultado certo a des-

truição do Graf Spee, sem possibilidade de causar da-

nos ao inimigo, peço instruções se o navio deve ser

afundado, apesar da profundidade insuficiente no es-

tuáriodoriodaPrata ou se devo preferir o interna-

mento. Peço urgente decisão.

Hitler, através de Weizsacker, ordenou a destruição

do cruzador,' considerado um dos orgulhos da mari-

nha germânica.

Num outro despacho, Langsmann intrigava:.'

Fiquei sabendo, confidencialmente, de fonte segura,

que o ministro Britânico exige irritado que o Graf-

Spee deixe o porto em 48 horas e que as relações com

a Alemanha sejam cortadas. O Presidente Alfredo Bal-

domir, energicamente, negou-se a um rompimento,

antes da Argentina e do Brasil. O Presidente tem, em

círculos privados, manifestado a esperança de que a

próxima chegada de submarinos alemães possam furar

o bloqueio, do rio da Prata.

—V

16 horas e 56 minutos do dia 17 de dezembro de

1939. O comandante Langstorff, fora do limite de 3

milhas, fb^ explodir o cruzador e pediu internamento

ao governo- argentino para toda tripulação, pronta*

mente concedido.

Soube-se que o Admirai Graf*Spee, por ordem ex*

pressa do almirante Neubauer, do alto comando na-

vai, veio para o Atlântico» Sul, fazendo desembarcar

munição para os nazistas nativos da Argentina edò

Brasil, os últimos, já em desgraça, ante o frustrado

assalto ao Palácio Guanabara, em 11 de maio de

1938.

Voltei ao Rio e escrevi algumas reportagens, porém

bastante mutiladas pela censura. Eu mesmo não as

reconheci depois de publicadas. Chateaubriand man-

dou que eu voltasse à Argentina para tentar entrevis-

tar os tripulantes do Graf-Spee.

Encontrei-os em Córdoba, no alto da montanha

com a vida que pediram a Deus. Todos nús, numa

piscina, bebendo o melhor uísque escocês da terra,

corados como maçãs, certos de que, em futuro próxi-

mo, seriam repatriados. O próprio Langstorff coman-

dava a alegria, gozando de inconcebível proteção, via-

jando a qualquer hora para Buenos Aires.

Hitler, em discurso memorável pronunciado em

Hamburgo, verberou a atitude do Conselho de Minis-

tros e teceu um hino de louvor aaos seus comandados.

Hoje, o Brasil está cheio de earrascos de Hitler.

Muitos foram descobertos e extraditados. Outros, co-

mo Hans Müller, em Porto Alegre, possuidor da Cruz

de Ferro, do III Reich, que ajudou a invadir a Polônia

em 1939, e muito contribuiu para a destruição de

Creta, vive lépido e fagueiro. O antigo capitão de Hi-

tler chegou ao Rio em 1945, dias depois da chegada

da FEB. É um homem de coragem. Pelo menos não

trocou de nome. Existem muitos Hans Müller pelo

Brasil afora, com identidades trocadas.

O que ninguém sabia e acaba de ser denunciado

pelo Ex-combatente, órgão oficial dos pracinhas, se-

ção da Guanabara, é que o prefeito da cidade gaúcha

de Gramado está pretendendo construir um monu-

mento aos tripulantes do Admirai Graf-Spee. E o jor-

nal dos bravos pracinhas pergunta:

Gostaríamos de saber, se as autoridades civis e mili-

tares do Estado do Rio Grande do Sul tomaram co-

nhecimento deste crime contra a memória de nossos

mortos de guerra, de nossos mutilados. Gostaríamos

de saber, como o bravo a valente povo do Rio Grande

do Sul, tão cioso de seu passado dê lutas gloriosas em

defesa dos ideais democráticos, reagirá em face desta

violência. Gostaríamos de saber, como a juventude

gaúcha, que tão generosamente acorreu aos quartéis

se apresentando para seguir para a guerra, no combate

ao nazi-fascismo, reagirá em face deste crime de lesa-

Pátria que pretende se levar a efeito. São passados 27

anos do término da guerra. Será este tempo longo

bastante para que se esqueça um fato tão importante

da História do Brasil? Será que o nazismo renasce das

cinzas, no Rio Grande do Sul?

P

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O

NIC

IG

if

0

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Equipe

Do seminário ao integralismo

e à poesia. Um mundo estranho

onde não faltaram aventuras,

dramas e prisões. O mundo de

Gerardo Mello Mourâo. o poeta.[depoimento!

mmmW ^^^^^B ^^^^^ ^^^^^^^-.

mMAãWaaammm^^^^^^^^^^am\W^f m^r ^^^B "1 >¦»>«' t^m^^ sl ^^^

Gerardo Mello Mourâo

O estranhodemun • •

Gerar • •

Mourâo

A grande literatura bra-

sileira tem fôlego curto.

Fala em tom menor. Foge

do painel para a miniatura.

0 nosso maior escritor

(Machado de Assis) se fez

no detalhe e na peça pe

quena. O nosso maior poe-

ta (Carlos Drummond de

Andrade), também. Os

grandes lances cairam qua-se sempre no ridículo. Sal-

varam-se, já mortos, o Sou-

zândrade do Gueza Erran-

te e o Jorge de Lima de

Invenção de Orfeu, na poe-sia; e, obviamente, o Gui-

marães Rosa de toda a sua

prosa. A estes nomes é pre-ciso somar o de um vivo: o

de Gerardo Mello Mourâo.

Que realiza uma obra de

culminâncias. De poetamaior. Os leitores de

POLITIKA recebem, pe-riodicamente, amostras do

gênio de Gerardo. Mas era

preciso um retrato sem re-

toques do escritor, como

resposta a tantas cartas

que nos chegam pedindomais e mais Gerardo Mello

Mourâo.

O extraordinário - co-

mo em todo gênio — éjqt e

Gerardo Mello Mourâo rea-

liza sua grande obra em

meio à mais dramática

aventura humana de que se

tem notícia em nosso país.

Ultrajado, caluniado, per-seguido, muitas vezes pr?-so, ele ergue, no entanto,

como um estandarte vito-

rioso, a resistência de si'a

obra insuperável. Os que o

perseguem compõem ap *•

nas o brilho de sua biogi >

fia — tornada em lenda an-

tes do tempo. (A Editor, i)

Lf.il.1 \.

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depoimento

Católico, Gerardo confessa

que nem sempre está de bem

com Deus, mas que

o problema

é estar com Deus e que

de certa

forma está sempre com Deus

O estranho

mundo de Gerardo

Mello Mourão

Ao deixar o convento resolvi

dedicar-me 24 horas por

dia à poesia,

o fervor

da adolescência me fascinava

Politika: 0 que o levou, no ir» í-

cio de sua formação, a ingressar no semi-

nário?

Mourão: Era muito comum no Ceará os

pais encaminharem os filhos para o semi-

nário. Pessoalmente, quando pequeno, ti-

nha a idéia de salvar o mundo, o que

talvez explique o fato de não ter querido

ser padre secular, preferindo ingressar

numa ordem religiosa muito austera,

como são os redentoristas, fundados por

Santo Afonso de Liguri. Fiz seis anos de

seminário em Congonhas do Campo, à

sombra dos Profetas do Alejadinho. Foi

ali que cresci. Depois fui para Juiz de

Fora, oride fiquei um ano. Deixei o semi-

nário dias antes de fazer os votos de

pobreza, castidade e obediência.

Politika: Por que abandonou o conven-

to?

Mourão: Talvez o apelo irresistível da

poesia. Escrevia poemas furiosamente, no

Seminário. Meu professor de Estética, pri-

meiro, depois o Mestre de Noviços, cha-

maram minha atenção: era preciso esco-

lher entre a poesia e a santidade. Hoje,

creio que a alternativa não é válida. O que

é certo, porém, é que, depois de um

drama que durou anos, talvez a dureza da

vida ascética, talvez minha falta de heróis-

mo, me fizeram dobrar, entre lágrimas, o

hábito redentorista sobre a cama da cela

monástica. Dele guardo ainda hoje a mais

doce e a mais pura das lembranças. De

resto, sou ainda hoje, de certa forma, um

monge, saudoso do claustro e dos votos,

que não fiz, de pobreza, castidade e obe-

diência. Até porque continuo a acreditar

que apenas três vocações atendem à pleni-

tude ontológica do homem na terra: a

santidade, a beleza e o heroísmo. E essas

três vocações se realizam, afinal no santo,

no poeta e no político. Ao deixar o

convento vim para o Rio. Fui morar em

casa de um tio, que aqui residia. Cheguei

a esta 'cidade

às vesperas do carnaval. No

dia seguinte, todo o povo, envolvido pela

folia, cantava nas ruas: Eva querida/quero

ser o teu Adão. Tive a impressão que as

pessoas tinham enlouquecido. Todo mun-

do estava perdido. No domingo fui parar

numa igreja, onde encontrei um padre

espanhol. Confessei-lhe minha decepção,

manifestando o desejo de voltar ao con-

vento. O padre me ouviu e aconselhou-me

a esperar um pouco, a refletir mais e

melhor, antes de tomar nova decisão.

Segui o conselho dele e nunca mais voltei

ao convento.

Politika: O que esperava ao reingressar

no mundo leigo?

Mourão: Dedicar-me vinte e quatro ho-

ras por dia à poesia. Mas com todas as

deficiências, o fervor da adolescência me

fascinava sempre para a fidelidade às duas

outras vocações do homem: a santidade e

o heroísmo. A meu favor, posso dizer que

continuo, depois de uma vida.de espan-

tosas aventuras em todos os territórios do

ser humano e em quase todos os territó-

rios do planeta, liricamente aderido a

todas as fidelidades da adolescência. Mais

do que isto: da própria infância.

Politika: Você continuou fiel à Igreja?

Mourão: Sou católico. Nem sempre es-

tou de bem com Deus O problema é estar

com Deus; de bem com Ele ou de mal

com Ele. Mas estar sempre com Ele. Eu,

de certa forma, estou sempre com Deus.

Politika: Quando você disputou um

concurso literário, com Valete de Espada,

Tristão de Athayde, que o leu na quali-

dade de membro do júri, acreditou estar

em presença de um romance escrito por

um padre apóstata. Seu livro dá realmente

esta impressão?

Mourão: Ao contrário. O próprio Tris-

tão de Athayde escreveu depois uma carta

na qual declarava haver cometido um

equívoco. Não há no Valete de Espada

nenhuma apostasia.

Politika: Você preza, tanto quanto nós,

a liberdade. 0 que o teria levado, em

determinado momento de sua vida, a

desprezar a liberdade em favor de um

sistema de vida baseada na tirania?

Mourão: Entrei para o integralismo

logo que saí do seminário, levado pela

mão de três amigos. Na verdade o que

procurava era a liberdade. Tenho, de certa

forma, algumas coisas a rever em minhas

posições. Mas ontologicamente não tenho

nada a rever. Posso ter errado nos cami-

nhos mas as metas continuam as mesmas.

O integralismo se apresentava como um

movimento nacionalista e de afirmação

do ser humano. Lembro-me que ao entrar

pela primeira vez na sede da Ação Integra-

lista Brasileira, na rua Sachet, ouvi um

discurso inflamado do Sr. Plínio Salgado,

em que denunciava a expoliação de todas

nossas riquezas pelo imperialismo estran-

geiro. Recordo-me muito bem de uma

passagem bastante expressiva em que di-

zia ter levantado o integralismo porque

até a luz que nos alumiava era estrangeira.

O Sr. Plínio Salgado e o integralismo

tomaram outros rumos e os seus cami-

nhos deixaram de coincidir com os meus.

Continuo na minha luta de afirmação

nacionalista. Devo dizer que tenho, antes

de tudo, a pretensão de ser essencial-

mente poeta. Acho que a uma das proje-

cões da missão do poeta é fundar uma

cultura nacional. Partir para o universal

através da picada nacional. Este é um dos

sentidos de minha vida, e há de ser um

dos sentidos He toda minha obra.

Politika: Você disse uma coisa que nos

pareceu realmente importante. É que ao

iniciar sua vida se sentia imbuído da idéia

mística de salvar o mundo, o que não

deixava de expressar um desejo de afirma-

ção de sua personalidade sobre a comuni-

dade. Não havia aí o prenúncio de uma

concepção de vida que se justificaria atra-

vés do totalitarismo, com toda sua simbo-

logia messiânica?

Mourão: Não. A minha idéia era a de

exercer uma missão no sentido de servir,

de testemunhar a história, de ajudar a

construir a história ou pelo menos de

sofrer a história. Não acredito muito que

tenhamos força para construir a história,

sobretudo nós, os artistas. Camus dizia

que a missão do artista não é fazer a

história, mas sofrer a história. De qual-

quer forma, o sofrimento é uma coisa

fecunda. É por isto que costumo dizer

que o poeta é essencialmente o suplicante

do seu próprio destino, mas o senhor do

destino dos outros. Aquilo que nós faze-

mos é aquilo que se funda realmente. O

poeta não terá nunca o poder de construir

o seu destino. Mas é o senhor do destino

dos outros porque ele é o que vê, ele é o

que vaticina, ele é o que funda. O velho

pai Hoelderlin dizia: o que permanece,

fundam-no os poetas. E tem sido assim.

Quem fundou a Grécia não foi Péricles.

Quem fundou a Grécia foi Homero.

Quem fundou a Itália foi Dante. Quem

fundou a Alemanha foi a cultura alemã.

Foi Goethe. Quem fundou Portugal foi

Camões. Os poetas, suplicantes de seu

destino, nunca têm, geralmente, em vida,

a glória de apalpar a sua obra. E todos

eles sofreram muito. Sofreram, inclusive,

aquilo que eu mesmo tenho sofrido em

minha própria carne. Dante foi expulso

de Florença. Banido, teve sua cidadania

florentina cassada, condenado como trai-

dor da pátria. Dante é o patrono de todos

os cassados no mundo de hoje. Goethe foi

preso, certa vez, como espião e traidor.

Há ainda, em nossos dias, o exemplo

conspícuo do nosso Ezra Pound. Só a

civilização americana cometeria a estupi-

dez de condenar um poeta como Pound.

Dizia Byron que só a Inglaterra cometeria

a estupidez de condenar Napoleão ao

desterro de Santa Helena.

Politika: Voltando às suas relações com

o integralismo. Sua adesão a esse movi-

mento reacionário, de direita, não teria

sido inspirado também pelos seus ideais

monásticos, aos quais ainda se achava tão

preso?

Mourão: É preciso ver a época em que

o Integralismo aconteceu. A minha gera-

ção foi uma geração dramática. Entramos

na adolescência quando toda a juventude

brasileira achava-se diante de uma opção:

marchar para a esquerda ou para a direita.

0 jovem que não tomava posição era um

demissionário e um "medíocre.

Não se

podia compreender que em nossa idade

alguém pudesse pertencer a um partido

político do establishment! Não tinha sen-

tido. O jovem tinha que escolher entre o

comunismo e o fascismo. O integralismo

era o fascismo. O Sr. Plínio Salgado pode

não querer agora confundir. Eu confundo

totalmente. A posição ideológica de am-

bas as doutrinas era a mesma. Depois, as

aparências heróicas do fascismo sedu?iam

muita gente, de Rilke a Lawrence, de

Pirandeilo a Damunzio, de Marinetti a

Pound. A escolha, colocando-se exata-

mente entre duas grandes correntes anta-

gônicas, não deixava margem a outras

opções. Recentemente, um amigo, ho-

mem muito lúcido, da mesma geração que

a minha, dizia-me: Você, naquela época,

entrou para o integralismo como eu entrei

para o comunismo. Poderia ter aconteci

do exatamente o inverso. Cheguei a admi

tir a hipótese de ingressar em suas fileiras

Marquei, inclusive, encontro para forma

lizar minha adesão. Na hora apareceram

outros companheiros, estudantes como

eu, e levaram-me para uma reunião em

célula comunista. Ao mudar de rumo

acabei mudando de ideologia. Em vez de

aderir ao integralismo acabai aderindo ao

comunismo". Comigo aconteceu mais ou

menos isto. É possível que se alguém

tivesse me pastoreado para uma célula

comunista, lá tivesse ficado. É bem verda-

de que, no meu caso, isso seria mais

difícil, dada minha formação religiosa. 0

integralismo fazia muito alarde em torno

do espírito de religiosidade e dos valores

morais. E isto atendia mais de perto às

inclinações de uma pessoa, como eu, re-

cém saída da vida claustral. 0 importante

para mim na época era participar da luta

da minha geração, de fazer alguma coisa

no sentido de construir um mundo novo.

D

O

fa a

Page 17: a 3 de dezembro de 1972 Cr$ 2,00 27 Ano II Número 58memoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00058.pdf · anos e eu vinha de Roma, da abertura do Concilio. O primeiro objeto que vi

POLITIKA

O estranho

mundo de Gerardo

Mello Mourço

Depois da revolução russa, as

três coisas mais importantes

foram a revolução cultural da

China, o aggiornamento da

Igreja e o socialismo iugoslavo

y *§ i£rv • • *&¦£ "• ¦

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WKk k> I

¦ » •. • vj Av-'*ic. j. Ejw -' >. ¦'

A história sempre

se polarizou

em certas

regiões do mundo

rnnt inpntí

Politika: Com a sua lucidez e a expe-

riência de hoje você seria capaz de repetir

a aventura?

Mourão: A mesma aventura? Em que

sentido? Eu não me desengajei dessa

aventura nunca. Posso ter. mudado de

caminho, mas sempre perseguindo a mes-

ma meta: ser a testemunha de um mundo

mais justo e sobretudo mais livre.

Politika: Sendo você católico, como

disse, como situa o problema religioso em

face das novas opções do mundo moder-

no?

Mourão: Depois da Revolução Russa,

as três coisas mais importantes, sem dúvi-

da, que ocorreram no nosso século, fo*

ram: o aggiornamento da Igreja Católica,

a Revolução Cultural Chinesa e o Socialis-

mo Iugoslavo, de autogestão. 0

aggiornamento da Igreja pode-se dizer que

nasceu de uma revolução semântica. Não

há mais o socialismo. Não se pode mais

falar, hoje em dia, de um socialismo, mas

ae socialismo. Dentro do socialismo a

Igreja pode ser socialista. Os homens da

Igreja podem e devem ser socialistas, pois

este é o único caminho. Cristo foi um

socialista completo.

Politika: Toda a cultura brasileira, de

um modo geral, ignora a América Latina.

Só existem dois grandes escritores entre

nós que tomaram consciência da América

Latina como realidade social, como uni-

dade econômica e como realidade cultu-

ral. Foram: Souzândrade, que escreveu

seu grande poema baseado em uma lenda

boliviana, e você, que mergulha profunda-

mente nessas raízes. Como explica este

fenômeno?

Mourão: Pode parecer uma coisa senti-

mental, ternura resultante de minhas lon-

gas audanças pelo continente. Mas é, so-

bretudo uma fé profunda na America

Latina, uma consciência histórica de seu

destino. A América Latina me parece uma

esperança do mundo e uma das soluções

lógicas da marcha da História. A Historia

sempre se polarizou em certas regiões.

Tivemos o mundo do Oriente Médio, do

Mediterrâneo, da Grécia. Depois tivemos

o mundo europeu. Temos agora o mundo

dos norte-americanos. Todos esses mun-

dos foram departamentais, foram seto-

riais O único mundo que tem condiçoes

de abrir as portas do ecumenico e o

mundo latino-americano. Um mundo on-

de todas as raças se encontram, onde as

culturas regionais chegadas à maturaçao

vieram aqui se encontrar. A África e ainda

um continente fechado em sua negritude.

Este nosso, é um mundo aberto Parece-

„ que a América Latina é portadora

da

melhor mensagem para o mundo do futu

ro ~ j

DrtiitikT Você d'<^p nue a missão do

ruiiuNo. m • - ^ |

intelectual é criar uma cultura nacional

Mas o Valete de Espadas é um dos poucos

romances brasileiros de carater

Daí por certo, o sucesso que obteve na

França onde alguns críticos registraram

este fato. Le Monde, por exemplo, che-

a dizer que Valete de Espadas era o

mmance do homem escrito no Brasil,

enquanto a tendência dos nossos outros

escritores era no sentido de realizar o

romance do homem brasileiro.

Mourão: Tenho dois romances publica-

dos Valete de Espadas e o Dossiê da

Destruição. Nesses dois romances realizo

uma esDécie de destruição do espaço e

dos tempos. Trata-se de um problema

metafísico, o problema

da residencia do

depoimento

homem na terra, ou melhor, da irresiden-

cia do homem na terra e no tempo, em

busca de sua existência no cosmos e na

eternidade. Na minha poesia vou buscar

as raízes da terra. País dos Mourões é as

Não quero

ser poeta

do|

machismo

raízes da terra. Qual o sentido que atri-

buo ao País dos Mourões? A clã dos

Mourões é uma clã formada de pioneiros,

de desbravadores, de caudilhos, de aven-

tureiros, de bandidos. São fundadores da

terra. Ainda hoje, em Ipueiras, é admira-

vel se ver que todos descendem de Mou-

rões. 0 rico, o dono do armazém, o

mendigo da feira, todos descendem do

mesmo tronco dos Mourões. Foram eles,

seus antepassados, que fundaram a terra,

com muita luta, com muito sangue, com

muita dor. Para criar uma cultura nacio-

nal creio que o primeiro passo é fazer um

inventário do que tem a nação. 0 inventá-

rio é o levantamento da história daqueles

que construíram sua terra. A poesia é

cosmogônica. O País dos Mourões é o

inventário de uma cosmogonia".

Politika: A Peripécia é um livro auto-

biográfico. A posse da terra é a história

do homem. É isto que dá à sua poesia um

caráter mais universal que regional.

Mourão: A história de cada homem é a

história do mundo. A minha história é

também a história do mundo. A poesia é

a essência da história.

Politika: Você partiu, em sua poesia, de

bases regionais. Mas em sua grande cria-

ção ela adquiriu dimensões universais.

Mourão: Às vezes a gente parte de uma

pequena trouvaille. O País dos Mourões

nasceu de um artigo que li em 1935, de

autoria de Ernani Silva Bruno, historiador

sério. Foi ele fundador, juntamente com

Luiz Saya, de um grupo nacionalista den-

tro do intetjralismo, do qual depois se

separaram. Esse movimento chamava-se

Boi-Tatá, como símbolo nacional. Erna-

ni lançou um manifesto do grupo, do qual

me aproximei muito. Por essa ocasião ele

escreveu um artigo com este título curió-

so: Picada para o universal. Achei este

título uma trouvaille. Entendi, então que

você só pode chegar a um lugar partindo

de onde está. Um problema euclidiano.

Eu não posso chegar ao universai se não

sair daqui, de onde estou: da América, do

Brasil, do Ceará, de Ipueiras, da casa e do

sangue de meus avós. Não posso ter a

pretensão de sair de lá onde não estou

ainda. Daí soar falso tanta coisa que quer

ser universal e não é.

Politika: Você não acha que foi exata-

mente isto que escritores como Mário de

Andrade, com Macunaíma, e Raul Bopp,

com Cobra Norato, só para citar os dois,

tentaram realizar *em

suas respectivas

obras, enquanto um Vila-Lobos, por

exemplo, buscava o mesmo caminho atra-

vés da música7

Mourão: Mário, como Bopp e como

Vila-Lobos fizeram inventários de nossa

América. Antes deles e de mim, há o

grande inventário de Euclides da Cunha.

Antes, o de Souzândrade. Outros conti-

nuam, como o espantoso poeta Dantas

Motta, em sua touceira de escrituras, em

Airuoca e o poeta Carlos Drummond de

Andrade, do país das Gerais, coberto pelo

cobertor vermelho de seu pai. E mais do

que todos, altíssimo poeta da América,

Gofredo lomini, com a aventura da Ame-

reida.

Politika. Um dos temas básicos do País

dos Mourões é a virilidade, a macheza,

como expressão de homens que tendo

chegado para fundar terminaram criando

suas próprias leis. «cima dos padrões do

comportamento normal. O poema está

cheio de símboios íálicos, violências fáli-

cas. Ao passo que Peripécia é o poema do

encurralamento. Como você situa essa

passagem de um poema para outro ? Qual

o caminho que você percorre7

Mourão: Eu disse antes que para criar

uma cultura nacional é preciso primeiro

fazer o inventário. Depois distribuir o

inventário para que a partilha seja feita ao

maior número possível. O inventário de

que eu tinha conhecimento era aquele

que dizia respeito aos Mourões. Essa gen-

te fundou alguma coisa de permanente,

uma nação, uma terra. Não quero de

maneira nenhuma ser um poeta do ma-

chismo. Mas evidentemente toda aquela

virilidade era de uma forma de afirmação

do indivíduo, uma afirmação da forca, do

poder e da capacidade do homem. As

passagens que possam parecer extrema-

mente afirmativas de machismo são metá-

foras da afirmação da personalidade. Até

porque o erótico é a virtualidade divina

do ser humano.

Politika: Você é leitor e grande admira-

dor de Ezra Pound. Como sabe.e: divide

os escritores entre inventores, mestres,

diluidores, bons escritores sem qualidades

salientes, beletristas e lançadores de mo-

da. Você, Mourão, se considera um escri-

tor inventor?

Mourão: É a ambição que eu tenho.

Inventor. Inventar no sentido original da

palavra, que vem de invenire, do latim,

que quer dizer achar. Inventar é achar.

Sou um homem que procuro e pretendo

achar.

Politika: Voltando ao problema do. País

dos Mourões. Queríamos que você expli-

casse um dado do poema que nos parece

um dado biográfico. Você é parente do

General Sampaio?

Mourão: Sou descendente do General

Sampaio.

Politika: Explique bem como é que o

General Sampaio entrou na história.

Mourão: O General Sampaio é avô do

meu avô. A família foi na época uma

família poderosa no interior do Ceará.

Grandes senhores de terra. Mas o General

Sampaio era de ramo muito pobre da

família. Há uma história curiosa a seu

respeito. Ele quis casar com uma prima,

Maria Veras. Não deixaram, exatamente

porque era pobre. Era filho de um ferrei-

ro, de Monte-Mor, lugarejo perto de Tam-

boril.

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n

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Page 18: a 3 de dezembro de 1972 Cr$ 2,00 27 Ano II Número 58memoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00058.pdf · anos e eu vinha de Roma, da abertura do Concilio. O primeiro objeto que vi

POLITIKA

depoimento

Gerardo foi o único poeta

de

língua portuguesa

convidado

a participar

do congresso

mundial de poesia,

de Londres,

por sua contribuição à

poética

O estranho

mundo do Gorardo

Mollo Mourão

C amus foi

um homem

sem pátria

Politika: Pois isso ele criou a infanta-

ria...

Mourão: O General Sampaio fez uma

carreira de soldado raso. Quando preten-

deu casar com Maria Veras e a família não

deixou, ele sentou praça em Fortaleza.

Distinguiu-se por suas bravatas e bravuras.

Foi sendo promovido, de furriel até

chegar a general. Ferido na batalha de

Tuiuti, os médicos quiseram cortar-lhe a

perna, depois de verificarem que o feri-

mento tinha gangrenado. Diante da amea-

ça ele disse: Doutor, não corte a minha

perna. Um general morto é bizarro ainda;

um general coxo é feio. Era um homem —

Todo um macho — como se diz no Chile.

Politika: Você citou aqui Camus e

Pound. Será que você poderia situar sua

obra em relação a esses dois escritores?

Não se pode ler seu poema sem pensar em

Pound, inclusive por certas características

exteriores, de disposição gráfica, de uso

de letras gregas, etc. Ao mesmo tempo

{>írece haver entre você e Camus uma re-

lação muito profunda. É que tanto você

como Camus usam uma linguagem clássi-

ca, um estilo clássico, para descrever as

deformações da cultura e do mundo de

hoje.

Mourão: Camus, uma das figuras mais

dramáticas da nossa geração, foi um ho-

mem sem pátria. Nfo era argelino nem

francês. Viveu profundamente engajado

nesse problema, que era o seu problema

existêncidl. Projetou toda sua inquietação

nessa frase, muito importante para mim, e

que já citei aqui: O papel do artista não 6

fazer a história, mas sofrer a história. To-

da a obra dele é o sofrimento da história

contemporânea, que ele vivia. Ao mesmo

tempo tinha um desejo tremendo de afir-

mação e de poder. Buscava a liberdade,

que só é possível quando o homem tiver

construído a pátria universal. MasCalígu-

Ia...

Politika: ... é a história de um ho-

mem que queria provar o seu poder bus-

cando a impotência.

Mourão: Era a própria história de Ca-

mus e da sua geração, de certa forma. És-

tive com ele quando passou por aqui.. Vi-

sitou-me no cárcere, com Abdias Nasci-

mento. Conversamos pouco, estava sem-

pre interessado em ir às gafieiras

Quanto a Pound, creio que é ele um

marco na poesia mundial de todos os tem-

pos; o homem que chegou mais perto, en-

tre os contemporâneos, da pura poesia,

que nada tem a ver com o conhecimento

lógico. Nenhum poeta de minha geração o

terá lido impunemente. Poesia que não

tem nada de conceituai. É ele o revitaliza-

dor de toda a poesia moderna. Em Pound

se tem a impressão | que cada palavra é a

sua própria metáfora. Não se pode igno-

rá-lo. Ainda agora vi a edição fac-similar

dos Quartetos, de Eliot, publicada nos Es-

tados Unidos. Essa obra, como se sabe,

Eliot, antes de divulgá-la, a enviou a

Pound para que a lêsse. Pound eliminou

cerca de um terço do poema, com obser-

vações à margem, em que dizia: corte isto,

substitua esta palavra, retire toda esta es-

trofe, etc. Pela edição fac-similar publica-

da agora nos Estados Unidos verifica-se

que Eliot acatou rigorosamente todas as

indicações de Pound. Devo dizer que res-

peito Eliot, mas não tenho por ele uma

grande admiração. Trata-se de um poeta

muito bem comportado. Poderia ter sido

um parnasiano.

Politika: Como você se situa dentro do

panorama da poesia brasileira. Estamos

nos referindo particularmente à poesia

moderna.

Mourão: Em 1966 houve um congresso

mundial de poesia, em Londres, promovi-

do pelo Instituto de Arte da Grã-Breta-

nha, pela Cátedra de Poesia da Universida-

de de Oxford e pelo Suplemento Literário

do Times. Estava no Chile quando recebi

uma carta dos poetas Robert Graves e Jo-

nathan Bouting, para comparecer a esse

congresso. Aceitei o convite e viajei para

Londres. Ao chegarfiquei surpreendido.

Havia mais de cem poetas presentes, vin-

dos de todas as partes do mundo. Fiquei

mais surpreendido quando verifiquei ser o

único poeta brasileiro ali. Fui agradecera

distinção a Graves e Jonathan Boulting, e

perguntei: — Por que os senhores não con-

vidaram outros poetas de meu país? . — O

senhor é o único poeta da língua portu-

guesa que nós convidamos, r- responde-

ram. Diante da resposta insisti: — Por

que

'não convidaram outros?

— Mas

quem? — indagaram.

— Citei dois outros

nomes. Não tinha muitos a citar. Dois ou

três nomes, mesmo. Conhecemos — foi a

resposta, fte verdade se trata de poetas

europeus que por acaso escrevem no Bra-

sil. O senhor traz a primeira contribuição

da América à poética universal. Por isso é

que foi convidado. Devo dizer que Graves

lê corretamente a nossa língua. Ele lê tu-

Intelectual

não pode

se isolar

do. Lê grego como lemos espanhol, fran-

cês ou inglês. Seu julgamento a meu res-

peito deixou-me muito lisonjeado, porque

uma das coisas que desejo mesmo é dar

uma contribuição da América à poesia. É

claro que considero o julgamento dos

poetas ingleses muito generoso, mesmo

porque devem conhecer pouco a literatu-

ra brasileira.

Politika: Como você explica o silêncio

da crítica brasileira a respeito de sua obra

literária?

Mourão: Mk) tenho porque me queixar

da crítica. A crítica quantitativa está de-

saparecendo no Brasil. Excetuando o do'Estado

de Minas", acabaram os suple-

mentos literários. O újtimo deles, editado

pelo Estado de São Paulo está agortizan-

do. Há realmente uma nova geração de

críticos, dotados de excelente instrumen-

tal, nascida sob o impulso das Faculdades

de Letras. Alguns trabalhos publicados

em livro são de alto nível. Mas essa gente

não dispõe de veículos de divulgação, o

que impede de exercitarem a crítica de

modo a alcançar o grande público. Como

disse, não posso me queixar da crítica.

Minha mulher, que coleciona a vaidade

doméstica, tem arquivado em cadernos o

que se tem dito e publicado sobre a mi-

nha obra. Só sobre Valete de Espadas há

uns cento e quarenta artigos publicados

no Brasil. São artigos sérios, de pessoas da

altura de Alceu Amoroso Lima. No Esta-

do de São Paulo, só sobre o País dos Mou-

rões, foram divulgados seis artigos assina-

dos na época em que saiu. Nogueira Mou-

tinho escreveu um trabalho longo'nas Fo-

lhas. Tenho tido uma crítica muito gene-

rosa, generosa demais, talvez. O que não

tenho, não cultivo, é a chamada badala-

ção. Houve em torno de mim uma certa

legenda negra. Mas isto não me cria ne-

nhum ressentimento. Gosto de dizer que

escrevo sobretudo para comparecer com

meus livros diante de Deus. A frase não é

minha, mas do Kafka. É muito boa.

Politika: Mas Deus lê português?

Mourão: Milôr Fernandes escreveu: Di-

zem que Deus 6 Brmsileiro. Pudera, ele

tem que dar o exemplo.

Politika: Você é considerado em certos

círculos como um escritor maldito.

Mourão: E possível. §ou um homem

que talvez desdenha a publicidade. Nio

confundo a publicidade com a glória. Eu

não persigo a publicidade. Mas considero

uma coisa fabulosa ser poeta maldito.

Poetas malditos foram Rimbaud, Lautréa-

mont, Verlaine e outros.

Politika: Voltando ao seu romance. Vo-

cê colocaria Valete de Espadas como um

romance trágico?

Mourão:Não sei se vou responder exa-

tamente a esta pergunta. Valete de Espa-

das é sobretudo um romance de busca da

liberdade. Conhecer-se, saber onde pisa,

Busca a liberdade que não encontra. Mas

o romance não termina, como não há

tempo na vida da gente para terminar na-

da.

Politika: Hebert Reed acha que falta

aos artistas de nosso tempo o sentido da

tragédia. E ele considera este dado muita

importante para a criação artística, sobre-

tudo para a criação poética. O que é que

você acha desta colocação?

Mourão: O meu livro é profundamente

trágico. Lembro-me sempre daquela frase

de Pascal que dizia não compreender

aqueles que tomam o partido de rir dos

homens, mas o partido daqueles que bus-

cam gemendo. Acho fundamental buscar

gemendo, sofrendo. Não há dúvida que é

preciso ter a consciência da tragédia, dos

nossos dias e de cada um de nós.

Politika: O que se afirma, o Que se dis-

cute, hoje, é que o romance morreu. O

último romance do ponto-de-vista formal

foi o Finnegans Wake, de James Joyce. A

partir daí não se poderia ir mais adiante.

A poesia, se a gente olha o que se produz

hoje no mundo, a impressão é de crise,

tanto com relação à Itália, à França ou

<Jos Estados Unidos. Hoje édifícil aparecer

um grande poema. A poesia está em crise

e o romance acabou. Isto é sinal de quê?

Mourão: É um sinal da demissão do ho-

mem de seu verdadeiro destino. O homem

está se deixando absorver pela tecnocracia

da sociedade moderna. Concordo que a

poesia está em crise. Mas a crise é o esta-

do normal do poeta. E por isso haverá

poetas até o fim dos tempos. E quando os

tempos terminarem, o que restará, do

mundo perecido, é o testemunho dos poe-

tas. E o testemunho é mais importante do

que a obra, pois se insere no contexto da

lenda, da qual nasce a história. Orfeu não

é uma obra, é uma lenda.

Politika: No decorrer desta nossa con

versa, você fez referência a Camus. A po-

sição de Camus, como a de muitos inte-

lectuais modernos, é a da busca da liberta-

ção do homem acima e fora dos partidos,

recusando-se a ver no remanejamento

das instituições a solução do probíema.

Mourão: Os artistas são, de um mono

geral, indisciplinados. Por isso mesmo se

escamoteiam muito ao engajamento. Re-

ceiam sempre o cerceamento de sua liber-

dade. Pessoalmente, considero o engaja-

mento necessário. O intelectual não pode

e não deve se isolar. O engajamento é ne-

cessário não só no sentido da escolha dos

meios de luta como da distribuição na-

q ti ele inventário a que antes me referi.

Até o nosso Heidegger, diz em sua defini-

ção do ser: — Ser é ser em alguma parte

com alguém. É preciso ser com alguém,

senão estamos sós. Ai do só!. É o que está

dito nas Escrituras. Acho, pois, que o ar-

tista não perde nada por estar engajado.

4

6

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O estranho

mundo de Gerardo

Mello Mourão

Acredito na força das idéias

e do pensamento, no espírito

dos homens. São eles que

mudam

as coisas. A revolução francesa

foi feita pelos intelectuais

POLITIKA

depoimento

Aprendi a

aproveitar

o tempo

Politika: Você acredita, realmente, que o

remanejamento das instituições sociais

conduz à libertação do homem?

Mourão: Eu acredito terrivelmente na for-

ça das idéias e do pensamento, no espírito

dos homens. São eles que mudam as coi-

sas. A Revolução Francesa foi feita por

cem intelectuais. A Revolução Russa por

menos de mil, talvez. A força do pensa-

mento é muito grande. Quando resistimos

ao peso esmagador da tecnocracia, da tec-

nologia moderna, da bomba atômica, esta

a expressão mais forte da força brutal, te-

mos que admitir que há uma coisa mais

poderosa que tudo isto. E esta coisa mais

poderosa é a inteligência humana, que fa-

bricou a bomba atômica. Essa é uma das

esperanças da América Latina. Não tenho

dúvida de que a inteligência terminará

vencendo. Pouco importa que isto pareça

utópico ao observador de curta distância.

Mas não tenho dúvida de que o tempo

trabalha a favor da inteligência e que um

dia a inteligência tomará conta do mun-

do.

Politika: A poesia é a familiaridade da pa-

lavra. Mas você é um homem que se des-

dobra em mil atividades, tendo muitas ve-

zes que lidar com cifras, com números,

coisas enfim que não têm nenhuma rela-

ção com a sua verdadeira vida intelectual,

mas que exige muito pelo desgaste mate-

rial e perda de tempo. Como você concilia

isto?

Mourão: Não concilio. É um dos aspectos

da servidão a que o século condena o poe-

ta. Mas aprendi a aproveitar o tempo no

convento. Por um paradoxo, sendo o lu-

gar em que se dá menos importância ao

tempo, pois se vive em função da eterni-

dade, o tempo ali é medido, aproveitado

de minuto a minuto. Os horários dentro

& um convento são algo impressionante.

No meu, acordava-se às 4,25; das 4,25 às

4,35 fazia-se a toalete; das 4,35 às 4,40

orava-se prostrado no chão; às 4,43 ia-se

Para a capela. E assim transcorria o dia,

contado de minuto a minuto. Aprendi,

P°is, a aproveitar ao máximo este cabedal

que é o tempo. Eu aproveito todos os mi-

nutos. Minha poesia, por exemplo, é escri-

ta fragmentariamente em matéria de tem-

P° e de espaço. Entre um texto e outro,

redigido, por obrigação de ofício na ban-

ca do jornal, escrevo um verso que só vou

^tornar horas depois, tanto pode ser num

ter, se estou sozinho, como em casa, em

Arapiraca, no Rio, na Grécia, em Maná-

^a, num táxi, num hall de hotel em Nova

'°rque ou nas barrancas do Araguaia. Às

Vezes, isto ocorre sobre a Cordilheira dos

Andes, a duração de uma viagem entre o

Atlântico e o Pacífico. Escrevo em toda

parte. Estou sempre aproveitando o tem-

po. No mosteiro aprende-se isto até como

disciplina ascética. Aprende-se a meditar,

a se concentrar. Adquiri uma certa virtuo-

sidade em me isolar. Por outro lado, tam-

bém sou um sujeito que não quer perder

nada da vida. Tudo na vida para mim tem

seu valor perene. Um problema de câm-

bio, de importação, parece-me altamente

poético. Tudo é poético. Tudo é poesia.

Trato todas as coisas com uma vontade

poética. Por isto sobrevivo.

Politika: Qual o verso ou quais os versos

que você tem dor de cotovelo por não ter

escrito?

Mourão: Há vários. Este verso de Rim-

baud, por exemplo: "Et

j'ai vu quelques

fois ce que 1'homme a cru voir". Em

língua portuguesa, gosto muito deste ver-

so de Cruz e Sousa: "Invejado,

a invejar

os invejosos." Casimiro de Abreu: "Ó

que

saudades que tenho da aurora de minha

vida." Ou este, de Baudelaire: "J'ai

plus

de souvenirs que si j'avais mille ans."

Politika: Você que veio de uma zona mi-

serável e andou por todo o sertão, como

encara o Brasil numa perspectiva de trinta

anos?

Mourão: Pra trás ou pra frente?

Politika: Pra cá.

Mourão: De trinta anos para cá?

Politika: Isto. O Brasil é viável?

Mourão: Uma das aventuras da peripécia

de minha vida, é ter sido professor de

uma cátedra que se chama América, na

Universidade do Chile. 0 Chile é um país

muito curioso, com uma consciência con-

tinental muito aguda. Em todos os cursos

superiores há uma cátedra de currículo

sobre a América, para dar ao homem de

formação universitária uma consciência

do tempo e do espaço em que ele vive.

Preocupou-me sempre muito saber a ra-

zão desse gap tão acentuado entre o de-

senvolvimento da América Latina e da

América do Norte, quando ambos têm a

mesma idade histórica.

No ano passado eu estava na lugoslá-

via país muito interessante, um país de

mandarins, um país governado por um

manaarindto. Pois bem. Preparam-me um

programa com a presença

de vários pro-

fessores. Lembro-me particularmente de

um deles, um velho de barbas longas, con-

siderado por todos como um sábio. tra

ele tão consciente de sua posição que

quando lhe fiz algumas perguntas, respon-

deu-me com indiferença: Eu sou um cien-

tista. Isto é problema para soc.ôloao e

economista. Não me interessa. Mas no de-

correr de nossa conversa terminei inda-

oando quais, na sua opinião, as razoes que

justificariam a grande

diferençai ent^°

desenvolvimento da America Latina, com

sua pobreza, e os Estados Unidos, com a

sua riqueza, com o seu imenso poderio

industrial, econômico e financeiro.

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id

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i#"—'¦A ¦

A mística

serviu à

dominação

velho, com sua sabedoria, respondeu: "É

porque os senhores nunca tiveram demo-

cracia."

Entendo que o estágio de pobreza da

nossa região sertaneja se deve exatamente

ao fato de que nunca conheceu a demo-

cracia, isto é, porque o povo nunca parti-

cipou do poder. Essa me parece a razão

mais profunda da miséria naõ apenas do

sertão, mas do continente. O povo real-

mente nunca participou do poder. Por is-

to mesmo nunca pôde promover-se. Co-

mo perspectiva futura acredito que esta

situação tende a mudar. Quando isto

acontecer, nos próximos anos, o povo da

América Latina chegará a um estágio de

florescimento econômico.

Politika: É preciso não esquecer certos

problemas intrínsecos, históricos do nos-

so continente, da América Latina, como

aqueles que decorrem de nossa coloniza-

ção.

Mourão: De um modo geral, vejo na Amé-

rica Latina duas coisas que retardaram o

acesso do povo ao comando das decisões.

Na América Latina, de colonização tanto

portuguesa como espanhola, começou-se

pela criação de um corpo imenso de leis.

Toda a colonização estava fundamentada

sobre leis minuciosas. Codificou-se tudo.

E codificou-se sobre o nada. Nos Estados

Unidos a lei veio depois. Primeiro coloni-

zaram a terra, na base da aventura, da for-

ça e até da violência. Não havia lei. Criada

alguma coisa, entaõ se fez a lei. Aqui foi o

contrário. Antes de se construir, elabo-

rou-se um elenco de leis. Foi o formalis-

mo jurídico que presidiu o nascimento de

toda a América Latina e sua formação.

Politika: A nossa colonização foi feita à

base dos grandes latifúndios, das capita-

nias . . .

Mourão: As leis eram tão minuciosas, des-

de as Ordenações Filipinas, que ainda ho-

je é de impressionar. Depois verificamos

que a característica fundamental da inde-

pendência latino-americana, de que resul-

taram todas essas #iações, foi de sentido

aristocrático. Foi, de fato, a revolução

mais aristocrática, jamais ocorrida no

mundo. Os movimentos de independência

aqui foram impulsionados peb ristocra-

cia. A luta que levou trinta e ti és anos,

desde os primeiros levantes do Vice-Rei

Iturrizaray, no México, e Miranda, na Ve-

nezuela, era liderada pela grande burgue-

sia mercantil, ou latifundiária, que se le-

vantava contra a Colônia. O po.o esteve

inteiramente ausente desse processo. Au-

sente e, muitas vezes, até contrário. O po-

vo era dominado pelo imperialismo das

metrópoles, pelo clero, grande força de

sustentação, do stablishment todo ele rea-

lista. Os nativos não tinham nenhum aces-

so ao poder, em nenhuma de suas esferas,

nem no poder militar, nem no poder ad-

ministrativo, nem no poder religioso. Até

o padre nativo, o padre crioulo, não podia

chegar a bispo. Nas forças armadas o nati-

vo podia chegar a oficial, mas nunca a

capitão-general. Houve 514 capitães-gene-

rais na América, dos quais apenas quator-

ze foram nativos. No campo da economia,

o sujeito era dono de terra, produtor, co-

merciante, mas nunca chegava a penetrar

nas áreas de decisão e controle do poder

econômico. Produzia, vendia o resultado

de seu trabalho a preço vil e comprava

tudo da metrópole a preços escorchantes.

A revolução foi feita, assim, pelos filhos

dessa burguesia mercantil e latifundiáriav

que se instalou na América e aue a certa

altura perceberam que só podiam crescer

até um certo ponto, pois a partir daí a

metrópole barrava-lhes o caminho.->£) po-

vo, atemorizado, era contra. Quando hou-

ve o grande terremoto de Quito, o Bispo

anunciou aos quatro ventos que aquilo

era um castigo de Deus pelo pecado co-

t metido por aqueles que pretendiam se le-

| vantar contra o Rei. Dominado pelo po-

i der civil, pelo clero, pelo poder militar, o

povo era realista. A revolução foi, assim,

conduzida pelos grandes proprietários de

terra, pelos que já haviam alcançado uma

posição mais eminente e que se sentiam

cerceados em suas ambições. Foram esses

que fizeram realmente a revolução na

América Latina e a fizeram sem a partici-

pação do povo. O primeiro Capitão que

teve povo em suas fileiras foi Bolívar, mas

geralmente mercenários. Fez-se aqui uma

revolução eminentemente feudal.

. -,

a

a

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POLITIKA

depoimento

j

O Brasil passou

de colônia a

monarquia, de monarquia para

a república sem que

realmente

tivesse havido alguma alteração

profunda na estrutura econômica

O estranho

mundo de Gerardo

Mello Mourão

Nos Estados Unidos os

homens se rebelaram contra o sistema religiosoe c

sistema político

colonizador

Politika: No Brasil, nós passamos da

colônia para a Monarquia, da Monarquia

para a República sem que realmente tives-

se havido alguma alteração profunda den-

tro da estrutura econômica, política e

social do país.

Mourão. No Brasil, a República foi um

golpe de cúpula, levado a efeito pela

juventude militar, afetada pelas idéias po-

sitivistas. O povo não tinha consciência de

nada. Geraldo Rocha contava que, na

campanha do General Dutra, ele armou

uma pcrção de sertanejos para recebê-lo

como candidato, no São Francisco. Quan-

do chegaram ali um velhinho se apro-

ximou dele e perguntou: — "Como

vai o

Imperador? "

Politika: Você concedeu uma impor-

tância secundária ao aspecto religioso no

caso dos Estados Unidos. Ali a maioria

dos colonizadores era constituída de pro-

testantes e, em muitos casos, contrários

ao Rei. Na América Latina a Igreja não só

estava vinculada ao Rei, como era solidá-

ria com o feudalismo.

Mourão: Em toda a América Latina a

importância religiosa pode-se perceber in-

clusive através da arquitetura. As cidades

existiam em função de Deus. A cidade

primitiva era em geral o quadro. No

Ceará, ainda hoje, se chama quadro à

praça, com a Igreja no meio. A Igreja era

o centro da vida. A Igreja comandava, e

funcionava em todos os momentos decisi-

vos. Em geral vivia-se na fazenda. A casa

da cidade era mantida fechada e só era

aberta aos domingos, quando se vinha à

missa. A Igreja, por sua vez, estava forte-

mente solidária com os grandes proprietá-

rios e com o poder civil por eles controla-

dos. Nos Estados Unidos a população se

constituiu de maneira diversa. Para aqui

só vinha o povo fiel, fiel ao Rei e fiel à

Igreja, a tal ponto que nas Ordenações, na

parte referente a pessoas que podiam vir

habitar a Colônia, proibia-se de vir os réus

de perjúrio, as mulheres barregãns de

cônegos. os hereoes. os judeus. os réus de

sedição etc. Todos eram probidos de vir.

Só os fiéis ao "establishment"

tinham esse

direito. Só os fiéis à Coroa e à Igreja

podiam ser colonizadores. Proibia-se até

as mulheres. Não devemos esquecer que

os padres pediam que mandassem mu-

Iheres, que não havia. Nos Estados Unidos

deu-se o contrário. Foram os homens que

se rebelaram contra o sistema religioso e o

sistema político que foram povoar o país.

Eram homens rebeldes ao "esta-

blishment" da época. Pound tem um livro

muito curioso, que se chama Patria Mia

editado em italiano. A história deste livro

é muito curiosa. Os originais foram perdi-

dos. Ela havia entregue a uma editora, e o

prédio em que funcionava pegou fogo.

Durante quarenta anos os originaisestive-

ram desaparecidos e ele não possuía có-

pia. Um belo dia foram encontrados.

Nesse livro, Pound diz: Os que nos coloni-

zaram e fundaram este país eram os me-

lhores da Europa. Isto é, os aventureiros,

os rebeldes, os que não se conformavam,

os que tinham coragem, os que tinham

bravura, os que tinham capacidade de

tomar atitudes próprias. Foi por isto que

os Estados Unidos cresceram. Construiu-

se ali, de início, uma nação de adversários

do establishment. Depois isto se projetou

no curso de toda a imigração americana.

Durante muitos anos os Estados Unidos

receberam correntes imigratórias fabulo-

sas. Fronteira aberta. 0 imigrante é sem-

pre o melhor de sua aldeia: o aventureiro,

o que tem coragem de tomar uma deci-

são, de partir, de procurar fazer uma vida

nova. E nós, de certa forma, recebemos os

piores, ou seja os mais dóceis, os que não

estavam contra o Rei, os escravos do

establishment. Temos certas dívidas com

Portugal. Mas o português foi de uma

sabedoria colonialista infame, até no pro-

blema da formação cultural do povo. Em

1524, os espanhóis já haviam fundado a

Universidade de Santo Domingo, a Uni-

versidade Mayor de San Marco, em Lima,

e nos séculos XVI, XVII e XVIII criaram

universidades em todas as colônias espa-

nholas em todos os vice-reinados, em

todas as capitanias gerais. No Brasil, os

portugueses nunca permitiram a fundação

de uma universidade. Dom João VI fez

aqui uma escola de medicina e cirurgia

para atender seus achaques, mas não se

tinha nenhuma escola superior constituí-

da. As primeiras escolas superiores vieram

com a Independência: a Faculdade de

Direito de Recife e a de São Paulo. A

primeira universidade do Brasil, a mais

antiga, é a do Paraná, o Estado mais

jovem da Federação. 0 português teve a

sabedoria de não permitir a formação de

quadros dirigentes.

Politika: De não permitir, inclusive, a

entrada no país. Os portos ficaram fecha-

dos até 1816, o rio Amazonas ficou inter-

ditado à navegação até 1850.

Politika: Você que esteve no Chile vá-

rias vezes, inclusive recentemente, como

vê a situaçaõ ali, descrita pela imprensa

como estando à beira do abismo.

Mourão: Acho que há exagero na apre-

ciação da crise chilena. Vivemos num país

onde a greve é considerada ilegal. Isto, no

entanto, em muitos países democráticos,

é uma rotina. No Chile sempre ocorreram

greves, agora talvez de maneira mais

intensa. O governo de Allende está ten-

Frei é sem

dúvida um

estadista

tando quebrar uma estrutura. E não se

quebra uma estrutura sem episódios dra-

máticos agudos. Mas não tem, me parece,

a gravidade que se atribui num noticiário

dirigido. O problema mais grave do Chile

não é a luta do governo da Unidade Popu-

lar contra a direita. O problema mais gra-

ve ali é a luta entre os dois socialismos, o

socialismo da Democracia Cristã e o sócia-

l-ismo da Unidade Popular. Na verdade o

Chile é um país de esquerda. A aliança da

Democracia Cristã com o Partido Nacio-

iidí é muito grave, isio íoi objeto de uis-

cussões recentes. Tanto assim que a alian-

ça com o Partido Nacional deverá vigorar

só até as eleições, em março. Depois das

eleições o Partido Democrata Cristão não,

pode ter nenhum compromisso com o

Partido Nacional, pois do contrário perde-

rá suas bases.

Politika: O Partido Democrata Cristão,

como você sabe, já se dividiu uma vez.

Inclusive uma de suas alas colabora com o

Governo de Allende. O grupo, por exem-

pio, liderado por Choncho participa do

ministério com a aprovação das autorida-

des eclesiásticas. É realmente muito difí-

cil o Partido Democrata Cristão tomar

uma posição de direita.

Mourão: De maneira alguma. Nunc^

tomou nem tomará. Ainda agora, Frei

que deve estar chegando este mês ao

Brasil, a convite de Cândido Mendes de

Almeida, voltou da Iugoslávia empolgado

com o modelo do socialismo que encon-

trou ali. Frei é sem dúvida um revolucio-

nário. Kennedy, De Gaulle e o Papa Paulo

VI o consideravam a maior vocação de

estadista da América Latina. Falando-me

sobre a colocação marxista, ele a conside

rava cientificamente certa no sentido da

sucessão de classes no controle do poder

A sociedade quando foi organizada era

dominada pela aristocracia, a maior rela

ção de produção e consumo. Mas à me-

dida que a burguesia mercantil se am-

pliou, cresceu, até por ser o maior núme-

ro, engoliu a aristocracia. A revolução

industrial, a rebelião de massas, inseriu no

processo o proletariado, que mais cedo ou

mais tarde vai absorver o controle do

poder, também por ser a maior relação :

produção e consumo, além de ma <

número. A grande divergência de Frei

com muitos tipos de socialismo q*.

conhecemos é no sentido de fazer uma

revolução que não tenha que pagar os

duros tributos de liberdade que foram

pagos em outros países. Sua concepcão

revolucionária tem algo de fabiano. A

grande dicotomia que há no Chile é exata-

mente esta: o socialismo da Democracia

Cristã e o socialismo da Unidade Popular

O Movimento Democracia Cristão saiu de

uma Associação de Estudantes, da Univer

sidade Católica, que depois se constituiu

em sublegenda do Partido Conservador e

depois se transformou em partido. Sus-

tentava idéias muito avançadas, muito in-

fluenciado pelo Cardeal Suhard e pe:

padres Vita e Hurtado, de quem Frei foi

discípulo. O Cardeal Suhard era um

homem tão avançado que costumava di

zer: a propriedade do capital é um roubo.

Para ele a pessoa humana tinha direito

propriedade, mas o capiidi nãu. Naquc.a

época foi-pedida a excomunhão de Frei,

em Roma. O advogado de Frei, em Roma,

foi um padre chamado Montini, que hoje

se chama Paulo VI. Estive com Frei, em

fevereiro, e num dado momento do nosso

encontro solicitei uma entrevista para

uma publicação brasileira. Ele se levantou

começou a andar de um lado para o

outro, e me disse: não posso dar

nenhurha entrevista porque qualquer pro-

nunciamento que viesse a dar poderja

criar dificuldades ao regime. E eu nao

quero de maneira nenhuma assumir a res-

ponsabilidade na história do Chile de uin

homem que quebrou a ordem legal.

¦

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POUTIKA

Sebastião

Nery

™MMa jSNHHR:

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. \ *.>' f "" *»;K'

$&'-k^».

íW*

Horàcio Coimbra

ffolklore

L politiko

vmmm. r rio brande

Souza Naves era diretor da

Carteira Industrial do Banco do

Brasil. Chegou a senador pelo

Partido Trabalhista e morreu de

colapso cardíaco, quando o ho-

menageavam em Curitiba com

um banquete, por motivo da sua

candidatura ao governo do Para-

ná. Incorruptível, não tinha a es-

tima de um grande número de

correligionários. (Deixou para a

família 130 mil cruzeiros antigos

numa conta bancária e um apar-

tamento que ainda estava pagan-

do).

Certo dia, quando ainda era di-

retor do Banco do Brasil, entra

no gabinete um líder trabalhista

do segundo escalão, seu amigo

pessoal:

Naves, estou numa banano-

sa. Só de prestações do meu apar-

tamento devo quatro. Mas você

pode me salvar.

Como? Você sabe que não

tenho dinheiro para lhe empres-

tar.

Mão é isso que quero.

Um

amigo tem uma proposta de em-

préstimo aqui no banco. Está

tudo em ordem, segundo ele me

disse. Mas não estão soltando os

cobres. Prometeu-me uma comis-

são se eu conseguisse que você

liberasse o dinheiro dentro de um

mês.

Souza Naves sorriu:

Você é o primeiro

sujeito

que me procura para pleitear um

favor e diz francamente que está

levando o seu. Todos os outros

advogados administrativos que

vêm, juram que não ganham

nada

com a intervenção, que o fazem

apenas para ajudarem um amigo.

Vou mandar buscar o processo.

Se estiver mesmo em ordem, des-

pacho.

Estava tudo correto e Souza

Naves liberou o empréstimo

numa semana.

2

Horàcio Coimbra discutia, em

Londres, o Acordo Internacional

do Café e a guerra do café solú-

vfl- Perguntou ao presidente da

General Foods'', truste do café

nos Estados Unidos:

~~ Os senhores

ganham em to-

das as Unhas da produção indus-

tfial. Por que não aceitam que

o

Brasil saia ganhando em uma só,

o café solúvel?

— Dr. Coimbra, nós éramos

amigos até quando os senhores

nos forneciam matéria-prima.

Quando os senhores passaram a

querer fazer manufaturas, vira-

ram nossos inimigos. Se o Brasil

insistir em entrar no estágio de

industrialização para exportar,

v.ai competir conosco, por menos

que seja. E, em comércio, compe-

tição é inimizade. Nesta base não

haverá mais chance para relações

de amizade entre o Brasil e os Es-

tados Unidos.

3

João Mansur, Líder da Arena

na Assembléia, quando apenas

um inexpressivo deputado esta-

dual, em 63, foi advertido amiga-

velmente pelo então governador

Ney Braga:

João, pelo

amor de Deus, eu

quero fazer de você o meu ho-

mem forte na Assembléia, mas se

você não melhorar teu vocabulá-

rio, não vai dar. Por favor, João,

aperfeiçoe a tua retórica, fale me-

lhor quando for à Tribuna!

Ara, Ney. Eu já tô ficando

meio enjoado de tudo isso! Afi-

nar, não tenho curpa se me

ponharam aqui.

4

Ivo Thomazoni, Io. secretário

da Assembléia, (Arena), nos dias

amargos de Leon Peres, quando

já corria o boato de sua derruba-

da, subia à Tribuna 3 vezes por

dia, para defender a

"honestida-

de insuspeitável do doutor Ha-

roldo"

5

Leon Peres já na rua, Parigot

de Souza em visita de "cortesia

è 5a. Região Militar, deputados

sorridentes, Tribunal de Contas

em festa, toda a Imprensa dando

o seu "...Ufa...!",

já estava o

estóico Ivo Thomazoni, todo des-

penteado, gravata torta, voz tre-

mula e olhar oansado. Renato

Schaitza, jornalista, comentou:

"Veja a cara de égua do Ivo Tho-

: i"mazonn .

O deputado Cândido Martins

de Oliveira chama-o a um canto:

- Ivo, como está a situaçao'

— Acabo de falar com o Leitão

de Abreu. Tudo resolvido. O

Parigot assume amanhã. Pedi ao

Leitão de Abreu para que deixas-

se o Parigot assumir amanhã

mesmo.

— Quem não é visto não é lem-

brado.

6

O velho Manuel Vargas, pai de

Getúlio, chegou quase aos cem

anos. O segredo da sua longevida-

de: nunca ia a enterros. E expli-

7

cava:

De visita marcada ao Paraguai,

Getúlio convidou o pai a acom-

panhá-lo. O velho se recusou:

— Não vou. Da última vez que

estive em Assunção me trataram

muito mal.

Tinha sidcf na guerra contra

Solano Lopez.

Ulysses Guimaraes

e o dificil equilibrio

o

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POLITIKA

Augusto

Pereira

aldeia

global

Bhutto, a

queda por Chu

En-Lai

Antes, durante e depois da guerrinha índia

e Paquistão do ano de 1965, o chanceler do

presidente Mohammed Ayub Khan, mister

Zulfikar AM Bhutto andava muito agitado. E,

ainda mais, fazendo declarações. Mister Bhut-

to era declaradamente favorável à China. Tan-

to que Chu En Lai, virava e mexia, estava em

Karachi ou de passagem ou em conferência

com os líderes.

Como qualquer idiota sabe e não vou repe-

tir para não me tornar cansativo, o Paquistão

ficou para os Estados Unidos e a índia para a

União Soviética. Portanto, o casamento de

Bhutto com Chu En Lai estava fora dos pia-

nos políticos de tio Sam, ainda porque, na-

quele tempo, a Casa Branca ainda não fora

visitar Mao, em Pequim, na sua vila proibida.

Nos jornais cinematográficos assisti, muitas

vezes, o povo batendo palmas a Chu En Lai,

quando aparecia na tela e vaiando mister

Lyndon Johnson, o que, de fato, era uma te-

meridade.

Um dia bati uma conversa com Mister Har-

ry Steven:

0 senhor não acha que o chanceler Zulfi-

kar Alli Bhutto está muito chinês?

Mister Steven deu um ar de riso, modelo

167 com banda branca, e respondeu:

Acho.

Perguntei, na minha humildade:

0 governo do presidente Ayub Khan está

ficando então pró China?

Mister Steve riu com o mesmo sorriso:

Não, o governo, não, mister Bhutto, sim.

0 que acontecerá? \

E Mister Harry Steven muito sério e disfar-

çando:

Terá que ser sacrificado . .. sacrifica-

CÍO • m a

Mister Zulfikar Alli Bhutto caiu da chance-

laria quatro meses depois. E passou para a

oposição. Hoje, mister Bhutto é o presidente

do Paquistão. Mas, em compensação, mister

Nixon e o senhor Mao já trocaram gracejos!

O PEIXE

Minha preocupação, quando a aeromoça in-

formou que almoçaríamos em terra, no aero-

porto de Arshabad, foi a comida. 0 que iria

eu comer naquele pequeno aeroporto, no co-

ração da União Soviética? Pensei: vem por aí

comida russa, meu Deus, sabe lá o que? Tal-

vez um strogonoff, talvez o que?

I DEUM

V DIPLOMAT A /

Aeroporto pequeno. Prédio antigo. Mas um

restaurante limpo. Perguntei a uma pessoa, ao

lado:

é à Ia carte?

Não, a empresa já encomendou o almo-

ço. é comum pra todos...

Mais preocupação. Ah, meu Deus, aqui nes-

te fim de mundo, sabe lá o que vou comer. O

estomago apertva. Batia uma hora da tarde.

Um friozinho de outono e um sol morno lá

fora.

Tratei de forrar o estomago. Velho hábito.

Come-se logo pão com manteiga, bastante. Se

a comida fôr ruim, dane-se. Pois aí veio o pra-

to. E faço um parágrafo para contar:

Peixe frito, com cheiro verde, purê de bata-

ta, tomate, cebola e arroz.

Olhei, provei e perguntei a um companhei-

ro:

Não estarei na Bahia?

Era tudo igual.

O OCIO

Depois que os cinco jornalistas ficaram lo-

calizados em dois quartos conjugados do hotel

em Nova Deli, tratou-se de ver o aquecimento.

Mês de fevereiro faz frio naquelas bandas. E

muito frio.

0 hotel era de um português de Goa. Uma

velha casa com muitos quartos. 0 português

de Goa já é indiano e para não discutir com o

invasor, desapreendeu até de falar o portu-

guês. Só se sabe da origem porque o nome do

hotel não pode negar: Hotel Rodrigues.

Houve um problema. Cada um jornalista ti-

nha ao lado de sua cama um aquecedor de pé.

Justo um ventilador ao contrário. Sem as pás,

com fios que, ligados na eletricidade, ficam

em brasa e aquecem o paciente. Mas o proble-

ma era que um dos aquecedores não estava

funcionando.

Alguém mexeu e remexeu. Nada. Até que

se resolveu chamar a portaria:

Favor mandar no quarto tal um homem

para consertar o aquecedor que está pifado.

Meia hora de espera. Finda a qual, aparece-

ram três indianos. Turbante, roupas brancas,

calças largas, camisolão. Barbas. Três!

0 chefe da gang jornalística falou:

Só chamamos um para consertar o aque-

cedor.

Um deles se adiantou:

Vamos consertar.

Os três se ajoelharam frente ao aquecedor.

Ficamos olhando.

Então aconteceu o impossível. Os três eram

realmente para consertar o aquecedor. Sendo

que um consertava, outro dirigia o conserto e

o terceiro tomava conta dos dois.

Era a popular capacidade ociosa!

A MASSAGEM

Ah, as casas de banho em Tóquio! Claro

que não era necessário nem o banho e nem

nada. Mas havia a curiosidade do jornalista e a

grande tendência do latino. Tendência de

que? Do desconhecido.

Primeiro, fica-se nu. A mocinha que vem

dar banho na gente fica de calção e sutian.

Pano grosso. Entra-se numa banheira quente.

Depois numa friaEla esfrega sabonete na gen-

te. Bate nos músculos. Joga um jato de água

na pessoa. Frio e quente. Tudo muito recon-

fortante. 0 diabo é que, lá fora, estava nevan-

do com alguns graus abaixo. Mas não tinha

importância. A sensação do diferente.

Cada um em sua cabine que tem uma vidra-

ça em círculo para o gerente dar uma olhada.

Preço do banho cinco dólares!

Depois do banho, deita-se numa mesa com-

prida forrada com uma toalha alva. Vem a

massagem. Massagem aqui e ali. Mais massa-

gem. Recon fortante, realmente. A moça fala

mal o inglês. Mas mesmo assim perguntou:

Quer massagem especial:

Massagem especial?

Yes!

Como é?

Ela deu um sorriso amarelo, claro, pois era

japonêsa e me disse :

Bem .. é com a mão ... faz-se com a

mão para o cliente.. .

Com a mão? Quanto custa?

Mais dez dólares.

Isso queria dizer que um banho com massa-

gem especial custaria 15 dólares. Feitas as con-

tas: 60 cruzeiros dos novos falei:

Pode deixar..

Muito caro?

E eu triunfante:

Claro, lá em Ipanema, tem um lugar de

assistir corrida de submarino, onde é muito

mais barato . .. Mais barato ...

Ela sorriu e encerrou a massagem.

EH

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CREDIMUS ...

um grupo que

não dá zebra

P tre "umas e outras" ... definições, dizem os

sfcios e doutos

a respeito de «rupo:

"Conjunto de objetos que se vêem de uma vez ou

ce abrangem ao mesmo lance de olhos

"Diz se que

um conjunto G apresenta estrutura de

se existir uma lei de composição interna

ffida em toda a parte de G e que possua as

" "dades:

associativa, existencia do elemento neu

tro único e existência de um simétrico único para

cada elemento" (Galois sec . .. XIX).

Não desfazendo do matemático francês, tudo isso

ai ji era Hoje, o grupo é outro:

"grupo" do pavão,

análise em "grupo",

etc., etc.

Nós preferimos falar do grupo como forma básica

de associação humana. E para dar o

"pia", ou seja,

incrementar um grupo

"quente", que nao da zebra ,

transportemo-nos ao Nordeste, ou, mais precisamente

a FORTALEZA, onde estão os homens e suas

máa1 ias maravilhosas ...

Reunindo toda a pujança da terra (é antes de tudo

um forte) eis que, ao lado do sertanejo, do cantador,

do vaqueiro, do jangadeiro, surge um novo mestre do

reisado: 0 EMPRESÁRIO. É misto de crença, visão,

ânimo resistente, entusiasmo e ação.

PORQUE ACREDITAMOS NO NORDESTE E

CREDIMUS DO BRASIL

Porque há um trabalho entusiasta e coeso, nas mais

diversas atividades, integradas pelo esforço de crescer

nara melhor servir aos acionistas e ao Brasil.

É realmente motivo de justo orgulho historiarmos

o aue faz pela região esse punhado

de desbravadores

modernos que formam o GRUPO CREDIMUS cujo

corpo acionário detém, praticamente, a totalidade de

mais de 20 (vinte) empresas. Participando do processo

de integração nacional pela construção da Transama-

zônica e da Barragem de Sobradinho, munidos,

uníssonos, aqui e ali, formando a EIT as CHhUi-

MUS, MASTER-INCOSA, FAISA, MAISA, IPLACS,

cada dia crescem mais e mais.

Crescem e aparecem dispostos a colaborar com o

esforço desenvolvimentista do Governo do Brasil,

criando novas oportunidades de emprego, di uin o o

risco pela diversificação de empresas, formando um

todo integrado que gera e multiplica riquezas. #

Eis as Empresas que compõem o GRUPU

CREDIMUS:

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

CREDIMUS S/A - Crédito Imobiliário

-CREDIMUS - Corretora de Câmbio, Títulos e

Valores Mobiliários Ltda.

CREDIMUS - Distribuidora de Títulos e Valo-

res Mobiliários S/A.

-PAX - Corretora de Câmbio, Títulos e Valores

Mobiliários Ltda.

DOMUS - Associação de Poupança e Empres-

timo

MODULUS - Associação de Poupança e Em

préstimo

INDÚSTRIAS

INDÚSTRIA PLÁSTICA CEARENSE

S/A

. IPLAC

IPLAC DO BRASIL S/A PLÁSTICOS INDUS-

TRI AIS

CIA de Betumes e Emulsões do Ceará.

terraplenagem

EIT — Empresa Industrial Técnica S/A

ERG — Engenharia e Comércio Ltda.

INICIADORES DO BNH - 2a. REGIÃO

MASTER INCOSA - Engenharia S/A.

CONSTRUÇÃO CÍVEL

BRECIL, Bandeirante, Rep. Eng. Com. Industria

Ltda.

Construtora ARACATY Ltda.

CIP - Construtora Imobiliária Popular

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO

ARCO - Artefatos de Construção, Ind.

mércio Ltda.

SINWAL S/A - Mármores e Granitos

AGRO INDÚSTRIA

FAISA — Fortaleza Agro Industrial S/A

~~ MAISA — Mossoró Agro Industrial S/A

COMÉRCIO DE AUTOMÓVEIS

FAPEC — Fortaleza auto-Peças S/A

Co-

TECIDOS

ARMAZÉNS BANDEIRANTES (Tecidos) Ltda.

PLANEJAMENTO

Planos Técnicos do Brasil Ltda.

PECUÁRIA

FAZENDA Tanques Ltda.

Em organização

IPLAC S/A - Adm. e Participações

IPLAC TURISMO Ltda.

IPLAC PROCESSAMENTO DE DADOS LTDA.

IPLAC S/A - Importação e Exportação

IPLAC DO BRASIL S/A - Tecidos Plásticos

S.B.S. ENGENHARIAS/A.

As empresas filiadas co GRUPO *

CREDIMUS

contam com a participação acionária do Banco do

Estado do Ceará S/A; Banco do Desenvolvimento

Econômico do Ceará S/A e têm apoio financeiro da

SUDENE e do Banco do Nordeste do Brasil S/A.

CREDIMUS S.A. CRÉDITO IMOBILIÁRIO

Foi autorizada a funcionar pelo Banco Central do

Brasil, conforme carta patente número A-69/50,

emitida a 17 de março de 1969, na qualidade de

Agente Financeiro do Banco Nacional da Habitação

onde se inscreveu sob o número 38. Esta Sociedade

deu início às atividades no dia 22 de maio de 1969,

sendo o Agente Financeiro privado do BNH, na

segunda Região, de mais alto capital social. Nestes

três anos de atividades, seus balanços têm alcançado

lucros que, por si só, evidenciam a eficiência da

atuação.

A CREDIMUS orgulha-se de ter alcançado, preço-

cemente, as metas às quais se propôs, correspondendo

à confianca que as autoridades lhe depositaram e

contribuindo, eficazmente, para o desenvolvimento

do Plano Nacional de Habitação nos Estados do

Ceará, Piauí e Maranhão.

CREDIMUS, é tudo isso: melhor maneira de se ter

dinheiro dando lucro; de ter dinheiro guardado; e

poder ter este dinheiro à mão. Tudo ao mesmo

OS TIJOLOS UTILIZADOS, SE DISPOSTOS EM

LINHA RETA, DARIAM MAIS DE DUAS VOLTAS

EM TORNO DA TERRA

Eis alguns dados sobre as atividades da MAS-

TER-INCOSA ENGENHARIA S.A. nos últimos 5

anos: „ ___ ,. . .

Construção de 9.096 casas em 1.825 dias úteis,

numa média de 4,9 residências por dia.

Construção de 431.275,15 metros O^drad» de

área coberta para o Plano Naconal de Hab|taçao

(BNH) abrigando em casa piopria 54.5

Construção da

"Cidade Engenheiro Jose Walter

em Mondubim - Fortaleza (CE)

- 4.804 casas.

Construção, em andamento, na Barra do Ceara,

Fortaleza (CE) da Cidade "Nova

Assunção com

3.000 unidades, inclusive já inaugurada a 1a. etapa, e

concluída, praticamente, a segunda.

Inicio de construca-o, em consorcio com o EXT

iCmnresá Industrial Técnica S.Al, de 2/3 do acampa-

(Empresa Indust ^

Sobradinho da Companhia

mento de b g rranc;sc0 Valor da obra: 40 mi-

Acam^amen» além da .infra-estrutura

PLÁSTICO ASSUMISSE

A FORMA DE TODAS AS

COISAS. aesim tão depressa. Tudo está

Realmentenao um (recho

cansado°de sua aorta por

uma artéria plástica novinha

em fòlhal iá não * adm.ra^.s # , subs,

O plástico foi g

fejta só nos resta assis-

r^ulhofofà úitima etapa do deslanche: o plástico

^TTabncàmes5 Tcion^de

resinas mostram que

Os fabr'cant j ento do mercado e prepa-

ram^para enfrentar a demanda que

em 1976 deverá

ultrapassar a casa das 550.000 toneladas.

E na era do plástico a INDÚSTRIA PLÁSTICA

CEARENSE S.A. - IPLAC (sob a egide CREDIMUS)

assume a liderança absoluta. Sozinha, produz aprox,

madamente a mesma

(reunidas) das regiões NQRTE-NORDES

.

Utilizando principalmente o Polietileno, produz

todo tipo de embalagem, desde o mais simples sa-

quinho para pipoca até os mais complexos sacos

industriais valvulados. Com um parque de maquinas

dos mais completos e possuindo pessoal de alto gaba-

rito, a IPLAC desenvolveu "know-how'

proprio con-

seguindo um composto para embalar asfalto, já em

uso com absoluto sucesso.

Inaugurada em fins de 1971, iniciou a IPLAC c

produção mensal de 20 toneladas. Atualmente

extruda cerca de 300 toneladas mês.

Com a produção totalmente vendida até fevereiro,

quando novas máquinas virão reforçar seu parque,

parte para a conquista do mercado sofisticado,

criando vários produtos

"tipo exportação dentre

eles as sacolas "TRI-U-EI"

que, em breves dias, entra-

rão firmes no mercado norte-americano, tudo de

acordo com a política econômico-financeira do Go-

verno e a adoção de nova e atuante pol ítica de

MARKETING por parte da Empresa.

Em junho deste ano foi assinado um contrato de

captação de recursos no valor de Cr$ 4.000.000,00

entre IPLAC e Banco de Investimentos UNIVEST

S/A. A captação apóia-se na Lei de Incentivos Fiscais

(art. 34/18), que permite deduções de até 50% da

renda bruta de Empresas que apliquem em projetos

da área SUDENE.

Tendo como um dos maiores acionistas o Sr. Fran-

cisco Anísio Oliveira de Paula Filho, vem isto provar

que . .. decididamente, o plástico é o melhor papel de

CHICO ANÍSIO. Também o rei PELE marca gols de

placa no Nordeste, adquirindo milhares de ações da

IPLAC. É gente famosa aplicando bem seu capital.

Atendendo ao interesse do Governo na Constitui-

ção de grandes complexos empresariais, a IPLAC

CEARENSE irá se fundir, em início de 73, com a

IPLAC DO BRASIL.

IPLAC DO BRASIL S/A - PLÁSTICOS INDUS-

A experiência proporcionada pela INDÚSTRIA

PLÁSTICA CEARENSE e a sensibilidade ao dinamis-

mo (na árdua industrialização nordestina), motivou o

GRUPO, na sua indomável liderança, à criaçao de

outra unidade industrial na região. Assim nasceu

IPLAC DO BRASIL no Distrito Industrial de João

Pessoa, na Paraíba. Está em ritmo acelerado, com fun-

cionamento previsto para início de 1973. A linha de

produção englobará: sacos plásticos,

embalagens ter-

mo-formadas para margarina, sorvetes, ovos, e bebidas

em geral etc; vasilhames moldados a sopro para óleos,

detergentes, álcool, etc. e embalagens em geral molda-

das por injeção

Tais produtos serão fabricados com polietileno,

poliestireno e PVC e comercializados, inicialmente,

no Nordeste. Posteriormente (em conseqüência do

binômio "qualidade-preço"

aliado aos benefícios

fiscais que a Empresa usufrui) penetrarão nos merca-

dos sulinos, e daí, finalmente, exportados para o exte-

rior- -i J •

E deixaremos de falar em plástico, com verdadeiro

furo: já com aprovação e apoio da SUDENE (como

sucedeu anteriormente), tramita um projeto para cria-

ção da terceira indústria de plástico do Grupo!

BRASILEIRO QUASE NÃO COME CAJU: AMERI-

CANO NÃO DEIXA. . .

E como o NE era seco pra valer, descobriram que a

solução era plantar caju. Foram criadas a FORTA-

LEZA AGRO INDUSTRIAL S/A - FAISA e MAISA

- MOSSORÓ AGRO INDUSTRIAL S/A. O cajueiro

não precisa de muita água para crescer e produzirvPor

tudo isso foi plantado 1,5 milhão de pés de caju e até

1974 ter-se-á mais 1 milhão. Resultado: 7.000.000 de

dólares no primeiro ano de exportação. Caju e cas-

tanha pro uísquinho do Tio Sam ...

E por baixo da sombra dos cajueiros estão sendo

plantados algodão IAC - 13, milho amendoim e giras-

sol.

0 negócio é tão bom, que o Banco do Brasil resol-

veu emprestar Cr$ 12.000.000,00 para MAISA

começar a ganhar dinheiro e o Banco do Nordeste

comprou Cr$ 1.500.000,00 de ações da FAISA.

A FAISA mantém ainda um sistema de engorda

pelos processos

"voisin" e cbnfinamento, com

rebanho permanente e rotativo de milhares de cabe-

ças.

Aqui vai chegando ao fim o nosso piá. História de

um GRUPO de homens que, se têm as costas largas,

sabem muito bem onde têm a cabeça.

(* do latim crédere — crer)

um

a

Page 24: a 3 de dezembro de 1972 Cr$ 2,00 27 Ano II Número 58memoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00058.pdf · anos e eu vinha de Roma, da abertura do Concilio. O primeiro objeto que vi

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