A antropologia brasileira no início do século XX

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO ANTROPOLOGIA DA SAÚDE II GRUPO: MARCELLA MARIA 10912311 PAULO RENATO RAMOS 11012362 SARA CAVALCANTI 10912300 PROFESSORA: MARIA OTÍLIA STORNI ROTEIRO DE ESTUDO SOBRE A ANTROPOLOGIA BRASILEIRA DO INÍCIO DO SÉCULO XX AOS DIAS ATUAIS 1. A antropologia brasileira no início do século XX A antropologia brasileira no início do século XX era pobre na sua manifestação de pensamento. Negros, índios e camponeses, que eram os objetos de estudo desta ciência, eram considerados inexpressivos em vários aspectos, principalmente em termos políticos e econômicos. O Brasil do início do século XX que - vivia os efeitos da proclamação da república, se ajustava à libertação da escravatura, e se adaptava ao cenário da industrialização - tinha como seu foco de estudo antropológico mais dinâmico a corrente do cenário da cafeicultura e produção agrícola de exportação. A antropologia brasileira também foi moldada em relatos de viagens que tinham um interesse ainda desconhecido, em busca da exploração de riquezas em solo brasileiro. Seus autores não se auto-intitulavam como antropólogos, e sim como escritores, historiadores ou até mesmo cronistas. Alguns destes autores merecem destaque: Capistrano de Abreu (historiador), Haroldo de Azevedo (geógrafo) e Euclides da Cunha (escritor de Os Sertões).

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBADEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

ANTROPOLOGIA DA SAÚDE II

GRUPO:MARCELLA MARIA 10912311PAULO RENATO RAMOS 11012362SARA CAVALCANTI 10912300PROFESSORA: MARIA OTÍLIA STORNI

ROTEIRO DE ESTUDO SOBRE A ANTROPOLOGIA BRASILEIRA DO INÍCIO DO SÉCULO XX AOS DIAS ATUAIS

1. A antropologia brasileira no início do século XX

A antropologia brasileira no início do século XX era pobre na sua manifestação de pensamento. Negros, índios e camponeses, que eram os objetos de estudo desta ciência, eram considerados inexpressivos em vários aspectos, principalmente em termos políticos e econômicos. O Brasil do início do século XX que - vivia os efeitos da proclamação da república, se ajustava à libertação da escravatura, e se adaptava ao cenário da industrialização - tinha como seu foco de estudo antropológico mais dinâmico a corrente do cenário da cafeicultura e produção agrícola de exportação.

A antropologia brasileira também foi moldada em relatos de viagens que tinham um interesse ainda desconhecido, em busca da exploração de riquezas em solo brasileiro. Seus autores não se auto-intitulavam como antropólogos, e sim como escritores, historiadores ou até mesmo cronistas. Alguns destes autores merecem destaque: Capistrano de Abreu (historiador), Haroldo de Azevedo (geógrafo) e Euclides da Cunha (escritor de Os Sertões).

2. A antropologia brasileira dos anos 30 a 40

Nos anos 30 e 40, o estudo antropológico era feito nas cidades, sem diferenciação de rural e urbano, através da divulgação de descrições de fenômenos que ocorriam nas cidades. Os objetos de estudo nesta época eram os negros, mestiços, suas religiosidades e marginalidades. Os autores que se destacaram neste momento foram Nina Rodrigues e Arthur Ramos, que se focaram ao estudo dos negros e mestiços. Nina Rodrigues obteve mais relevância em Salvador – BA; Arthur Ramos em Alagoas; e Câmara Cascudo no Rio Grande do Norte. Esses autores eram considerados folcloristas.

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Os autores supracitados buscavam elementos exóticos dos negros e mestiços, na busca de uma comprovação biológico e cultural para concretizar o pensamento de inferioridade dos negros. Nesta época, se buscava a valorização da superioridade racial branca, com a defesa da eugenia considerando todas as raças diferentes, como inferiores. Para fortalecer esses conceitos, o Brasil estava sob a ditadura de Getúlio Vargas, e a Europa estava voltada a pensamentos de pureza racial ariana, devido à Alemanha nazista.

3. Gilberto Freyre, uma nova visão da antropologia brasileira na década de 30 e 40

Gilberto Freyre foi desta mesma época de insinuações preconceituosas, porém ele foi completamente inverso em seus estudos. Gilberto Freyre valorizava a miscigenação, e era intitulado como progressista. Freyre considerava elementos raciais com relação à questões culturais, valorizando assim a contribuição da etnia e cultura negra. Gilberto Freyre foi influenciado pelo antropólogo americano Franz Boas, que foi seu orientador nos Estados Unidos. Porém, Freyre se auto-intitulou sociólogo devido ao seu estudo do comportamento social brasileiro ser bastante generalizado.

4. Kurt Nimuendajú, e as etnografias indígenas do Brasil

Neste período (década de 30 a década de 40), um antropólogo alemão radicado no Brasil, Kurt Nimuendajú, divulgou suas etnografias sobre os índios brasileiros. Ele era vinculado ao Serviço de Proteção ao Índio (atualmente FUNAI), e era um quase desconhecido no Brasil. Kurt Nimuendajú era fascinado pelos índios, tanto que se casou com algumas índias de algumas tribos, o que lhe rendeu ser alvo de duras críticas de membros de algumas dessas tribos. Suas etnografias, juntamente com reportagens sobre ações pacifistas do Marechal Rondon, foram os poucos registros antropológicos indígenas desta época.

5. Estudos de Comunidade

Da década de 40, até meados da década de 60, o funcionalismo ocupava a tendência teórico-metodológica e empírica nas pesquisas antropológicas brasileiras. A Escola de Chicago influenciou o estudo antropológico e social do Brasil, no que diz respeito o estudo de conceitos de processos sociais: conflito cultural, aculturação, e outros similares. No Brasil se aplicou como fundamento teórico os Estudos de Comunidade, que consistia em conceituar pesquisas focalizadas em pequenas cidades do interior brasileiro. Tinha-se uma busca por elaborar uma visão do conjunto da sociedade tradicional pré-industrial. Através desse estudo, a antropologia e sociologia se mesclaram a um ponto de quase se confundirem uma com a outra.

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O Brasil vivia o fim do primeiro governo Vargas, e o mundo sofria os efeitos do fim da Segunda Guerra Mundial. Com essas condições, o Brasil sentiu a necessidade de uma implantação da produção industrial para suprir o déficit de produtos das indústrias européias e norte-americanas, que foram prejudicados pelo conflito mundial. O governo brasileiro investiu na reestruturação da Universidade de São Paulo, que buscava direcionar a formação de mão-de-obra qualificada, que seria utilizada nas indústrias brasileiras. Essa reestruturação foi financiada pela Fundação Ford. Foi esta a fonte dos financiamentos dos Estudos de Comunidade, com a contratação de professores estrangeiros, que vieram principalmente para Universidade de São Paulo. Eles ensinavam e treinavam os futuros pesquisadores que iriam estudar as comunidades interioranas. A Fundação Ford também subsidiou quase todos os antropólogos desta época, que iam terminar seus estudos nos Estados Unidos.

6. A antropologia brasileira da década de 60 e 70

No início dos anos 60, a industrialização do Brasil estava fortemente consolidada, por conta de incentivos de Juscelino Kubistcheck e o investimento estrangeiro. Houve o aumento do entorno industrial do ABCD paulista, com siderúrgicas, fábrica de veículos, máquinas de indústria, além de fábricas alimentícias e de indústria têxteis. Com o crescente número de pessoas que trabalhavam nas indústrias, formaram os primeiros sindicatos trabalhistas – que passaram a ter suas questões trabalhadas por antropólogos e sociólogos – deixando de lado o estudo de cidades interioranas.

Os antropólogos da década de 60 também voltaram seus olhos para o estudo de comunidades indígenas brasileiras, com influência por base funcionalista de Lévi-Strauss e Radcliff-Brown. Essas tribos indígenas eram estudadas sob o olhar “culturalista”, que destacava o exótico dos índios, afastando suas influências sofridas pelos brancos.

Um fato marcante na década de 60 foi o início de uma separação visível da antropologia e da sociologia. A antropologia estava ligada mais ao estudo dos índios, o que tornou o estudo conservador e reacionário. A sociologia contava com a divulgação de idéias marxistas, com pesquisas relacionadas à classe operária. Essa divisão não era bastante afetiva, pois os antropólogos mantiveram uma postura distante da política nacional, e os sociólogos estavam utilizando os conceitos marxistas de modo errôneo.

Nesta década o antropólogo Darcy Ribeiro mereceu grande destaque. Darcy tinha se dedicado ao estudo dos índios brasileiros, mas desviou suas atenções para se dedicar a militância política. Darcy era professor em Brasília e lá ele proclamava discursos esquerdistas nos cursos de Ciências Sociais. O contexto histórico e político foram dados pelo golpe de 1964, que derrubou João Goulart e afastou Darcy Ribeiro; começando assim a Ditadura Militar.

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Com o fim da década de 60 e durante a década de 70, foi elaborada, por Roberto Cardoso de Oliveira, uma teoria que analisava os conflitos existentes entre as relações braço-índio, teoria esta chamada de Teoria da Fricção Interétnica. Também foi escrita a identidade étnica que se aplicava aos índios brasileiros, sendo considerado o início dos elementos teóricos marxistas na Antropologia Brasileira. A partir de então, houve abertura para a atualização da Antropologia brasileira.

Foram feitos estudos com índios do Maranhão (Apinagê) por Roberto da Matta, um aluno de Roberto Cardoso. Posteriormente, ele dedicou-se à cultura brasileira, englobando nesse aspecto, também as cidades. Outros autores dedicaram-se a estudos de camponeses (Octávio Guilherme Velho), antropologia urbana (Gilberto Velho), além de grupos de pescadores artesanais, favelados, entre outros. Todos esses estudos eram realizados principalmente na UNB, Museu Nacional do Rio de Janeiro (UFRJ) e USP.

Foi neste período que houve uma ampliação dos estudos na Antropologia, inclusive com estudos sobre objetos da sociedade urbana (periferia, favelas, pobreza, etc.), movimentos sociais e outras novas temáticas antropológicas, sendo estas influenciadas, principalmente, por teóricos marxistas (George Balandier, Maurice Godelier, entre outros), com ênfase em proletarização e exploração capitalista, por exemplo. Com base em tudo isso, Durham, considera como dificuldades teórico-metodológicas na década de 70, a mistura entre o funcionalismo (coleta de dados), o estruturalismo (observação) e o marxismo (análises).

7. A antropologia brasileira da década de 80 até os dias de hoje

Na antropologia dos anos 80, estava em voga o conceito de intelectual orgânico de Gramsci. Nesse período, os militantes cobravam para que todos saíssem do seu comodismo burguês. A pesquisa militante fez parte da moda pesquisa-ação, essa metodologia foi divulgada pelo antropólogo Carlos Rodrigues Brandão. Os objetos de pesquisa antropológica tornaram-se cada vez mais abrangentes, tais como o estudo do ''lixo'' da sociedade capitalista.

No decorrer dos anos 90, surgiu a antropologia interpretativa, trazida por Roberto Cardoso Oliveira. Nesse mesmo período foi divulgada na USP artigos que citavam os filósofos Georg Simmel e Wittgensttein em questões ligadas às críticas da cultura popular de massa, enfoques de interdisciplinaridade e estudos sobre a complexidade, divulgadas por Edgar de Assis, da PUC de São Paulo que trouxe para o Brasil as idéias filosóficas de Edgar Morim, autor de referência da antropologia.

Destacaram-se em Pernambuco o núcleo de estudos simbólicos com Danielle Rocha Pitta e outros antropólogos, no final dos anos 90, na Paraíba, foi aberto o programa de pós-graduação em Sociologia, que abriu espaço para a Antropologia com temáticas como saúde e cultura. No Norte do Brasil, foram desenvolvidos estudos de populações indígenas e afro-brasileiras. O simbolismo e o estruturalismo marcaram a produção antropológica no Brasil e também no mundo. A Antropologia vem saindo do seu relativismo cultural e se tornando uma ciência que adota posturas solidárias para com as populações excluídas e exploradas.

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REFERÊNCIA:

STORNI, M. O. T. Antropologia do Brasil: história, objetos e autores. IN STORNI, M. O. T. Antropologia, antropólogos e suas tendências. João Pessoa, PB: Manufatura, 2006