A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - André Bueno

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    Religiosidades

    . A questo do Paganismo O pensamento pago duranteo perodo da Antiguidade Tardia.

    . O Cristianismo O nascimento do cristianismo, suadifuso e as primeiras controvrsias; o probema dasprimeiras !eresias.

    . "uereas reigiosas em #i$%ncio &m #i$%ncio, osprobemas igados a constru'o da (gre)a e doCristianismo.

    . O &itismo Pago* Peter #ro+n anaisa a sociedade pag

    durante a antiguidade tardia, mostrando o desgaste doscutos antigos em rea'o a ordem socia. Comentado por

    http://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/03/questo-do-paganismo.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/02/o-cristianismo.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/querelas-religiosas-em-bizncio.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/o-elitismo-pago.htmlhttp://3.bp.blogspot.com/__tpvm2sAn44/R_OxsiSTGFI/AAAAAAAAAEk/ewjpJs6I6zw/s1600-h/cristus.bmphttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/03/questo-do-paganismo.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/02/o-cristianismo.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/querelas-religiosas-em-bizncio.htmlhttp://antiguidadetardia.blogspot.com/2008/04/o-elitismo-pago.html
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    Caros Amir atias.

    . A (gre)a na continua'o, Peter #ro+n anaisa odesenvovimento da (gre)a na Antiguidade Tardia e seusv-rios aspectos sociais. Comentado por Caros Amiratias.

    . O onasticismo* O desenvovimento da vida mon-sticae a estrutura'o do cristianismo. Comentado por CarosAmir atias.

    . Oriente e Ocidente A Carne* O fec!o da an-ise de#ro+n sobre a (gre)a na antiguidade tardia, comentadopor Caros Amir atias

    . A (gre)a nos "uadros do (mprio /omano* Por 0ernanda&spinosa, uma antoogia de te1tos sobre a consoida'o da(gre)a Crist na Antiguidade Tardia.

    A questo do Paganismo

    C23TO4 O/(&5TA(4 & 4(5C/&T(4O

    5o que concerne ao paganismo, a infu6ncia do Oriente manifestou*

    se de maneira intensssima desde o Ato (mprio e no retomaremos

    as indica'7es )- fornecidas acerca das causas e dos caracteres das

    grandes correntes que ea ento determinara. Coube*!es afir*

    marem*se no scuo ((( e com for'a ainda maior.

    0oi esta a poca, efetivamente, em que os cutos de divindades

    orientais con!eceram maior 61ito. Para nos imitar aos principais,

    os de 8sis, de Cibee e, principamente, de itra atingiram o apogeu

    de sua difuso, faciitada doravante, no mais apenas pea

    toer%ncia, mas pea adeso pessoa dos imperadores. &m 9:, 4ti*

    mo 4evero ceebrou em 3io, por um grande taurob

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    4erapeum e mandou adaptar um santu-rio de itra nos subterr%*

    neos de suas grandes termas. O epteto de itra, invictus =invicto>,

    passou ? ista de ttuos imperiais, e uma inscri'o oficia do tempo

    de @ioceciano mostra*nos que este deus se transformou ento no

    patrono do (mprio.

    0oi esta tambm a poca em que com maior for'a se afirmou,

    contando com o apoio do poder, a tend6ncia ao sincretismo. eio*

    g-bao deu*!e uma forma e1agerada e ridcua pea pomposa

    ceebra'o das nBpcias do #aa de &mesa, de que era o sumo*

    sacerdote e cu)o nome tra$ia, com Ceestis, isto , Tanit, vinda de

    Cartago por sua iniciativa. @a mesma forma, foi para o santu-riopor ee edificado ao seu deus que mandou transportar o fogo de

    esta, os escudos sagrados de arte, a pedra negra da Drande e,

    isto , Cibee, origin-ria de Pessinunte e introdu$ida em /oma peo

    4enado no fim da segunda guerra pBnica, etc. as, pondo*se de

    parte as e1travag%ncias, !avia maior sensibiidade em rea'o ao

    que apro1imava as divindades do que ao que as separava. Tave$ se

    e1perimentasse tambm o dese)o instintivo de evantar, frente ao

    @eus dos cristos, um deus Bnico, concentrando em si todas asenergias c

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    competamente eaborado e ensinado em /oma, entre GHH e GI

    apro1imadamente, por um grego do &gito, Potino. &ncontramos a

    as mesmas tend6ncias da poca, tanto o fervor e1atado e o apeo ?

    sensibiidade, como a associa'o com fundo patFnico de eementos

    provindos de doutrinas bastante diversas, em especia o

    pitagorismo, o aristoteismo e o estoicismo.

    Potino convidava o pensamento a conceber, por um ousadssimo

    esfor'o de abstra'o, uma 2nidade absouta da qua procede, como

    por uma srie de refe1os cada ve$ mais degradados, tudo o que

    e1iste, ra$o, ama e corpo. A reaidade aparente interessava*!e

    apenas pea ordem nea introdu$ida peo 4er primeiro, em que sefundem e !armoni$am todas as coisas. 2m impuso interior impeia*

    o, pois, para a unidade divina. as seu monismo era tambm um

    pantesmo e acomodava*se mesmo com o poitesmo, pois todos os

    deuses so emana'7es do 4er; ademais, entre o mundo divino, ao

    qua pertencem os astros, e o mundo terrestre, e1iste uma

    mutido de demFnios que o !omem no pode negigenciar.

    5a reaidade, o sistema evava a recomendar um esfor'o derenBncia asctica da ama frente ?s reaidades sensveis. 4e este

    maograsse, a ama imorta encarnar*se*ia em animais e at em

    categorias mais inferiores, isto , em pantas. 4e tivesse 61ito,

    viveria ? u$ dos astros, c!egando, finamente, a absorver*se na

    fuso em @eus. as o 61ito dependia do 61tase mstico que,

    proporcionando a iumina'o sobrenatura, a viso e a certe$a da

    feicidade suprema, constitua a Bnica possibiidade de estabeecer

    contato com esta. Assim sendo, o neopatonismo desviava o esprito

    do raciocnio; este era empregado apenas para provar sua pr

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    tambm no constituam novidades e eram sustentadas por

    inBmeros c!arates. Jpoca aguma, peo menos no mundo greco*

    romano, acreditou com tanta intensidade na a'o imediata e

    quotidiana de for'as superiores sobre o !omem, por conseguinte,

    na adivin!a'o, na astroogia, magia e feiti'aria.

    2ma das obras iter-rias de maior 61ito at meados do scuo ( foi

    a ida de ApoFnio de Tiana, redigida, a pedido da mu!er de

    4timo 4evero, EBia @omna, por um retor grego de seu crcuo,

    0i

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    de aguns dees, fi

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    ainda, at a restaura'o da independ6ncia grega no scuo N(N.

    Euiano, em particuar, atribuiu*!e constantemente este sentido,

    para ee audat

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    se considerar fi

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    mentais dos fi

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    uma doutrina, cu)os tra'os em seguida especificou, )- quando

    refugiado na Ksia, onde continuou a po6mica, que ficou igada a

    seu nome contaminado pea carne e tendo sofrido a morte, Cristo

    nada pode apresentar de divino, nem pode ter e1istido em toda

    eternidade; foi criado por @eus, como intermedi-rio entre este e a

    terra, de subst%ncia absoutamente distinta da divina. &ste

    sacerdote de Ae1andria recebera um ensinamento em Anti

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    mesma subst%ncia>. as a resist6ncia dos arianos reabriu e proon*

    gou a discusso, sobretudo quando tiveram o apoio do imperador

    Const%ncio ((. &stes c!egaram a cindir*se em v-rios grupos. 2ns,

    moderados, aceitavam definir Cristo como sendo de subst%ncia

    seme!ante =!omoiusios> a @eus, podendo o ad)etivo grego !omoios

    receber duas interpreta'7es de nature$a an-oga ou seme!ante.

    Os outros, radicais e1tremistas * e Const%ncio acabou por favorec6*

    os *, negavam a seme!an'a e optavam pea inferioridade absouta

    de Cristo. Os concios, reunidos em 4irmium, em U e UV,

    aceitaram sucessivamente, sob a presso do (mperador, tr6s f

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    bispo de Poitiers, 4anto i-rio, e peo de io, 4anto Ambr

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    empa!ado. A doutrina tomara de emprstimo ao masdesmo irani*

    ano a idia de um duaismo fundamenta, a oposi'o entre o bem e

    o ma, associando*!e, porm, eementos de proced6ncia budista,

    crist e gn

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    supersti'7es. As concess7es ou as transfer6ncias a que teve de

    ceder apenas mostram ainda me!or a for'a dos !-bitos que no

    puderam ser abandonados peos novos conversos.

    &stes conseguiram impor certas festas. O ritua das 4aturnais

    infuenciou o carnava, ceebrado na data das 3upercais. Cutos

    pagos feste)avam o nascimento de seu deus tornou*se necess-rio

    ceebrar tambm o nascimento do Cristo. ouve !esita'7es quanto

    ? data. &sco!eu*se iniciamente o Y de )aneiro, data em que se

    feste)ava no &gito o nascimento de uma crian'a concebida,

    tambm, por uma virgem. @epois, no scuo (, esta data dei1ou de

    ser a do 5ata e tornou*se a da &pifania, pois os romanosimpuseram a toda a cristandade o G de de$embro; este dia, desde

    o scuo ( a. c., correspondia para ees ao sostcio do inverno e

    quiseram consagrar a Cristo a festa que ento ceebrava o nasci*

    mento do 4o.

    A f popuar impFs a manuten'o de ugares sagrados, incuindo

    fontes, careiras, etc. (mpFs os an)os, as imagens, os amuetos, o

    desenvovimento do cuto dos m-rtires e de suas requias.

    &nfim, dirigindo*se agora para as massas, o cuto de uma reigio

    triunfante no mais podia ceebrar*se como o de pequenos grupos

    coagidos ao segredo pea persegui'o. Ta fato acarretou uma

    separa'o mais ntida entre os fiis e o cero. Acima de tudo, este

    se cercou da pompa que !e permitia a rique$a da (gre)a. u*

    tipicou, aumentou e embee$ou as basicas. Adotou uma iturgia

    mais minuciosa. Associou ? prece, ?s eituras em vo$ ata e ? comu*

    n!o com cerimonia e1terior de gestos, cantos e mBsica capa$es

    de sustentar e e1atar todos os fervores, tanto entre as eites como

    entre os simpes.

    Assim, peo bri!o de suas moradas divinas, pea nobre$a de seus

    ritos e pea magnific6ncia de suas festas, o Cristianismo pro*

    porcionava aos seus crentes tanto ou mais do que o paganismo. &,se aguns deuses !aviam acenado aos !omens com promessas de

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    sava'o an-ogas, o seu ensinamento contin!a ao menos um ee*

    mento novo a caridade; para ee, a f nada era sem as a'7es e,

    seguindo seu apeo, como )- o demonstramos, estas se mutipica*

    ram a fim de tentar um avio das misrias !umanas. Q"ue nossos

    sacerdotes provem seu amor ao pr ist

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    reigiosos, pois, oficiamente, encontram*se na origem de cis7es

    que duram at !o)e.

    A diverg6ncia essencia, em teoogia, di$ia respeito ? dupa

    nature$a, !umana e divina, de Cristo. Para uns, empen!ados em

    subin!ar a unidade divina, a e1ist6ncia !umana e a Pai1o tendiam

    a ser apenas apar6ncias tratava*se dos monofsitas. Para outros,

    eram reaidades absoutas, mas to distintas da nature$a divina que

    os sofrimentos de uma no ateravam a perfei'o da outra eram,

    segundo o nome do patriarca de Constantinopa, 5est, ao qua se igavam, os nestoranos. A bem di$er, ambas as dou*

    trinas, coocando @eus ? parte da Pai1o, comprometiam a /eden*'o; destarte, o que se tornou a ortodo1ia greco*romana afirmou a

    unio das nature$as, mistrio insond-ve ao !omem. Os nestoria*

    nos, iniciamente acusados pea infu6ncia monofisita, onipotente

    no scuo , encontraram sua -rea de e1panso no (mprio 4ass%*

    nida. O monofisismo conquistou os principais adeptos entre os

    semitas, que nee recon!eciam suas tradi'7es de intransigente mo*

    notesmo; conquistou, iguamente, os coptas e, menos

    rigorosamente, os arm6nios. A Qortodo1iaQ conservou os gregos,am de /oma, sendo considerada em agumas partes a reigio dos

    sen!ores estrangeiros. Os patriarcas de Antioquia e Ae1andria *

    sobretudo Cirio de Ae1andria, no scuo *an'aram*se no

    monofisismo para opor*se ao seu coega de Constantinopa, cu)o

    ugar )unto ao Poder inve)avam. as sabiam que contavam com

    seus povos, por intermdio dos monges.

    ais cedo do que no Ocidente, e sob formas bem diferentes, o

    monaquismo assumira, no Oriente, consider-ve ampitude, tanto

    nas regi7es gregas corno arm6nias ou coptas. (nspirava*se, gera*

    mente, nos ensinamentos de 4o #asio; os monges professavam

    um idea de ascetismo e 61tase. 2ns viviam em comunidade, como

    os do mosteiro fundado por 4o 4abas em Eerusam =scuo >;

    outros viviam soit-rios, corno os discpuos de 4o 4imeo &stiita,

    que passavam a vida, a e1empo de seu mestre, sobre counas, nacontempa'o de @eus. O prestgio desses santos !omens era

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    imenso )unto ao povo, e seu nBmero aumentava incessantemente;

    associar*se*!es era uma forma de evaso das prova'7es e

    constrangimentos deste mundo. 4eu e1empo e sua paavra

    fustigavam o vcio, a rique$a e o poder; ma enquadrados peos

    bispos, constituam um eemento de permanente indiscipina, e

    foram ees que subevaram as massas na ocasio ou sob prete1to

    das quereas teo, ogo Arm6nia, cada uma com sua ngua itBrgica e sua

    !ierarquia pr

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    foi, na poca de seu sucessor Constante ((, um tr-gico confito com

    o pontificado, que aienou ao (mperador seus sBditos itaianos, e

    com um partido grego, c!efiado peo monge -1imo, o Confessor. A

    conquista -rabe, arrebatando a #i$%ncio seus sBditos orientais,

    acabaria por inutii$ar a tentativa monoteista e, na segunda meta*

    de do scuo, o governo bi$antino renunciaria a este ensaio.

    C/O2&T, . =org.> ist

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    transforma'o que come'a com o !omem \cvicoQ da poca dos

    Antoninos e termina com o bom cristo, membro da (gre)a cat

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    outras cidades t6m uma ua to grande como a nossaRQ, pergunta

    um menino num ivro c

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    que devem preenc!er a vida de um indivduo da casse superior.

    Considera*se a educa'o iter-ria como parte de um processo de

    educa'o mora mais ntimo e e1igente. Acredita*se tambm que a

    assimia'o meticuosa dos c-ssicos iter-rios acompan!a um

    processo de forma'o mora a forma correta dos interc%mbios vet*

    bais testemun!a a capacidade das pessoas da casse superior de

    adotarem a forma corre ta dos interc%mbios interpessoais com seus

    pares na cidade. Ao menos tanto quanto o controe da inguagem, o

    controe muito estudado da postura constitui a marca do !omem

    Qbem*nascidoQ na cena pBbica. Tra'os de comportamento que

    nossos contempor%neos tenderiam a re)eitar como insignificantes *o controe atento dos gestos, dos movimentos dos o!os e at da

    respira'o * so cuidadosamente observados peos !omens desses

    scuos, pois indicam conformidade ?s normas morais da casse su*

    perior. @a poca !eenstica ao reinado de Eustiniano, a seqL6ncia

    ininterrupta de eptetos ison)eiros prodigai$ados nas -pides da

    Ksia enor aos Qbem*nascidosQ trai mais que um voto piedoso; o

    pape centra dos ad)etivos que ressatam rea'7es comedidas e

    !armoniosas com os pares e a cidade, praticamente e1cuindo ou*tros vaores, revea o fardo das e1pectativas que pesaram sobre o

    indivduo bem*sucedido.

    @(4T`5C(A 4OC(A3

    Aquio que quase se poderia c!amar de Q!ipocondria moraQ forma

    uma s

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    2ma imagem especfica do corpo, feita de um am-gama de no'7es

    !erdadas do ongo passado da medicina grega e de fiosofia mora,

    apresentada como a sede fisio

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    se1uais. 5o se estabeece distin'o entre amor !omosse1ua e

    amor !eterosse1ua; o pra$er fsico visto como uma continuidade

    sub)acente entre os dois o pra$er se1ua, enquanto ta, no do

    !omem. A vergon!a que pode estar igada a uma rea'o !o*

    mosse1ua reside apenas no Qcont-gio moraQ que pode evar um

    !omem das casses superiores a submeter*se ou fisicamente, ado*

    tando uma posi'o passiva no ato se1ua, ou moramente,

    entregando*se a um inferior de quaquer se1o. As rea'7es entre

    !omens e mu!eres esto su)eitas ?s mesmas imita'7es. As inver*

    47es da verdadeira !ierarquia * da qua constitui um e1empo tpico

    a pr-tica da se1uaidade ora com uma parceira * so as mais

    reprovadas e =ser- preciso di$erR> estimuantes formas de degrada*'o, sob o efeito do Qcont-gio moraQ de uma pessoa inferior a

    mu!er. O medo da efemina'o e da depend6ncia emociona, fun*

    damentado na necessidade de manter a imagem pBbica de um

    !omem reamente integrado ? casse superior, e no em escrBpuos

    reativos ? se1uaidade em si, determina o c

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    Atravs da \\efemina'oQ, supostamente resutante de pra$eres

    se1uais e1cessivos com parceiros de ambos os se1os, a

    compac6ncia se1ua pode com efeito corroer a superioridade

    incontestada do Qbem*nascidoQ.

    #O PA/A O POO

    @a tambm o particuarismo restritivo dos c

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    cidade.

    Tampouco nos deve surpreender a onga sobreviv6ncia da in*

    diferen'a com rea'o ? nude$ na vida pBbica romana. &ssa socie*

    dade no est- presa ? generai$a'o impcita da vergon!a se1ua.

    A nude$ do ateta continua sendo um indcio de posi'o para os

    Qbem*nascidosQ. O pape essencia dos ban!os pBbicos como pontos

    de reunio da vida cvica fa$ da nude$ entre os pares e diante dos

    inferiores uma e1peri6ncia cotidiana inevit-ve. Como vimos, os

    c

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    do governador romano adeado por sua guarda de !onra miitar, que

    empun!a o g-dio e o dardo do egion-rio. Para que a vida das

    cidades continue, a discipina e a soidariedade das eites ocais e

    sua capacidade de controar seus administrados devem ser

    mobii$adas ainda com mais consci6ncia do que antes. 2m sen*

    timento de discipina pBbica evado a penetrar mais profunda*

    mente nas vidas privadas dos not-veis o pre'o a pagar para

    manter o status quo da ordem imperia. @a a profunda mudan'a da

    atitude com rea'o aos con)uges no decorrer do scuo ((.

    A4 23&/&4

    Ao ongo das gera'7es precedentes, no fina da /epBbica e nocome'o do (mprio, as mu!eres dos !omens pBbicos eram tratadas

    como seres perifricos que no contribuam em nada * ou bem

    pouco * para o pape pBbico de seus maridos. A conduta dessas

    Qcriaturin!asQ e as rea'7es com o esposo no tin!am grande

    interesse para o mundo e1cusivamente mascuino dos poticos.

    &as podiam minar o car-ter de seu !omem pea sensuaidade;

    podiam at !e inspirat uma imprud6ncia !er

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    a concordia, virtude potica e socia crucia em /oma, mostravam

    outrora poticos mascuinos unindo a mo direita em sina de

    aian'a; no tempo de arco Aurio sua pr

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    ficante mensagem.

    O fi

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    fragmentos reco!idos nas resid6ncias dos not-veis do perodo que

    nos ocupa. as no sobreviveu nem um peda'o de papiro * ou quase

    * dos te1tos dos moraistas fi

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    Toda pessoa que se debru'ou sobre os escritos cristos ou sobre os

    papiros cristos, como os te1tos encontrados em 5ag ammadi,

    percebe que a obra dos fi

    ist

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    estritamente li$ada a uma cultura tradicional" Para que isso ocorra

    acontece um interc)m%io entre as pessoas de classes superiores,

    para que ha*a uma assimilao de todas as re$ras+ ento desde a

    inf)ncia, o *ovem estuda com outros *ovens de mesma condio,

    %asicamnte ele aprende os clssicos literrios e aprende a se

    portar como um %em nascido controlando suas emo#es e $estos"

    - $rande medo o conta$io moral, ou se*a, comportamentos

    inadequados a sua posio social,em suma, um %em nascido tem de

    constantemente se autovi$iar para no perder o equili%rio de suas

    emo#es para que no acontea que sua sa.de tam%m fique

    pre*udicada"

    ssa preocupao com o equili%rio emocional tam%em interfere nas

    rela#es se&uais, mas por incrivel que parea no h distino

    entre o amor homosse&ual e o amor heterosse&ual"- prazer no

    afeta a moral em si, o que *ul$a/se com ri$or o efeito que esse

    prazer causa na vida p.%lica do homem" A ver$onha do ato se&ual

    est li$ada a su%misso do homem de classe superior numa relao

    homosse&ual, que tam%em valido numa relao heterosse&ualonde condenado o se&o oral com a parceira, ou se*a o c(di$o de

    conduta nas rela#es se&uais nada mais do que o refle&o da

    sociedade onde o homem de classe superior no pode se su%meter

    aos seus inferiores e tam%em tem de controlar seus calores"

    - que podemos notar que mesmo antes do cristianismo se firmar

    como reli$io dentro do mperio !omano *a se tinha uma

    preocupao com as rela#es se&uais,mas no como pecado,mas

    sim como c(di$o moral,ento podemos aca%ar com a ideia de que

    os pa$os eram or$isticos e li%ertinos e que somente com o

    cristianismo que h uma moralizao do se&o"

    Apesar de todos esses c(di$os morais os notveis tam%em

    mostravam seu outro ''eu''p.%lico ,vale lem%rar por e&emplo

    que era a aristocracia que patrocinava as san$rentas lutas entre$ladiadores"0am%em no eram todos os notveis que se$uiam esses

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    codi$os de conduta,vale lem%rar de 0eodora mulher de

    Constantino que era totalmente diferente das mulheres

    respeitveis das classes superiores que eram um pouco mais que

    nada na vida p.%lica de seus maridos ainda com o a$ravante de

    serem acusadas de estra$ar o carter do homem por causa de sua

    sensualidade"

    -s fil(sofos em todo esse conte&to podem ser considerados como

    ''missionrios morais'' do mundo romano, tentavam convencer os

    $randes homens de que tinham de viver a altura de sua condio

    social ,mas ao que parece eles no eram muito apreciados pelas

    elites"1omente com a filosofia crist sur$e uma moral universalistae um sentimento de i$ualdade entre os homens e ocorre uma

    democratizao da contracultura dos filosofos feita pelos

    diri$entes da $re*a"

    Podemos concluir que, mesmo com toda a influencia crist, que

    pre$a a i$ualdade entre os homens, ainda temos traos daquela

    moral pa$ de distanciamento social em nossa sociedade atual"

    A Igreja

    O 5OO &4PAWO P#3(CO

    A ascenso da domina'o do !omem ceibat-rio na (gre)a crist nos

    eva ao reinado de Constantino e am. O que as diversas formas de

    ceibato t6m em comum desde o primeiro perodo a vontade decriar um espa'o\ \pBbicoQ firmemente tra'ado no seio da vaga

    federa'o de famias que comp7em a comunidade crist. 2m

    espa'o QpBbicoQ criado no pr

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    rigida e representada em pBbico por !omens ceibat-rios, perante

    a sociedade Qdo mundoQ, na qua imperam o orgu!o dos !omens de

    Qcora'o divididoQ, a ambi'o e as soidariedades tena$es de famia

    e parentesco.

    Ta ceibato freqLentemente assume a forma da abstin6ncia se1ua

    dos cFn)uges. &m gera adotado em idade madura e mais tarde

    ser- imposto aos padres com mais de trinta anos. J sob essa forma

    que o ceibato se torna a norma esperada do cero citadino mdio

    no perodo da Antiguidade tardia. 5o se trata de uma renBncia

    e1cessivamente impressionante. Os !omens da Antiguidade

    consideram a energia se1ua como uma subst%ncia vo-ti, rapi*damente esgotada nos QcaoresQ da )uventude. As duras reaidades

    da mortaidade numa sociedade antiga asseguram uma reserva

    permanente de viBvos srios, disponveis desde o incio da idade

    madura e ivres para se entregar, Qesgotada toda pai1oQ, ?s ae*

    grias mais pBbicas do cargo cerica. Assim, o ceibato designa de

    modo inequvoco a e1ist6ncia de uma casse de pessoas que ocupa o

    centro da vida\ \pBbicaQ da (gre)a, precisamente porque se

    subtraram em definitivo ao que considerado como o mais privadona vida do eigo mdio Qno mundoQ. (nspirado por uma (embran'a

    err

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    comunidade sente de um espa'o pBbico definido de maneira to

    caracteri$ada na pessoa de seus dirigentes deve reamente ser

    muito forte.

    A (D/&EA 5O PO@&/

    Certamente foi o caso da (gre)a crist do scuo (((. Por vota do ano

    UII de nossa era, a (gre)a torna*se uma institui'o ? qua s< fata

    essa denomina'o. &m GHV, a (gre)a de /oma disp7e de um cero de

    9 membros e mantm cerca de 9II viBvas e pobres. Ta grupo,

    independentemente dos reigiosos reguares, to numeroso como

    a mais importante corpora'o da cidade. J na verdade um grupo

    enorme numa cidade em que as agremia'7es cuturais e asconfrarias funer-rias contam seus membros ?s dB$ias. ais

    reveador, tave$, o papa Cornio apresenta essas estatsticas

    impressionantes como uma das )ustifica'7es de seu direito a ser

    considerado como o bispo da cidade. Cipriano, seu partid-rio, tem

    o cuidado de subin!ar Qa deicade$a mora da castidade virginaQ de

    Cornio, que se repugna de conservar um ato cargo. &stando em

    )ogo em cada grande cidade do (mprio responsabiidades e

    recursos to impressionantes, o ceibato e a inguagem do poderdevem se aiar ostensivamente na cena mais vasta da vida urbana

    romana. Porque so ceibat-rios e por isso Qdesigados do mundo\ Q

    no fina do scuo ((( os bispos cristos e o cero tornam*se, aos

    o!os de seus admiradores, uma eite igua em prestgio ?s e9ites

    tradicionais dos not-veis citadinos.

    J a essa (gre)a condu$ida com firme$a por rais dirigentes, que a

    converso do imperador Constantino em U9G confere uma posi'o

    inteiramente pBbica, que se revear- decisiva e irreversve ao

    ongo do scuo (. as primeiro votemos atr-s para considerar a

    transforma'o das eites cvicas e de suas cidades ao ongo do pe*

    rodo precedente, que cumina durante os ongos reinados de

    Constantino e seus fi!os.

    2A 5O#/&A A 4&/(WOO (mprio que Constantino governa como cristo decarado de U9G a

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    UU difere profundamente da sociedade citadina Qc-ssicaQ da poca

    antonina. A reaidade esmagadora de um imprio de porte mundia,

    sensve desde as origens, torna*se sensve demais ?s cidades.

    @epois de GUI, os consider-veis aumentos dos impostos so

    necess-rios para manter a unidade e a defesa do (mprio. 5as

    economias da Antiguidade, aumentos representavam muito mais

    que um aumento da propor'o do e1cedente do qua o governo

    imperia se apropriava. A casse superior deve ser reestruturada

    para obter ivre acesso a ta e1cedente. As antigas e1onera'7es

    ocais e a ve!a repugn%ncia em comprometer a posi'o dos ricos

    com impostos diretos so re)eitadas. A interven'o direta nos

    neg

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    5o fina do scuo (((, entretanto, esses fatos so aceitos como o

    esquema de base segundo o qua a sociedade romana deve se

    organi$ar para sobreviver. O (mprio /omano tardio uma

    sociedade dominada e1picitamente por uma aian'a entre os

    servidores do imperador e os grandes propriet-rios de terras que

    coaboram para controar os camponeses su)eitos ao imposto e para

    impor a ei e a ordem nas cidades. A franca domina'o de aguns ?

    custa de seus pares\ \bem*nascidosQ um fato estabeecido sem

    ambigLidade peos potentes dos reinados de Constantino e seus

    sucessores. Os c

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    nas grandes cidades como /oma, Cartago, Anti

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    t6m ao ado grandes saas para as recep'7es de cerimFnia, e muitas

    ve$es possuem numa e1tremidade uma abside para os pequenos

    banquetes. Assembias soenes do grupo de iniciados que dirige a

    cidade, essas recep'7es diferem muito dos magnficos banquetes

    cvicos abertos sem discrimina'o aos cientes, aos ibertos, aos

    amigos e concidados, como aquees em cu)o decorrer Pnio, o

    Eovem, tr6s scuos antes, prodigai$ava aos amigos e ibertos suas

    reservas de vin!o medocre. uitas obras*primas da estatu-ria

    c-ssica que outrora se erguiam ao redor ou no interior do foro

    instaaram*se sem incidente nos vastos p-tios de entrada desses

    pa-cios. (ndicam o direito dos potentes de tomar e preservar,

    segundo suas pr

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    a esse saecuMum, mesmo que agora se)a a f nomina dos po*

    derosos.

    A comunidade crist permanece unida atravs de uma miragem

    muito particuar a da soidariedade, que doravante pode e1primir*

    se abertamente no decorrer de cerimFnias na basica do bispo.

    Assim, conquanto no constitua reamente uma \assembia dos

    santosQ, a basica crist um ugar do qua esto francamente

    ausentes as estruturas do saecuum. A !ierarquia do scuo menos

    ntida na basica do que nas ruas da cidade. Apesar da nova

    import%ncia do cero, apesar da cuidadosa segrega'o de !omens e

    mu!eres * o mais das ve$es apartados de um ado e outro dasgrandes naves da basica *, apesar da consumada !abiidade dos

    poderosos para destacarem*se da massa obscura dos inferiores com

    suas espetacuares vestes domingueiras bordadas com cenas dos

    &vange!os, as basicas crists permanecem uma reunio de

    !omens e mu!eres e pessoas de todas as casses, iguamente

    e1postos, sob a tribuna do bispo na abside, ao o!ar inquisidor de

    @eus. 4abemos que Eoo Cris

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    conceitos, aparentemente abstratos e estreitamente interigados,

    !abitam o !ori$onte do cristo da Antiguidade tardia. Apenas

    afrontandoos de maneira definida )- sem equvocos peo cero

    que o !omem e a mu!er comuns podero gan!ar a Qcidade de

    @eusQ, cu)as decias e pra$eres francamente sensuais os mosaicos

    cristos da Antiguidade tardia evocam. 5ees os cristos dessa

    poca contempam o rosto eternamente beo e tranqLio dos

    santos, dos !omens e mu!eres agrad-veis a @eus, que os coocou

    no no QamQ assptico e etreo, nascido da imagina'o moderna,

    mas no antigo Qparaso das deciasQ, Qum ugar fertii$ado peas

    -guas refrescantes e de onde desapareceram a dor, o sofrimento e

    as -grimasQ.

    O P&CA@O

    A basica crist abriga uma assembia de pecadores iguais em sua

    necessidade da miseric

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    os Btimos de todos so os eigos casados. 5um espa'o

    especiamente designado no fundo da basica, muito onge da

    abside, ficam os QpenitentesQ, cu)os pecados os e1curam dos atos

    de participa'o to concretos. oramente !umi!ados, vestidos

    com mais simpicidade do que sua posi'o autori$a e com a barba

    por fa$er, esperam, sob o o!ar da assist6ncia, o gesto pBbico de

    reconciia'o de seu bispo. Ss ve$es a !ierarquia do saecuum e a

    iguadade perante o pecado se c!ocam, e as conseqL6ncias so

    memor-veis em Cesaria, #asio recusa as oferendas do imperador

    !ertico aente; em io, Ambr

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    qua o citadino, !abituado a ver essas desagrad-veis runas

    !umanas como e1ce'7es amea'adoras para a regra da antiga co*

    munidade cvica de cidados, concede ao pobre a priviegiada po*

    si'o de smboo da miser-ve condi'o da !umanidade da qua

    participa seu eu que pecador. A esmoa torna*se uma anaogia

    poderosa da rea'o de @eus com o !omem pecador. Os gemidos

    que os mendigos dirigem aos fiis que entram na basica para re$ar

    preudiam os apeos desesperados dos fiis ? miseric

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    reu$entes, de cima para bai1o ? maneira da antiga munificncia

    cvica, veado pea garoa eve mas persistente das esmoas

    cotidianas do cristo pecador aos desgra'ados an

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    cidade do scuo (; deiberadamente se associa em pBbico a essas

    categorias de pessoas cu)a e1ist6ncia fora ignorada peo antigo

    modeo QcvicoQ dos not-veis urbanos. 4egundo os termos dos

    C-nones de santo Atan-sio Q2m bispo que ama os pobres rico, e a

    cidade e sua circunscri'o o !onraro\ \. @ificimente se podia

    dese)ar um contraste mais agudo com a imagem QcvicaQ que os

    not-veis ostentavam dois scuos antes.

    A comunidade crist que cresce paraea ? cidade antiga, onde est-

    onge de ser dominante no scuo (, criou, todavia, atravs de suas

    cerimFnias pBbicas, seu tipo pessoa de uma nova forma de espa'o

    pBbico, dominado com seguran'a por um novo tipo de personagenspBbicos apoiados com firme$a por mu!eres ceibat-rias, os bispos

    ceibat-rios fundamentam seu prestgio sobre sua capacidade de

    QaimentarQ uma nova categoria de pessoas, a categoria anFnima e

    profundamente anticvica dos pobres sem ra$es e abandonados. 5o

    scuo , as cidades do editerr%neo passam por novas crises. As

    gera'7es que precedem e seguem imediatamente o ano HII

    con!ecem importantes cat-strofes urbanas, como o saque de /oma

    peos visigodos em H9I, e o surgimento de bispos infuentesAmbr

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    facimente recon!ecveis, inseriras, com poucas varia'7es, em

    rodas as tumbas crists. A surpreendente variedade de inscri'7es

    funer-rias pags e da arre funer-ria pag testemun!a uma socie*

    dade pouca rica em opini7es comuns referentes ? morre e ao am.

    A tumba era ento um ugar privado porm priviegiado. A pessoa

    morta, sustentada por seus grupos tradicionais * a famia, os pares,

    os associados funer-rios e, no caso dos grandes, a pr

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    desaparecidos. &, uma ve$ introdu$ida no recinto da basica, a

    democracia do pecado estende*se para am do tBmuo de modo

    inconcebve para os pagos. O cero pode recusar as oferendas

    feitas em nome de membros no converridos da famia, de

    pecadores no arrependidos e de suicidas.

    2ma nova acep'o da e1presso \terra consagradaQ persisten*

    temente atrai os morros ? sombra das basicas. Drandes cemittios

    cristos, administrados peo cero, e1istiram em /oma desde o

    incio do scuo (((. Comportavam gaerias subterr%neas

    cuidadosamente construdas c concebidas de ta modo que grande

    nBmero de pobres encontravam seputura. 9a!ados em nic!ossuperpostos nas catacumbas, tais tBmuos constituem ainda !o)e os

    testemun!os sienciosos da determina'n do cero de agir como pa*

    trono dos pobres. At na morte os pobres so mobii$ados as

    fieiras de tBmuos !umides situadas a uma dist%ncia decente do

    mausou dos ricos testemun!am a soicitucie e a soidariedade da

    comunidade crist.

    5o fina do scuo (, a difuso da pr-tica da depositio ad sanetos *o privigio de ser enterrado perto do tBmuo dos m-rtires * garante

    que, se a comunidade crist e1igia uma !ierarquia de estima entre

    seus membros, o cero, que controava o acesso a esses ugares

    consagrados, erigia*se em -rbitro de ta !ierarquia. irgens,

    monges e membros do cero so agrupados mais perto de numerosas

    tumbas de m-rtires nos cemitrios de /oma, io e outro4 ugares.

    &ssas novas eites da (gre)a urbana so seguidas de eigos !umides,

    admitidos ai em recompensa de sua boa conduta crist. QProbiiano

    Z ... [ a iaritas, uma mu!er cu)a castidade e bondade natura

    eram con!ecidas de todos os vi$in!os Z ... [. &m min!a aus6ncia ea

    permaneceu casta durante oito anos; por isso repousa neste ugar

    santo.Q

    (ntegrados de modo bem visve nas (gre)as crists, os mortos so

    imperceptivemente retirados de sua cidade. A fim de assegurar orepouso e a permanente reputa'o de seus defuntos, a famia

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    crist doravante trata apenas com o cero. As formas cvicas de

    testemun!o passam a segundo pano. J s< nas pequenas cidades

    itaianas tradicionais que o anivers-rio de um personagem pBbico

    ainda constitui ocasio para um grande banquete cvico para os

    not-veis e seus concidados. 5o scuo ( a corte imperia ceebra

    pubicamente o uto do Qprimeiro cidadoQ, PetrFnio Probo, o maior

    dos potentes de /oma. as, em seguida, sua mem

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    Constantino possuem o mesmo presti$io na sociedade"2erealmente

    o celi%ato assume a forma de a%stin3ncia se&ual dos con*4$es e

    adotado em idade madura quando todos os calores da *uventude

    esto es$otados"Para um homem em idade ativa ,cu*a posio

    social lhe de acesso ao prazer se&ual muito dificil manter sua

    condio para no dizer insuportvel"

    5o sculo a i$re*a *a uma instituio %em estruturada e para os

    %ispos cristos tererm o mesmo presti$io das elites tradicionais

    aca%am adotando o celi%ato"A viso que os admiradores tem do

    homem celi%atrio a de um homem desli$ado do mundo,uma

    pessoa sa%ia e equili%rada"

    - imprio de Constantino de 678 a 669 totalmente diferente da

    sociedade da epoca antonina,desde 86: h um $rande aumento de

    impostos que so necessrios para manter a unidade e se$urana

    do imprio +mais do que o e&cedente que o $overno se apropria

    ocorre uma reestruturao das classes superiores na qual os

    notveis locais acresentam tam%m a posio de servos do

    imperador"1o os chamados ''potentes''que controlam a cidadeem nome do imperador,mas no como na poca antonina pois

    dentro da pr(pria classe superior h desi$ualdades"

    nto podemos concluir que;

    - mprio !omano tardio uma sociedade dominada

    e&plicitamente por uma aliana entre servidores do imperador e os

    $randes proprietrios de terra que cola%oram para controlar os

    camponeses su*eitos aos impostos e para impor a lei e a ordem nas

    cidades =, pa$ 8?8@

    Perce%e/se tam%m uma mudana no comportamento do homem

    p.%lico, a veste discreta da poca classica su%stituida pela to$a

    cheia de ornamentos que refletem a posio social do individuo"

    Brown nos lem%ra que a cidade do sculo ainda muito parecidacom a cidade do periodo clssico,ainda se tem os %anhos p.%licos,

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    o Circo, o teatro e os $randiosos espetculos de feras no

    hip(dromo de Constantinopla"

    5a nova cena ur%ana aparecem o %ispo e a i$re*a que apesar de ter

    prdios to $randiosos quanto a sala de audi3ncia do imperador

    no passa de mais um elemento na sociedade"- %ispo at tem

    acesso aos potentes mais A$ostinho nota que eles sempre so os

    ultimos a serem reci%idospelas autoridades"Mas em contra partida

    temos o e&mplo de oo Cris(stomo que quando estava em

    Constantinopla torno/seimpopular pelo h%ito de acompanhar cim

    os olhos cada um dos $randes proprietrios de terras que entravam

    na i$re*a,seu olhar penetrante denunciava seus pecados e suasin*ustias"

    Pecado, po%reza e morte so os tr3s conceitos que ha%itam a

    mente do cristo da Anti$uidade 0ardia, a %asilica o local de

    pecadores i$uais em necessidade de miseric(rdia,mas em

    contradio perce%e/se principalmente na cerimonia de eucaristia

    uma hieraquizao dos cristos, %ispo e clero so os primeiros a se

    apro&imar, depois homens e mulheres castos,em se$uida os lei$oscasados e no fundo da %asilica e&cluidos da cele%rao ficam os

    penitentes"Mas as vezes acontece de um $rande senhor ser

    colocado *unto aos penitentes como no caso do imperador 0eodoro

    que colocado *unto aos penitentes por Am%r(sio pelo fato dele

    ter ordenado um massacre em 0essalnica"

    A po%reza tam%m chama a ateo,$eralmente os po%res ficam na

    porta da %asilica para dormir e pedir esmolas,eles representam o

    estado do pecador e o remdio dos mais afortunados,oo

    Cris(stomo dizia''stende a mo,no para o cu, mas para o po%re

    ''" Duem se presta muito vem a esse papel de proteo dos po%res

    so as mulheres ricas que no final do sculo so men%ros da

    aristocracia senatorial,a fortuna dessas mulheres criam laos de

    patronato e de o%ri$a#es humilhantes entre o clero"

    Como protetoras dos po%res e a%astados elas desfrutam de uma

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    verdadeira posio p.%lica na re$io mediterranea,o mesmo ocorre

    com os %ispos que so vistos como protetores dos po%res e adquire

    import)ncia pela sua capacidade de alimentar os po%res

    a%andonados"

    ncerrando vamos analisar o conceito de morte na Anti$uidade

    0ardia, a sociedade pa$ era muito po%re em opini#es referentes a

    morte e ao alm,somente com o cristianismo se tem a noo de

    preservar a mem(ria dos mortos $raas a uma s(lida doutrina

    crist so%re o alm"-utro ponto importante de se analisar a

    hierarquizao que a comunidade crist $arante aos mortos de

    $rande estima que $eralmente so enterrados pr(&imos dostumulos dos martEres nos cemitrios de !oma"

    A principal mudana que a elite no se preocupa tanto com os

    c(di$os morais da poca antonina,se preocupa sim em servir o

    imperador em prol seus pr(prios interesses,outra mudana a

    i$re*a crist que apesar de pouco presti$iada vai conse$uindo se

    inserir na sociedade"

    O Monasticismo

    O modeo do soit-rio

    2m dia Constantino escreveu a santo AntFnio, sem impressionar em

    nada o ve!o. AntFnio !avia dei1ado sua cidade de 0a_um na poca

    em que nascia o imperador e desde agum tempo estava instaadono deserto da Tebaida. PacFmio tambm instaara seus primeiros

    mosteiros antes que Constantino se tornasse imperador do Oriente.

    O dito de Constantino, to famiiar ?s cidades, constitui novidade

    para o mundo dos ascetas. Os monges, os monac!oi * quer di$er, os

    Q!omens soit-riosQ *, proongam uma tradi'o crist muito

    diferente que quase se poderia quaificar de arcaica. 4uas atitudes

    espirituais e morais inspiram*se na e1peri6ncia de um ambiente

    sobretudo rura, muito diverso daquee dos cristos citadinos. 5o

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    scuo ( os monges do &gito e da 4ria con!ecem um sucesso de

    estima e esc%ndao no mundo mediterr%neo. A ida de AntFnio, de

    Atan-sio, aparece imediatamente ap

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    vida organi$ada em sociedade. &stabeecem*se no equivaente

    socia do continente -rtico, um espa'o considerado va$io desde

    tempos imemoriais no mapa da sociedade mediterr%nea; essa no

    man\s and, situada fora da cidade e que despre$a a cutura orga*

    ni$ada, prop7e uma op'o outra que no a de uma e1ist6ncia im*

    pac-ve e discipinada nas adeias superpovoadas.

    &m seguida, assim agindo, o monge individua ficou ivre para

    acan'ar por si mesmo, diante de @eus e entre seus compan!eiros,

    o idea de Qsimpicidade do cora'oQ. 3iberto das tens7es inerentes

    ? sociedade estabeecida, enta e penosamente purificado das

    sugest7es sussurradas peos demFnios, o monge ame)a possuir oQcora'o do )ustoQ, intato, to ivre dos n

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    mon-stico no novo. &ngoba os aspectos mais radicais da

    contracutura fios

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    para que ta momento dure toda uma vida.

    Am da cidade antiga

    O paradigma mon-stico efetivamente nos apresenta um mundo

    despo)ado de suas estruturas con!ecidas. Os encausuramentos, as

    !ierarquias e as distin'7es precisas nas quais continua a basear*se a

    vida da cidade foram misturados e nitidamente atenuados gra'as

    aos impressionantes rituais comunit-rios que se desenroam nas

    basicas crists. Contudo essas basicas continuam sendo espa'os

    engastados nas estruturas s

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    renBncia ? se1uaidade, garante que um sabor muito diferente

    impregnar- a vida privada da famia crist nessa sociedade.

    5o paradigma mon-stico a cidade perde sua preemin6ncia enquanto

    unidade socia e cutura distinta. &m numerosas regi7es do Oriente

    Pr

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    privigio, de distribui'o de aimentos. Tais aprovisionamentos

    eram distribudos a todos que podiam pretender descender da

    casse dos cidados, independentemente de sua fortuna ou

    pobre$a. As geneaogias registradas para estabeecer os direitos dos

    cidados remontam os scuos at o come'o da ordem urbana

    romana no &gito. 5o fina do scuo ( as antigas estruturas so

    definitivamente supantadas. A cidade cercada de mosteiros e

    conventos muito povoados. &nquanto cristos, os not-veis rivai$am

    agora nas doa'7es caridosas destinadas aos pobres e aos

    estrangeiros e no mais Qa muito respandescente cidade de

    O1_r!_nc!os\ \. O not-ve cristo )- no o p!iopatris, o

    Qapai1onado por sua cidadeQ, e sim o p!ioptFc!os, o Qapai1onadopeos pobresQ; contudo sempre de )oe!os que o !omem !umide

    deve se apro1imar. "uanto aos pobres, embora sua misria ten!a

    sido desnudada, gra'as ao simboismo cristo do pecado e de sua

    repara'o, no desapareceram. &es tremem na noite fria do

    deserto e se amontoam )unto ? basica ao redor de uma refei'o

    dominica que !es servem os monges Qpor parte das amasQ das

    Qmais bri!antes famiasQ que sem pre controam a cidade de

    O1_r!_nc!os e o campo circundante. @oravante tais famias not6m mais necessidade de e1pressar um amor particuar por sua

    cidade como se esta diferisse em aguma coisa da massa indistinta

    dos !umides que eas controam tanto na cidade como no campoM

    QApai1onados peos pobresQ, os grandes protegem os infei$es sem

    distin'o, se)am nativos da cidade ou do campo.

    A educa'o mon-stica

    O paradigma mon-stico no s< varreu a especificidade da cidade;

    ee amea'a enfraquecer sua infu6ncia sobre os not-veis num dos

    aspectos mais ntimos. Cooca em questo o pape dos espa'os

    pBbicos da cidade como ugares principais da sociai$a'o dos me*

    ninos. 4eria erro grave crer que os monges so todos !er

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    deserto * uma simpicidade em oposi'o ? grande corrup'o. 4ob a

    tutea de um #asio de Cesaria ou de um &vagro do Ponto,

    tcnicas de educa'o mora e modeos de comportamento e de dis*

    cipina espiritua, antes praticados s< peas eites das cidades,

    forescem com novo vigor nos mosteiros. &ssa cutura no se

    restringe aos !omens maduros. 5a metade do scuo ( os

    estabeecimentos mon-sticos )- recrutam rapa$es muito )ovens.

    0amias citadinas ou ades abastadas consagtam seus fi!os ao

    servi'o de @eus, o mais das ve$es para preservar a !eran'a famiiar

    amea'ada por fi!os numerosos demais e sobretudo peas fi!as

    e1cessivas. &sses monges muito )ovens no desaparecem no

    deserto. Tendem a ressurgir anos depois incusive nas cidades,como membros de uma nova eite de abades e de ecesi-sticos de

    forma'o asctica. Assim, o mosteiro torna*se a primeira

    comunidade preparada para oferecer uma forma'o penamente

    crist desde a )uventude. Assimia'o de uma cutura iter-ria

    inteiramente baseada na iturgia e na #bia, forma'o do

    comportamento segundo os c

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    ias crists urbanas. A cidade antiga, onde as discipinas ntimas

    !aviam modeado as identidades pBbica e privada dos membros de

    casse superiores ao ongo de scuos, amea'a dissover*se numa

    simpes federa'o de famias, cada uma das quais assegura para si

    mesma, em coabora'o com !omens da (gre)a ou com monges que

    vivem perto da cidade, a verdadeira educa'o * quer di$er, crist *

    de seus )ovens. endo os serm7es de Eoo Cris

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    aos fi!os a arte reigiosa do temor a @eus. Trata*se de um esbo'o

    da futura cidade is%mica.

    as, caro, o esbo'o enganador. 4e passamos dos serm7es de Eoo

    Cris

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    da sociedade ocidenta moderna, que gravita com tanta insist6ncia

    ao redor das no'7es de se1uaidade e casamento, sem a

    interven'o decisiva do paradigma mon-stico que abra'aram as

    eites organi$adas da (gre)a crist no fina do scuo ( e come'o do

    v. O controe da se1uaidade, um dos smboos mais simpes e

    ntimos que e1istem, torna*se tambm um dos mais poderosos para

    tradu$ir, sob a forma que ser- finamente a da Ata (dade dia, o

    ve!o idea tena$ de uma vida privada que este)a sempre su)eita ?s

    in)un'7es pBbicas da comunidade reigiosa.

    O casa cristo casado no Ocidente tornou*se perme-ve, ao menos

    em teoria, ?s sombrias e graves idias sobre a se1uaidadeeaboradas por santo Agostin!o, um bispo citadino, enquanto no

    Oriente a famia crist manteve a antiga resist6ncia aos ideais de*

    senvovidos com igua rigor te

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    e o que ele representou para a sociedade principalmente para as

    i$re*as crists nas cidades que at ento eram muito presti$iadas

    *untamente com seus administradores"

    1e$undo o autor, o mon$e passa a ser presti$iado pelo fato de ser

    um ''homem solitario'' e que %usca um ideal de ''simplicidade

    de corao'', ao contrario dos %ispos que vivem uma vida muito

    intensa nas cidades"

    - mon$e visto quase como um an*o por seus admiradores,pois ele

    dei&ou de lado todas as preocupa#es da sociedade e vive em total

    deslum%ramento e quem adota essa vida tam%m est maispr(&imo de rece%er a Feus e seus an*os"

    Brown faz uma anlise da vida na cidade,uma vida cheia de

    hierarquias e distin#es onde o unico local que o fiel se sente i$ual

    as outras pessoas a %asilica crist ,apesar desta tam%m

    reproduzir as estruturas sociais e&istentes"Ao contrrio do

    paradi$ma monstico que forma uma nova sociedade ,uma nova

    disciplina pessoal pautada na renuncia se&ual e uma sociedadeonde todos dependem i$ualmente da miseric(rdia divina"

    Peter Brown nos faz perce%er a mudana de olhar com relao aos

    po%res,os mon$es ao contrrio dos ''verdadeiros po%res'' so

    enaltecidos e passam a rece%er esmolas que se destinavam aos

    mendi$os que rodeavam as %asilicas" Para enterder esse processo

    %asta pensar que para o lei$o era melhor dar esmolas para um

    mon$e que rezaria por ele do que para um mendi$o que no lhe

    daria nada em troca" -utro ponto interessante para refletirmos

    a rivalidade que e&iste entre os notveis cristos para ver quem

    fazia mais doa#es aos po%res e humildes,ento Peter Brow nos

    mostra que os notveis prote$iam os po%res, tanto da cidade

    quanto do campo, mesmo que fosse por vaidade"

    -utro de%ate importante a influ3ncia que a educao monsticadespertou nos notveis, sa%e/se que muitos dos ascetas eram

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    homens cultos que queriam a%andonar a vida de corrupo das

    cidades" A educao monstica era %aseada na Bi%lia, na formao

    de um comportamento que tinha por o%*etivo mostrar a certeza do

    Feus invisivel, mas a educao da cidade no foi totalmente

    eliminada pela dos mosteiros, mas mesmo assim podemos notar

    que o fiel cristo comea a mudar seu estilo de vida inspirando/se

    na vida dos mon$es,ou se*a,uma vida inspirada no temor de Feus"

    -utro ponto interessante para analisarmos que os cristos vo

    dei&ando de lado os anti$os espaos p.%licos com o teatro e o foro

    para um lu$ar mais retirado para ter um contato mais pr(&imo

    com Feus"

    5o final de seu te&to, a%orda/se ainda so%re a noo de intimidade

    que est estritamente li$ada a se&ualidadee do controla desta

    como um re$ulador da comunidade reli$iosa, fator decisivo para

    esse controle so as som%rias idias de 1anto A$ostinho so%re o

    se&o"

    Oriente e Ocidente: A Carne

    O grande medo da carne

    O paradigma mon-stico coocou um ponto de interroga'o no

    casamento, na se1uaidade e at na diferencia'o dos se1os. Pois

    no paraso Ado e &va eram seres asse1uados. 4e perderam seu es*

    tado QangicoQ de adoradores e1cusivos de @eus foi porque, ao

    menos indiretamente, caram na se1uaidade; e dessa queda nasensuaidade come'a a deriva de !omens e mu!eres rumo a um

    mundo de preocupa'7es pr

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    desastrosas da vida Qno mundo\ Q ee resove optar pea vida\ \ang*

    icaQ do monge. Pois no mundo rgido das adeias do Oriente

    Pr

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    nega'o da diviso entre o QmundoQ e o QdesertoQ. Pois aquees

    cu)os ps )- pisam as encostas do paraso, uma ve$ que optaram

    pea e1ist6ncia QangicaQ do monge ou da virgem, podem

    atravessar com os o!os inocentes da crian'a os campos, as adeias

    e as grandes cidades e misturar*se sem constrangimento com

    !omens e mu!eres. 4obre esse ponto Atan-sio deve questionar os

    discpuos de iera1 no &gito. Pensador asctico e respeitado,

    iera1 se pergunta se as pessoas casadas t6m um ugar no paraso,

    mas, ao mesmo tempo, espera de seus austeros discpuos que

    se)am servidos sem perigo por compan!eiras virgens. Eoo

    Cris

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    5o tocante aos casais cristos do Oriente mediterr%neo, neste

    perodo e nos seguintes, deparamos com um parado1o. Os !er a presen'a na ama de impusos ainda mais mortais por*

    que identific-veis com menor faciidade o frio agui!o da raiva,

    do orgu!o e da avare$a. Por isso que a diminui'o das vis7es

    se1uais e at a modifica'o das pou'7es noturnas so observadas

    de perto como um ndice dos progressos que o monge reai$ou rumoao estado de transpar6ncia de um cora'o dedicado ao amor de

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    @eus e do pr

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    se impregne Qdo doce oor do desertoQ. &sta segunda esco!a deve

    ser feita bem cedo. Terminou a poca das tempestuosas convers7es

    da maturidade. @esde o ano II importante que o rapa$ e

    sobretudo a mo'a optem por uma ou outra via, a favor ou contra o

    fato de viver\ \no mundoQ como pessoa casada, antes que as pesadas

    obriga'7es sociais do noivado recaiam sobre eas ao redor da idade

    de tre$e anos. Passado esse momento, a incerte$a fatamente eva

    ?s conseqL6ncias devastadoras que acarreta um dese)o do deserto

    insatisfeito ao ongo da vida con)uga que se seguir-. uito

    freqLentemente a esco!a que um dos pais poderia ter feito

    adiada por uma gera'o e recai sobre um dos fi!os. O scuo (

    aquee das crian'as santas, dos recrutas infantis da vida asctica.Assim, arta, a piedosa me de 4imeo, o Eovem de Anti

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    irms e fi!as.

    A reaidade bi$antina...

    O casamento precoce proposto aos )ovens de ambos os se1os

    como um quebra*mar que protege o !omem cristo das vagas agi*

    tadas da promiscuidade adoescente. &ntretanto at um moraista

    to penetrante como Eoo Cris

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    turbi!onando no teatro. 2ma est-tua de 6nus nua ergue*se diante

    dos ban!os pBbicos de Ae1andria; di$*se que fa$ o vestido das

    adBteras evantar*se acima da cabe'a; finamente ser- retirada

    no por um bispo, mas peo governador mu'umano, no fim do

    scuo ((. Ainda em YUI, em Paermo, tre$entas prostitutas

    provocam um motim contra o governador bi$antino quando ee

    entra nos ban!os pBbicos; con!ecemos esse incidente porque o

    governador, um bom bi$antino que esperava do cero que cumprisse

    seu dever para com a cidade, satisfi$era seu pedido nomeando o

    bispo para o cargo de impetor imperia dos bordis, o que !e vaeu

    uma reprimenda do papa ocidenta, c!ocado. O que resra da cidade

    antiga no Oriente bi$antino no se enquadrou visivemente, emtodos os aspectos, com os c

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    2sufruram no paraso uma e1ist6ncia penamente con)uga. A ae*

    gria de se perpetuar por meio dos fi!os !es foi concedida, e Agos*

    tin!o no v6 nen!uma ra$o para que tais fi!os no ten!am sido

    concebidos no decorrer de um ato se1ua acompan!ado de sensa*

    '7es de intenso e srio pra$er. Para o bispo de ipona o paraso no

    uma anttese cintiante da vida \\no mundoQ. J Qum ugar de pa$ e

    aegrias !armoniosasQ, no a aus6ncia de uma sociedade

    estabeecida, como o deserto, mas, sim, uma sociedade estabeeci*

    da como deveria ser, quer di$er, ivre das tens7es inerentes a suas

    condi'7es atuais. O paraso e a e1peri6ncia de Ado e &va no pa*

    raso fornecem um paradigma de interc%mbios concretos sociais e

    se1uais. A conduta se1ua dos eigos casados ser- )ugada em rea*'o a esse paradigma e considerada fraca, pois a condi'o !umana

    decaiu. Pois, se o paraso pode ser apresentado como um estado

    penamente socia, a sombra do paraso reconquistado pode ser

    vista no s

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    cooca poucos probemas. A Eoo Cris

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    manifestar atravs desses sinromas muito precisos nas rea'7es se*

    1uais de pessoas casadas e requerendo uma constanre vigi%ncia

    mora por parte de pessoas castas, o sina da ruptura fata da pro*

    funda !armonia que anreriormente reinava entre o !omem e @eus,

    o corpo e a ama, o !omem e a mu!er, e da qua Ado e &va usu*

    fruram por agum tempo no paraso. Ai viveram no como cei*

    bat-rios asse1uados, e sim como um casa !umano penamente ca*

    sado, to representativos de uma sociedade !umana in nuce como

    quaquer c!efe de famia de ipona. A )ustaposi'o de um estado

    !umano casado idea com a vida con)uga presente de um eigo era

    uma compara'o efica$, repetida sem cessar e for'osamente ofen*

    siva para o casa mdio.

    &ssas idias ou suas variantes tornaram*se de ta modo parte

    inregrante do universo menta da cristandade ocidenta que

    preciso recuar um pouco para sentir sua estran!e$a e avaiar a

    especificidade da situa'o que evou Agostin!o e seus sucessores a

    modificarem de modo to significativo o paradigma mon-stico que

    !erdaram do Oriente.

    Para o eigo cristo est- em )ogo uma nova inrerpreta'o do

    significado do se1o. A nova interpreta'o impica tambm o desuso

    dos c

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    proongamento dos c

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    do ato se1ua como um momento de dis)un'o inevit-ve com os

    aspectos racionais, ou sociais, da pessoa. A concupisc6ncia da

    carne, ta como se revea no ato se1ua, um tra'o da pessoa

    !umana que caramente desafia uma defini'o socia e s< pode ser

    acan'ado do e1terior pea obriga'o socia. Para o eigo, !omem

    ou mu!er, as obriga'7es normais nas rea'7es se1uais, que eram

    principamente de nature$a e1terior e socia, devem incuir a

    concep'o nova de uma profunda brec!a na te1tura do pr * impica uma no'o de que !- ago

    indecoroso no pr

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    gra'as ao controe de agumas formas de carcias, por e1empo.

    &nto se !- de considerar que a doutrina agostiniana abriu nas

    defesas da famia crist uma brec!a ta que bi$antino nen!um

    )amais teria ousado imaginar; por essa brec!a soprar- um forte

    vento frio; ter- como origem os canonistas e seus eitores, os

    padres confessores da (dade dia mais tardia.

    Obesso ocidenta do se1o

    As idias de Agostin!o impuseram um rigor e uma consci6ncia

    ascticas da fraque$a mora do !omem aos !umides c!efes defamia Qno mundoQ. &e mesmo reuniu o QmundoQ e o QdesertoQ na

    (gre)a cat

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    apresentado como um sintoma priviegiado. porque singuarmente

    ntimo e apropriado, da condi'o !umana o !omem, como ser

    se1ua, tornou*se o menor denominador comum da grande

    democracia dos pecadores reunidos na (gre)a cat

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    5este te&to Peter Brow vai nos mostrar de que maneira o

    paradi$ma monstico influenciou as pessoas do -riente e do

    -cidente na Antui$uidade 0ardia nas quest#es de casamento e

    se&ualidade"

    A primeira questo so%re a queda na se&ualidade, se$undo o

    paradi$ma monstico Ado e va eram seres asse&uados, a partir

    do momento que eles cairam na se&ualidade todos os homens e

    mulheres entraram num mundo cheio de preocupa#es li$adas ao

    casamento e criao de filhos"

    - mon$e, com medo de se envolver em todas essas o%ri$a#es opta

    por uma vida ''an$lica'' lon$e do mundo, ai sur$e o primeiro

    de%ate, cristos casados podem esperar o paraiso ou esse est

    reservado somente para quem adota uma vida de a%stinencia

    se&ual tal qual a do mon$e"

    0alvez a resposta este*a na citao das scrituras ''0oda a carne

    como a erva'',ou se*a, homens e mulheres so seres se&uadossuscetiveis a com%usto , ento espera/se do mon$e que ele

    controle essas com%ust#es" Peter Brow analisa os $rupos ascetas

    cristos mais radicais, esses $rupos ne$avam o valor do casamento

    e a pr(pria se&ualidade que se$undo o autor implica a ne$ao

    entre o ''mundo'' e ''deserto'' ou se*a, esses seres ''an$licos

    '''podem misturar/se com homens e mulheres da cidade sem

    correr o risco de cair na se&ualidade,esse ponto de vista vai ser

    questionado por Atansio e oo Cris(stomo que pre$a contra a

    associao ''espiritual'' de vir$ens e mon$es na cidade de

    Anti(quia"

    Peter Brow perce%e a necesidade de se controlar esse radicalismo

    monstico, ento o que vai ocorrer no -riente Mediterraneo uma

    or$anizao da sociedade onde todos devem praticar um c(di$o de

    a%steno se&ual independente da classe e profisso"ooCris(stomo por e&emplo ataca os %anhos p.%licos e critica o h%ito

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    das mulheres da aristocracia de mostrarem suas carnes nutridas

    co%ertas apenas por pesadas *oias que determinavam sua elevada

    posio social"

    A literatura monstica sempre viu o impulso se&ual como al$o

    ruim, mas parece no ter interferido na se&ualidade do homem do

    ''mundo''"-s mestres espirituais do deserto comearam a estudar

    as vis#es se&uais e seus impulsos atravs de sonhos"va$ro estuda

    minuciosamente todas essas vis#es e perce%eu que esses impulsos

    revelam impulsos mais mortais como a raiva, o or$ulho e a

    avareza" A diminuio dessas vis#es mostra que o mon$e pro$rediu

    na %usca de um corao dedicado ao amor de Feus e do pr(&imo"

    A moral crist oriental %em clara+ ou se vive os fatos se&uais

    dentro do casamento, ou se renuncia a eles para viver uma vida no

    deserto" Porm essa escolha tem de ser feita %em cedo, mais

    precisamente para as moas antes dos 76 anos para no cair nas

    o%ri$a#es sociais do noivado" Perce%e/se no sculo um

    recrutamento de crianas para a vida asctica"

    1e$undo Peter Brow o casamento precoce proposto aos *ovens

    para que no caiam na armadilha dos dese*os incontrolveis da

    *uventude, oo Cris(stomo por e&emplo no encontrava

    pro%lemas no ato se&ual dentro da vida con*u$al le$al"As .nicas

    restri#es so nas poca de menstruo, $ravidez e nas festas da

    $re*a"5o entanto podemos perce%emos que ainda se mantinham

    anti$as tradi#es na qual uma relao a$radavel para os dois

    $arante que a criana se*a conce%ida %onita e saudvel" P(rem

    fora da %asilica e das paredes da casa crist, a vida continua

    indisciplinada, continuam os %anhos p.%licos e os espetaculos das

    danarinas tur%ilhando nos teatros"

    5o -cidente o paradi$ma monstico no atin$e o ocidente

    latino"A$ostinho diz que a sociedade que compreende a

    se&ualidade e o casamento no a pior de todas" Para ele Ado eva nunca foram seres asse&uados, pelo contrrio, viveram uma

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    vida con*u$al plena, A$ostinho tam%m no via pro%lemas na

    perpetuao de filhos acompanhados de um prazer srio e intenso"

    A$ostinho no esperava que a se&ualidade desaparecesse da

    iam$inao das pessoas e acha que os lei$os casados podem se

    esforar para alcanar o paraiso,desde que vivam uma vida

    con*u$al harmoniosa"

    - lei$o cristo comea a reinterpretar o si$nificado do se&o e a

    a%andonar c(di$os morais da se&ualidade quwe determinam

    normas e proi%em al$umas coisas como por e&emplo preliminares

    orais ou posi#es consideradas inadequadas" A se&ualidade seriase$undo esses c(di$os um prolon$amento do comportamento em

    sociedade e um sinal intimo de dist)ncia social"

    A$ostinho muda totalmente esse modelo, para ele a pai&o se&ual

    no um ''calor'' indiferente que culmina nas rela#es se&uais e

    sim uma fraqueza que todos partilham, volta/se a ateno para as

    partes do corpo mais sensiveis a se&ualidade, no mais possivel

    dizer que o homem tem mais mais se&ualidade do que a mulher ouque a mulher corrompe o homem moralmente,pois todos levam os

    sintomas da queda de Ado e va"

    - que vai ocorrer um processo de ''dis*uno inevitvel'' ou

    conscupiscencia da carne, o ato se&ual passa a desafiar a ordem

    social, homens e mulheres no precisam mais se$uir as o%ri$a#es

    morais das rela#es se&uais, a%re/se uma $rande %recha para os

    casais"Porem as pessoas continuam acreditando em seus mdicos

    que dizem que um ato se&ual caloroso pode lhes dar uma criana

    %onita e saudvel,mas ao mesmo tempo passam a respeitar os dias

    que a $re*a proi%e as rela#es se&uais, como as festas reli$iosas

    ou a quaresma pel ofato de temerem um casti$o divino"0am%m se

    condena um ato se&ual realizado fora de um pro*eto consciente de

    conce%er filhos para a cidade"

    A$ostinho conse$uiu reunir ''mundo'' e ''deserto'' na $re*a

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    Cat(lica, os %ispos passam a controlar e aconselhar os

    lei$os,forma/se ento uma hierrquia entre os ''%em nascidos'',

    seus inferiores e ''homens do deserto'' , s( que ao contrrio do

    -riente , todos participaram da fraqueza herdada de Ado e va,

    nenhuma renuncia, nenhum isolamento e nenhum c(di$o moral

    pode conte/la"

    5o final do te&to o autor dei&a o questionamento, o que

    influenciou mais na cultura ocidental, o homem e a cidade ou a

    $re*a e o mundoG

    A Igreja nos Quadros do Im!rio Romano

    9. O #(4PO @& /OA CO5"2(4TO2 A C&0(A @A (D/&EA CAT3(CA

    0-!5A!/1 o chefe incontestado da $re*a Cat(lica no foi tarefa

    fcil para o %ispo da cidade de !oma" Duer no plano reli$ioso, quer

    no polEtico, muitas dificuldades se lhe er$ueram"

    -s sucessivos invasores do mprio !omano do -cidente tinham

    trazido consi$o a ameaa de um retorno ao pa$anismo ou qui da

    radicao de uma atitude reli$iosa hertica

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    A3&5T(5(A5O ((( &4TA#&3&C&2 A P/(A(A @O PAPA@O =HH>

    5uma tlia devastada pelas invas#es, a import)ncia polEtica de

    !oma cresceu de novo merc3 do seu si$nificado reli$ioso" Duando

    todas as institui#es desa%aram, a or$anizao eclesistica

    permaneceu" Centro da $re*a, !oma e o papa constituEram uma

    fora que ao pr(prio imperador convinha reconhecer" 5este

    sentido alentiniano pu%licou um edicto

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    decretamos os privigios da santssima (gre)a de Constantinopa ou

    5ova /oma. Porque os Padres concederam privigios, com toda a

    ra$o, ao s do Ponto, Ksia e Tr-cia )untamente com os

    bispos daqueas dioceses que ficam entre os b-rbaros se)am

    ordenados pea )- citada sede da santssima igre)a de

    Constantinopa. "ue cada metropoita destas dioceses ordene os

    bispos da sua provncia como foi decarado peos divinos c%nones;

    mas que, como acima foi dito, os metropoitas das citadas dioceses

    se)am ordenados peo arcebispo de Constantinopa depois de se

    terem reai$ado as devidas eei'7es segundo o costume e de !eterem sido comunicadas.

    Z(. @. ansi, 4acrorum Conciiorum nova et ampissima coectio, t.

    ((, 0orentiae, 9YG, co. UI.[

    =9> Os participantes do Concio de Constantinopa =UV9>. =G> 2ma

    diocese era ento um agrupamento de provncias. Posteriormente

    esta !ierarquia foi invertida.

    4. 3&O AD5O @&0&5@&2 A A2TO/(@A@& @A 4A5TA 4J =HG>

    5esta epEstola diri$ida ao imperador do -riente Marciano

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    intacta depois deste epis(dio, na prtica a tend3ncia centrEfu$a do

    -riente tornou/se cada vez mais nEtida"

    "ue a cidade de Constantinopa ten!a, como dese)amos, a sua

    g e se os

    dese)os de um s< irmo tiverem mais peso em mim do que a

    utiidade comum de toda a casa do 4en!or, deverei ser condenado.

    Z3eo agno, &p. 9IH, ad arcianum Augustum =HG>, in E. P.

    igne, Patroogae Cursus Competus, 4eries 3atina, t. 3, Paris,

    9VV9, cos. ::U*::.[

    A4 (/T2@&4 (5&/&5T&4 AO 4AC&/@C(O, 4&D25@O 4. D/&D/(O

    AD5O

    - pontificado de 2re$(rio

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    no processo de definio da autoridade papal" A sua actuao como

    administrador dos %ens da $re*a e como evan$elizador foi to

    importante como a sua pro*eco literria" Fas suas o%ras, a !e$ra

    Pastoral foi talvez a mais apreciada na dade Mdia"

    A conduta de um preado deve ser to superior ? do povo como a de

    um pastor ? das suas ove!as. @eve considerar seriamente a

    necessidade de rectido que impende sobre ee se o povo for, com

    propriedade, denominado o seu reban!o. @eve ser puro no

    pensamento, pronto na ac'o, discreto no si6ncio, Bti no discurso,

    misericordioso para com os (ndivduos, preeminente na

    contempa'o; um compan!eiro pea !umidade para aquees queprocedem bem, um advers-rio pea )usti'a para os que procedem

    ma; diigente com as coisas e1ternas por estar preocupado com as

    internas, firme em rea'o ?s internas por estar imerso nas

    e1ternas. Z...[

    Z4ancti Dregorii agni, /egua Pastorais, in E. P. igne, Patroogae

    Cursus Competus, 4eries 3atina, t. 3NNi(, Paris, 9VY:, ca. G.[

    G. A (D5&EA, O/DA5(A5@O*4& COO 2 &4TA@O, 42P/(2 A

    A2TO/(@A@& C((3

    A or$anizao da $re*a fizera/se ainda dentro do perEodo imperial

    romano" Fecalcando as institui#es do pr(prio mprio, o clero

    hierarquizara/se num funcionalismo especificado, criara as suas

    assem%lias e sEnodos, so%repusera H diviso provincial a sua

    estrutura administrativa" sta or$)nica nascida dentro do stado

    !omano, dependia dele e nomeadamente servia/o"

    A desapario do mprio no -cidente e o caos trazido pelas

    invas#es permitiram H $re*a no s( definir com maior clareza a

    sua doutrina, como especialmente ampliar e fortalecer as

    institui#es * criadas"

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    5a confuso e anarquia que se se$uiram ao sculo v, a 1 !omana

    representava o .nico ideal unificado r e a .nica estrutura capaz de

    se opor H desinte$rao polEtica, reli$iosa e social em Curso"

    Fetinha, tam%m, e este no era o seu menor trunfo, o monop(lio

    da lEn$ua latina, cu*a internacionalidade foi o melhor utensElio da

    cultura medieval" Partindo destas potencialidades, a $re*a tornou/

    se a maior fora polEtica /do -cidente, colocando na sua depen/

    d3ncia os estados medievais em formao"

    O CO5C83(O @& 5(C&(A =UG> /&D23A&5TO2 A O/DA5(AWO

    &C3&4(K4T(CA

    -s primeiros concElios tiveram a seu car$o, entre outros

    pro%lemas, a determinao da hierarquia eclesistica" -s

    patriarcas nas capitais das provEncias detinham so% a sua

    autoridade os %ispos

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    e grande snodo tentar ta coisa ou continuar a fa$er o mesmo, o

    seu procedimento dever- ser por competo anuado e restitudo ?

    igre)a para a qua foi ordenado bispo ou presbtero.

    Z(n E. C. A_er, A source*boo^ for ancient c!urc! !istor_, 5e+ or^,

    9:9U, pp. UYI*UY9.[

    4O#/& O4 #(4PA@O4 5A4 /&D(X&4 OC2PA@A4 P&3O4 #K/#A/O4

    5esta carta do %ispo e escritor 1id(nio Apolinrio

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    at onde vos autori$ar a condescend6ncia do nosso sen!or, o Papa,

    para que se)a permitida a ordena'o episcopa entre os povos da

    D-ia incudos dentro das fronteiras das sortes g.

    =9> O rei visigodo &urico =HYY*HVH>. =G> O arianismo. =U> #ordeau1.

    =H> Perigueu1. => /ouergue. =Y> 3imoges. => Eavos. =V> &au$e. =:>

    #a$as. =9I> Comminges. =99> Auc!.

    4O#/& A @&3((TAWO @O4 PO@&/&4 &4P(/(T2A3 & T&PO/A3 =H:H>

    - Papa 2elsio

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    Z&d. N((, H:H A. @., Car irbt, "ueen $ur gesc!ic!te des

    Papstums, H.Q ed., TLbingen, 9:GH, n.O 9V.>

    4O#/& O #(4PA@O & T&//A4 @& (50(J(4

    Por motivo das invas#es muulmanas, tinha sido necessrio atentar

    na situao dos %ispados que haviam ficado sem diri$ente" -

    concElio Duinise&tum

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    5A1CF- no -riente, onde no raro se revestiu de formas ascticas

    e&a$eradas e mesmo e&trava$antes, o monaquismo encontrou a

    partir do sculo urna or$anizao equili%rada, com a re$ra de 1"

    Bento sur$ida na tlia" 5o era esta, na verdade, a primeira re$ra

    estatuEda para re$ulamentao da vida reli$iosa em comum" 1"

    Pac(mio

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    acontecer. as ningum podia compreender o acontecimento at

    ee se ter dado, e depois de ter acontecido o povo ia at a,

    meditava sobre o assunto e ento, pea primeira ve$, via e

    compreendia o evento. Z ... [

    Z/obert de Cari, 3a conqu6te de Constantinopa, in istoriens et

    C!roniqueurs du o_en Age, #ibiot!eque de (a Piade, G.a ed.

    9:V, pp. , V.[

    =9> Constantinopa. =G> A bra'a ou bra'o, correspondendo

    apro1imadamente ? medida de dois bra'os estendidos, equivaia a

    9,VG m. =U> A toesa equivaia a 9,:H: m.

    A 025@AWO @A O/@& @& 4. PAC(O =C. UGI>

    0endo/se dado conta das vanta$ens que a vida em comum podia

    trazer ao asceta, 1" Pac(mio redi$iu um con*unto de re$ras que

    incluEam, entre as o%ri$a#es do mon$e, o tra%alho manual" Por

    morte de 1" Pac(mio, * nove conventos de homens e dois demulheres se$uiam a sua re$ra" Qma lenda da poca re$istada pelo

    %ispo Palladius

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    @- de comer e de beber a cada um Zdos irmos[ de acordo com a

    sua robuste$ e distribui*!es os traba!os que conven!am e

    correspondam ?s suas capacidades, no !es proibindo nem o )e)um

    nem os aimentos. Assim, entrega traba!os pesados aos mais fortes

    e tarefas mais eves e f-ceis ?quees que se discipinam mais e so

    mais fracos. Z...[

    Ss refei'7es tapem a cabe'a com os capu$es para que um irmo

    no possa ver o outro irmo comer. 5o devem faar enquanto

    comem nem devem votar os o!os para quaquer outra coisa fora

    do prato ou da mesa.

    & Zo an)o[ estabeeceu como regra que durante todo o dia deveriam

    oferecer do$e ora'7es; e na atura de acender as u$es, do$e; e no

    decurso da vigia nocturna, do$e, e ? !ora da nona, tr6s;

    determinou porm que quando parecesse a todos ser atura de

    comer, cada grupo devesse primeiro cantar um samo por ora'o.

    Z ... [

    "uando o an)o acabou de dar estas orienta'7es e cumpriu a sua

    misso, despediu*se do grande Pac

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    ao que vive em comunidade, o ceno%ita" sta anlise d/nos o

    panorama dos primeiros passos do monaquismo"

    J bem sabido que e1istem quatro categorias de monges. A primeira

    categoria a dos cenobitas aquees que vivem em mosteiros e

    servem sob a direc'o de uma regra e de um abade. A segunda

    categoria a dos anacoretas ou eremitas aquees que, no estando

    )- no primeiro fervor da sua converso, mas depois de uma onga

    prova'o num mosteiro, tendo aprendido com o au1io de muitos a

    combater o dem

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    Zs. P. #enedicti, /egua Commentata, capo (, in E. P. igne,

    Patroogiae Cursus Competus, 4eries 3atina, 9. 3N(, Paris, 9VYY,

    ca(s. GH e GHY.[

    /&D/A @& 4. #&5TO CAP. HV * 4O#/& O T/A#A3O A52A3 @(K/(O

    A vida simples do mon$e %eneditino repartia/se, se$undo a re$ra

    primitiva

  • 8/13/2019 A Antiguidade Tardia em Textos - Religiosidades - Andr Bueno

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    @esde as Caendas de Outubro at ao princpio da "uaresma, que se

    entreguem ? eitura at ao fim da segunda !ora. 5a segunda !ora

    que se)a dita a Ter'a => e ento que todos aborem no traba!o

    que !es for designado, at ? 5ona. Ao primeiro sina da !ora de

    5ona que todos arguem o seu traba!o e se aprontem para o soar

    do segundo sina. @epois da refei'o que se entreguem ? eitura ou

    aos samos.

    5os dias da "uaresma, desde man! at ao fim da terceira !ora,

    entreguem*se ? eitura e da at ao fim da dcima !ora que fa'am

    o traba!o que !es for designado. & nestes dias da "uaresma cada

    um receber- um ivro da bibioteca que er- seguido do principio aofim. &stes ivros devem ser dados no princpio da "uaresma. Z... [

    Aos irmos doentes ou fracos ser- conferida uma tarefa ou ofcio de

    ta nature$a que os manten!a onge da ociosidade e ao mesmo

    tempo no os sobrecarregue ou afaste com traba!o e1cessivo. A

    sua fraque$a deve ser tomada em considera'o peo abade.

    Zs. P. #enedicti, /egua Commentata, capo HV, in E. P. igne,Patroogiae Cursus Competus. 4eries 3atina, t. 3N(, Paris, 9VYY

    ca(s. IU e IH.[

    =9> @ia 9 de Outubro. =G> Primeira !ora canFnica coincidindo com as

    Y !oras da man!. =U> Ofcio re$ado normamente ?s U !oras da

    tarde =nona !ora>. =H> Ofcio ceebrado depois da nona, a !ora

    vari-ve. => Ofcio ceebrado normamente ?s : !oras da man!.