A alimentação das gestantes

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A nova dieta das grávidas Estudo gaúcho inédito revela que gestantes devem evitar alimentos saudáveis, como o suco de uva e de laranja, brócolis e até a maça nos três meses antes do parto Francisco Amorim - [email protected] Heroínas no combate ao envelhecimento e às doenças degenerativas, substâncias conhecidas como flavonoides presentes em alimentos como o suco de uva se transformam em vilãs quando ingeridas por mulheres nos últimos meses de gestação. Foi o que descobriu uma pesquisa realizada por três anos no Rio Grande do Sul e divulgada no prestigiado Journal of Perinatology, uma das principais publicações médicas ligada à Nature. O estudo gaúcho, coordenado pelo cardiologista Paulo Zielinsky, revela que essas substâncias encontradas em alimentos saudáveis, como sucos de uva e laranja, nos chás e até no chimarrão, podem prejudicar o funcionamento do coração do feto que está prestes a nascer. Com funções antioxidantes e anti-inflamatórias, os flavonoides estão presentes atualmente na maioria das dietas orientadas por especialistas. A todo o momento surgem novas pesquisas ao redor do mundo apontando os benefícios da ingestão dessas substâncias em diferentes fases da vida. Alçado ao estrelato por médicos e nutricionistas, os polifenóis, como também são conhecidos, agora têm sua imagem arranhada pela primeira vez por uma pesquisa científica. Ao acompanhar o desenvolvimento do coração de 143 fetos, Zielinsky descobriu evidências clínicas de que, no terceiro e último trimestre da gestação (entre a 28 e 40 semanas), o consumo de alimentos ricos nessas substâncias pode levar a insuficiência cardíaca do bebê em formação. Mesmo após o nascimento, a criança continua correndo riscos decorrente da ingestão de flavonoides pela mãe durante a gravidez, ficando vulnerável a sofrer após o parto de hipertensão pulmonar – quando os pulmões não funcionam direito devido à má oxigenação. Doenças que podem levar a morte, alerta o médico. A dúvida era por que substâncias que melhoram a qualidade de vida de crianças, adultos e idosos se mostram tão prejudiciais durante a fase fetal. Durante o estudo, os pesquisadores notaram que a função anti-inflamatória dos flavonoides inibe a produção da prostaglandina, substância produzida pela placenta que tem a função de manter aberto um canal que une a artéria pulmonar à aorta, chamado de ducto arterioso. Esse duto funciona como uma espécie de desvio para parte do sangue que sai do coração em direção aos pulmões que, por não estarem ainda funcionado, necessitam de apenas 15% do sangue que é bombeado a eles. Com o fechamento do canal, estimulado pela ingestão dos flavonoides, o coração começa a trabalha de forma incorreta. – Depois dos sete meses, esse canal depende da prostaglandina para ficar aberto. Quando a criança nasce saudável, ela começa a respirar, e o duto se fecha por falta da substância que era produzida na placenta – explica o cardiologista. Uma segundo passo da estudo tentará agora medir como se dá essa interferência dos flavonoides e quais sãos níveis toleráveis para consumo de alimentos ricos nessas substâncias. Até lá, a orientação do médico é radical: – A melhor medida preventiva é evitar a ingestão desses alimentos durante o terceiro trimestre da gestação. Depois, podem voltar a serem consumidos. Ao apresentar o estudo em congressos e seminários ocorridos recentemente, o cardiologista sentiu o peso de macular a imagem das substâncias que viraram estrelas da nutrição moderna. – Sempre tem um zum-zum-zum no início da apresentação – brinca. Apesar de novo, o estudo já angaria apoiadores. Surpreendida com efeitos prejudiciais dos flavonoides para os fetos, a nutricionista Martine Elisabeth Kienzle Hagen, professora de Nutrição da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), afirma que a pesquisa deve mudar a dieta repassadas a gestantes. – Pode causar estranheza retirar da dieta alimentos saudáveis, mas a pesquisa mostrou que existem efeitos que devem ser levados em conta – afirma. A obstetra Tânia Maria Silveira Jaques, que também investiga as relações da dieta da gestante no desenvolvimento fetal, reforma a importância do pesquisa desenvolvida no Instituto de Cardiologia, na Capital. – É um estudo inédito que abre uma discussão nova sobre a importância da alimentação na gestação – sintetiza. A importância da dieta na gestação Ao estranhar que fetos de mulheres sadias e com hábitos saudáveis apresentavam problemas cardíacos, o cardiologista Paulo Zielinsky tomou, em meados de 2006, uma decisão: esmiuçar a vida dessas mulheres em busca de uma resposta para doenças aparentemente inexplicáveis. Descobriu, primeiro, que eram futuras mães que seguiam a risca a dieta de nutricionistas e não tomavam medicamentos sem o conhecimentos de seus médicos. Então, onde estaria o problema? – Comecei a suspeitar que, assim como os medicamentos anti-inflamatórios fazem mal ao feto no final da gravidez, os flavonoides contido nas frutas e verduras, por exemplo, também poderiam causar prejuízo à saúde por terem essa mesma propriedade – conta o médico do Instituto de Cardiologista do Rio Grande do Sul (IC-RS). O resultado prático da pesquisa é que, a partir de agora, as dietas para gestantes começarão a suprimir ou reduzir ao máximo o consumo dessas substâncias. É um passo importante dado pela ciência para melhorar a gestação, mas não é o único. Pipocam ao redor do mundo estudos que relacionam a alimentação ao desenvolvimento fetal e à saúde das mamães.

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A nova dieta das grávidas

Estudo gaúcho inédito revela que gestantes devem evitar alimentos saudáveis, como o suco de uva e de laranja, brócolis e até a maça nos três meses antes do parto

Francisco Amorim - [email protected] Heroínas no combate ao envelhecimento e às doenças degenerativas, substâncias conhecidas como flavonoides presentes em alimentos como o suco de uva se transformam em vilãs quando ingeridas por mulheres nos últimos meses de gestação. Foi o que descobriu uma pesquisa realizada por três anos no Rio Grande do Sul e divulgada no prestigiado Journal of Perinatology, uma das principais publicações médicas ligada à Nature. O estudo gaúcho, coordenado pelo cardiologista Paulo Zielinsky, revela que essas substâncias encontradas em alimentos saudáveis, como sucos de uva e laranja, nos chás e até no chimarrão, podem prejudicar o funcionamento do coração do feto que está prestes a nascer. Com funções antioxidantes e anti-inflamatórias, os flavonoides estão presentes atualmente na maioria das dietas orientadas por especialistas. A todo o momento surgem novas pesquisas ao redor do mundo apontando os benefícios da ingestão dessas substâncias em diferentes fases da vida. Alçado ao estrelato por médicos e nutricionistas, os polifenóis, como também são conhecidos, agora têm sua imagem arranhada pela primeira vez por uma pesquisa científica. Ao acompanhar o desenvolvimento do coração de 143 fetos, Zielinsky descobriu evidências clínicas de que, no terceiro e último trimestre da gestação (entre a 28 e 40 semanas), o consumo de alimentos ricos nessas substâncias pode levar a insuficiência cardíaca do bebê em formação. Mesmo após o nascimento, a criança continua correndo riscos decorrente da ingestão de flavonoides pela mãe durante a gravidez, ficando vulnerável a sofrer após o parto de hipertensão pulmonar – quando os pulmões não funcionam direito devido à má oxigenação. Doenças que podem levar a morte, alerta o médico. A dúvida era por que substâncias que melhoram a qualidade de vida de crianças, adultos e idosos se mostram tão prejudiciais durante a fase fetal. Durante o estudo, os pesquisadores notaram que a função anti-inflamatória dos flavonoides inibe a produção da prostaglandina, substância produzida pela placenta que tem a função de manter aberto um canal que une a artéria pulmonar à aorta, chamado de ducto arterioso. Esse duto funciona como uma espécie de desvio para parte do sangue que sai do coração em direção aos pulmões que, por não estarem ainda funcionado, necessitam de apenas 15% do sangue que é bombeado a eles. Com o fechamento do canal, estimulado pela ingestão dos flavonoides, o coração começa a trabalha de forma incorreta. – Depois dos sete meses, esse canal depende da prostaglandina para ficar aberto. Quando a criança nasce saudável, ela começa a respirar, e o duto se fecha por falta da substância que era produzida na placenta – explica o cardiologista. Uma segundo passo da estudo tentará agora medir como se dá essa interferência dos flavonoides e quais sãos níveis toleráveis para consumo de alimentos ricos nessas substâncias. Até lá, a orientação do médico é radical: – A melhor medida preventiva é evitar a ingestão desses alimentos durante o terceiro trimestre da gestação. Depois, podem voltar a serem consumidos. Ao apresentar o estudo em congressos e seminários ocorridos recentemente, o cardiologista sentiu o peso de macular a imagem das substâncias que viraram estrelas da nutrição moderna. – Sempre tem um zum-zum-zum no início da apresentação – brinca. Apesar de novo, o estudo já angaria apoiadores. Surpreendida com efeitos prejudiciais dos flavonoides para os fetos, a nutricionista Martine Elisabeth Kienzle Hagen, professora de Nutrição da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), afirma que a pesquisa deve mudar a dieta repassadas a gestantes. – Pode causar estranheza retirar da dieta alimentos saudáveis, mas a pesquisa mostrou que existem efeitos que devem ser levados em conta – afirma. A obstetra Tânia Maria Silveira Jaques, que também investiga as relações da dieta da gestante no desenvolvimento fetal, reforma a importância do pesquisa desenvolvida no Instituto de Cardiologia, na Capital. – É um estudo inédito que abre uma discussão nova sobre a importância da alimentação na gestação – sintetiza. A importância da dieta na gestação Ao estranhar que fetos de mulheres sadias e com hábitos saudáveis apresentavam problemas cardíacos, o cardiologista Paulo Zielinsky tomou, em meados de 2006, uma decisão: esmiuçar a vida dessas mulheres em busca de uma resposta para doenças aparentemente inexplicáveis. Descobriu, primeiro, que eram futuras mães que seguiam a risca a dieta de nutricionistas e não tomavam medicamentos sem o conhecimentos de seus médicos. Então, onde estaria o problema? – Comecei a suspeitar que, assim como os medicamentos anti-inflamatórios fazem mal ao feto no final da gravidez, os flavonoides contido nas frutas e verduras, por exemplo, também poderiam causar prejuízo à saúde por terem essa mesma propriedade – conta o médico do Instituto de Cardiologista do Rio Grande do Sul (IC-RS). O resultado prático da pesquisa é que, a partir de agora, as dietas para gestantes começarão a suprimir ou reduzir ao máximo o consumo dessas substâncias. É um passo importante dado pela ciência para melhorar a gestação, mas não é o único. Pipocam ao redor do mundo estudos que relacionam a alimentação ao desenvolvimento fetal e à saúde das mamães.

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– Isso é fruto, em parte, da tecnologia que permite que se avalie, além dos nutrientes, outras substâncias presentes no alimentos que tem importância nesta fase da vida da mulher – explica a nutricionista Raquel da Luz Dias, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). A ideia de que mães precisam comer por dois sem se preocupar com a balança já é coisa do passado. Hoje, o ideal é que as gestantes não ultrapassem os 12 quilos de sobrepeso. – A gestante vai ter de comer mais, sim, mas, principalmente, comer de forma correta. Ela vai precisar mais de alguns nutrientes do que de outros. Alguns deles dependerão de mulher para mulher – explica a nutricionista Martine Elisabeth Kienzle Hagen, professora do curso de Nutrição da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Por isso acompanhamento nutricional é fundamental. Segundo Martine, a mulher que está grávida terá de aumentar o consumo de proteínas e de cálcio, ferro, selênio e zinco, além de vitaminas do complexo B, que ajudam na formação do feto. O quanto é necessário ingerir dependerá de avaliações médicas e nutricionais. – Mesmo que a grávida acredite que tem uma alimentação saudável, ela deve ser avaliada novamente durante a gravidez – detalha. A pesquisa de Zielinsky contribui para melhorar os cuidados durante a gestação. Até os saudáveis sucos de uva e laranja podem se tornar inimigos quando a barriga cresce, e uma nova vida se encaminha. O que evitar no último estágio da gestação: – Uva e derivados; – Erva-mate; – Chás: verde, preto, de frutas e ervas (boldo, camomila,cidreira, erva-doce, etc.); – Chocolate preto; – Laranja e derivados; – Maçã vermelha com casca; – Morango cru, cereja, amora; – Lima; – Grão de soja;

– Ameixa preta; – Cebola roxa crua; – Hortelã; – Couve crua; – Tempero verde; – Alcaparras; – Azeite de oliva; – Espinafre; – Brócolis; – Tomate com casca;

Consumo de ferro e cálcio deve ser reforçado na gravidez .

Fonte: < http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/noticia/2009/08/a-nova-dieta-das-gravidas-2617826.html > 15/08/2009 | 07h30

Estes estudos foram sedimentados na literatura e constam em:

1. ZIELINSKY, P.; PICCOLI JR, A.L.; MANICA, J.L.L.; NICOLOSO, L.H.S. New insights on fetal ductal constriction: role of maternal ingestion of polyphenol-rich foods. Expert Rev. Cardiovasc. Ther. V. 8, N° 2, p. 291 - 298, 2010.

2. ZIELINSKY, P. et al. Maternal consumption of polyphenol-rich foods in late pregnancy and fetal ductus arteriosus flow dynamics. Journal of Perinatology. V. 30, p. 17 - 21, 2010.

3. ZIELINSKY, P. et al. Reversal of fetal ductal constriction after maternal restriction of polyphenol-rich foods: an open clinical trial . Journal of Perinatology. V. 32, p. 574 - 579, 2012.

4. ZIELINSKY, P. et al. Fetal ductal constriction caused by maternal ingestion of green tea in late pregnancy: an experimental study. Prenatal Diagnosis, V. 32, p. 1 - 6, 2012.

5. ZIELINSKY, P. et al. Restriction of Polyphenols and Fetal Ductal Flow in Normal Pregancies: an Open clinical trial. Arq Bras Card, p. 1 - 9, 2013.

6. VIAN. I. et al. Development and validation of a food frequency questionnaire for consumption of polyphenol-rich foods in pregnant women. Maternal and Child Nutricion, p. 1 - 14, 2013.

Maiores informações: <http://giselepacleite.blogspot.com.br/>

Dra. Gisele Leite / Cardiologia Pediátrica – CRM: RN 6433