A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS, …

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FACULDADES INTEGRADAS DE CARATINGA MG CURSO SERVIÇO SOCIAL SIMONE SILVA DE OLIVEIRA SUELI VIEIRA DA SILVA A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS, POSSIBILIDADES E DESAFIOS PARA A EFETIVAÇÃO DO PROJETO ÉTICO POLÍTICO. CARATINGA MG 2016

Transcript of A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS, …

FACULDADES INTEGRADAS DE CARATINGA ndash MG

CURSO SERVICcedilO SOCIAL

SIMONE SILVA DE OLIVEIRA

SUELI VIEIRA DA SILVA

A ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E

DESAFIOS PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICO

CARATINGA ndash MG

2016

FACULDADES INTEGRADAS DE CARATINGA ndash MG

CURSO SERVICcedilO SOCIAL

SIMONE SILVA DE OLIVEIRA

SUELI VIEIRA DA SILVA

A ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E

DESAFIOS PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICO

Monografia apresentada ao Curso de Serviccedilo Social das Faculdades Doctum unidade de Caratinga como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de bacharel em Serviccedilo Social Orientadora Prof Msc Renata Ribeiro Paiva

CARATINGA ndash MG

2016

FOLHA DE APROVACcedilAtildeO

Trabalho de Conclusatildeo de Curso intitulado

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Elaborado pelas alunas Simone Silva de Oliveira

Sueli Vieira da Silva

Foi aprovada por todos os membros da Banca Examinadora e aceita pelo Curso de

Serviccedilo Social das Faculdades Integradas de Caratinga ndash FIC como requisito parcial

da obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

BACHAREL EM SERVICcedilO SOCIAL

CARATINGA ______ de ________________ de ________

__________________________________________

Orientador

__________________________________________

Examinador 1

__________________________________________

Examinador 2

Dedicamos esta obra aacute Deus Nossa famiacutelia pela confianccedila e

amor incondicional Aos amigos pelo apoio nesta caminhada

Aos mestres e nossa orientadora por todos os ensinamentos

Enfim aacute todos que acreditaram e nos apoiaram na realizaccedilatildeo

deste sonho

AGRADECIMENTOS

Entatildeo eacute hora de agradecer

A ti Meu Deus toda honra e gloacuteria agradeccedilo por sempre me guiar e

fortalecer em todos os momentos e me amar de forma incondicional Tu eacutes o Mestre

dos Mestres

Aacute minha Matildee Maria por ser meu porto seguro exemplo de feacute humildade e

amor Vocecirc eacute essencial em minha vida obrigada por sempre me ensinar a trilhar o

caminho do bem e do amor e por cada oraccedilatildeo elas foram muito importantes nesta

caminhada

Ao meu pai Joatildeo Batista por todo incentivo por acreditar no meu potencial

e sempre mostrar que posso ir muito aleacutem Vocecirc eacute meu exemplo de garra forccedila

coragem e honestidade veio ao mundo para vencer obstaacuteculos e o faz como

ningueacutem

Aos meus irmatildeos Ana Carolina Ana Gabriela e Vitor Christian (In

Memorian) vocecircs me mostram a cada dia a importacircncia de se ter um irmatildeo um

amor uacutenico e inigualaacutevel Fazem acreditar que todo o esforccedilo valeraacute aacute pena

Ao meu noivo Davi por todo amor paciecircncia e companheirismo nestes

quatro anos de curso

Aacute toda minha famiacutelia por todo apoio e amor sempre dedicado a mim

Aacute minha madrasta Keli Cristina por ser tatildeo especial em minha vida em vocecirc

tenho uma amiga obrigada pela dedicaccedilatildeo carinho e amor

Aacute todos os meus amigos que tem grande importacircncia em minha vida e que

de alguma forma colaboraram para esta vitoacuteria e compartilham desta alegria

Agradeccedilo aacute Sueli minha parceira de faculdade e amiga sua amizade eacute um

presente sem vocecirc a caminhada se tornaria mais difiacutecil tenho um carinho imenso

por vocecirc obrigada por tudo

Agradeccedilo aacute todos os mestres que foram essenciais em minha formaccedilatildeo

vocecircs satildeo peccedila fundamental nesta conquista

As minhas supervisoras Renata Loures e Djane Amorim e aacute toda a equipe

pelo carinho apoio e grandes ensinamentos vocecircs satildeo especiais

Enfim agradeccedilo a cada um que fez parte desta histoacuteria e acreditaram na

realizaccedilatildeo deste sonho A vitoacuteria eacute nossa Amo vocecircs

Simone Silva de Oliveira

Apoacutes um longo periacuteodo de dedicaccedilatildeo o sonho se concretiza Seria impossiacutevel

chegar onde cheguei sozinha devendo assim muitos agradecimentos Agradeccedilo

primeiramente a Deus por mais esta conquista em minha vida Aos meus pais

Walter e Maria pelo amor incondicional apoio e incentivo em minhas escolhas Agraves

minhas queridas irmatildes Maria Auxiliadora Simone e Rosely que mesmo distantes

me apoiam e me incentivam a ir aleacutem Ao meu namorado e amigo Joseacute Maia pelo

amor dedicaccedilatildeo e paciecircncia Agrave minha avoacute Luiza (in memoacuteria) ao meu avocirc Joseacute

Botelho e a todos os familiares pelo incentivo Agradeccedilo agraves minhas colegas e

amigas de curso que sempre estiveram ao meu lado prontas a me ajudar

sobretudo a minha amiga e companheira de estudo Simone Oliveira que caminhou

junto comigo em busca da realizaccedilatildeo deste sonho Aos novos amigos que conquistei

e aos velhos que compreenderam os meus dias de ausecircncia Aos mestres que

compartilharam conosco suas experiecircncias e conhecimentos Enfim a todos que

torceram para que este dia se tornasse realidade Muito Obrigada

Sueli Vieira da Silva

ldquoO momento que vivemos eacute um momento pleno de desafios Mais do

que nunca eacute preciso ter coragem eacute preciso ter esperanccedilas para

enfrentar o presente Eacute preciso resistir e sonhar Eacute necessaacuterio

alimentar os sonhos e concretizaacute-los dia-a-dia no horizonte de novos

tempos mais humanos mais justos mais solidaacuteriosrdquo

Marilda Villela Iamamoto

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso tem o intuito de compreender a atuaccedilatildeo do assistente social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social de Fernandes Tourinho ndash MG e as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico O estudo vem trazendo produccedilatildeo de conhecimentos dando respaldo teoacuterico - metodoloacutegico enriquecendo o material acadecircmico e preparando o graduando para possiacuteveis desafios na efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico ndash poliacutetico quando estiverem em sua atuaccedilatildeo pois atua na contradiccedilatildeo capital x trabalho O material aqui produzido traraacute subsiacutedios teoacutericos para os profissionais atuantes aprimorando seus conhecimentos possibilitando os mesmos a superar os obstaacuteculos para a materializaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico E ainda possibilitaraacute que estes afirmem o compromisso com as lutas gerais dos trabalhadores com a qualidade dos serviccedilos prestados agrave populaccedilatildeo usuaacuteria e portanto com a defesa e o fortalecimento do projeto eacutetico-poliacutetico profissional do Serviccedilo Social Realizamos um estudo do surgimento do Serviccedilo Social no Brasil as bases de suas transformaccedilotildees do tradicionalismo para o projeto criacutetico da profissatildeo a questatildeo social os mecanismos de proteccedilatildeo social e a atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS Utilizou-se a metodologia de pesquisa com caraacuteter qualitativo aplicando questionaacuterio semiestruturado aos profissionais do Serviccedilo Social que atuam no CRAS utilizando autores com vieacutes marxista para anaacutelise da pesquisa Palavras-chave Projeto Eacutetico-Poliacutetico Serviccedilo Social Movimento de reconceituaccedilatildeo

ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

ABESS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino de Serviccedilo Social

CEAS ndash Centro de Estudos e de Accedilatildeo Social

CFAS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CFESS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CRAS ndash Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social

CREAS ndash Centro de Referecircncia Especializada de Assistecircncia Social

DC ndash Desenvolvimento de Comunidade

FHC ndash Fernando Henrique Cardoso

LOAS ndash Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social

NOBSUAS ndash Norma Operacional Baacutesica do SUAS

NOB-RH ndash Norma Operacional Baacutesica de Recursos Humanos

PAIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Integral aacute Famiacutelia

PAEIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agraves Famiacutelias

PNAS ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social

SUAS ndash Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO11

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO

SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social na

deacutecada de 3013

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto

profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo22

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil29

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS37

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS64

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS66

ANEXOS 76

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

14

puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

15

Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

16

comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

17

accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

18

natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

19

com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

20

Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

21

A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

22

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

23

A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

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O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

25

marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

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poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

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teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

28

frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

29

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

30

capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

32

Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

34

capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

35

situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

38

destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

39

ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

40

Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

41

IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

42

O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

43

para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

44

tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

45

A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

46

ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

47

bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

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h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

49

Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

50

assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

66

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76

ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

78

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Participa de Conselhos de direitos

______________________________________________________________

e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

79

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

80

n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

FACULDADES INTEGRADAS DE CARATINGA ndash MG

CURSO SERVICcedilO SOCIAL

SIMONE SILVA DE OLIVEIRA

SUELI VIEIRA DA SILVA

A ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E

DESAFIOS PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICO

Monografia apresentada ao Curso de Serviccedilo Social das Faculdades Doctum unidade de Caratinga como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de bacharel em Serviccedilo Social Orientadora Prof Msc Renata Ribeiro Paiva

CARATINGA ndash MG

2016

FOLHA DE APROVACcedilAtildeO

Trabalho de Conclusatildeo de Curso intitulado

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Elaborado pelas alunas Simone Silva de Oliveira

Sueli Vieira da Silva

Foi aprovada por todos os membros da Banca Examinadora e aceita pelo Curso de

Serviccedilo Social das Faculdades Integradas de Caratinga ndash FIC como requisito parcial

da obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

BACHAREL EM SERVICcedilO SOCIAL

CARATINGA ______ de ________________ de ________

__________________________________________

Orientador

__________________________________________

Examinador 1

__________________________________________

Examinador 2

Dedicamos esta obra aacute Deus Nossa famiacutelia pela confianccedila e

amor incondicional Aos amigos pelo apoio nesta caminhada

Aos mestres e nossa orientadora por todos os ensinamentos

Enfim aacute todos que acreditaram e nos apoiaram na realizaccedilatildeo

deste sonho

AGRADECIMENTOS

Entatildeo eacute hora de agradecer

A ti Meu Deus toda honra e gloacuteria agradeccedilo por sempre me guiar e

fortalecer em todos os momentos e me amar de forma incondicional Tu eacutes o Mestre

dos Mestres

Aacute minha Matildee Maria por ser meu porto seguro exemplo de feacute humildade e

amor Vocecirc eacute essencial em minha vida obrigada por sempre me ensinar a trilhar o

caminho do bem e do amor e por cada oraccedilatildeo elas foram muito importantes nesta

caminhada

Ao meu pai Joatildeo Batista por todo incentivo por acreditar no meu potencial

e sempre mostrar que posso ir muito aleacutem Vocecirc eacute meu exemplo de garra forccedila

coragem e honestidade veio ao mundo para vencer obstaacuteculos e o faz como

ningueacutem

Aos meus irmatildeos Ana Carolina Ana Gabriela e Vitor Christian (In

Memorian) vocecircs me mostram a cada dia a importacircncia de se ter um irmatildeo um

amor uacutenico e inigualaacutevel Fazem acreditar que todo o esforccedilo valeraacute aacute pena

Ao meu noivo Davi por todo amor paciecircncia e companheirismo nestes

quatro anos de curso

Aacute toda minha famiacutelia por todo apoio e amor sempre dedicado a mim

Aacute minha madrasta Keli Cristina por ser tatildeo especial em minha vida em vocecirc

tenho uma amiga obrigada pela dedicaccedilatildeo carinho e amor

Aacute todos os meus amigos que tem grande importacircncia em minha vida e que

de alguma forma colaboraram para esta vitoacuteria e compartilham desta alegria

Agradeccedilo aacute Sueli minha parceira de faculdade e amiga sua amizade eacute um

presente sem vocecirc a caminhada se tornaria mais difiacutecil tenho um carinho imenso

por vocecirc obrigada por tudo

Agradeccedilo aacute todos os mestres que foram essenciais em minha formaccedilatildeo

vocecircs satildeo peccedila fundamental nesta conquista

As minhas supervisoras Renata Loures e Djane Amorim e aacute toda a equipe

pelo carinho apoio e grandes ensinamentos vocecircs satildeo especiais

Enfim agradeccedilo a cada um que fez parte desta histoacuteria e acreditaram na

realizaccedilatildeo deste sonho A vitoacuteria eacute nossa Amo vocecircs

Simone Silva de Oliveira

Apoacutes um longo periacuteodo de dedicaccedilatildeo o sonho se concretiza Seria impossiacutevel

chegar onde cheguei sozinha devendo assim muitos agradecimentos Agradeccedilo

primeiramente a Deus por mais esta conquista em minha vida Aos meus pais

Walter e Maria pelo amor incondicional apoio e incentivo em minhas escolhas Agraves

minhas queridas irmatildes Maria Auxiliadora Simone e Rosely que mesmo distantes

me apoiam e me incentivam a ir aleacutem Ao meu namorado e amigo Joseacute Maia pelo

amor dedicaccedilatildeo e paciecircncia Agrave minha avoacute Luiza (in memoacuteria) ao meu avocirc Joseacute

Botelho e a todos os familiares pelo incentivo Agradeccedilo agraves minhas colegas e

amigas de curso que sempre estiveram ao meu lado prontas a me ajudar

sobretudo a minha amiga e companheira de estudo Simone Oliveira que caminhou

junto comigo em busca da realizaccedilatildeo deste sonho Aos novos amigos que conquistei

e aos velhos que compreenderam os meus dias de ausecircncia Aos mestres que

compartilharam conosco suas experiecircncias e conhecimentos Enfim a todos que

torceram para que este dia se tornasse realidade Muito Obrigada

Sueli Vieira da Silva

ldquoO momento que vivemos eacute um momento pleno de desafios Mais do

que nunca eacute preciso ter coragem eacute preciso ter esperanccedilas para

enfrentar o presente Eacute preciso resistir e sonhar Eacute necessaacuterio

alimentar os sonhos e concretizaacute-los dia-a-dia no horizonte de novos

tempos mais humanos mais justos mais solidaacuteriosrdquo

Marilda Villela Iamamoto

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso tem o intuito de compreender a atuaccedilatildeo do assistente social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social de Fernandes Tourinho ndash MG e as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico O estudo vem trazendo produccedilatildeo de conhecimentos dando respaldo teoacuterico - metodoloacutegico enriquecendo o material acadecircmico e preparando o graduando para possiacuteveis desafios na efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico ndash poliacutetico quando estiverem em sua atuaccedilatildeo pois atua na contradiccedilatildeo capital x trabalho O material aqui produzido traraacute subsiacutedios teoacutericos para os profissionais atuantes aprimorando seus conhecimentos possibilitando os mesmos a superar os obstaacuteculos para a materializaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico E ainda possibilitaraacute que estes afirmem o compromisso com as lutas gerais dos trabalhadores com a qualidade dos serviccedilos prestados agrave populaccedilatildeo usuaacuteria e portanto com a defesa e o fortalecimento do projeto eacutetico-poliacutetico profissional do Serviccedilo Social Realizamos um estudo do surgimento do Serviccedilo Social no Brasil as bases de suas transformaccedilotildees do tradicionalismo para o projeto criacutetico da profissatildeo a questatildeo social os mecanismos de proteccedilatildeo social e a atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS Utilizou-se a metodologia de pesquisa com caraacuteter qualitativo aplicando questionaacuterio semiestruturado aos profissionais do Serviccedilo Social que atuam no CRAS utilizando autores com vieacutes marxista para anaacutelise da pesquisa Palavras-chave Projeto Eacutetico-Poliacutetico Serviccedilo Social Movimento de reconceituaccedilatildeo

ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

ABESS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino de Serviccedilo Social

CEAS ndash Centro de Estudos e de Accedilatildeo Social

CFAS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CFESS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CRAS ndash Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social

CREAS ndash Centro de Referecircncia Especializada de Assistecircncia Social

DC ndash Desenvolvimento de Comunidade

FHC ndash Fernando Henrique Cardoso

LOAS ndash Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social

NOBSUAS ndash Norma Operacional Baacutesica do SUAS

NOB-RH ndash Norma Operacional Baacutesica de Recursos Humanos

PAIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Integral aacute Famiacutelia

PAEIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agraves Famiacutelias

PNAS ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social

SUAS ndash Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO11

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO

SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social na

deacutecada de 3013

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto

profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo22

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil29

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS37

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS64

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS66

ANEXOS 76

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

14

puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

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Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

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comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

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accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

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natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

19

com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

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Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

21

A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

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12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

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A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

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O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

25

marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

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poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

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teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

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frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

29

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

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capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

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Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

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capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

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situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

38

destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

39

ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

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Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

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IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

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O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

43

para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

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tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

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A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

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ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

47

bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

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h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

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Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

50

assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

66

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ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

78

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Participa de Conselhos de direitos

______________________________________________________________

e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

79

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

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______________________________________________________________

80

n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

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______________________________________________________________

o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

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______________________________________________________________

FOLHA DE APROVACcedilAtildeO

Trabalho de Conclusatildeo de Curso intitulado

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Elaborado pelas alunas Simone Silva de Oliveira

Sueli Vieira da Silva

Foi aprovada por todos os membros da Banca Examinadora e aceita pelo Curso de

Serviccedilo Social das Faculdades Integradas de Caratinga ndash FIC como requisito parcial

da obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

BACHAREL EM SERVICcedilO SOCIAL

CARATINGA ______ de ________________ de ________

__________________________________________

Orientador

__________________________________________

Examinador 1

__________________________________________

Examinador 2

Dedicamos esta obra aacute Deus Nossa famiacutelia pela confianccedila e

amor incondicional Aos amigos pelo apoio nesta caminhada

Aos mestres e nossa orientadora por todos os ensinamentos

Enfim aacute todos que acreditaram e nos apoiaram na realizaccedilatildeo

deste sonho

AGRADECIMENTOS

Entatildeo eacute hora de agradecer

A ti Meu Deus toda honra e gloacuteria agradeccedilo por sempre me guiar e

fortalecer em todos os momentos e me amar de forma incondicional Tu eacutes o Mestre

dos Mestres

Aacute minha Matildee Maria por ser meu porto seguro exemplo de feacute humildade e

amor Vocecirc eacute essencial em minha vida obrigada por sempre me ensinar a trilhar o

caminho do bem e do amor e por cada oraccedilatildeo elas foram muito importantes nesta

caminhada

Ao meu pai Joatildeo Batista por todo incentivo por acreditar no meu potencial

e sempre mostrar que posso ir muito aleacutem Vocecirc eacute meu exemplo de garra forccedila

coragem e honestidade veio ao mundo para vencer obstaacuteculos e o faz como

ningueacutem

Aos meus irmatildeos Ana Carolina Ana Gabriela e Vitor Christian (In

Memorian) vocecircs me mostram a cada dia a importacircncia de se ter um irmatildeo um

amor uacutenico e inigualaacutevel Fazem acreditar que todo o esforccedilo valeraacute aacute pena

Ao meu noivo Davi por todo amor paciecircncia e companheirismo nestes

quatro anos de curso

Aacute toda minha famiacutelia por todo apoio e amor sempre dedicado a mim

Aacute minha madrasta Keli Cristina por ser tatildeo especial em minha vida em vocecirc

tenho uma amiga obrigada pela dedicaccedilatildeo carinho e amor

Aacute todos os meus amigos que tem grande importacircncia em minha vida e que

de alguma forma colaboraram para esta vitoacuteria e compartilham desta alegria

Agradeccedilo aacute Sueli minha parceira de faculdade e amiga sua amizade eacute um

presente sem vocecirc a caminhada se tornaria mais difiacutecil tenho um carinho imenso

por vocecirc obrigada por tudo

Agradeccedilo aacute todos os mestres que foram essenciais em minha formaccedilatildeo

vocecircs satildeo peccedila fundamental nesta conquista

As minhas supervisoras Renata Loures e Djane Amorim e aacute toda a equipe

pelo carinho apoio e grandes ensinamentos vocecircs satildeo especiais

Enfim agradeccedilo a cada um que fez parte desta histoacuteria e acreditaram na

realizaccedilatildeo deste sonho A vitoacuteria eacute nossa Amo vocecircs

Simone Silva de Oliveira

Apoacutes um longo periacuteodo de dedicaccedilatildeo o sonho se concretiza Seria impossiacutevel

chegar onde cheguei sozinha devendo assim muitos agradecimentos Agradeccedilo

primeiramente a Deus por mais esta conquista em minha vida Aos meus pais

Walter e Maria pelo amor incondicional apoio e incentivo em minhas escolhas Agraves

minhas queridas irmatildes Maria Auxiliadora Simone e Rosely que mesmo distantes

me apoiam e me incentivam a ir aleacutem Ao meu namorado e amigo Joseacute Maia pelo

amor dedicaccedilatildeo e paciecircncia Agrave minha avoacute Luiza (in memoacuteria) ao meu avocirc Joseacute

Botelho e a todos os familiares pelo incentivo Agradeccedilo agraves minhas colegas e

amigas de curso que sempre estiveram ao meu lado prontas a me ajudar

sobretudo a minha amiga e companheira de estudo Simone Oliveira que caminhou

junto comigo em busca da realizaccedilatildeo deste sonho Aos novos amigos que conquistei

e aos velhos que compreenderam os meus dias de ausecircncia Aos mestres que

compartilharam conosco suas experiecircncias e conhecimentos Enfim a todos que

torceram para que este dia se tornasse realidade Muito Obrigada

Sueli Vieira da Silva

ldquoO momento que vivemos eacute um momento pleno de desafios Mais do

que nunca eacute preciso ter coragem eacute preciso ter esperanccedilas para

enfrentar o presente Eacute preciso resistir e sonhar Eacute necessaacuterio

alimentar os sonhos e concretizaacute-los dia-a-dia no horizonte de novos

tempos mais humanos mais justos mais solidaacuteriosrdquo

Marilda Villela Iamamoto

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso tem o intuito de compreender a atuaccedilatildeo do assistente social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social de Fernandes Tourinho ndash MG e as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico O estudo vem trazendo produccedilatildeo de conhecimentos dando respaldo teoacuterico - metodoloacutegico enriquecendo o material acadecircmico e preparando o graduando para possiacuteveis desafios na efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico ndash poliacutetico quando estiverem em sua atuaccedilatildeo pois atua na contradiccedilatildeo capital x trabalho O material aqui produzido traraacute subsiacutedios teoacutericos para os profissionais atuantes aprimorando seus conhecimentos possibilitando os mesmos a superar os obstaacuteculos para a materializaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico E ainda possibilitaraacute que estes afirmem o compromisso com as lutas gerais dos trabalhadores com a qualidade dos serviccedilos prestados agrave populaccedilatildeo usuaacuteria e portanto com a defesa e o fortalecimento do projeto eacutetico-poliacutetico profissional do Serviccedilo Social Realizamos um estudo do surgimento do Serviccedilo Social no Brasil as bases de suas transformaccedilotildees do tradicionalismo para o projeto criacutetico da profissatildeo a questatildeo social os mecanismos de proteccedilatildeo social e a atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS Utilizou-se a metodologia de pesquisa com caraacuteter qualitativo aplicando questionaacuterio semiestruturado aos profissionais do Serviccedilo Social que atuam no CRAS utilizando autores com vieacutes marxista para anaacutelise da pesquisa Palavras-chave Projeto Eacutetico-Poliacutetico Serviccedilo Social Movimento de reconceituaccedilatildeo

ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

ABESS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino de Serviccedilo Social

CEAS ndash Centro de Estudos e de Accedilatildeo Social

CFAS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CFESS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CRAS ndash Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social

CREAS ndash Centro de Referecircncia Especializada de Assistecircncia Social

DC ndash Desenvolvimento de Comunidade

FHC ndash Fernando Henrique Cardoso

LOAS ndash Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social

NOBSUAS ndash Norma Operacional Baacutesica do SUAS

NOB-RH ndash Norma Operacional Baacutesica de Recursos Humanos

PAIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Integral aacute Famiacutelia

PAEIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agraves Famiacutelias

PNAS ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social

SUAS ndash Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO11

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO

SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social na

deacutecada de 3013

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto

profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo22

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil29

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS37

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS64

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS66

ANEXOS 76

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

14

puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

15

Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

16

comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

17

accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

18

natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

19

com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

20

Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

21

A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

22

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

23

A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

24

O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

25

marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

26

poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

27

teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

28

frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

29

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

30

capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

32

Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

34

capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

35

situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

38

destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

39

ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

40

Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

41

IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

42

O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

43

para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

44

tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

45

A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

46

ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

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bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

48

h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

49

Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

50

assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

66

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76

ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

78

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Participa de Conselhos de direitos

______________________________________________________________

e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

79

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

80

n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

Dedicamos esta obra aacute Deus Nossa famiacutelia pela confianccedila e

amor incondicional Aos amigos pelo apoio nesta caminhada

Aos mestres e nossa orientadora por todos os ensinamentos

Enfim aacute todos que acreditaram e nos apoiaram na realizaccedilatildeo

deste sonho

AGRADECIMENTOS

Entatildeo eacute hora de agradecer

A ti Meu Deus toda honra e gloacuteria agradeccedilo por sempre me guiar e

fortalecer em todos os momentos e me amar de forma incondicional Tu eacutes o Mestre

dos Mestres

Aacute minha Matildee Maria por ser meu porto seguro exemplo de feacute humildade e

amor Vocecirc eacute essencial em minha vida obrigada por sempre me ensinar a trilhar o

caminho do bem e do amor e por cada oraccedilatildeo elas foram muito importantes nesta

caminhada

Ao meu pai Joatildeo Batista por todo incentivo por acreditar no meu potencial

e sempre mostrar que posso ir muito aleacutem Vocecirc eacute meu exemplo de garra forccedila

coragem e honestidade veio ao mundo para vencer obstaacuteculos e o faz como

ningueacutem

Aos meus irmatildeos Ana Carolina Ana Gabriela e Vitor Christian (In

Memorian) vocecircs me mostram a cada dia a importacircncia de se ter um irmatildeo um

amor uacutenico e inigualaacutevel Fazem acreditar que todo o esforccedilo valeraacute aacute pena

Ao meu noivo Davi por todo amor paciecircncia e companheirismo nestes

quatro anos de curso

Aacute toda minha famiacutelia por todo apoio e amor sempre dedicado a mim

Aacute minha madrasta Keli Cristina por ser tatildeo especial em minha vida em vocecirc

tenho uma amiga obrigada pela dedicaccedilatildeo carinho e amor

Aacute todos os meus amigos que tem grande importacircncia em minha vida e que

de alguma forma colaboraram para esta vitoacuteria e compartilham desta alegria

Agradeccedilo aacute Sueli minha parceira de faculdade e amiga sua amizade eacute um

presente sem vocecirc a caminhada se tornaria mais difiacutecil tenho um carinho imenso

por vocecirc obrigada por tudo

Agradeccedilo aacute todos os mestres que foram essenciais em minha formaccedilatildeo

vocecircs satildeo peccedila fundamental nesta conquista

As minhas supervisoras Renata Loures e Djane Amorim e aacute toda a equipe

pelo carinho apoio e grandes ensinamentos vocecircs satildeo especiais

Enfim agradeccedilo a cada um que fez parte desta histoacuteria e acreditaram na

realizaccedilatildeo deste sonho A vitoacuteria eacute nossa Amo vocecircs

Simone Silva de Oliveira

Apoacutes um longo periacuteodo de dedicaccedilatildeo o sonho se concretiza Seria impossiacutevel

chegar onde cheguei sozinha devendo assim muitos agradecimentos Agradeccedilo

primeiramente a Deus por mais esta conquista em minha vida Aos meus pais

Walter e Maria pelo amor incondicional apoio e incentivo em minhas escolhas Agraves

minhas queridas irmatildes Maria Auxiliadora Simone e Rosely que mesmo distantes

me apoiam e me incentivam a ir aleacutem Ao meu namorado e amigo Joseacute Maia pelo

amor dedicaccedilatildeo e paciecircncia Agrave minha avoacute Luiza (in memoacuteria) ao meu avocirc Joseacute

Botelho e a todos os familiares pelo incentivo Agradeccedilo agraves minhas colegas e

amigas de curso que sempre estiveram ao meu lado prontas a me ajudar

sobretudo a minha amiga e companheira de estudo Simone Oliveira que caminhou

junto comigo em busca da realizaccedilatildeo deste sonho Aos novos amigos que conquistei

e aos velhos que compreenderam os meus dias de ausecircncia Aos mestres que

compartilharam conosco suas experiecircncias e conhecimentos Enfim a todos que

torceram para que este dia se tornasse realidade Muito Obrigada

Sueli Vieira da Silva

ldquoO momento que vivemos eacute um momento pleno de desafios Mais do

que nunca eacute preciso ter coragem eacute preciso ter esperanccedilas para

enfrentar o presente Eacute preciso resistir e sonhar Eacute necessaacuterio

alimentar os sonhos e concretizaacute-los dia-a-dia no horizonte de novos

tempos mais humanos mais justos mais solidaacuteriosrdquo

Marilda Villela Iamamoto

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso tem o intuito de compreender a atuaccedilatildeo do assistente social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social de Fernandes Tourinho ndash MG e as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico O estudo vem trazendo produccedilatildeo de conhecimentos dando respaldo teoacuterico - metodoloacutegico enriquecendo o material acadecircmico e preparando o graduando para possiacuteveis desafios na efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico ndash poliacutetico quando estiverem em sua atuaccedilatildeo pois atua na contradiccedilatildeo capital x trabalho O material aqui produzido traraacute subsiacutedios teoacutericos para os profissionais atuantes aprimorando seus conhecimentos possibilitando os mesmos a superar os obstaacuteculos para a materializaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico E ainda possibilitaraacute que estes afirmem o compromisso com as lutas gerais dos trabalhadores com a qualidade dos serviccedilos prestados agrave populaccedilatildeo usuaacuteria e portanto com a defesa e o fortalecimento do projeto eacutetico-poliacutetico profissional do Serviccedilo Social Realizamos um estudo do surgimento do Serviccedilo Social no Brasil as bases de suas transformaccedilotildees do tradicionalismo para o projeto criacutetico da profissatildeo a questatildeo social os mecanismos de proteccedilatildeo social e a atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS Utilizou-se a metodologia de pesquisa com caraacuteter qualitativo aplicando questionaacuterio semiestruturado aos profissionais do Serviccedilo Social que atuam no CRAS utilizando autores com vieacutes marxista para anaacutelise da pesquisa Palavras-chave Projeto Eacutetico-Poliacutetico Serviccedilo Social Movimento de reconceituaccedilatildeo

ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

ABESS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino de Serviccedilo Social

CEAS ndash Centro de Estudos e de Accedilatildeo Social

CFAS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CFESS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CRAS ndash Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social

CREAS ndash Centro de Referecircncia Especializada de Assistecircncia Social

DC ndash Desenvolvimento de Comunidade

FHC ndash Fernando Henrique Cardoso

LOAS ndash Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social

NOBSUAS ndash Norma Operacional Baacutesica do SUAS

NOB-RH ndash Norma Operacional Baacutesica de Recursos Humanos

PAIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Integral aacute Famiacutelia

PAEIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agraves Famiacutelias

PNAS ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social

SUAS ndash Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO11

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO

SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social na

deacutecada de 3013

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto

profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo22

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil29

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS37

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS64

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS66

ANEXOS 76

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

14

puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

15

Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

16

comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

17

accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

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natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

19

com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

20

Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

21

A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

22

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

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A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

24

O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

25

marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

26

poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

27

teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

28

frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

29

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

30

capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

32

Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

34

capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

35

situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

38

destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

39

ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

40

Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

41

IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

42

O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

43

para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

44

tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

45

A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

46

ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

47

bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

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h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

49

Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

50

assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

66

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ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

78

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Participa de Conselhos de direitos

______________________________________________________________

e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

79

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

80

n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

AGRADECIMENTOS

Entatildeo eacute hora de agradecer

A ti Meu Deus toda honra e gloacuteria agradeccedilo por sempre me guiar e

fortalecer em todos os momentos e me amar de forma incondicional Tu eacutes o Mestre

dos Mestres

Aacute minha Matildee Maria por ser meu porto seguro exemplo de feacute humildade e

amor Vocecirc eacute essencial em minha vida obrigada por sempre me ensinar a trilhar o

caminho do bem e do amor e por cada oraccedilatildeo elas foram muito importantes nesta

caminhada

Ao meu pai Joatildeo Batista por todo incentivo por acreditar no meu potencial

e sempre mostrar que posso ir muito aleacutem Vocecirc eacute meu exemplo de garra forccedila

coragem e honestidade veio ao mundo para vencer obstaacuteculos e o faz como

ningueacutem

Aos meus irmatildeos Ana Carolina Ana Gabriela e Vitor Christian (In

Memorian) vocecircs me mostram a cada dia a importacircncia de se ter um irmatildeo um

amor uacutenico e inigualaacutevel Fazem acreditar que todo o esforccedilo valeraacute aacute pena

Ao meu noivo Davi por todo amor paciecircncia e companheirismo nestes

quatro anos de curso

Aacute toda minha famiacutelia por todo apoio e amor sempre dedicado a mim

Aacute minha madrasta Keli Cristina por ser tatildeo especial em minha vida em vocecirc

tenho uma amiga obrigada pela dedicaccedilatildeo carinho e amor

Aacute todos os meus amigos que tem grande importacircncia em minha vida e que

de alguma forma colaboraram para esta vitoacuteria e compartilham desta alegria

Agradeccedilo aacute Sueli minha parceira de faculdade e amiga sua amizade eacute um

presente sem vocecirc a caminhada se tornaria mais difiacutecil tenho um carinho imenso

por vocecirc obrigada por tudo

Agradeccedilo aacute todos os mestres que foram essenciais em minha formaccedilatildeo

vocecircs satildeo peccedila fundamental nesta conquista

As minhas supervisoras Renata Loures e Djane Amorim e aacute toda a equipe

pelo carinho apoio e grandes ensinamentos vocecircs satildeo especiais

Enfim agradeccedilo a cada um que fez parte desta histoacuteria e acreditaram na

realizaccedilatildeo deste sonho A vitoacuteria eacute nossa Amo vocecircs

Simone Silva de Oliveira

Apoacutes um longo periacuteodo de dedicaccedilatildeo o sonho se concretiza Seria impossiacutevel

chegar onde cheguei sozinha devendo assim muitos agradecimentos Agradeccedilo

primeiramente a Deus por mais esta conquista em minha vida Aos meus pais

Walter e Maria pelo amor incondicional apoio e incentivo em minhas escolhas Agraves

minhas queridas irmatildes Maria Auxiliadora Simone e Rosely que mesmo distantes

me apoiam e me incentivam a ir aleacutem Ao meu namorado e amigo Joseacute Maia pelo

amor dedicaccedilatildeo e paciecircncia Agrave minha avoacute Luiza (in memoacuteria) ao meu avocirc Joseacute

Botelho e a todos os familiares pelo incentivo Agradeccedilo agraves minhas colegas e

amigas de curso que sempre estiveram ao meu lado prontas a me ajudar

sobretudo a minha amiga e companheira de estudo Simone Oliveira que caminhou

junto comigo em busca da realizaccedilatildeo deste sonho Aos novos amigos que conquistei

e aos velhos que compreenderam os meus dias de ausecircncia Aos mestres que

compartilharam conosco suas experiecircncias e conhecimentos Enfim a todos que

torceram para que este dia se tornasse realidade Muito Obrigada

Sueli Vieira da Silva

ldquoO momento que vivemos eacute um momento pleno de desafios Mais do

que nunca eacute preciso ter coragem eacute preciso ter esperanccedilas para

enfrentar o presente Eacute preciso resistir e sonhar Eacute necessaacuterio

alimentar os sonhos e concretizaacute-los dia-a-dia no horizonte de novos

tempos mais humanos mais justos mais solidaacuteriosrdquo

Marilda Villela Iamamoto

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso tem o intuito de compreender a atuaccedilatildeo do assistente social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social de Fernandes Tourinho ndash MG e as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico O estudo vem trazendo produccedilatildeo de conhecimentos dando respaldo teoacuterico - metodoloacutegico enriquecendo o material acadecircmico e preparando o graduando para possiacuteveis desafios na efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico ndash poliacutetico quando estiverem em sua atuaccedilatildeo pois atua na contradiccedilatildeo capital x trabalho O material aqui produzido traraacute subsiacutedios teoacutericos para os profissionais atuantes aprimorando seus conhecimentos possibilitando os mesmos a superar os obstaacuteculos para a materializaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico E ainda possibilitaraacute que estes afirmem o compromisso com as lutas gerais dos trabalhadores com a qualidade dos serviccedilos prestados agrave populaccedilatildeo usuaacuteria e portanto com a defesa e o fortalecimento do projeto eacutetico-poliacutetico profissional do Serviccedilo Social Realizamos um estudo do surgimento do Serviccedilo Social no Brasil as bases de suas transformaccedilotildees do tradicionalismo para o projeto criacutetico da profissatildeo a questatildeo social os mecanismos de proteccedilatildeo social e a atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS Utilizou-se a metodologia de pesquisa com caraacuteter qualitativo aplicando questionaacuterio semiestruturado aos profissionais do Serviccedilo Social que atuam no CRAS utilizando autores com vieacutes marxista para anaacutelise da pesquisa Palavras-chave Projeto Eacutetico-Poliacutetico Serviccedilo Social Movimento de reconceituaccedilatildeo

ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

ABESS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino de Serviccedilo Social

CEAS ndash Centro de Estudos e de Accedilatildeo Social

CFAS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CFESS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CRAS ndash Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social

CREAS ndash Centro de Referecircncia Especializada de Assistecircncia Social

DC ndash Desenvolvimento de Comunidade

FHC ndash Fernando Henrique Cardoso

LOAS ndash Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social

NOBSUAS ndash Norma Operacional Baacutesica do SUAS

NOB-RH ndash Norma Operacional Baacutesica de Recursos Humanos

PAIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Integral aacute Famiacutelia

PAEIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agraves Famiacutelias

PNAS ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social

SUAS ndash Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO11

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO

SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social na

deacutecada de 3013

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto

profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo22

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil29

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS37

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS64

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS66

ANEXOS 76

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

14

puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

15

Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

16

comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

17

accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

18

natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

19

com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

20

Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

21

A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

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12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

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A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

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O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

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marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

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poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

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teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

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frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

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13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

30

capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

32

Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

34

capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

35

situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

38

destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

39

ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

40

Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

41

IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

42

O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

43

para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

44

tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

45

A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

46

ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

47

bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

48

h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

49

Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

50

assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

66

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76

ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

78

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Participa de Conselhos de direitos

______________________________________________________________

e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

79

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

80

n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

Apoacutes um longo periacuteodo de dedicaccedilatildeo o sonho se concretiza Seria impossiacutevel

chegar onde cheguei sozinha devendo assim muitos agradecimentos Agradeccedilo

primeiramente a Deus por mais esta conquista em minha vida Aos meus pais

Walter e Maria pelo amor incondicional apoio e incentivo em minhas escolhas Agraves

minhas queridas irmatildes Maria Auxiliadora Simone e Rosely que mesmo distantes

me apoiam e me incentivam a ir aleacutem Ao meu namorado e amigo Joseacute Maia pelo

amor dedicaccedilatildeo e paciecircncia Agrave minha avoacute Luiza (in memoacuteria) ao meu avocirc Joseacute

Botelho e a todos os familiares pelo incentivo Agradeccedilo agraves minhas colegas e

amigas de curso que sempre estiveram ao meu lado prontas a me ajudar

sobretudo a minha amiga e companheira de estudo Simone Oliveira que caminhou

junto comigo em busca da realizaccedilatildeo deste sonho Aos novos amigos que conquistei

e aos velhos que compreenderam os meus dias de ausecircncia Aos mestres que

compartilharam conosco suas experiecircncias e conhecimentos Enfim a todos que

torceram para que este dia se tornasse realidade Muito Obrigada

Sueli Vieira da Silva

ldquoO momento que vivemos eacute um momento pleno de desafios Mais do

que nunca eacute preciso ter coragem eacute preciso ter esperanccedilas para

enfrentar o presente Eacute preciso resistir e sonhar Eacute necessaacuterio

alimentar os sonhos e concretizaacute-los dia-a-dia no horizonte de novos

tempos mais humanos mais justos mais solidaacuteriosrdquo

Marilda Villela Iamamoto

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso tem o intuito de compreender a atuaccedilatildeo do assistente social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social de Fernandes Tourinho ndash MG e as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico O estudo vem trazendo produccedilatildeo de conhecimentos dando respaldo teoacuterico - metodoloacutegico enriquecendo o material acadecircmico e preparando o graduando para possiacuteveis desafios na efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico ndash poliacutetico quando estiverem em sua atuaccedilatildeo pois atua na contradiccedilatildeo capital x trabalho O material aqui produzido traraacute subsiacutedios teoacutericos para os profissionais atuantes aprimorando seus conhecimentos possibilitando os mesmos a superar os obstaacuteculos para a materializaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico E ainda possibilitaraacute que estes afirmem o compromisso com as lutas gerais dos trabalhadores com a qualidade dos serviccedilos prestados agrave populaccedilatildeo usuaacuteria e portanto com a defesa e o fortalecimento do projeto eacutetico-poliacutetico profissional do Serviccedilo Social Realizamos um estudo do surgimento do Serviccedilo Social no Brasil as bases de suas transformaccedilotildees do tradicionalismo para o projeto criacutetico da profissatildeo a questatildeo social os mecanismos de proteccedilatildeo social e a atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS Utilizou-se a metodologia de pesquisa com caraacuteter qualitativo aplicando questionaacuterio semiestruturado aos profissionais do Serviccedilo Social que atuam no CRAS utilizando autores com vieacutes marxista para anaacutelise da pesquisa Palavras-chave Projeto Eacutetico-Poliacutetico Serviccedilo Social Movimento de reconceituaccedilatildeo

ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

ABESS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino de Serviccedilo Social

CEAS ndash Centro de Estudos e de Accedilatildeo Social

CFAS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CFESS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CRAS ndash Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social

CREAS ndash Centro de Referecircncia Especializada de Assistecircncia Social

DC ndash Desenvolvimento de Comunidade

FHC ndash Fernando Henrique Cardoso

LOAS ndash Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social

NOBSUAS ndash Norma Operacional Baacutesica do SUAS

NOB-RH ndash Norma Operacional Baacutesica de Recursos Humanos

PAIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Integral aacute Famiacutelia

PAEIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agraves Famiacutelias

PNAS ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social

SUAS ndash Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO11

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO

SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social na

deacutecada de 3013

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto

profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo22

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil29

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS37

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS64

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS66

ANEXOS 76

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

14

puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

15

Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

16

comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

17

accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

18

natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

19

com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

20

Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

21

A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

22

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

23

A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

24

O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

25

marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

26

poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

27

teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

28

frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

29

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

30

capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

32

Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

34

capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

35

situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

38

destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

39

ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

40

Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

41

IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

42

O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

43

para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

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tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

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A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

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ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

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bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

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h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

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Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

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assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

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ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

78

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Participa de Conselhos de direitos

______________________________________________________________

e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

79

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

80

n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

ldquoO momento que vivemos eacute um momento pleno de desafios Mais do

que nunca eacute preciso ter coragem eacute preciso ter esperanccedilas para

enfrentar o presente Eacute preciso resistir e sonhar Eacute necessaacuterio

alimentar os sonhos e concretizaacute-los dia-a-dia no horizonte de novos

tempos mais humanos mais justos mais solidaacuteriosrdquo

Marilda Villela Iamamoto

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso tem o intuito de compreender a atuaccedilatildeo do assistente social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social de Fernandes Tourinho ndash MG e as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico O estudo vem trazendo produccedilatildeo de conhecimentos dando respaldo teoacuterico - metodoloacutegico enriquecendo o material acadecircmico e preparando o graduando para possiacuteveis desafios na efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico ndash poliacutetico quando estiverem em sua atuaccedilatildeo pois atua na contradiccedilatildeo capital x trabalho O material aqui produzido traraacute subsiacutedios teoacutericos para os profissionais atuantes aprimorando seus conhecimentos possibilitando os mesmos a superar os obstaacuteculos para a materializaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico E ainda possibilitaraacute que estes afirmem o compromisso com as lutas gerais dos trabalhadores com a qualidade dos serviccedilos prestados agrave populaccedilatildeo usuaacuteria e portanto com a defesa e o fortalecimento do projeto eacutetico-poliacutetico profissional do Serviccedilo Social Realizamos um estudo do surgimento do Serviccedilo Social no Brasil as bases de suas transformaccedilotildees do tradicionalismo para o projeto criacutetico da profissatildeo a questatildeo social os mecanismos de proteccedilatildeo social e a atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS Utilizou-se a metodologia de pesquisa com caraacuteter qualitativo aplicando questionaacuterio semiestruturado aos profissionais do Serviccedilo Social que atuam no CRAS utilizando autores com vieacutes marxista para anaacutelise da pesquisa Palavras-chave Projeto Eacutetico-Poliacutetico Serviccedilo Social Movimento de reconceituaccedilatildeo

ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

ABESS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino de Serviccedilo Social

CEAS ndash Centro de Estudos e de Accedilatildeo Social

CFAS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CFESS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CRAS ndash Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social

CREAS ndash Centro de Referecircncia Especializada de Assistecircncia Social

DC ndash Desenvolvimento de Comunidade

FHC ndash Fernando Henrique Cardoso

LOAS ndash Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social

NOBSUAS ndash Norma Operacional Baacutesica do SUAS

NOB-RH ndash Norma Operacional Baacutesica de Recursos Humanos

PAIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Integral aacute Famiacutelia

PAEIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agraves Famiacutelias

PNAS ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social

SUAS ndash Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO11

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO

SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social na

deacutecada de 3013

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto

profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo22

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil29

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS37

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS64

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS66

ANEXOS 76

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

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puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

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Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

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comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

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accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

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natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

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com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

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Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

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A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

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12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

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A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

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O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

25

marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

26

poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

27

teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

28

frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

29

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

30

capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

32

Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

34

capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

35

situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

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destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

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ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

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Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

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IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

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O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

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para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

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tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

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A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

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ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

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bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

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h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

49

Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

50

assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

66

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ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

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b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

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c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

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d) Participa de Conselhos de direitos

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e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

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f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

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g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

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h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

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i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

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j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

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k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

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l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

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m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

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n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

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o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

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RESUMO

O presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso tem o intuito de compreender a atuaccedilatildeo do assistente social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social de Fernandes Tourinho ndash MG e as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico O estudo vem trazendo produccedilatildeo de conhecimentos dando respaldo teoacuterico - metodoloacutegico enriquecendo o material acadecircmico e preparando o graduando para possiacuteveis desafios na efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico ndash poliacutetico quando estiverem em sua atuaccedilatildeo pois atua na contradiccedilatildeo capital x trabalho O material aqui produzido traraacute subsiacutedios teoacutericos para os profissionais atuantes aprimorando seus conhecimentos possibilitando os mesmos a superar os obstaacuteculos para a materializaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico E ainda possibilitaraacute que estes afirmem o compromisso com as lutas gerais dos trabalhadores com a qualidade dos serviccedilos prestados agrave populaccedilatildeo usuaacuteria e portanto com a defesa e o fortalecimento do projeto eacutetico-poliacutetico profissional do Serviccedilo Social Realizamos um estudo do surgimento do Serviccedilo Social no Brasil as bases de suas transformaccedilotildees do tradicionalismo para o projeto criacutetico da profissatildeo a questatildeo social os mecanismos de proteccedilatildeo social e a atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS Utilizou-se a metodologia de pesquisa com caraacuteter qualitativo aplicando questionaacuterio semiestruturado aos profissionais do Serviccedilo Social que atuam no CRAS utilizando autores com vieacutes marxista para anaacutelise da pesquisa Palavras-chave Projeto Eacutetico-Poliacutetico Serviccedilo Social Movimento de reconceituaccedilatildeo

ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

ABESS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino de Serviccedilo Social

CEAS ndash Centro de Estudos e de Accedilatildeo Social

CFAS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CFESS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CRAS ndash Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social

CREAS ndash Centro de Referecircncia Especializada de Assistecircncia Social

DC ndash Desenvolvimento de Comunidade

FHC ndash Fernando Henrique Cardoso

LOAS ndash Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social

NOBSUAS ndash Norma Operacional Baacutesica do SUAS

NOB-RH ndash Norma Operacional Baacutesica de Recursos Humanos

PAIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Integral aacute Famiacutelia

PAEIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agraves Famiacutelias

PNAS ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social

SUAS ndash Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO11

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO

SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social na

deacutecada de 3013

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto

profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo22

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil29

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS37

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS64

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS66

ANEXOS 76

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

14

puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

15

Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

16

comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

17

accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

18

natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

19

com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

20

Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

21

A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

22

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

23

A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

24

O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

25

marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

26

poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

27

teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

28

frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

29

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

30

capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

32

Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

34

capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

35

situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

38

destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

39

ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

40

Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

41

IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

42

O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

43

para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

44

tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

45

A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

46

ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

47

bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

48

h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

49

Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

50

assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

66

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76

ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

78

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Participa de Conselhos de direitos

______________________________________________________________

e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

79

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

80

n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviccedilo Social

ABESS ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino de Serviccedilo Social

CEAS ndash Centro de Estudos e de Accedilatildeo Social

CFAS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CFESS ndash Conselho Federal de Assistecircncia Social

CRAS ndash Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social

CREAS ndash Centro de Referecircncia Especializada de Assistecircncia Social

DC ndash Desenvolvimento de Comunidade

FHC ndash Fernando Henrique Cardoso

LOAS ndash Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social

NOBSUAS ndash Norma Operacional Baacutesica do SUAS

NOB-RH ndash Norma Operacional Baacutesica de Recursos Humanos

PAIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Integral aacute Famiacutelia

PAEIF ndash Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agraves Famiacutelias

PNAS ndash Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social

SUAS ndash Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO11

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO

SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social na

deacutecada de 3013

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto

profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo22

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil29

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS37

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS64

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS66

ANEXOS 76

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

14

puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

15

Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

16

comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

17

accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

18

natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

19

com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

20

Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

21

A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

22

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

23

A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

24

O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

25

marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

26

poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

27

teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

28

frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

29

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

30

capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

32

Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

34

capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

35

situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

38

destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

39

ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

40

Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

41

IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

42

O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

43

para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

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tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

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A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

46

ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

47

bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

48

h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

49

Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

50

assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

66

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

78

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Participa de Conselhos de direitos

______________________________________________________________

e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

79

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

80

n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO11

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO

SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social na

deacutecada de 3013

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto

profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo22

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil29

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS37

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS64

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS66

ANEXOS 76

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

14

puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

15

Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

16

comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

17

accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

18

natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

19

com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

20

Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

21

A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

22

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

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A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

24

O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

25

marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

26

poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

27

teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

28

frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

29

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

30

capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

32

Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

34

capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

35

situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

38

destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

39

ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

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Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

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IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

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O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

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para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

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tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

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A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

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ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

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bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

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h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

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Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

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assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

66

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ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

78

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Participa de Conselhos de direitos

______________________________________________________________

e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

79

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

80

n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

11

INTRODUCcedilAtildeO

No presente Trabalho de Conclusatildeo de Curso aqui exposto seraacute realizada

pesquisa de campo com o intuito de revelar a atuaccedilatildeo dos assistentes sociais no

CRAS de Fernandes Tourinho ndash MG as possibilidades e desafios para efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico sendo comprovado ou natildeo atraveacutes da mesma

O trabalho eacute resultado da experiecircncia do estaacutegio supervisionado das alunas

referenciadas1 sendo que ambas realizam estaacutegio na mesma poliacutetica social setorial

e em municiacutepios distintos este eacute realizado no CRAS ndash Centro de Referecircncia de

Assistecircncia Social O trabalho se divide em dois capiacutetulos O Capiacutetulo I As

Configuraccedilotildees Soacutecio-Histoacutericas do Serviccedilo Social Brasileiro e sua dinacircmica na

contemporaneidade O Capiacutetulo II O SUAS e seus Mecanismos de Proteccedilatildeo Social

a Intervenccedilatildeo do Assistente Social na Proteccedilatildeo Social Baacutesica

A metodologia utilizada eacute a pesquisa de caraacuteter qualitativa elaborada de

forma semi-estruturada

O projeto eacutetico-poliacutetico da profissatildeo tem amplo crescimento a partir do

momento em que os assistentes sociais recusam os meacutetodos conservadores e

tradicionais utilizados na praacutetica profissional Os profissionais lutam por uma

atuaccedilatildeo onde se respeite a liberdade democracia equidade e justiccedila social as

intervenccedilotildees devem ser baseadas nestes valores

O presente trabalho vem trazendo um resgate do surgimento do Serviccedilo

Social seu crescimento desenvolvimento influecircncia do capital a questatildeo social

suas novas roupagens a globalizaccedilatildeo e outros Expotildee o rompimento com o

conservadorismo e traz subsiacutedios para a compreensatildeo da atuaccedilatildeo dos assistentes

sociais e a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico dentro da instituiccedilatildeo este natildeo eacute algo

palpaacutevel mas traz a auto-imagem da profissatildeo Avanccedilamos o estudo com marcos

da profissatildeo O Movimento de Reconceituaccedilatildeo Intenccedilatildeo de Ruptura Projeto

Profissional Criacutetico Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Coacutedigo de Eacutetica Profissional dos

Assistentes Sociais Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social Poliacutetica Nacional de

Assistecircncia Social Norma Operacional Baacutesica Sistema Uacutenico da Assistecircncia Social

Tipificaccedilatildeo Nacional dos Serviccedilos Socioassistenciais

1 Simone Silva de Oliveira Sueli Vieira da Silva

12

O estudo possui como pilares as dimensotildees teoacuterico-metodoloacutegicas teacutecnico

operativas e eacutetico-poliacuteticas do Projeto Eacutetico Poliacutetico na atuaccedilatildeo do profissional A

importacircncia do estudo se daacute no sentido de entendimento da atuaccedilatildeo do profissional

em equipamento de proteccedilatildeo baacutesica e todas as possibilidades e desafios para

efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico Poliacutetico

13

I CAPIacuteTULO ndash AS CONFIGURACcedilOtildeES SOacuteCIO-HISTOacuteRICAS DO SERVICcedilO SOCIAL BRASILEIRO E SUA DINAcircMICA NA CONTEMPORANEIDADE

11 O surgimento do Serviccedilo Social frente o reconhecimento da questatildeo social

na deacutecada de 30

O Serviccedilo Social no Brasil foi implantado durante o processo histoacuterico entre os

anos 1920-30 Neste periacuteodo o paiacutes vivia um periacuteodo marcado pelo aprofundamento

do modelo de Estado intervencionista sob a eacutegide do capitalismo monopolista2

internacional onde a poliacutetica nacional privilegiava o crescimento industrial O

desenvolvimento material desencadeava a expansatildeo do proletariado e a

necessidade de respostas de uma poliacutetica de controle que fosse capaz de absorver

esse segmento

O Brasil possuiacutea uma economia que desde a segunda metade do seacuteculo XIX

ateacute os anos 1930 se caracterizava por um modelo agroexportador passou entatildeo a

adotar na Era Vargas um modelo industrial de substituiccedilatildeo de importaccedilatildeo modelo

urbano-industrial Com a mudanccedila do sistema agraacuterio-comercial para o industrial

ocorreu posse privada de bens produzindo profundas alteraccedilotildees sociais fazendo

agravar problemas e conflitos sociais A populaccedilatildeo rural vinha para a cidade a

procura de emprego e a uacutenica coisa que o trabalhador tinha para vender eacute sua forccedila

de trabalho natildeo sendo pago a este o valor justo com isso o sistema capitalista

crescia e tornava-se ainda mais excludente Neste governo satildeo realizadas

mudanccedilas nas Leis trabalhistas sindicais assistenciais e previdenciaacuterias O intuito

era o de controle da classe operaacuteria pelo Estado visando a ordem societaacuteria

Martinelli sinaliza que

A realidade trazida pelo capitalismo estava posta e imposta ou o trabalhador se mercantilizava assumindo a condiccedilatildeo de mercadoria uacutetil ao capital ou se coisificava assumindo o estado de ldquocoisa

2 O capitalismo monopolista eacute responsaacutevel pela introduccedilatildeo na dinacircmica da economia

capitalista de um conjunto de fenocircmenos Segundo Sweezy (1977) os preccedilos das mercadorias e serviccedilos tendem a crescer progressivamente as taxas de lucros satildeo mais elevadas acentua-se a taxa de acumulaccedilatildeo e a tendecircncia decrescente da taxa meacutedia de lucro e do subconsumo concentram-se investimentos nos setores de maior concorrecircncia cresce a tendecircncia de diminuir o uso da forccedila de trabalho pela introduccedilatildeo de mudanccedilas nos processos da produccedilatildeo e do trabalho assalariado tendo por aliadas a maquinaria e as novas tecnologias os custos de venda aumentam

14

puacuteblicardquo ndash res publica ndash a que correspondia a perda da cidadania a ldquonatildeo-cidadaniardquo (MARTINELLI 2010 p57)

A superpopulaccedilatildeo nas aacutereas urbanas acontece a partir deste momento

aumentando tambeacutem o desemprego moradias modestas aglomerados de pessoas

doenccedilas entre outros Entatildeo a classe trabalhadora comeccedilou a perceber a sua

condiccedilatildeo de classe explorada se organizando e mobilizando atraveacutes da

intensificaccedilatildeo das lutas por melhores condiccedilotildees de vida e de trabalho Todavia tais

lutas satildeo encaradas pela classe dominante como ameaccedila a seus interesses e como

desorganizaccedilatildeo social e moral Fazendo com que o governo realizasse accedilotildees

imediatas

Diante deste contexto surge o Serviccedilo Social Brasileiro no ano de 1930 o qual

veio para intervir junto a classe trabalhadora a partir das transformaccedilotildees sociais

poliacuteticas e econocircmicas da eacutepoca ligado diretamente agrave Igreja Catoacutelica Este veio com

o intuito agrave dominaccedilatildeo do proletariado pois o Estado necessitava responder as

demandas que surgiam para reproduccedilatildeo da ideologia dominante

De acordo com Iamamoto e Carvalho

A implantaccedilatildeo do Serviccedilo Social se daacute no decorrer desse processo histoacuterico Natildeo se basearaacute no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado Surge da iniciativa particular de grupos e fraccedilotildees de classe que se manifestam principalmente por intermeacutedio da Igreja Catoacutelica (IAMAMOTO E CARVALHO 2005 p27)

De origem totalmente conservadora pois a intenccedilatildeo da Igreja era a expansatildeo

de sua doutrina

Yasbek sinaliza

Eacute pois na relaccedilatildeo com a Igreja Catoacutelica que o Serviccedilo Social brasileiro vai fundamentar a formulaccedilatildeo de seus primeiros objetivos poliacuteticosociais orientando-se por posicionamentos de cunho humanista conservador contraacuterios aos ideaacuterios liberal e marxista na busca de recuperaccedilatildeo da hegemonia do pensamento social da Igreja face agrave ldquoquestatildeo socialrdquo( YASBEK 2009 p 04)

No iniacutecio a profissatildeo era de cunho totalmente assistencialista exigiam-se

profissionais mulheres as mesmas deveriam ter alguma ligaccedilatildeo dentro da Igreja

15

Catoacutelica A pobreza era vista como uma culpa da proacutepria populaccedilatildeo por este motivo

a busca era para que esta fosse reajustada tinha visatildeo repressiva Os movimentos

da classe trabalhadora cresciam com isso Igreja Catoacutelica e Estado se unem para

que a ordem social seja mantida A sociedade deveria aceitar e se adaptar agraves

transformaccedilotildees sociais os costumes cristatildeos eram impostos agrave sociedade ldquordquoOs

relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros Assistentes

Sociais demonstraram uma atuaccedilatildeo doutrinaacuteria e eminentemente assistencialrdquordquo

(IAMAMOTO 2011 p200)

Em 1932 Sob influecircncia europeacuteia originou-se o Centro de Estudos e de Accedilatildeo

Social ndash CEAS o qual tinha o objetivo de ldquordquopromover a formaccedilatildeo de seus membros

pelo estudo da Doutrina Social da Igreja e fundamentar sua accedilatildeo nessa formaccedilatildeo

doutrinaacuteria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociaisrdquordquo (IAMAMOTO

CARVALHO 2001 p 169) E em 1936 o CEAS fundou a primeira Escola de

Serviccedilo Social em Satildeo Paulo e em 1937 no Rio de Janeiro (CARVALHO

IAMAMOTO 2001 SILVA 1984)

Parafraseando IAMAMOTO (2011) a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social vivida

pelo proletariado era entendida como patologia a miseacuteria natildeo era vista de forma

real suas verdadeiras causas O intuito era de maquiar as transformaccedilotildees sociais

para que natildeo fosse vistas pela populaccedilatildeo julgavam-se apenas os efeitos as causas

ficavam esquecidas era entendida como uma deformaccedilatildeo social e o proacuteprio sujeito

era o culpado da situaccedilatildeo natildeo se atuava enxergando a ldquoquestatildeo socialrdquo3 e todas

suas expressotildees

Para os assistentes sociais que estavam formando a formaccedilatildeo moral e

doutrinaacuteria era essencial natildeo havendo a preocupaccedilatildeo com o conhecimento teacutecnico

cientiacutefico afinal o intuito era levar o conhecimento cristatildeo agraves classes subalternas

A partir da deacutecada de 40 e se estendendo ateacute a deacutecada de 50 o Serviccedilo Social

brasileiro comeccedila a receber influecircncia norte-americana eacute incluiacutedo no discurso do

Serviccedilo Social conceitos teacutecnicos e cientiacuteficos tendo a real intenccedilatildeo de

manipulaccedilatildeo e ordem Quando ocorre a expansatildeo do capitalismo os profissionais

3 A questatildeo social natildeo eacute senatildeo as expressotildees do processo da formaccedilatildeo e desenvolvimento da classe operaacuteria e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico da sociedade exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado Eacute a manifestaccedilatildeo no cotidiano da vida social da contradiccedilatildeo entre o proletariado e a burguesia a qual passa a exigir outros tipos de intervenccedilatildeo mais aleacutem da caridade e repressatildeo (CARVALHO e IAMAMOTO 1991 p 77)

16

comeccedilam a perceber que seratildeo necessaacuterios avanccedilos dentro da mesma a busca

pelo conhecimento eacute de grande importacircncia para que haja avanccedilos profissionais e

respostas agraves novas demandas apresentadas ldquordquoA ausecircncia de identidade

profissional de projeto profissional especiacutefico produzia uma grande fragilidade em

termos de consciecircncia poliacutetica de consciecircncia socialrdquordquo (MARTINELLI 2010 p131)

A influecircncia norte americana ocorre a partir da Segunda Guerra Mundial os

Estados Unidos torna-se uma naccedilatildeo hegemocircnica tendo como objetivo concretizar

os interesses usando os paiacuteses da Ameacuterica Latina intensificando a influecircncia Na

Conferecircncia Nacional do Serviccedilo Social em 1941 inicia-se o intercacircmbio entre

Brasil e Estados Unidos foram ofertados cursos e bolsas de estudo aos assistentes

sociais brasileiros

No periacuteodo da gecircnese da profissatildeo do Serviccedilo Social eacute que acontece a

influecircncia Em 1945 o modelo funcionalista eacute aplicado no Brasil o que trouxe um

afastamento das doutrinas da Igreja Catoacutelica Os assistentes sociais buscavam

cada vez mais oportunidades de estudos nos Estados Unidos A formaccedilatildeo

profissional se sustentava em uma visatildeo terapecircutica vendo a questatildeo social como

um desajustamento da sociedade A perspectiva funcionalista se aliava ao

neotomismo4 cristatildeo e com isso a visatildeo terapecircutica ganhava ecircnfase o indiviacuteduo

deve ser tratado por seus desajustes

As teorias de caso grupo e comunidade compuseram a triacuteade metodoloacutegica

que orientava o serviccedilo social na busca da integraccedilatildeo do homem ao meio social em

que vivia estas introduzidas por Mary Richmond assistente social norte-americana

tinha ideais de filantropia cientiacutefica e teoria estrutural-funcional Tendo uma visatildeo

racional para enfrentamento dos problemas sociais realizando atividades como

triagem distribuiccedilatildeo de auxiacutelios acompanhamentos grupos de equipes

multiprofissionais e outros

Conforme Barroco (2008) em 1947 foi instituiacutedo o primeiro Coacutedigo de Eacutetica

Profissional dos Assistentes Sociais este com uma base filosoacutefica humanista-cristatilde

pautada no neotomismo em que a profissatildeo eacute tratada como algo hegemocircnico e a

4 O neotomismo ldquordquodefende um modelo cristatildeo de sociedade que se consubstancia nas

condiccedilotildees histoacutericas da ordem burguesa tendo em vista tornaacute-la lsquomais justa e fraternarsquo cuja caracterizaccedilatildeo passa por um trabalho de evangelizaccedilatildeo das massas como exigecircncia para o desenvolvimento na vida social do senso de liberdade e fraternidaderdquordquo ( ABREU 2004 p 51- 52)

17

accedilatildeo profissional eacute tida como vocaccedilatildeo ou seja como compromisso religioso

ocultando os elementos fundantes da ldquoquestatildeo socialrdquo contribuindo para a

reproduccedilatildeo percebendo as desigualdades de forma moralizante

Na deacutecada de 50 eacute necessaacuteria uma atuaccedilatildeo diferenciada dos profissionais

sendo necessaacuterio o conhecimento teoacuterico aliado agrave praacutetica As poliacuteticas sociais

devem responder agraves mazelas da questatildeo social por este motivo necessitavam de

modernizaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo eram prestados serviccedilos baacutesicos e programas que se

voltavam para as camadas pauperizadas da populaccedilatildeo O intuito era integraccedilatildeo dos

indiviacuteduos para que adentrassem ao mercado de trabalho desenvolvendo as

potencialidades dos mesmos Satildeo ofertados programas de qualificaccedilatildeo e ao final

realiza-se seleccedilatildeo dos que correspondem com as exigecircncias do capital

Devido aacute grande demanda emanada com o capitalismo industrial o serviccedilo

social passa a ser um agente de vital importacircncia para o enfrentamento da questatildeo

social ampliando-se assim o universo de intervenccedilatildeo da profissatildeo Nesta mesma

deacutecada surgiu o meacutetodo de desenvolvimento de comunidade ndash DC o governo

vigente era de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-60) Este meacutetodo fez a

introduccedilatildeo do profissional de serviccedilo social ao DC rural dando abertura para um

novo campo de trabalho ateacute entatildeo inexistente Com isso aumentou o nuacutemero de

escolas interiorizaccedilatildeo do serviccedilo social incorporaccedilatildeo de novas atribuiccedilotildees

profissionais relacionadas agrave coordenaccedilatildeo planejamento e administraccedilatildeo de

programas sociais

O periacuteodo foi marcado por ganhos e ao mesmo tempo grandes perdas para a

aacuterea social direitos dos trabalhadores foram privatizados e de acordo com Porto

Uma verdadeira anticidadania patrocinada pelo Estado Ditatorial cuja marca foi a exclusatildeo mordaz da classe trabalhadora da cena sociopoliacutetica centralizada pelos interesses absolutos do grande capital- equidistando-se portanto do padratildeo preponderantemente

emancipador prevalecente nos modelos do Welfare State (PORTO 2001 p 24)

Diante deste cenaacuterio os profissionais insatisfeitos com a forma de atuaccedilatildeo

surge a necessidade de uma renovaccedilatildeo e ampliaccedilatildeo dos conhecimentos Na

deacutecada de 60 em que o paiacutes viveu um periacuteodo ditatorial os movimentos de

18

natureza social sofreram recessotildees afastando o Serviccedilo Social da classe

trabalhadora

Segundo Martinelli

Os anos 60 ao longo dos quais se processou um agravamento do quadro poliacutetico nacional encontravam o Serviccedilo Social recuado do cenaacuterio histoacuterico produzindo e reproduzindo praacuteticas incapazes de se somarem aos esforccedilos de construccedilatildeo e prevenccedilatildeo de espaccedilos democraacuteticos em uma sociedade oprimida por uma ditadura militar (MARTINELLI 2010 p 142)

A profissatildeo natildeo conseguiu avanccedilar em termos teoacutericos-metodoloacutegicos devido

agrave ditadura Houve um retrocesso onde muitos materiais que os profissionais

acumularam para as pesquisas foram queimados proibidos de circular e outros De

acordo com Faleiros

A mobilizaccedilatildeo social e poliacutetica da sociedade e a mobilizaccedilatildeo interna dos assistentes sociais potildeem em relevo a crise da profissatildeo em meados dos anos 60 sua desqualificaccedilatildeo no mundo cientiacutefico e acadecircmico sua inadequaccedilatildeo ldquometodoloacutegicardquo com a divisatildeo em serviccedilo social de caso serviccedilo social de grupo e desenvolvimento de comunidade e a ausecircncia de uma teorizaccedilatildeo articulada Suas praacuteticas mais significativas faziam-se longe dos graves problemas sociais sem consonacircncia com as necessidades concretas do povo As accedilotildees de transformaccedilatildeo ficavam ldquoagrave margemrdquo (FALEIROS 2005 p 26)

A aacuterea de atuaccedilatildeo do assistente social a partir dos anos 1960 ateacute 1970

ampliou-se juntamente com o aumento das demandas pelos serviccedilos e das poliacuteticas

sociais impulsionando um avanccedilo no acircmbito acadecircmico profissional e organizativo

devido agrave aproximaccedilatildeo com os fundamentos da teoria da modernizaccedilatildeo presente nas

ciecircncias sociais Criando e expandindo os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a

implantaccedilatildeo dos cursos de mestrado e doutorado no iniacutecio dos anos 70

Entre os anos de 1965-1975 ocorre um rearranjo profissional intitulado como

renovaccedilatildeo do serviccedilo social tambeacutem conhecido como o processo de ruptura do

serviccedilo social pois este veio romper com o tradicionalismo profissional

Expressando uma nova corrente para a profissatildeo com caraacuteter mais heterogecircneo ndash

vaacuterias vertentes linhas poliacuteticas teoacutericas e profissionais foi um movimento teoacuterico

metodoloacutegico e operacional Este movimento eacute fruto de condicionantes histoacutericas

19

com aprovaccedilatildeo de setores jovens e profissionais de vanguarda do serviccedilo social

Este fato possibilitou a organizaccedilatildeo poliacutetica da proacutepria categoria profissional

Para Iamamoto a ruptura com a heranccedila conservadora

Se expressa como uma luta por alcanccedilar novas bases de legitimidade da accedilatildeo profissional do assistente social que reconhecendo as contradiccedilotildees sociais presentes nas condiccedilotildees do exerciacutecio profissional busca colocar-se objetivamente a serviccedilo dos interesses dos usuaacuterios isto eacute dos setores dominados da sociedade Natildeo se reduz a um movimento social mais geral determinado pelo confronto e a correlaccedilatildeo de forccedilas entre classes fundamentais da sociedade o que natildeo exclui a responsabilidade da categoria pelo rumo dado agraves suas atividades e pela forma de conduzi-las (IAMAMOTO 1997 p 37)

De acordo com Bravo (2007) o Movimento de Reconceituaccedilatildeo impocircs ao

profissional de serviccedilo social a construccedilatildeo de um novo projeto profissional o qual

necessitaria ter comprometimento com as reais necessidades e interesses da

populaccedilatildeo usuaacuteria dos serviccedilos

Era de suma importacircncia agrave renovaccedilatildeo da profissatildeo pois os profissionais

passavam por uma crise ideoloacutegica e poliacutetica e ao mesmo tempo questionavam a

ligaccedilatildeo da profissatildeo com as classes dominantes o que prejudicava a eficaacutecia da

mesma

Ocorreu neste periacuteodo mudanccedilas teacutecnicas para o serviccedilo social brasileiro a

perspectiva modernizadora que colocou a questatildeo do meacutetodo em debate fazendo a

interlocuccedilatildeo com o marxismo5 apropriando-se da teoria social de Max buscando

adequar o serviccedilo social agraves novas teacutecnicas de intervenccedilatildeo que atendessem as

necessidades do periacuteodo

Nesse sentido o Movimento de Reconceituaccedilatildeo teve como marco inicial e

central o 1ordm Seminaacuterio Regional Latino-Americano de Serviccedilo Social realizado em

1965 na cidade de Porto Alegre o qual teve seu teacutermino por volta do ano de 1973 A

partir de entatildeo as tendecircncias modernizadoras foram expressas nos seminaacuterios de

Araxaacute em 1967 sendo a primeira produccedilatildeo teoacuterica do Centro Brasileiro de

5 Marxismo eacute um sistema ideoloacutegico que critica radicalmente o capitalismo e proclama a emancipaccedilatildeo da humanidade numa sociedade sem classes e igualitaacuteria Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 15 de Set 2016

20

Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio de Serviccedilo Social e Teresoacutepolis em 1970 os quais

priorizavam um projeto tecnocraacutetico e modernizador

Nesta perspectiva Netto (1996) afirma que o debate teoacuterico dos documentos

de Araxaacute e Teresoacutepolis expressaram uma ldquordquotentativa de adequar as (auto)

representaccedilotildees profissionais do Serviccedilo Social agraves tendecircncias sociopoliacuteticas que a

ditadura tornou dominantesrdquordquo Menciona ainda que o caraacuteter modernizador desta

perspectiva foi ldquoaceitar como dado inquestionaacutevel a ordem sociopoliacutetica derivadardquo

da ditadura e procurar ldquodotar a profissatildeo de referecircncias e instrumentos capazes de

atender agraves demandasrdquo da tecnocracia

De acordo com Aguiar

O Documento de Araxaacute traz para o curso de Serviccedilo Social a necessidade de uma nova configuraccedilatildeo a comeccedilar pela teorizaccedilatildeo sendo assim era preciso que a praacutetica profissional fosse mais pautada em princiacutepios teoacutericos e em accedilotildees que servissem melhor agrave sociedade brasileira (AGUIAR 1989 p117-123)

Jaacute o documento de Teresoacutepolis a perspectiva modernizadora se afirma como

pauta interventiva onde Netto salienta que

O Seminaacuterio de Teresoacutepolis possui um triacuteplice significado no processo da renovaccedilatildeo profissional no Brasil uma vez que apontou a necessaacuteria ldquorequalificaccedilatildeo do assistente socialrdquo definindo ldquoo perfil socioteacutecnico da profissatildeo e a inscreveu conclusivamente no circuito da modernizaccedilatildeo conservadorardquo Desse modo o documento de Teresoacutepolis aponta uma perspectiva modernizadora que se consolida natildeo apenas numa concepccedilatildeo de profissatildeo poreacutem numa ldquopauta interventivardquo (NETTO 1996 p 178-192)

Apoacutes estes dois seminaacuterios foram realizados os coloacutequios de Sumareacute 1978 e

Alto da Boa Vista 1984 no Rio de Janeiro considerados como a reatualizaccedilatildeo do

conservadorismo ldquordquoEsta tendecircncia via o individuo de forma global para eles natildeo

havia contradiccedilatildeo entre capital e trabalho no entanto nenhum dos dois seminaacuterios

causou grande impacto ou atraiu a atenccedilatildeo da vanguarda de profissionaisrdquordquo

(NETTO 2005 p5-19)

21

A laicidade6 da profissatildeo de Serviccedilo Social foi elemento que caracterizou a

renovaccedilatildeo do serviccedilo social sobre a autocracia burguesa teve como elementos a) o

pluralismo teoacuterico-profissional b) introduccedilatildeo de diferentes concepccedilotildees profissionais

com diferentes visotildees de mundo e de sociedade demonstrando o rompimento com

a homogeneidade que caracterizava a profissatildeo nessas deacutecadas c) interlocuccedilatildeo

acadecircmica e com outras ciecircncias deixando de ser subalterno dentro do acircmbito

acadecircmico d) fomento da investigaccedilatildeo e da pesquisa

A vertente de ruptura natildeo aconteceu sem que houvesse problemas e vai

adquirindo maior forccedila e visibilidade a partir do momento em que surgem os estudos

que aprofundam a formulaccedilatildeo teoacuterica da profissatildeo que satildeo fundadas nesta

perspectiva de renovaccedilatildeo principalmente ao que se refere ao campo poliacutetico-

ideoloacutegico Nos anos seguintes o pensamento de transformaccedilatildeo da profissatildeo

continua sua trajetoacuteria

Em 1979 acontece o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais este

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais ndash CFAS foi o chamado

Congresso da Virada sendo um marco na histoacuteria do Serviccedilo Social trazendo novos

horizontes para a profissatildeo visando um Estado democraacutetico defendendo os direitos

humanos dando um novo trato agrave questatildeo social criando novas possibilidades para

anaacutelise da vida social da profissatildeo e de cada indiviacuteduo em sua totalidade Entatildeo os

Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos

marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e

Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise

da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha

(CFESS 2009 p1) O Congresso da Virada tem o objetivo de discutir a Poliacutetica

Social dentro do Serviccedilo Social um projeto eacutetico-poliacutetico novo trazendo novos

rumos para a atuaccedilatildeo dos profissionais Este vem para responder as demandas

apresentadas pela sociedade agraves novas roupagens da questatildeo social sendo criacutetico e

interventivo O momento eacute de grandes avanccedilos profissionais o Serviccedilo Social ganha

novos horizontes

6 A laicidade corresponde a uma doutrina ou um sistema poliacutetico que defende a exclusatildeo da influecircncia da religiatildeo no estado na cultura e na educaccedilatildeo Disponiacutevel em httpswwwsignificadoscombr Acesso em 04 de Dez 2016

22

12 As bases de transformaccedilatildeo do Serviccedilo Social tradicional para o projeto profissional criacutetico O projeto eacutetico-poliacutetico em questatildeo Os profissionais de Serviccedilo Social atuam historicamente atendendo tanto aos

interesses da classe trabalhadora observando suas necessidades sociais e ao

mesmo tempo atende os interesses das classes dominantes sendo o Estado o seu

maior empregador

Segundo Yasbek no Brasil

O Serviccedilo Social se institucionaliza e legitima profissionalmente como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado com o suporte da Igreja Catoacutelica na perspectiva do enfrentamento e regulaccedilatildeo da Questatildeo Social a partir dos anos 30 quando a intensidade e extensatildeo das suas manifestaccedilotildees no cotidiano da vida social adquirem expressatildeo poliacutetica (YAZBEK 2009 p06)

O Sistema capitalista a partir da deacutecada de 60 sofre transformaccedilotildees em seu

desenvolvimento onde passou por crises adentrando em um periacuteodo de recessatildeo

com esgotamento da onda expansiva Nesta eacutepoca acontecem grandes

mobilizaccedilotildees sociais o que provoca uma agitaccedilatildeo poliacutetica levando a classe a

buscar novos horizontes para a atuaccedilatildeo Entatildeo entre os anos 60 e 70 o Serviccedilo

Social passa a questionar sua fundamentaccedilatildeo conservadora atraveacutes de um

movimento que pretendia reconfigurar as bases teoacutericas teacutecnicas e poliacuteticas da

profissatildeo Neste periacuteodo se desenvolve a renovaccedilatildeo do serviccedilo social brasileiro

Ocorre um inconformismo da populaccedilatildeo com o modelo de desenvolvimento

industrial dominante Surge uma inquietaccedilatildeo das ciecircncias sociais por meio da

introduccedilatildeo marxista

Netto define como renovaccedilatildeo

[] o conjunto de caracteriacutesticas novas que no marco das constriccedilotildees da autocracia burguesa o Serviccedilo Social articulou agrave base do rearranjo de suas tradiccedilotildees e da assunccedilatildeo do contributo de tendecircncia do pensamento social contemporacircneo procurando investir-se como instituiccedilatildeo de natureza profissional dotada de legitimaccedilatildeo praacutetica atraveacutes de respostas a demandas sociais e da sua sistematizaccedilatildeo e de validaccedilatildeo teoacuterica mediante a remissatildeo agraves teorias e disciplinas sociais (NETTO 2004 p131)

23

A partir de entatildeo gradativamente as produccedilotildees teoacutericas da profissatildeo tomaram

rumos baseados no pensamento marxista O profissional de Serviccedilo Social em suas

abordagens passou a pensar a sociedade como fruto de um conjunto de relaccedilotildees

sociais e participando do processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dessas relaccedilotildees

De acordo com Netto

Indagando-se sobre o papel dos profissionais em face de manifestaccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo interrogando-se sobre a adequaccedilatildeo dos procedimentos profissionais consagrados agraves realidades regionais e nacionais questionando-se sobre a eficaacutecia das accedilotildees profissionais e sobre a eficiecircncia e legitimidade das suas representaccedilotildees inquietando-se com o relacionamento da profissatildeo com os novos atores que emergiam na cena poliacutetica (fundamentalmente ligados agraves classes subalternas) e tudo isso sob o peso do colapso dos pactos poliacuteticos que vinham do poacutes-guerra do surgimento de novos protagonistas sociopoliacuteticos da revoluccedilatildeo cubana do incipiente reformismo gecircnero Alianccedila para o Progresso ao mover-se assim os assistentes sociais latino-americanos atraveacutes de seus segmentos de vanguarda estavam minando as bases tradicionais da sua profissatildeo (NETTO 2009 p146)

Apesar do momento da Renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social ocorrer em plena

Ditadura Militar os avanccedilos acontecem de forma significativa em sua base teoacuterico-

conceitual E ainda hoje o projeto eacutetico poliacutetico profissional busca proposiccedilatildeo dos

direitos sociais dos usuaacuterios lutando contra o capital O projeto profissional contribui

para a formaccedilatildeo dos Assistentes Sociais para que estes sejam propositivos

Cooperando para que na atuaccedilatildeo estes tenham habilidades e discernimento e ao

mesmo tempo autonomia nos espaccedilos socioocupacionais este tem sua gecircnese na

metade da deacutecada de 70 avanccedilando na deacutecada de 80

Santana sinaliza que

Os assistentes sociais preocupados com a modernizaccedilatildeo do Paiacutes e da profissatildeo assumem posiccedilotildees predominantemente favoraacuteveis agrave reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais Poreacutem a partir da deacutecada de 1980 os setores criacuteticos (em geral respaldados na teoria marxista) assumem a vanguarda da profissatildeo Eacute no bojo desse processo de renovaccedilatildeo do Serviccedilo Social que o pluralismo se institui e inicia a construccedilatildeo do que hoje chamamos de projeto eacutetico poliacutetico da profissatildeo (SANTANA 2000 p80)

24

O projeto eacutetico poliacutetico tem como nuacutecleo central o reconhecimento da liberdade

concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas

concretas daiacute um compromisso com a autonomia a emancipaccedilatildeo e a plena

expansatildeo dos indiviacuteduos sociais trazendo transformaccedilotildees para a sociedade

O Congresso da virada (III congresso Brasileiro de Assistentes Sociais)

realizado em Satildeo Paulo no ano de 1979 este promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais ndash CFAS conhecido hoje como CFESS (Conselho Federal de

Serviccedilo Social) proporcionou subsiacutedios para a elaboraccedilatildeo desse projeto

profissional

O ano de 1979 tornou-se emblemaacutetico por ser o tempo de florescimento das possibilidades objetivas e subjetivas que permitiram agraves forccedilas poliacuteticas do trabalho expressar suas lutas pela implementaccedilatildeo do Estado de Direito apoacutes o nefasto periacuteodo de vigecircncia da ditadura militar no Brasil que ceifou as mais corajosas formas de resistecircncia e combate ao autoritarismo Alimentados por aquela conjuntura soacutecio-histoacuterica Assistentes Sociais comeccedilaram a tecer o entendimento do Serviccedilo Social nos marcos da relaccedilatildeo capitaltrabalho e nas complexas relaccedilotildees entre Estado e Sociedade A ldquoViradardquo teve o sabor de descortinar novas possibilidades de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo Social trabalha (CEFESS 2009 p1)

O objetivo primordial deste Congresso era que fosse discutida apenas a

Poliacutetica Social aos olhos do Serviccedilo Social de entatildeo o que natildeo era muito favoraacutevel

ao que os profissionais que ali estavam propuseram Mas no mesmo Congresso os

Assistentes Sociais se sentem insatisfeitos com a situaccedilatildeo e se rebelaram contra

suas proacuteprias organizaccedilotildees demarcando importacircncia pois estas eram

conservadora e atendiam apenas aos interesses das classes dominantes A postura

dos Assistentes Sociais mediante a esse congresso foi o que deu suporte para

construir esse marco na historia do Serviccedilo Social De acordo com Joseacute Paulo

Netto ldquordquoEste periacuteodo marca um momento importante no desenvolvimento do Serviccedilo

Social no Brasil vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denuacutencia do

conservadorismo profissionalrdquordquo (NETTO 2009 paacuteg141)

A partir de entatildeo grandes mudanccedilas ocorreram e refletiram no interior da

profissatildeo A transiccedilatildeo da deacutecada de 70 para a deacutecada de 80 foi decisivo para a

construccedilatildeo do Serviccedilo Social mais critico e interventivo possibilitando agrave categoria a

criaccedilatildeo de bases teoacutericas e poliacuteticas organizativas A interlocuccedilatildeo com a teoria

25

marxista e em seguida com o pensamento marxiano forneceram o sustentaacuteculo

teoacuterico-metodoloacutegico para os profissionais entenderem a realidade sobre uma

perspectiva de totalidade

A ldquoViradardquo possibilitou aos assistentes sociais revelarem novas possibilidades

de anaacutelise da vida social da profissatildeo e dos indiviacuteduos com os quais o Serviccedilo

Social trabalha Esta possibilitou o protagonismo das lutas da classe trabalhadora e

dos sujeitos profissionais que passaram a apreender as necessidades reais

vivenciadas pela populaccedilatildeo como demandas postas ao Serviccedilo Social

Durante a deacutecada de 1980 as necessidades sociais satildeo politizadas pelos movimentos da classe trabalhadora que se formam e se organizam em torno de sua defesa Direito ao trabalho agrave autonomia de organizaccedilatildeo sindical agrave seguridade social aos direitos sociais poliacuteticos e civis e aqueles relacionados agrave diversidade humana - como liberdade de expressatildeo direito agrave identidade e igualdade de gecircnero eacutetnico-racial e agrave liberdade de orientaccedilatildeo e expressatildeo sexual - emergem como demandas concretas e mobilizam os sujeitos individuais e coletivos para a luta (CEFESS 2009 p1)

Parafraseando Netto (1999) o projeto eacutetico poliacutetico tem articulado entre si

elementos que fazem parte da sua constituiccedilatildeo traz o ideal da profissatildeo quais

valores a legitimam a funccedilatildeo na sociedade objetivos os conhecimentos normas

praacuteticas estabelecendo a relaccedilatildeo entre profissional e usuaacuterios e com as demais

instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

A construccedilatildeo coletiva do projeto profissional reuniu assistentes sociais de

todos os segmentos e materializa-se no Coacutedigo de Eacutetica Profissional do Assistente

Social aprovado em 1331993 na Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo de Serviccedilo

Social (Lei 8662 de 761993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a

Formaccedilatildeo Profissional em Serviccedilo Social (8111996) O Coacutedigo de Eacutetica de 1993

garantiu e buscou ampliar as conquistas profissionais impressas no coacutedigo anterior

de 1986 houve a revisatildeo do mesmo originando o de 1993 As transformaccedilotildees

ocorridas na profissatildeo foram embasadas na necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais da realidade brasileira O Coacutedigo de

Eacutetica de 1993 traz a identificaccedilatildeo da categoria Fica claro a direccedilatildeo dos

compromissos assumidos pelo Serviccedilo social nas uacuteltimas deacutecadas o projeto eacutetico-

26

poliacutetico hegemocircnico podendo observar claramente uma perspectiva criacutetica agrave ordem

econocircmica-social estabelecida e a defesa dos direitos dos trabalhadores

Guerra confirma que

A deacutecada de 1990 confere maturidade teoacuterica ao Projeto Eacutetico Poliacutetico Profissional do Serviccedilo Social brasileiro que no legado marxiano e na tradiccedilatildeo marxista apresenta sua referecircncia teoacuterica hegemocircnica Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentaccedilotildees que datildeo sustentabilidade institucional legal ao projeto de profissatildeo nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo a) o Novo Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 b) a nova Lei de Regulamentaccedilatildeo da Profissatildeo em 1993 c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviccedilo Social em 1996 d) as legislaccedilotildees sociais que referenciam o exerciacutecio profissional e vinculam-se agrave garantia de direitos como o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente ndash ECA de 1990 a Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social ndash Loas de 1993 a Lei Orgacircnica da Sauacutede em 1990 (GUERRA 2007 p 37)

Segundo Netto (1999) o projeto profissional implica o compromisso com a

competecircncia e este eacute base para o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social e

possibilita uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterica

metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta para

atuarem a partir da realidade social apresentadas pelos usuaacuterios Apresenta-se

como um projeto profissional coletivo que apresenta uma auto imagem da profissatildeo

um projeto societaacuterio

Netto (1999) ainda afirma que os projetos societaacuterios apresentam uma imagem

de sociedade a ser construiacuteda que reclamam determinados valores para justificaacute-la

e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizaacute-la Constituem-

se em projetos macroscoacutepicos vinculado a um projeto de transformaccedilatildeo da

sociedade Este imprime uma direccedilatildeo para a accedilatildeo do profissional de Serviccedilo Social

O profissional de Serviccedilo Social deve assumir como orientaccedilatildeo o Projeto

eacutetico poliacutetico articulando suas dimensotildees teacutecnico-operativas7 eacutetico-poliacuteticas8 e

7A dimensatildeo teacutecnico-operativa do Serviccedilo Social implica reconhecer a sua complexidade dada pela diversidade de espaccedilos soacutecio-ocupacionais nos quais os profissionais transitam e pela proacutepria natureza das suas accedilotildees nos diferentes acircmbitos do exerciacutecio profissional como por exemplo a proposiccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas sociais o planejamento gestatildeo e articulaccedilatildeo de serviccedilos e programas sociais ou o atendimento direto aos usuaacuterios em diferentes instituiccedilotildees e programas sociais (MIOTO 2000 p27) 8 A dimensatildeo eacutetico - poliacutetica do projeto ele se posiciona a favor da equidade e da justiccedila social na perspectiva da universalizaccedilatildeo do acesso a bens e a serviccedilos relativos agraves poliacuteticas e programas sociais a ampliaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da cidadania satildeo explicitamente postas

27

teoacuterico-metodoloacutegicas9 Na atualidade o profissional de Serviccedilo Social apresenta

diversos desafios os quais satildeo apontados por Iamamoto

1) rigorosa formaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica que permita explicar o atual processo de desenvolvimento capitalista sob a hegemonia das financcedilas e o reconhecimento das formas particulares pelas quais ele vem se realizando no Brasil assim como suas implicaccedilotildees na oacuterbita das poliacuteticas puacuteblicas e consequentes refraccedilotildees no exerciacutecio profissional 2) acompanhamento da qualidade acadecircmica da formaccedilatildeo universitaacuteria ante a vertiginosa expansatildeo do ensino superior privado e da graduaccedilatildeo agrave distacircncia no paiacutes 3) articulaccedilatildeo com entidades forccedilas poliacuteticas e movimentos dos trabalhadores no campo e na cidade em defesa do trabalho e dos direitos civis poliacuteticos e sociais 4) afirmaccedilatildeo do horizonte social e eacutetico-poliacutetico do projeto profissional no trabalho cotidiano 5) o cultivo de uma atitude criacutetica e ofensiva na defesa das condiccedilotildees de trabalho e da qualidade dos atendimentos potenciando a nossa autonomia profissional (IAMAMOTO 2009 p 38-39)

De acordo com os desafios citados acima o profissional tem que se valer do

seu projeto eacutetico poliacutetico como orientaccedilatildeo para uma atuaccedilatildeo efetiva tentando de

todas as formas possiacuteveis libertar-se das influecircncias neoliberais ainda existentes

Santana afirma que

Agrave medida que o profissional assume o compromisso com a transformaccedilatildeo dessa ordem societaacuteria e institui como estrateacutegia de accedilatildeo no atual momento histoacuterico a luta por direitos sociais comprometendo-se com a qualidade dos serviccedilos prestados e com o fortalecimento do usuaacuterio seu perfil tem que ser necessariamente criacutetico e questionador Eacute preciso tambeacutem que este esteja munido de um referencial teoacuterico-metodoloacutegico que lhe permita apreender a realidade numa perspectiva de totalidade e construir mediaccedilotildees entre o exerciacutecio profissional comprometido e os limites dados pela realidade de atuaccedilatildeo (SANTANA 2000 p 90)

O profissional deve criar estrateacutegias para conseguir lidar com o sistema

vigente este deve ser criacutetico analiacutetico tendo uma atitude reflexiva e propositiva

como garantia dos direitos civis poliacuteticos e sociais das classes trabalhadoras(NETTO1999 p16) 9 A capacitaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica eacute que permite uma apreensatildeo do processo social como totalidade reproduzindo o movimento do real em suas manifestaccedilotildees universais particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade em suas dimensotildees econocircmicas poliacuteticas eacuteticas ideoloacutegicas e culturais fundamentado em categorias que emanam da adoccedilatildeo de uma teoria criacutetica (ABESSCEDEPSS 1996 p152)

28

frente agrave realidade apresentada Deve haver ousadia e disposiccedilatildeo para que se

consiga decifrar as novas propostas que surgem no Serviccedilo Social

Iamamoto afirma que

Ao profissional assistente social apresenta-se um dos maiores desafios nos dias atuais desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano O perfil predominante do assistente social historicamente eacute o de um profissional que implementa poliacuteticas sociais e atua na relaccedilatildeo direta com a populaccedilatildeo usuaacuteria Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais puacuteblicas e empresariais um profissional propositivo com a soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc-los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 2000 p113)

O assistente social deve buscar atraveacutes de sua praacutexis10 educativa transformar

a realidade dos sujeitos para que se tornem livres tendo a capacidade de decisatildeo e

accedilatildeo Eacute importante decifrar a realidade para que se entenda o contexto do usuaacuterio

sabendo propor e negociar estrateacutegias que consigam responder as demandas

atuais Para a efetivaccedilatildeo do Projeto Eacutetico-Poliacutetico exige-se profissionais que

consigam ultrapassar os limites da instituiccedilatildeo avanccedilando na luta pelos direitos e

pela cidadania

Parafraseando Iamamoto (2011) eacute necessaacuterio que se formem assistentes

sociais qualificados com uma grande bagagem eacutetica poliacutetica metodoloacutegica e

interventiva apontando os caminhos e ensinando-os a aprender pela convivecircncia

permanente com a teoria histoacuteria e pesquisa do cotidiano e das praacuteticas

A busca pelo conhecimento eacute incessante pois a questatildeo social sempre teraacute

novas roupagens e um profissional estagnado que natildeo consegue decifrar a

realidade e compreender a totalidade de seu usuaacuterio natildeo conseguiraacute alcanccedilar

respostas para as demandas apresentadas

10

Nessa incessante dinacircmica da histoacuteria os homens vatildeo tornando cada vez mais complexas suas relaccedilotildees e cada vez mais mediadas suas formas de vida social o que equivale a dizer que eles vatildeo criando cada vez mais formas de objetivaccedilatildeo na realidade as quais podemos chamar de praacutexis(TEIXEIRA 2009 p3)

29

13 A globalizaccedilatildeo da economia e as manifestaccedilotildees da questatildeo social no Brasil

O processo de globalizaccedilatildeo11 se desenvolveu para atender ao capitalismo de

forma que este pudesse sair em busca de novos mercados comeccedilando a

desenvolver-se a partir da Revoluccedilatildeo Industrial este passou despercebido por

muitos anos O fim da Segunda Guerra Mundial marca o ponto inicial da

globalizaccedilatildeo moderna neste momento os paiacuteses comeccedilaram a se unir com o

objetivo de impedir o iniacutecio de outras guerras Os paiacuteses envolvidos chegaram agrave

conclusatildeo que era de grande importacircncia para o futuro da humanidade a criaccedilatildeo de

mecanismos comerciais para aproximar cada vez mais as naccedilotildees uma das outras A

partir de entatildeo nasceu as Naccedilotildees Unidas e comeccedilou a surgir o conceito de bloco

econocircmico pouco apoacutes isso com a fundaccedilatildeo da Comunidade Europeacuteia do Carvatildeo e

do Accedilo ndash CECA que posteriormente viria a se tornar a Uniatildeo Europeacuteia

A globalizaccedilatildeo do mundo ldquoexpressa um novo ciclo de expansatildeo do capitalismo

como modo de produccedilatildeo e processo civilizatoacuterio de alcance mundialrdquo (IANNI 1992

p76) Envolve naccedilotildees nacionalidades regimes poliacuteticos projetos nacionais

indiviacuteduos grupos classes sociais economias sociedades culturas e civilizaccedilotildees

O capitalismo tenta manter uma visatildeo de igualdade mascarando as diversas

formas de desigualdade existentes entre a populaccedilatildeo

A Globalizaccedilatildeo foi promovida pelas inovaccedilotildees tecnoloacutegicas principalmente

pelas telecomunicaccedilotildees e informaacutetica A partir da rede de telecomunicaccedilatildeo (telefonia

fixa e moacutevel internet televisatildeo aparelho de fax entre outros) possibilitou a

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees entre as empresas e instituiccedilotildees financeiras ligando os

mercados do mundo Contudo houve muitas perdas pois com as novas tecnologias

muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos matildeo de obra fazendo

com que o trabalhador perdesse espaccedilo e consequentemente ocorrendo a

hegemonia do grande capital

A globalizaccedilatildeo da economia acontece a partir da hegemonia do capital a

produccedilatildeo e gestatildeo do trabalho satildeo alteradas e com isso cresce a exclusatildeo

econocircmica social cultural e poliacutetica das classes subalternas A acumulaccedilatildeo

11 Globalizaccedilatildeo diz respeito agrave multiplicidade de relaccedilotildees e interconexotildees entre estados e sociedades conformando o moderno sistema mundial Focaliza o processo pelo qual acontecimentos decisotildees e atividades em uma parte do mundo podem vir a ter consequecircncias significativas para indiviacuteduos e coletividades em lugares distantes do globo (McGROW 1992 p 23)

30

capitalista transforma o mundo do trabalho havendo mudanccedilas em todos os setores

sociais e com isso ocorre desregulamentaccedilatildeo dos direitos trabalhistas

precarizaccedilatildeo e terceirizaccedilatildeo dos trabalhadores

Como jaacute dizia Parenza

A precarizaccedilatildeo do trabalho estaacute diretamente relacionada ao aumento do assalariamento sem carteira assinada do trabalho autocircnomo e do informal da reduccedilatildeo e ou ausecircncia de direitos trabalhistas bem como de suas respectivas implicaccedilotildees na jornada de trabalho e no tempo de permanecircncia no trabalho nos rendimentos do trabalhador na possibilidade de acesso aos mecanismos de proteccedilatildeo social e nas condiccedilotildees de trabalho agraves quais satildeo submetidos cotidianamente os trabalhadores (PARENZA 2008 p 35)

A acumulaccedilatildeo capitalista sempre produz em grandes proporccedilotildees para que

possa se expandir e com isso

a magnitude do capital social jaacute em funcionamento e seu grau de crescimento com a ampliaccedilatildeo da escala de produccedilatildeo e da massa de trabalhadores mobilizados com o desenvolvimento da produtividade do trabalho com o fluxo mais vasto e mais completo dos mananciais da riqueza amplia-se a escala em que a atraccedilatildeo maior dos trabalhadores pelo capital estaacute ligada agrave maior repulsatildeo deles Aleacutem disso aumenta a velocidade das mudanccedilas na composiccedilatildeo orgacircnica do capital e na sua forma teacutecnica e nuacutemero crescente de ramos de produccedilatildeo eacute atingido simultacircnea ou alternativamente por essas mudanccedilas Por isso a populaccedilatildeo trabalhadora ao produzir a acumulaccedilatildeo do capital produz em proporccedilotildees crescentes os meios que fazem dela relativamente uma populaccedilatildeo supeacuterflua (Marx 1968 p 732)

Parafraseando Antunes (2001) o qual afirma que as mudanccedilas organizacionais

e tecnoloacutegicas assim como as mudanccedilas nas formas de gestatildeo tambeacutem afetam o

setor de serviccedilos que cada vez mais se submete agrave racionalidade do capital Com o

crescimento desse setor alteram-se natildeo soacute os limites da divisatildeo social e teacutecnica do

trabalho mas tambeacutem a funccedilatildeo dos serviccedilos na acumulaccedilatildeo Ao se utilizarem do

setor de serviccedilos para fins de acumulaccedilatildeo os capitalistas impuseram mudanccedilas no

processo de produccedilatildeo combinando novas atividades de serviccedilos com as formas de

produccedilatildeo tradicionalmente existentes

De acordo com Costa as mudanccedilas no processo de produccedilatildeo mobilizam novas

formas de combinaccedilatildeo entre os trabalhos dos assalariados dos serviccedilos e daqueles

31

inseridos na produccedilatildeo material originando uma nova composiccedilatildeo do trabalhador

coletivo e novas formas de cooperaccedilatildeo (COSTA 1998 p 99)

Para o capitalista obter a acumulaccedilatildeo um dos preacute-requisitos estaacute pautado na

produccedilatildeo na venda e no consumo dos serviccedilos pela sociedade atraveacutes das

diversas formas que ele encontra para expandir a produccedilatildeo como por exemplo o

tempo de vida limitado que tem determinados produtos no mercado Entatildeo os

avanccedilos tecnoloacutegicos contribuem para criar condiccedilotildees de produccedilatildeo que estimulam e

ajudam no consumo de mercadorias estes sempre apresentam uma novidade para

os consumidores Meszaacuteros diz que ldquordquoesse consumo essas necessidades eacute

impulsionado pelos novos encantos inspirados pelas propagandas constantesrdquordquo

(MESZAacuteROS 1989)

Com o desenvolvimento dos serviccedilos satildeo alteradas as suas funccedilotildees

ampliando os serviccedilos pessoais para os serviccedilos coletivos observando o

crescimento de necessidades coletivas (sauacutede educaccedilatildeo previdecircncia lazer etc)

Necessidades de reproduccedilatildeo estas que ao serem incorporadas pelo capital

expandem a oferta de serviccedilos sociais que satildeo necessaacuterios para a reproduccedilatildeo do

trabalho e do capital Esses mecanismos de administraccedilatildeo dos efeitos da

desigualdade econocircmica incluem o investimento do Estado em diversas instituiccedilotildees

Dentro do contexto neoliberal tambeacutem os serviccedilos sociais participam

diretamente do processo de acumulaccedilatildeo do capital Serviccedilos como sauacutede educaccedilatildeo

e previdecircncia que seriam responsabilidade do Estado passaram a ser

mercantilizados que ao serem incorporados pelo capital esses serviccedilos passaram a

uma utilidade social voltada para o lucro ldquordquode modo a atender agraves necessidades das

induacutestrias seja ela farmacecircutica de equipamentos de produccedilatildeo da cesta baacutesica

dos proprietaacuterios de grandes hospitais creches e escolas bem como do setor

financeiro voltado para os seguros de vida e previdecircnciardquordquo (MOTA 1998 p110)

A distribuiccedilatildeo dos bens na sociedade capitalista ocorre de forma desigual a

desigualdade social eacute o resultado direto da dinacircmica de exploraccedilatildeo colocada pelo

capitalismo ao ser social O que o trabalhador ganha natildeo consegue manter o seu

proacuteprio sustento eacute privado de seus direitos natildeo consegue manter o miacutenimo

necessaacuterio para sua sobrevivecircncia e com isso recorrem ao Estado para obter

respostas melhorias na situaccedilatildeo econocircmica voltam-se para poliacuteticas puacuteblicas

ofertadas e de acordo com Soares

32

Uma das estrateacutegias neoliberais mais disseminadas () eacute a focalizaccedilatildeo A ideacuteia eacute a de que os gastos e os serviccedilos sociais puacuteblicosestatais passem a ser dirigidos exclusivamente aos pobres Ou seja somente aqueles comprovadamente pobres via ldquotestes de pobrezardquo ou ldquotestes meiosrdquo (baseados nos means tests dos programas sociais norte-americanos) podem ter acesso aos serviccedilos puacuteblicos No acircmbito das poliacuteticas sociais a estrateacutegia da focalizaccedilatildeo eacute o correlato da individualizaccedilatildeo da forccedila de trabalho e da possibilidade estrutural da exclusatildeo de uma parte dela do mercado de trabalho ou seja da forma ldquolegiacutetimardquo de acessar os recursos (SOARES 2000 p 79)

Parafraseando Netto (1996) a reestruturaccedilatildeo do capital mundializado

intensifica-se no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX ocorrendo grandes

mudanccedilas na gestatildeo e forccedila de trabalho e na relaccedilatildeo de classes interferindo

fortemente na atuaccedilatildeo dos profissionais conhecimentos e implementaccedilatildeo nas mais

diversas aacutereas de atuaccedilatildeo

Segundo Montantildeo

Desta forma a desregulamentaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo das relaccedilotildees trabalhistas e a reestruturaccedilatildeo produtiva vatildeo da matildeo da reforma do Estado sobretudo na sua desresponsabilizaccedilatildeo da intervenccedilatildeo na resposta agraves sequelas da ldquoquestatildeo socialrdquo Agora o mercado seraacute a instacircncia por excelecircncia de regulaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo social O ldquoigualitarismordquo promovido pelo Estado intervencionista deve ser na oacutetica neoliberal combatido No seu lugar a desigualdade e a concorrecircncia satildeo concebidas como motores do estiacutemulo e desenvolvimento social (MONTANtildeO 2002 pag 53-64)

No Brasil com a globalizaccedilatildeo inserem-se contextos problemaacuteticos sendo

estes do ponto de vista econocircmico poliacutetico cultural e social de dimensotildees internas

e externas regionais e intercontinentais de raiacutezes seculares e contemporacircneas Haacute

uma concentraccedilatildeo de terra de riqueza e de bens nas matildeos de poucos associam-

se agraves praacuteticas histoacutericas de clientelismo de favor e outras praacuteticas autoritaacuterias e

conservadoras ao lado de outras mais modernas sintonizadas ao mundo

globalizado e de revoluccedilatildeo tecnoloacutegica sem precedentes com isso o paiacutes sofre um

alto grau de desigualdade e injusticcedilas Entatildeo a situaccedilatildeo de vulnerabilidade social se

agrava e com isso aumenta o desemprego violecircncia drogadiccedilatildeo os direitos

adquiridos satildeo retirados dos cidadatildeos quem estaacute qualificado ingressa no mercado

e os desqualificados profissionalmente ficam fora do mesmo No mundo capitalista

33

soacute tem valor quem de alguma forma possa contribuir para o crescimento econocircmico

O ldquonovo Mercadordquo capitalista globalizado associado agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas em

curso gerencia e controla as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo entre os indiviacuteduos

grupos classes naccedilotildees Altera os costumes as esperanccedilas e as expectativas de

homens mulheres e crianccedilas no cotidiano Acontece uma invasatildeo na vida dos seres

humanos em sua totalidade transformando o mundo numa ldquoimensa faacutebrica globalrdquo

Marx e Engels expotildeem

A produccedilatildeo das ideias das representaccedilotildees da consciecircncia estaacute em princiacutepio diretamente entrelaccedilada com a atividade material e o intercacircmbio material dos homens linguagem da vida real O representar o pensar o intercacircmbio espiritual dos homens aparece aqui ainda como direta exsudaccedilatildeo do seu comportamento material O mesmo se aplica agrave produccedilatildeo espiritual como ela se apresenta na linguagem da poliacutetica das leis da moral da religiatildeo da metafiacutesica etc Os homens satildeo os produtores das suas representaccedilotildees ideias etc e precisamente os homens condicionados pelo modo de produccedilatildeo da sua vida material pelo seu intercacircmbio material e o seu desenvolvimento posterior na estrutura social e poliacutetica (MARX E ENGELS 2009 p31)

O sistema de proteccedilatildeo social tornou-se precaacuterio natildeo conseguindo responder

agraves novas demandas apresentadas Com a Reforma do Estado no governo de

Fernando Henrique Cardoso na deacutecada de 90 ocorre a reduccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos os gastos governamentais sofrem grandes cortes A reforma acontece por

diversos fatores tais como o endividamento puacuteblico natildeo eacute possiacutevel acompanhar a

globalizaccedilatildeo a autonomia dos Estados se torna reduzida natildeo gerindo as proacuteprias

poliacuteticas econocircmicas e sociais o Estado funcionava de forma distorcida A reforma

do Estado ldquordquoexpressa uma composiccedilatildeo das forccedilas sociais a concretizaccedilatildeo de um

movimento conservador que buscou suprimir os avanccedilos construiacutedos a partir do

modelo do Estado de Bem-Estar Socialrdquo(COSTA 2006 p154)

Todos os ganhos sociais aconteceram a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 que incorpora os direitos sociais garantindo a proteccedilatildeo social universal sob a

responsabilidade do Estado e trazendo o tripeacute da seguridade social sendo Sauacutede

Assistecircncia e Previdecircncia o mesmo eacute desmontado Ocorre a fragmentaccedilatildeo dos

direitos as poliacuteticas sociais se tornam desqualificadas individualistas ldquordquoNo projeto

de FHC a poliacutetica social aparece inteiramente subordinada agrave orientaccedilatildeo

macroeconocircmica que por sua vez eacute estabelecida segundo os ditames do grande

34

capitalrdquordquo (NETTO 2000) Os direitos sociais ficam abalados e a classe trabalhadora

sofre grandes consequecircncias a miseacuteria se amplia cresce a exploraccedilatildeo dos

trabalhadores o trabalho acontece de forma parcial temporaacuteria haacute uma

flexibilizaccedilatildeo no mundo do trabalho o que traz uma desregulamentaccedilatildeo das leis

trabalhistas

No neoliberalismo ocorre a naturalizaccedilatildeo do ordenamento capitalista e das

desigualdades sociais e o desmonte das conquistas sociais da classe trabalhadora

consubstanciados nos direitos sociais que tecircm no Estado uma mediaccedilatildeo

fundamental As conquistas sociais alcanccedilada satildeo vistos como problemas eou

dificuldades causando gastos sociais desnecessaacuterios algo que impede o

desenvolvimento e a liquidez financeira do Estado sendo apontados como a

principal causa de sua crise fiscal

Yazbek afirma que

O pensamento liberal estimula um vasto empreendimento de ldquorefilantropizaccedilatildeo do socialrdquo jaacute que natildeo admite os direitos sociais uma vez que os metamorfoseia em dever moral Opera uma profunda despolitizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo ao desqualificaacute-la como questatildeo puacuteblica questatildeo poliacutetica e questatildeo nacional Eacute nesse sentido que a atual desregulamentaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas e dos direitos sociais desloca a atenccedilatildeo agrave pobreza para a iniciativa privada ou individual impulsionada por motivaccedilotildees solidaacuterias e benemerentes submetidas ao arbiacutetrio do indiviacuteduo isolado e natildeo agrave responsabilidade puacuteblica do Estado As consequecircncias do tracircnsito da atenccedilatildeo agrave pobreza da esfera puacuteblica dos direitos para a dimensatildeo privada do dever moral satildeo a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua reclamaccedilatildeo judicial a dissoluccedilatildeo de continuidade da prestaccedilatildeo dos serviccedilos submetidos agrave decisatildeo privada tendentes a aprofundar o traccedilo histoacuterico assistencialista e a regressatildeo dos direitos sociais (YAZBEK 2001 P 37)

A poliacutetica social neoliberal eacute excludente e individualista os indiviacuteduos satildeo

culpabilizados pela situaccedilatildeo em que se encontram e natildeo o sistema que eacute na

realidade o verdadeiro culpado O Estado retira sua responsabilidade com a

populaccedilatildeo

Segundo Soares

A filantropia substitui o direito social Os pobres substituem os cidadatildeos A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva O emergencial e o provisoacuterio substituem o permanente As micros

35

situaccedilotildees substituem as poliacuteticas puacuteblicas O local substitui o regional e o nacional Eacute o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalizaccedilatildeo da economia Globalizaccedilatildeo soacute para o grande capital Do trabalho e da pobreza cada um cuida do seu como puder De preferecircncia um Estado forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social (SOARES 2003 p 12)

A proacutepria sociedade se torna responsaacutevel pelas classes subalternas

juntamente com as empresas que tambeacutem investem em serviccedilos sociais para a

populaccedilatildeo

Montano afirma

Por um lado a crise e a suposta escassez de recursos servem de pretexto para justificar a retirada do Estado da sua responsabilidade social e a expansatildeo dos serviccedilos comerciais ou desenvolvidos num suposto ldquoterceiro setorrdquo Por outro a recorrente afirmaccedilatildeo de que existiria hoje uma ldquonova questatildeo socialrdquo tem implicitamente o claro objetivo de justificar um novo trato agrave ldquoquestatildeo socialrdquo assim se haacute uma nova ldquoquestatildeo socialrdquo seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de intervir nela supostamente mais adequada agraves questotildees atuais Na verdade a ldquoquestatildeo socialrdquo ndash que expressa a contradiccedilatildeo capital-trabalho as lutas de classe a desigual participaccedilatildeo na distribuiccedilatildeo de riqueza social ndash continua inalterada o que se verifica eacute o surgimento e alteraccedilatildeo na contemporaneidade de suas refraccedilotildees e expressotildees O que haacute satildeo novas manifestaccedilotildees da velha ldquoquestatildeo socialrdquo (MONTANtildeO 2002 p 53-64)

As expressotildees da questatildeo social com a globalizaccedilatildeo ganham novas

roupagens e estas comeccedilam a ser enfrentadas por um terceiro setor12 O Estado

passou a ser o miacutenimo para a sociedade e maacuteximo para o capital As poliacuteticas

sociais no terceiro setor satildeo fragmentadas

De acordo com Montantildeo

Tendem a multifragmentaccedilatildeo do trato da lsquoquestatildeo socialrsquo pois aleacutem da sua setorializaccedilatildeo geneacutetica elas satildeo agora fragmentadas dada agrave pequena aacuterea de abrangecircncia das organizaccedilotildees deste setor em microespaccedilos [] O chamado lsquoterceiro setorrsquo mal poderia compensar em quantidade qualidade variedade e abarcabilidade as poliacuteticas sociais e assistenciais abandonadas pelo Estado [] (MONTANtildeO1999 p 47-49)

12 ldquoTerceiro setorrdquo eacute compreendido na interpretaccedilatildeo governamental como ldquonatildeo governamental natildeo lucrativo e voltado ao desenvolvimento socialrdquo (IAMAMOTO 2003 25)

36

Parafraseando Montantildeo (2002) o terceiro setor veio para escamotear e

mistificar os processos de transformaccedilotildees sociais criando uma visatildeo de que tudo eacute

possiacutevel retirando dos trabalhadores os direitos conquistados pois a parcela de

serviccedilos que eacute repassada atraveacutes destas instituiccedilotildees estaacute longe do que realmente eacute

de direito do trabalhador

Com a globalizaccedilatildeo grandes avanccedilos foram alcanccedilados a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees maior interaccedilatildeo da economia poliacutetica e cultura entre os paiacuteses Mas

natildeo eacute beneacutefica a todos excluindo uma grande parte da populaccedilatildeo faltam

oportunidades de emprego conhecimento entre outros O capitalismo globaliza natildeo

soacute a produccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a troca e o consumo mas tambeacutem as coisas gentes

ideias cultura o Estado as instituiccedilotildees

37

II CAPIacuteTULO ndash O SUAS E SEUS MECANISMOS DE PROTECcedilAtildeO SOCIAL A

INTERVENCcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROTECcedilAtildeO SOCIAL BAacuteSICA

21 O Suas e os direitos sociais no contexto da PNAS

A Assistecircncia Social tem como perspectiva elevar a condiccedilatildeo de cidadatildeos

que agraves vezes ainda se encontram invisiacuteveis ao Estado e ao alcance dos direitos

sociais Desta forma a mesma se inscreve na esfera da responsabilidade puacuteblica na

garantia de atendimento agraves necessidades baacutesicas e portanto central na produccedilatildeo

de mecanismos relativamente compensadores das disparidades sociais Nesse

sentido a proteccedilatildeo social dela decorrente implica em uma dinacircmica permanente de

contratualizaccedilatildeo entre os diferentes sujeitos para garantir e efetivar direitos

socialmente estabelecidos

Neste sentido de acordo com Couto o direito social

Eacute um produto histoacuterico construiacutedo pelas lutas da classe trabalhadora no conjunto das relaccedilotildees de institucionalidade da sociedade de mercado para incorporar o atendimento de suas necessidades sociais agrave vida cotidiana Na base do direito social a ideia de que as dificuldades enfrentadas pelos homens para viver com dignidade devem ser assumidas coletivamente pela sociedade com supremacia da responsabilidade de cobertura pelo Estado ao qual compete a criaccedilatildeo um sistema institucional capaz de dar conta dessas demandas E no seu estaacutegio maduro a sociedade vale-se da jurisdiccedilatildeo para garantir o acesso de todos aos direitos civis poliacuteticos ou sociais sendo que as constituiccedilotildees tecircm sido um dos principais mecanismos que representam essa pactuccedilatildeo (COUTO B R 2004 p 55)

A assistecircncia social ateacute o ano de 1988 tinha suas accedilotildees realizadas de forma

assistencialista e seletiva onde passou a ser tratada constitucionalmente como

direito a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem denominada ldquoConstituiccedilatildeo

Cidadatilderdquo significou um grande avanccedilo para a conquista da democracia no paiacutes pois

estabeleceu princiacutepios democraacuteticos reconhecendo em seu texto direitos poliacuteticos

civis e sociais aleacutem de ser considerada um marco fundamental nesse processo de

reconhecimento da assistecircncia social como poliacutetica puacuteblica pois somente a partir

desta a assistecircncia Social foi inserida na poliacutetica de seguridade social como ldquoum

conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa dos Poderes Puacuteblicos e da sociedade

38

destinadas a assegurar os direitos relativos agrave sauacutede agrave previdecircncia e agrave assistecircnciardquo

(BRASIL 1988 art 194)

Parafrasendo Sposati

A inclusatildeo da assistecircncia social na seguridade social foi uma decisatildeo plenamente inovadora Primeiro por tratar esse campo como deconteuacutedo da poliacutetica puacuteblica de responsabilidade estatal e natildeo como uma nova accedilatildeo com atividades e atendimentos eventuais Segundo por desnaturalizar o princiacutepio da subsidiariedade pelo qual a accedilatildeo da famiacutelia e da sociedade antecedia a do Estado () Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais(SPOSATI 2009 p14)

A constituiccedilatildeo afirma que a assistecircncia social seraacute prestada a quem dela

necessitar independente da contribuiccedilatildeo deixando expliacutecito em seus objetivos

I ndash a proteccedilatildeo agrave famiacutelia agrave maternidade agrave infacircncia agrave adolescecircncia e agrave velhice II ndash o amparo agraves crianccedilas e adolescentes carentes III ndash a promoccedilatildeo da integraccedilatildeo ao mercado de trabalho IV ndash a habilitaccedilatildeo e reabilitaccedilatildeo das pessoas portadoras de deficiecircncia e a promoccedilatildeo de sua integraccedilatildeo agrave vida comunitaacuteria V ndash a garantia de um salaacuterio miacutenimo de benefiacutecio mensal agrave pessoa portadora de deficiecircncia e ao idoso que comprovem natildeo possuir meios de prover a proacutepria manutenccedilatildeo ou de tecirc-la provida por sua famiacutelia conforme dispuser a lei (BRASIL 1988)

A CF88 foi um marco histoacuterico ao ampliar legalmente a proteccedilatildeo social para

aleacutem da vinculaccedilatildeo com o emprego formal mas somente em 1993 que a

assistecircncia social dispocircs de sua organizaccedilatildeo atraveacutes da Lei Orgacircnica da

Assistecircncia Social (LOAS) nordm 8742 aprovada no dia 07 de dezembro

estabelecendo uma nova matriz para a assistecircncia social brasileira enquanto

poliacutetica puacuteblica de proteccedilatildeo social rompendo com a longa tradiccedilatildeo cultural e poliacutetica

de assistencialismo A LOAS para a assistecircncia social eacute muito mais que um texto

legal contendo um conjunto de ideias de concepccedilatildeo de direitos ela vem para

discutir a questatildeo da Assistecircncia Social substituindo a visatildeo centrada na caridade e

no favor

Para Yazbek a LOAS

39

ldquoexpressa uma mudanccedila fundamental na concepccedilatildeo da Assistecircncia Social que se afirma como direito como uma das poliacuteticas estrateacutegicas de combate agrave pobreza agrave discriminaccedilatildeo e agrave subalternidade em que vive grande parte da populaccedilatildeo brasileirardquo (YAZBEK 2012 p 304)

A LOAS vem para reafirmar o dispositivo do artigo 204 da Constituiccedilatildeo

Federal de 88 onde

Art 204 As accedilotildees governamentais na aacuterea da assistecircncia social seratildeo realizadas com recursos do orccedilamento da seguridade social previstos no art 195 aleacutem de outras fontes e organizadas com base nas seguintes diretrizes I - descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa cabendo a coordenaccedilatildeo e as normas gerais agrave esfera federal e a coordenaccedilatildeo e a execuccedilatildeo dos respectivos programas agraves esferas estadual e municipal bem como a entidades beneficentes e de assistecircncia social II - participaccedilatildeo da populaccedilatildeo por meio de organizaccedilotildees representativas na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e no controle das accedilotildees em todos os niacuteveis Paraacutegrafo uacutenico Eacute facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio agrave inclusatildeo e promoccedilatildeo social ateacute cinco deacutecimos por cento de sua receita tributaacuteria liacutequida vedada a aplicaccedilatildeo desses recursos no pagamento de I - despesas com pessoal e encargos sociais II - serviccedilo da diacutevida III - qualquer outra despesa corrente natildeo vinculada diretamente aos investimentos ou accedilotildees apoiados (BRASIL 1993)

A Lei Orgacircnica em seu artigo primeiro define

A assistecircncia social direito do cidadatildeo e dever do Estado eacute Poliacutetica de Seguridade Social natildeo contributiva que provecirc os miacutenimos sociais realizada atraveacutes de um conjunto integrado de accedilotildees de iniciativa puacuteblica e da sociedade para garantir o atendimento agraves necessidades baacutesicas (BRASIL1993)

Parafraseando Sposati a LOAS estabeleceu uma gestatildeo descentralizada e

democratizada da assistecircncia social sendo uma das aquisiccedilotildees fundamentais a

incorporaccedilatildeo de novos elementos ao debate desta poliacutetica decorrentes da

instalaccedilatildeo da relaccedilatildeo participativa entre os trecircs niacuteveis de governo e destes com a

sociedade (SPOSATI 2001 p54-82)

Logo apoacutes a aprovaccedilatildeo da LOAS as teses neoliberais ganharam forccedila em

todo o mundo capitalista principalmente a partir de 1995 sob a orientaccedilatildeo do Banco

Mundial foram implementadas reformas ancoradas na necessidade de limitaccedilatildeo do

40

Estado As praacuteticas poliacuteticas inspiradas no neoliberalismo foram amplamente

disseminadas no conjunto da sociedade as quais conduziram agrave privatizaccedilatildeo do

Estado desnacionalizaccedilatildeo da economia desemprego e desproteccedilatildeo social

O neoliberalismo especialmente a partir do ano de 1995 impediu que a

assistecircncia social se constituiacutesse como uma poliacutetica de seguridade social como

normatizado na LOAS impedindo sua efetivaccedilatildeo As accedilotildees sobrepostas

descontiacutenuas fragmentadas e sem impacto bem como o reduzido grau de

responsabilidade do Estado no enfrentamento agrave pobreza ainda marcavam a poliacutetica

de assistecircncia social

A LOAS em 2003 completava dez anos e a assistecircncia social ainda natildeo

havia avanccedilado como uma poliacutetica de seguridade social Sendo assim em

dezembro desse mesmo ano ocorre a IV Conferecircncia Nacional de Assistecircncia

Social realizada em Brasiacutelia teve como principal deliberaccedilatildeo a construccedilatildeo e

implementaccedilatildeo do Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social (SUAS) a fim de que

fossem normatizadas as atribuiccedilotildees de cada esfera de governo e estabelecida uma

rede de atendimento para a efetivaccedilatildeo da Assistecircncia Social como poliacutetica puacuteblica

materializando as diretrizes contidas na LOAS (BREVILHERI amp PASTOR 2013 p

02)

Entatildeo em junho de 2004 o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e

Combate agrave Fome Cumprindo a decisatildeo da IV Conferecircncia Nacional apresentou e o

Conselho Nacional aprovou a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social (PNAS2004)

na qual foram definidas as bases para o novo modelo de gestatildeo da Poliacutetica de

Assistecircncia Social em todo o territoacuterio brasileiro o Sistema Uacutenico de Assistecircncia

Social ndash SUAS

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social eacute conduzida pelos princiacutepios

democraacuteticos

I- Supremacia do atendimento agraves necessidades sociais sobre as exigecircncias de rentabilidade econocircmica II- Universalizaccedilatildeo dos direitos sociais a fim de tornar o destinataacuterio da accedilatildeo assistencial alcanccedilaacutevel pelas demais poliacuteticas puacuteblicas III- Respeito agrave dignidade do cidadatildeo agrave sua autonomia e ao seu direito a benefiacutecios e serviccedilos de qualidade bem como agrave convivecircncia familiar e comunitaacuteria vedando-se qualquer comprovaccedilatildeo vexatoacuteria de necessidade

41

IV- Igualdade de direitos no acesso ao atendimento sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se equivalecircncia agraves populaccedilotildees urbanas e rurais V- Divulgaccedilatildeo ampla dos benefiacutecios serviccedilos programas e projetos assistenciais bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Puacuteblico e dos criteacuterios para sua concessatildeo (PNAS 2004 p 26)

A organizaccedilatildeo disciplina e operacionalizaccedilatildeo da gestatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social eacute feita atraveacutes da Norma Operacional Baacutesica 2005 conforme a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 A LOAS eacute a legislaccedilatildeo complementar aplicaacutevel nos

termos da Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social de 2004 sob a eacutegide de

construccedilatildeo do SUAS abordando dentre outras coisas a divisatildeo de competecircncias e

responsabilidades entre as trecircs esferas de governo com base na descentralizaccedilatildeo

da gestatildeo

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social eacute alvo de consideraccedilotildees importantes

citado por LOPES

O Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social em construccedilatildeo no paiacutes eacute a materializaccedilatildeo de uma agenda democraacutetica cuja biografia tem raiacutezes histoacutericas nas lutas e contradiccedilotildees que compotildeem esse direito social que foram e satildeo objeto da atenccedilatildeo de intelectuais da atuaccedilatildeo de militantes e da accedilatildeo de trabalhadores sociais em todo o paiacutes Esse processo histoacuterico de alguma duraccedilatildeo perto de quatro deacutecadas continua a requisitar muita atenccedilatildeo jaacute que aparece como referecircncia para a montagem da nova condiccedilatildeo da poliacutetica de assistecircncia social em curso Esta justa ldquoretrovisatildeordquo assessora o enfrentamento dos desafios colossais que envolve o projeto e o processo desse ineacutedito sistema e garante a manutenccedilatildeo do seu compromisso central que eacute solapar o flagrante desmonte do sistema de direitos sociais arduamente conquistados que andava em curso no Brasil ateacute 2003 (LOPES 2006 p 77)

Segundo Yasbek

A descentralizaccedilatildeo contribui para o reconhecimento das particularidades e interesses proacuteprios do municiacutepio e como possibilidade de levar os serviccedilos para mais perto da populaccedilatildeo () [e] a municipalizaccedilatildeo aproxima o Estado do cotidiano de sua populaccedilatildeo possibilitando-lhe uma accedilatildeo fiscalizatoacuteria mais efetiva permite maior racionalidade nas accedilotildees economia de recursos e maior possibilidade de accedilatildeo intersetorial e interinstitucional(YASBEK 2004 p 16)

42

O SUAS teraacute como princiacutepios fundamentais a matricialidade soacuteciofamiliar

territorializaccedilatildeo proteccedilatildeo proacute-ativa integraccedilatildeo agrave seguridade social integraccedilatildeo agraves

poliacuteticas sociais e econocircmicas Vai indicar como garantias dessa proteccedilatildeo a

seguranccedila de acolhida a seguranccedila social de renda a seguranccedila do conviacutevio ou

vivecircncia familiar comunitaacuteria e social a seguranccedila do desenvolvimento da

autonomia individual familiar e a seguranccedila de sobrevivecircncia a riscos

circunstanciais (NOBSUAS 2005 p18)

A matricialidade sociofamiliar tem a famiacutelia como o foco do atendimento

socioassiatencial eacute considerada o ldquonuacutecleo social baacutesico de acolhida conviacutevio

autonomia sustentabilidade e protagonismo social e espaccedilo privilegiado e

insubstituiacutevel de proteccedilatildeo e socializaccedilatildeo primaacuterias dos indiviacuteduosrdquo (MDS 2009

p12)

De acordo com Teixeira

Na matricialidade sociofamiliar em que se daacute primazia agrave atenccedilatildeo agraves famiacutelias e seus membros a partir do territoacuterio de vivecircncia com prioridade agravequelas mais vulnerabilizadas uma estrateacutegia efetiva contra a setorializaccedilatildeo segmentaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo dos atendimentos levando em consideraccedilatildeo a famiacutelia em sua totalidade como unidade de intervenccedilatildeo aleacutem do caraacuteter preventivo da proteccedilatildeo social de modo a fortalecer os laccedilos e viacutenculos sociais de pertencimento entre seus membros de modo a romper com o caraacuteter de atenccedilatildeo emergencial e poacutes-esgotamento das capacidades protetivas da famiacutelia (TEIXEIRA 2009 p 257)

A famiacutelia tem o papel de pilar da proteccedilatildeo social e o Estado auxilia nesta

responsabilidade para o enfrentamento agraves situaccedilotildees de riscos e vulnerabilidades

em que se encontram A PNAS (BRASIL 2004 p32) confere centralidade agrave famiacutelia

nas accedilotildees da poliacutetica de Assistecircncia Social por compreendecirc-la como sujeito de

direitos Reconhece como famiacutelia um conjunto de pessoas que se acham unidas por

laccedilos consanguiacuteneos afetivos e ou de solidariedade

A territorializaccedilatildeo vai passar a reconhecer os diversos fatores sociais e

econocircmicos que levam uma famiacutelia a uma situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social

aleacutem de orientar a proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social na perspectiva do alcance

da universalidade de cobertura aos indiviacuteduos e famiacutelias A proteccedilatildeo proacute-ativa eacute um

conjunto de accedilotildees que vatildeo buscar reduzir a ocorrecircncia de riscos e danos sociais jaacute

43

para a seguranccedila de acolhida seratildeo oferecidos espaccedilos e serviccedilos para a proteccedilatildeo

social baacutesica dos usuaacuterios que necessitarem dela e a seguranccedila social de renda

que seraacute feita por meio de bolsas- auxiacutelios financeiros atraveacutes de condicionalidades

A Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social contribuiu para a constituiccedilatildeo do

SUAS onde a proteccedilatildeo social eacute dividida em Proteccedilatildeo Social Baacutesica e Proteccedilatildeo

Social Especial (de meacutedia e alta complexidade)

A proteccedilatildeo social da Assistecircncia Social se ocupa das vitimizaccedilotildees fragilidades contingecircncias vulnerabilidades e riscos que o cidadatildeo a cidadatilde e suas famiacutelias enfrentam na trajetoacuteria do seu ciclo de vida por decorrecircncia de imposiccedilotildees sociais econocircmicas poliacuteticas e de ofertas agrave dignidade humana [] Em suas accedilotildees produz aquisiccedilotildees materiais sociais socioeducativas ao cidadatildeo e cidadatilde e suas famiacutelias para suprir suas necessidades de reproduccedilatildeo social de vida individual e familiar desenvolver suas capacidades e talentos para a convivecircncia social protagonismo e autonomia (BRASIL 2005 p89)

O SUAS vem para consolidar a visatildeo de que a Assistecircncia Social eacute um

direito de quem dela necessitar e que deve ser efetivado por meio de poliacuteticas

puacuteblicas e natildeo uma accedilatildeo conservadora e voluntarista do Estado para com os que se

encontram em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social Tem como principal porta de

entrada o CRAS (Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social) dada sua

capilaridade nos territoacuterios e eacute responsaacutevel pela organizaccedilatildeo e oferta de serviccedilos da

Proteccedilatildeo Social Baacutesica nas aacutereas de vulnerabilidade e risco social eacute uma unidade

estatal descentralizada da PNAS (Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social) tem como

funccedilatildeo gestatildeo territorial da rede de assistecircncia social baacutesica promovendo a

organizaccedilatildeo e a articulaccedilatildeo das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos

A Proteccedilatildeo Social de Assistecircncia Social consiste no conjunto de accedilotildees cuidados atenccedilotildees benefiacutecios e auxiacutelios ofertados pelo Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social para reduccedilatildeo e preservaccedilatildeo do impacto das vicissitudes sociais e naturais ao ciclo da vida agrave dignidade humana e agrave famiacutelia como nuacutecleo baacutesico de sustentaccedilatildeo afetiva bioloacutegica e relacional (NOBSUAS 2005 p16)

O principal serviccedilo ofertado pelo CRAS eacute o Serviccedilo de Proteccedilatildeo e

Atendimento Integral agrave Famiacutelia (PAIF) cuja execuccedilatildeo eacute obrigatoacuteria e exclusiva eacute

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tambeacutem de sua responsabilidade o Serviccedilo de Convivecircncia e Fortalecimento de

Viacutenculos Serviccedilo de Proteccedilatildeo Social Baacutesica no Domiciacutelio para Pessoas com

Deficiecircncia e Idosas Conforme a Tipificaccedilatildeo Nacional de Serviccedilos

Socioassistenciais (2009) o PAIF eacute baseado no respeito agrave heterogeneidade dos

arranjos familiares aos valores crenccedilas e identidades das famiacutelias Fundamenta-se

no fortalecimento da cultura do diaacutelogo no combate a todas as formas de violecircncia

preconceito de discriminaccedilatildeo e de estigmatizaccedilatildeo nas relaccedilotildees familiares Assim

realiza accedilotildees com famiacutelias que possuem pessoas que necessitam de maior

atenccedilatildeo com foco na troca de informaccedilotildees sobre questotildees relativas agrave primeira

infacircncia agrave adolescecircncia agrave juventude ao envelhecimento e deficiecircncias a fim de

promover espaccedilos para a troca de experiecircncias expressatildeo de dificuldades e

reconhecimento de possibilidades (TIPIFICACcedilAtildeO NACIONAL DE SERVICcedilOS

SOCIOASSISTENCIAIS 2009 p 8-59)

Nas orientaccedilotildees teacutecnicas do PAIF volume I (2012) o serviccedilo deve atender

todas as famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social do territoacuterio mas as

ocorrecircncias de determinadas situaccedilotildees que atingem algum de seus membros podem

ser um indicador de que a famiacutelia demanda um olhar peculiar tais como Famiacutelias

com integrantes sem a devida documentaccedilatildeo civil Famiacutelias com viacutenculos

fragilizados entre pais e filhos de 0 a 6 anos Famiacutelias com jovens de 15 a 17 anos

com defasagem escolar e com fraacutegil ou nulo acesso a serviccedilos socioassistenciais e

setoriais de apoio Famiacutelias com adolescentes graacutevidas com precaacuterias condiccedilotildees

para prover seu sustento Famiacutelias que natildeo conseguem garantir a seguranccedila

alimentar de seus membros Famiacutelias com denuacutencias de negligecircncia a algum de

seus membros Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia entre seus membros

adultos Famiacutelias com episoacutedios pregressos de violecircncia contra crianccedilaadolescente

(abuso sexual violecircncia fiacutesica ou violecircncia psicoloacutegica) Famiacutelias que tiveram

crianccedilaadolescente em abrigo casa-lar ou famiacutelia acolhedora Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilatildeo de traacutefico de seres humanos Famiacutelias com

integrante egresso de situaccedilotildees anaacutelogas a trabalho escravo Famiacutelias com um ou

mais integrantes desaparecidos falecidos internos ou egressos do sistema

prisional com especial atenccedilatildeo agraves internas gestantes e nutrizes Famiacutelias com

integrante com histoacuteria de uso abusivo de aacutelcool e outras drogas Famiacutelias com

pessoas com deficiecircncia eou pessoas idosas que vivenciam situaccedilotildees de

vulnerabilidade e risco social

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A equipe de referecircncia do CRAS eacute constituiacuteda por profissionais responsaacuteveis

pela gestatildeo territorial da proteccedilatildeo baacutesica organizaccedilatildeo dos serviccedilos ofertados no

CRAS e pela oferta do PAIF Sua composiccedilatildeo eacute regulamentada pela Norma

Operacional Baacutesica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RHSUAS e depende do

nuacutemero de famiacutelias referenciadas ao CRAS conforme Ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas dois teacutecnicos com niacutevel meacutedio e dois teacutecnicos com niacutevel superior

sendo um assistente social e outro preferencialmente psicoacutelogo 3500 famiacutelias

referenciadas satildeo trecircs teacutecnicos com niacutevel meacutedio e trecircs teacutecnicos com niacutevel superior

sendo dois assistentes sociais e preferencialmente um psicoacutelogo 5000 famiacutelias

referenciadas satildeo quatro teacutecnicos com niacutevel meacutedio e quatro teacutecnicos com niacutevel

superior sendo dois assistentes sociais um psicoacutelogo e um profissional que compotildee

o SUAS (ORIENTACcedilOtildeES TEacuteCNICAS DO CRAS 2009 pg 53)

Dentro do CRAS o Assistente Social eacute o Agente privilegiado pois sua praacutetica

concretiza plenamente a accedilatildeo institucional Tecircm um saber pleno quanto ao objeto

institucional e a partir desse saber necessita buscar posiccedilatildeo estrateacutegica em relaccedilatildeo

agrave accedilatildeo institucional

Segundo a ABEPSS (1996) (Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviccedilo Social) ldquordquocompete ao Assistente Social da poliacutetica de Assistecircncia Social

identificar analisar e compreender as demandas presentes na sociedade e seus

significados e formular respostas agraves mesmas para enfrentar as diversas

expressotildees da questatildeo socialrdquordquo

[]o perfil doa assistente social para atuar na poliacutetica de Assistecircncia Social deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmaacuteticas que reforccedilam as praacuteticas conservadoras que tratam as situaccedilotildees sociais como problemas pessoais que devem ser resolvidos individualmenterdquo [](CEFESS 2011 p 18)

Para que a atuaccedilatildeo seja eficiente natildeo pode haver uma dissociaccedilatildeo da

teoriapraacutetica pois ambas estatildeo correlacionadas O profissional de Serviccedilo Social

necessita buscar atualizaccedilotildees constantemente para poder lidar com as

transformaccedilotildees societaacuterias e suas implicaccedilotildees para a profissatildeo

Neste sentido Netto aponta para

46

ldquonecessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopoliacutetico) para as questotildees que caem no seu acircmbito de intervenccedilatildeo institucional [] as possibilidades objetivas de ampliaccedilatildeo e enriquecimento do espaccedilo profissional [] soacute seratildeo convertidas em ganhos profissionais [] se o Serviccedilo Social puder antecipaacute-lasrdquo O autor ainda ressalta que estas seratildeo caracterizadas ldquopor tensotildees e conflitos na definiccedilatildeo de papeacuteis e atribuiccedilotildees com outras categorias socioprofissionaisrdquo (NETTO 1996 p 124)

O Assistente Social no Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social atua

como interventor na aplicaccedilatildeo efetiva das diferentes accedilotildees previstas pela poliacutetica

socioassistencial

A Proteccedilatildeo Social de meacutedia e alta complexidade eacute ofertada agraves famiacutelias e

cidadatildeos de forma contiacutenua em situaccedilotildees de risco pessoal e social quando ocorre

negligecircncia ameaccedilas maus tratos violaccedilotildees fiacutesicas e psiacutequicas abandono entre

outros Tem como objetivo resgatar a famiacutelia potencializar sua capacidade de

proteccedilatildeo aos seus membros Fortalecendo a autoestima dos indiviacuteduos e familiares

para que haja fortalecimento entre os membros da famiacutelia dos usuaacuterios visando a

reinserccedilatildeo dos mesmos na sociedade

O CREAS (Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia Social) oferta

os serviccedilos eacute fundamentado pela Poliacutetica Nacional de Assistecircncia Social tendo por

funccedilatildeo efetuar accedilotildees proporcionando atendimento ldquordquoagraves famiacutelias e indiviacuteduos com

seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiares e comunitaacuterios natildeo foram

rompidosrdquordquo (BRASIL PNAS2004 p 38)

Oferta a Proteccedilatildeo e Atendimento Especializado agrave Famiacutelia e Indiviacuteduos

(PAEFI) O PAEFI eacute um serviccedilo de apoio orientaccedilatildeo e acompanhamento a famiacutelias

com um ou mais de seus membros em situaccedilatildeo de ameaccedila ou violaccedilatildeo de direitos

A atuaccedilatildeo dos profissionais no CREAS tem como intuito fortalecer viacutenculos e

buscar a reconstruccedilatildeo dos laccedilos familiares e comunitaacuterios visando a superaccedilatildeo da

situaccedilatildeo de violaccedilatildeo de direitos vivenciada

Satildeo considerados serviccedilos de meacutedia complexidade os que

Oferecem atendimentos agraves famiacutelias e indiviacuteduos com seus direitos violados mas cujos viacutenculos familiar e comunitaacuterio natildeo foram rompidos Neste sentido requerem maior estruturaccedilatildeo teacutecnico operacional e atenccedilatildeo especializada e mais individualizada e ou de acompanhamento sistemaacutetico e monitorado tais como bull Serviccedilo de orientaccedilatildeo e apoio sociofamiliar

47

bull Plantatildeo Social bull Abordagem de Rua bull Cuidado no Domiciacutelio bull Serviccedilo de Habilitaccedilatildeo e Reabilitaccedilatildeo na comunidade das pessoas com deficiecircncia bull Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestaccedilatildeo de Serviccedilos agrave Comunidade ndash PSC e Liberdade Assistida ndash LA) (PNAS 2004 pg 38)

Os serviccedilos ofertados na alta complexidade garantem

Proteccedilatildeo integral ndash moradia alimentaccedilatildeo higienizaccedilatildeo e trabalho protegido para famiacutelias e indiviacuteduos que se encontram sem referecircncia e ou em situaccedilatildeo de ameaccedila necessitando ser retirados de seu nuacutecleo familiar e ou comunitaacuterio Tais como bull Atendimento Integral Institucional bull Casa Lar bull Repuacuteblica bull Casa de Passagem bull Albergue bull Famiacutelia Substituta bull Famiacutelia Acolhedora bull Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade internaccedilatildeo provisoacuteria e sentenciada) bull Trabalho protegido (PNAS 2004 p 38)

Na NOB-RHSUAS (2006) fica explicitado que satildeo princiacutepios que orientam a

atuaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea de assistecircncia social

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais b) Compromisso em ofertar serviccedilos programas projetos e benefiacutecios de qualidade que garantam a oportunidade de conviacutevio para o fortalecimento de laccedilos familiares e sociais c) Promoccedilatildeo aos usuaacuterios do acesso agrave informaccedilatildeo garantindo conhecer o nome e a credencial de quem os atende d) Proteccedilatildeo agrave privacidade dos usuaacuterios observado o sigilo profissional preservando sua privacidade e opccedilatildeo e resgatando sua histoacuteria de vida e) Compromisso em garantir atenccedilatildeo profissional direcionada para construccedilatildeo de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade f) Reconhecimento do direito dos usuaacuterios a ter acesso a benefiacutecios e renda e a programas de oportunidades para inserccedilatildeo profissional e social g) Incentivo aos usuaacuterios para que estes exerccedilam seu direito de participar de foacuteruns conselhos movimentos sociais e cooperativas populares de produccedilatildeo

48

h) Garantia do acesso da populaccedilatildeo agrave poliacutetica de assistecircncia social sem discriminaccedilatildeo de qualquer natureza (gecircnero raccedilaetnia credo orientaccedilatildeo sexual classe social ou outras) resguardados os criteacuterios de elegibilidade dos diferentes programas projetos serviccedilos e benefiacutecios i) Devoluccedilatildeo das informaccedilotildees colhidas nos estudos e pesquisas aos usuaacuterios no sentido de que estes possam usaacute-las para o fortalecimento de seus interesses j) Contribuiccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos que venham desburocratizar a relaccedilatildeo com os usuaacuterios no sentido de agilizar e melhorar os serviccedilos prestados (NOBRH 2006 p13)

O profissional faz uso de diversos instrumentais teacutecnico-operativos teoacuterico-

metodoloacutegicos para realizar a anaacutelise interpretativa e criacutetica da realidade que iraacute

intervir na qual a demanda por atendimento abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social

Constitui-se como objeto do Serviccedilo Social as situaccedilotildees problematizadas pelos usuaacuterios como desemprego subemprego situaccedilatildeo de abandono ou negligecircncia perda de identidade social e viacutenculo familiar ainda situaccedilatildeo de miserabilidade discriminaccedilatildeo e exclusatildeo social Em resumo satildeo diversas situaccedilotildees que requerem a apreensatildeo contiacutenua da realidade em que o indiviacuteduo estaacute inserido A demanda abrange famiacutelias em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social ou em situaccedilatildeo de risco pessoal ou social necessitando de atendimento dos profissionais do CRAS (ANDRADE 2013 p3)

Como em todas as aacutereas de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social o profissional neste

local encontra desafios como a dificuldade da populaccedilatildeo em conhecer e entender o

trabalho que eacute desenvolvido no CRAS e outro fator que dificulta o trabalho eacute a

adesatildeo das famiacutelias e indiviacuteduos nos programas e serviccedilos ofertados pelo

equipamento entre outros desafios

Segundo Iamamoto e Carvalho

As condiccedilotildees sociais que circunscrevem o trabalho do assistente social com os rebatimentos da ldquocontrarreformardquo do Estado tendem a ser desreguladas e flexibilizadas com a subordinaccedilatildeo do conteuacutedo do trabalho aos objetivos e necessidades das entidades empregadoras Levando assim o assistente social a exercer um trabalho muito mais burocratizado e rotineiro sob a oacuterbita da alienaccedilatildeo do que um trabalho intelectual numa perspectiva de dimensatildeo poliacutetica e pedagoacutegica no acircmbito dos processos de estabelecimento de consensos sociais (IAMAMOTO CARVALHO 2012)

49

Os entraves encontrados na atuaccedilatildeo do profissional satildeo diversos

principalmente por atuarem em unidades publicas estatais onde o oacutergatildeo

empregador (o Estado) pelo seu regime capitalista e neoliberal exige que o

profissional faccedila aquilo que eacute de interesse do capital Os profissionais se deparam

no cotidiano do espaccedilo soacutecio-ocupacional com condiccedilotildees de trabalho precaacuterias os

espaccedilos fiacutesicos insuficientes contratos de trabalho instaacuteveis inseguranccedila no

emprego baixas remuneraccedilotildees e outros constrangimentos do trabalho assalariado

Condiccedilotildees como estas dificultam as possibilidades de materializaccedilatildeo do Projeto

Eacutetico-Poliacutetico Profissional uma vez que o profissional eacute submisso dentro do espaccedilo

soacutecio-ocupacional o que compromete a qualidade dos serviccedilos e da estrateacutegia de

alargamento de sua autonomia

Parafraseando Iamamoto (2007) este novo modelo de empregabilidade eacute

uma marca do capitalismo moderno e o serviccedilo social sofre seus rebatimentos satildeo

contratos subcontratos natildeo-garantia de direitos e com isso surge a dificuldade em

realizar o trabalho de forma contiacutenua e com qualidade satildeo muitas as tensotildees dos

trabalhadores assalariados

Desta forma se faz necessaacuterio que o assistente social tenha uma base

teoacuterica soacutelida que o possibilite construir uma praacutetica direcionada pelo projeto eacutetico-

poliacutetico da profissatildeo A Poliacutetica de Assistecircncia Social vem passando por grandes

avanccedilos desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o profissional deve tambeacutem buscar

avanccedilar em suas estrateacutegias para que haja a consolidaccedilatildeo do exerciacutecio profissional

como praacutetica criacutetica eacute um processo de construccedilatildeo permanente cujo limite eacute

indicado pelo proacuteprio movimento da realidade social

22 A atuaccedilatildeo do assistente social no CRAS possibilidades e desafios para a

efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico

Considerando os grandes avanccedilos que a poliacutetica de assistecircncia social vem

alcanccedilando desde a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e ainda os princiacutepios

fundamentais explicitados no Coacutedigo de Eacutetica da profissatildeo de 1993 onde deixa

expliacutecito que a intervenccedilatildeo do profissional necessita ser pautada no projeto eacutetico-

poliacutetico mesmo havendo dificuldade em sua materializaccedilatildeo surge um

questionamento Quais satildeo os desafios e possibilidades encontradas pelos

50

assistentes sociais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico no Centro de

Referecircncia de Assistecircncia Social Para nos auxiliar mediante este questionamento

foi realizada uma pesquisa no CRAS da cidade de Fernandes Tourinho ndash MG

Fernandes Tourinho estaacute localizada na regiatildeo Leste no interior do estado de

Minas Gerais agrave 3028 km da capital Belo Horizonte De acordo com dados do IBGE

de 2016 a cidade ocupa uma aacuterea de 151875 kmsup2 com uma populaccedilatildeo estimada

de 3227 habitantes

O municiacutepio de Fernandes Tourinho no acircmbito do SUAS e de acordo com a

PNAS2004 eacute considerado de Pequeno Porte I que satildeo municiacutepios de ateacute 20000

habitantes5000 famiacutelias possuindo apenas um CRAS para ateacute 2500 famiacutelias

referenciadas sendo que este o uacutenico equipamento da proteccedilatildeo social baacutesica do

municiacutepio e contempla todo o seu territoacuterio

O CRAS foi implantado em Fernandes Tourinho em 2005 nos moldes

estruturais e organizacionais preconizados pela PNAS2004 e tem se amparado

tecnicamente para responder agraves demandas sociais que lhes satildeo atribuiacutedas visando

a efetivaccedilatildeo dos direitos da convivecircncia familiar e comunitaacuteria

A amostra para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi proveniente da aplicaccedilatildeo de

questionaacuterio a dois profissionais graduados em Serviccedilo Social que atuam no CRAS

supracitado esta realizada no mecircs de novembro de 2016 A pesquisa eacute de caraacuteter

qualitativa onde foi utilizado um questionaacuterio semi-estruturado possuindo este 26

questotildees divididas em blocos para melhor compreensatildeo do profissional A pesquisa

qualitativa eacute dividida em trecircs momentos Fase exploratoacuteria Trabalho de campo e

Anaacutelise de dados (MINAYO 2010)

Observa-se que o tema em questatildeo eacute muito complexo para diversos

profissionais sendo assim quando realizado a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio as

pesquisadoras deram abertura para questionamentos para sanar possiacuteveis duacutevidas

provenientes do questionaacuterio Neste trabalho analisaremos as respostas de dois

profissionais de Serviccedilo Social os quais seratildeo assegurados o seu anonimato sendo

referenciados como P1 e P2

Ao analisar o questionaacuterio fora observado que ambos os profissionais se

formaram na mesma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (Faculdades Integradas de

Caratinga) P1concluiu a graduaccedilatildeo em 2012 e atua como Coordenador (a) do

CRAS haacute quatro anos natildeo tendo a sua funccedilatildeo especiacutefica como Assistente Social do

equipamento o mesmo eacute concursado em outra aacuterea no municiacutepio e encontra-se em

51

desvio de funccedilatildeo P2 formou-se em 2009 e desde entatildeo atua como assistente social

do CRAS e o mesmo eacute concursado(a) para o cargo Ambos profissionais possuem

poacutes-graduaccedilatildeo o que reafirma que a praacutetica profissional implica em pensar na

dinacircmica da sociedade as transformaccedilotildees ocorridas e as constantes mudanccedilas

sendo assim para Iamamoto

Hoje exige-se um trabalhador qualificado na esfera da execuccedilatildeo mas tambeacutem na formulaccedilatildeo e gestatildeo de poliacuteticas sociais e empresariais um profissional propositivo com soacutelida formaccedilatildeo eacutetica capaz de contribuir ao esclarecimento dos direitos sociais e dos meios de exercecirc- los dotado de uma ampla bagagem de informaccedilatildeo permanentemente atualizada para se situar em um mundo globalizado (IAMAMOTO 1999 p 113)

O Mundo contemporacircneo exige que o profissional no exerciacutecio de sua funccedilatildeo

seja bem informado criacutetico culto e atento agraves transformaccedilotildees que vem ocorrendo na

atualidade para isto eacute necessaacuterio que o mesmo se atualize constantemente para

que no seu fazer profissional tenha condiccedilotildees de elaborar projetos avaliaccedilatildeo de

programas e projetos sociais capacitaccedilatildeo de recursos gestatildeo de pessoas entre

outros socializando informaccedilotildees e conhecimentos propondo novos serviccedilos e

ampliando o espaccedilo do Serviccedilo Social

Netto (1999) faz uma afirmativa que a busca constante por

atualizaccedilatildeoespecializaccedilatildeo por parte do profissional eacute um uma grande possibilidade

de alcance da materializaccedilatildeo do seu projeto eacutetico poliacutetico Sendo assim do ponto de

vista profissional

O projeto implica o compromisso com a competecircncia que soacute pode ter como base o aperfeiccediloamento intelectual do assistente social Daiacute a ecircnfase numa formaccedilatildeo acadecircmica qualificada fundada em concepccedilotildees teoacuterico metodoloacutegicas criacuteticas e soacutelidas capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social ndash formaccedilatildeo que deve abrir a via agrave preocupaccedilatildeo com a (auto)formaccedilatildeo permanente e estimular uma constante preocupaccedilatildeo investigativa (NETTO 1999 p16)

Os profissionais em questatildeo possuem carga horaacuteria diferentes P1 trabalha

um periacuteodo de quarenta (40) horas semanais como coordenador e P2 como atua

na funccedilatildeo de assistente social do equipamento trinta (30) horas semanais isto

52

mostra que o municiacutepio estaacute garantindo o direito do profissional de serviccedilo social

promulgado na Lei nordm 12317 de 27 de agosto de 2010 que estabeleceu a jornada

de trabalho de 30 horas semanais para assistentes sociais Desta forma o CFESS

destaca

Eacute importante ressaltar que a conquista das 30 horas semanais sem reduccedilatildeo de salaacuterio para assistentes sociais deve ser compreendida no conjunto das lutas da classe trabalhadora porque contribui para a garantia de melhores condiccedilotildees de trabalho e se insere na luta pelo direito ao trabalho com qualidade para todos (as) (CFESS 2011 p 2)

No caso de P1 o mesmo ocupa um cargo comissionado que

Exige-se dedicaccedilatildeo exclusiva portanto trata-se de uma situaccedilatildeo diferenciada com recebimento de proventos adicionais para tal cargo Logo nesses casos natildeo eacute possiacutevel obrigar o empregador a aplicar a lei exceto se houver um acordo entre as partes (CFESS 2011 p 3)

Os profissionais quando questionados se o local de trabalho possibilita que

garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees ambos responderam que sim e P1

ainda disse ldquordquohaacute espaccedilo e material para que seja mantido o sigilo quando for

necessaacuteriordquorsquo Mediante a fala de P1 observa-se que no CRAS estudado possui

espaccedilos adequados para os atendimentos dispondo de condiccedilotildees eacuteticas e teacutecnicas

para o exerciacutecio profissional do assistente social de acordo com o artigo 2ordm da

resoluccedilatildeo CFESS nordm 4932006

Art 2ordm - O local de atendimento destinado ao assistente social deve ser dotado de espaccedilo suficiente para abordagens individuais ou coletivas conforme as caracteriacutesticas dos serviccedilos prestados e deve possuir e garantir as seguintes caracteriacutesticas fiacutesicas Iluminaccedilatildeo adequada ao trabalho diurno e noturno conforme a organizaccedilatildeo institucional Recursos que garantam a privacidade do usuaacuterio naquilo que for revelado durante o processo de intervenccedilatildeo profissional Ventilaccedilatildeo adequada a atendimentos breves ou demorados e com portas fechadas Espaccedilo adequado para colocaccedilatildeo de arquivos para a adequada guarda de material teacutecnico de caraacuteter reservado (CFESS 2006)

53

Dando sequecircncia ao estudo os profissionais quando questionados sobre os

recursos materiais e humanos utilizados por eles no CRAS P1 e P2 citaram os

mesmos recursos humanos ldquordquoum Assistente Social um Psicoacutelogo um Coordenador

uma Educadora Social uma recepcionista e duas Auxiliares de limpezardquordquo sendo

que P2 acrescentou que conta com a presenccedila de uma Estagiaacuteria do Serviccedilo Social

Para contribuir com o trabalho dos Grupos de Convivecircncia possui trecircs facilitadores

trabalhando com oficinas Em relaccedilatildeo aos recursos materiais as respostas foram

distintas P1 ldquordquoutilizo-me de materiais de escritoacuterio maacutequina fotograacutefica e data show

quando necessaacuteriordquordquo P2 citou que utiliza de ldquordquoProntuaacuterio do SUAS Materiais

Didaacuteticos Sistemas de Informaccedilotildees tais como CadUacutenico SISC e outros

Formulaacuterios Relatoacuterios etcrdquordquo

Fica evidente que o profissional P1 por ser coordenador do CRAS trabalhando

com a aacuterea de gestatildeo seus recursos materiais se tornam diferentes do profissional

atuante em serviccedilo social tal como o P2 que por fazer parte da equipe teacutecnica

utiliza de recursos materiais especiacuteficos para a sua atuaccedilatildeo como o prontuaacuterio

SUAS e o sistema do SISC (sistema de informaccedilatildeo do Serviccedilo de Convivecircncia e

Fortalecimento de Viacutenculos)

Eacute notoacuteria a diferenccedila do trabalho do P1 que eacute coordenador e P2 que eacute

assistente social do equipamento pois perguntado quais as principais demandas

colocadas pelo CRAS P1 relata que o mesmo eacute responsaacutevel pela ldquordquogestatildeo dos

serviccedilos ofertados pelo CRASrdquordquo enquanto P2 diz que as demandas do equipamento

satildeo ldquordquoBPC 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de

taxas de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar Vale ressaltar

que por natildeo haver CREAS no Municiacutepio chega inuacutemeras demandas de meacutedia

complexidade para serem atendidasrdquordquo O trabalho do coordenador e do Assistente

Social do equipamento se complementa de acordo com o relato dos profissionais

acima e ainda o que estaacute preconizado na Lei 8662 de 07 de junho de 1993 a qual

dispotildee sobre a profissatildeo de assistente social no seu Artigo 4ordm descrevendo as

competecircncias do profissional

I - elaborar implementar executar e avaliar poliacuteticas sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta empresas entidades e organizaccedilotildees populares

54

II - elaborar coordenar executar e avaliar planos programas e projetos que sejam do acircmbito de atuaccedilatildeo do Serviccedilo Social com participaccedilatildeo da sociedade civil III - encaminhar providecircncias e prestar orientaccedilatildeo social a indiviacuteduos grupos e agrave populaccedilatildeo V - orientar indiviacuteduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos VI - planejar organizar e administrar benefiacutecios e Serviccedilos Sociais VII - planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a anaacutelise da realidade social e para subsidiar accedilotildees profissionais VIII - prestar assessoria e consultoria a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em mateacuteria relacionada agraves poliacuteticas sociais no exerciacutecio e na defesa dos direitos civis poliacuteticos e sociais da coletividade X - planejamento organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo de Serviccedilos Sociais e de Unidade de Serviccedilo Social XI - realizar estudos soacutecio-econocircmicos com os usuaacuterios para fins de benefiacutecios e serviccedilos sociais junto a oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta empresas privadas e outras entidades

Mediante a fala de P2 quando relata que o municiacutepio natildeo possui CREAS

Observa-se que o profissional atende diversas demandas da meacutedia complexidade

as quais os profissionais natildeo possuem capacitaccedilotildees especiacuteficas para o tipo de

atendimento o mesmo realiza a sua intervenccedilatildeo pois natildeo pode deixar o usuaacuterio

sem respostas podendo ocorrer das respostas necessaacuterias serem aleacutem das

possibilidades de resoluccedilatildeo desses profissionais

As principais demandas trazidas pelos usuaacuterios P1 coloca que os mesmos

vecircem ao CRAS em busca pelo BPC (Beneficio de prestaccedilatildeo continuada) e os

serviccedilos de convivecircncia e P2 relata que os usuaacuterio buscam estes mesmos serviccedilos

e ainda 2ordf vias de Certidotildees de Nascimentos eou Casamentos Isenccedilotildees de taxas

de casamentos visitas domiciliares acompanhamento familiar e ainda demandas

da proteccedilatildeo social especial de meacutedia complexidade

A busca dos usuaacuterios por seus direitos tais como o acesso agraves orientaccedilotildees e agrave

documentaccedilatildeo civil baacutesica possibilita-os atraveacutes do CRAS o acesso a direitos

baacutesicos e de desenvolvimento da autonomia A certidatildeo de nascimento eacute um

documento fundamental primeiro documento oficial para todo brasileiro Eacute a

certidatildeo de nascimento que possibilita o acesso agrave sauacutede matriacutecula escolar

cadastramento em programas sociais como Bolsa Famiacutelia agrave justiccedila garantias

55

trabalhistas e previdenciaacuterias abertura de conta em bancos obtenccedilatildeo de creacutedito

realizaccedilatildeo de casamento civil entre outros

Respondendo agraves seguintes indagaccedilotildees Como eacute organizado o trabalho do

assistente social no equipamento Vocecirc trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute

responsaacutevel por definir a dinacircmica de trabalho P1 diz ldquordquoa dinacircmica de trabalho eacute

definida pela equipe teacutecnica em conjunto com o coordenador e o trabalho

desenvolvido em equipe sempre que possiacutevelrdquordquo Neste sentido P2 responde

Como Assistente Social do CRAS o meu trabalho se daacute atuando na prestaccedilatildeo de serviccedilo de proteccedilatildeo social baacutesica para todas as famiacutelias que encontram-se em situaccedilatildeo de vulnerabilidade e risco social As accedilotildees satildeo planejadas mas nem sempre seguem-se a ordem do planejamento devido ao alto iacutendice de demandas espontacircneas mas as accedilotildees satildeo atraveacutes de encaminhamento e acompanhamento nos serviccedilos socioeducativos onde satildeo inseridos prestando tambeacutem o incentivo a autonomia e fortalecimento de viacutenculos familiares e comunitaacuterios articulando sempre com a rede socioassistencial Trabalho em equipe E a dinacircmica do trabalho definida pela equipe Teacutecnica juntamente com o Coordenador (PROSISSIONAL 2 2016)

O trabalho e as accedilotildees desenvolvidas no CRAS necessitam ser desenvolvidas

de forma interdisciplinar pois se acredita que esta seja uma forma de superar as

abordagens tecnicistas Desta forma o caderno de orientaccedilotildees teacutecnicas do CRAS

destaca

A interdisciplinaridade eacute um processo de trabalho reciacuteproco que proporciona um enriquecimento muacutetuo de diferentes saberes que elege uma plataforma de trabalho conjunta por meio da escolha de princiacutepios e conceitos comuns Esse processo integra organiza e dinamiza a accedilatildeo cotidiana da equipe de trabalho e demanda uma coordenaccedilatildeo a fim de organizar as linhas de accedilatildeo dos profissionais em torno de um projeto comum (Orientaccedilotildees Teacutecnicas do CRAS 2009 p65)

O municiacutepio de Fernandes Tourinho natildeo possui todos os profissionais atuantes

do CRAS efetivos para tal cargo O coordenador estaacute em desvio de funccedilatildeo e o

psicoacutelogo eacute contratado podendo ocorrer uma grande rotatividade da equipe

prejudicando assim o trabalho a ser desenvolvido pelo equipamento

Quando perguntados sobre a participaccedilatildeo em Conselhos de Direitos P1 afirma

que sim ldquordquoparticipa do Conselho Municipal de Assistecircncia Socialrdquordquo e P2 no momento

56

natildeo estaacute participando Raichelis (2011) observa que o controle social eacute peccedila-chave

na constituiccedilatildeo do espaccedilo puacuteblico e que os Conselhos de Assistecircncia Social satildeo

entendidos como canais importantes de participaccedilatildeo coletiva e de criaccedilatildeo de novas

relaccedilotildees poliacuteticas entre governos e cidadatildeos e sobretudo de construccedilatildeo de um

processo continuado de interlocuccedilatildeo puacuteblica Eacute importante a participaccedilatildeo do

profissional em Conselhos de Direitos pois a luta eacute por uma sociedade igualitaacuteria e

hegemocircnica

Para a realizaccedilatildeo do exerciacutecio profissional satildeo necessaacuterios os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho quando indagados sobre quais satildeo utilizados P1 relata

ldquordquoutilizo-me desde observaccedilatildeo entrevista reuniotildees e o que mais for preciso para

coesatildeo da equipe de trabalho e aprimoramento dos serviccedilosrdquordquo e P2 elenca

O atendimento individual acolhida escuta visita domiciliar relatoacuterios prontuaacuterios encaminhamentos e entrevistas abordagem de rua atividades socioeducativas planejamento familiar atendimento familiar emergencial liberaccedilatildeo de documentos requerimentos para BPC orientaccedilatildeo reuniotildees atividades com os grupos Os demais instrumentos satildeo criados de acordo com as necessidades para o atendimento da demanda (PROSISSIONAL 2 2016)

Santos (apud Martinelli1994) fala que ldquoo instrumental eacute percebido como um

conjunto articulado de instrumentos e teacutecnicas natildeo podendo serem vistos

isoladamente por si soacutes de maneira autonomizada mas como uma unidade

dialeacuteticardquo Em cada intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio o uso de instrumentos e teacutecnicas

diferentes como ambos citaram acima Eacute necessaacuterio que os instrumentos tragam

respostas para as novas roupagens da questatildeo social A sociedade se transforma a

todo momento e com isso surgem novas demandas por este motivo a busca pelo

conhecimento deve ser constante Continuando sobre os instrumentos e teacutecnicas

questionamos se os instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da

praacutetica profissional Por quecirc P1 fala que ldquoestes satildeo apenas alguns dos

instrumentos e jaacute satildeo suficientes para direcionar a atuaccedilatildeo profissional o que de

forma alguma possibilite descartar outros instrumentos ou instrumentalidadesrdquo

A assistente social P2 acredita que

57

Isso eacute muito relativo uma vez que muitas das demandas satildeo solucionadas atraveacutes destes instrumentos mas no dia a dia percebo que haacute muito para se fazer quando o assunto eacute prevenccedilatildeo mas a falta de recursos materiais impedem que o serviccedilo seja

realizado (PROSISSIONAL 2 2016)

Ambos concordam que durante o exerciacutecio profissional outros instrumentos e

teacutecnicas aleacutem dos que foram citados podem ser necessaacuterios e utilizados P2

tambeacutem cita um entrave falta de recursos materiais impossibilitando a realizaccedilatildeo do

trabalho

Parafraseando Monteiro (2011) identifica que essas situaccedilotildees impactam de

forma significativa a atuaccedilatildeo do profissional e da equipe satildeo algumas inadequaccedilotildees

prejudiciais sendo na estrutura fiacutesica recursos materiais insuficientes ausecircncia de

transporte para mediar a aproximaccedilatildeo com as famiacutelias e tambeacutem a articulaccedilatildeo com

a rede O profissional deve ser cauteloso para que a falta de recursos natildeo coloque

em risco sua praacutetica profissional pautada em seu projeto eacutetico-poliacutetico profissional

deve ter clareza quanto ao seu objeto de intervenccedilatildeo

O profissional que atua no CRAS pode sofrer com determinantes externos que

influenciam a realizaccedilatildeo do trabalho no equipamento Nesta questatildeo P1 relata que

ldquordquoo determinante externo mais preponderante satildeo os interesses poliacuteticosrdquordquo P2 cita

um maior nuacutemero de determinantes e fala que

Enquanto assistente social da Instituiccedilatildeo CRAS percebo no dia a dia do trabalho diversos obstaacuteculos na conduccedilatildeo do exerciacutecio profissional apesar de buscar atender as demandas dos usuaacuterios que cada vez mais tem se diversificado e aumentado existem fatores que dificultam essa realizaccedilatildeo como por exemplo os interesses da instituiccedilatildeo empregatiacutecia pois nem sempre esses interesses vatildeo de encontro aos interesses dos usuaacuterios e enquanto assistente social faz-se necessaacuterio uma mediaccedilatildeo entre eles baseado nos princiacutepios eacuteticos e poliacuteticos da profissatildeo e por possuir uma relativa autonomia muitas vezes natildeo eacute possiacutevel dar ao usuaacuterio a resposta satisfatoacuteria agrave sua necessidade (PROSISSIONAL 2 2016)

Observa-se que ambos os profissionais encontram dificuldades para a

realizaccedilatildeo de seus trabalhos os principais fatores externos relatados satildeo os

interesses poliacuteticos algo muito comum em municiacutepios de pequeno porte I como eacute o

caso de Fernandes Tourinho que na maioria das vezes vem com o intuito de que

alguns sejam privilegiados indo totalmente contra a poliacutetica de assistecircncia Social

58

que eacute direito de quem dela necessita E ainda os interesses da instituiccedilatildeo

empregatiacutecia estes interesses inviabiliza o acesso dos usuaacuterios a serviccedilos

benefiacutecios e programas que lhes satildeo de direito impedindo-lhes o acesso pleno agrave

cidadania e consequentemente a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico poliacutetico do Assistente

Social em sua totalidade

As accedilotildees dos profissionais satildeo pautadas em um referencial teoacuterico eacutetico e

poliacutetico que norteiam as mesmas O entrevistado P1 cita que ldquordquodentre tantos

referenciais que reunidos me fornecem condiccedilotildees para desempenhar minhas

funccedilotildees cito o proacuteprio Projeto Eacutetico Poliacutetico do Serviccedilo Social e por que natildeo citar

tambeacutem a Lei do SUASrdquordquo P2 cita o Coacutedigo de Eacutetica da Profissatildeo como norteador de

suas accedilotildees

E de acordo com Iamamoto (2000) as diretrizes norteadoras desse projeto se

desdobram no Coacutedigo de Eacutetica Profissional de 1993 na Lei que regulamenta a

profissatildeo de Serviccedilo Social e nas Diretrizes Curriculares P1 tambeacutem cita as Lei do

Suas A Lei Nordm 12435 de 06 de julho de 2011

Sposati define o SUAS enquanto

Conjunto de serviccedilos programas projetos e benefiacutecios no acircmbito da assistecircncia social prestados diretamente ndash ou por meio de convecircnios com organizaccedilotildees sem fins lucrativos - por oacutergatildeos e instituiccedilotildees puacuteblicas federais estaduais e municipais da administraccedilatildeo direta e indireta e das fundaccedilotildees mantidas pelo poder puacuteblico Eacute modo de gestatildeo compartilhada que divide responsabilidades para instalar regular manter e expandir as accedilotildees da assistecircncia social (SPOSATI 2006 p 130)

O SUAS foi um grande avanccedilo no campo da assistecircncia social veio para

organizar os serviccedilos e fazer uma aproximaccedilatildeo das famiacutelias agraves instituiccedilotildees atraveacutes

da territorializaccedilatildeo entre outros

O profissional em seu cotidiano no equipamento institucional deve manter uma

postura eacutetica Seguindo a pesquisa quando perguntados sobre o que eacute manter

esta postura P1 responde que ldquoeacute possuir uma conduta pautada em valores e

princiacutepios que valorize os demais profissionais respeitando o puacuteblico alvo de nossas

atuaccedilotildees ou intervenccedilotildees seguindo e sendo coerente com as leis que regem tais

serviccedilosrdquo e P2 responde considero ser de suma importacircncia saber ouvir natildeo soacute os

usuaacuterios como tambeacutem os colegas de trabalho e dar-lhes a mesma certeza do sigilo

59

assim pode-se evitar muitos problemas Tambeacutem faz-se necessaacuterio ter atitudes de

generosidade e cooperaccedilatildeo no trabalho em equipe mesmo quando a atividade eacute

especiacutefica a um certo colega de trabalho ela faz parte de um conjunto mais amplo

de atividades interligadas e que dependem do bom desempenho desta

Pode-se perceber que ambos acreditam que a equipe de trabalho deve ser

respeitada e tratada com cordialidade para que o trabalho possa fluir com

tranquilidade e eficaacutecia

As abordagens das profissotildees podem somar-se com o intuito de assegurar uma intervenccedilatildeo interdisciplinar capaz de responder a demandas individuais e coletivas com vistas a defender a construccedilatildeo de uma sociedade livre de todas as formas de violecircncia e de exploraccedilatildeo de classe gecircnero etnia e orientaccedilatildeo sexual (CFESS 2011 p25)

Eacute importante que se defina as atribuiccedilotildees papeacuteis e competecircncias e que o

trabalho natildeo seja fragmentado e sim com a visatildeo de totalidade Frisando tambeacutem a

importacircncia que eacute dada por P1 E P2 aos usuaacuterios dos serviccedilos sobre o sigilo das

accedilotildees e coerecircncia com as Leis que regem as accedilotildees P2 tambeacutem fala sobre o

respeito e entendimento das hierarquias para um bom funcionamento do local

Dando prosseguimento na pesquisa os profissionais responderam questotildees

pontuais ao objetivo do nosso trabalho primeiramente foram-lhes perguntado qual o

entendimento sobre o projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

Para o Assistente Social P1

O projeto eacutetico poliacutetico eacute um norteador das intervenccedilotildees do assistente social em suas mais diversas aacutereas de atuaccedilatildeo sinalizando princiacutepios de conduta profissional dando ainda direcionamento acerca do trajeto a ser percorrido por essa profissatildeo para que seja mais eficaz na busca por uma sociedade mais igualitaacuteria (PROSISSIONAL 1 2016)

Diante desta fala NETTO afirma

[] os projetos profissionais apresentam a auto-imagem da profissatildeo elegem valores que a legitimam socialmente e priorizam os seus objetivos e funccedilotildees formulam os requisitos (teoacutericos institucionais e praacuteticos) para o seu exerciacutecio prescrevem normas para o

60

comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relaccedilatildeo com os usuaacuterios de seus serviccedilos com as outras profissotildees e com as organizaccedilotildees e instituiccedilotildees sociais privadas e puacuteblicas (NETTO 1999 p 95)

A profissatildeo de Serviccedilo Social eacute de grande relevacircncia social uma vez que esta

interveacutem em diversas realidades contemporacircneas que debatem as consequecircncias

das manifestaccedilotildees da questatildeo social impostas pelo sistema capitalista A

intervenccedilatildeo destes profissionais satildeo norteadas por seu projeto Eacutetico-Poliacutetico desta

forma P2 destaca ldquoeacute um projeto societaacuterio radicalmente democraacutetico que tem em

seu nuacutecleo o reconhecimento da liberdade como valor central Propotildee a construccedilatildeo

de uma nova ordem social sem exploraccedilatildeo ou dominaccedilatildeo de classe etnia e

gecircnerordquo

Mediante a fala dos profissionais e a explanaccedilatildeo de NETTO (2009) observa-se

que os mesmos deteacutem o conhecimento sobre o que eacute projeto eacutetico-politico sendo

este um projeto societaacuterio e representa a auto imagem da profissatildeo e eacute ele que iraacute

nortear as accedilotildees do profissional seja em qual for a sua aacuterea de atuaccedilatildeo

Nota-se que os profissionais tecircm dificuldade de articulaccedilatildeo de seus projetos

profissionais com a praacutetica no equipamento dizem que esta ocorre de forma relativa

pois entraves existem e sempre existiratildeo todavia tem-se a necessidade de articulaacute-

lo com o cotidiano mesmo estando distante de sua plenitude

O assistente social nesta perspectiva tem o incessante compromisso de propor

e efetivar accedilotildees profissionais que acompanhem a expansatildeo da poliacutetica de

assistecircncia social se comprometendo com a consolidaccedilatildeo do Estado democraacutetico

dos direitos a universalizaccedilatildeo da seguridade social e das poliacuteticas puacuteblicas e o

fortalecimento dos espaccedilos de controle social democraacutetico utilizando-se de

estrateacutegias que fortaleccedilam sua autonomia e competecircncia profissional a fim de

efetuar intervenccedilotildees com criticidade autocircnoma eacutetica e politicamente comprometida

com a classe trabalhadora e as organizaccedilotildees populares de defesa de direitos

(CFESS 2011 p4)

Neste aspecto BOSCHETTI afirma

Um dos maiores desafios do Serviccedilo Social na contemporaneidade eacute o de compreender analisar e situar os direitos num ideaacuterio de totalidade sendo capaz de identificar suas vaacuterias determinaccedilotildees como tambeacutem reconhecer suas contradiccedilotildees no espaccedilo de construccedilatildeo da sociabilidade humana Esse fato implica na eficaacutecia da

61

consolidaccedilatildeo do Projeto eacutetico-poliacutetico uma vez que a luta por direitos media a luta pela construccedilatildeo de uma nova sociabilidade em favor da emancipaccedilatildeo humana (BOSCHETTI 2004)

A luta dos profissionais para que o Projeto eacutetico-poliacutetico seja colocado em

praacutetica eacute constante a busca pelo rompimento com o conservadorismo e praacuteticas

clientelistas satildeo diaacuterias Seguindo a pesquisa perguntamos sobre a autonomia para

realizar o trabalho dentro do equipamento P1 fala que ldquodentro do serviccedilo puacuteblico a

autonomia eacute geralmente parcial pois estaacute sempre vulneraacutevel aos impasses e

vontades poliacuteticas e certamente o CRAS estaacute inserido neste contextordquo e P2 percebe

que esta eacute ldquouma autonomia relativardquo

Eacute possiacutevel perceber uma tensatildeo entre o trabalho controlado e submetido ao

poder do empregador agraves demandas dos sujeitos de direitos

A autonomia do profissional para perfilar o seu trabalho Assim o trabalho do assistente social encontra-se sujeito a um conjunto de determinantes externos que fogem ao seu controle do individuo e impotildeem limites socialmente objetivos agrave consecuccedilatildeo de um projeto profissional coletivo no cotidiano do mercado de trabalho (IAMAMOTO 2009 p16)

Percebemos que ambos encontram dificuldades na realizaccedilatildeo do trabalho o

equipamento tem interferecircncia de fatores externos que influenciam diretamente o

desenvolvimento do trabalho como cita P1 sendo um deles questotildees poliacuteticas

Mesmo que a autonomia seja parcial Montano (2009) argumenta que um

profissional criacutetico teoricamente soacutelido e atualizado eacute um ator que questiona que

propotildee que tem autonomia relativa (poliacutetica e intelectual) mas eacute

fundamentalmente um profissional que natildeo responde ldquoimediatamenterdquo agraves demandas

finalistas e emergenciais da organizaccedilatildeo O profissional deve estar atento aos limites

e possibilidades mas a defesa intransigente dos direitos dos usuaacuterios deve ser

respeitada

Outra questatildeo presente em nosso questionaacuterio eacute em relaccedilatildeo aacute atuaccedilatildeo do

profissional no CRAS quais os principais limites impostos ao seu exerciacutecio

profissional P1 cita que ldquoaleacutem dos embates poliacuteticos jaacute citados neste questionaacuterio

existe tambeacutem a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social

baacutesica por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas e P2 esclarece que ldquordquomuitos

62

aspectos interferem no cotidiano de trabalho impedindo muitas vezes accedilotildees que

seriam eficazes e que trariam resultados positivos como por exemplo as relaccedilotildees

de poder o clientelismo a falta de recursos materiais e humanos dentre outrosrdquordquo

Percebe-se com clareza que questotildees poliacuteticas interferem diretamente e de forma

negativa ao exerciacutecio profissional de P1 e P2 tambeacutem destaca que as relaccedilotildees de

poder dificultam o trabalho

Como afirma Iamamoto (2001) ldquordquoo exerciacutecio profissional eacute uma accedilatildeo de um

sujeito que tem competecircncias para propor para negociar para defender o seu

campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e funccedilotildees profissionaisrdquordquo Seguindo o estudo

questionamos a posiccedilatildeo dos mesmos diante dos limites impostos quais as

possibilidades que encontram para a realizaccedilatildeo do trabalho neste equipamento P1

relata que ldquordquomesmo com os limites eacute possiacutevel fazer articulaccedilotildees com a equipe

teacutecnica e tambeacutem com outros setores para que haja desenvolvimento nos serviccedilos

ofertados para que estes gradativamente sejam mais efetivosrdquordquo e P2 fala que se

ldquordquofaz-se necessaacuterio alargar as possibilidades de conduccedilatildeo do trabalho criando

estrateacutegias poliacutetico-profissionais que ampliem bases de apoio no interior do espaccedilo

ocupacional como tambeacutem da Sociedade Civil somando forccedilas que se movem em

busca de respostas agraves demandas da populaccedilatildeordquordquo O profissional deve ser

estrateacutegico para que consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho Ambos

citam o trabalho em equipe de suma importacircncia para o alargamento das

possibilidades

De acordo com Iamamoto eacute necessaacuterio

Que tenha competecircncia para propor para negociar com a instituiccedilatildeo os seus projetos para defender o seu campo de trabalho suas qualificaccedilotildees e atribuiccedilotildees profissionais Portanto apesar de obstaacuteculos presentes no campo de atuaccedilatildeo eacute importante superaacute-los para que se realize as accedilotildees profissionais e buscar as condiccedilotildees adequadas e necessaacuterias para o exerciacutecio profissional(IAMAMOTO p25 2009)

Eacute necessaacuterio que se utilize de todo arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um

profissional propositivo para que assim consiga romper com as barreiras impostas

pelo capital

Outro aspecto analisado eacute a burocratizaccedilatildeo no trabalho foi questionado se os

profissionais percebem em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada aacute

63

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu exerciacutecio

profissional P1 afirma que ldquordquoSim faz com que algumas atividades demorem mais

para ser realizadasrdquordquo e P2 responde que ldquordquonatildeordquordquo Raichelis (2011)afirma que esse

fator tem sido cada vez mais evidente e afastado os assistentes sociais do trabalho

direto com a populaccedilatildeo impedindo o estabelecimento de accedilotildees continuadas Na fala

de P1 o mesmo deixa claro a demora em algumas atividades e isto faz com que a

continuidade do trabalho seja comprometida O profissional deve ser cauteloso

quanto agrave burocratizaccedilatildeo para que a mesma natildeo faccedila com que o trabalho fique

rotineiro e mecanicista

Segundo Teixeira e Braz

O assistente social no seu cotidiano de trabalho deve buscar caminhos e criar estrateacutegias poliacutetico-profissionais e definir quais os rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional para poder projetar accedilotildees que demarquem seus compromissos eacutetico-politicos Eacute diante das adversidades do dia a dia de trabalho que se devem reafirmar os princiacutepios eacutetico-poliacuteticos pois eacute ele que daraacute aos assistentes sociais insumos para enfrentar as dificuldades profissionais a partir dos compromissos coletivamente construiacutedos pela categoria profissional ao longo dos anos (TEIXEIRA E BRAZ 2009)

O assistente social no seu dia a dia de trabalho deve buscar caminhos criar

estrateacutegias ser criativo buscando sempre o conhecimento para definir quais os

rumos que daraacute agrave sua atuaccedilatildeo profissional tendo compromissos eacuteticos e poliacuteticos

com a profissatildeo A realidade estaacute em constante mudanccedila e eacute preciso estar atento

para que as respostas agraves novas demandas sejam satisfatoacuterias possibilitando a

autonomia e a emancipaccedilatildeo dos usuaacuterios

64

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Assistecircncia social no Brasil desde o seu surgimento na deacutecada de 30 ateacute os

dias atuais sofreu profundas transformaccedilotildees a questatildeo social ganhou novas

roupagens e com isso foi necessaacuterio o desenvolvimento de estrateacutegias para

consolidar a assistecircncia social como direito que soacute foi possiacutevel atraveacutes da

Constituiccedilatildeo Federal de 88 e posteriormente com a Poliacutetica Nacional de Assistecircncia

Social e o Sistema Uacutenico de Assistecircncia Social que trouxeram avanccedilos pontuais

para a aacuterea

Atraveacutes da PNAS e do SUAS foram desenvolvidos aspectos necessaacuterios para

o desenvolvimento da poliacutetica de assistecircncia social tais como descentralizaccedilatildeo

administrativa o foco nas famiacutelias e consequentemente a necessidade de criaccedilatildeo

de novos equipamentos para se desenvolver o trabalho um destes equipamentos eacute

o CRAS Este equipamento necessita de uma equipe de referecircncia conforme a

NOB-RH para atuar junto agraves famiacutelias que encontra-se em situaccedilatildeo de

vulnerabilidade social A equipe eacute composta por diferentes profissionais entre eles o

Assistente Social que eacute o agente privilegiado A atuaccedilatildeo do profissional de Serviccedilo

Social necessita ser pautada no projeto eacutetico-poliacutetico que nortearaacute suas

intervenccedilotildees na busca de uma sociedade mais igualitaacuteria

Nesta perspectiva atraveacutes das pesquisas bibliograacuteficas e dos questionaacuterios

aplicados para a realizaccedilatildeo deste trabalho podemos concluir que os profissionais

atuantes no CRAS de Fernandes Tourinho entendem a importacircncia da efetivaccedilatildeo

do projeto eacutetico-poliacutetico do Serviccedilo Social uma vez que atraveacutes dele eacute possiacutevel

romper com os resquiacutecios tradicionais e conservadores ainda existentes

Na atual conjuntura os profissionais relataram que encontram alguns desafios

para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico um deles eacute a falta de autonomia para

realizar algumas intervenccedilotildees estando vulneraacuteveis aos impasses e vontades

poliacuteticas a natildeo compreensatildeo das atribuiccedilotildees da poliacutetica de proteccedilatildeo social baacutesica

por meio de outros setores e poliacuteticas puacuteblicas as relaccedilotildees de poder o clientelismo

a falta de recursos materiais e humanos Como reflete Iamamoto (2009) ldquordquoos

profissionais trabalham em terreno movido por interesses distintos na tensatildeo entre a

produccedilatildeo da desigualdade da rebeldia e do conformismordquordquo

65

Neste sentido o profissional independente de sua aacuterea de atuaccedilatildeo necessita

buscar possibilidades para superar os desafios existentes como afirma Netto

(2001)

O projeto para ser efetivado implica num compromisso dos profissionais com a ldquocompetecircnciardquo alicerccedilada no aperfeiccediloamento intelectual permanente viabilizada a partir de uma formaccedilatildeo acadecircmica qualificada com base em referenciais teoacuterico-metodoloacutegico criacuteticos e soacutelidos que sejam capazes de viabilizar uma anaacutelise concreta da realidade social

Diante dos desafios encontrados o profissional deve ser estrateacutegico para que

consiga lidar e ampliar as possibilidades de trabalho criando estrateacutegias poliacutetico-

profissionais para a efetivaccedilatildeo do projeto eacutetico-poliacutetico baseados no

reconhecimento da liberdade no reconhecimento da autonomia emancipaccedilatildeo e

plena conquista dos direitos sociais Buscando cada vez mais atualizar seu

arcabouccedilo teoacuterico-metodoloacutegico e ser um profissional propositivo para que assim

consiga romper com as barreiras impostas pelo capital

66

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retrocessos com a matricialidade sociofamiliar Revista Poliacutetica Puacuteblicas Satildeo

Luiz 2009 v13 n2 p255-264 juldez 2009

YAZBEK Maria Carmelita ldquoAs ambiguumlidades da assistecircncia social brasileira

apoacutes dez anos de LOASrdquo In Revista Serviccedilo Social amp Sociedade ndeg 77 ndash ano XXV

ndash marccedilo de 2004 Satildeo Paulo Cortez 2004

_______________________ O significado soacutecio-histoacuterico da profissatildeo In

CFESSABEPSS Serviccedilo Social Direitos Sociais e Competecircncias

Profissionais Brasiacutelia CFESSABEPSS 2009

_______________________ Pobreza e exclusatildeo social expressotildees da questatildeo

social no Brasil Temporalis Revista da Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino e

Pesquisa em Serviccedilo Social Brasiacutelia v 2 n 3 janjun p 33-40 2001

75

_______________________ Pobreza no Brasil contemporacircneo e formas de seu

enfrentamento in Revista Serviccedilo Social e Sociedade n 110 p 288-322 abrjun

2012 Satildeo Paulo

SITES PESQUISADOS

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E1ficos-informaE7F5es-completas

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76

ANEXOS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

ldquoA ATUACcedilAtildeO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS POSSIBILIDADES E DESAFIOS

PARA A EFETIVACcedilAtildeO DO PROJETO EacuteTICO POLIacuteTICOrdquo

1 - IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome

Idade

CRAS em que trabalha

2 - FORMACcedilAtildeO PROFISSIONAL

Instituiccedilatildeo de Ensino em que se formou __________________________________

Ano de conclusatildeo de Curso_____________________________________________

Formaccedilatildeo continuada

( ) Poacutes-Graduaccedilatildeo

( ) Mestrado

( ) Doutorado

4 - DETERMINACcedilOtildeES CONTRATUAIS

Tempo de atuaccedilatildeo como Assistente Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de atuaccedilatildeo na aacuterea de Assistecircncia Social

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tempo de Atuaccedilatildeo no CRAS

77

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual funccedilatildeo especificamente executa dentro do CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Tipo de contrato de trabalho

( ) Contratado (a)

( ) Concursado (a)

( ) outro vinculo

Qual ______________________________________________________________

Horas semanais de trabalho ___________________________________________

Tem outro vinculo empregatiacutecio

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Seu local de trabalho possibilita que garanta sigilo em suas accedilotildees e informaccedilotildees

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Quais os recursos materiais e humanos utilizados por vocecirc no CRAS

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5 - DEMANDAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS E A ORGANIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO DE TRABALHO

a) Em seu dia-a-dia de trabalho quais satildeo as principais demandas colocadas

pelo CRAS

78

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

b) Quais as principais demandas trazidas pelos usuaacuterios ao Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

c) Como eacute organizado o trabalho do assistente social no equipamento Vocecirc

trabalha sozinho ou em equipe Quem eacute responsaacutevel por definir a dinacircmica

de trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

d) Participa de Conselhos de direitos

______________________________________________________________

e) Para a realizaccedilatildeo do seu exerciacutecio profissional quais os instrumentos e

teacutecnicas de trabalho utiliza

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

f) Estes instrumentos utilizados satildeo o suficiente para o exerciacutecio da praacutetica

profissional Por que

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

g) Para a realizaccedilatildeo do seu trabalho no CRAS quais satildeo os principais

determinantes externos lhe influenciam

79

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

h) Qual o referencial teoacuterico eacutetico e poliacutetico que norteia suas accedilotildees

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

i) Para vocecirc o que eacute manter uma postura eacutetica no cotidiano institucional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

j) Para vocecirc o que eacute projeto eacutetico poliacutetico do Serviccedilo Social

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

k) Eacute possiacutevel articular o projeto eacutetico poliacutetico no cotidiano

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

l) Dentro do CRAS vocecirc tem autonomia para executar seu trabalho

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

m) Em sua atuaccedilatildeo no CRAS quais os principais limites impostos ao seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

80

n) Diante dos limites impostos quais as possibilidades que vocecirc encontra para

realizar seu trabalho nesta instituiccedilatildeo

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

o) Vocecirc percebe em sua atuaccedilatildeo no CRAS alguma dificuldade relacionada a

burocratizaccedilatildeo do trabalho Se sim de que forma isto influencia no seu

exerciacutecio profissional

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________