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Pontifícia Universidade Católica do Paraná Curso de Pós-Graduação em Gestão Estratégica do Conhecimento e Inteligência Empresarial A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL OTIMIZANDO RESULTADOS DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO BRASÍLIA 2003

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Pontifícia Universidade Católica do Paraná Curso de Pós-Graduação em Gestão Estratégica do Conhecimento e Inteligência

Empresarial

A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL OTIMIZANDO RESULTADOS DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO

BRASÍLIA 2003

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Dione Mary de Cerqueira Barbosa Édison Franklin Almeida

Leonir Bampi Ricardo Nelson Gonçalves

Tereza Cristina Parente Rebello Pinheiro Vilmar Agapito Teixeira

A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL OTIMIZANDO RESULTADOS DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO

Dissertação apresentada à Coordenação do Curso de Pós-graduação em Gestão Estratégica do Conhecimento e Inteligência Empresarial, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito para a obtenção do grau de Pós-graduado. Orientador: Prof. Dr. Carlos Olavo Quandt

BRASÍLIA 2003

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Dione Mary de Cerqueira Barbosa Édison Franklin Almeida

Leonir Bampi Ricardo Nelson Gonçalves

Tereza Cristina Parente Rebello Pinheiro Vilmar Agapito Teixeira

A Aprendizagem Organizacional otimizando resultados do Tribunal de Contas da União

Dissertação aprovada como requisito para a obtenção do grau de Pós-graduado no Curso de Pós-graduação em Gestão Estratégica do Conhecimento e Inteligência Empresarial, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, pela banca examinadora formada pelos professores: Orientador: Prof. Dr. Carlos Olavo Quandt / PUCPR Prof. Dr. Fernando Flávio Pacheco / PUCPR Prof. Dr. Antônio Raimundo dos Santos / PUCPR

Brasília, 14 de novembro de 2003.

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RESUMO Este trabalho tem como objetivo investigar a aprendizagem organizacional no Tribunal de Contas da União – TCU. A partir de uma revisão na literatura, levantou-se, por meio de análises documentais e entrevistas com especialistas da área de educação na organização, a situação das práticas de aprendizagem organizacional, evidenciando as previsões nos planos e a realidade com que ocorrem na instituição. Do cruzamento dessas informações, analisou-se, por pilar sustentador das organizações de aprendizagem (estratégia, cultura, gestão e tecnologia da informação) como a aprendizagem organizacional pode otimizar resultados no TCU. A grande importância deste estudo reside no fato de se agrupar, de forma inédita, grande parte das práticas de aprendizagem apresentadas na literatura e compará-las com a situação encontrada em um órgão público, no caso o TCU.

ABSTRACT This monograph aims to investigate the organizational learning principles at the Brazilian Court of Audit (Tribunal de Contas da União – TCU). Based on a survey in the literature, the status of the organizational learning practices was verified through documental analysis and interviews with specialists on education within the organization. The survey brought to focus the institution’s plans related to organizational learning and how they were implemented. Cross examining this information, taking into account support’s aspects of learning organizations (strategy, culture, management and information technology), it was analysed how this practice can optimize results in TCU. The great importance of this study, which has never been done before, lies upon benchmaking learning practices described in the literature with situations found in the public organization, in this case the Tribunal de Contas da União.

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LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Mudança de Paradigma de Treinamento para Aprendizagem........................................................... 32

Tabela 2 - Características da aprendizagem formal e informal.......................................................................... 32

Tabela 3 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem focadas na Estratégia ............................... 68

Tabela 4 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem focadas na Cultura ................................... 68

Tabela 5 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas em Gestão .......... 69

Tabela 6 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas em TI.................. 70

Tabela 7 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Estratégia90

Tabela 8 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Cultura .. 91

Tabela 9 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Gestão.... 91

Tabela 10 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados em TI........... 92

Tabela 11 - Distribuição de Cargos no TCU ........................................................................................................ 95

Tabela 12 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Estratégia ................. 123

Tabela 13 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Cultura ..................... 123

Tabela 14 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Gestão....................... 124

Tabela 15 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - TI .............................. 125

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Circuitos simples e duplo de aprendizagem....................................................................................... 17

Figura 2 - Modelo dos pilares sustentadores das Organizações que aprendem................................................. 30

Figura 3 - Relação de causa e efeito entre as perspectivas do BSC.................................................................... 44

Figura 4 - Ciclo PDCA........................................................................................................................................ 83

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................8

1 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL: PRINCÍPIOS, CONCEITOS E PRÁTICAS......12

1.1 APRENDIZAGEM ................................................................................................................................. 12

1.2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL ................................................................................................... 15

1.3 ORGANIZAÇÕES DE APRENDIZAGEM .................................................................................................. 24

1.4 PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL................................................................ 30

1.4.1 Paradigma do Treinamento para a Aprendizagem Organizacional ........................................... 31

1.4.2 Aprendizado como Atividade Social: Comunidades de Práticas............................................... 33

1.4.3 Vias de Aprendizagem .............................................................................................................. 36

1.4.4 As Cinco Disciplinas ................................................................................................................. 36

1.5 PILARES DE SUSTENTAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM .................................................... 41

1.5.1 Estratégia................................................................................................................................... 41

1.5.2 Cultura....................................................................................................................................... 45

1.5.3 Gestão........................................................................................................................................ 49

1.5.4 Tecnologia da Informação......................................................................................................... 59

1.6 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL .......................................... 67

2 A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL OTIMIZANDO RESULTADOS NAS ORGANIZAÇÕES..........................................................................................................................71

2.1 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA ESTRATÉGIA ................................................... 73

2.2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA CULTURA........................................................ 77

2.3 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA GESTÃO .......................................................... 80

2.4 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO....................... 85

2.5 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL .......................................... 90

3 A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NO TCU ..............................................................93

3.1 O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO................................................................................................... 93

3.1.1 Modelo Institucional ................................................................................................................. 94

3.1.2 Pessoas ...................................................................................................................................... 95

3.1.3 Jurisdição................................................................................................................................... 96

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3.1.4 Tipos de Controle Adotados...................................................................................................... 98

3.1.5 Deliberações.............................................................................................................................. 99

3.1.6 Planejamento Estratégico ........................................................................................................ 100

3.1.7 Plano de Diretrizes e Planos de Ação...................................................................................... 101

3.2 METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................................................... 102

3.3 COLETA DE DADOS........................................................................................................................... 103

3.3.1 Plano Estratégico do TCU (PET) de 2003-2007 ..................................................................... 103

3.3.2 Plano de Diretrizes do TCU para 2003.................................................................................... 106

3.3.3 Planos Diretores das Unidades Básicas do TCU para 2003 .................................................... 108

3.3.4 Entrevistas com especialistas internos..................................................................................... 109

3.3.5 Relatório de Avaliação de Gestão do TCU em 2002............................................................... 116

3.4 PROJETO ATENA ............................................................................................................................... 120

3.5 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NO TCU.......................... 123

4 COMO A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL PODE OTIMIZAR RESULTADOS NO TCU ...........................................................................................................................................126

4.1 ESTRATÉGIA ..................................................................................................................................... 126

4.2 CULTURA.......................................................................................................................................... 129

4.3 GESTÃO ............................................................................................................................................ 131

4.4 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO ........................................................................................................ 133

CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 135

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 140

ANEXO I ............................................................................................................................... 145

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento desta pesquisa é uma oportunidade para investigar o quanto o

Tribunal de Contas da União - TCU utiliza o processo de aprendizagem organizacional para

otimizar seus resultados.

A dinâmica organizacional tem sido tema bastante explorado nos últimos anos.

Pesquisas e ensaios teóricos comumente abordam mudanças no ambiente corporativo

(estratégias, cultura, gestão e tecnologia da informação) para fazer frente a uma conjuntura

cada vez menos estável. São freqüentes as tentativas de identificar modelos e práticas mais

eficazes, fontes de vantagem competitiva e explicações para o desempenho de pessoas e

organizações.

Diante desse contexto de mudanças constantes e de busca por resultados efetivos,

uma organização pública centenária como o TCU, responsável por assegurar a correta

aplicação dos recursos públicos em benefício da sociedade, deve contemplar, na sua gestão,

práticas de desenvolvimento de pessoas em ambiente de intensa produção de conhecimento e

de ações produtivas complexas. O sucesso da atuação do TCU depende da sua capacidade de

aprender e de mudar as circunstâncias.

Para tanto, necessita-se contar com características nobres do ser humano que compõe

a organização, a exemplo da criatividade, do comprometimento e da motivação para aprender,

da capacidade de saber fazer e querer fazer, e não apenas com habilidades e atitudes próprias

da era industrial, onde a simplicidade das tarefas não exigia maiores envolvimentos pessoais.

Como diz DUTRA (2002, p. 209), “a preparação para o futuro exige dois investimentos

simultâneos. Um na modernização do sistema de gestão das pessoas e outro no estímulo e

suporte ao desenvolvimento das pessoas por si próprias”.

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Portanto, à medida que as organizações tornam-se mais complexas, sofisticadas e

intensivas em conhecimento, surge a necessidade de se implantar práticas de aprendizagem

organizacional como forma de disseminar conhecimentos necessários à perpetuação do

negócio. Entende-se, ainda, que a vida profissional e social oferece às pessoas múltiplas

oportunidades de aprendizagem. O ambiente de trabalho, segundo LE BOTERF (apud

FREITAS et al, 2003, p. 81), “talvez seja o principal espaço educacional dentro da

organização”. Para esse autor (id. ib.), “qualquer situação de trabalho pode tornar-se uma

oportunidade de aprendizagem à medida que constitui um objeto de análise, um momento de

reflexão e de profissionalização”.

A aprendizagem é produto do aprendizado individual e grupal, e é importante para a

competitividade e desenvolvimento da organização. Todavia, esse processo de Educação nas

corporações carece de uma estratégia e de modelos de gestão que facilitem a criação de uma

cultura de aprendizagem, apoiada por infra-estrutura de tecnologia da informação. Certas

práticas e condições internas definem o sucesso de uma organização que aprende, o que

influencia seu desempenho e sobrevivência. Nesse sentido, espera-se que a aprendizagem

organizacional, alinhada às estratégias da organização, produza alternativas para aumentar a

produtividade e, conseqüentemente, resultados efetivos. A adoção de sistema eficaz de gestão

da aprendizagem organizacional pode levar funcionários, clientes, fornecedores, parceiros e

distribuidores a produzirem muito mais quando seus conhecimentos, habilidades e atitudes

estiverem focalizados nas metas a serem atingidas.

Com base no referencial teórico exposto acima, faz-se clara a necessidade de

orientação estratégica para o desenvolvimento de modelo de gestão voltado para o

fortalecimento da aprendizagem organizacional, em especial, no contexto atual de

transformação da gestão pública, onde ganha ênfase a efetividade em relação à eficácia e a

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obtenção de resultados não apenas mensuráveis, mas, principalmente, resultados reconhecidos

como úteis e compensadores pela sociedade.

Espera-se, portanto, que o fortalecimento da capacidade de aprendizagem

gradativamente torne os instrumentos de controle mais integrados, conferindo ao Tribunal

maior visão sistêmica da Administração Pública; possibilite atuação mais célere e objetiva;

favoreça o redirecionamento do controle externo para áreas, programas, projetos, entidades,

obras ou serviços de maior significância sócio-econômica; possibilite incrementos sucessivos

na qualidade dos trabalhos de controle; e possibilite ao Tribunal colaborar cada vez mais para

a efetiva e regular gestão dos recursos públicos, em benefício da sociedade.

Assim, como objetivo geral do presente trabalho pretende-se investigar como a

aprendizagem organizacional pode otimizar resultados do TCU. Nesse sentido, o capítulo 1

trata dos princípios, conceitos e práticas de aprendizagem organizacional levantados na

literatura existente. Apresenta os conceitos de aprendizagem organizacional e organizações de

aprendizagem, além de outros que servirão de referência para o estudo proposto. Aborda,

também, os pilares, considerados neste trabalho, como sustentadores do processo de

aprendizagem organizacional (estratégia, cultura, gestão e tecnologia de informação), e o

quadro teórico de práticas e sinais indutores de aprendizagem organizacional, apontadas pelos

estudiosos do assunto como sinais mais significativos das organizações de aprendizagem.

No segundo capítulo, busca-se trazer exemplos de como as organizações otimizam

resultados por meio da aprendizagem organizacional. São relatados práticas de sucesso no

desenvolvimento da aprendizagem organizacional que contribuíram decisivamente para

alcance de resultados corporativos.

O Capítulo 3, por sua vez, além de apresentar o funcionamento da instituição em

estudo, o Tribunal de Contas da União (TCU), apresenta um diagnóstico de suas práticas de

aprendizagem organizacional. Para identificar essas práticas, utilizou-se de entrevistas com

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especialistas internos e de pesquisa documental nos planos estratégico (2003-2007), de

diretrizes (2003) e diretores das unidades básicas (2003), além do relatório de gestão (2002).

O estudo de como as ações de aprendizagem podem otimizar resultados no TCU,

realizado no Capítulo 4, é dividido por pilar sustentador das organizações de aprendizagem. A

análise resgata as práticas e os sinais de aprendizagem selecionados na revisão de literatura do

Capítulo 1, e as boas práticas de algumas organizações de sucesso, descritas no Capítulo 2,

confrontando-as com o diagnóstico do TCU descrito no Capítulo 3. Dessa análise resultaram

recomendações e outras providências relacionadas à aprendizagem organizacional que podem

auxiliar a instituição no cumprimento eficaz e eficiente de sua missão e no alcance efetivo da

sua visão de futuro.

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1 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL: PRINCÍPIOS, CONCEITOS E

PRÁTICAS

O processo de aprendizagem nas organizações não está mais relacionado apenas com

atividades formais desenvolvidas em ambientes de treinamento, sala de aula, ou qualquer

outra circunstância estruturada. Ele deve estar relacionado a qualquer oportunidade de

criação, aplicação ou disseminação de conhecimentos, cujo foco deve ser o aprendiz, da

forma mais personalizada possível. A aprendizagem tem sido considerada como estratégia de

competitividade ou como um meio para que as organizações desenvolvam competências e

alcancem melhores resultados.

Neste capítulo, apresentam-se diversos entendimentos extraídos da literatura sobre

aprendizagem organizacional e organizações de aprendizagem, e ainda, os conceitos que

servirão de referência para o estudo aqui proposto.

Por fim, aborda-se os pilares, considerados neste trabalho, como sustentadores do

processo de aprendizagem, com foco em resultados, e o quadro teórico de práticas e sinais

indutores de aprendizagem organizacional, apontadas pelos estudiosos do assunto como sinais

mais significativos das organizações de aprendizagem.

1.1 APRENDIZAGEM

A aprendizagem organizacional efetiva-se a partir da aprendizagem individual, pois

quem aprende são as pessoas. Portanto, é preciso discorrer sobre como esse segundo

fenômeno acontece para que possamos explorar o primeiro. A aprendizagem individual é

considerada de suma importância no ambiente organizacional porque a informação entra e é

disseminada na organização por intermédio dos indivíduos.

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Em organizações complexas diferentes tipos de aprendizagem podem ocorrer ao

mesmo tempo e em diferentes direções e velocidades. Os modelos de aprendizagem

individual são sustentados por dois modelos teóricos: modelo behaviorista e o modelo

cognitivista (FLEURY e FLEURY, 1997). O primeiro tem como foco o comportamento,

considerado passível de observação e mensuração. Considera que a análise do comportamento

implica o estudo das relações entre eventos estimuladores, respostas e conseqüências. Para

essa teoria, aprendizagem envolve mudança de comportamento. O segundo modelo é mais

abrangente, procura explicar fenômenos mais complexos, como a aprendizagem de conceitos

e a solução de problemas. Considera dados objetivos, subjetivos, comportamentais e ainda

crenças e percepções dos indivíduos que influenciam na percepção da realidade. A

aprendizagem é considerada nesse modelo como um evento interno, não observável e inferido

através do desempenho das pessoas.

As abordagens de aprendizagem organizacional, atualmente, incorporam esses dois

modelos. Há argumentos que a cognição e o comportamento são tão entrelaçados que é até

contraproducente querer definir aprendizagem como um processo cognitivo ou

comportamental, uma vez que se pode identificar diferentes tipos de aprendizagem

decorrentes de mudanças cognitivas e/ou comportamentais (INKPEN e CROSSAN, 1995).

Nos casos de haver mudança cognitiva sem a correspondente mudança

comportamental ou vice-versa, é gerada uma tensão entre o sistema de crenças da pessoa e as

suas ações o que caracteriza o estado de dissonância cognitiva que significa a incoerência, a

diferença “entre o que a pessoa sabe ou crê e o que faz” (FESTINGER, 1975, p. 11). Esse

estado gera um desconforto que pode levar a pessoa a tentar reduzi-lo por meio da busca de

novas aprendizagens, voltando ao estado de conforto. A organização pode inclusive provocar

essa situação para gerar novos aprendizados.

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A teoria da Gestalt, precursora do cognitivismo, pesquisa a aprendizagem por

insight, que se caracteriza como um processo que, quando completado, dá à pessoa a

impressão de ter subitamente compreendido alguma coisa ou chegado à solução de um

problema. Esse processo depende de conhecimento, experiências anteriores, de tempo para

maturação e estabelecimento de novas relações. Afinal, aprendizagem é um processo de

mudança, resultante de prática ou experiência anterior, que pode vir, ou não, a se manifestar

em mudança perceptível de comportamento (FLEURY e FLEURY, 1997). Já se fala que na

era da revolução, não será o conhecimento que produzirá a nova riqueza, mas o insight,

produzindo inovações descontínuas. Segundo HAMEL (HSM, 2001), “em um mundo não

linear, apenas idéias não lineares criarão novas riquezas, pois a inovação não linear exige

que a empresa rompa os grilhões dos precedentes e imagine soluções inteiramente inéditas

para as necessidades dos clientes”.

O processo de aprendizagem é um processo de mudança que envolve as fases de

aquisição, retenção, transferência e generalização. Portanto a ausência de qualquer uma dessas

dimensões compromete a aprendizagem. Além disso, a aprendizagem depende de certas

condições como a presença de conhecimento anterior e estímulos ambientais. Daí a

importância de cuidados no gerenciamento da aprendizagem nas organizações, pois depende

de aspectos pessoais como interesse em aprender e habilidades cognitivas, como também, de

aspectos relativos a suporte organizacional, tais como: gerência voltada para a aprendizagem,

cultura de valorização da inovação no ambiente de trabalho, permissão para o erro no

processo de experimentação e ambiente propício para transferência de conhecimento.

A aprendizagem pode acontecer por assimilação, que significa absorver informações

para as quais o aprendiz já possui estruturas prontas que se coadunam com a situação

vivenciada, ou por acomodação, que segundo PIAGET (apud PEREIRA, 2003), acontece

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quando o indivíduo passa por uma mudança estrutural interna de suas crenças, idéias e

atitudes, experiência onde o resultado é a transformação do ser.

Um aspecto importante da aprendizagem é a capacidade de desaprender, que é muito

mais difícil de ser desenvolvida do que a capacidade de aprender. Ela se caracteriza pela

renovação dos conhecimentos passados, mesmo aqueles que levaram ao sucesso. À medida

que o conhecimento se consolida ele corre o risco de tornar-se obsoleto em função das

constantes mudanças do ambiente. Portanto, gerenciar a aprendizagem significa promover a

aquisição de novas competências (conhecimentos, habilidades e atitudes), assim como a

eliminação de competências obsoletas e inúteis. Depreende-se que quanto mais lento o

processo de “desaprender”, maior a dificuldade da organização em adaptar-se às mudanças

que o ambiente impõe.

Portanto, embora se reconheça o aprendizado como processo que se inicia no

indivíduo, pode-se dizer que ele é potencializado pela interação social. Em especial, no

desenvolvimento de produtos e serviços intensivos em conhecimento, que se caracterizam

como muito complexos, percebe-se a importância do aprendizado e do trabalho em equipe

envolvendo sucessivas etapas de iteração (esboço, revisão, outra produção e outra revisão).

1.2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL

A aprendizagem organizacional é elo construtivo entre organizações e pessoas,

contribui para a melhoria do desempenho e da produtividade, bem como para a melhores

condições de trabalho. Trata-se, portanto, de mercado de oferta de competências profissionais,

por parte dos trabalhadores do conhecimento, e de investimento, por parte da organização, no

desenvolvimento contínuo de pessoas e na busca de apropriação do conhecimento gerado.

Esse mecanismo econômico-social possibilita a transformação da matéria-prima capital

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humano em capital intelectual da organização. Segundo STEWART (1998, p. 78), “o capital

humano cresce de duas formas: quando a organização utiliza mais o que as pessoas sabem e

quando número maior de pessoas sabe mais coisas úteis para a organização”. Para manter

capital humano que possa ser útil a organização precisa estimular o trabalho em equipe,

comunidades de práticas e outras formas sociais de aprendizado, para que possa ficar menos

dependente do talento individual.

A literatura que trata de aprendizagem organizacional baseia-se em várias disciplinas

como psicologia, administração, sociologia e antropologia. Essa multidisciplinariedade gera

contribuições complementares e às vezes contraditórias. O conceito de aprendizagem

organizacional tem sido usado de formas distintas e algumas vezes aparece em superposição

com outros conceitos como criatividade, mudança, flexibilidade e inovação.

Nota-se, facilmente, que a aprendizagem organizacional é uma construção coletiva

que transforma o conhecimento criado em nível individual em ações concretas em direção aos

objetivos organizacionais. A aprendizagem ocorre no nível individual, mas com a participação

de um fenômeno organizacional mais amplo (STEIL et al, 1999), o que corrobora o que já foi

dito neste estudo sobre o processo de aprendizagem e explica referências à aprendizagem

organizacional como sendo uma metáfora relativa ao aprendizado individual.

Para ARGYRIS e SCHÖN (apud STEIL, 2002), a aprendizagem organizacional é o

processo pelo qual uma organização exercita a sua competência e inteligência coletiva para

responder ao seu ambiente interno e externo. É o processo contínuo de detectar e corrigir

erros, portanto é um processo heurístico de tentativa, erro e contínua correção de rumo. A

organização precisa gerenciar esse processo, pois se não houver ambiente de tolerância ao

erro com foco em desenvolvimento, a aprendizagem fica comprometida. Intolerância ao erro

leva a não fazer e não fazer não leva a aprender.

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A aprendizagem organizacional pode ser de ciclo simples ou incremental e de ciclo

duplo ou transformadora (ARGYRIS apud PEREIRA, 2003). Esse autor afirma que o modelo

de aprendizado mais indicado para mudanças organizacionais profundas é o de circuito duplo,

que permite questionar o que se aprende e revisar princípios e valores, também conhecido

como aprendizagem abrangente. Esse mecanismo deve ser usado em situações que não são

resolvidas com mudanças sucessivas de estratégias e que na verdade se agravam com o

tempo. O aprendizado de ciclo simples atinge apenas o nível de estratégias e processos e é

chamado também de aprendizagem restritiva.

Figura 1 - Circuitos simples e duplo de aprendizagem A aprendizagem organizacional ocorre quando os participantes de uma organização

experimentam uma situação problemática, investigam-na e encontram soluções do interesse

da organização, ou seja, mediante processo de reflexão sobre suas práticas e posterior ação

para reestruturar atividades e atitudes diante da organização (ARGYRIS e SCHÖN, 1996).

Nesse sentido, a tecnologia da informação está dando transparência a coisas que podiam ser

ocultadas. E a transparência requer uma redução dos mecanismos de defesa.

Esses autores usam o conceito de inconsciência habilidosa (não saber mais o que cria

determinada habilidade) e de incompetência habilidosa (que leva as pessoas a erros derivados

da autopreservação, o que vai contra o real aprendizado, pois não leva à conscientização do

que não se sabe). Tais conceitos têm ajudado muito a compreender fenômenos envolvidos no

processo de aprendizagem como necessidades, valores, crenças, suposições, pressupostos,

regras, teorias e conseqüências das nossas ações.

Circuito duplo de aprendizagem

Circuito simples de aprendizagem

Valores

Fundamentais

Ações Erros

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Quanto a influência das estruturas organizacionais no processo da aprendizagem,

observa-se que tanto nas estruturas burocráticas que privilegiam a ordem e a manutenção,

como nas estruturas adhocráticas mais favoráveis à mudança e a flexibilidade, a aprendizagem

ocorre. Nas primeiras a aprendizagem é reativa e incremental, e nas segundas a aprendizagem

é proativa e transformadora. Portanto, o tipo de aprendizagem nas organizações varia num

contínuo de mais preservação para mais voltada ao processo de mudança.

Importante observar que a aprendizagem organizacional pode ser inibida por

movimentos de contra-aprendizagem que ARGYRIS (apud SENGE, 2002) denominou de

argumentação defensiva e de rotinas organizacionais defensivas. A primeira refere-se a ações

desenvolvidas e utilizadas pelas pessoas que as previnem de experimentarem

constrangimentos ou situações ameaçadoras nas organizações. A segunda diz respeito a

rotinas organizacionais que na forma de políticas, práticas e ações, também as previnem

dessas experiências.

Da mesma forma que no processo de aprendizagem individual, as crenças e valores

das pessoas precisam ser levados em consideração no processo de aprendizagem

organizacional, como variáveis significativas quando se quer mudanças reais e duradouras.

Por algum tempo, acreditou-se que bastaria investir na transmissão do conhecimento para que

esse fosse incorporado e utilizado. A transformação do conhecimento em ação, que

caracteriza a competência, depende essencialmente da pessoa querer ser e querer agir. Para

LE BOTERF (apud FLEURY e FLEURY, 2001, p. 20) competência é um “saber responsável

e reconhecido, que implica em mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e

habilidades num contexto profissional determinado”.

A aprendizagem organizacional envolve o processo contínuo de detectar e corrigir

erros. Errar significa aprender, envolvendo autocrítica, a avaliação de riscos, a tolerância ao

fracasso e a correção de rumo, até alcançar os objetivos (SENGE, 2000). Alguns princípios

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para a construção de comunidades que aprendem, sugeridos por (SENGE, 2000), ajudam a

entender aspectos relacionados com o processo de aprendizagem:

1) focalizar em necessidades reais, não construí-la sobre bases abstratas;

2) agir e aprender fazendo;

3) buscar questões unificadoras, que unam as pessoas em torno delas;

4) a busca do momento certo para o desenvolvimento comunitário;

5) promover encontros;

6) declarar os pontos de vista em debate, nos encontros, além dos aprendizados,

anseios, pressupostos, etc;

7) instilar o reconhecimento;

8) realizar envolvimento por completo, utilizando todo tipo de colaboração

possível de maneira criativa;

9) comemorar.

Mas como diz o autor, esses princípios só terão sentido a partir do compartilhamento

da visão, onde pode ser criado um sentimento de coletividade e de coerência entre as diversas

práticas e atividades da organização. Sem isso a aprendizagem coletiva pode parecer abstrata

e sem sentido.

Outra questão a ser considerada é como compatibilizar o processo de aprendizagem

na organização com a concretização de metas organizacionais. O processo de aprendizagem

organizacional não pode mais ser visto como dissociado do trabalho e sim como inerente a

ele. Se as políticas organizacionais não considerarem essa questão, correm o risco de estarem

fortalecendo forças concorrentes as quais desgastam e desanimam os que poderiam estar

produzindo com maior qualidade e efetividade. A organização quer funcionários mais

preparados para enfrentar os atuais e futuros desafios. Caso contrário, eles serão engolidos por

práticas autofágicas que já não mais agregam valor a organização e diminuem a força do seu

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capital humano. “As chances de uma organização mudar com sucesso dependem da

capacidade dos funcionários de aprender novos papéis, processos e habilidades. Essa

capacidade de ativar a inteligência, a inventividade e a energia do funcionário nunca foi tão

primordial quanto na economia do conhecimento” (MEISTER, 1997, p. 7). Para SENGE

(apud FLEURY e FLEURY, 1997, p. 21), “o ser humano vem ao mundo motivado a

aprender, explorar e experimentar, mas a maioria das instituições em nossa sociedade é

orientada mais para controlar do que para aprender, recompensando o desempenho das

pessoas em função de obediência a padrões estabelecidos e não pelo seu desejo de aprender”.

Uma questão importante relativa à aprendizagem nas organizações é como se dá a

passagem do aprendizado individual para o organizacional. Para NONAKA e TAKEUCHI

(1997, p. 80) o processo acontece através da “espiral do conhecimento”, onde o conhecimento

tácito é mobilizado e ampliado na organização através de quatro formas de conversão:

1) “socialização” – conversão do conhecimento tácito para novo conhecimento

tácito – através da observação, imitação ou prática. Há familiarização do

indivíduo com o trabalho, o compartilhamento de experiências e modelos

mentais, mas como não se torna explícito não pode influenciar a empresa como

um todo. Em geral esse processo acontece com o treinamento no ambiente de

trabalho e desenvolve ambiente de interação;

2) “externalização” – de tácito para explícito – essa conversão acontece

normalmente por meio do uso de metáforas, conceitos, analogias, usadas em

geral nos diálogos e reflexões coletivas, o que favorece a articulação do

conhecimento tácito. Os autores consideram essa forma de conversão como a

mais importante para a criação do conhecimento;

3) “combinação” – de explícito para explícito – significa a combinação e

reconfiguração de vários conjuntos de conhecimentos explícitos, como

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documentos, textos, e-mails, etc, que disponibilizados, podem levar a novos

conhecimentos. Esse processo normalmente é utilizado em ações formais de

aprendizagem;

4) “internalização” – de explícito para tácito – quando um conhecimento novo é

compartilhado com toda a organização, outros funcionários começam a

reformulá-lo e internalizá-lo, ou seja a usar esse conhecimento para alargar,

estender e reestruturar o seu próprio conhecimento tácito. As ações de

aprendizagem que utilizam as simulações e experimentos facilitam essa forma

de conversão.

Essas formas de conversão dependem também da cultura organizacional. Assim, uma

estratégia válida para as organizações de aprendizagem seria associar o conhecimento

explícito e tácito. No primeiro caso, estimulando a comunicação do conhecimento através de

práticas formais de aprendizagem, como treinamentos, palestras, encontros técnicos, etc. E no

segundo caso, estimulando iniciativas que privilegiem a experiência, a observação, a imitação,

a reflexão e a prática do aprendiz. Numa empresa criadora do conhecimento os quatro tipos de

conversão existem e interagem. A atividade central de uma empresa criadora de conhecimento

consiste em tornar os conhecimentos pessoais disponíveis para todos, continuamente e em

todos os níveis da organização. Para NONAKA (apud STARKEY, 1997), inovações

contínuas dependem de se conseguir recolher percepções tácitas e com freqüência altamente

subjetivas, intuições e palpites de empregados, e tornar essas percepções disponíveis para

prova e uso de toda a empresa.

O conhecimento explícito é formal e sistemático e por isso facilmente compartilhado.

O conhecimento tácito é pessoal, difícil de se formalizar e, portanto, de compartilhar. Além

disso, está enraizado na ação e no envolvimento de uma pessoa em dado contexto. O

conhecimento tácito tem uma dimensão cognitiva importante que consiste em modelos

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mentais, crenças e perspectivas entranhadas que são automaticamente tomadas como

verdadeiras e, portanto, difíceis de serem articuladas. Quando os funcionários inventam um

conhecimento novo, eles estão se reinventando e a própria empresa. É um processo contínuo

de autorenovação pessoal e organizacional. Esse é um aspecto ainda pouco explorado no que

se refere a motivação das pessoas para participarem de projetos inovadores. Elas podem vir a

enxergar nessa participação uma oportunidade de recomeçar, de melhor aproveitar seus

recursos pessoais, de serem reconhecidas, de serem respeitadas, de autorealizar-se.

Autores que tratam de desenvolvimento organizacional dizem que os trabalhadores

do conhecimento dividem sua lealdade entre sua profissão, por um lado, e a organização

empregadora, por outro. O comprometimento dos trabalhadores com a empresa ocorrerá

desde que lhes forneçam recursos necessários para trabalhar em projetos interessantes. Se isso

não ocorrer, os trabalhadores do conhecimento procurarão outros espaços para articular suas

idéias.

Uma situação de trabalho não é automaticamente uma oportunidade de

aprendizagem. Será preciso que ela seja objeto de certo tratamento para se tornar uma

oportunidade. Para LE BOTERF (apud FREITAS et al, 2003, p. 81) “qualquer situação de

trabalho pode tornar-se uma oportunidade de aprendizagem à medida que constitui um

objeto de análise, um momento de reflexão e de profissionalização”.

As empresas criadoras de conhecimento estão tão envolvidas com idéias quanto com

ideais. Nesse processo é o comprometimento pessoal dos empregados com a organização, o

sentido de identidade do funcionário em relação à missão da empresa, que fará a diferença.

Para que isso aconteça é preciso que a empresa tenha uma compreensão compartilhada do que

quer e defende. É importante que a empresa estimule os funcionários a reexaminar tudo o que

automaticamente tomam como verdadeiro, e os gerentes podem ajudar oferecendo uma

estrutura conceitual que os ajude nesse processo. Os membros de uma equipe, através da

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prática do diálogo, reúnem suas informações e as examinam de diferentes ângulos e, com o

tempo, chegam a integrar suas perspectivas individuais em uma perspectiva coletiva.

Esse diálogo pode e deve envolver quantidade considerável de conflitos e

desacordos. Mas, é exatamente esse conflito que impulsiona as pessoas a questionar premissas

existentes e dar sentido a suas vivências em uma nova forma. Para SNYDER e CUMMING

(apud STEIL, 2002) o que os indivíduos aprendem em uma organização pode ou não se

transformar em aprendizagem organizacional. Ela torna-se organizacional na medida em que:

é realizada para alcançar propósitos organizacionais; é compartilhada com os membros da

organização; os resultados da aprendizagem são incorporados em sistemas, estrutura e cultura

organizacionais. A aprendizagem vai ultrapassar o nível individual à medida que as

organizações desenvolvam sistemas e ambiente que facilitem a transferência da aprendizagem

individual para o nível grupal e organizacional, ou seja, quando o conhecimento dentro da

organização se materializar nas rotinas, regras, procedimentos, estrutura e na cultura.

A partir desse conceito, considera-se que o principal desafio das organizações, no

que se refere a aprendizagem, é o de criar condições para auxiliar a transferência do

conhecimento individual para o organizacional. Daí a importância da existência de um

modelo de gestão de pessoas que considere o aprendizado (captura e desenvolvimento de

competências), em todos os seus mecanismos institucionais, tais como: seleção e

recrutamento, avaliação de desempenho, sistema de sucessão gerencial, alocação de pessoas e

remuneração.

Pode-se deduzir, a partir de todos esses conceitos, que a aprendizagem

organizacional supõe um novo entendimento da realidade em que se vive, da forma como se

trabalha, das relações que se estabelecem entre as pessoas e das práticas organizacionais, que

deliberadamente procuram aproveitar e estimular a criação de conhecimento.

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1.3 ORGANIZAÇÕES DE APRENDIZAGEM

Empresas que propositadamente desenvolvem estratégias para gerenciar o

conhecimento ou condições para fortalecer a aprendizagem organizacional são reconhecidas

como organizações que aprendem. O que essa expressão denota é a necessidade das pessoas

nas organizações estarem em aprendizado contínuo para melhorar e mudar seu trabalho, cada

vez mais intensivo em conhecimento. Uma empresa baseada em conhecimento é uma

organização de aprendizagem que reconhece o conhecimento como um recurso estratégico.

As pessoas envolvidas nos processos produtivo e suas relações assumem uma

importância distintiva, pois são elas que criam o conhecimento, capturam, disseminam e

utilizam. O poder em organizações do conhecimento não vem mais do nível hierárquico, mas

do próprio conhecimento, que passa a exigir novos perfis profissionais para esse novo

trabalhador do conhecimento (SVEIBY, 1998).

Uma organização que aprende desenvolve a prática de refletir sobre o desempenho

atual e os fatores geradores, de pensar em várias possibilidades de futuro, de escolher o que

deseja, de planejar e implementar ações para se mover para a nova situação escolhida, ou seja,

adquire a capacidade de criar o futuro que deseja. Esse processo de gestão da aprendizagem

organizacional passa pela medição de resultados a partir da elaboração de um conjunto de

indicadores e medidores da aprendizagem organizacional. São organizações mais flexíveis,

adaptáveis e mais capacitadas a decidir e construir seu próprio futuro. Para PEDLER (apud

FERNANDES, 1998, p. 2), a organização que aprende é “uma organização que facilita o

aprendizado de todos os seus membros, transformando-se continuamente”. Para SENGE

(apud TERRA, 2001, p. 65) nas “organizações que aprendem as pessoas expandem

continuamente sua capacidade de criar resultados que elas realmente desejam, onde

maneiras novas e expansivas de pensar são encorajadas, onde a aspiração coletiva é livre, e

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onde as pessoas estão constantemente ‘aprendendo a aprender’ coletivamente”. Esse autor

acrescenta (id.): “essas organizações são mais flexíveis e tem maior capacidade de se

adaptarem e se reinventarem a cada momento”.

Para SENGE (1999), a essência da organização que aprende está num ciclo intenso

de aprendizado que consiste num processo contínuo de desenvolvimento de capacidades e

habilidades individuais que permitem aos membros da organização criarem novas percepções

e sensibilidades a respeito da realidade que vivem, possibilitando o desenvolvimento de novas

crenças e competências. E ele sugere a prática das “cinco disciplinas” básicas do aprendizado

como forma de ativar esse processo: domínio pessoal, visão compartilhada, modelos mentais,

aprendizado em equipe e pensamento sistêmico.

As definições mais comuns de uma organização que aprende enfatizam sua

capacidade de adaptação a aceleradas mudanças que ocorrem no mundo. Capacidade para

aprender, adaptar-se e mudar. Para GARVIN (apud FLEURY e FLEURY, 1997, p. 21),

“organizações que aprendem são organizações capacitadas em criar, adquirir e transferir

conhecimentos e em modificar seus comportamentos para refletir esses novos conhecimentos

e idéias”.

De fato, os motivos mais evidentes que levaram as empresas a considerarem a

aprendizagem organizacional como uma grande alavanca do processo produtivo foram as

grandes, rápidas e contínuas mudanças no ambiente externo das organizações que as levaram

a busca do desenvolvimento de novas estruturas e sistemas mais adaptáveis e eficientes para

dar respostas às mudanças, além dos avanços tecnológicos que exigem pessoas mais

qualificadas. O caso típico é o das empresas japonesas. Os japoneses possuem uma devoção

quase frenética à aprendizagem. Para eles a aprendizagem é um processo contínuo, adaptativo

e interativo que os habilita à inovação de produtos e processos e a conseqüente

competitividade de sua indústria (IMAI, 1990).

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Observa-se, portanto, que a aprendizagem organizacional se impõe como uma

necessidade fundamental na economia do conhecimento, onde os negócios estão mais

complexos, muito dinâmicos e os conhecimentos se tornam obsoletos rapidamente, o que

exige a necessidade de constante busca de novas competências. Daí a importância de maior

investimento no processo de desenvolvimento de atitudes relacionadas com o saber, mais do

que o próprio saber.

As quatro aprendizagens consideradas como essenciais para o profissional do século

XXI pela UNESCO (apud DELORS, 1998), que conforme já foi dito, enfrentará um contexto

de grandes e rápidas mudanças em todas dimensões da sua vida, são:

1) “aprender a conhecer” – conciliar cultura geral, um repertório cultural

abrangente, com conhecimento técnico específico. Para DELORS (apud

FREITAS et al, 2003, p. 91), a cultura geral representa “o passaporte para a

educação permanente, na medida em que desperta o gosto e fornece as bases

para se aprender ao longo de toda a vida”;

2) “aprender a fazer” – diante do aumento da complexidade do trabalho, das

situações inusitadas que se apresentam é fundamental que as pessoas se lancem

às ações com o espírito de aprender fazendo, pois não se pode mais imaginar

que alguém esteja totalmente preparado primeiro para depois começar a agir. O

trabalho será cada vez mais desafiador e menos prescritivo. Assim, ZARIFIAN

(1999, p. 68) define competência como “a tomada de iniciativa e de

responsabilidade pelo indivíduo em relação a situações profissionais às quais

ele é confrontado”;

3) “aprender a viver junto” – reconhecimento por parte de todos da

interdependência. É muito difícil encontrar alguém que domine todas as

dimensões de ações complexas como as que estão sendo postas para o

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trabalhador do conhecimento. Portanto o sucesso dessas ações depende do

envolvimento de várias pessoas, que precisam aprender a conhecer mais sobre

o outro, sua história, seus valores, suas crenças, aceitar e reconhecer o ganho

da diversidade humana na realização de projetos comuns;

4) “aprender a ser” – abrange o desenvolvimento da autonomia e

responsabilidade profissional e social (cidadania) e responsabilidade pelo

autodesenvolvimento de forma que se sinta apto a lidar com situações

profissionais complexas, onde são envolvidos conflitos, necessidades de

tomadas de decisão rápidas, enfrentamento de situações nunca vividas antes,

etc.

O estudo das estratégias adotadas, das políticas estabelecidas, das práticas e rotinas

mais valorizadas e exercitadas possibilita avaliar o nível de interesse de uma organização por

mudanças e inovações. Assim, fica clara a relação da aprendizagem com o processo de

mudança organizacional. E pode-se inferir que uma organização, na figura de seus dirigentes,

que não quer mudar, não desenvolverá deliberadamente um ambiente propício à

aprendizagem, o que exige maior atenção e esforço dos seus membros nessa direção. Será,

então, um processo mais longo, e árduo.

Assim, para se atingir uma verdadeira cultura de aprendizagem será necessário reunir

uma arquitetura de idéias norteadoras, inovações em infra-estrutura, teoria, métodos e

ferramentas. Esse é o traço característico das recomendações e análises dos diversos autores

que tratam do tema. Para CABRAL (2000, p. 227-247) a aprendizagem organizacional se

apóia em quatro elementos, muito semelhantes aos que suportam o processo de inovação:

cultura, estratégia, estrutura e ambiente. A diferença entre a abordagem da inovação e da

aprendizagem estaria na visão dos resultados almejados, pois, enquanto a inovação focaria o

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desempenho econômico e a competitividade, a aprendizagem organizacional pretende

alavancar os processos de gestão.

O processo de aprendizagem numa organização envolve a identificação dos

conhecimentos de que a organização necessita, o desenvolvimento ou aquisição dessas

competências e a sua estruturação, disseminação, uso e incorporação no processo produtivo.

Assim, a Aprendizagem Organizacional é identificada como uma prática da “Gestão do

Conhecimento”, juntamente com a “Educação Corporativa”, a “Gestão de Competências”, a

“Gestão do Capital Intelectual” e a “Inteligência Empresarial ou Organizacional” (SANTOS

et al, 2001).

Conforme demonstrado por SANTOS et al (2001, p. 265), algumas condições são

exigidas para a implantação da Gestão do Conhecimento. Essas condições devem ser

interpretadas como extensivas às suas práticas, tendo em vista o grau de integração e

interdependência entre elas, com vistas a atender às suas diferentes funções. Dentre essas

condições, destacam-se:

1) “uma visão estratégica do negócio, percebendo o conhecimento como um

(novo) recurso que propiciará vantagem competitiva e perpetuidade nos

propósitos da organização;

2) uma cultura organizacional favorável ao ambiente de inovação e criatividade,

estimulando as práticas de Gestão do Conhecimento;

3) um modelo de gestão de natureza flexível, propiciando agilidade e

adaptabilidade diante das mudanças do ambiente externo que exigem um

permanente aprendizado organizacional;

4) uma infra-estrutura de tecnologia, sobretudo na área de gestão da

informação, que facilite e agilize o uso de bases de dados e da conversão de

conhecimento tácito em conhecimento explícito;

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5) uma liderança pró-ativa e visionária que estimule permanentemente a busca de

novos conhecimentos e que priorize o capital humano da organização como

seu principal ativo.”

Observa-se que a aprendizagem organizacional é um processo de transformação no

qual as partes interessadas contribuem por meio de sua aprendizagem “individual”. Ao

esclarecer um pouco mais esse conceito, FINGER e BRAND (apud EASTERBY-SMITH,

2001) definem aprendizagem organizacional como meio, e organização de aprendizagem

como fim, o elemento adicional é a estratégia organizacional, ou seja, a aprendizagem

organizacional é apenas um meio para alcançar a estratégia. Nesse sentido, tornar-se uma

organização de aprendizagem deve ser um dos objetivos estratégicos das organizações.

Portanto, pode-se depreender que a expressão aprendizagem organizacional refere-se

a como os diferentes recursos da organização – pessoas, informações, tecnologia etc. –

interagem, com o objetivo de promover mudanças de crenças, comportamentos, atitudes,

cultura com vistas a melhoria ou transformação das práticas e do desempenho

organizacionais. Já a expressão organização de aprendizagem refere-se ao ambiente onde a

aprendizagem acontece e que deveria contar com condições como estratégias, cultura, modelo

de gestão e tecnologias que favoreçam o desenvolvimento da aprendizagem.

Reconhecendo, dessa forma, que a aprendizagem organizacional agrega valor aos

resultados da organização, gera inovação/melhoria, muda ou cria condições para a mudança

de comportamento e se traduz na essência do compartilhamento do conhecimento, passa-se a

adotar, no contexto deste trabalho, como definição de aprendizagem organizacional, o

seguinte conceito: processo de criação, compartilhamento e utilização de conhecimento

pelo qual são desenvolvidas as competências organizacionais, visando expandir a

capacidade de gerar resultados relevantes para a organização.

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Da mesma forma, reconhecendo que o ambiente de aprendizagem é determinado

pelo grau de alinhamento e coerência de esforços organizacionais, adota-se, o seguinte

conceito para organização que aprende (organização de aprendizagem): ambiente onde

as estratégias, a cultura, o modelo de gestão e as tecnologias da informação propiciam a

aprendizagem organizacional.

Figura 2 - Modelo dos pilares sustentadores das Organizações que aprendem

Mais adiante, no item 1.5 – Pilares de Sustentação das Organizações que Aprendem,

discorre-se sobre as características de cada uma dessas dimensões que suportam as políticas e

práticas de aprendizagem organizacional.

1.4 PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL

Considerando os conceitos anteriores oriundos de estudos que constantemente estão

buscando novas respostas para um mundo novo, é que as organizações começaram a repensar

seus processos de aprendizagem e sentiram a necessidade de alinhamento com a realidade

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atual. Assim novos princípios e práticas de aprendizagem organizacional estão sendo postos e

discutidos, dos quais se evidenciam a seguir o paradigma do treinamento para a aprendizagem

organizacional, o aprendizado como atividade social, as vias de aprendizagem e as cinco

disciplinas.

1.4.1 Paradigma do Treinamento para a Aprendizagem Organizacional

As práticas de treinamento formais ou informais devem ser revistas para que possam

melhor atender as necessidades da sociedade que exige maior rapidez e efetividade nas ações

de aprendizagem, de forma a melhor atender seus clientes e manterem ou desenvolverem sua

essencialidade. STEWART (1999, p. 358) propõe algumas práticas para dar maior eficácia

aos treinamentos:

1) “Enfatize os treinamentos em ação” – o treinamento em sala de aula tem baixa

eficácia: metade dos participantes continuam ligados no trabalho de verdade, e

outra metade desliga-se tanto que não fica atenta nem ao treinamento. Além

disso metade dos participantes já sabe a maior parte do que está sendo

apresentado e a outra metade não precisará disso tão cedo. O aprender fazendo

tem várias vantagens: funciona, enquanto aprendem estão trabalhando e já

promovendo retorno para a empresa, tratam de aspectos reais do negócio da

empresa, o aprendizado em ação constrói redes sociais, chama a atenção da alta

gerência para os talentos da organização;

2) “Impregne o aprendizado informal ao trabalho cotidiano” – há provas de que

as pessoas aprendem mais com treinamento informal do que com instruções

formais em sala de aula. O investimento é imediato para o empregado e para o

empregador; impulsiona o moral e contribui para a retenção de pessoal;

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3) “Treine para o trabalho de hoje, não para o de amanhã e treine para

aumentar a flexibilidade geral da força de trabalho” – precisamos contar com

pessoas competentes em todos os níveis e em todos os cargos para aumentar

nossa capacidade de responder às mudanças e aproveitar as oportunidades;

4) “Foco nas habilidades-chave e nos trabalhadores do conhecimento” – o

treinamento deve enfatizar os pontos que diferenciam a empresa das outras

(competências estratégicas). Quanto aos treinamentos genéricos, compre-os

prontos. Concentre seus esforços no que torna sua empresa única e singular.

As tabelas a seguir apresentam as principais características da mudança do

paradigma do treinamento para aprendizagem e da aprendizagem formal e informal.

Antigo paradigma de treinamento Paradigma de aprendizagem no século XXI

Prédio Local Aprendizagem disponível sempre que solicitada – em qualquer lugar, a qualquer hora

Atualizar qualificações técnicas Conteúdo Desenvolver competências básicas do ambiente de negócios

Aprender ouvindo Metodologia Aprender agindo

Funcionários internos Público-alvo Equipes de funcionários, clientes e fornecedores de produtos

Professores/Consultores de Universidades Externas

Corpo Docente

Gerentes seniors internos e um consórcio de Professores Universitários e Consultores

Evento único Freqüência Processo contínuo de aprendizagem Desenvolver o estoque de qualificações do indivíduo Meta Solucionar problemas empresariais reais e

melhorar o desempenho no trabalho

Fonte: 1997, Corporate University Xchange, Inc. Tabela 1 - Mudança de Paradigma de Treinamento para Aprendizagem.

Aprendizagem informal Aprendizagem formal

Altamente relevante para as necessidades do indivíduo Relevante para alguns, não tanto para outros

A aprendizagem varia entre os aprendizes – esses aprendem coisas diferentes dependendo da necessidade

Espera-se que a aprendizagem seja constante entre os aprendizes. Todos eles são expostos às mesmas coisas

Pequena defasagem entre o conhecimento atual e o alvo

Defasagens variáveis entre conhecimento atual e o alvo

O aprendiz decide como fará a aprendizagem O treinador decide como ocorrerá a aprendizagem Aplicabilidade imediata (aprendizagem “just-in-time”)

Tempo variável para a aplicabilidade – poderia ser próxima a aprendizagem, bem antes oou muito depois

Ocorre no ambiente de trabalho Ocorre em ambiente que não é de trabalho (frequentemente)

Fonte: adaptado do Center for Workforce Development, Education Development Center, Inc., The Teaching Firm: Where Productive Work and Learning Converge, Newton, Mass.: Center For Workforce Development, Education Development Center, jan. 1998, p. 177.

Tabela 2 - Características da aprendizagem formal e informal

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A falta de referenciais consistentes para o desenvolvimento de ações de treinamento

e desenvolvimento nas organizações tem denegrido sua contribuição, tem tornado muito caro

o processo e gerado baixa motivação dos participantes. Sem esses referenciais não se pode

estabelecer a relação entre acões de treinamento e aprendizado organizacional. BROWN

(apud STEWART, 1998, p. 84), diretor do Centro de Pesquisas do Aprendizado (CPA), da

Xerox Document Co., afirmou que a falsa correlação entre o aprendizado com treinamento e

educação constitui hoje um dos erros mais comuns e mais caros da gerência das empresas.

O Canadian Imperial Bank of Commerce (CIBC) aboliu o treinamento e passou a

desenvolver o modelo de competências, onde os clientes descrevem o que esperam das

pessoas com que lidam no Banco, considerando os vários papéis funcionais. No Banco, de

posse de seus mapas de competência, que mostram suas lacunas de competências, os

funcionários têm acesso a livros e softwares na “Sala de Aprendizado” de cada filial; os

gerentes são instruídos a deixar que os colegas aprendam com eles e se necessário podem

fazer cursos. O banco define as competências essenciais da empresa e mostra aos indivíduos

como se desenvolverem dentro dela (STEWART, 1998, p. 84).

1.4.2 Aprendizado como Atividade Social: Comunidades de Práticas

A principal descoberta do Centro de Pesquisa do Aprendizado (CPA) da Xerox é que

o aprendizado constitui uma atividade social, ocorre em grupos, embora nem todos os grupos

sejam oportunidades de aprendizado. Grupos que aprendem, são comunidades de prática que

têm características especiais. Surgem espontaneamente, portanto é um grupo informal, por

sentirem-se atraídas por uma força que é tanto social quanto profissional, cooperam de forma

direta, sondam-se mutuamente, ensinam uns aos outros, exploram juntos um novo assunto.

Não se pode criar comunidades dessas por decreto, mas facilmente podem ser destruídas por

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práticas gerenciais incompatíveis com o seu desenvolvimento. Características das

comunidades de prática do CPA, descritas por WENGER (apud STEWART, 1998, p. 86):

1) elas têm história, desenvolvem-se ao longo do tempo;

2) elas têm um empreendimento e não uma agenda, ou seja elas se formam em

torno de uma tentativa de agregar valor a algo do qual todos os membros estão

participando;

3) o empreendimento envolve aprendizado – com o tempo as comunidades

encontram uma forma de lidar com o mundo que compartilham.

As comunidades de prática são responsáveis por si mesmas. Ninguém as possui. As

pessoas entram e ficam porque têm algo a aprender e algo com que contribuir. O trabalho

realizado é de propriedade do grupo. Elas realizam dois trabalhos principais de formação do

capital humano: transferência do conhecimento e inovação.

Pesquisas realizadas a respeito do porque de alguns grupos formais demorarem mais

do que outros na realização de uma tarefa demonstraram que as pessoas não se comunicavam

formalmente, portanto não podiam entender os papéis e as necessidades uns dos outros e não

podiam resolver os problemas juntos. Mostra a importância dos grupos de trabalho terem um

senso mútuo de propósito e o compartilhamento de idéias de forma a diminuir o tempo

necessário para encontrar respostas.

Sabe-se que as organizações, mais do que nunca, precisam de grupos informais e até

muitas vezes invisíveis na organização, e que sejam imunes à gerência no sentido

convencional. A estrutura formal pode erguer barreiras ao aprendizado, como a dificuldade de

expor suas idéias de forma que se sintam livres. Os gerentes podem ajudar essas comunidades

reconhecendo sua importância, pelo menos dentro das unidades de negócio. É mais difícil isso

acontecer quando as comunidades cruzam fronteiras mesmo dentro do limite organizacional.

Alguns gerentes ainda têm dificuldade de enxergar os ganhos organizacionais que esses

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grupos podem gerar, até porque têm um olhar mais forte para os problemas e soluções com

foco na sua área de atuação. Falta-lhes muitas vezes a visão sistêmica da organização, e ainda

contribui para isso o reconhecimento dado pela organização na maioria das vezes, mais pela

atuação e sucesso local, do que pela atuação integrada. Isso reforça o olhar voltado para

dentro da unidade de negócio.

BARLEY (apud STEWART, 1998, p. 90), professor da Universidade de Stanford

(EUA) diz: “Com a proliferação das comunidades de prática, os princípios ocupacionais

começam a concorrer com os princípios administrativos. As responsabilidades de uma pessoa

para com a comunidade das quais ela faz parte entram em conflito muitas vezes com as

regras e os interesses da empresa na qual ela trabalha”. STEWART (1998), diz que cada vez

mais os trabalhadores do conhecimento, que levam para seu trabalho não só seus corpos mas

também suas mentes e até suas almas, oferecem sua mais profunda lealdade às suas profissões

e comunidades de prática, e não aos seus empregadores: podemos alugar as pessoas, mas não

podemos possuí-las. A entrega do capital humano a empresa tem que ser voluntária.

É possível criar laços fortes entre as pessoas e a organização estimulando o

desenvolvimento de comunidades de prática em áreas consideradas estratégicas – as

atividades difíceis de substituir. Essas comunidades de aprendizado criam e socializam o

conhecimento. MINTZBERG (1998) afirma que as estruturas organizacionais tradicionais não

são capazes de introduzir “sofisticação inovadora”. Ele cita o modelo adhocrático como mais

favorável a esse processo onde os gerentes “raramente gerenciam no sentido usual de dar

ordens; em vez disso, passam boa parte do tempo agindo na forma de elemento de ligação

para coordenar o trabalho lateralmente, entre as diversas equipes que executam seu

trabalho” (MINTZBERG, 1998, p. 239).

Os grupos de comunidade de prática, em última análise, imitam as práticas das

pequenas empresas onde praticamente não existe burocracia, a comunicação é rápida e sem

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barreiras físicas ou organizacionais e onde é valorizado um alto grau de sentimento de

identidade grupal e lealdade. É um ambiente que estimula a interatividade e a inovação.

1.4.3 Vias de Aprendizagem

São canais onde a aprendizagem flui naturalmente e as pessoas interagem, geram

conhecimento, aprendem e se desenvolvem. GARVIN (apud FLEURY e FLEURY, 1997, p.

23), propôs cinco vias pelas quais a aprendizagem organizacional pode ocorrer, a saber:

1) “resolução sistemática de problemas” – envolve diagnóstico elaborados com

métodos científicos, uso de dados para a tomada de decisão e uso de

ferramental estatístico para organizar as informações e fazer inferências;

2) “experimentação” – que envolve a procura e teste de novos conhecimentos;

3) “experiências passadas” – tornando disponível a todos os sucessos e fracassos

cometidos;

4) “circulação de conhecimento” – as novas idéias devem ser disponibilizadas e

compartilhadas;

5) “experiências realizadas por outros” – observar e aprender com as

experiências dos outros.

As vias de aprendizagem são práticas de aprendizagem evidenciadas em qualquer

organização, em menor ou maior grau de ocorrência. Entretanto, tais práticas devem ser

institucionalizadas e freqüentes para servir de veículo de difusão do conhecimento.

1.4.4 As Cinco Disciplinas

“As Cinco Disciplinas” foram propostas por SENGE (2000) como práticas para o

processo de inovação e aprendizagem, que considera a capacidade de adaptação às mudanças

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aceleradas e contínuas do mundo que vivemos e o desejo humano de ser criativo e produtivo.

Esse autor, foca no princípio o indivíduo, seu processo de autoconhecimento, depois passa

para o grupo e finalmente para a organização através do desenvolvimento do raciocínio

sistêmico que deverá ser considerado em qualquer prática da organização.

1.4.4.1 Domínio Pessoal

É a disciplina de entender seus próprios objetivos, de esclarecer o que é realmente

importante para si (seus projetos pessoais), pelo autoconhecimento contínuo, e de ver a

realidade de forma objetiva, com maior clareza, o que gera dentro de si a chamada “tensão

criativa” responsável pela busca de soluções.

O domínio pessoal vai além da competência, da abertura espiritual, significa viver a

vida de forma criativa e não apenas reativa. “A necessidade de criar não se limita unicamente

ao campo das artes, podendo englobar tudo que diz respeito à vida, do mundano ao mais

profundo” (FRITZ apud SENGE, 1990, p. 137). O domínio pessoal implica em um nível

especial de proficiência em todos os aspectos da vida pessoal e profissional e em

desenvolvimento emocional o maior grau de alavancagem para desenvolvermos o nosso

potencial (SENGE, 2000, p. 138). Pessoas com alto nível de domínio pessoal vivem em

contínua aprendizagem, pois acreditam que nunca estão prontos e que a recompensa é a

viagem.

1.4.4.2 Modelos Mentais

São imagens que as pessoas formam sobre o funcionamento do mundo que limitam e

determinam suas formas habituais de pensar e de agir. São idéias profundamente enraizadas e

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tidas como verdades absolutas e que não consideram sua incompletude humana. O problema

dos modelos mentais não está em ser certo ou errado, mas surge quando eles são tácitos, estão

abaixo do nível de consciência, não sendo assim examinados, avaliados e possivelmente

mudados.

Mas os modelos mentais podem impedir o aprendizado como podem também

acelerar, desde que se adotem práticas organizacionais que favoreçam a externalização dos

seus modelos mentais e crie-se o hábito de reavaliação constante, ajudando aos tomadores de

decisão, em especial, a reformular sua visão de mundo.

É fundamental que as pessoas nas organizações reconheçam que o que temos são

suposições e não verdades absolutas, vistas através do nosso modelo mental. Esse é formado

em determinado momento da nossa vida e se não o reavaliarmos, mais nos atrapalha do que

nos ajuda.

Por mais que façamos nossas reavaliações, são sempre incompletas e cronicamente

não sistêmicas. Para ARGYRIS e SCHÖN (1996), os indivíduos desenvolvem rotinas

defensivas para proteger seus modelos mentais. Essas rotinas são as que impedem a

reavaliação dos seus modelos mentais.

Empresas vêm aperfeiçoando seu trabalho com modelos mentais, por meio do

desenvolvimento de técnicas básicas de reflexão, exposição e análise de modelos mentais.

SENGE (2000) destaca o desenvolvimento de capacidades e habilidades individuais de

reflexão e conversação sobre premissas e padrões de comportamento que permitam aos atores

organizacionais a criação de novas percepções sobre a realidade em que vivem e para a

descoberta dos modelos mentais existentes, inclusive, para identificar se o modelo mental que

norteia as ações dos membros da organização é favorável ao processo de aprendizagem ou

bloqueador.

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Como prática desse processo SENGE (2000) sugere identificar os modelos mentais

predominantes nos tomadores de decisão por meio de entrevistas ou observação de

comportamentos em reuniões, observar o processo de comunicação entre pares e entre os

diversos segmentos hierárquicos, a forma como acontecem os relacionamentos interpessoais

na organização, o comportamento dos gestores de diferentes níveis hierárquicos, frente a

situações novas e relevantes e frente a sugestões de servidores.

Pode-se dizer que qualquer mudança significativa nas organizações só acontecerá se

houver profundas mudanças na mentalidade das pessoas que a compõem. Isso pode acontecer

pela mudança nas pessoas, mediante um processo contínuo de desenvolvimento de novas

capacidades e habilidades, ou pela mudança das pessoas (demissão, aposentadoria e novas

admissões).

1.4.4.3 Visão Compartilhada

Quando um objetivo é percebido como concreto e legítimo, as pessoas dedicam-se e

aprendem não como uma obrigação, mas por vontade própria, construindo visões

compartilhadas. Para SENGE (2000), as visões compartilhadas têm sua origem nas visões

pessoais, gerando um relacionamento de comprometimento e responsabilidade pelo todo e

não de simples aceitação de dada situação. Assim, é importante saber em que medida a

missão, os objetivos estratégicos e as metas de uma organização estão disseminados e

internalizados entre todos os seus empregados. Através do estabelecimento de objetivos

comuns cria-se identidade de longo prazo.

1.4.4.4 Aprendizagem em Grupo ou Equipe

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A aprendizagem em grupo começa pelo estabelecimento de objetivos comuns e do

desenvolvimento do domínio pessoal, pois equipes talentosas são formadas por pessoas

talentosas. Requer a prática do diálogo e da discussão que são as duas formas dos grupos

conversarem. Na primeira, as questões complexas e delicadas são exploradas de forma livre e

criativa, onde cada um escuta ativamente os outros, sem se manifestar e, na segunda, são

apresentadas e defendidas várias idéias, buscando-se a melhor, para apoiar alguma decisão.

As duas práticas são complementares. De fato, o aprendizado em equipe “é o processo de

alinhamento e desenvolvimento da capacidade de um grupo criar resultados que seus

membros realmente desejam” (SENGE, 1990, p. 213).

1.4.4.5 Pensamento Sistêmico

Refere-se, no caso de uma organização, ao fato do empregado percebê-la como um

todo interdependente ao invés de um conjunto de áreas e processos estanques, onde pelo

efeito feedback as ações podem se reforçar ou equilibrar umas às outras. Portanto, é

importante identificar o quanto os empregados conhecem a respeito de outras áreas da

organização e como o seu trabalho contribui para a consecução dos objetivos comuns. Para a

área de gestão de pessoas, em especial, é importantíssimo que todos conheçam a relação do

seu trabalho com todas as outras unidades. É o reconhecimento do impacto da atuação de uma

área nas outras. É o quadro de referência que norteia as ações como um todo e ajuda a ver

como modificar os padrões de forma efetiva e não casuística e pontual.

O desenvolvimento de projetos organizacionais é uma prática de aprendizagem

bastante efetiva, pela forma como seus membros interagem com o ambiente interno e externo,

pela forma como compartilham o conhecimento de maneira ágil, pela exigência de contínua

reflexão, pela supremacia do interesse dos participantes em relação aos aspectos formais da

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organização. Normalmente, no desenvolvimento desse tipo de projeto, verifica-se a força das

cinco disciplinas para o processo de aprendizagem nas organizações.

1.5 PILARES DE SUSTENTAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM

Com base no referencial teórico abordado nos itens 1 a 4 deste trabalho, define-se

que o ambiente de aprendizagem organizacional será determinado pelo grau de alinhamento e

coerência de quatro pilares, considerados pelos autores dessa dissertação, sustentadores do

processo de aprendizagem: estratégia, cultura, gestão e tecnologia da informação.

Discorre-se a seguir sobre a relação entre a aprendizagem e os pilares citados, a fim

de identificar práticas e sinais indutores que as organizações possam desenvolver e

aperfeiçoar o processo de aprendizagem organizacional, se transformando em organizações

que aprendem.

1.5.1 Estratégia

A estratégia organizacional, sob qualquer de suas formas de realização e expressão,

contribui decisivamente para os resultados do processo de aprendizagem organizacional. Ao

determinar as metas e os objetivos da organização, bem como a amplitude de ações

disponíveis para a consecução de sua orientação estratégica, a estratégia impõe limites ao

processo decisório e fornece um contexto para a percepção e interpretação do ambiente,

influenciando, assim, a aprendizagem. As alternativas estratégicas percebidas em uma

organização são função de sua capacidade de mudança (FIOL e LYLES apud CARRIERI e

CABRAL, 2002).

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A contribuição mais direta e óbvia da estratégia para o processo de aprendizagem

ocorre pela explicitação de planos, políticas, metas, diretrizes ou ações incrementadoras da

aprendizagem. O Serpro, caso de destaque em gestão de conhecimento no Brasil, optou por

estabelecer orientação estratégica explícita para a alavancagem da aprendizagem

organizacional. Segundo MACEDO et al (apud SANTOS et al, 2001, p. 60) foram instituídas

como políticas corporativas oficiais, dentre outras, a “promoção da aprendizagem

organizacional”, “o mapeamento e o desenvolvimento de competências institucionais”, “a

preservação do conhecimento organizacional e seu compartilhamento e reutilização”, “o

fomento da criação de conhecimento como vantagem competitiva”. Essas políticas se

desdobraram em diretrizes que assegurem o exercício das práticas de mapeamento de

competência com registro em árvore do conhecimento, incentivo à instrutoria interna,

manutenção de base corporativa de conhecimento, registro das competências individuais em

ferramenta automatizada, gestão de talentos (perfis profissionais), educação à distância,

documentação de sistemas, absorção de conhecimentos no relacionamento com parceiros na

terceirização, etc.

Outra razão para considerar a estratégia organizacional como fator de aprendizagem

é que ela sistematiza para as pessoas uma visão de futuro, um conjunto de valores. Segundo

TERRA (2001, p. 103-109), “pela formulação estratégica a alta administração tem condições

de definir o foco, as macro-visões sobre projetos inovadores, as áreas de conhecimento a

serem exploradas pela organização. Além disso, nesse processo se estabelecem metas

ambiciosas, desafiadoras, e um permanente senso de direção e de urgência (e não de

ansiedade) e de necessidade de inovação contínua”.

Como visto anteriormente, “a visão compartilhada é essencial para a organização

que aprende, pois fornece o foco e a energia para a aprendizagem” (SENGE, 2002, p. 234).

Tal afirmação enfatiza, entretanto, a distinção entre as visões meramente aceitas,

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freqüentemente redigidas e impostas pelo topo da hierarquia, das visões verdadeiramente

compartilhadas.

A visão compartilhada é a única capaz de gerar comprometimento pessoal de longo

prazo e de conduzir as pessoas à aprendizagem generativa, porque estão “lutando para

alcançar um objetivo de profunda importância para elas” (SENGE, 2002, p. 234). As

aspirações pessoais se elevam com a visão compartilhada, sem a qual não há organização que

aprende. A visão estimula novas formas de agir e de pensar, bem como a exposição de idéias

a flexibilização de pontos de vista, o risco e a experimentação (SENGE, 1998).

O próprio processo de reflexão estratégica proporciona ricas oportunidades de

aprendizagem. Como defende DE GEUS (apud STARKEY, 1997) – um dos líderes do

mundialmente famoso trabalho de consultoria interna em planejamento da Shell, empresa

pioneira na utilização de cenários no planejamento, – o processo de tomada de decisão leva ao

aprendizado, pois as pessoas constroem naturalmente novos modelos mentais enquanto

interagem com o meio e entre si, internamente. No entanto, esse processo é demasiado lento.

O planejamento teria a capacidade de acelerar esse processo de aprendizagem.

Reconhecidamente, o trabalho de reflexão estratégica com o uso de exercícios com cenários

permitiu à Shell aprender antecipadamente as ocorrências relevantes, aumentando a

capacidade do grupo de adaptação ante as instabilidades e incertezas ambientais. Segundo

DE GEUS (apud STARKEY, 1997, p. 118), “o verdadeiro propósito do planejamento eficaz

não é fazer planos, mas mudar o microcosmo, os modelos mentais que esses tomadores de

decisões carregam em suas mentes”.

A aprendizagem organizacional, embora constitua essencialmente um processo,

pode, ela própria, configurar uma estratégia. MITZENBERG et al (2000) identificam dentre

as escolas de estudo da estratégia, a “Escola da Aprendizagem”. Essa escola, classificada

como descritiva, tem por premissa que o cenário atual, de elevada complexidade interna nas

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Financeira

Clientes

Processos Internos

Aprendizado e Crescimento

Satisfação e fidelidade dos clientes para incrementar as receitas

Melhoria nos processos levam à melhoria de produtos e serviços aos clientes

Expertise, empregados criativos questionando o status quo e trabalhando para a melhoria dos processos

Aprendizagem e crescimento dos empregados é a base para a inovação e a criatividade

Fonte: The Balance Scorecard Institute (BSCI, 2002).

empresas, e a crescente velocidade das mudanças ambientais desaconselha a formulação de

estratégias deliberadas com seus planos formais rígidos, relativamente estáveis, e voltadas

para o controle. Abre-se assim espaço para a ênfase em estratégias emergentes, flexíveis e

orientadas para o resultado.

Instrumentos de gestão como o “balanced scorecard” (BSC) também demonstram a

influência da dimensão estratégia no processo de aprendizagem. Nesse gênero de ferramenta,

que na visão de seus criadores foi elevado a “sistema operacional de um novo processo

gerencial estratégico”, uma das quatro perspectivas pelas quais as organizações são

estrategicamente analisadas diz respeito justamente ao aprendizado e crescimento (KAPLAN

e NORTON, 2001, p. 34).

A perspectiva do aprendizado oferece as condições para o crescimento sustentável da

organização, ou seja, como mobilizar o capital intelectual para a inovação, a mudança e a

melhoria contínua dos processos de trabalho e do nível de satisfação dos clientes, a fim de

atingir os resultados que a organização se propõem – sua missão institucional.

Figura 3 - Relação de causa e efeito entre as perspectivas do BSC

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1.5.2 Cultura

Outro pilar no qual ser orienta a análise desse trabalho é a cultura organizacional,

pois embora já seja consenso na literatura que as empresas precisam de um sistema

eficientede aprendizagem para o enfrentamento desse novo momento que se caracteriza por

mudanças rápidas e vultuosas, “o desafio é que esta dinâmica da aprendizagem precisa estar

fundamentada sobre valores básicos, que dêem consistência às práticas organizacionais”

(FLEURY, 1997, p. 30).

Compreender como as pessoas interagem, as relações de poder da organização, e sua

forma de expressar ou de escamotear através de suas práticas organizacionais, é fundamental

para entender como acontece a aprendizagem dentro do espaço organizacional (FLEURY e

FLEURY, 1997). Entender como a organização reage diante de problemas a serem resolvidos

(busca soluções inovadoras ou ignora o problema?) – também é decisivo para esse processo.

O ambiente da organização como um todo influencia muito o processo de aprendizagem.

Assim como a cultura pode influenciar o sistema de aprendizagem de uma

organização, esse também pode moldá-la. Dessa forma os conceitos de aprendizagem e

cultura são considerados como indissociáveis, pois as pessoas aprendem dentro de um

contexto cultural que pode ir mudando na medida em que a aprendizagem vai se consolidando

e colaborando para a mudança de percepções e ao longo do tempo provocando mudanças

mais profundas da cultura organizacional.

Dado o interesse das organizações de promoverem mudanças substanciais, em

resposta às novas exigências externas, faz-se necessário realçar a relação entre a cultura e a

aprendizagem organizacional. Como ela pode favorecer ou inibir esse processo. A cultura é

um produto do aprendizado em grupo que se desenvolve através do compartilhar de um

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conjunto de crenças, valores, símbolos e normas, e a integração dos indivíduos dentro de uma

cultura pautada por objetivos comuns facilita o aprendizado e é o maior desafio em direção ao

futuro de uma organização (SCHEIN apud FLEURY e FLEURY, 1997, p. 24). O mesmo

autor definiu a cultura de uma organização como sendo um “conjunto de pressupostos básicos

que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas

de adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem

considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber,

pensar e sentir, em relação a esses problemas” (SCHEIN apud FLEURY e FLEURY, 1997,

p. 24).

A cultura de uma organização, com o passar do tempo, vai sendo disseminada por

meio de diversos mecanismos organizacionais como: sistema de medição e controle, reação

dos líderes diante de crises organizacionais; sistema de recompensas e atribuição de status;

critérios para seleção, recrutamento, promoção e exclusão; estrutura organizacional; sistemas

e procedimentos organizacionais; disposição do espaço físico; histórias, lendas e símbolos;

declarações formais da filosofia organizacional e seus credos. Esses mecanismos atuam como

instrumentos pedagógicos, como sendo os padrões de verdade para nortear os

comportamentos dentro da organização (SCHEIN, 1994). Em 1993, esse autor discutiu como

os padrões culturais dominantes em uma organização podem dificultar os processos de

aprendizagem e de mudança (SCHEIN, 1993).

O processo de aprendizagem ocorre de forma lenta e gradativa, o que pode vir de

encontro com as expectativas da organização, que se preocupa com respostas rápidas às suas

intervenções. Assim, pode-se afirmar que a aprendizagem apresenta-se como força propulsora

da criação da cultura e de sua consolidação. Ou seja, as oportunidades de aprendizagem fazem

parte do processo de formação cultural das empresas. A relação da cultura com o processo de

aprendizagem não é estática nem linear, muito pelo contrário é dinâmica e supõe

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circularidade. A cultura instalada em uma organização é fruto de experiências vividas em

situações de enfrentamento com sucesso, de problemas internos ou de adaptação ao ambiente

externo. Portanto é conseqüência da aprendizagem da organização, e ela só é colocada a prova

quando já não consegue dar respostas às novas exigências interna ou externas.

O tipo de aprendizagem que ocorre, em especial nas organizações ocidentais, é muito

mais voltado para a manutenção do “status quo” do que para a transformação. No máximo

chegam a processos de melhoria do que já existe. Nessas empresas ainda não existe base

cultural condizente com a aprendizagem do tipo transformador (SCHEIN, 1995). Os

pressupostos negativos sobre a natureza humana foram consolidados há muito tempo, sendo,

portanto, árduo modificá-los de uma hora para outra. Tais pressupostos básicos de cultura são

considerados obsoletos diante das exigências da atualidade, e a dificuldade em mudá-los,

leva-nos a pagar caro por isso (SCHEIN, 1993).

A maioria das organizações ainda é muito burocrática, verticalizada e muito mais

orientada para o controle do que para o desenvolvimento. As pessoas são mais recompensadas

pela obediência “cega” aos padrões estabelecidos do que pela capacidade de refletir, avaliar,

interpretar, experimentar e agir. Essas características mostram uma visão extremamente

mecanicista de ver o mundo organizacional. As principais características de uma cultura que

inibem a aprendizagem organizacional foram descritas por SCHEIN (apud SILVA, 2001, p.

63), a saber:

1) "as questões relacionadas às tarefas têm precedência sobre as que se referem

aos relacionamentos” – o discurso dos dirigentes é de valorização das pessoas

e relacionamentos, mas é dada uma importância muito maior ao trabalho que

pode ser quantificado (cumprimento de metas);

2) “concentração nos sistemas e não nas pessoas” – a finalidade principal é a de

moldar as pessoas a partir dos sistemas estabelecidos, e não o contrário;

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3) “as pessoas na organização são vistas como reativas” – elas mudam como

reação a forças externas ameaçadoras;

4) “a organização é enxuta e má” – a perspectiva da organização para resolução e

adequação dos seus problemas é de curto prazo e os dirigentes vêem os seus

funcionários como maus por natureza, que não podem ter folga, portanto a

empresa deve ser enxuta;

5) “compartimentalização da resolução dos problemas” – as pessoas acreditam

que a melhor maneira de resolver problemas é desmembrá-lo em seus

componentes, analisando cada um deles separadamente para depois reinserí-los

no contexto sistêmico;

6) “restrição do fluxo de informações” – a detenção da informação ainda é vista

como status e poder;

7) “crença na competição individualizada” – a ênfase cultural é no

individualismo – o trabalho em equipe é considerado uma necessidade prática,

porém é algo intrinsecamente indesejável;

8) “crença na supremacia dos líderes” – tanto os líderes como os seguidores

acreditam que os primeiros devem assumir o controle das situações, serem

decisivos, firmes e dominantes, ou seja não devem reconhecer que são

vulneráveis.

Já uma organização voltada para a aprendizagem possui uma série de características

como o compartilhamento de informações e experiências, o estímulo a experimentar o novo, o

estímulo à participação de todos na resolução de problemas. Essa percepção é reforçada pelos

estudos de McGILL e SLOCUM JÚNIOR (1995) que apontam características de culturas

voltadas para a aprendizagem, tais como: abertura a experimentos; encorajamento para aceitar

riscos (responsavelmente); disposição de aceitar fracassos e aprender com eles.

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TERRA (2001, p. 232), apresenta, também, alguns sinais da cultura voltada para

aprendizagem:

1) “as pessoas se sentem estimuladas pelo próprio trabalho;

2) as pessoas conversam umas com as outras, incluindo aquelas de diferentes

níveis hierárquicos;

3) as relações são informais;

4) as pessoas tem tempo para aprender;

5) as pessoas não estão focadas apenas em sua área de trabalho e no curto

prazo;

6) as pessoas falam abertamente sobre erros passados e lições aprendidas;

7) a empresa tem facilidade em atrair e manter os melhores talentos, mesmo sem

pagar, necessariamente, mais do que o mercado;

8) a atitude é uma das principais características avaliadas na contratação de

pessoal;

9) os muitos indicadores de resultados são amplamente divulgados;

10) a discussão dos valores da organização é vista como algo altamente

relevante.”

Para esse autor a criação do conhecimento organizacional depende muito do contato

humano, da intuição, do conhecimento tácito, da cooperação, da explicitação de modelos

mentais, da diversidade de opiniões e do pensamento sistêmico.

1.5.3 Gestão

Destacam-se os modelos de gestão de pessoas e arranjos organizacionais, formais e

informais, que favoreçam a aprendizagem organizacional por serem coerentes, consistentes no

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tempo e por alinharem estratégias, pessoas e processos na busca de resultados. Entende-se por

gestão a função gerencial que determina, implementa e acompanha as políticas, objetivos,

alocação de recursos e outras atividades sistemáticas necessárias ao cumprimento da missão

de uma organização. Os instrumentos de gestão apóiam a relação contínua entre as pessoas e

as empresas e garantem o nível de informação das pessoas em relação à organização e vice-

versa.

Por sua vez, modelo de gestão é uma abstração e uma simplificação que nos ajuda a

compreender e a agir sobre a realidade. Para WARR (apud DUTRA et al., 2001), sob a ótica

da psicologia social os modelos funcionam como “peneiras” permitindo que determinadas

idéias e ações passem e desautorizam outras e como “moldes” estruturando a maneira de

pensar sobre determinada realidade, tornando-a de tal forma familiar e conhecida que os

agentes envolvidos podem trabalhar sobre essa realidade. Essa forma de pensar sobre modelos

demonstra sua importância para os tomadores de decisão nas organizações.

A estruturação do processo de gestão de pessoas iniciou-se com a introdução nas

empresas do paradigma taylorista ou fordista que lembra o nome dos dois expoentes da

Administração Científica. Tais paradigmas tinham como espinha dorsal a definição de cargos

– conjunto de tarefas associadas ao desempenho em um posto de trabalho. Surgindo assim, os

critérios de seleção das pessoas, a necessidade de treinamento para o bom desempenho das

tarefas e o sistema de recompensa. Nessa época, a função crítica das empresas era produção.

Esperava-se dos funcionários habilidade e algum conhecimento, o suficiente para executar

suas tarefas, e dos supervisores o controle disciplinar de forma a conseguir dos operários a

maior produtividade. Essa forma de organização do trabalho foi muito criticada em especial

por tornar o trabalho humilhante e degradante e ainda por não promover o processo de

desenvolvimento das pessoas por si mesmas (EBOLI apud DUTRA, 2002).

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Na década de 60 surgiu na Europa a abordagem sociotécnica para a organização do

trabalho nas empresas. Começou assim a aparecer as primeiras fissuras do paradigma anterior

e na década de 70, as críticas se tornaram mais robustas e melhor sustentadas gerando nos

anos 80 uma verdadeira crise em relação aos modelos de gestão de pessoas. Na realidade, o

modelo conceitual-teórico existente, já não respondia às necessidades do momento, mas não

se tinha outro para colocar no lugar. Essa situação provocou discussões acadêmicas a respeito

do assunto, o que gerou um grande aprendizado e um lastro razoável de experiências capazes

de criar novas abordagens sobre o tema. Esse quadro gera grandes pressões sobre novas

formas de gestão de pessoas. A discussão, nesse contexto, tem assumido como premissas

(DUTRA, 2002, p. 16-17) que:

1) o desenvolvimento da organização está diretamente relacionado a sua

capacidade de desenvolver pessoas e ser desenvolvida por elas e, portanto, o

processo de aprendizagem organizacional deve ser centrado nas próprias

pessoas, respeitando sua individualidade;

2) o processo de gestão de pessoas deve ser integrado e atender aos interesses e

expectativas da organização e das pessoas de forma a dar sustentação a uma

relação produtiva;

3) a gestão de pessoas deve oferecer à organização uma visão clara sobre o tipo e

nível de contribuição de cada pessoa e às pessoas o que a empresa pode

oferecer como retribuição;

4) todas as pessoas que têm algum tipo de relação com a empresa são impactadas

pelas práticas de gestão.

A troca de paradigma na gestão de empresas, ou seja, a passagem da administração

taylorista/fordista para a gestão flexível, teve impacto forte no comportamento das

organizações. Estruturas verticalizadas e centralizadas cedem espaço a estruturas horizontais e

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amplamente descentralizadas. A rígida divisão entre trabalho mental e manual tende a ser

eliminada; tarefas fragmentadas e padronizadas tornam-se integrais e complexas, exigindo, de

toda a organização, pessoas com capacidade de pensar e de executar diversas tarefas ao

mesmo tempo. Se na era taylorista/fordista a produção era padronizada e centralizada, o

trabalho era alienante, a tecnologia com automatização rígida e o trabalhador banalizado e

inserido em rotina de trabalho rígida, os novos modelos de gestão mostram produção

fundamentada na flexibilidade, na diversificação e na autonomia, bem como no uso de

tecnologia com automação flexível e o perfil do trabalhador gestor.

Tudo isso representa um forte impacto sobre o perfil de gestores e colaboradores que

as instituições precisam encontrar atualmente. Exige-se cada vez mais postura voltada para

autodesenvolvimento e para aprendizagem contínua. Um conceito que merece registro por

resumir a visão moderna de gestão de pessoas é o de DUTRA (2002, p. 17), que caracteriza a

gestão de pessoas como “um conjunto de políticas e práticas que permitem a conciliação de

expectativas entre a organização e as pessoas, para que ambas possam realizá-las ao longo

do tempo. Diferentemente do que acontece com os outros recursos da organização, o que

acontece entre organização e pessoas é um conjunto de relações essencialmente humanas,

sociais, entre grupos interpessoais e organizacionais”.

Analisando um pouco mais os modelos de gestão, verifica-se a construção do

conceito de Gestão do Capital Humano. A partir da década de 70 muito se falou sobre capital

humano na produção acadêmica americana, em especial SCHULTZ (1973, p. 15) afirmava:

“minha tese é que o pensamento econômico tem negligenciado examinar duas classes de

investimento que são de capital importância nas modernas circunstâncias. São eles os

investimentos no homem e na pesquisa”. Os defensores dessa teoria consideram os

trabalhadores como potenciais possuidores de capital humano. Na visão de DAVENPORT

(2001) os empregados devem ser considerados não como capital humano, mas como

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investidores e proprietários do capital humano. As pessoas possuem habilidades,

comportamentos, energia pessoal e tempo que lhes são próprios e que criam o capital humano.

São as pessoas e não as organizações que decidem quando, como e onde o aplicarão. Elas

fazem suas próprias escolhas na realidade.

Essa concepção de trabalhadores como investidores, mais que meros ativos, realça

que a relação empregado/empresa depende da capacidade e disposição de cada uma das partes

em oferecer benefícios para a outra, sem que nenhuma das partes leve vantagem sobre a outra.

Como no mercado financeiro, os investidores movimentam seus capitais quando avaliam que

podem obter resultados melhores em outro lugar. Muitos termos foram adicionados a esse

conceito, mas a maioria concorda que esse conceito abrange capacidade, experiência e

conhecimento. Para DAVENPORT (2001) capital humano inclui os seguintes conceitos:

capacidade, comportamento, empenho e tempo.

STEWART (1998) sugere alguns princípios para a gerência do capital humano

como:

1) as empresas não possuem o capital humano, mas sim compartilham a

propriedade desse ativo com seus funcionários, e somente reconhecendo essa

propriedade compartilhada é que a empresa pode gerenciar e lucrar com esse

ativo. Relacionamentos antagonistas com funcionários podem gerar destruição

da riqueza;

2) para criar capital humano que possa ser útil, a empresa precisa estimular o

trabalho em equipe, comunidades de prática e outras formas sociais de

aprendizado, para que possa ficar menos dependente do talento individual que

vai embora junto com a pessoa quando ela volta para casa ou quando sai da

empresa. As equipes interdisciplinares captam, formalizam e capitalizam o

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talento, pois ele passa a ser compartilhado e menos dependente de qualquer

indivíduo. O talento individual não pode ser mal visto e sim gerenciado;

3) a empresa deve reconhecer, sem sentimentalismos, quais são os funcionários

que são ativos, ou seja, aqueles que ninguém faz melhor do que eles

(proprietários), ou que o trabalho que fazem cria o valor pelo qual os clientes

pagam (estratégicos). As pessoas com tais talentos são ativos nos quais

investir. Outros são custos a serem minimizados.

Pela necessidade de recorte do tema, discorre-se apenas sobre o capital humano, mas

não se pode deixar de reconhecer que esse trabalha junto com o capital estrutural e do cliente.

Não basta investir em pessoas, sistemas e clientes separadamente. Eles podem apoiar uns aos

outros; eles podem subtrair uns aos outros. O capital humano e o capital estrutural se apóiam

quando a empresa tem um senso de propósito compartilhado, quando a gerência utiliza mais a

recompensa do que a punição. E eles se destroem quando não há valorização do que é feito na

empresa e esta está mais voltada para o controle do comportamento do que para o controle da

estratégia.

De forma geral, verifica-se alguns valores subjacentes às modernas práticas de gestão

(DUTRA, 2002), tais como:

1) desenvolvimento e satisfação mútuos – as práticas de gestão de pessoas devem

estimular e criar condições para que pessoas e empresa desenvolvam-se

mutuamente, o que permitirá a ambas atuarem em situações cada vez mais

complexas, considerando não só os objetivos estratégicos e negociais como o

projeto profissional e de vida das pessoas; a consistência no tempo de forma a

permitir nessa realidade cada vez mais turbulenta, que tanto as pessoas como a

empresa tenham referenciais possíveis;

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2) transparência com clareza de critérios que norteiam a gestão e constante

alimentação de informações sobre a aplicação dos mesmos de forma a evitar a

interpretações fantasiosas próprias da falta de informação;

3) simplicidade ao se estabelecer critérios, facilitando assim, compreensão,

análise, discussão, consenso, aceitação e comprometimento em torno dos

valores e de sua prática;

4) flexibilidade para se adaptar aos diferentes contextos organizacionais e às

pressões das mudanças nesses contextos.

Registra-se por fim, quanto à gestão de pessoas, que estimular, manter e desenvolver

as competências necessárias para o bom êxito do negócio é hoje o principal desafio do

processo de gestão de pessoas. Cabe ao gestor dominar conceitos, modelo de ação e

ferramentas que concretizem essa tarefa, criando oportunidades de aprendizagem em todos os

momentos da dinâmica organizacional. A literatura tem mostrado que o processo de

aprendizagem organizacional não se basta no ambiente de sala de aula ou de centros de

treinamento, mas cada vez mais está no dia a dia de trabalho onde o agir confunde-se com o

pensar, o fazer com o inovar, a produção com a aprendizagem.

Analisando a gestão sob a ótica dos arranjos organizacionais, verifica-se que os

arranjos organizacionais formais fornecem as estruturas, os sistemas e os procedimentos que

orientam e motivam os comportamentos. Conseqüentemente, tais arranjos exercem importante

influência sobre o aprendizado organizacional e a inovação.

Os arranjos organizacionais formais e informais incluem os elementos-chave

descritos a seguir.

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1.5.3.1 Mecanismos interligadores formais

A opção da forma básica de organização (por exemplo, por produto, por mercado,

funcional, geográfica) concentra os recursos nas contingências estratégicas críticas. Seja qual

for a forma básica escolhida, as organizações devem desenvolver mecanismos formais de

interligação interna, mecanismos esses que são importantes veículos para a criatividade, a

inovação e conseqüentemente, para a aprendizagem. Tais interligações – pontos interligando

funções díspares – estimulam a cooperação e a resolução de problemas em toda a

organização. Por exemplo (STARKEY, 1997):

1) Equipes, comitês ou forças-tarefas aglutinam indivíduos de diversas áreas para

trabalhar em oportunidades ou problemas comuns. Na Lilly Research, por

exemplo, onde o laboratório foi organizado por disciplinas, equipes de

pesquisa organizadas por áreas terapêuticas reuniam o conhecimento de

cientistas e gerentes de diferentes disciplinas. Na Xerox, uma diretoria de

inovação reuniu um grupo diversificado de executivos de marketing, produção

e P&D para avaliar e oferecer elementos prévios para futuros negócios da

empresa;

2) Gerentes de projetos desempenham um papel interligador formal que

dissemina e aprofunda a perspectiva da gerência-geral na organização interna.

O gerente de projeto trabalha para obter integração e coordenação no

desenvolvimento de um novo produto e/ou processo;

3) Reuniões formais propiciam um ambiente regularmente programado para que

indivíduos de diferentes áreas possam compartilhar informações e trocar idéias.

Essas reuniões têm o benefício adicional de construir relacionamentos

informais, os quais facilitam ainda mais a resolução de problemas e cooperação

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interorganizacional. Por exemplo, a NCR faz reuniões do tipo “show and tell”1,

onde o pessoal de P&D, marketing e produção revelam suas mais recentes

idéias. Nas feiras de produtos da Union Carbide, as várias divisões apresentam

seus novos produtos e idéias umas para as outras. Na Tetra-Pak, equipes

interfuncionais visitam regularmente os clientes e depois voltam a se reunir

para gerar idéias de novos produtos/processos.

1.5.3.2 Organização informal

A competente formação de um grupo de indivíduos e a correta organização formal

não bastam para lidar com as complexidades e incertezas inerentes ao trabalho inovador. A

organização informal deve reforçar e complementar o sistema formal. Embora os mecanismos

da organização formal facilitam o aprendizado e a inovação corporativa, a criatividade

individual provém de uma organização informal saudável. Várias dimensões da organização

informal são particularmente importantes na gestão da inovação e aprendizado, destacam-se

os valores essenciais e as normas.

Os valores essenciais às bases normativas de uma unidade de negócios são crenças

relativas àquilo que é bom ou mau, certo ou errado, em determinada empresa. Por exemplo

(STARKEY, 1997), os valores essenciais da IBM são a importância dos indivíduos, do

serviço e da excelência; da Tandem são a qualidade, a excelência pessoal e o trabalho em

equipe. Um claro conjunto de valores essenciais ajuda a focalizar e motivar o comportamento.

Empresas inovadoras têm valores essenciais claros que fornecem foco num cenário repleto de

1 mostrar e falar a respeito – um método usado principalmente em escolas, segundo o qual as crianças levam um objeto para ‘mostrar e falar a respeito’ aos colegas

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diversidade, como também um objetivo comum que possa ter a concordância dos

profissionais e divisões das mais diversificadas áreas.

Alguns exemplos de valores essenciais que facilitam a inovação e o aprendizado:

desenvolvimento de tecnologia que atenda as necessidades dos usuários; autonomia individual

e identificação organizacional; aceitação de riscos e tolerância com fracassos; informalidade

na resolução de problemas; eficácia funcional e organizacional; altos padrões de desempenho

no curto e no longo prazo; e ênfase nos recursos humanos e na importância do crescimento e

desenvolvimento individual.

Em complementação aos valores essenciais, são as normas que dão os referenciais

comportamentais claros, não fornecidos por aqueles; elas elaboram e especificam o

significado dos valores essenciais dentro da empresa. Normas são comportamentos esperados:

quando violadas, o indivíduo ou grupo é formalmente censurado. Por exemplo, as normas

ajudam a especificar os códigos de vestuário, linguagem, padrões e horário de trabalho,

processos decisórios, relações chefe-subordinado, comunicação interunidades, processos de

resolução de conflitos e nível de aceitação de risco e grau de liberdade informal dentro da

organização. De modo geral, organizações altamente inovadoras têm normas que enfatizam a

informalidade no comportamento, vestuário e relações chefe-subordinado; altos padrões de

trabalho e expectativas de alto desempenho individual e do grupo; flexibilidade nos padrões

decisórios e de resolução de problemas e de conflitos; e fortes vínculos informais dentro e

fora da organização. Tal informalidade, alto padrão de trabalho e exposição a múltiplas fontes

de informação facilitam a cooperação, o aprendizado e a inovação. Empresas menos

inovadoras, por outro lado, têm normas que enfatizam a formalidade, a padronização e a

organização ‘segundo o manual’.

Analisando ainda, os arranjos organizacionais, destaca-se a formação de

comunidades e redes, e observa-se que a tecnologia destruiu a hierarquia. Já existiam redes

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antes do computador, mas uma rede de tecnologia energiza as redes sociais, deixa de ser

coadjuvante para suplantá-las. As redes se tornaram o meio através do qual a organização

trabalha. Não se imaginava quando os computadores começaram a aparecer que eles iriam

subverter o poder. As redes permitem que a informação que antes fluía ao longo das

hierarquias circule diretamente entre os funcionários. O e-mail é um acontecimento cultural

importante, modifica a maneira de administrar a empresa (Bill Raduche, executivo de

informação da Sun Microsystems).

As redes subvertem a autoridade gerencial. Elas inspiram um estilo informal; as

pessoas que se comunicam por redes eletrônicas são menos submissas a seus superiores e

mais capazes de dizer o que pensa, às vezes sem moderação. Ferramentas como o e-mail,

teleconferência e groupware permitem que as pessoas trabalhem juntas mesmo à distância e

independente das fronteiras departamentais ou empresariais, às vezes sem que o chefe

nominal saiba. O trabalho da gerência costumava ser planejar, organizar, executar e medir. Na

organização em rede, o trabalho do gerente pode ser descrito em termos orgânicos: definir,

nutrir e alocar.

1.5.4 Tecnologia da Informação

Neste pilar, verifica-se que, por um lado, o desenvolvimento da Tecnologia da

Informação (TI) veio pressionar a organização para introduzir mudanças, por outro lado essa

mesma tecnologia veio oferecer meios para atender em parte a essa pressão. Essa conjugação

de fatores culminou com o estabelecimento das bases teóricas, a partir de 1990, do que passou

a ser chamado de gestão do conhecimento.

A TI, entretanto, desempenha um papel de infra-estrutura, pois a Gestão do

Conhecimento envolve também aspectos humanos e gerenciais. DAVENPORT e PRUSAK

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(1998) deixam claro as limitações da TI ao afirmar que a Gestão do Conhecimento só poderá

ocorrer com a ampla mudança de comportamento na organização. Ou seja, a TI isoladamente

não possibilitará o compartilhamento do conhecimento e não criará uma organização de

aprendizado contínuo.

Muitas organizações utilizam recursos computacionais, como ferramentas de

mapeamento de conhecimento, repositórios de informações, comunidades virtuais de prática,

entre outras, para suportar as funcionalidades de sua estrutura de Gestão do Conhecimento.

Em termos de aprendizagem organizacional, pode-se identificar três momentos ou estágios: a

aquisição, o compartilhamento e o uso do conhecimento.

Os processos de geração e disseminação do conhecimento são típicos das práticas de

Aprendizagem Organizacional e Educação Corporativa. Já os processos de mapeamento,

valoração, codificação e classificação do conhecimento são suportados pelas metodologias de

Gestão de Competências e Gestão do Capital Intelectual. Importante salientar que o sentido

organizacional e a integração dessas práticas estão centrados na dimensão estratégica,

trabalhada pela Gestão do Conhecimento (SANTOS et al, 2001).

As principais funcionalidades de uma estrutura de Gestão do Conhecimento são,

segundo DAVENPORT e PRUSAK (1998): a geração, a codificação e a transferência de

conhecimento. A geração de conhecimento é um processo de criação que ocorre nas mentes

das pessoas da organização através da interação entre conhecimento tácito e explícito

(NONAKA e TAKEUCHI, 1997). A codificação de conhecimento consiste na identificação e

na classificação do conhecimento organizacional existente, embutido em documentos,

repositórios, rotinas, processos, práticas, normas e, principalmente, nas mentes das pessoas. Já

a transferência de conhecimento consiste em disseminar conhecimento para onde ele possa

gerar valor, ou seja, para onde possa ser utilizado na execução de alguma atividade

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organizacional. Nesse sentido, pode-se identificar práticas de aprendizagem organizacional e

as ferramentas que dão suporte a elas.

Importante destacar que a infra-estrutura de redes a interligar os diversos atores no

processo de geração, disseminação e uso do conhecimento é condição sine qua non para a

gestão do conhecimento e, por consegüinte, à aprendizagem organizacional. Organizações

onde a força de trabalho está dispersa ou dependem da comunicação com fornecedores e

parceiros, as soluções de TI que “rodam” nas suas redes estão se tornando o ambiente para

conversar, trocar idéias e resolver problemas.

Outro fator importante é a capacidade da organização para utilização de tecnologia,

implicando não só em conhecimento, mas também em vivência, utilização das ferramentas.

Logo, é fundamental a definição de estratégias e políticas para a internalização de novas

tecnologias e para a capacitação das pessoas envolvidas.

1.5.4.1 Geração de Conhecimento

A criação de novo conhecimento está diretamente ligada à criatividade e à

capacidade de inovação. Em organizações industriais esse processo é bastante visível e

estruturado nos programas de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Já no setor de serviços,

pode-se buscar paralelo nos processos de melhoria e mudança organizacionais que visam

alcançar padrões de excelência, maior desempenho e qualidade em processos internos e de

atendimento aos clientes. As práticas mais comuns nesse estágio de aprendizagem são

suportadas por ferramentas de apoio à inovação, mais comum no setor industrial (novos

produtos e patentes), e por ambientes de groupware, materializado principalmente nas

chamadas comunidades virtuais de prática. Essas comunidades são grupos informais de

pessoas que compartilham conhecimento e impressões sobre uma área específica. Esse

compartilhamento pode ocorrer com ou sem intermédio de tecnologia da informação, por

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exemplo, através de encontros regulares entre seus membros ou através da utilização de

correio eletrônico e/ou outra tecnologia. Afinal, a criação do conhecimento depende do

contato humano, do conhecimento tácito, da diversidade de opiniões (TERRA, 2001).

No entanto, a utilização de TI pode aumentar o alcance e a efetividade do

compartilhamento, do armazenamento e da recuperação de conhecimento pelos membros das

comunidades, construindo formas de comunicação, aprendizado, estruturação e acesso às

idéias e experiências (TEIXEIRA, 2000). A auto-aprendizagem e aprendizagem em grupo

também são propulsoras da geração de conhecimento, suportadas por “Sistemas de

Construção de Bases Inteligentes de Conhecimento” e “Sistemas de Mapas de Conhecimento”

(CARVALHO, 2000).

O consumo das informações dos bancos de dados multidimensionais (data

warehouses) é feito por meio da técnica de datamining (mineração de dados) (JAMIL apud

CARVALHO, 2000). Essa técnica serve para procurar o conhecimento escondido na base de

dados. Hoje, tem-se muitos dados nas organizações, mas poucas informações. Os padrões

repetitivos e a informação potencial não-trivial, desconhecida hoje, estão nos bancos de

dados. Isso tem a ver com Redes Neurais, Análise Baseada em Casos, Visualização de Dados,

entre outras técnicas, ainda pouco utilizadas nas organizações. Somente algumas organizações

no Brasil estão preparadas, hoje, para uma “garimpagem de dados”.

O uso das facilidades de educação à distância para a aprendizagem propiciam o

desenvolvimento de competências e o intercâmbio maior de saberes (MORAN apud

ELEUTÉRIO, 2003), condição favorável à explicitação, combinação e geração de novos

conhecimentos. As aplicações de educação à distância exigem o trabalho conjunto de

especialistas de TI, de negócio e de design, para que o produto final seja realmente

proveitoso. Não basta apenas ter conteúdo; é necessário ter diagramação visual e utilizar

recursos de mídia variados (como forma de motivar o aluno); não basta que o conteúdo seja

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assertivo, é preciso que enfoque também o lado prático, o dia-a-dia de quem trabalha com

essa informação.

1.5.4.2 Codificação de Conhecimento

A implementação de bases estruturadas de conhecimento consiste na identificação do

conhecimento (informação interpretada) necessário para a organização a fim de disponibilizá-

lo facilmente às pessoas que dele necessitam, no momento certo. Os resultados da gestão do

conhecimento baseada essencialmente em sistemas de informação foram decepcionantes, pois

o “input” de informação não se traduziu necessariamente em “output” de conhecimento.

Conforme compilado por TERRA (2001), mais importante que informação “just-in-case” é

informação “just-in-time”. Portanto, a construção de sistemas de informação e de bases de

conhecimento devem levar em consideração se as informações armazenadas agregam valor ao

fluxo de decisão da organização e como levá-las às pessoas que dela precisam.

As bases de conhecimento são construídas a partir do mapeamento de conhecimento.

O mapa de conhecimento, ou seja, o conhecimento organizacional existente e sua localização,

bem como o conhecimento necessário para a realização eficaz do negócio constituem as

informações a serem identificadas e catalogadas. A “árvore de conhecimento” (LEVY, 1995)

é uma métrica usada para mapeamento de conhecimento e estruturação das competências

organizacionais e profissionais que sustentam as atividades da organização. As bases de

conhecimento, construídas a partir do mapeamento, devem permitir consultar as competências

individuais e identificar quais competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) são

necessárias aos empregados e quais áreas de atuação eles deveriam conhecer para exercer de

modo eficiente o seu trabalho.

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A codificação do conhecimento normalmente é apoiada por ferramentas WEB que

dão suporte ao ambiente de Intranet e servem de portal para as bases de conhecimento.

Sistemas de Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED) cumprem bem o papel de

codificar o capital estrutural da organização, como armazéns do conhecimento explícito

(DAVENPORT e PRUSAK, 1998). A gestão eletrônica e a edição eletrônica dos dados

reagrupam informações facilitando seu arquivamento, acesso, consulta e difusão, tanto a nível

interno, como externo. Ferramentas de Workflow (fluxos de processos padronizados) são úteis

para codificar o conhecimento relativo aos processos de trabalho e regras de negócio,

principalmente os mais padronizados, automatizando atividades estruturadas e ordenadas

(CARVALHO, 2000).

Atualmente, diversas soluções de gestão, denominadas de “business intelligence”

incluem processamento e apresentação de informações gerenciais, disponibilizando-as para

que os gerentes responsáveis pelos processos possam realizar visualizações dinâmicas, isto é,

sincronizadas com os acontecimentos do negócio. Este recurso é genericamente denominado

EIS (Executive Information Systems) ou DSS (Decision Support Systems). Na sua

implementação, estes sistemas são modelados, isto é, configurados conforme as regras do

negócio, definindo-se diversas métricas de desempenho. Também podem ser configurados

alertas antecipados (triggers), que disparam procedimentos específicos (como enviar e-mail

para seu supervisor), bem como relatórios de exceção, que ressaltam o que não está ocorrendo

conforme o planejado. O EIS é como um painel, um painel de um carro ou de uma aeronave.

Sistemas de informações executivas, gerenciais, de apoio e decisão, na verdade,

atendem a uma camada estratégica de uma organização, ou de uma instituição. Esses sistemas

não têm o caráter operacional. Eles atuam através da identificação de indicadores que são ou

de negócios ou de gestão, para que se possa tomar decisão, rápida ou certa. Quando os

gerentes precisam de informações, o que se vê, na maioria dos casos, é que eles recorrem a

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outras formas/fontes de informação (como uma rede de contatos) ou buscam extraí-las das

bases de dados corporativas. Isso ocorre porque os sistemas de informações tradicionais não

são feitos para os gerentes, mas simplesmente para automatizar as operações.

Informações gerenciais devem monitorar os fatores chave de sucesso de um

empreendimento ou negócio, qualquer que seja, público ou privado. São fundamentais para

tomar a decisão correta dentro da estratégia traçada. Sistemas de Informações Gerenciais não

podem deixar de prever o modelo estratégico de uma organização. É muito difícil fazer um

sistema de informação nessa categoria, se não se tem visão estratégica. Pela modelagem

estratégica é possível identificar fatores críticos de sucesso ou fatores chave para que os

problemas sejam evitados. Essa é uma postura pró-ativa de gestão, complementada pela

utilização de sistemas de informações gerenciais pertinentes.

Quanto as base de dados, atualmente estão disponíveis tecnologias como os “Data

Marts e os Data Warehouses (armazéns de dados) (JAMIL apud CARVALHO, 2000). Essas

tecnologias visam trazer a base de dados discreta, em termos de lançamentos e transações.

Cada dado, cada elemento, cada evento, de forma consolidada numa camada de decisão

estratégica, chamada multidimensional. Essa camada vai prover uma facilidade de análise

maior do que os bancos relacionais utilizados pelos sistemas de informação tradicionais. Um

banco de dados multidimensional acaba sendo como um tubo, com várias visões. É apenas

uma foto dos dados naquele momento, ele não sofre alterações, ele não é volátil. Assim,

enquanto a parte operacional está sofrendo atualização, o Data Warehouse é apenas

carregado, lido e manipulado de acordo com a necessidade. Não será preciso, entretanto,

armazenar tudo em bancos da própria organização, muitos dados e informações estão na

Internet, alguns gratuitamente, outros pagos – às vezes bem pagos. Os data warehouses se

transformaram em data megastores, grandes volumes de dados disponíveis, de conhecimento

mundial, incluindo até mesmo qualquer área do conhecimento humano.

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1.5.4.3 Transferência de Conhecimento

Boa parte das iniciativas de Gestão do Conhecimento envolve o compartilhamento de

melhores práticas, ou seja, o que é conhecido. Mapas de conhecimento são facilidades criadas

para indicarem a localização de documentos/conhecimento ou conteúdos produzidos na

organização e para servirem como páginas amarelas (cadastro de especialistas) a fim de

localizar as pessoas detentoras dos conhecimentos necessários em determinado momento.

Na realidade, as diversas tecnologias disponíveis hoje e que possibilitam a

aprendizagem nas organizações têm o atributo de permitir a transferência e o

compartilhamento de conhecimentos. Cita-se o caso do Serpro (MALHEIROS e PINHO,

2003), como forma de demonstrar essa característica. O Serpro, visando a preservação e

evolução do conhecimento empresarial, investiu em um “Processo Corporativo de Gestão de

Conhecimento e Aprendizagem Organizacional” como estratégia de implementação da Gestão

do Conhecimento na empresa, envolvendo formação de comitês específicos nas unidades;

definição de uma política de Gestão de Conhecimento, formulação de práticas, metodologias

e ferramentas para gestão de conhecimento; desenvolvimento da comunicação empresarial;

adequação das normas empresariais e migração dos conteúdos existentes nas Intranets das

unidades para um “Portal do Conhecimento Corporativo” (TERRA, 2002).

A tecnologia utilizada para suportar a gestão do conhecimento apoiou as principais

atividades e práticas do programa de Gestão do Conhecimento do Serpro. Pode-se identificar

a convergência de vários recursos para esse fim (MALHEIROS e PINHO, 2003):

1) “mapeamento das competências institucionais e individuais, através de

instrumentos como a Árvore de Conhecimentos e o sistema Perfil – gestão de

currículos e saberes individuais;

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2) mapeamento do conhecimento organizacional, de seus processos no

desenvolvimento de produtos e prestação de serviços;

3) a formação de comunidades de conhecimento inter-unidades, uma estrutura de

fóruns presenciais e virtuais para discutir os conhecimentos corporativos;

4) o Portal Corporativo, incorporando as várias Intranets e ferramentas de

gestão do conhecimento”.

A implantação da gestão do conhecimento no Serpro ilustra bem como a tecnologia

da informação pode dar suporte à criação, disseminação e armazenamento do conhecimento.

Nessa estratégia, destaca-se o Portal Corporativo, como ferramenta essencial à difusão do

conhecimento e a recuperação/obtenção rápida de informações úteis para as pessoas na

organização.

Os portais de conhecimento corporativo representam uma aplicação, nas

corporações, do conceito de portais da Internet (Yahoo, Terra, AOL, UOL, etc), como

alternativa criativa à catalogação e gerenciamento do imenso volume de informações

produzido e disponível aos empregados. Os portais devem prover um único ponto de acesso a

todos os recursos de informação e conhecimento importantes para a organização. O grande

desafio, no caso dos portais, é a interface dos usuários, decisiva para atrair e criar uma

identidade virtual e a manutenção atualizada dos seus conteúdos. Os portais têm o propósito,

também, de acabar com as “ilhas de informação”, integrando-as em uma única aplicação,

como porta de entrada para todos os usuários (ALVIM apud CARVALHO, 2000).

1.6 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL

As principais práticas e sinais consideradas na literatura como indutoras da

aprendizagem organizacional, com a respectiva referência dos seus defensores, estão

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apresentadas nas tabelas a seguir. Tais tabelas, construídas a partir de todo o referencial

teórico apresentado neste capítulo, servem de mapa para a avaliação do grau de aderência de

políticas e práticas organizacionais à aprendizagem, possibilitando, além do diagnóstico, a

elaboração de recomendações de desenvolvimento.

Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas na ESTRATÉGIA

Referenciais Teóricos

Aprendizagem de Circuito Duplo: questionar o que se aprende e revisar princípios e valores

ARGYRIS (1992)

Aprendizagem em Equipe: equipes interdisciplinares, auto-organizadas e com autonomia

STEWART (1998)

Aprendizagem Inerente ao Trabalho: existência de políticas e práticas organizacionais que consideram a aprendizagem inerente ao trabalho

MEISTER (1999)

Benchmarking externo: procedimento de comparar processos, práticas, funções e resultados das organizações para identificar oportunidades de melhoria de desempenho

GARVIN (apud FLEURY e FLEURY, 1997)

Contrato de Expectativas: clareza e simplicidade no que a organização oferece e o que espera das pessoas

NONAKA E TAKEUCHI (1997); DAVENPORT (2001)

Desaprendizagem: reavaliação e renovação de competências na organização

SENGE (2000)

Estrutura Adhocrática: mais favorável à mudança e à flexibilidade; a aprendizagem é proativa e transformadora

EBOLI (apud DUTRA, 2002); MINTZBERG (1998)

Gestão de Pessoas: modelo integrado com foco na aprendizagem e desenvolvimento

DUTRA (2002); EBOLI (apud DUTRA, 2002)

Participação da Liderança na Aprendizagem: participação comprometida da alta liderança de no processo de aprendizagem

BARLEY (apud STEWART, 1998); MITZBERG (1998)

Pertencimento: expressão das práticas organizacionais por meio de símbolos de pertencimento (logomarcas, slogans)

SCHEIN (1990); ARGYRIS (1992)

Prática de Reconhecimento: premiação à aprendizagem em equipe DUTRA (2002) Projeção de Cenários: exercício de projeção de cenários futuros DE GEUS (apud STARKEY, 1997) Projetos abrangentes: desenvolvimento de projetos de dimensão organizacional

SENGE (2000)

Reconhecimento da Inovação: reconhecimento pela participação em projetos inovadores

NONAKA E TAKEUCHI (1997)

Redução dos Mecanismos de Defesa: conscientização do que não se sabe (autopreservação)

ARGYRIS E SCHÖN (1996)

Rodízio Estratégico de Servidores: alocação planejada de pessoas NONAKA E TAKEUCHI (1997) Tabela 3 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem focadas na Estratégia

Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas na CULTURA Referenciais Teóricos

Ambiente de Confiança e Segurança: crença da inexistência de risco interpessoal

ARGYRIS (1992)

Comunidades de Prática: grupos informais com interesse comum WENGER (apud STEWART, 1998)

Cultura de Aprendizagem: tempo para aprender, relações informais, as pessoas falam abertamente sobre erros passados e lições aprendidas, facilidade de atrair e manter os melhores talentos, valorização da atitude na seleção de pessoal, discussão de valores da organização é visto como relevante

TERRA (2001)

Tabela 4 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem focadas na Cultura

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Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas na GESTÃO Referenciais Teóricos

Alinhamento Estratégico: os processos de aprendizagem estão alinhados com os propósitos organizacionais

SNYDER E CUMMING (1998)

Aprendizagem de Circuito Simples: mudança sucessiva de estratégia e processo (processo de melhoria, mudança incremental, aprendizagem restritiva,)

ARGYRIS (1992); ARGYRIS E SCHÖN (1978)

Aprendizagem por Insight: a organização gera oportunidades para imaginar soluções inéditas

TEORIA DA GESTALT IN FLEURY E FLEURY (1995)

Autodesenvolvimento: buscar diferentes formas de aprendizagem interna e externamente ao ambiente de trabalho

SENGE (2000); UNESCO (1998); EBOLI (apud DUTRA, 2002)

Benchmarking interno: procedimento de comparar processos, práticas, funções e resultados entre unidades da organização para identificar oportunidades de melhoria de desempenho

MEISTER (1999); SENGE (2000)

Foco do Controle Gerencial: controle da estratégia e não do comportamento

MORGAN (1986); STEWART (1998)

Gerência do Desconforto: a organização gera estado de desconforto como provocação de aprendizagem

FESTINGER (1975)

Gerência do Processo de Aprendizagem: ambiente de tolerância ao erro com foco em desenvolvimento

ARGYRIS (1992)

Gerência Educadora: gerentes voltados para o desenvolvimento das pessoas, da aprendizagem e da inovação (gerente como líder do trabalho de equipe)

DUTRA (2002)

Gestão por processos para facilitar a aprendizagem: estruturação da organização para definir, produzir, avaliar e melhorar seus serviços, produtos e processos de trabalho

SENGE (2000); GARVIN (apud FLEURY e FLEURY, 1997); TUSHMAN E NADLER (STARKEY, 1997)

Indicadores de Aprendizagem Individual: existência de indicadores e medidores de aprendizagem individual

PEDLER (1989)

Indicadores de Aprendizagem Organizacional: existência de indicadores e medidores de aprendizagem organizacional

PEDLER (1989)

Prática de Diálogos e Reflexões Coletivas: práticas organizacionais que favoreçam a externalização dos modelos mentais para criar o hábito de reavaliação de conceitos e crenças (externalização do conhecimento).

NONAKA E TAKEUCHI (1997); SENGE (2000); DE GEUS (STARKEY, 1997)

Prática de Simulação e Experimentação: procura e teste de novos conhecimentos (internalização do conhecimento)

NONAKA E TAKEUCHI (1997)

Resultados de Aprendizagem: incorporação dos resultados de aprendizagem aos processos, sistemas, estrutura e cultura

SNYDER E CUMMING (1998)

Transparência e Coerência da Gestão: clareza de critérios e coerência de atos no processo de gestão

ARGYRIS (1992); NONAKA E TAKEUCHI (1997); TERRA (2000); STEWART (1998)

Visão Compartilhada: missão, objetivos e metas da instituição disseminados e internalizados (comprometimento)

PEDLER (1989); SENGE (2000)

Tabela 5 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas em Gestão

Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas na Tecnologia da Informação (TI)

Referenciais Teóricos

Árvore do Conhecimento: estruturação das competências organizacionais e profissionais para construção de bases de conhecimento.

LEVY (1995), MALHEIROS e PINHO (2003)

Bases inteligentes de conhecimento: são usadas para capturar uma parcela do conhecimentos de trabalhadores com destaque de produtividade

CARVALHO (2000)

Cadastro eletrônico de especialistas: contém biografias do conhecimento de profissionais internos e consultores externos. Funcionam como páginas amarelas – indicam o conhecimento, mas não o contém

MALHEIROS e PINHO (2003)

Comunidades virtuais de práticas: grupos de pessoas ligadas WENGER (apud STEWART,

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Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas na Tecnologia da Informação (TI) Referenciais Teóricos

informalmente pelo conhecimento especializado e compartilhado, e pela paixão por um empreendimento em conjunto

1998), TERRA (2001)

Educação à distância: processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporariamente

ELEUTÉRIO (2003)

Gerenciamento eletrônico de documentos: repositórios de importantes documentos corporativos que atuam como armazéns do conhecimentos explícito

CARVALHO (2000), DAVENPORT e PRUSAK (1998)

Groupware e workflow: sistemas informatizados que oferecem suporte para o trabalho em grupo e para padronização e automatização de processos de trabalho

CARVALHO (2000), MALHEIROS e PINHO (2003)

Business Intelligence: soluções para processamento e apresentação de informações gerenciais. Uso de técnicas de mineração de dados (datamining) e de armazenamento multidimensional (datawarehousing)

JAMIL apud CARVALHO (2000)

Portal do Conhecimento Corporativo: interface amigável e integrada (baseado em padrões WEB) que orienta o usuário final em sua navegação pelos diversos sistemas de informação da organização

TERRA (2002), MALHEIROS e PINHO (2003), CARVALHO (2000)

Tabela 6 - Tabela de Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional focadas em TI

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2 A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL OTIMIZANDO RESULTADOS

NAS ORGANIZAÇÕES

O sucesso e a sobrevivência de uma organização é avaliado por meio de resultados.

Tais resultados devem refletir as necessidades das partes envolvidas na organização –

acionistas, clientes, fornecedores, funcionários, comunidades, etc. Assim, essas necessidades

devem ser identificadas, entendidas e utilizadas no desenvolvimento de processos de trabalho,

de produtos e serviços, que produzirão resultados que agregam valor de maneira diferenciada

às partes interessadas. Os líderes, de posse de todas essas informações, estabelecem as

diretrizes e formulam as estratégias para direcionar a organização e o seu desempenho, bem

como para determinar a sua posição competitiva.

As estratégias são desdobradas em planos de ação que servem como referência para a

tomada de decisões e para a aplicação de recursos na organização. Para permitir a

comunicação clara das diretrizes e das estratégias para as partes interessadas, criar sinergia na

implementação e possibilitar a análise do desempenho é planejado e operacionalizado um

sistema de medição baseado em indicadores, formando um painel de controle da organização.

Os resultados devem ser analisados e criticados para estabelecer ações corretivas e

preventivas, consolidando, assim, o controle do desempenho e o aprendizado organizacional.

As pessoas que compõem a força de trabalho devem estar capacitadas e satisfeitas,

atuando em um ambiente propício à consolidação da cultura da excelência, para executarem e

gerenciarem adequadamente os processos, identificarem as melhores alternativas de captação

e aplicação de recursos e utilizarem os bens e serviços provenientes de fornecedores para

transformá-los em produtos, criando valor para os clientes, de acordo com o que estabelecem

as estratégias e os planos da organização.

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Os resultados são o grande orientador para o acompanhamento do desempenho da

organização e suas tendências em relação aos clientes e ao mercado, à situação econômico-

financeira, às pessoas, aos fornecedores e aos processos organizacionais. Esses resultados, em

forma de conhecimento, retornam para toda a organização para reorientar as ações e fomentar

o aprendizado, na forma de melhorias ou de inovação das práticas de gestão e dos respectivos

padrões de trabalho.

Os passos acima descrevem o ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Action) (CAMPOS,

1996) constante do Modelo de Excelência adotado no Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ),

instituído pela Fundação para o Prêmio Nacional de Qualidade (FPNQ), e demonstram a

preocupação com a aprendizagem no âmbito de um modelo sistêmico de gestão. Segundo esse

modelo, a aprendizagem é transversal a todos os critérios de excelência, ou seja a toda a

organização, como um fundamento essencial para a obtenção da excelência no desempenho.

Daí a necessidade de se internalizar na cultura da organização, tornando-se parte do trabalho

diário em quaisquer de suas atividades (Critérios de Excelência, FPNQ, 2003).

Observa-se, portanto, que a aprendizagem organizacional se impõe como o grande

elo construtivo entre as empresas e as pessoas, como estratégia de competitividade ou como

um meio para que as organizações desenvolvam competências, pois ela contribui

decisivamente para o atendimento das expectativas de melhor desempenho e de

desenvolvimento contínuo das organizações. Atender essas expectativas pressupõe colocar a

aprendizagem a serviço da melhoria contínua – na busca da eficiência, qualidade e

produtividade –, assim como da inovação, na busca da efetividade, adaptação às mudanças do

ambiente e sobrevivência.

Este capítulo apresenta exemplos de como as organizações otimizam resultados por

meio da aprendizagem organizacional. O capítulo aborda exemplos de organizações que

tiveram grande sucesso no desenvolvimento de práticas de aprendizagem organizacional

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sustentadas nos quatro pilares das organizações que aprendem – estratégia, cultura, gestão e

tecnologia de informação – do modelo desenvolvido no capítulo anterior deste trabalho.

2.1 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA ESTRATÉGIA

A estratégia como processo de aprendizagem pode ser uma boa explicação para a

longevidade de empresas como Shell, Mitsubishi, Booker McConnell e British American

Tobacco. O que há de comum nessas organizações? Elas nunca ficaram paradas.

Reconheciam forças internas que podiam ser desenvolvidas à medida que mudavam as

condições ambientais. A Mitsubishi, por exemplo, foi criada em 1870 como empresa de

transporte marítimo e de comércio, adquiriu minas de carvão para garantir que tivesse o

minério nos porões dos navios, construiu estaleiros para reparos de navios importados e, a

partir dos negócios de câmbio que havia iniciado, desenvolveu um banco para financiar os

embarcadores de mercadorias (DE GEUS apud STARKEY, 1997).

Várias empresas têm demonstrado que a inovação sustentada, embora difícil, é

certamente exeqüível. Grandes empresas, tais como, IBM, 3M, Citicorp, American Airlines,

GE, Merck e Philip Morris, como também empresas menores, tais como, Rolm, Wang,

Charles River Breeding Labs, Federal Express e Dunkin’ Donuts, têm se mantido altamente

inovadoras por prolongados períodos. Elas têm gerido simultaneamente o duplo desafio de

inovar para o mercado presente e para o futuro (TUSHMAN e NADLER apud STARKEY,

1997).

A Bristish Petroleum (BP) credita um valor agregado de cerca de US$ 100 milhões

como resultado de uma estratégica clara de apoiar iniciativas de gestão do conhecimento

dirigidas a necessidades reais da empresa, tais como, redução de custos na abertura de pontos

de venda e eficiência na perfuração de poços de petróleo. A abordagem é simples: um ciclo de

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aprendizagem “antes”, “durante” e “depois” de qualquer evento resultam em lições

aprendidas que são refinadas e transformadas em melhores práticas e disseminadas na intranet

da empresa (HSM, 2000).

Os benefícios decorrentes do planejamento não são apenas estratégias, objetivos e

metas que surgem, mas também a aprendizagem que ocorre durante o processo. Se o

aprendizado é um objetivo estratégico, então a maneira pela qual estruturamos o processo de

planejamento e quem envolvemos nesse processo pode fazer importante diferença. O papel

dos líderes da organização nesse processo é fundamental na determinação de um consenso

sobre quais são as competências essenciais para a organização, qual é a visão estratégica em

termos das metas desafiadoras para mudar a realidade e como são comunicadas aos diversos

níveis hierárquicos. São exemplos da atuação da alta administração como propulsor da

inovação e aprendizagem os casos da GE, “ser o 1º ou 2º colocado em todos os mercados

onde atua”, da Motorola, “qualidade 6 sigma”, da Intel, “exemplo de oganização do

trabalho”, da Polaroid, da Merck, da Kyocera e da HP, dentre outros (TERRA, 2001).

A Xerox, cujo principal negócio é prestar serviços de assistência técnica aos clientes,

lançou em 1996 o Eureka, um “sistema tático social” que inclui 25 mil representantes de

campo com laptops e Internet e utiliza um sistema de documentação comum a todos, para

facilitar a comunicação lateral. Os representantes contribuem com dicas úteis que ajudaram a

empresa a reduzir em 5% os custos de peças e mão-de-obra. Os representantes têm acesso a

mais de 5 mil dicas por mês, e a cada mil inspeções técnicas é gerada pelo menos uma nova

dica. O que torna o sistema autosustentável é o reconhecimento dado ao funcionário por

participar. Cada vez que um representante contribui seu nome sai no sistema. Isso motiva as

pessoas a assumir a responsabilidade da criação dessa base de conhecimento comum (HSM,

2000).

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Converter conhecimento implícito em explícito significa encontrar uma forma de

expressar o inexprimível. Essa preocupação foi superada pela alta administração das empresas

japonesas com o uso de linguagem figurada e simbolismos para articular suas intuições e

insights. O uso de metáforas, analogias e modelos são ideais para isso. Quando a Honda

inaugurou um novo conceito de carro com o slogan “let´s gamble” ou “Vamos arriscar”

queria expressar quando iniciou os projetos que levaram ao City, o diferenciado carro urbano

da empresa. Processo similar ocorreu com o projeto da minicopiadora da Canon e da máquina

de fazer pão da Matsushita (NONAKA apud STARKEY, 1997).

Vários outros exemplos de desenvolvimento da aprendizagem organizacional

sustentada pela estratégia podem ser reconhecidos nas organizações que adotaram o balanced

scorecard (BSC) como modelo de gestão e avaliação de desempenho institucional.

Desenvolvido no início da década de 1990 com o objetivo de resolver problemas de

mensuração, derivados da constatação de que na era do conhecimento a capacidade das

organizações de desenvolver, fomentar e mobilizar ativos intangíveis é fator crítico de

sucesso, o BSC acabou sendo usado para implementar novas estratégias. Assim os criadores

do BSC constataram que, ao contrário da tendência geral de insucesso das organizações em

executar suas estratégias, as organizações que adotaram o BSC as implementavam com êxito

e aufeririam retornos positivos entre 12 e 24 meses. Esse fenômeno, denominado por

KAPLAN e NORTON (2000) de “organizações focadas na estratégia”, ocorreu com o uso do

BSC para alinhar as unidades de negócio e as pessoas em torno de metas gerais e focar os

processos críticos da organização em torno da estratégia. Nesse contexto, visão, estratégia e

recursos fluíam de cima para baixo enquanto sinergia, inovação, feedback e aprendizado

refluíam de baixo para cima. Com esse foco, alinhamento e aprendizagem, as organizações

exibiam desempenho extraordinário e o todo realmente se transformava em muito mais do que

a soma das partes.

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O segredo do sucesso do BSC está na sua lógica poderosa de preservar as

mensurações retrospectivas do desempenho financeiro (ou outra dimensão de resultado para

organizações sem fins lucrativos) com outros vetores do desempenho futuro (perspectivas do

cliente, dos processos internos e do aprendizado e crescimento), cuja relação de causa e efeito

fornece a arquitetura para a formação de novos elos organizacionais. Nessa abordagem,

diversos vetores de desempenho organizacional devem ser reunidos de modo alinhado com a

estratégia corporativa, gerando um conjunto de indicadores que extrapolam as formas

tradicionais de medida de desempenho, particularmente o enfoque em medidas financeiras. O

termo utilizado, Balanced Scorecard, reflete o equilíbrio entre os objetivos de curto e longo

prazos, entre medidas financeiras e não financeiras, entre indicadores de tendências e

ocorrências e entre perspectivas interna e externa (KAPLAN e NORTON, 1997).

A perspectiva Financeira ou de Resultados avalia se a implementação da estratégia

está contribuindo para o alcance dos objetivos (rentabilidade, crescimento, valor de mercado,

competitividade, no caso de empresas que visam lucro e, produtividade, eficácia, satisfação,

reconhecimento, imprescindibilidade etc, no caso de entidades sem fins lucrativos). A

perspectiva interna foca as operações críticas (processos e competências que devem ser

continuamente melhorados). A perspectiva do cliente tenta avaliar como está a organização na

visão do cliente (relacionamento da organização e identificação quanto à eficácia, qualidade,

tempestividade, efetividade, etc). Já a perspectiva da inovação e aprendizagem avalia a

capacidade da organização de aprender, inovar, melhorar e mudar (pessoas e ambiente

propício à aprendizagem).

O uso contínuo da metodologia do BSC possibilitou a criação de um novo sistema

gerencial em organizações como Mobil, CIGNA, Rockwater, Chemical Bank, Halliburton,

AT&T Canadá, Prefeitura da Cidade de Charlotte no estado americano da Carolina do Norte,

Governo do Estado de Washington (EUA), Duke Childen´s Hospital, May Institute, dentre

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diversos exemplos de organizações de vários portes, sejam privadas, públicas ou do terceiro

setor (KAPLAN e NORTON, 2000).

A utilização do BSC por organizações sem fins lucrativos revelou que essas

organizações enfrentam sérias dificuldades na definição nítida de suas estratégias. KAPLAN e

NORTON (2000) se depararam com documentos sobre estratégia de mais de 50 páginas e boa

parte desses documentos, após a explicitação da missão e visão, consistia de listas de

programas e iniciativas, em vez de resultados almejados pela organização. A rigor, nessas

organizações não havia estratégia, mas apenas intenções. Os planejadores não entenderam que

estratégia não é apenas o que a organização pretende fazer, mas também o que a organização

decide não fazer.

O modelo do BSC utiliza fatores tangíveis e intangíveis para avaliação da

performance, demonstrando o resultado de ações executadas e os condutores da performance

futura. Esse modelo coloca a aprendizagem organizacional como um alicerce do

desenvolvimento organizacional. A aprendizagem organizacional é o estopim do processo de

melhoria e de mudança e, como tal, deve-se creditar a ela grande parte dos resultados já

alcançados, como também dos que ainda poderão ser alcançados pela organização.

2.2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA CULTURA

Os valores, crenças e a cultura da organização têm significativo impacto sobre o

processo de aprendizagem e sobre o grau de eficácia com que a empresa pode se adaptar e

mudar. Em particular, a comunicação deficiente entre pessoas e entre organizações pode ser

um importante impedimento ao aprendizado e à melhoria dos processos organizacionais.

Segundo ATKINSON (2000, p. 17), ao analisar como criar mudanças culturais,

descreve o caso da General Eletric Co. (GE) na forma abaixo:

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“Molde sua cultura. O que é que as companhias mais importantes estão fazendo para

aperfeiçoar sua cultura? Esta pergunta foi feita pelo superintendente de uma

companhia logo após haver adquirido uma divisão de uma companhia financeira do

Reino Unido. Debateu-se o assunto quando a equipe no comando da companhia

recentemente adquirida reuniu-se pela primeira vez para discutir estratégias futuras.

Imediatamente a equipe se concentrou na questão de mudança e melhorias. E, logo a

seguir, a conversa se voltou para “cultura corporativa”, deixando claro que os

membros da equipe precisavam entender rapidamente como se poderia substituir a

cultura desatualizada, burocrática, com respostas lentas e atitudes negativas, que

vigorava na empresa adquirida, por uma cultura nova.

Antes de qualquer outra coisa, prepararam sua estratégia para a integração posterior

à compra, dando-se um prazo de 90 dias para transformarem totalmente a cultura e a

empresa. Passado um ano, a antiga empresa tinha sido completamente retivalizada e

funcionava com um ritmo, velocidade e qualidade na oferta de serviços bem melhores

do que quaisquer outros considerados anteriormente. O processo funcionou pela

simples razão de que a equipe de diretores tinha uma visão clara das possibilidades

da empresa. Rejeitavam as opiniões autolimitantes dos antigos donos, estabeleceram

metas, desenvolveram uma atitude firme e otimista e transmitiram e implementaram

práticas semelhantes através de toda a rede de empresas. Essa companhia é a GE,

uma das empresas mais importantes do mundo, que entende o poder da cultura e usa

todos os artifícios que tem a seu dispor para desenhar sua cultura corporativa

exatamente como deseja. Busca formas positivas de fazer com que as coisas

funcionem e insiste continuamente na questão da cultura.”

Mudar a cultura corporativa tornou-se um modismo em administração. Existe de fato

a necessidade de mudar hábitos profundamente arraigados em muitas organizações. Essa

necessidade exige mudanças no comportamento. Porém, “mudar a cultura” não irá produzi-

las. A cultura é singularmente persistente. Na verdade, a mudança no comportamento

funciona somente se puder ser baseada na cultura existente.

A Marshall Field, em Chicago (EUA), foi uma das primeiras lojas de departamentos

de alta classe em grandes cidades a enfrentar problemas no anos 70 – e também uma das

primeiras a se livrar deles. Três ou quatro CEOs (chief information office) sucessivos tentaram

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mudar a cultura – sem sucesso. Então veio um novo CEO, que perguntou: “O que temos de

fazer para melhorar os resultados?” Todos os seus gerentes de lojas sabiam a resposta:

“temos de aumentar a quantia que cada comprador gasta por visita”. Então ele perguntou:

“alguma das nossas lojas fez isso?” Três ou quatro delas – de um total de 30 – faziam. “Vocês

poderiam nos contar”, pediu o novo CEO, “o que fazem para ter os resultados desejados?”

Em todos os casos, esses resultados eram atingidos não por se fazer alguma coisa diferente,

mas por se fazer, sistematicamente, algo que todos sabiam que deveria ser feito, tinham nos

manuais de políticas e pregavam – mas somente as poucas exceções estavam praticando

(DRUCKER, 1993, p. 127).

Esse exemplo mostra que a alta administração deve certificar-se de que o

comportamento eficaz, originado pela própria cultura da organização, seja de fato praticado.

Isso significa acima de tudo que a direção deve perguntar, sistematicamente e repetidamente:

“O que nós da direção, e esta empresa como um todo, fazemos para ajudá-los a produzir os

resultados que todos desejamos?” E: “O que fazemos que os impede de se concentrar nesses

resultados necessários?” (DRUCKER, 1993, p. 127).

A licença criativa da 3M é um bom exemplo de gestão que respeita a cultura,

estimulada pela estratégia de constante inovação. A 3M injeta desejo de inovação em toda a

empresa com a permissão para que todo o pessoal técnico dedique 15% do seu tempo para

trabalhar em projetos que eles mesmos escolhem. Eles não precisam de aprovação e nem de

prestar contas à gerência. Essa prática foi introduzida na empresa pelo seu presidente depois

que um funcionário inventou o produto-base da 3M, as fitas Scotch, ignorando suas ordens.

Foi graças a essa prática que um técnico da 3M desenvolveu logo depois o post-it. Observa-se

que o sucesso da 3M não ocorre por acaso, como algumas de suas invenções, mas pela visão

clara, compartilhada e coerente que geram autonomia e confiança nos níveis técnicos e

gerenciais.

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Um dos pilares do sucesso da 3M é justamente a consciência que a direção da

organização têm em manter uma cultura que encoraje a criação e a inovação, fortalecendo

práticas que favoreçam a criatividade e a inovação, como estímulo a cooperação

interdepartamental, autonomia e formas de recompensa e premiação a metas desafiadoras

(30% das vendas derivadas de produtos com menos de 4 anos de idade) e promoção pelas

realizações.

Algumas organizações trabalham a questão cultura remodelando seus espaços físicos

a fim de melhorar a interação e o compartilhamento do conhecimento tácito e para influenciar

a criatividade. Em ambos os casos, a preocupação está em facilitar os contatos informais e a

comunicação em todos os sentidos. Assim, salas de relaxamento e descontração, salas de

ginástica (Du Pont), quadra de basquete (Lotus), salas de jogos e humor (Kodak), salas de

meditação (Canon e Kao) e projetos de completos de fábricas (Toyota) e de escritórios

(Alcoa) são construídos com esse intuito (TERRA, 2001).

2.3 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA GESTÃO

O processo de inovação é fundamentalmente um processo de geração de

conhecimento. Muitas idéias surgem de insights e outras de combinações ou adaptações de

idéias recusadas pelos patrocinadores na organização. As organizações de sucesso aprenderam

a induzir o processo de inovação e aproximar o gerador de idéias e os patrocinadores.

Um exemplo desse tipo de prática é a alocação balanceada de recursos da Texas

Instruments, para operações e projetos inovadores. Na 3M, há um grupo de novos negócios,

mas um gerador de idéias pode se dirigir a qualquer patrocinador. Se a idéia não for aceita,

ainda assim é mantida viva para ser testada oportunamente (GALBRAITH apud STARKEY,

1997).

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A área de consultoria gerencial da Ernest & Young está engajada a mais de 6 anos no

compartilhamento de experiências pelo qual os consultores aproveitam os conhecimentos

adquiridos por seus colegas em situações similares com outros clientes. Por exemplo, após a

implantação de SAPs (pacote de software empresarial) numa empresa-cliente, uma

comunidade de interesse (denominada Coin) verifica o que foi aprendido, escolhe as questões

mais relevantes e publica numa central de conhecimento. Essa prática possibilita acelerar a

solução de problemas e levar os resultados aos clientes mais rapidamente (HSM, 2000).

Algumas organizações conseguiram derrubar barreiras ao processo de aprendizagem

e criatividade, como a falta de tempo e a visão limitada, criando “espaços” para que as

pessoas reflitam com os outros sobre o que sabem. Uma empresa farmacêutica japonesa tem

um salão de chá onde os pesquisadores podem sentar-se e discutir seus projetos com os

colegas. A Buckman Labs possui uma sala virtual chamada “Break Room” na qual as pessoas

interagem socialmente e ajam como uma comunidade, afixando piadas, avisos de compra e

venda, receitas culinárias, datas de aniversário, etc (HSM, 2000).

De fato, a gestão de pessoas parece ser o campo mais complexo do gerenciamento

das organizações, mas o que pode facilitar mais o aprendizado e o desenvolvimento

organizacional. A Alabama Gas Corp (Alagasco), uma divisão da Energen, monitora

constantemente o funcionário porque acredita que seu bem-estar implica uma satisfação maior

do cliente. A Alagasco desenvolveu programas para melhorar a experiência e a vivência das

pessoas, buscando aumentar não só a confiança na sua capacidade, mas também nos colegas e

chefes. Um dos programas permite a transferência temporária do funcionário para realizar

funções diferentes da suas e desenvolver novas habilidades, ampliando o escopo geral de sua

experiência (HSM, 2000).

O Departamento de Pessoal do Estado da Geórgia nos EUA desenvolve uma

metodologia para mapear os melhores desempenhos por um processo de pesquisa de

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competências e identificar os melhores, que são entrevistados com vistas a verificar como

trabalham. Pesquisas comportamentais detectam e documentam o que os melhores

empregados têm em comum, em termos de métodos de trabalho, atitudes, regras básicas. Essa

metodologia facilita o recrutamento e a alocação de pessoas a determinadas funções e permite

disseminar as práticas de quem tem melhor desempenho (HSM, 2000).

O esforço de gestão da aprendizagem organizacional nas organizações têm

desaguado na criação de departamentos ou instituições específicas para promoção do

aprendizado, denominadas Universidades Corporativas. Pode-se citar empresas como

Motorola, Arthur D. Little, Disney, McDonald´s, Nokia, Oracle, IBM, GE. No Brasil já

iniciaram suas atividades a Escola Amil, Instituto de Formação Carrefour, Universidade

Algar, Unite da Telemar, Academia Universidade de Serviços do Grupo Accor, Boston School

do Bank Boston, Visa Trainning e Universidade Datasul (EBOLI apud PEREIRA, 2003).

A prática de valorização das pessoas da Telemar merece destaque no cenário

nacional. O programa de trainee da empresa, que nasceu da privatização de 16 operadoras do

antigo sistema Telebrás, pressupões treinamento direcionado com acompanhamento da área

de recursos humanos, possibilitando ao trainee vivenciar situações reais de trabalho,

interagindo com diversas gerências, participando de projetos individuais e em grupo, atuando

em mais de uma área profissional para aprofundar o conhecimento sobre o negócio da

Telemar. O objetivo desse programa de treinamento em serviço é fornecer uma visão

estratégica e sistêmica da organização, fazendo que com desenvolvam habilidades de

relacionamento, de gestão de pessoas e de processos mediante treinamento formal e dirigido

(FLEURY e FLEURY, 1997).

A Andrade Gutierrez fez grandes investimentos em tecnologia na implantação de um

programa de Gestão do Conhecimento, mas que dependia, essencialmente, de incentivar as

pessoas a compartilhar soluções e disseminar conhecimento. Assim, desenvolveu política de

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gestão de pessoas com premiação para contribuições. O programa de Gestão do

Conhecimento da AG criou um quadro técnico, composto por nove grupos de profissionais de

reconhecida experiência, que funciona como “editores do conhecimento”, pois são

responsáveis pela avaliação contínua da qualidade e relevância do conteúdo dos bancos de

dados e das contribuições (CARVALHO, 2000).

Muitas organizações já empreenderam projetos e esforços de planejamento e gestão

estratégica baseado no ciclo PDCA, um dos mais importantes conceitos da gestão pela

qualidade total, apesar de muitas tratarem esta iniciativa como projeto e não como processo.

Observa-se que o giro do ciclo PDCA não tem fim, justamente por se tratar de um processo de

aprendizagem contínua, muito similar ao efeito da aplicação do BSC como modelo de gestão

estratégica (conforme discutimos no item anterior deste capítulo). O ciclo PDCA é ilustrado a

seguir:

Figura 4 - Ciclo PDCA Como se pode observar na figura anterior, a etapa “P” do ciclo PDCA é aquela pela

qual passam todas as organizações que desenvolvem planejamentos estratégicos e que gera,

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como produto final, o chamado “Plano Estratégico”. Porém, algumas organizações não

entendem o planejamento estratégico como processo, carecendo da visão que lhes permitiria

conceber os métodos para a execução do plano (etapa D), a verificação do planejado com

relação ao executado (etapa C) e a geração de ações corretivas e re-planejamento (etapa A).

Um bom exemplo de aplicação do ciclo PDCA e de integração com modelos de

gestão (BSC e modelo de excelência) é o “Sistema de Gestão de Indicadores de Desempenho”

da Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SEGES/MP,

2002). Para o desenvolvimento de um sistema de medição (painel de bordo) e avaliação de

desempenho (análise crítica) a SEGES utilizou os critérios de excelência do Programa de

Qualidade no Serviço Público (PQSP), baseado no Modelo de Excelência em Gestão do

Prêmio Nacional de Qualidade (PNQ) da Fundação para o Prêmio Nacional de Qualidade

(FPNQ). Na implementação e gestão do planejamento estratégico foram utilizados o ciclo

PDCA e princípios do BSC. Um sistema de medição do desempenho global foi implementado

como ferramenta gerencial (painel de bordo).

A oportunidade de aprendizagem organizacional nessa metodologia está

principalmente na etapa de análise crítica do desempenho, momento em que se faz uma

reflexão do andamento das ações a partir dos indicadores de desempenho. Esse processo de

aprendizagem é normalmente incremental, ou seja conduz a melhorias contínuas

(aprendizagem de circuito simples). Entretanto, se a análise crítica de desempenho for feita

com um conjunto de indicadores construídos a partir da lógica do BSC, à luz da estratégia da

organização, estariam criadas as condições para identificação das necessidades de mudanças

estruturais nos processos internos a fim de alavancar os resultados (aprendizagem de circuito

duplo).

Em 1995, o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO), implantou um

novo Modelo de Gestão, iniciando as atividades dos Processos Corporativos em 1996. Em

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1999, foi criado o “Processo Corporativo Gestão do Conhecimento e Aprendizagem

Organizacional”, passando a tratar a Gestão do Conhecimento como um assunto de

importância estratégica para a organização. Inicialmente foi concebida e aprovada a “Política

SERPRO de Gestão do Conhecimento e Aprendizagem Organizacional” e delineadas as

Práticas que deveriam ser introduzidas na empresa (CADAIS e DE FARIA, 2003).

A política de Aprendizagem Organizacional do SERPRO engloba estudos, diretrizes

e orientações para a implementação no SERPRO do processo de aprendizagem

organizacional, de forma que a organização possa aprender melhor e em menor espaço de

tempo, obtendo e mantendo vantagem competitiva e considerando aspectos relevantes como

questionamento, experimentação, comunhão de propósitos, visão comum, combinação de

diferentes pontos de vista para aumentar a compreensão da questão ou tema a ser tratado

(MACEDO et al., apud SANTOS et al, 2001).

2.4 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL SUSTENTADA NA TECNOLOGIA DA

INFORMAÇÃO

Certamente, a informação é essencial ao processo de aprendizagem. É útil pensar em

sistemas de informação como facilitadores ou dificultadores da aprendizagem organizacional.

Sistemas de informação separados, que ocultam a interdependência e dão um falso senso de

controle, não são realistas. Entretanto, sistemas de informações gerenciais que transformam

dados da organização em informações e depois ajudam os gerentes a transformar informações

em conhecimento e conhecimento em ação, são essenciais.

O desafio está em decidir que informações e conhecimento – e em que forma – são

necessários. Se tivermos a aprendizagem organizacional em mente como objetivo no desenho

dos sistemas de informação, teremos maior probabilidade de gerar as informações e o

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conhecimento que os gerentes necessitam para tomar ações efetivas. Essa foi a conclusão que

a Analog Devices, fabricante de semicondutores dos EUA, chegou ao utilizar informações

mundiais na linha de produtos (STATA apud STARKEY, 1997).

As tecnologias de informação têm auxiliado decisivamente as empresas no esforço

de aprendizagem organizacional. A BP não alcançaria os resultados que contabiliza sem o

apoio da Intranet da empresa, para compartilhar os ativos de conhecimento formado pelas

lições genéricas e específicas aprendidas. Da mesma forma o ambiente de workgroup formado

por aplicativos compartilhados e videoconferência disponível para cerca de 1,5 mil pessoas,

envolvendo funcionários, parceiros, associados e fornecedores da BP. Outro recurso muito

importante nesse processo de aprendizagem é a identificação dos detentores de conhecimentos

específicos, ou seja, “quem sabe o quê” na organização. A TI auxiliou a BP nesse particular

criando uma lista de “páginas amarelas” de mais de 10 mil funcionários (HSM, 2000).

As mais de cem comunidades de práticas do Banco Mundial não poderiam reunir

especialistas em diversos assuntos de interesse da organização, espalhados pelo mundo,

conectados a uma base de conhecimento, sem a aplicação de tecnologias de comunicação e

informática. A Xerox incorporou um software de tradução a seu sistema Eureka para que os

representantes de campo possam ler as dicas de manutenção em seu idioma, quebrando a

barreira de linguagem para o processo de aprendizagem (HSM, 2000).

Vale destacar, entretanto, que nesses exemplos as práticas geraram benefícios às

organizações não apenas pelas soluções tecnológicas, mas pelo reconhecimento da

importância do relacionamento humano, necessário para o compartilhamento de

conhecimentos, além de obstáculos culturais e comportamentais.

O Wal-Mart é lider no mercado de varejo em grande parte devido a seus sistemas de

logística de informações onde seus gigantescos centros de distribuição e seus bancos de dados

passam a ser o centro nervoso da corporação. A FedEx utiliza-os como fonte de vantagem

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competitiva. Empresas como HSBC e Citibank só sobrevivem com sistemas financeiros

globais (JOÃO apud PEREIRA, 2003).

A Embraer conseguiu disputar a liderança no mercado de aviões regionais com a

família ERJ 145, toda projetada e desenvolvida em CAD-CAM. Como os projetos são

complexos e a quantidade de informação para o desenvolvimento de uma nova família ou

modelo são enormes há a necessidade de ferramentas de auxílio a todas as atividades

envolvidas o que torna a estrutura de tecnologias de informação básica para que a Embraer

possa obter vantagem competitiva (JOÃO apud PEREIRA, 2003).

O compartilhamento de conhecimento e experiências viabilizado pela TI mostra toda

a sua força numa empresa multinacional espalhada por mais de 190 países, como é o caso da

Siemens. O programa chamado ShareNet possibilita que 400 mil funcionários em todo o

mundo possam trocar experiências, apresentar sugestões, buscar informações para resolução

de problemas, pedir dicas para colegas e comentar idéias e sugestões. Essa ferramenta torna

possível a grande economia de tempo e recursos, evitando-se erros comuns já comentados por

outras pessoas em processos semelhantes. Existem perto de 600 fóruns de discussão sobre os

mais variados temas na comunidade formada pelo ShareNet. A participação é incentivada por

uma política de milhagem que pode levar a prêmios e benefícios profissionais. A atualização

das informações é controlada automaticamente, sendo que a cada seis meses os participantes

recebem mensagem para atualizar as informações, senão serão deletadas da base de

conhecimento (BANAS, 2001).

A Andrade Gutierrez (AG) desenvolveu programa de gestão do conhecimento

voltado para o aproveitamento das melhores práticas, evitar repetição de erros e concentrar-se

em soluções de maior eficácia e qualidade. O programa da AG concentra-se no

compartilhamento do conhecimento já existente na área de execução de obras, considerada

pela empresa como seu grande diferencial competitivo (larga experiência de mais de 50 anos

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de atividade), procurando transformar o conhecimento tácito em explícito. A AG implantou o

TelTech (versão mais recente chamada de Sopheon) que apresenta funcionalidade de um

sistema de mapa de conhecimento e uma ferramenta voltada para intranet. As informações são

armazenadas em cinco banco de dados de profissionais, obras, experiências adquiridas, sub-

contratados e de padrões (CARVALHO, 2000).

Um exemplo de comunidade de práticas virtual é a Rede de Tecnologia de Minas

(Retec) que, em parceria com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg),

disponibiliza um site na Internet contendo lista de discussão acoplada com correio eletrônico

para integrar atores envolvidos em projetos de financiamento nas áreas de gestão empresarial,

melhoria de produto/processo e capacitação tecnológica. A Fiemg faz triagem de perguntas de

empresários e busca respostas junto aos parceiros como Sebrae, Senai e UFMG

(CARVALHO, 2000).

A Educação à Distância (EaD) é outro recurso que, com o desenvolvimento das

tecnologias de informação, tem sido muito utilizado em programas de aprendizagem nas

organizações. Exemplos como os da Telemar, Algar, Siemens, Embratel, Motorola e Souza

Cruz são exemplos bem sucedidos (SURRAGE apud ELEUTÉRIO, 2003). Esse texto cita

pesquisa realizada pela PwC Consulting onde foi constatado que 20% de 500 empresas

brasileira consultadas já estão utilizando EaD para treinamento de seus funcionários,

principalmente nos segmentos de Bancos e Telecom.

A estratégia de gestão do conhecimento e aprendizagem organizacional adotada pelo

Serpro enfoca especialmente a tecnologia associada à gestão de conhecimento, os sistemas de

informação utilizados e como o conhecimento permeia a organização. O objetivo é

transformar o conhecimento em um bem de todos ao invés de um bem de um indivíduo e criar

um ambiente onde o aprendizado e absorção da cultura organizacional por novos indivíduos

sejam os mais rápidos possíveis. A tecnologia tem um papel relevante nessa gestão direta do

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saber e é essencial para a reutilização do conhecimento. Ela atua como facilitadora,

fornecendo a estrutura para retenção, compartilhamento e distribuição de conteúdos por

diversos meios, como: correio eletrônico, portal corporativo, Intranet, sistema de fluxo de

trabalho, ferramenta de educação à distância, banco de dados de conhecimento, sistema de

páginas amarelas (sistema perfil) associado um banco de dados com a árvore do

conhecimento SERPRO com as competências organizacionais e individuais necessárias a

empresa (MALHEIROS e PINHO, 2003).

A “Agência de Informação Embrapa” corresponde a um conjunto de várias Agências

de Produto, que organizam informação técnica relevante para o agronegócio, especializada

por produto, estruturada sob a ótica da cadeia produtiva do agronegócio, e disponibilizada na

Internet para atender a perfis diversificados de consumidores de informação: produtores

rurais, extensionistas, pesquisadores, técnicos, professores, estudantes, etc. Todo o conjunto

de informações é organizado e armazenado em meio eletrônico. Assim, foram criados um

repositório de conteúdos de informações, categorizados segundo os diferentes ambientes de

consumo da informação, e um site onde são disponibilizadas as informações das diversas

agências de produtos. Para manter os dados desse site íntegros e constantemente atualizados,

fez-se necessário construir um sistema automatizado, baseado na arquitetura cliente servidor e

acessado através da Intranet da empresa, para inserção, alteração e exclusão de dados das

diversas agências de produtos, permitindo a troca e o reuso desses dados. A integração dessas

soluções de software resultou no gerenciador de conteúdos da “Agência de Informação

Embrapa” (EVANGELISTA et al, 2003).

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2.5 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL

Apesar dos vários exemplos de práticas da aprendizagem sustentadas nos quatro

pilares do nosso modelo de organizações que aprendem, pode-se verificar que é tênue a

fronteira entre uma e outra dimensão de sustentação, sendo que muitas práticas poderiam ser

classificadas em mais de um pilar. Entretanto, essa divisão lógica serve ao seu propósito de

demonstrar que para o sucesso das organizações há que se estruturar práticas de aprendizagem

suportadas por estratégias claras e compartilhadas, por modelos de gestão que favoreçam

principalmente o engajamento das pessoas na criação de uma cultura de aprendizagem e pelo

uso intensivo de tecnologias da informação capazes de não só facilitar o compartilhamento de

conhecimento, mas a codificação e organização do conhecimento vital para o

desenvolvimento das organizações.

Agrupa-se nas tabelas a seguir as práticas de aprendizagem encontradas nas diversas

organizações descritas neste capítulo, facilitando a identificação dos casos estudados.

Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional

Organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na ESTRATÉGIA

Aprendizagem de Circuito Duplo IBM, 3M, Citicorp, American Airlines, GE, Merck, Philip Morris, Rolm, Wang, Charles River Breeding Labs, Federal Express, Dunkin’ Donuts e British Petroleum

Reconhecimento da Inovação IBM, 3M, Citicorp, American Airlines, GE, Merck, Philip Morris, Rolm, Wang, Charles River Breeding Labs, Federal Express, Xerox e Dunkin’ Donuts

Aprendizagem em Equipe Xerox, Ernest & Young

Projetos abrangentes 3M, Honda, Matsushita, Canon, Intel, HP

Pertencimento Honda, Kao

Participação da Liderança na Aprendizagem

Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte (EUA), Governo do Estado de Washington (EUA), Duke Children’s Hospital, May Institute, Merck, Kyocera, GE, Motorola, HP

Gestão de Pessoas Alagasco, Departamento de Pessoal do Estado da Geórgia (EUA), Andrade Gutierrez

Tabela 7 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Estratégia

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Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional

Organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na CULTURA

Comunidades de Prática 3M, Ernest & Young, Xerox

Cultura de Aprendizagem: Licença Criativa 3M, Xerox

Ambiente de Confiança e Segurança: 3M, Xerox

Tabela 8 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Cultura

Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional

Organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na GESTÃO

Prática de Diálogos e Reflexões Coletivas: melhores práticas disseminadas British Petroleum, Buckman Labs, SEGES/MP

Aprendizagem por insight: inovação 3M, Honda, Matsushita e Canon

Visão compartilhada: internalização de missão e visão

SERPRO, Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute

Alinhamento estratégico Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute

Foco do controle gerencial: Balanced Scorecard

Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute

Indicadores de Aprendizagem Individual Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute

Indicadores de Aprendizagem Organizacional Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute

Transparência e Coerência da Gestão Mobil, Cigna, AT&T Canadá, Chemical Bank, Rockwater, Halliburton, Prefeitura da Cidade de Charlotte, Governo do Estado de Washington, Duke Children’s Hospital, May Institute

Reconhecimento da Inovação: Licença Criativa

3M

Gerência do Processo de Aprendizagem

3M, SERPRO, Motorola, Arthur D. Little, Disney, McDonald´s, Nokia, Oracle, IBM, GE, Escola Amil, Instituto de Formação Carrefour, Universidade Algar, Unite da Telemar, Academia Universidade de Serviços do Grupo Accor, Boston School do Bank Boston, Visa Trainning, Universidade Datasul e Andrade Gutierrez

Prática de Simulação e Experimentação 3M, SERPRO

Aprendizagem de circuito simples SEGES/MP

Tabela 9 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados na Gestão

Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional

Organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados em TI

Comunidades virtuais de prática: ShareNet, Eureka, Coin, PowerPacks

3M, Ernest & Young, Xerox, Banco Mundial, Siemens, Retec/MG

Gerenciamento eletrônico de documentos Xerox

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Práticas e Sinais Indutores de Aprendizagem Organizacional

Organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados em TI

Bases inteligentes de conhecimento British Petroleum, Wal-Mart, Embrapa, Embraer, Andrade Gutierrez

Business Intelligence: sistemas de informações gerenciais Analog Devices, Wal-Mart, FedEx, HSBC, Citibank

Portal do conhecimento corporativo SERPRO, Siemens, Andrade Gutierrez

Árvore do conhecimento: Sistema Perfil, Agência de Informação Embrapa

SERPRO, Embrapa,

Groupware e Workflow SERPRO, Wal-Mart, FedEx, HSBC, Citibank

Cadastro eletrônico de especialistas SERPRO, British Petroleum, Banco Mundial

Educação à distância Telemar, Algar, Siemens, Embratel, Motorola e Souza Cruz, SERPRO

Tabela 10 - Tabela de organizações onde foram identificadas práticas e sinais indutores focados em TI

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3 A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL NO TCU

Este capítulo trata da identificação das práticas de aprendizagem organizacional em

uso no Tribunal de Contas da União quando comparadas ao que prescreve a literatura sobre o

assunto, conforme levantamento do Capítulo 1. Para identificar essas práticas, utilizou-se de

entrevistas com especialistas internos e de pesquisa documental nos seguintes documentos

internos: Plano Estratégico do TCU 2003/2007 (TCU, 2003a), Plano de Diretrizes de 2003

(TCU, 2003b) e Planos Diretores das Unidades Básicas de 2003 (TCU, 2003c, 2003d, 2003e,

2003f), além do Relatório de Gestão de 2002 (TCU, 2003g). As entrevistas resultaram no

documento constante do Anexo 1 deste trabalho, que mostra a percepção dos entrevistados de

forma consolidada. A pesquisa documental, por sua vez, serviu para complementar as

informações dos entrevistados e demonstrou o que a instituição procura em termos de

aprendizagem, que materializa-se no planejamento estratégico e nos planos de diretrizes das

unidades do TCU.

Antes de fazer o diagnóstico da aprendizagem organizacional no TCU é preciso

compreender melhor o funcionamento da instituição e como está configurada em termos da

estrutura e competências.

3.1 O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO

O Tribunal de Contas da União encontra-se em posição singular no cenário da

administração pública brasileira. Fiscaliza os órgãos e entidades dos três Poderes federais,

sem subordinar-se a qualquer deles. O Tribunal tem jurisdição em todo o território nacional e

como competências (BRASIL, 1988):

1) emitir parecer prévio das contas do Presidente da República;

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2) julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens

e valores públicos;

3) apreciar a legalidade dos atos de admissão de pessoal e de concessões de

aposentadorias, reformas e pensões civis e militares;

4) realizar inspeções e auditorias por iniciativa própria;

5) fiscalizar a aplicação de recursos da União repassados a estados, ao Distrito

Federal ou a municípios;

6) aplicar sanções e determinar a correção de ilegalidades e irregularidades em

atos e contratos;

7) apurar denúncias apresentadas por qualquer cidadão, partido político,

associação ou sindicato sobre irregularidades ou ilegalidades;

De acordo com os preceitos legais, o Tribunal, no âmbito de sua competência e

jurisdição, tem poder regulamentar, podendo, em conseqüência, expedir atos e instruções

normativas sobre matéria de sua atribuição e sobre a organização dos processos que lhe

devam ser submetidos, obrigando ao seu cumprimento, sob pena de responsabilidade.

3.1.1 Modelo Institucional

O Tribunal de Contas da União é composto de nove ministros, dos quais seis são

indicados pelo Congresso Nacional e três pelo Presidente da República, com aprovação pelo

Senado Federal. A nomeação dos ministros é efetivada por decreto do Presidente da

República e o mandato é vitalício. A escolha dos ministros do Tribunal é realizada entre

brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade; com

idoneidade moral e reputação ilibada; notórios conhecimentos jurídicos, contábeis,

econômicos e financeiros ou de administração pública; e mais de dez anos de exercício de

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função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos mencionados. O

presidente e o vice-presidente do Tribunal são escolhidos entre os demais ministros para

mandato de dois anos (BRASIL, 1992).

O Tribunal é órgão público, portanto, segue o princípio de que somente lhe é

permitido fazer aquilo que a lei prevê. Diferentemente do setor privado, ao qual é permitido

fazer tudo o que a lei não proíbe. Essa regra subtrai significativamente o poder de

discricionariedade e de agilidade da instituição, quando comparada com o setor privado. O

processo decisório adota o modelo de órgão colegiado, com poderes fiscalizatórios e

judicantes. Essa característica pressupõe uma organização em duas instâncias básicas: uma

técnica e outra decisória.

3.1.2 Pessoas

O Tribunal possui quadro próprio de pessoal, estabelecido por lei (BRASIL, 2001),

cujos cargos são regidos pelo Regime Único dos Servidores Públicos Federais (BRASIL,

1990). O quadro de pessoal prevê 2.120 cargos efetivos, distribuídos de acordo com a tabela

adiante. Quanto à alocação, 65% estão dedicados à atividade fim, e 35% a atividades de

apoio.

Categoria Funcional Efetivo Previsto

Cargos de nível superior 1.136

Cargos de nível básico ou médio 984

Total 2.120

Tabela 11 - Distribuição de Cargos no TCU

A forma de ingresso, a remuneração, as atribuições e o desenvolvimento na carreira

são estabelecidos por lei. O ingresso se dá exclusivamente mediante concurso público. A

remuneração é composta por duas parcelas: uma de valor fixo e outra variável, de acordo com

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o desempenho pessoal e institucional. As atribuições e o desenvolvimento profissional

seguem um conjunto de regras estabelecido por lei, cujas características e cultura são bastante

marcantes, como: estabilidade; alto grau de burocracia; padronização; limitação de

desenvolvimento na carreira (a mudança de cargo somente é admitida por meio de concurso

público, assim como as atribuições de um cargo não podem ser exercidas por ocupante de

outro cargo); promoção por antiguidade em vez de por merecimento; jornada de trabalho

fixada em lei (BRASIL, 2001).

3.1.3 Jurisdição

O Tribunal de Contas da União tem jurisdição própria e privativa, em todo o

território nacional, sobre as pessoas e matérias sujeitas a sua competência. Conforme dispõe a

Constituição Federal (BRASIL, 1988) e a Lei Orgânica do Tribunal (BRASIL, 1992), estão

sob sua jurisdição:

1) qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade,

guarde, gerencie, aplique ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou

pelos quais a União responda, ou que, em nome dessa, assuma obrigações de

natureza pecuniária;

2) aqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que

resulte dano ao Erário;

3) os dirigentes ou liqüidantes das empresas encampadas ou sob intervenção ou

que, de qualquer modo, venham a integrar, provisória ou permanentemente, o

patrimônio da União ou de outra entidade federal;

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4) os responsáveis pelas contas nacionais das empresas supranacionais de cujo

capital social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do

tratado constitutivo;

5) os responsáveis por entidades dotadas de personalidade jurídica de direito

privado que recebam contribuições parafiscais e prestem serviço de interesse

público ou social;

6) todos aqueles que lhe devam prestar contas ou cujos atos estejam sujeitos à sua

fiscalização por expressa disposição de lei;

7) os responsáveis pela aplicação de quaisquer recursos repassados pela União,

mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a

estados, ao Distrito Federal ou a municípios;

8) os sucessores dos administradores e responsáveis, até o limite do valor do

patrimônio transferido, nos termos previstos na Constituição Federal;

9) os representantes da União ou do Poder Público Federal na Assembléia Geral

das empresas estatais e sociedades anônimas de cujo capital as referidas

pessoas jurídicas participem, solidariamente com os membros dos Conselhos

Fiscal e de Administração, pela prática de atos de gestão ruinosa ou

liberalidade à custa das respectivas sociedades.

Como se observa, é bem abrangente a jurisdição do Tribunal de Contas da União

sobre o universo de pessoas físicas e jurídicas, não sendo exclusiva sobre os agentes públicos,

mas sobre qualquer pessoa que der causa a perda, extravio ou que cause prejuízo ou dano ao

Erário.

A informação constitui a matéria prima do exercício do controle. Os trabalhos são

organizados na forma de processos (autos processuais). Os órgãos técnicos do Tribunal

efetuam a análise e a instrução preliminar. Os ministros atuam como relatores e presidem a

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instrução do processo, competindo-lhe submeter proposta de decisão ao colegiado, que

delibera a decisão final.

3.1.4 Tipos de Controle Adotados

Em geral, o Tribunal de Contas da União exercita dois tipos de controle:

concomitante e a posteriori.

O controle concomitante realiza-se ao mesmo tempo em que se executa o ato ou

atividade. Nesse caso, acompanha a realização do ato para verificar a regularidade de sua

formação, contribuindo para que eventuais erros sejam tempestivamente sanados ou até

mesmo evitados. A atuação concomitante possibilita a adoção de medidas corretivas para

prevenir a ocorrência ou continuidade de dano ao Erário. No Tribunal, esse tipo de controle é

exercido quando da realização de inspeções, auditorias e acompanhamentos. Configura-se,

por exemplo, na fiscalização de um contrato em andamento e no acompanhamento dos

processos de privatização e de concessão de serviços públicos.

O controle a posteriori é realizado após a conclusão do ato ou atividade, visando

corrigir-lhe eventuais defeitos, declarar a sua nulidade ou dar-lhe eficácia. No Tribunal, é

exercido, por exemplo, quando da análise das prestações e tomadas de contas das unidades

jurisdicionadas do Tribunal, ou do exame da legalidade dos atos de admissão de pessoal e de

concessão de aposentadorias, reformas e pensões.

Contudo, pode-se dizer que o Tribunal também exerce o controle prévio à medida

que atua orientando e alertando o gestor público quanto à boa e regular utilização dos recursos

públicos, feitas principalmente por meio das recomendações e determinações contidas nas

decisões do Plenário.

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3.1.5 Deliberações

No desempenho de suas atribuições, o Tribunal recebe, periodicamente, uma parte da

documentação contábil e outros demonstrativos relativos à atuação das unidades sujeitas à sua

jurisdição, que são apreciados sob a forma de tomadas e prestações de contas. Estas contas

são analisadas sob os aspectos de legalidade, legitimidade, economicidade, eficiência e

eficácia, após o que são julgadas regulares, regulares com ressalvas, irregulares ou

iliquidáveis.

A primeira hipótese ocorre quando a prestação de contas expressa, de forma clara e

objetiva, a exatidão dos demonstrativos contábeis, a legalidade, a legitimidade e a

economicidade dos atos de gestão do responsável. As ressalvas, por sua vez, decorrem da

existência de impropriedades ou faltas de natureza formal de que não resultem danos ao

erário. Já a irregularidade das contas advém da omissão no dever de prestá-las; da prática de

ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou infração a norma legal ou regulamentar de

natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial; de dano ao erário

decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico; de desfalque ou desvio de dinheiros,

bens ou valores públicos e de reincidência no descumprimento de determinações do Tribunal.

Por fim, as contas serão consideradas iliquidáveis quando caso fortuito ou força maior tornar

materialmente impossível o julgamento de mérito.

A decisão do Tribunal da qual resulte imputação de débito ou cominação de multa

torna a dívida líquida e certa e tem eficácia de título executivo. Nesse caso, o responsável é

notificado para, no prazo de quinze dias, recolher o valor devido. Se o responsável, após ter

sido notificado, não recolher tempestivamente a importância devida, é formalizado processo

de cobrança executiva, o qual é encaminhado ao Ministério Público junto ao Tribunal para,

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por meio da Advocacia-Geral da União (AGU) ou das unidades jurisdicionadas ao TCU,

promover a cobrança judicial da dívida ou o arresto de bens (TCU, 2003i).

3.1.6 Planejamento Estratégico

O sistema de planejamento e gestão do TCU fundamenta-se nos princípios da

identificação e da prevenção de problemas e na visão de longo alcance como estratégia para o

desenvolvimento da organização. Na fase de formulação do plano estratégico são delineados

os objetivos institucionais para se alcançar a visão de futuro da organização, presentes os

paradigmas estabelecidos na análise dos ambientes interno e externo. Tal análise tem por

objetivo a identificação de pontos fortes e oportunidades de melhoria da instituição, bem

como de oportunidades e ameaças externas ao desempenho de sua missão. O plano estratégico

deve conter, como elementos mínimos, valores, visão de futuro, missão, objetivos

estratégicos, estratégias e indicadores de gestão. No TCU eles são definidos na forma a seguir

(TCU, 2003a):

1) Valores: é um conjunto de crenças e princípios que orienta as atividades da

instituição. Quando claramente estabelecidos, ajudam a organização a reagir

rápida e decisivamente nas situações inesperadas que se apresentam. São

valores do Tribunal: ética, efetividade, independência, justiça e

profissionalismo.

2) Visão de futuro: é a expressão que traduz a situação futura desejada para a

instituição. A visão é estabelecida sobre os fins da instituição e corresponde à

direção suprema que a organização busca alcançar. É visão de futuro do

Tribunal: “ser instituição de excelência no controle e contribuir para o

aperfeiçoamento da administração pública”.

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3) Missão: exprime a razão de ser da instituição. É a finalidade mais ampla ou

objetivo maior que engloba a contribuição da instituição para a sociedade.

Define o que é a instituição e o que ela faz. Não deve ser confundida com os

produtos ou serviços ofertados pela instituição. É missão do Tribunal:

“assegurar a efetiva e regular gestão dos recursos públicos, em benefício da

sociedade”.

4) Objetivos estratégicos: são os fins a serem perseguidos pela instituição no

cumprimento de sua missão institucional. Determina o direcionamento das

ações.

3.1.7 Plano de Diretrizes e Planos de Ação

O plano de diretrizes, produto principal do planejamento anual, contém as diretrizes

institucionais estabelecidas para determinado exercício. Representa o ponto de partida dentro

do processo de desdobramento para elaboração dos planos diretores que admitem, também,

desdobramentos subseqüentes. O nível operacional encerra a última etapa do desdobramento

das diretrizes e os respectivos planos de ação.

A partir dos objetivos estratégicos do Tribunal, do diagnóstico de ambiente (auto-

avaliação de gestão, pesquisa de satisfação, percepções institucionais, entre outros) e de

projetos em andamento, são definidas diretrizes para o TCU, que, posteriormente, são

desdobradas em todos os níveis gerenciais para implementação. Cada diretriz é constituída

por uma meta e pelas medidas prioritárias e suficientes para seu alcance. Na seqüência dos

desdobramentos, dependendo do método utilizado, as metas ou as medidas superiores

constituirão metas para os desdobramentos subseqüentes.

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No ponto mais elevado do planejamento, tem-se como produto as diretrizes do

Tribunal, expressas no Plano de Diretrizes do TCU. No nível subseqüente, tem-se os planos

diretores das unidades básicas e secretarias ou equivalentes.

Os planos de ação expressam as ações de curto prazo, prioritárias e suficientes, para

se alcançar determinada meta. Estão formados por um conjunto de medidas de ação direta

(não-desdobráveis) encadeadas de forma lógica ao alcance da meta. Integram o plano de ação,

como elementos mínimos, as seguintes informações: a meta do nível superior, o seu indicador

(item de controle), a medida a ser executada, o nome da pessoa responsável pela execução, o

prazo máximo para execução da medida e o modo de executá-la. Os planos de ação podem ser

elaborados em qualquer nível gerencial desde que expressem ações a serem implementadas na

própria unidade ou subunidade.

3.2 METODOLOGIA DE PESQUISA

A metodologia empregada para levantar as práticas e sinais indutores de

aprendizagem no TCU partiu, inicialmente, do levantamento dos relatos na literatura,

conforme apontado no Capítulo 1. A lista de práticas e sinais indutores de aprendizagem

organizacional serviu para elaborar um roteiro de entrevista, com o objetivo de verificar o

grau de implementação no âmbito da instituição. Foram realizadas cinco entrevistas com

especialistas da área de educação no Tribunal, utilizando-se de roteiro previamente definido.

As pesquisas foram transcritas e condensadas em um único documento, consistente no Anexo

I, que reflete o conjunto das opiniões e visões dos entrevistados.

Simultaneamente à realização das entrevistas, procedeu-se a ampla pesquisa

documental para verificar práticas de aprendizagem organizacional relatadas internamente.

Assim, foram consultados os seguintes documentos:

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1) Plano Estratégico do TCU (PET) para o período de 2003 a 2007 (TCU, 2003a);

2) Plano de Diretrizes Estratégicas do TCU para o exercício de 2003 (TCU,

2003b);

3) Plano Diretor de 2003 das seguintes unidades básicas do TCU:

a. Secretaria Geral das Sessões – SGS (TCU, 2003c);

b. Secretaria Geral de Administração – Segedam (TCU, 2003d);

c. Secretaria Geral de Controle Externo – Segecex (TCU, 2003e); e

d. Instituto Serzedello Corrêa – ISC (TCU, 2003f);

4) Relatório de Avaliação de Gestão do TCU em 2002 (TCU, 2003g);

5) Proposta do Projeto Atena – Modelo de Gestão do Desenvolvimento de

Pessoas por Competência (TCU, 2003h).

3.3 COLETA DE DADOS

A seguir, demonstra-se, para cada fonte de dados, os resultados obtidos.

3.3.1 Plano Estratégico do TCU (PET) de 2003-2007

A pesquisa documental revelou que no planejamento estratégico e nos planos de

diretrizes apresentam-se metas que contemplam esforço, ainda que incipiente, no sentido de

elevar o TCU ao status de uma organização que aprende. A leitura atenta do planejamento

estratégico do TCU para 2003-2007 revela fortes intenções da administração do TCU em

implantar práticas de aprendizagem organizacional. Pode-se citar vários pontos do plano

estratégico em que se vislumbra essa tendência. Na seqüência, comenta-se algumas das

maiores evidências observadas.

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O alinhamento estratégico, por exemplo, pode ser notado em medidas como (TCU,

2003a, p. 21-22):

1) “inserir nos cursos e treinamentos disciplinas que capacitem o servidor a

atuar de maneira compatível com a imagem institucional e a estabelecer o

diálogo público” (estratégia 5 – gerenciar a imagem institucional e o diálogo

público);

2) “instituir modelo de gestão de pessoas por competências, integrado às

estratégias do TCU” (estratégia 7 – desenvolver política de gestão do

conhecimento);

3) “adotar modelos de promoção de aprendizagem organizacional e de educação

corporativa” (estratégia 7).

A gestão de pessoas pode ser também materializada por meio da implementação

efetiva da primeira medida da estratégia 7: “instituir modelo de gestão de pessoas por

competências, integrado às estratégias do TCU” (Ibid., p. 22).

A prática de educação à distância deverá ser promovida com mais intensidade, pois

na estratégia 1 do Plano Estratégico (ampliar e aprimorar o uso da tecnologia da informação)

apresentam-se medidas como: “implementar sistemática de educação continuada em

tecnologia da informação, com ênfase na educação a distância”; “garantir recurso de

videoconferência”; e “disponibilizar áudio das sessões nas estações de trabalho da rede e

áudio e vídeo das TVs Câmara e Senado nos gabinetes de Ministros e assessorias” (Ibid., p.

20-21).

O rodízio estratégico de servidores poderá ser viabilizado com a implementação da

medida “b”, constante da estratégia 10 (assegurar elevado nível de satisfação dos servidores),

que planeja “instituir política de movimentação de servidores inter e intra-unidades” (Ibid., p.

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24). Embora o rodízio não tenha sido planejado com esse propósito estratégico, vislumbra-se

a possibilidade ser utilizado como prática de aprendizagem.

Na estratégia 9 (aperfeiçoar processos de trabalho no TCU) consta a medida

“desenvolver e consolidar cultura de trabalhos de amplitude nacional ou sistêmicos” (TCU,

2003a, p.23), o que pode se constituir na realização da prática de projetos abrangentes.

A tecnologia da informação poderá desempenhar papel preponderante no processo de

aprendizagem, se atender às seguintes medidas (Ibid., p. 22):

1) “tornar disponível no Portal TCU informações e conhecimentos estruturados”

(estratégia 7);

2) “aprimorar o fluxo de informações, por meio informatizado” (estratégia 7).

Não há no Planejamento Estratégico indicadores de aprendizagem organizacional e

pessoal. Poderão, no entanto, serem desenvolvidos na implementação da política de gestão de

desempenho institucional e pessoal, conforme previsto nas medidas “a” e “b” da estratégia 8

(Aperfeiçoar o sistema de planejamento e gestão do TCU) (Ibid., p. 23).

Por último, os resultados da aprendizagem deverão ser postos à disposição das

pessoas, como se observa da leitura das seguintes medidas do planejamento estratégico (Ibid.,

p. 22-23):

1) “tornar disponível no Portal TCU informações e conhecimentos estruturados”

(estratégia 7);

2) “aperfeiçoar e disseminar o uso de metodologia para a realização de

auditorias de conformidade e financeira” (estratégia 9 – aperfeiçoar processos

de trabalho no TCU);

3) “desenvolver procedimento padrão para auditorias de fraude e desvio”

(estratégia 9).

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3.3.2 Plano de Diretrizes do TCU para 2003

Ainda no campo das intenções, o Plano de Diretrizes para 2003 apresenta diversos

pontos de convergência de práticas que facilitariam o processo de aprendizagem

organizacional no TCU. Cita-se, a seguir, algumas das medidas previstas (TCU, 2003b, p. 31-

35):

1) “ampliar a integração entre as unidades participantes em trabalhos conjuntos

de fiscalização”;

2) “desenvolver e consolidar cultura de trabalhos de amplitude nacional ou

sistêmicos”;

3) “ampliar a utilização de tecnologia de informação nos trabalhos de

fiscalização, incluindo o desenvolvimento de software de apoio a auditorias”;

4) “desenvolver metodologia de acompanhamento da gestão, seleção e

planejamento de auditorias, por meio da utilização de datawarehouse que

integre dados de sistemas da Administração Pública”;

5) “ampliar o uso de métodos quantitativos e qualitativos nos trabalhos de

fiscalização”;

6) “unificar o plano de fiscalização, tornando-o flexível, definindo quantidades

mínimas de auditorias e de HDF2 por unidade técnica, proporcionalmente à

força de trabalho e resguardando percentual de realização de auditorias por

iniciativa das unidades”;

7) “ampliar a política de treinamento em auditoria, (Anop3 e PDPA4)”;

2 HDF é a sigla que representa o indicador de homens-dia de fiscalização. 3 Anop é a sigla que representa as auditorias de natureza operacional. 4 PDPA é a sigla que representa o Programa de Desenvolvimento Profissional em Auditoria.

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8) “intensificar o processo de aprendizagem sobre metodologias de auditoria

utilizadas por outros órgãos de controle e entidades de fiscalização superior,

especialmente tribunais de contas”;

9) “implementar sistemática de monitoramento do cumprimento e do impacto das

deliberações do TCU”;

10) “instituir e incentivar o uso do cadastro de especialistas’;

11) “aprimorar as metodologias de planejamento e execução de fiscalização, em

especial as relativas a fiscalizações preventivas e as com foco em riscos e

resultados”;

12) “instituir controle de qualidade dos trabalhos realizados”;

13) “aprimorar a gestão de informações no âmbito do TCU”;

14) “elaborar e implantar instrumentos de diagnóstico de necessidade de

treinamento”;

15) “desenvolver ações de aprendizagem organizacional”;

16) “instituir modelo de gestão de pessoas por competências integrado às

estratégias do TCU”;

17) “ampliar a participação de servidores em eventos externos de capacitação”;

18) “implementar, acompanhar e aperfeiçoar política de gestão de desempenho

pessoal”;

19) “desenvolver cursos de educação a distância”;

20) “ampliar a utilização de mecanismos para compartilhamento de

conhecimento”; e

21) “implantar sistemática de reconhecimento e divulgação dos trabalhos

realizados”.

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3.3.3 Planos Diretores das Unidades Básicas do TCU para 2003

Além das medidas previstas no plano estratégico de 2003 do TCU, aponta-se outras,

detectadas nos planos estratégicos específicos de suas unidades, que complementam o

entendimento da direção que se pretende tomar na questão da aprendizagem organizacional da

instituição, tais como:

1) “disseminar e utilizar os padrões definidos de apoio ao planejamento,

execução, elaboração de relatórios e controle de qualidade de auditorias de

conformidade” (TCU, 2003e, p. 126);

2) “utilizar instruções padronizadas e simplificadas” (Ibid.);

3) “atender demandas específicas de treinamento e desenvolvimento” (TCU,

2003f, p. 88);

4) “mapear potenciais parceiros para intercâmbio sobre controle externo”

(Ibid.);

5) “estabelecer parcerias para promoção de ações de treinamento e

desenvolvimento” (Ibid.);

6) “estimular a divulgação interna de boas práticas de auditoria” (Ibid.);

7) “manter programa de bolsas para o estudo de idiomas” (Ibid.);

8) “gerir ações de diálogo público visando aprimorar ação educativa do

Tribunal” (Ibid., p. 89);

9) “propor sistemática de identificação e disseminação de boas práticas de

gestão pública” (Ibid., p. 90); e

10) “elaborar cartilha para constituição de processos de tomada de contas

especial” (Ibid.).

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3.3.4 Entrevistas com especialistas internos

As entrevistas realizadas com cinco especialistas em aprendizagem pertencentes ao

quadro da instituição estão consolidadas no demonstrativo constante do Anexo I. Nesse

demonstrativo pode-se observar a intensidade com que tais práticas foram percebidas e as

evidências relatadas pelos entrevistados.

Como práticas mais freqüentes foram identificadas a divulgação de sumários

executivos de trabalhos relevantes, o desenvolvimento de projetos de dimensão

organizacional e as ações formais de treinamento. Porém, essas ações, realizadas por meio de

cursos, seminários, workshops e palestras, foram em atendimento a demandas pontuais e

casuísticas, sem que houvesse o alinhamento com o direcionamento estratégico de modo a

gerar ações integradas de aprendizagem organizacional.

Da mesma forma, foram identificadas as seguintes práticas percebidas como pouco

freqüentes ou raras no TCU:

1) aprendizagem por insight (oportunidades geradas pela organização para a

produção de soluções inéditas): observada em alguns projetos e ações, tais

como o Grupo Tendências do Controle da Gestão Pública5, Projeto de

Cooperação do TCU-Reino Unido6, Gestão de Projetos7, Fiscobras8 e em

cursos de pós-graduação;

5 O Grupo Tendências do Controle da Gestão Pública foi uma pesquisa realizada em 1999/2000 para possibilitar a reorientação estratégica do Tribunal frente aos novos desafios da gestão pública e a crescente ampliação das competências institucionais. 6 O Projeto de Cooperação do TCU-Reino Unido é um acordo de transferência de tecnologia em auditoria de programas financiado pelo Departamento de Cooperação Internacional do Reino Unido – DFID com o apoio técnico da KPMG Consultores. 7 Projeto de implantação da metodologia de gestão de projetos no TCU (PJGP). 8 Fiscobras é um sistema informatizado de fiscalização de obras públicas que permite a elaboração do relatório ao longo do desenvolvimento da auditoria, a fim de possibilitar a consolidação de informações a serem apresentadas ao Congresso Nacional.

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2) desaprendizagem (reavaliação e renovação de competências na organização):

raramente observada, trouxe como únicas evidências a dispensa de prestação

de contas dos conselhos de profissões regulamentadas e a alteração na forma

de exame das alegações de defesa;

3) aprendizagem de circuito simples (processo de melhoria de estratégia e

processo de trabalho): trouxe como evidências as aprendizagens em cursos,

desenvolvimento de projetos e encontros técnicos;

4) aprendizagem de circuito duplo (questionamento do que se aprende e da

revisão de princípios e valores organizacionais): observada em casos isolados,

principalmente nos desdobramentos da pesquisa Tendências do Controle da

Gestão Pública;

5) benchmarking externo (procedimento de comparar processos, práticas, funções

e resultados das organizações para identificar oportunidades de melhoria de

desempenho): observado como uma movimentação tímida, citando-se como

exemplos o intercâmbio com entidades de fiscalização superior de outros

países;

6) comunidades de prática (grupos informais com interesses comuns): raramente

observada, tendo como única evidência apontada uma lista de discussão em

fiscalização de obras;

7) autodesenvolvimento (busca por diferentes formas de aprendizagem interna e

externa ao ambiente de trabalho): apontou-se um movimento de pessoas em

busca de especialização e oportunidades criadas por cursos de pós-graduação;

8) diálogos e reflexões coletivas (externalização dos modelos mentais com o

objetivo de reavaliação de conceitos e crenças): apontada apenas em encontro

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de dirigentes, reuniões de planejamento estratégico e algumas reuniões da

Secretaria Geral de Controle Externo – Segecex;

9) simulação e experimentação (procura e teste de novos conhecimentos): foi

reconhecida apenas em projetos piloto que precedem a implantação de novos

métodos e técnicas;

10) encontros colaborativos (promoção de encontros formais para a resolução de

problemas com foco em necessidades reais): evidenciam-se pelos encontros de

Chefes do Serviço de Administração, dos dirigentes do TCU e da Segecex9, e

em reuniões de planejamento de eventos de treinamento;

11) aprendizagem em equipe (formação de equipes interdisciplinares, auto-

organizadas, autônomas e com foco em resolução de problemas): observada

em projetos, auditorias integradas e grupos de trabalho;

12) benchmarking interno (procedimento de comparar processos, práticas, funções

e resultados entre unidades da organização para identificar oportunidades de

melhoria de desempenho): é visto como raro, apesar de terem sido citadas

várias evidências, tais como, o primeiro encontro para discutir melhores

práticas das unidades da Segecex (realizado em 2002), o Sistema de Diretórios

do TCU – Sisdir10 (possibilita a organização e o compartilhamento dos

documentos gerados), as auditorias de orientação centralizada11 e os encontros

de dirigentes do TCU;

9 Reuniões mensais da Comissão Técnica de Controle Externo – CTCE, formada pelos Secretário-Geral de Controle Externo e os dirigentes das unidades da Segecex. 10 O Sisdir foi desenvolvido pela Secretaria Adjunta de Fiscalização – Adfis, baseado em soluções desenvolvidas na 5ª e 4ª Secretarias de Controle Externo (5ª Secex e 4ª Secex). 11 Modelo iniciado pela 6ª Secretaria de Controle Externo (6ª Secex) de auditorias de abrangência nacional, cuja coordenação e consolidação das informações obtidas pelas secretarias de controle externo nos estados é centralizada em uma secretaria de controle externo na sede.

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13) educação à distância (processo de ensino-aprendizagem, mediado por

tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou

temporariamente): evidenciado em alguns casos, tais como os cursos de

operação de sistemas computacionais gravados em CD-Rom (Sistema

Fiscalis12 e Sisac13), treinamento do MS-Project pela Internet e

videoconferências sobre auditorias de programas feita entre a Secretaria de

Fiscalização e Avaliação de Programas – Seprog e as secretarias de controle

externo nos estados.

14) reconhecimento da inovação (reconhecimento pela participação do servidor em

projetos inovadores): percebido apenas em casos isolados, tais como nas

designações para funções comissionadas e nas indicações para viagens de

estudos de pessoas que participam ativamente em projetos importantes e

trabalhos de grande impacto na organização;

15) visão compartilhada (disseminação e internalização da missão, objetivos e

metas institucionais): evidencia-se na identificação, de modo geral, dos

técnicos da área-fim com a missão do Tribunal;

16) resultados de aprendizagem (incorporação dos resultados de aprendizagem aos

processos, sistemas, estrutura e cultura): apresentou evidências como o Projeto

Atena, Projeto Gestão de Projetos, mudança de estrutura provocada pela

Pesquisa Tendências do Controle da Gestão Pública, Projeto de Cooperação

TCU-Reino Unido, mudanças dos processos da Secretaria de Fiscalização de

12 Sistema de Planejamento e Programação de Fiscalizações. 13 Sistema de Registro e Apreciação de Atos de Admissão e Concessão de Pessoal.

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Pessoal – Sefip e a experiência da Quarta Compartilhada14 na 4ª Secretaria de

Controle Externo;

17) projeção de cenários (exercício de projeção de cenários futuros): evidenciado

apenas no planejamento estratégico;

18) foco no controle gerencial (controle da estratégia e não do comportamento):

apresentou evidências apenas no controle do cumprimento das metas

institucionais que definem o valor da gratificação de desempenho dos

servidores;

19) contrato de expectativa (declaração clara e simples do que a organização

oferece e espera das pessoas): não foi revelado nada que sustente esse aspecto,

a não ser raras discussões isoladas da avaliação de desempenho;

20) cultura de aprendizagem (cultura aberta à reflexão sobre erros e lições

aprendidas, favorável a reserva de tempo para a aprendizagem, que valoriza as

relações informais, que estimula a reflexão sobre valores): apontou-se a auto-

avaliação de gestão, mas sem conseqüências visíveis, a especialização em

métodos e técnicas de controle e a disponibilidade para participar de

treinamentos;

21) redução dos mecanismos de defesa (conscientização da organização, daquilo

que não sabe e da necessidade de mudança de estratégias, competências,

práticas e processos de trabalho): apontou poucas evidências, como a Pesquisa

Tendências do Controle da Gestão Pública, o Projeto de Cooperação TCU-

Reino Unido e cursos de Pós-graduação em Controle Externo e Gestão do

Conhecimento;

14 Encontros técnicos nos quais são compartilhadas as experiências em auditorias e trabalhos relevantes.

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22) ambiente de confiança e segurança (ambiente percebido como seguro para

expressão de idéias e sentimentos): não foi evidenciado como um traço

organizacional e sim como de alguns substratos, citando-se como exemplo a

iniciativa do Canal Aberto com a Presidência do TCU15;

23) estrutura adhocrática (mais flexível, favorável à mudança, onde a

aprendizagem é proativa e transformadora): foi identificada apenas em casos

isolados de desenvolvimento de projetos;

24) gerência educadora (gerência voltada para o desenvolvimento das pessoas, da

aprendizagem e da inovação): foi considerado como casos raros e isolados;

25) transparência e coerência da gestão (clareza de critérios e coerência da ações

no processo de gestão de pessoas): não foi apontada uma única evidência por

quatro dos respondentes e para um apresentou como exemplo isolado critérios

de seleção para pós-graduação e para eventos externos, mas que devem ser

melhorados; e

26) apoio da tecnologia da informação à aprendizagem (utilização de ferramental

de tecnologia da informação para viabilizar a formação de comunidades de

prática virtuais, gerenciamento eletrônico de documentos, bases inteligentes de

conhecimento, portal corporativo, árvore do conhecimento, workflow e

cadastro eletrônico de especialistas): apresentou como evidência uma única

lista de discussão com participação efetiva para ampliar o conhecimento, e

algumas iniciativas ainda incipientes como videoconferência, cadastro de

especialistas, palestras, discursos, tutoriais e sistema de atendimento da

15 Possibilidade criada em 2001 para que os servidores enviassem e-mails ao Presidente do TCU, os quais eram respondidos, inicialmente, pelo próprio Presidente. Atualmente esse mecanismo está disponível na Intranet TCU sob o nome “Fale com o Presidente”.

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Secretaria da Tecnologia da Informação – Setec, dentre outras informações

importantes, disponíveis na intranet do TCU.

Finalmente, foram identificadas as seguintes práticas para as quais não foram

apresentadas evidências objetivas que demonstrassem a sua existência na organização:

1) alinhamento estratégico (alinhamento dos processos e aprendizagem com os

propósitos organizacionais);

2) reconhecimento (premiação à aprendizagem em equipe);

3) pertencimento (utilização de recursos de comunicação simbólica, como

logomarcas e slogans, ou não - relação de nomes -, que promova a sensação de

pertencimento a mesma organização por parte de todos os membros);

4) gerência do desconforto (adoção deliberada de estratégias ou ações que

provoquem nas pessoas a necessidade de aprender);

5) gerência do processo de aprendizagem (ambiente de tolerância ao erro com

foco em desenvolvimento);

6) participação da liderança na aprendizagem (participação comprometida da alta

liderança no processo de aprendizagem como indutores e partícipes);

7) gestão de pessoas (modelo integrado com foco na aprendizagem e

desenvolvimento das pessoas);

8) indicadores de aprendizagem individual (existência de indicadores e medidores

de aprendizagem individual);

9) indicadores de aprendizagem organizacional (existência de indicadores e

medidores de aprendizagem organizacional);

10) rodízio estratégico de servidores (alocação planejada de pessoas com o

objetivo de promover a aprendizagem); e

11) gestão por processos (metodologia de gestão que facilite o aprendizado).

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Como pode ser visto, a aprendizagem organizacional apresenta um vasto campo para

ser explorado no TCU. Poucas são as práticas e sinais, descritos na literatura como indutoras

do aprendizado, adotadas na instituição, em virtude de duas características apontadas pelos

entrevistados, que impedem ou dificultam a aprendizagem, que são:

1) a cultura conservadora, entendida como aquela voltada para a tarefa, para

visões e realizações a curto prazo, reativa, onde os problemas são tratados de

forma compartimentada e a informação é vista como fonte de poder, que

evidenciou-se como característica da organização; e

2) a estrutura burocrática, caracterizada pela ordem e manutenção do status quo,

estrutura rígida e hierárquica, a aprendizagem é mais reativa e incremental do

que proativa e transformacional, a qual foi identificada como a estrutura

percebida no Tribunal.

3.3.5 Relatório de Avaliação de Gestão do TCU em 2002

Como resultado de reuniões de avaliação da gestão de 2002, realizadas pelas

unidades da Secretaria do TCU, elaborou-se diagnóstico que apresentava, dentre muitos

pontos fortes, as seguintes práticas de aprendizagem organizacional (TCU, 2003g):

1) reuniões mensais nas unidades técnicas;

2) realização de encontros técnico-gerenciais de dirigentes, da Segecex, de

diretores e de chefes de serviços;

3) formação de grupos de trabalho que realizam benchmarking e propõem novas

oportunidades para atuação;

4) participação em eventos externos (congressos, seminários, premiações);

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5) uso de matrizes para elaboração dos planos de auditoria nas áreas de

programas, pessoal etc.;

6) participação de servidores do TCU em eventos sobre a avaliação de programa

de governo;

7) sistemática de divulgação e elaboração dos sumários executivos, com expansão

para toda a área fim;

8) elaboração e distribuição do Informativo TCU e dos relatórios de atividades;

9) identificação de referenciais externos para comparação em função do destaque

obtido pela entidade de fiscalização superior em ramos específicos do controle

externo;

10) benchmark de práticas de gestão em processo de auditoria, como nos casos dos

projetos com o Reino Unido e com o Canadá;

11) realização de encontro anual de dirigentes, com espaço para a avaliação dos

resultados alcançados;

12) análise crítica de desempenho e de práticas de gestão realizada periodicamente

(indicadores e auto-avaliação);

13) incorporação da metodologia de gestão de projetos;

14) prática de formação de grupos de trabalho;

15) existência de poucos níveis hierárquicos na estrutura organizacional, o que

favorece a negociação de idéias inovadoras;

16) comunicação a todos os servidores, por e-mail, de fiscalizações iniciadas no

período;

17) cursos de pós-graduação em auditoria de obras, controle externo e gestão do

conhecimento;

18) realização de curso de gestão secretarial;

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19) captação de conhecimentos de especialistas no âmbito das consultorias

externas contratadas, como nos projetos do Banco Interamericano de

Desenvolvimento – BID16, do Projeto de Gestão de Projetos – PJGP e do

Projeto de Cooperação TCU-Reino Unido;

20) treinamentos realizados no âmbito do Projeto de Desenvolvimento Profissional

em Auditoria – PDPA e na área de auditoria de natureza operacional;

21) plano de ação para utilização sistemática de conhecimento acerca de decisões

do TCU, desenvolvido no âmbito da Secretaria de Fiscalização e Avaliação de

Programas – Seprog e 4ª Secretaria de Controle Externo;

22) avaliação do Sistema Impact de treinamento (avaliação das reações aos

treinamentos);

23) manuais de auditoria de natureza operacional e de fiscalização;

24) implantação de programas de treinamento em auditoria;

25) programa de formação para servidores para disseminar características dos

processos de trabalho da área fim;

26) elaboração de sumários executivos referentes às auditorias de programas;

27) avaliação crítica do processo de análise e registro de atos de pessoal, que levou

à implantação da análise automática de atos de admissão;

28) avaliação crítica do processo de exame de contas, que levou à sistemática do

diferimento;

29) aperfeiçoamento das fiscalizações mediante a intensificação da auditoria de

natureza operacional e da utilização de matrizes de risco, relevância e

materialidade para definir foco de fiscalização;

16 Projeto de Modernização do TCU por meio de financiamento junto ao BID.

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30) avaliação crítica do processo de auditoria de natureza operacional utilizada

como referência os processos similares do Reino Unido e do General Account

Office – GAO17;

31) utilização de resultados das pesquisas de satisfação de clientes do setor

engenharia (anos de 2000 e 2001) para reformular sistemáticas de trabalho; e

32) estabelecimento de fórum de discussão e padronização de atividades dos

serviços de administração, no âmbito da Segecex.

Nessas reuniões de avaliação de gestão, apontou-se, também, oportunidades de

melhorias no âmbito do Tribunal. Dentre esses pontos, destacam-se os seguintes, por

conterem percepções de aprendizagem organizacional:

1) definir processos de seleção e obtenção de informações para tomada de

decisão;

2) aperfeiçoar base de informações sobre as unidades jurisdicionadas;

3) aperfeiçoar a coleta, o registro, a integração e o acesso a informações

gerenciais;

4) aprimorar a sistemática de armazenagem, compartilhamento e disponibilização

de conhecimento nas unidades técnicas;

5) assegurar uniformidade na divulgação de informações no âmbito interno, pelas

unidades técnicas e adjuntas da Segecex;

6) propor o estabelecimento de indicadores de gestão e de desempenho, por meio

de benchmarking no âmbito das entidades de fiscalização superiores e dos

tribunais de contas dos estados e municípios, para avaliar os resultados do

TCU;

17 Viagens de estudos realizados pelo TCU junto a entidade de fiscalização superior dos Estados Unidos da América.

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7) ampliar a utilização, nas ações de controle, das informações existentes em

bases de dados de órgãos públicos;

8) aperfeiçoar o sistema de avaliação das ações de aprendizagem (Sistema

Impact);

9) proporcionar oportunidades de realização de cursos de

especialização/aperfeiçoamento, principalmente nas unidades nos estados;

10) implantar metodologia de educação à distância;

11) dar preferência, na realização de acordos de cooperação, a entidades de

fiscalização superior que adotem o modelo de corte de contas, para

identificação de novas práticas passíveis de implementação no TCU;

12) estruturar banco de dados sobre assuntos técnicos;

13) ampliar a utilização de sumários executivos;

14) racionalizar a análise dos processos; e

15) promover encontros e/ou cursos de capacitação a terceirizados que trabalham

no TCU.

3.4 PROJETO ATENA

O Projeto Atena se propõe a desenvolver um modelo de gestão do desenvolvimento

de pessoas por competências, capaz de estimular o autodesenvolvimento dos servidores e de

propiciar o alinhamento das ações de seleção, treinamento, desenvolvimento, alocação e

desempenho profissional às estratégias institucionais (TCU, 2003h).

Atualmente, a maior parte dos cursos oferecidos no TCU é desenhada a partir de

demandas dos clientes e não de necessidades decorrentes diretamente das estratégias. O

percentual de eventos de treinamento realizados sob demanda no ano de 2002 foi de 79,6%

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(144 do total de 181 eventos), quando o esperado seria que a menor parte dos eventos fosse

feita sob demanda e a maior parte derivasse diretamente das estratégias do TCU.

O projeto espera aumentar a eficácia das ações de treinamento por meio da definição

das competências requeridas pelos papéis desempenhados pelos servidores do TCU, da

estruturação de programas de treinamento com base nas competências definidas e da

preparação dos gerentes para a gestão da performance de sua equipe.

Entende-se por competência o conjunto de conhecimentos técnicos, habilidades e

atitudes necessárias à realização exitosa de determinado trabalho. O desenvolvimento de

determinada competência por uma pessoa guia-se por uma trilha de aprendizagem, que é um

conjunto ordenado de recursos de aprendizagem planejado para essa finalidade. Por recursos

de aprendizagem entende-se qualquer recurso utilizado para promover a aprendizagem, tais

como cursos, seminários, estágios, livros, vídeos e listas de discussão, entre outros.

Atualmente os servidores não dispõem de referencial para direcionar seu

desenvolvimento profissional. Não existe descrição de quais conhecimentos e habilidades são

necessários para desempenhar cada papel dentro da organização. Além desse referencial, é

fundamental que exista motivação das pessoas para cuidar de seu autodesenvolvimento. Nesse

sentido, o projeto pretende introduzir sistema de reconhecimento que estimule o

desenvolvimento das pessoas.

Como produtos do projeto espera-se obter:

1) glossário de competências organizacionais e pessoais;

2) documento de descrição das trilhas de aprendizagem;

3) recursos de aprendizagem prontos para uso;

4) manual descritivo do modelo e catálogo de competências,

5) trilhas e recursos de aprendizagem disponíveis;

6) instrumento para avaliação de lacunas de competências;

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7) especificação técnica para licitação da solução de TI.

Em reunião com dirigentes das unidades do Tribunal, realizada em setembro de

2003, foram homologadas as competências organizacionais que irão nortear as ações de

educação do TCU. São essas as Competências organizacionais do Tribunal, consideradas

como o conjunto das melhores práticas para o cumprimento da missão e da construção da

visão de futuro do TCU (Ibid.):

1) “Orientação Estratégica: capacidade de interagir sistematicamente com o

ambiente e identificar mudanças, riscos, oportunidades, tendências e outros

sinais, bem como de definir, priorizar e comunicar estratégias que favoreçam

a criação de valor para todas as partes interessadas;

2) Gestão de Relacionamento: capacidade de dialogar e interagir com agentes

internos e externos, como também de influenciá-los, visando à execução das

atribuições institucionais e ao fortalecimento da imagem do TCU;

3) Gestão de Pessoas: capacidade de desenvolver políticas e gerenciar práticas

que permitam conciliar as expectativas e necessidades dos servidores com as

do TCU, de modo a gerar satisfação pessoal e melhor desempenho

profissional;

4) Tecnologia em Controle Externo: capacidade de captar, desenvolver e aplicar

procedimentos e conhecimentos que propiciem a efetividade do controle;

5) Domínio da Informação: capacidade de reconhecer, captar, tratar e tornar

disponíveis, interna e externamente, informações relevantes para o

acompanhamento da gestão pública e o suporte à tomada de decisão; e

6) Gestão de Processos de Trabalho: capacidade de sistematizar e gerenciar

processos de trabalho de modo a obter o melhor desempenho do TCU”.

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3.5 RESUMO DAS PRÁTICAS E SINAIS DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL

NO TCU

A seguir apresentam-se tabelas com resumo da situação das práticas no TCU,

divididas pelos pilares sustentadores da aprendizagem organizacional.

Meio de Levantamento Práticas e Sinais focados na ESTRATÉGIA

Análise Documental dos Planos

integração entre unidades durante as fiscalizações cultura de fiscalizações sistêmicas ou de amplitude nacional benchmarking externo (nacional e internacional) política de gestão de desempenho pessoal reconhecimento e divulgação dos trabalhos realizados mapeamento de potenciais parceiros para intercâmbio parcerias em ações de treinamento e desenvolvimento disseminação de boas práticas de gestão pública

Entrevistas Pouco freqüentes ou raras: Desaprendizagem

aprendizagem de circuito duplo benchmarking externo aprendizagem em equipe reconhecimento da inovação projeção de cenários contrato de expectativa redução dos mecanismos de defesa estrutura adhocrática.

Inexistentes: Reconhecimento pertencimento participação da liderança na aprendizagem gestão de pessoas rodízio estratégico de servidores

Análise Documental do Relatório de Avaliação de Gestão do exercício de 2002 (pontos fortes)

benchmarking externo estrutura organizacional pouca verticalizada realização de cursos de pós-graduação contratação de consultorias externas programa de formação de novos servidores avaliação crítica de processos

Tabela 12 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Estratégia

Meio de Levantamento Práticas e Sinais focados na CULTURA

Análise Documental dos Planos

disseminar padrões de qualidade em auditorias de conformidade estimular a divulgação interna de boas práticas de auditoria

Entrevistas Pouco freqüentes ou raras:

comunidades de prática cultura de aprendizagem ambiente de confiança e segurança

Análise Documental do Relatório de Avaliação de Gestão do exercício de 2002 (pontos fortes)

incorporação da metodologia de gestão de projetos

Tabela 13 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Cultura

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Meio de Levantamento Práticas e Sinais focados na GESTÃO

Análise Documental dos Planos

aprimoramento da política de incremento da qualidade das fiscalizações (treinamento, padrões, controle de qualidade, divulgação de boas práticas) unificação do plano de fiscalização monitoramento do cumprimento e do impacto das deliberações aprimoramento da gestão de informações implantação de diagnóstico de necessidade de treinamento desenvolvimento de ações de aprendizagem organizacional desenvolvimento de cursos à distância ampliação do compartilhamento de conhecimento utilização de instruções padronizadas e simplificadas treinamento e desenvolvimento para necessidades específicas manutenção de programa de bolsas para o estudo de idiomas gerência de ações de relacionamento com clientes preferenciais edição de cartilha de constituição de tomada de contas especial

Entrevistas Freqüentes: desenvolvimento de projetos de dimensão organizacional

ações formais de treinamento

Pouco freqüentes ou raras: aprendizagem por insight autodesenvolvimento diálogos e reflexões coletivas simulação e experimentação encontros colaborativos aprendizagem de circuito simples benchmarking interno visão compartilhada resultados de aprendizagem foco no controle gerencial gerência educadora transparência e coerência da gestão

Inexistentes: alinhamento estratégico gerência do desconforto gerência do processo de aprendizagem indicadores de aprendizagem individual indicadores de aprendizagem organizacional gestão por processos

Análise Documental do Relatório de Avaliação de Gestão do exercício de 2002 (apontadas como pontos fortes)

reuniões mensais e encontros técnico-gerenciais divulgação de sumários executivos edição do Informativo TCU e dos relatórios de atividades análise de práticas de gestão incorporação da metodologia de gestão de projetos formação de grupos de trabalho comunicação interna, por e-mail, das fiscalizações iniciadas realização de programa de formação de novos servidores, de cursos de pós-graduação e de treinamento em auditoria avaliação de treinamentos com o uso do Sistema Impact aperfeiçoamento das fiscalizações pelo uso de matrizes de planejamento e de risco, relevância e materialidade, bem como de manuais de auditoria e pela intensificação das auditorias de natureza operacional avaliação crítica do processo de auditoria de natureza operacional utilização de pesquisas de satisfação de servidores para reformular sistemáticas de trabalho estabelecimento de padronização de atividades administrativas

Tabela 14 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - Gestão

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Meio de Levantamento Práticas e Sinais focados em TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO (TI)

Análise Documental dos Planos

ampliar a utilização de TI nas fiscalizações desenvolver metodologia de acompanhamento da gestão, seleção e planejamento de auditorias, por meio da utilização de datawarehouse instituir e incentivar o uso do cadastro de especialistas aprimorar a gestão de informações

Entrevistas Pouco freqüentes ou raras:

comunidade virtual de prática (implementada na forma de lista de discussão) business intelligence (implementada na forma de datawarehousing interno) educação à distância (implementada na forma de vídeos de treinamento)

Inexistentes: gerenciamento eletrônico de documentos portal do conhecimento corporativo árvore do conhecimento workflow e groupware cadastro de especialistas

Tabela 15 - Situação das Práticas e Sinais de Aprendizagem Organizacional no TCU - TI

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4 COMO A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL PODE OTIMIZAR

RESULTADOS NO TCU

No presente capítulo, analisar-se-á, por pilar sustentador das organizações de

aprendizagem, como a aprendizagem organizacional pode otimizar resultados do TCU. Para

tanto, resgata-se as práticas e sinais indutores de aprendizagem selecionados na revisão de

literatura do Capítulo 1 e as boas práticas de aprendizagem de algumas organizações de

sucesso, descritas no Capítulo 2. Nessa análise, confronta-se o referencial teórico com os

resultados das entrevistas realizadas junto a especialistas internos e da pesquisa documental,

descritos no Capítulo 3, a fim de identificar áreas com maior “gap” e que mereçam maior

atenção no TCU. Finalmente, recomenda-se ações prioritárias e outras providências

relacionadas à aprendizagem organizacional no TCU, para auxiliar a organização no

cumprimento eficaz e eficiente de sua missão e no alcance efetivo da sua visão de futuro.

4.1 ESTRATÉGIA

A estratégia influencia a aprendizagem ao fornecer contexto para percepção e

interpretação do ambiente (reflexão estratégica), bem como por sistematizar para as pessoas

uma visão de futuro, um conjunto de valores. O papel da liderança de promover uma visão

compartilhada é decisivo para elevar as aspirações pessoais, estimulando novas formas de agir

e de pensar, bem como a exposição de idéias, a flexibilização de pontos de vista, o risco e a

experimentação.

Observa-se, pelas intenções descritas nos planos do TCU e no relato de pontos fortes

e oportunidades de melhoria na gestão, uma preocupação predominante em buscar

referenciais externos de comparação, internalizar métodos e técnicas empregados por

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organizações de controle em países desenvolvidos, e em capacitar os técnicos da casa. A

ausência ou pouca freqüência de sinais de aprendizagem voltados à inovação e mudança, com

base na reflexão interna, considerando as variáveis ambientais, reforça esse pensamento.

Em contrapartida, há pouca ênfase na estratégia do TCU para aproveitar o

conhecimento existente na organização, seja o conhecimento tácito inerente aos profissionais

da casa, seja no capital estrutural já produzido por esses profissionais e que se encontra

disperso e enclausurado na departamentalização organizacional. Além dessas possibilidades,

existe o caminho mais rápido para geração de novos conhecimentos, formado pela reflexão

coletiva, desaprendizagem de competências ultrapassadas e identificação das competências

necessárias, tudo isso com o capital humano do TCU.

Outro flanco pouco aproveitado é o conhecimento inerente ao relacionamento entre o

TCU e outros órgãos públicos e entidades privadas, principalmente aqueles diretamente

interessados no controle externo. É talvez a competência organizacional com maior “gap” e

merecedora de políticas e ações específicas com objetivo de ampliar o capital de

relacionamento. O diagnóstico efetuado no âmbito do Projeto Atena, onde foi identificada a

competência “Gestão do Relacionamento”, reforça a necessidade dessa atenção.

Observa-se, também, que as práticas não evidenciadas no TCU (reconhecimento,

pertencimento, participação da liderança na aprendizagem, gestão de pessoas e rodízio

estratégico de servidores) são justamente práticas que permitiram às instituições indicadas no

Capítulo 2 alcançarem o estágio de organizações de aprendizagem. Naqueles casos, o sucesso

exigiu patrocínio efetivo da liderança na definição de política voltada para inovação, mudança

transformadora, geração de conhecimento, desenvolvimento integrado de pessoas, visão

compartilhada e de aprendizagem em equipe.

Com base nos planos do TCU e na avaliação da gestão de 2002, que já sinalizam a

preocupação com aprendizagem organizacional, observa-se falta de sintonia entre intenções e

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resultados, provavelmente em função das ações ou projetos previstos estarem focando muito

mais a ação em detrimento da estratégia. São ações isoladas que em muitos casos não

encontram alinhamento com o referencial estratégico.

Verifica-se a preocupação em prever ações mobilizadoras que não conseguem

promover a sinergia suficiente na organização. Tal fato se deve, provavelmente, a ausência de

visão sistêmica e compartilhada da estratégia mais adequada para ao TCU. O foco na ação

impede que se sistematize para as pessoas uma visão de futuro coletiva.

O Plano Estratégico do TCU não permite que seus servidores se situem

adequadamente, e enxerguem um perfeito entendimento do que a organização espera deles. O

foco da estratégia na ação, no que se faz atualmente, impede o desenvolvimento de ações

estruturantes, focadas no que se deveria fazer e na criação das condições para que as pessoas

façam o que deve ser feito.

A amplitude dos objetivos e estratégias, a maioria provenientes de demandas

departamentais ou visões setoriais da melhor estratégia, contribui para a dificuldade na

comunicação e no desdobramento das diretrizes e metas. Como nem todas as ações são

alcançadas, resta aos planejadores a sua repetição no próximo exercício, muitas vezes

mudando apenas a sua redação. A leitura dos planos revela ora um foco estratégico, ora um

foco operacional, muito ligado aos problemas de produtividade e de efetividade da atuação do

TCU.

As práticas de aprendizagem pouco freqüentes pode ser reflexos da ausência de

políticas que acolham institucionalmente a aprendizagem como uma estratégia patrocinada e

praticada pela liderança da casa e entendida e reconhecida pelos servidores. Toda organização

desenvolve práticas de aprendizagem, no caso do TCU não é diferente, basta ver a lista de

práticas reconhecidas nos documentos da casa e nas respostas dos especialistas consultados

(Capítulo 3). O que se pode dizer é que são práticas isoladas, que podem não produzir

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resultado institucional porque não encontram respaldo em políticas e estratégias corporativas

declaradas e entendidas por todos. Pode-se observar, pelo resultado do levantamento, que o

terreno é fértil para a aprendizagem de circuito duplo, para o reconhecimento pela inovação e

para a aprendizagem em equipe. A experiência recente da gestão de projetos no TCU e do

estabelecimento de metodologias de fiscalização de programas, de obras e de desestatização

tem demonstrado isso. Dois exemplos mencionados como pontos fortes na avaliação de

gestão ilustram esse pensamento: a avaliação crítica do processo de exame de contas, que

levou à sistemática do diferimento, e a avaliação crítica do processo de análise e registro de

atos de pessoal, que levou à implantação da análise automática de atos de admissão. Afinal, o

principal propósito dos planos é formular e comunicar a estratégia, a fim de desenvolver o

pensamento estratégico que consiga enfrentar a complexidade e a incerteza ambiental.

4.2 CULTURA

Os conceitos de aprendizagem e cultura são considerados como indissociáveis, pois

as pessoas aprendem dentro de um contexto cultural que pode mudar à medida que a

aprendizagem vai se consolidando e colaborando para a mudança de percepções e, ao longo

do tempo, provocando mudanças mais profundas da cultura organizacional. A cultura é

produto do aprendizado em grupo e se desenvolve no compartilhamento do conjunto de

crenças, valores, símbolos e normas. A integração dos indivíduos dentro de uma cultura

pautada por objetivos comuns facilita o aprendizado e é o maior desafio em direção ao futuro

de uma organização. Os padrões culturais dominantes de uma organização podem dificultar os

processos de aprendizagem e de mudança (SCHEIN, 1993).

Com relação ao pilar da cultura, o Plano de Diretrizes do TCU não apresentou, de

forma explícita, medidas ou ações que trabalhassem os aspectos culturais. Somente nos

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Planos Diretores das Unidades Básicas do TCU é que foram apontadas ações no sentido de

disseminar conhecimentos e boas práticas de gestão. As entrevistas realizadas identificaram

que ainda não há uma cultura de aprendizagem internalizada no TCU, caracterizada por

relações informais, tempo para aprender, abertura para as pessoas compartilharem erros

passados e lições aprendidas, valorização da atitude na seleção de pessoal e discussão de

valores, como aspecto relevante para a organização. As práticas de aprendizagem focadas na

cultura, apontadas como pouco freqüentes no TCU, foram as comunidades de prática, ainda

muito incipientes, e o ambiente de confiança e segurança, localizado em determinados grupos.

Essas entrevistas, no entanto, indicaram como forte característica do TCU a cultura

conservadora, ou seja, uma cultura voltada para a tarefa, para visões e realizações de curto

prazo e ações reativas, onde os problemas são tratados de maneira compartimentalizada e a

informação é vista como fonte de poder a ser preservada.

Por outro lado, na visão dos gestores do TCU, consubstanciada no Relatório de

Avaliação de Gestão de 2002, o ponto forte da organização, no pilar cultural, foi a

incorporação da metodologia de gestão de projetos. Nesse mesmo relatório, apontou-se como

oportunidade de melhoria a realização de cursos de especialização e aperfeiçoamento,

principalmente nas unidades do TCU nos estados.

Estabelecer valores e comportamentos que, mais provavelmente, irão contribuir para

a melhoria do desempenho do TCU, é uma forma explícita de trabalhar a cultura

organizacional. Imagine se fôssemos capazes de desenhar uma cultura corporativa, o que

faríamos? Agiríamos para determinar os valores que iriam criar condições favoráveis para

motivação das pessoas a terem um desempenho que se adequasse a padrões estabelecidos;

definiríamos quais valores seriam trabalhados e como esses se relacionariam às metas da

instituição; identificaríamos valores que pudessem ser estimulantes, positivos e orientados

para clientes; dedicaríamos o esforço necessário ao processo de decisão, sobre os padrões de

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desempenho que os gerentes deveriam atingir; traduziríamos os valores desejáveis em

comportamentos, especialmente no comportamento dos gerentes; e avaliaríamos se os valores

importantes para o TCU estão sendo considerados em todas as práticas organizacionais. Cabe

destacar que a cultura corporativa é fundamental para inibir ou encorajar o desempenho do

TCU.

É por meio das práticas de aprendizagem dos demais pilares (Estratégia, Gestão e TI)

que a cultura pode ser alinhada ou gerenciada. Nesse sentido, é importante verificar se as

normas e diretrizes institucionais não reforçam traços da cultura conservadora.

4.3 GESTÃO

Gestão é o conjunto de funções gerenciais que determinam, implementam e

acompanham as políticas, objetivos, alocação de recursos e outras atividades sistemáticas

necessárias ao cumprimento da missão de uma organização. Por sua vez, os instrumentos de

gestão apoiam a relação contínua entre as pessoas e as empresas e garantem o nível de

informação das pessoas em relação à organização, e vice-versa.

Observa-se nos documentos do TCU, analisados neste trabalho, a ausência de uma

política de gestão institucional que contemple de forma integrada todas as dimensões

(processos, pessoas, estrutura, tecnologias, etc.) a serem gerenciadas, o que provoca esforços

em várias frentes, mas sem a criação de sinergia. Ao contrário, leva à perda de energia por

parte das pessoas, dispersão de ações, diminuição da motivação para o trabalho e para

participar do processo de aprendizagem organizacional, além do estresse e de afastamentos

por doenças.

O processo de gestão de pessoas deve oferecer ao gestor conceitos, modelo de ação e

ferramentas capazes de estimular, manter e desenvolver competências necessárias ao bom

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êxito do negócio da organização, criando oportunidades de aprendizagem em todos os

momentos da dinâmica organizacional. Por sua vez, os arranjos organizacionais (estruturas,

sistemas, procedimentos, normas, políticas) orientam e motivam comportamentos, exercendo

assim influência sobre o aprendizado.

No TCU, a ausência de um modelo integrado de gestão de pessoas compromete o

processo de desenvolvimento dos servidores, entendido como “a capacidade para assumir e

executar atribuições e responsabilidades de maior complexidade” (DUTRA, 2002, p. 101),

pois sem o suporte organizacional para a aprendizagem, torna-se difícil transformar os

conhecimentos, habilidades e atitudes em ações. Sem a adoção de sistemas de avaliação de

desempenho e de recompensas que reconheça e estimule o aprendizado, de alocação que

considere a competência desenvolvida, de remuneração que considere o desenvolvimento é

muito difícil promover melhorias e mudanças organizacionais que só acontecem com pessoas

comprometidas e com competências desenvolvidas.

A prática de aprendizagem por circuito duplo, em especial, se praticada pelos

dirigentes do TCU, pode facilitar o exercício permanente de reflexão sobre os princípios e

estratégias que nortearão esta organização, de forma a corresponder efetivamente às

demandas das partes interessadas. Além disso, essa prática de aprendizagem deve gerar

ambiente mais favorável ao entendimento e compartilhamento da visão institucional.

Outro aspecto observado é o maior destaque que é dado aos eventos de planejamento

estratégico em detrimento à reflexão sobre o seu conteúdo, o que é demonstrado pela

apresentação repetitiva de algumas de suas proposições, com medidas e ações que se alternam

entre estratégia e ação, entre tática e operacional. Apesar das várias intenções declaradas no

Relatório de Avaliação de Gestão a respeito de ações de aprendizagem, como reuniões

mensais nas unidades técnicas; realização de encontros técnico-gerenciais de dirigentes;

realização de encontro anual de dirigentes, com espaço para a avaliação dos resultados

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alcançados; poucas foram as práticas de aprendizagem identificadas pelos entrevistados em

relação ao pilar de gestão. Ou seja, essas oportunidades ainda não estão sendo exploradas de

forma a gerar novos conhecimentos e a mudar comportamentos.

O processo de aprendizagem organizacional do Tribunal ainda está focado em

cursos, ou seja, ações formais de aprendizagem e não na exploração de qualquer prática de

trabalho em que possa haver algum tipo de reflexão que promova a melhoria ou a

transformação dos processos de trabalho. A ausência de alinhamento do processo de

aprendizagem com o direcionamento estratégico e ausência da gerência do processo de

aprendizagem organizacional, evidenciada nas entrevistas, parece estar sendo suscitada de

forma adequada pelo Projeto Atena (citado no Capítulo 3).

4.4 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

A Tecnologia da Informação (TI) desempenha papel de infra-estrutura para a gestão

do conhecimento, que, por sua vez, envolve aspectos humanos e gerenciais. A TI

isoladamente não possibilitará o compartilhamento do conhecimento e não criará uma

organização de aprendizado contínuo. Muitas organizações utilizam ferramentas

computacionais, como as de mapeamento e armazenamento de conhecimento, comunidades

de prática, entre outras, para suportar as funcionalidades de sua estrutura de gestão.

No contexto de uma organização que aprende, a TI deve atuar como facilitadora do

processo de aprendizagem, empregando, em qualquer solução de tecnologia disponibilizada,

recursos para captação, codificação ou disseminação de conhecimentos, inerentes ao trabalho

dos analistas do TCU. O correio eletrônico, por exemplo, tornou-se ferramenta fundamental

nos últimos anos e é grande disseminadora de informações que podem ampliar o

conhecimento. Mas há outras necessidades, como sistemas de informações gerenciais,

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comunidades virtuais de práticas, bases inteligentes de conhecimento, infra-estrutura para

educação à distância, gerenciamento da disponibilidade e confiabilidade da infra-estrutura de

rede.

É impossível construir uma organização que aprende sem recursos tecnológicos,

necessários para alcançar a todos, em qualquer lugar, ao mesmo tempo, em quantidade e

diversidade necessárias. Apoio fundamental às demais dimensões sustentadoras da

aprendizagem, é a posição que ocupa no modelo de pilares.

O que se observa da análise dos dados obtidos no diagnóstico da aprendizagem

organizacional no TCU é a ausência de políticas e estratégias bem definidas para os três

estágios nos quais a TI oferece suporte à aprendizagem na organização: a aquisição, o

compartilhamento e o uso do conhecimento. Os investimentos em TI têm a tendência de

serem incrementais e procedimentais, ou seja, moldados pela demanda dos processos de

trabalho. O caráter das ações de TI no TCU, normalmente reativas, originam-se nas diretrizes

desconectadas de políticas claras de valorização do conhecimento como recurso estratégico.

A tecnologia da informação no TCU mostra-se em processo de evolução de sistemas

procedimentais para a integração de dados e a geração de informações gerenciais, que dêem

apoio à gestão e à reflexão estratégica. As atividades do TCU sinalizam a necessidade de

criação urgente de bases de conhecimento, mapeando as competências organizacionais e

profissionais inerentes aos processos de trabalho. Aliado a isso, deve-se criar o ambiente de

portal para troca e contínua disseminação dos conhecimentos produzidos. No flanco externo

não é diferente, preocupando o TCU a necessidade do domínio das informações que levarão

ao conhecimento sobre como a Administração Pública está estruturada, em termos dos seus

fluxos de informação e decisão, bem como dos resultados que vem produzindo. Todo esse

aparato informacional visa alinhar os métodos e técnicas de controle aos pontos de risco que

demandam maior atenção do TCU.

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CONCLUSÃO

A presente dissertação investigou como a aprendizagem organizacional pode

otimizar resultados do TCU, a partir dos sinais de aprendizagem identificados pelos principais

autores do assunto, bem como de boas práticas em organizações que obtiveram sucesso após a

adoção da aprendizagem organizacional.

De acordo com o referencial teórico estudado, a aprendizagem é um processo de

mudança, resultante de prática ou experiência anterior, que envolve fases de aquisição,

retenção, transferência e generalização. Para uma organização, a aprendizagem pode ser

entendida como o exercício da inteligência coletiva para responder ao ambiente interno e

externo; é um processo contínuo de detectar e corrigir erros, de reflexão sobre práticas e

posterior ação corretiva. Desenvolver estratégias para gerenciar o conhecimento ou condições

para fortalecer a aprendizagem organizacional, com ênfase na capacidade de aprender,

adaptar-se e mudar, define a organização que aprende.

No contexto deste trabalho, adota-se como definição de aprendizagem organizacional

o processo de criação, compartilhamento e utilização de conhecimento pelo qual são

desenvolvidas as competências organizacionais, visando expandir a capacidade de gerar

resultados relevantes para a organização; e de organização que aprende (organização de

aprendizagem) o ambiente onde as estratégias, a cultura, o modelo de gestão e as tecnologias

da informação propiciam a aprendizagem organizacional. Entende-se que o ambiente de

aprendizagem é determinado pelo grau de alinhamento e coerência de esforços

organizacionais, suportados nos pilares da estratégia, da cultura, da gestão e da tecnologia da

informação.

O levantamento realizado junto ao TCU permitiu constatar que, de maneira geral, há

sinais incipientes de aprendizagem organizacional, sinais esses, isolados, de iniciativa de

alguns setores ou pessoas. Essa constatação é reflexo da ausência de políticas que acolham

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institucionalmente a aprendizagem como uma estratégia patrocinada e praticada pela

liderança da casa, entendida e reconhecida pelos servidores.

Quanto ao aspecto da gestão, o diagnóstico do TCU identificou que as dimensões

processos, pessoas, estruturas e tecnologias não são tratadas de forma integrada. Essa pode ser

a principal causa de perda de energia, dispersão de ações, diminuição da motivação para o

trabalho e para participar do processo de aprendizagem. Essa baixa sinergia é agravada pela

ausência de políticas e diretrizes estratégicas que valorizem o conhecimento como principal

recurso da organização.

No que se refere a cultura organizacional, foram evidenciados aspectos dificultadores

do desenvolvimento de ambiente de aprendizagem, tais como: falta de tempo para aprender;

abertura para as pessoas compartilharem erros passados e lições aprendidas; baixo estímulo a

relações informais; ausência de discussão de valores; cultura voltada para tarefa, visões e

realizações de curto prazo, com predominância de ações reativas; ausência de visão sistêmica;

e informação vista como fonte de poder. Esses aspectos devem ser trabalhados para

desobstruir o caminho para a evolução da cultura de aprendizagem.

No que tange à Tecnologia da Informação (TI) não há alinhamento entre os

investimentos de TI e as poucas iniciativas de aquisição, compartilhamento e uso do

conhecimento vital para o sucesso da organização. Tal fato se deve, em parte, a ausência de

políticas de gestão do conhecimento. A TI desempenha papel de infra-estrutura para a gestão

do conhecimento, ou seja, a adoção de ferramentas e soluções de TI não criará, por si só, uma

organização de aprendizado.

Para que o TCU seja uma organização de aprendizagem, como mostram as intenções

contidas nos documentos institucionais, é preciso estimular o compromisso coletivo, de forma

a reorientar o pensamento e o comportamento. Ao permitir a autonomia individual de todos os

membros da organização, o TCU estará ampliando a chance de introduzir oportunidades

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inesperadas e dos indivíduos se automotivarem para criar novos conhecimentos. Uma

condição essencial para isso é promover a interação entre a organização e o ambiente externo,

ter uma atitude aberta diante dos sinais ambientais, para explorar a ambigüidade, a

redundância ou os ruídos desses sinais para melhorar o seu próprio sistema de conhecimento.

Questionar a validade de nossas atitudes, em relação ao mundo, estimula a criação do

conhecimento organizacional (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).

Além de aspectos organizacionais, fatores pessoais que facilitam o processo de

aprendizagem organizacional, devem ser trabalhados no TCU, tais como autoconfiança

(acreditar que é capaz de aprender), motivação (interesse, esforço, persistência em direção a

aprender), flexibilidade (capacidade de lidar com novos conhecimentos ou novas

experiências) e comprometimento organizacional (identificação da pessoa com os valores e

objetivos da organização). O comprometimento de toda a alta administração também é

considerado como um dos fatores determinantes do processo de aprendizagem organizacional,

na medida em que as ações dessa influenciam muito as crenças e comportamentos dos

membros da organização (DAVENPORT, 2001).

Mudanças evolutivas pressupõem a prática da desaprendizagem de forma que haja

rompimento com pressupostos obsoletos que já não ajudam mais a organização a ter sucesso

em suas empreitadas, mas a atrapalham (SENGE, 2000). É importante que o TCU avalie o seu

alinhamento cultural com as necessidades e expectativas da realidade social externa.

É fundamental, no entanto, conhecer e trabalhar os fatores dificultadores da

aprendizagem, pois retiradas essas barreiras, o processo de aprendizagem organizacional

tende a fluir e tornar-se irreversível. No caso do TCU, faz-se necessário mitigar os seguintes

fatores dificultadores da aprendizagem organizacional, conforme diagnóstico neste trabalho:

1) tendência natural de preservação do status quo;

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2) fragilidade na reflexão de aspectos mais profundos das práticas

organizacionais;

3) atenção elevada em pequenos problemas locais do dia-a-dia, ao invés dos

problemas mais globais e sistêmicos;

4) falta de estímulo às pessoas em solicitar ajuda, admitir erros e procurar

feedbacks;

5) baixo compartilhamento de conhecimentos, pela falta de ambiente de confiança

e de segurança;

6) prática de recompensas individuais, que reforçam a idéia de que o poder está

em ter o conhecimento apenas para si.

Considerando o acima exposto, conclui-se que a aprendizagem organizacional pode

otimizar resultados do TCU se gerenciados os pilares de estratégia, cultura, gestão e

tecnologia da informação com foco na aprendizagem, para minimizar as deficiências citadas.

Para que a aprendizagem organizacional possa ser implantada no TCU, recomenda-se

priorizar os seguintes passos:

1) definir organização de aprendizagem como um dos seus objetivos estratégicos;

2) instituir políticas e diretrizes corporativas que mencionem explicitamente a

importância da aprendizagem organizacional;

3) promover a internalização, junto a todos os servidores, dos princípios,

conceitos e práticas relativos a organização de aprendizagem;

4) identificar impedimentos e obstáculos ao ciclo de aprendizagem em cada setor

da organização;

5) elaborar projetos institucionais, concretos e criativos, que coloquem o TCU no

caminho das organizações que aprendem.

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139

Todavia, ressalta-se que os projetos de implantação da aprendizagem organizacional

no TCU devem ser orientados pelas seguintes diretrizes:

1) criar a identidade de longo prazo para o TCU, por meio do estabelecimento de

objetivos comuns, entendidos por todos os servidores;

2) institucionalizar oportunidades para diálogo e reflexão construtiva sobre

resultados e desempenho, questionando princípios e valores;

3) resolver problemas de forma coletiva a partir de suas próprias experiências,

com enfoque global e interdisciplinar, mantendo prioridades em mente;

4) valorizar o trabalho em equipe como forma de produzir e compartilhar

conhecimentos;

5) desenvolver as competências profissionais, alinhadas com as estratégias

organizacionais, por meio de diferentes ações de aprendizagem;

6) estimular ações de aprendizagem que privilegiem a experiência, a observação,

a imitação e a prática do aprendiz;

7) desenvolver indicadores de aprendizagem organizacional, para que o progresso

desse processo seja avaliado e a aprendizagem gerenciada.

Futuros estudos podem utilizar esta dissertação como base, especialmente aqueles

que desejarem investigar indicadores de aprendizagem organizacional por pilar estudado nesta

monografia (estratégia, cultura, gestão e tecnologia da informação); examinar práticas mais

eficazes para transferência de conhecimento dos indivíduos à organização; avaliar a relação

entre inovação e aprendizagem organizacional; estudar modelos de gestão com foco em

aprendizagem; pesquisar soluções de tecnologia da informação que auxiliem na aquisição,

compartilhamento e uso do conhecimento; dentre outros temas.

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140

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ANEXO I

Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional

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ca Evidências Objetivas

1 Aprendizagem por Insight: a organização gera oportunidades para imaginar soluções inéditas O TCU promove ou permite oportunidades para construir soluções inéditas?

20%

80%

Curso de Pós-graduação em Gestão do Conhecimento e Projetos. Depende se o ambiente externo exige. Avaliação de Programas. Ocorre com mais freqüência nas áreas administrativas. A área-fim é mais formal e padronizada, não permite muito. Grupo Tendências, Projeto Reino Unido, Projeto Gestão de Projetos, Fiscobras. Uso de matrizes de fiscalização e responsabilização em auditorias, a internalização de metodologias de fiscalização a partir do projeto TCU-Reino Unido, elaboração de sumários executivos, relatórios de impacto de acompanhamento de programas, a gestão de projetos no TCU, etc.

2 Desaprendizagem: reavaliação e renovação de competências na organização O TCU costuma descartar conhecimentos e práticas que não agregam mais valor?

100%

Contas. Nomeação para Função. Mantém práticas arcaicas em vigor. Há conservadorismo excessivo; medo do novo. Alteração na forma de exame das alegações de defesa. Supressão da fase da rejeição anterior ao julgamento de contas. Dispensa de prestação de contas dos conselhos de profissões regulamentadas

3 Aprendizagem de Circuito Duplo: questionar o que se aprende e revisar princípios e valores No TCU revisamos os princípios que sustentam nossas práticas?

20%

40%

40%

Sim, criação de secretarias especializadas: SEFID, SEPROG. Não revisa práticas de controle de contas. Foco no operacional; não questiona demanda, tempo e as pessoas não param para isso. Pesquisa Tendências do Controle da Gestão Pública.

4 Reconhecimento da Inovação: reconhecimento pela participação em projetos inovadores No TCU existe alguma forma explícita ou implícita de reconhecimento por participação em projetos inovadores? Quais? 20

%

20%

40%

20%

CERDS, Washington/EUA. Explicitamente não vê sinais, mas implicitamente acha que ocorre quando do aproveitamento das pessoas que se envolvem ou participam ativamente de projetos importantes e trabalhos de grande impacto na organização, a exemplo da Pesquisa Tendências do Controle (2000).

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Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional

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ca Evidências Objetivas

5 Visão Compartilhada: missão, objetivos e metas da instituição disseminados e internalizados (comprometimento) O direcionamento institucional (missão, valores, etc) é percebido como internalizado por todos no TCU, de forma a gerar comprometimento? 20

%

40%

40%

Depende do segmento organizacional, na Segecex é mais visível (área-fim). A missão, mas somente ela, é bem conhecida do pessoal da área-fim. Não sabe informar quanto ao ISC e Segedam. Compromisso depende do perfil das pessoas (atitudes). Avalia que os servidores mais novos têm um perfil “missionário” e se identificam mais com a missão do TCU. Faz parte da natureza e formação sócio-cultural dessas pessoas (valores intrínsecos de cidadania).

6 Alinhamento Estratégico: os processos de aprendizagem estão alinhados com os propósitos organizacionais Os processos de aprendizagem organizacional estão alinhados com o direcionamento estratégico? 40

%

40%

20%

Não existe processo de planejamento de aprendizagem organizacional, são alinhados com a demanda. Apenas atende às demandas.

7 Resultados de Aprendizagem: incorporação dos resultados de aprendizagem aos processos, sistemas, estrutura e cultura As práticas geradas no processo de aprendizagem são incorporadas aos processos, sistemas, cultura e estrutura? 20

%

40%

40%

Projeto Atena, Gestão de Projetos. Mudança estrutura (Pesquisa Tendências do Controle), simplificação de processos. Citou os exemplos das práticas, metodologias e técnicas internalizadas no Projeto TCU-Reino Unido, as inovações derivadas dos projetos e da própria gestão por projetos, as mudanças nos processos da SEFIP, a 4ª compartilhada (4ª Secex), a base de conhecimento por temas da SERUR e a lista de discussão da SECOB.

8 Projeção de Cenários: exercício de projeção de cenários futuros O TCU utiliza exercícios de projeção de cenários futuros, que orientem o processo de reflexão e formulação estratégica? 20

%

20%

60%

Plano Estratégico. Apenas percepções colhidas em congressos, seminários e informações sobre movimentos na Administração Pública.

9 Prática de Reconhecimento: premiação à aprendizagem em equipe Existe no TCU a prática de premiação à produção em equipe?

100%

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Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional

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Nun

ca Evidências Objetivas

10 Projetos abrangentes: desenvolvimento de projetos de dimensão organizacional O TCU adota a prática de desenvolver projetos de dimensão institucional ?

40%

40%

20%

Auditorias, Projeto Atena. Matriz de Planejamento, Matriz de Risco, Outras. ANOp, Auditoria de Obras. Fiscalização com orientação centralizada. Auditoria da marenda escolar foi lembrada, mas não há a prática intencional, com objetivos de aprendizagem. Projetos de mudança organizacional, tais como, o Projeto Atena, o Projeto Certificação da Gestão Pública, o Projeto Datawarehouse, a Pesquisa Tendências do Controle, etc.

11 Foco do Controle Gerencial: controle da estratégia e não do comportamento O controle gerencial privilegiao controle dos resultados, em lugar do comportamento do servidor?

60%

20%

20%

Cumprimento de metas Procedimentos gerenciais voltados para resultados quantitativos em detrimento do qualitativo/ impacto. Catraca e suas flexibilizações; Avaliação de desempenho considera aspectos qualitativos. Metas têm ajudado na mudança do comportamento dos gerentes para se concentrarem na gestão por resultados.

12 Contrato de Expectativas: clareza e simplicidade no que a organização oferece e o que espera das pessoas Existe definição clara e simples por parte do TCU acerca do que oferece e do que espera das pessoas? 20

%

80%

As expectativas não estão definidas no nível estratégico. Discussões da avaliação de desempenho. Enfoque atual apenas no que se espera dos servidores.

13 Benchmarking externo: procedimento de comparar processos, práticas, funções e resultados das organizações para identificar oportunidades de melhoria de desempenho O TCU adota a prática de comparar-se a instituições líderes ou excelentes em determinadas práticas, objetivando a aprendizagem e aperfeiçoamento? 40

%

40%

20%

Projeto Reino Unido. GAO, NAO, Canadá. Reino Unido – Matriz de Planejamento; Visitas e estágios no Canadá – Análise de risco; Visitas e estágios no GAO – Técnicas de avaliação de programas. Há movimentação para isso, mas ainda é tímida. Citou exemplo de tentativa da Seplan em estabelecer indicadores comuns aos órgãos de controle (TCE e EFS, via INTOSAI) para possibilitar comparação entre essas unidades.

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Práticas e Sinais Indutores da Aprendizagem Organizacional

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14 Cultura de Aprendizagem: tempo para aprender, relações informais, as pessoas falam abertamente sobre erros passados e lições aprendidas, facilidade de atrair e manter os melhores talentos, valorização da atitude na seleção de pessoal, discussão de valores da organização é visto como relevante No TCU, de modo geral, são adotadas ou aceitas práticas compatíveis com uma cultura favorável à aprendizagem, ou seja, aberta à reflexão sobre erros e lições aprendidas, favorável à reserva tempo para a aprendizagem, que valoriza as relações informais, que estimula a discussão sobre valores, etc 60

%

20%

20%

Autoavaliação de gestão não é devidamente utilizada. O TCU está criando um cultura de metodologias e técnicas de controle, com maior especialização e também foco em questões de políticas públicas (apesar de incipiente). Disponibilização para treinamentos. Existe dentro das divisões técnicas; Nos gabinetes um pouco; Entre unidades, especialmente, ambiente desfavorável

15 Redução dos Mecanismos de Defesa: conscientização do que não se sabe (autopreservação) O TCU reconhece a necessidade de mudanças de estratégias, competências, práticas e processos de trabalho?

40%

40%

20%

No discurso, sim, na prática, pouco. Pesquisa Tendências do Controle, Convênios com outros Tribunais, Entidades de Fiscalização Superiores, OLACEFs, INTOSAI (mais efetiva) Cursos de especialização com PGCE e GCO. Mudança de foco: obras e programas. Projeto Reino Unido: iniciativa em que se assume o que não se sabe. Acha que isso ocorre com freqüência em razão das constantes avaliações sobre os processo de trabalho no TCU.

16 Aprendizagem Inerente ao Trabalho: existência de políticas e práticas organizacionais que consideram a aprendizagem inerente ao trabalho Existem políticas e práticas que demonstrem que o TCU considera que a aprendizagem é um processo ou fenômeno inerente ao trabalho? 60

%

40%

Discussão de roteiro de auditoria pela equipe. Não existem “estudos de casos de auditoria” Não se acumula conhecimento decorrente de práticas de controle. Auditorias de abrangência nacional PDPA Projeto Controle da Regulação (Sefid).

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17 Comunidades de Prática: grupos informais com interesse comum É incentivada a existência de grupos informais com interesses e objetivos comuns, que busquem novos conhecimentos ou solução de determinados problemas ou questões? 60

%

40%

Falta comunidades de conhecimento. Lista de discussão de Fiscalização de Obras Reconhece apenas a lista de discussão da SECOB como um exemplo, ainda tímido, desse tipo de prática.

18 Pertencimento: expressão das práticas organizacionais por meio de símbolos de pertencimento (logomarcas, slogans) O TCU se utiliza de recursos de comunicação simbólica (logomarcas, slogans) ou não(,relação de nomes etc), que promova a sensação de pertencimento a mesma organização por parte de todos os membros? 80

%

20%

Projeto Atena Especialistas ISC Acha que em geral as pessoas se identificam funcionalmente com o TCU (logotipo, crachá, carreira de estado, etc), mas não se lembra de uso de slogans motivadores e muito menos de logomarcas ou símbolos representativos com esse objetivo de congregar pessoas sob uma legenda.

19 Ambiente de Confiança e Segurança: crença da inexistência de risco interpessoal Você percebe o ambiente como seguro para manifestação de suas idéias e sentimentos sem que sejam julgadas? 20

%

20%

40%

Depende do substrato onde a pessoa se encontra. Acha que as pessoas se sentem mais seguras para opinar em foros ou canais alternativos à organização, como a lista de discussão da AUDITAR. Acha que o CANAL ABERTO da Presidência do TCU foi uma boa idéia, mas que não vem sendo utilizada nesta gestão.

20 Cultura Conservadora: cultura voltada para a tarefa, pessoas, voltada para o curto-prazo, reativa, compartimentalização de problemas, informação vista como poder A cultura organizacional se aproxima de uma cultura conservadora, ou seja, voltada para tarefas, para visões e realizações de curto prazo, reativa, onde os problemas são tratados de forma compartimentada e a informação é vista como fonte de poder a ser preservada? 20%

60%

20%

Tem melhorado (aproxima-se de freqüente). Ressalva da informação como fonte de poder. Dispensa comentários.

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21 Autodesenvolvimento: buscar diferentes formas de aprendizagem interna e externamente ao ambiente de trabalho O ambiente organizacional estimula que as pessoas busquem por iniciativa própria ações e estratégias de desenvolvimento pessoal e profissional? 20

%

20%

60%

Bolsa de idiomas, Ninguém obedece resolução de graduação (tempo). O Tribunal não busca isso. Inexistência de normas que definem áreas prioritárias de desenvolvimento; estimula idiomas. Cursos de Pós no ISC e ações de intercâmbio já mencionadas. Pela natureza desafiadora dos trabalhos e pelo profissionalismo dos técnicos há um movimento constante das pessoas para se especializar e manter-se atualizado em relação a temas mais preocupantes.

22 Gerência do Desconforto: a organização gera estado de desconforto como provocação de aprendizagem O TCU adota deliberadamente estratégias ou ações para que as pessoas sejam induzidas a se sentirem insatisfeitas ou desconfortáveis com seus níveis de conhecimento? 40

%

60%

Sistemas informação provocam desconforto em pessoas sem familiaridade com recursos de informática, mas não é ação proposital. Acha que ocorre apenas quando as próprias pessoas se sentem incomodadas no ambiente onde estão trabalhando.

23 Gerência do Processo de Aprendizagem: ambiente de tolerância ao erro com foco em desenvolvimento O ambiente organizacional tolera bem os erros reconhecidamente provocados pelos esforços de aprendizagem (inovação, criatividade e desenvolvimento)? 20

%

60%

20%

Em algumas “ilhas” há maior tolerância

24 Aprendizagem de Circuito Simples: mudança sucessiva de estratégia e processo (processo de melhoria, mudança incremental, aprendizagem restritiva,) O TCU aprende com a experiência, modificando incremental e sucessivamente, a partir dos “feedback” obtidos, suas estratégias e processos? 20

%

20%

60%

Não existe cultura para repassar experiências, falta memória. Edição de normativos consideram erros passados. Cursos Projetos Elaboração / proposição / discussão pelas Secex dos Planos de auditoria Quarta compartilhada (4ª Secex) Encontros técnicos (reuniões promovidas pela Segecex e Seplan para troca de idéias, boas práticas etc.) Enxerga isso apenas a partir dos projetos que abrem novos horizontes na organização.

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25 Estrutura Adhocrática: mais favorável à mudança e à flexibilidade; a aprendizagem é proativa e transformadora Os arranjos estruturais no TCU, em geral, se aproximam do padrão estrutural da Adhocrático, mais flexível, favorável à ação proativa e a mudanças transformadoras? 20

%

80%

Porque os projetos não são tão freqüentes. Procedimentos de análise. Difusão de conteúdo metodológico: SEPROG/ ADFIS. Gestão por projetos, formação de grupos de trabalho.

26 Estrutura Burocrática: privilegia a ordem e a manutenção do status quo; a aprendizagem é reativa e incremental Os arranjos estruturais no TCU, em geral, se aproximam do padrão estrutural da Burocracia, mais rígido e enfatizando a autoridade de nível hirárquico, privilegia a ordem e a manutenção do status quo menos favorável a mudanças transformadoras e à ação proativa? 80

%

20%

Falta intercâmbio entre secretarias. Falta cultura de aprendizagem internamente nas secretarias. Não-acompanhamento da efetividade dos trabalhos/ impacto. Exceção nos níveis burocráticos mais elevados (plenário, etc.) Tendência a zona de desconforto entre as secretarias especializadas e as genéricas deve levar à reflexão sobre os processos de trabalho.

27 Prática de Diálogos e Reflexões Coletivas: práticas organizacionais que favoreçam a externalização dos modelos mentais para criar o hábito de reavaliação de conceitos e crenças (externalização do conhecimento). O TCU adota práticas institucionalizadas de diálogos e reflexões coletivas, que explicitam modelos mentais, com o objetivo de reavaliar conceitos e crenças? 20

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40%

Encontro de Dirigentes, Reuniões de Planejamento Estratégico, Reuniões da Segecex. Diálogos estratégicos, Reuniões Segecex.

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28 Participação da Liderança na Aprendizagem: participação comprometida da alta liderança de no processo de aprendizagem Os integrantes do nível organizacional estratégico participam de forma comprometida, como indutores e partícipes dos processos de aprendizagem? 40

%

40%

20%

Falta comprometimento do nível estratégico (Considerou o nível estratégico das autoridades até os secretários) Heterogeneidade de atuação.

29 Prática de Simulação e Experimentação: procura e teste de novos conhecimentos (internalização do conhecimento) O TCU adota a prática de proporcionar a experimentação e a simulação com objetivos de aprendizagem? 20

%

20%

60%

Reconhece nos projetos piloto esse tipo de prática.

30 Gestão de Pessoas: modelo integrado com foco na aprendizagem e desenvolvimento O TCU adota modelo integrado de gestão de pessoas com foco na aprendizagem e no desenvolvimento? 20

%

80%

31 Indicadores de Aprendizagem Individual: existência de indicadores e medidores de aprendizagem individual Existem no TCU indicadores ou medidores da aprendizagem individual? 10

0%

32 Indicadores de Aprendizagem Organizacional: existência de indicadores e medidores de aprendizagem organizacional Existem no Tribunal indicadores ou medidores da aprendizagem organizacional? 100%

Não existem indicadores, como vai medir?

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33 Encontros Colaborativos: promoção de encontros colaborativos formais para resolução de problemas com foco em necessidades reais O TCU costuma realizar encontros colaborativos formais para a resolução de problemas, com foco em necessidade reais? 20

%

20%

40%

Encontros SA/Segecex. Reuniões de planejamento de cursos e outros eventos Reuniões entre Adfis, Setec, Adcon, Seplan ações restringem-se à média gerência Citou os encontros periódicos com os chefes de SA, com os dirigentes e a própria reunião mensal da Segecex.

34 Gerência Educadora: gerentes voltados para o desenvolvimento das pessoas, da aprendizagem e da inovação (gerente como líder do trabalho de equipe) O corpo gerencial do TCU desenvolve papel de líder orientador- educador, colaborando para os processo de aprendizagem, de inovação e para desenvolvimento das pessoas? 80

%

10%

Quase nunca, casos raros, aprendizado interno. Depende do gerente.

35 Transparência e Coerência da Gestão: clareza de critérios e coerência de atos no processo de gestão Existem critérios claros, declarados e obedecidos na gestão de pessoas, que norteim o processo de desenvolvimento de pessoas no TCU? 20

%

80%

Regras do Cursos de Gerenciamento Organizacional, critérios de pós-graduação, seleção para eventos externos, embora possam não ser os melhores

36 Aprendizagem em Equipe: equipes interdisciplinares, auto-organizadas e com autonomia Existe no TCU a prática de formar equipes insterdisciplinares,(inter unidades) auto-organizadas e autônomas com foco em resolução de problemas? 60

%

20%

Projetos fechados e de outras áreas Projetos, Auditorias integradas. Projetos, grupos de trabalho. Projetos e Grupos de Trabalho. Projetos e Grupos de Trabalho, que devem migrar para o modelo de projetos.

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37 Rodízio Estratégico de Servidores: alocação planejada de pessoas O TCU adota a prática de alterar a distribuição (alocação) das pessoas com o objetivo estratégico de promover aprendizagem? 20

%

60%

Existe, mas com outros objetivos.

38 Gestão por processos para facilitar a aprendizagem O TCU pratica gestão por processos?

20%

40%

40%

Visão tênue de processo; cada um faz uma parte do processo

39 Benchmarking interno: procedimento de comparar processos, práticas, funções e resultados entre unidades da organização para identificar oportunidades de melhoria de desempenho O TCU realiza benchmarking interno entre unidades do TCU? 20

%

60%

20%

Melhores práticas da Segecex (Seplan só nos dois últimos anos). Reuniões e encontros (dirigentes, Segecex). Sisdir – começou na 4ª Secex – Adfis tornou corporativo. Auditoria de abrangência nacional, modelo iniciado pela 6ª Secex. Citou os encontros técnicos da Segecex (apesar do plural só ocorreu o primeiro no ano passado).

40 Prática de ensino à distância: processo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou temporariamente O TCU adota a prática de ensino a distância?

80%

20%

2 a 3 iniciativas Fiscalis, Sisac, auto-aprendizagem (projetos). Videoconferência. Fiscalis MS Project Tutoriais do Siscac e GPD (seplan) videoconferência Citou o treinamento em gestão de projetos feito com a CATO pela Internet.

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41 Apoio da TI à Aprendizagem: Arvore do Conhecimento, Bases Inteligentes do Conhecimento, Cadastro eletrônico de especialistas, Comunidades virtuais de práticas, Educação a Distância, Gerenciamento eletrônico de documentos, Groupware e Workflow, Business Intelligence, Portal do Conhecimento Corporativo

20%

80%

Sisdir – GED – a ser testado Lista de discussão que na maioria das vezes morre Tem TI mas não tem a prática Cadastro da ADFIS. Listas de discussões, cadastros de especialistas, intranet. Videoconferência Tutoriais ? do sistema de atendimento da Setec, consultados via intranet Palestras e discursos disponíveis na intranet Acha que estão sendo feitos alguns esforços para isso e citou como exemplos o cadastro de especialistas e a lista de discussão da SECOB (reconhece que existem outras listas, mas esta é, segundo a percepção do entrevistado, a única que tem uma participação efetiva e um resultado eficaz para ampliar o conhecimento dos participantes em auditorias de obras).