A Arte Mnemônica

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A arte mnemônica Baudelaire compara a arte perfeita como uma barbárie inevitável, sintética e infantil que se resulta da necessidade de ver as coisas de maneira ampla e a considerálas no seu efeito de conjunto. Assim C.G. traduzindo fielmente suas próprias impressões, marca com uma energia instintiva os pontos culminantes ou luminosos de um objeto, ou suas próprias características algumas vezes com exagero útil para a memória humana. A imaginação do espectador, submetendose por sua vez a essa mnemônica tão despótica, vê com nitidez a impressão produzida pelas coisas sobre o espirito de C.G. O espectador é aqui o tradutor de uma tradução sempre clara e inebriante. O método de desenhar de C.G. é de memória. Sua execução é evidenciada em duas partes: a primeira, um esforço de memória ressurreicionista, evocadora; e a outra, um fogo, uma embriaguez de lápis, de pincel, que se assemelha quase a um furor. É o medo de não agir com suficiente rápido, de deixar o fantasma escapar antes que sua síntese tenha sido extraída e captada. C.G. começa por leves indicações a lápis, apenas indicando a posição que os objetos devem ocupar no espaço. Os planos principais são indicados em seguida por tons em aguada, massas de inicio coloridas vagamente, levemente, porém retomadas mais tarde e carregadas sucessivamente com cores mais intensas. No último momento, o contorno dos objetos é definitivamente delineado com tinta. Os anais da Guerra Apesar de C.G, recorrer à sua memória em vez dos modelos para pintar, há raras exceções em que ele tem que fazer breves anotações e rascunhos, que são os casos de guerras. A Búlgaria, a Turquia, a Criméia e a Espanha são segundo Baudelaire grandes festas para os olhos de C.G. Pompas e Solenidades A Turquia forneceu admiráveis motivos de composições ao C.G.: as festa de Bairam C.G. pinta admiravelmente o fausto das cenas oficiais, das pompas e solenidades nacionais, não de modo frio e didático, como os pintores que vêem nessas obras fardos lucrativos, mas com todo o ardor de um homem apaixonado pelo espaço, pela perspectiva,

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Análise da obra de C.G realizada por Charles Baudelaire

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A arte mnemônica

Baudelaire compara a arte perfeita como uma barbárie inevitável, sintética e infantil

que se resulta da necessidade de ver as coisas de maneira ampla e a considerá­las no seu

efeito de conjunto. Assim C.G. traduzindo fielmente suas próprias impressões, marca com

uma energia instintiva os pontos culminantes ou luminosos de um objeto, ou suas próprias

características algumas vezes com exagero útil para a memória humana. A imaginação do

espectador, submetendo­se por sua vez a essa mnemônica tão despótica, vê com nitidez a

impressão produzida pelas coisas sobre o espirito de C.G. O espectador é aqui o tradutor

de uma tradução sempre clara e inebriante.

O método de desenhar de C.G. é de memória. Sua execução é evidenciada em

duas partes: a primeira, um esforço de memória ressurreicionista, evocadora; e a outra, um

fogo, uma embriaguez de lápis, de pincel, que se assemelha quase a um furor. É o medo de

não agir com suficiente rápido, de deixar o fantasma escapar antes que sua síntese tenha

sido extraída e captada.

C.G. começa por leves indicações a lápis, apenas indicando a posição que os

objetos devem ocupar no espaço. Os planos principais são indicados em seguida por tons

em aguada, massas de inicio coloridas vagamente, levemente, porém retomadas mais tarde

e carregadas sucessivamente com cores mais intensas. No último momento, o contorno dos

objetos é definitivamente delineado com tinta.

Os anais da Guerra

Apesar de C.G, recorrer à sua memória em vez dos modelos para pintar, há raras

exceções em que ele tem que fazer breves anotações e rascunhos, que são os casos de

guerras. A Búlgaria, a Turquia, a Criméia e a Espanha são segundo Baudelaire grandes

festas para os olhos de C.G.

Pompas e Solenidades

A Turquia forneceu admiráveis motivos de composições ao C.G.: as festa de Bairam

C.G. pinta admiravelmente o fausto das cenas oficiais, das pompas e solenidades

nacionais, não de modo frio e didático, como os pintores que vêem nessas obras fardos

lucrativos, mas com todo o ardor de um homem apaixonado pelo espaço, pela perspectiva,

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pela luz que envolve ou explode e se fixa em gotas ou centelhas nas asperezas dos

uniformes e dos trajes da corte.

Os movimentos populares, os clubes e as solenidades de 1848 forneceram igualmente a

C.G. uma série de composições pitorescas, a maior parte delas gravada pelo Illustrated

London News.

O Militar

O gênero de temas preferidos por C.G. é a pompa da vida, tal como ela se oferece

nas capitais do mundo civilizado, a pompa da vida militar, da vida elegante e galante. Ele

mostra uma predileção muito acentuada pelo militar, pelo soldado. Para Baudelaire, essa

propensão se dá não somente às virtudes e qualidades que passam forçosamente da alma

do guerreiro para sua atitude e rosto, como também ao paramento vistoso com que sua

profissão o reveste.

O militar tem seu sinal particular de beleza na despreocupação marcial, mesclando

placidez e audácia; é uma beleza que decorre da necessidade de estar pronto para morrer

a cada minuto.